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EDUCAÇÃO AMBIENTAL 2 Elaboração Professor Vitor Neves Barbosa Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Email do elaborador: vitornb25@gmail.com 3 SUMÁRIO Apresentação 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA 6 Introdução 8 Unidade I – Educando com o olhar para o futuro 10 Capítulo 1 – Os seres humanos e o consumo 10 1.1. Os processos de produção e os recursos naturais 11 1.2. A indústria e o Consumismo 13 1.3. A natureza e os seus recursos 14 Capítulo 2 – Matérias-primas e a farta exploração 15 2.1. Água doce – uma ameaça ao poder das nações 15 2.2. Desperdício como cultura 17 2.3. conscientização, meio ambiente e cidadania 18 Capítulo 3 – O desenvolvimento do pensamento em relação ao meio ambiente 19 3.1. As abordagens do pensamento ambiental 20 3.1.1. O pensamento tradicional consevador 24 3.1.2. O pensamento crítico libertador 25 Unidade II – Entendendo os impactos ambientais 28 Capítulo 1 – Impactos no ambiente 28 1.1 Ambiente e seu conceito 28 1.2. O Impacto Ambiental e seus conceitos 35 Capítulo 2 – Formas de Impactos ambientais 40 2.1. Impactos ao meio ambiente 41 2.2. Os Impactos considerados diretos e indiretos 43 2.3. Impactos de curta e longa duração 45 4 2.4. Impacto imediato 45 2.5. Impacto de curta duração 46 2.6. Impacto de média duração 46 2.7. Impacto de longa duração 46 2.8. Impactos cumulativos 47 2.9. Gerenciamento de riscos ambientais 50 Capítulo 3 – A Política Nacional para o Meio Ambiente 51 3.1 Antecedentes históricos 51 3.2. Conceitos, princípios e diretrizes 55 3.3 Sisnama, Conama e penalidades 59 3.3.1 Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) 59 3.3.2 Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) 61 3.3.3 Penalidades 62 Unidade III – Planejamento de Educação Sustentável 62 Capítulo 1 – A institucionalização da Educação para o meio ambiente 62 1.1. A Educação Ambiental na Escola 63 1.2. A criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular 64 1.3. As práticas de Educacionais Ambientais no sistema escolar 66 Capítulo 2 - A Educação Ambiental e o currículo escolar 67 2.1. A Educação ambiental 67 2.2. Projeto Político Pedagógico 69 2.3. Cotidiano da escola: uma prática sedimentada 70 Capítulo 3 - A formação do educador ambiental e os novos paradigmas 72 3.1. O educador ambiental e sua formação 72 3.2. Paradigmas da Educação Ambiental 74 Unidade VI – Desenvolvimento Sustentável 76 Capítulo 1 – Planejamento das cidades 76 1.1 A crise ambiental nas cidades 76 5 1.2 As cidades e o meio ambiente 78 Capítulo 2 – Sustentabilidade nas cidades e novas concepções 82 2.1. Vulnerabilidade, riscos e desastres nas cidades 82 2.2. Concepção de Cidades Sustentáveis 84 2.3. Concepção de Cidades Inteligentes 86 2.3. A adequação urbana 88 Capítulo 3 – Desenvolvimento Sustentável 88 3.1. Explicando: ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável 88 3.1.1. Conceito de ecologia 89 3.1.2. Conceito de meio ambiente 89 3.1.3. Conceito de ecodesenvolvimento 90 3.1.4. Conceito de desenvolvimento sustentável 91 3.1.5. Princípios de sustentabilidade 92 Referências 94 6 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 7 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor/conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 8 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para não finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 Introdução A Educação Ambiental faz parte da formação humana. Trata-se de algo abrangente e necessário. Diversos são os projetos de Educação Ambiental, para todas as faixas etárias, em diferentes localidades. É um pensamento que está focado no desenvolvimento, de maneira sustentável. Assim, a Educação Ambiental é um caminho para a melhoria da vida dos seres humanos, lhes garantindo melhores condições de sobrevivência, por meio da conscientização de que o futuro depende das suas ações no ambiente A Educação Ambiental, assim, é construída na relação entre os conhecimentos e as relações sociais, constrói e é construída no e pelo novo paradigma da responsabilidade da ação humana na natureza e na sociedade. Sendo assim, no material de estudo, serão abordados, importantes pontos que buscam disseminar a cultura do pensamento ambiental, entendendo o que é, para que serve, quais os limites e possibilidades, para fazer com que o assunto se torne mais comum e natural na vida cotidiana. 10 Objetivos > Promover de forma clara e didática o aprendizado dos alunos sobre a temática proposta > Analisar conceitos, caminhos e desafios da Educação Ambiental > Compreender o Meio Ambiente e o impacto dos seres humanos em sua degradação Unidade I – Educando com o olhar para o futuro Capítulo 1 – Os seres humanos e o consumo 11 1.1. Os processos de produção e os recursos naturais Podemos dizer que em torno de 2,5 milhões de anos na condição de caçadores, coletores o homem de forma autossustentável se integrava ao meio ambiente. Os seres humanos primitivos emuma relação totalmente equilibrada com o meio ambiente conseguiam a subsistência. Estabeleciam essa relação como parte integrante dos ecossistemas. Deste modo todos os recursos naturais eram preservados, podemos dizer que eram mantidos, sem nenhuma intervenção humana embora fossem sujeitos a qualquer extremo das condições climáticas como por exemplo à ventos fortes, temporal, a forte seca, calor extremo, neve entre outros. Vale ressaltar que, esse modo de produção ainda é comum entre alguns povos. Haeckel (1989) menciona essa prática comum e os diversos povos ou grupos humanos que são organizados em diversas categorias como: culturas, sociedades, populações, povos ou comunidades. Essas denominações e suas nomenclaturas costumam ser classificadas como: tradicionais, autóctones, rurais, locais, residentes nas áreas protegidas. Outro grupo que não deve ser desconsiderado são os “povos da floresta” terminologia muito utilizada para os povos quilombolas, indígenas, caiçaras, castanheiros entre outros que utilizam recursos necessários a sua sobrevivência sem que produzam impactos ambientais na apropriação e utilização dos recursos naturais. No século XXI a sociedade começa a se industrializar sendo constatado um nível elevado da degradação ambiental, não só a um grupo específico, mas ao planeta. A forma com que as sociedades se relacionam com os recursos naturais principalmente em relação a produção humana provoca sérios problemas ambientais. Existe uma harmonia na NATUREZA seja ela entre os seres vivos, ou entre os seres vivos e o meio ambiente. Chamamos esse fenômeno de EQUILÍBRIO ECOLÓGICO. O impacto ambiental acontece quando o homem desestabiliza essa harmonia. (ALMEIDA; RIGOLIN, 2002, p. 36) 12 Podemos dizer que os impactos ambientais são um conflito que é estabelecido entre o recursos naturais e o modo de produção humano e como os seres humanos se relacionam com os recursos naturais causando um desequilíbrio, ou seja, rompem com o equilíbrio ecológico causando sérios danos ao meio ambiente. Para nos aprofundarmos e compreendermos esse fenômeno devemos entender essa problemática por um viés histórico-social, ou seja, herança de uma estrutura de funcionamento de uma determinada sociedade. A construção da sociedade humana está estritamente ligada à capacidade que o homem tinha de desenvolver e produzir a sua própria existência. Esta capacidade supõe uma intermediação homem-natureza que possibilitou a criação de técnicas e de todos os instrumentos de trabalho inventados para esse intermédio. É claro na história das civilizações humanas os seres humanos realizam trabalhos a fim de que cotidianamente crie e produza a sua existência - De que forma é feito isso? se apropriando dos recursos oferecidos pela natureza. Deste modo, "o homem não é apenas um habitante da natureza; ele se apropria e transforma as riquezas da natureza em meios de civilização histórica para a sociedade” (CASSETI, 1995, p. 123). Conclui-se então que o ser humano, que possui capacidade para produzir a sua própria existência, subordinou a natureza a fim de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Essa subordinação faz com que homem e natureza percam a sua identidade, ambos são estranhos um ao outro ao mesmo tempo em que favorece a ideia de que o homem não se vê como parte integrante da natureza. A busca permanente da transformação dos recursos naturais em bens necessários à sobrevivência e manutenção da existência humana tornou-se uma ação inconsciente do homem. Essa ideia é a que fomenta o sistema capitalista QUANTO MAIS O HOMEM EXPLORA E SE APROVEITA DA NATUREZA POR MEIO DO TRABALHO, MAS ELA DEIXA LHE SERVIR COMO PRINCIPAL MEIO PARA O SEU TRABALHO E MEIO PARA SI. 13 1.2. A indústria e o Consumismo A evolução da história humana sempre esteve relacionada com o desenvolvimento técnico. As modificações na forma de produção humana por meio do avanço tecnológico sempre ocorreram de forma conjunta nas esferas econômica e política. Temos como exemplo que ao mesmo tempo em que ocorria a Revolução Industrial aconteciam concomitantemente transformações políticas e econômicas na Europa podemos dizer que de forma muito acelerada. A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial que aconteceu na segunda metade do século XVII, o estágio inicial possibilitou acumulação de capital, por meio das oficinas artesanais (manufaturas) responsáveis pela produção da maior parte das mercadorias consumidas na Europa. Esse fato e outros como por exemplo a SUPREMACIA NAVAL INGLESA, e a disponibilidade de mão de obra, matéria prima, mercado consumidor interno e etc fizeram da Inglaterra o país ideal é favorável para o começo da ERA INDUSTRIAL. Esse novo período histórico trouxe à baila novos conceitos e técnicas para a produção, tais como: produção em série, especialização da mão de obra, linha de montagem etc. Essas inovações favoreceram principalmente a produção "excedente", possibilitaram a construção do sistema capitalista do século XX e abriram mais espaço para novos mercados de consumo do que nunca. Na linha de montagem, os produtos originalmente feitos por um único artesão agora são criados por um grupo de trabalhadores, agilizando o processo de produção, enquanto os trabalhadores perdem todo o conhecimento relevante. Processo de produção. A produção em massa causa produção excedente, que é a primeira vez na história da humanidade “as indústrias produziam mais do que os consumidores necessitavam”. (HOBSBAWM, 1986, p. 57). Esse modelo econômico levanta uma nova questão: como lidar com o superávit gerado? Começou o estímulo da sociedade de consumo - nasceu um novo sistema econômico, a base do capitalismo - que foi estimulado a satisfazer suas necessidades por meio do consumo de bens e serviços. Segundo Portilho (2002), o consumo “passou a funcionar como um dispositivo de objetos e signos mágicos para atrair a felicidade. Este talvez seja o critério absoluto da própria salvação”. 14 Baudrillard (1991) enfatiza que o mito da felicidade é medido pela felicidade, conforto e sugestões do sujeito. Em outras palavras, uma ideia foi introduzida na cultura da época: algo que vale a pena ter pelo que se tem. Porém, na visão do autor, o consumo não se baseia apenas na satisfação de necessidades individuais e harmoniosas, mas também na atividade social. Porque a necessidade se organiza de acordo com a busca objetiva da sociedade por signos e distinções. Como resultado dos modelos econômicos aplicados desde a Revolução Industrial podemos revelar o crescimento e concentração populacional nas cidades, degradação ambiental, pobreza e violência. Segundo Almeida e Rigolin (2002), a Revolução Industrial e a subsequente revolução tecnológica fizeram com que o ser humano deixasse de ser afetado pelo ambiente natural. Pelo contrário, exerce controle e exploração para o seu bem-estar. 1.3. A natureza e os seus recursos De uma forma bastante simples e comum, podemos dizer que os recursos naturais são matéria e energia que a natureza nos oferece e coloca à disposição para que o homem transforme para seu uso, no sentido de proporcionar mais conforto e qualidade de vida, pois, recurso significa que podemos recorrer para obter outros benefícios. Podemos classificar os recursos naturais como renováveis ou não renováveis, ressalto que, porém, esse conceito precisa ser analisado. É evidente que os recursos naturais, após seu uso, podem ser renováveis, isto é, torna-se disponíveis novamente, ou não renováveis, aqueles que após uso não ficarão mais disponíveis. Sendo assim, os animais, vegetais de forma geral são exemplos de recursos renováveis, os minerais como por exemplo o minério de ferro ou a bauxita e o petróleo são classificados como recursos naturais não renováveis. Sendo assim, para que os recursos naturais sejam renováveisdeve haver um investimento e comprometimento político. No caso de um rio poluído que passe por várias cidades, caso não haja investimentos para a sua recuperação esse recurso natural poderá ficar indisponível para muitas gerações dessas cidades ribeirinhas e compromete o conceito de água como um recurso renovável. 15 Capítulo 2 – Matérias-primas e a farta exploração No nosso cotidiano, não percebemos a importância dos recursos naturais na nossa vida e a vida do planeta. Sequer nos damos conta – principalmente no Brasil, na maior parte de seu território as matérias-primas, ou seja, os recursos naturais são abundantes, embora haja, milhões de pessoas até mesmo no Brasil possuem acesso restrito a eles como por exemplo a água. Portanto refletiremos neste capítulo sobre a matéria-prima, ou seja, os recursos naturais e a farta exploração como a cultura do desperdício. 2.1. Água doce – uma ameaça ao poder das nações A poluição ao meio ambiente, principalmente a das águas, é um dos impactos ambientais que mais prejudicam à saúde dos seres vivos em especial os fatores que desencadeiam: - o crescimento populacional mundial; - o processo de urbanização como consequência da Revolução Industrial; - e a falta de preocupação com o uso inteligente dos recursos naturais. A poluição das águas, nas diversas variações e formas, é um grande desafio para os governos de todo o mundo. Traremos à luz que muito embora o planeta Terra tenha sua superfície coberta de água em sua maior parte (75%), apenas uma pequena parte dessa água parcela – da ordem de 113 trilhões de m3 – pode ser usada pela vida na Terra. Apenas cerca de 3% da água do globo terrestre é doce, sendo que apenas 0,08% está em regiões acessíveis ao ser humano. Deste modo, o Planeta corre o risco de não existir mais água limpa, o que em última análise podemos traduzir como o comprometimento de todo tipo de vida do planeta. Recentemente, um estudo da conceituada revista internacional Science (julho de 2000) evidenciou que aproximadamente 2 bilhões de habitantes do planeta enfrentam a falta de água. E que provavelmente muito em breve, se dará a escassez, ou falta total da água para irrigação em diversos países, principalmente para os mais pobres. Os lugares do mundo mais atingidos pela escassez e falta de água são a África, a Ásia Central e o Oriente Médio. 16 É importante destacar que, entre os anos de 1990 e 1995, a necessidade por água doce aumentou cerca de duas vezes mais que a população mundial. Isso se dá por consequência da farta exploração, ou seja, o alto consumo de água em atividades industriais e zonas agrícolas. Portanto essa inversão é provocada justamente pelo aumento do consumo devido à intensificação da produção industrial e agrícola. Conforme o autor Vesentini (2001), no ano de 2050 a falta de água afetará até 75% da população mundial, ou seja, cerca de 7 bilhões de pessoas. Para este e outros autores, não é recente que se especula que a produção de alimentos não acompanhará o crescimento demográfico. Nas projeções mais pessimistas, segundo certas probabilidades a disputa pelo controle dos mananciais poderá estimular ações terroristas nas mais variadas partes do planeta. Essas previsões – julgadas como pessimistas ou até “apocalípticas” – servem de alerta para a seriedade do problema de falta de recursos hídricos e de como este problema deveria ser tratado pelos organismos internacionais. Mesmo os pesquisadores mais otimistas reconhecem e confirmam que a exploração excessiva das reservas de água doce terá consequências graves nos próximos anos, provocando até mesmo tensões entre países, talvez guerras. Em março de 2003 foi discutido no 1.º Fórum Alternativo Mundial da Água, realizado em Florença (Itália), a relação entre controle dos recursos hídricos e soberania nacional, ou seja, o poder das nações. Neste evento, o economista e professor da Universidade Católica de Lovanio (Bélgica), Riccardo Petrella, enfatizou a insistência das grandes potências econômicas em inserir cláusulas sobre o uso de recursos hídricos em tratados comerciais internacionais. Pediu atenção para regiões que já apresentam uma situação política e econômica conturbada, como é o caso do Oriente Médio, já que o acesso à água já é escasso para grande parcela da população, seja por questões políticas, religiosas ou econômicas. Essa parte do mundo dispõe de apenas 1% da água doce do planeta, mas concentra 5% da população mundial. Tanto no encontro lá em Kyoto como no de Florença foi discutido sobre a crescente pressão dos organismos internacionais em favor da privatização dos serviços de abastecimento de água. De forma paralela, surgiram vozes denunciando a exploração excessiva dos depósitos superficiais de água doce e dos aquíferos – águas subterrâneas. 17 2.2. Desperdício como cultura A forma do desenvolvimento econômico atualmente é um convite ao desperdício (SANTOS, 1996), automóveis, eletrodomésticos, roupas e outros serviços não estão sendo projetados para durar por razões de consumo, que estão na base do modelo econômico capitalista. A atratividade para o consumo dobra o desenvolvimento dos recursos naturais: embalagens complexas e produtos descartáveis (não recicláveis ou biodegradáveis) aumentam a quantidade de resíduos no meio ambiente. No Brasil ao longo dos anos, devido a fartura de recursos naturais, a preocupação com o seu consumo e uso adequado foi muito pouco trabalhada, ainda segundo o mesmo autor Milton Santos essa situação se agrava por se tratar de um território extenso e abundante em biodiversidade. Nos países subdesenvolvidos, conhecidos também como periféricos, ao qual a sua economia é primitiva e baseada na agropecuária e exportação de matéria prima, o ritmo do crescimento demográfico e da urbanização não é acompanhado pela expansão da infraestrutura, principalmente em relação à rede de saneamento básico. Boa parcela dos dejetos humanos e do lixo das cidades e industrial ainda é despejado sem tratamento adequado na atmosfera, nas águas e no solo. Houve a necessidade de aumentar o número das exportações para sustentar o desenvolvimento interno, este fato estimula a extração dos recursos minerais, piorando ainda mais esse quadro. Esse modelo de exploração traz consequências gravíssimas para o solo devido à expansão da agricultura sobre novas áreas, fazendo aumentar o desmatamento e a superexploração da terra. Sendo assim, surgem algumas inquietações: De qual maneira o Brasil poderá ser afetado tendo em vista a cultura do desperdício? É provável que passemos dificuldades com a escassez de água, sendo detentores de cerca de 11,6% dos 3% da água doce disponível no planeta? A dimensão continental, ou seja nossa vertente continental, está ligada à nossa visão de sustentabilidade, desenvolveu uma “cultura” infinita deste recurso, isto é um consumo longe do princípio da sustentabilidade, onde a maioria das pessoas, ou seja, a população não liga para a 18 sua escassez. O alto índice de desperdício de água no Brasil, em torno de 70%, mostra que esse problema é ignorado e pode limitar a soberania de alguns países do planeta. Deste modo, chamo a atenção para o encontro em Kyoto e para o Fórum realizado em Florença. Em que ambos foram realizadas discussões sobre a crescente pressão dos organismos internacionais em favor da privatização dos serviços de abastecimento de água. Em posição contrária, levantaram-se vozes que denunciaram a exploração excessiva dos depósitos superficiais de água doce e dos aquíferos, ou seja, das águas subterrâneas. As atenções dos representantes dos diversos países presentes se voltaram para o Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do planeta. O Aquífero Guarani é o maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo e está localizado na região centro-leste da América do Sul,entre 12º e 35º de latitude sul e 47º e 65º de longitude oeste. Ele ocupa uma área de 1,2 milhões de km2 , estendendo-se pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro. Ele ocupa dois terços da área total e abrange os estados de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Sendo assim, o Brasil torna-se um alvo vulnerável frente às grandes potências que não dispõe deste recurso em abundância e que poderão vir a sofrer com a escassez. 2.3. conscientização, meio ambiente e cidadania Para zelar pela não só pela qualidade de vida, mas também a continuidade da vida no planeta, as sociedades humanas devem adotar uma nova postura mudando radicalmente suas ações em relação à natureza. Eis aí o papel do especialista em Educação Ambiental. Criar novos paradigmas de consumo e uma relação benéfica entre homem-meio só será possível por meio de uma conscientização coletiva sobre a esgotabilidade dos recursos naturais. Sendo assim, a Educação Ambiental torna-se uma ferramenta útil e eficaz para a romper esses paradigmas antigos e modificar comportamentos juntamente com a criação de novos paradigmas de consumo e preservação ambiental. 