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2013 LÍnGuA portuGuesA: sintAXe DA FrAse Ao teXto Profª. Iara de Oliveira Copyright © UNIASSELVI 2013 Elaboração: Profª. Iara de Oliveira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 469 04821 Oliveira, Iara de Língua portuguesa: sintaxe da frase ao texto / Iara de Oliveira. Indaial: Uniasselvi, 2013 216 p. : il ISBN 978-85-7830-704-2 1. Língua portuguesa. 2. Sintaxe. 3. Texto. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Impresso por: III ApresentAção Há muito tempo escutamos estudantes e não estudantes dizerem que nossa língua é difícil (o que é um grande erro: não há uma língua mais difícil que a outra!), não segue uma lógica, porque para cada regra existem várias exceções, a gramática atrapalha porque há muitas informações que não servem para nada e outros tantos equívocos que, pouco a pouco, vão se consolidando entre nós. Talvez a origem destas afirmações se deva, em boa parte, ao ensino falho de língua portuguesa que tivemos no Ensino Fundamental e Médio, baseado em manuais descontextualizados e ministrado por professores desmotivados ou com formação deficitária. O fato é que, hoje, as pessoas “detestam” o português e os profissionais desta área são desvalorizados ou alvos de constantes questionamentos. Dentre os aspectos gramaticais que estão envolvidos nesta “rede de intrigas”, a sintaxe é a que mais sofre ataques. Isso se deve ao fato de que ela estuda as relações inter e extraenunciados e a comunicação humana; definindo de forma superficial, constitui-se de enunciados. Como muitas vezes os profissionais da área não conseguem relacionar adequadamente a prática enunciativa com as funções sintáticas, geram-se os conflitos e os rótulos que circulam por aí. Nesse sentido, é importantíssimo que os profissionais da língua portuguesa, atuantes no ensino formal ou informal, tenham um conhecimento profundo e reflexivo deste campo gramatical, para que possam mostrar seu funcionamento e sua importância para os estudantes de nosso idioma. Tentando manter este foco, tornamos público este Caderno de Estudos. Seu objetivo primeiro e principal é trazer os fundamentos da sintaxe para os(as) futuros(as) professores(as), a fim de que os entendam (não podemos ensinar o que não sabemos!) e consigam definir estratégias eficientes e eficazes para seu ensino. Por isso, traz, em detalhes, as estruturas sintáticas, dialogando com renomados gramáticos da língua portuguesa, como Napoleão Almeida (2005), Domingos Cegalla (2008), Evanildo Bechara (2009), entre outros. Além disso, aventura-se em reflexões sobre as relações sintáticas e suas implicações no Ensino Fundamental e Médio. Assim, o caderno divide-se em três unidades. Na primeira unidade estudaremos o que é a sintaxe, suas principais estruturas, funções e relações. Trabalharemos, também, os conceitos de frase, oração e período, buscando sempre exemplos nos textos de nosso cotidiano e tentando refletir sobre seu uso. Além dos dois temas mencionados, nos ocuparemos dos termos que constituem os períodos simples, iniciando pelos termos essenciais, passando pelos termos integrantes e finalizando com os termos acessórios e vocativo. Haverá também atividades e leituras complementares para que possamos consolidar os conhecimentos que construirmos. IV A segunda unidade é dedicada aos períodos compostos. Exploraremos sua estrutura e como se estabelecem as relações coordenativas e subordinativas. Assim como na primeira unidade, traremos as bases teóricas encontradas nas gramáticas de nossa língua e tentaremos traçar algumas linhas reflexivas que nos permitam entender o funcionamento do sistema e sua lógica. Também aqui exporemos exemplos, apresentaremos atividades e leituras complementares que permitam a consolidação do conhecimento. Já a terceira unidade se voltará para o ensino da sintaxe. Nela poderemos refletir sobre nossa condição de professores de língua portuguesa, nossas formas de ensinar a sintaxe em sala de aula e como podemos tornar este processo prazeroso, estimulante e vinculado à nossa prática enunciativa diária. Para tanto, traremos algumas propostas ou sugestões que possam dinamizar o ensino da sintaxe e que permitam iniciar, ou continuar, o processo de retirá-la, assim como a gramática em geral, do rol dos “mais rejeitados” no Ensino Fundamental e Médio. Vale reforçar que todas as unidades deste Caderno de Estudo se articulam com o intuito de aprofundar nossos conhecimentos acerca da sintaxe, refletir sobre sua dinâmica de funcionamento e traçar estratégias para seu ensino. Reconhecemos que o caminho é árduo, mas não significa que não possamos trilhá-lo. Esperamos que você consiga fazer bom uso das informações que apresentamos e que tenha um ótimo estudo! Profª. Iara de Oliveira Iara de Oliveira Possui graduação em Letras com habilitação em língua portuguesa, língua espanhola e suas respectivas literaturas. Fez mestrado e doutorado em Literatura, na Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente trabalha na UNIASSELVI, ministrando as disciplinas de Comunicação e Expressão e Língua Portuguesa em diversos cursos de graduação da instituição, bem como as disciplinas de Metodologia da Pesquisa Científica e Metodologia do Artigo Científico na pós- graduação. Tem ampla experiência na área da literatura, em que possui artigos publicados e trabalhos apresentados em eventos, da metodologia científica, da produção de textos e da Língua Portuguesa com que trabalha diretamente em sala de aula e nos processos de revisão de textos. V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII sumário UNIDADE 1 – ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA ..................... 1 TÓPICO 1 – ESTRUTURA, RELAÇÕES E FUNÇÕES SINTÁTICAS ...................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................3 2 O ESTUDO DA SINTAXE................................................................................................................ 3 3 ESTRUTURA, RELAÇÕES E FUNÇÕES SINTÁTICAS ........................................................... 6 4 ENUNCIADOS DA LÍNGUA ......................................................................................................... 8 4.1 FRASE ........................................................................................................................................... 8 4.2 ORAÇÃO ...................................................................................................................................... 13 4.3 PERÍODO ..................................................................................................................................... 14 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 17 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 23 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS ESTRUTURAS SIMPLES .................... 29 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29 2 TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO ......................................................................................... 29 2.1 SUJEITO ....................................................................................................................................... 30 2.1.1 Tipos de sujeito .................................................................................................................... 32 2.2 PREDICADO .............................................................................................................................. 38 2.2.1 Tipos de predicados ............................................................................................................ 