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1 2 Olá, Alunos! Sejam bem-vindos! Esse material foi elaborado com muito carinho para que você possa absorver da melhor forma possível os conteúdos e se preparar para a sua 2ª fase, e deve ser utilizado de forma complementar junto com as aulas. Qualquer dúvida ficamos à disposição via plataforma “pergunte ao professor”. Lembre-se: o seu sonho também é o nosso! Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação! Com carinho, Equipe Ceisc ♥ 3 2ª FASE OAB | PENAL | 41º EXAME Direito Penal SUMÁRIO Da Prova 1.1. Introdução e Conceito........................................................................................................... 6 1.2 Presunções legais...................................................................................................................6 1.3. Princípios Importantes...........................................................................................................7 1.4. Sistemas de apreciação das provas.....................................................................................7 1.4.1. Sistema do livre convencimento motivado........................................................................7 1.4.2. Sistema da íntima convicção............................................................................................ 8 1.4.3. Sistema da prova tarifada, da verdade legal ou da certeza moral do legislador ......... 8 1.5. Elementos de informação x elementos de prova................................................................8 1.6. Ônus da Prova............................................................................................................ .......... 9 1.6.1. Introdução........................................................................................................................... 9 1.6.2. Distribuição.......................................................................................................................... 9 1.7. Poderes Instrutórios do Magistrado.....................................................................................10 1.8. Provas Ilegais, vedadas ou proibidas................................................................................ 11 1.9. Exceções ou Limitações à admissibilidade da prova ilícita por derivação......................13 1.9.1. Utilização de prova ilícita em favor do réu e em favor da sociedade...........................14 1.10.1. Provas Ilícitas e a Inviolabilidade do sigilo das comunicações...................................14 1.10.1.1. Comunicações telefônicas..........................................................................................14 1.10.1.2. Interceptação de Dados: (e-mails, MSN, chat, sites e etc.).................................... 19 1.10.1.3. Interceptações Ambientais.................................................................................... .... 20 1.10.2.4. Sigilo de correspondência.................................................................................. ....... 21 1.10.1.5. Exame de Corpo de Delito................................................................................ ........ 21 1.10.3.1. Aspectos Importantes........................................................................................ ........ 24 1.10.3.2. Outras Perícias.................................................................................................. ......... 24 4 1.10.4. Cadeia de Custódia........................................................................................................ 25 1.10.5. Interrogatório........................................................................................................... ....... 27 1.10.6. Confissão.........................................................................................................................29 1.10.7. Perguntas ao Ofendido.................................................................................................. 29 1.10.8. Prova Testemunhal ................................................................................................... ... 30 1.10.9. Reconhecimento Pessoas e Coisas............................................................................ 33 1.10.10. Busca e Apreensão......................................................................................................34 1.11. Questões.................................................................................................................. ......... 35 Padrão Resposta........................................................................................................................ 39 Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para a 2ª Fase do 41º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. Bons estudos, Equipe Ceisc. Atualizado em julho de 2024. 5 6 Da Prova Prof. Arnaldo Quaresma @profarnaldoquaresma 1.1. Introdução e Conceito Trata-se de todo e qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de comprovar a verdade de sua alegação. É o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinado pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstâncias. Normalmente no processo penal há uma controvérsia fática: imputação dos fatos penalmente relevantes pela acusação x negativa de tais fatos pela defesa. Neste sentido as provas no processo penal desempenham uma função importantíssima. 1.2 Presunções legais Podem ser: jure et jure (absoluta) ou juris tantum (relativas). As presunções absolutas não admitem prova em contrário, sendo exemplo a condição de inimputável do indivíduo menor de 18 anos. As presunções relativas, por sua vez, admitem prova em contrário. Neste sentido, oportuno mencionar que havia discordância entre doutrina e jurisprudência acerca da presunção da vulnerabilidade do menor de 14 anos em relação ao crime de estupro de vulnerável, existindo discussão se se configuraria presunção relativa ou absoluta. Todavia, recentemente restou pacificado entendimento de que se trata de presunção com caráter absoluto, ao ser editada a Súmula 593 do STJ, que dispõe que “o crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente”. Corroborando a súmula 593 do STJ, o legislador através da Lei 13718/18 incluiu o parágrafo 5° no artigo 217-a do CP elencando que “As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 7 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)”. 1.3. Princípios Importantes a) contraditório: significa que toda prova realizada por uma das partes admite a produção de uma contraprova pela outra. Significa garantir a participação das partes no processo, bem como o poder de influência na decisão judicial. b) não autoincriminação (nemo tenetur se detegere): princípio da inexigibilidade de produção da prova contra si mesmo, fazendo que o acusado não seja obrigado a realizar alguma conduta positiva que pode lhe incriminar. Exemplo: Não é obrigado a realizar o exame de etilômetro. 1.4. Sistemas de apreciação das provas 1.4.1. Sistema do livre convencimento motivado O Código de Processo Penal adotou, como regra, o do livre convencimento do juiz, fundamentado na prova produzida sob o contraditório judicial (Art.para a Delegacia, sendo lavrado auto de prisão em flagrante. Após liberdade concedida em audiência de custódia, Wesley é denunciado como incurso nas sanções do Art. 35 da Lei nº 11.343/06. No curso da instrução, foram acostadas imagens das conversas de Wesley via aplicativo a que os agentes da lei tiveram acesso, assim como das fotografias. Os policiais foram ouvidos em audiência, 36 ocasião em que confirmaram as circunstâncias do flagrante. O réu exerceu seu direito ao silêncio. Com base nas fotografias acostadas, o juiz competente julgou a pretensão punitiva do estado procedente, aplicando a pena mínima de 03 anos de reclusão, além de multa, e fixando o regime inicial fechado, já que o crime imputado seria equiparado a hediondo. Ainda assim, substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Wesley, intimado(a) para apresentação de recurso de apelação. A) Existe argumento a ser apresentado para questionar as provas utilizadas pelo magistrado como fundamento para condenação? Justifique. (Valor: 0,65) B) Mantida a condenação, qual o argumento a ser apresentado para questionar a sanção penal aplicada? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar suas res- postas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 2) QUESTÃO 1 - XXVI EXAME – OAB FGV – 2018-02 Insatisfeito com a atividade do tráfico em determinado condomínio de residências, em especial em razão da venda de drogas de relevante valor, o juiz da comarca autorizou, após requerimento do Ministério Público, a realização de busca e apreensão em todas as centenas de residências do condomínio, sem indicar o endereço de cada uma delas, apesar de estas serem separadas e identificadas, sob o argumento da existência de informações de que, no interior desse condomínio, haveria comercialização de drogas e que alguns dos moradores estariam envolvidos na conduta. Com base nesse mandado, a Polícia Civil ingressou na residência de Gabriel, 22 anos, sendo apreendidos, no interior de seu imóvel, 15 g de maconha, que, de acordo com Gabriel, seriam destinados a uso próprio. Após denúncia pela prática do crime do Art. 28 da Lei nº 11.343/06, em razão de anterior condenação definitiva pela prática do mesmo delito, o que impossibilitaria a aplicação de institutos despenalizadores, foi aplicada a Gabriel a sanção de cumprimento de 10 meses de prestação de serviços à comunidade. Intimado da condenação e insatisfeito, Gabriel procura um advogado para consulta técnica, esclarecendo não ter interesse em cumprir a medida aplicada de prestação de serviços à comunidade. