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Língua Portuguesa : Sintaxe e Semântica Professora Ma. Maraisa Daiana da Silva Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Dudatt Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; DA SILVA, Maraisa Daiana. Língua Portuguesa : Sintaxe e Semântica. Maraisa Daiana da Silva. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 111 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTOR Olá, estimado (a) aluno (a), Eu sou a Professora Mestra Maraisa Daiana da Silva, doutoranda em Letras, pela Universidade Estadual de Maringá, especialista em Docência no Ensino Superior e em Metodologias Ativas, graduada em Letras Português-Francês, pela Universidade Estadual de Maringá, e membro do Grupo de Estudos em Análise do Discurso da UEM (GEDUEM/ CNPq), desenvolvo pesquisas no campo teórico da Análise do Discurso de linha francesa em suas intersecções com os estudos do filósofo Michel Foucault. Atualmente, atuo no ensino superior no Centro Universitário Cidade Verde e me dedico às pesquisas que objetivam contribuir com uma reflexão sobre o funcionamento discursivo da linguagem imagética, focalizando nos jogos de verdade e de poder que subjetivam sujeitos a margem da sociedade. Objetivo, ainda, entender o processo de identificação que a cinematografia pode oferecer à sociedade ao ler imagens. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0260988973703312 Desejo bons estudos! APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo (a)! Caro (a) aluno (a), é um prazer poder contribuir com a sua formação, no que tange à língua portuguesa. A partir de agora vamos percorrer, juntos, um caminho repleto de curiosidades, entenderemos mecanismos e compreenderemos estruturas da Língua Portuguesa para que seja possível ampliar as possibilidades que as interações sociais nos apresentam no nosso cotidiano. Afinal, a linguagem deve estar no centro de nossas preocupações, já que é ela a responsável por todas as interações que estabelecemos. Desse modo, convido você a caminhar comigo rumo ao conhecimento, para tanto, discorreremos sobre conceitos fundamentais da nossa gramática e, a partir desses conceitos, aplicaremos regras formais e fundamentais para o bom desenvolvimento, escrito e falado, da língua materna. Para isso, na unidade I, compreenderemos o funcionamento da gramática, quando o assunto é morfologia e sintaxe, além disso, discutiremos sobre a importância dessas na formação e também as dificuldades relacionadas a elas. Ainda nesta unidade, entenderemos como se estabelecem as estruturas sintagmáticas do português. Posteriormente, na unidade II, iremos compreender quais são as unidades mínimas da língua portuguesa, como elas se estabelecem na estruturação das palavras e na sua formação. Além disso, vamos entender um pouquinho sobre a história da língua portuguesa, mas não só, falaremos da língua portuguesa brasileira. Afinal de contas, não é possível falar da origem da nossa língua, sem entender o que aconteceu aqui no nosso país. Já na unidade III, vamos nos debruçar um pouco mais sobre a sintaxe, visto que ela é uma das partes essenciais da gramática da língua portuguesa, responsável por entender a função das palavras dentro de uma frase, a relação que essas palavras estabelecem entre si e também a relação que existe entre as orações dentro de um período. Por fim, na unidade IV, faremos uma caminhada pela gramática, em que teremos a oportunidade de entender os diferentes sentidos que podemos alcançar com as locuções, conforme a sua colocação, além de compreender que os termos acessórios da oração, assim como os integrantes, são tão importantes quanto os termos essenciais. Desse modo, estimado (a) aluno (a), é importante entendermos que a linguagem, manifestada tanto na fala quanto na escrita, constitui a nossa única fonte de acesso à realidade imaterial da nossa língua. O nosso conhecimento sobre a estrutura linguística deve estar em constante adaptação e trabalho, visto que a língua é uma realidade mental que, em seus limites, se confunde com o próprio pensamento. Por isso convido você, mais uma vez, a embarcar comigo, para desbravar esse mar imenso que é a língua portuguesa. Desejo bons estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Conceitos e Aplicabilidade UNIDADE II ................................................................................................... 33 Estrutura e Formação Morfológica UNIDADE III .................................................................................................. 57 Estruturação Sintática I UNIDADE IV .................................................................................................. 83 Estruturação Sintática II 7 Plano de Estudo: ● Introdução à Morfo(sintaxe); ● O Papel da Sintaxe e da Morfologia na Formação e Suas Dificuldades no Processo de Aprendizagem; ● Os Aspectos da Morfologia e da Sintaxe; ● O Funcionamento da Análise Sintática. Objetivos da Aprendizagem ● Conceituar e contextualizar a Morfossintaxe; ● Compreender a Morfologia e a Sintaxe; ● Estabelecer a importância da compreensão da morfossintaxe; ● Apresentar os principais aspectos da morfologia e da Sintaxe. UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Professora Ma. Maraisa Daiana da Silva 8UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade INTRODUÇÃO Olá, estimado aluno (a)! Seja muito bem-vindo (a). Sabemos que a linguagem deve estar no centro de nossas preocupações, afinal ela é a responsável por todas as interações que estabelecemos. Nesse sentido, a gramática pode ser entendida como uma grande aliada para o bom entendimento e bom uso da linguagem, visto ser o mecanismo que regula uma determinada língua, em um determinado tempo. Assim, entender esses mecanismos e compreender as estruturas da Língua Portuguesa significa ampliar as possibilidades que as interações sociais nos apresentam no nosso cotidiano. Desse modo, nesta unidade, você poderá compreender melhor como a gramática funciona quando o assunto é morfologia e sintaxe, além de entender a importância dessas na formação e também as dificuldades relacionadas a elas. Ainda nesta unidade, apresentaremos os conceitos de frase, oração e período e entenderemos como se estabelecem as estruturas sintagmáticas do português. Para alcançar os objetivos, será necessário debruçarmos sobre vários conceitos importantes para o entendimento do que chamamos de morfossintaxe. Desejo bons estudos! 9UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 1. INTRODUÇÃO A MORFO(SINTAXE) Nos últimos tempos as pesquisas referentes à Língua Portuguesa avançaram de forma significativa quando pensamos na gramática tradicional, o que tem refletido cada dia mais na atuação de estudantes da Língua Portuguesa. Visto isso, a preocupação na formação desse profissional deve ir além do simples entendimento da língua materna – o Português – e em se tornar proficientes da mesma. É necessário estar atento para que seja possível alcançar um saber qualificado e consolidado a respeito da estrutura dessa língua e também do seu uso real, do seu funcionamentofoi substituída pelo inglês. Não é possível falar da origem da língua portuguesa, sem entender o que aconteceu no Brasil, desde que Pedro Alvares Cabral, em 22 de abril de 1500, pôs os pés nas terras brasileiras. No processo de colonização, os portugueses espalharam pelo nosso território inúmeras aldeias e vilas, das quais os nomes remetiam a Coroa portuguesa. Ainda que esse processo tenha sido realizado em nome dos portugueses, os agentes não foram os portugueses. Nas grandes expansões territoriais, processos econômicos quem protagonizava eram os índios, crioulos e mestiços, ou seja, falantes de português, mas não do português de Portugal, um português entranhado de influências indígenas e africanas, devido aos escravos que foram trazidos pelos portugueses. Para Ilari e Basso (2009, p. 55), “para entender a difusão da língua portuguesa no território brasileiro, não basta pensar em tratados, conquistas e fronteiras, é necessário também considerar a forma (ou antes, as formas) como se deu a ocupação efetiva do espaço”. A língua indígena que mais influenciou o português brasileiro foi a língua dos indíge-nas que moravam no litoral: Tupinambá ou Tupi-guarani. Ao lado do português essa língua foi usada como língua geral na colônia, já que os jesuítas, vindos para a catequização dos indígenas, estudaram e acabaram difundindo a língua. Mas isso não durou muito, em 1757, a Coroa portuguesa proibiu o uso da Língua Tupi, assim, como o português já superava o Tupi, o português se tornou a língua oficial 46UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica do Brasil. E assim o português foi tomando conta do território, se espalhando cada vez mais e esmagando as línguas indígenas que tínhamos, hoje podemos dizer que perdemos muito com isso, tanto no que se refere a nossa identidade linguística quanto cultural. De qualquer maneira, ainda assim, herdamos muitas palavras das línguas indígenas, como macaxeira, capivara, catapora, mingau etc. e também africanas como, moleque, quitanda, fubá, entre outras, e essas culturas foram agregando na então língua oficial, afastando o português do brasil do português de Portugal, o qual tinha, por sua vez, a influência do francês. Entre 1808 e 1821, a família real veio para o Brasil e nesse momento da história o português do Brasil e o de Portugal voltaram a se aproximar, visto a grande quantidade de portugueses presentes nas capitais. Contudo, com a independência, em 1822, houve uma grande onda de imigração, vieram holandeses, espanhóis, entre outros, que também começaram a influenciar a nossa língua, e isso explica o porquê de tantos sotaques e diferenças regionais no nosso país. Mas foi com o movimento modernista que se consagrou a normatização da nossa língua. Esse movimento criticava a valoração excessiva que ainda se destinava à cultura europeia e incentivou os brasileiros a valorizar o que pertencia a eles: a língua brasileira. Tivemos, há uma década, a reforma ortográfica, resultado de um acordo entre os países que têm a língua portuguesa como oficial. Com essa reforma algumas regras de escrita, que diferenciavam as normas, foram revistas, contudo, no que se refere à oralidade, podemos ter certeza de uma coisa: temos estimáveis distinções. 47UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 4. A NOVA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA O novo acordo ortográfico da língua portuguesa não visa a modificação no nosso modo de falar, nem poderia. O seu objetivo é uniformizar e facilitar a escrita, para que, segundo estudiosos que defendem esse tipo de acordo, livros publicados não precisariam mais ser revistos antes de chegar em nossas mãos e vice-versa. Isso também facilitaria o acesso, além de Portugal, de países como Angola e Moçambique, às publicações de livros e revistas publicadas no Brasil, o que valorizaria o mercado. Nessa perspectiva, o novo acordo ortográfico visa, como dito anteriormente, a unificação das regras da língua portuguesa por todos os países que a tenha como língua oficial. Desse modo, visto a importância de estar alinhado às mudanças da nossa língua, veremos neste tópico as principais mudanças que ocorreram na escrita do português, propostas pelo novo acordo. As mudanças começam no alfabeto, isso mesmo, o alfabeto que era composto por 23 letras, das quais cinco são vogais, agora é composto por 26 letras. Antes do acordo as letras k, y e w só eram utilizadas (ou deveriam ser) em casos de estrangeirismo e abreviaturas. Agora, essas letras pertencem oficialmente ao nosso alfabeto. Houve também modificações nas regras quanto às letras maiúsculas e minúsculas. Agora, nomes de estação de ano, meses e dias de semanas devem ser grafados com letra minúscula, desse modo temos: verão, inverno, janeiro, março, domingo, sábado e assim por diante. Antes essas eram grafadas com letra maiúscula. O mesmo se aplica aos pontos cardeais: norte, sul, leste, oeste, sudeste, nordeste etc. 48UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Estes também eram grafados com letras maiúsculas antes do acordo. Em contrapartida, agora é facultativo, ou seja, não é obrigatório, pode ser acatado ou não, o uso de letra minúscula em termos que compõem citação bibliográfica, com exceção do primeiro e daqueles que são, obrigatoriamente, marcados com maiúscula. Por exemplo, antes do acordo, ao citar o nome de um livro, fazíamos da seguinte forma: ● Memórias Póstumas de Brás Cubas; ● A Montanha Mágica; ● A Volta ao Mundo em 80 Dias. ● Agora podemos grafar da seguinte maneira: ● Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Memórias póstumas de Brás Cubas; ● A Montanha Mágica ou A montanha mágica; ● A Volta ao Mundo em 80 Dias ou A volta ao mundo em 80 dias; É facultativo, ainda, o emprego de letras minúsculas nos termos de tratamento ou referência e em termos que designam crenças religiosas. Assim, temos: Santa Clara - santa Clara Doutor José de Alencar - doutor José de Alencar Papa João Paulo II - papa João Paulo II Governador João Carlos - governador João Carlos Excelentíssimo Senhor Juiz - excelentíssimo senhor juiz Da mesma forma, vocábulos que indicam domínios de saber e afins, podem ser grafados com letra minúscula: português, letras, literatura, linguística, física quântica, química, geografia humana, artes plásticas, e assim por diante. Uma das regras que sofreu mais mudanças, de acordo com Silva (2009), foi a acentuação, devemos considerar que: Houve a eliminação do trema na letra u, que segue as letras g ou q e antecipa as letras e ou i. Assim: lingüiça passou a ser grafada linguiça; liqüidaçao passou à liquidação; lingüistica passou à linguística; agüentar passou a aguentar, conseqüência à consequência etc. Houve a eliminação também do acento agudo nos ditongos abertos, das palavras paroxítonas, -ei e -oi. Como em: jiboia, anteriormente jibóia; epopeia, anteriormente epopéia; ideia, anteriormente idéia; paranoico, anteriormente paranoico; geleia, anteriormente geléia. 49UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica É importante ressaltar que essa queda na acentuação ocorreu apenas nas paroxítonas, nas oxítonas, como anéis, papéis, corrói, remói, entre outras, a acentuação é necessária. Houve a eliminação do acento agudo nas paroxítonas com as letras i ou u tônicos antecedidos de ditongos, como em: feiura, anteriormente feiúra; boiuna, anteriormente boiúna, cauila, anteriormente cauíla. Da mesma forma que na regra anterior, essa regra se aplica apenas às paroxítonas, pois as proparoxítonas devem continuar sendo acentuadas, como, por exemplo em: maiúsculo, feiíssimo, cheiíssimo e assim por diante, e ainda os que possuem i ou u, mas não são pospostos por ditongos, como em: cafeína, saúde, saída, país etc. Houve a eliminação do acento circunflexo nos encontros vocálicos -oo e -ee, como em: enjoo, anteriormente enjôo; perdoo, anteriormente perdôo; abençoo, anteriormente abençôo; voo, anteriormente vôo;creem, anteriormente crêem; reveem, anteriormente revêem; leem, anteriormente lêem. Houve a eliminação dos acentos agudo e circunflexo em algumas palavras cuja diferença era representada, justamente, pelo acento, ou seja, em palavras homógrafas, vejamos abaixo a lista das palavras em que o acento caiu: QUADRO 4.1 – COMPARATIVO DE PALAVRAS HOMÓGRAFAS QUE PERDERAM A ACENTUAÇÃO ANTES DO ACORDO DEPOIS DO ACORDO pára (verbo parar) e para (preposição). para : grafia para as duas classes gramaticais. péla (verbo pelar), péla (substantivo) e pela (preposição). pela : grafia para as três classes gramaticais. pólo (substantivo), pôlo (substantivo) e polo (preposição arcaica). polo : grafia para as três classes gramaticais. pélo (verbo pelar), pêlo (substantivo) e pelo (preposição) pelo : grafia para as três classes gramaticais. pêra (substantivo), péra (substantivo) e pera (preposição arcaica). pera : grafia para as três classes gramaticais. Fonte: elaborado pela autora. Porém, nas palavras homográficas pôr (verbo) o acento continua obrigatório, para que não se confunda com a preposição por. A mesma regra se aplica a palavra pôde (verbo no passado), para diferenciá-lo da palavra pode (verbo no presente). Já, na palavra fôrma/ forma, o acento é facultativo. 50UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Outra alteração significativa que tivemos, com o novo acordo ortográfico, foi com relação a utilização do hífen. Vejamos: QUADRO 4.2 – A UTILIZAÇÃO, A MANUTENÇÃO E A ELIMINAÇÃO DO HÍFEN REGRA EXEMPLOS EXCEÇÃO Palavras derivadas por prefixação, em que o segundo termo inicia com h Sempre utilizaremos o hífen quando a segunda palavra iniciar com h e tiver como antecessor um prefixo. Super-herói; anti- herói; anti-higiênico; co-herdeiro; sobre- -humano; mini-hotel; etc. A palavra composta por sub + humano perde o h, ao se juntar, assim, teremos: subumano. Palavras derivadas por prefixação com vogais diferentes Quando as vogais do prefixo e da palavra que o procede forem diferentes, não se utiliza hífen. Coautor; extraesco- lar; infraestrutura; autoaprendizado; agroindústria; aeroespacial; etc. O prefixo co, pre, re, entre outros, se juntará ao seu radical, ainda que ele seja iniciado com vagal igual. Como em: coordenador, preestabelecer; reerguer. Palavras derivadas por prefixação, sendo o segundo termo iniciado por consoante. Quando o prefixo terminar por vogal e o segundo iniciar por qualquer consoante não utilizaremos hífen Autocorretor; con- trarregra, minissaia; seminovo; microci- rurgia; semicírculo; ultrassonografia etc. Qualquer consoante, com exceção do h. Perceba que para uma melhor pronúncia, quando o segundo termo se inicia com s e r, estas letras dobram. Palavras compostas Usa-se hífen em palavras composta que se tornaram comuns em língua portuguesa. Paraquedas; girassol; mandachuva; pontapé; etc. _ 51UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica REGRA EXEMPLOS EXCEÇÃO Palavras compostas por justaposição Usa-se hífen em palavras compostas por justaposição em que os termos cons- troem uma unidade semântica, porém, com uma tonicidade própria, e ainda os que compõe espécies botânicas e zoológicas. Amor-perfeito; quebra-pedra; tenente-coronel; ano-luz; arco-íris; bem-te-vi, conta- -gotas; erva-doce; guarda-chuva; etc. Esta regra é a que mais causou debate, visto que não especifica, exatamente, em que casos deve haver o uso do hífen. Manutenção em palavras derivadas por prefixação Mantem-se o hífen em termos derivados por prefixação, em que o prefixo termine por r e o segundo termo inicia-se por r; ou com os prefixos circum e pan com o segundo termo iniciando por vogal, m ou n; ou em qualquer condição para alguns prefixos (além-, ex-, sota-, soto-, vice-, vizo-, pós-, pré-, pró-, grã-, grão). Super-resistente; inter-relacionado; pan-americano; pan- -mágico; pré-escola; além-mar; ex-diretor; pré-natal; pró-afri- cano; grã-fina; grão-mestre. _ Fonte: a autora. O novo acordo ortográfico também trouxe regras quanto às letras mudas, agora as letras mudas que não são pronunciadas devem ser eliminadas, como, por exemplo, em 52UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica ação, anteriormente grafada acção; batizar, anteriormente baptizar; direto, anteriormente directo; objeção, anteriormente objecção; Egito, anteriormente Egipto; entre outros. Por fim, foi estabelecido, ainda, uma regra quanto a separação silábica. Ficou determinado que: se, ao escrever, a linha finalizar com a separação de uma palavra que leva consigo a grafia do hífen, este deve ser repetido na linha seguinte. Desse modo, se estivermos escrevendo um texto a mão, por exemplo, na hora em que formos separar as sílabas, porque ela não coube inteira naquela linha, e a palavra coincidir com o hífen, este deve ser repetido no começo da linha seguinte. Isso tanto para os casos de ênclise (pronome colocado após o verbo: fala-se, diz-se, come-se etc.), como para palavras que, de acordo com a nova ortografia, devem ser grafadas com o hífen. Podemos exemplificar da seguinte forma: Pelo que acabamos de ver, percebemos que o novo acordo ortográfico propõe uma padronização parcial. Afinal, segundo Silva (2009, p. 55-56), o novo acordo ortográfico não soluciona definitivamente o “problema” das diferenças ortográficas entre os países lusófonos, aliás um dos principais argumentos empregados por seus detratores. Versando sobre uma série de detalhes da escrita em língua portuguesa, que vão da utilização do hífen à acentuação gráfica, passando pelo emprego de letras maiúsculas ou pela separação silábica, o novo acordo pretende, contudo, homogeneizar ao máximo a grafia dos vocábulos, promovendo, para tanto, modificações estruturais na forma de escrever algumas palavras do idioma. Embora o acordo pretenda manter a maior parte dos recursos ortográficos atualmente vigentes, não resta dúvida de que as poucas modificações propostas já são suficientes para colocar os escritores, editores, professores, linguistas e utentes da língua em geral sob reserva e suspeição. Nessa mesma direção, podemos afirmar que os maiores embates, levantados por críticos da língua portuguesa quanto ao acordo ortográfico, dizem respeito ao fato da ausência de discussões mais democráticas e amplas sobre as novas regras, as quais, segundo esses críticos, ficaram em volta de poucos representantes da academia portuguesa e brasileira. O reitor não recebeu os ex-- alunos da graduação. O melhor chá é o de erva- - doce para acalmar. Em Campina Grande, fala-- se muito em cultura. 53UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Desse modo, conforme o reconhecido gramático Evanildo Bechara (2000), é preciso considerar, nesse novo acordo, uma série de fenômenos linguísticos (a acentuação tônica relativa aos contrastes de timbre aberto e fechado, as variantes fonéticas de língua, o uso do hífen etc.), a fim de se realizar um trabalho realmente condizente com as necessidades práticas da língua escrita. Entretanto, indo além de um novo acordo ortográfico, em que a preocupação se respaldava em uma promoção gráfica única do idioma, na escrita, e imposta por “poucos”, é necessário considerar que só uma política linguística responsável será capaz de alcançar o reconhecimento da nossa língua, apenas uma política bem estruturada, que considere a necessidade de atribuir, por meio da pedagogia e da educação formal, a competência linguística aos seus falantes da língua portuguesa, seja portugueses, brasileiros, moçambicanos, ou qualquer outro que a tenha como língua oficial. Contudo, enquanto não alcançamos essas mudanças, o que nos resta é entender, utilizar e ensinar o novo acordo ortográfico. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento, leia a dissertaçãode mestrado, intitulada Derivação pre ixal: um estudo sobre alguns pre ixos do português brasileiro, de Solange Mendes Oliveira, pela Universidade Federal de Santa Catarina, para aprofundar seus conhecimentos sobre os prefixos e sufixos em língua portuguesa brasileira. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/86632/203011.pdf?sequence=1 REFLITA “O princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede distinguir, em cada língua, o que é radicalmente arbitrário, vale dizer, imotivado, daquilo que só ́ o é relativamente. Apenas uma parte dos signos é absolutamente arbitrária; em outras, intervém um fenômeno que permite reconhecer graus no arbitrário sem suprimi-lo: o signo pode ser relativamente motivado.” Fonte: SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. Trad. bras. Antônio Chelini et al. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 1995, p. 152. 54UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno (a)! Chegamos ao final de mais uma etapa. Espero que esta unidade tenha contribuído para a sua compreensão de como a estrutura e a formação das palavras da língua portuguesa acontecem. Vimos que a língua apresenta estratégias linguísticas que proporcionam a formação de novas palavras, além disso, temos um banco de dados previamente classificado, em que vamos depositando palavras, as quais selecionamos, reorganizamos e reestruturamos para nos comunicar. Ademais, observamos que um sistema fechado não é suficiente para que as necessidades linguísticas sejam sanadas, afinal a língua é viva e está em constante transfor-mação, determinando que as palavras sejam revistas e reestruturadas e, para isso, temos aliados gramaticais, como a derivação e a composição. Nesta unidade também tivemos a oportunidade de discutir sobre a origem da língua portuguesa, o que permitiu uma maior compreensão do seu surgimento, de como ela começou a ser difundida e como chegou ao Brasil. Isso porque, não é possível, para nós brasileiros, falar de estrutura de palavras, da formação de palavras, enfim, de morfossintaxe, sem entender como a nossa língua chegou e foi difundida no nosso país, até mesmo porque temos plena consciência que, ainda que seja uma língua herdada dos portuguesa, há muitas e grandes diferenças entre o português do Brasil e o português de Portugal, principalmente quando falamos da oralidade. Enfim, com mais esta etapa concluída, tenho certeza que você subiu mais um degrau na escalada do conhecimento. Sigamos sempre em frente! 55UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica LEITURA COMPLEMENTAR Estimado aluno, Sugerimos a leitura da reportagem “Professor fala das origens das palavras da língua portuguesa”, que aborda de maneira descomplicada as origens do nosso idioma, trazendo para a discussão os termos em latim e grego, além das palavras indígenas, africanas e árabes que constituem o nosso vocabulário. Desejamos uma ótima leitura! A reportagem está disponível em: http://g1.globo.com/pernambuco/vestibular-e-educacao/noti- cia/2013/10/professor-fala-das-origens-das-palavras-da-lingua-portuguesa.html. 56UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Novo acordo ortográfico da língua portuguesa: questões para além da escrita Autores: Maria Eunice Moreira; Marisa Magnus Smith; Jocelyne da Cunha Bocchese Editora: EdiPUCRS Assunto: Novo acordo ortográfico da língua portuguesa Sinopse: O livro Novo acordo ortográ ico da língua portuguesa: questões para além da escrita, organizado pelas pesquisadoras Maria Eunice Moreira, Marisa Magnus Smith e Jocelyne da Cunha Bocchese, oferece subsídios para a compreensão dos fenômenos linguísticos que subjazem à celebração do Acordo ora em implantação, de modo que este, tantas vezes sujeito a opiniões apressadas, quando não intolerantes, possa ser avaliado em suas múltiplas facetas. As organizadoras não visam, com a publicação deste livro, defender um ponto de vista único ou monolítico, mas sim contribuir para reflexões maduras e bem fundamentadas. FILME Título: Caramuru: A Invenção do Brasil Ano: 2001 Sinopse: Caramuru: A Invenção do Brasil é uma produção dirigida por Guel Arraes e escrita por ele e por Jorge Furtado, baseado no livro homônimo de Santa Rita Durão, pertencente ao arcadismo. Porém, apesar de trazer fatos históricos, o filme traz uma forte pegada cômica que narra os conflitos entre portugueses e índios de uma forma irreverente. O jovem Diogo Álvares (Selton Mello) é um talentoso pintor português cujo estilo busca realçar a beleza da realidade. Ele é contratado pelo cartógrafo do rei para ilustrar os mapas que guiariam Pedro Álvares Cabral em suas viagens marítimas. Todavia, Diogo envolve-se com Isabelle (Débora Bloch), uma sedutora francesa que frequenta a Corte portuguesa e que rouba o mapa do artista. Ele, então, é deportado para o Brasil, onde conhece as irmãs índias Paraguaçu (Camila Pitanga) e Moema (Deborah Secco). É o início do primeiro triângulo amoroso da história do país. 57 Plano de Estudo: ● Frase, oração e período; ● Os termos da oração: essenciais e acessórios; ● As classes de palavras e regência; ● Crase e pontuação: aspectos sintáticos. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e diferenciar frase, oração e período; ● Compreender os diferentes termos da oração; ● Entender como as orações se relacionam dentro de um período; ● Analisar aspectos importantes em uma análise sintática. UNIDADE III Estruturação Sintática I Professora Mestre Maraisa Daiana da Silva 58UNIDADE III Estruturação Sintática I INTRODUÇÃO Estimado aluno (a), Seja bem-vindo a mais uma unidade de aprendizagem! Já entendemos a importância de usar, e usar bem, a língua portuguesa, compreendemos que ela é dividida em várias partes e que cada uma corresponde a uma área específica da gramática da nossa língua. Nesta unidade, vamos nos debruçar um pouquinho mais sobre a sintaxe, visto que ela é uma das partes essenciais da gramática da língua portuguesa, responsável por entender a função das palavras dentro de uma frase, a relação que essas palavras estabelecem entre si e também a relação que existe entre as orações dentro de um período. Opa! Vamos com calma, não é?! Não se preocupe, nesta unidade, nós vamos, antes de qualquer coisa, entender a diferença entre frase, oração e período, pois, como colocado, a sintaxe também é responsável por essa relação entre as orações, as quais, se bem formuladas, vão garantir coesão e coerência para os nossos enunciados. Posteriormente, vamos esmiuçar as orações, vamos entender como elas são formadas, quais os termos essenciais das orações. No tópico três, veremos que os períodos são formados por orações, as quais podem ser dependentes uma da outra ou não. Compreenderemos que essa relação pode trazer diferentes sentidos para o nosso enunciado. Por fim, vamos falar um pouquinho sobre um assunto temido por muitos – a crase – essa temática é de fundamental importância quando pensamos nessas relações entre as orações, por isso, vamos dar uma paradinha na análise sintática para falar dela, bem como da pontuação, mais especificamente sobre o vírgula, a qual pode nos auxiliar de acordo com o sentido que queremos dar aos nossos textos. Espero que essa unidade suscite em você a vontade de aprender mais, afinal, a gramática é imensa e só uma pessoa curiosa e com vontade de saber mais pode desvendá-la. Aqui, nós apresentamos uma pequena amostra de como a nossa língua se desdobra e a nossa gramática funciona. Desejo bons estudos e muita curiosidade! 59UNIDADE III Estruturação Sintática I 1. FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO A sintaxe é a responsável por estudar as regras de construção de frases e também a interação que os elementos verbais têm dentro da estrutura oracional. O termo vem do Grego – syntáxis – e traz como significado as palavras ordenação e disposição. Nesse sentido, de acordo com Eliseu (2008), podemos afirmar quea sintaxe existe há muito tempo, não é um estudo novo da área da linguística, este campo de estudo teve origem com os gregos antigos, os quais já se questionavam sobre o funcionamento do vocábulo quando estes eram inseridos em condições concretas de comunicação, como as frases deveriam ser divididas, considerando suas unidades semânticas, e quais eram os termos essenciais para a obtenção da comunicação de modo efetivo. Neste tópico iremos conhecer os termos essenciais e acessórios das orações e, também, o modo como eles se relacionam para que haja um bom funcionamento no seu objetivo final, que é a comunicação. Para tanto, vamos iniciar entendendo a diferença entre frase, oração e período. Para começar observe a frase: Ao analisar as palavras acima, você avalia que elas formam uma frase? portuguesa ao disciplina língua esta estudo aplica-se da 60UNIDADE III Estruturação Sintática I Com certeza não. Mas por quê? Fica evidente, ao analisarmos a frase acima, que as palavras não seguem a ordem estabelecida em língua portuguesa, reconhecidas por qualquer usuário, independente do seu grau de escolaridade. Podemos dizer que este exemplo se configura em um amontoado de palavras, sem nenhum significado, não cumprindo, assim, sua função, que é estabelecer a comunicação. Agora, observe as mesmas palavras reorganizadas, de acordo com os princípios que são exigidos pela linguística, os quais são até mesmo intuitivos para os usuários da língua em questão. Comprovamos, a partir da restruturação acima, que não basta juntar palavras para se obter uma frase, afinal, agora sim podemos dizer que temos uma frase, não é? Pois bem, é evidente que para termos uma frase é necessário, então, que um conjunto de palavras comunique uma ideia, que faça sentido para alguém. Desse modo, podemos afirmar, de acordo com Costa et al. (2013, p. 35), que frase “é uma unidade linguística que, na situação comunicativa, expressa uma ideia; caracteriza-se graficamente por iniciar-se com letra maiúscula e terminar com um ponto”. Apoiados em Cegalla (2004), podemos dizer ainda que a frase funciona para que os sujeitos de uma língua expressem seus pensamentos e também sentimentos. Assim, a frase pode ser entendida como uma unidade plena de sentido, sendo possível termos a construção de uma frase a partir de uma única palavra ou várias, com ou sem verbos. O que importa, quando definimos a frase, é a sua capacidade de transmitir uma informação, ou seja, sua capacidade de servir ao sujeito e ao outro para que estabeleçam uma interação, um processo comunicativo. Consideremos algumas frases, a fim de entender suas possíveis construções: Esta disciplina aplica-se ao estudo da língua portuguesa Chove… Que chuva! A chuva causou destruições. A chuva causou destruições, deixou as ruas alagadas e pessoas desabrigadas. (adaptado de Costa et al., 2013) 61UNIDADE III Estruturação Sintática I Nos enunciados colocados anteriormente, conseguimos notar sem dificuldade as características de uma frase. Em todos eles conseguimos recuperar o sentido, logo, comunicam algo, todos também apresentam os sinais gráficos necessários, como o emprego da letra maiúscula e a pontuação. Notamos ainda que o primeiro enunciado é constituído por uma única palavra, um verbo, já o segundo enunciado conta com mais de uma palavra, o terceiro com um único verbo e, por fim, o quarto com mais de um verbo. Com isso reafirmamos que para se ter uma frase não importa a quantidade de palavras, nem se há verbos inseridos na sua construção, essas características não influenciam na constituição da frase, desde que esta tenha sentido completo e cumpra com o seu papel. As frases são divididas em duas categorias: frases nominais e oração (também conhecidas como frases verbais). A nomenclatura já nos adianta o que cada uma tem por característica. As frases nominais são aquelas que trazem consigo apenas nomes, ou seja, não possuem verbos. Como por exemplo: ● Bom dia, meus queridos alunos! ● Boa semana! ● Cuidado! ● Uma noite linda. ● Silêncio, por favor! Por sua vez, as orações, que não deixam de ser frases, têm sua unidade sintática estruturada em função de um verbo. Além do verbo, as orações também têm como característica, em sua composição, três tipos de termos, são eles: essenciais, integrantes e os acessórios, dos quais falaremos mais adiante. Abordaremos esses três tipos de termos mais adiante, antes vamos entender o que é período. considerado período a frase que tem uma ou mais orações. Segundo Costa et al. (2013, p. 25), “frase e período não são, necessariamente, o mesmo conceito. Isso porque, está implícita, na constituição do período, a presença de, pelo menos, uma oração. Como nem toda frase corresponde a uma oração, nem toda frase é um período”. Da mesma forma que a linguística divide, pedagogicamente, a frase, ela também divide o período. Assim, temos duas classificações para o período: simples – composto por apenas um verbo – e composto – caracterizado por apresentarem mais de uma oração em sua composição, isto é, possuem dois ou mais verbos. Vamos esquematizar tudo isso para melhor compreensão? Observe: 62UNIDADE III Estruturação Sintática I DIAGRAMA 1.1 – DIVISÕES LINGUÍSTICAS DA FRASE Fonte: a autora. Entendido as possíveis divisões da frase e correspondentes, temos agora que nos deter nos termos da oração, já que a frase nominal não permite uma análise sintática, por não apresentar um verbo, pois na oração, é em torno do verbo que os outros elementos vão se organizar. Vamos no próximo tópico nos debruçar sobre esses termos. FRASE (unidade plena de sentido) NOMINAL (sem verbo) ORACIONAL (com verbo) PERÍODO SIMPLES (apenas um verbo) COMPOSTO (dois ou mais verbos) 63UNIDADE III Estruturação Sintática I 2. OS TERMOS DA ORAÇÃO: ESSENCIAIS E ACESSÓRIOS Assim como na morfologia, em que temos unidades morfológicas, na sintaxe também temos unidades sintáticas, as quais chamamos de termos da oração, que podem ser formadas por uma ou por um conjunto de palavras que desempenham determinada função sintática. Podemos classificar os termos da oração de duas formas, a primeira, apresentada por Cegalla (2004), considera os termos da oração o sujeito e o predicado. Uma segunda alternativa, a mais utilizada pelos gramáticos, divide os termos da oração em: ● Termos essenciais Sujeito; Predicado; ● Termos integrantes Complementos verbais: objeto direto e indireto; Complemento nominal; Agente da passiva. ● Termos acessórios Adjunto adnominal; Adjunto adverbial; Aposto; Vocativo. 64UNIDADE III Estruturação Sintática I Nesta unidade vamos nos deter nos termos essenciais. Vamos lá? O primeiro termo essencial é o sujeito, que é o termo da oração que expressa o ser de quem se fala ou de que se declara alguma coisa. Para encontrá-lo podemos fazer duas perguntinhas básicas para a oração: - Quem é que (verbo)? - O que é que (verbo)? Utilizamos essas duas perguntinhas porque devemos considerar que o sujeito pode se referir à pessoa (quem) ou a qualquer outra coisa (que). Por exemplo: Nessa direção, como dito anteriormente, na estrutura das orações, as palavras e expressões formam unidades sintáticas (pequenos conjuntos), os quais denominamos termos. Ainda que esses termos possam ser formados por uma única palavra, o mais comum é que tenha um agrupamento de elementos em volta do núcleo, o qual é a palavra principal. Assim, tomando o exemplo anterior, temos: O preço do feijão não cabe no poema. O que não cabe no poema? O preço do feijão. Sujeito: O preço do feijão. O homem não foi ao cinema. Quem não foi ao cinema? O homem. Sujeito: O homem. O preço do feijão não cabe no poema. Sujeito Núcleo do sujeito 65UNIDADE III Estruturação Sintática I Podemos observar que em volta do núcleo temos palavras secundárias que o caracterizam, como o “o”, “do” e “feijão”. Sobre o núcleo do sujeito é precisoevidenciar que ele pode se manifestar de duas formas: 1ª – Quando o sujeito está em primeira ou segunda pessoa do discurso, comumen- te os núcleos se apresentam como pronomes substantivos. Assim, usa-se os pronomes pessoais eu e tu, no singular e nós e vós, no plural, lembrando que as combinações equi- valentes de nós e vós também valem, como, por exemplo: eu e tu = nós. 2ª – Se estiver na terceira pessoa do discurso, pode ter como núcleo: a) Um substantivo; b) Os pronomes pessoais ele(s), ela(s); c) Um pronome demonstrativo, relativo, interrogativo ou indefinido; d) Um numeral; e) Uma palavra ou uma expressão substantivada; f) Uma oração. Diante disso podemos classificar os sujeitos em: Sujeito simples: quando tem apenas um núcleo. Exemplo: Ninguém compra os elementos elegíveis. Sujeito composto: quando a dois ou mais núcleos. Exemplo: Ele e você são os responsáveis. Sujeito oculto: é aquele que não está grafado, marcado, mas é possível encontrá-lo a partir da conjugação do verbo. Exemplo: Conheço aquelas pessoas. Sujeito indeterminado: quando não conseguimos determinar qual é o sujeito, isso porque o verbo se apresenta conjugado na terceira pessoa do plural (eles), ou ainda na terceira pessoa do singular quando acompanhado do pronome se. Exemplo: marcaram os lugares. Não se falou sobre o projeto. Oração sem sujeito: orações que contêm apenas o predicado, as quais não podemos confundir com as orações com sujeitos indeterminados, as quais têm um sujeito, ainda que indeterminado. Na maioria das vezes a oração sem sujeito ocorre quando estamos falando de fenômenos da natureza ou usando verbos impessoais. Exemplo: Ontem choveu aqui. Faz calor em pleno junho. 