39 2.2.2 Predicação verbal e sua classificação ................................................................................ 43 3 TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO .................................................................................... 47 3.1 COMPLEMENTOS VERBAIS .............................................................................................. 48 3.1.1 Objeto direto ......................................................................................................................... 48 3.1.2 Objeto indireto ..................................................................................................................... 51 3.2 COMPLEMENTO NOMINAL ............................................................................................. 51 3.3 AGENTE DA PASSIVA .......................................................................................................... 52 4 TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃO ....................................................................................... 56 4.1 ADJUNTO ADNOMINAL .................................................................................................... 57 4.2 ADJUNTO ADVERBIAL ....................................................................................................... 58 4.3 APOSTO ....................................................................................................................................... 59 5 VOCATIVO ......................................................................................................................................... 60 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 64 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 69 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 71 UNIDADE 2 – A SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA: ESTRUTURAS FRASAIS COORDENADAS E SUBORDINADAS ............................................................... 75 TÓPICO 1 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS COMPOSTAS ................................................................................................................. 77 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 77 2 O PERÍODO COMPOSTO............................................................................................................... 77 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 84 VIII RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 92 TÓPICO 2 – ESTRUTURAS FRASAIS COORDENADAS .......................................................... 95 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 95 2 PERÍODO FORMADO POR COORDENAÇÃO......................................................................... 95 2.1 ORAÇÕES COORDENADAS ASSINDÉTICAS ............................................................ 96 2.2 ORAÇÕES COORDENADAS SINDÉTICAS .................................................................. 97 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 106 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 112 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 113 TÓPICO 3 – ESTRUTURAS FRASAIS SUBORDINADAS ......................................................... 117 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 117 2 PERÍODO FORMADO POR SUBORDINAÇÃO ....................................................................... 117 2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ............................................. 120 DESENVOLVIDAS .................................................................................................................. 120 2.1.1 Orações subordinadas substantivas .................................................................................. 121 2.1.2 Orações subordinadas adjetivas: ....................................................................................... 127 2.1.3 Orações subordinadas adverbiais ..................................................................................... 130 2. 2 ORAÇÕES SUBORDINADAS REDUZIDAS................................................................. 135 2.2.1 Orações reduzidas de infinitivo ......................................................................................... 136 2.2.2 Orações subordinadas reduzidas de gerúndio ............................................................... 138 2.2.3 Orações subordinadas reduzidas de particípio ............................................................... 139 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 141 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 148 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................149 UNIDADE 3 – MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO DA SINTAXE DA LÍNGUA PORTUGUESA ........................................................................................................... 153 TÓPICO 1 – A SINTAXE E A SALA DE AULA ............................................................................... 155 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 155 2 SINTAXE EM SALA DE AULA: NORMA OU USO? ................................................................. 155 2.1 O ESTUDO DA GRAMÁTICA ................................................................................................... 157 2.2 O(A) PROFESSOR(A) DE LÍNGUA PORTUGUESA E O ENSINO DE SINTAXE .................................................................................................................................. 160 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 166 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 173 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 174 TÓPICO 2 – MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO DA SINTAXE.......................................... 177 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 177 2 ENSINANDO SINTAXE E OUTRAS COISAS MAIS... ............................................................. 177 2.1 O TEXTO VERBAL ESCRITO .............................................................................................. 179 2.2 AS TIRINHAS E AS CHARGES .......................................................................................... 183 2.3 AS PROPAGANDAS ............................................................................................................... 191 2.4 AS MÚSICAS .............................................................................................................................. 195 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 201 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 207 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 208 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 213 1 UNIDADE 1 ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Ao final desta unidade você deverá ser capaz de: • identificar as estruturas, relações e funções sintáticas dos enunciados em língua portuguesa; • relacionar os conceitos de frase, oração e período; • analisar os elementos constitutivos do período simples; • relacionar os elementos constitutivos do período simples, observando suas aplicações na prática enunciativa. Esta unidade está divida em dois tópicos e no final de cada um deles você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado. TÓPICO 1 – ESTRUTURA, RELAÇÕES E FUNÇÕES SINTÁTICAS TÓPICO 2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS SIMPLES 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ESTRUTURA, RELAÇÕES E FUNÇÕES SINTÁTICAS 1 INTRODUÇÃO Você vem estudando a Língua Portuguesa ao longo deste curso e, certamente, já aprendeu a forma como está estruturada e os elementos que a constituem. Na morfologia, as estruturas foram vistas isoladamente, para que se pudessem identificar seus processos de formação e suas significações individuais. A partir de agora, estudaremos essas estruturas e as relações que estabelecem entre si com o intuito de estabelecer comunicação, ou seja, estudaremos as relações sintáticas. Neste primeiro tópico, nossa preocupação será entender o conceito de sintaxe e reconhecer as estruturas, as relações e as funções sintáticas. Para isso, veremos os conceitos de frase, oração e período. Pronto(a) para começar? Então, vamos ao estudo! 