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DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE SUMÁRIO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..... 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3 IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO .. 3 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO .................................................................................................................... 3 PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO ......................... 4 ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................... 5 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 2 ANOS............................ 6 DESENVOLVIMENTO MOTOR ........................................................... 8 DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO ............................................... 11 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO .................................................. 14 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR (2 A 6 ANOS)... 17 DESENVOLVIMENTO FÍSICO .......................................................... 17 DESENVOLVIMENTO MOTOR ......................................................... 18 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO .................................................. 19 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR (6 A 12 ANOS). 20 DESENVOLVIMENTO FÍSICO .......................................................... 21 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO .................................................. 22 DESENVOLVIMENTO MOTOR ......................................................... 26 DESENVOLVIMENTO: ADOLESCÊNCIA ............................................. 27 DESENVOLVIMENTO FÍSICO .......................................................... 32 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO .................................................. 35 DESENVOLVIMENTO SOCIAL E DA PERSONALIDADE ................. 38 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 41 file://///FACUMINAS-AD-FS/Setores/Pedagogico/NÚCLEO%20DE%20PLANEJAMENTO%20PEDAGÓGICO/MATERIAL%20DIDÁTICO%20PÓS-GRADUAÇÃO/EDUCAÇÃO/NEUROPSICOPEDAGOGIA%20INSTITUCIONAL%20E%20CLÍNICA/DESENVOLVIMENTO%20DA%20CRIANÇA%20E%20DO%20ADOLESCENTE/DESENVOLVIMENTO%20DA%20CRIANÇA%20E%20DO%20ADOLESCENTE.docx%23_Toc166914103 INTRODUÇÃO No organismo humano, os dois primeiros anos de vida representam um período de crescimento rápido e de mudança, assinalados pelo desenvolvimento de duas características-chave que diferenciam os seres humanos de muitos outros animais. Em primeiro lugar, durante esta época as crianças aumentam sua mobilidade. Nessas condições, aumenta a amplitude do ambiente em que vivem, exploram e desenvolvem. Esse aumento de mobilidade é iluminado pelo caminhar, a criança começa a usar a linguagem, tanto como uma ferramenta de comunicação com as pessoas que as cercam como ferramenta para facilitar o pensar (PAPALIA; OLDS, 2006; CARVALHO, 1996). IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Cada fase do desenvolvimento humano: pré-natal, infância, adolescência, maturidade e senescência; apresentam características que as identificam e permitem o seu reconhecimento. O seu estudo possibilita uma melhor observação, compreensão e interpretação do comportamento humano. Distinguindo como nascem e como se desenvolvem as funções psicológicas do ser humano para subsidiar a organização das condições para o seu desenvolvimento pleno. O desenvolvimento humano é determinado pela interação de vários fatores (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999; CARVALHO, 1996). FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO HUMANO ❖ Hereditariedade - Cada criança ao nascer herda de seus sais uma carga genética que estabelece o seu potencial de desenvolvimento. Estas potencialidades poderão ou não se desenvolver de acordo com os estímulos advindos do meio ambiente. ❖ Crescimento orgânico - Com o aumento da altura e estabilização do esqueleto, é permitido ao indivíduo comportamentos e um domínio de mundo que antes não eram possíveis. ❖ Maturação Neurofisiológica - É o que torna possível determinados padrões de comportamento. Por exemplo, o aluno para ser, adequadamente, alfabetizado deve ter condições de segurar o lápis e manejá-lo com habilidade, para tanto, é necessário um desenvolvimento neurológico que uma criança de 2 anos ainda não possui. ❖ Meio Ambiente - Conjunto de influências e estimulações ambientais que alteram os padrões de comportamento do indivíduo. Uma criança muito estimulada para a fala pode ter um vocabulário excelente aos 3 anos e não subir escadas bem porque não vivenciou isso. PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO O ser humano, no seu processo de desenvolvimento, apesar das diferenças individuais, segue algumas tendências que são encontradas em todas as pessoas. Seis delas serão destacadas (PAPALIA; OLDS, 2006): 1. O desenvolvimento humano é um processo ordenado e contínuo, dividido em quatro fases principais: infância, adolescência, idade adulta e senescência; 2. O desenvolvimento humano se realiza da cabeça para as extremidades; sequência céfalo-caudal: a criança sustenta primeiro a cabeça, para só então levantar o tronco, sentar e andar; progride do centro para a periferia do corpo; sequência próximodistal: a criança movimenta primeiro os braços, para depois movimentar as mãos e os dedos; 3. O indivíduo tende a responder sempre de forma mais específica as estimulações do meio. Cada vez mais vão se especializando os movimentos do corpo para respostas específicas. A fala se torna mais abrangente em relação aos objetos a serem designados etc. O desenvolvimento se dá do geral para o específico; 4. Os órgãos não crescem de maneira uniforme. Enquanto o cérebro, por exemplo, se desenvolve rapidamente na infância, as outras partes do corpo seguem ritmos diferenciados, as vezes de forma lenta em outras aceleradamente; 5. Cada indivíduo se desenvolve de acordo com um ritmo próprio que tende a permanecer constante segundo seus padrões de hereditariedade, se não for perturbado por influências externas, como má alimentação; ou internas, como doenças; 6. Todos os aspectos do desenvolvimento humano são inter- relacionados, não podendo ser avaliados sem levar em conta essas mútuas interferências. ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO O desenvolvimento deve ser entendido como uma globalidade; mas, em razão de sua riqueza e diversidade, é abordado, para efeito de estudo, a partir de quatro aspectos básicos (PAPALIA; OLDS, 2006): ❖ Aspecto físico-motor - Refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo. ❖ Aspecto intelectual - Inclui os aspectos de desenvolvimento ligados as capacidades cognitivas do indivíduo em todas as suas fases. Como quando, por exemplo, a criança de 2 anos puxa um brinquedo de baixo dos móveis ou adolescente planeja seus gastos a partir da mesada. ❖ Aspecto afetivo emocional - É a capacidade do indivíduo de integrar suas experiências. São os sentimentos cotidianos que formam nossa estrutura emocional, que envolvem os aspectos relacionados ao convívio em sociedade. Todos esses aspectos estão presentes de forma concomitante no desenvolvimento do indivíduo. Uma criança com dificuldades auditivas poderá apresentar problemas na aprendizagem, repetir o ano letivo, se isolar e por esta causa se tornar agressiva. Após tratada pode voltar a ter um desenvolvimento normal. Todas as teorias do desenvolvimento humano partem deste pressuposto de indissociabilidade desses quatro aspectos, mas, podem estudar o desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. A psicanálise, por exemplo, toma como princípio o aspecto afetivo-emocional. Piaget, o desenvolvimento intelectual (PAPALIA; OLDS, 2006). DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 2 ANOS Segundo BEE (1997), asda Criança: tradução de Dante Moreira Leite. São Paulo, Pioneiro, 1973. BEE, H A. Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Arte Médicas, 1996. BEE, H. A. Ciclo Vital. Porto Alegre: Arte Médicas, 1997. BOBBIO, Norberto. Igualdade e Liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. BOCK, Ana; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, M. L. Psicologias: Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. CARVALHO, Vânia. Desenvolvimento Humano e Psicologia. Minas Gerais: UFMG, 1996. BENNET, E. A. O que Jung disse realmente. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. ERICKSON, E. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. FAW, Terry. Psicologia do desenvolvimento: infância e adolescência. São Paulo: McGRAW-HILL, 1981. MARTINS, Priscilla de Oliveira; TRINDADE, Zeidi Araújo and ALMEIDA, Ângela Maria de Oliveira. O ter e o ser: representações sociais da adolescência entre adolescentes de inserção urbana e rural. Psicol. Reflex. Crit. 