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Nunca antes
Para apresentar esta edição de Grandes Líderes da História, em vez de dis-
cursar sobre Lula, resolvi selecionar algumas frases contidas no genial livro de 
Marcelo Tas, Nunca Antes na História deste País (Panda Books). Acompanhe:
“O mínimo deveria ser de 1.100 reais se levasse em conta o valor real de 1939. Os que 
recebem o mínimo deveriam receber pedidos de desculpas.” (outubro de 1998)
“Você pode fazer seu discurso político na hora que quiser. Você pode ter suas de-
finições ideológicas... Mas, na hora de governar, é pão, pão; queijo, queijo. Você 
nem sempre faz o que você quer.”(30/10/2003)
“A democracia é um ambiente mais saudável para o crescimento. Pouco me inte-
ressaria um aumento expressivo do PIB se isso implicasse, o mínimo que fosse, na 
redução das liberdades democráticas.” (22/01/2007)
“Quando a gente fala de improviso, a gente pode cometer um erro e falar uma pa-
lavra imprevista. Mas, em se tratando de bobagem, é melhor a gente falar do que 
a gente fazer.” (19/07/2005)
“A política é como uma boa cachaça: você toma a primeira dose e não tem como 
parar mais. Só quando termina a garrafa.” (2008)
“Meu sucessor vai ter um problema sério: terá de fazer mais que um metalúrgico. 
Não poderá passar à História como alguém que fez menos que um torneiro mecâ-
nico.” (08/09/2008)
 Grande abraço,
Notas
A trajetória de Lula em pequenas 
passagens ....................................... 4
De Garanhuns 
para São Paulo
Infância e juventude ....................... 8
O novo sindicalismo
O envolvimento de Lula com o 
movimento sindical ........................ 13
Fundação do PT
Nasce o Partido dos Trabalhadores 18
Início da 
carreira política
Primeiros passos na vida pública ... 23
Sonho da presidência
Longo caminho até o 
Palácio do Planalto ........................ 28
Primeiro mandato
De 2003 a 2006 ............................. 34
Mensalão e 
outras crises
Escândalos e polêmicas ocorridos 
durante o governo de Lula ............. 38
Segundo mandato
De 2007 até hoje ............................ 42
Lula por ele mesmo
Frases do líder político ................... 46
Filme
Lula, o Filho do Brasil ................... 48
Sumário
Presidente: Paulo Roberto Houch
Vice-Presidente Editorial: Andrea Calmon
 redacao@editoraonline.com.br
REDAÇÃO
Jornalista Responsável: Andrea Calmon – MTB 47714
COLABORARAM 
NESTA EDIÇÂO: Thaise Rodrigues (edição e 
 revisão) e Claudio Blanc (textos)
PROGRAMAÇÃO VISUAL
Coordenador: Rubens Martim
 diagramacao@editoraonline.com.br
Programação Visual: Fernando Lima Cunha
PRODUÇÃO FOTOGRÁFICA
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Lula em 06/08/1981
NOTAS
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sim, careca. Foi ele quem deu a Lula primeiro exemplar 
de um livro sobre política, O que é Constituição?
Marketing
Depois da derrota para Fernando Collor em 1989 
e ao longo de duas outras campanhas fracassadas pa-
ra a Presidência da República, Lula começou a viajar. 
Nas Caravanas da Cidadania de 1993 e 1994, andou 
pelo Brasil. Pelo mundo, apareceu como interlocutor 
de personalidades internacionais como Fidel Castro, 
François Mitterrand e Nelson Mandela.
Chef
Lula gosta de cozinhar. Embora viva de dieta – com 
pouco sucesso, vale ressaltar –, sua rabada com polenta 
no fogão de lenha é famosa. O presidente não dispensa 
uma cachacinha nos momentos de folga e é fã de Chico 
Buarque e Caetano Veloso.
Declínio
A derrota de Lula para Collor nas eleições de 1989 
marcou o declínio do ciclo de grandes mobilizações 
sociais, iniciado em 1978, e desencadeou a onda li-
beral conservadora. 
Mais votado
Com 652 mil votos, Luiz Inácio Lula da Silva chegou 
à Assembleia Nacional Constituinte como o deputado 
Molusco
Quando o metalúrgico Luiz Inácio da Silva despon-
tou como líder das históricas paralisações da década de 
1970, o antigo apelido – Lula – tornou-se tão popular 
que acabou eclipsando o nome. Em 1982, quando con-
correu ao governo de São Paulo, Lula incorporou ofi-
cialmente o apelido aos documentos. 
Maior votação
Luiz Inácio Lula da Silva chegou à Presidência da 
República com a maior votação recebida por um brasi-
leiro. Retirante nordestino, operário metalúrgico, fun-
dador da nova esquerda, sem diploma universitário, 
orador fluente que às vezes tropeça no idioma, ele tem 
a cara do Brasil.
Picolé
Luiz Inácio Lula da Silva tinha 10 anos quando to-
mou um picolé pela primeira vez. Certa vez, quando 
o pai, Aristides Inácio da Silva, distribuía sorvetes en-
tre os filhos do segundo casamento, Lula quase experi-
mentou a delícia gelada. Mas, na vez de Lula, nascido 
do primeiro relacionamento, Aristides recusou e disse 
como desculpa: “você nem sabe chupar’’ . 
Frei leigo
Lula foi iniciado na política pelo irmão comunista 
José Ferreira da Silva, o Frei Chico, que não é frade e, 
A TRAJETÓRIA 
DE LUIZ INÁCIO 
“LULA” DA SILVA
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Telegram: @clubederevistas
federal mais votado da História do Brasil. Assumiu em 1o 
de fevereiro de 1987, aos 41 anos. Mas, contrariando ex-
pectativas, o deputado Lula teve um desempenho fraco. 
Apelido
Quando deputado, Luiz Inácio apelidou o Congresso 
de ‘’vendilhão de ilusões’’. 
Recordista
Nas eleições presidenciais de 2002, Lula alcançou a 
maior votação que um brasileiro já obteve e a segunda 
maior no mundo, depois do norte-americano Ronald 
Reagan, em 1984.
Viajante
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou 
206.883 km a bordo do avião da presidência em 2005, 
distância equivalente a 5,16 voltas ao redor do planeta 
pela linha do Equador.Paulo 
Maluf. Depois de 20 anos com os 
militares no poder, o Brasil teria, fi-
nalmente, um presidente civil. 
O PT acabou não indo ao Colégio 
Eleitoral que elegeu Tancredo presi-
dente da República, em 1985. Três de 
de ocasião, assumiu a presidência. 
Apesar estar longe de ser o candidato 
dos sonhos dos brasileiros, ao deixar 
o governo em 15 de março de 1990, 
Sarney tinha se tornado o presidente 
da redemocratização, aquele que deu 
ao País uma nova Constituição.
A Constituinte
A primeira vitória de Lula e do 
PT aconteceu nas eleições para a 
Constituinte. Em 1986, o líder sindi-
cal foi eleito o deputado mais votado 
do país com 652 mil votos. Dos 572 
municípios de São Paulo, Lula recebeu 
votos em 568, sobretudo nas regiões 
industriais. Dessa forma, Luiz Inácio 
Lula da Silva chegou à Assembleia 
Nacional Constituinte no primeiro 
dia de fevereiro de 1987, aos 41 anos. 
Além de incorporar terno e gravata 
ao novo visual, Lula estreava a chance 
de tornar realidade os anseios da classe 
trabalhadora. Mas, apesar das expecta-
tivas em torno do deputado, ele teve um 
desempenho fraco. A culpa, segundo 
Lula, era da estrutura do Congresso, o 
qual apelidou de “vendilhão de ilusões”. 
“Milhares de pessoas votaram em mim 
e estou aqui brigando pela Constituinte 
mais avançada possível. Este é o aspec-
to positivo. O negativo é que a estru-
tura de funcionamento do Congresso é 
arcaica, é feita para não funcionar com 
a rapidez necessária”, declarou numa 
entrevista ao Jornal do Brasil, em 21 
de fevereiro de 1987. 
Além da lentidão, Lula reclamava 
da superficialidade com que os pro-
blemas eram tratados, da burocracia 
e da falta de comprometimento da 
maioria dos deputados e senadores. 
“Nunca imaginei que o nível fosse tão 
Primeiras expulsões do PT
Na luta pelas Diretas Já, Lula, embora tenha 
sido o articulador da campanha e figura 
importante nos comícios que tomaram as ruas 
de várias capitais brasileiras, acabou sendo 
ofuscado por Ulysses Guimarães e pelo PMDB
Depois da derrota da emenda Dante de 
Oliveira, em abril de 1984, o PT tentou 
retomar a campanha das Diretas, mas 
o movimento Tancredo Já tomava as 
ruas com maior vigor. A direção do 
partido orientou seus correligionários 
a não comparecer ao colégio eleitoral, 
classificando-o como um “arranjo” 
das elites e chamando a transição de 
“transação”. Contudo, três, dos oito 
deputados federais petistas, contrariaram 
a orientação partidária (Beth Mendes [SP], 
Airton Soares [SP] e José Eudes [MG]) 
e votaram em Tancredo. Por conta disso, 
foram expulsos do partido, inaugurando o 
primeiro expurgo da história do PT.
a mudança, muitos políticos governis-
tas mudaram de lado. “Queriam estar 
ao lado do candidato cujo logotipo de 
campanha era o mesmo dos comícios 
das Diretas”, conforme notou o histo-
riador Jorge Caldeira.
Tancredo de Almeida Neves era, 
nas palavras de Eduardo Bueno, “o 
típico político mineiro: calado sem-
pre que possível, reticente quando 
necessário, corajoso em momento-
chave, capaz de guinadas oportu-
nas e eventualmente oportunistas”. 
Apoiado pela população, a campa-
nha de Tancredo Neves deslanchou. 
Apesar de a escolha ser feita pelo 
Colégio Eleitoral, Tancredo fez sua 
campanha como se as eleições fos-
sem diretas. Organizou comícios 
chamando o público, o que, por sua 
vez, atraiu políticos governistas que 
oito deputados federais do PT foram 
expulsos do partido porque decidi-
ram votar na eleição indireta.
Mas o sonho da sociedade civil 
seria frustrado. Em 13 de março, a 
apenas dois dias da posse, Tancredo 
passou por uma bateria de exames, 
e os médicos constataram a existên-
cia de um processo infeccioso agudo 
no abdômen. Tancredo tentou adiar 
a internação para depois da primeira 
reunião ministerial do novo governo, 
marcada para o dia 17, às 17h. Mas 
a reunião não aconteceu. Na noite do 
dia 14, o quadro clínico indicava pos-
sibilidade de parada cardíaca, para-
da respiratória e morte, e Tancredo 
precisou ser internado imediatamen-
te. O presidente eleito faleceu em 21 
de abril daquele ano, e o vice-presi-
dente José Sarney, um oposicionista 
26
INÍCIO DA CARREIRA POLÍTICA
Telegram: @clubederevistas
baixo. Nunca imaginei que a incapa-
cidade fosse tanta. Incapacidade de 
diálogo, de articulação. Incapacidade 
política. Nunca imaginei que fosse ta-
manha a capacidade para negociatas 
e negócios sujos como os que a gen-
te vê. Chega a dar nojo”, atacou Lula 
em dezembro daquele ano. 
Antes de assumir a cadeira, 
Luiz Inácio defendia reformas. Sua 
“Constituição avançada” previa au-
tonomia sindical, direito irrestrito de 
greve, redução da jornada de traba-
lho e reforma agrária. Propunha a 
formação de frentes parlamentares 
com deputados de outros partidos e 
se comprometia a ir às portas das fá-
bricas e às estações de trem para con-
tar aos trabalhadores o que se passa-
va no Congresso. 
Ao mesmo tempo em que Lula se 
desiludia com o Congresso, as críti-
cas à sua atuação se multiplicavam. 
“Apagado” era um dos termos usa-
dos para definir seu trabalho. Luiz 
Inácio chegou a pensar em abando-
nar a Constituinte. “Fui eleito para 
fazer valer alguns interesses dos que 
nunca tiveram nada neste país e esta 
Constituição que se quer fazer pare-
ce não querer isso. Garanto que não 
vou assiná-la nem legitimá-la”, afir-
mou Lula no fim de 1987. 
A frustração com a Constituinte 
foi tanta que, seis anos depois, Lula 
afirmou que a sociedade não deveria 
confiar nos políticos, porque have-
ria “pelo menos 300 picaretas no 
Congresso”. O fato causou bastante 
polêmica na época.
A frustrante experiência como de-
putado – tanto para Lula como para 
seus eleitores – o fez desistir de se can-
didatar novamente para esse cargo. 
Enterrou as pretensões legislativas e 
não mais se candidatou a deputado. 
No entanto, a vivência daquele perío-
do foi crucial para o amadurecimen-
to político e representou um degrau a 
mais na escalada à Presidência. Sete 
meses antes do término dos trabalhos 
na Assembleia Nacional Constituinte, 
Lula se lançou candidato às eleições 
presidenciais de 1989. H
Lula comenta a Constituinte de 1988
Em entrevista concedida ao jornal 
Folha de São Paulo em outubro de 
2008, o presidente Luiz Inácio Lula da 
Silva criticou as “soluções mágicas” 
propostas pelo PT em 1988. “O PT 
chegou ao Congresso com uma 
proposta de Constituição pronta e 
acabada [com] que, se fosse aprovada, 
certamente seria muito mais difícil 
governar do que hoje”.
Embora reconheça os avanços 
da Constituição de 1988, Lula e o 
PT votaram contra o texto final da 
Constituição. Hoje, o presidente explica 
a posição da seguinte forma: “o PT 
votou contra o texto final da Constituição 
porque não concordava com a 
regulamentação posterior de uma série 
de direitos sociais que estavam sendo 
garantidos. Tínhamos convicção de que 
o que ficasse para ser regulamentado 
depois teria muita dificuldade para ser 
implementado. Como de fato ocorreu. 
Mas, ao contrário do que alguns dizem 
por aí, nós assinamos a Constituição. 
Eu era o líder da bancada e lembrei que 
trabalhamos três anos, participamos dos 
debates, ganhamos algumas batalhas, 
perdemos outras. Tínhamos de deixar o 
nosso nome na história e assinar”.
Lula candidato a governador de São Paulo nas eleições de 1982 (15/11/1982)
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Telegram: @clubederevistas
Por Claudio Blanc
A s eleições presidenciais de 1989 foram um mar-
co na história recente do Brasil. Primeiro, por-
que pela primeira vez em mais de um quarto de 
século, desde 1960 (portanto, antes do Golpe de 1964), 
os brasileiros voltariam a escolher seu presidente. Em se-
gundo lugar, porque pela primeira vez na história do País 
um candidato que não pertencia às oligarquias, genuíno 
representante do proletariado, concorria ao cargo mais al-
to da nação. Lula representava a face de um novo Brasil. 
O povo, por quem os tenentesse sublevaram em 1922; 
o povo, por quem alguns revolucionários marcharam na 
Coluna Prestes incitando a insurreição, tinha finalmente 
um representante legítimo. E não era alguém da elite que 
se pronunciava em favor dos excluídos, mas sim alguém 
vindo do chão da fábrica, alguém que viajara de pau-de-
arara, alguém que poderia defender os interesses da classe 
trabalhadora. Esse homem era Luiz Inácio Lula da Silva.
A eleição para presidente de 1989 também foi emblemá-
tica por trazer novas configurações sociais e políticas. Isso 
fica claro ao se comparar o pleito à última eleição livre para 
presidente acontecida antes da instalação da ditadura mili-
tar. O Brasil de 1989 e o de 1960 eram muito diferentes. Em 
1960, apenas 30% da população vivia nas cidades; existiam 
poucas estradas nacionais; a precariedade dos transportes e 
das telecomunicações dificultava a interação entre cidades 
e regiões; os jornais, o rádio (com algumas exceções, como 
a Rádio Nacional do Rio de Janeiro) e a televisão funcio-
navam como veículos eminentemente locais; as transmis-
sões televisivas se restringiam a oito capitais (São Paulo, Rio 
de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, 
Fortaleza e Curitiba), com 18 emissoras e “cerca de 100 mil 
O SONHO DA PRES IDÊNCIA
AS HISTÓRICAS E POLÊMICAS ELEIÇÕES DE 1989
Lula votando em São Paulo no segundo turno das eleições presidenciais de 1989
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RUMO AO PALÁCIO DO PLANALTO
Telegram: @clubederevistas
(93%). O setor secundário 
da economia havia crescido 
263% e o terciário, 167%, 
tornando o Brasil um país 
urbano, industrial e de ser-
viços. Existiam 235 emisso-
ras de televisão, 25 milhões 
de receptores, cinco redes 
nacionais e 94% da popu-
lação estava potencialmente 
atingida pela televisão. O Brasil que se 
preparava para escolher seu novo pre-
sidente era, portanto, um outro país. 
A disputa
O fim da ditadura militar, em 
1985, trouxe à cena diversos novos 
partidos políticos. No entanto, por 
serem relativamente novos, estavam 
pouco mobilizados. Mesmo assim, 
22 candidaturas à presidência foram 
lançadas (veja box). Essa quantidade 
mantém o recorde mundial de eleição 
presidencial com mais candidatos. 
Em sua primeira disputa pela pre-
sidência do Brasil, a principal carac-
terística do candidato Lula era sua 
identificação com a luta dos opri-
midos da América Latina. O can-
didato do PT apresentou programa 
de governo que previa a realização 
de uma “revolução social”, buscan-
do beneficiar as classes oprimidas do 
reforma agrária estava 
também na pauta. Além 
disso, o programa incor-
porava igualmente propos-
tas dos ecologistas ligados 
ao PT. 
Com relação à política 
externa, em 1989, o can-
didato Lula se identificava 
com a luta dos excluídos la-
tino-americanos. Ele prometia adotar 
uma "política externa independente 
e soberana, sem alinhamentos auto-
máticos, pautada pelos princípios de 
autodeterminação dos povos, não-in-
gerência nos assuntos internos de ou-
tros países e pelo estabelecimento de 
relações com governos e nações em 
busca da cooperação à base de plena 
O SONHO DA PRES IDÊNCIA
aparelhos no Rio e em São Paulo”. Os 
circuitos culturais erudito – altamen-
te restrito – e popular eram, em ter-
mos sociais, muito distanciados, com 
débeis pontos de interlocução. 
Vinte anos depois, em 1980, a po-
pulação já se tornara majoritariamen-
te urbana (67%) e a parcela economi-
camente ativa tinha quase duplicado 
País. Para tanto, o candidato propu-
nha a criação de uma “mercado in-
terno de massas”, que permitiria a 
migração de grande parte das cama-
das mais pobres da população, is-
to é, das classes D e E, para a clas-
se C. Tratava-se de projeto nacional 
de desenvolvimento que pusesse fim 
“à tragédia nacional brasileira”. A 
“O Brizola acha que trabalhador é 
importante quando bate palmas debaixo 
do seu palanque, mas não aceita um 
trabalhador como candidato”
(Lula respondendo a críticas do candidato 
Leonel Brizola, na campanha de 1989)
Lula em Campanha 
- Frases
“Brizola, para ser presidente, 
é capaz de pisar no pescoço 
da própria mãe”. 
Sobre o candidato Leonel Brizola, em 1989
“Ele deveria abandonar sua 
candidatura e virar vendedor 
de discos da década de 30” 
Lula sobre o candidato Leonel Brizola, na 
campanha de 1989
“Um dia vamos fazer a 
reforma agrária neste país; 
um dia a classe trabalhadora 
vai controlar os meios de 
produção deste país e deixar 
de investir em armas”. 
Em entrevista ao Jornal da Tarde
“Que a minha participação 
neste debate tenha servido 
para mostrar que o famoso 
caçador de marajás não passa 
de um caçador de maracujás.” 
Falando de Collor, no último debate do 
segundo turno das eleições presidenciais 
de 1989
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Lula durante campanha presidencial de 1989
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igualdade de direitos e benefícios mú-
tuos". A Frente Brasil Popular, a alian-
ça partidária formada para apoiar a 
candidatura de Lula, propunha, se 
Luiz Inácio fosse eleito, adotar uma 
"política anti-imperialista, prestan-
do solidariedade irrestrita às lutas em 
defesa da autodeterminação e da so-
berania nacional, e a todos os movi-
mentos em favor da luta dos trabalha-
dores pela democracia, pelo progresso 
social e pelo socialismo". Para tanto, 
Lula chegou a propor a "decretação de 
uma moratória unilateral para ‘solu-
cionar’ a questão da dívida externa". 