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Gabriel, esclareça os itens a seguir. 37 A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em sede de recurso para questionar a apreensão das drogas na residência de Gabriel? Justifique. (Valor: 0,60) B) Em caso de descumprimento, por Gabriel, da medida de prestação de serviços à comunidade imposta na sentença condenatória pela prática do crime do Art. 28 da Lei nº 11.343/06, poderá esta ser convertida em pena privativa de liberdade? Justifique. (Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 3) QUESTÃO 1 - XXIII EXAME – OAB FGV – 2017-2 José Barbosa, nascido em 11/03/1998, caminhava para casa após sair da faculdade, às 11h da manhã, no dia 07/03/2016, quando se deparou com Daniel, ex-namorado de sua atual companheira, conversando com esta. Em razão de ciúmes, retirou a faca que trazia na mochila e aplicou numerosas facadas no peito de Daniel, com a intenção de matá-lo. Daniel recebeu pronto atendimento médico, foi encaminhado para um hospital de Niterói, mas faleceu 05 dias após os golpes de faca. Já no dia 08/03/2016, policiais militares, informados sobre o fato ocorrido no dia anterior, comparecem à residência de José Barbosa, já que um dos agentes da lei era seu vizinho. Apesar de não ter ninguém em casa, a janela estava aberta, e os policiais puderam ver seu interior, verificando que havia uma faca suja de sangue escondida junto ao sofá. Diante disso, para evitar que José Barbosa desaparecesse com a arma utilizada, ingressaram no imóvel e apreenderam a arma branca, que foi devidamente apresentada pela autoridade policial. Com base na prova produzida a partir da apreensão da faca, o Ministério Público oferece denúncia em face de José Barbosa, imputando-lhe a prática do crime de homicídio consumado. Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de José Barbosa, responda aos itens a seguir. A) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica do denunciado para combater a prova decorrente da apreensão da faca? Justifique. (Valor: 0,65) B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de José Barbosa para evitar o prosseguimento da ação penal? Justifique. (Valor: 0,60) 38 Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as res- postas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. 4) QUESTÃO 1 - XXII EXAME – OAB FGV – 2017-2 Chegou ao Ministério Público denúncia de pessoa identificada apontando Cássio como traficante de drogas. Com base nessa informação, entendendo haver indícios de autoria e não havendo outra forma de obter prova do crime, a autoridade policial representou pela interceptação da linha telefônica que seria utilizada por Cássio e que fora mencionada na denúncia recebida, tendo o juiz da comarca deferido a medida pelo prazo inicial de 30 dias. Nas conversas ouvidas, ficou certo que Cássio havia adquirido certa quantidade de cocaína, pela primeira vez, para ser consumida por ele, juntamente com seus amigos Pedro e Paulo, na comemoração de seu aniversário, no dia seguinte. Diante dessa prova, policiais militares obtiveram ordem judicial e chegaram à casa de Cássio quando este consumia e oferecia a seus amigos os seis papelotes de cocaína para juntos consumirem. Cássio, portador de maus antecedentes, foi preso em flagrante e autuado pela prática do crime de tráfico, sendo, depois, denunciado como incurso nas penas do Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06. Considerando os fatos narrados, responda, na qualidade de advogado(a) de Cássio, aos itens a seguir. A) Qual a tese de direito processual a ser suscitada para afastar a validade da prova obtida? (Valor: 0,65) B) Reconhecidos como verdadeiros os fatos narrados, qual a tese de direito material a ser alegada para tornar menos gravosa a tipificação da conduta de Cássio? (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação. 39 Padrão Resposta 40 1) QUESTÃO 3 – XXIX EXAME – OAB FGV – 2019-02 Em patrulhamento de rotina, policiais militares receberam uma informação não identificada de que Wesley, que estava parado em frente à padaria naquele momento, estaria envolvido com o tráfico de drogas da localidade. Diante disso, os policiais identificaram e realizaram a abordagem de Wesley, não sendo, em um primeiro momento, encontrado qualquer material ilícito com ele. Diante da notícia recebida momentos antes da abordagem, porém, e considerando que o crime de associação para o tráfico seria de natureza permanente, os policiais apreenderam o celular de Wesley e, sem autorização, passaram a ter acesso às fotografias e conversas no WhatsApp, sendo verificado que existiam fotos armazenadas de Wesley portando suposta arma de fogo, bem como conversas sobre compra e venda de material entorpecente. Entendendo pela existência de flagrante em relação ao crime permanente de associação para o tráfico, Wesley foi encaminhadopara a Delegacia, sendo lavrado auto de prisão em flagrante. Após liberdade concedida em audiência de custódia, Wesley é denunciado como incurso nas sanções do Art. 35 da Lei nº 11.343/06. No curso da instrução, foram acostadas imagens das conversas de Wesley via aplicativo a que os agentes da lei tiveram acesso, assim como das fotografias. Os policiais foram ouvidos em audiência, ocasião em que confirmaram as circunstâncias do flagrante. O réu exerceu seu direito ao silêncio. Com base nas fotografias acostadas, o juiz competente julgou a pretensão punitiva do estado procedente, aplicando a pena mínima de 03 anos de reclusão, além de multa, e fixando o regime inicial fechado, já que o crime imputado seria equiparado a hediondo. Ainda assim, substituiu a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Considerando as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Wesley, intimado(a) para apresentação de recurso de apelação. A) Existe argumento a ser apresentado para questionar as provas utilizadas pelo magistrado como fundamento para condenação? Justifique. (Valor: 0,65) B) Mantida a condenação, qual o argumento a ser apresentado para questionar a sanção penal aplicada? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: O(a) examinando(a) deve fundamentar suas res- postas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. GABARITO COMENTADO A questão exige do candidato conhecimento sobre uma pluralidade de temas, destacando-se os temas prova ilícita, Lei nº 11.343/06 e crimes hediondos. Narra o enunciado que Wesley foi 41 abordado por policiais militares e, apesar de nada ilícito ter sido encontrado com ele, os policiais, sem autorização, apreenderam seu celular e obtiveram acesso às conversas de Wesley via aplicativo whatsapp e ao álbum de fotografias, onde encontraram imagens de Wesley supostamente com armas de fogo. Com base nesse conteúdo do celular, Wesley foi preso em flagrante, denunciado e condenado como incurso nas sanções penais do Art. 35 da Lei nº 11.343/06. A) Sim, existe argumento para questionar as provas que serviram de fundamento para a condenação, tendo em vista que se tratam de provas ilícitas. As provas utilizadas pelo magistrado foram obtidas com violação ao direito à intimidade, já que os policiais obtiveram acesso ao teor das conversas de Wesley por mensagens e suas fotografias sem sua autorização ou sem prévia autorização judicial. Ocorreu violação à garantia de inviolabilidade da intimidade e vida privada, assegurada no Art. 5º, inciso X, da CRFB, já que não houve o indispensável requerimento (e autorização judicial) de quebra de sigilo de dados. Dessa forma, estamos diante de provas ilícitas, que devem ser desentranhadas do processo, nos termos do Art. 157 do CPP. B) O argumento a ser apresentado para questionar a sanção penal aplicada é o de que o crime de associação para o tráfico não é delito equiparado ao hediondo, diferente do tráfico do Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06, tendo em vista que não está previsto no rol taxativo do Art. 1º da Lei nº 8.072/90. Em respeito ao princípio da legalidade, não há que se falar em analogia in malam partem. Considerando que o crime de associação para o tráfico não está previsto na Constituição como equiparado a hediondo e nem é mencionado no Art. 1º da Lei de Crimes Hediondos, não pode o magistrado conferir tal natureza em sua decisão, ainda que exista previsão no sentido de que o prazo do livramento condicional será de mais de 2/3, prazo esse típico dos crimes hediondos e equiparados. Ademais, ainda que fosse considerada a natureza hedionda do delito, a previsão de regime inicial fechado obrigatória vem sendo considerada inconstitucional pelos Tribunais Superiores (Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90) por violar o princípio da individualização da pena. 2) QUESTÃO 1 - XXVI EXAME – OAB FGV – 2018-02 Insatisfeito com a atividade do tráfico em determinado condomínio de residências, em especial em razão da venda de drogas de relevante valor, o juiz da comarca autorizou, após requerimento do Ministério Público, a realização de busca e apreensão em todas as centenas de residências do condomínio, sem indicar o endereço de cada uma delas, apesar de estas 42 serem separadas e identificadas, sob o argumento da existência de informações de que, no interior desse condomínio, haveria comercialização de drogas e que alguns dos moradores estariam envolvidos na conduta. Com base nesse mandado, a Polícia Civil ingressou na residência de Gabriel, 22 anos, sendo apreendidos, no interior de seu imóvel, 15 g de maconha, que, de acordo com Gabriel, seriam destinados a uso próprio. Após denúncia pela prática do crime do Art. 28 da Lei nº 11.343/06, em razão de anterior condenação definitiva pela prática do mesmo delito, o que impossibilitaria a aplicação de institutos despenalizadores, foi aplicada a Gabriel a sanção de cumprimento de 10 meses de prestação de serviços à comunidade. Intimado da condenação e insatisfeito, Gabriel procura um advogado para consulta técnica, esclarecendo não ter interesse em cumprir a medida aplicada de prestação de serviços à comunidade. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado de Gabriel, esclareça os itens a seguir. A) Qual o argumento de direito processual a ser apresentado em sede de recurso para questionar a apreensão das drogas na residência de Gabriel? Justifique. (Valor: 0,60) B) Em caso de descumprimento, por Gabriel, da medida de prestação de serviços à comunidade imposta na sentença condenatória pela prática do crime do Art. 28 da Lei nº 11.343/06, poderá esta ser convertida em pena privativa de liberdade? Justifique. (Valor: 0,65) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. GABARITO COMENTADO A) O argumento de direito processual a ser apresentado em sede de recurso é que o mandado de busca e apreensão que justificou a realização de diligência na residência de Gabriel é inválido, tendo em vista que genérico. O mandado de busca e apreensão em determinada residência, por ser uma restrição aos direitos fundamentais da inviolabilidade de domicílio, trazido pelo Art. 5º, inciso XI, da CRFB/88, e privacidade deve ser determinado e amparado em fundadas razões no envolvimento com ilícito. No caso, o mandado foi genérico, sem indicar o endereço exato onde deveria ser cumprido o mesmo, apesar de as residências do condomínio serem separadas e identificadas. Por essas mesmas razões, houve violação, ainda, da previsão 43 do Art. 243, inciso I, do CPP, que diz que no mandado deve ser indicada o mais precisamente possível a casa onde será realizada a diligência. B) Ainda que diante do descumprimento da medida de prestação de serviços à comunidade, não poderia ser convertida esta em pena privativa de liberdade. Desde a Lei nº 11.343/06, o crime de posse de material entorpecente para consumo próprio deixou de ser punido com pena privativa de liberdade, apesar de prevalecer o entendimento de que a conduta não deixou de ser considerada crime. De acordo com o Art. 28, inciso II, da Lei nº 11.343/06, uma das sanções que pode ser imposta em caso de condenação é a prestação de serviços à comunidade, podendo esta ser fixada pelo prazo de 10 meses em razão da reincidência. Em que pese a prestação de serviços à comunidade ser pena restritiva de direitos de acordo com o Código Penal, o que, em tese, admitiria a conversão em pena privativa de liberdade diante de descumprimento, o tratamento trazido pela Lei nº 11.343/06 é peculiar. Estabelece o Art. 28, § 6º, da Lei nº 11.343/06 que, em caso de descumprimento da medida imposta em sentença, em busca de sua execução, pode ser aplicada multa ou admoestação verbal, permanecendo, porém, a vedação na imposição de sanção penal privativa de liberdade, tendo em vista quea prestação de serviços à comunidade não foi aplicada como pena substitutiva da privativa de liberdade como ocorre no Código Penal. 3) QUESTÃO 1 - XXIII EXAME – OAB FGV – 2017-2 José Barbosa, nascido em 11/03/1998, caminhava para casa após sair da faculdade, às 11h da manhã, no dia 07/03/2016, quando se deparou com Daniel, ex-namorado de sua atual companheira, conversando com esta. Em razão de ciúmes, retirou a faca que trazia na mochila e aplicou numerosas facadas no peito de Daniel, com a intenção de matá-lo. Daniel recebeu pronto atendimento médico, foi encaminhado para um hospital de Niterói, mas faleceu 05 dias após os golpes de faca. Já no dia 08/03/2016, policiais militares, informados sobre o fato ocorrido no dia anterior, comparecem à residência de José Barbosa, já que um dos agentes da lei era seu vizinho. Apesar de não ter ninguém em casa, a janela estava aberta, e os policiais puderam ver seu interior, verificando que havia uma faca suja de sangue escondida junto ao sofá. Diante disso, para evitar que José Barbosa desaparecesse com a arma utilizada, ingressaram no imóvel e apreenderam a arma branca, que foi devidamente apresentada pela autoridade policial. Com base na prova produzida a partir da apreensão da faca, o Ministério Público oferece denúncia em face de José Barbosa, imputando-lhe a prática do crime de 44 homicídio consumado. Considerando a situação narrada, na condição de advogado(a) de José Barbosa, responda aos itens a seguir. A) Qual argumento a ser apresentado pela defesa técnica do denunciado para combater a prova decorrente da apreensão da faca? Justifique. (Valor: 0,65) B) Existe argumento de direito material a ser apresentado em favor de José Barbosa para evitar o prosseguimento da ação penal? Justifique. (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as res- postas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação. GABARITO COMENTADO A) A defesa deveria alegar que a prova obtida a partir da apreensão da faca é ilícita, não podendo ser valorada no momento da sentença. Estabelece o Art. 5º, inciso XI, da CRFB/88 que a casa é asilo inviolável, não podendo nela ninguém ingressar sem consentimento do morador. A própria Constituição, todavia, traz exceções a esta regra, como na hipótese de flagrante delito ou mediante ordem judicial, durante o dia. Não havia, no caso apresentado, situação de flagrante delito, já que a simples posse de faca não configura crime e, em relação ao crime/ato infracional praticado no dia anterior, não havia situação de flagrância, pois ausentes os requisitos do Art. 302 do CPP. Ademais, não houve autorização do morador e nem existia ordem judicial de busca e apreensão, já que os policiais decidiram ingressar no imóvel porque viram a arma suja de sangue através da janela aberta. B) Sim, existe, tendo em vista que José Barbosa não poderia ser denunciado pela prática de crime de homicídio qualificado, já que era inimputável na data dos fatos. O Código Penal, para definir o momento do crime, adota a Teoria da Atividade, prevendo o Art. 4º que se considerado praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que em outro seja produzido o resultado. Dessa forma, o crime foi praticado no dia 07.03.2016, quando José Barbosa tinha 17 anos. Estabelece o Art. 27 do CP que será inimputável o menor de 18 anos. O fato de a consumação do delito só ter ocorrido após a maioridade penal de José Barbosa é irrelevante para o caso concreto, já que outro foi o momento da ação. 4) QUESTÃO 1 - XXII EXAME – OAB FGV – 2017-2 45 Chegou ao Ministério Público denúncia de pessoa identificada apontando Cássio como traficante de drogas. Com base nessa informação, entendendo haver indícios de autoria e não havendo outra forma de obter prova do crime, a autoridade policial representou pela interceptação da linha telefônica que seria utilizada por Cássio e que fora mencionada na denúncia recebida, tendo o juiz da comarca deferido a medida pelo prazo inicial de 30 dias. Nas conversas ouvidas, ficou certo que Cássio havia adquirido certa quantidade de cocaína, pela primeira vez, para ser consumida por ele, juntamente com seus amigos Pedro e Paulo, na comemoração de seu aniversário, no dia seguinte. Diante dessa prova, policiais militares obtiveram ordem judicial e chegaram à casa de Cássio quando este consumia e oferecia a seus amigos os seis papelotes de cocaína para juntos consumirem. Cássio, portador de maus antecedentes, foi preso em flagrante e autuado pela prática do crime de tráfico, sendo, depois, denunciado como incurso nas penas do Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06. Considerando os fatos narrados, responda, na qualidade de advogado(a) de Cássio, aos itens a seguir. A) Qual a tese de direito processual a ser suscitada para afastar a validade da prova obtida? (Valor: 0,65) B) Reconhecidos como verdadeiros os fatos narrados, qual a tese de direito material a ser alegada para tornar menos gravosa a tipificação da conduta de Cássio? (Valor: 0,60) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação. GABARITO COMENTADO A questão exige do examinando conhecimento sobre os delitos tipificados na Lei nº 11.343/06, além dos requisitos para decretação válida de interceptação telefônica. A) A tese de direito processual a ser suscitada para defesa de Cássio para afastar a prova obtida é a invalidade da decisão que determinou a interceptação telefônica de Cássio, tendo em vista que, de início, foi determinada pelo prazo de 30 dias. Inicialmente deve ser destacado que a autoridade policial possui legitimidade para representar pela decretação da interceptação de comunicações telefônicas, nos termos do Art. 3º, inciso I, da Lei nº 9.296/96. Ademais, o crime investigado é punido com pena de reclusão e consta do enunciado que a prova não poderia ser obtida por outros meios disponíveis. Todavia, prevê o Art. 5º do mesmo diploma legal que a decisão que concede a medida deverá ser fundamentada e que não poderá exceder 46 o prazo de 15 dias, renovável por igual período se comprovada a indispensabilidade do meio de prova. Diante disso, ainda que possa o período de 15 dias ser renovado, não pode, de início, a autoridade judicial determinar a interceptação por mais de 15 dias, sob pena de nulidade. B) A tese de direito material a ser alegada para tornar a conduta de Cássio menos gravosa é que foi praticado o delito previsto no Art. 33, § 3º da Lei nº 11.343/06, já que o agente oferecia drogas, de maneira eventual, sem objetivo de lucro, para seus amigos para juntos consumirem. Não há, assim, que se falar em prática de tráfico do Art. 33 da Lei nº 11.343/06 e nem mesmo na aplicação do §4º do mesmo dispositivo, já que o agente era portador de maus antecedentes. 