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Rio de Janeiro, 1996.mudanças físicas ocorridas nos primeiros meses de vida do bebê seguem dois padrões bem amplos: o desenvolvimento dá-se a partir da cabeça, chamado cefalocaudal, e do tronco para fora, próximo-distal. Vemos a ação desses dois princípios em comportamentos perceptíveis, tais como a capacidade que tem o bebê para manter ereta sua cabeça antes que consiga sentarse, e sua capacidade de sentar-se antes que consiga engatinhar. Já no sistema nervoso, as principais estruturas do cérebro e as mais desenvolvidas no nascimento, são o mesencéfalo e a medula, que regulam tarefas básicas como atenção e a habituação, o dormir, o andar, a eliminação e o movimento da cabeça e do pescoço (BEE, 1997). A parte menos desenvolvida do cérebro é o córtex, a matéria cinzenta espiralada, em torno do mesencéfalo, envolvida na percepção, movimentos do corpo e toda a linguagem e os pensamentos complexos. O córtex possui todos os seus neurônios e algum desenvolvimento de dendritos no nascimento. O que ocorre entre o nascimento e os dois anos de vida é a criação de uma grande quantidade de sinapses que representa um grande crescimento da árvore dendrítica, além de axônios e suas fibras terminais. Devido a essa rápida multiplicação de fibras, o peso total do cérebro triplica neste período (BEE, 1997). No desenvolvimento de neurônios e sinapses, os dendritos não são contínuos e regulares. Neurofisiologistas descobriram a existência de uma primeira erupção na formação de sinapses, seguida de uma “eliminação” de sinapses por volta dos dois anos. As conexões redundantes são eliminadas e o “diagrama elétrico” é arrumado (BEE, 1997). No início do desenvolvimento, por exemplo, observa-se que cada célula musculoesquelética parece desenvolver conexões sinápticas com vários neurônios motores na medula espinhal. Mas, após o processo de eliminação, cada fibra muscular é conectada a somente um neurônio. Normalmente, o organismo é programado para criar certas espécies de conexões neuroniais e o faz em abundância, criando caminhos redundantes (ARIÈS, 1981). Conforme esse argumento, a eliminação que ocorre por volta dos dois anos constitui uma reação à experiência específica, de modo que os caminhos mais utilizados ou os mais eficientes são, seletivamente, mantidos. De acordo com Bertentahal e Campos (1987), “A experiência não cria marcas em uma tábula rasa; a experiência apaga algumas delas”. Na adolescência também ocorre outra eliminação de sinapses, sugerindo haver uma posterior reorganização de caminhos naquele momento. Os nervos que estão a serviço das células musculares nos braços e mãos são mielinizados mais cedo do que os que atendem o tronco inferior e as pernas. A mielinização está amplamente concluída por volta dos dois anos, embora alguma coisa ainda se processe no cérebro, durante a adolescência (BEE, 1997). Já as mudanças no sistema nervoso são acompanhadas por mudanças em outras estruturas do corpo, o que inclui ossos e músculos, embora aqui as mudanças ocorram de maneira bastante gradual, da infância por meio da adolescência, ao invés de se dar sob a forma de um arranque súbito notável que observamos no sistema nervoso (BEE, 1997). A mão, o pulso, o tornozelo e o pé, todos possuem menos ossos, no nascimento, do que na maturidade plena. Por exemplo, no pulso de um adulto há nove ossos separados. No caso de uma criança com um ano de vida, há apenas três. Os seis restantes desenvolvem-se durante a infância, sendo que o crescimento completo se dá na adolescência (BEE, 1996). Em uma parte do corpo, no entanto, os ossos mais se fundem do que se diferenciam. O crânio de um recém-nascido é formado por vários ossos, separados por espaços, chamados fontanelas. As fontanelas permitem que a cabeça se comprima sem qualquer dano, durante o processo de nascimento, também permitindo ao cérebro espaço para crescer. Na maioria das crianças, as fontanelas são preenchidas por ossos por volta dos 12 aos 18 meses, criando um único osso craniano conectado (BEE, 1997). Todos os ossos de um bebê são também mais macios, com mais elevado conteúdo de água, do que os ossos dos adultos. O processo de enrijecimento dos ossos, a ossificação, ocorre regularmente, do nascimento à puberdade, tendo-se os ossos de diferentes partes do corpo enrijecendo-se em uma sequência que segue os típicos padrões próximo-distais e cefalocaudal. Como exemplo, os ossos das mãos e pulso enrijecem antes dos pés (BEE, 1997). Os ossos macios são necessários, pois o feto precisa possuir flexibilidade suficiente para caber no espaço uterino. Mas essa mesma flexibilidade contribui para um relativo desamparo do recém-nascido. Bebês recém-nascidos são notavelmente moles; nem mesmo conseguem manter ereta a cabeça, sentar-se sem auxílio ou andar. À medida que os ossos enrijecem, o bebê consegue manipular com mais segurança seu corpo, o que aumenta o alcance da exploração com a qual ele se diverte, tornando-o muito mais independentes (BEE, 1997). Já com os músculos, o recém-nascido possui, virtualmente, todas as fibras musculares que terá mais tarde exatamente, como seus ossos, essas fibras musculares são, inicialmente, pequenas e aquosas, tornando-se mais longas, espessas e menos aquosas, a um ritmo bastante constante, até a adolescência. O bebê, então, adquire força muscular no pescoço bastante cedo, embora não possua força muscular suficiente nas pernas de modo a ter apoio para andar, o que somente se dá meses após (BEE, 1996). Todas essas mudanças internas obviamente afetam o tamanho e a forma do bebê. Os bebês crescem rapidamente, nos primeiros meses, acrescentando de 25 cm a 29 cm em seu comprimento e triplicando o peso de seu corpo, no primeiro ano de vida. Por volta dos dois anos, após aumentar esses centímetros em sua altura, os bebês estão com a metade da altura que terão na vida adulta. É surpreendente que os bebês possuam a cabeça, proporcionalmente, muito maior, o que é uma necessidade óbvia para que ele mantenha aquele cérebro que já possui quase que seu tamanho total (BEE, 1997). DESENVOLVIMENTO MOTOR De acordo com Mussen, Conger, Kagan e Huston (1988), o bebê pode exibir uma variedade de reflexos motores complexos, alguns dos quais são necessários à sobrevivência. Os bebês seguirão com seus olhos uma luz que se move, sugam um mamilo que lhes é inserido na boca, viram-se na direção de um toque no canto da boca e agarram um objeto que lhes é colocado na palma da mão. As capacidades da criança para sentar-se, ficar de pé e andar exemplificam a influência da maturação no desenvolvimento. Cada capacidade ocorre em sequência durante os primeiros dois a três anos de vida, como resultado da criança usar os membros em coordenação com a maturação de tecidos neurais específicos e o crescimento dos ossos e dos músculos (MUSSEN; CONGER; KAGAN; HUSTON, 1988). Bebês de quatro meses são capazes de sentar-se com apoio durante um minuto, e com cerca de nove meses a maioria pode sentar-se sem suporte durante 10 minutos ou mais. A idade média para arrastar-se (mover-se com o abdômen em contato com o chão) é nove meses; engatinhar, sobre as mãos e os joelhos, costuma ocorrer aos dez meses, mais ou menos. Um bebê pode deixar de passar por um ou dois estágios no desenvolvimento, mas a maioria passa por meio de quase todos (MUSSEN; CONGER; KAGAN; HUSTON, 1988). A capacidade para andar se forma depois de uma série de realizações anteriores. Como em outros aspectos do desenvolvimento, as idades em que essas realizações ocorrem cobrem uma vasta faixa. A idade média para pôr-se de pé, apoiando-se em um móvel, é entre nove e dez meses. A criança média fica de pé, sem apoio, com cerca de onze meses e anda, quando alguém a segura pela mão com um ano, podendo andar só, embora desajeitadamente, com cerca de treze meses. Com dezoito meses a criança podesubir e descer escadas sem auxílio (e usualmente sem cair) e pode puxar um brinquedo no chão. Aos dois anos, a criança pode apanhar um objeto no chão sem cair e pode correr e andar para trás (MUSSEN; CONGER; KAGAN; HUSTON, 1988). Tabela 1 - Marcos do desenvolvimento motor nos primeiros dois anos de vida Fontes: Bee (1997) - Mathew e Cook (1990), Thomas (1990). De acordo com Bee (1997), as sequências maturacionais parecem, necessariamente, ser parte da explicação, em especial no caso de padrões centrais como as mudanças neuroniais e as mudanças nos músculos e ossos. Em todas essas áreas, enquanto a taxa de desenvolvimento varia de uma criança para outra, a sequência é, virtualmente, a mesma para todas as crianças, mesmo aquelas com deficiências físicas ou mentais marcantes. Crianças com retardo mental, por exemplo, costumam passar por todos os marcos motores mais lentamente do que crianças normais, embora sigam a mesma sequência. Sempre que encontramos essas