19 Para Jacobi (1999), a relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais que se tornam cada vez mais complexos e riscos ambientais que se intensificam. E ainda para Jacobi, as políticas ambientais, e também os programas educacionais relacionados à conscientização sobre a crise ambiental, exigem abordagens cada vez mais novas que vão além da simples aplicação de conhecimentos científicos e técnicos pré-existentes, integrando contradições e criando uma realidade desigual. O desafio é desenvolver uma educação ambiental crítica e inovadora em dois níveis, formal e informal. Portanto, a educação ambiental deve ser, antes de mais nada, um ato político de mudança social. O objetivo é encontrar uma perspetiva sobre o comportamento global que liga as pessoas, a natureza e o universo, em relação ao facto de os recursos naturais estarem em declínio e os humanos serem a principal causa desta degradação. Para o mesmo autor, quando nos referimos à Educação Ambiental, a colocamos num contexto mais amplo, o de educar para a cidadania, configurando-se como elemento determinante para consolidar o conceito de sujeito cidadão. O desafio de fortalecer a cidadania para toda população e não só uma parcela, e não para um grupo restrito, se concretiza a partir da possibilidade de cada pessoa ter seus direitos e deveres, e perceber-se, portanto, em ator corresponsável pela defesa da qualidade de vida. Assista ao vídeo Ilha das Flores, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8&ab_channel=bonatounirio Capítulo 3 – O desenvolvimento do pensamento em relação ao meio ambiente A problemática ambiental vivenciada no presente é evidenciada pelo pensamento de Leff, Por desconhecimento do meio ambiente, aliado ao fato de que a preocupação com o meio ambiente é um problema muito recente na história da humanidade. Os filósofos gregos reconheceram o meio ambiente como a inter-relação entre os seres vivos e o meio ambiente físico, que tem sido objeto de estudo em vários textos hindus, judeus e islâmicos. Considera-se que uma das primeiras obras escritas, que revela essa preocupação, seja do século passado. https://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8&ab_channel=bonatounirio 20 Ela data de 1968, no livro intitulado: Os Limites do Crescimento Econômico, de Dennis L. Meadows, publicado pelo Clube de Roma. Na referida obra, o autor evidencia a preocupação com o crescimento econômico pela limitação do uso dos recursos naturais. Mais recente ainda é o locus acadêmico sobre o tema. Existe um corte geracional de ambientalistas, a saber: a primeira geração é composta pelos fundadores, hoje com mais de 55 anos de idade, ligados à esfera pública; a segunda geração, composta por ambientalistas, hoje com mais de 35 anos de idade, considerados educadores ambientais e os responsáveis pelo início do locus acadêmico sobre o tema; e a terceira geração, composta por ambientalistas, com menos de 35 anos, que já se beneficiam das pesquisas acadêmicas. 3.1. As abordagens do pensamento ambiental A Educação Ambiental seja considerada como uma necessidade da sociedade contemporânea, não é uma modalidade de educação cujos princípios, objetivos e estratégias sejam iguais para todos aqueles que a praticam. Essa ideia significa que há diferenças conceituais que promovem a construção de diferentes práticas educativas em relação ao meio ambiente. A diferença entre esses conceitos pode ser resumida em grandes grupos. Aqueles que acreditam que a educação ambiental tem a missão de promover mudanças nos comportamentos ecologicamente inadequados (educação ambiental com fundamentos disciplinares e éticos como o “ambiente de treinamento”), e aqueles que pensam em educação ambiental (a educação ambiental tem como foco a transferência de conhecimento) e aqueles que percebem a educação ambiental como uma política que têm a responsabilidade de transferir conhecimento científico e técnico sobre os processos ambientais que levam ao desenvolvimento de melhores relações de educação e liberalização), a fim de construir uma sociedade sustentável do ponto de vista social(Educação Ambiental transformadora e emancipatória). Percebe-se que, nessas diferentes abordagens, a Educação Ambiental pode ser adaptadora, fundamentada nas teorias não críticas da Educação, ou ser transformadora, fundamentada nas teorias críticas da Educação (SAVIANI, 1994). 21 A educação com função adaptadora à sociedade, tal qual ela vem se desenvolvendo, é o fundamento filosófico-político da educação moderna. As instituições educativas (principalmente a família e a escola) sempre estiveram vinculadas estrategicamente às relações de produção. Com a Revolução Industrial, a escola foi se consolidando como principal instituição de formação para o trabalho – para o trabalho moderno e industrial. Essa formação não diz respeito somente à dimensão técnica dos processos de trabalho, pois durante muito tempo o capital se beneficiou da desqualificação do trabalhador, mas principalmente à dimensão política: a formação cultural (ideológica) dos indivíduos para o trabalho industrial. Essa dimensão diz respeito à formação dos indivíduos para as novas relações de trabalho exigidas pela indústria e fundamentadas no controle do tempo, na eficiência, na ordem e na disciplina, na subserviência etc. Então, a educação adaptadora, disciplinatória, tem origem histórica nas teorias não críticas da educação geradas no início do processo de industrialização e a seu serviço. Por outro lado, a teoria crítica da educação tem a mesma identidade que o pensamento crítico no campo do conhecimento pedagógico. Identificamos Paulo Freire (19211997) como um dos principais representantes dessa ideia, bem como no livro Pedagogia do Oprimido, na percepção política do tema da educação para a mudança social como princípio das regras da educação. Saviani (1943) também foi um importante teórico no aprimoramento da pedagogia crítica, na compreensão da educação e da educação como um meio de mudança social e na documentação da importância do conteúdo e da cultura na educação. Para a pedagogia crítica, a função da educação é ser uma ferramenta dos problemas sociais para mudar a prática social. O pensamento de Marx é a principal referência epistemológica da pedagogia crítica. Ele contém um grande corpo de ideias complexas e às vezes intrigantes que surgiram das ideias de Marx (1818-189) e de seu colaborador intelectual Engels (1820-1895). Na teoria marxista de interpretaçãoda realidade, esses pensadores identificaram as formações econômicas da sociedade capitalista como condições históricas determinantes da vida dos sujeitos considerando o trabalho, em sua dimensão filosófica e histórica, como a dimensão central dessas relações. 22 Nesse sentido, as categorias de totalidade, concreticidade, historicidade e contraditoriedade são perpassadas por um movimento dialético que dá forma à relação homem-natureza e à educação. A história é, então, a força construtiva das relações sociais, e as relações sociais, a força construtiva da relação dos sujeitos com o ambiente em que vivem. As ideias educativas que emergem dessa concepção histórica das relações sociais dizem respeito à formação humana. O desenvolvimento integral dos sujeitos, a busca do homem unilateral e o processo de humanização, que é um processo histórico, concreto e dialético, expresso pela sua prática social, fazem a estrutura das ideias educativo-pedagógicas desse referencial. A configuração de uma possível teoria educacional marxista vem sendo construída por várias abordagens e tendências ao pensamento marxista e ao pensamento educacional. Nesse sentido, um dos principais teóricos de grande influência no meio educacional, também no Brasil, é o italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Os temas educativos e seus pensamentos sobre escola, como outros temas abordados no conjunto de sua obra, têm referenciais nas concepções marxistas de homem e de sociedade e tomam a centralidade do trabalho como base teórica. Assim, o trabalho como princípio educativo é a síntese de sua contribuição às teorias educacionais. A escola formativa, desinteressada, é a expressão gramsciana de uma proposta educativa em que a preparação para o trabalho não é o objetivo da educação (técnica, de treinamento, profissionalizante), mas o princípio (filosófico e político, humanizador) da organização da educação e do ensino. A Educação Ambiental na perspectiva da transformação social, de inspiração gramsciana, se traduz na defesa da transformação do caráter organizacional do trabalho na sociedade capitalista, instrumento e meta do processo educativo. Um outro teórico marxista de grande influência no meio educacional brasileiro é o russo/soviético Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), sua teoria tem contribuído significativamente para a construção de teorias educacionais de inspiração marxista. A forma como se dá o desenvolvimento humano e particularmente o funcionamento intelectual humano em sua dimensão histórica e social foram objetos de estudo dele e seus parceiros de estudos, tendo como base o método materialista histórico e dialético e como contexto histórico-cultural a revolução socialista e o desafio da construção do socialismo soviético. 23 A relação dialética homem-natureza, como vimos anteriormente, é mediada por instrumentos, os conhecimentos, que são fornecidos e modificados pela cultura. Os conhecimentos são produtos e produtores sociais e históricos. Essa teoria da formação humana traz consequências para a educação, traçando diretrizes e alternativas para propostas pedagógicas, inclusive no âmbito escolar. Para Vygotsky (198), o contexto histórico e social do conhecimento constitui o princípio organizador do processo ensino-aprendizagem. A aquisição desse conhecimento como ferramenta no processo de humanização intencional modifica as pessoas, seus saberes, sua história e sociedade, e detalha culturalmente o desvio no processo. A formação de atores ambientalmente responsáveis envolvidos na construção de uma sociedade sustentável, é o alicerce filosófico, político, teórico e metodológico da educação ambiental, é uma ação política intencional, um processo educacional deliberado. Portanto, é necessária uma sistematização da educação e da metodologia. Educação ambiental é educação, formação de pessoas, educação nos mais diversos aspectos - portanto, é um processo de apropriação pelos sujeitos humanos, histórica e coletivamente construído pelas próprias pessoas. ("SAVIANI, 1994). O processo de educação ambiental preocupa-se com o social, a mudança, associada à relação entre a cidadania e o meio ambiente, a relação histórica do homem com o meio ambiente e as formas da história da relação entre a matéria e entre a matéria e o meio ambiente. Esta participação política no campo da educação é o resultado de uma aquisição crítica e reflexiva do conhecimento ambiental, que é a construção de valor ético para relações responsáveis entre os atores e entre os atores e o meio ambiente, podendo-se reservar espaço para seu aperfeiçoamento. Um importante desvio de conhecimento começa com um conceito mais complexo de meio ambiente. Este é um campo como um conjunto de muitas decisões, além do biológico, redutor e compreensão do meio ambiente, levando em consideração suas características sociais, históricas e dinâmicas. Nesse sentido, Leff (2001, p. 224) afirma que 24 o ambiente não é, pois, o meio que circunda as espécies e as populações biológicas, é uma categoria sociológica (e não biológica), relativa a uma racionalidade social, configurada por comportamentos, valores e saberes, como também novos potenciais produtivos. Os novos potenciais produtivos, enxergam o ambiente como tema fundante do processo de construção do saber ambiental, um tema a ser problematizado, discutido, gerando diversas ações voltadas para a construção de um novo pensamento de uma nova racionalidade ambiental, uma racionalidade em que a sustentabilidade, a justiça e a democracia estejam sempre presentes, uma racionalidade social e ambiental. A Educação Ambiental para a sustentabilidade, capaz de atuar na formação de sujeitos sociais críticos e emancipados, participativos, que se pautem pela construção de uma sociedade em que a sustentabilidade seja entendida também como democracia, equidade, justiça, autonomia e emancipação, é nossa referência neste estudo. Esses aspectos significam superar a ideia, muito presente nas propostas de Educação Ambiental, de que a Educação Ambiental tem como objetivo a “mudança de comportamento” dos sujeitos em busca de comportamentos considerados ambientalmente corretos, configurando-se, como um adestramento ambiental. Nesse sentido, temos também que buscar a superação do caráter moralista e moralizante que temos observado em algumas ações educativas ambientais para que seja possível a construção da Educação Ambiental crítica e emancipatória. 3.1.1. O pensamento tradicional consevador Para entendermos a evolução do pensamento ambiental, precisamos retornar às suas origens. Podemos dizer que a preocupação ecológica nasce ligada à área das Ciências Naturais e que o locus acadêmico deu origem a uma nova área do conhecimento – a Ecologia. Posto a mesa a preocupação com o meio ambiente inicialmente nos reporta a uma apreensão com os efeitos nocivos ao meio ambiente mais evidentes a partir da Revolução Industrial, o pensamento conservacionista foi a tônica da Ecologia. Essas áreas, cuja existência distinta nem sempre é claramente reconhecida, surgiram informalmente e se ampliaram como reflexo de uma ecologia historicamente desenvolvida. 25 Deste modo dados históricos nos mostram que a ECOLOGIA NATURAL, primeira abordagem a surgir, é uma área exclusivamente do pensamento ecológico que se dispõe a estudar funcionamento dos sistemas naturais (florestas, oceanos etc.), evidenciando e compreendendo as leis que regem a dinâmica de vida da natureza. Para estudar essa dinâmica, a Ecologia Natural, apesar de estar ligada principalmente ao campo da Biologia, se vale de elementos de várias outras ciências naturais, como Química, Física, Geologia etc. O pensamento ecológico conservacionista ainda muito presente nos dias atuais, influenciou sobremaneira as primeiras gerações de ambientalistas. Esse período é marcado pela criaçãode “Unidades de Conservação Ambiental”. A criação do Parque Nacional de Yellowstone, em 1872, nos Estados Unidos, tornou-se um ícone desta época e mostra como esse pensamento se alastrou pelo mundo devido a esse modelo. Em seguida, foram criados os parques de Yosemite, General Grant, Sequoia e, finalmente, o de Mount Ranier, em 1899. Outros países seguiram o exemplo norte-americano, tais como o Canadá – que criou seus parques a partir de 1885 –, a Nova Zelândia, a partir de 1894, a Austrália, a África do Sul e o México, a partir de 1898, a Argentina a partir de 1903, o Chile, a partir de 1926, o Equador, a partir de 1936. No Brasil, a primeira iniciativa para a criação de uma área protegida ocorreu em 1876, como sugestão do engenheiro André Rebouças (inspirado na fundação do Parque de Yellowstone) de se criar dois parques nacionais: um em Sete Quedas e outro na Ilha do Bananal. No entanto, data de 1937 a criação do primeiro parque nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia. É importante destacar que o pensamento conservacionista, por ter se originado nos efeitos da ação do homem sobre o meio ambiente, aborda com ênfase a questão econômica e reflete as questões capitalistas nas suas formas de reprodução. 3.1.2. O pensamento crítico libertador Para Lago e Pádua (1998) existem no quadro do atual pensamento ecológico pelo menos quatro grandes áreas: Ecologia Natural, Ecologia Social, Conservacionismo e Ecologismo. Isso se deve à mudança de paradigmas sociais que vêm tomando corpo nas últimas duas décadas, fazendo com que o pensamento ambiental se aproxima das Ciências Sociais, pois os recursos naturais 26 passaram a ser vistos como finitos, o que exige que se pense numa nova forma na relação produção–consumo. Pensamento crítico libertador, ou seja, emancipatório privilegia a complexidade, o holismo, o sistêmico, o socioambientalismo. É uma visão multidisciplinar que busca não descontextualizar o homem do meio. Para Enrique Leff, um dos maiores representantes dessa corrente de pensamento, “a crise ambiental não é crise ecológica, mas crise da razão” (2001, p. 217). Para esse autor, [...] um dos focos privilegiados da crítica ao modelo de desenvolvimento ilimitado a partir de uma base de recursos finita. Essa contradição básica tem sido analisada de diversas perspectivas, todas elas evidenciando a insustentabilidade da proposta a longo prazo. A disponibilidade limitada de matérias-primas, a velocidade de reprodução dos recursos renováveis e a capacidade de absorver os detritos do sistema industrial são insuficientes para acompanhar o ritmo de crescimento acelerado, por um longo tempo. Mais cedo ou mais tarde, tal situação conduziria a um colapso ecológico. Conclui-se que a abordagem da Ecologia Social nasce a partir do momento em que a reflexão ecológica privilegia os múltiplos aspectos da relação entre os homens e o meio ambiente, especialmente a maneira pela qual a ação humana costuma impactar de forma negativa a natureza. Essa área do pensamento ecológico, portanto, se aproxima intimamente do campo das ciências sociais e humanas e defende a questão da limitação dos recursos naturais. A terceira grande área do pensamento ecológico – o Conservacionismo – nasceu justamente da percepção da destrutividade ambiental da ação humana. Trata-se de uma área do conhecimento de cunho totalmente prático e engloba o conjunto das ideias e estratégias de ação voltadas para a luta em favor da preservação da natureza e dos recursos naturais. Esse tipo de preocupação deu origem aos inúmeros grupos e entidades que formam o amplo movimento existente hoje em dia em defesa do ambiente natural. Por fim, consideram também outro fenômeno ainda recente, mas cada vez mais importante, do surgimento de uma nova área do pensamento ecológico, denominado Ecologismo, que tem como base vem se constituindo como um projeto político de transformação social, calcado em princípios ecológicos e no ideal de uma sociedade não opressiva e comunitária. 27 A base da ideia do Ecologismo é que a resolução da atual crise ecológica não pode ser obtida através da conservação parcial do meio ambiente, mas com grandes mudanças econômicas, culturais e relacionais entre o homem e a natureza. Essas ideias foram defendidas em alguns países pelos chamados “Verdes”, onde o crescimento eleitoral foi particularmente notável na Alemanha e na França. A palavra ecologia tem uma expansão tão grande no seu uso social portanto é raro que outras palavras sejam muito amplas em seu uso social. Ao longo de um século, deixou o estreito campo da biologia para se espalhar no espaço das ciências sociais, passando a nomear uma série de movimentos sociais organizados em torno de questões ambientais e, eventualmente, especificados como um todo. Podemos, portanto, concluir que o ambientalismo emergente e seu conteúdo fortemente conservador podem ser explicados pela proximidade de trajetórias acadêmicas baseadas nas ciências naturais. 28 Unidade II – Entendendo os impactos ambientais Capítulo 1 – Impactos no ambiente A terminologia meio ambiente vem sendo utilizado com diversas finalidades, nos mais diferentes segmentos da sociedade. Os motivos evidentes são devido a preocupação com o ambiente que variam da consciência da sociedade perante os problemas ambientais que vêm atingindo a humanidade. Sendo assim, neste capítulo serão apresentados, de forma técnica e embasada, os conceitos de ambiente, impactos ambientais e a avaliação de impacto ambiental. Também apresentaremos as principais discussões conceituais da literatura especializada, que são amplamente debatidas no meio acadêmico, bem como as definições e os instrumentos jurídicos brasileiros acerca dos temas. 1.1 Ambiente e seu conceito Os impactos ambientais têm sido a grande preocupação de todas as comunidades do nosso planeta nas últimas décadas, seja eles pelas mudanças provocadas pela ação do homem no ambiente natural, seja pela resposta que a natureza dá a essas ações – como, por exemplo, mudanças climáticas, crise hídrica, desertificação, poluição dos oceanos etc. Esses temas são pauta das principais conferências internacionais, como as conferências do clima e do meio ambiente e os fóruns econômicos e sociais. Deste modo, o conceito de ambiente permite diversas interpretações e tem sido amplamente debatido e discutido nas áreas técnica, científica, jurídica e política. Freitas (2003) nos aponta algo importante, em que a expressão meio ambiente, adotada no Brasil é criticada pelos estudiosos, pois o termo meio e ambiente, no sentido enfocado, significam a mesma coisa. Logo, tal emprego importaria em redundância. Um exemplo dessa discussão é que, na Itália e em Portugal, usa-se apenas a palavra ambiente. 29 Conforme Sánchez (2013), o conceito de ambiente na área de gestão ambiental é amplo, multifacetado e maleável. O ambiente pode ser amplo, pois pode incluir tanto os recursos naturais como a sociedade. Por outro lado, pode ser multifacetado, porque pode ser apreendido sob diferentes formas. Por fim, maleável, porque, ao ser amplo e multifacetado, pode ser reduzido ou ampliado de acordo com as necessidades envolvidas na análise. Os estudos ambientais e as suas contribuições especializadas são, na maioria das vezes, divididos em três grandes grupos referidos como meios: físico, biótico e antrópico, cada um desses agrupando favorece o conhecimento à diversas disciplinas e afins. Por outro lado, em relação a cada um desses grupos, Sánchez (2013, p. 21), afirma, “ambiente é o meio de onde a sociedade extrai os recursos essenciais à sobrevivência e os recursos demandados pelo processo de desenvolvimento socioeconômico”. Esses recursos são geralmente denominados naturais. Por outro lado, o mesmo autor comenta que [...] o ambienteé também o meio de vida, de cuja integridade depende a manutenção de funções ecológicas essenciais à vida. Desse modo, emergiu o conceito de recurso ambiental, que se refere não mais somente à capacidade da natureza de fornecer recursos físicos, mas também de prover serviços e desempenhar funções de suporte à vida. (SÁNCHEZ, 2013, p. 21) Sendo assim, a teoria e o conceito de ambiente permeiam dois campos: As áreas de matéria- prima e recursos naturais atendem às necessidades humanas, e as zonas de nutrição têm a mesma realidade. O meio ambiente não é apenas definido como o meio ambiente natural intocado, que tem suas próprias necessidades de conservação e conservação, mas também um recurso natural potencial que ajuda a fornecer matéria-prima para o desenvolvimento tecnológico e social. O termo meio ambiente foi usado pela primeira vez (milieu ambiance) como menciona Silva (2009), citando Vladimir Passos de Freitas (2003, p. 17), foi em 1835, pelo naturalista francês Geoffrey de Saint-Hilaire, em sua obra Études progressives d ́un naturaliste, em que milieu significa o lugar onde está ou se movimenta um ser vivo e ambience indica tudo que está à sua volta. Silva (2009), citando Edgar Morin (1988), comenta que, de forma geral, o ambiente é o conjunto de agentes presentes na Terra que agem de forma constante sobre os seres vivos, devendo estes se adaptar, relacionar-se e interagir para sobreviver. 