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07 - Relações de parentesco, filiação, adoção, alienação parental e guarda de filhos 1 RELAÇÕES DE PARENTESCO (arts. 1.591-5 do Código Civil) De início, destaque-se que o cônjuge/companheiro não são parentes, sendo sua relação “sui generis”. Os demais parentes são catalogados na linha reta, colateral, por afinidade e afetividade. Na primeira delas os parentes descendem uns dos outros e o vínculo é infinito. Os que são anteriores a mim são os ascendentes, que se contam em graus. Os que vierem depois de mim são os descendentes e sua classificação também é por graus. 2 Acerca do parentesco colateral ou transversal, o que ocorre é que esses parentes têm um ancestral em comum, geralmente pais ou avós. Essa relação de parentesco, ao contrário daquela em linha geral, termina no quarto grau. Assim, filhos de primos não são parentes. Parentes por afinidade são aqueles que são parentes do cônjuge ou companheiro. Na linha reta: sogro/sogra, genro/nora, madrasta/padrasto/enteados. Para eles, o vínculo não termina nunca, nem mesmo após a morte ou o divórcio, só sendo possível que finde nas hipóteses de nulidade e anulabilidade. 3 Já na colateral só são parentes por afinidade os irmãos do cônjuge ou companheiro, que são os cunhados. Em relação a esses, o vínculo termina quando o casamento finda pelo divórcio, morte ou dissolução. 4 O art. 1.593 estabeleceu que o parentesco é consanguíneo ou natural. Além disso, o parentesco civil compreende hipóteses de adoção, fecundação heteróloga e socioafetividade. No primeiro caso não houve novidades, mas, na fecundação heteróloga surgiram avanços contemplando hipóteses de reprodução assistida. Finalmente, no que tange à socioafetividade, o que se tem é que determinados vínculos que se criam entre padrasto e enteados ou madrasta e enteado podem ser reconhecidos judicialmente como relação entre pais e filhos. 5 Essa última parte, porém, não apresenta previsão legislativa, cuidando-se de construção doutrinária que, por fim, foi acolhida por vários julgadores. 6 FILIAÇÃO (arts. 1.596-1.606 do Código Civil) A filiação é conceituada como o vínculo existente entre pais e filhos, a relação de parentesco consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe geraram a vida ou a receberam como se a tivessem gerado. É necessário destacar que não há mais diferenciação entre filiação legítima e ilegítima, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros em sua constância, mas com iguais direitos e qualificações. 7 Nesse sentido, o Código Civil lista as hipóteses em que se presume que os filhos foram concebidos na constância do casamento, quando é gerado por mulher casada. Essa presunção, que vigora quando o filho é concebido na constância do casamento, é conhecida, como já dito, pelo adágio romano pater is est quem justae nuptiae demonstrant, segundo o qual é presumida a paternidade do marido no caso do filho gerado por mulher casada. Comumente, no entanto, é referida de modo abreviado: presunção pater is est. 8 Vale destacar que a referida presunção de veracidade é relativa, ou seja, admite prova em contrário. Assim, o marido pode ingressar com ação negatória de paternidade, que é imprescritível (art. 1.601) para contestar a filiação que lhe é imputada. Após intentada a ação, a titularidade passa aos herdeiros do pai no caso de seu falecimento (parágrafo único do art. 1.601). O art. 1598 dispõe que, salvo prova em contrário, mesmo que a mulher tiver contraído novas núpcias, e lhe nascer algum filho, esse se presume do primeiro marido, e a presunção só passará a valer para o segundo marido, quando decorridos os prazos previstos no artigo anterior. 9 "Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1597." 10 O art. 1.599 dispõe sobre a impotência generandi, que é a incapacidade do homem de gerar filhos, impossibilita a reprodução em si, tal artigo, então, ilide a presunção da paternidade. O artigo seguinte estampa a hipótese em que a mulher comete o adultério, e o fato de o ter o feito não afasta a presunção de paternidade do seu cônjuge. O art. 1.602 que declara que o simples fato da confissão materna na tentativa de afastar a paternidade, não é suficiente. 11 Já o art. 1.603 nos traz o meio de provar a filiação, qual seja, a certidão de nascimento registrada no registro civil. Ainda sobre a prova de filiação, o art. 1.604 dispõe que, em regra, ninguém pode escusar-se da paternidade/maternidade, uma vez que o seu nome conste no registro de nascimento, com a exceção de quando se prova erro ou falsidade do registro. 