A oposição a Lula era gritante, prin-
cipalmente por parte da classe empre-
sarial. Mario Amato, então presiden-
te da Fiesp, chegou a declarar que “se 
Lula vencer as eleições, 800 mil empre-
sários irão deixar o País”.
Luiz Inácio foi para a disputa, 
conforme o slogan da campanha, 
“sem medo de ser feliz”. O candidato 
da coligação encabeçada pelo PT sur-
preendeu políticos há muito estabele-
cidos que disputavam a eleição, co-
mo Mário Covas e Leonel Brizola, 
e chegou ao segundo turno contra 
Fernando Collor, da coligação li-
derada pelo hoje extinto Partido da 
Reconstrução Nacional (PRN).
A avaliação do governo Sarney pe-
lo eleitorado foi importante para de-
finir os resultados do primeiro turno 
das eleições. Isso porque houve grande 
Os eleitores de Lula em 1989
A distribuição espacial dos votos para 
Lula revela que seus melhores desem-
penhos eleitorais no primeiro turno 
de 1989 concentraram-se num bom 
número de capitais estaduais e em 
Brasília. Além dessas áreas, o candi-
dato teve boas votações no Nordeste, 
numa faixa mais próxima do litoral, que 
engloba o norte do Maranhão, o cen-
tro do Piauí, o Rio Grande do Norte, a 
Paraíba, Pernambuco e o centro-norte 
da Bahia. No Sudeste, Lula alcançou 
bons resultados no norte do Espírito 
Santo, leste de Minas Gerais, sul do 
Rio de Janeiro e leste de São Paulo. Na 
verdade, o bom resultado do candidato 
nessas áreas foi devido ao eleitorado das 
capitais estaduais e à existência de zo-
nas industriais, a exemplo do Vale do Aço 
(MG), de Volta Redonda (RJ), e do ABCD, 
na região metropolitana de São Paulo.
No segundo turno das eleições de 1989, 
houve forte alteração na geografia eleitoral 
do candidato, sobretudo em relação ao 
Rio de Janeiro, sudoeste do Paraná, 
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essa 
mudança ocorreu fundamentalmente 
decido à transferência de votos de Brizola, 
terceiro colocado no primeiro turno da 
eleição, que conseguiu grande número de 
votos nessas áreas, e decidiu apoiar Lula 
no segundo turno. No mesmo sentido, 
o apoio de Covas, quarto colocado 
no primeiro turno, alterou o padrão de 
votação de Lula em São Paulo, sobretudo 
no continuum urbano que vai de Santos 
a Ribeirão Preto. Quanto ao Ceará, o 
aumento das votações para Lula em 
Fortaleza resultou tanto do apoio de 
Brizola quanto do de Covas, que no 
primeiro turno receberam boas votações 
nessa capital.
Fonte: Relatório As eleições presidenciais no Brasil 
pós-ditadura militar: continuidadee mudança na 
geografia eleitoral, de Cesar Romero Jacob,Dora 
Rodrigues Hees,Philippe Waniez e Violette Brustlein
Comício de Lula na Cinelândia durante a campanha eleitoral para presidente em 1989
AGÊNCIA O GLOBO/ OTÁVIO MAGALHÃES
30
RUMO AO PALÁCIO DO PLANALTO
Telegram: @clubederevistas
Informações: † – candidatura impugnada. ª: eleitorado total = 82.074.718 / (abstenção = 7.793.809).
Fonte: Dicionário do Voto – Walter Costa Porto, Universidade de Brasília
Informações: abstenção = 11.814.017.
Fonte: Dicionário do Voto – Walter Costa Porto, Universidade de Brasília
Candidato Votos %
Fernando Collor de Mello (PRN, PSC, PTR, PST) 22.611.011 28,52
Luiz Inácio Lula da Silva (PT, PSB, PC do B) 11.622.673 16,08
Leonel Brizola (PDT) 11.168.228 15,45
Mário Covas (PSDB) 7.790.392 10,78
Paulo Salim Maluf (PDS) 5.986.575 8,28
Guilherme Afif Domingos (PL, PDC) 3.272.462 4,53
Ulysses Guimarães (PMDB) 3.204.932 4,43
Roberto Freire (PCB) 769.123 1,06
Aureliano Chaves (PFL) 600.838 0,83
Ronaldo Caiado (PSD, PDN) 488.846 0,68
Affonso Camargo Neto (PTB) 379.286 0,52
Enéas Ferreira Carneiro (PRONA) 360.561 0,50
José Alcides Marronzinho de Oliveira (PSP) 238.425 0,33
Paulo Gontijo (PP) 198.719 0,27
Zamir José Teixeira (PCN) 187.155 0,26
Lívia Maria de Abreu (PN) 179.922 0,25
Eudes Oliveira Mattar (PLP) 162.350 0,22
Fernando Gabeira (PV) 125.842 0,17
Celso Brant (PMN) 109.909 0,15
Antônio dos Santos Pedreira (PPB) 86.114 0,12
Manoel de Oliveira Horta (PDC do B) 83.286 0,12
Armando Corrêa da Silva (PMB) 4.363 0,01
Silvio Santos (PMB) 0† 0,0†
Votos brancos 1.176.413 1,6
Votos nulos 3.473.484 4,4
TOTAL 74.280.909ª 100
Candidato Votos %
Fernando Collor de Mello (PRN, PSC, PTR, PST) 35.089.998 49,94
Luiz Inácio Lula da Silva (PT, PSB, PC do B) 31.076.364 44,23
Votos brancos 986.446 1,40
Votos nulos 3.107.893 4,42
TOTAL 70.260.701ª 100
Candidatos e resultados do primeiro turno
Resultados do segundo turno
no horário eleitoral do candidato. Os 
jornais comparavam Luiz Inácio a 
Abrahan Lincoln, buscando justificar 
a origem popular de Lula igualando-a 
à do presidente norte-americano. Mas 
a imagem de líder sindical ainda assus-
tava os patrões. Lula prometia suspen-
der o pagamento da dívida externa do 
País. Empresários prometiam deixar o 
Brasil se ele ganhasse. E havia também 
forte resistência da classe média con-
servadora. “As pessoas me dizem que a 
classe média tem medo de mim. O que 
é ser classe média? Ir a um restauran-
te uma vez por semana? Tomar uma 
cervejinha de vez em quando com os 
amigos? Ir à praia? Ora, isso é pra to-
do mundo”, dizia o candidato do PT. 
Nos últimos dias de campanha, Lula 
cresceu e encostou em Collor, que li-
derava todas as pesquisas.
O famoso debate
Durante o segundo turno, a Rede 
Globo de Televisão realizou um de-
bate entre os candidatos. No entan-
to, na edição do Jornal Nacional do 
dia seguinte, o debate foi editado 
de maneira a mostrar que Collor ti-
nha tido melhor desempenho do que 
Lula. Isso foi entendido por muitos 
analistas como um ato de favoritis-
mo político a Collor, que mantinha 
um relacionamento próximo com 
Roberto Marinho, dono da Globo. 
Chegou-se a afirmar que a vitória de 
Collor foi devida a esse debate. Mas 
o candidato do PRN fez uma joga-
da inesperada para desmoralizar 
Lula. Ele passou a questionar a mo-
ral do seu opositor. Revelou a exis-
tência de uma filha que Luiz Inácio 
teve fora do casamento e convidou a 
ex-namorada de Lula, a enfermeira 
“A burguesia dá 
sopinha na escola 
e depois pergunta: 
por que pobre não 
vota em nós?”
rejeição ao governo, o que pautou as 
ações dos candidatos e partidos que 
disputavam o pleito, fazendo que to-
dos se apresentassem como oposição. 
A avaliação de atributos pessoais, co-
mo experiência, competência, hones-
tidade e sinceridade, dos candidatos 
também ocupou papel importante. 
Quanto ao posicionamento na escala 
direita–esquerda, esse foi um fator a in-
fluenciar o voto da maioria dos eleito-
res com nível superior de escolaridade, 
o que não aconteceu com o eleitorado 
de baixa escolaridade.
No segundo turno, o entusias-
mo correu o País. Artistas participa-
ram ativamente da campanha de Lula, 
cantando o famoso jingle “Lula Lá”, 
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 31
Telegram: @clubederevistas
Mirian Cordeiro, a declarar que o 
candidato a havia forçado fazer um 
aborto e que lhe tinha admitido que 
odiava negros – mesmo tendo traços 
obviamente mestiços. 
Assim, a chance de vitória de Lula 
escapou no último debate. “O depu-
tado do PT no dia 29 de dezembro 
de 1985 concedeu uma entrevista ao 
jornal Folha de São Paulo que diz as-
sim: Lula defende até a luta arma-
da. Eu sou contra a luta armada, eu 
sou contra a violência”, disse Collor 
no debate, mostrando o jornal com 
a entrevista de Lula. Luiz Inácio per-
deu, mas saiu da eleição com quase 
metade do total de votos e consagra-
do como líder da oposição. 
Brizola e Covas
Mea culpa
No início da campanha presidencial 
de 1989, Leonel Brizola, candidato 
pelo Partido Democrático Trabalhista 
(PDT), buscou unidade com o PT. No 
entanto, em lugar de unir forças, os 
dois principais partidos de oposição 
seguiram caminhos separados. De fa-
to, Brizola foi derrotado por Lula por 
uma diferença de 0,5% – cerca de 
400 mil votos, de um eleitorado, à épo-
ca, de 86 milhões. No segundo turno, 
Brizola apoiou Lula, transferindo seu 
potencial eleitoral ao candidato do PT, 
o que lhe garantiu vitória larga no Rio 
de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
O então senador Mario Covas, candida-
to do PSDB, partido criado em 1988 a 
partir de um racha do PMDB, herdeiro 
do MDB dos tempos da ditadura, ficou 
em quarto lugar, atrás de Brizola. No 
segundo turno, o PSDB “afirmou des-
de o primeiro momento o seu repúdio à 
candidatura Collor de Mello por se situ-
ar no campo oposto ao que é próprio da 
social democracia”, conforme o site do 
partido, e recomendou aos seus elei-
tores que votassem em Lula, “embo-
ra ressaltando as diferenças substan-
ciais entre o programa do PSDB e os da 
Frente Brasil”.
A intervenção da mídia manifestou-
se intensamente na eleição 
presidencial de 1989. A imprensa 
levantou temas que se tornaram 
centrais no pleito, como a 
desqualificação dos políticos, 
do Estado e dos servidores 
públicos, e os “marajás”(corruptos 
que “mamam” na máquina 
governamental). E, na trilha dos 
“marajás”, veio seu caçador, Collor, 
amplamente apoiado pela mídia – 
ele, que era dono de jornais e de 
rede de televisão.
A parcialidade da imprensa 
ficou evidente em diversos 
acontecimentos na época. Um 
deles foi a flagrante manipulação 
do debate entre os candidatos por 
parte da Rede Globo. Por conta da 
sua influência no resultado das 
eleições presidenciais de 1989, 
a Rede Globo expõe sua história 
através de uma página denominada 
Memória Globo (acesse em 
http://memoriaglobo.globo.com/
Memoriaglobo/0,27723,5270
-p-21750,00.html). Aqui, a emissora 
busca justificar sua atuação. Ela 
defende a sua isenção, mas assume 
que houve falha na cobertura, 
como a edição do segundo debate 
no Jornal Nacional, favorável a 
Fernando Collor de Mello. A razão, 
segundo a emissora, estaria na 
adoção do critério de equiparar a 
disputa a uma partida de futebol, 
mostrando os melhores momentos 
de cada adversário. Se Collor teve 
um desempenho superior ao de 
Lula, conforme entendimento da 
emissora, então ele deveria ser 
enfatizado. A Globo, hoje, mudou 
a forma de expor os debates 
eleitorais. E, para evitar esse tipo de 
favoritismo, a legislação também 
mudou. Confira a seguir o texto que 
a emissora mantém no Memória 
Globo sobre o assunto:
“Em 1989, os brasileiros foram às 
urnas para escolher o novo presidente 
da República. Era a primeira eleição 
presidencial pelo voto direto, depois de 
29 anos. O pleito foi bastante disputado. 
Havia 23 candidatos, entre os quais 
estavam os líderes dos principais 
partidos políticos. 
Antes do primeiro turno das eleições,a TV Globo realizou, no programa 
Palanque Eletrônico, entrevistas 
com os dez principais candidatos 
à presidência. O programa tinha 
uma hora de duração e era gerado, 
ao vivo, do estúdio de São Paulo. O 
primeiro entrevistado foi Ulysses 
Guimarães (28/08/1989), seguido 
por Afif Domingos (29/08/1989), 
Roberto Freire (30/08/1989), 
Ronaldo Caiado (31/08/1989), 
Paulo Maluf (01/09/1989), Aureliano 
Chaves (04/09/1989), Luiz Inácio 
Lula da Silva (05/09/1989), Leonel 
Brizola (06/09/1989), Fernando 
Collor (07/09/1989) e Mário Covas 
(08/09/1989).
No primeiro turno, Fernando Collor 
(PRN) saiu vitorioso, com 20,6 milhões 
de votos (o equivalente a 28% do total). 
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu 
11,6 milhões de votos (16,08% do total), 
conquistando a outra vaga do segundo 
turno numa disputa apertada com 
Leonel Brizola (PDT), que obteve 11,1 
milhões de votos, apenas 454.445 a 
menos (cerca de 0,5% do total de votos). 
Entre o primeiro e o segundo turno da 
eleição, houve dois debates entre os 
candidatos Collor e Lula. O primeiro foi 
realizado nos estúdios da TV Manchete, 
no Rio de Janeiro, em 3 de dezembro. O 
segundo, no dia 14, foi nos estúdios da 
TV Bandeirantes, em São Paulo. Os dois 
debates foram transmitidos na íntegra 
das 21h30 às 24h, por um pool formado 
pelas quatro principais emissoras de 
televisão do país: Globo, Bandeirantes, 
Manchete e SBT. 
No dia seguinte à sua exibição ao vivo 
e na íntegra, a Rede Globo apresentou 
duas matérias com edições do último 
debate: uma no Jornal Hoje e outra 
32
RUMO AO PALÁCIO DO PLANALTO
Telegram: @clubederevistas
De forma geral, a derrota de Lula 
para Collor em 1989 marcou o declí-
nio do ciclo de grandes mobilizações 
sociais, iniciado em 1978, e desenca-
deou a onda liberal conservadora. O 
liberalismo vê a liberdade individu-
al como seu maior objetivo. As diver-
sas formas de liberalismo diferem, po-
rém, no entender dessa liberdade. Para 
o liberalismo clássico, a liberdade é a 
ausência de coerção e repressão nas 
relações entre os indivíduos de uma 
sociedade. Já o liberalismo social en-
tende como liberdade a garantia de 
empregos, educação e saúde por par-
te do governo. O liberalismo conser-
vador, de tendência direitista, coloca 
ênfase na liberdade econômica. H
no Jornal Nacional. As duas foram 
questionadas. A primeira por apresentar 
um equilíbrio que não houve, e a 
segunda por privilegiar o desempenho 
de Collor. Mas foi a segunda que 
provocou grande polêmica. A Globo foi 
acusada de ter favorecido o candidato 
do PRN tanto na seleção dos momentos 
como no tempo dado a cada candidato, 
já que Fernando Collor teve um minuto e 
meio a mais do que o adversário. 
O PT chegou a mover uma ação contra a 
emissora no Tribunal Superior Eleitoral. 
O partido queria que novos trechos 
do debate fossem apresentados no 
Jornal Nacional antes das eleições, 
como direito de resposta, mas o recurso 
foi negado. Em frente à sede da Rede 
Globo, no Rio de Janeiro, atores da 
própria emissora, junto com outros 
artistas e intelectuais, protestaram 
contra a edição. No entanto, a própria 
liderança do PT, apesar de não admitir 
a derrota, reconheceu que Lula não 
se saíra bem no confronto com Collor. 
Como noticiou o Jornal do Brasil, antes 
mesmo da edição do Jornal Nacional ser 
criticada, “um sentimento de frustração 
marcara as avaliações que o comando 
da campanha petista fazia sobre a 
participação de Lula no debate com o 
candidato do PRN” (JB , 16/12/1989). 
Seis anos depois, em entrevista à 
revista Imprensa, José Genoino afirmou 
que o desempenho de Lula tinha sido, 
realmente, ruim (Imprensa , 06/1995) .
Os responsáveis pela edição do Jornal 
Nacional afirmaram, tempos depois, 
que usaram o mesmo critério de edição 
de uma partida de futebol, na qual são 
selecionados os melhores momentos 
de cada time. Segundo eles, o objetivo 
era que ficasse claro que Collor tinha 
sido o vencedor do debate, pois Lula 
realmente havia se saído mal.
Além disso, segundo o Ibope, a 
audiência total do debate – somadas 
todas as emissoras que compunham o 
pool – foi de 66 pontos, maior do que a 
do Jornal Nacional do dia seguinte, que 
apresentou 61 pontos. Isso significa 
que o número de pessoas que assistiu 
ao debate na íntegra foi maior do que o 
daqueles que viram a sua edição no JN. 
Mas o episódio provocou um 
inequívoco dano à imagem da TV 
Globo. Por isso, hoje, a emissora 
adota como norma não editar debates 
políticos; eles devem ser vistos na 
íntegra e ao vivo. Concluiu-se que um 
debate não pode ser tratado como uma 
partida de futebol, pois, no confronto 
de idéias, não há elementos objetivos 
comparáveis àqueles que, num jogo, 
permitem apontar um vencedor. Ao 
condensá-los, necessariamente bons 
e maus momentos dos candidatos 
ficarão de fora, segundo a escolha de 
um editor ou um grupo de editores, e 
sempre haverá a possibilidade de um 
dos candidatos questionar a escolha 
dos trechos e se sentir prejudicado”.
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 Comício de Lula na Calendária, Rio de Janeiro, em 13/12/1989
Telegram: @clubederevistas
Por Claudio Blanc
D epois da derrota para Collor 
em 1989, Lula embarcou 
numa caravana pelo País, a 
Caravana da Cidadania. A ideia era 
pavimentar sua nova candidatura à 
Presidência da República. Mas, en-
quanto Luiz Inácio viajava pelo País, 
o Brasil passava por crises – e con-
sequentes mudanças – inesperadas. 
Collor sofreu impeachment, o vice 
Itamar Franco assumiu e nomeou 
o sociólogo Fernando Henrique 
Cardoso seu ministro da Fazenda. 
FHC lançou o Plano Real, venceu o 
dragão da inflação, que, como nas 
lendas medievais, assolava a popula-
ção desde o final da década de 1970, 
e se tornou candidato à Presidência.
Lula, favorito no início da cam-
panha presidencial de 1994, viu 
impotente a ascensão de Fernando 
Henrique, fortalecido pelo sucesso 
da nova moeda. O PT, então, passou 
a desprezar o plano. Acusou o Real de 
ser eleitoreiro e afirmou que não iria 
além das eleições. Paradoxalmente, 
o ministro da Fazenda de Lula, 
Antonio Palocci, pouco fez além de 
seguir a cartilha do Real – em time 
que está ganhando, não se mexe.
Mas Fernando Henrique venceu 
em 1994 e deu início à Era FHC. 
Entre uma campanha e outra, Lula 
organizou o PT e tentou novamen-
te em 1998, mas a derrota já era es-
perada. O sucesso de FHC garantiu 
sua reeleição. 
Em resposta, Lula e o PT atenu-
aram suas imagens. Para a campa-
nha seguinte, a de 2002, os assesso-
res de comunicação de Lula puseram 
um fim aos resquícios de rebelde – 
à Che Guevara – que ainda resis-
tiam, e transformaram o candidato 
no “Lulinha paz e amor”. O PT, por 
sua vez, bradou ser um partido éti-
co, o único com verdadeiras preocu-
pações sociais. Para amenizar ainda 
mais, Lula escolheu um empresário 
como candidato a vice. 
Imagem é tudo. Os eleitores es-
colhem aqueles candidatos com os 
quais se identificam. Por isso, o “vi-
sual” do candidato Lula mudou sig-
nificativamente. A pesquisadora 
Noelle Oliveira propõe que isso fi-
ca claro no estudo das fotografias de 
Lula nas campanhas de 1989 e 2002. 