30 No campo jurídico é complicado definir meio ambiente, pois como bem lembra Edis Milaré (2001, p. 165), “o meio ambiente pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído que definível, em virtude da riqueza e complexidade do que encerra”. Em 1981, o conceito legal sobre meio ambiente no Brasil surgiu, pela primeira vez, no que dispõe o art. 3°, inciso I, da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, dizendo que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Esse conceito e suas definições traz inúmeros debates, pois seu foco está em um conceito restrito ao meio ambiente natural, sendo incompleto e inadequado para a realidade brasileira, pois não alcança de forma mais aprofundada todos os bens jurídicos protegidos – como, por exemplo, o patrimônio cultural e histórico. Conforme comenta José Afonso da Silva, o termo meio ambiente deve ser abrangente e globalizante, “[...] abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico. (SILVA, 2004, p. 20). No sentido de preencher os espaços vazios, a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 225, aborda o conceito de meio ambiente, enquanto um bem jurídico tutelado, compreendendo-o em três aspectos principais e dois aspectos complementares. Entre os principais aspectos estão o natural, o artificial e o cultural; entre os secundários, o meio ambiente do trabalho e patrimônio genético: • Meio ambiente natural – é composto por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. São todas as relações entre os seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação de ambos os lados de forma recíproca entre as espécies e as interações destas com o ambiente físico que ocupam. • Meio ambiente artificial – é composto pelo espaço urbano (incluindo edificações), rural e construído/manejado, e também por todas suas inter-relações humanas. • Meio ambiente cultural – pode-se considerar o patrimônio cultural nacional, que está incluso as relações culturais, turísticas, arqueológicas, paisagísticas e naturais. • Meio ambiente do trabalho – disposto no artigo 200, inciso VIII, da CF/88, é o local onde homens e mulheres desenvolvem suas atividades laborais. Sendo assim, para que esse local seja 31 considerado adequado para o trabalho, deverá apresentar, além de condições saudáveis, é necessário a ausência de agentes que coloquem em risco o corpo físico e a saúde mental dos trabalhadores. • Patrimônio genético – podemos considerar toda informação de origem genética, que se faz presente em amostras do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma de moléculas e substâncias provenientes do metabolismo desses seres vivos e de extratos obtidos destes organismos estejam vivos ou mortos. Quando discutimos o tema avaliação de impacto ambiental, é importante abordarmos também algumas definições de ambiente, pois são inúmeras as traduções e interpretações existentes sobre esse conceito. Somando aos conceitos jurídicos expostos, sob o olhar das ciências naturais podemos elencar algumas definições também que são amplamente utilizadas em estudos sobre avaliação de impactos ambientais. Para Odum e Barrett (2007), ambiente é considerado como os organismos vivos e seu ambiente inerte (abiótico) estão inseparavelmente ligados e relacionam-se entre si. Isso corresponde a qualquer unidade que inclua a totalidade dos organismos, ou seja, as comunidades de uma área determinada (abrangência geográfica definida) interagindo com o ambiente físico em uma relação que a corrente de energia produza cadeia trófica, diversidade biológica e ciclos de materiais (troca de matérias entre as parte vivas e não vivas). O termo ambiente segundo Santos (1996) está relacionado com a base física e material da vida, ou seja, abrange a camada de vida que envolve a Terra, denominada biosfera, e a atmosfera. É composta, portanto, de condições externas e influências, afetando a vida, a totalidade do organismo das sociedades ou a infraestrutura dos ecossistemas e biótica, que é inteiramente responsável pela sustentação e sobrevivência das relações das populações de todas as formas de vida. Além dos autores mencionados acima, Gliessman (2000) também descreve o ambiente de um organismo como uma série de efeitos de forças e fatores externos bióticos e abióticos que influenciam o desenvolvimento, crescimento, estrutura e organismo. 32 A localização geográfica de um determinado organismo deve ser entendida como uma localização dinâmica em constante mudança, com todos os fatores ambientais interagindo, como relações predatórias dinâmicas, presas, organismos de dispersão de sementes e clima, sendo afetada pelas condições. Por outro lado, outros autores acreditam que o ambiente não se resume ao espaço físico e suas relações com o meio biológico, pois é, antes de tudo, a conclusão que o ser humano tem dele no tempo e no espaço. O meio ambiente não é considerado estático, pois os seres vivos têm uma interação dinâmica com os seres não vivos. A ideia de relações dinâmicas também foi mencionada por James Lovelock em um estudo realizado para a NASA em 1970 com o objetivo de buscar vida em outros planetas. Uma maneira é comparar a atmosfera de outros planetas, especialmente Marte, Júpiter e Terra. Neste experimento, concluiu-se que não existe vida onde a atmosfera está muito próxima do equilíbrio perfeito, ao contrário da Terra, que é instável e reflete as trocas gasosas entre a atmosfera e os seres vivos. O ambiente ainda pode ser traduzido, como toda e qualquer inter-relação abrangendo as relações em suas multiplicidades. O autor ainda comenta que o ambiente é especialmente a relação entre os seres humanos e os elementos naturais (o ar, a água, o solo, a flora e a fauna), bem como suas próprias relações sociais, culturais, históricas e políticas. A relação de muitas maneiras complexas aumentam e sustentam a biodiversidade em todas as partes do globo, sejam naturais, artificiais e / ou culturais, nos mais diversos ambientes estão crescendo. Organismos vivos e não vivos, quando isolados, não constroem o ambiente pois não estabelecemrelacionamentos. Ao analisar esses conceitos sobre ambientes, podemos ver que eles têm coisas em comum e são semelhantes. Mas em outras ocasiões, eles se contrapõe pois, adotam políticas ambientais contemporâneas que dizem respeito ao foco antropocêntrico e se preocupam apenas aos fatores ambientais necessários para a existência humana, e claramente não dão importância aos produtos e serviços ambientais. Não fornece benefícios específicos diretamente. Essas políticas públicas não consideram planos de médio e longo prazo para o uso sustentável dos recursos naturais e não reconhecem que a 33 conservação do meio ambiente envolve diversas inter-relações, por isso as grandes corporações econômicas são caracterizadas pelo lucro. E esses são os fatores abióticos. Esses valores antropocêntricos sobre o ambiente se tornaram uma das principais causas da degradação ambiental; percebe-se devido ao uso dos recursos naturais a todo custo, motivo que tem sido identificado por estarmos vivendo sob as regras de uma ética antropocêntrica. A visão antropocêntrica turva o olhar a um ambiente dinâmico, podemos perceber, que o ambiente está estritamente ligado direta e profundamente com o conhecimento e a cultura especialmente a cultura tradicional e local. Como por exemplo a percepção de uma pessoa, parte de uma pequena comunidade que vive em uma floresta tropical na Amazônia, tendo ao seu redor a maior biodiversidade da Terra e convivendo com todas essas espécies de forma sábia e tranquila. Por muitos anos, essa pessoa utilizará e se apropriará de forma tradicional como sustento para sua família. Por uma outra vertente, uma pessoa que esteja acostumada com os hábitos da vida urbana, estando no ambiente de floresta tropical, não perceberá todas as formas de vida ao seu redor e, por muitas vezes, não se adapta por conta do medo e desconforto. Devido às atividades humanas, às características ambientais da Terra sofreram uma série de mudanças como por exemplo as doenças, disponibilidade reduzida de recursos, mudanças na paisagem natural e mudanças no clima da Terra que não são desejadas pelos próprios humanos. E por esse fato incontestável é que em meados do século XX, nos anos 1960, nos Estados Unidos, começou o processo de discussão e debates sobre o tema, especialmente sobre os impactos negativos ao ambiente e de que forma poderíamos medir esse impacto com o objetivo de melhorar a qualidade ambiental. No Brasil, o diagnóstico de impactos ambientais surgiu devido às exigências de organismos financiadores internacionais, para que somente depois ser considerada uma informação importante e necessária ao sistema de licenciamento ambiental, e então só na década de 80 é que passou a ser integrada oficialmente como um instrumento do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama. A Constituição Federal de 1988 definiu como responsabilidade do poder público e da coletividade zelar por um ambiente qualitativo para que as atuais e as gerações futuras usufruam, e foi exigido que, para a instalação de qualquer obra ou atividade potencialmente causadora de degradação ambiental, fosse realizado um estudo prévio sobre os impacto ambientais, assunto 34 cuja normatização anterior era uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama, a Resolução 1/86, de 23 de janeiro de 1986. Conforme definido na Resolução 1/86, define-se como impacto ambiental “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afeta a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais”. Esta definição é bem ampla e destaca tanto os aspectos relacionados à qualidade de vida e à saúde do homem, como os aspectos referentes aos ecossistemas e ambientes naturais, incluindo a biota e os recursos naturais. O impacto ambiental pode ser quantificado numericamente, por exemplo, quanto dispomos de uma área com uma extensão conhecida que será alterada ao analisar este processo, sua duração e seu grau de permanência. Nesse sentido, é comum classificar os impactos ambientais de acordo com diferentes critérios: Tipo – o embate pode ser classificado em direto, quando seus efeitos são decorrentes de alguma etapa da atividade geradora a causa, enquanto os impactos indiretos decorrem de algum efeito secundário do empreendimento. Categoria de impacto – os impactos podem ser bons ou positivos, quando causam melhoria nos meios biótico, físico e socioeconômico, ou então ruins ou negativos, quando seus efeitos sobre alguns destes meios instigam a provocar algum tipo de alteração indesejável. Área de abrangência – os impactos podem ser classificados como locais, quando seus efeitos ocorrem na área de influência direta do empreendimento, ou regionais quando seus efeitos manifestam-se na área de influência indireta. Duração – tais impactos podem ser momentâneos, como muitos que são registrados na fase de implantação de um determinado empreendimento, ou duráveis, quando os efeitos incidem de forma contínua sobre algum dos meios considerados. Reversibilidade – um impacto pode ser reversível, quando seus efeitos são temporários e podem ser diminuídos; ou irreversível, quando seus efeitos, uma vez estabelecidos, não têm 35 possibilidades de retorno à condição original. temos como exemplo a supressão da vegetação pelo enchimento de um reservatório de hidrelétrica este é considerado um impacto irreversível. Magnitude – os impactos podem ser classificados em graus como forte, médio, fraco e variável, dependendo da intensidade com que manifestam seus efeitos. Prazo – os impactos na maioria das vezes são a curto, médio e longo prazo, há alguns que são percebidos de imediato, quando acontece logo no início de um empreendimento, ou a médio prazo, quando seus efeitos manifestam-se depois de um certo tempo de execução do empreendimento, ou então a longo prazo, quando seus efeitos manifestam-se normalmente após alguns anos de implantação e operação de um certo empreendimento. Os impactos de um empreendimento devem ser listados em matrizes de análise, onde há a classificação de cada impacto sendo feita segundo diferentes critérios, buscando definir possibilidades de sinergismo entre os impactos, e considerando as diferentes fases de empreendimento. As fases normalmente são consideradas como: as fases de planejamento, implantação e operação – podendo em alguns casos haver a etapa de desativação, como acontece em alguns tipos de mineração e em aterros sanitários. 1.2. O Impacto Ambiental e seus conceitos A superfície das áreas degradadas aumenta a cada dia em todo o mundo a uma taxa muito rápida. A flora, a fauna e a riqueza cultural foram perdidas e permaneceram apenas nos arquivos e memórias dos antigos. O surgimento de problemas sociais e ambientais (como uma ameaça à existência de vida na Terra) é um fenômeno relativamente novo para a humanidade. Quando as pessoas se afastam do processo natural, elas começam a ver o meio ambiente como um conjunto de recursos disponíveis e não mais como um todo equilibrado. Essa forma de relacionamento provoca sérias mudanças no ambiente natural, que também é afetado pelas mudanças na natureza. Uma diferença importante entre as duas formas de mudança é que as mudanças humanas ocorrem muito rapidamente, enquanto as mudanças naturais ocorrem em uma escala de tempo muito lenta. 36 As mudanças provocadas pelos homens, advindas de suas atividades, têm como consequência os embates ambientais, que podem ser de grandezas diferenciadas – como, por exemplo, a construção de uma hidrelétrica, que gera um grande impacto ambiental e de forma significativa, e a construção deuma ponte que liga dois bairros em uma cidade, de certa forma gera um pequeno impacto. No Brasil, nesse contexto, a análise de potenciais impactos ambientais provenientes de atividades humanas surgiu pela primeira vez pelo Decreto-Lei 1.413/75, do governo federal. O referido diploma legal introduziu em nosso ordenamento jurídico o zoneamento das áreas críticas de poluição. No início da década de 80, somente era exigido o estudo de impacto ambiental para a instalação de pólos petroquímicos, cloroquímicos e carboquímicos, instalações nucleares e outras, definidas em lei, para zoneamento estritamente industrial em áreas críticas de poluição. O instrumento legal era a Lei 6.803/80, que estabeleceu de forma clara e precisa a necessidade da avaliação do impacto ambiental dos empreendimentos industriais. Um ano mais tarde, por meio da Lei 6.938/81, fomentada em razão dos altos índices de poluição verificados em centros industriais como Cubatão, no estado de São Paulo, e Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, marcou-se uma mudança significativa e qualitativa no sistema legal de proteção ambiental, pois buscou-se criar um sistema estruturado e organicamente coerente de medidas a serem adotadas para alcance dos objetivos fixados naquele texto normativo. A avaliação de impacto ambiental (AIA), por força da Lei 6.938/81, foi elevada à condição de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9, III). A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81) contribuiu para o avanço, de forma significativa, a gestão ambiental no Brasil, principalmente no que se refere ao licenciamento ambiental, tendo como grande resultado a previsão da avaliação de impactos ambientais, ainda que de forma genérica, em relação à lei do zoneamento industrial, pois esta se limitava a contemplar o EIA tão somente para atividades industriais. A regulamentação da referida lei foi feita por Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama (Resolução 001/86), que foi e ainda é muito criticada por juristas e técnicos da área, que consideram como adequada para se ter segurança jurídica a regulamentação por decretos ou leis. 37 De acordo com a Resolução 001/86 do Conama, impacto ambiental pode ser definido como: Art. 1° Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais. (CONAMA, 1986) Conforme o inciso II do artigo 6° dessa resolução, o impacto ambiental pode ser positivo ou negativo, podendo proporcionar ônus ou benefícios sociais. Após a publicação da referida resolução, as avaliações de impactos ambientais começaram a ser concretizadas, especialmente em grandes obras. Os principais impactos ambientais previstos na Resolução 01/86 do Conama são: • recursos hídricos – afetam quantidade, qualidade, acesso e sazonalidade; • fauna – afetam a população, bem como seu fluxo gênico e seus habitats; • flora – afetam a composição e densidade da vegetação natural, produtividade, espécies-chaves e conectividade entre ambientes; • saúde – afetam a proliferação de vetores e patologias; • solos – afetam e provocam erosões, perdas de produtividade agrícola, aumento da salinidade e perda de nutrientes; • ecossistemas especiais – afetam ecossistemas vulneráveis e com baixa resiliência (baixa capacidade de auto recuperação). Os impactos ambientais possuem dois aspectos principais: a magnitude e a importância. A magnitude se refere a grandeza de um impacto em termos, podendo ser medida a alteração no 38 valor de um fator de interesse – como, por exemplo, a velocidade da correnteza de um rio antes e depois do impacto ambiental. Por meio de diversos métodos, o impacto ambiental deverá ser medido com indicadores quantitativos ou qualitativos dos meios físico, biótico e socioeconômico. A importância corresponde ao nível de significação de um impacto em relação ao fator ambiental afetado e a outros impactos como, por exemplo, a mineração de determinada área que provoca e gera a extinção de uma espécie endêmica, resultado da ação do impacto ambiental. Assim, mesmo com uma magnitude pequena, ou seja, que tenha ocorrido em uma pequena área, os impactos poderão ter uma grande importância. Os impactos ambientais podem ser múltiplos e gerados por ações dos seres humanos, sendo importante conhecer suas diversas características. a) Características de valor: ◦ Impacto positivo ou benéfico – quando a ação é resultado de melhoria da qualidade ambiental, podendo ser de um ou mais fatores, como, por exemplo, o aumento e elevação da vegetação natural em uma determinada região proveniente de projetos de restauração florestal. ◦ Impacto negativo ou adverso – Quando as ações prejudicam a qualidade do meio ambiente. Isso pode ser devido a um ou mais indicadores, por exemplo, a morte de um peixe em um determinado rio próximo à ação em questão. b) Características de ordem: ◦ Impacto direto – são consideradas as modificações ambientais que mostram uma relação inicial, de primeira ordem, com um fator importante. Por exemplo, uma mortandade de peixes devido a um derrame de produto tóxico num rio. Impacto indireto – quando por exemplo uma ação é induzida desencadeia uma sequência de modificações de segunda ordem. Por exemplo, as chuvas ácidas, que têm sua origem na poluição atmosférica por óxidos de enxofre, nitrogênio e outros elementos químicos. Características espaciais: Impacto local – quando a ação afeta apenas o próprio lugar e seus arredores. 39 Impacto regional – é quando um efeito se ecoa por um território além das imediações do local onde se dá a ação. Impacto estratégico – quando é afetado um componente ambiental de importância coletiva ou nacional. Características temporais ou dinâmicas: Impacto imediato – quando o efeito surge no momento em que a ação é executada. Como já mencionamos, a mortandade de peixes advindos de produtos tóxicos da ação é um exemplo. Impacto em médio ou longo prazo – quando o efeito se manifesta depois de passar certo tempo após a ação. Por exemplo, a eutrofização de cursos d'água decorrentes da deposição de fertilizantes de áreas agrícolas e carreados para os rios por enxurradas de chuva. Impacto temporal – quando o efeito ainda permanece, mas por um tempo determinado após a execução da ação como, por exemplo, o período de adaptação de ecossistemas represados. Impacto permanente – quando, uma vez executada a ação, os efeitos não cessam de se manifestar num horizonte temporal conhecido. Por exemplo, a modificação do leito de um rio. Considerando tais características, podemos notar que elas estão inter relacionadas e, dependendo do grau do impacto em sua magnitude, importância e ações de tornar menos intenso que chamamos de mitigação e compensação a serem desenvolvidas após a execução da ação, os impactos ambientais podem retroceder conforme a possibilidade de o fator ambiental afetado retornar às suas condições originais. Entre os impactos totalmente irreversíveis e os reversíveis existem infinitas gradações. Reverter um fator ambiental às suas condições anteriores pode ocorrer naturalmente ou como sendo resultado de uma possível intervenção humana. É de suma importância deixar claro que uma característica dos impactos ambientais é que ocorre desigualdades nos resultados da ação conforme a distribuição social, uma vez que, de forma global, a classe mais pobre sempre tem sido a mais afetada, como, por exemplo, por meio da redução de acesso à água potável, da reacomodação habitacionalem áreas urbanas periféricas e da perda de identidade com seu local de origem. 40 A CF/88 significou uma profunda mudança na natureza jurídica do estudo de impacto ambiental. Atualmente, o EIA é um instituto constitucional cuja importância vem aumentando, especialmente após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1992 (Rio 92). A Carta Magna, dedicando capítulo próprio ao meio ambiente, elevou-o à categoria. O bem que é de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida foi incumbindo ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo e defendê-lo para as presentes e as gerações futuras. Para assegurar o direito fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (CF/88, art. 5°, LXXIII), a Lei Maior encarregou ao Poder Público (em suas três esferas: federal, estadual e municipal) o papel de exigir o EIA para a instalação de obra ou atividade com potencial de causar degradação ambiental significativa, devendo, inclusive, assegurar a sua publicidade (art. 225, §1°, IV). Assim, os parâmetros estabelecidos na Constituição não determinam penalidades ou sanções, mas têm o poder de realmente criar regras executórias para garantir a proteção do meio ambiente. Com a prerrogativa de o direito de todos não ser exclusivamente a proteção do meio ambiente em si ou de determinado ambiente, mas sim o equilíbrio ecológico e a qualidade do ambiente, consideram-se essas qualidades como o bem da vida a ser tutelado, definido pela Constituição da República como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (BRASIL, 1988). Entretanto, foi somente a partir da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Eco 92, que estados e municípios maiores começaram a criar materiais legais acerca do tema, dando mais especificidade e argumentação técnica para os estudos sobre os impacto ambiental, que por muitas vezes eram subjetivos, especialmente em pequenas obras. Capítulo 2 – Formas de Impactos ambientais Os estudos sobre os impactos ambientais para a obtenção de licenças de instalação e operação, devem abarcar as definições e os tipos de impactos ambientais que serão acometidos por um 41 determinado empreendimento, para que sirvam como subsídio aos planos de mitigação, compensação e recuperação ambiental. Sendo assim, neste capítulo apresentaremos, de forma técnica e embasada, os tipos de impactos ambientais com foco nos impactos ambientais diretos e indiretos, na temporalidade e nos impactos cumulativos. 