66UNIDADE III Estruturação Sintática I O segundo termo essencial da oração é o predicado, que é constituído por um conjunto de enunciados que engendram o que se diz a respeito do sujeito. Segundo Lima (2011), responsável pelas informações mais importantes sobre o sujeito, além de centrar a significação da oração, já que é ele que traz o verbo ou a locução verbal. Nesse sentido, de acordo com as teorias gramaticais, o verbo tem duas funções dentro da sintaxe e assim podem ser classificados em verbos significativos e verbos de ligação. Isso é importante porque vai determinar a intenção e o sentido das orações. O verbo de ligação tem a função de expressar estados, sentimentos, além de ligar o sujeito a uma característica. Exemplo: O verbo “é” está, no exemplo acima, apenas ligando o sujeito à sua característica, por isso assume a função de verbo de ligação. Há verbos que têm essa característica, ou seja, normalmente funcionam como verbo de ligação, são eles: continuar, andar, ficar, fazer, estar, ser, parecer e permanecer. Dois desses verbos citados, os quais funcionam normalmente como de ligação, exigem cuidado, visto que podem ter o sentido de ação, são eles: andar e ficar. Observe: Na primeira frase nós temos o verbo andar, conjugado na primeira pessoa expressando a ação de andar, uma ação que o sujeito pratica. Já, na segunda frase, o verbo, também conjugado na primeira pessoa, traz a ideia de estar cansado, ou seja, um estado em que o sujeito se encontra, assumindo, dessa forma, a função de verbo de ligação. O verbo significativo, por sua vez, expressa ação ou fenômeno da natureza, não sendo possível, diferentemente dos verbos de ligação, enumerá-los, já que a maioria dos nossos verbos expressam a ideia de ação. Sendo assim, o verbo “ando” da primeira frase do exemplo anterior é um verbo significativo. Marcos é magro. Sujeito característicaVerbo de ligação Eu ando no parque. Ando cansada. Verbo de ação Verbo de ligação 67UNIDADE III Estruturação Sintática I Entendido o que são os verbos significativos e os verbos de ligação podemos, então, entender os tipos de predicado que existem, já que será o verbo que vai nos dizer se estamos falando de um predicado nominal, verbal ou verbo-nominal. Lembrando que o predicado é tudo aquilo que diz algo sobre o sujeito, isto é, ao excluir o sujeito da oração, o restante equivale ao predicado da oração. O predicado nominal é aquele em que o mais importante é o nome e não o verbo. Outra característica importante é que não existe predicado nominal de não haver na minha oração um verbo de ligação. Tomemos um dos exemplos anteriores: Perceba que temos o sujeito e o predicado, sendo que o predicado é constituído pelo verbo “é”, que é um verbo de ligação, desse modo, esse predicado é um predicado nominal. Perceba que a palavra mais importante do predicado é “magro”. Assim, se trocarmos o verbo de ligação por qualquer outro significativo não teremos mais um predicado nominal. Enquanto o predicado nominal precisa do verbo de ligação para existir, o predicado verbal precisa do verbo significativo. Observe o exemplo: Verificamos no exemplo acima que a oração é constituída por um verbo significativo, o que caracteriza o predicado, automaticamente, em verbal. Perceba que a palavra mais importante nesse caso é o verbo. Por fim, temos o predicado verbo-nominal, que se constitui por um verbo significativo e uma característica, que pode ser do sujeito ou do objeto, ou seja, nesse predicado temos dois núcleos importantes: um verbo e um nome. Vejamos: Marcos é magro. Sujeito característicaVerbo de ligação Aquelas meninas brincavam felizes. Sujeito Predicado verbal Verbo significativo O dia amanheceu ensolarado Sujeito Predicado verbo-nominal Verbo significativo Característica do sujeito 68UNIDADE III Estruturação Sintática I Assim, para resumir, compreendemos que os termos essenciais da oração se concentram em sujeito e predicado e, também, que tanto o sujeito como o predicado podem ter estruturas diversas, o que vai depender da relação que as palavras assumem umas com as outras, ou seja, da função sintática de cada uma dentro da oração. 69UNIDADE III Estruturação Sintática I 3. AS CLASSES DE PALAVRAS E A REGÊNCIAS Acabamos de conhecer os termos sintáticos da oração, os quais compreendem a análise sintática interna, isto é, a análise do funcionamento desses termos. Agora, vamos abordar a análise sintática externa, ou seja, a análise das orações em si. Isto porque dentro de um período composto, como vimos anteriormente, podem funcionar duas ou mais orações. Nessa direção, os períodos podem ser compostos por: orações coordenadas, orações subordinadas e orações mistas. Os períodos compostos por coordenação apresentam dois ou mais verbos - cada verbo forma uma oração - e cada parte do período, isto é, cada oração possui autonomia e independência sintática. Dessa forma, é possível compreender as orações do período de forma individual, elas são independentes entre si. A coordenação nos auxilia a alcançar uma unidade no sentido que queremos estabelecer, deixando-o mais completo e significativo. Observe o exemplo: Embarquei ontem e cheguei hoje. Verbo Verbo 70UNIDADE III Estruturação Sintática I Neste exemplo notamos a presença de dois verbos, temos, assim, duas orações. Se separarmos tais orações as duas terão sentidos completos, ou seja, uma não depende da outra. Observe: ● 1ª oração: Embarquei ontem. ● 2ª oração: Cheguei hoje. Portanto, os períodos compostos por coordenação são estruturados a partir de duas ou mais orações independentes entre si, mas que são ligadas dentro de um período por uma conjunção, a qual determinará se as orações serão, aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas ou explicativas, a depender do tipo de conjunção que estará ligando as orações. O período composto por subordinação, por sua vez, compreende àqueles que apresentam dois ou mais verbos dependentes sintaticamente, isto é, uma oração vai depender da outra para que haja sentido, sendo uma subordinada a outra, que denominaremos principal, assim como as gramáticas. Por exemplo: Assim como na coordenação, percebemos no exemploacima que há no período dois verbos. Vamos separar as orações para examinarmos a construção. ● 1ª oração: Ela tinha certeza. ● 2ª oração: Ela não voltaria. Perceba que neste caso temos uma dependência de sentido entre as frases. Se alguém dissesse para você “ela tem certeza”, você provavelmente perguntaria: Certeza do que? Ou seja, o “que” liga as duas orações de modo que uma fique estritamente subordinada a outra. Se estas orações forem separadas certamente não alcançaria a ideia final. Já o período misto, como o próprio nome sugere, é composto pela coordenação e pela subordinação ao mesmo tempo. Então temos os dois tipos de relação no mesmo período o que dependência (subordinação) e de independência (coordenação). Por exemplo: Ele tinha certeza que ela não voltaria verbo verbo Fui ao cinema e comprei os presentes que minha mãe pediu. verbo verbo verbo 71UNIDADE III Estruturação Sintática I Observe que temos três verbos. Separando as orações, temos: ● 1ª oração: Fui ao cinema. ● 2ª oração: Comprei os presentes. ● 3ª oração: Que minha mãe pediu. Ao analisar as orações percebemos que a primeira oração e a segunda são independentes, ou seja, as duas são compreensíveis por si só, não há nenhum tipo de dependência entre elas que nos impeça de entendê-las. Agora, ao olharmos para a terceira oração percebemos que ela sozinha não tem sentido, demandando uma oração principal. Quando olhamos para ela isoladamente nos vem a pergunta: o que sua mãe pediu? É aí que entra a oração principal: Comprei os presentes. Esse é o período misto, composto, então, por orações coordenadas e subordinadas, ao mesmo tempo. Esquematizando o período, teríamos: INFOGRÁFICO 3.1 - SUBDIVISÃO DO PERÍODO Fonte: a autora. Compreendemos, até esse momento, como os períodos se estruturam. Percebemos que podemos ter períodos coordenados, subordinados ou misto. Também vimos que há orações em que os verbos e nomes exigem um complemento para que tenha sentido completo. Neste tópico vamos discutir exatamente sobre a ligação que deve ter entre o núcleo e o seu complemento. Contudo é importante voltarmos um pouquinho na morfologia para relembrarmos as classes de palavras, visto que, para entendermos algumas colocações, elas serão imprescindíveis. PERÍODO COMPOSTO POR ORAÇÕES SIMPLES (1 oração/verbo) ORAÇÃO ABSOLUTA COMPOSTA (2 ou + orações/verbos) COORDENAÇÃO (Relação de independência) SUBORDINAÇÃO (Relação de dependência) MISTO (Coordenação e Subordinação) 72UNIDADE III Estruturação Sintática I Já sabemos que a morfologia estuda a estrutura da palavra, bem como a sua formação e mecanismos de flexão. Mas ela também se debruça sobre as classes gramaticais, buscando entender a função de cada palavra isoladamente. De acordo com essa área de estudo, as classes gramaticais podem ser divididas em dez classes de palavras, também conhecida como classes gramaticais. Observe na tabela abaixo todas as classes gramaticais e suas respectivas definições: QUADRO 1: AS CLASSES GRAMATICAIS Fonte: Ferreira (2011). CLASSES GRAMATICAIS Classe gramatical Função básica Exemplo Substantivo Nomear seres, coisas, lugares, conceitos etc. Um lindo balão azul sobrevoou a região. Adjetivo Caracterizar o substantivo Um lindo balão azul sobrevoou a região. Artigo Anteceder o substantivo para indeterminá-lo ou determiná-lo Um lindo balão azul sobrevoou a região. Numeral Indicar quantidade. Comprei três peixes por vinte reais. Pronome Substituir ou acompanhar o substantivo. Célia, eu te ajudarei (te🡪🡪 Célia). Sabes minha opinião sobre teus planos. Verbo Indicar um acontecimento e situá-lo no tempo. Um lindo balão azul sobrevoou a região. Amanhã terminaremos o trabalho? Advérbio Indicar circunstâncias (tempo, lugar, etc.) do fato verbal. Agora vivo tranquilamente aqui. Tempo Modo Lugar Preposição Ligar duas palavras Confio em você; fique perto de mim. Conjunção Ligar orações Ventou muito, mas não choveu. Interjeição Exprimir emoções e sentimentos súbitos. Puxa! Você vai faltar de novo? 73UNIDADE III Estruturação Sintática I Agora que relembramos as funções das palavras isoladamente, vamos entrar na sintaxe novamente para entender como essas palavras podem nos servir em uma análise sintática. Já sabemos que a sintaxe é a responsável pelo estudo das relações que as palavras assumem dentro de uma oração. E um dos aspectos mais importantes é a regência, afinal sempre ouvimos perguntas do tipo: o correto é fui no cinema ou fui ao cinema? E, na maioria das vezes, a resposta é dada de forma intuitiva. Assim, para começar, é importante entendermos que a regência é a relação de dependência que se instaura entre os termos da oração: entre os verbos e os elementos que os complementam ou, ainda, aqueles que os caracterizam, a este tipo de relação chamaremos regência verbal; entre os nomes e outros nomes, quando há a subordinação pela preposição, a este tipo chamaremos regência nominal. Dessa maneira, as preposições é uma classe de palavras que tem o poder de mudar completamente o sentido de um período, assim, estudar as preposições é algo indispensável quando o assunto é regência verbal e nominal. Veja o exemplo: Cheguei no carro. Cheguei ao carro. No exemplo percebemos dois sentidos distintos, a primeira oração se refere ao modo como “eu” cheguei, o meio de transporte utilizado. Já na segunda oração temos o destino final, como, por exemplo, cheguei onde o carro está estacionado. É preciso dizer que é comum termos divergências entre a linguagem coloquial e a linguagem padrão quando nos referimos às regências. Você pode até ter ficado na dúvida quanto a esse exemplo, afinal, na fala, o uso de “no carro” com a ideia de lugar para onde vou, é utilizada. Nessa perspectiva, os termos subordinados sempre serão os termos regidos, ou seja, aqueles que servem como complemento a outro, completando o sentido. Enquanto que, os termos regentes serão sempre os subordinantes, aqueles que exigem um com-plemento. Essa relação que se estabelece, então, entre os termos regentes e os regidos, é uma relação sintática, sendo que, na regência verbal o termo regente sempre será um verbo, já na regência nominal o termo regente sempre será um nome. 74UNIDADE III Estruturação Sintática I 4. CRASE E PONTUAÇÃO: ASPECTOS SINTÁTICOS Ao considerar a regência, há um aspecto da gramática, considerado por muitos como um assunto não muito agradável, contudo, muito importante: a crase. A crase se relaciona de forma direta com a regência de nomes e de verbos, desempenhando, desse modo, um papel fundamental na estrutura sintático-semântica dos enunciados. Ferreira nos oferece um exemplo quanto a isso, observe as duas frases: Favor não bater a porta. Favor não bater à porta. Como podemos perceber, a presença da crase é fundamental para que possamos diferenciar o sentido de cada frase. A primeira traz a ideia de fechar devagar a porta e não deixá-la bater, a segunda traz a ideia de não chamar a atenção de alguém, por exemplo, através de batidas na porta. Entende-se por crase a fusão da preposição a com outro que venha logo depois dela, sendo que a crase é representada pela letra a com o acento grave (à). De acordo com Ferreira (2011, p. 648) “A palavra crase, que tem origem na palavra grega krasis (mistura, fusão), nomeia um fato fonético: a fusão de dois sons iguais. O nome do acento que., na escrita, indica a ocorrência de crase não se chama “crase”; chama-se acento grave.” 75UNIDADE III Estruturação Sintática I Nessa direção, sabemos que a crase ocorre, na maior parte das vezes, pela fusão do artigo a mais a preposição a, contudo, em algumas estruturas sintáticas, ela pode resultar da junção de: ● preposição a + pronome demonstrativo a(s), que corresponde a “aquela(s)”. o Por exemplo: Essa camisa é igual à que ganhei. ● preposição a + aquele(s), aquela(s) e aquilo. o Por exemplo: Dirija-se àquele departamento,por favor. ● preposição a + a (qual), as (quais). o Conheço a revista à qual você se referiu. De acordo com Ferreira (2011), há um método prático que podemos utilizar para nos certificarmos se há ou não crase nas frases. Para tanto, basta trocar a palavra feminina por uma masculina, mas atenção, a palavra masculina não precisa ser sinônima da feminina, mas precisa ser do mesmo tipo, como, substantivo comum no lugar de substantivo comum, nome de cidade no lugar de nome de cidade e assim por diante. Assim: 1) Se, ao substituir o nome feminino, aparecer “ao(s)” antes do nome masculino. Coloque crase antes do nome feminino. 2) Se, ao substituir o nome feminino, aparecer “a(s)” ou “o(s)” antes do nome masculino. Não coloque crase antes do nome feminino. Para que seja possível construir um enunciado coerente, vimos que é necessário dominar os aspectos sintáticos de uma frase, ou seja, é preciso conhecer as regras de organização frasal. Nesse sentido, a pontuação é um elemento que funciona como um organizador, por isso, vamos entender como podemos utilizar desse recurso para que tenhamos um enunciado mais coeso e coerente. A vírgula marca, por exemplo, a inversão da ordem direta de um enunciado, a intercalação de elementos que interrompem a leitura, a elipse de algumas estruturas que podem ser recuperadas pelo contexto e, ainda, intensifica um determinado termo, dando ênfase a ele. Assim, percebemos que a presença da vírgula dentro das orações é imprescindível, por isso, O comerciante se referiu às taxas de juros. O comerciante se referiu aos acréscimos de juros. Trocando por masculino Todos apoiaram as temáticas que apresentei. Todos apoiaram os assuntos que apresentei. Trocando por masculino 76UNIDADE III Estruturação Sintática I agora vamos discutir um pouquinho sobre elas. Começaremos com as orações coordenadas, as quais, como estudado em outro momento, são independentes, não exercem nenhuma função uma sobre a outra. Essas ora-ções podem ser assindéticas ou sindéticas. O que isso significa? Significa que as orações coordenadas podem ser ligadas por uma conjunção (sindéticas) ou podem se ligar sem uma conjunção (assindéticas), as quais podem ser coordenadas através de uma pausa, representada por vírgula. Lembrando que as conjunções tem por função unir as orações, podem iniciar as orações, neste caso, geralmente, as conjunções são antecedidas pela vírgula, ou ainda podem ser deslocadas dentro do período, neste caso as conjunções devem vir, necessariamente, escritas entre vírgulas. Por exemplo: ● O professor explicou a teoria, porém os alunos não a entenderam. o 1ª oração: o professor explicou a teoria. o 2ª oração: os alunos não entenderam. o Porém = conjunção. Neste exemplo notamos claramente que a conjunção está iniciando a oração. Agora, observe: ● O professor explicou a teoria, os alunos, porém, não a entenderam. Neste segundo exemplo temos o deslocamento da mesma conjunção, ao deslocar a conjunção do início para o meio da frase, é necessário colocá-la entre vírgulas. Observando algumas conjunções temos algumas particularidades que devemos considerar. Considere: ● As conjunções adversativas, as quais indicam oposição, como, por exemplo: mas, porém, contudo, entretanto, no entanto, entre outras, sempre são isoladas por vírgula e quando deslocadas aparecem entre vírgulas. Contudo a conjunção mas nunca aparece entre vírgulas. Observe: o Fui ao mercado, mas não consegui comprar tudo que precisava. o Fui ao mercado, contudo não consegui comprar tudo que precisava. o Fui ao mercado, não consegui, contudo, comprar tudo que precisava. ● Outra peculiaridade encontramos na conjunção porque, que pode introduzir uma oração coordenada explicativa como introduzir uma causa de algum fato. Neste último caso teríamos uma conjunção subordinativa adverbial causal. No primeiro, temos uma 77UNIDADE III Estruturação Sintática I conjunção coordenativa explicativa e esta deve vir sempre antecedida por vírgula. Vamos entender a diferença entre as duas. o Conjunção coordenada explicativa, introduz uma oração que justifica, que explica, que esclarece a ideia do autor do texto, colocada anteriormente. Observe: ▪ Briguei, porque me irritei. Temos neste exemplo uma explicação do porque a pessoa brigou. Por ter se irritado a pessoa brigou. o Conjunção subordinativa adverbial causal, introduz uma oração que revela a causa de um acontecimento, isto é, o que provocou aquilo. Neste caso não se usa a vírgula, já que a causa tem um vínculo lógico e sintático com o fato. Observe: ▪ A festa foi transferida porque acabou a luz. Temos então a causa da festa ter sido transferida, a falta de luz. ● Do mesmo modo que a conjunção porque, a conjunção pois pode apresentar dois sentidos, dependendo da posição que ocupa. Vejamos. o Se estiver no início da oração vai ter por função introduzir uma explicação do que foi dito antes. Terá o mesmo valor do porque e, da mesma forma, virá antecedida por vírgula. ▪ A festa foi transferida, pois acabou a luz. o Quando a conjunção pois vier deslocada, apresentará uma ideia de conclusão são do que foi dito antes, tendo o mesmo valor da conjunção portanto. ▪ Era perseverante; enfrentaria, pois, muitos obstáculos. ● Por sua vez, a conjunção e, normalmente, não é precedida por vírgula, pois muitas vezes é utilizada com valor de soma (isso e aquilo). Contudo, em casos como: unir orações com sujeitos diferentes, quando ligar elementos em uma enumeração enfática e quando introduzir uma oração que exprime substituição, antes do advérbio não, deve vir precedida de vírgula. Observe: o Maria comeu e foi embora. (junção de ideias, com sujeitos iguais) o O espetáculo foi excepcional, e o público vibrou. (sujeitos diferentes) o Ele ficou arrasado, e envergonhado, e triste. (enfatiza os termos) o O professor elogiou o secretário, e não a diretora. (supressão do termo) As orações subordinadas, por sua vez, são aquelas, como já estudado, dependentes de uma outra oração, a qual chamamos de oração principal. Estas podem ser divididas em orações subordinadas adjetivas e orações subordinadas adverbiais. 78UNIDADE III Estruturação Sintática I As orações subordinadas adjetivas exercem a função de adjunto adnominal de um termo da oração principal, funcionam como um adjetivo na estrutura frasal. São iniciadas, geralmente, pelo pronome relativo que antecedido por vírgula. Temos ainda uma subdivisão, em que temos as orações subordinadas adjetivas explicativas e as orações subordinadas adjetivas restritiva. Vamos entendê-las: ● Oração subordinada adjetiva explicativa sempre virá entre vírgulas, sendo possível retirá-la da frase sem perder o sentido. Ela sempre vem para acrescentar uma informação, ampliando o que já foi dito, por isso pode ser retirada sem que o sentido se altere. Veja: o Meus amigos, que viajaram ontem, chegaram cansados. ● Oração subordinada adjetiva restritiva vai especificar, vai restringir o nome que se refere, restringindo seu significado a um único ser. Neste caso, não utilizamos vírgula. Veja: o Meus amigos que viajaram ontem chegaram cansados. (Não são amigos aleató- rios, são aqueles que viajaram ontem, especificamente). As orações subordinadas adverbiais vão exercer a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal, ocupando a mesma função do advérbio na estrutura frasal. Desse modo, vão acrescentar à oração circunstância de modo, tempo, causa, fim, consequência, entre outras. Estas orações vão ser iniciadas sempre ou por uma conjunção ou por uma locução conjuntiva, e as vírgulas virão a posteriori das orações subordinadas quando estas vierem antes da oração principal. Por exemplo: ● Se ele estivesse se esforçado, teria passado no concurso. (oração subordinada adverbial condicional deslocada). ● Quando percebeu, já era tarde. (oração subordinada adverbial temporal deslocada). Estas são as principais colocações de pontuaçãoquando pensamos em uma análise sintática. Perceba que os nomes das orações e as classificações não são dadas ao acaso, as nomenclaturas dizem o que cada uma tem por função; se a oração é conclusiva, quer dizer que trará a ideia de uma conclusão, se ela for condicional, quer dizer que ela trará a ideia de uma condição, se é coordenada, quer dizer que elas são independentes, subordinadas, que uma depende da outra e assim por diante. 