47155, caput, do CPP), embora remanesçam exceções com resquícios dos sistemas da íntima convicção e da prova tarifada. a) Consequências da adoção do Sistema do Livre Convencimento do Juiz: I) ausência de limitação quanto aos meios de prova: o Código de Processo Penal não exaure as possibilidades probatórias; Exemplo: captações ambientais (gravação de conversa de duas ou mais pessoas em local público), serve como prova, embora careça de regulamentação específica. II) ausência de hierarquia: inexistência de valor prefixado na legislação. O juiz confere valoração às provas. Exemplo: pode desprezar a perícia e a confissão do réu. b) Restrições à liberdade valorativa do julgador: I) obrigação de motivar o decisum: artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal/88 e artigo 381, inciso III, do Código de Processo Penal. II) as provas deverão constar dos autos do processo judicial (quod nos est in actis nos est in mundo). III) produção sob crivo contraditório: o artigo 155 do Código de Processo Penal não proibiu o uso de eventuais provas da fase extrajudicial como elementos de convicção secundário, restrição apenas como fundamento exclusivo de seu convencimento. 8 OBSERVAÇÃO As provas realizadas em caráter cautelar, antecipadamente e não sujeitas à repetição dispensam a necessidade de contraditório judicial. Exemplo: Interceptação telefônica (Art. 3°, inciso I, Lei n° 9.296/96), busca domiciliar e perícia (exame de conjunção carnal e lesões). 1.4.2. Sistema da íntima convicção É adotado nos julgamentos afetos ao Tribunal do Júri: Os jurados não estão vinculados às provas existentes no processo e não precisam fundamentar a decisão, podem decidir com base em critérios subjetivos. (art. 593, III, e §3°, CPP). 1.4.3. Sistema da prova tarifada, da verdade legal ou da certeza moral do legislador A lei estabelece o valor de cada prova, impede poder discricionário do juiz para decidir contra a previsão legal. Exemplo 1: Art. 62 do CPP - extinção da punibilidade pela morte do réu exige certidão óbito. Exemplo 2: Art. 155, parágrafo único, CPP prova estado de pessoas deve ser comprovada via certidão. Súmula 74 do STJ. 1.5. Elementos de informação x elementos de prova (análise do Art. 155 do Código de Processo Penal) Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. A) ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO X ELEMENTOS DE PROVA: I) Elemento de Informação: Produzidos na fase investigatória, sem observância do contraditório e ampla defesa (sistema inquisitorial) / finalidade: decretação das medidas cautelares e formação da opinio delicti do titular da ação penal. II) Elementos de Prova: Produzidos na fase judicial, com observância do contraditório e da ampla defesa (sistema acusatório) / finalidade: convencimento do magistrado). III) Regra Geral: o magistrado não poderá fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação. 9 Exceção: Provas Cautelares, Irrepetíveis ou Antecipadas. B) PROVAS CAUTELARES, IRREPETÍVEIS OU ANTECIPADAS: I) Prova Irrepetível: Não é produzida e nem submetida ao crivo do contraditório (contraditório impossível) – a doutrina exige a característica da imprevisibilidade. Exemplo: Morte de testemunha (se já era previsível – Art. 225 do CPP). II) Prova Cautelar: É produzida sem observância do contraditório (normalmente na fase investigatória), sendo submetida ao contraditório posteriormente em juízo. Exemplo: Prova Pericial III) Prova Antecipada: Produzidas em juízo de forma antecipada, ainda que na fase de investigação. Exemplo: Art. 225 do CPP - ver Art. 156, inciso I, do CPP). 1.6. Ônus da Prova 1.6.1. Introdução Ônus significa uma faculdade cujo exercício é necessário para a consecução de um interesse. I) Pode ser Absoluto ou Perfeito: Quando a não realização necessariamente acarretará um prejuízo. Exemplo: Não recorrer de uma sentença condenatória. II) Pode ser imperfeito ou relativo (não necessariamente ocorrerá um prejuízo). Exemplo: Ônus da Prova. OBSERVAÇÃO Não confundir ÔNUS com OBRIGAÇÃO, uma vez que na obrigação existe sanção para o caso de descumprimento (testemunha que regularmente intimada não comparecer ao ato pode ser conduzida coercitivamente) 1.6.2. Distribuição Uma primeira corrente defende que no processo penal, em razão do princípio da presunção de inocência, o ônus de prova recai inteiramente sobre a acusação, não havendo que se falar em distribuição do ônus da prova. 10 O artigo 156 dispõe que a prova da alegação incumbirá a quem fizer. Já uma segunda corrente (majoritária) dispõe que: I) À acusação compete provar a existência do fato imputado e sua autoria, elementos subjetivos de dolo ou culpa, a existência de circunstâncias agravantes e qualificadoras. II) À defesa incumbe provar excludentes de ilicitude, culpabilidade ou tipicidade, atenuantes, minorantes e privilegiadoras. OBSERVAÇÃO 1) Importante saber que a Lei nº 11.690/08 alterou o Art. 386, VI do CPP dispondo que a dúvida fundada sobre a existência de circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena devem ensejar a absolvição do acusado, o que mitigou o ônus da defesa neste ponto. 2) Ônus da prova direito local: analogia à regra do art. 337 CPC. O juiz pode exigir da parte que o alega a respectiva comprovação. 1.7. Poderes Instrutórios do Magistrado - (Art. 156 do CPP) Art. 156: A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Em razão do princípio da busca da verdade e tendo em vista o fato de ser o destinatário das provas, o magistrado possui certa iniciativa probatória, não dependendo única e exclusivamente das partes para formar o seu convencimento. Entretanto, tal atividade é complementar a das partes. a) A faculdade do juiz na produção antecipada de prova: O juiz pode ordenar ex officio a produção antecipada de provas urgentes e relevantes, mesmo antes de iniciada a ação penal, respeitada a necessidade, a adequação e a proporcionalidade. Essa faculdade do art. 156, I, CPP exige interpretação restritiva, sob pena de violação ao sistema acusatório. 11 Requisitos: I) Existência do periculum in mora: relevância e urgência. II) Presença do fumus boni iuris: indício autoria e/ou materialidade. III) Existência de investigação em andamento. IV) Necessidade de procedimento sob análise judicial V) Excepcionalidade da atuação judicial - (Princ. Proporcionalidade). b) Faculdade do Juiz na produção de provas ex officio: I) antes de iniciar a instrução: artigo 149, § 2°, artigo 225, artigo 366, todos do Código de Processo Penal. II) após iniciar a instrução: artigo 196, artigo 209, artigo 234, artigo 242, todos do Código de Processo Penal. 1.8. Provas Ilegais, vedadas ou proibidas A Constituição em seu artigo 5°, inciso LVI, consagrou a regra da inadmissibilidade das provas ilícitas. Neste sentido, a doutrina majoritária sempre traçou uma diferenciação da prova ilícita (obtida com violação a uma regra de direito material) e a prova ilegítima (obtida com violação ao uma regra de direito processual. Além disso, como consequência da sua produção, a prova ilícita deveria ser desentranhada do processo e a prova ilegítima acarretaria a utilização da Teoria das Nulidades. Ocorre que a lei 11690/08,ao alterar o art. 157 do Código de Processo Penal, não fez menção a prova considerada ilegítima, razão pela qual parcela da doutrina, em especial o professor Guilherme de Souza Nucci, passou a sustentar que, após a referida reforma, não haveria diferenciação entre prova ilícita e ilegítima, ensejando o desentranhamento qualquer que seja a modalidade. Entretanto, a doutrina majoritária entende que, por se tratar de regra advinda da Constituição da República, em que pese ter havido reforma no CPP, ainda persistiria a diferenciação clássica, a seguir exposta: a) Provas Ilícitas (Art. 157 do CPP): violação de regras direito material, produzindo reflexos diretos ou indiretos em direitos e garantias constitucionais. Exemplo: interceptação telefônica e busca e apreensão sem ordem judicial, violação carta lacrada, grampo, coação em interrogatório policial (afrontamento direito ao Art. 5°, X, XI, XII, e LXIII, da CF/88). 12 Outros casos de afrontamento indireto à Constituição Federal: interrogatório judicial de réu sem a presença de advogado ou sem prévia entrevista reservada com defensor (Art. 185 do CPP e Art. 5°, inciso LV, da CF/88) e mediante coação (Art. 186 do CPP). Consequências do uso de provas ilícitas (Art. 157 do CPP): desentranhamento e, uma vez preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada, podendo as partes acompanhar o incidente. OBSERVAÇÃO Na ausência de previsão legal expressa, caberá recurso em sentido estrito em relação ao reconhecimento da ilicitude e no tocante ao desentranhamento e inutilização - (Art. 581, inciso XIII, do CPP). b) Provas Ilegítimas: São aquelas produzidas a partir da violação de normas de natureza eminentemente processual. Exemplo: Perícia por apenas um perito não-oficial - Art. 159, § 1°; reconhecimento judicial do réu sem observância das formalidades do Art. 226 do CPP; extinção da punibilidade sem juntada de certidão óbito - Art. 62 do CPP. c) Provas Ilícitas por Derivação (art. 157, §1°, CPP): Embora lícitas na essência, decorrem exclusivamente de prova considerada ilícita ou de ilegalidade manifesta ocorrida anteriormente à sua produção (contaminadas). Antes da reforma de 2008 a qual expressamente previu tal regra, a jurisprudência se valia do artigo 573, parágrafo 1°, que dispõe: a nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência. Com a reforma de 2008, o artigo 157 incorporou de maneira expressa em nosso ordenamento jurídico a Teoria da Árvore dos Frutos Envenenados (fruits of the poisonous tree), a qual exige relação de exclusividade entre a prova posterior e a anterior que lhe deu origem. Exemplo: Sujeito que confessou a autoria de delito, entretanto, momento antes foi torturado por policiais civis. O professor André Nicoliti em seu blog relatou um caso que julgou como magistrado, no qual, policiais militares abordaram um sujeito na rua, que não se encontrava com drogas em sua posse, entretanto teria admitido (confissão não revestida das formalidades legais) aos policiais que tinha drogas em casa, razão pela qual, em ato contínuo, tais policiais se dirigiram até a residência em questão, encontrando substâncias entorpecentes. 