2 O ESTUDO DA SINTAXE Observe as seguintes estruturas: Pense: da forma como está, a informação faz sentido nas estruturas 1 e 2? Não, é claro! Embora consigamos identificar o sentido das palavras isoladamente na forma 1 e reconheçamos o alfabeto da língua portuguesa na estrutura 2, a maneira como estão dispostas nos causa estranheza e desconforto. Isso prova que a língua, além de composta por um grande número de vocábulos, também apresenta regras de como combiná-los para que possam atingir seu objetivo comunicativo, formando, assim, um enunciado. 1. De gosto eu chocolate. 2. Ed osgot ue ctehoolca. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 4 “Enunciado é tudo aquilo que é dito ou escrito. É uma sequência de palavras de uma língua que costuma ser delimitada pAor marcas formais: na fala, pela entonação; na escrita, pela pontuação. O enunciado está sempre associado ao contexto em que foi produzido” (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010, p. 505). IMPORTANT E É importante lembrar que, embora a língua apresente regras para a junção das palavras, isso não significa dizer que exista apenas uma possibilidade de combinação. Essas regras são o que, a grosso modo, denominamos sintaxe. Voltemos para as estruturas que havíamos visto anteriormente, agora acrescidas de outra, organizada diferentemente das demais: 1. De chocolate, eu gosto. 2. Eu, de chocolate, gosto. 3. Eu gosto de chocolate. Acredita-se que na Grécia Antiga se desenvolveu inicialmente a morfologia e, em seguida, a análise gramatical. Embora entre os estudiosos gregos houvesse uma preocupação com as relações sintagmáticas entre os vocábulos, os fundamentos da sintaxe só avançaram na Idade Média (AZEREDO, 1990). IMPORTANT E Perceba, caro(a) acadêmico(a), que conseguimos transmitir a mesma ideia de três formas diferentes, ou seja, fazendo três combinações distintas. Portanto, podemos afirmar que a sintaxe estabelece as possibilidades de associação das estruturas linguísticas para a formação de enunciados, bem como organiza a estrutura dos sintagmas que se combinarão em uma sentença. Estudar a sintaxe, nesse sentido, é conhecer as relações que as palavras mantêm entre si em uma oração. Mas não é apenas isso. Azeredo (1990, p. 10) traz uma contribuição importante para nosso estudo: TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 5 A cada instante pode-se estar pronunciando uma frase nova. Afinal, ninguém pode garantir que a frase que inicia este parágrafo e a que estou escrevendo agora não são inéditas. Eu não as tinha memorizadas, muito menos o leitor, e, apesar disso, não houve qualquer dificuldade para produzi-las e entendê-las. Nós não apreendemos o significado de cada uma das frases possíveis como se nada tivessem em comum umas com as outras. Todas elas, aceitas como estruturas da língua pelos usuários, se criam graças a um sistema de unidades – sons, palavras, afixos, acentos – e regras que as combinam. A sintaxe – numa definição provisória, visto que ambiciosa – é a parte desse sistema que permite criar e interpretar frases. A sintaxe do português, por exemplo, compreende as regras que tanto tornam possíveis enunciados banais como “Hoje é domingo” ou “Que dia é hoje”, ou excêntricos, como “Napoleão temia que as tartarugas desovassem no seu imponente chapéu”, quanto impedem sequências como “Que dia serem hoje?” ou “Seu imponente temia as que chapéu desovassem Napoleão tartarugas no”. A sintaxe, portanto, preocupa-se em analisar e explicar as relações entre a forma e o sentido das orações. Assim, seu estudo permite que conheçamos como as orações se estruturam em nossa língua e aspossíveis relações que estabelecem entre si e umas com as outras. Ainda sobre essa questão, Bechara (2009) menciona que alguns usam o termo morfossintaxe por julgarem que os enunciados podem ser vistos por sua forma (as palavras e sua estrutura individual) e por suas relações, mas, de acordo com sua concepção, a pura gramática se baseia na sintaxe, porque ela já traz consigo a concepção de forma. “Ocorre que, a rigor, tudo na língua se refere sempre a combinações de ‘formas’, ainda que seja combinação com zero ou ausência de ‘forma’; assim toda essa pura gramática é na realidade sintaxe, já que a própria oração não deixa de ser uma ‘forma’ [...].” (BECHARA, 2009, p. 54, grifos do autor). DICAS Considerando o que Bechara (2009) afirma sobre sintaxe e sua relação direta com a forma, lembre-se, acadêmico(a): para aproveitar melhor os estudos sobre sintaxe, é importante que você também conheça os aspectos morfológicos de nossa língua. Caso seja necessário repassar estes conhecimentos, volte ao Caderno de Morfologia da Língua Portuguesa. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 6 Atualmente, a sintaxe é objeto de grandes discussões no meio acadêmico, especialmente no que se refere às questões sobre sintaxe e sala de aula. Pesquisadores como José Carlos de Azeredo, Maria Helena de Moura Neves, Luiz Carlos Travaglia, comprovam, em seus estudos, que nossas escolas, embora tenham avançado consideravelmente neste campo, insistem em apresentar um sem fim de regras, exemplificadas com exemplos forjados, que só tornam o estudo dessa área gramatical difícil e sem propósito. Todos defendem a tese de que é preciso mostrar a utilidade prática da sintaxe, como é seu funcionamento em nossa produção textual diária porque, assim como a língua está em constante processo de transformação, as relações sintáticas também se modificam para que a comunicação ocorra de forma eficiente e eficaz. Assim, defendem o que chamam de “o ensino da gramática do uso da língua”. Mas antes de aprofundarmos nossas reflexões nesta direção, vamos, a seguir, estudar o funcionamento da sintaxe: sua estrutura, relações e funções. Também vale destacar que com o avanço dos estudos linguísticos, a briga entre norma e uso vem se tornando cada vez mais acirrada. Linguistas como Marcos Bagno defendem a perspectiva de valorização da língua falada em sala de aula, do respeito às variantes linguísticas e do entendimento de que a norma culta (priorizada pelas gramáticas) é uma das muitas variantes de nossa língua. E, você, acadêmico(a), como se posiciona a respeito? DICAS Para melhor compreender essa proposta da gramática com enfoque no uso da língua, indicamos a Gramática de usos do português, de Maria Helena de Moura Neves, de 2011, publicada pela Editora UNESP. 