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Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 1 A D V E R T Ê N C I A Este roteiro é apenas um esboço para o acompanhamento das aulas. Não é material suficiente para fins de estudo completo, que DEVERÁ SEMPRE ser complementado com a bibliografia indicada e com a leitura dos dispositivos legais. O estudo feito aqui pode eventualmente incluir conceitos de outros professores consagrados, pois é elaborado com fins meramente de orientação dos alunos para acompanhamento das aulas, sem finalidade de divulgação ou cópia das respectivas obras. Aula 10 – COMPETÊNCIA. EMENTA: Conhecer as regras de definição da competência do juízo. Compreender as regras referentes à competência absoluta e relativa e as formas de modificação da competência relativa. Conhecer as regras de definição da competência do juízo. Compreender as regras referentes à competência absoluta e relativa e as formas de modificação da competência relativa. Introdução. A competência é estabelecida em lei e determina os limites do poder de julgar. Consiste na limitação do exercício da jurisdição atribuída a cada órgão ou grupo de órgãos jurisdicional – é a medida da jurisdição. Nesse sentido, confira-se a disposição do CPC, no artigo 42: “As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei”. É “incompetente” o juiz que não tem o poder de julgar atribuído por lei e, em caso de julgamento, seus atos poderão ser declarados nulos, assim, se um juiz assume uma vara criminal, não poderá julgar ações de divórcio, pois a competência a ele atribuída não abrange as ações de família, por exemplo. A competência, no processo civil, é trazida nos artigos 42 a 66, do Código de Processo Civil e no processo penal, nos artigos 69 a 91, do Código de Processo Penal. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 2 1. Regras (ou critérios) para definição de competência. Os critérios que o legislador levou em conta para a distribuição de competência são: a) o da soberania nacional; b) o da hierarquia e atribuições dos órgãos jurisdicionais (critério funcional); c) o da natureza ou valor da causa e o das pessoas envolvidas no litígio (critério objetivo), e; d) os dos limites territoriais que cada órgão judicial exerce a atividade jurisdicional (critério territorial). A regra geral para definição da competência está no artigo 43, do CPC, que dispõe: “Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta” – trata-se da chamada competência por distribuição (critério territorial). A competência, na forma do artigo 44, do CPC, obedecerá aos limites estabelecidos na Constituição Federal (foro por prerrogativa de função, por exemplo – determinadas autoridades somente podem ser julgadas por determinados órgãos do Poder Judiciário, como é o caso do julgamento dos deputados federais pelo STF em caso de crimes comuns – artigo 53, §1º, da CF1) e será determinada pelas regras previstas no CPC/lei especial, pelas normas de organização judiciária (lei estadual2) e pelas constituições dos Estados3. Contudo, para se determinar o juízo competente, uma análise pormenorizada deve ser desenvolvida além da regra geral. Vejamos cada um deles. 1.1. Competência internacional (critério da soberania nacional). Como é sabido, a jurisdição é fruto da soberania do Estado e, por consequência natural, deve ser exercida dentro do seu território. Entretanto, a necessidade de 1 Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 35, de 2001) (...) 2 Em São Paulo, a organização judiciária é disciplinada pelo Decreto Lei 158/69 – disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158-28.10.1969.html 3 A constituição do Estado de São Paulo pode ser consultada aqui: http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e25766 58b1c52903256d63004f305a?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc35.htm#art1 http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto.lei/1969/decreto.lei-158-28.10.1969.html http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b1c52903256d63004f305a?OpenDocument http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/dg280202.nsf/a2dc3f553380ee0f83256cfb00501463/46e2576658b1c52903256d63004f305a?OpenDocument Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 3 convivência entre os Estados, independentes e soberanos, fez nascer regras que levam um Estado a acatar, dentro de certos limites estabelecidos em tratados internacionais, as decisões proferidas por juízes de outros Estados. Diante dessa realidade, o legislador nacional definiu casos em que a competência é exclusiva do Poder Judiciário brasileiro, e casos em que a competência é concorrente/cumulativa, sendo que a decisão proferida no estrangeiro pode vir a gerar efeitos dentro do nosso território, após ser homologada pelo STJ. A competência será exclusiva, na forma do artigo 23, do CPC: “Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional”. A competência será concorrente/cumulativa, na forma dos artigos 21 e 22, do CPC: “Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo,quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional”. • Atenção: a ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil (artigo 24, do CPC). Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 4 • Atente-se também: não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação, salvo as causas de competência exclusiva da jurisdição nacional. 1.2. Competência funcional (critério funcional). Divide-se a atividade jurisdicional entre órgãos que devam atuar dentro do mesmo processo. Como o procedimento se desenvolve em diversas fases, pode haver necessidade de determinados atos se realizarem perante órgãos diversos; é o caso da carta precatória para citação ou intimação e oitiva de testemunha que esteja domiciliada em comarca diversa daquela em que tramita o processo, para a realização de penhora de bem situado em comarca diversa. Essa competência é alterada também de acordo com o grau de jurisdição. Normalmente se desloca a competência para um órgão de segundo grau, um tribunal, para reapreciar processo decidido em primeira instancia por meio de recurso. 1.3. Critério objetivo. O critério objetivo engloba: a) Competência em razão da pessoa (partes): a fixação da competência tendo em conta as partes envolvidas (ratione personae) pode ensejar a determinação da competência originaria dos tribunais, para ações em que a Fazenda Pública for parte etc.; b) Competência em razão da matéria (ratione materiae): causa de pedir; considera- se, ao fixar a competência, a natureza da relação jurídica controvertida, definida pelo fato jurídico que lhe dá ensejo, por exemplo: para conhecer de uma ação de separação, será competente um dos juízes das Varas da Família e Sucessões, quando os houver na Comarca; c) Competência em razão do valor da causa (pedido): serve para delimitar, entre outras hipóteses, competência de varas distritais, ou, quando houver organizado, dos Tribunais de Alçada. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 5 1.4. Competência territorial (critério territorial). É o critério que se apega à circunscrição geográfica. É o critério de foro que se encontra no CPC, nos artigos 46 a 53, confira-se: OBS: foro é a comarca onde a demanda deve ser proposta, isto é, a competência territorial para o ajuizamento da ação. A comarca corresponde ao território em que o juiz de primeiro grau irá exercer sua jurisdição e pode abranger um ou mais municípios, dependendo do número de habitantes e de eleitores, do movimento forense e da extensão territorial dos municípios do estado, entre outros aspectos. Cada comarca, portanto, pode contar com vários juízes ou apenas um, que terá, no caso, todas as competências destinadas ao órgão de primeiro grau4. Caso Local/foro Artigo do CPC e regras específicas Direito pessoal ou real sobre bens móveis Foro do domicílio do réu Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu. § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. § 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado. Direito real sobre imóveis Foro de situação da coisa Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa. § 4 Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara- entrancia-e-instancia http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara-entrancia-e-instancia http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/82385-cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara-entrancia-e-instancia Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 6 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova. § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta. Inventário, partilha, arrecadação, cumprimento de disposições de última vontade, impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu Foro de domicílio do autor da herança Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente: I - o foro de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio. Réu ausente Foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias. Réu incapaz Foro de domicílio de seu representante ou assistente Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente. Quando a União ou Estado forem autores Foro de domicílio do réu Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União. Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 7 de situação da coisa ou no Distrito Federal. Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal. Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado. Para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável Foros: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal,caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal. Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; Ação em que se pedem alimentos Foro do domicílio ou residência do alimentando Art. 53 (...) II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; Ré pessoa jurídica Foro do local da sede; onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica. Art. 53, inciso III, alíneas “a”, “b” e “c”. Ação que visa o cumprimento de obrigações Onde a obrigação deve ser satisfeita Art. 53, inciso III, alínea “d”. Direitos previstos no Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/20035. Foro do local da residência do idoso Art. 53, inciso III, alínea “e”. Ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício notarial Foro da sede da serventia Art. 53, inciso III, alínea “f”. Ação para reparação de danos Foro do local do ato ou fato Art. 53, inciso IV. Ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves Foro do domicílio do autor ou local do fato Art. 53, inciso V. 5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 8 • Conclusão para fixação de competência (etapas): Do ponto de vista didático, a fixação da competência observará o seguinte passo a passo, sintetizando as colocações acima: 1º) A competência é internacional ou interna? 2º) Se interna, a competência é exclusiva ou concorrente? 3º) Se interna, a competência é da Justiça comum ou especial? 4º) Se da Justiça comum, a competência é federal ou estadual? 5º) Verificação da competência territorial e; 6º) Verificação da Vara6. 2. Classificação de competência. Vide tabela: COMPETÊNCIA DE FORO (TERRITORIAL). Foro é a unidade territorial sobre a qual se exerce o poder jurisdicional. Primeiro, verifica-se qual é o foro competente, de acordo com as regras do CPC. COMPETÊNCIA DO JUÍZO. Após a verificação do foro competente, o próximo passo é verificar qual é o juízo competente, segundo as leis de organização judiciária. COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA. Pode ser atribuída ao juízo singular (é a regra) ou ao tribunal (excepcional, como nos casos de ação rescisória, mandado de segurança contra ato judicial etc.). COMPETÊNCIA DERIVADA OU RECURSAL. Normalmente é atribuída a um tribunal. Caso de juízo singular com competência recursal: os embargos infringentes de alçada são julgados pelo mesmo juízo 6 As varas representam a área de atuação definida de cada juiz. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 9 prolator da sentença (art. 34 da Lei 6.830/80). COMPETÊNCIA RELATIVA. 1) É fixada para atender preponderantemente ao interesse particular. 2) Deve ser arguida pelo réu na contestação, sob pena de preclusão e prorrogação do juízo (art. 657). Pode ser alegada pelo MP nas causas de sua atuação (art. 65, parágrafo único). O assistente simples não pode alegar incompetência relativa em favor do assistido (aplicação do art. 122). 3) Súmula 33 do STJ: a incompetência relativa não pode ser conhecida de ofício. 4) Pode ser modificada pelo foro de eleição (art. 63) ou pela simples não alegação. Pode ser alterada por conexão ou continência. 5) Mudança superveniente é irrelevante (aplicação da perpetuatio jurisdicionis). Exemplos: territorial (regra geral) e em razão do valor da causa (quando ficar aquém do limite estabelecido por lei). COMPETÊNCIA ABSOLUTA. 1) É fixada para atender preponderantemente ao interesse público. 2) Pode ser alegada a qualquer tempo, por qualquer das partes. Se a decisão transitar em julgado, cabe ação rescisória para desconstituí-la (art. 966, II). 3) Deve ser declarada de ofício (art. 64, §1º). Não pode ser alterada por vontade das partes8. 4) Não pode ser alterada por conexão ou continência. 5) Mudança superveniente impõe o deslocamento da causa para outro juízo (excepciona a perpetuatio jurisdicionis). Exemplos: em razão da matéria; em razão da pessoa; funcional; territorial (em alguns casos – vide no caso de ação civil pública – artigo 2º, da Lei nº 7.347/859); em razão do valor da causa (quando extrapolar os limites estabelecidos pelo legislador). 7 Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação. Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar. 8 Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação. § 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício. § 2o Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência. § 3o Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente. § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente. 9 Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 10 3. Competência absoluta (conforme distinção feita na tabela acima). A competência absoluta jamais pode ser modificada, pois é determinada de acordo com o interesse público, assim não é plausível de mudança pelas circunstâncias processuais ou vontade das partes. A competência absoluta é assim considerada quando fixada em razão da matéria (ratione materiae, em razão da natureza da ação, exemplo: ação civil, ação penal etc.), da pessoa (ratione personae, em razão das partes do processo) ou por critério funcional (em razão da atividade ou função do órgão julgador, por exemplo: competência para julgamento de recurso), em alguns casos o valor da causa bem como a territorialidade podem ser consideradas competência absoluta, mas a isso se trata como exceção. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício, e a qualquer momento do processo ela pode ser alegada, tanto pelas partes quanto pelo próprio juiz. Se houver vício no processo referente à competência absoluta, isso acarreta em uma nulidade absoluta do processo. Mesmo depois de trânsito em julgado, se no prazo de dois anos for identificada a incompetência absoluta é possível desconstituí-la em ação rescisória. Reconhecida a incompetência absoluta os atos já praticados tornam-se nulos, e o processo é enviado ao juiz deveras competente. A regra de competência absoluta não é passível de alteração por continência ou conexão. 4. Competência relativa (conforme distinção feita na tabela acima). A competência relativa, diz respeito ao interesse privado, ela é fixada de acordo com critériosem razão do valor da causa (Juizados Especiais Estaduais, Federais e da Fazenda Pública, que tem um teto previsto para o valor das ações) em razão da territorialidade (de acordo com a circunscrição territorial judiciária, foro comum: domicilio do acusado) Diferente da incompetência absoluta, a relativa só pode ser requerida pelo réu, no prazo da resposta sobre a penalidade de preclusão. Assim, o juiz não pode reconhecê- la de oficio, mas o Ministério Público pode alegá-la em benefício de réu incapaz. A arguição de incompetência relativa deve ser feita por exceção instrumental, que deve ser ajuizada em peça apartada da contestação. Porém o Superior Tribunal de Justiça, tem entendido que essa pode acontecer também na contestação. Depois de reconhecida a incompetência relativa, remete-se os autos aos juízes competentes, porém não há anulação dos atos já praticados, ou seja opera efeitos ex- Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 11 nunc. A regra de competência relativa pode ser modificada também por conexão e continência. 5. Modificação da competência10 (artigos 54 a 63, do CPC). Segundo a regra do artigo 54, do CPC, a modificação da competência se dará por conexão ou continência: “Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção”. • Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir (artigo 55, do CPC). • Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais (artigo 56, do CPC). OBS: prevenção (artigos 58 e 59, do CPC): significa a fixação da competência, num dado juízo, através de ato concreto: “Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo”. É, portanto, um critério de confirmação e manutenção da competência do juiz que conheceu a causa em primeiro lugar, perpetuando a sua jurisdição e excluindo possíveis competências concorrentes de outros juízos. 5.1. Foro de eleição: nas ações que envolvem direitos subjetivos de caráter patrimonial e disponível, onde impera a liberdade contratual privada, as partes contratantes podem fixar diversas regras jurídicas para reger a relação contratual, inclusive alterando as disposições ordinárias da legislação. O contrato, nesse âmbito, faz lei entre as partes e permite a modificação de alguns critérios processuais, dentre eles, a competência relativa, concernente à territorialidade. Trata-se da regra do artigo 63, do CPC: Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e obrigações. § 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico. § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. § 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. 10 Mais informações em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4854 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4854 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4854 Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 12 §4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. 6. Conflito de competência (artigo 66, do CPC). Não se faz incomum, na prática, que dois ou mais juízes se deem por competentes para um mesmo processo, ou, ao contrário, se entendam incompetentes para apreciar a causa. O conflito de competência, portanto, pode ser positivo ou negativo. Será positivo quando ambos os juízes assinalarem sua competência para o feito e, negativo, quando a controvérsia versar sobre a afirmação de incompetência por parte de ambos. O conflito de competência será encaminhado ao Presidente do Tribunal hierarquicamente superior aos magistrados conflitantes, que julgará o conflito, decidindo qual o juiz competente para a causa e pronunciar-se-á, igualmente, sobre a validade dos atos até então praticados pelo juiz incompetente (artigos 951 e seguintes do CPC). Art. 66. Há conflito de competência quando: I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes; II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência; III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos. Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo. OBSERVAÇÃO. 1) Competência federal (artigo 109, da CF): toda vez que se configurarem as situações descritas no artigo 109, da CF, a competência será da Justiça federal: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU Teoria Constitucional do Processo Professor Gustavo Belucci 13 III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas”. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1