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Disciplina | Introdução www.cenes.com.br | 1 DISCIPLINA GEOGRAFIA AMBIENTAL Geografia Ambiental | Sumário www.cenes.com.br | 2 Sumário Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------------- 3 2 Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente ------------------------ 10 3 Uma Sociedade do Consumo -------------------------------------------------------------------- 14 4 Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia ---------------------------------------------------- 16 4.1 A Questão Ambiental ------------------------------------------------------------------------------------------ 22 4.2 Contexto Atual da Crise Ambiental ------------------------------------------------------------------------ 25 5 Visões Sobre a Sustentabilidade --------------------------------------------------------------- 27 5.1 Questão Ambiental e a Sustentabilidade ---------------------------------------------------------------- 30 6 Relação Ser Humano x Meio Ambiente------------------------------------------------------- 34 6.1 Causas e Consequências do Aquecimento Global ----------------------------------------------------- 35 7 A Água no Século XXI ------------------------------------------------------------------------------ 40 7.1 Cenário da Água no Mundo ---------------------------------------------------------------------------------- 40 7.2 Cenário da Água no Brasil ------------------------------------------------------------------------------------ 42 8 Referências ------------------------------------------------------------------------------------------- 43 Este documento possui recursos de interatividade através da navegação por marcadores. Acesse a barra de marcadores do seu leitor de PDF e navegue de maneira RÁPIDA e DESCOMPLICADA pelo conteúdo. Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 3 1 Introdução Geografia ambiental é o estudo dos efeitos das ações do homem sobre o ambiente terrestre. Ela estuda mudanças climáticas globais, aumento do nível dos oceanos, desmatamento, processos de desertificação, poluição dos rios, lagos e mananciais de água, dentre outros efeitos no ambiente. O meio ambiente, comumente chamado apenas de ambiente, envolve todas as coisas vivas e não-vivas ocorrendo na Terra, ou em alguma região dela, que afetam os ecossistemas e a vida dos humanos. É o conjunto de condições, leis, influências e infraestrutura de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Fazem parte do meio ambiente o solo, as habitações, o clima, as estradas etc. Percebemos então que alguns dos elementos formadores do meio ambiente, como vegetação, os rios, os solos etc., são produzidos diretamente pela natureza. Outros são resultados da atividade humana – os edifícios, as ruas, a agricultura, as pontes e barragens etc. Podemos então dividir o meio ambiente humano em meio natural e meio social. O meio natural de uma área consiste nos elementos da natureza que interagem naquele lugar são, portanto, interdependentes e interessam aos seres humanos, porque ocupar esse espaço significa se relacionar com eles. Afirma-se comumente que a maneira como o ser humano ocidental vê seu meio ambiente deriva em parte da ideia judaico-cristã, segundo a qual, diferentemente das outras criaturas, o ser humano foi feito à margem de Deus, tendo, portanto, o direito de dominar o mundo. A noção de um mundo destinado ao benefício da humanidade foi igualmente enunciada pelos gregos da Antiguidade: “As plantas foram criadas por causa dos animais e os animais por causa dos homens”, afirmou Aristóteles no século IV a.C. É discutível se este pensamento ocidental tornou-se possível ou ajudou a desenvolver a moderna tecnologia industrial e agrícola, que aumentou imensamente as ilusões humanas de domínio completo sobre a natureza, mas a verdade é que essas invenções foram quase inteiramente obras da civilização ocidental. A teoria segundo a qual as condições naturais governam o comportamento humano chama-se determinismo ou causalidade. Para que esse determinismo fosse válido, a localização de uma fábrica, por exemplo, seria determinada pela localização de matérias-primas e energia, algo que contraria os fatos, pois no mundo inteiro a localização das indústrias, desde a automobilística até as mais avançadas como a Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 4 microeletrônica, tem como regra geral uma localização correspondente a fatores como mercado ou mão de obra qualificada, ficando os elementos naturais confinados tão somente aos caprichos de um lugar agradável para a moradia de uma sociedade. No entanto, o oposto a esse determinismo, ou seja, a ideia de um controle total da humanidade sobre a natureza, também é incorreto. Torna-se evidente que a espécie humana ainda está sujeita à natureza, como o demonstram vários exemplos do nosso dia a dia. Dessa forma, chegou-se à ideia de um meio-termo: o ser humano modifica a natureza com sua tecnologia, mas essas modificações são mais eficazes quando não contrariam a “natureza das coisas”, isto é, quando não ocasionam danos ambientais, que vão prejudicar os próprios seres humanos. As aplicações dessa tecnologia, assim, têm de ser estudadas com maior cuidado para evitar que as mudanças no meio ambiente não tragam mais prejuízos que benefícios à população. Uma das características importantes do nosso planeta é a interdependência das suas partes. Todas as paisagens ou aspectos da Terra formam um conjunto, um sistema gigantesco. Os movimentos ou mudanças que aí ocorrem, como não podiam deixar de acontecer, dependem de energia. A energia que move esse sistema planetário provém de várias fontes: do interior da Terra, da gravidade, dos movimentos do planeta e, principalmente, do Sol, da radiação solar. É a energia do Sol que dá origem às formas do relevo, aos climas e à vida. Sem a radiação solar a Terra ficaria morta, escura e quase imutável. A energia solar alcança a Terra via atmosfera, distribui-se de forma desigual pelo planeta e depois volta ao espaço. Entre a entrada e a saída, a energia flui por diversos canais e se acumula por longos períodos (no carvão ou no petróleo) ou por pequenos períodos (nos animais, nos solos, nas árvores). Os seres humanos são depositários de uma fração infinitesimal dessa corrente de energia. A intervenção humana no sistema Terra modifica a direção dessas correntes de energia (por exemplo, pela colheita de plantações, evitando que as plantas murchem e devolvam sua energia acumulada ao solo), altera a magnitude das correntes de energia (mineração do carvão, por exemplo). Dessa forma, é evidente que as ações humanas não podem ser confinadas e que elas acarretarão consequências em muitas partes do meio físico, além do local da intervenção. Uma sociedade humana pode ser definida como um grupo de pessoas unidas por um conjunto de traços semelhantes, como por exemplo, traços culturais e étnicos. Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 5 Ou seja, cada sociedade possui suas tradições, costumes e diversos outros fatores que a caracterizam e determinam. Para falar de sociedade temos que falar de seu criador e responsável, o Homem. Além das necessidades biológicas imprescindíveis à sobrevivência de todo ser vivo, como alimentação e adaptação ao meio em que vive, o Homem se diferencia das outras espécies por seu “interesse motivador”, o qual, além de contribuir para a evolução da sociedade, ainda a sustenta. Esse interesse, que varia de pessoa para pessoa ou de sociedade para sociedade, pode ser exemplificado como o de buscar sempre novas experiências, de ser aceito no seu grupo social e de sere degradação do meio ambiente, uma vez que a teoria do crescimento é organizada em função da poupança e do investimento e que os problemas ambientais deveriam ser tratados como resultados da má distribuição dos bens econômicos em determinado momento (GODARD, 1997). De certo, um desenvolvimento sustentável se constrói como um processo socioeconômico em que se utiliza menos recursos naturais e menos energia, de forma que possa minimizar os impactos ambientais e maximizar o bem-estar social, sem ameaça de retrocessos, permitindo alcançar a máxima eficiência no uso dos recursos existentes na natureza, na direção da máxima sustentabilidade do estilo de vida simples dos índios brasileiros, evitando o estilo esbanjador do modelo americano e dos ricos (CAVALCANTI, 2012). Desse modo, para alcançar o desenvolvimento sustentável é necessário planejamento e reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Contudo, o modelo de desenvolvimento baseado no capitalismo e que tem como característica a transformação das relações em mercadorias e por sua vez o lucro, é incompatível com o desenvolvimento sustentável uma vez que alcança uma dimensão holística na relação entre os seres humanos e entre a humanidade e os seres humanos e a natureza, não contemplado pelo capitalismo. 5.1 Questão Ambiental e a Sustentabilidade A crise ambiental revela a radicalidade do sistema capitalista e os fatos que ocorreram mostra que o capitalismo é incapaz de resolver os problemas sociais graves, como a questão agrária, a depredação ambiental, as condições de vida precárias dentre outras. Silva (2010) questiona os modelos de desenvolvimento existente desde o pós-guerra, como o pacto Keynesiano europeu e o modelo desenvolvimentista- periférico, sendo este último culpado por ser o principal responsável pelo aumento crescente e continuado das desigualdades sociais, elevando o contingente de desempregados. Apesar de haver iniciativas públicas e privadas direcionadas para o desenvolvimento sustentável, elas ficam mais restritas a um discurso positivo, configurando-se como reveladoras da insustentabilidade social, por meio de medidas paliativas que postergam os problemas ambientais. Geografia Ambiental | Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 31 Assim, o conceito de desenvolvimento sustentável busca um novo padrão de desenvolvimento capaz de satisfazer simultaneamente as dimensões ambiental e social, frente a dinâmica socioeconômica, com vistas a satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer as gerações futuras (SILVA, 2010). Para Ribeiro (2012), a trajetória ambientalista é resultante de diferentes processos que buscam construir uma nova razão ambiental, que condiciona e orienta outros modelos de desenvolvimento, como oposição ao modelo formulado pela razão mecanicista, que construiu a sociedade capitalista no século XX. Por essa razão, o neoliberalismo e a globalização das economias, trazem uma nova ordem mundial, impondo um ritmo cada vez mais acelerado no processo de apropriação dos recursos, causando alterações significativas nos ambientes naturais e humanos, com maior degradação ambiental. Para o autor, a proposta de desenvolvimento sustentável proposta no relatório Bruntland, reconhece a necessidade de reduzir as desigualdades entre as nações e as relações de poder entre países do norte e do sul, por meio de diretrizes de controle populacional, conservação dos recursos naturais, desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, alteração da matriz energética, dentre outras. A crise ambiental é a primeira crise do mundo real produzida pelo desconhecimento do conhecimento; da concepção do mundo e do domínio da natureza que geram a falsa certeza de um crescimento econômico sem limites, até a racionalidade instrumental e tecnológica vista como sua causa eficiente (LEFF, 2010, p. 207). Segundo Leff (2010) a crise ambiental, como produto da degradação socioambiental, tem causado perda da fertilidade do solo, pobreza, miséria extrema, desnutrição e marginalização. Nesse contexto, a questão ambiental traz novas perspectivas para o desenvolvimento, encontrando novos potenciais ecológicos, tecnológicos e sociais, permitindo propor transformação dos sistemas de produção, de valores e de conhecimento da sociedade, a fim de construir uma racionalidade produtiva alternativa. Para o autor, a crise ambiental é sobretudo uma crise do conhecimento, e o saber ambiental emergente de um conjunto de disciplinas, que busca construir um saber e uma racionalidade social dirigido para os objetivos de um desenvolvimento sustentável, equitativo e duradouro. Nesse sentido, Fontenelle (2013) corrobora ao afirmar que o consumidor também é responsável pela degradação ambiental ao estimular o hiperconsumismo das sociedades modernas. Para reverter esse quadro, faz-se necessário uma mudança de paradigma, com o envolvimento de empresas e consumidores, como agentes morais fundamentais desse processo, por meio de uma responsabilidade social corporativa, Geografia Ambiental | Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 32 com consumidores empenhados na resolução dos problemas ambientais, optando por consumir produtos de empresas socialmente responsáveis. Segundo