2.1. Impactos ao meio ambiente Como a Revolução Industrial e a sociedade do consumo, que foram estimuladas pelo sistema capitalista, vêm promovendo grandes modificações nos ecossistemas do nosso planeta justamente por meio de ações de alto impacto ambiental. Vale salientar que chamamos aqui de impacto ambiental as alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, resultantes das ações antrópicas ou não. Entre as ações mais importantes destacam-se Poluição Fenômeno que pode alterar as propriedades físicas, químicas ou biológicas de um ecossistema e pode afetar a qualidade de vida das espécies em determinados locais, ou as propriedades físico- químicas dos minerais existentes. Desde a Revolução Industrial, que o impacto da poluição no meio ambiente tornou-se mais frequente. Alguns dos impactos ambientais que ocorrem em diferentes escalas e como resultado da poluição são descritos a seguir. Inversão térmica Chamamos de inversão térmica o fenômeno meteorológico que ocorre principalmente nas metrópoles onde há grande concentração de indústrias e Consequentemente grande quantidade de partículas poluentes em suspensão no ar. A inversão térmica ocorre quando uma camada de ar frio se sobrepõe a uma camada de ar quente, impedindo o movimento ascendente do ar e fazendo com que os poluentes se mantenham próximos à superfície. As inversões térmicas são fenômenos meteorológicos que ocorrem durante todo o ano, sendo que, no inverno, elas são mais baixas, principalmente no período noturno. Sua área de abrangência é local. Em um território com muitas indústrias e de tenha muita circulação de veículos, como o das cidades, a inversão térmica pode levar a altas concentrações de poluentes, podendo ocasionar 42 sérios problemas respiratórios, atingindo principalmente idosos e crianças. O fenômeno da inversão térmica vem se tornando um grave problema de saúde pública nos grandes centros urbanos. Chuvas ácidas A junção de poluentes em suspensão na atmosfera, principalmente do dióxido de enxofre e de nitrogênio, ao entrar em contato com o nitrogênio presente na atmosfera, acumula-se até atingir o ponto de saturação. Após atingir esse ponto, essas substâncias se juntam e resultam sob a forma de chuvas ácidas. Ao caírem na crosta terrestre carregam uma boa parte dos poluentes que estavam em suspensão. As águas das chuvas, assim como o orvalho, a geada, a neve, e até mesmo a neblina, ficam carregadas de ácido sulfúrico ou ácido nítrico. Ao se precipitar sobre a superfície, alteram a composição química do solo e das águas, isso destrói florestas e lavouras, atacando até mesmo estruturas metálicas como monumentos e edificações. Efeito estufa Chamamos de efeito estufa o fenômeno de aquecimento do globo terrestre causado por alto grau de poluição atmosférica. O gás que causa esse efeito impede a dispersão da luz solar. Os principais são compostos de dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e clorofluorcarbono. A maior parte vem da queima de combustíveis fósseis. Nos últimos anos, o aumento da industrialização e da população mundial e, consequentemente, o aumento da poluição e a emissão desses gases vêm sendo apontados como as principais causas desse fenômeno. Outro fato que agrava e é apontado pelos cientistas é o desmatamento de florestas, principalmente quando causado por queimadas. Segundo as estimativas do Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas, a temperatura média global subiu 0,6°C no século XX e esse aumento pode elevar-se em mais de 1°C até 2030. Percebe-se como ponto extremamente relevante o seguinte: na realidade, o efeito estufa já existe na Natureza e sem ele o Sol não conseguiria aquecer a Terra o suficiente para que ela fosse habitável. Portanto, o efeito estufa não é maléfico à Natureza. O que é altamente prejudicial ao planeta é justamente o aumento e sua intensificação. 43 São as principais consequências do aquecimento global na Terra: - derretimento das calotas polares, causando o aumento do nível dos mares e oceanos; - a perda da biodiversidade; - o aumento da incidência de doenças transmissíveis por mosquitos e outros vetores e a intensificação de fenômenos tais como: secas, inundações, furacões, tempestades tropicais, desertificação, aumento da fome gerado pela perda de áreas agricultáveis; - o aumento do fluxo migratório em várias regiões do planeta, problemas com o abastecimento de água doce, entre outros. 2.2. Os Impactos considerados diretos e indiretos Os impactos ambientais possuem dentre essas características a natureza de ordem, ou seja, podem ser diretos, como, por exemplo, uma área diretamente afetada construção de uma hidroelétrica, ocorre que rios são represados e, de forma rápida, a paisagem muda, formando grandes lagos, deixando inundado ecossistemas ribeirinhos, cultivos agrícolas ou até mesmo aglomerados humanos. Esses efeitos também podem ser indiretos, como por exemplo a construção de uma hidroelétrica que, por formar uma barragem no curso do rio, provoca modificações das dinâmicas de corredeiras, afetando os tipos de peixes que ocorrem naquele local. Essa influência vai desde a redução da população de determinadas espécies até o aumento expressivo de outras. Os impactos ambientais diretos são modificações ou perturbações de primeira ordem em determinadosfatores ambientais, como o solo, os recursos hídricos, a biodiversidade, o clima e as relações humanas. Têm como característica o fato de ser em uma perturbação não cíclica, ou seja, uma vez gerado o impacto pelo empreendimento pretendido, este imediatamente atua gerando desequilíbrios ambientais, em uma escala de tempo curta. Odum e Barrett (1983), estudando ecossistemas naturais durante as décadas de 1960 e 1970, observaram que as perturbações em um ambiente silvestre também ocorrem por um padrão natural de tempos em tempos, como, por exemplo, nevascas, incêndios florestais e até mesmo 44 enchentes. Esses acontecimentos são cíclicos, e os ambientes se recuperam rapidamente, pois possuem capacidade de resiliência. Uma vez que o modelo de desenvolvimento na atualidade é o acúmulo de capital para minorias, gerando desigualdades sociais extremas, deve-se procurar um meio-termo entre a quantidade de exploração dos recursos naturais e a qualidade do espaço para viver. Esse avanço econômico tem gerado impactos diretos em fatores ambientais que são base para a sobrevivência dos seres humanos, como, por exemplo, as águas para o abastecimento público. Segundo a Agência Nacional das Águas (BRASIL, 2015), 17 regiões metropolitanas no Brasil estão passando por grave crise hídrica, sendo as regiões de São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Florianópolis as mais críticas. Após ser colocado em prática o projeto de um empreendimento, e caso ele já tenha causado impactos de primeira ordem, vêm na sequência os impactos de segunda ordem, os quais podemos chamar de indiretos, que envolvem inúmeros e variados componentes inter- relacionados, como fatores físicos, biológicos e antropológicos (DIODATO, 2004). Para exemplificar essa definição, podemos citar a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no estado do Pará. Essa obra causou um debate técnico e político com grande magnitude e relevância em relação aos impactos ambientais gerados. Esse empreendimento faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e entre seus impactos ambientais indiretos está a imigração de dezenas de milhares de pessoas de diversas partes do Brasil para a região, buscando oportunidades diretamente na obra ou em serviços gerais. Como consequência deste, está o aumento significativo de desmatamento da Floresta Amazônica, proveniente desse fluxo de pessoas que buscam, nessa região, áreas novas para se estabelecerem. Faz-se relevante notar que os impactos ambientais indiretos são diretamente proporcionais aos impactos diretos, no que tange à sua magnitude e importância. Nessa interação e correlação, todo estudo de impacto ambiental deve, portanto, analisar e prever os reais impactos ambientais, diretos e indiretos, e traçar possíveis soluções. Isso se faz necessário para o planejamento das ações de mitigação e compensação ambiental às quais o empreendimento estará condicionado pelo processo de licenciamento ambiental. 45 2.3. Impactos de curta e longa duração Mudanças no equilíbrio ecológico e no impacto das atividades humanas no ecossistema da Terra passaram a ser a preocupação de alguns cientistas e pesquisadores na década de 1960, e a mais polêmica do mundo. Sem considerar o impacto no meio ambiente, é impossível implementar quaisquer projetos ou discutir quaisquer planos. A identificação dos tipos de impacto ambiental corporativo é feita principalmente por meio de estudos de caso, checklists de controle, opiniões de especialistas, revisões bibliográficas e matrizes interativas. Após essa análise, ele pode ser correlacionado com o conhecimento do horizonte de tempo e prever a duração de um determinado impacto. Um determinado impacto pode desestabilizar o meio ambiente. Em uma escala de tempo, pode ser direto, de curto, médio e longo prazos - as condições temporais desses quatro impactos ambientais podem ocorrer no mesmo projeto. O grau de estabilidade alcançado por um determinado ambiente ou ecossistema depende de sua história evolutiva. Por exemplo, nas mesmas condições climáticas, um ambiente com mais depósitos de matéria orgânica costuma ser mais complicado do que outro ambiente. Em geral, conforme explicado por Odum (2007), com o tempo, os ecossistemas tendem a se tornar mais complexos, com distúrbios aleatórios como tempestades e ciclones. O impacto ambiental depende do grau e do tempo da perturbação, e pode interromper essa dinâmica e afetar a resiliência ou regeneração dos processos do ecossistema, como a troca de energia entre meios físicos e biológicos. Portanto, fatores ambientais podem ser afetados em uma escala de tempo e, dependendo do grau, podem ser reduzidos ou não. Este conceito é muito importante em pesquisas de avaliação de impacto ambiental, pois os cenários resultantes podem auxiliar na tomada de decisões no processo de licenciamento ambiental. 2.4. Impacto imediato Quando o impacto nos fatores ambientais relevantes dura pouco tempo, determina-se o impacto ambiental direto que, consoante a situação, pode ser de até cinco anos (Portugal, 2012). Nesta escala de tempo, o impacto do impacto é refletido em diferentes níveis. Por exemplo, a poeira em um canteiro de obras pode ficar suspensa na atmosfera por vários dias, e até mesmo o ruído de uma máquina pode ser local ou se estender por vários quilômetros, como uma explosão de rocha. 46 O impacto desse tipo de impacto em áreas ou paisagens específicas pode representar um sério risco ao equilíbrio dinâmico dos ecossistemas naturais, pois eles podem ou não ter resiliência, tornando suas capacidades de auto recuperação muito vulneráveis (ODUM, 2007). 2.5. Impacto de curta duração Quando o impacto dos fatores ambientais relevantes dura 5 a 15 anos, é determinado o impacto ambiental de curto prazo (Portugal, 2012). Nesta escala de tempo, o impacto do impacto é refletido em diferentes níveis. Por exemplo, durante a construção de um projeto de grande escala, o esgoto doméstico é despejado nas hidrovias próximas ao projeto - como ferrovias, rodovias, rodas, energia hidrelétrica, etc. - Pode durar vários anos. O caso de construção de rodovias deve ser bem planejado em seu cronograma físico-financeiro para o cumprimento da execução, pois o processo erosivo gerado pela movimentação da terra pode causar graves impactos ambientais sobre os recursos hídricos - por exemplo, assoreamento de pequenos rios e túmulos Fragmentos florestais afetados e toda a biodiversidade. 2.6. Impacto de média duração O impacto ambiental de média duração acontece quando os efeitos sobre o ambiente em questão têm duração de quinze a trinta anos (PORTUGAL, 2012). Os recursos minerais se esgotam e não se renovam, deste modo a medida em que vão explorando a tendência é a escassez. Deste modo, ao observarmos a escala de temporalidade, os efeitos dos impactos ambientais são percebidos em diversos sentidos e em diferentes níveis. Assim, o principal impacto de média duração gera comprometimento em relação a auto recuperação dos ambientes naturais, como, por exemplo, no caso de uma área territorial que tem seu solo com intensa atividade e ao ponto de vista da biodiversidade e sua regeneração natural, todo o banco de sementes, raízes e outras formas de propagação são comprometidos, aquela área provavelmente se tornará estéril. 2.7. Impacto de longa duração O impacto ambiental de longa duração é determinado quando os efeitos sobre o fator ambiental em questão têm duração superior a trinta anos (PORTUGAL, 2012). 47 Dentro desse tempo de duração, os efeitos dos impactos ambientais podem ser percebidos e sentidos, como por exemplo, na perda de qualidade e quantidade de água de um manancial de abastecimento público advindo de empreendimento agrícola. Podemos citar que entre os principais impactos de longa duração gerados por essa atividade estão: - as inundações e o aumento na médiada vazão de pico, devido à compactação dos solos; - sedimentação e aumento no transporte de sedimentos para as calhas dos cursos d´água; - degradação do leito do rio e de seus habitats pela ocupação desordenada; - erosão das margens e do leito do rio; - perda das populações de peixes e de espécies aquáticas sensíveis a agroquímicos; - degradação da paisagem rural; - aumento da temperatura da água dos cursos d'água devido à ausência de matas ciliares. 2.8. Impactos cumulativos No Brasil a avaliação de impacto ambiental foi iniciada por meio de instrumentos jurídicos nos anos 80, e sua prática ainda mais comum é justamente a análise no nível de projeto, deixando de lado os chamados efeitos cumulativos, mesmo estando previstos na legislação. O desafio posto nos processos de licenciamento ambiental no Brasil é definir, de forma padronizada e metodológica, os critérios de impactos cumulativos a serem analisados nos estudos de impacto ambiental. As atividades de um empreendimento podem gerar variados impactos ambientais que, de forma geral, são pontuais, como, por exemplo, desmatamentos, extinção da fauna local, mudança de regime hídrico de um rio, entre tantos danos ambientais. O que não estão dando a devida atenção e o que não está sendo base para estudos de maneira mais específica e profunda são os efeitos cumulativos ao longo do tempo, como, por exemplo, o que determinada ação que está gerando um impacto ambiental vem provocando, somando e acumulando para o aquecimento global, a perda da biodiversidade, a redução da qualidade e quantidade de água de mananciais de abastecimento, a redução da camada de ozônio e a desertificação de ambientes produtivos. As comunidades humanas em seu cotidiano, estão acostumadas com políticas públicas de desenvolvimento econômico nas áreas urbana e rural, fomentando sem controle efetivo, por exemplo, aumentos de pátios industriais, lavouras agrícolas, expansão urbana e abertura de vias. Ao longo dos anos, essas práticas vêm causando uma série de transtornos locais, regionais e até 48 mesmo nacionais, como falta de água para o abastecimento humano e perda de produtividade agrícola, ocasionando migrações populacionais. Nos anos de 1980, os impactos cumulativos começaram a ser mais estudados sendo discutidos de que forma eles poderiam ser pesquisados, avaliados e mitigados. Alguns encontros internacionais e diversos pesquisadores debateram formas diversas para uma definição de impactos cumulativos e, a partir dos anos 90, uma definição consensual foi anunciada, e explicitada que os impactos cumulativos são, de forma geral, “o resultado líquido de impactos ambientais de diversos projetos e atividades”. Tais impactos cumulativos devem ter uma estratégia baseada nos sistemas ambientais, de modo a compreender de forma causal as respostas em relação aos fatores ambientais às perturbações geradas, direta ou indiretamente, pelas atividades e produções humanas, considerando sua resiliência, uma escala temporal (passado, presente e futuro), sua complexidade organizacional, entre outros. Uma definição mais detalhada e, de maneira ampla, adotada por diversos países, fez com que fosse criado a Política Nacional Americana de Meio Ambiente (Nepa), por meio da norma CEQ 40 CFR 1500, na seção 1508. Definiu-se impacto cumulativo como: [...] o impacto sobre o meio ambiente que resulta do impacto incremental da ação quando adicionado a outro passado, o presente e as futuras ações razoavelmente previsíveis, independentemente da agência (federal ou não) ou pessoa que exerça essas outras ações. Os impactos cumulativos podem resultar de ações individualmente menores mas coletivamente significativas que ocorrem durante um período de tempo. (NEPA, 1969, tradução nossa) E ainda, Oliveira (2008) traz a luz uma discussão mais ampla e abrangente, em que também ocorrem efeitos cumulativos e consequências para fatores culturais e socioeconômicos, resultantes dos impactos físicos e biológicos, e que devem ser incorporados nos estudos e nas medidas de mitigação do dano ambiental. No contexto jurídico brasileiro, os impactos cumulativos estão definidos e têm traçadas suas diretrizes para estudos e avaliação na Resolução 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em seu artigo 6°, inciso II, que diz: Art. 6° - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas: 49 [...] II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais. (CONAMA, 1986) Com base nessas definições, o processo de nomeação e identificação de impactos ambientais deve ser desenvolvido por meio da análise dos aspectos da atividade e dos fatores ambientais impactados diagnosticados para a área de estudo a longo prazo, incluindo seus efeitos cumulativos. Do ponto de vista da sua função específica o componente ou do elemento ambiental no funcionamento do sistema deve ser analisada, junto com o componente ambiental, do ponto de vista da cumulatividade e da sinergia, considerando os seguintes pontos: seu estado atual, as transformações ocorridas no passado e as tendências que se configuram para o futuro, e além de sua capacidade para assimilar novas transformações ou resiliência. Por ser uma análise integrada aos impactos ambientais incidentes em um determinado local, de suas causas reais e de seus efeitos, pode gerar instrumentos de gestão mais efetivos do ponto de vista da definição de responsabilidades e do controle de impactos. A avaliação diagnóstica dos impactos cumulativos enfatiza a importância da análise dos impactos avaliados em um estudo de impacto ambiental tradicional, porém, os classifica como pouco importantes, mas que, adicionados aos impactos pouco significativos de outros empreendimentos e atividades que ocorrem ou que venham a ocorrer na área estudada, podem causar impactos bastante significativos sobre o elemento em análise. A avaliação de impactos cumulativos deve ser feita considerando-se de forma integrada os três meios: físico, biótico e socioeconômico. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, publicou a Nota Técnica 10/2012 – CGPEG/DILIC/Ibama – Identificação e Avaliação de Impactos Ambientais (BRASIL, 2012), ou seja, para regulamentação e desenvolvimento desses diagnósticos e estudos, que busca trazer os conceitos sobre os potenciais de cumulatividade. Cumulativo: refere-se à capacidade de um determinado impacto de sobrepor-se, no tempo e/ou no espaço, a outro impacto (não necessariamente associado ao mesmo empreendimento ou atividade) que esteja incidindo ou irá incidir sobre o mesmo fator ambiental. Conforme observado por Sánchez (2006), uma série de impactos irrelevantes 50 pode resultar em relevante degradação ambiental se concentrados espacialmente ou caso se sucedam no tempo. (p. 4) [...] Não cumulativo: nos casos em que o impacto não acumula no tempo ou no espaço; não induz ou potencializa nenhum outro impacto; não é induzido ou potencializado por nenhum outro impacto; não apresenta interação de qualquer natureza com outro(s) impacto(s); e não representa incremento em ações passadas, presentes e razoavelmente previsíveis no futuro. (p. 12) [...] Nos casos em que o impacto incide sobre um fator ambiental que seja afetado por outro(s) impacto(s) de forma que haja relevante cumulatividade espacial e/ou temporal nos efeitos sobre o fator ambiental em questão. indutor: noscasos que a ocorrência do impacto induz a ocorrência de outro(s) impacto(s). induzido: nos casos em que a ocorrência do impacto seja induzida por outro impacto. sinérgico: nos casos em há potencialização nos efeitos de um ou mais impactos em decorrência da interação espacial e/ou temporal entre estes. (p. 12) A potencialização dos efeitos não está ligada somente ao empreendimento estudado, mas ao fato de que pode influenciar outros na mesma microrregião ou até mesmo em macrorregiões. Destaca-se que não necessariamente essa potencialização dos efeitos está ligada somente ao empreendimento estudado, mas ao fato de que pode influenciar outros na mesma microrregião ou até mesmo em macrorregiões. 2.9. Gerenciamento de riscos ambientais Para administrar e gerenciar os riscos ambientais, deve-se associar a probabilidade de ocorrência com a magnitude do dano de um certo evento indesejável, resultando em três níveis possíveis: negligenciáveis – probabilidades e magnitudes de pequena monta. Exemplo: início de depósito de resíduos sólidos a céu aberto. No início é negligenciável, mas deve ser corrigido o mais breve possível; gerenciáveis – probabilidades e magnitudes controláveis, de maneira a serem aceitas pela comunidade. Exemplo: rompimento de um gasoduto em terminal petrolífero; não toleráveis – probabilidades e magnitudes que, uma vez associadas, não são aceitáveis e exigem ações que as minimizem. Exemplo: usinas nucleares. Para concluir, deve-se ressaltar os problemas relacionados aos aspectos da comunicação. Em função da sociedade considerada (valores éticos, morais, fiscalizadores etc.), os processos de gerir os riscos podem existir colocados em cheque, dadas as relações de preconceito popular, 51 ineficiência em fiscalizar e interpretar de forma equivocada a legislação, entre outros. Exemplos podem ser evidenciados, como o preconceito popular contra usinas nucleares, ineficiência na fiscalização da destinação de resíduos sólidos (lixões abastecidos pelo próprio poder municipal), interdição de obras de estações de tratamento de esgotos por promotores equivocados, entre outros. Capítulo 3 – A Política Nacional para o Meio Ambiente A cisma com a conservação e preservação dos recursos naturais é um tema bastante comum para estudiosos, filósofos, pensadores, cientistas, religiosos e leigos. No Brasil, uma obtenção democrática para a efetiva direção ambiental foi possível por meio da Política Nacional do Meio Ambiente, que trouxe sistematização em processos, padrões e conceitos. Neste capítulo abordaremos aspectos da Política Nacional do Meio Ambiente, dando enfoque para os seus antecedentes históricos, conceitos e diretrizes, além de seus instrumentos, que são o Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente), o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e, ainda, as penalidades previstas. 