sequências sadias, a maturação de alguma espécie parece uma explicação óbvia (BALDWIN, 1973). Ao mesmo tempo, nossa herança genética é individual e específica da espécie. Além de sermos programados para várias sequências básicas de desenvolvimento físico, cada um de nós recebe instruções para tendências singulares de crescimento. Tamanho e formato do corpo parecem bastante influenciados por essa herança específica. Pais altos tendem a ter filhos altos, pais baixos tendem a ter filhos baixos e há semelhanças entre pais e filhos em coisas como largura dos quadris, comprimento dos braços e tronco curto ou comprido, entre outras (BEE, 1996). É importante verificarmos também as influências ambientais sobre o desenvolvimento físico, em termos da própria prática de várias atividades físicas pela criança. Um bebê que passa bastante tempo em um brinquedo chamado de andador, que o sustenta enquanto ele se movimenta pelo local, irá aprender a andar de maneira independente de certa forma mais cedo do que um bebê que jamais utilizou esse brinquedo. Um bebê que já anda e que tem oportunidade de tentar subir escadas aprende a fazê-lo mais cedo ou com mais habilidade do que um bebê que anda e que raramente é exposto a escadas (BEE, 1996). A alimentação também é um forte contribuinte para o desenvolvimento físico e motor. Uma grave deficiência nutricional durante o período da gravidez parece produzir uma taxa lenta de desenvolvimento físico e motor. As crianças cujas dietas melhoram tarde podem, em parte, recuperar sua taxa de altura ou crescimento, embora elas costumem ser mais baixas e mais lentas do que os companheiros (BEE, 1997). DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO Percepção é quando a estimulação sensorial pode ser integrada com dados já acumulados que produzem sensações adquirindo um significado para a criança. No caso do recém-nascido, recebem toda espécie de estimulação sensorial (visual, auditiva, olfativa, gustativa, tátil e cinestésica) por meio de várias modalidades sensoriais. Eles dão respostas a esses estímulos, mas essas respostas têm utilidades limitadas e são mais ou menos automáticas. Recém- nascidos são incapazes de integrar essas impressões sensoriais que se encontram no córtex com informações já acumuladas a fim de que seu significado seja “ligado” a essas sensações (BEE, 1997). Os processos perceptivos constituem uma parte de quase todas as tarefas que a criança deve realizar, de todas as habilidades motoras ou cognitivas que são desenvolvidas. Para identificar a mãe ou o pai ela precisa discriminar cheiros, vozes ou rostos. Para reconhecer rostos, ela precisa prestar atenção a características individuais ou padrões de características. Para aprender a falar, ela precisa perceber diferenças entre os sons, centrando-se finalmente no repertório de sons usados na língua falada ao seu redor (BEE, 1997). É importante entendermos os tipos de impressões dos sentidos que são possíveis para a criança e compreender como ela interpreta essas impressões dos sentidos, a discriminá-las e reconhecer ou compreender padrões. Segundo Bee (1997), o desenvolvimento perceptivo é uma espécie de ponte entre o desenvolvimento físico e o desenvolvimento cognitivo. Os primeiros meses de vida são a época de mudanças mais rápidas nas habilidades perceptivas, e, portanto um momento de maior interesse para os psicólogos que estão tentando compreender os processos de desenvolvimento. A visão para cores está presente no nascimento, mas a acuidade visual e a habilidade de perseguir com o olhar são relativamente deficientes no nascimento, desenvolvendo-se rapidamente durante os primeiros meses (BEE, 1997). As habilidades auditivas básicas estão mais completamente desenvolvidas no nascimento; a acuidade é boa para o alcance da voz humana e o recém-nascido pode localizar pelo menos a direção aproximada dos sons. As capacidades sensoriais de olfato, paladar, e os sentidos de tato e movimento também estão bem desenvolvidos no nascimento (MUSSEN; CONGER; KAGAN; HUSTON, 1988). A percepção de profundidade não está presente no nascimento; ela está presente, pelo menos de forma rudimentar, em torno dos três meses, inicialmente por meio do uso de deixas cinéticas, depois de informações binoculares, e finalmente das informações pictóricas por volta dos cinco a sete meses (BEE, 1997). A atenção visual parece seguir regras definidas, mesmo nas primeiras horas de vida. Os recém-nascidos buscam objetos e focam os limites ou os pontos de contraste claro/escuro, ou o movimento. Por volta dos dois meses de idade, o foco dos bebês muda para examinar o meio assim como os limites das coisas, e eles passam a prestar atenção a relacionamentos e padrões complexos (BEE, 1996). Os bebês podem discriminar o rosto da mãe dos outros rostos, e a voz da mãe das outras vozes, quase imediatamente. Desde o início, os bebês parecem perceber e discriminar contrastes sonoros presentes em todas as línguas possíveis; por volta de um ano, o bebê faz discriminações precisas somente entre os sons salientes na linguagem que é falada em seu ambiente (ARIÈS, 1981) Desde muito cedo, certamente já em torno dos quatro meses, os bebês também percebem e discriminam diferentes padrões de som, como melodias ou inflexões de fala. Transferências modais cruzadas de tato/visão e som/visão foram demonstradas já com um mês de idade; confiavelmente, aos quatro meses. As constâncias perceptivas como constância de tamanho, constância de brilho e constância de forma estão presentes aos quatro meses, pelo menos de forma rudimentar, e talvez mais cedo (BALDWIN, 1973).. Os jovens bebês também têm um entendimento bastante complexo dos objetos, de suas propriedades e possíveis movimentos. O entendimento da permanência do objeto (a compreensão de que o objeto existe mesmo quando está fora de vista) começa aos dois ou três meses de idade, e está bem- desenvolvido pelos 10 meses (BEE, 1996). Os bebês diferem na aparente velocidade ou eficiência dos processos perceptuais, como a habituação a estímulos repetidos. Essas variações no índice de habituação estão correlacionadas a medidas posteriores de QI e à linguagem (ARIÈS, 1981) Muitas capacidades perceptuais básicas, incluindo estratégias para examinar objetos, parecem ser inatas no sistema já no nascimento, ou se desenvolvem nos primeiros anos, conforme o cérebro se desenvolve. Mas são necessárias experiências específicas para manter o sistema subjacente e para aprender discriminações e padrões fundamentais (BEE, 1997). DESENVOLVIMENTO COGNITIVO De acordo com Papalaia e Olds (2006), se os bebês pudessem falar, eles protestariam que sua inteligência foi subestimada durante séculos. Esta subestimação persistiu quase até a atualidade por causa de dois movimentos importantes ao final do século XIX. Enquanto os psicólogosestavam começando a propor teorias do desenvolvimento humano, os médicos estavam estabelecendo uma rotina na qual os bebês nasciam em hospitais, eram expostos a drogas sedativas e isolados de suas mães – situação não muito propícia para melhor demonstrar as habilidades dos recém-chegados! Além disso, os primeiros testes para estudar a inteligência dos bebês eram baseados em testes para adultos ou animais, nenhum dos quais adequados, portanto. Tabela 2 - Marcos no desenvolvimento da linguagem do nascimento aos três anos de idade Fonte: Capute, Shapiro & Palmer, 1987. Hoje, nossa visão das habilidades cognitivas dos bebês mudou radicalmente. Durante as últimas décadas, houve mais pesquisas nesse tópico do que durante toda a história pregressa. Agora sabemos que o bebê humano normal e saudável é acentuadamente competente. Os bebês vêm ao mundo com as capacidades de aprender e lembrar, assim como de adquirir e usar a linguagem. Os recém-nascidos começam avaliando o que seus sentidos lhes informam. Eles usam suas habilidades cognitivas para distinguir entre experiências sensoriais (tais como os sons de diferentes vozes), construir sobre seu pequeno repertório inato de comportamentos (principalmente mamar) e exercer controle crescente sobre seu comportamento e seu mundo (PAPALIA; OLDS, 2006). A inteligência é influenciada tanto pela capacidade herdada quanto pela experiência. A inteligência permite que as pessoas adquiram, lembrem e usem o conhecimento; compreendam conceitos e relacionamentos; e apliquem o conhecimento e a compreensão nos problemas cotidianos (ARIÈS, 1981). Como e quando os bebês aprendem a resolver problemas? Como e quando se desenvolve a memória? O que explica as diferenças individuais nas habilidades cognitivas? Podemos medir a inteligência de um bebê? Podemos prever o quão inteligente será esse bebê posteriormente? A maioria dos pesquisadores do desenvolvimento cognitivo usa uma de quatro abordagens para o estudo de tais questões (PAPALIA; OLDS, 2006; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999): • Abordagem