Pelegrini & Vlach (2011), a crise ambiente agrava-se em função do rumo que a dinâmica mundial tem tomado, uma vez os países ricos impõe aos países pobres condições de submissão, baseado em trocas desiguais, no protecionismo e na cobrança excessiva de juros em empréstimos concedidos, através do Fundo Monetário Internacional – FMI e Organização Mundial do Comercio – OMC, além de submeter a ideologias neoliberal que contribuem para a desregulamentação, levando esses países a misérias de suas massas. Para os autores, além desses fatores, as raízes da degradação ambiental estão localizadas no consumo sem limites, uma vez que se produz cada vez mais mercadorias que duram cada vez menos. Diante dessa realidade, faz-se necessário abordar os aspectos sociais, políticos e ideológicos na educação ambiental, uma vez que a sensibilização dos educandos produz resultados positivos, relacionados aos efeitos da crise ambiental. A questão ambiental contemporânea obriga o homem a repensar a relação entre o ser humano e a natureza, gerando mudanças (FOLADORI, 2001). Dessa forma, Foladori (2002) salienta que após trinta anos da conferência de Estocolmo, que trouxe a discussão sobre o desenvolvimento sustentável, enfatizando as necessidades de deixar como legado para às gerações futuras uma natureza melhor, a comunidade internacional começou a compreender que o objetivo é um complemento das capacidades humanas, passando a compreender que o aumento da qualidade de vida deve ser o caminho para o desenvolvimento saudável. Para o autor, o conceito de desenvolvimento sustentável, inclui as três dimensões básicas da sustentabilidade: a ecológica, a econômica e a social e, tem apresentado importantes avanços no campo teórico, com implementação prática. Mas, continua atrelado a um desempenho técnico do sistema de produção capitalista, sem discutir as relações de propriedade e apropriação capitalista que causam pobreza e injustiças sociais. De acordo com Seramim & Lago (2016), a sustentabilidade das propriedades rurais está relacionada ao manejo adequado dos recursos naturais, pois, o manejo convencional dos recursos naturais tem aumentado a degradação ambiental. Para os autores, a sustentabilidade está diretamente associada aos conceitos agroecológicos desenvolvidos nos últimos anos, uma vez que os manejos agroecológicos são mais eficientes em relação à manutenção da biodiversidade e serviços ecossistêmicos, apresentando-se como fator preponderante para a “sustentabilidade”, no sentido de possibilitar a permanência dos agricultores no campo, contribuindo para o Geografia Ambiental |Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 33 desenvolvimento rural, não somente da propriedade, mas também da comunidade local e da região. Para Altieri (2008), a agroecologia é um caminho para a agricultura sustentável, pois, é baseada em conhecimentos e técnicas desenvolvidas, a partir de agricultores e processos experimentais, possibilitando uma produção sustentável em agro ecossistema, originária do equilíbrio entre diferentes espécies de nutrientes, atividade biológica do solo, diversificação de espécies de plantas, luz solar, umidade, dentre outras, necessárias para que as plantas se tornem resilientes, tolerando estresses e adversidades. De acordo com Altieri e Toledo (2011), os princípios agroecológicos visam a preservação e ampliação da biodiversidade dos agro ecossistemas, estabelecendo interações entre solo, plantas e animais, permitindo a regeneração da fertilidade do solo, com manutenção da produtividade, proteção das culturas e diversificação da paisagem agrícola. Por fim, Romeiro (2012) aponta a grande expectativa em relação ao papel da tecnologia, destacando tecnologias “verdes” triplamente ganhadoras, uma vez que são ambientalmente adequadas socialmente amigáveis e economicamente eficientes. Assim, a restrição da disponibilidade de recursos naturais, pode ser uma limitação a expansão da economia, podendo ser superada pelo progresso científico e tecnológico, que se apresenta como variável chave, para garantir que o sistema econômico mude de uma base de recursos para outra, à medida que aquela fonte de recurso natural é esgotada, garantindo a sustentabilidade a longo prazo. A crise ambiental se apresenta como um limite devido a um desequilíbrio nos aspectos econômico, ecológico e social, impondo limites para a crescimento econômico e populacional, alinhados as capacidades de sustentação da vida, imposta pelas limitações dos recursos naturais. Decerto, a crise ambiental está diretamente ligada ao modo de produção capitalista e a forma como os recursos naturais são explorados, orientado pelo pensamento dos economistas, não preocupados com questões ambientais, que defendiam entre outras coisas, que a natureza deve gerar o máximo de riquezas possível e que questões relacionadas ao meio ambiente, ao bem- estar da população, condições de vida e provimento de suas necessidades básicas eram consideradas limitantes do desenvolvimento. Em razão disso, os movimentos ambientalistas e as ONGs, foram muito importantes para que as questões ambientais fossem incluídas na agenda econômica mundial. As ponderações por eles realizadas produziram debates sobre o modelo de exploração dos recursos naturais e o modo de acumulação de capitais, que concentra Geografia Ambiental | Relação Ser Humano x Meio Ambiente www.cenes.com.br | 34 as riquezas geradas nas mãos de pequena parcela da população (ricos) e as consequências da exploração irracional dos recursos naturais são sofridas principalmente pelos pobres e menos favorecidos. Logo, os questionamentos fizeram com que ocorresse várias conferências e estudos sobre o meio ambiente e questões climáticas, na busca de soluções a questão ambiental, sendo os mais importantes as Teses do Clube de Roma que produziu o relatório intitulado “Os Limites do Desenvolvimento”, que defendia o crescimento zero e apontava o crescimento demográfico como o grande responsável pela degradação ambiental e a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, a qual produziu o relatório “Nosso Futuro Comum” onde discutiu-se pela primeira vez as relações entre desenvolvimento e o meio ambiente, trazendo as questões ambientais para a agenda econômica internacional, discutindo as questões que gerassem conflito e defendendo o desenvolvimento econômico como condição para melhoria da qualidade de vida da população. O relatório Brundtland definiu o conceito de sustentabilidade mais aceito e buscou chamar a atenção do mundo para novas formas de desenvolvimento econômico, com o menor impacto ao meio ambiente e definiu três princípios básicos a serem cumpridos para que se alcance o desenvolvimento sustentável, considerados o tripé da sustentabilidade que são: desenvolvimento econômico, proteção ambiental e equidade social. Portanto, a restrição da disponibilidade de recursos naturais, considerado um fator de limitação da expansão da economia, pode ser alcançado por meio de um manejo adequado dos recursos naturais, com vista a preservação e ampliação da biodiversidade dos agro ecossistemas, estabelecendo a interação entre as culturas de plantas, solo e animais, possibilitando a regeneração da fertilidade do solo, mantendo a produtividade e proteção das culturas, diversificando a paisagem agrícola, sendo fator preponderante para a sustentabilidade. Por fim, o desenvolvimento sustentável deve ser capaz de suprir as necessidades econômicas, sociais e ambientais do presente, com melhor distribuição espacial dos bens gerados, promovendo justiça social e preservação dos valores culturais, por meio de uma maior cooperação entre ricos e pobres. 6 Relação Ser Humano x Meio Ambiente Falar da relação ser humano versus meio ambiente se constitui uma importante discussão, isso porque pensar no meio ambiente na atualidade é pensar em qualidade Geografia Ambiental | Relação Ser Humano x Meio Ambiente www.cenes.com.br | 35 de vida. Esta é uma das maneiras mais sensatas do ser humano evoluir de forma satisfatória, considerando que essa relação é uma forma precisa para a evolução e desenvolvimento da humanidade. Sabe-se que na atualidade, diante das problemáticas que rondam a sociedade moderna como os desafios da pobreza, da desigualdade social, dos desafios de saúde e da educação, é necessário observar as questões relacionadas aos impactos produzidos pela relação do homem e o meio ambiente da qual dependem igualmente o crescimento das sociedades. Pensar o meio ambiente na atualidade é pensar nas questões sociais que são complexas e desafiam os governos e autoridades. 6.1 Causas e Consequências do Aquecimento Global O aquecimento global é um fenômeno climático de larga extensão um aumento da temperatura média superficial global que vem acontecendo nos últimos 150 anos. Entretanto, o significado deste aumento de temperatura ainda é objeto de muitos debates entre os cientistas. Causas naturais ou antropogênicas (provocadas pelo homem) têm sido propostas para explicar o fenômeno. Grande parte da comunidade científica acredita que o aumento de concentração de poluentes antropogênicos na atmosfera é causa do efeito estufa. A Terra recebe radiação emitida pelo Sol e devolve grande parte dela para o espaço através de radiação de calor. Os poluentes atmosféricos estão retendo uma parte dessa radiação que seria refletida para o espaço, em condições normais. Essa parte retida causa um importante aumento do aquecimento global. A principal evidência do aquecimento global vem das medidas de temperatura de estações meteorológicas em todo o globo desde 1860. Os dados com a correção dos efeitos de “ilhas urbanas” mostram que o aumento médio da temperatura foi de 0.6+-0.2 C durante o século XX. Os maiores aumentos foram em dois períodos: 1910 a 1945 e 1976 a 2000. (fonte IPCC). Evidências secundárias são obtidas através da observação das variações da cobertura de neve das montanhas e de áreas geladas, do aumento do nível global dos mares, do aumento das precipitações, da cobertura de nuvens, do El Niño e outros eventos extremos de mau tempo durante o século XX. Por exemplo, dados de satélite mostram uma diminuição de 10% na área que é coberta por neve desde os anos 60. A área da cobertura de gelo no hemisfério norte Geografia Ambiental | Relação Ser Humano x Meio Ambiente www.cenes.com.br | 36 na primavera e verão também diminuiu em cerca de 10% a 15% desde 1950 e houveretração das montanhas geladas em regiões não polares durante todo o século XX.(Fonte: IPCC). Causas Mudanças climáticas ocorrem devido a fatores internos e externos. Fatores internos são aqueles associados à complexidade derivada do fato dos sistemas climáticos serem sistemas caóticos não lineares. Fatores externos podem ser naturais ou antropogênicos. O principal fator externo natural é a variabilidade da radiação solar, que depende dos ciclos solares e do fato de que a temperatura interna do sol vem aumentando. Fatores antropogênicos são aqueles da influência humana levando ao efeito estufa, o principal dos quais é a emissão de sulfatos que sobem até a estratosfera causando depleção da camada de ozônio (Fonte: IPCC) Cientistas concordam que fatores internos e externos naturais podem ocasionar mudanças climáticas significativas. No último milénio dois importantes períodos de variação de temperatura ocorreram: um período quente conhecido como Período Medieval Quente e um frio conhecido como Pequena Idade do Gelo. A variação de temperatura desses períodos tem magnitude similar ao do atual aquecimento e acredita-se terem sido causados por fatores internos e externos somente. A Pequena Idade do Gelo é atribuída à redução da atividade solar e alguns cientistas concordam que o aquecimento terrestre observado desde 1860 é uma reversão natural da Pequena Idade do Gelo (Fonte: The Skeptical Environmentalist). Entretanto grandes quantidades de gases tem sido emitidos para a atmosfera desde que começou a revolução industrial, a partir de 1750 as emissões de dióxido de carbono aumentaram 31%, metano 151%, óxido de nitrogênio 17% e ozônio troposférico 36% (Fonte IPCC). A maior parte destes gases são produzidos pela queima de combustíveis fósseis. Os cientistas pensam que a redução das áreas de florestas tropicais tem contribuído, assim como as florestas antigas, para o aumento do carbono. No entanto florestas novas nos Estados Unidos e na Rússia contribuem para absorver dióxido de carbono e desde 1990 a quantidade de carbono absorvido é maior que a quantidade liberada no desflorestamento. Nem todo dióxido de carbono emitido para a atmosfera se acumula nela, metade é absorvido pelos mares e florestas. Geografia Ambiental | Relação Ser Humano x Meio Ambiente www.cenes.com.br | 37 A real importância de cada causa proposta pode somente ser estabelecida pela quantificação exata de cada fator envolvido. Fatores internos e externos podem ser quantificados pela análise