3 ESTRUTURA, RELAÇÕES E FUNÇÕES SINTÁTICAS Sabemos que os enunciados “[...] formam unidades linguísticas que possuem uma estrutura sintática, ou seja, demonstram uma organização específica, prevista pela língua” (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010, p. 505). Para entendermos o que é uma estrutura sintática, precisamos estudar e compreender o que significa essa relação e função sintática. Vejamos: Maria estudou para a prova de matemática. TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 7 Ao dizermos Maria estudou para a prova de matemática, estamos estabelecendo uma relação entre a pessoa de Maria e estudou para a prova de matemática. Afirmamos que Maria foi agente da ação estudar. Igualmente, estabelecemos uma relação entre estudou e para prova de matemática porque especificamos qual foi o objetivo do estudo. E, mais, relacionamos prova com de matemática, pois novamente especificamos qual o tipo de prova para o qual Maria deveria estudar. Essas ligações que podemos fazer entre as palavras, identificando uma lógica, um sentido, são as relações sintáticas. Agora, observemos: Maria estudou para a prova de matemática. Predicado verbal do sujeito Maria (Sujeito do verbo estudar) objeto indireto de estudar adjunto adnominal Cada um dos elementos do enunciado exerce uma função sintática, ou seja, tem um objetivo específico. Só conseguimos estabelecer a relação entre os termos e compreendermos seu sentido porque há uma função sintática para cada um deles. Sendo assim, é importante entender que: Relação sintática é a conexão de sentido que se pode estabelecer entre as partes de um enunciado. Função sintática é o papel que cada termo desempenha em um enunciado. Para identificar as funções sintáticas nos enunciados da língua, ou seja, qual é a ação que cada termo cumpre em um enunciado, fazemos a análise sintática, que “[...] examina a estrutura do período, divide e classifica as orações que o constituem e reconhece a função sintática dos termos de cada oração” (CEGALLA, 2008, p. 319). Para que possamos analisar um período, estabelecendo quais as funções que o compõem, precisamos, primeiramente, compreender algumas características próprias, que nos orientam durante o processo da análise sintática. É o que veremos a seguir. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 8 4 ENUNCIADOS DA LÍNGUA Existem três unidades, com características estruturais próprias, identificadas quando se estudam os enunciados da língua, que precisamos conhecer: frase, oração, período. Como forma de tornar nossa reflexão mais didática, analisaremos cada uma dessas unidades separadamente. 4.1 FRASE A primeira unidade sintática apresentada pelas gramáticas é a frase. A frase é definida por Cegalla (2008, p. 319), como “[...] todo enunciado capaz de transmitir, a quem nos ouve ou lê, tudo o que pensamos, queremos ou sentimos. Pode revestir as mais variadas formas, desde a simples palavra até o período mais complexo, elaborado segundo os padrões sintáticos da língua”. Portanto, frases são enunciados com sentido completo, utilizados no processo de comunicação. Observe: Socorro! O que será de nós? Pare! Há muito tempo o homem luta por reconhecimento social e, para isso, é capaz de chegar aos limites de sua condição física e psicológica. Todos os enunciados acima se constituem como frases porque ao lê-los entendemos seu sentido. Assim, para que não nos esqueçamos, “[...] frase é a unidade fundacional do discurso, ou seja, da atividade comunicativa que se realiza por meio da palavra” (AZEREDO, 2008, p. 136). Sobre a frase ainda é possível afirmar que ela se define não pela extensão que possui, mas por seu propósito de comunicação. Ela se caracteriza por apresentar uma entonação inicial e final, na oralidade, e pelo uso da pontuação, na escrita, facilitando a leitura e, consequentemente, a ampliação de conhecimento. Algumas frases são tidas como situacionais, porque só podem ser compreendidas dentro do contexto do qual fazem parte (o escrito ou a situação em que o falante está). Veja um exemplo: - Terminar as frases dos outros? Assim, isoladamente, a frase não parece ter um sentido completo, porque foi tirada da situação em que estava inserida. Somente no contexto em que foi produzida fará sentido. Observe: TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 9 - Eu... - Queria me dizer uma coisa? - É. Acho que... - Esta nossa relação não vai dar certo? - Isso. Eu simplesmente não... - Aguenta mais? - Exato. Esse seu hábito de... - Terminar as frases dos outros? - É. É! Eu tentei, mas... - Não consegue? - Não consigo. Não é nada... - Contra mim? É só porque eu termino as suas frases? - É. Porque você... - Faço isso... - É. Sempre termina a... - Frase dos outros? Porque eu já sei o que vão dizer. Você é o quinto ou sexto namorado que me diz a mesma coisa. - Quer dizer que nós nos tornamos... - Previsíveis? Se tornaram. - Todos reclamam... - Da mesma coisa? Reclamam. - Bom, então é... - Tchau? - É. (VERÍSSIMO, Luís Fernando. Namorados. O Estado de São Paulo, 13 jun. 2004). Agora ficou fácil entender o que significa, já que conseguimos identificar o contexto que gerou a frase, por isso é chamada de situacional.Há, ainda, as frases denominadas de verbais, porque apresentam o verbo em sua estrutura, e as chamadas de nominais porque se constituem sem o verbo. Observe: Cada macaco está em seu galho. = Frase verbal (verbo estar). Cada macaco no seu galho. = Frase nominal (não há verbos na sua estruturação). Alguns gramáticos, dentre eles Cegalla (2008), Napoleão Almeida (2005), Bechara (2009), estabelecem uma tipologia da frase de acordo com o sentido que elas podem assumir nos contextos comunicativos. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 10 Fomos ao shopping. = Frase afirmativa. Não fomos ao shopping. = Frase negativa. Qualquer um dos tipos de frases apresentados acima pode exibir uma forma positiva ou negativa, encerrando afirmações ou negações em sua estrutura. UNI Frases interrogativas: são aquelas cujo objetivo é interrogar, perguntar, questionar. São perguntas, questionamentos formulados pelo emissor da mensagem. Exemplo: Que horas são? Você virá à festa da turma? Almeida (2005) as subdivide em diretas e indiretas. As frases interrogativas diretas são aquelas que se expressam em uma oração absoluta. Exemplos: Quem trouxe o material, hoje? Será que chove? Elas podem ser: Frases declarativas: são aquelas que têm por objetivo afirmar algo, apresentar um juízo sobre alguém ou alguma coisa, fazer uma declaração. As frases declarativas podem ser afirmativas, quando encerram uma ideia positiva; ou negativas, quando encerram uma ideia de negação. Exemplo: TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 11 As frases interrogativas indiretas são, por sua vez, aquelas cujo “sentido interrogativo depende de um verbo principal que indique desconhecimento ou desejo de informação” (ALMEIDA, 2005, p. 408). Exemplos: Maria quis saber por que não poderia ir ao baile. Não sei por que saiu. Perceba que as orações por que não poderia ir ao baile e por que saiu indicam uma interrogação, um questionamento, mas aparecem de forma indireta, auxiliadas pelo verbo saber. Frases imperativas: seu objetivo é ordenar, exortar, pedir, expressar proibições, conselhos. Utilizam verbos no modo imperativo. Exemplo: FIGURA 1 – TIRINHA FONTE: Disponível em: <http://blogdastirinhas.blogspot.com.br/2010/12/garfield-n-73-ao-78. html>. Acesso em: 12 out. 2012. As frases Pegue aquele rato!, Espere um minuto, Deixe-me colocar meu tênis de corrida são imperativas, pois expressam ordem (na primeira e segunda) e pedido (terceira). Frases exclamativas: seu objetivo é transmitir admiração, surpresa, espanto, arrependimento etc. Nelas o emissor exterioriza um estado afetivo. Exemplo: UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 12 FIGURA 2 – TIRINHA FONTE: Disponível em: <http://www.not1.xpg.com.br/quadrinhos-turma-da-monica-os-mais- -engracados-e-divertidos/>. Acesso em: 12 out. 2012. Perceba que as frases Deu certo!! e A cobra está saindo!! demonstram claramente a surpresa e o entusiasmo da personagem. Frases optativas: seu objetivo é expressar um desejo. Exemplo: Frases imprecativas: seu objetivo é expressar uma praga, uma maldição. Exemplo: Tomara que tudo dê certo! Bons ventos o tragam! Que um raio caia na minha cabeça se estou mentindo! Maldita