“O estudo das imagens de Lula de 
1989 propõe a personificação de um 
personagem franzino, preocupado e 
com uma ligação popular presente”, 
ENFIM, 
PRESIDENTE
DEPOIS DE DUAS DERROTAS PARA FHC, LULA CHEGA AO PLANALTO
explica. No entanto, essa “caracteri-
zação não condiz de maneira eficien-
te com a de alguém que almeja ocu-
par um cargo com a importância da 
Presidência da República de um país”. 
A análise de 29 fotografias da campa-
nha de 1989 demonstrou que em ape-
nas cerca de 41% o candidato aparece 
de terno. No restante das fotos, está 
apenas de camisa ou moletom. “Outro 
ponto de destaque é que Lula é retra-
tado, na maioria das vezes, com a ca-
misa aberta e para fora da calça, o que 
transmite a ideia de descompostura e 
de uma imagem pouco preparada”, 
observa Noelle. A expressãofacial de 
Luiz Inácio, nessa época, também ten-
dia a repelir os eleitores. “Em quase 
76% das fotos, a expressão de Lula é 
fechada e traduz preocupação”, infor-
ma a pesquisadora. Isso transmitiria 
ao eleitorado “um ar de radicalismo e 
ativismo irado”.
Em 2002, a transformação é radi-
cal: da maneira de vestir ao sorriso no 
rosto, Lula se reinventa. A cor verme-
lha – eterna evocação à esquerda – é 
pouco mostrada nas imagens. O can-
didato também aparece ao lado de vá-
rios políticos proeminentes, tanto bra-
sileiros como estrangeiros, entre eles 
seus ex-adversários FHC e José Serra. 
34
PRIMEIRO MANDATO
Telegram: @clubederevistas
Luiz Inácio liderou a campanha 
desde o início, recebeu adesões de 
empresários e prometeu fazer o País 
crescer, gerar dez milhões de novos 
empregos e efetivar a autonomia 
operacional para o presidente do 
Banco Central e regras claras para 
o mercado. 
Embora Lula não tenha vencido 
no primeiro turno, o PT conquistou a 
maior vitória da história do partido, 
elegendo a mais numerosa bancada 
de deputados federais (91) e dobran-
do o número de senadores (10). Além 
disso, o partido ainda elegeu dois go-
vernadores no primeiro turno. 
No segundo turno, como era de se 
esperar, a vitória foi de Lula. A rea-
ção no País e no mundo foi explosiva. 
O historiador inglês Eric Hobsbawm 
definiu a vitória do ex-sindicalista co-
mo "um dos poucos eventos do co-
meço do século 21 que nos dá es-
perança para o resto deste século". 
Em Londres, o sociólogo Anthony 
Giddens manifestou o otimismo que 
o presidente transformasse não ape-
nas o Brasil, mas "o mundo". O pre-
sidente do povo trazia esperança e 
prenunciava uma nova era de enten-
dimento, na qual as massas teriam fi-
nalmente sua vez.
Enfim, presidente
Lula, desde que assumiu o gover-
no do País em 2003, tem tido sor-
te – e talvez tenha trazido sorte ao 
Brasil. O presidente tem governado 
um país com céu de brigadeiro – sem 
qualquer nuvem ou turbulência mais 
séria – a não ser, claro, os escândalos 
relacionados à corrupção e a recente 
crise financeira internacional.
A miséria no País caiu 27,7% no 
primeiro mandato do governo Lula 
(2006 em relação a 2002), segun-
do pesquisa da Fundação Getúlio 
Vargas. Ao observar os números, 
o economista Marcelo Neri afir-
mou que "Fernando Henrique (com 
Em 2002, a transformação é radical: da 
maneira de vestir ao sorriso no rosto, Lula se 
reinventa. A cor vermelha– eterna evocação à 
esquerda – é pouco mostrada nas imagens. 
O candidato também aparece ao lado de vários 
políticos proeminentes, tanto brasileiros 
como estrangeiros, entre eles seus
ex-adversários FHC e José Serra
Luiz Inácio liderou a campanha desde o início, recebeu adesões de empresários e prometeu fazer o País crescer
DIVULGAÇÃO/ ABR/ RICARDO STUCKERT/ PR
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 35
Telegram: @clubederevistas
o Plano Real, que reduziu em cerca 
de 24% a pobreza no Brasil, durante 
seu primeiro mandato) e Lula vão fi-
car na história na redução da pobre-
za e desigualdade no País".
O primeiro mandato de Lula te-
ve bons índices: baixa inflação, taxa 
de crescimento do PIB entre 2003 e 
2006 em média de 2,6 %, redução 
do desemprego – que registrou sua 
maior queda em 13 anos, em 2007 
– e constantes recordes da balança 
comercial. A indústria automobilís-
tica bateu seu recorde de produção 
em 2005, e o salário mínimo teve 
seu maior crescimento real, o que 
resultou na recuperação do poder de 
compra do brasileiro. 
Durante a primeira gestão Lula, 
a liquidação do pagamento das dívi-
das com o FMI foram antecipadas, o 
que garantiu ao Brasil maior atenção 
do mercado financeiro para investir 
no País. Muitos, porém, afirmam que 
as benesses do primeiro mandato se 
deveram não à competência do pre-
sidente ou de seus assessores, mas à 
bonança financeira internacional e à 
grande demanda por produtos primá-
rios brasileiros por países da Ásia.
Apesar das críticas, seja pelos ven-
tos favoráveis que sopraram no mun-
do ao longo de seu governo ou pe-
la verdadeira atenção aos problemas 
sociais, é inegável o desenvolvimento 
social durante o primeiro manda-
to de Lula. Certamente, esta foi sua 
grande contribuição histórica. Com 
base no PNAD (Pesquisa Nacional 
por Amostra de Domicílios), a 
Fundação Getúlio Vargas divulgou 
estudo mostrando que a taxa de mi-
séria de 2004 teria caído em 8% com 
relação à de 2003. Ainda segundo a 
PNAD, oito milhões de pessoas te-
riam saído da pobreza (classes D e E) 
ao longo do governo Lula.
Fome Zero
Entre suas primeiras medidas, 
Lula anunciou um projeto social pa-
ra suprir a necessidade de alimenta-
ção das populações menos favore-
cidas. O Programa Fome Zero foi 
a principal plataforma eleitoral de 
Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, 
quando o candidato prometia a ex-
tinção da fome no Brasil.
O programa começou como uma 
tentativa de mobilizar a sociedade ci-
vil em favor dos pobres em estado de 
miséria – uma realidade infelizmen-
te ainda muito presente no Brasil – 
e garantiu elogios do mundo todo a 
Lula, mas sofreu críticas internas. 
Em 2003, o representante do Banco 
Mundial para a América Latina e o 
Caribe, David de Ferranti, criticou o 
programa, sustentando que, com o 
Fome Zero, o governo "não comba-
tia a pobreza e a desigualdade social". 
Já a oposição considera o programa 
um fracasso, pois o governo não seria 
capaz de controlá-lo.
O Fome Zero sofreu alterações 
ao longo dos quatro anos. Hoje, não 
existe mais, tendo se transforma-
do no Bolsa Família. Esse progra-
ma buscava transferir renda do go-
verno para famílias pobres, aquelas 
cuja renda mensal por pessoa está 
entre R$60,01 e R$ 120, e em extre-
ma miséria (até R$ 60). Na verdade, 
o Bolsa Família foi uma reformula-
ção e ampliação do programa Bolsa-
Escola, do governo FHC.
Promessas quebradas
Como acontece com qualquer po-
lítico, algumas promessas do primei-
ro mandato de Lula ficaram no papel. 
A reforma agrária “pacífica, organi-
zada e planejada” foi um fracasso. 
Condenada pelos próprios aliados, 
enfrentou o vexame trazido pela pro-
posta do líder do Movimento dos 
Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, 
O primeiro mandato de Lula teve bons índices: 
baixa inflação, taxa de crescimento do 
PIB entre 2003 e 2006 em média de 
2,6 %, redução do desemprego – que registrou 
sua maior queda em 13 anos, em 2007 – e 
constantes recordes da balança comercial
Lula, acompanhado do vice José de Alencar, concede entrevista à imprensa no Palácio da Alvorada
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PRIMEIRO MANDATO
Telegram: @clubederevistas
A primeira-dama
Marisa Letícia da Silva, esposa do 
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 
chegou ao Palácio do Planalto com o 
desejo de imprimir um novo perfil ao 
posto de primeira-dama do Brasil.
Em 2002, pela primeira vez nas 
campanhas de Lula, Marisa esteve 
ao lado do marido o tempo todo e 
em todas as ocasiões. Para tanto, 
na campanha de 2002, ela, que é 
descendente de italianos, passou por 
um remake. Sob a batuta do publicitário 
Duda Mendonça, renovou seu guarda-
roupa, abarrotando-o com terninhos 
modernos, e fez um corte de cabelo que 
valoriza seu rosto.
De acordo com o professor da disciplina 
Imprensa e as Eleições Presidenciais 
no Brasil, César Romero Jacob, do 
Departamento de Comunicação 
Social da PUC-Rio, Lula teria, durante 
a campanha, ao lado de Marisa 
passado a imagem de uma família 
bem-constituída. “Provavelmente por 
esse motivo, por estratégia política, 
Dona Marisa saiu das sombras para 
se apresentar na vida pública ao lado 
do presidente Lula, nas campanhas de 
2002”, afirma Romero. 
que exigiu o fim do Ministério do 
Desenvolvimento Agrário.
A criação de 10 milhões de em-
pregos também não se concretizou. 
A frase de efeito usada por Lula na 
campanha de 2002, “criar empre-
gos será a minha obsessão”, não deu 
em nada. Dos 10 milhões de empre-
gos prometidos, Lula não conseguiu 
cumprir nem a metade. O programaPrimeiro Emprego também não saiu 
do papel, só atendendo a 0,5% dos 
jovens que pretendia ajudar. 
Mesmo assim, de acordo com o 
Dieese, o desemprego caiu paula ti-
namente a partir do segundo ano 
do primeiro governo Lula. Em São 
Paulo, a taxa de desemprego ficou 
em 19%, em 2002, e aumentou ain-
da mais no ano seguinte, chegan-
do a 19,9%, mas caiu para 18,7%, 
em 2004, e baixou para 16,9%, em 
2005. O IBGE também apontou o 
aumento do trabalho infantil, em 
2005, contrariando uma tendência 
de 13 anos em ritmo de redução. De 
2004 para 2005, cerca de 202 mil 
crianças entre 5 a 14 anos passaram 
a trabalhar no Brasil, o que repre-
sentou um aumento de 10,3%. 
Durante o primeiro mandato, 
Lula se comprometeu a fazer “as 
reformas que a sociedade brasilei-
ra reclama” – as da Previdência, tri-
butária, política e da legislação tra-
balhista. As duas primeiras foram 
até iniciadas, mas acabaram parali-
sadas pouco depois.
Em 2003, o presidente prometeu 
segurança pública mais eficiente. A 
sociedade brasileira espera por isso 
até agora, assistindo impávida a ca-
da vez mais atrocidades. A violên-
cia urbana já se tornou um cancro 
nacional. Lula garantiu que seria 
“capaz de prevenir a violência, repri-
mir a criminalidade e restabelecer a 
segurança dos cidadãos e cidadãs”, 
para que as pessoas pudessem “vol-
tar a andar em paz pelas ruas e pra-
ças”. Quem se lembra dos ataques do 
crime organizado em maio de 2006, 
em São Paulo, e também no Rio de 
Janeiro, sabe que esta promessa tam-
bém não foi cumprida.
O primeiro mandato assistiu 
igual mente à luta do presidente – o 
mesmo Lula que afirmara que “ser 
honesto é mais do que apenas não 
roubar e não deixar roubar” – pa-
ra se manter distante dos escândalos 
surgidos com a revelação do esque-
ma de corrupção do PT, comprando 
favores políticos com mesadas e sexo 
e superfaturando ambulâncias para 
as prefeituras do País. H
Como o marido, Marisa vem do chão da 
fábrica. A primeira-dama começou a 
trabalhar aos 9 anos como babá. Aos 13, 
foi embalar bombons na fábrica Dulcora, 
em São Bernardo, onde permaneceu até 
os 21 anos.
Apesar de, até 2002, ter mantido 
distância do circo da mídia e do 
burburinho político, Marisa sempre 
apoiou o marido em sua marcha – e dela 
participou ativamente. Foi ela quem 
confeccionou a primeira bandeira do 
PT – a tradicional estrela branca sobre 
fundo vermelho – em fevereiro de 1980.
Quando Lula foi preso, em 1980, Marisa 
ajudou a organizar passeatas de mães e 
filhos de metalúrgicos. O sindicato havia 
sofrido intervenção, mas os membros 
das famílias operárias não hesitaram 
em desafiar o governo militar.
Marisa Letícia chegou até mesmo 
a confeccionar camisetas para 
arrecadar dinheiro para o PT. Sua casa 
transformou-se na sede do partido.
Ao se tornar primeira-dama do Brasil, 
em 2003, atuou na organização não 
governamental Ação Fome Zero, 
assumindo a postura tradicional das 
primeiras-damas, que usam de sua 
influência para apoiar projetos sociais. 
No entanto, acabou escorregando de 
volta às sombras. Seu desempenho 
como primeira-dama tem sido fraco. 
Mesmo sendo difícil substituir Ruth 
Cardoso, cujo trabalho à frente 
da organização da sociedade civil 
Comunidade Solidária, criada no 
primeiro ano do governo Fernando 
Henrique Cardoso, hoje transformada 
na ONG Comunitas, resultou em 
mais de cinco milhões de pessoas 
alfabetizadas e outras centenas 
de milhares que se qualificaram 
profissionalmente, a atuação 
de Marisa está muito aquém do 
esperado, especialmente por causa 
de sua origem, das dificuldades 
que enfrentou. Em sua posição, ela 
poderia fazer mais por aqueles que 
enfrentam hoje os mesmos problemas 
que ela enfrentou.
A mídia chama Marisa Letícia de 
“primeira-dama reservada e discreta”. 
Na verdade, suas ações limitam-se 
a pouco mais do que acompanhar o 
presidente em suas muitas viagens.
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Telegram: @clubederevistas
O MENSALÃO E 
OUTRAS CRISES
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA ENFRENTOU UMA SÉRIE DE 
ESCÂNDALOS POLÍTICOS EM SEU PRIMEIRO MANDATO
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CRISES POLÍTICAS
Telegram: @clubederevistas
Por Claudio Blanc
A primeira delas estourou em 
fevereiro de 2004, envolven-
do ex-assessor da Casa Civil 
Waldomiro Diniz, flagrado em vídeo 
negociando propina com um empre-
sário do ramo de jogos.
Apesar do escândalo, manobras 
políticas por parte do governo no 
Congresso impediram a criação ime-
diata de uma Comissão Parlamentar 
de Inquérito para investigar as pos-
síveis implicações do caso. Assim, a 
CPI dos Bingos só foi instalada no 
final de junho de 2005.
As investigações da "CPI do Fim 
do Mundo", como foi apelidada, fo-
ram aprofundadas e se estenderam 
a outras denúncias contra o gover-
no, como a suposta ligação entre o 
assassinato do prefeito Celso Daniel 
(PT) e o esquema de financiamento 
de campanhas; as irregularidades na 
Prefeitura de Ribeirão Preto durante 
a gestão de Antonio Palocci; e a sus-
peita de doação para a campanha de 
Lula pela máfia do bingo.
De acordo com o caseiro 
Francenildo Costa, ouvido pela CPI 
em março de 2006, Palocci frequen-
tava uma mansão em Brasília usada 
por lobistas para fechar negócios sus-
peitos e promover festas com pros-
titutas. A "República de Ribeirão 
Preto", como o lugar era conhecido, 
teria sido alugada por ex-assessores 
de Palocci. O ministro também foi 
acusado de, durante sua gestão co-
mo prefeito de Ribeirão Preto, co-
brar "mesadas" de até 50 mil reais 
mensais de empresas que prestavam 
serviços à prefeitura. Com esse di-
nheiro, Palocci recheava os cofres do 
seu partido, o PT.
O depoimento de Francenildo 
acabou detonando outra crise. Logo 
após ter sido ouvido pela CPI, o sigi-
lo bancário do caseiro foi quebrado 
ilegalmente. A Polícia Federal sus-
peitou que Palocci fosse o mandan-
te da quebra do sigilo. É claro que, 
com tudo isso, o então ministro da 
Fazenda não poderia sair incólume. 
As revelações da CPI enlamearam a 
deputado federal Roberto Jefferson 
(PTB-RJ).
E, se a melhor defesa é o ataque, 
Jefferson decidiu atacar o governo. 
Para se garantir, ameaçou indireta e 
veladamente outros envolvidos, até 
então insuspeitos. O deputado co-
meçou por denunciar um suposto 
esquema de pagamento de mesada 
a parlamentares da base aliada em 
troca de apoio político.
As acusações de Jefferson derru-
baram, entre outros, o ministro-che-
fe da Casa Civil, José Dirceu, tido 
pela imprensa como o verdadeiro ho-
mem forte da administração federal, 
credibilidade de Palocci, e o ministro 
acabou sendo demitido por Lula.
Mensalão
O caso Waldomiro Diniz foi o 
fio pelo qual se puxou a meada que 
revelou a corrupção envolvendo o 
PT, ministros e assessores de Lula. 
No centro do problema, estava o 
Mensalão. A crise estourou em maio 
de 2005, com a revelação de uma fita 
de vídeo mostrando o ex-funcionário 
dos Correios, Maurício Marinho, 
negociando propina com empresá-
rios interessados em participar de 
uma licitação. No vídeo, o funcioná-
rio da estatal dizia ter o respaldo do 
a quem caberiam efetivamente as 
principais decisões – uma espécie de 
superministro. Dirceu acabou sendo 
demitido por Lula.
Mais uma vez, o governo mano-
brou rapidamente, criando a CPI do 
Mensalão. Buscando “fazer fuma-
ça” e embaraçar possíveis oposito-
res, a CPI almejava, sim, investigar 
as denúncias sobre o esquema de pa-
gamento de propina a parlamenta-
res, mas também as acusações so-
bre a gestão anterior, de Fernando 
Henrique Cardoso, sobre compra 
de votos para a aprovação da emen-
da da reeleição. Convenientemente, 
em novembro de 2005, a comissão 
encerrou seus trabalhos sem aprovar 
um relatório final e sem aprofundar 
devidamente todas as investigações.
Segundo o presidente da CPI, se-
nador Amir Lando (PMDB-RO), o 
principal motivo para o encerramen-
to dos trabalhos da comissão foi “a 
faltade vontade política”. Ainda se 
tentou estender a comissão. Foram 
protocoladas na Mesa do Congresso 
as assinaturas de 148 deputados em 
apoio à prorrogação dos trabalhos 
da CPI do Mensalão, mas o mínimo 
exigido era de 171.
Paralelamente à CPI do Mensalão, 
funcionava a CPI dos Correios, 
O presidente do PTB e ex-deputado federal, Roberto Jefferson
DIVULGAÇÃO/ ABR/ JOSÉ CRUZ
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 39
Telegram: @clubederevistas
criada logo após o flagra em Maurício 
Marinho e cujo objetivo era investi-
gar as denúncias de corrupção nas 
estatais, mais especificamente nos 
Correios. A CPI dos Correios reve-
lou o esquema de distribuição de re-
cursos a parlamentares para bancar 
despesas de campanhas eleitorais. 
O esquema de distribuição de pro-
pina foi apelidado de "valeriodu-
to", por conta do nome de seu ope-
rador, o empresário Marcos Valério 
Fernandes de Souza.
Sanguessugas
Em 2006, estourou outro esque-
ma de corrupção descoberto pe-
la Polícia Federal envolvendo fi-
guras do Congresso Nacional e do 
Executivo: a máfia das ambulâncias. 
A CPI dos Sanguessugas, como foi 
apelidada, foi aberta após denún-
cia que partiu do próprio governo. A 
Controladoria-Geral da União aler-
tou, então, a Polícia Federal sobre as 
irregularidades.
A PF iniciou as investigações em 
2004 e, com o auxílio da Receita 
Federal, identificou 22 empresas-
fantasmas montadas para dar verniz 
legal às concorrências para a venda 
das ambulâncias.