12 O art. 1.605 prevê as hipóteses em que há a falta ou defeito do registro de nascimento, aduzindo que a filiação poderá se provada de qualquer modo, desde que admissível em direito. Por fim, tratando de filiação, o art. 1.606 diz respeito à ação de prova de filiação, a quem compete e a ressalva de quem poderá dar continuidade a tal ação, após o seu ajuizamento (RESOLUÇÃO CFM Nº 2.294/2021) https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-cfm-n-2.294-de-27-de-maio-de-2021-325671317 13 DO RECONHECIMENTO DOS FILHOS (arts. 1.607-17 do Código Civil) Esses dispositivos cuidam dos filhos havidos fora do casamento ou união estável. O reconhecimento é o recurso pelo qual se valem os filhos nascidos de relações não amparadas pelo casamento civil ou da união estável, haja vista que estes não são amparados pela presunção legal de paternidade. Entende-se por perfilhação o reconhecimento voluntário dos filhos. 14 O Estatuto da Criança e do Adolescente, seguindo orientação traçada pela Constituição Federal de 1988, firmou em seu art. 26, de modo inequívoco que: Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou qualquer outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. 15 Portanto, conclui-se que o direito brasileiro, atualmente, permite, de forma ampla e irrestrita, o reconhecimento de filhos, quer voluntário, quer judicial. Nesse sentido, o art. 1.607 expõe que “o filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente." No que diz respeito ao art. 1.608, ele estabelece que a mãe só poderá se escusar da maternidade, ou seja, contestá-la mediante provas de falsidade da certidão ou das declarações ali contidas. 16 Ainda sobre os filhos havidos fora do casamento, os arts. 1.609 e 1.610 asseguram que, uma vez feito o reconhecimento de paternidade deste, torna-se irrevogável. O art. 1612 do CC, dispõe sobre a guarda do filho quando menor. A perfilhação, como consta do art. 1.613, é ato puro e simples, que não admite prazo, condição ou qualquer outra modalidade que vise restringir o ato de reconhecimento. 17 Acerca do filho maior de idade ou emancipado, o reconhecimento dependerá de sua aceitação. Já o filho menor poderá contestar a maioridade em até quatro anos após a maioridade ou emancipação (art. 1.614). Por fim, o art. 1.615 dispõe que poderá contestar a ação de investigação de paternidade ou maternidade a pessoa que tiver justo interesse, tais como outros possíveis herdeiros. 18 Merece críticas o art. 1.616, que determina que a sentença que reconhecer a paternidade poderá determinar que o filho se crie fora da companhia dos pais ou do que contestou a qualidade, como se a prioridade fosse a família e não o filho. Por fim, o art. 1.617 destaca que a filiação pode resultar de casamento nulo, ainda que não tenha as condições do casamento putativo. 19 DA ADOÇÃO (ARTS. 1.618-29DO CÓDIGO CIVIL E 39-52-D do ECA) Adoção é o ato solene pelo qual alguém estabelece, irrevogável e independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo jurídico de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha. 20 Atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro baseia-se nas seguintes leis para a adoção: o Código Civil e a Lei Nº 8.069/1990, o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, com as alterações da Lei nº 12.010/2009, e deve sempre priorizar os interesses das crianças e dos adolescentes. 21 No Brasil, as pessoas interessadas em adotar crianças e adolescentes devem se cadastrar nas comarcas ou foros regionais, bem como deve existir também um cadastro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados. Para tal, o Ministério Público deve participar, bem como técnicos e profissionais da área, como psicólogos e assistentes sociais. O processo de avaliação é rigoroso, pois a incumbência e a responsabilidade em colocar uma criança numa família substituta é muito grande. 22 O objetivo maior de todo este processo é o bem-estar e o interesse da criança e do adolescente em o colocar em família equilibrada emocionalmente e com capacidade intelectual e de afetividade. 23 Espécies de adoção 24 Adoção Civil Adoção Civil Também chamada "adoção comum" ou "tradicional". Antigamente, era prevista no Código Civil de 1916 como o vínculo de filiação que nascia de uma declaração de vontade do adotante e adotado, e não era definitivo, podendo ser revogado, pois em verdade era um negócio jurídico, não imitando assim a filiação natural, que é irrevogável. Vale mencionar que era prevista a prestação dos alimentos, à troca dos nomes, no entanto não outorgava direito sucessório entre adotante e adotado, pois mantinha os laços com os pais biológicos, transferindo apenas o poder familiar aos adotantes. 25 Atualmente, temos essa espécie nos casos de adoção de maiores de 18 anos. Sua previsão está nos arts. 1.618 e seguintes do Código Civil. Pode ser feita por qualquer pessoa, seja solteira, casada ou estavelmente unida, maior de idade, brasileira ou estrangeira, residente ou não no território nacional. 26 Adoção Estatutária É aquela prevista no art. 39 e seguintes da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA), é a espécie de adoção aplicável a todos os menores de 18 anos e àqueles que, ao atingirem os dezoito anos, já estavam sob a guarda ou tutela dos adotantes, desligando totalmente os vínculos da origem sanguíneas (art. 40 do ECA). 