seja aquela que me abandonou! É importante ressaltar que essa classificação não é unanimidade entre os gramáticos e seria bem interessante que você consultasse algumas gramáticas para verificar como cada uma delas faz a classificação. IMPORTANT E Agora que já entendemos o funcionamento das frases, vamos estudar o conceito de orações. TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 13 4.2 ORAÇÃO Na seção anterior, vimos que a frase tem propriedades discursivas, ou seja, é caracterizada pela relação que estabelece com o contexto comunicativo. Na frase, o enunciado é analisado por suas ligações com a situação de comunicação. No entanto, é possível estudar os enunciados levando-se em consideração as relações entre as palavras e a função que cada uma desempenha. Por isso, sob esta perspectiva, uma unidade sintática importante é a oração. A oração é uma estrutura linguística que se articula pela presença de um predicado. Como o predicado é, em língua portuguesa, introduzido por um verbo, podemos dizer que a oração se estrutura em torno de um verbo ou locução verbal, ou seja, em torno do sintagma verbal. Como sua perspectiva é caracterizada pela presença no verbo, não necessariamente apresenta sentido completo. Para deixar mais clara a diferença, frase é todo e qualquer enunciado capaz de estabelecer comunicação (aí se incluem oração e período). Ela pode ser composta por uma única palavra, substantivos e verbos, só substantivos etc. A oração, obrigatoriamente, se estrutura em torno do verbo, por isso ela pode ter sentido completo ou não. A frase não é frase se não tiver sentido completo. Por isso nem toda frase é uma oração (porque nem sempre haverá o verbo) e nem toda oração será uma frase, porque em várias situações ela não terá seu sentido completo, necessitando de outras orações para isso. Exemplo: FIGURA 3 – CHARGE FONTE: Disponível em: <http://falacerto.blogcindario.com/2011/04/ 00005-o-papel-do-verbo-na-oracao.html>. Acesso em: 12 out. 2012. Podemos afirmar que o primeiro balão, Que beleza a cidade de vocês! é uma frase, pois apresenta um sentido completo na situação em que está inserida, UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 14 Você sabe o que é um sintagma? Souza e Silva e Koch (2000, p. 14) explicam que: “O sintagma consiste num conjunto de elementos que constituem uma unidade significativa dentro da oração e que mantêm entre si relações de dependência e de ordem. Organizam-se em torno de um elemento fundamental, denominado núcleo, que pode, por si só, constituir um sintagma”. Os principais sintagmas, segundo, ainda, as autoras, são: Sintagma verbal é a estrutura cujo núcleo é um verbo. Sintagma nominal é a estrutura cujo núcleo é um substantivo. Sintagma adjetival, cujo núcleo é um adjetivo. IMPORTANT E Como já estudamos os conceitos de frase e de oração, partamos para o estudo do período. 4.3 PERÍODO Existe, ainda, uma terceira unidade sintática prevista pela gramática: o período. “Período é um enunciado de sentido completo constituído por uma ou mais orações” (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010, p. 509). Exemplos: Fomos à sua casa, mas não havia ninguém. (duas orações: fomos é o núcleo da primeira, havia é o núcleo da segunda). Depois de irmos ao cinema, compramos sapatos, visitamos uma amiga hospitalizada e tomamos um café. (quatro orações: irmos é o núcleo da primeira, compramos é o núcleo da segunda, visitamos é o núcleo da terceira e tomamos é o núcleo da quarta). Os períodos podem ser classificados em simples ou compostos. Período simples é aquele constituído por uma única oração, ou seja, que apresenta um só verbo ou locução verbal. Exemplo: mas não apresenta verbo. Já o enunciado do segundo balão, Imagina se tivesse prefeito!!!, é formado por duas orações porque se estrutura em torno de dois verbos, “imagina” e “tivesse”. TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 15 João ofereceu um livro a Joana. (um verbo = ofereceu = um período) Período composto é aquele constituído por mais de uma oração, quer dizer, por mais de um verbo ou locução verbal. Exemplo: O povo anseia que haja uma eleição justa. (dois verbos = anseia, haja = dois períodos) Lembre-se: a presença de um verbo indica uma oração. Dessa forma, teremos, no período composto, tantas orações quanto forem os verbos que introduzirem predicados específicos. IMPORTANT E O esquema a seguir ajuda-nos a visualizar as três unidades sintáticas que estudamos até o momento. ESQUEMA 1 - FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO FONTE: A autora. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 16 DICAS O professor Fábio Alves tem vários vídeos nos quais ensina os aspectos da nossa gramática. Indicamos o link do vídeo em que ele expõe as questões de sintaxe que vimos neste tópico<http://www.youtube.com/watch?v=6R-OYnIvzlQ>. Além dele, o livro Iniciação à sintaxe do português, de José Carlos de Azeredo, de 1990, publicado pela Editora Zahar, também traz contribuições significativas para o estudo deste tema. Para descontrair: Leia o bem-humorado poema de Paulo Leminski que aborda as questões relativas à sintaxe: O assassino era o escriba Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida, regular como um paradigma da 1ª conjugação. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. Casou com uma regência. Foi infeliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os E.U.A. Não deu. Acharam um artigo indefinido na sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva, o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. FONTE: LEMINSKI, Paulo. Caprichos e relaxos. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 144. Para ampliar nossos estudos sobre o assunto abordado neste primeiro tópico, reproduzimos um fragmento do livro Iniciação à sintaxe do português, de José Carlos de Azeredo (1990), que aborda a questão da frase, da oração e, consequentemente, dos sintagmas que as constituem. Também, para melhor compreender e estabelecer algumas relações com os assuntos abordados até aqui, leia atentamente o texto a seguir, anote as principais ideias e discuta-as com os colegas no próximo encontro. TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 17 IV. CATEGORIAS DE DESCRIÇÃO GRAMATICAL 1. Frase e oração Um conceito-chave em toda a análise gramatical é o de unidade. Fonemas, sílabas, vocábulos, estrofes, parágrafos, capítulos são unidades de diferentes planos, níveis, tipos. Nas páginas precedentes abordamos a noção de texto, definido, não em termos de sua própria constituição interna, mas enquanto unidade de comunicação. O texto é, portanto, uma entidade pertencente ao domínio do ato verbal de comunicação, isto é, do discurso. Neste domínio, portanto, situa-se a frase, que é o menor texto possível. Na sua realização mais aderente ao contexto situacional, a frase toma a forma de uma interjeição, a qual representa globalmente a situação a que se refere. No outro extremo, apresenta normalmente uma estrutura bimembre – a oração – centrada em um verbo com o qual se faz uma declaração – predicado – sobre um dado tema – sujeito. Enquanto representação analítica de um conteúdo, portanto, a oração articula as funções sujeito e predicado, e, no predicado, o processo verbal e a época de sua ocorrência relativamente ao momento da enunciação – tomado como polo do universo comentado -, ou a um momento histórico – tomado como polo do universo narrado (cf. VII. 1b e VIII. 3). As interjeições, as inscrições meramente indicativas do tipo saída, Casas Pernambucanas, as frases imperativas, exclamativas e as interrogativas não retóricas acham-se necessariamente unidas à situação em que se enunciam. Ordens e exclamações se exprimem frequentemente por simples interjeições. Somente frases declarativas podem ser totalmente alheias ao contexto situacional e, portanto, inteiramente interpretáveis sem o seu respaldo. Elas são típicas de qualquer texto em que prevaleça a chamada ‘função referencial’ da linguagem. De qualquer forma, declarativas ou não, as frases que representam analiticamente um conteúdo fazem-no segundo os princípios sintáticos da língua, isto é, o sistema de unidades hierarquizadas – palavras, sintagmas, orações – e relacionadas umas às outras por um conjunto de mecanismos formais. 