de simulações baseadas nos melhores modelos climáticos. A influência de fatores externos pode ser comparada usando conceitos de força radioativa. Uma força radioativa positiva esquenta o planeta e uma negativa o esfria. Emissões antropogênicas de gases, depleção do ozônio estratosférico e radiação solar tem força radioativa positiva e aerossóis tem o seu uso como força radioativa negativa. (fonte IPCC). Modelos Climáticos Simulações climáticas mostram que o aquecimento ocorrido de 1910 até 1945 podem ser explicados somente por forças internas e naturais (variação da radiação solar) mas o aquecimento ocorrido de 1976 a 2000 necessita da emissão de gases antropogênicos causadores do efeito estufa para ser explicado. A maioria da comunidade científica está atualmente convencida de que uma proporção significativa do aquecimento global observado é causada pela emissão de gases causadores do efeito estufa emitidos pela atividade humana. (Fonte IPC) Esta conclusão depende da exatidão dos modelos usados e da estimativa correta dos fatores externos. A maioria dos cientistas concorda que importantes características climáticas estejam sendo incorretamente incorporadas nos modelos climáticos, mas eles também pensam que modelos melhores não mudariam a conclusão. (Fonte: IPCC) Os críticos dizem que há falhas nos modelos e que fatores externos não levados em consideração poderiam alterar as conclusões acima. Os críticos dizem que simulações climáticas são incapazes de modelar os efeitos resfriadores das partículas, ajustar a retroalimentação do vapor de água e levar em conta o papel das nuvens. Críticos também mostram que o Sol pode ter uma maior cota de responsabilidade no aquecimento global atualmente observado do que o aceite pela maioria da comunidade científica. Alguns efeitos solares indiretos podem ser muito importantes e não são levados em conta pelos modelos. Assim, a parte do aquecimento global causado pela ação humana poderia ser menor do que se pensa atualmente. (Fonte: The Skeptical Environmentalist) Geografia Ambiental | Relação Ser Humano x Meio Ambiente www.cenes.com.br | 38 Efeitos Devido aos efeitos potenciais sobre a saúde humana, economia e meio ambiente o aquecimento global tem sido fonte de grande preocupação. Algumas importantes mudanças ambientais têm sido observadas e foram ligadas ao aquecimento global. Os exemplos de evidências secundárias citadas abaixo (diminuição da cobertura de gelo, aumento do nível do mar, mudanças dos padrões climáticos) são exemplos das consequências do aquecimento global que podem influenciar não somente as atividades humanas, mas também os ecossistemas. Aumento da temperatura global permite que um ecossistema mude; algumas espécies podem ser forçadas a sair dos seus habitats (possibilidade de extinção) devido a mudanças nas condições enquanto outras podem espalhar-se, invadindo outros ecossistemas. Entretanto, o aquecimento global também pode ter efeitos positivos, uma vez que aumentos de temperaturas e aumento de concentrações de CO2 podem aprimorar a produtividade do ecossistema. Observações de satélites mostram que a produtividade do hemisfério Norte aumentou desde 1982. Por outro lado, é fato de que o total da quantidade de biomassa produzida não é necessariamente muito boa, uma vez que a biodiversidade pode no silêncio diminuir ainda mais um pequeno número de espécie que esteja florescendo. Uma outra causa grande preocupação é o aumento do nível do mar. O nível dos mares está aumentando em 0.01 a 0.02 metros por década e em alguns países insulares no Oceano Pacífico são expressivamente preocupantes, porque cedo eles estarão debaixo de água. O aquecimento global provoca subida dos mares principalmente por causa da expansão térmica da água dos oceanos, mas alguns cientistas estão preocupados que no futuro, a camada de gelo polar e os glaciares derretam. Em consequência haverá aumento do nível, em muitos metros. No momento, os cientistas não esperam um maior derretimento nos próximos 100 anos. (Fontes: IPCC para os dados e as publicações da grande imprensa para as percepções gerais de que as mudanças climáticas). Como o clima fica mais quente, a evaporação aumenta. Isto provoca pesados aguaceiros e mais erosão. Muitas pessoas pensam que isto poderá causar resultados mais extremos no clima como progressivo aquecimento global. O aquecimento global também pode apresentar efeitos menos óbvios. A Corrente do Atlântico Norte, por exemplo, provocada por diferenças entre a temperatura entre os mares. Aparentemente ela está diminuindo conforme as médias da temperatura global aumentam, isso significa que áreas como a Escandinávia e a Geografia Ambiental | Relação Ser Humano x Meio Ambiente www.cenes.com.br | 39 Inglaterra que são aquecidas pela corrente devem apresentar climas mais frios a despeito do aumento do calor global. Consequências Aquecimento global pode trazer consequências graves para todo o planeta incluindo plantas, animais e seres humanos. A retenção de calor na superfície terrestre pode influenciar fortemente o regime de chuvas e secas em várias partes do planeta, afetando plantações e florestas. Algumas florestas podem sofrer processo de desertificação, enquanto plantações podem ser destruídas por alagamentos. O resultado disso é o movimento migratório de animaise seres humanos, escassez de comida, aumento do risco de extinção de várias espécies animais e vegetais, e aumento do número de mortes por desnutrição. Outro grande risco do aquecimento global é o derretimento das placas de gelo da Antártica. Esse derretimento já vinha acontecendo há milhares de anos, por um lento processo natural. Mas a ação do homem e o efeito estufa aceleraram o processo e o tornaram imprevisível. A calota de gelo ocidental da Antártida está derretendo a uma velocidade de 250 km cúbicos por ano, elevando o nível dos oceanos em 0,2 milímetro a cada 12 meses. O degelo desta calota pode fazer os oceanos subirem até 4,9 metros, cobrindo vastas áreas litorâneas pelo mundo e ilhas inteiras. Os resultados também são escassez de comida, disseminação de doenças e mortes. O aquecimento global também acarreta mudanças climáticas, que é responsável por 150 mil mortes a cada ano em todo o mundo. Só no ano passado, uma onda de calor que atingiu a Europa no verão matou pelo menos 20 mil pessoas. Os países tropicais e pobres são os mais vulneráveis a tais efeitos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) atribui à modificação do clima 2,4% dos casos de diarreia e 2% dos de malária em todo o mundo. Esse quadro pode ficar ainda mais sombrio: alguns cientistas alertam que o aquecimento global pode se agravar nas próximas décadas e a OMS calcula que para o ano de 2030 as alterações climáticas poderão causar 300 mil mortes por ano. Geografia Ambiental | A Água no Século XXI www.cenes.com.br | 40 7 A Água no Século XXI A água é um recurso natural essencial para a sustentação da vida e do meio ambiente. Ela desempenha papel importante no processo de desenvolvimento econômico e social de qualquer país, sendo um dos principais fatores limitantes para o crescimento e desenvolvimento econômico das civilizações (Biswas, 1997). A água, ingrediente essencial à vida, certamente é o recurso mais precioso que a humanidade dispõe. Embora se observe pelo mundo afora tanta negligência e tanta falta de visão com relação a este recurso, é de se esperar que os seres humanos tenham pela água grande respeito, que procurem manter seus reservatórios naturais e que preserve sua pureza. De fato, o futuro da espécie humana e de muitas outras pode ficar comprometido, a menos que haja uma melhora significativa no gerenciamento dos recursos hídricos. Entre os fatores que mais tem afetado esse recurso estão o crescimento populacional e a grande expansão dos setores produtivos, entre os quais a agricultura e a indústria. Essa situação, responsável pelo consumo e pela poluição da água em escala exponencial, tem conduzido à necessidade de uma reformulação na concepção do seu gerenciamento, apresentando desafios às entidades de ensino, pesquisa e extensão, aos órgãos governamentais e não governamentais. Por mais que seja de conhecimento geral que apenas 1% da água do planeta é de aproveitamento para consumo humano e de que este é um recurso fundamental para a existência e sobrevivência da raça humana, estamos longe de possuir um manejo adequado de nossas fontes de água doce. Portanto, alcançar níveis que conduzam à sustentabilidade dos recursos hídricos constitui, atualmente, o maior desafio da humanidade, ao mesmo tempo em que favorece uma grande oportunidade para a revisão e implantação de políticas direcionadas para uma nova ordem mundial no tratamento desse bem vital para todos os seres vivos. A hora é agora! O Século XXI é decisivo, ou então sucumbiremos. 7.1 Cenário da Água no Mundo O cenário mundial atual mostra que o uso da água é muito mais intenso do que há poucas décadas. Atualmente, cerca de 70% destinam-se à agricultura, 20% à indústria e 10% para o consumo humano. Esse uso intenso da água, principalmente na agricultura e na indústria, ocorre num ritmo mais acelerado que a reposição feita Geografia Ambiental | A Água no Século XXI www.cenes.com.br | 41 pelo seu ciclo natural. Dessa forma, muitos mananciais estão sendo extintos em decorrência do uso indiscriminado e predatório, não só sob o aspecto quantitativo, mas também qualitativo. Pior, ao devolver a água para seu ciclo natural, ela vem contaminada pelos agrotóxicos da agricultura e pela química da indústria. A falta de saneamento ambiental, sobretudo em países pobres, colabora sensivelmente para a contaminação dos mananciais. Em consequência, hoje no planeta, segundo a ONU, 1, 2 bilhões de pessoas não tem acesso à água potável e 2, 5 bilhões não tem acesso ao saneamento. O impacto na saúde humana e no meio ambiente é uma tragédia. Portanto, a chamada “crise da água” é de quantidade e qualidade, não por razões naturais, mas pelo uso inadequado que o ser humano faz. Essa situação se agrava mais ainda quando a ambição, visando usos futuros privados da água, também a privatiza. A escassez produzida então passa a ser quantitativa, ou qualitativa, ou social, ou em todos esses níveis simultaneamente (PNUD, 2009). Mesmo havendo água suficiente no Planeta para todos os seres vivos, é importante ressaltar que a sua distribuição é muito desigual. Os países com menores reservas hídricas sofrem mais, necessitando de estratégias especiais para gerenciar sua escassez. Na outra ponta, continentes inteiros, como é o caso da América Latina (AL), tem abundância de água doce. Para exemplificar, o Peru é um país que está situado no parâmetro de “suficiente”. Sua disponibilidade per capta de água hoje é de aproximadamente 1.790 m³ por ano. Entretanto, a projeção é que no ano de 2025 sua disponibilidade caia para 980 m³ por pessoa por ano. Deixaria de estar na faixa de suficiente para a situação de estresse. Mesmo assim, apresenta uma disponibilidade de água muito superior a vários países. Já países como Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Argentina e Chile situam-se no parâmetro de países “ricos”, isto é, tem entre 10 mil e 100 mil m³/pessoa/ano. Já a Guiana Francesa, situa-se na faixa dos “muito ricos”, isto é, acima de 100 mil m³/pessoa/ano. Para se ter uma ideia da disponibilidade de água na América Latina, basta analisar os dados da tabela abaixo. Verifica-se que na AL as condições são muitas vezes mais confortáveis, mesmo em locais de baixíssima incidência de chuvas. Por exemplo, em Lima no Peru a chuva é muita rara; entretanto, as águas que descem dos Andes abastecem a capital do Peru. Para se ter uma dimensão da nossa disponibilidade hídrica (abundância) basta compararmos o volume de nossas águas com países onde realmente ela é escassa. Geografia Ambiental | A Água no Século XXI www.cenes.com.br | 42 7.2 Cenário da Água no Brasil O Brasil detém cerca 12% da reserva hídrica do Planeta, com disponibilidade de 182.633 m3/s, além de possuir os maiores recursos mundiais, tanto superficiais (Bacias hidrográficas do Amazonas e Paraná) quanto subterrâneos (Bacias Sedimentares do Paraná, Piauí, Maranhão). Todo esse potencial tem o reforço de chuvas abundantes em mais de 90 % do território, aliadas às formações geológicas que favoreceram a gênese de imensas reservas subterrâneas, como também possibilitaram a instalação de extensas redes de drenagem, gerando cursos d’água de grandes expressões. Todavia, esse potencial hídrico é distribuído de forma irregular pelo país. A Amazônia, por exemplo, onde estão as mais baixas concentrações populacionais, possui 78% da água superficial. Enquanto isso, no Sudeste, essa relação se inverte: a maior concentração populacional do País tem disponível 6% do total da água. As perspectivas de mudança e o surgimento de novos cenários dentro do ambiente agrícola se darão, necessariamente, em função das alterações do clima, as quais afetarão sensivelmente, não só a disponibilidade de água, mas a sobrevivência de diversas espécies, tanto animais quanto vegetais. Nos próximos anos, em que se espera perda de produção e de produtividadedas lavouras e pastagens, haverá necessidade de esforços extras da ciência e da tecnologia para produzir alimentos. A escassez de água obrigará, necessariamente, a adoção de técnicas mais adequadas de irrigação, com o máximo de aproveitamento (eficiência) dos recursos hídricos. Diante do exposto, deve-se considerar a importância do avanço tecnológico, principalmente nas áreas de biotecnologia e do melhoramento genético, aliadas aos aspectos de sustentabilidade ambiental, saúde pública e qualidade de vida. No Geografia Ambiental | Referências www.cenes.com.br | 43 ambiente agrícola, por exemplo, é imprescindível a adoção de técnicas e procedimentos que protejam o solo e a água, seja em relação aos processos erosivos, de contaminação e mesmo de perda excessiva de umidade por evaporação e evapotranspiração. O atual estado de conhecimento técnico-científico já permite a adoção e implementação de técnicas direcionadas para o equilíbrio ambiental, reportadas e descritas em diversos trabalhos com fundamentos de caráter sustentável; porém, o desafio maior está em colocá-las em prática, uma vez que isso implica em mudança de comportamento e de atitude por parte do produtor rural, aliadas à necessidade de uma política de governo que valorize a adoção dessas medidas. 