3.1 Antecedentes históricos O Brasil é um país que possui excelentes condições climáticas pois está situado em uma região geográfica da Terra favorecendo a proliferação da vida e tendo como resultado uma enorme biodiversidade, distribuída nos quatro cantos do país. Somada à biodiversidade, à riqueza de recursos hídricos, de minérios e de fertilidade faz com que o Brasil seja uma potência ambiental. Nesse contexto, podemos dizer que os povos nativos, distribuídos atualmente em aproximadamente 240, sempre souberam apurar esse exagero de recursos naturais para sua sobrevivência e, ao longo de milênios construíram um cultivo de aproximação com a natureza incluindo verdadeira sustentabilidade, em quão os processos naturais foram observados por gerações e compreendidos em sua aparência de gestão. Isto é, em sua técnicas de manuseio de caçada ou de extração de produtos madeireiros e não madeireiros sempre retiravam só a quantidade cuja falta a natureza consegue superar, mantendo para as futuras gerações os recursos naturais necessários à sobrevivência. 52 No século XX quando os colonizadores chegaram à América do Sul, e viram a floresta tropical presente na costa, a denominada Mata Atlântica, logo perceberam a abundância dos recursos naturais e se deslumbram com as possíveis formas de ocupação e exploração. E dessa mesma forma continuou nos séculos seguintes, especialmente com espécies arbóreas como o pau-brasil (Caesalpinia echinata), não apenas para o uso como madeira para móveis e construção civil, mas também com o uso de sua tintura para roupas da burguesia europeia. A exploração foi tão lucrativa, que Portugal, mesmo sendo dominador das terras brasileiras, determinou que esse local, abundante em recursos, e que lhes fornecia tantas riquezas receberia o nome de Brasil. Além da nobre madeira, as riquezas naturais eram tantas que logo os portugueses começaram a explorar também os minérios como ouro e prata, que possibilitaram riqueza e poder a Portugal. Com base nesse contexto de exploração, o primeiro sinal de alerta foi dado com relação à finitude dos recursos naturais, isso foi percebido pela coroa portuguesa instalada no Brasil no início do século XIX, que viu diversas espécies arbóreas de uso para construção civil e naval praticamente desaparecerem em razão da intensa exploração, prejudicando e impactando assim alguns de seus projetos de construção civil, movelaria e uso naval. Guarantã (Esenbeckia leiocarpa) e o pau-brasil eram espécies com excelentes propriedades para o uso na construção de móveis como camas, mesas, cadeiras e guarda-roupas, que eram muito utilizados pelos nobres da coroa portuguesa. O Brasil esteve diante de sua primeira lei ambiental devido a preocupação com o desaparecimento dessas espécies, elaborada pelo império por meio do parágrafo 12 do art. 5°, da Carta de Lei de 15 de outubro de 1827, que determinava a fiscalização das matas e interdição de cortes de madeiras de construção em geral. Diante do exposto, surgiu então a expressão “madeira de lei”. E décadas depois, muitas outras espécies arbóreas ameaçadas de extinção foram classificadas como imunes ao corte. Nesse mesmo período histórico, foi constatado o primeiro relato de crise hídrica no Brasil, nos arredores da sede imperial, em que inúmeros rios localizados na região da Tijuca, no Rio de Janeiro, e que abasteciam a cidade, começaram a diminuir de forma significativa sua quantidade de água. Deste modo foi constatado que o desmatamento das matas ciliares e nascentes para uso na produção de café e gado desequilibrou o regime hidrológico das microbacias hidrográficas. 53 Esses fatos e momentos foram importantes, pois trouxeram uma discussão para os meios científicos e políticos daquela época: os recursos naturais podem ser finitos se não manejados de forma adequada. No século XX, o primeiro instrumento jurídico ambiental de abrangência nacional foi o Decreto 23.793, de 23 de janeiro de 1934, que instituiu o Código Florestal Brasileiro (BRASIL,1934a), que tinha como foco preservar uma porcentagem, dentro de cada propriedade agrícola, dos recursos madeireiros que pela intensa exploração já se mostravam escassos em inúmeras regiões do país. Além disso, foi instituído o Código de Águas, pelo Decreto 24.643/34 (BRASIL, 1934b). Código Florestal de 1934 de caráter produtivo, foi o que trouxe os conceitos de reserva legal e de área de preservação permanente. Sabendo da importância das florestas nativas para o fornecimento de madeira para lenha de milhões de lares brasileiros, foi determinado que se reservasse 20% de florestas para tal fim. Do mesmo modo, foi determinado que, ao longo dos cursos d' água, deveriam ser mantidos pelo menos 5 metros de proteção. Nos anos e nas décadas seguintes, diversos instrumentos jurídicos como leis, decretos, resoluções e portarias foram instituídos visando à proteção e preservação do meio ambiente no território nacional, resultando, em 1981, por meio da Lei 6.938/81, na Política Nacional do MeioAmbiente, que foi um marco importante para o direito ambiental brasileiro, bem como para a proteção ambiental, surgida em meio a uma estrutura de poder autoritário do regime militar, que defendia o desenvolvimento econômico acima de tudo. A Política Nacional do Meio Ambiente, naquele momento, de fato atendeu às necessidades e as vontades da comunidade internacional na âmbito da ciência e da política, que já estava em ampla discussão desde a década de 1960, quando a jornalista Rachel Carson publicou seu livro intitulado Primavera silenciosa, em que questiona o intenso uso do agrotóxico DDT em lavouras agrícolas. Esse agrotóxico exterminou uma série de espécies de peixes e aves, contaminando também inúmeras pessoas. Nos anos 70, diversos movimentos que defendiam essa ideia ambiental já alertavam para a necessidade da humanidade rever sua forma de desenvolvimento. A Lei 6.938/81 organizou centenas de iniciativas dos poderes municipais e estaduais, que neste instante tinham a essencialidade de ordenação do aproveitamento dos recursos naturais de forma regionalizada, incorporando e aperfeiçoando normas e instrumentos jurídicos que se 54 encontravam em plena vigência. Como forma estratégica de compor todos esses instrumentos foi instituído o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), integrado por todos os entes federativos aos quais delimitou competências. Entre os principais meios jurídicos nacionais que historicamente antecederam e fomentaram a criação da Política Nacional do Meio Ambiente, deixa claro e evidente que o Brasil já estava se atentando para a necessidade de preservação dos recursos naturais, especialmente os que já estavam se tornando escassos. No entanto, mesmo com esse quadro, o Brasil foi o principal país em desenvolvimento que se posicionou contra as práticas preservacionistas amplamente debatidas em 1972, com a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ONU, 1972), realizada em Estocolmo, alegando seu direito ao desenvolvimento. A lei da Política Nacional do Meio Ambiente trouxe uma contribuição extremamente importante para o âmbito da legislação ambiental, contribuindo de forma significativa para os futuros ordenamentos jurídicos, essa contribuição foi o justamente o conceito de meio ambiente, expressamente determinado no artigo 3°, inciso I, como “o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Essa estabilização pela Política Nacional do Meio Ambiente, contudo, foi de feição jurídico, sendo questionada nos campos técnicos e científicos e aprimorada alguns anos mais tarde pela Constituição Federal de 1988, quão traz, em seu artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Essas discussões que proporcionada pela Política Nacional do Meio Ambiente se aprofundaram na década de 90, advindos da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a ECO 92 ou Rio 92, abordando os aspectos da visão antropocêntrica do Poder Público e da sociedade civil sobre a necessidade de preservação e proteção da natureza. A manutenção da qualidade de vida, conforme apresentado e normatizado pela CF 88, depende do equilíbrio ecológico, ou seja: todas as formas de vida têm seu papel importante. Diante desse cenário, a base fundamental das ações que são necessárias subsidiam a gestão ambiental brasileira ainda não estão presentes no ordenamento jurídico do Brasil, pois o país 55 possui uma estrutura legislativa ambiental com visão antropocêntrica, bastante complexa e de difícil compreensão em muitos casos, além das constantes alterações e do demorado processo de regulamentação dos diplomas legais. 3.2. Conceitos, princípios e diretrizes Os desafios da gestão ambiental são diversos em um país que é o maior da América Latina, quinto do mundo em área territorial, com 8.514.877 km2 (IBGE, 2016), com regiões climáticas bastante diversificadas (indo de regiões tropicais a áreas temperadas e semi áridas) e dividido em sete biomas, além de possuir a maior biodiversidade da Terra. Adicionando a esses pontos, deve-se considerar em processos de gestão pública a sociobiodiversidade do Brasil, que, segundo dados do IBGE (Censo 2010), possui uma população total de 190.755.799 habitantes, o que posiciona o Brasil entre o mais populoso do mundo, tendo uma riquíssima diversidade étnica e cultural, plural em sua identidade. No fim dos anos 70 e início dos 80, os resultados das discussões da Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano, realizada pelas Nações Unidas no ano de 1972 em Estocolmo, colocava o ser humano como o centro das questões ambientais, estabelecendo princípios que deram início a grandes modificações, entre elas, as de criação e alteração de legislações por todo o mundo. Nesse cenário, em meio ao regime da ditadura militar, que priorizava o desenvolvimento acima de tudo, surpreendentemente sob uma ótica comum, governo, oposição, empresários, produtores rurais e sociedade civil organizada se uniram e praticamente por unanimidade, pois só teve dois votos contrários, foi aprovada a Lei 6.938, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Desta forma, a Política Nacional do Meio Ambiente trouxe um avanço histórico do ponto de vista jurídico e técnico ambiental, pois de forma organizada apresentou metas, instrumentos e diretrizes. E ainda foi criado, por meio do artigo 6°, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), constituído pelos órgãos e pelas entidades da União, dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. Nos incisos do mesmo artigo podemos encontrar a estrutura do órgão superior, formado por um conselho do governo de caráter consultivo e deliberativo denominado Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). 56 A Lei 6.938/81 é a legislação mais importante do Brasil depois da CF 88, tendo instigado uma ampla discussão nos meios acadêmicos, técnicos e políticos, tomando como base em seu texto as políticas públicas a respeito dessa temática. A lei mencionada organizou no âmbito nacional conceitos básicos, como o de meio ambiente, de degradação e de poluição, e determinou objetivos, diretrizes e instrumentos, organizando a gestão pública sobre o manejo dos recursos naturais, bem como sua preservação e conservação. Um avanço importantíssimo proporcionado foi de fato o incentivo econômico para políticas públicas que fomentem boas práticas de produção agrícola e conservação dos recursos naturais. No artigo 2° da Política Nacional do Meio Ambiente é discutido os princípios da preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Para tanto, os seus incisos apresentam os princípios a serem atendidos (BRASIL, 1981): I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais;VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. 57 Com dimensões continentais e um complexo e diversificado sistema de biomas, além de uma grande diversidade cultural, a definição de conceitos que devem ser utilizados de forma comum em todo o território, para fins de criação e de ordenamentos de instrumentos jurídicos, também foi um avanço significativo da Política Nacional do Meio Ambiente. Destaca-se portanto a difícil tarefa de conceituar os termos técnicos que devem ser debatidos e colocados em consenso por cientistas dentro dos centros acadêmicos e científicos; e que não é tarefa do legislador defini-los. deste modo, tendo como base as referências teóricas a respeito do assunto, em seu artigo 3°, entende-se por (BRASIL, 1981): I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Segundo Boff (1998, p. 73) “o ser humano precisa da natureza para o seu sustento e ao mesmo tempo a natureza, marcada pela cultura, precisa do ser humano para ser preservada e para poder manter ou recuperar seu equilíbrio”. Podemos dizer que a Política Nacional do Meio Ambiente estabeleceu o que foi sugerido pelo autor Boff, considerando o meio ambiente como o conjunto 58 de todo o patrimônio natural, físico e biológico (água, ar, solo, energia, fauna, flora), artificial (edificações, equipamentos e alterações produzidas pelo homem) e cultural (costumes, leis, religião, criação artística, linguagem, conhecimentos) que favorece o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. As metas centrais da Política Nacional do Meio Ambiente se dão no sentido de estabelecimento de padrões, regras e diretrizes que tornam possível o desenvolvimento sustentável, por meio de mecanismos e materiais capazes de conferir às questões ambientais uma maior efetividade de gestão no que diz à respeito sua melhor preservação e proteção, apresentando como algo novo a necessidade do Licenciamento Ambiental por meio de estudos sobre os impactos ambientais, cadastro de empreendimentos, atividades poluidoras e do zoneamento ecológico econômico. Art. 4° - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; 59 VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Art. 5.° - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no art. 2.° desta Lei. Parágrafo único - As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente. (BRASIL, 1981) Em 2006, ocorreu uma mudança da Política Nacional do Meio Ambiente focada na servidão florestal, e que depois de 2012 foi bem detalhada, com acréscimo de alguns artigos e veto a outros. A Lei que rege a Política Nacional do Meio Ambiente trouxe uma nova percepção, ou seja, um novo olhar de gestão pública dos recursos naturais, sendo incluídos a participação da sociedade civil, os ambientes artificiais, o desenvolvimento socioeconômico, a segurança nacional e, especialmente, a dignidade humana, que permite potencializar e fomentar um futuro digno para as gerações futuras, com qualidade de vida e garantia dos os bens essenciais à vida, que são os recursos naturais. 3.3 Sisnama, Conama e penalidades A Lei 6.938/81 criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e, por fim, definiu penalidades para pessoas físicas e jurídicas que cometem danos ao meio ambiente. 3.3.1 Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2016), o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), é constituído de forma descentralizado de gestão ambiental, criando uma rede articulada de organizações nos diferentes âmbitos da federação, sendo órgãos e entidades 60 da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e pelas fundações instituídas pelo Poder Público responsáveis pela proteção e pela melhoria de qualidade do ambiente. A estrutura do Sisnama se dá da seguinte forma: • órgão superior – Conselho de Governo; • órgão consultivo e deliberativo – Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama); • órgão central – Ministério do Meio Ambiente (MMA); • órgão executor – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); • órgãos seccionais – órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programa e projetos e também pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar degradação ambiental; órgãos locais – órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e pela fiscalização dessas atividades em suas respectivas jurisdições. No Sisnama, os órgãos federais têm como papel a coordenação e a emissão de normas gerais para a aplicação da legislação ambiental em todo o país. Esse sistema também é responsável, entre outras atividades, pela troca de informações, formação de consciência ambiental, fiscalização e licenciamento ambiental de atividades que afetem dois ou mais estados, cabendo ao Ibama a tarefa de emitir tais licenças. Para os órgãos estaduais fica determinado as mesmas atribuições, abrangendo seus territórios à criação de leis e normas que são complementares, podendo, inclusive, ser até mais restritivas em relaçãoàs de nível federal, dependendo do caso e da especificidade (MILARÉ, 2004) – trazemos como exemplo, o combate à escassez de recursos hídricos para consumo humano, o estímulo ao crescimento da consciência ambiental e a fiscalização e o licenciamento de obras que possam causar impacto em dois ou mais municípios. Essa mesma referência se repete para os órgãos municipais, responsáveis pelo ordenamento e pela elaboração de legislação ambiental específicas para seus territórios, que poderão ser mais específicas em relação às esferas estaduais e federais. 61 As medidas promulgadas do Sisnama devem ser regionalizadas pelos estados ao Distrito Federal e aos Municípios, elaborando normas e padrões supletivos e complementares. Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2016), os órgãos seccionais apresentarão informações sobre os seus planos de ação e programas em execução, consubstanciadas em relatórios anuais, que serão consolidados em um relatório anual sobre a situação ambiental do Brasil, a ser publicado e submetido às considerações e à avaliação do Conama, em sua segunda reunião do ano subsequente. O modelo adotado pelo Sisnama foi de fato inovador para o Brasil na década de 80, momento em que o regime era o da ditadura militar. Essa referência, ainda aplicada, baseia-se no princípio do compartilhamento e da descentralização das responsabilidades pela proteção dos recursos naturais, em todas as esferas da federação e com a presença da sociedade civil organizada, por meio de seus inúmeros setores produtivos, como a indústria, a agropecuária e também os meios acadêmicos e científicos representantes de instituições de conservação da natureza, saúde, educação e segurança. 3.3.2 Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), composto por plenário, Cipam, grupos assessores, câmaras técnicas e grupos de trabalho que são presidido pelo ministro do Meio Ambiente, tendo sua secretaria executiva exercida pelo secretário-executivo do mesmo ministério. Tem como competência estabelecer, determinar, proporcionar, acompanhar, elaborar, avaliar e fiscalizar as ações socioambientais de interesse nacional. O Conama é formado por um grupo de gestores colegiados que se reúnem a cada 3 meses, no Distrito Federal, com representantes de cinco setores, sendo estes os órgãos federais, estaduais e municipais e o setor empresarial e a sociedade civil, tendo o plenário sua composição. Este conselho está organizado para a execução de sua gestão em câmaras técnicas, instâncias encarregadas de desenvolver, avaliar e relatar ao plenário as matérias de sua competência. Os grupos de trabalho são criados por tempo determinado para analisar, estudar e apresentar propostas sobre matérias de sua competência. 62 3.3.3 Penalidades No artigo 14 da Política Nacional do Meio Ambiente não só foi definido o conceito, e traçado novas diretrizes para a boa gestão ambiental brasileira, mas também legislou sobre as penalidades para as transgressões ambientais. o cumprimento e a obediência aos instrumentos jurídicos só acontece com mais eficácia se aplicadas forem aplicadas as penalidades à altura dos danos gerados, fortalecendo o controle e o respeito às regras legais por pessoas físicas e jurídicas (MILARÉ, 2004). O artigo 14 destrinchou as seguintes regras: Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios. II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à suspensão de sua atividade. §1° - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. §2° - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias previstas neste artigo. §3° - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do Conama. § 4° (Revogado pela Lei n.9.966, de 2000) § 5° A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de indenização e reparação de danos previstas no §1.