Comportamentalista ou behaviorista: Estuda a mecânica básica da aprendizagem. Ela preocupa-se em como o comportamento muda em resposta à experiência. Desde que tenha um reforço positivo. No início deve ser primário (balas, brinquedos), gradualmente poderá ser substituído pelo social, como elogios. Assim, o comportamento se mantém. • Abordagem Piagetiana: Observa as mudanças na qualidade do funcionamento cognitivo, ou o que a pessoa é capaz de fazer. Ela se relaciona com a evolução das estruturas mentais e como as crianças se adaptam a seu ambiente, sustentando que a cognição se desenvolve em etapas. • Abordagem Psicométrica: Tenta medir as diferenças individuais em termos de quantidade de inteligência, quanta inteligência uma pessoa tem. Quanto mais alto o escore de uma pessoa num teste de inteligência, mais inteligente presume- se que ela é. • Abordagem do processo de informações: Concentra-se nas diferenças individuais quanto ao modo no qual as pessoas usam sua inteligência. Ela procura descobrir os processos envolvidos na percepção e no manuseio da informação. DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR (2 A 6 ANOS) Com dois anos de idade, os bebês se transformaram de recém-nascidos imóveis, desamparados e não comunicativos em crianças pequenas que podem andar, correr, alimentar-se e de muitos outros modos manter suas próprias funções corporais, satisfazer às suas próprias necessidades e usar os rudimentos da comunicação. Todavia, as crianças de dois anos têm um longo caminho para se tornarem adultas (BALDWIN, 1973). Sua aparência muda, suas habilidades motoras e mentais florescem e suas personalidades tornam-se mais complexas (PAPALIA; OLDS, 2006). Todos os aspectos do desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social, continuam inter-relacionados. À medida que os músculos passam a ter controle mais consciente, as crianças podem atender mais a suas necessidades pessoais, como de higiene e vestir-se, ganhando, assim, maior senso de competência e independência. O ambiente do bairro e as influências da sociedade mais ampla podem ter impacto profundo, para melhor ou para pior, sobre a saúde física e o crescimento cognitivo (PAPALIA; OLDS, 2006). DESENVOLVIMENTO FÍSICO O desenvolvimento físico é mais lento dos dois aos seis anos, embora seja ainda permanente. As habilidades motoras continuam a aperfeiçoar-se, gradativamente. Os meninos são em média ligeiramente mais altos e pesados do que as meninas. Os sistemas muscular, nervoso, respiratório, circulatório e imunológico estão amadurecendo, e todos os dentes estão presentes. As crianças comem menos do que antes e precisam de uma dieta balanceada. O desenvolvimento motor avança rapidamente e as crianças progridem nas habilidades motoras gerais e refinadas e na coordenação entre olhos e mãos. A preferência pelo uso das mãos é evidente na idade dos dois e três anos. Canhotos e destros tendem a diferir em diversos outros aspectos. Nunca exigir mudança de canhoto para destro, seria muito prejudicial. É comum acontecer. Os padrões de sono mudam durante a segunda infância. Crianças jovens geralmente dormem durante a noite e tiram uma soneca durante o dia; elas dormem mais profundamente do que nas etapas posteriores da vida. É normal que crianças em torno de cinco anos desenvolvam rituais na hora de dormir que retardam a hora de ir para a cama. Contudo, lutas prolongadas na hora de dormir ou terror noturno e pesadelos persistentes podem indicar distúrbios emocionais que precisam de atenção (PAPALIA; OLDS, 2006). Molhar a cama é natural, principalmente à noite, e geralmente isso é superado sem auxílio especial. As principais doenças contagiosas são raras devido à imunização generalizada, e a taxa de mortalidade tem caído. As doenças menores ajudam a formar a imunidade a doenças e podem também ter benefícios cognitivos e emocionais (PAPALIA; OLDS, 2006). Fatores ambientais como exposição a doenças e estresse, pobreza e falta de moradia aumentam os riscos de doenças ou danos. DESENVOLVIMENTO MOTOR Essas mudanças mais gradativas se combinam para capacitar a criança a realizar uma firme evolução no desenvolvimento motor. As mudanças não são tão dramáticas como no início do andar. Todavia são significativas, porque capacitam os bebês que começam a caminhar e os pré-escolares a adquirir habilidades que, de forma marcante, aumentam sua independência e capacidade de exploração (PAPALIA; OLDS, 2006). Tabela 3 - Habilidades Motoras gerais na Segunda Infância Fonte: Papalaia e Olds (2006) DESENVOLVIMENTO COGNITIVO No desenvolvimento cognitivo abordaremos a teoria de Piaget, como já foi dito anteriormente, o período pré-operacional (2 a 7 anos), em que a criança pode lidar simbolicamente com certos aspectos da realidade, mas seu pensamento ainda se caracteriza pela responsabilidade; Dividido em: Pensamento simbólico préconceitual: 2 a 4 anos e Pensamento intuitivo: 4 a 7 anos (PAPALIA; OLDS, 2006). Por volta dos 18 a 24 meses, a criança começa a fazer uso de símbolos mentais. Permite a criança refletir mentalmente sobre pessoas, objetos e eventos. Contudo, a criança ainda não pode pensar com lógica. A pesquisa mostra que, de certa forma, Piaget subestimou a capacidade das crianças que descreveu como pré- operacionais. Segundo Papalaia e Olds (2006), as crianças pré-operacionais podem compreender o conceito de identidade, estão começando a compreender os relacionamentos causais, estão desenvolvendo proficiência na classificação e compreendem princípios de contagem e quantidade. Elas não compreendem a conservação e tendem a confundir a realidade e a fantasia, raciocinar transdutivamente, e não compreendem a reversibilidade e as implicaçõesdas transformações. As crianças pré-operacionais parecem ser menos egocêntricas do que Piaget supunha e são capazes de empatia. Elas mostram sinais de terem uma teoria da mente, incluindo consciência de seus processos de pensamento, certa habilidade para distinguir eventos imaginários e reais, capacidade de enganar, e compreensão de que as pessoas podem manter crenças errôneas. DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA PRÉ-ESCOLAR (6 A 12 ANOS) Os anos intermediários da infância, aproximadamente dos seis aos doze anos, são muitas vezes chamados de anos escolares ou período da meninice. Caracteriza- se como um período de cristalização, já que os seus desenvolvimentos são lentos, uniformes e proporcionam previsores razoavelmente estáveis das características da criança como jovem adulto. Embora a família continue a desempenhar um papel importante nos processos de desenvolvimento, a escola surge nesta época como contribuidor fundamental para o crescimento da criança. Não somente ela provê uma atmosfera para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e acadêmicas, como também representa um ambiente em que os grupos de pares podem influenciar a socialização da criança (PAPALIA; OLDS, 2006). DESENVOLVIMENTO FÍSICO Segundo Papalaia e Olds (2006), o desenvolvimento físico não é tão rápido na terceira infância quanto nos períodos anteriores. Os meninos são levemente maiores que as meninas no início desse período, mas as meninas passam pelo surto de crescimento do que os meninos no final. A obesidade é cada vez mais comum entre as crianças americanas. Ela é influenciada por fatores genéticos e ambientais e pode ser tratada. Já existe uma tendência mundial no sentido de alimentação a base de frutas e verduras, exercícios físicos sistemáticos, pois passou a ser preocupação de saúde pública. Cada paciente obeso custa muito aos cofres públicos apresentando quadros de hipertensão, diabetes, entre outras doenças. O desenvolvimento motor permite que as crianças em idade escolar participem de uma gama mais ampla de atividades motoras do que os pré- escolares. Dos sete aos onze anos, as brincadeiras mais impetuosas diminuem à medida que as crianças envolvem-se em jogos com regras. As diferenças nas habilidades motoras de meninos e meninas aumentam à medida que chega a puberdade, em parte devido à maior força dos meninos e em parte devido a expectativas e experiências culturais (PAPALAIA; OLDS, 2006). As doenças são menos comuns durante esse período do que nos estágios anteriores, embora se mantenham bastante regulares. Outros problemas de saúde incluem a obesidade e acidentes. A obesidade parece ser causada por tendências hereditárias, ou por baixos níveis de movimentação ou exercício, além de dietas altamente gordurosas e calóricas. As crianças de hoje não têm tão boa forma quanto às de anos anteriores. É importante desenvolver hábitos e habilidades vitalícias para manter a boa forma (PAPALAIA;OLDS, 2006). As infecções respiratórias e outros problemas de saúde comuns tendem a ter curta duração. A maioria das crianças dessa idade não tem problemas de saúde crônicos, mas a prevalência de tais males aumentou. DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Segundo