8 Referências ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 5ª Ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. ALTIERI, Miguel e TOLEDO, Victor. The agroecological revolution in Latin America: rescuing nature, ensuring food sovereignty and empowering peasants. The Journal of Peasant Studies, vol. 38, n. 3, 2011, p. 587-612. BERNARDES, Júlia Adão e FERREIRA, Francisco Pontes de Miranda. Sociedade e Natureza. in: CUNHA, Sandra Baptista; GUERRA, Antônio José Teixeira. (Org.). 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Geografia Ambiental | Referências www.cenes.com.br | 46 Sumário 1 Introdução 2 Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente 3 Uma Sociedade do Consumo 4 Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia 4.1 A Questão Ambiental 4.2 Contexto Atual da Crise Ambiental 5 Visões Sobre a Sustentabilidade 5.1 Questão Ambiental e a Sustentabilidade 6 Relação Ser Humano x Meio Ambiente 6.1 Causas e Consequências do Aquecimento Global 7 A Água no Século XXI 7.1 Cenário da Água no Mundo 7.2 Cenário da Água no Brasil 8 Referênciasreconhecido e respeitado no seu ambiente. O meio natural representa um dos grandes bens da humanidade, pois sobre ele o homem desencadeia suas ações e se apropria de acordo com suas concepções sociais, econômicas e culturais, existindo uma inter-relação entre o meio natural e a forma de utilização desse meio. A paisagem natural da área estudada reflete a situação biofísica dos ambientes que a compõem e foram registradas utilizando-se o conceito de regiões ambientais e unidades de paisagem. Nos espaços onde os componentes naturais não registram mais suas características naturais, pelo processo de apropriação da paisagem, as unidades de paisagem transformaram-se em unidades antropogênicas, algumas das quais não preservam mais todas as suas formas e processos naturais. No ambiente geográfico de nosso planeta, em algumas regiões, podemos notar uma diferença do ser humano para os outros animais: o homem, uma vez adaptado ao ambiente, consegue agir sobre ele; enquanto os animais precisam ajustar-se à geografia local. Isso não significa que o homem tenha poder sobre a natureza. Ele não pode evitar, por exemplo, que fenômenos naturais ocorram, embora possa prevenir- se de alguma forma. Podemos observar que esses fatores naturais, de uma forma ou de outra, estão ligados à vida humana em sociedade, uma vez que, como consequência do que a natureza lhe ofereceu e graças a sua capacidade de adaptação, o homem pode evoluir através dos tempos. Daí a ligação entre meio ambiente e sociedade. O atual modelo social surgiu a partir do desenvolvimento das atividades econômicas decorrentes do comércio. Este, por sua vez, propiciou o surgimento de Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 6 uma nova estrutura geográfica das sociedades, que passaram a ser caracterizadas pelo binômio Centro/Periferia. A contradição nas relações Homem-Natureza consiste principalmente nos problemas dos processos industriais criados pelo Homem. Esse processo é visto como gerador de desenvolvimento, empregos, conhecimento e maior expectativa de vida. Porém, o homem se afastou do mundo natural, como se não fizesse parte dele. Com todo esse processo industrial e com a era tecnológica, a humanidade conseguiu contaminar o próprio ar que respira, a água que bebe, o solo que provém os alimentos, os rios, destruir florestas e os habitats animais. Todas essas destruições colocam em risco a sobrevivência da Terra e dos próprios seres humanos. O elevado índice de consumo e a consequente industrialização esgotam ao longo do tempo os recursos da Terra, que levaram milhões de anos para se compor. Muitos desastres naturais são causados pela ação do homem no meio ambiente. Ao contrário de muitos que pensam que a natureza é violenta, pode ser, mas seu maior agressor é o homem, que não se deu conta de que deve sua existência a ela. Todos esses processos industriais transformam o meio ambiente, poluindo o ar, a água, o solo, destruindo florestas, fazendo com que muitas pessoas se afastem e não tenham contato com o mundo natural, ou seja, interagindo em equilíbrio com todos os seres do planeta. Os sentidos básicos do homem como o instinto, a emoção e a espiritualidade se perdem sem essa interação com a natureza. Mesmo que o homem tenha hoje uma maior consciência sobre sua intervenção no mundo natural, o que podemos até considerar um avanço, mediante as grandes degradações que já ocorreram até agora, ainda não há coerência suficiente. Ou seja, muitas ações deveriam ser colocadas em prática para a preservação do meio ambiente como um todo. O que vemos atualmente é que os índices de degradação aumentaram, enquanto de um lado existem muitos lutando por um mundo melhor para todos, de outro lado, a grande maioria busca seu próprio crescimento econômico, com o objetivo de consumir cada vez mais, e como consequência, consumir mais recursos naturais, ocasionando a degradação, sem se preocupar e muitas vezes sem saber, que esses recursos muitos são renováveis e não são infinitos. Os problemas ambientais já vêm de longa data, desde a época em que o sistema industrial se desenvolveu na Europa e depois se transferiu para a América do Norte, aumentando cada vez mais a pressão sob o planeta. Recentemente, os problemas ambientais se agravaram, devido ao crescimento populacional desenfreado e suas vontades de viver num mundo industrial e tecnológico. O maior problema do planeta Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 7 hoje, é entender e resolver as relações Homem - Terra, para que se consiga viver em harmonia e em equilíbrio com o Planeta. O meio ambiente vem se constituindo em uma das mais importantes dimensões da vida humana e é objeto de análise de diferentes grupos e classes que compõem a sociedade contemporânea. Sociedade esta que se baseia na produção e no consumo, gerando incertezas quanto à possibilidade de evitar ou recompensar os problemas causados pela modernização industrial. Na atualidade, a abordagem da questão ambiental está a exigir de cada um de nós em particular e, acima de tudo, da sociedade como ser social (nós somos componentes desse ser coletivo) uma tomada de posição mais imperativa. Somos cônscios que esta, por si só, não é capaz de pôr um ponto final nas profundas mazelas que vêm sendo cometidas contra o patrimônio natural/social, cujos efeitos nocivos incidem direta e indiretamente sobre todos os seres vivos. Entretanto, é possível paralisar e mesmo retroceder o processo de destruição apesar de estarmos convictos de que a eliminação definitiva do perigo ecológico-ambiental passa, necessariamente, pela liquidação das relações de propriedade privada e de antagonismos de classes. Essa tomada de ação consciente, podemos assim dizer, tende a crescer em nossos dias em direção a uma crescente uniformização de entendimentos das causas reais geradoras da nefasta desestabilização do ambiente natural. Se no passado não muito distante a palavra de ordem traduzia-se em postura mais contemplativa, em conservacionismo puro etc., hoje, o impacto da destruição atinge-nos muito mais concretamente em virtude de ter-se ampliado de forma considerável o quadro das violações, premeditadas ou não, em razão do maior desenvolvimento anarquista das forças produtivas que estruturam o modo de produção capitalista. A nova palavra de ordem passa a ser cada vez mais impositiva, em razão de a perspectiva de salvar gerações futuras de vivências degradadas incorpora-se como atributo de valor maior na consciência social de significativos segmentos de nossa sociedade. O desenvolvimento harmônico de uma sociedade depende, basicamente, de uma biosfera sadia como sistema integrado e autorregulado suficiente para dar continuidade a sua reprodução nova se, o homem no processo de sua produção material respeitar as suas leis de funcionamento e evolução. Para tanto, há que se pautar por uma conduta superior orientada no sentido de tornar consciente e planificada a relação interdependente Homem-Natureza, a fim de que se possa criar um meio propício — nos parâmetros naturais e sociais — à vivência dos seres vivos. Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 8 É necessário questionar que não basta, simplesmente, conhecer as causas determinantes da profunda desestabilização do binômio Homem-Natureza; não é suficiente apelar, pelas leis científicas que regem os fenômenos naturais e os sociais; pelos princípios éticos, humanísticos, religiosos, estéticos etc. Como também para a consciência do ser humano no sentido de que assuma uma conduta de respeito à natureza e à sociedade; que não é suficiente invocar a vontade, a bondade, a compreensão, a fraternidade, bom senso, enfim, por toda e qualquer “postura de pedinte”, para pôr fim ao contínuo processo de violação e destruição do binômio Natureza-Homem. O surgimento do homem na Terra,necessitado de uma perfeita interação com ela seus elementos constituintes, e esta interação, principalmente como meio de sobrevivência, tornou-se cada vez mais conflitantes, associados ao desenvolvimento humano e ao crescimento social permitiu sua ampliação ao domínio dos elementos da natureza e consequentemente a intensidade e extensão dos impactos ambientais Convive-se então com um cenário de crise econômica com baixa capacidade de geração de emprego, e uma crise ambiental sem precedentes, que não se sabe onde está, e nem onde vai chegar, sabe-se apenas que é uma questão real, e que tem reunido pessoas, e organizações de todo mundo. As sociedades sustentáveis combatem o desperdício, privilegiam o coletivo e o bem comum, não viola os direitos humanos, ou seja, defende a biodiversidade sociocultural. A palavra desenvolver, na sua origem, tem o sentido de “desembrulhar”, “desenrolar”, “libertar” ou “expandir uma coisa que estava embrulhada ou envolvida”. Com essa definição percebe-se que o desenvolvimento é fundamentalmente caracterizado por hábitos, costumes e pensamentos de um povo que se desenvolve com o passar do tempo mais que apresenta para a sua nação um crescimento. Nenhum desenvolvimento pode vir de fora para dentro, principalmente, de forma imposta eliminando a particularidade e característica de cada um. O que se tem mais observado na sociedade moderna é uma imposição de desenvolvimento dos países desenvolvidos em relação aos países em desenvolvimento. Será esse o sentido real de desenvolvimento? Será que esse tipo de desenvolvimento traz maior dignidade ao ser humano? Será essa a única ou a melhor maneira de contribuir para a melhoria das condições de vida dignas para o ser humano? A importação de modelos desenvolvimentistas tem resultado em enorme fracasso para a maioria da população mundial. É a partir da Segunda Guerra Mundial, que cresce o interesse sobre os modelos de crescimento econômico. As necessidades, Geografia Ambiental | Introdução www.cenes.com.br | 9 metas e participação do ser humano foram marginalizados em benefícios dos objetivos macroeconômicos. A expansão acelerada e a ininterrupta da internacionalização da economia capitalista, o crescimento do comércio, configurou- se um processo de integração seletiva de alguns países periféricos da economia mundial, incorporados aos planos de expansão do capital mediante uma nova divisão internacional do trabalho. Este processo é marcado também pela