27 Adoção Internacional É o instituto jurídico de ordem pública que concede à criança ou ao adolescente em estado de abandono a possibilidade de viver em um novo lar no exterior, sendo necessário, contudo, a observância de normas do país do adotado e do adotante. Para ser considerada adoção internacional, o adotante deve ser estrangeiro não domiciliado no Brasil, ou brasileiro domiciliado no exterior. 28 Houve uma importante alteração na legislação, que dispõe que para a adoção internacional, além dos requisitos inerentes a todas as modalidades de adoção, é exigido um “Estágio de Convivência” de no mínimo 30 dias, a ser cumprido no território nacional, para que seja concretizada a adoção. Vale mencionar que, a Constituição de 1988 faz menção à adoção internacional, no parágrafo 5º do art. 227: “A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros”, ou seja, foi estabelecida uma série de controles, tendo a supervisão do Ministério da Justiça, bem como do Conselho Nacional de Justiça. 29 As espécies supramencionadas são as modalidades de adoção previstas em lei. Mas existe uma outra forma de adotar, sendo recorrente, não prevista em lei, e sua prática constitui crime (art. 242 do Código Penal). Trata-se da adoção à brasileira ou simulada. A adoção à brasileira consiste no registro de filho alheio como próprio, sem haver qualquer intervenção ou acompanhamento judicial ou dos órgãos responsáveis pela fiscalização do ato como conselho tutelar e Ministério Público. 30 Esse tipo de adoção é comum no Brasil e, ao contrário das demais modalidades, sua ocorrência encontra respaldo unicamente no Código Penal, tipificada como crime, pois consiste em registrar uma criança em nome próprio, como se fosse filho natural, não observando o devido processo legal. Ainda que a intenção dos declarantes seja a melhor possível, e apesar do perdão judicial, esse ato continua sendo considerado crime e, portanto, não deve ser estimulado. 31 Principais requisitos para a adoção: ► maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. ► O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando. ► Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também necessário o seu consentimento. 32 Observações Importantes: Obs: Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. (Tal vedação é totalmente justificável, pois não há necessidade da adoção, tendo em vista que, pela lei, avós e irmãos configuram como os sucessores naturais da guarda das crianças que possuem pais falecidos, ausentes e até mesmo destituídos do poder familiar). 33 Obs: Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. (Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-companheiros podem adotar conjuntamente, desde que acordem sobre a guarda e o regime de visitas e também que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do período de convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão). 34 Obs: Caso os pais biológicos sejam conhecidos, a adoção depende do consentimento desses ou do representante legal do adotando, se for o caso. Obs: O art. 8º, § 5º, do ECA prevê que no ato do parto a mulher poderá rejeitar a criança, e entregá-la imediatamente para programa de adoção. Obs: Em relação ao prenome do adotando, os pais só poderão trocá-lo se esse for uma criança. A partir dos 12 anos, o adotante poderá optar por permanecer com o próprio nome. 35 Juízo Competente A adoção requer uma apreciação demorada para ser formalizada, e a competência para processar e julgar os casos de adoção é do Juiz da Infância e da Juventude ou juiz que exerça tal competência, conforme a referida Lei. Obs: por estimativa, o prazo de um processo de adoção durará em torno de 3 anos. 36 Obs: A sentença constitutiva produz efeitos a partir do trânsito em julgado, e tal sentença não será averbada no registro público, pois é expedida uma nova certidão de nascimento, inexistindo menção à certidão anterior, não há menção aos pais anteriores, exceto no caso de concessão post mortem. Importante mencionar que, se se tratar de adoção de maiores, o processo irá tramitar na Vara da Familia. 37 Estágio de Convivência: ► Poderá ser dispensado se o menor já convivia com os adotantes durante tempo suficiente ► A simples guarda de fato não dispensa o estágio 38 Efeitos de Ordem Pessoal Que a Adoção Gera: ► Ganha titularidade de filho. ► O parentesco desta criança se firma com aqueles que a adotaram e, consequentemente, é dissolvido todo e qualquer parentesco com os pais biológicos (exceto em relação aos impedimentos para relações matrimoniais). ► Apesar de todos os vínculos com os pais anteriores serem dissolvidos, caso o adotando queira conhecer seus pais biológicos, não poderá ser impedido. ► O poder Familiar fica nas mãos dos adotantes. 39 ► A inclusão do sobrenome poderá acontecer (não é obrigatória). ► Mudança do prenome: se o adotando for adolescente, o prenome só poderá ser modificado com o consentimento deste, se for uma criança (0 -12 anos), o prenome poderá ser modificado independentemente do consentimentodesta. 