Bee (1997), Piaget propôs uma grande mudança no pensamento da criança por volta dos seis anos, quando “operações” poderosas, como a reversibilidade, a adição ou a classificação múltipla são entendidas. No período das operações concretas, a criança aprende ainda o uso da lógica indutiva, embora ainda não utilize a lógica dedutiva. Pesquisas recentes sobre esse período confirmam muitas das descrições de Piaget sobre as sequências de desenvolvimento, embora questionem seu conceito básico de estágios. Parece haver muito menos consistência no desempenho por meio de tarefas cognitivas similares do que exigiria a teoria piagetiana (BEE, 1996). Estudos sobre a especialização indicam um papel mais importante da experiência em tarefas específicas na sofisticação do pensamento infantil do que Piaget acreditava. Evidências de pesquisas dão apoio à ideia de que o desenvolvimento cognitivo se dá em sequências, sendo o momento de cada sequência afetado por experiência ou especialização específicas. Os teóricos do processamento de informações buscam os blocos básicos construtores da cognição, tanto o hardware quanto o software. A maioria dos teóricos conclui pela não existência de mudanças relacionadas com a idade, quanto à capacidade do hardware, embora ocorram aperfeiçoamentos na velocidade e eficiência (ARIÈS, 1981) Uma forma de maior eficiência é o uso cada vez mais intensivo, com a idade, de vários tipos de estratégias de processamento, o que inclui estratégias para recordar-se. Os pré-escolares utilizam algumas delas, embora crianças em idade escolar utilizem-nas com maior frequência e flexibilidade (BEE, 1997). Quando em idade escolar, a maioria das crianças também desenvolve algumas “habilidades executivas”, isto é, a capacidade de monitorar seus próprios processos cognitivos e, assim, planejar sua atividade mental (ARIÈS, 1981) A memória se aperfeiçoa muito durante a terceira infância porque o tempo de processamento de informações diminui, a capacidade de atenção e a memória de curto prazo aumentam, e as crianças se tornam mais aptas no uso de estratégias mnemônicas, tais como os recursos externos, o ensaio, a organização e a elaboração (BEE, 1996). A inteligência das crianças em idade escolar é avaliada por testes em grupo (como o Teste de Capacidade Escolar OtisLennon) e testes individuais (como o WISC- III, Stanford-Binet e o K-ABC). Os testes de QI são bons preditores do sucesso escolar, mas podem subestimar a inteligência de algumas crianças (BEE, 1997). Diferenças individuais no funcionamento cognitivo, em idade escolar, são mensuradas, basicamente, por meio de testes do QI e testes de desempenho. Ambos são controversos. Tanto os testes do QI quanto os de desempenho precisam ser entendidos como medidas da performance, e não da competência. As diferenças de QI entre grupos étnicos parecem resultar basicamente de diferenças culturais e ambientais. Tentativas de criar testes “livres da influência de cultura” ou “culturalmente justos” não tiveram êxito (BEE, 1997). A compreensão das crianças de sintaxe cada vez mais complexa se desenvolve pelo menos até a idade dos nove anos, e a compreensão dos processos de comunicação se aperfeiçoa. A interação com os colegas auxilia o desenvolvimento da alfabetização (BEE, 1996). Os programas de segunda língua mais efetivos parecem ser os programas de alta qualidade que estimulam a fluência em duas línguas. Diferenças individuais no processamento de informações são também estudadas. A velocidade de processamento parece bastante ligada ao QI, bem como a flexibilidade e a capacidade para generalizar o uso de estratégias (ARIÈS, 1981) O desenvolvimento intelectual e social das crianças é influenciado pela qualidade das escolas que elas frequentam. Escolas bem-sucedidas ou eficientes possuem muitas das qualidades encontradas em famílias com figura de autoridade: regras claras, bom controle, boa comunicação e muito afeto (BEE, 1997). Logo, a criança nesta idade, está no estágio de operações concretas e pode usar o pensamento para resolver problemas concretos. Elas são menos egocêntricas do que antes, e são mais proficientes nas tarefas que requerem pensamento lógico, como conservação, classificação, trabalho com números e distinção entre fantasia e realidade (BALDWIN, 1973). Segundo Piaget, o desenvolvimento moral está ligado à maturação cognitiva e ocorre em dois estágios. O primeiro, a moralidade de restrição, é caracterizada pela rigidez moral. O segundo, a moralidade da cooperação, é caracterizada pela flexibilidade moral (BEE, 1997). Tabela 5 - Os dois estágios de desenvolvimentomoral de Piaget Estágio I: Moralidade de Restrição Estágio II: Moralidade de Cooperação Ponto de Vista A criança vê um ato como totalmente certo ou errado e pensa que todo mundo o vê da mesma maneira. As crianças não são capazes de se colocar no lugar dos outros. As crianças são capazes de se colocar no lugar dos outros. Elas não são absolutistas nos julgamentos e veem que mais de um ponto de vista é possível. Intenção A criança julga os atos em termos de suas consequências físicas reais, e não pela motivação por trás dos mesmos. A criança julga os atos pelas intenções, não pelas consequências. Regras A criança obedece às regras porque elas são sagradas e inalteráveis. A criança reconhece que as regras são feitas pelas pessoas e podem ser mudadas pelas mesmas. As crianças se consideram tão capazes de mudar as regras quanto qualquer outra pessoa. Respeito pela Respeito unilateral leva a sentimento de Respeito mútuo pela autoridade obrigação para conformar-se a padrões adultos autoridade e pelos e obedecer a regras. companheiros permite às crianças valorizarem suas próprias opiniões e habilidades e julgarem as outras pessoas de maneira realista. Punição A criança favorece punição severa. Ela sente A criança favorece que a própria punição define o aspecto errôneo punição mais leve que de um ato; um ato é errado se provoca punição. compense a vítima e ajude o culpado a reconhecer porque um determinado ato estava errado, levando assim à reparação. Conceito de Justiça A criança confunde lei moral com lei física e acredita que qualquer acidente físico ou infortúnio que ocorra após uma má ação é uma punição desejada por Deus ou alguma outra força sobrenatural. A criança não confunde Infortúnio natural e punição. Fonte: Papalaia e Olds (2006) De acordo com PAPALAIA & OLDS (2006), as características, como o temperamento e o estado emocional, influenciam o desempenho escolar. Os pais influenciam o aprendizado das crianças motivando-as a realizar, envolvendo-se em sua escolarização e transmitindo atitudes e crenças sobre aprendizagem. As atitudes dos professores influenciam o êxito das crianças na escola. As profecias autodeterminadas podem limitar o desempenho de crianças pobres e minoritárias. As crianças minoritárias podem se beneficiar dos programas educacionais adaptados aos seus estilos culturais. No caso de crianças com capacidade e necessidades especiais, o retardamento mental tem diversas causas. A maioria das pessoas retardadas pode se beneficiar da escolarização. As deficiências de aprendizagem, as quais interferem no aprendizado da leitura e em outras tarefas escolares, pode dever- se a problemas no processamento das informações sensórias (PAPALIA; OLDS, 2006). A hiperatividade e os transtornos de déficit de atenção são mais comuns nos meninos do que nas meninas e, a menos que tratados, podem levar a graves problemas na escola e na vida adulta. Um QI de 130 ou superior é um padrão comum para identificação de crianças superdotadas para programas especiais. Definições mais amplas para caracterizar o superdotado incluem criatividade, talento artístico e outras habilidades, e utilizam critérios múltiplos para identificação. A criatividade, às vezes, é identificada por testes de pensamento divergente, mas sua validade é questionável (PAPALIA; OLDS, 2006). Alguns estudos de Termann constatam que as crianças superdotadas tendem a ser adultos de êxito incomum, essas crianças podem precisar de programas educacionais especiais para ajudá-las a desenvolver todo o seu potencial (PAPALIA; OLDS, 2006). DESENVOLVIMENTO MOTOR Tabela 4 - Desenvolvimento Motor de Meninos e Meninas na Terceira Infância Fonte: Cratty, 1986. DESENVOLVIMENTO: ADOLESCÊNCIA A palavra adolescência é derivada do verbo latino adolescere, que significa crescer ou crescer até a maturidade. Refletindo que a adolescência é um período de transição. Muuss (1976) a considera um período no qual o indivíduo vive uma situação marginal, na qual novos ajustamentos devem ser feitos entre o comportamento da criança e o comportamento de adulto. Muuss (1976) ainda afirma que, cronologicamente, a adolescência é o tempo que se estende, aproximadamente, dos 12 ou 13 anos até os 20/21/22 anos, com grandes variações individuais e culturais (MARTINS, 2003). À