perca sem precedentes da capacidade do poder do Estado. As decisões internas de cada país dependem e em grande escala das decisões internacionais, cada vez mais, é maior a dependência dos países dos países em desenvolvimento em relação às grandes corporações e ao capital estrangeiro. Uma das alternativas é a formação de blocos econômicos ou barreiras de cada Estado, que são obrigados a cumprir uma série de exigência para enquadrar neste novo contexto. O resultado é uma inevitável uniformização dos padrões, gostos, costumes e valores culturais, levando a uma hegemonia cultural ou massificação de algumas culturas. Este processo leva a acreditar em um desenvolvimento não como redução gradativa das desigualdades socioeconômicas, mas como eliminação da pobreza; mas na prática, segue em outra direção, é um desenvolvimento social acompanhado de um real processo de democratização do poder. Hoje, predomina a crença de que o problema da fome, do desemprego, das favelas, da violência parece solucionar por meio de três pilares: Internacionalizar, promover abertura e privatizar. Nesta concepção de desenvolvimento não faz referência as prioridades sociais, fortalece e amplia a competitividade, a eficiência com a redução dos salários, a expulsão e o desligamento de trabalhadores da economia formal. Neste processo, países ricos e poderosos tornam-se mais poderosos, e os pobres, mais miseráveis; e a capacidade financeira do Estado para atender as demandas urgentes das massas leva ao desemprego, custo e baixa qualidade da educação, falta de segurança e deterioração generalizada da qualidade de vida. Vive-se num mundo em que a indeterminação atinge o ser. O novo traz uma incerteza insuperável de organização e de desintegração, não fornece nenhum caminho certo para o futuro; tudo está em constante transformação e isso acarreta mudança no mundo dos conceitos. Esta crise desenvolvimentista é sempre uma crise global que causa impacto não somente na economia, mas também na política, na educação, na cultura etc. Geografia Ambiental | Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente www.cenes.com.br | 10 O desenvolvimento sustentável pregado pelo mercado se interpreta como a necessidade de organizar as atividades produtivas através do estímulo, da iniciativa e da criatividade privada, que em si não resolve o problema das pessoas em desfrutar de um acesso equitativo das oportunidades. 2 Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente A taxa de crescimento da população mundial diminui, mas ainda assim aumenta rapidamente. Calcula-se que no ano 1 da Era Cristã, o número de habitantes de nosso planeta era de aproximadamente 250 milhões. Em 1650, atingimos a marca de 500 milhões de habitantes; de 1 bilhão, em 1800; de 3 bilhões, em 1960 e em 2018, são cerca de 7,6 bilhões de habitantes. A Terra está superpovoada? Se estiver, quais medidas devem ser tomadas para diminuir o crescimento populacional? Alguns argumentos que o planeta já está lotado, e em especial os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde altas taxas de consumo de recursos ampliam o impacto ambiental de cada pessoa. Outros encorajam o crescimento populacional como forma de estimular o crescimento econômico. Aqueles que não acreditam que a Terra está superpovoada apontam que a expectativa de vida média de 7,6 bilhões de pessoas é maior hoje que já foi em qualquer época do passado, e está previsto que aumentará ainda mais. De acordo com essas pessoas, o mundo pode suportar mais alguns bilhões de habitantes. Também acreditam que o crescimento populacional representa o recurso mais valioso do mundo para solucionar problemas ambientais e outros, e para estimular o crescimento econômico em razão do aumento de consumidores. Alguns consideram qualquer forma de regular a população uma violação de credos religiosos. Outros veem isso como uma invasão da privacidade e liberdade pessoal para se ter o número de filhos que quiser. Determinados países em desenvolvimento e alguns membros das minorias de países desenvolvidos consideram o controle populacional uma forma de genocídio, cujo intuito é impedir que sua economia e suas forças políticas cresçam. Já os que propõem a diminuição e uma possível interrupção do crescimento populacional têm uma visão diferente. Elas apontam que falhamos ao suprir as necessidades básicas de cerca de um em cada cinco indivíduos. Geografia Ambiental | Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente www.cenes.com.br | 11 Aqueles que propõem a diminuição no crescimento populacional advertem que há duas sérias consequências caso as taxas de natalidade não declinem de forma drásticas. Primeira, em algumas áreas, a taxa de mortalidade pode aumentar em razão do declínio das condições de saúde e ambientais (algo que acontece hoje em determinadas regiões da África). Segunda, o uso de recursos e os danos ambientais podem se intensificar conforme mais consumidores aumentam suas já grandes pegadas ecológicas (é a quantidade de água e terra biologicamente produtiva necessária para fornecer a cada pessoa os recursos que ela usa e para absorver os resíduos gerados com o uso desses recursos) em países desenvolvidos e em alguns países em desenvolvimento, como China e Índia, que estão passando por um rápido crescimento econômico. As pegadas ecológicas da humanidade ultrapassama capacidade ecológica da Terra de repor seus recursos renováveis e de absorver em cerca de 21%. Se as estimativas estiverem corretas, estamos usando os recursos renováveis 21% mais rápido do que a Terra leva para renová-los. Em outras palavras, seriam necessários os recursos de 1,21 planetas Terra para sustentar indefinidamente nossa produção e consumo atuais de recursos renováveis. O aumento da população e consequente crescimento do consumo podem elevar os estresses ambientais, como doenças infecciosas, danos na biodiversidade, desmatamento de florestas tropicais, redução da pesca, escassez da água, poluição dos mares e mudanças climáticas Os que defendem este ponto de vista reconhecem que o crescimento populacional não é a única causa desses problemas. No entanto, eles argumentam que a adição de centenas de milhões de pessoas em países desenvolvidos e bilhões de pessoas em países em desenvolvimento só podem intensificar os problemas ambientais e sociais existentes. Estes analistas acreditam que as pessoas devem ter liberdade de gerar quantos filhos quiserem, mas somente se isso não reduzir a qualidade de vida das pessoas agora e no futuro, seja pelo enfraquecimento da capacidade da Terra de sustentar a vida, seja por rupturas sociais. Existe, então, esta perspectiva que reconhece o problema ambiental, mas atribui ao fator demográfico um papel secundário, procurando situar a questão em termos de instituições socioeconômicas, padrões de acesso à terra e desigualdades sociais. Neste veio também existem algumas tentativas de inverter os termos da equação, Geografia Ambiental | Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente www.cenes.com.br | 12 atribuindo à pressão sobre os recursos o papel positivo de promover o progresso técnico. A relação entre população e meio ambiente vem sendo interpretada predominantemente através da abordagem neomalthusiana, segundo a qual o equilíbrio ambiental apresenta-se como produto do tamanho e crescimento da população, havendo assim, uma relação direta entre crescimento demográfico e pressão sobre recursos naturais. Disso resulta a conclusão imediata da necessidade do controle populacional. Essa visão simplista, no entanto, não relaciona a questão ambiental aos aspectos ligados ao desenvolvimento e ao crescimento econômico, ou seja, não incorpora que os padrões de produção e consumo, até então conhecidos, são extremamente devastadores e poluidores. Assim, para a linha de pensamento neomalthusiana, apenas a dimensão demográfica é considerada, colocando-se na esfera do crescimento populacional o centro dos problemas econômicos, sociais e ambientais. A redução do crescimento da população dos países subdesenvolvidos bastaria para eliminar os problemas ambientais, além de contribuir para uma diminuição da população pobre. Assim, os problemas ambientais globais, exceto no caso da perda de biodiversidade, seriam resultado, majoritariamente, do padrão de consumo dos países mais industrializados. Enquanto isso, os países menos industrializados estariam envolvidos em problemas como a desertificação, o desmatamento, enchentes, esgotamento de recursos naturais, além de problemas emergentes como poluição do ar e chuva ácida. A contribuição relativa dos diferentes países para os diversos problemas ambientais apresenta-se de forma diferenciada. Atualmente, pode-se concluir que os países de industrialização mais avançada possuem a maior parcela de responsabilidade, provocando a maioria dos problemas ambientais mais sérios, como o efeito estufa, a diminuição da camada de ozônio e o acúmulo de lixo tóxico Portanto, não se pode atribuir o atual grau de degradação ambiental global apenas ao crescimento da população, mas principalmente aos padrões de produção e consumo que vêm caracterizando a industrialização e o consumo. Desse modo, a trajetória futura da problemática ambiental mundial dependerá basicamente da evolução de dois fatores: Geografia Ambiental | Crescimento Populacional e as Ações Sobre o Meio Ambiente www.cenes.com.br | 13 a) do grau de incorporação de países atualmente subdesenvolvidos aos padrões de produção e consumo que prevalecem nas sociedades industrializadas; b) do ritmo de desenvolvimento e adoção de tecnologias que permitam padrões de produção e consumo mais condizentes com o bem-estar ambiental, tanto nos países atualmente desenvolvidos, como naqueles que deverão se desenvolver durante o intervalo. O crescimento da população, aliado a um consumo excessivo e a uma economia globalizada, tem trazido grandes preocupações por parte de ambientalistas, sociólogos, ecologistas, dentre outros setores. O planeta está no seu limite de suporte e seu capital natural/humano acaba sofrendo profunda alteração, cujos impactos socioambientais vão desde fome, miséria, desigualdade, violência e desemprego às reações adversas da natureza que por sua vez vêm castigando várias regiões a nível global. Tais fatores foram desencadeados por uma desordem econômica e social, devido a um modelo predatório que continua ocorrendo de forma heterogênea, tornando difícil qualificá-los. O que temos é uma sociedade que continua querendo dominar a natureza, ao invés de interagir com ela, apresentando uma ação predatória e potencialmente ameaçadora da vida na Terra. Tem-se, ainda, a falta de projetos que questione as desigualdades sociais e os princípios de uma justiça ambiental que são temas importantes da busca pela sustentabilidade. A natureza passa a ser objeto mercadológico engendrado num processo de privatização do uso do meio ambiente comum, especificamente do ar e da água, o qual a humanidade depende. E é o custo econômico e social desse comércio que torna preocupante, já que passa a ser inadequado no auxílio ao desenvolvimento. A sociedade em que vivemos pode e deve ser planejada com padrões de menor porte e com produção descentralizada em bases sólidas, em termos tecnológicos, disponíveis democraticamente e gerados a partir das necessidades da coletividade. Porém, muitos estudiosos na área questionam sobre o tempo disponível que se tem para uma sensibilização e conscientização da população em nível global. As catástrofes já ocorrem em escalas cada vez maiores. A própria meteorologia se tornou um tanto quanto imprevisível e o homem, vítima de si mesmo, continua insistindo em usar intensivamente - e de forma errônea - os recursos naturais. Geografia Ambiental | Uma Sociedade do Consumo www.cenes.com.br | 14 Por outro lado, não é preciso ser tão pessimista quanto ao assunto em questão. Tem-se caminhado - e muito - em busca de soluções, mas, é preciso estar atento a banalização feita em muitos discursos à cerca dos termos meio ambiente, desenvolvimento sustentável, ecoturismo entre outros. Existe uma grande diferença entre fazer declarações politicamente corretas e se comportar de forma não condizente com a declaração. Portanto, na qualidade de membros do planeta Terra é preciso, urgentemente, perceber que a sustentabilidade deve existir tanto nos ecossistemas quanto na sociedade humana, bem como nas formas sociais de apropriação e uso desses recursos do ambiente. 