2. A hierarquia gramatical A estrutura gramatical do português comporta vários níveis. O morfema é a menor unidade dessa estrutura; e o período, a maior. Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos; acima deste, o dos sintagmas, a que se superpõe o das orações. Esquematicamente, temos: LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 18 Período. Oração. Sintagma. Vocábulo. Morfema. E exemplificando: Nível do período ........ os meninos brincavam com uma pazinha. Nível de oração ......... os meninos brincavam com uma pazinha. Nível dos sintagmas .. os meninos/ brincavam com uma pazinha. Nível dos vocábulos .. os/ meninos/ brincavam/ com/ uma/ pazinha. Nível dos morfemas .. o/s/ menin/o/s brinc/a/va/m com/ um/a pa/zinh/a. Provisoriamente, diremos que a análise gramatical consiste em identificar essas unidades e as regras que permitem combiná-las entre si em cada nível. Tradicionalmente, os compêndios têm-se referido aos níveis da oração e do período, recobertos pela sintaxe, e aos níveis do morfema e do vocábulo, recobertos pela morfologia. Manteremos esta distinção, por considerá-la adequada à descrição da gramática do português. O único problema está em não se ter explicitado outro nível – o dos sintagmas – que medeia entre os vocábulos e a oração. Com efeito, os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo modo que os gomos se unem para formar uma laranja. Os vocábulos não formam a oração senão indiretamente. Eles se associam em grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros constituintes da oração. Vamos ilustrar essa afirmação tomando para exemplo o seguinte período: 12. O prisioneiro desatou o nó das cordas com os dentes Proporemos inicialmente a segmentação desse período nos seguintes sintagmas: ‘o prisioneiro’, ‘desatou o nó das cordas’, e ‘com os dentes’. Poderíamos nos perguntar por que os sintagmas são estas e não outras sequências, como: 1 – ‘o prisioneiro desatou’ e ‘o nó das cordas com os dentes’, 2 – ‘o prisioneiro’, ‘desatou o nó’ e ‘das cordas com os dentes’, ou 3 – ‘o prisioneiro’ e ‘desatou o nó das cordas com os dentes’ (que, como se verá, é compatível com a que propusemos). É que as unidades gramaticais se definem por meio de certas peculiaridades distribucionais, como posição e mobilidade. Por exemplo, é possível deslocar para a primeira posição do período toda a sequência ‘com os dentes’. 12b. Com os dentes, o prisioneiro desatou o nó das cordas. A possibilidade desse movimento é suficiente para provar que esta sequência é um sintagma. Também pelo deslocamento se identifica como sintagma o segmento ‘o prisioneiro’. TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 19 12c. Com os dentes, desatou o prisioneiro o nó das cordas. Outro procedimento é a substituição da sequência por uma unidade simples. Observemos: 13. Mandaram amarrar o prisioneiro e apertar bem o nó das cordas, mas ele (=o prisioneiro) desatou-o (=o nó das cordas) com os dentes. Sequências que se deixam substituir por unidades simples no interior das orações também são sintagmas. Um terceiro (e aqui último) procedimento que vamos adotar é a interposição de um ‘e’. Normalmente, a presença de um ‘e’ indica a união de duas unidades pertencentes ao mesmo nível. Isto se passa em: 14. O prisioneiro e seu amigo desataram o nó das cordas com os dentes. 15. O prisioneiro desatou o nó das cordas com os dentes e fugiu. ‘Fugir’ é uma unidade funcionalmente (e distribucionalmente) equivalente à outra a que se une por meio do ‘e’, podendo, por isso, substituí-la, como em 16. O prisioneiro fugiu. O ‘e’ inserido em 15 não está, por conseguinte, ligando o verbo ‘desatou’ à forma ‘fugiu’, nem tampouco a forma ‘fugiu’ ao substantivo ‘dentes’ que a precede; o ‘e’ está unindo sintaticamente toda a sequência ‘desatou o nó das cordas com os dentes’ à forma capaz de substituí-la, ‘fugiu’. Isto constitui prova suficiente de que toda esta sequência opera como uma unidade funcional, da mesma sorte que a unidade simples ‘fugiu’. Agora que sabemos por que a divisão inicial e as três são compatíveis, conclui-se que uma unidade de nível mais baixo pode combinar com uma unidade de nível imediatamente superior para compor outra unidade neste mesmo nível. É o que se dá em ‘desatou o nó das cordas com osdentes’: ‘desatou’, que é um vocábulo, combina-se com os dois sintagmas – ‘o nó das cordas’ e ‘com os dentes’ – para formar um sintagma mais complexo: verbo + sintagma + sintagma. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 20 Em diagramas, teremos: Formulamos acima três procedimentos para isolar na estrutura da oração as unidades – sintagmas – que a constituem: o deslocamento, a substituição e a coordenação. Convém deixar claro que nem sempre o sintagma resulta da união de vocábulos, assim como o vocábulo nem sempre resulta da união de morfemas. A diferença entre uns e outros é, portanto, de nível e não de tamanho ou complexidade interna. Assim, como vimos em 15-16, ‘fugiu’ é um vocábulo em um nível e ocupa a posição de um sintagma em outro, e ‘os meninos brincam com uma pazinha’ é uma oração em um nível e período em outro. Em ambos os casos estamos diante de uma unidade – sintagma ou período – formada de uma única unidade do nível imediatamente inferior. Dissemos que o período é ‘a maior unidade da estrutura gramatical’. Embora correta, esta definição requer alguns esclarecimentos: (a) o que é numa língua a sua estrutura sintática em oposição, por exemplo, ao seu léxico (ver I.2 e I.3)? e (b) que indicadores permitem delimitar – na fala ou em um texto escrito, isto é, nos discursos – as unidades a que chamamos períodos ou orações? A questão (a) já foi objeto dos itens citados. Recordemos apenas que o léxico é o conjunto das palavras (no sentido de lexemas) de uma língua, geralmente listadas no dicionário. O léxico fornece os elementos com que se estruturam os sintagmas. À segunda questão vamos responder mediante o exame de um trecho de língua escrita: “Neste instante de 1942 em que escrevo estas palavras, não resisto à tentação de ir à janela de meu apartamento para olhar o mar. À sombra de grandes guarda-sóis de gomos coloridos vejo banhistas deitados na areia da praia. Poucos deles se lembram agora de que devem a sua magnífica cidade a Estácio de Sá” (VERÍSSIMO, 1966, p. 47). Há aí três segmentos claramente delimitados por pontos. Geralmente se utilizam estes sinais como indicadores dos limites dos períodos na língua escrita. TÓPICO 1 | ESTRUTURA, RELAÇÕES E 21 Relativamente ao exemplo em questão, pelo menos, este critério conduz a uma segmentação correta: temos três períodos, cujos limites coincidem com os pontos, vejamos: À sombra de grandes guarda-sóis de gomos coloridos vejo banhistas deitados na areia da praia. As três construções destacadas podem ocupar outras posições no interior deste segmento. a) Vejo banhistas deitados na areia da praia à sombra de grandes guarda-sóis de gomos coloridos. b) À sombra de grandes guarda-sóis de gomos coloridos, deitados na areia, vejo banhistas. c) Banhistas vejo deitados na areia da praia, à sombra de grandes