A quadrilha desmontada pela PF, 
que fraudava a venda de ambulâncias 
para prefeituras em diversos Estados 
do País, era chefiada pela família 
Trevisan Vedoin, em Mato Grosso. A 
empresa da família era chefiada por 
Darci José Vedoin e Luiz Antonio 
Vedoin, pai e filho, e tinha infiltra-
dos na Câmara dos Deputados, no 
Ministério da Saúde e na Associação 
de Municípios do Mato Grosso.
A quadrilha entrava em conta-
to com os prefeitos interessados 
através de José Wagner dos Santos, 
que propunha entregar uma ambu-
lância completa antes de o prefeito 
consegui-la pelos trâmites normais. 
Com isso, o prefeito ficaria livre de 
toda a burocracia e não teria de fa-
zer nenhum esforço. Se o prefei-
to concordasse, a quadrilha acio-
nava assessores de parlamentares 
que preparavam emendas que eram 
apresentadas por deputados e se-
nadores. O texto era aprovado no 
Congresso Nacional e a assessora 
do Ministério da Saúde, Maria da 
Penha Lino, teria a incumbência de 
aprovar o convênio e facilitar a libe-
ração do recurso.
A empresa Planam, de propriedade 
da família Trevisan Vedoin, montava 
as ambulâncias e as entregava ao pre-
feito, superfaturando em até 110% a 
operação. Além dessas irregularida-
des, a Planam entregava um veículo 
sem os equipamentos necessários pa-
ra atendimentos de emergência. No 
total, a quadrilha teria movimentado 
Antonio Palocci: credibilidade enlameada pela CPI O relator da CPI dos Sanguessugas, senador Amir Lando, apresenta o relatório final dos trabalhos
O sócio-proprietário da empresa Planam, Luiz Antonio Vedoin, 
em depoimento no Conselho de Ética da Câmara
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DIVULGAÇÃO/ ABR/ FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM
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CRISES POLÍTICAS
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de 2006, a Polícia Federal apreen-
deu vídeo, DVD e fotos mostrando 
o candidato do PSDB ao governo de 
São Paulo, José Serra, na entrega 
de ambulâncias da máfia dos san-
guessugas. O material contra Serra 
teria sido entregue pelo empresário 
Luiz Antônio Vedoin, líder do es-
quema e um dos sócios da Planam, 
a Gedimar Pereira Passos, advogado 
e ex-policial federal, e a Valdebran 
Padilha da Silva, filiado ao PT do 
Mato Grosso.
Gedimar e Valdebran foram presos, 
em São Paulo, com R$ 1,7 milhão, en-
quanto esperavam por um emissário 
de Vedoin, que levaria o dossiê con-
tra o tucano. O emissário seria o tio 
do empresário, Paulo Roberto Dalcol 
Trevisan. A pedido de Vedoin, o tio 
entregaria o documento a Valdebran 
e Gedimar. Os quatro envolvidos fo-
ram presos pela PF. 
Em depoimento, Gedimar disse 
que foi "contratado pela Executiva 
Nacional do PT" para negociar a 
compra de um dossiê contra Serra. 
Gedimar informou ainda que o pa-
cote também continha uma entre-
vista acusando Serra de envolvimen-
to na máfia. Ele acrescentou que seu 
contato no PT era alguém de nome 
"Froud ou Freud". O depoimento 
acabou atingindo o assessor especial 
da Presidência da República, Freud 
Godoy, que negou as acusações, mas 
acabou exonerado. O PT também ne-
gou que o dinheiro fosse do partido.
Após o episódio, outros nomes 
ligados ao PT começaram a ser re-
lacionados ao dossiê. E cabeças ro-
laram. A crise derrubou o coorde-
nador da campanha à reeleição de 
Lula, Ricardo Berzoini, presiden-
te do PT, que foi substituído por 
Marco Aurélio Garcia. 
Também caíram o ex-secretá-
rio de Berzoini no Ministério do 
Trabalho, Oswaldo Bargas, coorde-
nador de programa de governo da 
campanha, e Jorge Lorenzetti, ana-
lista de mídia e risco do PT e chur-
rasqueiro do presidente. Os dois te-
riam procurado a revista Época para 
oferecer o dossiê.
Valdebran disse ter recebido 
uma parcela do dinheiro de um 
"Expedito", que teria tomado parte 
na montagem e divulgação do docu-
mento. Assim, o ex-diretor do Banco 
do Brasil Expedito Afonso Veloso, 
acusado de envolvimento com o dos-
siê, foi afastado da instituição. 
Finalmente, em São Paulo, o 
candidato ao governo Aloizio 
Mercadante (PT) removeu o coorde-
nador de comunicação da campanha 
Hamilton Lacerda, que teria articu-
lado a publicação da reportagem da 
revista IstoÉ contra Serra. H
R$ 110 milhões desde 2001 e entre-
gue 1.000 veículos. Todos os inter-
mediários recebiam propina.
A CPI também descobriu que a 
quadrilha já começava a operar ou-
tro esquema - dessa vez, em licita-
ções de equipamentos para inclu-
são digital. O delegado responsável, 
Tardeli Boaventura Cerqueira, ga-
rantiu ter encontrado indícios de li-
citações fraudulentas nessa área.
O Dossiê Serra
Quinze dias antes das eleições 
De acordo com as denúncias, o 
Mensalão era um esquema de 
corrupção no qual congressistas 
aliados ao PT recebiam uma mesada – o 
"Mensalão" – de R$ 30 mil do tesoureiro 
do partido de Lula, Delúbio Soares, 
em troca do apoio dos deputados nas 
votações de interesse do governo. O 
empresário Marcos Valério, dono de 
duas agências de publicidade, a SMP 
& B e a DNA Propaganda, recebia os 
depósitos destinados ao PT, ocultando 
doações irregulares. Para repassar 
ao partido as doações recebidas das 
empresas, Valério contraía empréstimos 
junto ao Banco do Brasil, BMG e Banco 
Como funcionava o Mensalão
Rural, os quais quitava com o dinheiro 
recebido dos doadores.
O esquema foi revelado pelo presidente 
do PDT, o deputado federal pelo Rio 
de Janeiro, Roberto Jefferson. Lula foi 
informado sobre o Mensalão pelo próprio 
Jefferson. Segundo este, quando soube, 
o presidente chorou. Há, porém, quem 
diga que Lula sabia de tudo.
Apesar de ter sido instaurada uma 
Comissão Parlamentar de Inquérito, o 
relatório final do caso não foi votado, 
e o escândalo acabou em pizza. No 
entanto, o então ministro-chefe da 
Casa Civil, José Dirceu, o presidente do 
PT à época, José Genoíno, e Delúbio 
Soares perderam suas posições. O 
escândalo revelou uma face do PT que 
fez muitos – de eleitores a militante – 
se sentirem traídos. Conforme afirmou 
Frei Betto, amigo histórico de Lula, 
em entrevista ao jornal O Estado 
de S. Paulo em 24/08/2005, “nem 
sob os anos da ditadura a direita 
conseguiu desmoralizar a esquerda 
como esse núcleo petista fez em tão 
pouco tempo. Na ditadura, apesar 
de todo o sofrimento, perseguições, 
prisões, assassinatos, saímos 
de cabeça erguida e certos de 
que tínhamos contribuído para a 
redemocratização do país. Agora, 
não. Esses dirigentes desmoralizaram 
o partido e respingaram lama por toda 
a esquerda brasileira.”Ricardo Berzoini: envolvimento com o Dossiê Serra
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DEPOIS DE SER REELEITO, O PRESIDENTE ENCAROU A CRISE 
INTERNACIONAL E COMEMOROU A EXPLORAÇÃO DO PRÉ-SAL
LULA LÁ PELA 
SEGUNDA VEZ
Diante da ameaça da crise econômica mundial, Lula demonstrou confiança, garantindo que a economia brasileira “estava blindada” D
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SEGUNDO MANDATO
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Por Claudio Blanc
 A corrupção e os escândalos que 
envolveram o PT no primeiro 
mandato de Lula foram cen-
trais nas eleições de 2006. Embora os 
escândalos não apontassem direta-
mente o presidente, eram indicações 
óbvias de que seu governo estaria en-
volvido em instâncias de corrupção. 
Dados de pesquisas do Estudo 
Eleitoral Brasileiro (Eseb) revelavam 
que 30% dos eleitores brasileiros jul-
gavam a corrupção e os escândalos o 
principal tema da campanha. Apenas 
10% dos entrevistados achavam que 
as questões sobre a economia eram 
mais importantes. 
Apesar dos indicativos de que o 
eleitorado brasileiro estava conscien-
te do possível envolvimento do presi-
dente da República nos esquemas de 
corrupção bancados pelo PT, Lula se 
reelegeu no segundo turno, em 29 de 
outubro de 2006, com 60,83% dos vo-
tos. No primeiro turno, o resultado foi 
igualmente muito bom. Lula conquis-
tou 46.662.365 votos ou 48,61%.
A "contabilidade democrática 
vertical”, isto é, a capacidade que o 
eleitor tem de punir os representan-
tes que não correspondem às suas 
expectativas, não foi exercida. Mas 
por que eleitores conscientes reelege-
riam um governo envolvido em tan-
tos escândalos de corrupção?
Lucio R. Rennó, professor da 
Universidade de Brasília, busca ex-
plicar a questão: “tanto no primeiro 
quanto no segundo turno, o desempe-
nho do governo Lula em outras áre-
as e sentimentos quanto ao PT foram 
mais importantes e serviram de escu-
dos para protegê-lo”. Assim, o povo 
brasileiro fechou os olhos e demons-
trou aprovação pela performance so-
cioeconômica que o País experimen-
tou sob a administração Lula. 
No dia da posse, Lula desfilou em 
carro aberto e assumiu mais uma vez 
o posto. No entanto, dessa vez, as 
comemorações tiveram menos gla-
mour. Não houve nem mesmo con-
vidados estrangeiros, nem o tradi-
cional jantar no Itamaraty.
A aparente moderação resultava, 
na verdade, dos desgastes do primei-
ro mandato. Lula reassumiu, aos 61 
anos, já sem o entusiasmo que evo-
cou quando chegou ao Planalto pe-
la primeira vez. Apesar do enorme 
prestígio e aceitação popular, ele não 
deixou de sofrer arranhões por conta 
dos escândalos que derrubaram seus 
principais auxiliares diretos, entre 
ele os ex-ministros Antonio Palocci 
e José Dirceu e o presidente do PT, 
Ricardo Berzoini. 
Mas Lula voltou com fôlego no-
vo, querendo deixar o passado para 
trás e mostrar a que viera. Começou 
o segundo mandato lançando, em 22 
de janeiro de 2007 – poucos dias de-
pois da posse, portanto – o Programa 
de Aceleração do Crescimento (PAC), 
um pacote de medidas para acelerar 
países desenvolvidos até 2021. O pla-
no prevê medidas a serem aplicadas 
até 2010. Entre elas, está a criação de 
um índice para medir a qualidade do 
ensino e de um piso salarial para os 
professores de escolas públicas.
Na área da segurança, foi criado 
o Programa Nacional de Segurança 
com Cidadania (Pronasci), que pre-
vê “articular políticas de segurança 
com ações sociais”. Entre as medidas, 
o Pronasci promete, até 2012, valori-
zar os policiais, reestruturar o siste-
ma penitenciário e assistir os jovens 
entre 15 e 24 anos que estão à beira 
da criminalidade e os reservistas que, 
pelo seu conhecimento de armas, 
possam se ver tentados a integrar o 
crime organizado. O programa prevê 
investimentos de mais de 6,7 bilhões 
de reais até o final de 2012.
Lula reassumiu, aos 61 anos, já sem 
o entusiasmo que evocou quando chegou ao 
Planalto pela primeira vez. Apesar do enorme 
prestígio e aceitação popular, ele não deixou de 
sofrer arranhões por conta dos escândalos que 
derrubaram seus principais auxiliares diretos
o crescimento econômico do País. O 
programa previa investimentos de 
mais de 500 bilhões de reais para os 
quatro anos do segundo mandato e 
incluía uma série de mudanças admi-
nistrativas e legislativas. Prometia um 
crescimento do PIB de 4,5% em 2007 
e de 5% ao ano até 2010 – metas que, 
a julgar pelos resultados de 2007 e 
2008, até agora ficaram na promessa.
No início do segundo mandato, 
Lula também dirigiu sua atenção a 
duas áreas de responsabilidade do 
governo criticamente falhas: a educa-
ção e a segurança. Lançou, em abril 
de 2007, o Plano de Desenvolvimento 
da Educação (PDE), cujo objetivo é 
investir em capital humano, nivelan-
do a educação brasileira com a dos 
Mas, apesar das promessas, a reali-
dade era outra. A tranquilidade econô-
mica que garantiu tantas benesses ao 
governo Lula no primeiro turno dava 
sinais de que os ventos mudavam. No 
início de 2007, a taxa de desempre-
go nas seis principais regiões metro-
politanas do País passou de 9,3% em 
janeiro para 9,9% em fevereiro. De 
acordo com o IBGE, nesse período, 
houve aumento de 136 mil pessoas no 
contingente de desocupados.
Mesmo assim, mais uma vez, a 
sorte sorriu para Lula. A descober-
ta de jazidas petrolíferas no litoral 
de Santos trouxe a promessa da au-
tossuficiência desta commodity vi-
tal. Mais que isso. De acordo com 
o relatório Global Trends 2025: A 
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 43
Telegram: @clubederevistas
Transformed World, produzido pe-
lo Conselho Nacional de Segurança 
dos Estados Unidos e lançado no fi-
nal de novembro de 2008, “as des-
cobertas de petróleo na Bacia de 
Santos – com potencial de conter 
uma reserva de dezenas de bilhões 
de barris – podem tornar o Brasil, 
depois de 2020, um grande exporta-
dor de petróleo”. O documento vai 
além: “cenários otimistas, os quais 
ostentam uma estrutura legal e regu-
latória atraente ao capital estrangei-
ro, projetam a produção petrolífera 
em 15% do PIB por volta de 2025”. 
Sem dúvida, o santo de Lula é forte.
Nuvens de tempestade
Apesar de todos os desenvolvi-
mentos positivos, de o Brasil des-
pontar como potência emergente, de 
oferecer tecnologia em biocombus-
tíveis, do bom resultado econômico 
da Era Lula, nuvens de tempestade 
se armaram no cenário internacio-
nal. Desde 2008, os EUA enfrentam 
a mais grave crise financeira em 30 
anos, mergulhando o país e outros – 
principalmente da Europa Ocidental 
– em recessão. 
Diante da ameaça, Lula demons-
trou confiança. Bradava que a econo-
mia brasileira “estava blindada”, que 
o sistema bancário nacional e as fi-
nanças eram sólidos. Em outubro de 
2008, o presidente brasileiro afirmou 
que a crise econômica não iria atrapa-
lhar o Natal do País. E, de fato, ao me-
nos o Natal, a crise não atrapalhou.
Mas, na verdade, o Brasil não es-
tava - e não está - tão imune ao pro-
blema. A resposta de empresas de 
diversos setores – especialmente au-
tomobilístico –, abaixando conside-
ravelmente os preços de seus produ-
tos para aquecer o consumo, é um 
indicativo da crise. O aumento da 
taxa de desemprego é outro – e mais 
crônico – reflexo. 
Lula foi à luta, fazendo o que faz 
de melhor: discursando e negocian-
do. Desde que foi eleito, em 2002, 
ele não desceu do palanque. Seus dis-
cursos ganham aliados “no verbo” e 
conquistam simpatias no Brasil e no 
mundo. E é dessa forma que tem ten-
tado vencer a crise.
Em fevereiro de 2009, em visita à 
Namíbia, onde foi pedir apoio àquele 
país para que o Brasil tenha um as-
sento permanente no Conselho de 
Segurança da ONU e para incremen-
tar parcerias com nações africanas, o 
presidente brasileiro criticou o prote-
cionismo de alguns países, diante da 
crise financeira internacional. "Não 
podemos atuar sozinhos contra os 
efeitosde uma turbulência que golpeia 
sobretudo as mais fortes economias do 
planeta. O comércio é certamente par-
te da solução. O protecionismo, em 
contrapartida, só servirá para agravar 
a crise econômica", sustentou Lula. 
Para nosso presidente, um acordo 
na Rodada Doha da Organização 
Mundial do Comércio (OMC) poderia 
trazer sangue novo à economia global. 
Lula enfatiza que os países em desen-
volvimento têm buscado novas dire-
ções com o aumento do comércio. Da 
mesma forma, os investimentos entre 
países do Hemisfério Sul têm atenu-
ado o "impacto perverso da recessão 
que se alastra mundialmente". Em um 
rasgo que lembra seu tempo de líder 
sindical, Lula afirmou na Namíbia 
que "não basta reformar as regras do 
comércio internacional. Precisamos 
buscar um sistema de governança glo-
bal mais democrático. Os processos 
decisórios não podem continuar con-
centrados nas mãos de poucos, igno-
rando-se as aspirações dos países em 
desenvolvimento e das grandes econo-
mias emergentes".
O presidente reforçou essa retó-
rica ao receber o primeiro-ministro 
Gordon Brown em Brasília, em mar-
ço de 2009. “A crise [econômica inter-
nacional] foi causada por comporta-
mentos irracionais de gente branca de 
olhos azuis, que antes pareciam saber 
de tudo, e, agora, demonstram não 
A descoberta de jazidas petrolíferas no 
litoral de Santos trouxe a promessa da 
autossuficiência desta commodity vital. Mais 
que isso. O Brasil pode se tornar, depois de 
2020, um grande exportador de petróleo
O presidente do Senado, José Sarney, o presidente da Câmara, Michel Temer e Lula
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SEGUNDO MANDATO
Telegram: @clubederevistas
saber de nada”, afirmou o presidente 
na coletiva dada pelos dois chefes de 
Estado. Imediatamente, um jornalista 
britânico perguntou ao presidente se 
não havia um viés ideológico na afir-
mação. “Não existe nenhum viés ide-
ológico. Existe a constatação de um 
fato. Acompanhando os índices eco-
nômicos e de desemprego, o que per-
cebemos é que, mais uma vez, grande 
parte dos pobres do mundo, que ainda 
não estavam sequer participando do 
desenvolvimento causado pela globa-
lização, são as primeiras vítimas. Vejo 
o preconceito que se estabelece contra 
imigrantes nos países mais desenvolvi-
dos”, disparou Lula.
Mas, em busca de desenvolver 
novos parceiros, Lula tem arrisca-
do nadar contra a corrente. É o caso 
da proximidade com o Irã. Enquanto 
os principais líderes mundiais conde-
nam o regime antidemocrático do 
país, o qual recentemente considerou 
o resultado de uma eleição suspeita 
de ter sido fraudada, Lula se aproxi-
ma de Teerã. Na verdade, o presiden-
te brasileiro se sente lisonjeado com 
o esforço de Mahmud Ahmadinejad 
de buscar no Brasil um “companhei-
ro para sua empreitada de deslocar 
o eixo de poder das grandes potên-
cias ocidentais”, conforme colocou 
a jornalista Isabel Fleck. Ao receber 
Ahmadinejad em Brasília no final de 
novembro de 2009, Lula pisou no ca-
lo dos principais líderes mundiais ao 
afirmar, “nós defendemos que o Irã 
tenha o direito de desenvolver o enri-
quecimento de urânio para produção 
de energia, portanto, para fins pací-
ficos, da mesma forma que o Brasil 
está desenvolvendo".
Mas se no caso do Irã o presidente 
brasileiro reconheceu a legitimidade da 
eleição, sua postura com relação ao gol-
pe em Honduras é exatamente o opos-
to. O Brasil – e Lula – tomou o golpe 
de Honduras como uma oportunida-
de de se projetar como mediador regio-
nal. O Itamaraty apoiou o presidente 
deposto, Manuel Zelaya, promovendo 
até mesmo sua volta a Honduras ao lhe 
garantir refúgio no consulado brasilei-
ro. Os golpistas não aceitaram reem-
possar Zelaya, mas concordaram em 
estabelecer novas eleições. Contudo, 
ao contrário do que fez no caso do Irã, 
Lula não reconheceu as eleições. Em 
Lisboa, no início de dezembro de 2009, 
o presidente brasileiro explicou que 
“Honduras desrespeitou o princípio 
mais elementar da volta à normalida-
de democrática do seu país. O golpis-
ta agiu cinicamente, deu um golpe no 
país e convocou uma eleição quan-
do ele não tinha o direito de convo-
car eleição. Eles poderiam ter feito as 
coisas com a maior normalidade, vol-
tava o presidente, convocava eleições. 