79UNIDADE III Estruturação Sintática I SAIBA MAIS Prezado (a), aluno (a)! Neste vídeo, do canal Brasil Escola, você poderá compreender um pouco mais sobre os termos integrantes das orações em língua portuguesa. Um vídeo de, aproximadamente, 22 minutos que, com certeza, acrescentará muito na sua compreensão e familiaridade com a sintaxe. O vídeo é intitulado Termos integrantes da oração: complementos verbais e está disponível em: https://www.youtube.com/embed/QFBwIsUcxb8. Aproveite! REFLITA “Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” Paulo Freire in Moacir Gadotti, Paulo Freire: Uma Biobibliografia, 1996. 80UNIDADE III Estruturação Sintática I CONSIDERAÇÕES FINAIS Estimado (a) aluno (a), Chegamos ao final de mais uma unidade de aprendizagem, na qual buscamos mostrar um pouquinho de como a sintaxe se desdobra, tanto no que se refere ao funcionamento das palavras dentro dela como da relação que as orações estabelecem dentro de um período. Pudemos perceber que a gramática, tanto na morfologia quanto na sintaxe, e digo: em qualquer outra área de funcionamento da língua, vai se desdobrando e, a cada novo funcionamento, vai surgindo uma nova nomenclatura, que vai determinando aquele movimento da palavra ou da oração em um enunciado. Não nego que o conteúdo é extenso, por isso, tentamos trazer vários exemplos para que você pudesse visualizar todo esse mecanismo gramatical da nossa língua. Como colocado anteriormente, a língua portuguesa é muito rica e para compreendê-la, considerando seus mecanismos, é necessário estarmos sempre em contato com uma boa gramática. Não podemos nos iludir achando que memorizaremos tudo que contém em uma obra, que traz todas as regras da língua, de mais ou menos, 800 páginas. Contudo, a curiosidade e a boa vontade de aprender podem nos ajudar a aprender cada vez mais. Por isso, meu querido (a), mãos na obra! 81UNIDADE III Estruturação Sintática I LEITURA COMPLEMENTAR Caro (a), aluno (a)! A fim de aprimorar o seu conhecimento e não ficarmos apenas na gramática fechada, visto que, para nos comunicarmos bem, precisamos entender o funcionamento real da língua, sugerimos a leitura do artigo Correção gramatical e clareza afetam a qualidade do texto cientí ico?, de Tarciso S. Filgueiras. O artigo está disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-84042010000300015&script=sci_ar- ttext&tlng=pt. Acesso em: 31 ago. 2020. Boa leitura! 82UNIDADE III Estruturação Sintática I MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Moderna Gramática Portuguesa Autor: Evanildo Bechar Editora: Nova Fronteira Sinopse: A mais confiável obra de consulta nos estudos da língua portuguesa, esta Moderna Gramática chega à tão aguardada 39.ª edição com atualizações em todo o seu conteúdo e acréscimos valiosos.Trata-se de um porto seguro para estudiosos de todas as idades e aqueles que precisam se preparar bem para as provas de concurso público no Brasil. Todo o material aqui reunido pelo autor, um dos maiores gramáticos da língua portuguesa, constitui a mais completa soma de fatos gramaticais e soluções de dúvidas de português. Vale lembrar que a obra está em consonância com as regras do novo Acordo Ortográfico, do qual o Prof. Evanildo Bechara é o atual representante brasileiro. FILME/VÍDEO Título: Dentro da casa Ano: 2013 Sinopse: Germain (Fabrice Luchini) é um professor de literatura que sente uma enorme frustração pela mediocridade dos alunos. Ele se surpreende com a redação de Claude (Ernest Umhauer), texto que relata os problemas pessoais de um colega de sala. Ao mesmo tempo em que aprende literatura, o aluno escreve a sequência de uma verdadeira obra que ganha descrições poéticas sob o seu olhar. O grande dilema do filme é essa reflexão sobre o certo e o errado: o professor deve incentivar a liberdade criativa do garoto ou censurá-lo? A história preza muito mais pelas palavras que pelas formas. O comportamento do professor mostra o tamanho da influência da ficção também na visão de espectador. Acontece que consequências reais são ignoradas em nome de uma boa história. Qual o limite da escrita? Ela deveria ter um? Muitas perguntas 83 Plano de Estudo: ● As locuções e seus sentidos; ● Termos acessórios da oração e a regência; ● Termos integrantes da oração; ● Os verbos. Objetivos da Aprendizagem ● Conhecer a evolução da contabilidade e seus fundamentos históricos; ● Conceituar a contabilidade, seu objetivo e suas áreas de aplicação; ● Identificar os aspectos legais da contabilidade; ● Compreender as características da informação e quem as utiliza. UNIDADE IV Estruturação Sintática II Professora Mestra Maraisa Daiana da Silva 84UNIDADE IV Estruturação Sintática II INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a), Seja bem-vindo (a) a mais essa etapa em que vamos avançar juntos no conhecimento. Já percebemos que não podemos abordar a língua de maneira direta. A linguagem, manifestada tanto na fala quanto na escrita, constitui a nossa única fonte de acesso à realidade imaterial da nossa língua. O nosso conhecimento sobre a estrutura linguística deve estar em constante adaptação e trabalho, pois a língua é uma realidade mental que, em seus limites, se confunde com o próprio pensamento. Numerosos são os estudos, as observações e os caminhos que podemos seguir para compreender a língua. São inúmeras as teorias e métodos que podem nos auxiliar nessa batalha, mas, para que possamos escolher uma, precisamos conhecer todas. Contudo, é necessário que essa caminhada rumo ao conhecimento deve ser lenta para que seja bem assimilada, por isso, nesta unidade continuaremos trabalhando com a gramática tradicional da língua portuguesa. Assim, nesta unidade, propusemos uma caminhada pela gramática, em que teremos a oportunidade de entender, no primeiro tópico, os diferentes sentidos que podemos alcançar com as locuções, conforme a sua colocação. Posteriormente, daremos continuidade aos termos das orações, vamos compreender que os termos acessórios, assim como os integrantes são tão importantes quanto os termos essenciais. Por fim, voltaremos em uma classe gramatical muito importante, abordaremos o verbo, pois muitas vezes parece-nos tão óbvio que não paramos para observá-lo e entendê-lo em sua plenitude, deixando escapar, muitas vezes, coisas simples, mas que pode mudar completamente o sentido de um enunciado. Nessa direção, convido você, querido aluno, a embarcar novamente comigo, para desvendarmos esse mar imenso que é a língua portuguesa. Desejo uma boa leitura e ótimos estudos! 85UNIDADE IV Estruturação Sintática II 1. AS LOCUÇÕES E OS SEUS SENTIDOS Muitas vezes, ao escrever, nós fazemos uso de expressões, visto que estas expressam ideias e sentidos que não conseguimos expressar em apenas uma palavra, necessitamos, assim, fazer uma ligação entre as palavras, o que na sintaxe chamamos de locução. Primeiramente, é importante compreendermos que a locução é a junção de duas ou mais palavras que resultam em uma unidade significativa, e essa unidade significativa vai ter, dentro de uma frase, a mesma função gramatical. Desse modo, entender esse mecanismo está diretamente ligado à compreensão de seu funcionamento sintático, ou seja, dentro de uma frase. Temos diferentes locuções, as quais são classificadas conforme a função que assumem dentro de um enunciado. Veja: ● Locuçãoadjetiva: que tem a mesma função do adjetivo; ● Locução adverbial: que tem a mesma função do advérbio; ● Locução prepositiva: que tem a mesma função da preposição; ● Locução conjuntiva: que tem a mesma função da conjunção; ● Locução verbal: que tem a mesma função do verbo; ● Locução substantiva: que tem a mesma função do substantivo; ● Locução pronominal: que tem a mesma função do pronome; ● Locução interjetiva: que tem a mesma função da interjeição. 86UNIDADE IV Estruturação Sintática II ● Colega de turma ● Homem sem-terra Com esses exemplos, é fácil perceber que não podemos ficar presos, ao considerar as locuções adjetivas, na procura por um sinônimo que expresse a mesma característica. De qualquer maneira, podemos citar algumas locuções adjetivas com seus respectivos correspondentes a fim de compreendermos melhor: TABELA 1.1.1 – LOCUÇÕES ADJETIVAS Fonte: a autora. Locução adverbial: a locução adverbial é formada, normalmente, por meio da junção de uma preposição e um substantivo ou adjetivo, sendo que estes podem variar em gênero e o número. A locução adverbial vai funcionar como um advérbio, ou seja, modificando o verbo, o adjetivo ou outro advérbio. Assim, temos: Agora que temos uma visão ampla das locuções, vamos olhar para as principais de maneira mais minuciosa para compreendermos como elas se comportam dentro de uma análise sintática. Locução adjetiva: a locução adjetiva é formada, normalmente, por meio da junção de uma preposição e um substantivo, que vão atuar como um adjetivo, caracterizando um outro substantivo. Assim, temos: Preposição + substantivo Mulher de coragem De coragem= corajosa De acordo com Bechara (2010), é importante dizer que nem sempre vamos encontrar um adjetivo correspondente na mesma família de palavras e de significado idêntico ao da locução adjetiva. O autor cita como exemplo: De cabelo = capilar De cabra = caprino De criança = infantil De respeito = respeitoso De anjo = angélico De pai = paternal Sem freio = desenfreada 87UNIDADE IV Estruturação Sintática II Assim como os advérbios, as locuções adverbiais também podem ser classificadas de acordo com as circunstâncias que expressam. Observe: TABELA 1.1.2 – CLASSIFICAÇÃO DAS LOCUÇÕES ADVERBIAIS Fonte: a autora. Locução prepositiva: a locução prepositiva é formada por duas ou mais palavras que vão funcionar como uma preposição, ou seja, ligando as palavras e estabelecendo sentidos. A última palavra dessa locução sempre será uma preposição. Assim, temos: Preposição + substantivo Apenas irei à escola de noite Classificação Exemplos Afirmação – com certeza – por certo – sem dúvida, etc. Intensidade – de muito – de pouco – de todo, etc. De lugar – à direita – à esquerda – à distância – ao lado – de dentro – de cima, etc. De modo – à toa – à vontade – ao contrário – ao léu – às avessas – às claras, etc. De negação – de forma alguma – de modo algum, etc. De tempo – à noite – à tarde – à tardinha – de manhã, etc. substantivo + preposição Estou perto de perder o concurso 88UNIDADE IV Estruturação Sintática II Perceba que a locução “perto de”está ligando o verbo “estar” e o “perder”, exercendo, dessa forma, a mesma função de uma preposição. Poderíamos citar como exemplo de locuções prepositivas: TABELA 1.2.1 – LOCUÇÕES PREPOSITIVAS Fonte: a autora. Locução conjuntiva: a locução conjuntiva, assim como a locução prepositiva, é formada por duas ou mais palavras que vão funcionar como uma conjunção, ligando duas orações. Assim, temos: Uma vez que já terminei meus estudos, já posso trabalhar. Falei com o professor primeiro, para que ele não se irrite. Visto a característica dessa locução, de ligar orações, as quais, como nós já sabemos, podem ser orações coordenadas ou subordinadas, teremos dois tipos de locução conjuntiva: As locuções conjuntivas coordenativas, as quais podem ser aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. As locuções conjuntivas subordinativas, as quais podem ser adverbiais causais, comparativas, concessivas, condicionais, conformativas, consecutivas, finais, proporcionais, temporais. Locução verbal: a locução verbal é formada pela junção de um verbo auxiliar e um verbo principal, que vão funcionar como uma única ação verbal. Assim, temos: Estamos indo para a casa agora. Quero dormir antes de sair de casa. Meu amigo tem trabalhado sem descanso. Podemos acrescentar ainda, sobre a locução verbal, que o verbo auxiliar sempre aparecerá flexionado em tempo, modo, número e pessoa. Já, o verbo principal sempre estará no gerúndio, infinitivo ou particípio. abaixo de acerca de de acordo com defronte de junto a perto de por baixo de por trás de 89UNIDADE IV Estruturação Sintática II 2. TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO E A REGÊNCIA Vimos, em outros momentos, que a gramática nos orienta sobre os termos essenciais, ou seja, nos conduz a uma nomenclatura específica, isso significa que temos outros termos paralelos a esse, que são os termos acessórios. O que seria um acessório? Pensem em uma pulseira, em um colar, em um piercing, em um cinto ou, ainda, em um fone de ouvido, uma capinha para o celular e assim por diante. Estes são exemplos de acessórios que utilizamos no nosso dia a dia, para complementar um determinado efeito visual, o qual desejamos alcançar. Da mesma forma, as orações, para que tenha um sentido completo, utilizam de complementos que auxiliam os termos essenciais. Por exemplo: No exemplo acima, temos um predicado verbal, indicado pelo verbo significativo, que também é o núcleo do predicado, por ser o termo mais importante, contudo que precisa de algo a mais para que o sentido fique completo. É aí que surge o termo acessório da oração. Veja: fazemos a primeira pergunta para descobrir o sujeito – Quem mora? R. Maria. E fazemos uma segunda pergunta para achar o complemento – Maria mora onde? R. Em Natal. Assim, nós temos aí um complemento de lugar, assessorando o verbo, um complemento verbal, classificado na sintaxe por adjunto que, Maria mora em Natal. sujeito Predicado verbal Verbo significativo Complemento verbal 90UNIDADE IV Estruturação Sintática II apesar de ser um termo acessório, é indispensável para alcançar o sentido completo da oração. Assim, os termos acessórios são aqueles que acompanham substantivos, pronomes ou verbos, isto é, o núcleo verbal, nominal ou verbo-nominal do predicado. Eles vão informar uma característica ou uma circunstância, desse modo, fazem parte dos termos acessórios da oração os: ● Adjunto adverbial: termo da oração que indica uma circunstância de tempo, de lugar, de modo, de causa, de finalidade, modificando o verbo. Exemplo: Maria mora muito longe. (Maria não mora, apenas, longe, Maria mora MUITO longe: muito = intensificador do verbo, isto é, adjunto adverbial de intensidade). ● Adjunto adnominal: termo que qualifica ou especifica um substantivo, independentemente de sua função na oração. Exemplo: A menina bonita mora em Natal. (bonita está especificando qual menina mora longe: a menina bonita). ● Aposto: termo da oração que oferece uma explicação referente a um substantivo, pronome, entre outros. Exemplo: Maria mora em Natal, cidade litorânea. (litorânea está dando uma explicação de que tipo de cidade é Natal). ● Vocativo: termo de entonação exclamativa, relacionado com o sujeito, uma forma de chamamento. Exemplo: Maria! Venha aqui. Nessa direção, podemos perceber que as escolhas das palavras e a sua colocação dentro de orações, que podem, posteriormente, compor um texto, vão nos ajudar a expressar os nossos pensamentos, selecionamos, dessa forma, vocábulos que podem facilitar a percepção do nosso destinatário quanto a linha de raciocínio que queremos seguir. E os termos acessórios são os responsáveis por auxiliar-nos nessa empreitada, pois com eles podemos caracterizar seres, determinar os substantivos e também exprimir as circunstâncias. Portanto,eles são tão importantes quanto os termos essenciais, afinal estes dependem daqueles. As preposições, por seu turno, é uma classe de palavras que tem o poder de mudar completamente o sentido de um período, assim, estudar as preposições é algo indispensável quando o assunto é regência verbal e nominal. Veja o exemplo: Cheguei no carro. Cheguei ao carro. 91UNIDADE IV Estruturação Sintática II No exemplo percebemos dois sentidos distintos, a primeira oração se refere o modo como “eu” cheguei, o meio de transporte utilizado. Já na segunda oração temos o destino final, como, por exemplo, cheguei onde o carro está estacionado. É preciso dizer que, é comum termos divergências entre a linguagem coloquial e a linguagem padrão quando nos referimos às regências. Você pode até ter ficado na dúvida quanto a esse exemplo, afinal, na fala, o uso de “no carro” com a ideia de lugar para onde vou, é utilizada. Nós conhecemos as regências conforme os usos do nosso dia a dia, dessa forma nos apropriamos das regências verbais e nominais muito mais pelo uso real da língua do que pela gramática, contudo, também temos que admitir que desconhecemos muitas regências da norma padrão, por isso a importância de entendê-las. Vamos começar pela regência nominal, responsável pelas situações em que a exigência por um complemento parte do nome, o qual precisa de outras palavras para ter um sentido completo. A relação, então, entre o nome e o seu complemento é estabelecido por uma preposição. Considere a oração abaixo e a discordância presente nela: Facilmente, ao lermos essa frase, notamos a falta de uma preposição – em – a qual é exigida pelo nome “confiança”. Para chegarmos a essa preposição podemos fazer a seguinte pergunta: Confiança EM que/quem? Perceba que a preposição se faz presente já na pergunta. Se eu pergunto “em que”, a resposta exigirá a mesma preposição: “em”. Assim temos que: Abaixo apresentamos alguns nomes e as preposições que mais comumente estabelecem vínculo entre esses nomes e seus complementos, de acordo com Ferreira (2011, p. 626). Novas tecnologias alimentam nossa confiança um futuro melhor. Novas tecnologias alimentam nossa confiança em um futuro melhor. z z Termo regente Termo regido 92UNIDADE IV Estruturação Sintática II No que concerne à regência verbal, como colocado anteriormente, ela se estabelece na relação entre o verbo e o seu complemento, ao exigir palavras que complete seu sentido. Essas palavras podem ser objetos diretos e objetos indiretos, o que está ligado diretamente à transitividade verbal. Sobre a transitividade verbal podemos afirmar que, na estrutura de uma oração, alguns verbos podem ter sentido completo e outros incompleto, exigindo um objeto (complemento), como já mencionado nesta unidade. Nessa direção, os verbos podem ser classificados em: ● verbos intransitivos, os quais possuem sentido completo, não dependem de com- plementos para indicar ação ou fato; Por exemplo: O guarda apitou contente. (apitou = verbo intransitivo) ● verbos transitivos direto, os quais se ligam ao complemento sem a presença de preposição. Damos o nome de objeto direto (OD) a esse complemento, visto não precisar de um intermediário. Por exemplo: O guarda preserva um passado feliz. (preserva = verbo transitivo direto). Perceba que podemos achar o objeto por meio de pergunta, como, por exemplo: O que o guarda preservava? Não há preposição na pergunta, então não há preposição na res-posta – um passado feliz –, configurando, desse modo, em objeto direto – sem preposição. O objeto direto pode ser representado por um substantivo, por uma palavra substantivada, por um pronome oblíquo átono, por um pronome ou por uma oração. ● verbos transitivos indireto, os quais se ligam ao complemento por meio de uma preposição. Damos o nome de objeto indireto (ID) a esse complemento, visto precisar de um intermediário. adepto de alheio a ansioso por, para apto a, para aversão a, por benéfico a, para ciente de composto por, de contente com, por, de desprezo a, por favorável a feliz de, por, em, com impróprio para imune a, de inofensivo a, para inútil a, para junto a, de livre de paralelo a próximo a, de referente a relativo a residente em rigoroso com, em simpatia a, por último a, em união com, entre, a vazio de vizinho, a, de vulnerável a 93UNIDADE IV Estruturação Sintática II Por exemplo: O guarda precisou de uma ajuda. (precisou = verbo transitivo indireto). Assim como no caso anterior, ao fazer a pergunta para o verbo, percebemos a necessidade de acrescentar uma preposição: precisou de que/quem? A resposta, do mesmo modo, precisa da preposição: Precisou de ajuda. O objeto indireto pode ser representado por um substantivo, por uma palavra substantivada ou por uma oração. ● verbos transitivos direto e indireto, os quais possuem os dois tipos de comple- mento, com e sem preposição – objeto direto e objeto indireto. Neste caso, o objeto indireto sempre será a pessoa e o objeto direto sempre será a coisa. Por exemplo: O guarda propiciou aos turistas uma volta ao passado. (propiciou = verbo transitivo direto e indireto. Podemos perguntar: Propiciou a quem? (a = preposição, OI); propiciou o quê? (sem preposição, OD). Resumindo temos o seguinte: TABELA 2.1 – TRANSITIVIDADE VERBAL Fonte: Ferreira (2011, p. 627). Conhecendo a transitividade verbal, consequentemente, a regência verbal você será capaz de perceber os diferentes significados que podemos dar a um mesmo verbo, aprimorando, assim, a sua escrita. Lembrado que muitas regências que são utilizadas de modo coloquial, no uso real da língua, não é aceito na norma padrão da língua portuguesa, assim, consultar um dicionário de regência, ao redigir um texto, pode ser fundamental. Classificação Características Verbo intransitivo – VI Tem sentido completo; não exige objeto. Verbo transitivo direto – VTD Tem sentido incompleto; exige objeto sem preposição inicial (objeto direto). Verbo transitivo indireto – VTI Tem sentido incompleto; exige objeto iniciado por preposição (objeto indireto). Verbo transitivo direto e indireto – VTDI Tem sentido incompleto; exige dois objetos: um sem preposição (OD) e outro com preposição (OI). 