° deste artigo. (Incluído pela Lei n. 11.284, de 2006) (BRASIL, 1981). Unidade III – Planejamento de Educação Sustentável Capítulo 1 – A institucionalização da Educação para o meio ambiente 63 1.1. A Educação Ambiental na Escola São muitos os tratados internacionais que abordam essa temática, entretanto o Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis, divulgado durante a ECO-92 e celebrado por diversas representações da sociedade civil – é o primeiro que trata especificamente da Educação Ambiental. Vejamos: “[...] a educação ambiental para uma sustentabilidade equitativa é um processo de aprendizagem permanente baseado no respeito a todas as formas de vida.” (Tratado de Educação Ambiental para as Sociedades Sustentáveis). A educação ambiental deve ser reconhecida como um componente político muito forte, o conceito de Educação Ambiental, bem como suas formas variadas de inserção curricular, foram se modificando ao longo do tempo. Tendo sua origem no movimento ambientalista, inicialmente a Educação Ambiental (EA) procurava envolver os cidadãos em ações ambientalmente corretas, visando preferencialmente à preservação e conservação da natureza. Atualmente, é considerada a necessidade de inserir outros aspectos, priorizando o desenvolvimento do pensamento crítico do aluno, estimulando uma visão mais equilibrada do homem, não só sobre o meio natural, mas também na sua trajetória social, e na formação cultural e ética. Com base em como originou a Educação Ambiental, o que se observa é que os sistemas de ensino ao longo do tempo absorveram a mesma prática da Educação Ambiental tal como era com os órgãos governamentais e não governamentais dedicados ao meio ambiente, sendo desenvolvida por meio de projetos pontuais e temáticos, promovendo um enfoque “extracurricular”. Esse modelo definiu o trabalho da Educação Ambiental nas escolas, tal prática perdura até a contemporaneidade. A legitimação da Educação Ambiental como política pública nos sistemas de ensino foi instaurada pela Lei 9.795, de 28 de abril de 1999, que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Essa lei determina a inclusão da Educação Ambiental de modo organizado e oficial no sistema escolar brasileiro. A educação ambiental é um componente importante e essencial e ao mesmo tempo permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal. (Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA). Ao ser 64 definidoas responsabilidades e inserir a EA na pauta dos diversos setores da sociedade, a PNEA institucionaliza a EA se torna objeto de políticas públicas. A promulgação dessa lei impulsionou a estruturação e o fortalecimento da Coordenação Geral de Educação Ambiental (COEA). O Plano Nacional de Educação (PNE), que definiu diretrizes para o período de 2001-2010, propôs para os Ensinos Fundamentais e Médios: “A Educação Ambiental, tratada como um tema transversal, será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em conformidade com a Lei 9.795/99”. E, ainda: “As novas estruturas curriculares deverão estar sempre em consonância com as diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Educação (CNE) e dos conselhos de educação dos estados e municípios e constituem a base das políticas de institucionalização da EA nos sistemas de ensino”. E mais: “Educação Ambiental é um dos instrumentos mais importantes para viabilizar o desenvolvimento sustentável como estratégia de sobrevivência do planeta e, consequentemente, da melhoria da qualidade de vida”. Durante a Rio 92, o MEC participou de um workshop sobre Educação Ambiental. Esse evento resultou na Carta Brasileira de Educação Ambiental. Esse documento reconhece que a lentidão da produção de conhecimentos e a falta de comprometimento real do poder público no cumprimento da legislação em relação às políticas específicas de EA em todos os níveis de ensino consolidaram um modelo educacional que não corresponde às verdadeiras necessidades do país. Foi por meio desse documento que outros eventos foram realizados, como o primeiro Encontro Nacional de Centros de Educação Ambiental (CEAs), e medidas foram tomadas, como a criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea). O Pronea sustentou a discussão de matrizes sequenciais que enfocam desde a identificação dos problemas socioambientais até o planejamento para introduzir a Educação Ambiental no currículo. 1.2. A criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), são o resultado de um longo processo de discussões sobre as reformas curriculares que tiveram início nos anos 80, esse documento norteador ressalta a importância da participação da sociedade no cotidiano escolar, como forma 65 de promover o exercício para a cidadania e a necessidade de articulação e integração entre as diferentes instâncias de governo. Os documentos ressaltam ainda a relevância da elaboração do projeto educativo da escola, inserindo procedimentos, atitudes e valores no convívio escolar e a necessidade de tratar de alguns temas sociais urgentes, de abrangência nacional, chamados de temas transversais. A princípio foram escolhidos os seguintes temas: meio ambiente, ética, pluralidade cultural, orientação sexual, trabalho e consumo. Os temas transversais, não fazem parte das disciplinas tradicionais; pois ultrapassam os seus limites e como são devem ser explorados nos conteúdos das disciplinas e trabalhados de forma articulada por meio de projetos. (Ministério do Meio Ambiente). Finalmente, em 1996, o Ministério da Educação e do Desporto publica a Implantação da Educação Ambiental no Brasil, que sintetiza as principais ações institucionais de Educação Ambiental e a trajetória da Educação Ambiental no Brasil até o final da década de 1990. Apesar de todas essas medidas, fica evidente que não havia uma definição nítida que apontasse para a construção de uma identidade da Educação Ambiental nos diversos sistemas de ensino. A proposta dessa temática como temas transversais no currículo foi uma novidade para o sistema de ensino que não pôde absorver de imediato nem como uma política educacional nem como prática pedagógica. Para pôr em prática tais ações que viabilizem a institucionalização da EA, inicia-se a gestão da Coordenação Geral de Educação Ambiental (COEA), que tem como objetivo precípua a institucionalização da EA nos sistemas de ensino (federal, estadual e municipal). Para cumprir esses objetivos, foi estabelecido como prioridade a implementação de uma política de formação continuada em serviço; a difusão de informações sobre a Educação Ambiental no ensino formal; e a articulação e fortalecimento de parcerias com os sistemas de ensino, universidades e ONGs. Entre os anos de 1991 a 1998, apesar do ser forte o caráter de apoio às ações de Educação Ambiental por parte do MEC, como a criação dos centros de educação ambiental, as políticas de capacitação para agentes multiplicadores e transações de divulgação dos trabalhos realizados pelas escolas percebe-se a sensibilização dos professores ao tema, porém, ainda assim essas 66 ações não penetram no universo das políticas públicas e nas ações educacionais como era o esperado. Dando continuidade às suas ações, a COEA inicia uma pesquisa com o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) sobre o estado da arte no ensino formal e para tal se vale do censo escolar da Educação Básica de 2001. É importante salientar que o censo escolar é respondido por cada unidade escolar do país (cerca de 177 mil escolas). E que os resultados apontam que, do total dos alunos do Ensino Fundamental, 71,2% estão em escolas que trabalham de alguma forma com a temática Educação Ambiental. Entre os alunos que frequentam da 5.ª a 8.ª séries, esse índice é de 73%, ou 11,4 milhões de estudantes. Já entre os alunos da 1.ª à 4.ª séries, 70% têm Educação Ambiental, o que corresponde a 13,8 milhões de estudantes. Esses dados, embora mostrem o interesse pela temática, não é possível avaliar a qualidade das ações em Educação Ambiental, mas reforçam a necessidade de estabelecer uma política efetiva sobre este assunto. Sendo assim, em 2001, foi lançado o Programa Parâmetros em Ação Meio Ambiente na Escola (Pama). Vale destacar também que, a partir de 2018, a educação passa a ser regulamentada pela Nova Base Nacional Comum Curricular - BNCC, que substitui os PCN's. Sua implementação tem caráter normativo e obrigatório, definindo as novas diretrizes da educação ambiental no Brasil. 1.3. As práticas de Educacionais Ambientais no sistema escolar Apesar de todas as medidas apontadas neste texto, podemos observar que a título de trabalho em Educação Ambiental nas escolas é uma prática bastante fragilizada e assistemática. De forma geral, as escolas reduzem sua prática de Educação Ambiental a projetos temáticos, desarticulados do currículo e das possibilidades de diálogo das várias áreas do conhecimento que envolvem o tema. Ocorrem frequentemente campanhas isoladas priorizando apenas as datas comemorativas. Essas iniciativas isoladas muitas vezes partem de um professor ou um grupo de professores interessados pela temática do meio ambiente. Deste modo, os projetos de Educação Ambiental, 67 por não estarem atrelados ao projeto educativo da escola, não oferecem aos professores condições espaciais, temporais e materiais para serem trabalhados de forma coletiva e integrada, dificultando sobre a forma do trabalho com a transversalidade e a interdisciplinaridade propostas para a inserção curricular da Educação Ambiental. Observa-se diversos projetos com objetivos genéricos e pouco claros, estratégias imprecisas e dirigidas a ações localizadas e descontextualizadas, sem avaliação locais e que se concentram puramente nos aspectos ecológicos, relegando a um segundo plano os fatores culturais, políticos, econômicos e sociais. Outra tendência para esse trabalho também muito observado é a de se trabalhar uma visão catastrófica do mundo, do futuro e das ações do ser humano, destacando sempre o problema e nunca a busca de soluções. Percebe-se claramente que apesar de todas as medidas tomadas por parte do governo, de ambientalistas e da sociedade civil como um todo, a Educação Ambiental ainda tem uma longa trajetóriaa seguir para alcançar a sua institucionalização no consciente coletivo da sociedade. Capítulo 2 - A Educação Ambiental e o currículo escolar 2.1. A Educação ambiental A escola é um local privilegiado, que deve ser reconhecida como um espaço para a reprodução das regras de convívio social e implementação de novos paradigmas, permitindo que as gerações presentes e futuras se integrem à malha social, diante desse cenário discutiremos neste capítulo a dimensão da Educação Ambiental e o currículo escolar. Para Guimarães (2004), educar ambientalmente vai além de sensibilizar a população para o problema. Ele nos diz que: “só a compreensão da importância da natureza não tem levado à sua preservação por nossa sociedade”. Sabemos que a Educação Ambiental não está restrita ao espaço escolar, mas temos que aceitar que o sistema escolar é um grande parceiro no processo de sedimentação de novos paradigmas para os atores que nela atuam, assim como para toda a comunidade onde ela está inserida. Segundo o mesmo autor, “a Educação Ambiental já está definitivamente incorporada à escola”. 68 De fato, o reconhecimento de que as atividades de Educação Ambiental são praticadas pela comunidade escolar já é senso comum. Porém, o que se observa é que essa prática está fragilizada de uma forma geral, principalmente pelas suas ações fragmentadas e dissociadas do contexto no qual se inserem. Segundo Guimarães (2004), o educador possui a vontade de trabalhar a Educação Ambiental de uma forma crítica e libertária, articulada com o exercício da cidadania, mas suas ações acabam se inclinando para a vertente da escola tradicional, conteudista e informativa, buscando muito mais a transmissão de conhecimentos do que a formação do pensamento crítico. Essa prática totalmente descontextualizada deve-se à crise em que os educadores vivem quanto à corrente tradicional e às teorias críticas. A Educação para o meio ambiente na sua concepção mais ampla, que é a formação de uma consciência cidadã planetária, visa resgatar o sentimento de pertinência dos educandos ao sistema planetário, como integrantes da natureza. Sendo assim, é necessário destacar que, sob esse aspecto, a Educação Ambiental só é concebida dentro das teorias educacionais críticas e sócio-interacionista. abaixo vejamos os principais pressupostos dessas teorias. A teoria da aprendizagem sociointeracionista, que tem em Vygotsky o seu principal representante, não entende o conhecimento como algo abstrato ou erudito que precisa ser apreendido para que o homem seja considerado como tal em seu meio. Ela é apoiada na ideia de que todo indivíduo possui uma maturação espontânea, tendo em vista que, para a aprendizagem ocorrer efetivamente, há a necessidade de se respeitar os estágios de desenvolvimento intelectual dos indivíduos. O desenvolvimento do sujeito acontece como um processo gradual e ascendente, precisando apenas acordar as competências nele adormecidas. Sendo assim, torna-se fácil perceber o real motivo pelo qual a Educação Ambiental trabalha numa perspectiva crítico-emancipatória é incompatível com a educação tradicional. Para Guimarães, confirma-se, assim, na Educação Ambiental, um conhecido lema ecológico: pensar globalmente e agir localmente. Ressalta-se que esse agir e esse pensar não são separados, mas sim constituem a práxis da Educação Ambiental, que atua consciente da globalidade que existe em cada local e indivíduo. 69 Dica de Leitura: GUIMARÃES, Mauro. A Formação de Educadores Ambientais. Campinas: Papirus, 2004. 2.2. Projeto Político Pedagógico Discutiremos a seguir o PPP - Projeto Político Pedagógico antes de qualquer projeto de trabalho no âmbito escolar, se faz necessário que se discuta em que tipo de escola ele está se implantando. O PPP permite-nos conhecer a escola. Historicamente o PPP surge com mais intensidade na década de 90, associado à organização do trabalho escolar de forma geral. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) coloca como uma das competências dos estabelecimentos de ensino a elaboração e também a execução de sua proposta pedagógica com a participação dos profissionais da educação. Busca-se, por essa lei, a reflexão conjunta e a definição de um projeto pedagógico socialmente situado e comprometido politicamente como condutores de uma nova prática de ensino. A LDB estabelece como competências dos estabelecimentos de ensino a elaboração e execução de sua proposta pedagógica com a participação dos profissionais da educação. Busca-se, por essa lei, a reflexão conjunta e a definição de um projeto pedagógico socialmente situado e comprometido politicamente como norteador de uma nova prática de ensino. Segundo o artigo 13 da Lei de Diretrizes e Bases: Lei 9.394/96 Os docentes terão como responsabilidade: Art. 13. [...] I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos. Além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. (LDB, 1996) Atualmente, os debates envolvendo questões pertinentes ao PPP vêm se tornando frequentes. Uma das razões de tais discussões se dá pela obrigatoriedade legal. Antes da LDB 9.394/96 esse documento escolar já existia e era chamado de planejamento. Entretanto, o que acontecia é que a formulação se dava de cima para baixo, ou seja, sem a participação dos envolvidos no processo 70 educativo da ponta, ou seja, dos participantes da escola, inclusive sem a participação da comunidade. O planejamento era feito pelos órgãos públicos responsáveis pela educação. Muitas vezes, os atores desconhecem e desconhecem a existência desse documento e, principalmente, o seu sentido verdadeiro. Por esse motivo é que os professores ficavam sem a resposta para a frequente pergunta: Para quais caminhos conduzir a Educação? O PPP é um suporte pedagógico importantíssimo para levar à reflexão sobre qual a escola que queremos? Para que a Educação Ambiental atinja toda a sua dimensão no espaço escolar, o PPP é um instrumento que deve ser criado coletivamente por todos os envolvidos no processo escolar, pela comunidade escolar. Dizemos, então, que o PPP é uma proposta de educação que tem por finalidade deixar claro para onde a educação deve ser encaminhada, sendo um instrumento mediador para a efetivação do vínculo teoria/prática. 2.3. Cotidiano da escola: uma prática sedimentada Na contramão da orientação do trabalho em grupo, uma prática-isolamento estabelecida pode ser observada no cotidiano escolar. No contexto da busca de soluções próprias e da organização descentralizada do trabalho docente, os professores estabelecem percursos pessoais, definem suas próprias regras e normas, além de orientar a relação professor-aluno, também definem procedimentos e objetivos de ensino para orientar sua prática docente. Isso pode explicar parte do enfraquecimento da prática de educação ambiental nas escolas. Ao desenvolver um PPP, faz-se necessário que seja desencadeado um processo de reflexão da escola por e para si mesma, que permite criar e determinar seus próprios objetivos e ações de forma coletiva. Esse processo portanto vai requerer um envolvimento participativo e que todos assumam suas posições de sujeitos desse processo, pois iniciar um PPP na escola significa tomar a escola para si. Por si só, o processo de implantação do PPP já faz parte da Educação Ambiental, uma vez que privilegia discussões tais como a qualidade de vida da comunidade ondea escola está inserida, entre outros. A tomada de decisões por parte dos sujeitos envolvidos na construção de PPP contribui para formar sujeitos autônomos, ativos ao mesmo tempo e, principalmente, coletivos. A sociabilidade, que é inerente ao processo, acaba por criar as condições para o compartilhamento, divergências, conflitos e superar situações colocadas pelo cotidiano escolar. 71 O PPP, ou mesmo a própria decisão do grupo de começá-lo, é o marco da mudança para a escola no sentido da construção da autonomia, da cidadania e, sobretudo, da construção de condições que irão possibilitar a transição da ordem autoritária para a ordem democrática. Para Medina e Santos (1999), um dos fatos que muito contribui para a prática fragilizada da Educação Ambiental nas escolas é que a comunidade entende a Educação Ambiental como um conjunto de ações inseridas no Projeto Pedagógico Escolar, quando na verdade a realidade é outra: a Educação Ambiental é a dimensão escolar e assim deve ser vista as políticas públicas na área educacional frequentemente apontam para as questões plurais, multiculturais e interculturais, chamando a atenção dos educadores para que as mesmas sejam contempladas nos PPP das escolas. Deste modo, diferentes autores apontam que os termos multiculturalismo e interculturalismo nem sempre nos remetem ao mesmo significado. Esta autora salienta que o termo currículo multicultural é ambíguo, pois pode significar a fachada de uma perspectiva assimilacionista ou uma perspectiva multiétnica, que serviria para minimizar preconceitos e incentivo à tolerância no convívio com as minorias, ou ainda uma perspectiva associada ao pluralismo cultural que busca proporcionar visões plurais da sociedade e de suas elaborações. Muito embora esse tema esteja muito presente quando se fala em currículos nacionais e internacionais, é expressado uma preocupação maior quando analisamos a globalização dos processos econômicos e tecnológicos e a mundialização da cultura. Além do perigo da “aculturação” de muitas comunidades, as escolas, de uma forma consciente ou não, privilegiam discussões de amplitude global em detrimento de discussões e tomadas de decisões locais. Um exemplo: Escolas da região Norte do país discutem muito mais os problemas do desmatamento da Amazônia, que reconhecidamente é um assunto preocupante, mas não discutem a vala negra que corre a céu aberto na sua comunidade, que causa impactos ambientais urgentes e com soluções possíveis através da mobilização comunitária. Portanto, é importante discutir a teoria e a prática dos educadores e fortalecer pesquisas sobre as tendências do ensino da interação social, sendo esta a única que pode realizar a educação ambiental no contexto escolar. Ressalta-se que a implantação de qualquer projeto de educação ambiental deve fazer parte do PPP, que é discutido democraticamente pelas diversas segmentos da escola. 72 Capítulo 3 - A formação do educador ambiental e os novos paradigmas A principal crítica levantada por Paulo Freire à educação diz respeito às suas características anti- dialógicas, que promovem práticas pedagógicas inadequadas – o que ele chamou de educação reprodutora ou bancária. Deste modo para proporcionar uma Educação Ambiental emancipatória livre das características anti-dialógicas é exigido uma nova postura docente diferenciada da postura apenas “conteudista” ou meramente repassadora de informações. Mais do que isso, por suas características críticas e reflexivas, a Educação Ambiental passa a exigir dos docentes uma postura política a ser desenvolvida por meio de novos paradigmas ambientais e educacionais. 3.1. O educador ambiental e sua formação A formação do educador, de uma forma geral, e do educador ambiental, de forma específica, está atrelada à uma visão funcionalista da educação que se implantou nos meios acadêmicos desde a primeira metade da década de 1970. Para Maciel e Neto (2002), nessa perspectiva, o professor era tido como um mero organizador dos componentes do processo de ensino- aprendizagem (objetivos, seleção de conteúdo, estratégias de ensino, avaliação etc.) que deveriam ser rigorosamente adequados e planejados para garantir resultados instrucionais altamente eficazes e eficientes. como consequência, a grande preocupação, no que se refere à formação do professor, era a instrumentalização técnica. Na segunda metade da década de 70 em diante, teve início um movimento contrário e de total rejeição aos enfoques técnico e funcionalista que predominaram na formação de professores até esse período. As teorias sociológicas, que consideravam a escola como reprodutora das relações sociais, chegaram às universidades e aos centros de formação de professores e a educação passou a ser vista, a partir daí, como uma prática social relacionada diretamente com o sistema político e econômico vigente. Com base nessa visão, a prática do professor não é mais considerada neutra, mas uma prática de educação, política e emancipatória. Para o autor, no início da década de 1980, o debate sobre a formação de educadores centrou-se em dois pontos básicos: o caráter político da prática docente e o compromisso do educador com a sala de aula. 73 Tais mudanças de enfoque na formação de professores teve reflexos na sociedade brasileira de superação do autoritarismo implantado a partir de 1964 e a busca por caminhos para a redemocratização do país. Nesse contexto, o debate sobre a formação de professores passou a incluir uma diversidade maior de temas, entre eles: formar professores ou educadores? O papel do educador dos anos de 1980 surge, então, em oposição ao especialista de conteúdo (conteudista). Ganha a dimensão que varia desde o “facilitador de aprendizagem”, até a de “formador e pesquisador” das condições de ensino-aprendizagem. Segundo Guimarães (2004), a Educação Ambiental, mesmo expandida para a maior parte das escolas, ainda apresenta uma prática pedagógica na atualidade ainda muito fragilizada, que pode ser esclarecida por vários motivos: a formação recente de um locus acadêmico em torno do tema e a também recente formação dos educadores ambientais (considerados agora a segunda geração); a formação dos educadores de uma forma geral e dos educadores ambientais ter ocorrido em uma perspectiva conservadora e conteudista; o campo de “disputa ambiental” que se dá entre a lógica conservadora e a proposta dialógica e reflexiva no campo educacional. Para Guimarães (2004): Os docentes que não conseguem ir além de uma proposta de educação, mesmo quando sensibilizados e motivados a inserir a dimensão ambiental em suas práticas educativas, é resultado de práticas escolares anti-dialógicas. Diante do exposto, pensar um novo fazer pedagógico é de suma importância para que a prática educativa seja voltada para a transformação, a criação e a construção de um novo mundo que seja ambientalmente, em sua concepção plena, sustentável. Segundo Guimarães (2004) muitos educadores ambientais tiveram uma formação conservadora, dentro do paradigma que a lógica econômica vem impondo à sociedade desde a Idade Moderna. Por isso, a prática pedagógica tende a reproduzir conceitos e padrões estruturados sobre os paradigmas conservadores da educação. Para Shiva (1991), a ideologia do desenvolvimento sustentável vem sendo constituída dentro dos limites da economia de mercado, oferecendo, portanto, soluções de mercado à crise ecológica. A ideia de “campo de disputa” estabelece-se no embate travado pelo pensamento conservador hegemônico e majoritário e o contra-hegemônico que se antagoniza com os paradigmas presentes e dominantes da sociedade moderna e discute a necessidade da criação de novos paradigmas na relação homem–produção–consumo–meio. 74 Para Milton Santos (1996), o mesmo sistema ideológico que justifica o processo de globalização, ajudandoa considerá-lo um único caminho histórico, acaba, também, por impor uma certa visão da crise e a aceitação dos remédios sugeridos. Por isso, todos os países se organizam, pois a formação conservadora dos mestres leva-os a pensar a Educação Ambiental sob essa ótica como um ‘caminho único’ e consequentemente reprodutor de conhecimentos ambientais historicamente acumulados. Para Leff (1998), esse pensamento conservador ambiental como “caminho único” está alicerçado em uma “inculcação ideológica” que ele chama de racionalidade instrumental. Sendo assim, o discurso dominante procura consolidar um consenso em torno da noção de sustentabilidade como forma de preservação da ordem estabelecida. Já para Sachs (2004), na realização do ecodesenvolvimento há a necessidade da constituição de três pilares: a eficiência econômica, a justiça social e a prudência ecológica. Esses pilares certamente não estão presentes na sustentação do atual modelo de desenvolvimento. 