A volta à normalidade a Honduras é 
tudo o que nós queremos. O resto é o 
seguinte: não dá para fazer concessão 
a golpista". 
Apesar das contradições, denún-
cias e escândalos, Lula entra no úl-
timo ano de seu governo com apro-
vação da maioria da população. De 
acordo com o presidente norte-ame-
ricano, Barack Obama, Lula é o “po-
lítico mais popular da Terra”. Sem 
dúvida, ele governou o Brasil com céu 
de brigadeiro: em um dos períodos 
de maior prosperidade da história do 
País. Seu maior desafio agora será ele-
ger seu sucessor. Mas, independente-
mente de seu sucesso, a história se 
lembrará de que foi na era Lula que o 
Brasil se firmou na sua posição de lí-
der regional, uma posição que Lula se 
esforçou por encarnar ao longo de to-
do o seu governo e que, sem dúvida, o 
projetou internacionalmente. H
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 45
DIVULGAÇÃO/ ABR/ RICARDO STUCKERT
Lula comemora o primeiro petróleo extraído da camada pré-sal
Telegram: @clubederevistas
Por Claudio Blanc
LULA POR 
ELE MESMO
Fui eleito para fazer valer alguns interesses 
dos que nunca tiveram nada neste país e 
esta Constituição que se quer fazer parece 
não querer isso. Garanto que não vou 
assiná-la nem legitimá-la” (final de 1987)
Em 1993, Lula afirmou que a sociedade não 
deveria confiar nos políticos, porque haveria 
“pelo menos 300 picaretas no Congresso
Nunca imaginei que o nível (do Congresso) 
fosse tão baixo. Nunca imaginei que a 
incapacidade fosse tanta. Incapacidade 
de diálogo, de articulação. Incapacidade 
política. Nunca imaginei que fosse tamanha a 
capacidade para negociatas e negócios sujos 
como os que a gente vê. Chega a dar nojo 
(dezembro de 1987)
DIVULGAÇÃO/ ABR/ WILSON DIAS 
46
NOTASFRASES
Telegram: @clubederevistas
Sobre a data de nascimento, conta Lula: “Até 
hoje, é a maior polêmica porque meu pai me 
registrou no dia 6 de outubro. Mas prefiro 
acreditar na memória de minha mãe, que diz 
que nasci no dia 27”. Coincidência feliz: 57 anos 
depois, os dois turnos da eleição que decidiria 
o futuro presidente do Brasil aconteceriam 
nestes mesmos dias 6 e 27 de outubro.
A elite sabe que sou um vencedor. Uma criança 
nordestina que não morreu de fome até os 5 
anos já venceu na vida. Um nordestino que 
desembarcou de um pau-de-arara, fugindo da 
seca, e não virou marginal é um vencedor. No meu 
governo, um filho de encanador vai disputar vaga 
na universidade com o filho de uma empresária 
de teatro, como a senhora Ruth Escobar.
O ônus da cobiça desenfreada de alguns 
não pode recair impunemente sobre os 
ombros de todos. A economia é séria demais 
para ficar nas mãos dos especuladores. A 
ética deve valer também na economia. Uma 
crise de tais proporções não será superada 
com medidas paliativas. São necessários 
mecanismos de prevenção e controle, e total 
transparência das atividades financeiras.
Discurso na Assembleia da ONU 
em setembro de 2008
O Muro de Berlim caiu. Sua queda foi entendida 
como a possibilidade de construir um mundo 
de paz, livre dos estigmas da Guerra Fria. Mas 
é triste constatar que outros muros foram 
se construindo, e com enorme velocidade. 
Muitos dos que pregam a livre circulação 
de mercadorias e capitais são os mesmos 
que impedem a livre circulação de homens e 
mulheres, com argumentos nacionalistas, e até 
fascistas, que nos fazem evocar, temerosos, 
tempos que pensávamos superados. Um 
suposto ‘nacionalismo populista’, que alguns 
pretendem identificar e criticar no Sul do mundo, 
é praticado sem constrangimento em países 
ricos. As crises financeira, alimentar, energética, 
ambiental e migratória, para não falar das 
ameaças à paz em tantas regiões, demonstram 
que o sistema multilateraldeve se adequar aos 
desafios do século 21. Aos poucos, vai sendo 
descartado o velho alinhamento conformista 
dos países do Sul aos centros tradicionais.
Discurso na Assembleia da ONU
em setembro de 2008
Quando se aposentarem, por favor, não 
fiquem em casa atrapalhando a família. Tem 
que procurar alguma coisa para fazer.
Falar de doença mental não deve ser difícil para 
ninguém (...) sabemos que o problema não atinge 
apenas os que já foram identificados como 
pessoas com algum problema de deficiência, 
porque a dura realidade é que todos nós temos um 
pouco de louco dentro de nós. Todos nós. Quem 
não acreditar, é só fazer uma retrospectiva do seu 
comportamento pessoal nos últimos dez anos. 
Ao assinar o Estatuto do Idoso, 
no dia 1º de outubro de 2003
Estou vendo aqui companheiros portadores de 
deficiência física. Estou vendo o Arnaldo Godoy 
sentado, tentando me olhar, mas ele não pode me 
olhar porque ele é cego. Estou aqui à tua esquerda, 
viu, Arnaldo? Agora, você está olhando pra mim...
Não é mérito, mas, pela primeira vez na 
história da República, a República tem um 
presidente e um vice-presidente que não têm 
diploma universitário. Possivelmente, se nós 
tivéssemos, poderíamos fazer muito mais. 
Cheguei à Presidência para fazer as coisas 
que precisavam ser feitas e que muitos 
presidentes antes de mim foram covardes 
e não tiveram coragem de fazer. 
Aprendi a contar até dez, apesar de só ter 
nove dedos, que é para não cometer erros. 
Um erro em qualquer outro governo é mais 
um erro. No nosso, não pode acontecer." 
Durante o lançamento do Plano Safra
para a Agricultura Familiar
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 47
Telegram: @clubederevistas
Quando a jornalista Denise Paraná fazia pesquisas pa-
ra a biografia do presidente Lula que seria sua tese de 
doutorado em história pela USP, percebeu que a epo-
peia era “um roteiro de filme mal escrito, porque tudo se en-
caixa”. De fato, a vida de um predestinado como Lula sempre 
rendeu ótimo material para o cinema. E o carisma do presiden-
te que começou a vida como retirante e engraxate, e que veio 
a liderar o Brasil em uma de suas melhores fases, não poderia 
deixar de ser explorado pela sétima arte. Sucesso garantido.
 O FILHO DO
BRASIL
Por Claudio Blanc
DIVULGAÇÃO/ OTÁVIO DE SOUZA
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Telegram: @clubederevistas
Não é de estranhar que foi essa 
história que Luiz Carlos Barreto, o 
Barretão, patriarca do clã Barreto de 
cineastas, escolheu para fazer o úl-
timo filme de sua carreira: Lula, o 
Filho do Brasil, baseado no livro ho-
mônimo de Denise Paraná. Filmado 
em dois estados (Pernambuco e São 
Paulo), sete cidades e 70 locações, 
entre 20 de janeiro e 18 de março 
de 2009, o longa foi feito delibera-
damente para emocionar e para que 
pessoas comuns possam se espelhar 
e sonhar. Lula, o Filho do Brasil vi-
sita os pontos mais significativos da 
trajetória humana de Lula, do sertão 
de Pernambuco natal à periferia de 
Santos, onde cresceu, e por fábricas 
e sindicatos do ABC paulista, onde 
passou por transformações pessoais, 
como a perda da primeira mulher e 
do filho, até se tornar o líder sindi-
cal que se destacou na histórica gre-
ve de 1978.
O roteiro é assinado por Denise 
sua vida. O elenco soma 130 atores 
e 3.000 figurantes.
O filme, que custou cerca de 
R$ 18 milhões e não teve nenhum 
apoio de entidades públicas, já causa 
polêmica, uma vez que estreia em ano 
de eleições presidenciais. Sem dúvida, o 
governo tem interesse que Lula, o Filho 
do Brasil seja um sucesso. Articuladores 
do PT esperam cristalizar a imagem do 
presidente como “um brasileiro que su-
perou todas as dificuldades para se tor-
nar um vitorioso”. De acordo com um 
petista histórico, “é importante para o 
eleitor visualizar a importância históri-
ca da chegada de Lula no poder e ma-
nutenção de seu projeto”. Leia-se: “o 
filme serve par alavancar a candidatu-
ra de Dilma Rousseff”.
Por conta do viés eleitoreiro do fil-
me, as partes polêmicas da biografia 
foram convenientemente colocadas de 
lado. A mais óbvia é o caso que Lula 
teve com Mirian Cordeiro, mãe de 
Lurian. De acordo com a produtora 
Paula Barreto, isso se deveu a “um pro-
blema jurídico”. Segundo a produtora, 
"havia cenas no filme referentes ao 
relacionamento entre Lula e Mirian, 
mas, como a Mirian não nos deu au-
torização, tivemos que cortar todas as 
referências a ela."
Paula Barreto discorda de que 
Lula, o Filho do Brasil tenha espíri-
to "eleitoreiro". Seu pai, o produtor 
Luiz Carlos Barreto faz coro. "Não 
fizemos um filme sobre um político 
ou o presidente da República, mas 
sobre um homem comum, sua famí-
lia e a extraordinária capacidade de 
superar dificuldades," enfatiza o ide-
alizador do projeto. H
Paraná, Fernando Bonassi e Daniel 
Tendler. A direção ficou a cargo de 
Fábio Barreto, que leva em seu cur-
rículo uma indicação ao Oscar por 
O Quatrilho. No elenco, estão no-
mes como Glória Pires, no papel de 
Dona Lindu, a mãe de Lula; Juliana 
Baroni, que interpreta a primeira-
dama, Dona Marisa; e Rui Ricardo 
Diaz, que encarna Lula. O presiden-
te também é interpretado por ou-
tros atores nas diferentes fases de 
Lula, O Filho do Brasil
n ELENCO
Rui Ricardo Diaz - Luiz Inácio Lula 
da Silva (adulto) 
Guilherme Tortólio - Luiz Inácio 
Lula da Silva (adolescente) 
Glória Pires - Eurídice Ferreira 
de Melo (Dona Lindu) 
Lucélia Santos - Professora de Lula 
Cléo Pires - Maria de Lurdes da Silva 
Juliana Baroni - Marisa Letícia 
Lula da Silva 
n Direção: Fabio Barreto
n Fotografia de Gustavo Hadba, 
n Direção de arte de Clóvis Bueno
n Figurinos de Cristina Camargo
n Roteiro de Daniel Tendler, 
Denise Paraná e Fernando Bonassi
n Música de Antônio Pinto e 
Jaques Morelenbaum
Por conta do viés eleitoreiro do filme, 
as partes polêmicas da biografia foram 
convenientemente colocadas de lado. 
A mais óbvia é o caso que Lula teve com 
Mirian Cordeiro, mãe de Lurian
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Telegram: @clubederevistas
https://t.me/clubederevistasA estimativa é de reportagem 
publicada em janeiro de 2006 no jornal O Estado de S. 
Paulo. Em 2005, Lula visitou 25 países e presidiu du-
as polêmicas reuniões de cúpula em Brasília. Segundo 
o Estadão, as viagens no chamado Aerolula trouxeram 
pouco ao Brasil: o País saiu derrotado em duas cam-
panhas por altos postos em instituições internacio-
nais e ficou sem o assento permanente no Conselho de 
Segurança da Organização das Nações Unidas. 
Marco histórico
O historiador Eric Hobsbawn definiu a vitória do ex-
sindicalista como “um dos poucos eventos do começo do 
século 21 que nos dá esperança para o resto deste sécu-
lo”. Em Londres, em 14 de julho de 2003, o sociólogo 
Anthony Giddens manifestou o otimismo que o presiden-
te transformasse não apenas o Brasil, mas “o mundo”. 
Má fama
Surgiu na campanha de 1994, quando Lula dispu-
tava a presidência com Fernando Henrique Cardoso, 
uma das comparações biográficas que mais enfurece-
ram Lula. Em evento de que participava Ruth Cardoso, 
a empresária de teatro Ruth Escobar anunciou que os 
brasileiros teriam duas opções: “Votar em Sartre ou es-
colher um encanador”. 
Querido pelo povo
Lula dirige-se ao povo falando de temas ausentes nos 
discursos de José Sarney, Itamar Franco ou FHC. Tais 
temas surgem naturalmente e estabelecem com a popu-
lação laços que as denúncias e as ameaças de impeach-
ment não conseguiram quebrar até agora. Certa vez, por 
exemplo, durante a inauguração de uma linha turística 
de trem em Ouro Preto, Lula aproveitou a ocasião para 
revelar seus conhecimentos de cachaça mineira e citou 
as infidelidades conjugais de Dom Pedro I. H
1945 Luiz Inácio Lula da 
Silva nasceu em 27 
de outubro de 1945 
no então distrito de Caetés, município 
de Garanhuns, interior de Pernambuco. 
É o sétimo dos oito filhos de Aristides 
Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de 
Mello, apelidada de “dona Lindu”. 
1982 Lula disputou o 
governo paulista 
como candidato do 
PT e ficou em quarto lugar. 
1983 Em agosto, fez parte 
do grupo fundador da 
CUT (Central Única 
dos Trabalhadores). 
1994 Na campanha pela 
presidência em 
1994, Lula era o 
favorito até o lançamento do Plano 
Real, em meados daquele ano. Em 
agosto, Fernando Henrique Cardoso 
já ultrapassava Lula nas pesquisas. O 
tucano venceu no primeiro turno. 
1998 Lula voltou a 
se candidatar a 
presidente da 
República e foi derrotado novamente 
por Fernando Henrique Cardoso. 
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1969 Em 1969, o Sindicato 
dos Metalúrgicos 
de São Bernardo 
do Campo e Diadema fez eleição para 
escolher a nova diretoria e Lula foi eleito 
suplente. Na eleição seguinte, em 1972, 
tornou-se primeiro-secretário. Em 1975, 
foi eleito presidente do sindicato com 
92% dos votos.
NOTAS
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Telegram: @clubederevistas
1957 -1963
Aos 12 anos, Lula conseguiu o primeiro 
emprego, em uma tinturaria. Depois, 
foi engraxate e office-boy. Com 14, 
começou a trabalhar nos Armazéns 
Gerais Columbia, onde teve a carteira 
de trabalho assinada pela primeira vez. 
Transferiu-se mais tarde para a Fábrica 
de Parafusos Marte e conseguiu vaga 
no curso de torneiro mecânico do Senai 
(Serviço Nacional de Aprendizagem 
Industral). Os estudos duraram três 
anos e Lula tornou-se metalúrgico. 
1974 Lula se casou com 
Marisa Letícia, com 
quem tem cinco filhos. 1980 Em 10 de fevereiro, 
Lula fundou o Partido 
dos Trabalhadores 
(PT), juntamente com outros sindicalistas, 
intelectuais, políticos e representantes 
de movimentos sociais, como lideranças 
rurais e religiosas. Nesse mesmo ano, 
nova greve dos metalúrgicos provocou 
a intervenção do governo federal no 
Sindicato de São Bernardo e a prisão 
de Lula e de outros dirigentes sindicais 
com base na Lei de Segurança Nacional. 
Enquanto esteve preso, sua mãe faleceu. 
1989 O PT lançou Lula 
para disputar a 
Presidência da 
República em 1989, após 29 anos sem 
eleições diretas para o cargo. Perdeu a 
disputa no segundo turno, por pequena 
diferença de votos. 
2002 Na última semana 
de junho de 2002, a 
Convenção Nacional 
do PT aprovou a formação de ampla 
aliança política (PT, PL, PC do B, PCB 
e PMN). As alianças atraíram o voto 
dos empresários e dos evangélicos. 
Embalado por uma campanha eficiente 
na TV que explorava a imagem do 
“Lulinha paz e amor”, o petista manteve-
se na dianteira nas pesquisas. Em 27 
de outubro de 2002, aos 57 anos de, 
com quase 53 milhões de votos, Luiz 
Inácio Lula da Silva foi eleito Presidente 
do Brasil vencendo José Serra (PSDB) 
no segundo turno, por uma diferença 
superior a 19 milhões de votos.
2006 Explodiu o escândalo 
do Mensalão; Lula 
teve sua imagem 
arranhada, mas não foi envolvido 
diretamente. Foi reeleito em 2006, com 
fácil vitória sobre Geraldo Alckmin.
2007 Lula falou em 
estender o mandato 
do presidente 
da República; a revista americana 
Newsweek afirmou que Lula é a 18ª 
pessoa mais poderosa do mundo.
1952 Em dezembro de 
1952, dona Lindu, 
juntamente com 
os filhos, migrou para o litoral paulista 
viajando 13 dias num caminhão “pau-
de-arara”. Foram morar em Vicente de 
Carvalho, bairro pobre do Guarujá. Lula 
foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio 
Dias e completou o ensino fundamental. 
1956 Em 1956, a família de 
Lula mudou-se para 
São Paulo e foi morar 
em único cômodo, nos fundos de um 
bar, no bairro do Ipiranga.
1978 Foi reeleito presidente 
do sindicato (98% dos 
votos) e, após 10 anos 
sem greves operárias – em razão do 
regime opressivo em vigor –, ocorreram 
no País as primeiras paralisações. 
1979 Em março, 170 mil 
metalúrgicos pararam 
o ABC paulista. O 
carismático dirigente liderou, então, 
assembleias no estádio de Vila Euclides. 
Os participantes não se intimidaram 
diante do aparato policial.
1964 A crise após o golpe 
militar de 1964 levou 
Luiz Inácio a mudar de 
emprego, passando por várias fábricas 
até ingressar nas Indústrias Villares, 
uma das principais metalúrgicas do 
País, localizada em São Bernardo do 
Campo, no ABC paulista. Trabalhando 
na Villares, ele começou a ter contato 
com o movimento sindical através 
de seu irmão José Ferreira da Silva, 
conhecido como “Frei Chico”.
1984 Participou, como 
uma das principais 
lideranças, da 
campanha das Diretas-Já, que 
reivindicava eleições imediatas para 
Presidente da República.
1986 Foi eleito o deputado 
federal mais votado 
do País para a 
Assembleia Nacional Constituinte, com 
650.134 votos.
1992 A partir de 1992, 
Lula atuou como 
conselheiro do 
Instituto Cidadania, organização 
não governamental criada após a 
experiência do Governo Paralelo, 
voltada para estudos, pesquisas, 
debates, publicações, formulação 
de propostas de políticas públicas 
nacionais e promoção de campanhas de 
mobilização para conquista dos direitos 
de cidadania para todo o povo brasileiro. 
2009 Luiz Inácio 
comemorou a 
conquista do Rio 
de Janeiro para sediar as Olimpíadas 
de 2016. E começou a preparar 
a campanha de Dilma Roussef. 
Presidência do Brasil.
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Telegram: @clubederevistas
DE GARANHUNS 
PARA SÃO PAULO
A INFÂNCIA E A 
JUVENTUDE DE 
LULA FORAM 
MARCADAS POR 
SOFRIMENTO, 
POBREZA E MUITAS 
MUDANÇAS
Algumas semanas depois do nas-
cimento do sétimo filho, Aristides 
migrou para o Estado de São Paulo 
em busca de melhores condições de 
vida. São Paulo – então como hoje – 
era o maior pólo de empregos do País, 
atraindo milhares de migrantes de to-
do o Brasil, principalmente do agres-
te nordestino, assolado desde sempre 
pela seca. Os migrantes nordestinos 
que buscavam escapar das duras con-
dições do semiárido costumavam vir 
antes de suas famílias, para encontrar 
Por Claudio Blanc
Luiz Inácio da Silva nasceu na 
pequena cidade de Garanhuns, 
interior de Pernambuco, em 
27 de outubro de 1945. Era o sétimo 
dos oito filhos de Aristides Inácio da 
Silva e Eurídice Ferreira de Mello, 
apelidada de dona Lindu. Pobre, 
quase miserável, o casal alimentava 
as crianças com abóbora, farinha de 
mandiocae algum leite cedido pelo 
avô, dono de umas poucas vacas. 