94UNIDADE IV Estruturação Sintática II 3 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO Em unidades anteriores vimos que a oração é composta de três diferentes tipos de termos: os termos essenciais, os termos integrantes e os termos acessórios. Tivemos a oportunidade de compreender dois deles, os termos essenciais e os acessórios. Agora, vamos abordar os termos integrantes, conhecidos também como complementos, tão importante quanto os outros dois para uma boa construção de um enunciado. Os complementos, ou termos integrantes, na maioria das vezes, são exigidos pelo predicado, lembrando que nós podemos ter em uma oração um predicado nominal, ou um predicado verbal ou ainda um predicado verbo-nominal, a depender do núcleo. A partir do nome dado a esse mecanismo já podemos deduzir sua funcionalidade – assim como todas as outras nomenclaturas que outros mecanismos sintáticos têm – os complementos tem por função complementar o sentido da oração, visto que, muitas vezes, o sujeito e o verbo não dão conta de expressar toda a ideia proposta. Os complementos são classificados em três grupos: verbais, nominais e agente da passiva. - Complementos verbais Os complementos verbais têm por função completar o sentido do verbo da oração. Geralmente, esses complementos, conhecidos como objetos, são exigidos pelo próprio verbo e se dividem em objeto direto e objeto indireto. Essa divisão é dada pela presença ou não da preposição, o objeto direto não necessita da intervenção de uma preposição para se 95UNIDADE IV Estruturação Sintática II ligar ao verbo, por isso recebe o nome “direto”, o objeto indireto, por sua vez, precisa, para melhor articulação da frase, dano cotidiano. Só assim - ao obter um entendimento mais consolidado da língua materna, de forma consciente e inserida em seu uso real - será possível avançar na aprendizagem das competências linguísticas. Diante disso, a morfossintaxe se apresenta de maneira imponente, no que se refere aos avanços gramaticais da Língua Portuguesa, o que demanda entender o que é exatamente a morfossintaxe. Antes de chegar na morfossintaxe, é importante entender que há dois aspectos fundamentais na unidade linguística: a forma e o sentido. Nessa direção, a palavra pode ser estudada em seu aspecto formal, considerando a sua forma, ou seja, a sua pronúncia, a sua composição morfológica e seu comportamento sintático; e pode ser estudada, também, do ponto de vista semântico, isto é, do seu significado básico. Para melhor compreensão, observe o diagrama 1.1, da divisão da palavra “quadrinhos”, abaixo: 10UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade DIAGRAMA 1.1 – FORMA E SENTIDO DA PALAVRA Fonte: a autora. Conforme o infográfico acima, é possível perceber que tanto o aspecto formal quanto o aspecto semântico estão presentes na palavra “quadrinhos”, contudo, esses aspectos devem ser separados quando há uma descrição, o que é de fundamental importância quando se estuda a gramática da língua, visto a complexidade que se tem ao questionar a relação existente entre as formas gramaticais e os significados. A complexidade, como podemos perceber pelo mesmo infográfico, não é menor quando o olhar se volta apenas para o aspecto formal da língua, dessa maneira, houve a necessidade de uma subdivisão desse aspecto em três, que corresponde ao que chamamos de fonologia, morfologia e sintaxe. Dessa maneira, de acordo com as gramáticas modernas, podemos compreender que a palavra, o léxico, perpassa por uma unidade de som constituída por vogais, semi- vogais, consoantes, sílabas e acento, que vão constituir enunciados, pertencentes a uma determinada classe morfológica. A frase, no que lhe concerne, pode ser formulada a partir de uma palavra ou mais, desde que tenha a capacidade de suscitar a comunicação, ou seja, é o próprio enunciado, sendo que este enunciado pode ser analisado sintaticamente. De acordo com Perini (2005, p. 42) “A fonologia, a morfologia e a sintaxe são igual- mente compostas por regras [...] as regras fonológicas, morfológicas e sintáticas definem quais são as construções possíveis da língua”. Nessa etapa do livro vamos nos deter em apenas duas: na morfologia e na sintaxe. Contudo, é importante relembrarmos, de maneira breve, o que é a fonologia. A saber, a fonologia é a parte da gramática que estuda a parte mínima do léxico, o que é chamado de fonemas, e também as sílabas que tais fonemas constroem. Tem-se, Quadrinhos Forma Pronúncia (fonologia) kwadɾˈiɲuʃ Composição morfológica Radical: quadr Sufixo: -inho Sufixo: -s Comportamento sintático. Admite o uso do artigo "os", mas não do artigo "as"; pode ser núcleo de um sintagma nominal. Sentido Objeto pequeno de cunho decorativo. 11UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade então, na fonologia, o estudo das vogais, semivogais, consoantes, dígrafos, encontros vocálicos e consonantais, classificação das sílabas quanto à tonicidade, quanto ao número apresentado mediante a divisão silábica, o emprego das letras, considerando as diferentes situações de uso etc. A morfologia, da qual discutiremos com mais afinco nos próximos tópicos, é a responsável, dentro da linguística, pelo estudo da estrutura, formação e classificação das palavras. Ela se particulariza por olhar para o vocábulo de forma isolada, ou seja, a morfologia não considera o funcionamento da palavra dentro de uma frase ou período, mas sim de forma encerrada em si. Por sua vez, a sintaxe é a parte da gramática que se ocupa em estudar as disposições das palavras dentro da frase e de períodos; ocupa-se, também, por entender a relação lógica que se estabelece entre tais palavras. Discutiremos, ainda neste capítulo, mais profundamente sobre essa importante categoria da gramática. Ao considerar o que colocamos nas linhas anteriores, podemos concluir que a palavra pode ser analisada de duas formas: Entretanto, é preciso esclarecer que uma análise pode acontecer também no âmbito da palavra e da frase, isto é, quando o estudo envolve a junção tanto da classe gramatical da palavra quanto da sua função dentro de uma determinada frase, e é aí que surge o que intitulamos morfossintaxe. É interessante observar que, ainda que a Língua Portuguesa não pertença a área das ciências exatas, quando se fala em morfossintaxe é possível chegar a uma certa objetividade. Isso porque as funções sintáticas podem ser definidas previamente, por exemplo, os adjetivos que ao estarem vinculados a um nome, caracterizando-o, vai assumir, necessariamente, a função sintática de adjunto adnominal. Desse modo, a análise morfológica deve sempre vir antes da sintática. Assim temos a seguinte relação: 12UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade DIAGRAMA 1.2 – ENGRENAGEM LINGUÍSTICA Fonte: a autora. Pode-se afirmar que na perspectiva da gramática, a engrenagem da linguagem, quando movida pela morfologia e pela sintaxe, move algo maior, a morfossintaxe. Assim, ainda que haja uma divisão menor entre essas duas categorias – morfologia e sintaxe – forma e função são inseparáveis, justificando, desse modo, a importância da morfossintaxe. Diante do apresentado, é importante o aprofundamento, em especial, da sintaxe, para que possamos atingir os objetivos propostos nesta unidade, sendo assim, no próximo tópico apresentamos uma introdução à sintaxe. 1.1 Introdução à Sintaxe Discutimos no título anterior sobre as divisões da gramática da Língua Portuguesa e percebemos que há duas ciências, quando falamos em forma, que são de extrema impor-tância: a morfologia e a sintaxe. A primeira é capaz de determinar a classe que pertence cada uma das palavras de uma frase e a segunda, por seu turno, capaz de estabelecer a função da palavra na frase. É importante salientar que juntas, morfologia e sintaxe, ao promoverem uma análise da função sintática e das classes gramaticais, alcançam conexões e significados importantes no texto, por isso poderíamos pensar, ainda, na ligação entre morfossintaxe e a semântica. Nessa direção, de acordo com a gramática gerativista, o falante de uma língua natural, independente de qual seja, já nasce sabendo como os vocábulos se organizam para que se estabeleça estruturas cada vez mais complexas até que se chegue nas Morfossintaxe Sintaxe Morfologia 13UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade sentenças, ou seja, qualquer falante tem um conhecimento inato sobre a sua língua. Assim, compreender a maneira como as palavras de uma língua se estabelecem em uma sentença é a principal competência linguística dos seres humanos. Negrão, Scher e Violli (2004, p. 81) exemplificam isso da seguinte forma: Imaginemos o léxico de nossa língua como uma espécie de dicionário mental composto pelo conjunto de itens lexicais (palavras) que utilizamos para construir nossas sentenças. Nossa competência nos permite ter intuições a respeito de como podemos dividir esse dicionário, agrupando itens lexicais de acordo com algumas propriedades gramaticais que eles compartilham. Essas propriedades nos levam a distinguir um grupo em oposição a outro. De tal modo, no processo em que adquirimos a nossa linguagem, a linguagem materna, desde muito pequenos sabemos que um vocábulo como “cadeira” é diferente do vocábulo “cair”. É bem possível ouvirmos de uma criança a palavra “caiu”, mas não ouviremos a palavra “cadeiriu” ou “cadiu”. Isso nos mostra que a criança, ainda que muito nova, sabe que a palavra “cair” pertence a um grupo de léxicos, como mamar, papar, chorar, sorrir, os quais se estruturam com singulares sufixos, como -ou, -eu, -iu. Concomitantemente, essa mesma criança sabe que a palavrapresença de uma preposição. Abordaremos esse assunto com mais riqueza de detalhes e exemplos mais adiante. Por agora, precisamos entender que a função dos complementos verbais são de acrescentar sentido ao verbo e que a função desses complementos, normalmente, é desempenhada por substantivos, contudo numerais, pronomes ou palavras substantivadas podem desempenhar essa funcionalidade. Observe: Perceba que a oração acima não teria seu sentido completo se fosse finalizada no verbo – Ele gosta – provavelmente ao ouvirmos essa sentença perguntaríamos: ele gosta do que? A resposta a essa pergunta nos revela o complemento da oração: de macarronada. Os complementos além de complementar os verbos, neste primeiro caso, ele também pode trazer outros sentidos dentro de uma oração. Um objeto direto, por exemplo, pode vir acompanhado de uma preposição para dar um efeito estilístico diferente à oração, para dar ênfase a uma ideia, da mesma maneira podem desempenhar função pleonástica (repetição), para reafirmar algo. Observe: Eu cumpri com a minha promessa. Poderíamos muito bem ter organizado essa oração sem a preposição e ainda assim teríamos o sentido completo: Eu cumpri a minha promessa. Ao acrescentar a preposição, damos ênfase ao complemento. Temos, desse modo, um objeto direto preposicionado. Observe outro exemplo: Suas histórias, ouvi-las me faz bem. Neste exemplo temos um objeto pleonástico, já que não teria a necessidade de retomar “suas histórias” através do “las” no predicado. Complementos nominais Os complementos nominais se aproximam aos verbais por não serem sempre necessários e, da mesma maneira que os complementos verbais vão depender da demanda dos verbos, os complementos nominais vão depender da demanda dos substantivos, adjetivos e advérbios, por isso nominais. Contudo, se afasta dos complementos nominais Ele gosta de macarronada. sujeito Predicado verbo Objeto indireto 96UNIDADE IV Estruturação Sintática II sempre serão precedidos por uma preposição. Veja os exemplos abaixo: No exemplo anterior é fácil perceber que “aos compromissos” está complementando o substantivo “fiel”. Assim, como pudemos observar no complemento verbal, aqui, se tivéssemos construído a oração sem o complemento não teríamos o sentido completo que temos com ele. Faria sentido, veja: Ele não foi fiel. Mas, se acrescentamos o complemento o sentido é completo e não deixa dúvida quanto a que “ele” não foi fiel. Poderíamos citar como exemplo, ainda: Ela mora perto da estação. (perto = substantivo / da estação = complemento nominal) Maria estava consciente de tudo. (consciente = adjetivo / de tudo = complemento nominal) Joao atuou favoravelmente aos amigos. (favoravelmente = adverbio / aos amigos = complemento nominal). Agente da passiva O agente da passiva diz respeito à o que é ou quem se relaciono diretamente com o verbo, ou seja, o que ou quem pratica a ação. Ele não é, necessariamente, um complemento como nos casos anteriores, mas faz parte dos termos integrantes da oração. O agente da passiva é a parte ativa, em uma oração de voz passiva. Observe o exemplo para melhor compreensão: Maria fez o bolo. (voz ativa). O bolo foi feito por Maria. (voz passiva). Nas orações acima, o verbo fazer é apresentado em um primeiro momento na voz ativa (fez) e, posteriormente na voz passiva (foi feito). Na segunda oração nós conseguimos visualizar o agente da passiva, ou seja, aquele que praticou a ação de fazer o bolo. Dessa forma, podemos afirmar que o agente da passiva da oração é por Maria. Ele não foi fiel aos compromissos sujeito predicado Complemento nominalsubstantivo 97UNIDADE IV Estruturação Sintática II A voz passiva é estruturada da seguinte forma: sujeito paciente + verbo auxiliar + verbo principal no particípio + agente da passiva. Colocando isso no exemplo anterior temos: ● Sujeito paciente: o bolo (aquele que sofreu a ação) ● Verbo auxiliar: foi ● Verbo principal no particípio: feito ● Agente da passiva: por Maria. 98UNIDADE IV Estruturação Sintática II 4. OS VERBOS Nós falamos muito até agora de verbos, vimos que ele pode ser o núcleo do predicado, percebemos a sua importância para diferenciar uma frase de uma oração, além de outros fatores que o envolve. Todavia, até agora, não conceituamos, minuciosamente, essa classe gramatical tão importante para o desenvolvimento de um enunciado. Vamos falar de verbos, então? Os verbos podem ter valor de ação (comer, caminhar, dançar), de estado (ser, permanecer), fenômeno da natureza (nevar, trovejar) ou ocorrência (acontecer, suceder). Como vimos na unidade anterior, o verbo, na sintaxe, exerce a função de núcleo do predicado de uma oração, sendo que eles podem flexionar de diversas maneiras, pois a sua conjugação é realizada por meio de variações, sendo elas: de pessoa, número, tempo, modo. Sobre isso Bechara (2010, p. 192, grifos do autor) nos adverte que “trabalhar e trabalho são palavras que têm o mesmo significado lexical, mas diferentes moldes, diferentes significados categoriais, embora se deva ter presente que este não é o simples produto da combinação do significado lexical com o significado instrumental”. Assim, considerando as variações dos verbos, vale lembrar que: 99UNIDADE IV Estruturação Sintática II TABELA 4.1 – FLEXÕES DOS VERBOS Fonte: a autora. Quando analisamos a estrutura do verbo, isto é, a morfologia dos verbos, devemos considerar três elementos básicos, são eles: o radical, a vogal temática e a desinência. O radical é a base do verbo, é a partir dele que as flexões ocorrem, além de carregar o significado do verbo. Observe: A vogal temática, no que lhe concerne, equivale à unidade mínima que se une ao radical, para ligá-lo às desinências, promovendo, assim, a conjugação dos verbos. Quando temos a junção dessas duas unidades, formando uma terceira unidade, a chamamos de tema. Desse modo, temos: radical + vogal temática = tema. Observe o exemplo: Como pudemos perceber, através do exemplo acima, é a vogal temática que determinará a conjugação a qual o verbo pertence. Se pertence à primeira conjugação, à segunda conjugação, ou à terceira conjugação, em que a vogal temática é, respectivamente -a, -e, -i. Exemplo: Flexão de Variação Pessoa 1ª (eu, nós); 2ª (tu, vós) e 3ª (ele, eles). Número singular (eu, tu, ele) e plural (nós, vós, eles). Tempo presente, pretérito e futuro. Modo indicativo, subjuntivo e imperativo. Voz voz ativa, voz passiva e voz reflexiva. Cant – ar Com – er Dorm – ir radical Cant – a – r Com – e – r Dorm – i – r radical Vogal temática 100UNIDADE IV Estruturação Sintática II TABELA 4.2 - CONJUGAÇÕES DOS VERBOS Fonte: a autora. Por fim, as desinências são elementos que, junto com o tema, facultam as conjunções, podendo ser: ● Número-pessoais: apontam o número e a pessoa do discurso. ● Modo-temporais: apontam o modo e o tempo em que a ação ocorre. Os verbos também têm suas classificações, não se restringem apenas a esses que acabamos de abordar. Eles podem ser regulares, irregulares e defectivos. Os regulares seguem o mesmo modelo de conjugação e o seu radical não altera. Os irregulares têm variação quanto ao seu radical e não vão seguir o mesmo padrão de flexão que os regulares. Assim, as diferenças podem aparecer no radical, nas terminações ou nos dois. Como acontece, por exemplo, com o verbo caber e medir. Temos ainda, uma subdivisão dos verbos irregulares, os quais chamamos de anômalo, que são verbos irregulares que sofrem uma mudança ainda mais abrupta como é o caso do verbo ir que acaba tendo três radicais: vou, irmos, fui. Os verbos defectivos são aqueles em que não conseguimos conjugar em todas as pessoas, tempos e modos, ou seja, não apresenta todas as formas, como é o caso do verbo colorir, não existe eu “coloro”. Segundo Bechara (2010, p. 200) “A defectividade verbal é devida a várias razões, entre as quaisa eufonia e a significação. Entretanto, a defectividade de certos verbos não se assenta em bases morfológicas, mas em razões do uso e da norma vigentes em certos momentos da história da língua”. 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação amar comer dormir dançar correr sorrir caminhar entender partir Amá – va – mos Desinência que indica o tempo pretérito perfeito do modo indicativo Desinência que indica a 1ª pessoa do plural – nós. 101UNIDADE IV Estruturação Sintática II SAIBA MAIS Prezado (a), aluno (a)! Neste vídeo você poderá compreender um pouco mais sobre a análise sintática da oração. É um vídeo completo, em que o professor Pasquale oferece uma verdadeira aula de como realizar uma análise sintática de uma oração. Aproveite para treinar e aprofundar ainda mais seu conhecimento. O vídeo é intitulado Professor Pasquale explica: análise sintática e está disponível em: https://www.youtube.com/embed/5IPTBXBGzSU REFLITA “...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção” Fonte: FREIRE, P. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA - saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2003, p. 47. 