3.2. Paradigmas da Educação Ambiental A educação ambiental pressupõe que sejam realizadas novas reflexões, criando novos paradigmas. [...] o paradigma está oculto sob a lógica e seleciona as operações lógicas que se tornam ao mesmo tempo preponderantes, pertinentes e evidentes sob seu domínio. [...] O paradigma efetua a seleção e a determinação da conceptualização e das operações lógicas. Designa as categorias fundamentais da inteligibilidade e opera o controle de seu emprego. Assim, os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles. (MORIN, 1997) Sendo assim, para superar a crise ambiental da atualidade, não bastam as ações divulgadoras e reprodutoras em que a Educação Ambiental vem se calcando. É necessário que se supere os atuais paradigmas (caminho único). Isso se faz pelo engajamento coletivo de uma prática reflexiva das ações político-pedagógicas. Para Guimarães, essa tarefa não é fácil. Ele propõe onze eixos formativos que podem ser aplicados gradativa ou concomitantemente. 1.º eixo – exercitar o esforço de ruptura com a armadilha paradigmática. 2.º eixo – vivenciar o movimento coletivo conjunto, gerador de sinergia. 3.º eixo – estimular a percepção e a fomentação do ambiente educativo como movimento. 75 4.º eixo – formar o educador ambiental como uma liderança que dinamize o movimento coletivo conjunto de resistência. 5.º eixo – trabalhar a perspectiva construtivista da educação na formação do educador ambiental, já que a perspectiva da educação como transmissora de conhecimentos sistematizados (educação bancária) ainda é extremamente consolidada nas práticas dos educadores. 6.º eixo – fomentar a percepção que o processo educativo se faz aderindo ao movimento da realidade social, para, por meio do movimento, transformar a realidade. 7.º eixo – trabalhar a autoestima dos educadores ambientais, a valorização de sua função social e a confiança na potencialidade transformadora de sua ação pedagógica, articulada a um movimento conjunto. 8.º eixo – potencializar a percepção de que o processo educativo não se restringe ao aprendizado individualizado dos conteúdos escolares para a mudança comportamental do indivíduo, mas na relação do um com o outro, do um com o mundo. A Educação se dá na relação. 9.º eixo – sensibilizar o educador ambiental para uma permanente autoformação eclética, permitindo-lhe transitar das ciências naturais às ciências humanas e sociais, da filosofia à religião, da arte ao saber popular, para que possa atuar como um interlocutor na articulação dos diferentes saberes. 10.º eixo – exercitar a emoção como forma de desconstrução de uma cultura individualista extremamente calcada na razão, e a construção do sentimento de pertencimento ao coletivo, ao conjunto, ao todo, representado pela comunidade e pela natureza. 11.º eixo – estimular a coragem da renúncia ao que está estabelecido, ao que nos dá segurança, e a ousadia para inovar. Dessa forma, o educador ambiental estará apto a promover a articulação entre as diferentes áreas do conhecimento que compõem o saber ambiental. Estará apto a participar do processo de construção coletiva de um locus ambiental e a identificar as zonas de não resistência entre as diferentes áreas do conhecimento, estabelecendo a comunicação para que possa compreender e atuar de forma eficaz no processo de gestão de uma realidade complexa, como objetivo de superar os problemas ambientais que tanto afligem a sociedade contemporânea. Pretende-se assim que o educador ambiental com essa formação e por meio de uma prática pedagógica dialógica e reflexiva seja uma liderança que não se conforme apenas em promover 76 intervenções pontuais de caráter meramente informativo, mas que se envolva e envolva a comunidade escolar em processo educativo catalisador e gerador de movimento, visando ao processo de transformação social. Unidade VI – Desenvolvimento Sustentável Capítulo 1 – Planejamento das cidades Falar sobre desenvolvimento sustentável, remete à dualidade das cidades, com um paradoxo ambiental: por um lado, o volume populacional e de atividades econômicas concentradas em um espaço reduzido contribui para a redução dos impactos ambientais; por outro, o nível de consumo e de produção dos grandes centros urbanos leva a uma demanda por recursos naturais que vai muito além dos limites da cidade. Assim, a cidade se tornou o foco da crise ambiental atual, principalmente em cidades de países em desenvolvimento, por conta do processo de industrialização tardia e de urbanização acelerada e não planejada, levando à carência dos serviços públicos e de infraestrutura urbana. Dois fatores são considerados, sendo o aumento do consumo sem planejamento, além da limitação de recursos orçamentários e de pessoal capacitado para atender à política ambiental. No Brasil, existem legislações específicas para o tratamento dos resíduos sólidos e para os serviços de saneamento básico. Embora existam legislações ambientais, ocorre uma distinção da política ambiental entre grandes e pequenos municípios, principalmente quando se observa alguns serviços de saneamento básico, como drenagem urbana, coleta, tratamento e destinação do lixo urbano, esgoto e abastecimento de água. 1.1 A crise ambiental nas cidades Com os avanços da indústria e crescimento da população, as cidades se adequaram como novos centros econômicos e industriais, gerando aspectos positivos, mas também os aspectos negativos. Com a concentração populacional e econômica nos centros urbanos, essas contradições da cidade passaram a ser foco de debates. 77 Assim, os problemas urbanos viraram o objetivo de políticas públicas, pois após a década de 1980, viraram foco para a elaboração de políticas públicas, bem como na construção de novas leis voltadas para o planejamento urbano e para o desenvolvimento econômico. A situação de problemas ambientais é geral, pois ocorre em países desenvolvidos e em desenvolvimento. A crise ambiental é resultado do desenvolvimento econômico, do padrão de consumo e da organização territorial das cidades. O consumo refere-se às mercadorias, aos serviços, à energia e aos recursos que são esgotados pelas pessoas, instituições e sociedades. Esse é um fenômeno que apresenta tanto dimensões positivas como negativas. Por um lado, níveis crescentes de consumo em todo o mundo significam que as pessoas estão vivendo em melhores condições do que no passado. [...] Por outro lado, o consumo também pode trazer impactos negativos. Os padrões de consumo podem causar danos à base de recursos ambientais e exacerbar os padrões de desigualdades. (GIDDENS, 2005, p. 487). Em países não desenvolvidos, a economia urbana e o padrão de consumo das cidades produzem fortes impactos sobre o meio ambiente. Cidades grandes do Brasil, em seu processo de desenvolvimento econômico, por meio da industrializaçãotardia, baseado no modelo de importação de tecnologia e capital estrangeiros, sofreu impacto no fenômeno urbano acelerado. Com o aumento da poluição, bem como o crescimento desordenado da população, tornou-se necessária a criação de políticas públicas de proteção ao meio ambiente, como a Política Municipal de Saneamento Básico implantada pelo Decreto n. 7.217 (BRASIL, 2010), que estabelece, em seu artigo 23, que o “titular dos serviços formulará a respectiva política pública de saneamento básico”. No entanto, a Política Municipal de Saneamento Básico, se aplica efetivamente em municípios mais populosos, com mais de 500.000 habitantes, em razão de mais recursos disponíveis no orçamento público. Em relação a coleta de lixo, de acordo com IBGE (2017), metade das cidades brasileiras não tem plano integrado de coleta e destinação correta do lixo urbano. Sobre essa temática, em 2010 foi estabelecida a Política Nacional de Resíduos Sólidos, contemplando metas para eliminação dos lixões e reabilitação das áreas, bem como para redução dos rejeitos por meio da prática da reciclagem e reutilização dos materiais contemplados no Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2012). 78 Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produz aproximadamente 215 toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia, em que aproximadamente metade coletada é destinada a aterros sanitários, incineradores, usinas de reciclagem e compostagem. O restante não coletado é descartado de maneira irregular, sendo despejado em rios, na rua etc. Este fato ocasiona o entupindo as galerias pluviais, os bueiros e ampliando a poluição hídrica. De acordo com o IBGE, as cidades mais populosas têm o plano de resíduos sólidos: 83,3% dos municípios com população acima de 500.000 habitantes têm o plano. Nas cidades com população entre 5.000 e 10.000 habitantes, esse percentual é de 49,1%. O grande problema é fazer com que mais cidades tenham acesso ao tratamento adequado do lixo, bem como receber mais incentivos para educar a população com a cultura ambiental. A população urbana tornou-se muito numerosa e gera volumes de lixo cada vez maiores; a evolução técnica e o processo crescente de desenvolvimento industrial geram, cada vez mais, tipos de lixo que a natureza por si só não consegue destruir, como os plásticos e vidros, que não são biodegradáveis. (ROSS, 2008, p. 218) O pensamento dos governantes das cidades é criar políticas ambientais que amenizem os impactos da urbanização sobre o meio ambiente, agindo localmente, somando esforços com o mundo. 1.2 As cidades e o meio ambiente Com a urbanização aumentou a concentração de pessoas, recursos e necessidades produtivas em um espaço limitado e, por esse motivo, tem efeitos diretos sobre o meio ambiente, concentrando também os impactos sobre o espaço natural. Segundo (Dias, 2002)Com o crescimento desordenado das cidades no passar dos anos, vem crescendo o impacto no meio ambiente. Cerca de 75% dos recursos naturais coletados e minerados são consumidos nas cidades, principalmente nas áreas metropolitanas. Os governos municipais planejam duas agendas ambientais: Agenda Verde e Agenda Marrom. - Agenda Verde: apresenta objetivos em uma visão mais macro (fatores ligados à redução dos efeitos do fenômeno urbano, como as emissões provenientes de veículos automotores e do processo industrial e o consumo de energia), com efeito global. 79 - Agenda Marrom: inclui ações voltadas ao saneamento ambiental e à poluição hídrica e atmosférica, cujos efeitos têm impacto local. O grande paradigma da relação entre a cidade e o meio ambiente é que, teoricamente, a concentração populacional deveria reduzir os impactos sobre o meio ambiente por ocupar um espaço menor da superfície. Segundo estimativas do UNFPA (2007), o total de áreas urbanas ocupa somente 2,8% da superfície do planeta. Pode-se dizer que, em razão do fenômeno da concentração populacional, as cidades formam o cenário perfeito para a sustentabilidade ambiental, pois nos espaços com alta densidade populacional, há a redução do custo per capita de abastecimento de água, coleta de lixo e serviço de esgoto; por outro lado, há facilidade na implantação de projetos de reciclagem e estabelecimento de sistemas de transporte (CEPAL, 2008). A poluição causada pelas cidades mostra que a ocupação da superfície não é o único critério para promover a sustentabilidade, pois também pode ser definida pelos padrões de consumo e pela geração de rejeitos, demandando e impactando uma quantidade de recursos naturais que vai além da área das cidades. Por isso, quanto mais urbanizadas forem as regiões, maior será o consumo de recursos naturais. Com o processo de aceleração da urbanização em países subdesenvolvidos, o impacto aumenta no espaço natural desses países que, devido à limitação dos recursos financeiros, apresentam mais dificuldades para promover políticas de proteção ao meio ambiente. Nos países em desenvolvimento, a urbanização impacta mais fortemente o meio ambiente devido à ausência de serviços públicos e à limitação na oferta de infraestrutura. Nesse contexto, o crescimento das cidades de modo desordenado leva à ocupação irregular de espaços urbanos (CEPAL, 2008). Os problemas ambientais podem ser compreendidos como um desequilíbrio provocado pelo “trauma ecológico” resultante das ações dos homens, das cidades e das atividades econômicas sobre o meio ambiente. Podem ser resultado também de eventos naturais, como a explosão de um vulcão, o choque de um meteoro, um raio etc. A Resolução n. 1/86 do Conama define impacto ambiental como: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, 80 afetam: I. a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II. as atividades sociais e econômicas; III. a biota; IV. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V. a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986) Para minimizar os problemas ambientais, diversas legislações têm sido apresentadas para incentivar as políticas públicas voltadas à preservação do meio ambiente: - Lei n. 6.803/1980 “Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição e dá outras providências”. - Lei n. 6.938/1981 “Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências”. - Lei n. 7.347/1985 “Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico [...] e dá outras providências”. - Lei n. 7.661/1988 “Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências”. - Lei n. 7.797/1989 “Cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente e dá outras providências”. - Lei n. 9.433/1997 “Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos [...]”. - Lei n. 9.985/2000 “[...] institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências”. - Lei n. 12.187/2009 “Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e dá outras providências”. Lei n. 12.305/2010 “Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos [...] e dá outras providências” As políticas ambientais surgem com uma visão mais global e genérica devido ao alinhamento com os grandes debates mundiais, mas se tornam mais específicas no decorrer do tempo, com maior interação com a realidade do Brasil. Essas legislações ficaram mais eficientes com o advento da Constituição Federal de 1988, que destaca o papel do Estado de proteger e preservar o meio ambiente ecologicamenteequilibrado, objetivando qualidade de vida para as gerações presentes e para as futuras. Segundo Granziera (2011), o Estado “necessita de uma série de ações a cargo do Poder Público, para ter garantida a sua efetividade, implementando-se de fato o princípio do desenvolvimento sustentável”. 81 Assim, apresenta-se nas cidades uma situação bastante paradigmática pela concentração populacional e de dinâmicas produtivas que, embora ocupando menores superfícies, gera consumo, detritos e poluição que não são concentrados, mas dispersos por espaços que vão além dos limites das cidades. O sucesso da compatibilização do desenvolvimento econômico com a sustentabilidade depende do atendimento de diversas dimensões. - Sustentabilidade ecológica: base física do processo de crescimento, que tem como objetivo a conservação e o uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às atividades produtivas. - Sustentabilidade ambiental: Relacionada à capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se recuperar das agressões derivadas da ação humana (ação antrópica), implicando um equilíbrio entre as taxas de emissão e/ou produção de resíduos e as taxas de absorção e/ou regeneração da base natural de recursos. - Sustentabilidade demográfica: revela os limites da capacidade de suporte de determinado território e de sua base de recursos e implica cotejar os cenários ou as tendências de crescimento econômico com as taxas demográficas, sua composição etária e os contingentes de população economicamente ativa esperados. - Sustentabilidade cultural: necessidade de manter a diversidade de culturas, valores e práticas existentes no planeta, no país e/ou em uma região e que integram ao longo do tempo as identidades dos povos. - Sustentabilidade social: objetiva promover a melhoria da qualidade de vida e reduzir os níveis de exclusão social por meio de políticas de justiça redistributiva. - Sustentabilidade política: relacionada à construção da cidadania plena dos indivíduos por meio do fortalecimento dos mecanismos democráticos de formulação e de implementação das políticas públicas em escala global, diz respeito ainda ao governo e à governabilidade nas escalas local, nacional e global. - Sustentabilidade institucional: necessidade de criar e fortalecer engenharias institucionais e/ou instituições cujo desenho e aparato já levem em conta critérios de sustentabilidade Garantir para as cidades, boas políticas ambientais se limita à capacidade de interação entre os entes federados. Contudo, se a política é local, surge outro problema: a necessidade de 82 desenvolvimento econômico dos municípios, que pode levar à fragilidade no cumprimento da legislação ambiental. Além disso, a carência de profissionais técnicos é outra deficiência constante nos municípios, que dificulta a implementação de ações que contribuam para as boas práticas ambientais. A política ambiental brasileira abrange todos os entes federados com base na definição de um Sistema Nacional de Meio Ambiente, que envolve legislações, políticas públicas e um modelo de governança que contribua para a efetividade da política no âmbito local, com a formação de conselhos e secretarias exclusivas para o fortalecimento da institucionalização das políticas ambientais. Capítulo 2 – Sustentabilidade nas cidades e novas concepções Desde 1987, quando foi publicado o Relatório Brundtland, a sustentabilidade se tornou algo mais comum, sendo implementada nas políticas urbanas, porém sem o devido conhecimento técnico das cidades, para adotar boas práticas sustentáveis. Assim, os municípios passaram a buscar a sustentabilidade urbana para atender aos novos desafios e às novas demandas, como forma de combater a vulnerabilidade ambiental e prevenir riscos e desastres ambientais advindos do impacto do espaço urbano sobre o meio natural. Na busca da sustentabilidade urbana, construíram-se novas ideias, como as cidades sustentáveis, as cidades inteligentes e as cidades resilientes, que visam definir novos modelos urbanos para atingir o desenvolvimento sustentável. 2.1. Vulnerabilidade, riscos e desastres nas cidades O risco é uma constante sempre presente nas cidades. A concentração populacional e a exploração do espaço urbano podem agravar os riscos sobre as cidades, que variam no tempo e no espaço. O risco ambiental é agravado pelo surgimento das cidades modernas e, também, pelo surgimento da sociedade capitalista, da Revolução Industrial, do progresso científico e da ampliação das relações sociais. Esse cenário mudou a relação do homem com o meio ambiente, levando-o a ter uma relação mais ativa em relação à exploração da natureza. 83 Para Giddens (2002), o termo modernidade refere-se a modos de relações sociais e econômicas estabelecidos na Europa industrial e estendidos a todo o mundo após o advento da globalização, constituindo o mundo industrializado. A ideia de pós-modernidade provém desse contexto, a partir da década de 1960, com o surgimento da economia do conhecimento e da sociedade pós- industrial. Além do fenômeno da modernidade e da pós-modernidade, a concentração da população nos grandes centros urbanos colaborou para aumentar os riscos ambientais. Essa situação tende a se agravar, pois nos países menos desenvolvidos há maior incidência de desastres, elevando a condição de fragilidade e a ocorrência de crises humanitárias (UNFPA, 2017, p. 73). A pressão populacional e a ação antrópica, amplificada pelos perigos tecnológicos, foram responsáveis por desastres ambientais marcantes ocorridos no século XX. Embora também tenham ocorrido desastres causados por eventos naturais, as ações do homem foram fundamentais para os desastres listados. O Brasil também teve o século XX marcado por desastres ambientais, como a poluição intensa causada pelo polo petroquímico de Cubatão (SP) nos anos 1980 e as mortes de aproximadamente 100 pessoas causadas pelo derramamento de 700 mil litros de gasolina na Vila Socó, em 1984, também em Cubatão. Em 2000 ocorreu o vazamento de 1 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara (RJ); em 2003 ocorreu o vazamento de 500 mil m³ de rejeitos da barragem do município de Cataguases (MG); e, em 2011, ocorreu o vazamento de 3 mil barris de petróleo na Bacia de Campos (RJ). Em 2015, ocorreram dois desastres: o incêndio da empresa Ultracargo, de Santos (SP), que emitiu efluentes gasosos na atmosfera e o rompimento da barragem de Mariana (MG), que liberou 60 milhões de m³ de rejeitos, destruindo o distrito de Bento Rodrigues, conforme destacado na Figura 1. Em 2019, o rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), destruiu grande parte da vegetação local e causou a morte de diversas espécies de animais, tornando a água do Rio Paraopeba imprópria para consumo e alterando a composição do solo na região. De modo geral, compreende-se o risco como a “probabilidade de ocorrência de processos no tempo e no espaço, não constantes e não determinados, e à maneira como estes processos afetam (direta ou indiretamente) a vida humana” . Em relação às cidades, os riscos estão relacionados 84 à ocorrência de desastres ou catástrofes. Um desastre pode ser compreendido como um evento concentrado no tempo e no espaço, seguido pela dispersão humana e pelas perdas materiais e ambientais. A consequência disso está acima da capacidade de atuação do poder local. A concentração populacional e das atividades econômicas nas cidades exerce uma forte pressão sobre o espaço e sobre o ambiente natural, aumentando a vulnerabilidade dessas áreas. As cidades também apresentam maior risco de ocorrência de desastres, pois quanto maior a concentração, maior a pressão sobre o espaço urbano e maior a probabilidade de ocorrência de desastres advindos da ação humana. 