13 1.9. Exceções ou Limitações à admissibilidade da prova ilícita por derivação I) Fonte Independente: Prevista de forma expressa no artigo 157, parágrafo 1°, parte final e no parágrafo segundo do aludido artigo, a Teoria da Fonte independente dispõe que se, além da prova ilícita, um outro elemento de convicção licitamente produzido conduzir ao objeto da prova em análise não haverá ilicitude. Neste caso, não haverá nexo de causalidade entre a prova que se quer utilizar e a situação de ilicitude ou ilegalidade antes ocorrida. Exemplo: A testemunha João, essencial para a elucidação de um fato, foi descoberta em razão de uma interceptação telefônica não revestida das formalidades legais. Ocorre que uma outra testemunha, sem qualquer relação com aquela interceptação telefônica ilegal, teria referido que João presenciou o referido fato. Neste sentido, o depoimento de João não será considerado ilegal pois decorreu de uma fonte independente. II) Limitação da contaminação expurgada (purged taint limitation) ou limitação da conexão atenuada: Não possui previsão expressa, decorrendo do direito americano. Ocorre quando um acontecimento posterior elide a ilicitude da prova viciada. Diferentemente da fonte independente, na limitação da contaminação expurgada há nexo de causalidade entre a situação de ilegalidade e a prova que se quer utilizar, entretanto este nexo é abrandado ou atenuado pela interferência de um acontecimento posterior. Exemplo: Sujeito que confessa sob tortura na fase policial. Entretanto, posteriormente, na fase judicial, devidamente acompanhado de advogado, vem a confessar a prática delitiva visando atenuar a pena em caso de provável condenação. III) Descoberta Inevitável (Inevitable Discovery): Também não possui previsão expressa, decorrendo do direito americano. Na descoberta inevitável, ainda que não fosse a ilicitude anterior, a prova teria surgido de qualquer modo pelos meios legais. Exemplo: Uma equipe de policiais da Delegacia de Polícia local, sem mandado, violou o domicílio de João, encontrando drogas na referida residência. Ocorre que, naquele momento, uma outra equipe de policiais da Delegacia Especializada no Combate às Drogas, devidamente munida do mandado, se dirigia para a residência em questão com a finalidade de investigar provável crime de tráfico de drogas. 14 1.9.1. Utilização de prova ilícita em favor do réu e em favor da sociedade Uso da prova ilícita a favor do réu: A doutrina e jurisprudência entendem ser possível o uso de provas ilícitas em favor do réu, quando se tratar da única forma de absolvê-lo ou comprovar um fato importante à sua defesa. Uso da prova ilícita pro societate: o princípio da proporcionalidade não serve para justificar o uso da prova ilícita em favor da sociedade, mesmo que seja o único elemento para uma condenação. 1.10. Provas em espécie 1.10.1. Provas Ilícitas e a Inviolabilidade do sigilo das comunicações 1.10.1.1. Comunicações telefônicas A interceptação em sentido estrito e a escuta telefônica, quando feitas fora das hipóteses legais ou sem autorização judicial, não devem ser admitidas, por afronta ao direito à privacidade. A) BASE JURÍDICA: Artigo 5º, inciso XII, da CRFB/88: É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. O referido dispositivo constitucional aborda a questão do sigilo das comunicações, o qual pode ser dividido em quatro grupos, quais sejam: 1) o sigilo das correspondências; 2) o sigilo das comunicações telegráficas; 3) o sigilo das comunicações de dados; 4) o sigilo das comunicações telefônicas. B) ABRANGÊNCIA DA LEI 9.296/96: Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. 15 Aplica-se a lei, a teor de seu artigo 1º, “à interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza”. Por mais amplitude que se pretenda atribuir ao conceito, permanece ele limitado à escuta e eventual gravação de conversa telefônica, quando praticada por terceira pessoa, diversa dos interlocutores (com ou sem conhecimento de um deles). Ficam excluídas do regime legislativo as gravaçõesclandestinas de telefonemas próprios, assim como as gravações entre presentes. C) CLASSIFICAÇÃO (INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA LATO SENSU - GÊNERO): I) interceptação telefônica stricto sensu: um terceiro viola a conversa telefônica de duas ou mais pessoas, registrando ou não os diálogos, sem que nenhum dos interlocutores tenha conhecimento. II) escuta telefônica: um terceiro viola a conversa telefônica mantida entre duas ou mais pessoas, com ciência de um ou alguns dos interlocutores de que os diálogos estão sendo captados. III) gravação telefônica: um dos interlocutores simplesmente registra (grava) a conversa que mantém com o outro, não há a figura de terceiro. OBSERVAÇÃO Art. 5°, XII, CF: a proteção constitucional alcança somente as duas primeiras formas de interceptação acima. Logo, não tutela a gravação, devendo este meio de prova ser considerado lícito, mesmo sem autorização judicial, salvo se obtido com traição de confiança ou segredo profissional (STF e STJ). D) REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO DA QUEBRA DO SIGILO TELEFÔNICO: D.1) Ordem do juiz competente para o julgamento da ação principal Somente o juiz competente para o julgamento da ação principal poderá determinar a quebra do sigilo telefônico, jamais o Promotor de Justiça ou o Delegado de Polícia poderão fazê-lo. Obviamente que se trata de juiz que exerça jurisdição penal, seja esta eleitoral, militar, ou comum, já que a interceptação será realizada para prova em investigação criminal e em 16 instrução processual penal. Assim, o juiz que determinar a quebra do sigilo será o competente para a ação principal. Art. 1º: A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. D.2) Indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal Não se exige prova plena, sendo suficiente o juízo de probabilidade (fumus boni iuris), sob o influxo do princípio in dubio pro societate. Havendo indicação provável de prática de crime, o juiz poderá autorizar. Não se exige a instauração formal de inquérito policial. Art. 2° Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. D.3) Que a infração penal seja crime punido com reclusão De acordo com o artigo 2º, inciso III, não será admitida a interceptação quando o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Isto significa dizer que somente será admissível a quebra do sigilo telefônico nas hipóteses de crimes apenados com reclusão. Contudo, conforme a doutrina, tal critério trouxe duas impropriedades: a) deixou de lado crimes apenados com detenção, como a ameaça, comumente praticado via telefone, ou mesmo contravenções, como o jogo do bicho; b) ao elencar genericamente todas as infrações penais apenadas com reclusão como objeto da interceptação, alargou sobremaneira o rol dos delitos passíveis de serem investigados por quebra do sigilo telefônico, crimes estes, muitas vezes, destituídos de maior gravidade, o que torna discutível, no caso concreto, o sacrifício de um direito fundamental como o sigilo das comunicações telefônicas. Deve incidir, na hipótese, o princípio da proporcionalidade dos bens jurídicos envolvidos, não se podendo sacrificar o sigilo das comunicações em prol de um bem de menor valor. 17 Art. 2°: Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. D.4) Que não exista outro meio de se produzir a prova Para a concessão da medida cautelar é necessário demonstrar o periculum, isto é, o perigo de se perder a prova sem a interceptação. A quebra do sigilo telefônico, por constituir medida excepcional, somente deverá ser utilizada quando a prova não puder ser obtida por outros meios. Por se tratar de medida que restringe um direito fundamental do cidadão, qual seja o direito à intimidade e liberdade de comunicação, caberá ao juiz, no caso concreto, avaliar se há outras alternativas menos invasivas, menos lesivas ao indivíduo. Se houver outros meios processuais de obtenção da prova, estes deverão ser utilizados. Deve-se, portanto, demonstrar fundamentadamente a necessidade da medida. Convém notar que se existir outro meio, mas este for de extrema dificuldade de produção, na prática, a autorização poderá ser concedida. Art. 2°: Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses: I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal; II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis; III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção. Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta, devidamente justificada. D.5) Que tenha por finalidade instruir investigação policial ou processo criminal Trata-se de requisito constante da Carta Magna e que foi reproduzido pela Lei nº 9.296/96 em seu artigo 1º. Assim, não se admite a quebra do sigilo para instruir processo cível, por exemplo, ação de separação por adultério, em que é comum a ação de detetives particulares “grampeando” o telefone do cônjuge suspeito, já que a autorização só é possível em questão criminal. Da mesma forma, incabível a interceptação em sede de inquérito civil ou ação civil pública. No caso de descoberta fortuita ou ocasional de crime distinto daquele para o qual foi expedida a ordem, o entendimento majoritário é da licitude das provas para responsabilização 18 penal, exigindo-se relação de conexidade (relação com o fato investigado), pouco importando se é punido com reclusão. Art. 1º: A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de informática e telemática. D.6) Legitimados – Art. 3° Os legitimados para requerer a decretação da interceptação telefônica constam no artigo 3° da Lei 9296/96: Art. 3°: A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: I - da autoridade policial, na investigação criminal; II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e na instrução processual penal. Há a possibilidade de requerimento pelo ofendido enquanto titular ação penal privada (indícios de autoria, crime reclusãoe excepcionalidade), bem como também há a possibilidade de requerimento pelo assistente acusação regularmente habilitado (Arts. 31, 268 e 271, todos do CPP) No que tange à possibilidade de decretação do sigilo de ofício pelo magistrado, recomendamos a utilização do mesmo raciocínio aplicado no item 1.12 (poderes instrutórios do magistrado – artigo 156 do Código de Processo Penal. D.7) Prazo O prazo de duração da interceptação telefônica está descrito no artigo 5°, sendo de 15 dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. Em relação ao cômputo do prazo, aplica-se o artigo 10 do Código Penal e não o artigo 798, § 1°, do Código de Processo Penal. Artigo 5°: A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade, indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova. 19 OBSERVAÇÃO A interceptação telefônica não pode exceder 15 dias, porém pode ser renovada por igual período, não havendo restrição legal ao número de vezes da renovação, desde que comprovada a necessidade. Entretanto, em que pese a lei não limite o número de vezes, há que se respeitar o princípio da proporcionalidade, não podendo a restrição durar ad eternum por se tratar de uma garantia constitucional do indivíduo. D.8) Procedimento O procedimento está regulado nos artigos 5° ao artigo 10 da Lei nº 9.296/96. Em caso de indeferimento da medida, poderá a parte impugnar a decisão judicial através de mandado de segurança criminal, sendo tal ato mais recomendável pois dispensa contrarrazões. Já no caso de deferimento da medida à revelia da lei, a medida mais adequada é a impetração de habeas corpus, uma vez que atinge de forma indireta a liberdade do indivíduo. 1.10.1.2. Interceptação de Dados: (e-mails, MSN, chat, sites e etc.) Como mencionado no item 2.1, em relação à interceptação de dados, há uma primeira corrente doutrinária que sustenta a sua inconstitucionalidade com base no artigo 5°, inciso XII, da Constituição da República Federativa do Brasil/88, uma vez que a ressalva constitucional de violação do sigilo seria aplicável somente às comunicações telefônicas. Já uma segunda corrente sustenta a constitucionalidade de tal medida com base em uma interpretação hermenêutica de tal instituto, sendo a interceptação da comunicação de dados mencionada no artigo 1°, parágrafo único, da Lei nº 9296/96. 20 OBSERVAÇÃO Devemos considerar que o artigo 5°, inciso XII do texto constitucional, em relação à interceptação de dados, tutela a comunicação por intermédio de dados e não as informações referentes a dados que constam nos aparelhos celulares ou computadores, tais como agendas telefônicas, registros de chamadas, arquivos digitalizados. Entretanto, o STJ tem entendimento consolidado (Edição 69 – NULIDADES NO PROCESSO PENAL - RHC 068419/RN, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, Julgado em 28/06/2016,DJE 01/08/2016; RHC 051531/RO,Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Julgado em 19/04/2016,DJE 09/05/2016) que são nulas as provas obtidas por meio da extração de dados e de conversas privadas registradas em correio eletrônico e redes sociais (v.g. Whatsapp e Facebook) sem a prévia autorização judicial. 1.10.1.3. Interceptações Ambientais Trata-se de captação de sons, imagens ou sinais eletromagnéticos sem uso de linha telefônica, realizadas por meio de filmagens, gravadores e etc. Cumpre ressaltar que tal meio de prova não se encontra previsto no Código de Processo Penal, entretanto, há previsão no artigo 3° da Lei nº 12850/13 como meio de obtenção de prova. O entendimento jurisprudencial dominante, antes do advento do pacote anticrime, era no sentido de que, em regra, tal meio de obtenção de prova não implica, em si, violação ao direito de intimidade a ponto de tornar-se ilícita a prova obtida, salvo se realizada em ambiente de expectativa de privacidade e quando praticada com violação de confiança. Entretanto, com o advento da Lei nº 13964/2019, o legislador regulamentou tal meio de prova no artigo 8°-A da Lei nº 9296/96: Art. 8º-A: Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, quando: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação do dispositivo de captação ambiental. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando necessária, por meio de operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto na 21 casa, nos termos do inciso XI do caput do art. 5º da Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). § 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão judicial por iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando presente atividade criminal permanente, habitual ou continuada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º § 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando demonstrada a integridade da gravação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) . (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as regras previstas na legislação específica para a interceptação telefônica e telemática. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). 1.10.2.4. Sigilo de correspondência - (Art. 5°, inciso XII, primeira parte, da CF/88) O sigilo de correspondência está intrinsecamente ligado ao direito à intimidade, impedindo que terceiros tenha acesso ao texto incorporado à carta. Cumpre destacar que pela leitura do artigo 5°, inciso XII da CF/88 o sigilo de correspondência teria uma natureza absoluta, uma vez que não incluído na ressalva feita pelo legislador constituinte. Entretanto, tanto o STF como o STJ já relativizaram tal sigilo desde que haja autorização judicial: STF: “A INVIOLABILIDADE DA CORRESPONDÊNCIA NÃO É ABSOLUTA, PODE SER RELATIVIZADA EM CASOS EXCEPCIONAIS, MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL”. (RHC 115983/RJ, 2°TURMA) STJ NO HC 203371, 5° TURMA (JULGADO EM 03/05/12) PERMITIU A LEITURA DE CARTAS AMOROSAS ENTRE DOIS CORRÉUS ACUSADOS DE HOMICÍDIO DA VÍTIMA, UMA VEZ QE A PROVA FOI OBTIDA MEDIANTE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, JUSTAMENTE PARA APURAR A MOTIVAÇÃO DO CRIME. 1.10.1.5. Exame de Corpo de Delito - (Arts. 158 a 184, todos do CPP) Art. 158: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. O exame de corpo de delito tem por finalidade comprovar a materialidade de infrações que deixam vestígios (delitos não transeuntes). Pode ser: • Direto: realizado pelo perito diante do vestígio deixado pela infração. • Indireto: desaparecimento dos vestígios em face do tempo, podendo o expert se valer de laudo particular realizado após a ocorrência ou de prova testemunhal, nos termos do artigo 167 do Código de Processo Penal. 22 A Lei nº 13.721/2018 incluiu o parágrafo único e seus incisos no artigo 158, do Código de Processo Penal: Art. 158: Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpode delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: I - violência doméstica e familiar contra mulher; II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. Mitigação do rigor do Art. 158 do CPP (indispensabilidade do exame) Art. 77, §1°, Lei n° 9.099/95 = basta boletim médico ou equivalente. Art. 167 do CPP = prova testemunhal supre a ausência do exame. Também pode ser documental (fotografia). Observação: Não se aceita a confissão como meio hábil para suprir a perícia porque tem valor relativo, depende de confirmação por outros meios. Formalidades do exame de corpo de delito Art. 159: O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008 O exame de corpo de delito deve ser realizado por perito oficial portador de curso superior, sendo que na falta, poderá ser realizado por dois peritos não oficiais (leigos), com curso superior, preferencialmente na área objeto da perícia, nomeadas pelo delegado ou juiz, devendo prestar compromisso. 23 Contraditório diferido Art. 159: O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. § 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. § 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. § 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. § 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. § 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. A Lei nº 11.690/09 ampliou o exercício do contraditório diferido em relação ao exame pericial, tendo em vista que o artigo 159 do Código de Processo Penal facultou ao Ministério Público, assistente de acusação, ofendido, querelante e acusado o direito a formular quesitos e indicar assistente técnico, que atuará a partir da admissão do juiz, e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais. 24 1.10.3.1. Aspectos Importantes Cumpre destacar que em caso de indeferimento injustificado da admissão de assistente técnico, a jurisprudência tem admitido como formas de combater essa decisão os seguintes meios: habeas corpus, mandado de segurança e correição parcial. Em relação à oitiva dos peritos em audiência (Art. 159, § 5°, inciso I, do CPP) vale destacar que há a necessidade de intimação destes profissionais com antecedência mínima de 10 dias da solenidade, encaminhando-lhes, no mesmo prazo, as questões a serem respondidas. Divergência de conclusões entre os peritos (Art. 180 do CPP) Laudos complementares: a) esclarecer omissões, obscuridades ou contradições (Art. 181 do CPP) b) necessidade de aguardar-se decurso lapso temporal para viabilizar a resposta a quesitos (Art. 168, caput e §§ 1° e 2°, do CPP). O juiz não está vinculado às conclusões do laudo pericial. O CPP adotou o sistema liberatório da apreciação da prova pericial, o que guarda sintonia com o princípio do livre convencimento motivado. 