102UNIDADE IV Estruturação Sintática II CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro (a) aluno (a)! Chegamos ao final de mais uma unidade. Foi muito bom relembrar junto com vocês como a nossa língua portuguesa se desdobra e faz com que nos apaixonemos cada vez mais por ela. Isso porque, a teoria gramatical clássica estabeleceu a palavra como unidade operacional básica de nossa língua. A morfologia e a sintaxe tradicionais foram construídas sobre esse alicerce, em que a morfologia estudava a estrutura interna das palavras e a sintaxe estudava a combinação desses vocábulos em orações, e isso desde os gregos e os latinos. Há, querido(a) aluno(a), muita história por traz dessas regras lógicas que nos presenteia a gramática tradicional, há muitos estudos. Pudemos, nesta unidade, explorar mais um pouquinho desses estudos, aproveitar as lógicas criadas por teóricos respeitados por todo o mundo, até hoje. Abordamos aspectos pontuais da sintaxe e também da morfologia que vão nos auxiliar a escolher, por exemplo, quando utilizar uma locução adjetiva ou, simplesmente utilizar um adjetivo. A partir de agora, seremos capazes de fazer escolhas no que se refere ao sentido que quero dar ao meu enunciado. Passamos ainda por aspectos da oração importantes, como os termos acessórios e integrantes, que são fundamentais para a construção de uma oração, a qual vai compor um período, que pode compor um texto. Fizemos uma parada, ainda, sobre um ponto basilar que é o verbo, uma classe gramatical capaz de se desdobrar em inúmeras flexões. Um termo importantíssimo para a construção dos nossos enunciados. Espero que essa caminhada tenha sido muito produtiva. Desejos de muito sucesso a você, querido (a) aluno (a). 103UNIDADE IV Estruturação Sintática II LEITURA COMPLEMENTAR Caro (a) Aluno (a)! Compreendemos que o estudo sobre a língua portuguesa não pode parar, afinal, como pudemos entender durante as unidades de ensino, ela é viva e está em constante transformação e a nossa escrita, bem como a gramática da língua portuguesa, deve acompanhar essa evolução. Dessa maneira sugerimos a leitura do artigo A concordância sumiu ou evoluiu?, de Josué Machado. Um artigo muito interessante que faz com que você reflita sobre a norma culta e sobre a sintaxe da língua portuguesa. O artigo está disponível em: http://estacio.webaula.com.br/cursos/cee042/galeria/aula3/docs/concordancia_su- miu_ou_evoluiu.pdf 104UNIDADE IV Estruturação Sintática II MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Linguística Aplicada ao Português: Sintaxe Autores: Ingedore G. Villaça Kock e Maria Cecília de Souza e Silva Editora: Cortez Sinopse: Este livro, das escritoras Ingedore G. Villaça Kock e Maria Cecília de Souza e Silva, reconhecidas escritoras da área da linguística, apresenta a descrição das sintáticas do português, procedendo à operacionalização para o ensino dos conceitos da teoria linguística e gramática gerativa transformacional. Um estudo dos principais aspectos da sintaxe portuguesa - enfocados, também, sob o prisma da gramática tradicional. FILME/VÍDEO Título: Português, a língua da Brasil Ano: 2007 Sinopse: O documentário apresenta depoimentos de 16 Acadêmicos, membros da Academia Brasileira de Letras, sobre o atual estado da Língua Portuguesa. A nossa realidade idiomática é mostrada com as cores do Brasil na experiência personalíssima de cada Acadêmico. O diretor escolheu como cenário a Casa de Machado de Assis que, simbolicamente, representa a Casa da Língua Portuguesa. No documentário, os depoimentos se sucedem, registrados sempre com a presença do próprio Nelson, o grande anfitrião deste encontro de notáveis. Link: https://www.youtube.com/watch?v=-bbT7QmdNSE 105 REFERÊNCIAS ANTUNES, I. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola, 2003. ARAÚJO, G. A. de (Org.). O acento em português – abordagens fonológicas. São Paulo: Parábola, 2007. ARAÚJO, P. Â.; CORÔA, W. Noam Chomsky e o funcionamento da linguagem: menos é mais! 2020. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/linguistica/2020/01/10/noam- -chomsky-e-o-funcionamento-da-linguagem-menos-e-mais/. Acesso em: 10 jul. 2020. BAGNO, M. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 15. ed. São Paulo: Loyola, 1999. BARROS, D. L. P. de. Teoria semiótica do texto. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008. BARROS, D. L. P. de. Teoria semiótica do texto. 4. ed. São Paulo: Ática, 2008. BATISTA, R. O. Em busca de uma história a ser contada: a recepção brasileira à gra- mática gerativa. 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Na unidade II foram tecidas também considerações sobre a gramática gerativa e suas características. Vimos a linguística enquanto ciência cognitiva, seus principais representantes e como se pautaram os estudos baseados nos conceitos e concepções gerativistas. Na unidade III conhecemos as características da semântica, bem como os conceitos de formal e informal e observamos quais são as propriedades da morfologia e sintaxe para sabermos como o estudo da língua se dá. Conhecemos também questões de estilística e variações linguísticas, a definição de cada uma delas e como elas ocorrem de fato. Para encerrar, na unidade IV, vimos os conceitos de Fonologia e Fonética, além das características vimos quais são os elementos que são estudados por elas. Os processos fonológicos também foram abordados nessa unidade, bem como o alfabeto internacional de transcrições fonética e fonológicas explicando suas classificações e um exemplo da transcrição. Finalizamos nossa unidade com o Sistema ortográfico vigente e como tudo ocorreu até que chegássemos nos dias atuais. A linguística é uma ciência viva que estuda a língua em suas mais variadas vertentes, e mesmo que haja descobertas recentes e maneiras distintas de aplicá-la, fica evidente que não há uma norma fechada e uma verdade absoluta quando se trata do estudo de algo que é social. A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente e aplicar a gramática de forma eficiente e real, que é o que podemos chamar de semantização da gramática na prática. Até uma próxima oportunidade. Muito obrigada! UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica UNIDADE III Estruturação Sintática I UNIDADE IV Estruturação Sintática IIcadeira pertence a um outro grupo de léxicos, ou seja, pertence a outro conjunto de palavras, como mesa, brinquedo, cama e assim por diante, que vão se estruturar com um sufixo diferente. A mesma competência linguística que temos para organizar as palavras em grupos também nos indica que os enunciados que formamos, não são apenas uma ordenação sequencial e fechada de léxicos. Isso é perceptível quando nos damos conta que sabemos, ainda se não tivéssemos uma educação formal da língua, que a sequência: menina patinete a do caiu não pertence a nossa língua, da mesma maneira, sabemos que para termos enunciados da língua portuguesa, considerando as mesmas palavras, é necessário fazermos combinações, tais como: combinar a mais menina, do mais patinete, caiu mais do patinete, para, só então, combinar a menina mais caiu do patinete. O que mostra uma hierarquia, no que se refere a estrutura de uma frase, e a sua não linearidade. Igualmente, a nossa competência linguística nos mostra que uma frase pode se formar a partir de espécies distintas de léxicos. Temos aqueles que demandam elementos particulares que devem atendê-los e, por outro lado, temos aqueles que se bastam ao atender aqueles que os demandam. Pensemos, para exemplificar na seguinte sentença: A Maria construiu uma maquete. Espontaneamente, sabemos que o verbo construiu é um léxico da espécie que demanda – ele exige a presença de outros. Para que o verbo “construir” se estabeleça em uma frase, ele precisa de dois léxicos: um que responda qual foi o objeto construído e outro que mostre quem é que o construiu. Poderíamos comprovar isso se alguém estabelecesse 14UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade um diálogo, começando apenas com a palavra “construiu”, as perguntas: quem construiu? Construiu o quê?, apareceriam de forma automática. Essas perguntas pedem, de forma indireta, que o nosso interlocutor reconstrua a frase, dando, ao verbo “construir”, as demandas necessárias para se estabelecer. Já, considerando a mesma sentença, as construções A Maria e uma maquete pertencem àquelas espécies de léxicos que existem para servir, ou sejam, para responderem as demandas de outras expressões ou léxicos. Considerando todas as colocações deste subtópico, entendemos que a nossa competência linguística é uma grande aliada quando o assunto é sintaxe, pois ela é capaz de nos orientar no trabalho de análise da estrutura das frases de nossa língua. De acordo com Negrão, Scher e Violli (2004, p. 106), todo falante tem um conhecimento linguístico, baseado no tripé: I- Sabermos organizar os itens lexicais em categorias gramaticais, estabelecidas de acordo com as características morfológicas, distribucionais e semânticas por eles exibidas; II- Sabermos que a sentença resulta da projeção dessas categorias em constituintes hierarquicamente estruturados, fazendo com que ela não seja apenas uma seqüencia linear de itens lexicais; III- Sabermos que esses constituintes se organizam a partir de um núcleo cujas exigências sintáticas e semânticas devem ser satisfeitas pelos elementos que vão compor com ele (NEGRÃO; SCHER; VIOLLI, 2004, p. 106). Desse modo, para entender a estrutura de uma frase, como as palavras se organizam dentro de uma sentença, requer, em um primeiro momento, considerar esse conhecimento linguístico de qualquer falante da língua, ou seja, para iniciarmos os estudos sintáticos não podemos desconsiderar as competências inatas do falante da língua em questão. 15UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 2. O PAPEL DA SINTAXE E DA MORFOLOGIA NA FORMAÇÃO E SUAS DIFICULDADES NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Não é de hoje que os estudiosos da língua aceitam como verdade a premissa de que a linguagem é articulada. Haja vista que a palavra “articulada” deriva, de acordo com Martelotta (2008, online, grifos do autor), “[...] do diminutivo articulus do latim artus (que significa ‘articulações dos ossos’, ‘membros do corpo’) Assim, ‘articulado’ significa ‘constituído de membros ou partes’”. E essa é uma das características essenciais da linguagem humana, considerada um aspecto fundamental para a diferenciação entre ela e a comunicação animal. Nesse sentido, podemos dizer que os enunciados produzidos em uma determinada língua não se apresentam como uma totalidade. Longe disso, a língua é divisível e pode ser separada em unidades menores, visto que, constitui-se da união de elementos, os quais podem ser encontrados em outros enunciados. Observe abaixo uma possível sentença em Língua Portuguesa: A sentença apresentada, como em qualquer outra língua, é passível de divisão. Pensando em unidades menores, podemos dividi-la, por exemplo, em cinco partes: Os estudantes ouvem músicas clássicas. Os/ estudantes/ ouvem/ músicas/ clássicas. 16UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Com isso podemos afirmar que, para formularmos sentenças, precisamos recorrer, em um primeiro momento, à nossa memória para selecionar, entre os vocábulos retidos durante toda a nossa vivência, aqueles que melhor expressará, no contexto em que nos encontramos, o efeito de sentido desejável, isto é, é necessário que consideremos os significados de cada palavra e também devemos, em um segundo momento, articular esses vocábulos de acordo com as regras de formação da língua. Isso significa que cada um desses vocábulos funciona de forma autônoma, sendo possível ser inserido em sentenças diferentes, conforme as escolhas que fazemos. Contudo, é preciso dizer que cada um desses vocábulos é formado por unidades menores, unidades morfológicas. Vamos visualizar isso a partir da mesma sentença utilizada anteriormente: O/s estudante/s ouve/m música/s clássica/s. Nas quatro palavras da sentença acima podemos notar uma oposição quando separamos o morfema “s” da palavra estudantes, por exemplo. Essa retirada traz consequências no valor do vocábulo que ao perder a marcação do plural – s – passa a ser singular. Parece óbvio esse processo da língua, contudo, muitas vezes não nos damos conta que esse e muitos outros morfemas – unidades menores da palavra – ao serem acrescentados ou suprimidos dão informações essenciais para que possamos alcançar o sentido final da palavra ou ainda da sua estrutura gramatical. Entendemos por morfemas os radicais, os prefixos, os sufixos, as vogais temáticas e todas as outras unidades menores constituídas de um significado que podem formar uma palavra. Agora conseguimos voltar no início do nosso tópico e entender que realmente a linguagem é articulada, pois constatamos que ela é formada a partir da união de unidades menores. E essa articulação, que existe em todas as línguas do mundo, não foi inventada, há um motivo de ser assim: segundo Martellota (2008, online), “é aquela que melhor se adapta às necessidades comunicativas humanas, permitindo que se transmita mais informação com menos esforço”. Nesse sentido, podemos compreender que o papel da sintaxe e da morfologia é de extrema importância na nossa formação, pois, ao entendermos as articulações da língua, os significados que a palavra assume ao ser colocada em um período e o significado que é dado à palavra ao construí-la, a partir dos morfemas, estaremos fazendo o bom uso da língua portuguesa, de forma consciente, além de sermos capazes de atribuir o significado esperado, sem erros, em cada momento de comunicação. 17UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 2.1 Problemas relacionados à aprendizagem É necessário termos consciência de que, a língua escrita não deve ser arquétipo para a língua falada, o que pode ser verificado no meio em que v ivemos, trabalhamos, estudamos, enfim, em qualquer esfera de comunicação é perceptível que não é possível utilizar o texto escrito em uma comunicação oral de maneira natural. Isso porque, historicamente, a língua falada vem e sempre virá antes da língua escrita, independente da sociedade, o que pode ser verificado,como dito anteriormente, desde o seu uso efetivo – social – até a sua organização. Desse modo, ao abordar a Língua Portuguesa unicamente sob o ponto de vista da gramática normativa, pode-se provocar uma gama de conceitos falsos, além de preconceitos que estão sempre em discussão na área de estudo em discussão. Sabemos também que as línguas naturais, sem exceção, possuem todos os aspectos necessários para oferecer aos seus usuários uma comunicação completa e sem nenhum problema. Consequentemente, podemos afirmar que não existe uma língua melhor que a outra, uma mais objetiva ou, ainda, uma mais rica e uma mais pobre, dado que se tem uma língua que possui menos vocabulário, isso quer dizer que seus falantes não precisam de mais palavras que as existentes para ter uma boa comunicação, pois se precisassem, sem sombra de dúvidas, seus falantes seriam levados a criá-las. O fato é que, indiferente da perspectiva que seja olhada a língua, seja a partir da fonologia, da sintaxe ou da morfologia, o estudioso da linguagem sempre constatará que não há entre as línguas uma comparação entre a melhor ou a pior, elas são apenas diferentes. Muito menos se chegará ao consenso de que elas não evoluem, ou seja, que são “atrasadas”. De acordo com Fiorin (2004, p.7), Todas as línguas até hoje estudadas constituem um sistema de comunicação estruturado, complexo e altamente desenvolvido. Nenhum traço da estrutura linguística pode ser atribuído a um reflexo da estrutura diferenciada de uma sociedade agrícola ou de uma sociedade moderna industrializada. E isso levou os pesquisadores a diferenciar, sempre mais e mais, o conhecimento científico da linguagem e a determinação de sua norma, pois a linguística, ao se aprofundar nas modificações da língua, percebeu que essas eram decorrentes da fala popular, dessa maneira, o que em um dado momento era considerado errado, em um tempo futuro era considerado correto. Nessa perspectiva é imprescindível a sensibilidade quando voltamos o nosso olhar para a aprendizagem que decorre da morfossintaxe, visto que não se pode entender em 18UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade uma determinada análise apenas os enunciados tidos como “corretos”. É necessário observar atentamente as constante transformação e adaptação da língua, e lembrarmos que esta é um organismo vivo em constante transformação. Nessa perspectiva, um estudioso da linguagem deve estar sempre atento para as manifestações linguísticas, pois como colocado em momento anterior, uma expressão observada hoje como incorreta, amanhã pode vir a ser aceita, desde que utilizada pelos falantes daquela língua, o que não impede que a descrição desse organismo vivo seja feita de forma a compreender seu funcionamento no que tange a estrutura frásica, os morfemas, os fonemas e, ainda, as regras que admitem a combinação desses vocábulos. 19UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 3. OS ASPECTOS DA MORFOLOGIA E DA SINTAXE 3.1 Morfologia Entre os assuntos mais polêmicos da área da linguística está a morfologia. Os estudiosos da língua, ao discutirem o assunto, se agitam ao se posicionarem quanto a essa ciência. Muitos veem na morfologia o principal aspecto da gramática, outros descartam, sem nenhuma ponderação, a morfologia na constituição de uma teoria gramatical. De qualquer maneira, é necessário entendermos onde a morfologia se encaixa no engendramento da língua, assim, neste tópico objetivamos fazer uma discussão introdutória dos aspectos morfológicos. Em outros pontos desta unidade, vimos que a morfologia é definida como o artefato da gramática responsável pela estrutura interna das palavras. Mas... o que é palavra? Bom, é um consenso entre todos, seja linguista ou não, que a palavra existe, contudo, é bem complicado definir o que é palavra. Podemos partir da necessidade que a linguística, assim como qualquer outra ciência, tinha de definir suas unidades de estudo. Contudo, temos outros pontos que devem ser considerados, veja só: nós temos no mundo desde línguas isoladas até línguas polissintéticas, a primeira carrega apenas um significado; já a segunda, certas sequências de sons, entendidas por seus falantes como palavras, carregam significados traduzidos por frases, ou seja, a palavra é formada por um número tão grande de morfemas que a complexidade pode ser comparada a de frases completas. 20UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Devemos ainda ponderar que critérios semânticos também não são suficientes para definir uma palavra em língua portuguesa, como podemos ter certeza que construtor e aquele que constrói são palavra do português? As duas expressões tem o mesmo valor semântico, isto é, o mesmo significado. Diante disso, se o nosso critério fosse o sentido, teríamos que colocar as duas expressões na mesma classe de palavras. Porém, como visto anteriormente, a nossa competência linguística, de falantes do português, nos indica que a primeira expressão – construtor – é uma palavra e a segunda – aquele que constrói – é uma frase. Desse modo, os pesquisadores da língua preferem definir a palavra a partir de aspectos sintáticos, pois estes funcionam independente da língua. Assim, nas palavras de Sandalo (2006, p. 182), “Uma sequência de sons somente pode ser definida como uma palavra se (i) puder ser usada como resposta mínima a uma pergunta e se (ii) puder ser usada em várias posições sintáticas”. Vejamos um exemplo para compreender o que se propõe, considere: a) O que Joana comprou no mercado ontem? Laranjas. b) Joana comprou laranjas no mercado ontem. c) Laranjas foi o que Joana comprou no mercado ontem. Perceba que em (a) a palavra laranjas cabe como o objeto da frase e em (c) cabe como sujeito. Dessa maneira, a sequência de sons laranjas pode aparecer em várias posições sintáticas, portanto, é uma palavra. Assim, entendido o que é palavra, temos a unidade máxima da morfologia. E os elementos mínimos? Os elementos mínimos da morfologia se inscrevem no significado, são eles que nos permite ter o sentido de palavras que nunca ouvimos. Podemos citar como exemplo a palavra nacionalização; se nos encontrássemos diante dessa palavra pela primeira vez, poderíamos compreender o seu significado a partir do entendimento do significado da palavra nação e dos elementos que derivam novas palavras em português: al, como elemento que transforma um substantivo em adjetivo, izar como transformador de um adjetivo em verbo, e ção como transformador de verbo em substantivo. De tal modo, ao acrescentarmos à palavra nação a expressão al temos a palavra nacional - um adjetivo -, ao acrescentarmos o sufixo -izar à palavra nacional temos a palavra nacionalizar -um verbo - e, por fim, ao acrescentarmos à palavra nacionalizar o sufixo -ção temos a palavra nacionalização, um substantivo. 21UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Nessa perspectiva, entendemos a palavra nacionalização como o ato de nacionalizar e, como pudemos perceber, seu significado é derivado de outros significados, das partes que compõe a palavra, sendo que essas partes, responsáveis por trazer significados e compor a palavra são conhecidos como morfemas, as unidades mínimas da Morfologia. Com isso, concluímos que a parte da gramática que estuda a palavra, a Morfologia, tem a unidade máxima, que é a palavra, mas também tem a unidade mínima, e isso muitas vezes é esquecido pelos estudiosos, é necessário entendermos que há dentro dessa perspectiva os morfemas, que muito dizem quanto à construção das palavras. Nesse sentido, a Morfologia não estuda apenas a palavra, mas sim a estrutura da palavra, seu estudo se volta para a sua formação e seus mecanismos de flexão, sendo o objeto de estudo as classes gramaticais, as quais estudaremos mais detalhadamente nos próximos capítulos. 3.2 Sintaxe Compreender a sintaxe não é uma tarefa muito fácil, visto ser uma das partes mais objetivas e lógicasda língua portuguesa. Como observado em outros momentos deste capítulo, a sintaxe não se ocupará dos sons das palavras, ou dos pedacinhos das palavras (morfemas), menos ainda dos sentidos das palavras. A sintaxe é a responsável por entender a ordenação e a organização das palavras dentro das frases, ou seja, ela é quem vai nos ajudar a entender as regras que utilizamos (conscientemente ou não) para formar uma sentença quando falamos ou escrevemos. É interessante observarmos que, apesar de alguns estudiosos separarem as partes da gramática tradicional, tantas vezes é necessário à sintaxe recorrer aos aspectos fonológicos e morfológicos da língua para tentar explicar alguns fenômenos dentro da sintaxe, desse modo, é importante termos consciência de que esses aspectos podem estar relacionados entre si. A título de curiosidade, isso fez com que alguns estudiosos propusessem um estudo que contemplasse o todo da gramática, ou seja, que olhasse para tudo de uma só vez, um estudo conhecido como “estudos interfaciais”. De qualquer modo, as sentenças que utilizamos para nos comunicarmos seguem regras, como colocado anteriormente, e elas precisam ser bem definidas, para tanto, utilizamos de critérios. Critério é entendido aqui como um padrão, uma referência, uma forma fixa de ver as coisas, de analisar uma frase, por exemplo. Na mesma direção, Ferrarezi Junior (2012, online) defende que “Usar um critério para analisar uma parte da língua é escolher uma forma de ver essa parte e, então, usar 22UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade sempre essa mesma forma de ver para as mesmas coisas que se analisa”. Nessa direção, para compreendermos a sintaxe é necessário termos bem definidos os critérios morfológicos, é preciso saber o que é substantivo, advérbio, adjetivo, verbo, preposição, entre outros, para então compreendermos o que é sujeito, adjunto adnominal, predicado, objeto direto, objeto indireto e assim por diante. Observemos, no quadro abaixo, como os critérios são estabelecidos em uma frase na ordem da morfologia e na ordem da sintaxe: QUADRO 3.1 – MORFOLOGIA & SINTAXE Fonte: a autora. Assim, sem conhecer as interfaces da morfologia é praticamente impossível entender as relações que elas estabelecem dentro de uma frase e a sua funcionalidade, ou seja, seu papel dentro da sintaxe. Como dito anteriormente, todas as línguas possuem um amplo vocabulário, além de regras responsáveis por determinar o modo como esses vocabulários podem se combinar para construir enunciados, objeto de estudo da sintaxe. Assim, a sintaxe ordena os elementos linguísticos, que um usuário de uma língua utiliza, para que se estabeleça sentenças plenas de sentido. Sabe-se que não existe apenas uma forma de organização das palavras em uma sentença, porém, o fato de cada língua ter uma sintaxe própria impede que construamos sentenças com vocabulários aleatórios. Observe: A GAROTA OBEDECE À MÃE. ANÁLISE MORFOLÓGICA ANÁLISE SINTÁTICA A – Artigo definido feminino A – Adjunto adnominal GAROTA – Substantivo comum, simples, concreto, feminino, singular. A GAROTA – Sujeito simples OBEDECE – Verbo obedecer, segunda conjugação. GAROTA - núcleo do sujeito simples. À - Combinação entre “a” artigo feminino + “a” preposição. OBEDECE À MÃE - predicado verbal MÃE – Substantivo simples, comum, singular À MÃE - predicado verbal 23UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade a) Próxima semana, Ana irá para o exterior. b) Ana irá para o exterior próxima semana. c) Ana irá, próxima semana, para o exterior. d) Para o exterior, Ana irá próxima semana. Podemos perceber, com os exemplos acima, que, ainda que tenhamos combinado de formas diferentes as palavras, o sentido foi preservado e continua compreensível, o que nos permite verificar como a sintaxe organiza as estruturas da língua, determinando as possibilidades de combinação de modo a preservar o sentido. Para que essas possibilidades possam acontecer, a sintaxe classifica todos os elementos presentes em uma sentença e os divide em grupos maiores. Os grupos se dividem em: grupo de termos essenciais, grupo de termos integrantes, e o grupo dos termos acessórios, aqueles que não são essenciais para uma oração. Se encaixam neste grupo o aposto, o vocativo, os adjuntos adverbial e adnominal; já no grupo de termos integrantes temos o complemento verbal, complemento nominal e o agente da passiva; e temos como termos essenciais o sujeito e o predicado. Além dessa classificação dos termos em grupos diferentes, é preciso lembrarmos que há um lugar em que esses termos precisam estar para serem analisados, é aí que entram os elementos da sintaxe, que pode ser uma frase, uma oração ou um período. Dessa maneira, a sintaxe se organiza de tal forma que é capaz de oferecer uma análise sintática completa. Cada um desses termos será explorado posteriormente para uma completa compreensão, o objetivo aqui é mostrar que apenas a nomenclatura correspondente – morfologia & sintaxe, não é suficiente para explorar esse campo da linguística. É necessário, sim, compreender uma para compreender a outra, mas a relação que a sintaxe estabelece com a linguagem vai muito além do simples nomear, há uma funcionalidade necessária para que ela se estabeleça em sua completude. 24UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade 4. O FUNCIONAMENTO DA ANÁLISE SINTÁTICA No tópico anterior discutimos alguns aspectos importantes da sintaxe, vimos que, para que trabalhe, ela separa os termos que se encontram dentro de um determinado elemento, em grupos, sendo que esses elementos, os quais correspondem ao lugar onde as palavras se encontram, podem estar no nível da frase, da oração ou de um período. Desse modo, é importante termos bem definido o que são esses três níveis, ou seja, entenderemos agora as especificidades da frase, da oração e do período. 4.1 - Período, oração e frase De acordo com Bechara (2010), a frase pode ser classificada como a estrutura mais abrangente, visto que ela se encaixa em vários segmentos, ela pode representar uma parcela de um enunciado, uma expressão, uma fração da fala e assim por diante. Porém, é preciso ter cuidado, pois ainda que a frase se encaixe em porções menores da linguagem, para que se constitua precisa ter sentido completo. Assim, podemos dizer que a frase é a unidade mínima do discurso, contudo plena de sentido. É importante salientar que na construção de uma frase, seja na linguagem oral seja na linguagem escrita, o significado de sua estrutura pode depender de outros fatores. Dessa maneira, pode depender de algo já dito em outro momento, do contexto, das informações anteriores a que ela se refere etc. 25UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Para melhor compreensão, observe o diagrama abaixo: DIAGRAMA 4.1 - FRASES Fonte: a autora Dito isso, é possível afirmar que a frase pode ser constituída por apenas uma palavra, exemplo: Socorro! Perceba que a frase acima é plena de sentido e não precisa de um verbo para alcançar um significado. Poderíamos definir a frase a partir de alguns aspectos, por exemplo, a letra maiúscula no início e os sinais de pontuação no final, mas isso limitaria os aspectos, recusando pontos importantes para o seu sentido, como o contexto. A frase utilizada acima poderia ter sido inserida em vários contextos: chamar alguém que atende pelo nome Socorro, pedir ajuda por algum motivo, ser usada em algum momento para expressar ironia e assim por diante. Isso refletirá de forma única no seu sentido. Nesse sentido, temos a unidade da fala representada por uma única palavra, mas a frase também poderia ser formada por mais termos. Vejamos: A viagem durou 3 semanas. No exemplo anterior temos a presença de um verbo para formar a frase, mas isso não é obrigatório. Observe: Que calor! Diante desses exemplos, compreendemos que uma frase pode conter um verbo, esta se classifica como frase oracional ou verbal, ou pode não conterum verbo, esta se classifica como frase nominal. Reiteramos que as marcas gráficas de uma frase não são as únicas que as define, é preciso dizer ainda, que a frase é marcada, também, pela entonação, ou seja, pela melodia que marca o fim da enunciação. Frase Nominal Sem verbo Oracional Com verbo 26UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade A oração, por sua vez, é marcada sempre pela presença de um verbo e, assim como a frase, pelo seu sentido completo. A presença do verbo, em especial, é uma característica importante, que nos ajuda a marcar a diferença entre frase e oração. O objetivo dessa unidade linguística da oração é de expressar algo sobre um determinado sujeito. Desse modo, frequentemente apresenta um substantivo (nome) a que se refere e com o qual o verbo deve concordar, assim, temos uma estrutura binária constituída por: sujeito + predicado. Vejamos: Podemos ainda dizer que em um período pode haver diferentes orações, desde que tenha sentido completo, mas atenção: nem todas as frases são oracionais. Essas orações são denominadas orações independentes. Exemplo: Temos no exemplo acima três orações independentes, visto que cada verbo tem por si só um sentido completo. Portanto, uma oração tem por objetivo expressar um conceito sobre um sujeito. Agora, observe: Maria terminou a carta. Sujeito Predicado Cheguei, vi e venci. Cheguei, vi e venci. No exemplo anterior temos um período composto, visto que há a presença de mais de uma oração. O período, por sua vez, é constituído por mais de uma oração, assim, é uma estrutura sintática composta por uma oração basilar aumentada por outras formações oracionais. Portanto, um período é um enunciado de sentido completo, composto por uma ou mais orações e marcado por uma pausa definida pela entonação na fala e por pontos na escrita. Nessa direção temos dois tipos de períodos o simples e o composto, o primeiro é estruturado apenas com uma oração, denominada absoluta. Observe: A revista chegou tarde. No período acima temos apenas um verbo, que marca a presença de apenas uma oração. Desse modo temos neste exemplo um período simples. 27UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Percebemos, ao chegar neste ponto, que frase, oração e período estão ligados entre si, assim como tudo na língua. Assim, observe o esquema abaixo para compreender a hierarquia e onde cada conceito desses se encaixa: DIAGRAMA 4.2 – HIERARQUIA DE UMA SENTENÇA Fonte: a autora. 4.2 A estrutura sintagmática do português Desde o início desta unidade discutimos sobre o objeto de estudo da sintaxe ser a sentença. Porém, não discutimos ainda sobre essas sentenças, as quais são constituídas por unidades menores, conhecidas na sintaxe como sintagmas. E é exatamente as estruturas sintagmáticas que vamos abordar agora. O sintagma é demarcado por elementos que constituem uma unidade significativa, dentro de uma oração. Esses elementos mantêm relações de dependência entre si e uma determinada ordenação, organizados em torno de um elemento fundamental, que chama-mos de núcleo. Isto é, o eixo sintagmático abrange as combinações possíveis das palavras, as quais têm suas funções determinadas, de acordo com o que é estabelecido entre eles. Desse modo, a análise sintática considera a percepção e a classificação dos sintagmas através de sua composição. Observe: a) O cachorro mordeu o gato. b) O gato comeu o passarinho. c) Mary é um gato. Se pensarmos nas palavras gato, passarinho, mulher, mesa e assim por diante, no eixo da morfossintaxe, teremos uma só definição, afinal são todos nomes, ou seja, substantivo Período Frase oracional Simples Oração absoluta Composta Coordenação Subordinação Mista: coordenação e subordinação 28UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade Agora, ao virarmos para a análise sintática, percebemos que quando selecionamos uma dessas palavras, como por exemplo passarinho, é que temos estabelecida a função da palavra. Desse modo, podemos inferir que é na relação com outros sintagmas de uma determinada frase, na cadeia sintagmática, que vamos conseguir definir a função de cada palavra. Se olharmos para a palavra gato nos exemplos anteriores, perceberemos que cada um tem uma função quando pensamos no eixo sintático. Na primeira sentença (a), o termo gato está funcionando como objeto, já que se encontra depois do verbo. No segundo exemplo (b), o mesmo sintagma passa a cumprir outra função: a de sujeito, antecedendo o verbo e ao se associar com o artigo o. Já na terceira sentença (c), o sintagma gato em conjunto com o artigo um, desempenha a função de predicativo. O que isso quer dizer? Isso quer dizer que quando a palavra gato aparece sozinho, de forma isolada, ele pode exercer diferentes funções. Porém, na relação sintagmática, ao olharmos a posição que cada termo ocupa dentro da sentença teremos a função exata de cada um. Nessa perspectiva, os sintagmas apresentam uma certa composição: dois elementos sucessivos, sendo que um desses elementos é o principal e o outro; e o subordinado, aquele que depende do principal para funcionar. Esses elementos, respectivamente, também aparecem na literatura com as nomenclaturas determinadas e determinantes. Continuemos com os exemplos dados anteriormente: na constituição do sintagma o gato, o elemento principal, isto é, o determinado é gato e o elemento subordinado, ou seja, o determinante é o o. Diante disso, no sintagma básico temos o sujeito e o predicado, sendo que o termo determinado é o verbo e o que vai determinar é o sujeito, assim, sintagma é a combinação das partes mínimas da unidade linguística, a qual é perceptível pela linearidade das pala-vras. Segundo Saussure (2006), há diferentes tipos de construções, porém, com uma certa hierarquia entre elas. Temos então: ● Sintagma morfossintático: que é a combinação dos morfemas em uma palavra. Exemplos: re-tra-tar, chá-l-eira. ● Sintagma suboracional: que é a combinação das palavras que formam um membro oracional. Exemplos: Boa tarde, leite azedo. ● Sintagma oracional: composto por uma oração. Exemplo: A menina é esperta. 29UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade ● Sintagma superoracional: composto por duas ou mais orações. Exemplo: Se fizer bom tempo, vou sair. Portanto, chamamos de sintagmas a combinação dos elementos que se estabelecem um após o outro, criando uma linearidade, tanto na oralidade como na escrita. Assim, podemos concluir que o sintagma só é capaz de exercer sua funcionalidade se houver uma composição entre os termos que antecedem ou seguem um termo principal. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito dos sintagmas, considere a leitura do arquivo Tipos de sintagmas e representações arbóreas, que apresenta, de maneira resumida e didática, os tipos de sintagmas e as suas respectivas construções em esquemas arbóreos, facilitando a leitura da composição de cada um dos tipos de sintagmas. Disponível em: Fonte: SANTOS, Saulo. Tipos De Sintagmas E Representações Arbóreas. 2018.UFMG: Belo Hori- zonte. Disponível em: https://grad.letras.ufmg.br/arquivos/monitoria/20180523%20-%20Sintaxe%20-%20 Aula%2003%20-%20Tipos%20de%20sintagma%20e%20Representações%20arbóreas.pdf. Acesso em: 09 out. 2020. REFLITA “A linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua encerada em si mesma e por si mesma.” (Ferdinand de Saussure, 1978). 30UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno (a), Percebemos, no decorrer desta unidade, que os estudos da morfossintaxe vão além da compreensão do processo de formação das palavras, ela nos traz as funcionalidades das palavras dentro de uma sentença, ou seja, a funcionalidade da língua, seja ela estabelecida na oralidade ou na escrita. E isso pode nos auxiliar nas relações que criamos com o outro, afinal só assim alcançaremos um saber qualificado e consolidado, a respeito da estrutura da língua e também do seu uso real, doseu funcionamento no cotidiano. Assim, pudemos observar que para compreendermos a sintaxe é necessário termos bem definidos os critérios morfológicos, ou seja, esses dois aspectos da gramática estão relacionados, assim como tudo na língua. Tivemos, ainda, a oportunidade de refletir sobre o modo como um estudioso da lin-guagem deve estar sempre atento para as manifestações linguísticas, pois uma expressão observada hoje como incorreta, amanhã pode vir a ser aceita, desde que utilizada pelos falantes daquela língua, o que demandará dos seus estudiosos esforços para entendê-la e encaixá-la dentro dos aspectos morfológicos e sintáticos, isto é, no funcionamento da língua. 31UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade LEITURA COMPLEMENTAR Caro aluno, Sugerimos a leitura do artigo O DESENVOLVIMENTO DA LINGÜÍSTICA TEXTUAL NO BRASIL, de Ingedore Villaça Koch, uma autora muito reconhecida na área da linguagem, que, com esse artigo, nos ajuda a entender melhor o processo histórico de constituição da linguística como ciência no contexto em que vivemos. Tenha uma ótima leitura! O artigo está disponível em: https://www.scielo.br/pdf/delta/v15nspe/4015.pdf. 32UNIDADE I Conceitos e Aplicabilidade MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Prática de Morfossintaxe Autora: Inez Sautchuk Ano: 2010 Editora: MANOLE Assunto: Comunicação e Linguística Sinopse: No livro Prática de Morfossintaxe, a autora Inez Saut- chuk associa conhecimento linguístico e experiência didática para revelar uma metodologia de ensino de morfossintaxe possível de ser adaptada a qualquer grau de aprendizagem. Com esse objetivo, ao mesmo tempo em que desenvolve aspectos teóricos, sinaliza abordagens mais práticas para o ensino da sintaxe da língua portuguesa. Convicta de que o domínio sintático funciona como o eixo disciplinador da qualidade de construção linguística dos enunciados, a autora pretende mostrar que este é um bom caminho para resolver um dos problemas mais sérios da expres- são escrita: a falta de clareza. Prática de Morfossintaxe foi escrito, sobretudo, para universitários da área de Letras e professores das escolas de ensino fundamental e médio. FILME/VÍDEO Título: Línguas: Vidas em Português Diretor: Victor Lopes Produtora: Paris Filmes Ano: 2004 Sinopse: Co-produção entre Brasil e Portugal, o documentário Língua — Vidas em Português conta a história desse idioma que embala as vidas de mais de duzentas milhões de pessoas ao redor do mundo. Poemas escritos, paixões declaradas, desavenças reveladas, se- gredos descobertos, músicas compostas, piadas declamadas… A Língua Portuguesa acompanha o cotidiano de pessoas no Brasil, em Portugal, em Cabo Verde, no Japão, na França, na Índia, nos Estados Unidos, Moçambique, Angola, entre tantos outros lugares. Não somente como língua oficial, o Português foi uma língua am- plamente difundida pelo mundo durante as Grandes Navegações. Como resultado, muitos falantes nativos do português fizeram de outros países o seu novo lar. Para retratar tudo isso, além de personagens anônimos, o do- cumentário também conta com a participação especial de José Saramago, João Ubaldo, Martinho da Vila, Mia Couto e Teresa Salgueiro para trazer um embasamento mais aprofundado com- partilhado por pessoas que fizeram da convivência com a Língua Portuguesa o seu modo de viver. Língua — Vidas em Português mostra nosso idioma falado em vários cantos do mundo, permitindo que conheçamos as peculia- ridades de cada grupo de falantes e as formas com que o idioma se adapta e evolui. 