2.2. Concepção de Cidades SustentáveisUm dos principais nortes para a adoção e implementação de cidades sustentáveis é a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Trata-se de um conjunto de planos e ações definidos pelas Nações Unidas para atingir o desenvolvimento econômico sustentável. Essa agenda propõe 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que entraram em vigor em 2016, com 169 metas a serem implementadas até 2030. Os ODS são caracterizados por um conjunto de ações que buscam redução da pobreza, proteção do planeta e do meio ambiente e garantia de um cenário de paz e prosperidade globais. Esses objetivos incluem, entre outros temas, a mudança global do clima, a desigualdade econômica, a inovação, o consumo sustentável, a paz e a justiça. O objetivo 2 defende a ideia de agricultura sustentável como forma de desenvolver a atividade agrícola preservando o ecossistema existente. O objetivo 11 busca a construção de cidades e comunidades sustentáveis, visando à articulação do desenvolvimento urbano com a preservação do meio ambiente, transportes de qualidade, ampliação de áreas verdes e acessibilidade, transformando as cidades em espaços mais seguros e inclusivos. O objetivo 13, por sua vez, busca desenvolver ações contra a mudança global do clima, visando à construção de cidades mais inteligentes e contribuindo para alcançar o objetivo 15 de preservação da vida terrestre. Esses objetivos são extremamente relevantes, pois as cidades têm um forte impacto sobre o meio ambiente graças à grande concentração populacional nos espaços urbanos, uma vez que, embora representem apenas 2% da superfície terrestre, concentram 56% da população mundial. 85 No Brasil, na década de 2010, mais de 80% da população estava concentrada em áreas urbanas, ficando acima de 90% em 2050. Com a velocidade do processo de urbanização em larga escala no mundo, destacadamente nos países subdesenvolvidos, faz-se necessária a atenção à política ambiental local, pois, relembrando o que apontou Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU de 2007 a 2016, “nossa luta pela sustentabilidade global será vencida ou perdida nas cidades” (ONU, 2012). Desta forma, a articulação da Agenda 2030, com base na implantação da Nova Agenda Urbana, é um importante mecanismo para atingir a sustentabilidade das cidades. O Acordo de Paris sobre mudanças climáticas, que foi assinado e ratificado em 2015 pelas 196 partes da Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, tem igual importância para atingir a sustentabilidade. Esse acordo prevê a manutenção da temperatura média global abaixo de 2 ºC em comparação aos níveis pré-industriais, com o objetivo de não ultrapassar 1,5 ºC. Uma característica importante do acordo é a liberdade para os países definirem as ações para atingir as metas estabelecidas. As mudanças nas cidades são fundamentais para as alterações climáticas, pois é nesses espaços que se concentram a população e as atividades econômicas. Desta forma, a constituição de cidades sustentáveis passa pela adoção de novas práticas econômicas, sociais e ambientais, estabelecendo uma nova lógica de função, gestão e crescimento das cidades. As cidades sustentáveis constituem uma nova forma de interação entre o espaço urbano e o espaço natural, articulando as atuações pública e privada. Como características das cidades sustentáveis, podem-se citar as formas de energias alternativas, a prioridade para o transporte público em detrimento do transporte individual, a reciclagem de resíduos urbanos, a limitação do desperdício, a prevenção da poluição e o uso eficiente dos recursos naturais. Para garantir a participação da população no processo, os municípios promovem campanhas de conscientização ao mesmo tempo que desenvolvem um novo modelo de economia urbana. A busca pelo desenvolvimento sustentável inclui licitação verde, construções sustentáveis, redes de transporte coletivo com base em fontes renováveis de energia e destinação adequada de 86 resíduos sólidos e efluentes líquidos, constituindo um desafio para a construção de cidades sustentáveis. a ideia de sustentabilidade mereceria um trabalho específico, tamanha a sua variedade de abordagens. Ela se desenrola através de três grandes interfaces, todas capazes de se desdobrar em inúmeras análises paralelas: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica e sustentabilidade social. Dependendo da aplicação, uma ou mais interfaces podem preponderar, embora seja recomendável que as três estejam presentes para que uma determinada ação ou empreendimento seja considerado sustentável.(NALINI e LEVY, 2017, p. 188) No caso brasileiro, o maior desafio é o reordenamento e a readequação do modelo de urbanização adotado no país, migrando de um modelo urbano poluidor para um modelo urbano sustentável. É preciso repensar a distribuição espacial nas cidades, o planejamento urbano e o próprio desenho das cidades. Essa mudança é um grande desafio, pois culturalmente entende-se que existe uma dicotomia entre cidade e natureza, sendo o espaço urbano destinado ao homem e o espaço natural destinado aos animais e à vegetação. Essa visão, quando aplicada à cidade, leva à compreensão de que as áreas verdes são mais valorizadas quando ocupadas por edificações urbanas. A ideia de uma cidade sustentável vai muito além dos modelos teóricos, trata-se de uma nova visão sobre o próprio conceito de cidade. 2.3. Concepção de Cidades Inteligentes O conceito de cidade inteligente, segundo a Comissão Europeia (2011), apresenta uma forte correlação com a sustentabilidade ambiental, uma vez que utiliza inovação tecnológica para a redução de emissão de gases de efeito estufa. Algumas iniciativas das cidades inteligentes podem ser aplicadas também às cidades sustentáveis, pois buscam a oferta de serviços eficientes, melhorias na infraestrutura e maior interação entre os agentes públicos e privados, desenvolvendo as características como: mobilidade inteligente, pessoas inteligentes, ambiente inteligente, modo de vida inteligente e governança inteligente. Para planejar uma cidade inteligente, estas características são necessárias, pois o olhar inteligente sobre a cidade enxerga o espaço urbano como um ecossistema que reúne fatores sociais, econômicos, tecnológicos e culturais, podendo ser bióticos e abióticos. De acordo com uma pesquisa do Assessing Smart City Initiatives for the Mediterranean Region (ASCIMER, 2019), essas dimensões são importantes para alcançar a sustentabilidade, a 87 eficiência e a qualidade de vida nas cidades. Cabe ressaltar que a tecnologia não é uma dimensão específica, mas um instrumento para trazer melhoria e eficiência aos projetos. O Grupo Foco em Cidades Sustentáveis Inteligentes (FG-SSC), da União Internacional de Telecomunicações (UIT), conceitua cidade sustentável e inteligente como: uma cidade inovadora que utiliza tecnologias de informação e comunicação (TICs) e outros meios para melhorar a qualidade de vida, a eficiência das operações e dos serviços urbanos e a competitividade, assegurando que atenda às necessidades das gerações presentes e futuras com respeito aos aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, as cidades somente terão resultados concretos e positivos com a modernização da gestão, buscando a eficiência nas políticas de mobilidade, tráfego, segurança, vigilância, água e energia A modernização da gestão é fundamental para atingir a eficiência nas políticas urbanas e, consequentemente, na gestão dos riscos que envolvem os espaços urbanos. Desta forma, agregam qualidade de vida e preservação do meio ambiente à dinâmica urbana. A UN-Habitat (2016) destaca que é preciso haver maturidade de gestão para implantar cidades inteligentes e para solucionar os problemas complexos apresentados nas cidades. Caso não haja essa maturidade,a implantação ocorrerá de modo desigual e ampliará as desigualdades por meio da divisão digital, pois haverá bairros bem conectados e bem atendidos, enquanto outros terão atendimentos insuficientes, acarretando a visão de que a cidade inteligente é somente uma cidade conectada. Segundo a UN-Habitat (2016), “a desigualdade é multidimensional e não pode ser vista somente pela perspectiva da renda”, mas também pela igualdade de acesso à infraestrutura urbana. Outro erro que pode acontecer na implantação é a cópia de modelos externos de cidades sem considerar as características locais, estabelecendo um novo padrão de cidade, o que amplia o processo de exclusão criando espaços segregados na cidade (FINGER; RAZAGHI, 2017). Nesse cenário, os novos espaços criados serão ocupados por um estrato da população que possua renda e condições de acesso a eles (VARGHESE, 2015). No caso brasileiro, em 2016 foi estabelecido o Ranking Connected Smart Cities, destacando as cidades mais inteligentes do Brasil apresentadas na Tabela 2. Para a elaboração desse ranking 88 foram selecionados 70 indicadores coletados com ministérios, secretarias, agências reguladoras, entre outros. Sendo assim, cidade inteligente não é somente conectada às tecnologias, mas utiliza de maneira racional seus recursos, buscando alternativas menos poluentes e mais eficientes e observando as características locais. Assim, a construção das cidades inteligentes precisa considerar as especificidades de cada município, desenhando modelos próprios, com base nessas características. 2.3. A adequação urbana A adequação urbana passou a ser um tema central para o desenvolvimento urbano, sendo caracterizada por um conjunto de intervenções e investimentos estratégicos. A adequação está para as atenções na forma como a sociedade e a economia agem em relação aos impactos e pressões e busca compreender como os agentes identificam oportunidades para a transformação do ambiente. O estudo da adequação, em nível municipal, reconhece a dinâmica e a complexidade dos sistemas urbanos, compreendidos pelas escalas organizacional, espacial, física e funcional. Importante destacar que as cidades não dependem de si para serem adaptáveis, pois a elaboração de estratégias de desenvolvimento, focada somente no problema, acaba desencadeando novos problemas e perdendo a oportunidade de fazer uma transformação urbana. Capítulo 3 – Desenvolvimento Sustentável 3.1. Explicando: ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável A noção de desenvolvimento é muito valiosa, supostamente, para todos aqueles que estão imbuídos da vontade de melhorar, promover mudanças, aperfeiçoar, crescer. No entanto, usada inadvertidamente por governantes, políticos e intelectuais durante séculos, tornou-se uma expressão desgastada e amiúde controvertida. Segundo Morin (1995), de um lado é um mito global no qual as sociedades industrializadas atingem o bem-estar, reduzem suas desigualdades e dispensam aos indivíduos o máximo de felicidade que uma sociedade pode dispensar. 89 Por outro lado, é uma concepção redutora, em que o crescimento econômico é o motor necessário e suficiente de todos os desenvolvimentos sociais, psíquicos e morais. Essa concepção tecno econômica ignora os problemas humanos da identidade, comunidade, da solidariedade, da cultura. 3.1.1. Conceito de ecologia O termo ecologia deriva de oikos (“casa”) + logos (“estudo”) e significa “estudo da casa”. O termo foi cunhado pelo biólogo Ernst Haeckel em 1870 para criar uma disciplina científica que se tornaria um ramo da biologia. Essa disciplina, a ecologia, serviria para investigar as relações totais dos animais, tanto com seu ambiente inorgânico quanto com o orgânico. O conceito passou a ser reconhecido e utilizado entre o final do século XIX e o início do século XX. Com algumas variações, o conceito de ecologia foi sinteticamente definido na década de 1960 pelo ecólogo norte-americano Eugene Odum como “o estudo da estrutura e função dos ecossistemas” . Os ecossistemas, para Odum (1988), abrangem todos os organismos que funcionam em conjunto em uma determinada área, as interações biológicas que eles estabelecem e todos os processos físico-químicos que sobre eles se refletem. Porém, a tendência dessa disciplina das ciências naturais, em decorrência do estudo de sistemas complexos e da sua necessária relação com a geologia, a física, a química e a matemática, foi a de transpor fronteiras disciplinares. Com isso, foi se ampliando a noção de ecologia na medida em que se pode estabelecer, inclusive, interfaces com as sociedades humanas em vários aspectos (sociologia, economia, ética, política etc.). Dessa forma, a ecologia pode significar desde um estudo de espécies individualizadas quanto a totalidade dos ambientes do planeta Terra. 3.1.2. Conceito de meio ambiente Como demonstram Marcel Jollivet e Alain Pavé (1995), a definição do que é meio ambiente ou a sua definição enquanto objeto científico é uma operação complicada. A noção de meio ambiente está relacionada a um objeto central e este objeto difere segundo as disciplinas científicas. Ou seja, a noção de ambiente ou meio ambiente pressupõe a necessidade de um sujeito ou referencial central que percebe e interage com o entorno. 90 Esse sujeito pode ser uma população humana, animal ou vegetal, um indivíduo, um ecossistema. Esse sujeito interage com o meio de maneira mais ou menos intensa e pode perturbá-lo ou ser influenciado por ele. Ambiente ou meio ambiente, portanto, é aquilo que está em volta, mas necessariamente, de algo ou alguém. Embora a expressão meio ambiente seja complexa, polissêmica, mutável no tempo e no espaço, envolvendo fenômenos de características científicas e técnicas difíceis de precisar, em geral tem sido usada como tudo aquilo que circunscreve os seres vivos e as coisas e a percepção e a intervenção do homem sobre o meio natural. Para Jollivet e Pavé (1995, p. 7), meio ambiente é o “[...] conjunto de meios naturais ou artificializados da ecosfera onde o homem se instalou, que explora e administra, e os conjuntos dos meios não antropizados necessários à sua sobrevivência”. Em outros termos, o economista francês Ignacy Sachs (1986, p. 12) define o conceito de ambiente ou meio ambiente como a articulação entre três subconjuntos: o meio natural, as estruturas criadas pelo homem e o meio social. Ambiente, portanto, abrange o equilíbrio dos recursos naturais e a qualidade do ambiente e implica o reconhecimento das inter-relações dos processos naturais com os processos sociais. A partir do reconhecimento dessas inter-relações, Sachs defende que o ambiente é uma dimensão do desenvolvimento e que, por meio das técnicas disponíveis, o homem transforma os recursos em produto apropriado ao consumo e à reprodução social. 3.1.3. Conceito de ecodesenvolvimento No ano seguinte à primeira Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o termo ecodesenvolvimento foi lançado pelo canadense Maurice Strong,em reunião realizada em Genebra em junho de 1973. Mas o conceito, com princípios reformulados, foi consolidado e disseminado pelo economista francês Ignacy Sachs. A origem do conceito se deve a uma polêmica entre duas correntes teóricas com ideais extremos: os partidários do crescimento selvagem, que o defendem como meio para corrigir os seus próprios males, e os zeristas, que defendem o crescimento zero com a finalidade de preservar a natureza. 91 Em síntese, ecodesenvolvimento é “um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades imediatas como também aquelas a longo prazo.” (SACHS,1986, p. 15). 3.1.4.Conceito de desenvolvimento sustentável A expressão tem sua origem nos debates sobre o ecodesenvolvimento. Sachs utiliza esse conceito no contexto de uma dura crítica ao modelo de desenvolvimento forjado pelas sociedades industriais e às condições de desenvolvimento das regiões subdesenvolvidas. Para as sociedades alcançarem o desenvolvimento de modo ecologicamente satisfatório, segundo Sachs, é necessário levar em consideração seis aspectos: - a satisfação das necessidades básicas das pessoas; - a solidariedade com as gerações futuras; - a participação da população envolvida nas decisões; - a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente; - a elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito à diversidade cultural; - o estabelecimento de programas de educação. No relatório Nosso futuro comum, conhecido como Relatório Brundtland, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), ao examinar a ligação entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, afirma: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Essa definição contém dois conceitos-chave: 1) o conceito de necessidades, sobretudo as essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade; 2) a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1991, p. 46). 92 3.1.5. Princípios de sustentabilidade A partir da definição de desenvolvimento sustentável pelo relatório Nosso futuro comum, entende-se que, ao se definirem os objetivos do desenvolvimento econômico e social, faz-se necessário levar em conta a sua sustentabilidade em todos os países – desenvolvidos ou em desenvolvimento, com economia de mercado ou de planejamento central. Dentre os princípios básicos de sustentabilidade apontados pelo relatório, estão os que apresentamos abaixo. Que todos devem ter atendidas as suas necessidades básicas e devem ser proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspirações a uma vida melhor. Essas necessidades são determinadas social e culturalmente, e o desenvolvimento sustentável requer a promoção de valores que mantenham os padrões de consumo dentro do limite das possibilidades ecológicas a que todos podem aspirar. Que haja crescimento econômico em regiões onde as necessidades básicas não estão sendo atendidas. Onde já são atendidas, o desenvolvimento sustentável é compatível com o crescimento econômico, desde que ele reflita os princípios amplos da sustentabilidade e da não- exploração dos outros. Mas o simples desenvolvimento econômico não basta: o desenvolvimento sustentável exige que as sociedades atendam às necessidades humanas, tanto aumentando o potencial de produção quanto assegurando a todos as mesmas oportunidades. Aponta-se que muitos problemas derivam de desigualdades de acesso aos recursos, como por exemplo uma estrutura não eqüitativa de propriedade da terra que pode levar à exploração excessiva dos recursos das propriedades menores, com efeitos danosos para o meio ambiente e para o desenvolvimento. Destaca-se que “quando um sistema se aproxima de seus limites ecológicos, as desigualdades se acentuam”. Que, no mínimo, não sejam postos em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os seres vivos. O desenvolvimento sustentável exige que o índice de destruição dos recursos não renováveis mantenha o máximo de opções futuras possíveis. 93 É preciso que se minimizem os impactos adversos sobre a qualidade do ar, da água e de outros elementos naturais, a fim de manter a integridade global do ecossistema (a Terra não deve ser deteriorada além de um limite razoável de recuperação). Que o desenvolvimento tecnológico seja orientado para as premissas anteriores. Em síntese, o relatório Nosso futuro comum aponta que o desenvolvimento sustentável é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas (1991, p. 49). Ou seja, para a Comissão, o desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia, mas um processo de mudança, que depende do empenho político. A Comissão certamente avançou na reflexão e no diagnóstico sobre a questão econômico-ambiental ao destacar a interdependência global das manifestações físicas e econômicas, tais como a relação entre os efeitos globais da poluição e os preços dos produtos agrícolas em uma economia internacionalizada. Por isso defende, além do fortalecimento político e comunitário local e regional, a cooperação internacional. Mas a principal contribuição deste relatório, conforme Leis (1999, p. 150), não são as formulações técnicas sobre o que deve ser o desenvolvimento sustentável e as recomendações de ações para os governos, até porque havia diferenças de critérios entre os membros dos países participantes, mas o principal mérito do relatório foi o seu posicionamento ético. Leis lembra que, em geral, os princípios éticos são lembrados em grandes documentos como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, após o fim da Segunda Guerra Mundial, mas não em textos técnicos voltados para instrumentalizar ações políticas e econômicas de instituições governamentais. Ao afirmar os princípios do desenvolvimento sustentável, entendendo que o desenvolvimento deve atender às necessidades presentes sem prejudicar as possibilidades de atender às das gerações futuras, o relatório vai além do reconhecimento da complexidade e interdependência dos países e dos fenômenos naturais e sociais: os homens têm responsabilidade frente à natureza e o ser humano não é a medida de todas as coisas. 94 Referências ALMEIDA, Lúcia Marina Alves; RIGOLIN, Tércio Barbosa. Geografia. São Paulo: Ática, 2002. ASCIMER, Smart cities: concept & challenges deliverable, 1A. Disponível em: http://www.eiburs-ascimer.transyt- projects.com/images/files/deliverables/d1a_concept_and_challenges.pdf. Acesso em: 01/07/2021 AMARAL E SILVA, Carlos C. Gerenciamento de riscos ambientais. In: PHILIPPI JÚNIOR, Arlindo;ROMÉRO, Marcelo A.; BRUNA, Gilda C. (Coord.). Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004. BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70, 1991. BOFF, Leonardo. 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