3 Uma Sociedade do Consumo A industrialização atual resulta de um processo evolutivo iniciado com a Revolução Industrial ocorrida na Europa e particularmente na Inglaterra a partir do século XVIII. Esse período industrial significou a passagem de uma sociedade rural e artesanal para uma sociedade urbana e industrial. Dessa forma, podemos dizer que como a produção, o consumo é um fator fundamental para a produção do modelo de acumulação capitalista. A partir da segunda metade do século XX, os níveis de consumo cresceram rapidamente nos diversos países. A redução dos custos de transporte de mercadoria e a rápida apropriação das inovações tecnológicas provenientes da TerceiraRevolução Industrial tornaram possível às empresas colocar no mercado, a preços relativamente acessíveis e em grande quantidade, novos tipos de bens de consumo, objetos que iriam mudar os hábitos da população e criar necessidades. Desde então, existe uma disputa acirrada entre as grandes corporações para “abocanhar” partes cada vez maiores de mercado consumidor dos países em que desenvolvem suas atividades. O consumo hoje vem tornando-se um dos grandes problemas causadores da destruição do meio ambiente. Por quê? Simplesmente porque todo o material necessário para a fabricação de celulares, computadores, roupas, carros, asfalto, casas etc., vêm da natureza; e como, a cada dia que passa, o mundo tem mais gente, a necessidade das indústrias de retirarem matérias-primas do meio ambiente torna-se mais agressiva. E para onde vai todo o material que descartamos? Para os bueiros, rios, para o ar que respiramos. Geografia Ambiental | Uma Sociedade do Consumo www.cenes.com.br | 15 Produtos que consomem uma enorme variedade de recursos extraídos da natureza, não são oferecidos como necessidades, e tornaram-se emblemáticos na sociedade de consumo que se traduz como democrática, pois teoricamente, todo esse poder está ao alcance dos ricos e dos pobres. Este descaso já vem de longe, o meio ambiente está sofrendo profundas alterações, às vezes são rastro de destruição jamais recuperados, ou seja, perdidas, pondo em perigo a sua própria existência, pois através desta destruição é que pode estar algum tipo de cura jamais conhecidos. O ritmo consumista está trazendo problemas seríssimos, insustentáveis, não se pode nem medir o valor da perda só assistindo o planeta responder de forma dramática. Os cenários como shoppings, arranha-céus, indústrias, são considerados normais, os valores relacionados com a natureza não têm valor, na verdade é tratada como empecilho ao progresso. Estas construções levam a várias complicações, pois muitas delas são feitas sem medir o impacto que podem causar. Ruas, quando chove, ficam inundadas. Carros parecem que têm mais que gente, um trânsito louco, poluição constante. Os recursos ecológicos são elementos do meio ambiente necessários à vida, mas são tratados com desprezo e muito abuso. Os alimentos fornecidos pelas plantas e animais, água e ar são muito importantes à sobrevivência de qualquer ser vivo. Já o aço e petróleo, por que tanto apreço? É frequente o prejuízo ambiental, por causa deste descaso, não havendo fronteiras que impeçam os poluentes de cruzarem, afetando todo tipo de vida. A natureza vem reclamando e respondendo as agressões sofridas, através de várias manifestações, ocasionadas por causa da poluição que o homem produz. Temos o costume de comprar coisa sem necessitarmos, sem verificarmos de onde veio aquele produto, e isso, ajuda bastante para a degradação de nossos recursos naturais. Não bastando este problema, o consumismo realizado da maneira que vem sendo feito, tem influência negativa na pobreza, aumentando as desigualdades sociais, danificando o meio ambiente e as condições de vida de pessoas mais pobres. Para termos uma ideia, nosso planeta possui aproximadamente 7,6 bilhões de pessoas, onde 1/3 tem acesso ao consumo. Se esta forma predatória de consumir fosse igual para todos os 7,6 bilhões de pessoas do nosso planeta, iríamos precisar de quase 3 planetas Terra para satisfazer nossas necessidades. Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 16 Então, o que queremos dizer é: o consumo precisa ser consciente. Precisamos ter a ideia de que não é simplesmente porque temos dinheiro que podemos comprar tudo o que vemos pela frente e ninguém sairá em desvantagem. É claro que nos sentimos bem quando compramos algo novo, mas o planeta Terra não está suportando mais a exploração do ser humano de seus recursos naturais. 4 Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia A preocupação com o meio ambiente acabou por se tornar uma matéria que ganhou uma necessária evidência no cenário sociojurídico. Depois de muitos anos sendo considerado apenas um meio pelo qual o homem busca suprir suas necessidades pessoais, o meio ambiente vem adquirindo personalidade, o que de alguma forma lhe confere o status de pessoa dotada de dignidade, na exata proporção do bem jurídico que constitui seu objeto. Igualmente, a Constituição Federal de 1988 inovou ao falar sobre este tema, mostrando uma preocupação e reconhecimento para com este, dedicando um capítulo de seu texto para tratar de meio ambiente. Essa preocupação, tão em voga, modernamente, fez com que despertasse globalmente, um interesse maior por esse tema. Os debates e discussões científicas apontam para a necessidade de se repensar a utilização do meio de uma forma sustentável. A ideia, que no passado se tinha, de que os recursos naturais eram ilimitados foi modificada e reestruturada. Desse modo, o meio ambiente deixou de ser um modo de suprir as necessidades humanas, para ser tudo aquilo que envolve a pessoa e que com ela interaja. O desafio para a sociedade atual está em remodelar a própria natureza humana para repensar que o meio ambiente não é mais um mero fornecedor de matéria-prima e alimento, mas sim algo maior que carece de atenção. Nesse sentido, ocorre um embate entre como conter o desenvolvimento tecnológico que venha a utilizar o meio ambiente como mero objeto de pesquisa e manter a evolução da ciência e economia, sem fazer com que esgotem os recursos naturais da biodiversidade. A atual meta que a sociedade tem a cumpri é a de equacionar os pilares da tecnologia, economia, meio ambiente e sociedade, de forma a harmonizar seus interesses sem que um destes se já enfraquecido. Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 17 Desse modo, na atualidade, surge uma nova visão no qual, busca-se uma nova perspectiva de ação, que relacione homem e meio ambiente, verificando que os recursos naturais se esgotam, ou seja são finitos e que o principal agente desse quadro é o próprio ser humano. Assim, procura-se fazer um panorama de conhecimento que aponte como norte a formação de um cidadão ecológico, que tenha um pensamento sustentável. Com o processo e a globalização como também o estreitamento das distâncias entre nações, tem-se o aumento da interdependência entre países, tornando o mundo uma aldeia global. Destarte soma-se a isso o aumento populacional, os avanços da biotecnologia e as relações de consumo. Em decorrência disso, riscos que eram locais, também se globalizaram, afetando a todos indistintamente, o que provocou mudanças nos hábitos da sociedade, provocando uma dicotomia entre os interesses da economia e os do meio ambiente. Não se pode negar o fato de que o progresso, oriunda das inovações tecnológicas com ligação direta com as ciências biológicas, tem contribuído para a descoberta de muitas espécies de seres vivos, que ainda não haviam sido descobertas, como também de novos compostos derivados da fauna e da flora que podem proporcionar ao ser humano umas expectativa maior no que toca a sua longevidade de vida. Contudo atrelado a esse progresso surgem outras preocupações relacionadas com a vida humana, entre tantas as mais importantes e fundamentais são o direito a vida e a preservação do meio ambiente. Nessa lógica é que surge a polêmica discussão acerca da existência de uma efetiva proteção, como também do uso sustentável dos recursos naturais. Os problemas ambientais, quando se fala em sustentabilidade devem ser priorizados, devendo haver uma crescente mudança no comportamento individual e social, havendo uma reformulação nos processos de conhecimento da sociedade de modo a permitir a formação de uma consciência ambientam que permeie a execução de uma gestão ambiental visando atingir valores sociais e mudanças decomportamento. O comportamento humano vem sendo questionado, isso porque acorre uma modificação deste a cada catástrofe que a sociedade é submetida. A degradação ambiental não é processo visível apenas atualmente. A sociedade moderna sofre hoje o impacto das novas tecnologias e desta forma vem gradativamente acelerando esse processo no decorrer da história das civilizações. Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 18 As inferências ambientais decorrentes da ocupação dos espaços e da urbanização acontecem em níveis incomparáveis com a capacidade dos ecossistemas, o que resulta em esgotamento dos recursos naturais e, por conseguinte, a sua degradação. Neste sentido no que toca a legislação pátria acerca desse tema aponta José Afonso da Silva: “O ambientalíssimo passou a ser tema de elevada importância nas Constituições mais recentes. Entra nelas deliberadamente como direito fundamental da pessoa humana, não como simples aspecto da atribuição de órgãos ou entidades públicas, como ocorria em Constituições mais antigas. A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental. Pode-se dizer que é uma Constituição eminentemente ambientalista”. (2010, p. 43) Assim, o direito ao ambiente equilibrado passou a gozar de integral amparo constitucional, embora a legislação infraconstitucional já expressasse uma preocupação com a normatização de questões ligadas a esse tema. A proteção ambiental em consequência disso deixa de ser considerada uma garantia de um interesse menor ou incidental, se comparado com outras normas. Neste sentido também afirma Lester R. Brown (1990), que as questões sobre a segurança do meio ambiente compartilham hoje do mesmo palco com os tradicionais assuntos econômicos e militares que sempre estiveram em cena. Quanto ao momento propício para o debate e construção da cidadania ecológica, afirma o autor supracitado, que a oportunidade de construir um alicerce duradouro será perdida se não aproveitarmos logo a ocasião. Assim, para nos pormos a caminho, precisamos apenas parar de resistir ao empurrão e abraçar o impulso que nos atrai rumo à construção de uma sociedade sustentável (BROWN, 1990, p. 238). O crescimento, mesmo que acelerado, não deve ser sinônimo de desenvolvimento. O desenvolvimento vai além, exige um equilíbrio, evita a armadilha da competitividade, a autodestruição baseada na depreciação da força de trabalho e dos recursos naturais. O pensamento deve estar articulado, também, às gerações futuras. Entende-se que o ser humano passa a se dar conta de que é preciso uma Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 19 mudança radical na sua maneira de “estar no mundo”, quando sofre as consequências diretamente no planeta, passando a viver de forma mais organizada e comprometida com o seu modo de viver e de se relacionar. Morato Leite (2011), ao desenvolver reflexões a respeito da Teoria do Risco e a sua influência no Estado e no Direito menciona que se faz necessário demonstrar ao público que a racionalidade jurídica na esfera do ambiente ultrapassa um olhar técnico, dogmático e monodisciplinar, havendo a necessidade de se adotarem noções oriundas de outras áreas do saber, buscando com isso compreender a crise ambiental através de uma visão transdisciplinar e de um enfoque mais sociológico do risco. Ost (1995) aborda que a crise ecológica, refere-se à desfloração sistemática das espécies animais, sem dúvida; mas, antes de mais e sobretudo, a crise da nossa representação da natureza, a crise da nossa relação com a natureza. Ademais, seguindo a premissa do autor supracitado, a crise ecológica sob o prisma ético jurídico, impõe a questão axiológica do que devemos fazer. Cabe ressaltar que está temática é vislumbrada a partir da problemática cultural do vínculo e do limite. Já que enquanto não for repensada a nossa relação com a natureza e enquanto não formos capazes de descobrir o que dela nos distingue e o que a ela nos liga, os nossos esforços serão em vão, como o testemunha a tão relativa efetividade do direito ambiental e a tão modesta eficácia das políticas públicas neste domínio. A crise ecológica que se vive ainda na visão de Ost caracteriza-se por ser, simultaneamente, a crise do vínculo e a crise do limite. No qual como já abordado, a crise do vínculo vislumbra discernir o que liga o homem a natureza e em se tratando dos limites refere-se ao fato de discernir o que distingue um do outro. Nesse sentido o autor passa a ideia de que a questão ambiental na atualidade deve ser vista de uma forma dialética do vínculo e do limite, pois para ele a única forma de fazer justiça a um (homem) e outra (natureza), é tornar clara simultaneamente suas semelhanças e diferenças, através da elaboração de um saber ecológico necessariamente interdisciplinar. O direito ambiental por sua vez tem a tarefa de ligar os vínculos e demarcar os limites, impondo a lei e