primeira vista, a adolescência se mostra como uma categoria vinculada à idade, portanto refere-se à biologia, ao estado e à capacidade do corpo; no entanto o desenvolvimento do adolescente não se esgota nas diversas e importantes mudanças que acontecem no âmbito biológico e fisiológico, ele também comporta várias significações superpostas, elaboradas sócio historicamente. Dessa forma, além das mudanças biológicas, também ocorrem mudanças de papéis, de ideias e de atitudes. A Psicologia procurou entender melhor essas mudanças por meio de estudos, de discussões e de teorizações (MUUSS, 1976). Um dos primeiros estudiosos a respeito foi Stanley Hall. Seu primeiro livro sobre o assunto foi publicado em 1904 sendo, por isso, considerado o pai da Psicologia da Adolescência. Hall caracterizou o período da adolescência como uma época de tempestade e de tormenta devido à oscilação entre tendências contraditórias: energia, exaltação, superatividade, indiferença, letargia e desprezo. Uma alegria exuberante, gargalhadas, euforia cedem lugar à disforia, depressão e melancolia. O egoísmo, a vaidade e a presunção são tão característicos desse período como o abatimento, humilhação e timidez (MARTINS, 2003). Anna Freud fez um estudo desse período a partir da conceituação psicanalítica e atribuiu à adolescência uma grande importância na formação do caráter, partilhando da ideia de que a adolescência é um estágio do desenvolvimento e caracteriza-se como um período turbulento e apontando que pode sofrer influências do ambiente, embora muito pequenas, uma vez que os fatores ambientais, para a psicanálise ortodoxa, são secundários em relação aos fatores biológicos e instintivos (OLIVEIRA; EGRY, 1997). Erick Erikson (1972) utilizou as propostas da psicanálise e da Antropologia Cultural, propõe a Teoria do Estabelecimento da Identidade do Ego, na qual sugere que o ambiente também participa na construção da personalidade do indivíduo. Essa mudança na visão do desenvolvimento é de grande importância, posto que abre novas fronteiras para o entendimento do desenvolvimento e, mais especificamente, da adolescência. De uma forma geral, antes de Erikson, os teóricos entendiam a adolescência como um estágio do desenvolvimento, ou seja, um período universal, como a infância e a idade adulta, com características específicas, firmando-se em um período necessário e naturalmente conturbado (MARTINS, 2003). Na visão de Aberastury e Knobel (1992), a adolescência é um período de mudança e transição, que afeta os aspectos físicos, sexuais, cognitivos e emocionais. É concebida como a fase da reorganização emocional, de turbulência e instabilidade, caracterizada pelo processo biopsíquico a que os adolescentes estão destinados. Para Erickson (1972), na adolescência o indivíduo vive um momento de “crise”, mas no sentido positivo, ou seja, está adquirindo novos conhecimentos, se reestruturando, amadurecendo. Aponta ainda, o autor, que esse período é necessário, podendo resultar em um ser mais saudável, maduro e preparado para enfrentar a vida adulta. Segundo Stone (1969), a adolescência inicia no período de mais ou menos dois anos que precede à puberdade e às mudanças físicas que ocorrem durante esta fase. Seu começo é marcado por uma explosão no crescimento físico e continua com mudanças nas proporções corporais, maturação de característicassexuais primárias e secundárias e uma série de outras mudanças físicas. É neste período que a criança perde o modo infantil e sente as primeiras modificações corporais. Para trabalhar com o adolescente é importante que o educador, tanto o da escola como o da saúde o conheça. À medida que ele é conhecido pelo educador, esse pode levá-lo a compreender com mais facilidade as mudanças que se apresentam nessa fase e encontrar respostas para as bruscas alterações que ocorrem com ele, assim como os sintomas de insegurança que aparecem sem que o adolescente perceba (MARTINS, 2003). Criar espaços de verbalização e de expressão sobre o que significa ser adolescente pode oportunizar a compreensão e aceitação das mudanças físicas e psicológicas, estimulando a motivação interna na busca de sua identidade. Esta busca é fortemente influenciada pela ruptura com os pais e a identificação com o grupo de amigos, educadores ou outros ídolos. Ao buscar no grupo a identidade ameaçada pelas mudanças, e ao identificar-se com este, o adolescente sente-se mais protegido, com menos dúvidas e menos conflitos. Consequentemente, quando é aceito e valorizado, passa a transferir a sua dependência da família para os componentes do grupo, aceitando também os seus usos, costumes e rituais. Daí, o perigo de o adolescente buscar um grupo onde o uso de drogas faça parte dos seus rituais. Diante de tantas alterações, não sendo mais criança e sem os poderes dos adultos, ele pode sofrer e fazer sofrer aqueles com os quais convive. Se for excluído do grupo onde não é aceito, também sofre com a rejeição (STONE, 1969; MARTINS, 2003). Quando um adolescente quer afirmar sua individualidade, ele tende a fazê-lo, levando a moda ao exagero. Em parte porque o indivíduo quer manter- se e em parte para reassegurar-se da solidez de sua nova cultura, ele está sempre procurando intensidade e extremos (STONE, 1969). Dessa afirmação uma questão se impõe: O que significa individualidade? É o que a era da modernidade preconizou, ou seja, a exacerbação no “eu” egocêntrico, isolado de tudo e de todos, autossuficiente? Ou é o que se vive na contemporaneidade, ou seja, a individualização proposta e defendida por Jung: ir além de si mesmo, de um “eu” fraco e desenvolver um self rico pela compreensão e pela realização de suas potencialidades. Nesse sentido, um novo ser nasce a partir do conhecimento de si mesmo (BENNET, 1985). O adolescente não está sozinho no mundo, ele se relaciona com outras pessoas. Ele desenvolve relações afetivas, profissionais e sociais. O educador ou facilitador, assim como os pais, os professores e profissionais de saúde, devem estar conscientes de que o adolescente, em todas as etapas, necessita de ajuda no seu processo de busca da sua individualização, para que possa alcançar uma harmonia psíquica, tão importante na caminhada em direção à maturidade. Alcançar esse fim depende da maneira como as pessoas que convivem com ele, compreendem e vivenciam o seu próprio processo de viver (MARTINS, 2003). Na adolescência, muitas vezes, o adolescente toma a decisão de experimentar o álcool ou outra droga, pois o período que atravessa se caracteriza pelo desafio às autoridades, às normas, às leis e às instituições em geral; pelo espírito de aventura, pela curiosidade, na busca de novas sensações e descobertas; para mostrar-se crítico em relação a tudo e a todos, especialmente aos valores vivenciados pelos pais, escola, igreja e outros (STONE, 1969). Seu humor é quase sempre instável: da tristeza à euforia; da solidão à sociabilidade. Age impulsivamente, não pensa nas consequências de seus atos. Tem atitudes reivindicatórias e de justiça sociais, muitas vezes exacerbadas. É capaz de passar da rebeldia ao crime, e, até a delinquência, caso não haja clareza e orientação quanto aos seus limites. Considerando esses aspectos, é fundamental, instruí-lo para os riscos decorrentes da curiosidade de experimentar a vida. Neste contexto, o de promover a responsabilidade de escolhas do adolescente, dentro de uma realidade que se preocupa com a sua informação e com a sua capacidade para decidir e ser responsável pela sua decisão, a compreensão da concepção de autonomia deve ser levado em consideração. Assim sendo, autonomia pode ser compreendida no sentido de dar as leis a si mesmo e obedecer as suas próprias leis, ou seja, é a liberdade do agir e do querer que capacita o indivíduo a determinar sua própria vida tomando como base os recursos da razão (BOBBIO, 1996). Representa a capacidade de o indivíduo determinar a sua vida perante as leis. Então, é um processo que vai possibilitar a pessoa a agir e aprender racionalmente, tomando como base a harmonia da utilização da razão e da emoção. Logo, a autonomia será adquirida, basicamente, por intermédio da educação, na família e na escola, mas também em outros espaços onde a pessoa conviva. É importante que o adolescente perceba que os conhecimentos adquiridos ao longo da vida são inacabados e que dele depende a capacidade reflexiva de cada um. Isso significa que a construção da autonomia envolve a responsabilidade do livre- arbítrio, ou seja, o aprendizado, o conhecimento, a informação. A autonomia é uma ferramenta que está em constante atualização e a utilização dessa ferramenta envolve um comprometimento com as consequências, que se firmará à medida que o indivíduo tenha o discernimento de que é a sua ação, íntima e pessoal que determina significativamente o rumo de sua própria vida e a sua contribuição no contexto global (MENEGHETTI, 1996). O aluno