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INFÂNCIA E JUVENTUDE
Telegram: @clubederevistas
trabalho e se estabelecer. Depois, tra-
ziam suas mulheres e filhos. Foi o que 
Aristides Inácio da Silva fez. Em par-
te. Ele não foi sozinho: trouxe uma 
prima de dona Lindu, Valdomira 
Ferreira de Góes, com quem acabaria 
constituindo família. 
O menino Luiz, apelidado de Lula, 
só veio a conhecer o pai em 1949, aos 
4 anos de idade, quando Aristides foi 
visitar a família em Garanhuns para, 
em seguida, voltar a Santos, onde tra-
balhava como estivador no porto.
Em 1952, dona Lindu resolveu ir 
ao encontro do marido e, sem avisá-
lo, migrou para São Paulo com os fi-
lhos. A viagem foi feita em um pau-
de-arara, uma forma irregular de 
transporte, ainda usada no Nordeste. 
Suas origens remontam aos tempos 
em que quase não havia ônibus e as 
estradas eram muito precárias. São 
caminhões adaptados para trans-
portar passageiros. Sobre a carroce-
ria do veículo, tábuas são colocadas 
para servirem de assento. Uma lona 
usada como cobertura ajuda a prote-
ger da chuva e da poeira. Foi na car-
roceria de um desses caminhões que 
dona Lindu e os filhos vieram para o 
Sul, numa viagem de 13 dias.
Mas as dificuldades da viagem não 
foram amenizadas com a chegada. Em 
Santos, descobriram que Aristides ti-
nha outra família. Ele e a prima de do-
na Lindu haviam tido filhos.
Provavelmente, Dona Lindu já es-
tivesse desconfiada, mas a falta do 
apoio esperado apenas piorou a pre-
cária situação da família. Ela e seus fi-
lhos foram, então, morar em Vicente 
de Carvalho, bairro pobre do Guarujá, 
cidade vizinha a Santos, onde Aristides 
vivia e trabalhava. Durante esse tem-
po, Lula manteve certo convívio com o 
pai. Uma vez, quando o garoto já tinha 
10 anos, Aristides estava distribuin-
do sorvetes entre os filhos do segun-
do casamento, mas, quando chegou a 
vez de Lula, ele negou. “Você nem sabe 
chupar”, argumentou. Aquela teria si-
do a primeira vez que o menino iria to-
mar um picolé.
De Vicente de Carvalho, dona 
Lindu e os filhos foram morar em 
Santos. Ainda aos 7 anos, Lula co-
meçou a trabalhar. Primeiro como 
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vendedor de amendoim, laranja e ta-
pioca nas ruas daquela cidade. Ao 
mesmo tempo, fazia a escola primá-
ria no Grupo Escolar Marcílio Dias, 
onde foi alfabetizado.
Em 1956, dona Lindu resolveu mu-
dar-se para São Paulo com os oito fi-
lhos. A partir de então, Lula pouco viu 
o pai, que veio a falecer em 1978. Na 
capital paulista, a família passou a mo-
rar no bairro do Ipiranga, em um quar-
tinho nos fundos de um bar. A pobreza 
em que viviam beirava a miséria. Dona 
Lindu, porém, orgulhava-se de nunca 
ter deixado sua prole passar fome.
Como não podia deixar de ser, 
em São Paulo, Lula continuou a tra-
balhar. Aos 12 anos, conseguiu seu 
primeiro emprego numa tinturaria. 
Também foi engraxate e office-boy. 
Aos 14, foi trabalhar nos Armazéns 
Gerais Columbia. Pela primeira vez, 
o rapaz teve a Carteira de Trabalho 
assinada. O início de sua trajetó-
ria profissional o levou à Fábrica de 
Parafusos Marte. Ele, então, fez um 
curso de torneiro mecânico no Senai 
(Serviço Nacional de Aprendizagem 
Industrial). O curso durou três anos, 
ao final do qual Lula obteve seu 
diploma técnico. Antes de ter recebi-
do seus títulos honoris causa de al-
gumas universidades prestigiosas, es-
se era o único diploma conquistado 
por Lula.
A instabilidade resultante da cri-
se após o golpe militar de 1964 levou 
Luiz Inácio a mudar de emprego diver-
sas vezes. Nesse período, o metalúrgi-
co passou por várias fábricas. Em uma 
delas, a Aliança, sofreu um acidente 
quando trabalhava no turno noturno. 
Seu colega cochilou e fechou a pren-
sa transversal sobre sua mão esquer-
da. O descuido custou o dedo mínimo 
do futuro presidente. “Acho que per-
di o dedo por descuido médico”, dis-
se o presidente em entrevista ao repór-
ter da Editora Abril, Josué Machado. 
Segundo Lula, “a prensa pegou a me-
tade [do dedo], então, pelo menos um 
pedaço o médico poderia ter aprovei-
tado. Mas achou mais fácil dar anes-
tesia e cortar tudo”.
Finalmente, Lula foi trabalhar 
nas Indústrias Villares, uma das 
principais metalúrgicas do País, em 
São Bernardo do Campo, no pólo 
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O metalúrgico passou por várias fábricas. 
Em uma delas, a Aliança, sofreu um acidente 
quando trabalhava no turno noturno. Seu 
colega cochilou e fechou a prensa transversal 
sobre sua mão esquerda. O descuido custou 
o dedo mínimo do futuro presidente
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INFÂNCIA E JUVENTUDE
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industrial do ABC paulista. Foi na 
Villares que começou a ter contato 
com o movimento sindical, levado 
pela mão de seu irmão mais velho, 
José Ferreira da Silva, o Frei Chico.
Casamentos e filhos
No curso de sedimentar sua vi-
da, em 1969, Lula se casou com 
Maria de Lurdes, operária da indús-
tria têxtil. Mas o casamento durou 
pouco. Grávida, Maria de Lurdes 
contraiu hepatite e veio a falecer. A 
criança também não pode ser sal-
va. Viúvo, Lula foi buscar apoio em 
um breve romance com a enfermei-
ra Mirian Cordeiro, do qual nasceu 
uma menina, Lurian Cordeiro da 
Silva. Mirian e Lula se conheceram 
em 1972, quando ele cuidava do de-
partamento de INPS do Sindicato 
dos Trabalhadores das Indústrias 
tina, uma faca e uma lata de leite 
Mococa. Eram os móveis que a gente 
tinha. Nessa lata, ela guardava a broa 
para ele.
Fico pensando na coragem da mi-
nha mãe em deixá-lo, uma mulher 
analfabeta, com oito filhos para criar. 
Penso também em como a vida do 
povo piorou. Meu pai era estivador e 
sustentava duas famílias, pagava dois 
aluguéis. Trabalhava todo chique, de 
terno e gravata. Minha mãe largou tu-
do e foi embora. Fomos morar num 
barraco. Um dia, fomos ao cinema e, 
quando voltamos, as paredes do bar-
raco haviam caído. Mesmo isso não 
desanimava a minha mãe”.
Os maus tratos que Aristides 
dedicava às suas mulheres e aos 
filhos fizeram, como não podia 
deixar de ser, que ele terminasse 
seus dias sozinho. Morreu em 
1978 de complicações causadas 
pelo alcoolismo e foi enterrado 
como indigente. Nenhuma de suas 
mulheres (em Vicente de Carvalho 
corria o boato de que ele tinha sete) 
quis assumir a responsabilidade 
do corpo.
Aristides, o pai
Tanto Luiz Inácio como os irmãos 
conservam uma imagem negativa de 
Aristides. O irmão mais velho de Lula, 
José Ferreira da Silva, mais conheci-
do pelo apelido “Frei Chico”, disse em 
entrevista: “Não diria que era uma fi-
gura ruim. Era rude. Meu pai tinha um 
comportamento pouco recomendável. 
Muito bruto, não tinha carinho com os 
filhos. Não deixava os filhos fazerem 
praticamente nada. Quando estava 
chegando a hora de meu pai chegar em 
casa, era uma tortura para todos nós”.
Lula relembra as dificuldades que a 
família tinha com o pai e a pobreza 
que enfrentaram quando vieram para 
São Paulo:
“Lembro pouco da minha infância em 
Pernambuco. Lembro da minha vida 
depois de chegar a Santos, quando 
vivíamos num lugar mais civilizado. 
Um dia, a mãe descobriu que a outra 
mulher do meu pai ganhava mais 
coisas que ela. Tinha uma quitanda e 
o pai mandava entregar os alimentos. 
Aconteceu de entregarem errado. A 
mãe foi acumulando raiva. Meu pai 
era bruto, ignorante. Quando minha 
mãe o abandonou, só tínhamos uma 
Quando Lula já tinha seus 10 anos, Aristides 
estava distribuindo sorvetes entre os filhos 
do segundo casamento, mas, quando chegou 
a vez de Luiz Inácio, ele negou. ‘’Você nem 
sabe chupar’’, argumentou. Aquela teria sido a 
primeira vez que o menino iria tomar um picolé
Metalúrgicas e de Material Elétrico 
de São Bernardo do Campo e 
Diadema. “Ele ainda era um peãozão, 
mas um neguinho bonito, um gati-
nho”, declarou Mirian em uma entre-
vista em 1989. Quandose conhece-
ram, ela trabalhava como atendente de 
enfermagem da clínica modelo – uma 
das clínicas para onde o sindicato en-
caminhava seus associados. De acor-
do com uma reportagem publicada no 
Jornal do Brasil em 1989, “razões de 
trabalho e o então presidente do sindi-
cato, Paulo Vidal, acabaram por apro-
ximá-los”. O namoro ia bem – Mirian 
se lembra de muitas idas ao cinema e 
de várias festas no sindicato – até que 
a notícia da gravidez, que não esta-
va nos planos de ambos, abalou Lula. 
O relacionamento continuou, “mas 
muito espaçado”, contou Mirian, 
até que a menina nasceu “com dois 
quilos e 600 gramas”, na clínica São 
Camilo. “Ele ficou superalegre”, de-
clarou a enfermeira. Pagou todas as 
despesas, registrou a filha em seu no-
me e passou a visitá-la com alguma 
frequência – “mas sem querer assu-
mir um compromisso maior”, segun-
do a mãe. Mirian, insatisfeita com a 
situação, chegou a proibir que o pai 
visitasse a criança, mas a avó, dona 
Beatriz, sempre dava um jeitinho.
Esse antigo caso de Luiz Inácio 
foi apresentado ao grande público 
de forma deturpada em 1989 por 
Fernando Collor, que disputava a 
presidência com Lula. Na ocasião, 
Mirian declarou que Lula a tinha 
abandonado grávida. No entanto, 
de acordo com Luis Maklouf, em re-
portagem no Jornal do Brasil de 26 
de abril de 1989, “Lula nunca dei-
xou de vê-la e [na época da campa-
nha para presidente de 1989] até a 
aproximou de seus quatro filhos”. 
Mesmo assim, Luiz Inácio evitava 
mencionar Lurian. Maklouf con-
ta que, certa vez, o ator Antônio 
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Fagundes “perguntou-lhe quantos 
filhos tinha e Lula, mesmo com a fi-
lha do lado, não a mencionou”. Ele 
respondeu, “tenho quatro” e acres-
centou “todos homens”.
Dona Lindu, a mãe
Em depoimento à revista Época, 
quando foi eleito presidente pela pri-
meira vez, em 2002, Lula afirmou so-
bre dona Lindu: "Minha mãe simboliza 
dignidade, comportamento ético. A 
idéia de que não basta ser pobre, mi-
serável, para ser bandido. Ela sempre 
foi uma alentadora de esperanças, 
não desanimava nunca. Não lembro 
de tê-la visto de mau humor. Mesmo 
nas situações mais complicadas, ti-
nha esperança. Isso foi o que sempre 
inspirou a minha vida. Acreditar que a 
gente sempre podia fazer mais, con-
quistar um espaço maior. Para isso, só 
é necessário brigar”.
Em 1974, Lula se casou nova-
mente, com a também viúva Marisa 
Letícia da Silva. Em uma entrevista 
dada no início de sua carreira polí-
tica, o atual presidente contou como 
conheceu Marisa: “eu saía da casa 
de uma namorada à meia-noite ou 1 
da manhã e pegava um táxi na pra-
cinha de São Bernardo. Era o táxi de 
um velho. Um dia, não sei por quê, 
contei a ele que era viúvo. Então, 
ele me contou que tinha uma nora 
muito bonita, e que o filho tinha si-
do assassinado três meses depois do 
casamento. Ele continuava muito re-
voltado com a morte do filho e me 
contou que a nora não ia mais se ca-
sar. Como tinha contado minha his-
tória para ele, de vez em quando [eu] 
pegava o táxi e ele desabafava, fala-
va do filho. E, às vezes, também fala-
va da nora (...) Nessa época, Marisa 
apareceu no sindicato. Ela foi buscar 
um atestado de dependência econô-
mica para internar o irmão. Eu tinha 
dito ao Luisinho, que trabalhava co-
migo no sindicato, que me avisasse 
sempre que aparecesse uma viuvinha 
bonitinha. Quando a Marisa apare-
ceu, ele foi me chamar”.
Naquela época, Lula era primeiro-
secretário e diretor do Departamento 
de Previdência. Formal mente apre-
sen tado, ele passou a telefonar para 
Marisa. Então, descobriu que a nora 
do taxista e a viúva eram a mesma 
pessoa. Seis meses depois, se casa-
ram. Lula assumiu a paternidade do 
primeiro filho de Marisa, Marcos, e 
teve outros três com ela: Fábio Luiz, 
Sandro Luiz e Luiz Cláudio. O Lula 
daquela época gostava de futebol, 
era fã de bangue-bangue e mal lia 
os jornais. H
Lula no velório de sua mãe, Dona Lindu, em 12/05/1980
AGÊNCIA GLOBO/ SILVIO CORRÊA
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INFÂNCIA E JUVENTUDE
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A ATUAÇÃO DE 
LUIZ INÁCIO NO 
COMANDO DOS 
TRABALHADORES 
DO ABC PAULISTA
Em 1969, Luiz Inácio recebeu um convite inesperado. 
Seu irmão, Frei Chico, que de religioso não tinha nada 
além do apelido, não pode participar da diretoria do 
Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e de 
Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diadema e in-
dicou o irmão mais novo para o cargo. De início, Lula não quis 
aceitar, mas acabou cedendo a contragosto. Dessa forma, relu-
tante e por acaso, Luiz Inácio entrou no mundo sindical. Mal 
sabia ele que a estrada o levaria à presidência do Brasil.
O NOVO 
SINDICALISMO
Por Claudio Blanc
Lula na Assembleia dos Metalúrgicos de São Bernardo em 13/05/1979
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SINDICALISMO
Telegram: @clubederevistas
Com seu jeito franco e fala cati-
vante, Lula se revelou um líder nato. 
Nas eleições sindicais de 1972, tor-
nou-se primeiro-secretário. A partir 
de então, começou a mudar as con-
cepções sobre as práticas sindicais. O 
novo primeiro-secretário assumiu o 
setor de previdência social da entida-
de. Seu trabalho apontava uma lide-
rança promissora e renovadora. Em 
1975, foi eleito presidente do sindica-
to com 92% dos votos. Lula passou 
a representar 100 mil trabalhadores 
e foi tido como “líder orgânico”, al-
guém com imenso poder para articu-
lar as bases, pois sua liderança é na-
tural, espontânea e – principalmente 
– reconhecida pelos seus liderados.
Em 1978, foi reeleito presidente. 
Estava no lugar certo na hora certa. 
Após mais de dez anos sem greves 
operárias, os trabalhadores come-
çaram a se mobilizar contra os pro-
blemas socioeconômicos resultantes 
dos desmandos da ditadura militar. 
Foram as primeiras paralisações a 
desafiar a ditadura. 
Com o golpe militar de 1964, os 
sindicatos e sindicalistas foram re-
primidos. Entre outras medidas, a 
Lei de Greve foi limitada e a esta-
bilidade no emprego foi substituída 
pelo Fundo de Garantia. Em 1968, 
em Osasco, São Paulo e Contagem, 
os trabalhadores se levantaram em 
uma grande greve. Mas eram os 
Anos de Chumbo, e os operários re-
primidos se calaram. 
Uma greve daquela magnitude 
só voltou a acontecer durante a di-
tadura na sexta-feira 12 de maio de 
1978, na fábrica da Scania, em São 
Bernardo do Campo. Revoltados 
com mais um holerite sem reajuste, 
os operários colocaram em prática a 
palavra de ordem “braços cruzados, 
máquinas paradas”. 
Os trabalhadores sentiam-se in-
justiçados. Na época, era o governo 
militar quem estipulava os aumen-
tos, e os salários dos trabalhadores 
eram mantidos baixos. No entanto, 
o ganho das empresas era conside-
rável. Os militares agiam assim pa-
ra garantir o lucro dos empresários 
– especialmente dos grupos multina-
cionais, de quem esperavam receber 
transferência tecnológica. 
Cientes dos lucros da Scania e 
sem aumento de salário, os líderes 
sindicais propuseram a greve. Às 7h 
da manhã, quando começou o turno 
do dia 12, o pessoal da ferramenta-
ria, o coração da fábrica, manteve as 
máquinas desligadas.
A repercussão política foi enorme. 
A greve da Scania representava a re-
tomada do sindicalismo no Brasil, em 
plena vigência do Ato Institucional 
nº 5, que cassou direitos e liberdades, 
inclusive o de manifestação dos tra-
balhadores. Os operários da Scania 
permaneceram parados durante dois 
dias, mas foi o bastante para abalar 
as estruturas estabelecidas entre o 
Estado e os industriais. 
O movimento encorajou uma sé-
rie de greves, paralisando 280 mil 
trabalhadores de diversas catego-
rias durante os dois meses seguin-
tes. Laís Abramo, socióloga, dire-
tora da Organização Internacional 
do Trabalho (OIT) no Brasil e auto-
ra do livro O Resgate da Dignidade: 
Greve Metalúrgica e Subjetividade 
Operária, observou que os grevistas“foram homens e mulheres que tive-
ram a coragem de inventar caminhos 
naquele momento tão difícil”. 
O esforço foi premiado. Quatro 
meses depois daquele 12 de maio, um 
milhão de pessoas já tinham recebido 
reajustes acima dos estipulados pelo 
governo. Mas o significado principal 
foi, segundo Lula, o resgate da dig-
nidade. “Os trabalhadores queriam o 
direito de andar de cabeça erguida”, 
como dizia o então líder sindical.
No comando
Durante as paralisações, à fren-
te do Sindicato dos Metalúrgicos de 
Frei Chico
José Ferreira da Silva, o irmão mais 
velho de Lula, foi quem o levou a militar 
no sindicato dos Metalúrgicos de 
São Caetano do Sul. Mais conhecido 
pelo apelido que recebeu de seus 
companheiros, Frei Chico – que 
também já foi apelidado de Zé Gordo, 
Zé Careca ou Ziza, conforme seus irmãos 
o chamavam – se tornou sindicalista 
ainda na década de 1960. Seus irmãos 
ainda lembram das pregações que 
ele fazia ao regime militar. “Eles me 
chamavam de comunista e diziam que 
eu podia ser preso”, recorda ele. De 
fato, Frei Chico se filiou ao clandestino 
Partido Comunista Brasileiro em 
1971, nos Anos de Chumbo, período 
em que a ditadura militar endureceu 
desproporcionalmente a repressão. Em 
1975, Frei Chico foi preso pelo governo 
militar e passou 48 dias na prisão, onde, 
conforme a prática dos militares, foi 
torturado. Depois de solto, passou a 
atuar com mais discrição política. Com 
a abertura, no final dos anos 1970, se 
tornou presidente do Sindicato dos 
Metalúrgicos de São Caetano do Sul. 
Working Class Hero: foi assim que a revista 
americana Newsweek chamou Luiz Inácio Lula 
da Silva, numa matéria publicada em 1979. 
Além de comandar as greves que desafiaram 
o regime, Lula foi um dos precursores do Novo 
Sindicalismo, o viés sindical independente que 
buscaria orientar o sindicalismo a partir de então
14
SINDICALISMO
Telegram: @clubederevistas
São Bernardo do Campo e Diadema, 
aquele nordestino barbudo, de 34 
anos e com um apelido estranho, de-
fendia um sindicalismo desatrelado 
do Estado, fora dos padrões sedi-
mentados pelo peleguismo da épo-
ca. Bradava orgulhoso que o movi-
mento era dos trabalhadores. 
