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DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA Segundo Bimestre INCITAÇÃO AO CRIME Objetividade jurídica A paz pública. Tipo objetivo O delito consiste em instigar, provocar ou estimular a prática de crime de qualquer natureza, previsto no Código Penal ou em outras leis. Nos termos do art. 286, a incitação pública à prática de ato contravencional não constitui ilícito penal. Exige que a conduta seja praticada em público, ou seja, na presença de número elevado de pessoas, uma vez que a conduta de induzir pessoa certa e determinada à prática de um crime específico constitui participação no delito efetivamente cometido. É necessário que o agente estimule grande número de pessoas a cometer determinada espécie de delito, pois a conduta de estimular genericamente o ingresso de pessoas à delinquência não se enquadra no texto legal. Não caracteriza o delito a simples opinião favorável à legalização de certas condutas (porte de entorpecente, aborto etc.). Por essa razão, o Supremo Tribunal Federal autorizou a realização das chamadas “marchas da maconha”, que consistem em manifestações pleiteando a descriminalização do uso desse entorpecente ADIn 4.274, ocorrido em 23 de novembro de 2011, foi dada interpretação conforme à Constituição ao art. 33, § 2º, da Lei Antidrogas (Lei n. 11.343/2006), que prevê pena de 1 a 3 anos de detenção e multa, para quem induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso de substância entorpecente. De acordo com referida “interpretação conforme”, estão excluídos do dispositivo “qualquer significado que enseje a proibição de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano ao entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas”. A incitação ao crime pode ser exercitada por qualquer meio: panfletos, cartazes, discursos, gritos em público, e-mails, sites na internet, em redes sociais (Facebook, Twitter), entrevista em rádio, revista, jornal ou televisão etc. Comete o delito, por exemplo, quem mantém site na internet dizendo que todo marido traído deve espancar ou matar a esposa; ou quem, em entrevista, aconselha as pessoas a fazer ligações clandestinas de água, luz, gás etc.; ou, ainda, líder sindical que, em discurso, diz que operários devem depredar as indústrias em que trabalham. Quem incita a prática de preconceito racial ou a discriminação de raça, cor, religião, etnia ou procedência nacional comete infração mais grave, prevista no art. 20 da Lei n. 7.716/89 Sujeito ativo Qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo A coletividade. Consumação Com a simples incitação pública, ou seja, quando número indeterminado de pessoas dela toma conhecimento. Trata-se de crime formal e de perigo abstrato, cuja caracterização dispensa a efetiva prática de crime por parte dos que receberam a mensagem. Tentativa Somente é admitida na forma escrita, quando, por exemplo, extraviam-se os panfletos que seriam distribuídos, quando o agente é impedido de entregá-los às pessoas etc. Figuras equiparadas A Lei n. 14.197/2021 inseriu, no parágrafo único do art. 286, hipóteses em que deve ser aplicada a mesma pena, ou seja, para quem: a) incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas; b) incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas e os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade. Ação penal É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal. Apologia de crime ou criminoso Objetividade jurídica A paz pública. Tipo objetivo Fazer apologia significa elogiar de forma eloquente, enaltecer, exaltar um crime já cometido ou o autor do delito por tê-lo cometido. Comete o ilícito penal, por exemplo, quem, em entrevista, elogia um empresário por ter, comprovadamente, sonegado milhões em tributos, ou um assassino porque matou determinada pessoa, ou um estuprador por ter escolhido uma vítima bonita. A apologia pressupõe o elogio inequívoco e perigoso. Assim, não se configura quando alguém apenas narra o fato ou se limita a tentar justificar as razões do criminoso. Diferencia-se da incitação porque se refere a fato pretérito. Comete o crime, dessa forma, quem enaltece fato criminoso já ocorrido (previsto no Código Penal ou outras leis) ou o próprio autor do delito em razão do delito que cometeu. A apologia a fato contravencional não se amolda ao tipo penal. É também requisito desse crime que a apologia seja feita em público, isto é, que o enaltecimento ao ato criminoso ocorra na presença de número elevado de pessoas ou de modo que chegue ao seu conhecimento. Sujeito ativo Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Sujeito passivo A coletividade. Consumação Com a exaltação feita em público, independentemente de qualquer outro resultado. Cuida-se de crime de mera conduta e de perigo abstrato. Tentativa É possível na forma escrita. Ação penal É pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA Objetividade jurídica Preservar a paz pública. Tipo objetivo O delito em estudo configura-se pela associação estável de três ou mais pessoas com o fim de cometer reiteradamente crimes. Pressupõe, portanto, um acordo de vontades dos integrantes, no sentido de juntarem seus esforços no cometimento dos crimes. A denominação “associação criminosa” surgiu com a Lei n. 12.850, de 5 de agosto de 2013, que alterou o art. 288 do Código Penal, modificando o nomen juris da infração penal, antes denominada “quadrilha ou bando”, e facilitando sua tipificação, uma vez que o crime de quadrilha exigia para sua configuração o envolvimento mínimo de quatro pessoas, enquanto na associação criminosa bastam três. O tipo penal do delito de associação criminosa, pressupõe a união de um número mínimo de três pessoas. Nessa contagem, incluem-se os menores de idade, que não podem ser punidos pela Justiça Comum, os associados que morreram após ingressar no grupo, os comparsas que não foram identificados ou que foram identificados apenas por meio de alcunhas etc. É necessário, contudo, que o Ministério Público descreva