demarcando que cada coisa tem o seu lugar e que cada um tem o seu papel. Em outras palavras, precisa-se de uma consolidação de um saber ambiental para construir um pensamento crítico que seja capaz de construir uma racionalidade ambiental, que se baseie em um aporte multidisciplinar de Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 20 conhecimento, desde uma epistemologia ambiental, que permita a aplicação de uma educação ambiental e o desenvolvimento de uma ecologia política Crítica. Nesse sentido, a construção de novos saberes baseados em uma racionalidade crítica, capaz de compreender a complexidade dos fatores que levam a formação de uma consciência ambiental é o caminho para a formação de uma cidadania ecológica, que possa garantir o equilíbrio entre a relação homem e ambiente. Diante deste contexto, a Cidadania Ambiental é permanente e comprometedora, pois significa adotar uma metodologia problematizadora, sendo sujeito de sua história e apontando caminhos. Utilizando-se da educação ambiental para refletir e transformar as atitudes em sua trajetória de maneira a ter uma melhor qualidade de vida na sua realidade e, sucessivamente, manter o ecossistema equilibrado e sustentável. (LEFF, 2004). De acordo com Freire (1980), somente o homem é capaz de tomar distância frente ao mundo, admirando-o ou objetivando, somente ele é capaz de agir conscientemente sobre a realidade objetivada, a práxis humana, a unidade indissolúvel entre a ação e minha reflexão sobre o mundo. A conscientização desvela a realidade, ela não pode existir fora da práxis, ou seja, sem o ato ação-reflexão, constituindo de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens. Segundo Freire a conscientização é um compromisso histórico e consciência histórica é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Uma nova realidade deve tomar-se como objeto de uma nova reflexão crítica. Na atualidade um dos objetivos vitais da nova geração deve ser a formação de cidadãos que atuem em favor de uma política baseada nos valores éticos e morais de uma sustentabilidade. O desenvolvimento que tem como premissa o caráter predatório dos recursos naturais em detrimento de um progresso econômico deve ser rechaçado para que não se desencadeie um aumento, ainda maior, das desigualdades socioambientais. Ser sustentável implica em assegurar que o crescimento seja gerenciado por interlocutores e participantes sociais relevantes e ativos, formados a partir de uma educação ambiental que vise a formação de um sentimento de corresponsabilização para com o meio ambiente como também a constituição de valores éticos. O modelo de desenvolvimento vivenciado pela sociedade atual deve para isso ser desconstruído, para que se possa suprimiras atividades humanas ecologicamente predatórias, de uma sociedade tida como de risco e consumo. Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 21 Assim a busca por essa participação social em massa é importante para que eles se tornem os locutores dos debates que definiram o destino da humanidade, no momento que se identificará os problemas, os objetivos e a soluções para a crise ambiental. Para Leonardo Boff existem algumas críticas a esse modelo, no qual o autor faz algumas observações acerca dos seguintes fatores: Desenvolvimento ecologicamente viável – sento uma linguagem puramente político empresarial e traz consigo um caráter antropocêntrico, pois o ser humano encontra-se no centro como se não existisse um meio ambiente ao seu redor que também carece de cuidados. Nesse sentido aponta o autor: “É contraditório, pois desenvolvimento e sustentabilidade obedecem a lógica diferentes e que se contrapõe. O desenvolvimento, como vimos, é linear, deve ser crescente, supondo a exploração da natureza, gerando profundas desigualdades – riqueza de um lado e pobreza do outro – e privilegia a acumulação individual. Portanto, é um termo que vem do campo da economia política industrialista/capitalista. A categoria Sustentabilidade, ao contrário, provém ao âmbito da biologia e da ecologia, cuja lógica é circular e inclusiva. Representa a tendência dos ecossistemas ao equilíbrio dinâmico, à cooperação e à coevolução, e responde pelas interdependências de todos com todos, garantindo a inclusão de cada um, até os mais fracos. É equivocado, porque alega como causa aquilo que é efeito. Alega que a pobreza é a principal causa da degradação ecológica. Portanto, seríamos tentados a pensar: quanto menos pobreza, mais desenvolvimento sustentável e menos degradação, o que efetivamente não é assim. Socialmente Justo: se há uma coisa que o atual desenvolvimento industrial/capitalista não pode dizer de si mesmo é que seja socialmente justo. (BOFF, 2013, p. 46-48) Sendo assim, de acordo com o autor o modelo de desenvolvimento sustentável proposto naquele momento tinha uma fundamentação vazia e retórica, assim como o seu discurso de sustentabilidade. Esse conceito tem uma visão política que tem como objetivo tirar desviar a atenção dos reis problemas. Desse modo, o grande desafio é o de criar um modo sustentável de vida, no qual, a sustentabilidade vai além dos conceitos de crescimento e desenvolvimento, e de uso de recursos. Ela deve ser planetária cobrindo tonos os territórios da realidade, que vão das pessoas, tomadas individualmente, às comunidades, à cultura, à política, à Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 22 indústria, às cidades e particularmente ao Planeta Terra com seus ecossistemas. (BOFF, 2013) O ser humano ao fazer reconhecimento, real daquilo que o cerca, irá perceber que este envolvido por uma crise no qual o desequilíbrio tomou conta do que aquilo que Leonardo Boff chama de Sistema Terra e do Sistema Sociedade. Instaura-se um mal-estar cultural generalizado, com uma sensação de vulnerabilidade, no qual o ser humano está exposto a um risco eminente, onde a qualquer momento possa ocorrer uma catástrofe. 4.1 A Questão Ambiental A primeira percepção da humanidade sobre a questão ambiental e a existência de um risco ambiental em escala global, deu-se na década de 1950, com o experimento de armas nucleares, causando poluição nuclear. Na ocasião, percebeu- se que os problemas ambientais não estão restritos apenas aos locais de realização dos testes, uma vez que podem ocorrer chuvas radiativas a milhares de quilômetros desses locais (NASCIMENTO, 2012). Outros fatos importantes que antecederam a tomada de uma consciência ecológica, sobre os riscos da industrialização, ocorreram ainda no final da década de 1950, com a degradação de Londres, com a contaminação do rio Tâmisa e poluição do ar, seguido pelo caso Minamata, no Japão (BERNARDES & FERREIRA, 2007). Além disso, no ano de 1962, nos Estados Unidos, a bióloga Rachel Carson, publicou o livro “Primavera Silenciosa” denunciando os perigos do uso dos pesticidas e os efeitos negativos da industrialização no campo, uma vez que os produtos químicos matavam os insetos e pragas prejudiciais, mas também, destruíam o solo e envenenavam as pessoas. No final da década de 1960, ocorreram ainda inúmeros acidentes ambientais como o derramamento de petróleo na costa oeste da Inglaterra e no Alasca, poluindo mares e oceano, contaminando praias e matando inúmeros animais (BERNARDES & FERREIRA, 2007; NASCIMENTO, 2012). Para Foladori (2002) e Silva (2010), a tomada de consciência da crise ambiental se consolida no final da década de 60 e início da década de 70, visto que, nesse período ocorreu uma crise no modo de produção e começou-se a questionar o modelo de desenvolvimento existente e o modo de acumulação de capital, uma vez que a ideia de crescimento econômico implantado, não estava melhorando a vida da maioria da população. Nesse período, surgiram inúmeras publicações e congressos Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 23 que ressaltavam a necessidade de rediscutir o modelo de desenvolvimento, baseado no capitalismo e no crescimento ilimitado. Por essa razão, Bernardes & Ferreira (2007) e Sauer & Ribeiro (2012), consideram a questão ambiental ampla e, como resposta a problemática do meio ambiente, tem- se a formulação do conceito de desenvolvimento sustentável que propõe a inclusão de critérios ambientais na atividade produtiva, com a finalidade de assegurar o crescimento econômico, respeitando as condições de renovação e a capacidade dos ecossistemas existentes. Em virtude disso, surgiram debates em torno da problemática do meio ambiente, influenciados pelos movimentos ecológicos, na tentativa de incorporar as questões ambientais na agenda econômica e social, culminaram com a realização do Clube de Roma e a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada no ano de 1972, em Estolcomo, na Suécia. As teses do Clube de Roma, apresentadas no relatório intitulado “Os Limites do Desenvolvimento”, defendiam o crescimento zero e apontaram o crescimento demográfico e a pressão por este exercida sobre os recursos naturais da terra, como grandes responsáveis pela degradação ambiental (BERNARDES & FERREIRA, 2007). Para Silva (2010) os ideólogos do capital buscaram justificar que os problemas ambientais são criados por razões externas aos processos produtivos, como o aumento populacional e o comportamento humano em geral, responsabilizando os países “pobres” pela degradação do planeta e isentando os países ricos da condição de poluidores, uma vez que estes têm o crescimento populacional controlados, o que não ocorre nos países em desenvolvimento. De acordo com Ignacy Sachs (2009), a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em 1972, foi antecedida pelo encontro de Founex, em 1971, realizado pelos organizadores da Conferência de Estocolmo, com o intuito de discutir pela primeira vez as conexões entre o desenvolvimento e o meio ambiente. A Conferência de Estocolmo trouxe a dimensão do meio ambiente na pauta da agenda econômica internacional e foi acompanhada por uma série de encontros internacionais, que resultou no Encontro da Terra no Rio de Janeiro. Segundo Silva (2010), a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em 1972, colocou ao debate questões que gerassem conflitos e, trouxe o contraponto às teses neomalthusianas defendendo o crescimento econômico como condição para a melhoria das condições de vida da população, ressaltando o “progresso” trazido pela indústria. No relatório “Nosso Futuro Comum” definiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável como aquelecapaz de suprir as Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 24 necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras suprir suas próprias necessidades”. Para Sauer & Ribeiro (2012), a Conferência das Nações Unidas é considerada um marco na questão ambiental, uma vez que, a partir da sua ocorrência as discussões acerca do meio ambiente se intensificaram e deram origem a uma série de debates em todo o mundo, marcando o início dos movimentos ambientalistas. Na década de 1970, na Europa tem-se a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA e da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – CMMDA, que na conferência do ano de 1982, dirigida pela ex- primeira-ministra norueguesa Gro Harlen Brandtland, produziu um relatório que foi publicado no ano de 1987, intitulado “Nosso Futuro Comum” com a missão de propor uma agenda global para a mudança (NASCIMENTO, 2012; SAUER & RIBEIRO, 2012). Cabe ressaltar que, vinte anos após a conferência de Estocolmo, sobreveio a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, mundialmente conhecida como Rio-92, nela verificou-se que a poluição e a degradação de ecossistemas haviam aumentado, mesmo com o avanço tecnológico ocorrido (ROMEIRO 2012; SERAMIM & LAGO, 2016). Como consequência da Rio-92, teve-se a criação Convenção da Biodiversidade e das Mudanças Climáticas que deu origem ao Protocolo de Kyoto, a Declaração do Rio e o principal deles foi a Agenda 21 (NASCIMENTO, 2012). A Declaração do Rio, assim como a conferência de Estocolmo relacionou meio ambiente e desenvolvimento, por meio de uma boa gestão dos recursos naturais, sem afetar o modelo econômico vigente. Em meio a contradições entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, ficou ainda mais evidente quando os Estado Unidos se negaram a assinar o protocolo de Kyoto, mesmo com alerta do risco imediato do aquecimento global, visto que os Estados Unidos é maior poluidor do mundo e consequentemente o principal causador do efeito estufa, ((BERNARDES & FERREIRA, 2007; NASCIMENTO, 2012). Cabe ressaltar que a Agenda 21 é o documento mais importante da Rio-92, pois, traz ponderações sobre as condições para execução de práticas educativas, ambientalmente sustentáveis, em direção a propostas pedagógicas que apontam para mudança de comportamento e atitudes, ao desenvolvimento da organização social e da participação coletiva (SERAMIM & LAGO 2016; JACOBI et al., 2012). Por fim, a Agenda 21 em seu conteúdo, comporta a regulamentação do desenvolvimento voltado para a sustentabilidade, compõe um importante diagnóstico Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 25 em torno dos efeitos da degradação do meio ambiente e estabelece metas a serem alcançadas (UNEP, 2011). Nessa perspectiva, a Agenda 21 apresenta-se como instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em escala planetária, que compõe métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A Agenda 21 tem como função servir de base para que os 179 países que assinaram o acordo possam elaborar e implementar sua própria Agenda 21 Nacional, seguindo os valores que deverão permear a educação orientada para a sustentabilidade, tais como: cooperação, democracia e participação, a igualdade de direitos, o combate à pobreza e o respeito à diversidade cultural (SERAMIM & LAGO 2016; JACOBI et al., 2012). 