forma na escola, a representação de um conhecimento em gestação. Isto é, o professor, inicialmente na função de tutor, comunica conteúdos supostamente atualizados, mas despertando ao mesmo tempo essa consciência de que a ciência não parou, logo, despertando o desejo e aptidão para participar de sua criação. Esta é a esperada contribuição da escola para a formação de uma autonomia de cunho epistemológico (TAVARES, 2000, p.166). Na teoria, observa-se que o professor idealiza formar indivíduos autônomos, críticos, construtivos, criativos, harmônicos entre a razão e emoção. Desenvolver o senso de humanidade em cada indivíduo é o objetivo complexo que a família, a escola e a sociedade contemporânea devem ter em vista hoje. Entretanto, não é o que se vê na prática (MENEGHETTI, 1996). A educação que busca a instrução e a formação de um cidadão verdadeiro, capaz de criar conhecimento, ir além do que é dito e implementar ações na sociedade, demanda, concomitantemente, a atenção a aspectos de autonomia e de criatividade, uma vez que o ser construtivo é aquele que é o agente de sua formação e instrução. Ele precisa estar apto para tal, consciente de seus próprios limites e organizado criativamente para agir com funcionalidade, exercitando a sua cidadania. E, também, preservando sua saúde (MENEGHETTI, 1996). DESENVOLVIMENTO FÍSICO De acordo com Zagury (1996), as características mais visíveis e claras nos adolescentes são o acentuado desenvolvimento físico com fortes transformações internas e externas. Ocorrem muitas mudanças marcantes nos campos intelectual, afetivo e principalmente o amadurecimento sexual. O crescimento que ocorre na adolescência não é uniforme. As pernas de um adolescente crescem primeiro e são seguidas pelo crescimento do tronco. Esse padrão resulta na aparência de pernas longas e desengonçadas que é usada nas descrições populares do adolescente (FAW, 1981). Até a adolescência há diferenças pequenas, mas sistemáticas, no vigor dos meninos e das meninas. Eles exibem vigor ligeiramente maior que elas. Há um desenvolvimento acelerado do tecido muscular dos meninos, que se faz acompanhar de significante aceleração em seu vigor. Nas meninas, o desenvolvimento dos músculos não é tão acelerado quanto nosmeninos, porém é evidente que existem diferenças individuais em vigor, pois, há meninas que são mais fortes do que alguns meninos da mesma idade (FAW, 1981). As estruturas físicas envolvidas no processo de reprodução e que se acham presentes quando a criança nasce são chamadas de características sexuais primárias. No sexo masculino incluem os testículos, o pênis, a glândula prostática e a vesícula seminal. No sexo feminino incluem os ovários, útero, vagina e o clitóris. Embora os adolescentes variem na idade de amadurecimento destas características sexuais primárias, o processo de maturação tende a prosseguir de um modo sequencial para todos os adolescentes (FAW, 1981). Tabela 6 - Desenvolvimento Masculino DESENVOLVIMENTO MASCULINO O desenvolvimento das características sexuais primárias do sexo masculino ocorre em cinco estágios: Estágio 1 Estágio pré-puberal - Pequenos testículos e pênis. Estágio 2 O primeiro sinal de mudanças nas características sexuais primárias é o aumento dos testículos e o enrugamento da estrutura em forma de bolsa, o escroto, onde se acham alojados. Este estágio acontece entre 10 e 14 anos de idade. Estágio 3 O alongamento do pênis marca o início do Estágio 3. Este crescimento é acompanhado pelo da próstata, glândula que produz o sêmen em que são transportadas as células espermáticas, e as vesículas seminais. A chegada do estágio 3 geralmente ocorre cerca de um ano depois do advento do estágio 2. Estágio 4 É caracterizado pela primeira ejaculação potencial de sêmen e espermatozoides. Este estágio é tipicamente atingido um ano após a chegada do Estágio 3, ou a uma idade média de 14 anos. A 1ª ejaculação pode não corresponder ao advento do Estágio 4, porque este evento depende em parte de fatores culturais. Para a maioria dos meninos a ejaculação inicial resulta de masturbação ou da emissão noturna espontânea (polução noturna). Durante o quarto estágio do desenvolvimento há um crescimento continuado dos testículos e um aumento do diâmetro do pênis. Estágio 5 O desenvolvimento completo dos testículos e do pênis caracteriza o Estágio 5, que é alcançado aproximadamente um ano após o advento do Estágio 4. A faixa etária em que o pleno desenvolvimento das características sexuais primárias ocorre, pode variar dos 13 aos 18 anos. Assim, alguns meninos atingem o Estágio 5 de desenvolvimento antes que outros tenham ingressado no Estágio 2. Fonte: Faw, 1981. Tabela 7 - Desenvolvimento Feminino DESENVOLVIMENTO FEMININO Serão utilizados os estágios do desenvolvimento dos seios para denotar os do desenvolvimento sexual primário na mulher. O desenvolvimento dos seios é acompanhado do crescimento dos órgãos sexuais internos – útero e ovários – bem como o da parte genital externa – clitóris, lábios e vagina – os próprios seios são considerados como características sexuais secundárias e não primárias. Estágio 1 Os seios infantis, pré-puberais, caracterizam o Estágio 1. O mamilo do seio não é saliente e a aréola (a parte escura do seio que cerca o mamilo) é pequena e de coloração clara. O útero e os ovários são pequenos e inativos. Estágio 2 O desenvolvimento dos “bicos do peito”, um escurecimento, um entumecimento e ampliação da aréola, significa a emergência do Estágio 2. Durante este estágio não se observa protrusão do mamilo. Acompanhando esta mudança evidente na fisiologia da menina adolescente, está o crescimento inicial dos demais órgãos sexuais primários. O Estágio 2 pode ocorrer entre 8 e 13 anos de idade. Estágio 3 Em consequência dos crescentes depósitos de gordura, as meninas com 12 anos começam a desenvolver seios maiores e de forma cônica. Isto assinala o 3º estágio do desenvolvimento sexual primário. Durante este período há um crescimento e maturidade cada vez maiores dos demais órgãos sexuais primários. Estágio 4 Em contraste com o Estágio 3, no qual o desenvolvimento dos seios é resultado dos depósitos crescente de gordura, o desenvolvimento do Estágio 4 é o resultado da emergência das próprias glândulas mamárias. O produto desse desenvolvimento é um seio mais redondo e mais maduro, com a aréola tornando- se parte do seio circunjacente, havendo protrusão do mamilo. Em média, o Estágio 4 ocorre com cerca de 14 anos de idade. Tipicamente, durante o Estágio 4, ocorre a menarca, que é o evento mais significante do desenvolvimento sexual primário. A menarca, ou primeiro fluxo menstrual, significa que está progredindo o crescimento do útero e dos ovários, que não se observa externamente. Agora, eles estão começando a funcionar de modo maduro. Na atual sociedade ocidental, a idade média da menarca é pouco acima de 13 anos, mas pode variar de 10 a 16 anos. Para a maioria das meninas adolescentes, de início a menstruação é irregular e talvez anovulatória, isto é, não é acompanhada de liberação de um óvulo. Por isso, durante algum tempo após a menarca, as meninas adolescentes podem ser estéreis. Naturalmente, existem exceções à regra de esterilidade pós-menarca. Fonte: Faw, 1981. As mesmas mudanças bioquímicas que estimulam a maturação das características sexuais primárias também estimulam outras mudanças físicas, bem como o aparecimento de algumas estruturas físicas. Essas mudanças são chamadas de características sexuais secundárias. Incluem o surgimento dos pelos do corpo, mudanças na textura da pele, alterações no funcionamento das glândulas subcutâneas e modificações na voz. Nas meninas, os seios também são considerados como características sexuais secundárias (FAW, 1981). O crescimento acelerado observado na adolescência é o resultado de impressionantes mudanças hormonais. Essas ocorrem em três níveis: no hipotálamo, na hipófise e nas glândulas e órgãos periféricos. As estruturas em cada nível proporcionam estimulação para a atividade no nível mais baixo. A atividade em glândulas periféricas serve como um laço de retroinformação para inibir estimulação ulterior pelo hipotálamo. Assim, é mantido o equilíbrio hormonal do organismo (FAW, 1981). DESENVOLVIMENTO COGNITIVO A transição principal que ocorre no pensar na adolescência é impressionante. A crescente capacidade para considerar tanto as realidades com as quais uma pessoa entra em contato, como as que podem ou não existir fisicamente. Esta capacidade é chamada de pensamento formal e usa o que para Piaget são as operações formais. O pensamento formal permite a conceituação de abstrações e de eventos concretos (FAW, 1981). A capacidade para pensar formalmente não somente aumenta a habilidade do adolescente na solução de problemas que anteriormente ficam sem solução, como também ao idealismo típico de seu grupo etário. A capacidade para conceituar o mundo como