na denúncia o envolvimento mínimo de três pessoas na associação, ainda que não seja possível mencionar o nome completo de todas elas. Ex.: João da Silva e Eduardo de Oliveira associaram-se com outros três indivíduos, identificados apenas como “Zoio”, “Tonho” e “Pato”, para a prática reiterada de crimes Distingue-se do concurso comum de pessoas (coautoria ou participação). Na associação criminosa, as pessoas reúnem-se de forma estável, enquanto no concurso elas se unem de forma momentânea. Na associação os agentes visam cometer número indeterminado de infrações, existindo, portanto, intenção de reiteração delituosa; já no concurso, visam à prática de crime específico. Assim temos que dez pessoas se juntam apenas para cometer um determinado roubo a banco e depois cada uma vai para seu lado, não há delito de associação criminosa — apenas de roubo majorado pelo concurso de agentes A associação necessariamente deve visar ao cometimento de crimes. Estes podem ser de qualquer natureza. Exemplos: a) grupo de pessoas que se unem para exterminar pessoas (grupo de extermínio); b) integrantes de torcida organizada que agem em bando sempre que há jogo de sua equipe a fim de agredir torcedores de outro time e para depredar bens alheios (ônibus, trens, automóveis estacionados etc.); c) médicos e seus assistentes que montam uma clínica a fim de praticar reiteradamente crimes de aborto mediante remuneração; d) grupo de hackers que se une para criar sites falsos e obter os números da conta e da senha de grande número de vítimas a fim de desviar dinheiro de suas contas correntes (furtos); e) ladrões que se associam para roubar bancos ou cargas de caminhões; f) estelionatários que se unem para dar golpes em grande número de vítimas; g) integrantes de desmanches de veículos que se juntam para a aquisição de carros de origem ilícita (receptadores); h) pessoas que se unem para falsificar documentos;i) políticos que se unem entre si e com outras pessoas para desfalcar o patrimônio público; Nos exemplos nota-se associação foi montada para o cometimento de crimes de uma espécie determinada. Nada obsta, entretanto, a existência de grupos que pretendam cometer infrações penais diversificadas (furtos, roubos, homicídios, falsificações etc.). Sujeito ativo Pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum. Cuida-se, ainda, de crime de concurso necessário, pois sua existência depende da união de, ao menos, três pessoas. A hipótese é de concurso necessário de condutas paralelas, porque os envolvidos auxiliam-se mutuamente, visando um resultado ilícito comum. Sujeito passivo A coletividade. Trata-se de crime vago, ou seja, de delito que tem como sujeito passivo entidade sem personalidade jurídica. Consumação e concurso de crimes O delito se consuma no momento em que ocorre o acordo de vontades entre os integrantes no sentido de formar a associação, independentemente da prática de qualquer crime. Trata de delito formal. Ex.: policiais que, em interceptação telefônica, descobrem uma associação criminosa que acaba de ser formada e impedem a prática do primeiro crime, prendendo seus integrantes. É crime autônomo em relação aos delitos que efetivamente venham a ser cometidos por seus integrantes, uma vez que a lei visa punir a simples situação de perigo que representa para a sociedade a associação de pessoas que pretendem cometer crimes de forma contumaz. Dessa forma, haverá concurso material entre o delito de associação criminosa e as demais infrações efetivamente praticadas por seus integrantes. É crime permanente Tentativa É inadmissível, pois, ou existe a associação e o crime está consumado, ou apenas tratativas que constituem meros atos preparatórios. Aumento de pena O parágrafo único do art. 288, dada pela Lei n. 12.850/2013, prevê que a pena será aumentada em até metade se a associação for armada ou se houver participação de criança ou adolescente. Apesar das divergências, prevalece o entendimento de que basta um dos integrantes da associação atuar armado, desde que isso guarde relação com os fins criminosos do grupo Figura qualificada O art. 8º da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) dispõe que será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal quando se tratar de união visando à prática de crimes hediondos, tortura ou terrorismo Delação premiada A Lei dos Crimes Hediondos, em seu art. 8º, parágrafo único, dispõe que o participante ou associado que denunciar à autoridade (juiz, promotor, delegado, policial militar) o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. Nos termos da lei, só haverá a diminuição da pena se a delação implicar o efetivo desmantelamento do grupo. No caso do concurso material entre o delito de associação criminosa e outros delitos praticados por seus integrantes, a redução da pena atingirá apenas o primeiro (associação). Esse instituto foi também chamado por Damásio de Jesus de traição benéfica, pois implica redução da pena como consequência da delação de comparsas. Consumação e concurso de crimes O delito se consuma no momento em que ocorre o acordo de vontades entre os integrantes no sentido de formar a associação, independentemente da prática de qualquer crime. Trata de delito formal. Ex.: policiais que, em interceptação telefônica, descobrem uma associação criminosa que acaba de ser formada e impedem a prática do primeiro crime, prendendo seus integrantes Analise as proposições e assinale a única alternativa correta: I. Não descaracteriza o crime de quadrilha a circunstância de um dos quadrilheiros não conhecer os demais. II. O participante que denunciar a quadrilha, permitindo o seu desmantelamento, terá direito à redução da pena. III. Quadrilha é crime formal, consumando-se independentemente da concretização do fim visado. a) Todas as proposições são verdadeiras. b) Todas as proposições são falsas. c) Apenas uma das proposições é verdadeira. d) Apenas uma das proposições é falsa. Estudar os artigos 289, 290 e 291 image1.png image2.png image3.png image4.png image5.png