“Nem eu nem meus colegas de di-
retoria tínhamos participado de uma 
greve antes. Então, a gente não sabia 
se pulava de alegria ou ficava com 
medo”, declarou Lula ao recordar o 
momento. Com medo ou não, o líder 
meteu-se em muitas greves naquele 
ano. Em entrevista à revista Playboy 
de julho de 1979, Luiz Inácio fez um 
balanço das lições aprendidas: “com 
essas duas greves que fizemos em 11 
meses, a classe [trabalhadora] se uniu 
mais, surgiram novos líderes e os tra-
balhadores passaram a se interessar 
mais pelo sindicato. Aprendemos que 
melhor que uma luta só duas lutas. 
Vencemos: os trabalhadores redesco-
briram sua força. E, pela primeira vez 
em 15 anos, dirigentes cassados fo-
ram chamados para negociar”.
Lula se tornou o mais importan-
te líder sindical no País desde 1964 
e foi saudado pela imprensa, por as-
sociações empresariais e até pelo go-
verno. Em pouco tempo, tornou-se 
unanimidade nacional. “É um líder 
sindical sério, não tem nada de po-
lítico, não vai querer faturar”, decla-
rou o empresário Luis Eulálio Bueno 
Vidigal à época. “É uma das coisas 
mais importantes que têm acontecido 
neste país”, disse o então embaixador 
brasileiro em Paris, Delfim Neto.
Surgia, assim, um novo líder po-
lítico no Brasil. A voz de uma clas-
se que teve força e coragem para se 
mobilizar. Alguém que talvez pu-
desse ter sucesso onde outros, como 
Negociação entre metalúrgicos e patrões na Fiesp, em 15/03/1978
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Ainda que a sociedade civil, já no 
início da década de 1970, começasse 
a demonstrar preocupação com os 
limites à democracia impostos pelo 
regime, o movimento sindical, a Igreja 
Católica e a guerrilha armada foram 
os setores a opor maior resistência à 
ditadura militar. Embora os sindicatos 
tenham sido fechados e as lideranças 
sindicais perseguidas, os trabalhadores 
continuaram se reunindo em 
assembleias, ainda que supervisionadas 
pela Secretaria do Trabalho, a qual 
nomeou interventores para os diversos 
sindicatos. De acordo com Manoel dos 
Santos, ex-diretor do Sindicato dos 
Padeiros de São Paulo, “o período entre 
1964 e 1968 foi de total estagnação 
política. Acabaram-se as greves e as 
deliberações. Embora as assembleias 
continuassem acontecendo, toda a 
articulação política havia sido subtraída 
desses encontros”. Dessa forma, 
as assembleias sindicais acabaram 
assumindo caráter estritamente 
informativo. Além disso, eram 
monitoradas pela Secretaria do Trabalho. 
Para tanto, arapongas buscavam se 
infiltrar entre os sindicalistas.
Com o sindicato amordaçado, o 
governo determinava os aumentos 
salariais, respeitando a data do dissídio. 
No entanto, a tabela elaborada pelo 
sindicato – uma das primeiras conquistas 
da organização – foi abolida: um sinal 
do engessamento do movimento 
trabalhista, uma vez que apenas a classe 
patronal tinha voz, protegida pelo regime. 
Assim, os aumentos salariais eram 
invariavelmente insatisfatórios.
No entanto, com a abertura política 
trazida pelo presidente João 
Figueiredo, a partir de 1979, e 
pressionados pela crise econômica e 
inflação galopante os trabalhadores 
desafiaram o regime, convocando 
greves e paralisações. Dessa forma, 
davam um basta aos militares.
Oposição à ditadura militar
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Lamarca e Marighela, não tiveram e 
ajudar no esforço da sociedade civil 
para derrubar o ditadura.
O Lula de 1978 desconfiava de 
políticos, proibia a entrada de estu-
dantes em assembleias operárias, re-
cusava alianças com a Igreja e prega-
va que “a solução dos problemas do 
trabalhador não está nos partidos, 
mas em sua própria classe”.
Novo Sindicalismo
A atuação de Lula e de outros 
sindicalistas deu origem ao “Novo 
Sindicalismo”, uma abordagem sin-
dical diferente da vigente, a qual se 
caracterizava, nas palavras de Tânia 
Regina Exposito Ferreira, autora do 
estudo O Processo Discursivo do 
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva 
a Partir de Entrevistas a Alguns 
Jornalistas, “pelo clientelismo e pelo 
assistencialismo sindical que marca-
ram, durante anos, a vida da classe 
trabalhadora brasileira, movida por 
um regime antidemocrático”.
 “Este sindicalismo seria uma rup-
tura com as práticas estabelecidas no 
passado. Não um passado genérico, 
mas principalmente aquele demarca-
do pelo período 1945/1964”, observa 
Marco Aurélio Santana, pesquisador 
trabalhadores, pessoas que não acei-
tam esse tipo de exploração, que que-
rem participar da vida política do 
País, que não viveram o populismo 
de Getúlio Vargas. São pessoas que 
começam a acreditar nelas mesmas”. 
E conclui, pontuando a independên-
cia do movimento: “são quadros de 
dirigentes sindicais que não tiveram 
nenhum compromisso com o sindi-
calismo de antes de 1964, pois surgi-
ram mesmo a partir de 1969”.
Muitos dos elementos do “Novo 
Sindicalismo” partiram do que al-
guns estudiosos chamaram de “in-
terpretação política”. O movimento 
operário e sindical tinha consciên-
cia do seu papel de peso na oposição 
ao regime. O impacto da ação dos 
da Universidade Federal de Ouro 
Preto (Ufop). “O novo sindicalismo 
agregava uma série de forças distintas 
entre si, mas que tinham em comum, 
entre outras coisas, o posicionamen-
to contrário àqueles outros setores os 
quais classificavam como reformistas 
e/ou pelegos e que entravavam o de-
senvolvimento da luta dos trabalhado-
res em busca de suas reivindicações”, 
explica Santana. 
Outra característica do movi-
men to é que ele era sustentado por 
uma classe trabalhadora jovem, li-
vre das influências dos antigos ope-
rários. Conforme o próprio Lula 
declarou em 1979, “o que está exis-
tindo lá no ABC, principalmente em 
São Bernardo, é uma massa jovem de 
O Lula de 1978 desconfiava de políticos,proibia a entrada de estudantes em 
assembleias operárias, recusava alianças 
com a Igreja e pregava que “a solução dos 
problemas do trabalhador não está nos 
partidos, mas em sua própria classe”
Lula distribuindo jornais na porta da Volkswagen em 05/04/1979
AGÊNCIA O GLOBO/ HUGO KOYAMA
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SINDICALISMO
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A prisão de Lula
No dia 1º de abril de 1980, cem 
mil encheram o estádio da Vila 
Euclides, desafiando o poder militar. 
Imediatamente, o Exército buscou 
intimidar a manifestação. No dia 17 de 
abril, os trabalhadores voltaram a se 
mobilizar, mas dessa vez os militares 
Lech Walesa
Na época em que Lula comandava 
os trabalhadores nas greves que 
abalaram o regime militar, o bloco 
comunista do leste europeu começava 
a se desmantelar. Da mesma forma 
como aconteceu no Brasil, foram os 
operários que se ergueram contra os 
regimes totalitaristas. O movimento se 
iniciou na Polônia e se alastrou para 
os outros países da Cortina de Ferro. 
O polonês Lech Walesa entrou para a 
história universal do movimento operário 
em agosto de 1980 ao liderar a greve 
desencadeada no porto de Gdansk. 
Ativista sindical desde 1970, católico de 
não perder missa, Walesa comandou no 
segundo semestre de 1980 uma onda 
de greves que conquistou melhores 
salários e condições de vida para os 
trabalhadores da Polônia, derrubou 
ministros e – fato impensável num país 
comunista – organizou sindicatos livres 
da máquina do Estado. Walesa foi um 
dos fundadores do Solidariedade, a 
primeira central sindical independente 
do mundo comunista, que reuniu 10 
milhões dos 13 milhões de operários 
poloneses. Em 1981, Walesa e Lula se 
reuniram na Itália.
De acordo com Santana, passados 
20 anos, “o ‘novo sindicalismo’ se tor-
nou, através da CUT, o projeto mais 
duradouro da história do sindicalis-
mo nacional, incorporando sua parce-
la mais significativa”. Recentemente, 
Lula lembrou a importância histórica 
do movimento sindical, em especial 
da greve de 12 de maio de 1978, para 
mudar as relações de trabalho. “Sinto-
me vitorioso porque vejo que as coi-
sas estão acontecendo em nosso país”, 
declarou na ocasião o atual presidente 
da República.
Projeção política
Depois da vitória das greves, Lula 
começou a falar na necessidade de 
os trabalhadores criarem um partido 
próprio e estreou sua participação em 
campanhas políticas, apoiando o can-
didato a senador pelo MDB, Fernando 
Henrique Cardoso. Curiosamente, 
Lula entrou na política pela mão do 
homem que o derrotaria duas vezes se-
guidas em eleições presidenciais. 
Em 1979, Lula começou a tra-
balhar pela criação de uma Central 
Única dos Trabalhadores (CUT). O 
governo militar reagiu cassando o 
mandato da diretoria do sindicato 
e, em maio, Lula foi preso e enqua-
drado na Lei de Segurança Nacional 
por ''incitar à desobediência coletiva 
das leis e à luta de classes pela vio-
lência''. Os metalúrgicos entraram, 
mais uma vez, em greve, a mais du-
ra e difícil de todas. Lula passou 31 
dias preso. Sobre a experiência, de-
clarou: “Não tenho medo de ser pre-
so, torturado ou mesmo de morrer. 
Meu único medo é o de falhar, por 
engano ou por falta de bom senso, 
com aqueles que confiam na gente.” 
foram mais rigorosos. Lula e mais 17 
dirigentes sindicais foram presos no 
Departamento de Ordem Política e 
Social (Dops), onde ficaram por 31 dias, 
enquadrados na Lei de Segurança 
Nacional. Mesmo assim, a intervenção não 
arrefeceu os protestos, e a greve continuou 
por mais 41 dias. Lula foi julgado pela 
justiça militar em 1981 e condenado a três 
anos e seis meses de prisão. No entanto, 
a pena veio a ser revogada pelo Superior 
Tribunal Militar. A revogação foi resultado 
do forte apoio da sociedade civil aos 
operários do ABC, com a mobilização 
de representantes da Igreja Católica, 
advogados, jornalistas, estudantes 
e parlamentares da oposição. Mas 
enquanto estava preso, Lula perdeu sua 
mãe. Na verdade, dona Lindu morreu sem 
saber que o filho tinha sido preso.
trabalhadores atingiu a arena políti-
ca geral de forma a abalar o regime. 
Com reivindicações precisas e con-
cretas, o “Novo Sindicalismo” apre-
sentou posições políticas não tolera-
das pela ditadura. 
O discurso do “Novo Sindicalismo” 
com relação a patrões, Estado e legis-
lação se caracterizava pela radicaliza-
ção que buscava combater a intransi-
gência dos empresários e as agruras 
e os sofrimentos no “chão da fábri-
ca”. Com relação à ditadura, o movi-
mento mostrava a rejeição ao Estado 
autoritário que pouco, ou nada, fazia 
pelos trabalhadores.
Os proponentes do movimen-
to também lutavam por liberdade e 
autonomia sindical, desatrelando o 
sindicato do Estado. Lula pregava: 
“o movimento sindical tem esse cor-
dão umbilical preso ao Ministério do 
Trabalho” e que é “preciso acabar 
com a contribuição sindical que atre-
la o sindicato ao Estado. O sindicato 
ideal é aquele que surge espontanea-
mente, que existe porque o trabalha-
dor exige que ele exista”.
Em entrevista à revista Cara a 
Cara, em 1978, Lula comentou as 
mudanças no sindicalismo brasilei-
ro da época, especialmente sobre a 
busca, por parte de alguns dirigen-
tes sindicais, de tornar o sindicalis-
mo independente “de uma vez por 
todas”. Para ele, “isso não acontecia, 
por exemplo, antes de 1964, quando 
sabíamos que muitos movimentos 
eram feitos por interesses políticos, 
muitas vezes em benefício de quem 
estava no poder e mesmo de quem 
não estava, mas queria chegar lá”. 
Lula notava que neste novo mo-
mento haveria “a consciência de que 
o trabalhador é trabalhador, desacre-
ditando de um monte de coisas que o 
tinham enganado durante muito tem-
po. Ele acreditava, por exemplo, que 
o governo podia fazer muitas coisas 
para a classe trabalhadora, porque 
estavam muito marcadas na mente 
do trabalhador as pseudobenevolên-
cias de Getúlio Vargas”. No entanto, 
continua Lula, “hoje ele não acredita 
mais nisso. Hoje, ele está acreditando 
nas suas forças”.
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 17
Telegram: @clubederevistas
O SUCESSO DO MOVIMENTO 
GREVISTA DO FINAL DOS 
ANOS 1970 LEVOU LUIZ 
INÁCIO A PENSAR NA 
CRIAÇÃO DE UM PARTIDO 
POLÍTICO PARA FAZER 
VALER A DEMANDA 
DOS TRABALHADORES
FUNDAÇÃO
DO Por Claudio Blanc
Era uma busca pelo autêntico exercício da 
democracia. O próprio Lula conta que, du-
rante as assembleias nos estádios de futebol, 
“eu ficava lá naquela trave lá, e a gente, na hora de 
colocar em votação, a gente gritava: Olha, os com-
panheiros que são favoráveis à proposta da Fiesp, 
por favor, levantem a mão. Ninguém levantava a 
mão. E a gente falava: Os companheiros que são 
contra a proposta da Fiesp, levantem a mão. E aí 
todo mundo... Aqui foi onde a gente descobriu a 
necessidade de dar um passo adiante, aqui foi on-
de a classe trabalhadora criou consciência política. 
Aliás, eu acho que aqui é que começou o verdadei-
ro processo de democratização deste país, porque 
foi aqui que a classe trabalhadora deu o seu grito 
de guerra”. 
No período da ditadura militar, os parti-
dos políticos haviam sido extintos, dando lugar 
a duas agremiações, que funcionavam como pó-
los de apoio do governo militar, o Movimento 
Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança para a 
Renovação Nacional (ARENA). Mas, depois das 
greves do final dos anos 1970, conscientes da sua 
força política, os trabalhadores começaram a ide-
alizar a fundação de um partido que melhor os re-
presentasse. Em uma entrevista da época em que 
Lula despontou como líder operário, ele descreveu 
como deveria ser um partido para representar bem 
os trabalhadores: “esse partido deveria ter com-
promisso com as bases, ter trabalhadores. É o que 
a gente está tentando criar. Um partido para todos 
os que vivem de salário, não só operários, mas to-
dos os que trabalham”.
Na apresentação do livro Lula, o Filho do Brasil, 
de Denise Paraná, Antônio Candido observa a na-
tureza do PT como fruto de uma convergência di-
nâmica, em determinada conjuntura histórica, dainiciativa sindical, de aspirações difusas cujo alvo é 
a igualdade econômica e da liderança de Lula. 
Com a oportunidade histórica, a liderança 
do movimento operário se aliou a intelectuais, 
membros do setor progressista da Igreja, políti-
cos da oposição e artistas, e fundou o seu parti-
do. Com as brisas da Abertura soprando, em 10 
18
PARTIDO DOS TRABALHADORES
Telegram: @clubederevistas
de fevereiro de 1980, no Colégio 
Sion, em São Paulo, foi criado o PT. 
De acordo com o escritor Eduardo 
Bueno, o PT surgia como “a ponta-
de lança do movimento sindicalista 
na região do ABC”.
Segundo Jorge Pinheiro, profes-
sor da Universidade Metodista de 
São Paulo, “a ideia do PT surge en-
tão de quatro fatores: a nova realida-
de social; as mobilizações e lutas que 
geraram uma nova experiência, não 
somente sindical, mas democrática 
e política; a falta de alternativas pa-
ra esta nova vanguarda, que neces-
sitava se expressar politicamente; e 
a possibilidade de se expressar atra-
vés das direções sindicais classistas e 
correntes da esquerda socialista”.
Mas a criação do PT passou por 
grandes dificuldades. Conforme ex-
plica Pinheiro, autor da tese de dou-
torado O espectro do vermelho: 
uma leitura teológica do socialis-
mo no Partido dos Trabalhadores, 
a partir de Paul Tillich e Enrique 
Dussel, “os dirigentes sindicais che-
garam à questão do PT através do 
classismo, como mediação entre a 
questão sindical e política, o Partido 
dos Trabalhadores necessitou dos 
quadros políticos”. Estes quadros 
vieram da esquerda socialista e das 
O socialismo dos 
Trabalhadores
Em discurso na Primeira Convenção 
Nacional do Partido dos Trabalhadores, 
que aconteceu em 27 de setembro 
de 1981 em Brasília, Lula anunciou 
o caráter socialista do partido. “O 
socialismo que nós queremos se 
definirá por todo o povo, como exigência 
concreta das lutas populares, como 
resposta política e econômica global 
a todas as aspirações concretas que o 
PT seja capaz de enfrentar. Seria muito 
fácil, aqui sentados comodamente, no 
recinto do Senado da República, nos 
decidirmos por uma definição ou por 
outra. Seria muito fácil e muito errado. 
O socialismo que nós queremos não 
nascerá de um decreto, nem nosso, 
nem de ninguém. O socialismo que 
nós queremos irá se definindo nas 
lutas do dia-a-dia, do mesmo modo 
que nós estamos construindo o PT. O 
socialismo que nós queremos terá que 
ser a emancipação dos trabalhadores. 
E a libertação dos trabalhadores será 
obra dos próprios trabalhadores”.
Antônio Candido observa a natureza do PT 
como fruto de uma convergência dinâmica, em 
determinada conjuntura histórica, da iniciativa 
sindical, de aspirações difusas cujo alvo é a 
igualdade econômica e da liderança de Lula
AGÊNCIA O GLOBO/ JORGE MARINHO
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 19
Lula durante lançamento do PT no Rio de Janeiro em uma igreja de Nova Iguaçu (30/09/1979)
Telegram: @clubederevistas
comunidades eclesiásticas de base 
para viabilizar o projeto de constru-
ção do Partido dos Trabalhadores. 
“Os dirigentes sindicais desejavam 
um partido, mas não sabiam como 
construí-lo, e as esquerdas socialis-
tas e religiosas, na sua maioria in-
telectuais e estudantes, sonhavam 
em encher suas pequenas organiza-
ções com trabalhadores fabris. O 
Partido dos Trabalhadores possibi-
litou, então, num primeiro momen-
to, o encontro da necessidade com 
a utopia”, sustenta. E dessa maneira 
surgiu o PT.
A orientação política do novo par-
tido era socialista-democrática. O 
ideal por trás da fundação do partido 
era o da construção de uma socieda-
de que expressasse a vontade de to-
dos os trabalhadores explorados pelo 
capitalismo. Buscava também a cons-
trução de uma nova democracia, com 
raízes nas bases da sociedade e sus-
tentada pelas decisões das maiorias, 
isto é, das massas, e não pelos donos 
dos meios de produção. E eram os tra-
balhadores que deveriam promover 
sua emancipação. Conforme declara-
va sua Carta de Princípios, “a eman-
cipação dos trabalhadores é obra dos 
próprios trabalhadores, que sabem 
que a democracia é participação or-
ganizada e consciente e que, como 
classe explorada, jamais deverá espe-
rar da atuação das elites privilegiadas 
a solução de seus problemas”. 
Não ao comunismo
Os modelos soviético e maoísta já 
eram decadentes no início da década 
de 1980. Cerca de 15 anos antes, o 
próprio Che Guevara já recusava o 
comunismo soviético e buscava se 
alinhar ao maoísmo. No entanto, depois 
da Revolução Cultural de Mao Tse Tung, 
que oprimiu duramente a população 
civil, o regime maoísta também passou 
a ser visto com desconfiança. Além 
disso, o PT não queria ser visto pelas 
classes médias brasileiras como 
um partido que buscava implantar o 
comunismo. A sociedade desejava, 
de fato, o fim do regime militar, mas 
ainda temia o comunismo. Quando 
Lula foi projetado a figura pública, a 
partir da greve da Scania, em 1978, os 
setores conservadores da sociedade o 
saudaram como líder de um movimento 
espontâneo de oposição ao regime. 