40 Efeitos de Ordem Patrimonial Que a Adoção Gera: ► O direito à prestação de alimentos recíproco. ► O adotando ingressa na linha sucessória. ► Adotantes e parentes também são herdeiros do adotado 41 PODER FAMILIAR (ARTS. 1.630-8 DO CÓDIGO CIVIL) Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais ou representantes legais, no tocante à pessoa e aos bens dos menores. Nota-se que o poder familiar é instituído no interesse dos filhos e da família, não em proveito dos pais, em especial, em atenção ao princípio constitucional da paternidade responsável, estabelecido no art. 226, § 7º, da Constituição Federal. O antigo Código Civil de 1916 utilizava a expressão "pátrio poder", já que o poder era exercido exclusivamente pelo pai. Hoje, temos que o poder familiar é dever conjunto dos pais. 42 Titularidade do Poder Familiar A Constituição Federal, em seu art. 226, § 5º, ao dispor que "os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher", coadunam com o expresso no art. 1.631, do Código Civil sobre a igualdade completa no tocante à titularidade e exercício do poder familiar pelos cônjuges ou companheiros. 43 - Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, quando menores. (art. 1.630, CC). - Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade. (art. 1.631) - Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo (art. 1.631, parágrafo único) 44 - A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos (art. 1.632) - O filho, não reconhecido pelo pai, fica sob poder familiar exclusivo da mãe; se a mãe não for conhecida ou capaz de exercê-lo, dar-se-á tutor ao menor (art. 1633) 45 Dos Bens do Menor Os pais são administradores legais e gozam de usufruto legal dos bens dos filhos menores, auferindo-lhes a renda. Dispensa-se a prestação de contas e caução. Não podem gravar de ônus reais ou alienar sem autorização judicial. (alienação = juiz autoriza por alvará, não podendo ser vendido por valor menor à avaliação, caso ocorra a venda sem autorização judicial, trata-se de hipótese de nulidade a ser suscitada pelo filho, herdeiros ou representante legal) 46 Bens excluídos do usufruto: adquiridos pelo filho havido fora do casamento, antes de seu reconhecimento; valores e bens auferidos pelo filho maior de 16 anos, no exercício de atividade profissional; bens deixados ou doados ao filho, sob a condição de não serem usufruídos ou administrados pelos pais; bens que couberem ao filho na herança, quando os pais forem excluídos da sucessão. 47 Do Exercício do Poder Familiar Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; 48 VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição. Obs: a infração dos deveres do poder familiar não desobriga o sustento (alimentos). 49 Extinção do Poder Familiar Art. 1.635. Extingue-se o poder familiar: I - pela morte dos pais ou do filho; II - pela emancipação, nos termos do art. 5o, parágrafo único; III - pela maioridade; IV - pela adoção; V - por decisão judicial, na forma do art. 1.638. 50 Art 1.636. O pai ou a mãe que contrai novas núpcias, ou estabelece união estável, não perde, quanto aos filhos do relacionamento anterior, os direitos ao poder familiar, exercendo-os sem qualquer interferência do novo cônjuge ou companheiro. Parágrafo único. Igual preceito ao estabelecido neste art. aplica-se ao pai ou à mãe solteiros que casarem ou estabelecerem união estável. 51 Da Suspensão A suspensão do exercício do poder familiar ocorre nos casos em que o pai e/ou a mãe abusar do seu poder (e, em sentido contrário, descuidar dos direitos da prole), faltando aos seus deveres paternos ou maternos. 52 Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão. 53 A suspensão pode ser decretada em relação a um único filho ou todos os filhos de um casal. Essa medida, ainda, pode ser decretada liminar ou incidentalmente, e o juiz confia o menor a pessoa idônea. Por fim, tal suspensão é temporária e perdura enquanto se mostrar necessário. 54 A perda é um tipo mais grave de destituição do poder familiar determinada por meio de decisão judicial. Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho; II - deixar o filho em abandono; III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. V - entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. 55 Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018) I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018) a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018) 56 b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018) II – praticar contra filho, filha ou outro descendente: (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018) a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; (Incluído pela Lei nº 13.715, de 2018) b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão. 57 Obs: Em regra, a perda do poder familiar é permanente, conquanto, de maneira excepcional, o seu exercício possa ser restabelecido, desde que seja devidamente provada a regeneração do genitor ou ainda se desaparecida a causa ensejadora, mediante procedimento judicial de caráter contencioso. Obs: Importante frisar-se que a perda do poder Familiar não desobriga o pai ou mãe, ou ambos, ao cumprimento da obrigação de prestação de alimentos aos filhos, a exemplo do que acontece em casos de suspensão. 