guarda-sóis de gomos coloridos. Esta mobilidade, conforme já vimos, permite identificar aqueles segmentos como sintagmas. Esses sintagmas são partes desse período e não do que vem antes ou do que vem depois: o último sintagma se acha vinculado a ‘banhistas’, como prova a concordância de número; ‘banhistas’, por sua vez, se acha vinculado a ‘vejo’ (é em virtude desse vínculo que ‘banhistas’ pode ser substituído por ‘os’). O primeiro sintagma tanto pode estar vinculado a ‘vejo’ como a ‘deitados’. Seja como for, é no interior desse segmento que se estabelece o vínculo. Noutras palavras, diremos que cada um desses sintagmas participa da oração graças à presença de outra unidade (‘na areia da praia’ adere sintaticamente a ‘deitados’, e este a “banhistas”). Cada unidade cria, por assim dizer, o contexto para a ocorrência de outra. “Banhistas” criou o contexto para a possível ocorrência de “deitados”, mas não de qualquer outra unidade. Por outro lado, a presença de “deitados” torna possível a ocorrência de um sintagma como “preguiçosamente”, fato que ‘banhistas’ não permite: pode-se construir ‘deitados preguiçosamente’, mas não “banhistas preguiçosamente”. Estas observações deixam ver que a estrutura gramatical se baseia em limitações de ocorrência impostas entre si pelas unidades – morfemas, vocábulos, sintagmas – que, através dos vários níveis, constituem o período. Este período que estamos examinando relaciona-se, obviamente, ao anterior, por um estreito elo semântico que entronca os vocábulos ‘mar’ (primeiro período) e ‘guarda-sóis’, ‘banhistas’ e ‘praia’ (segundo período), o que não impede interpretar um sem o conhecimento do outro. O último período, porém, começa com ‘Poucos deles’, cuja interpretação (= banhistas) depende do período anterior. Trata-se de um processo de ligação que transcende os limites sintáticos da oração (sintaticamente, ‘eles’ acha-se vinculado a ‘lembram’) [...]. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 22 Para encerar esta parte, firmaremos o conceito de período subjacente à ilustração oferecida acima: “Unidade gramatical em cujas partes constituintes se podem estabelecer as dependências e limitações distribucionais, mas que não pode por si mesma ser colocada em nenhuma classe distribucional” (LYONS, 1979, p. 180). FONTE: AZEREDO, José Carlos de. Introdução à sintaxe do português. Rio de Janeiro: Zahar, 1990. p. 31-36. 23 Neste tópico você viu que: • Sintaxe são as regras utilizadas para combinar os vocábulos de modo a fazer sentido nas situações comunicacionais. • Enunciado é tudo o que é dito ou escrito, ou seja, é uma sequência de palavras delimitada por marcas formais. • Estrutura sintática é a organização das palavras prevista pela língua. • Relações sintáticas são as conexões de significado que existem entre as palavras. • Função sintática é o papel desempenhado no enunciado por cada palavra ou expressão. • Existem três unidades sintáticas que apresentam estrutura própria: frase, oração, período. • Frase é um enunciado linguístico que apresenta sentido completo. • Oração é o enunciado que se estrutura em torno de um verbo ou locução verbal. • Período é o conjunto formado por uma ou mais orações que apresenta sentido completo. RESUMO DO TÓPICO 1 24 1 Leia o texto que segue e faça o que se pede: FACEBOOK CRIA AMBIENTE EXCLUSIVO À ESCOLA E UNIVERSIDADE Groups for Schools permite que alunos, professores e funcionários de instituições troquem informações em um ambiente fechado. O Facebook colocou à disposição de escolas e universidades um novo tipo de perfil destinado especialmente a instituições de ensino. Batizado de Groups for Schools, o novo recurso da rede social permite que estudantes e membros de uma determinada comunidade acadêmica troquem arquivos, criem eventos e compartilhem mensagens. Tudo em um ambiente fechado, que só permite a participação de pessoas autorizadas. Para fazer parte das comunidades do Groups of Schools, o usuário precisa informar um endereço de e-mail com domínio da instituição. A ferramenta Groups of Schools não incorpora automaticamente os grupos escolares já existentes no Facebook. Portanto, as instituições que já possuem perfil na rede terão que se cadastrar na nova ferramenta. Até o momento, não existem grupos das mais importantes instituições brasileiras, como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Apesar de milhares de grupos de instituições de ensino já existirem no Facebook, agora eles estarão organizados, com um endereço próprio e com ferramentas para melhorar a comunicação entre seus membros. Até aqui, as escolas que desejavam criar comunidades exclusivas precisavam recorrer a aplicativos e desembolsavam até 50.000 dólares para manter um ambiente restrito a seus alunos, professores e funcionários. Criado em 2004, o Facebook havia sido pensado por Mark Zuckerberg como uma plataforma que conectasse os estudantes universitários americanos. Por meio dela, era possível estar em contato com colegas de classe e professores. Também era possível ficar mais próximo de companheirosde dormitório e amigos que compartilhavam interesses em comum. Com a abertura da rede, o Facebook perdeu muito de sua função inicial. Agora, o Groups of Schools leva Zuckerberg de volta ao campus. FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/facebook-cria-pagina-ex- clusiva-a-escolas-e-universidades>. Acesso em: 21 abr. 2012. AUTOATIVIDADE 25 a) Destaque três frases no texto. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _______________ ______ ________________________________________________ b) Identifique quatro orações no texto. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ c) Aponte três períodos no texto. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 2 Construa um quadro comparativo para frase, oração e período: Frase Oração Período 3 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) “Sozinha aqui em cima!” É uma frase e uma oração. b) ( ) “Perdão, por Deus, perdão!” É uma frase, mas não tem sentido completo. c) ( ) “Que tarde azul!” É uma oração, pois tem verbo. d) ( ) “A tarde era tão bonita!” É uma frase e uma oração. (1) Frase. (2) Período simples. (3) Período composto. 4 Relacione a primeira coluna com a segunda: 26 ( ) Pedro chegou estressado em casa. ( ) Razão e emoção... as duas vértices da vida. ( ) Caso você venha amanhã, traga-me aquele seu vestido vermelho. ( ) Não concordo com suas atitudes, pois elas vão de encontro aos meus princípios. ( ) Nossa! Pare com tantos comentários indesejáveis. ( ) Silêncio! Hospital! ( ) Vim, vi e venci. 5 Atribua o conceito de frase, oração ou período às lacunas a seguir, levando em consideração o discurso por elas apresentado: a) Nossa! Que dia belo! ______________________ b) Preciso revelar-lhe um grande segredo. ___________________ c) Participamos da reunião, embora não tivéssemos sido convocados. ___________ d) “E agora, José?” _______________ e) Durante a viagem, visitamos lindos lugares. ___________________ f) Não me peças para perdoar-lhe, pois ainda estou magoada. ________________ 6 Sobre frase, oração e período, analise as sentenças a seguir. I. “À beira de um stress, telefonei ...” - o período é simples, constituído, apenas, de um verbo conjugado no tempo passado. II. “Diga apenas quem são eles, que eu mesmo falo.” – a oração sublinhada, introduzida pelo conectivo que, estabelece, em relação à oração anterior, uma ideia de explicação. III. “... abri uma conta bancária, para receber o salário.” – a oração sublinhada estabelece, em relação à antecedente, uma ideia de finalidade, denominada oração subordinada adverbial temporal. IV. “Não veio. Minha secretária foi pessoalmente ao banco...” – o período é composto, constituído de orações de sentido completo, denominadas coordenadas assindéticas. Agora, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças II e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas. c) ( ) Somente a sentença I está correta. d) ( ) As sentenças I e II estão corretas. 