4.2 Contexto Atual da Crise Ambiental Diante da relevância da questão ambiental, no ano de 1997, ocorreu o primeiro ciclo de avaliação dos resultados da Conferência Rio-92, conhecido como Fórum Rio+5, identificando as experiências bem-sucedidas, estabelecendo novas prioridades, garantindo a continuidade da implementação das determinações. De acordo com Ignacy Sachs (2009), a Rio+5 não conseguiu reverter a tendência de aumento da separação Norte-Sul, sem perspectivas de reversão. No ano 2000, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU deu seu aval para a realização da Rio+10, o que ocorreu em Joanesburgo, na África do Sul, com objetivo de avaliar os resultados obtidos nos dez anos seguintes à Eco-92. As repercussões das iniciativas estabelecidas desde então vêm envolvendo governos e empresas com a meta de alcançar o Desenvolvimento Sustentável no século XXI estabelece posições políticas que pedem alívio da dívida externa dos países em desenvolvimento e aumento da assistência financeira aos países pobres (SERAMIM & LAGO 2016; JACOBI et al., 2012). Para Ignacy Sachs (2012), o Brasil foi escolhido para sediar a segunda Cúpula da Terra no Rio, a Rio+20, em razão do papel de liderança que tem exercido na busca de estratégias de desenvolvimento social includente e ambientalmente saudáveis, tanto no âmbito nacional como em nível global. Por essa razão, no ano de 2009, a Assembleia Geral da ONU, em reunião, resolveu realizar no ano de 2012, vinte anos após a primeira Cúpula da Terra no Rio, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, que teve como foco “A Economia Verde no Contexto do Desenvolvimento Sustentável e da Erradicação da Pobreza” e “Estrutura Internacional para o Desenvolvimento Sustentável” (UNEP, 2011, p. 17). Geografia Ambiental | Meio Ambiente, Sociedade e Tecnologia www.cenes.com.br | 26 Segundo Diniz & Bermann (2012), a Economia Verde ganhou projeção a partir da Conferência Rio+20. O conceito de Economia Verde é mais contemporâneo que o conceito de desenvolvimento sustentável, porém, não o substitui. A Economia Verde é o modelo econômico que se traduz em “[...] melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecológica” (UNEP, 2011, p.17). Como era de se esperar a Rio+20 publicou o documento intitulado “O Futuro que Nós Queremos”, que foi aceito pelos principais líderes mundiais, com o objetivo de superar alguns desafios como: “[...] crescimento populacional, mudanças climáticas e emissão de gases, demanda crescente por energia, a demanda por recursos naturais a ser superior a capacidade de regeneração do planeta, redução das florestas; diminuição da quantidade de água potável disponível; crescimento da utilização do solo e situações relacionadas à segurança alimentar” (SERAMIM & LAGO, 2016, p.115). Além disso, nessa conferência foi renovado o compromisso político com o desenvolvimento sustentável e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas, por meio da avaliação do progresso e as principais lacunas, na implementação das decisões, o que mais tarde foi confirmado na Conferência das Partes sobre o Clima (COP 15). Assim, a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima - COP 15, foi realizada no ano de 2009, em Copenhague, na Dinamarca e mobilizou líderes de 192 países, com a finalidade de dar um rumo mais sustentável ao planeta. Nela, os líderes das nações de todo o mundo tiveram a oportunidade de definir um novo acordo para redefinir a economia e política global em busca de soluções para os desafios climáticos, capazes de reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa, principais responsáveis pelas alterações do clima global, dentre eles, o superaquecimento do planeta (BRASIL, 2009). Neste cenário, o Brasil se apresenta como o quinto maior emissor mundial de gases causadores do efeito estufa e estabeleceu como meta a redução de 36,1% a 38,9% a emissão desses gases até 2020 e comprometeu-se em conter o desmatamento na Amazônia em 80%, até 2020. Como medida para reduzir a emissão Geografia Ambiental | Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 27 de gases de efeito estufa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), desenvolveu uma técnica de recuperaçãode pastos, que integrada a lavoura e pecuária, juntas podem responder por 12% do compromisso assumido pelo governo brasileiro. O Brasil comprometeu-se ainda a reduzir o desmatamento no cerrado, utilizar carvão vegetal ao invés de mineral no setor siderúrgico, a fim de diminuir a emissão de gases de efeito estufa. Além disso, o Congresso Nacional aprovou a Política Nacional de Mudança do Clima, sendo avaliada pelo Banco Interamericano de desenvolvimento (BID), como “ambiciosas” e “possíveis” (BRASIL, 2009). 5 Visões Sobre a Sustentabilidade Até a década de 1960, o homem não se preocupava com questões relacionadas ao meio ambiente, ele era orientado pelo pensamento dos economistas da época que pregavam entre outras coisas que, os recursos naturais deveriam ser explorados de forma a gerar o máximo de riquezas possíveis, como se fossem inesgotáveis e as questões relacionadas ao bem-estar da população, condições de vida e o provimento de suas necessidades básicas eram entendidas como medidas que prejudicavam a exploração dos recursos naturais de forma plena. A partir da década de 1970, passa-se a discutir a ideologia do desenvolvimento sustentável, nos limites da economia de mercado, oferecendo soluções de mercado à crise ecológica. Assim, a Conferência da Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, surge com a finalidade de evitar conflitos e garantir a manutenção da ordem estabelecida, buscando evitar conflitos e garantir a manutenção da ordem estabelecida, porém, não deixa claro como conciliar preservação e crescimento. A conferência de Estocolmo, produziu o relatório Brundtland, no qual constituiu o conceito de sustentabilidade mais abrangente e completo (GUIMARÃES, 2007). De certo, o relatório Brundtland, chama a atenção do mundo para novas formas de desenvolvimento econômico, com o mínimo de impacto ao meio ambiente e definiu três princípios básicos a serem cumpridos para que se alcance o desenvolvimento sustentável que são: desenvolvimento econômico, proteção ambiental e equidade social. Assim, o conceito de desenvolvimento sustentável surge na década de 1970, com o nome de ecodesenvolvimento, baseado no crescimento econômico sustentado, no longo prazo, como condição necessária para melhoria das condições de vida da população, acompanhado de melhor distribuição das riquezas geradas e respeito ao meio ambiente (ROMERO, 2012) Geografia Ambiental | Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 28 Segundo Sachs (1993), o conceito de desenvolvimento sustentável, nasceu com a Conferência de Estocolmo, no ano de 1972, inicialmente com o nome de ecodesenvolvimento, posteriormente foi renomeado para o termo que se conhece hoje. Para alcançar o desenvolvimento sustentável deveria ser alcançado simultaneamente três critérios fundamentais, a eficiência econômica, a justiça social e a prudência ecológica. Assim, Sachs (1993) desenvolveu a partir do conceito de ecodesenvolvimento, as cinco dimensões da sustentabilidade, a social, a econômica, a ecológica, a espacial e a cultural. Em resumo, Sachs definiu: a) Sustentabilidade Social, diz respeito a redução das diferenças sociais entre ricos e pobres, com melhor distribuição espacial das riquezas geradas, visando suprir as necessidades básicas da população; b) Sustentabilidade Econômica, decorre da eficiência econômica e baseia- se na gestão e manejo eficiente dos recursos possibilitando o aumento da produção e da riqueza gerada, por meio de um investimento púbico e privado, com o mínimo de dependência externa; c) Sustentabilidade Ecológica, diz respeito ao uso dos recursos mais renováveis, inerentes aos variados ecossistemas, com o menor débito para o meio ambiente, permitindo que a natureza encontre novos equilíbrios, por meio de processos de utilização que obedeçam a seu ciclo temporal; d) Sustentabilidade espacial/geográfica, busca-se um equilíbrio entre a sociedade e a natureza, com base na desconcentração de populações e atividades produtivas; e) Sustentabilidade Cultural, busca a preservação dos ecossistemas, respeitando a cultura de cada local. Para Nascimento (2012), o desenvolvimento sustentável está fundamentado nas três dimensões da sustentabilidade, a econômica, a social e a ambiental. De acordo com Nascimento (2012), a primeira dimensão que deve ser citada é a ambiental, uma vez que o modo de produção e consumo deve ser compatível com a base material em que a economia está inserida, como subsistema do meio natural, permitindo que o ecossistema se mantenha auto reparável ao longo do tempo. A segunda é a dimensão econômica, na qual conjectura-se o aumento da eficiência produtividade e do consumo, com vistas a economia crescente dos recursos naturais, principalmente Geografia Ambiental | Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 29 fontes fósseis de energia e de recursos frágeis, por meio de uma contínua inovação tecnológica que leve o homem a sair do ciclo fóssil de energia e expandir a desmaterialização da economia. Por fim, a terceira e última dimensão é a social, que traduz uma sociedade sustentável como aquela em que todos os seus cidadãos tenham o mínimo necessário para uma vida digna, que seja implantado a justiça social, de forma que ninguém concentre bens, recursos naturais e energéticos mais do que precisa, para que não venham prejudicar a outros. Por conseguinte, Mendes (2008), descreve que o desenvolvimento sustentável tem como meta a geração de riquezas e sua distribuição de forma que possa melhorar a qualidade de vida da população e preservação do planeta, buscando contemplar seis aspectos prioritários, que devem ser compreendidos como metas: a provisão das necessidades básicas da população, tais como: alimentação, educação, saúde e lazer; a solidariedade para com as futuras gerações; O envolvimento de toda população; a garantia da integridade dos recursos naturais; a criação de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito as culturas; e a implantação de programas educativos. De acordo com Godard (1997), a proposta de desenvolvimento sustentável não tem sua origem no relatório Brundtland, mas, em três correntes teóricas, nos meios científicos e dos especialistas, ligadas a análise do desenvolvimento econômico e suas consequências sobre o meio ambiente. A primeira corrente de pensamento foi coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que se dedicou a promover “as estratégias de ecodesenvolvimento”, fundamentado no atendimento as necessidades fundamentais das populações menos favorecidas, com prioridade para os países em desenvolvimento, na adaptação das tecnologias e dos modos de vidas às potencialidade e dificuldades de cada eco zona. Esta abordagem focaliza as populações a partir de formas de subsistência desenvolvida, através de agricultura familiar de subsistência e economia urbana informal e encontrou limitações nos aspectos econômicos e políticos, tendo em vista que defendia a necessidade de discutir o ecodesenvolvimento, a partir de mudanças nas políticas nacionais e reestruturação das relações econômicas. Assim, a segunda corrente teórica surge a partir da confrontação com novos conceitos e modelos desenvolvidos pela ciência da natureza. Os teóricos dessa corrente apresentam questionamentos sobre a autogestão do sistema econômico, impossibilidades da extrapolação das soluções locais para globais, impossibilidades de reciclagem das matérias-primas, devido a problemas de entropia e impossibilidade de troca entre capital natural e capital produtivo (GODARD, 1997). Por fim, a terceira Geografia Ambiental | Visões Sobre a Sustentabilidade www.cenes.com.br | 30 abordagem pode ser considerada como uma continuidade da teoria neoclássica do equilíbrio e do crescimento econômico, onde alguns autores defendem que não existe relação entre crescimento