1.10.3.2. Outras Perícias • Necropsia: exame interno do cadáver, morte violenta (Art. 162 do CPP). • Exumação: requer justa causa e autorização judicial. Sanar dúvidas acerca da causa mortis ou complementar dados (Art. 163 do CPP). • Incêndio: acidental ou criminoso (art. 173 do CPP). • Reconhecimento de escritos: coletar material gráfico para confronto. Segundo o artigo 174, inciso IV, do Código de Processo Penal, vale destacar que a autoridade policial não poderá mandar, apenas solicitar, ante o privilégio da não autoincriminação. • Instrumentos do crime: sujeitos a exame (Art. 175 do CPP). • Crimes contra a propriedade imaterial: o exame de corpo de delito, direto ou indireto, visando a atestar a existência do crime é condição de procedibilidade para ação penal quando a infração deixar vestígios (Arts. 524 a 530-I, todos do CPP). 25 1.10.4. Cadeia de Custódia A Lei nº 13.964/2019 alterou a nomenclatura do capítulo no qual o exame de corpo de delito restou inserido (capítulo II – Do Exame de Corpo de Delito, da cadeia de custódia e das perícias em geral), bem como incluiu os Arts. 158-A, 158-B, 158-C, 158-D, 158-E, 158-F: Art. 158-A: Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsável por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-B: A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas características e natureza; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suascaracterísticas físicas, químicas e biológicas, para posterior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito; (Incluído Lei nº 13.964, de 2019) IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vinculação ao número do laudo correspondente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 26 Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Todos os vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do material. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações sobre seu conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 27 A inclusão dos artigos em questão representa um grande avanço em se tratando de prova pericial, bem como demonstra a intenção do legislador em profissionalizar tanto a prova pericial bem como a gestão dos órgãos de perícia acerca de tal matéria. Em razão disso, deu tratamento especial a questão da cadeia de custódia, elencando as suas fases ou etapas no 158-B. Podemos elencar também a previsão da criação do órgão central de custódia responsável pela guarda e controle dos vestígios encontrados na cena do crime. 1.10.5. Interrogatório - (185 a 196, todos do CPP) A) CARACTERÍSTICAS I) obrigatório: pena de nulidade processual (Art. 564, inciso III, alínea “e”, do CPP) II) personalíssimo: no caso de incapacidade do agente após a prática da infração (Art. 152 do CPP) e se preexistia (Art. 151 do CPP). III) oralidade: perguntas e respostas orais. Exceção: surdo, mudo e estrangeiro (Arts. 192 e 193 do CPP). IV) publicidade: ato público, mas o juiz pode determinar que o ato seja realizado às portas fechadas, limitando o n° presentes, para evitar pressão, escândalos ou perturbação ordem pública. V) individualidade: não se permite interrogatório conjunto. VI) Sistema de Inquirição: Trata-se do sistema Presidencialista, no qual as partes formulam as perguntas por intermédio do juiz, o qual poderá indeferir as perguntas impertinentes e irrelevantes (Art. 188 do CPP). Entretanto, no procedimento do júri as perguntas poderão ser realizadas diretamente pelas partes (Art. 474, § 1°), enquanto os jurados deverão fazê-las por intermédio do juiz (Art. 474, §2°). B) NATUREZA JURÍDICA DO INTERROGATÓRIO: Trata-se de meio de prova e meio de defesa. Em que pese tenha sido elencado no Código de Processo Penal como meio de prova, é a oportunidade no qual se materializa a defesa pessoal do réu. Ademais, nos termos do artigo 185 do Código de Processo Penal é obrigatória a presença de defensor, pena de nulidade absoluta. 28 C) ASPECTOS IMPORTANTES Em que pese o artigo 185 e seguintes do Código de Processo Penal se refiram de um modo geral ao interrogatório na fase judicial, o artigo 6°, inciso V, do Código de Processo Penal, determinada que tal normatização deve ser aplicada, no que for aplicável, ao interrogatório realizado em sede policial. O acusado possui o direito de entrevista pessoal e reservada com seu Defensor, nos termos do artigo 185, § 5°, 1ª parte, havendo uma oscilação jurisprudencial se o descumprimento acarreta nulidade absoluta ou relativa. Emcaso de réu algemado no momento de seu interrogatório, em caso de não haver justificativa idônea, tal ato será nulo de pleno direito, acarretando também a responsabilização civil, administrativa e penal do agente ou da autoridade, nos termos da Súmula Vinculante n° 11 do STF: “Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. D) DIREITO AO SILÊNCIO (NEMO TENETUR SE DETEGERE) O entendimento majoritário é que tem direito ao silêncio quanto às perguntas relativas ao fato e sobre sua pessoa (exemplo: oportunidades sociais). O STJ possui entendimento consolidado (Ed. 69 Nulidades no processo penal) que a falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo. E) INTERROGATÓRIOS ESPECIAIS I - Interrogatório réu preso: sala própria, no estabelecimento em que estiver recolhido (Art. 185, § 1°, do CPP). II - Interrogatório por videoconferência réu preso: caráter excepcional, decisão fundamentada, intimação das partes com no mínimo 10 dias de antecedência, condicionada à impossibilidade de o juiz interrogar o réu no estabelecimento prisional, em face das seguintes hipóteses: a) prevenir risco à segurança pública e fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa (Art. 185, § 2°, inciso I, do CPP). 29 b) prevenir risco à segurança pública quando possa o acusado fugir durante o deslocamento (periculosidade). c) haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal (ameaça de morte). d) impedir influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima. e) responder à gravíssima questão de ordem pública (clamor social). 1.10.6. Confissão Ocorre quando o imputado, normalmente no interrogatório realizado na sede policial ou em juízo, assume a sua responsabilidade diante da autoridade. A) ASPECTOS IMPORTANTES Requisitos intrínsecos e formais para validade da confissão: verossimilhança, clareza, persistência, coincidência, pessoalidade, caráter expresso, oferecimento perante juiz competente, saúde mental e espontaneidade. Valoração: confronto com as demais provas (Art. 197 do CPP) A confissão pode ser divisível: juiz considera verdadeira em parte e inverídica em outra parte. Exemplo: Reconhece autoria e nega excludentes. Exemplo: Reconhece autoria e nega excludentes. A confissão pode ser retratável: mesmo confesso em juízo, o réu pode retratar-se, cabendo ao juiz sua valoração. A confissão policial - retratada em juízo - mas levada em consideração na sentença condenatória, caracteriza a atenuante de confissão espontânea (Art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP) = entendimento do STJ. O STJ admite compensação da atenuante da confissão com a agravante da reincidência – resp 1.154.752) Já a confissão qualificada ocorre quando o réu reconhece o crime, mas agrega teses defensivas, não permite, em regra, o reconhecimento da referida atenuante (STJ ADMITE A ATENUAÇÃO DE PENA TURMA AGRG NI RESP.1.198.354-ES REL. JORGE MUSSI 16/10/2014 E STF 1 TURMA NÃO ADMITE – HC 119671). 1.10.7. Perguntas ao Ofendido A vítima deve ser ouvida pelo juiz, independentemente de ter sido arrolada. 30 Não se encaixa no contexto da prova testemunhal, não se computando no número máximo de testemunhas facultado pelo rito. Não está sujeito ao compromisso (Art. 203 do CPP), não podendo ser sujeito ativo do crime de falso testemunho (Art. 342 do CP). Se mentir, responderá por falsa comunicação de crime ou denunciação caluniosa. Não pode se recusar a depor, podendo ser conduzido à solenidade. 1.10.8. Prova Testemunhal – Arts. 202 a 225 do CPP A) CLASSIFICAÇÃO DAS TESTEMUNHAS: I) referida: embora não arrolada, pode ser inquirida ex officio ou a pedido das partes por ter sido citada por outra testemunha. Não é computada para o número máximo de testemunhas (Art. 401, § 1°). II) judicial: inquirida ex officio e fundamenta-se no poder-dever ao magistrado de buscar a verdade real (Art. 209 e Art. 156, ambos do CPP). III) própria: ouvida sobre objeto do litígio por presenciar ou ouvir dizer. IV) imprópria ou instrumental: que não presta depoimento sobre o mérito da ação penal. Ex.: presenciou a apresentação de um preso em sede policial V) numerária: testemunha regularmente compromissada (Art. 203) VI) informante: dispensadas compromisso por presunção jure et jure de que são suspeitas suas declarações (Art. 206), não se computam no número máximo para cada rito (Art. 401, § 1°, do CPP). VII) direta: presenciou os fatos. VIII) indireta: não presenciou os fatos, mas soube ou ouviu dizer. B) NÚMERO MÁXIMO DE TESTEMUNHAS: I) Oito: procedimento comum ordinário (Art. 401, § 1°), júri (Art. 406, §2° e §3°), crimes de responsabilidade funcionário público (Art. 518), crimes contra honra (Art. 519), crimes contra propriedade imaterial (Art. 524), crimes de comp. Tribunais dos Estados, Regionais Federais e Superiores (Art. 9° da Lei n° 8.038/90 c/c Lei n° 8.658/93), crimes eleitorais punidos com pena máxima igual ou superior a 4 anos. II) Cinco: procedimento comum sumário (Art. 532), crimes falimentares (Art. 185 Lei n° 11.101/05 c/c Art. 532 do