este poderia ser muitas vezes leva os adolescentes a questionar por que o mundo real não corresponde com o ideal potencial (FAW, 1981). CARACTERÍSTICAS DA COGNIÇÃO FORMAL - Enfoque em conclusões lógicas e não em informação fatual: O adolescente tende a abordar os problemas pela avaliação de sua correspondência à realidade, ao passo que os adolescentes conseguem apreender o potencial para tirar da informação disponível conclusões lógicas que são independentes de sua correspondência à realidade (FAW, 1981). - Raciocínio Dedutivo Hipotético: O adolescente com seu enfoque de conclusões possíveis que podem ser geradas de um conjunto de pressupostos têm margem para raciocínio dedutivo hipotético. Nesse raciocínio, primeiramente um indivíduo estabelece uma hipótese teórica acerca de maneiras possíveis em que os elementos de uma teoria se relacionam. A seguir são feitas deduções sobre as observações que seriam feitas da realidade, se as hipóteses fossem verdadeiras. A fim de determinar a adequação das hipóteses iniciais, são feitas comparações entre as observações previstas e as verdadeiras observações darealidade. Finalmente, é feita uma reformulação da perspectiva teórica sobre a realidade, para que sejam levadas em conta as discrepâncias entre a observação prevista e a real. As duas primeiras destas fases do raciocínio dedutivo hipotético envolvem o pensar sobre a maneira que a realidade poderia ser, por isso requerem pensamento formal. É somente na última fase que o indivíduo deve confrontar-se com a realidade (FAW, 1981). - Geração de Todas as Combinações Potenciais e Permutações de Eventos: A fim de descobrir o número (resposta) que, quando somado a 8 se torna cinco vezes seu valor original, os adolescentes selecionarão um número após o outro e inserirão cada um na fórmula x + 8= ? e na equação 5x= ?, para verificarem se as respostas são iguais. O adolescente, porém é capaz de reorganizar o problema original na fórmula x + 8= 5x. Subsequentemente, o adolescente pode resolver a equação para chegar a uma resposta. Eles não precisam das aproximações de ensaio e erro para descobrirem a solução do problema (FAW, 1981). - Consideração Simultânea de mais um aspecto de uma situação e os relacionamentos entre eles: O adolescente examina os eventos sequencialmente não explora o relacionamento existente ou potencial entre eles. Exemplo: O adolescente observa o seguinte evento: (1) O pai diz que deseja que a família seja saudável e que todos se apreciem durante muitos anos; (2) A televisão diz que fumar pode ser arriscado para a saúde e que a pessoa pode morrer mais cedo do que o normal; (3) O pai é observado a fumar. O adolescente responde a cada um destes eventos como a uma entidade separada. Não considera a falta de coerência lógica nestes eventos. Suas tentativas de conciliar a coerência lógica de um ideal com a ilógica da realidade percebida muitas vezes resultam em confusão. Para o adolescente raramente existe essa confusão (FAW, 1981). - Prevalência do Pensamento Formal: Dependendo do ambiente em que o adolescente é criado, não solicita o desenvolvimento de cognição operacional formal para seu funcionamento normal. Eles podem não desenvolver sua capacidade para essa forma de cognição. Até mesmo os que a desenvolveram, podem não usá-la constantemente. Existem muitas situações em que os processos cognitivos formais são menos eficientes do que o pensamento operacional concreto. Além do mais, como no caso do jovem mais novo, os motivos pessoais e as emoções podem interferir na plena utilização pelo indivíduo de sua capacidade cognitiva formal (FAW, 1981). DESENVOLVIMENTO SOCIAL E DA PERSONALIDADE No início da adolescência, a autoestima reduz-se um pouco, vindo a aumentar com constância, ao longo dos anos do mesmo período. A questão central nesta idade é a busca de identidade, a qual tem componentes ocupacionais, sexuais e de valores. Erik Erikson descreveu a crise psicossocial da adolescência como o conflito entre identidade e confusão de identidade (ou de papel). A “virtude” que deveria surgir a partir da crise é a fidelidade (PAPALAIA; OLDS, 2006). Em uma pesquisa baseada na teoria de Erikson, foi descrito quatro estados de identidade: conquista de identidade (crise que leva ao comprometimento), pré- fechamento (comprometimento sem crise), moratória (crise ainda sem comprometimento) e difusão de identidade (nenhum comprometimento e nenhuma crise). Os pesquisadores como James Marcia, constataram diferenças na formação de identidade masculina e feminina, e também nas questões étnicas (PAPALAIA; OLDS, 2006). As definições de self passam a ser mais abstratas na adolescência, com maior ênfase na ideologia e nas qualidades internas permanentes. Os adolescentes cada vez mais definem a si mesmos em termos que incluem traços masculinos e femininos. Quando são ambos exacerbados, o indivíduo é descrito como andrógeno. Uma androginia elevada está associada a uma maior autoestima, seja em adolescentes do sexo masculino, ou feminino (BEE, 1997). Os conceitos sobre as relações também sofrem modificação, tornando-se mais flexíveis e as amizades são, cada vez mais, entendidas como adaptáveis e mutáveis. As interações entre os adolescentes e seus pais costumam ficar um tanto quanto conflitantes, no início da adolescência, fenômeno que, possivelmente, possa ter relação com as mudanças físicas da puberdade. Todavia, o apego aos pais permanece forte (BEE, 1997). As relações com os companheiros passam a ser cada vez mais importantes, seja quantitativa, seja qualitativamente. Os teóricos enfatizam que os companheiros cumprem uma função importante como uma ponte entre a dependência da infância e a independência da vida adulta (BEE, 1997). Os adolescentes são mais vulneráveis à pressão dos companheiros, bem no início da adolescência. Nesse mesmo período, os grupos de amigos mudam de grupos formados por elementos do mesmo sexo para grupos maiores mistos (BEE, 1997). A sexualidade dos adolescentes influencia muito a formação de sua identidade. A orientação sexual parece ser influenciada por uma interação de fatores biológicos e ambientais (PAPALAIA; OLDS, 2006). As atitudes e os comportamentos sexuais estão mais liberais do que no passado. Porém, o clima sexual mais liberal envolve maiores riscos. A atividade sexual entre os adolescentes tem se tornado cada vez mais comum, em todas as idades, os garotos relatam maior atividade sexual do que as garotas, e os negros relatam mais atividades sexuais do que os brancos e os hispânicos (BEE, 1997). As interações nas famílias com figuras de autoridade continuam a ser o melhor padrão na adolescência. Os adolescentes dessas famílias são mais autoconfiantes, menos aptos a utilizar drogas e possuem uma autoestima maior do que os adolescentes de famílias negligentes ou autoritárias (BEE, 1997). O efeito do trabalho da mãe no desenvolvimento dos adolescentes é amenizado por outros fatores, como a afetuosidade da mãe e sua satisfação no emprego. Embora os adolescentes que não vivem com o pai biológico estejam em maior risco de apresentar problemas, os efeitos do divórcio e da criação por apenas um dos pais podem ser menos severos do que se supunha e podem depender de circunstâncias particulares. O estresse econômico afeta os relacionamentos tanto em famílias com apenas um dos pais quanto em famílias com ambos os pais (PAPALAIA; OLDS, 2006). Um novo casamento dos pais, durante a adolescência de um filho, parece causar um efeito mais negativo nas garotas do que nos garotos.As taxas de depressão aumentam muito na adolescência e são mais elevadas entre as meninas. Adolescentes deprimidos apresentam maior probabilidade de provir de famílias com, pelo menos, um dos pais deprimido, embora haja outras vias, o que inclui uma aceitação insuficiente por parte dos companheiros, na escola, autoestima reduzida e níveis elevados de mudanças de vida ou estresse na adolescência (BEE, 1997). A pressão dos pares influencia alguns adolescentes em direção ao comportamento antissocial, mas uma boa educação pode isolar os adolescentes de influências negativas (PAPALAIA; OLDS, 2006). Os adolescentes são responsáveis por mais crimes do que seria proporcional, mas a maioria dos delinquentes passa a ser cumpridor da lei. A delinquência crônica está associada a múltiplos fatores de risco, incluindo criação inadequada, fracasso escolar e baixo nível socioeconômico (PAPALAIA & OLDS, 2006). Vários tipos de delinquentes têm sido identificados, com diferentes rumos desenvolvimentais. Associado a isso está o uso e o abuso de drogas e álcool (BEE, 1997). REFERÊNCIAS ABERASTURY A. & KNOBEL M. Adolescência normal. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1982. PAPALIA, et al. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2006. ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. São Paulo: Afiliada, 1981. BALDWIN, A. L. Teorias de Desenvolvimento