58 Obs: Em regra, a medida é imperativa e abrange toda a prole (regra geral) Obs: A falta de recursos materiais não enseja perdaou suspensão do poder familiar. Obs: A legitimidade é do MP ou de quem tenha legítimo interesse. 59 GUARDA (ARTS. 1.583-90 DO CÓDIGO CIVIL) A guarda poderá ser unilateral ou compartilhada Por guarda unilateral entende-se por aquela atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua e a modalidade compartilhada é a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns. 60 Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser dividido (a norma traz "guarda compartilhada", no entanto, trata-se de uma guarda alternada, uma vez que é o tempo de convívio é "dividido" e não "compartilhado") de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos. Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos. 61 A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: → requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar; 62 → decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe. O pai ou a mãe que contrair novas núpcias não perde o direito de ter consigo os filhos, que só lhe poderão ser retirados por mandado judicial, provado que não são tratados convenientemente (art. 1.588) O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação. (art. 1.589) O direito de visita estende-se a qualquer dos avós, a critério do juiz, observados os interesses da criança ou do adolescente. (art. 1.589, parágrafo único). 63 ALIENAÇÃO PARENTAL (LEI Nº 12.318/2010) A alienação parental é um dos temas mais delicados tratados pelo direito de família, considerando os efeitos psicológicos e emocionais negativos que pode provocar nas relações entre pais e filhos. A prática caracteriza-se como toda interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos pais, pelos avós ou por qualquer adulto que tenha a criança ou o adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância. O objetivo da conduta, na maior parte dos casos, é prejudicar o vínculo da criança ou do adolescente com o genitor. 64 Formas exemplificativas que a lei traz de alienação parental (art. 2º da Lei 12.318/2010): → realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; (nestes casos são os xingamentos, os menosprezos, lembrando que deverão ocorrer de forma reiterada) 65 → dificultar o exercício da autoridade parental; (por exemplo, dificultar autoridade, fazendo com que o filho não respeite o outro genitor, observação importante: essa prática poderá ocorrer sem a necessidade de os pais estarem separados). → dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; (arrumar pretextos para evitar o encontro do genitor com o filho) → dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; (Isso ocorre quando a convivência já está prestigiada no Judiciário, confirmada por sentença e, mesmo assim, dificulta-se essa convivência com o outro genitor) 66 → omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; (houve reprovação escolar, e tal informação fora omitida do genitor, neste caso, a prática não precisa ser reiterada) → apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; (exemplo: alegar que o genitor é pedófilo) 67 → mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. (Só é permitida esta mudança sem configurar alienação parental se houver justificativa (exemplo: novo emprego, diferença significativa no valor do aluguel, e etc). Caracterizada mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. 68 Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz deverá determinar perícia psicológica ou biopsicossocial. 69 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, o juiz poderá, utilizar instrumentos aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: (art. 6º da Lei nº 12.318/2010): I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; (advertir, censurar, dar uma bronca no alienador). 70 II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; (como forma de punição para o alienador, aumenta-se o tempo de convivência com o genitor alienado, exemplo: visita de 3 dias na semana passa a ser 4 dias na semana) III - estipular multa ao alienador; (punição pecuniária) IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; 71 V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; (determinar que fique na casa de outro parente) VII - declarar a suspensão da autoridade parental. (perde autonomia parental) 72 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família. Vol. 5. Rio de Janeiro: Forense, 2020. TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito de Família. Vol. 5. Rio de Janeiro: Forense, 2021. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Família e Sucessões. Vol. 5. São Paulo: Forense, 2021. 73 Referências image1.jpeg image2.png image3.jpeg