33 Plano de Estudo: ● A estrutura da palavra; ● A formação das palavras; ● Origem do português brasileiro; ● A nova ortografia da língua portuguesa. Objetivos da Aprendizagem: ● Entender como as palavras se estruturam; ● Compreender como ocorre a formação das palavras; ● Conhecer a construção histórica da língua portuguesa; ● Decifrar o novo acordo ortográfico. UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Professora Mestra Maraisa Daiana da Silva 34UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica INTRODUÇÃO Seja muito bem-vindo (a) a mais esta etapa. Na nossa língua oficial - na língua portuguesa - há incontáveis palavras que têm características muito parecidas, essas, muitas vezes, pertencem inclusive ao mesmo campo semântico, ou seja, carregam o mesmo sentido. Ainda assim, com todas essas características, devemos nos atentar as suas formas, pois tais vocábulos, com pequenas mutações, acréscimos, substituições ou reduções, podem transitar de uma classe gramatical a outra, sem muita alteração em sua forma. Nesse sentido, a morfologia nos auxilia a entender todas essas transformações da palavra, afinal, a morfologia é a responsável por entender como a palavra se estrutura e se forma, além de olhar de maneira particular para a palavra, de modo isolado, suprimindo o seu funcionamento dentro de uma frase ou período. Devido a essa necessidade de entender o funcionamento da nossa língua, partindo de unidades mínimas, nesta unidade, juntos, iremos compreender quais são efetivamente essas unidades mínimas, como elas funcionam na estruturação das palavras e na sua formação. Além disso, vamos discutir um pouquinho sobre a história da língua portuguesa, mas não só da língua portuguesa, falaremos da língua portuguesa brasileira. Afinal de contas, não é possível falar da origem da nossa língua, sem entender o que aconteceu aqui no nosso país. Veremos que, ainda que a língua portuguesa tenha chegado às nossas terras em nome dos portugueses, os agentes que realmente fizeram a língua portuguesa disparar no território brasileiro foram os índios, crioulos e mestiços, ou seja, falantes de português, contudo não do português de Portugal, mas sim um português entranhado de influências indígenas e africanas, por isso temos uma herança linguística tão rica e bonita. Abordaremos ainda o resultado do acordo que tivemos entre os países que tem a língua portuguesa como oficial, veremos que houve uma reforma nas regras de escrita da nossa língua, com as quais devemos saber fazer uso, diante disso, passaremos pelas principais mudanças que ocorreram com a reforma ortográfica da língua brasileira. 35UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Esta será uma etapa de muito aprendizado e, principalmente, de muitas reflexões. Dessa maneira, convido você a encarar junto comigo a aventura que é desvendar a língua portuguesa a partir da sua estrutura mínima e da sua formação, além de entender como ela nasceu e se difundiu no nosso país. Desejo bons e produtivos estudos! 36UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 1. A ESTRUTURA DA PALAVRA A parte da gramática responsável por estudar a estrutura das palavras é a morfologia, e, como já sabemos, ela se individualiza ao olhar para o vocábulo de forma isolada, desconsiderando o seu funcionamento dentro de uma frase ou período. Nessa mesma direção, sabemos também que há na língua portuguesa inúmeras palavras que têm suas formas parecidas, as quais, muitas vezes, concernem no mesmo campo semântico; contudo, é preciso destacar que, dependendo da forma em que variam, podem receber classificações morfológicas bem diferentes. Neste tópico iremos entender como são determinadas a estrutura das palavras e os principais procedimentos que dão origem ao vocábulo. Para iniciarmos devemos lembrar que uma palavra é formada por unidades mínimas, as quais possuem significado. Chamamos essas unidades mínimas de morfemas. Observe, no quadro 1.1, abaixo, as semelhanças e diferenças na formação das palavras, devido aos morfemas. QUADRO 1.1 – SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS estudar canto válido terras estudo cantiga validez terreiro estudante canção validade terrenos estudantil cantoria validação térreo estudável cantor valeu subterrâneo estudioso encantado validar enterrássemos reestudar desencanto invalido aterravas estudado cantadas invalidade desterrarei Fonte: a autora. 37UNIDADE II Estrutura e FormaçãoMorfológica Ao analisarmos o quadro acima, percebemos, com certa facilidade, os morfemas, os quais, como colocado anteriormente, trazem significados para a palavra. Outro exemplo é quando afirmamos que a palavra queridas é um adjetivo feminino e que está no plural, ou ainda quando falamos que a palavra cantássemos é um verbo da primeira conjugação, que está conjugado na primeira pessoa do plural, do imperfeito do subjuntivo. Essas declarações só são possíveis devido à presença dos morfemas. De acordo com Bechara (2010), a palavra se constitui a partir de dois morfemas, são eles: o radical - que expressa o significado dos elementos do mundo em que estamos inseridos, conhecido como significado lexical ou externo – e os afixos, que são representados pelos morfemas de flexão e os morfemas de derivação – este expressa o sentido gramatical ou interno das palavras. Desse modo, podemos entender o radical como o núcleo em que centra o significado relacionado aos elementos do mundo em que vivemos: ações, qualidades, seres, ofícios etc.; a partir do qual constitui-se às famílias morfológicas. É possível entender o radical, ainda, como uma base que liga todas as palavras de uma mesma família - uma base comum de significação. Para melhor compreensão observe as palavras que seguem e a base que as compõem: terra, terreiro, terreno, térreo e assim por diante. Os afixos, por sua vez, são morfemas que podem ser acrescentados no início ou no final do radical, agregando um sentido à palavra, sendo possível restringir esse sentido ou especificar. OS afixos são subdivididos dependendo da posição em que aparecem. Veja: Para exemplificar, podemos considerar: Prefixos Quando aparecem antes do radical Sufixos Quando aparecem depois do radical Afixos Radical vidraria envidraçar vidrinho sufixo prefixo sufixo sufixo 38UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Nessa direção, os sufixos, ao se vincularem ao radical, formam novas palavras, pois emprestam ao radical uma ideia acessória, além de marcar a categoria da palavra: substantivo, adjetivo, verbo entre outras. Segundo Bechara (2010, p. 502), “O sufixo se relaciona a palavra a que se agrega aos nomes aumentativos ou diminutivos, aos nomes de agente, de ação, de instrumentos, aos coletivos, aos pátrios, etc.”. Podemos citar como exemplo: cadernão (aumentativo), canequinha (diminutivo), professor, agricultor, pedreiro (agentes e ofícios), mercadejar (repetição de ação), ensino, punição, noivado (ações) etc. Já os prefixos, ao se agregarem a uma base, dão uma significação e se relacionam semanticamente com as preposições. “Os prefixos em geral, se agregam a verbos [...] ou a adjetivos: in-feliz, des-leal, sub-terrâneo. São menos frequentes os derivados em que os prefixos se agregam a substantivos; os que mais ocorrem são, na realidade, deverbais, como em des-empate.” Ao analisar os prefixos constatamos que eles podem aparecer como formas livres, além de ter mais força significativa, diferente dos sufixos que adquirem valor morfológico. Os prefixos também não podem delimitar a categoria gramatical de uma palavra, assim como os sufixos. Importante destacar que entre o radical e os afixos pode haver o que denominamos de vogal temática, a qual, de acordo com Bechara (2010, p. 498) “[...] tem uma missão classificatória, pois distingue os nomes e os verbos em grupos ou classes conhecidos por grupos nominais (casa/livro/ponte) e grupos verbais, também chamados conjugações”. Desse modo, quando analisamos palavras como: cant-á-ssemos, diss-é-ssemos, part-í-s- semos, sabemos que elas pertencem, respectivamente, à 1ª, 2ª e 3ª conjugação. Esse enlace entre o radical e a vogal temática é conhecido como tema: parte da palavra pronta para funcionar no enunciado e receber os afixos, como em casa + s, caderno + s, pote + s. Porém, muitas vezes, ao receber o afixo, a vogal temática desaparece, como é o caso de cas(a)inha. As vogais temáticas, nos nomes, são marcadas pelos morfemas a, o e e (porta, copo, pente); já nos verbos os morfemas são a, e, e i (cantar, correr, dormir). Concluímos, dessa maneira, que as palavras são estruturadas a partir dos elementos que compõem os vocábulos, os quais são conhecidos como morfemas – unidades mínimas, plenas de significados, tais como a raiz, o radical, os afixos (prefixos e sufixos), vogal temática e assim por diante. 39UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 2. A FORMAÇÃO DAS PALAVRAS As línguas foram criadas para suprir uma das necessidades do ser humano – se comunicar. E para que isso seja possível, os falantes de uma língua identificam, classificam e nomeiam coisas, objetos e elementos, sobre os quais se deseja falar, sejam eles abstratos ou concretos, fictícios ou reais, naturais ou não. Desse modo, de acordo com Basílio (2004, p. 9), “a língua é ao mesmo tempo um sistema de classificação e um sistema de comunicação”. Nessa direção, a língua apresenta estratégias linguísticas que proporcionam a formação de novas palavras, e o léxico esta diretamente relacionado a essa estratégia, esse que, de acordo com a mesma autora, é um banco de dados previamente classificados, em que são depositados unidades básicas, ou seja, as palavras, as quais utilizamos para construir sentenças. Contudo, esse banco de dados é um sistema fechado, que não é suficiente para a construção de enunciados completos em Língua Portuguesa. Isto porque estamos sempre construindo e reconstruindo, conhecendo e reconhecendo, produzindo e reproduzindo novos objetos, elementos e seres, desse modo, temos a necessidade de um sistema eficaz, capaz de oferecer dinamismo e expansão, conforme as necessidades de novas palavras vão surgindo. Ao pensar nesse sistema eficaz, p odemos e ntender e sse p rocesso d a seguinte maneira: o léxico primeiro oferece uma designação para novos objetos e, posteriormente, 40UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica a partir dessas designações, surgem novas construções, podemos citar como exemplo a designação global, da qual houve desdobramentos e obtivemos termos tais como globalização e globalizar. É interessante ainda, pensarmos que as palavras vão surgindo conforme as nossas necessidades, um exemplo disso foi os desdobramentos que surgiram com a chegada de tecnologias mais avançadas, antes falávamos em xerocar, palavra derivada do xerox; hoje falamos em imprimir, impressão, impressora e assim por diante. Nessa direção, segundo Basílio (2004, p. 9), O léxico, portanto, não é apenas de um conjunto de palavras. Como sistema dinâmico, apresenta estruturas a serem utilizadas em sua expansão. Essas estruturas, os processos de formação de palavras, permitem a formação de novas unidades no léxico como um todo e também a aquisição de palavras novas por parte de cada falante. Todavia, o nosso sistema de comunicação – a língua – não pode ser sintetizada apenas no que se refere ao aumento do número de símbolos, pois se assim o fosse, nós precisaríamos decorar uma infinidade de novos símbolos, o que tornaria o sistema inapto, além de dependente da nossa memória. O que temos, efetivamente, é a ampliação do léxico por meio de estratégias de formação de palavras. Nesse sentido, de acordo com Bechara (2010), o artefato lexical de uma gramática é distribuído em duas partes: derivação e composição, por meio das quais temos estratégias linguísticas que permitem a formação de novas palavras. Comecemos pela composição. A composição equivale a junção de dois ou mais elementos significativos em uma língua, sendo que essa junção resulta em uma nova palavra, com significado único. São exemplos de palavras compostas: ponta + pé = pontapé; plano + alto = planalto. Quando analisamos os exemplos colocados anteriormente notamos uma paridade – as duas palavras são formadas por outras palavras – e uma disparidade – a palavra pontapé, ao ser formada, não sofreunenhuma alteração, denominamos esse processo composição por justaposição. Já a palavra planalto sofreu uma alteração no processo de composição, uma das palavras – plano – perdeu uma letra – o –, isso acontece para facilitar a pronúncia da palavra. Esse processo é intitulado composição por aglutinação. Observe o esquema abaixo: 41UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica DIAGRAMA 2.1 – COMPOSIÇÃO Fonte: a autora. A derivação, por sua vez, é o processo que dá origem a outra, por meio de uma única palavra já existente na língua, por meio de afixos. Assim, a palavra também pode ser composta por meio da derivação prefixal, derivação sufixal ou ainda por meio da derivação parassintética. A derivação prefixal acontece quando o afixo é anexado antes da palavra de origem (primitiva), por exemplo: reter, conter, desligar. Por outro lado, a derivação sufixal acontece quando o afixo é anexado depois da palavra de origem, por exemplo: ruazinha, jardinagem, capitalista. No que se refere a derivação parassintética, ela ocorre quando temos, simultaneamente, a junção dos afixos prefixal e sufixal no radical (palavra primitiva), por exemplo: esfriar (es + frio + ar), apaixonar (a + paixão + ar), emudecer (e + mud(o) + ecer). Esquematizando temos: DIAGRAMA 2.2 – COMPOSIÇÃO Fonte: a autora. Derivação Composicao por afixos prefixal Antes do radical Prefixo + radical sufixal Depois do radical Radical + sufixo parassintética Antes e depois do radical Prefixo + radical + sufixo Composição justaposição Não sofre alteração Peixe+espada = peixe-espada mal+me+que = malmequer aglutinação Sofre alteração Ponta+ aguda = pontiaguda outra+hora = outrora 42UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Em suma, como vimos a língua apresenta estratégias linguísticas que proporcionam a formação de novas palavras, além disso, temos um banco de dados previamente classificado, em que vamos depositando palavras, as quais selecionamos, reorganizamos e reestruturamos para nos comunicar. Ademais, vimos que um sistema fechado não é suficiente para que as necessidades linguísticas sejam sanadas, afinal a língua está em constante transformação, exigindo que as palavras sejam revistas e reestruturadas e, para isso, temos aliados gramaticais, como a derivação e a composição. 43UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica 3. ORIGEM DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Não é novidade que o português não surgiu no Brasil, embora o nosso país seja o maior do mundo que fala a língua. O português foi implantado no Brasil, devido a colonização portuguesa, há mais de 500 anos. Neste tópico, iremos falar um pouco sobre a origem da nossa língua. A primeira pergunta que poderíamos colocar é: quando surgiu a língua portuguesa? E poderíamos respondê-la com certa exatidão, se a olhássemos, assim como os pesquisadores do século XIX, como um organismo que nasce, se desenvolve e morre, assim como seus falantes. Contudo, como colocado em momentos anteriores, hoje sabemos que a língua é um organismo vivo em constante transformação, mas que não morrem, com exceção, é claro das línguas minoritárias, como as línguas indígenas, que, ao perderem todos os seus falantes em um curto período de tempo, além da imposição de outra língua, no caso o português, morrem. Nessa direção, de acordo com Ilari e Basso (2009, p. 13-14), Não há ruptura entre a língua que os brasileiros falam hoje e a língua falada em Portugal antes dos descobrimentos, assim como não há ruptura entre o português do tempo dos descobrimentos e o romance português, ou seja, a língua românica falada no norte de Portugal no final do primeiro milênio. O mesmo vale para o conjunto das línguas românicas em relação ao latim. 44UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Dessa forma, não é possível contar uma história da língua portuguesa brasileira, sem considerar os 500 e tantos anos de história de desenvolvimento, adaptações e interpretações que permeiam a constituição da nossa língua. Quando falamos em origem da língua portuguesa, lembramos logo do latim, afinal todos sabemos que é esta língua romana, mais especificamente dos falantes da Roma antiga, que deu origem à nossa. Porém, não é difícil, ainda, quando ouvimos essa palavra, nos remetermos àquela disciplina que antigamente era ensinada na escola média ou a língua em que era usada para a celebração das missas, da igreja católica. Nessas duas conjunturas, a língua estudada era, respectivamente o latim literário e o latim eclesiástico, contudo, havia uma terceira variação do latim, a qual deu origem à língua portuguesa e à todas as outras línguas românicas – o latim vulgar, sendo ele vernáculo. A palavra vernáculo indica um modo de aprender uma língua, sendo que esse método impugna todo o aprendizado que é ofertado pela escola e considera apenas o que é adquirido de maneira natural, por assimilação espontânea e inconsciente, no ambiente sociocultural em que o sujeito está inserido. Para exemplificar podemos pensar em construções verbais, tais como: fá-lo-ei, dir--lhe-ia, eu dormira, expressões as quais um falante de língua portuguesa brasileiro não as conheceram, com todo certeza, de maneira espontânea, mas sim por meio do aprendizado formal, na escola, visto que, a probabilidade de um brasileiro pronunciar tais construções é praticamente zero, diferente de construções como: eu vou fazer isso, eu diria isso para ele, eu vou dormir, as quais uma criança assimilaria de maneira espontânea, sem a necessária interferência do ensino formal. Em suma, diante dos exemplos, podemos afirmar que estas são vernáculas, enquanto que aquelas não são. Nessa perspectiva, após conquistas militares, o império Romano manteve-se estável por um longo período, sendo que o latim vulgar foi a língua que predominou nesse período, isso aconteceu de tal forma que o latim vulgar foi ganhando espaço e se uniformizando cada vez mais, e isso abrangeu uma grande parte da Europa ocidental. Porém, esse período estável teve um rompimento, devido às invasões bárbaras, que fizeram que a unidade linguística começasse a se desfazer. Assim, no final do século X, o território linguístico românico começou a sofrer influências externas e cada território local, pouco a pouco, foi conquistando um linguajar local. Segundo Ilari e Basso (2009, p. 15) “Essa fragmentação do latim vulgar contrasta não só com a relativa uniformidade do próprio latim vulgar durante o período imperial, mas ainda com a uniformidade do latim literário e do latim eclesiástico, que continuaram sendo usados para outros fins, ao lado da fala popular”. 45UNIDADE II Estrutura e Formação Morfológica Após algum tempo, essas linguagens locais, derivadas do latim vulgar, foram ganhando prestígio até que se transformaram no que conhecemos hoje como línguas româncas: o romeno, o italiano, o sardo, o reto-românico (falado na Suíça e em algumas regiões do norte da Itália), o occitano, o francês, o catalão, o espanhol, o galego e o português. De acordo com Ilari e Basso (2009, p. 17) O latim vulgar e o latim literário eram parcialmente diferentes tanto em sua estrutura gramatical quanto em seu léxico; é por isso que certas características marcantes da frase latina, tais como as declinações, a voz passiva sintética, a construção de acusativo com infinitivo ou o ablativo absoluto não aparecem em todas as línguas românicas; pelo mesmo motivo encontramos no português palavras como casa, boca ou espada em vez de domus, os ou gladius. Nessa mesma direção, podemos afirmar que, ainda que o português seja derivado do latim, não temos domínio para compreender a literatura latina. O latim sempre foi uma referência cultural e objeto de pesquisa de grandes pesquisadores, os quais buscavam a partir do latim resgatar culturas e afins. Além do mais, o latim foi a língua mundial até o século XVIII, quando perdeu seu lugar para a língua francesa, que, por sua vez, no século XX,