CPP), juizados especiais criminais (inaplicável o Art. 34, pois 31 específico ao juizado esp. cível), lei de drogas (Arts. 54 e 55, §1°, Lei n° 11.343/06), crimes eleitorais punidos com pena máxima inferior a 4 anos. OBSERVAÇÃO Para acusação, o número de testemunhas é definido segundo a quantidade de fatos imputados, não importando o número de agentes. Para defesa, leva-se em conta não apenas a quantidade de fatos como também de réus. Exemplo: dois réus acusados de um roubo terão o direito de arrolar cada um oito, totalizando dezesseis, mesmo com defensor único. O mesmo n° será facultado para o caso de um só réu responder por dois crimes de roubo. Já se os dois réus responderem a dois crimes de roubo, o n° máximo permitido será trinta e dois = oito para cada fato atribuído. Não se computarão no número máximo permitido as testemunhas referidas, não compromissadas, as judiciais e as que nada souberem que importe à decisão da causa (Art. 401, § 1°, e art. 209, caput e § 2°). C) TESTEMUNHAS NÃO SUJEITAS A COMPROMISSO – ART. 208 DO CPP Doentes mentais, menores de 14 anos e parentes do réu enumerados no artigo 206 do Código de Processo Penal: ascendentes, descendentes, irmão e cônjuge, ainda que separado judicialmente, e, por fim, os afins em linha reta (sogro). C.1) AUSÊNCIA DE REGRA ESPECÍFICA NA LEGISLAÇÃO PROCESSUAL: 1) não há menção a amigo íntimo e inimigo capital, tampouco aos parentes da vítima. Logo, devem prestar compromisso, mas na prática forense isso não ocorre. 2) os, primos, sobrinhos e cunhado do réu prestam compromisso, pois são parentes colaterais - legítimos e por afinidade - não incluídos no artigo 206 e artigo 208 do Código de Processo Penal. CONTRADITA: impugnar a narrativa de testemunhas arroladas. I) testemunha que não deva prestar compromisso (Art. 208 do CPP). Acolhida a contradita, o efeito é a dispensa de compromisso. II) pessoa que seja proibida depor em razão do ofício ou profissão (Art. 207 do CPP). Acolhida, o efeito é a exclusão da testemunha, não pode depor (padre, psicólogo, etc.). ARGUIÇÃO DE DEFEITO: quando tiver ciência de fatos que tornem a testemunha indigna de fé ou suspeita de parcialidade (parentes da vítima, amigo íntimo ou inimigo). Consigna-se no termo de audiência. 32 D) CARACTERÍSTICAS DA PROVA TESTEMUNHAL:I) oralidade: pode fazer breve consulta a apontamentos (Art. 204) II) objetividade: em regra depõe sobre fatos, não sobre impressões pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa ou for abonatória. III) individualidade: ouvidas de forma individual (Art. 210). IV) incomunicabilidade: reserva de espaço separado (Art. 210 CPP) V) retrospectividade: depoimento sobre fatos passados, jamais futuros. Exceção: informações técnicas: médico prognóstico de recuperação. VI) obrigatoriedade de comparecimento: condução coercitiva, pagamento de despesas, multa e crime de desobediência. Exceções: pessoas doentes e enfermas e determinados cargos, que ostentam prerrogativas (Art. 220, Art. 221, caput, § 1°, do CPP). VII) obrigatoriedade: em regra, não tem direito ao silêncio. Providências judiciais em caso de falso testemunho. E) HIPÓTESES LEGAIS DE INVERSÃO DA ORDEM DE OITIVA DAS TESTEMUNHAS: I) Testemunhas deprecadas (Arts. 400, 411, 531 e 222). II) Possibilidade de perecimento da prova ou de dificuldade posterior de sua produção (Art. 225). III) Ausência de testemunha de acusação no procedimento sumário (Art. 536). OBSERVAÇÃO Ante a atual redação do artigo 212 do Código de Processo Penal, o sistema presidencialista deixou de ser adotado, havendo a possibilidade de perguntas diretamente pelas partes. Neste sentido adveio debate doutrinário quanto ao momento em que o juiz deve realizar as suas perguntas, uma vez que segundo o aludido artigo o magistrado somente pode inquirir de forma complementar às partes. Para Nucci e Avena nada mudou - quem começa a ouvir a testemunha é sempre o juiz, como de praxe forense. Entretanto, na prática há desrespeito a essa regra, exigindo a jurisprudência a demonstração do prejuízo para fins de nulidade de tal inquirição. Neste sentido, o STJ possui entendimento consolidado (Ed. 69 Nulidades no Processo Penal) que A inquirição das testemunhas pelo Juiz antes que seja 33 oportunizada às partes a formulação das perguntas, com a inversão da ordem prevista no artigo 212 do Código de Processo Penal, constitui nulidade relativa. A expedição de carta precatória não suspende a instrução criminal, consoante artigo 222, § 1°, do Código de Processo Penal. Necessidade de fixar prazo para cumprimento do ato deprecado - entre 30 e 90 dias. Eventual descumprimento possibilita que seja proferida sentença independente do retorno da precatória (Art. 222, § 2°), sem implicar nulidade, consoante entendimento jurisprudencial. Se retornar após a sentença, deve ser remetida ao Tribunal para que seja acostada ao recurso, intimando-se as partes para aditarem suas respectivas razões. Não há necessidade de intimação das partes para audiência a ser realizada no juízo deprecado, sendo suficiente a intimação da expedição da carta precatória (Súmulas 273 STJ e 155 STF). 1.10.9. Reconhecimento Pessoas e Coisas – Arts. 226 a 228 do CPP A) FORMALIDADES LEGAIS: 1) a pessoa convidada a fazer o reconhecimento deverá descrever a pessoa que deva ser reconhecida (Art. 226, inciso I) 2) em seguida, deverá o reconhecedor apontá-la entre outras que com ela guardarem semelhança, “se possível” (inciso II). Com efeito, o STJ não reconheceu ilegalidade no posicionamento do réu sozinho. 3) ao final, lavrar-se-á o auto, subscrito pela autoridade, reconhecedor e por duas testemunhas presenciais (inciso IV). 4) havendo receio de que, por intimidação, a pessoa chamada para o reconhecimento não fale a verdade, a autoridade poderá providenciar para que não seja vista por quem deva ser reconhecido (inciso III). Ao reconhecimento de coisas aplicam-se as mesmas regras, no que for cabível, abstraindo-se a previsão contida no inciso III, do Art. 226. O STJ possuía entendimento consolidado (Ed. 69 – Nulidades no Processo Penal) que as irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez que as formalidades previstas no Art. 226 do CPP são meras recomendações legais. 34 Entretanto, recentemente, o STJ, no HC 597886 do STJ, entendeu pela ilegalidade do reconhecimento efetuado fora do padrão do artigo 226 CPP, reconhecendo que tal reconhecimento ilegal não pode justificar uma condenação. 1.10.10. Busca e Apreensão – Arts. 240 a 250 CPP A) NATUREZA JURÍDICA: a.1) meio de prova: uso nas investigações e processo criminal. a.2) assecuratório de direitos: arresto para garantir êxito na reparação civil dos danos causados pela infração penal. B) CLASSIFICAÇÃO: i) domiciliar ii) pessoal. Amplitude de conceito normativo de casa: supera-se o conceito previsto no artigo 70 e 72, ambos do Código Civil. Utiliza-se o artigo 150, § 4°, do Código Penal e artigo 246 do Código de Processo Penal. Abrange pátio de residência, boleia de caminhão, trailers, cabine de barcos, barracas, motorhome, repartições públicas, quartos de hotel, pensão, motel e congêneres. Necessidade de ordem judicial: fundadas razões para busca e apreensão domiciliar = exigência de indícios convincentes, indicação do local no qual será realizada e objeto da providência (Art. 240, § 1°). Para busca pessoal, basta fundada suspeita = subjetivo (Art. 240, § 2°). C) ASPECTOS IMPORTANTES Fora das hipóteses de flagrante, desastre, socorro e consentimento do morador, a exigência do mandado é dispensada quando o próprio juiz competente para expedi-lo realizar a busca pessoalmente, acompanhado de policiais, nos termos do artigo 241, § 2°. Entretanto, tal dispositivo deve ser interpretado com ressalva, sob pena de violação ao sistema acusatório e resgate da figura do juiz-inquisidor. Cabimento da busca e apreensão domiciliar: Taxatividade do rol previsto no artigo 240, § 1°, do Código de Processo Penal. Desobediência ou recalcitrância do morador: possibilidade de ingresso forçado na casa, arrombamento da porta (Art. 245, § 2°). Se houver resistência física do morador, poderá ser preso em flagrante por crime de desobediência, resistência ou desacato. 35 Auto de apreensão: lavratura de auto circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, salvo se executado ou lugar ermo (Art. 245, § 4° e § 7°, do CPP). D) REGRAS ESPECIAIS Revista de mulher (Art. 249 do CPP). Busca em território de jurisdição distinta: seguimento pessoa (Art. 250). E) JULGAMENTO DO RE 603616 O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, na sessão de 05/11/2015, o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 603616, com repercussão geral reconhecida, e, por maioria de votos, firmou a tese de que “a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados”. 1.11. Questões 1) QUESTÃO 3 – XXIX EXAME – OAB FGV – 2019-02 Em patrulhamento de rotina, policiais militares receberam uma informação não identificada de que Wesley, que estava parado em frente à padaria naquele momento, estaria envolvido com o tráfico de drogas da localidade. Diante disso, os policiais identificaram e realizaram a abordagem de Wesley, não sendo, em um primeiro momento, encontrado qualquer material ilícito com ele. Diante da notícia recebida momentos antes da abordagem, porém, e considerando que o crime de associação para o tráfico seria de natureza permanente, os policiais apreenderam o celular de Wesley e, sem autorização, passaram a ter acesso às fotografias e conversas no WhatsApp, sendo verificado que existiam fotos armazenadas de Wesley portando suposta arma de fogo, bem como conversas sobre compra e venda de material entorpecente. Entendendo pela existência de flagrante em relação ao crime permanente de associação para o tráfico, Wesley foi encaminhado