Contudo, nem a classe média nem a 
elite desejavam que um trabalhador de 
esquerda assumisse posições como 
legislador municipal, estadual e, muito 
menos, nacional.
Embora de orientação de esquer-
da, o PT surgiu recusando modelos 
que já estavam em decadência, como 
o marxismo soviético ou o maoísmo. 
Tanto que, quando a questão da filia-
ção ideológica do PT foi levantada em 
debate por Fernando Collor durante 
a campanha presidencial de 1989, 
Lula respondeu que o PT "jamais de-
clarou ser um partido marxista".
O próprio Lula colocou essa po-
sição em uma entrevista à escrito-
ra Denise Paraná. “A verdade é que 
nós tínhamos duras críticas ao so-
cialismo real existente. A nossa bri-
ga dentro do PT – depois da queda 
O presidente confessou à escritora 
Denise Paraná que sua ascensão se deve às 
conquistas da classe: “eu digo sempre que eu 
sou o fiel resultado do crescimento da minha 
categoria. Nem mais nem menos. À medida 
que ela avançava, eu avançava”
Lula discursa durante Congresso dos Trabalhadores na Indústria em 24/07/1978A
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PARTIDO DOS TRABALHADORES
Telegram: @clubederevistas
do muro de Berlim, isso mudou mui-
to, e mudou também porque tem ou-
tras correntes dentro do PT – era 
porque a gente nunca aceitou o mo-
delo soviético como um modelo al-
ternativo da sociedade, nós nunca 
aceitamos”, disse Lula. Ele recorda 
igualmente que “nós fazíamos críti-
cas ao socialismo porque não admi-
tíamos uma sociedade socialista sem 
liberdade de expressão, sem direito 
de greve, sem partidos políticos de 
oposição. Eu já tinha estas informa-
ções todas. Não era possível você fa-
lar em democracia com um partido 
só, com sindicatos sem poder fazer 
greve, sem as pessoas poderem cri-
ticar o partido que estava no poder. 
Nessa época, a gente já fazia estas 
críticas. Por isso, eu me sinto à von-
tade hoje. Hoje, é muito fácil criticar 
A Carta de princípios do PT é anterior 
ao Manifesto de Fundação do Partido 
dos Trabalhadores. Lançado na 
emblemática data de 1º de maio de 
1979, o documento define, conforme 
o nome, os princípios pelo qual a 
legenda irá pautar sua atuação. A 
Carta de Princípios do PT explica 
a necessidade de se fundar um 
partido que responda aos anseios 
da classe trabalhadora. “O PT (...) 
surge exatamente para oferecer aos 
trabalhadores uma expressão política 
unitária e independente na sociedade. 
E é nessa medida que o PT se tornará, 
inevitavelmente, um instrumento 
decisivo para os trabalhadores na luta 
efetiva pela liberdade sindical”, propõe 
o documento.
Confira abaixo trecho da carta:
O PT proclama também que sua luta 
pela efetiva autonomia e independência 
sindical, reivindicação básica dos 
trabalhadores, é parte integrante 
da luta pela independência política 
desses mesmos trabalhadores. Afirma, 
outrossim, que buscará apoderar-
se do poder político e implantar o 
governo dostrabalhadores, baseado 
nos órgãos de representação criados 
pelas próprias massas trabalhadoras 
com vista a uma primordial democracia 
direta. Ao anunciar que seu objetivo é 
organizar politicamente os trabalhadores 
urbanos e os trabalhadores rurais, o PT 
se declara aberto à participação de todas 
as camadas assalariadas, repudiando 
toda forma de manipulação política das 
massas exploradas, incluindo, sobretudo 
as manipulações próprias do regime 
pré-64, o PT recusa-se a aceitar em 
seu interior, representantes das classes 
exploradoras. Vale dizer, o Partido dos 
Trabalhadores é um partido sem patrões!
(...)
O PT não pretende criar um 
organismo político qualquer. O 
Partido dos Trabalhadores define-se, 
programaticamente, como um partido que 
tem como objetivo acabar com a relação 
de exploração do homem pelo homem.
O PT define-se também como partido 
das massas populares, unindo-se ao 
lado dos operários, vanguarda de toda 
a população explorada, todos os outros 
trabalhadores – bancários, professores, 
funcionários públicos, comerciários, bóia-
frias, profissionais liberais, estudantes 
etc. – que lutam por melhores condições 
de vida, por efetivas liberdades 
democráticas e por participação política.
O PT afirma seu compromisso com a 
democracia plena, exercida diretamente 
pelas massas, pois não há socialismo 
sem democracia nem democracia sem 
socialismo.
Um partido que almeja uma sociedade 
socialista e democrática tem de ser, ele 
próprio, democrático nas relações que 
se estabelecem em seu interior. Assim, 
o PT se constituirá respeitando o direito 
das minorias de expressar seus pontos 
de vista. Respeitará o direito à fração e 
às tendências, ressalvando apenas que 
as inscrições serão individuais.
(...)
O PT declara-se comprometido e 
empenhado na tarefa de colocar os 
interesses populares na cena política e 
de superar a atomização e dispersão das 
correntes classistas e dos movimentos 
sociais. Para esse fim, o Partido dos 
Trabalhadores pretende implantar seus 
núcleos de militantes em todos os locais 
de trabalho, em sindicatos, bairros, 
municípios e O PT manifesta alto e bom 
som sua intensa solidariedade com 
todas as massas oprimidas 
A Comissão Nacional Provisória
1º de Maio de 1979
o socialismo real. Só que a gente cri-
ticava já naquela época. Os setores 
de esquerda que liam as cartilhas de 
Moscou achavam que nós éramos da 
CIA. Hoje, eles fazem o discurso que 
nós fazíamos 20 anos atrás, mas não 
fazem autocrítica.”
No plano internacional, a orien-
tação do PT levou, desde o começo, 
o partido a se alinhar com outras li-
deranças de esquerda da América 
Latina. O programa original do 
Partido dos Trabalhadores previa 
uma "política internacional de so-
lidariedade entre os povos oprimi-
dos e de respeito mútuo entre as na-
ções que aprofunde a cooperação e 
sirva à paz mundial”. Dessa forma, 
observa Paulo Roberto de Almeida, 
do Instituto Rio Branco, “o PT apre-
senta com clareza sua solidariedade 
aos movimentos de libertação nacio-
nal". O "Plano de ação" para a polí-
tica externa buscava "Independência 
Nacional: contra a dominação impe-
rialista; política externa independen-
te; combate à espoliação pelo capital 
internacional; respeito à autodeter-
minação dos povos e solidariedade 
aos povos oprimidos". Conforme 
observa Almeida, “pela terminolo-
gia e propostas de ação, nada, nes-
se documento, permitiria desvincu-
lar o PT dos conceitos e políticas de 
uma típica plataforma dos partidos 
esquerdistas da América Latina no 
período clássico da Guerra Fria, o 
que era, aliás, conforme a sua voca-
ção afirmadamente socialista”.
Desde o início, o partido se fez 
crítico aos social-democratas, con-
forme atesta seu programa original: 
Carta de Princípios do PT
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 21
Telegram: @clubederevistas
"as correntes social-democratas não 
apresentam, hoje, nenhuma perspec-
tiva real de superação histórica do ca-
pitalismo imperialista". Essa supera-
ção é a busca dos trabalhadores de 
revogarem um modelo socioeconô-
mico que implica não só na explora-
ção do proletariado, mas na explora-
ção das nações mais pobres pela mais 
ricas. O termo “capitalismo impe-
rialista” refere-se especificamente à 
expansão norte-americana depois da 
Segunda Guerra Mundial, em lugar 
do neocolonialismo que perdurou até 
o início desse conflito internacional.
No entanto, ao chegar ao poder, o 
PT adotava as orientações capitalistas 
defendidas por aqueles que criticava. 
Conforme observou um analista, “nú-
cleo duro é composto por sindicalis-
tas com uma preocupação, acima de 
tudo, com os interesses corporativos 
dos trabalhadores assalariados orga-
nizados, o que explicaria a facilidade 
com que o partido, uma vez no poder, 
adaptou-se à lógica da economia capi-
talista como um todo e à uma política 
econômica bastante ortodoxa”. De fa-
to, já na década de 1990, prefeitos pe-
tistas – entre eles o futuro Ministro da 
Fazenda, Antônio Palocci – adotavam 
políticas neoliberais, até mesmo pro-
movendo privatizações.
Luiz Inácio foi um dos principais 
articuladores da fundação do PT. 
Presidente do Partido, reeleito des-
de sua fundação em 1980, Lula dei-
xou o cargo em 1987, reforçando o 
princípio do rodízio na direção par-
tidária. Desde então, tornou-se pre-
sidente de honra do PT, levando o 
partido a conquistar – com ele – o 
cargo mais alto do País, o de presi-
dente da República. H
O que foi a 
Abertura?
As eleições parlamentares de 1974 
foram vencidas pelo MDB, o partido 
de oposição comandado por Ulysses 
Guimarães. Municiado com o apoio 
público, o MDB aproveitou para tecer 
duras críticas à política econômica. 
O presidente militar Ernesto Geisel 
reagiu com uma promessa de abertura. 
De fato, derrotada a guerrilha que se 
opunha ao regime, alguns setores 
das Forças Armadas reconheciam a 
necessidade de se voltar gradualmente 
a um regime civil. Foi o início de um 
processo lento e custoso. Aos poucos, 
a ditadura começou a se abrandar. A 
censura à imprensa foi gradualmente 
diminuindo, ao mesmo tempo em que 
as greves eclodiam. Conforme colocou 
o escritor Jorge Caldeira, “de um lado, 
os militares procuravam desmontar 
a máquina de repressão. De outro, 
cresciam os protestos estudantis”. 
Mesmo assim, a promessa de abertura 
não conseguiu evitar episódios como 
o assassinato do jornalista Vladimir 
Herzog, em 1975, nem da estilista Zuzu 
Angel, cujo filho também havia sido 
assassinado pela ditadura, em 1976.
Presidente do Partido, reeleito desde sua 
fundação em 1980, Lula deixou o cargo em 
1987, reforçando o princípio do rodízio na 
direção partidária. Desde então, tornou-se o 
presidente de honra do PT, levando o partido a 
conquistar, com ele, o cargo mais alto do País
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PARTIDO DOS TRABALHADORES
Telegram: @clubederevistas
DEPOIS DE PARTICIPAR DAS 
ELEIÇÕES PARA O GOVERNO 
DE SÃO PAULO EM 1982, 
LULA LUTOU PELAS 
DIRETAS JÁ E ATUOU NA 
CONSTITUINTE DE 1988
PRIMEIROS ANOS 
DA CARREIRA 
POLÍTICA
A Constituição de 1988 teve a participação de 559 congressistas
DIVULGAÇÃO/ ACERVO ABR
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 23
INÍCIO DA CARREIRA POLÍTICA
Telegram: @clubederevistas
Por Claudio Blanc
E m 1982, o PT participou de 
sua primeira eleição. O par-
tido já congregava 400 mil 
mili tantes em todo o Brasil e lan-
çou Lula candidato a governador 
do Estado de São Paulo, concor-
rendo contra Franco Montoro, do 
PMDB. Era a primeira eleição de-
pois da abertura política. No entan-
to, a Lei Falcão, resquício do regime 
militar, não permitia o discurso dos 
candidatos na televisão e no rádio. 
Os partidos políticos apresentavam 
a foto de cada candidato, enquanto 
seu currículo e seu plano de governo 
era lido por um locutor. Na época, o 
número da sigla do PT era o 3, não 
o atual 13. Os slogans usados foram 
“Vote no 3 porque o resto é bur-
guês” e “Trabalhador vota em tra-
balhador”. Também foi durante essa 
campanha queo apelido “Lula” foi 
incorporado ao nome do futuro pre-
sidente. Era mais fácil identificar o 
candidato pelo apelido.
Lula e o PT eram, porém, es trean-
tes. As chances de ser eleito eram sa-
bidamente pequenas. Conforme Plínio 
de Arruda Sampaio, autor do estatuto 
do PT, colocou na ocasião “estamos vi-
vendo um período de transição que dá 
lugar a um quadro eleitoral inteiramen-
te novo e até certo ponto indefinido e, 
como é comum neste tipo de situação, 
tudo pode acontecer. Por isso, não se 
pode descartar a possibilidade de uma 
vitória do Lula nas eleições de 15 de 
novembro, mas as probabilidades des-
te resultado são remotas”. Mesmo as-
sim, o partido apostava em Lula. Ele 
era, segundo Plínio, “candidato pra 
valer”, isto é, “aquele que consegue ar-
ticular em torno da sua proposta par-
celas ponderáveis do eleitorado”. 
O esforço de Lula e do PT nessa 
ocasião buscava menos a vitória do 
que a projeção no quadro político na-
cional. Plínio Sampaio justificou com 
propriedade os objetivos daquela 
campanha: “a candidatura para va-
ler busca a vitória eleitoral, mas não 
considera que esta seja o único objeti-
vo justificativo da campanha. A can-
didatura pra valer, sem renunciar à 
vitoria, não é uma candidatura pa-
ra ganhar a todo custo. No seu con-
texto, a vitória pode vir a constituir, 
conforme o decurso da campanha, 
um resultado do esforço desprendi-
do, mas não constitui o único motivo 
deste. A criação de uma força política 
nova; a ampliação do numero de filia-
dos; a consolidação da estrutura par-
tidária; a divulgação do programa e 
da plataforma; a constituição de ban-
cadas parlamentares expressivas; a 
conquista de algumas prefeituras são 
resultados suficientes para justificar 
uma campanha para valer”.
O PT apostava em sua estrela 
Ulysses Guimarães presidiu os trabalhos para a elaboração da nova Constituição
DIVULGAÇÃO/ ACERVO ABR
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INÍCIO DA CARREIRA POLÍTICA
Telegram: @clubederevistas
maior, acreditando que ele era o úni-
co candidato capaz de mobilizar to-
das as bases partidárias e de entusias-
mar, ao mesmo tempo, contingentes 
expressivos do operariado, dos traba-
lhadores rurais e das classes médias. 
Mas a postura do candidato as-
sustava. A imagem do revolucioná-
rio, do “tipo Che Guevara”, se sobre-
punha à do homem simples. A raiva 
no tom da voz, a postura e as roupas 
usadas reforçavam a figura do revo-
lucionário em detrimento da do tra-
balhador. Com uma plataforma radi-
cal, Lula procurava se diferenciar dos 
políticos tradicionais que disputavam 
a eleição. De camiseta, o candidato 
pedia: “companheiro trabalhador, 
vote no 3 que o resto é burguês”.
Mas o eleitorado, que acabava de 
sair de um período de ditadura mili-
tar, de luta contra o comunismo, te-
ve medo – talvez fosse como pular da 
frigideira para cair no fogo. Mesmo 
assim, apesar da falta de recursos 
da campanha e dos preconceitos de 
classe do eleitorado, Lula obteve 1 
milhão e 200 mil votos. 
Deputado
Após a derrota nas urnas, Lula e o 
PT adiantaram-se na campanha pe-
las Diretas Já, organizando um co-
mício em novembro de 1983 e lan-
çando um comitê suprapartidário 
que desencadeou a campanha no ano 
seguinte. Lula procurou políticos de 
vários partidos – entre eles, Leonel 
Brizola (PDT), Giocondo Dias (PCB) 
e Tancredo Neves – para tentar apro-
var a proposta. E conseguiu. A cam-
panha pelas Diretas foi a maior 
A Constituição de 1988
O PT apostava em sua estrela maior, 
acreditando que ele era o único candidato 
capaz de mobilizar todas as bases partidárias 
e de entusiasmar, ao mesmo tempo, 
contingentes expressivos do operariado, dos 
trabalhadores rurais e das classes médias
Desde 1964, o Brasil estava sob o 
regime da ditadura militar e, desde 
1967, sob uma constituição imposta 
pelo governo. A Carta em vigor havia 
sido reformulada várias vezes, e de 
forma autoritária, durante o regime 
militar e não expressava mais a nova 
ordem política do País . Assim, ao 
longo do processo de abertura política, 
emergiu a necessidade de uma nova 
Constituição mais de acordo com os 
valores democráticos. Assim, os meses 
iniciais do governo Sarney – o primeiro 
governo civil desde o Golpe de 1964 – 
foram pontuados por debates a respeito 
da convocação de uma Assembleia 
Constituinte. Havia, porém, divergências 
sobre a nova carta magna. 
Os setores mais progressistas 
defendiam a formação da Assembleia 
de representantes, eleitos pelos 
cidadãos, com a função única de 
elaborar a nova Constituição, pois 
acreditavam que uma Assembleia 
Constituinte exclusiva teria maior 
representatividade e soberania para 
elaborar a nova Carta. Mas acabou 
prevalecendo o Congresso Constituinte, 
isto é, os deputados federais e 
senadores eleitos em novembro de 
1986 acumulariam as funções de 
congressistas e de constituintes. 
A Assembleia Nacional Constituinte, 
composta por 559 congressistas, foi 
instalada em 1º de fevereiro de 1987, 
sob presidência do deputado Ulysses 
Guimarães, do PMDB. Os trabalhos 
dos constituintes se estenderam por 18 
meses. O grupo majoritário era o Centro 
Democrático, também conhecido como 
"Centrão", formado por uma parcela dos 
parlamentares do PMDB, pelo PFL, PDS 
e PTB, além de outros partidos menores. 
No início dos trabalhos do Congresso 
Constituinte, em busca de defender 
seus interesses, vários setores da 
sociedade também contribuíram, através 
de lobbies, com a Magna Carta. O 
Congresso também recebeu inúmeras 
propostas formuladas pelos cidadãos 
e apresentadas por meio de entidades 
associativas, subscritas por pelo menos 
30 mil assinaturas.
A Constituição da República Federativa 
do Brasil de 1988, a lei fundamental e 
suprema do Brasil, foi promulgada em 5 
de outubro de 1988. É a sétima a reger o 
Brasil desde a sua Independência. A nova 
Constituição sedimentou a democracia 
brasileira. Entre outros avanços, a Carta 
de 1988 determina a eleição direta para 
Presidente da República, Governador 
de Estado (e do Distrito Federal), 
Prefeito, Deputado (Federal, Estadual 
e Distrital), Senador e Vereador. A nova 
Constituição também determina uma 
maior responsabilidade fiscal e ampliou 
os poderes do Congresso Nacional.
mobilização popular na história do 
País. Lançada pelo PT, logo recebeu o 
apoio do PMDB – o partido modera-
do de oposição, o qual deu origem ao 
atual PSDB – “faltando pouco para se 
apoderar de tal bandeira”, conforme 
observou o escritor Eduardo Bueno. 
Na verdade, os dividendos políticos 
favoreceram mais o PMDB do que o 
PT. A campanha acabou sendo lide-
rada por Ulysses Guimarães, líder do 
PMDB, que por conta da sua atuação 
foi apelidado de “Sr. Diretas”. Lula, 
embora tenha sido o articulador da 
campanha e figura importante nos 
comícios que tomaram as ruas de vá-
rias capitais brasileiras, acabou sen-
do ofuscado por Ulysses Guimarães 
e pelo PMDB.
Apesar do apoio de toda a popu-
lação brasileira à campanha Diretas 
Já, para se eleger um novo presiden-
te por voto popular era necessário 
G R A N D E S L Í D E R E S DA H I S TÓ R I A | LULA | 25
Telegram: @clubederevistas
modificar a Constituição. E, para 
tanto, era preciso obter o voto de dois 
terços do Congresso, o qual, por sua 
vez, era liderado pelo PDS, o parti-
do ligado ao governo. A questão foi 
resolvida com a proposta do deputa-
do Dante de Oliveira, do PMDB de 
Mato Grosso, de uma emenda cons-
titucional que introduzia as eleições 
diretas. Em 25 de abril de 1984, com 
o Congresso cercado por tropas da 
polícia militar, a emenda foi votada. 
Para decepção dos brasileiros, foi 
derrotada por apenas 22 votos.
No entanto, o movimento pelas 
eleições diretas proporcionou avan-
ços. Estava claro que a base de sus-
tentação do governo militar estava 
fragmentada. O golpe de misericórdia 
veio com a candidatura do oposicio-
nista Tancredo Neves, então gover-
nador de Minas Gerais. Percebendo 
mudavam de lado. Em 15 de janeiro 
de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu 
Tancredo, que venceu com tranqui-
lidade o candidato governista,

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