27 7 Leia os seguintes enunciados: I. Brasil vence EUA e conquista ouro inédito. (Site UOL, 23 ago. 2003). II. Workshop a distância discute tecnologia na educação. (Revista Ensino Superior, 10 mar. 2008). III. Ciência supera limites do corpo. (Revista Problemas brasileiros, jul./ago. 2008). Esses enunciados são manchetes de matérias publicadas em diferentes suportes textuais. O que está em destaque neles, considerando-se o tipo de frase? Explique. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 28 29 TÓPICO 2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS ESTRUTURAS SIMPLES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Como já vimos anteriormente, os enunciados são constituídos por estruturas que apresentam relações e funções sintáticas. As funções sintáticas, relembrando, são o papel desempenhado pelas palavras ou expressões de acordo com as regras da sintaxe. Portanto, neste tópico estudaremos as funções sintáticas exercidas pelas estruturas em um período simples. O período simples se constitui de: • Termos essenciais: formados por sujeito e predicado. • Termos integrantes: formados por objeto direto, objeto indireto, complemento nominal e agente da passiva. • Termos acessórios: formados por adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto; • Vocativo. 2 TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO Observe a seguinte charge: FIGURA 4 – CHARGE FONTE: Disponível em: <http://anjinhadasletras.blogspot.com. br/2011/05/8-ano-sujeito-e-predicado.html>. Acesso em: 13 out. 2012. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 30 O período O eleitor confia na honestidade dos políticos é basicamente constituído por duas estruturas consideradas fundamentais: o sujeito e o predicado. Sem elas, o período não se constitui como uma unidade significativa e, assim, não cumpre seu papel enunciativo. Já o período Só pode ser um mané apresenta predicado e deixa subentendido o sujeito. Assim, podemos afirmar que um período simples apresenta como elementos constitutivos os chamados termos essenciais, isto é, aqueles que são fundamentais para a constituição do período. O eleitor (Sujeito) confia na honestidade dos políticos. (Predicado) (Ele - o eleitor) (Sujeito) Só pode ser um mané. (Predicado) Termos essenciais “são o sujeito e o predicado, responsáveis pela estrutura básica da oração. A maioria das orações apresenta um sujeito e um predicado. Podem ocorrer orações sem sujeito, mas não sem predicado”. (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010, p. 514). IMPORTANT E 2.1 SUJEITO O sujeito é definido como o ser sobre o qual se afirma algo. Normalmente é formado por um nome, pronome ou um termo que assuma a função de substantivo, ou seja, um termo substantivado. Possui um núcleo, formado por uma das classes de palavras já mencionadas, e elementos secundários que o complementam, como artigos e adjetivos. Almeida (2005, p. 410-411, grifos do autor) faz as seguintes considerações sobre sujeito: TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 31 • Se sujeito de um verbo é a pessoa ou coisa sobre a qual se faz alguma declaração, é evidente que o sujeito deve ser constituído de substantivo, pois a esta classe de palavras cabe nomear as pessoas e as coisas. Pode, no entanto, o sujeito deixar de ser constituído de substantivo essencial, isto é, de substantivo propriamente dito, para ser constituído de substantivo virtual, isto é, de palavra, frase ou oração, que tenha igual força de substantivo. Podem ainda, portanto, funcionar como sujeito: A. Um pronome: “Ele é estudioso”. B. Qualquer palavra substantivada: “Assaz é advérbio” – “O amanhecer do trabalho há de antecipar-se ao amanhecer do dia”. C. Uma frase de sentido incompleto: “Trabalho e honra deve ser lema de todos nós”. D. Uma oração: “É bom que ele vá ao Rio”. Interessantes, não acha? Vamos ver como essas questões teóricas funcionam nos textos? Observe a charge: FIGURA 5 – CHARGE FONTE: Disponível em: <http://rotadosconcursos.com.br/banco/prova/ pesquisa_avancada/1/2006/unama/prefeitura-de-itaituba-municipal-pa/au-xiliar-administrativo/4096/4d80a3ba42ca8912c6b933e9374707e1>. Acesso em: 13 out. 2012. A palavra “bicha” é um substantivo e atua como o núcleo do sujeito do período “Agora a bicha tá mandando ler os ‘código de barras’...”. Agora, leia: UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 32 FIGURA 6 – CHARGE FONTE: Disponível em: <http://valriet.blogspot.com.br/2010/11/analise-de- -charge-sobre-maioridade.html>. Acesso em: 13 out. 2012. Perceba que na frase “Esses aqui tão limpos”, esses é um pronome, mas no período funciona como núcleo do sujeito e, portanto, torna-se um substantivo virtual, como afirmou Almeida (2005). E, ainda: É extremamente importante que todos defendam essa causa. A oração “que todos defendam essa causa” atua como o sujeito e, desse modo, ganha status de substantivo ou nome. Em todos os exemplos apresentados fica claro que o sujeito é aquele que exerce a ação do verbo, é aquele sobre o qual se fazem as afirmações. Considerando, então, sua importância na constituição do período, podemos classificá-lo em tipos para melhor estudá-lo. 2.1.1 Tipos de sujeito Como nossa língua permite uma infinidade de combinações capazes de expressar informação e, assim, estabelecer comunicação, é possível identificar vários tipos de sujeitos. a) Sujeito simples: É aquele que apresenta apenas um núcleo. TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 33 Lembre-se: núcleo é o termo principal de um sintagma: substantivo ou expressão que atue como tal, no caso do sintagma nominal; verbo ou locução verbal, no caso do sintagma verbal. IMPORTANT E Observe o pequeno e divertido texto que segue: FIGURA 7 – TEXTO SUJEITO SIMPLES FONTE: Disponível em: <http://dedindeproza.wordpress.com/>. Acesso em: 13 out. 2012. No período “Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser” temos um sujeito simples, pois há apenas um núcleo formado pela palavra “sujeito”. Todo sujeitonúcleo é livre para conjugar o verbo que quiser. A mesma situação é verificada em “Todo verbo é livre para ser direto ou indireto”. A palavra “verbo” constitui-se no único núcleo do sujeito, portanto, temos um sujeito simples. Assim também ocorre com a frase “Nenhum predicado será prejudicado”, “predicado” se constitui como o único núcleo do sujeito, caracterizando-o como simples. Cremos que você já entendeu como funciona, não é? Então, vamos em frente... UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 34 b) Sujeito composto: É aquele que apresenta mais de um núcleo. Observe a frase: Ele e eu somos torcedores do mesmo time. Ele e eu núcleo Somos torcedores do mesmo time. Como há mais de um núcleo (neste caso dois), temos um sujeito composto. Observe o seguinte fragmento de texto: OS SONHOS DOS ADOLESCENTES Se tivesse que comparar os jovens de hoje com os de dez ou vinte anos atrás, resumiria assim: eles sonham pequeno. É curioso, pois, pelo exemplo de pais, parentes e vizinhos, nossos jovens sabem que sua origem não fecha seu destino: sua vida não tem que acontecer necessariamente no lugar onde nasceram, sua profissão não tem que ser a continuação da de seus pais. Pelo acesso a uma proliferação extraordinária de ficções e informações, eles conhecem uma pluralidade inédita de vidas possíveis. Apesar disso, em regra, os adolescentes e os pré-adolescentes de hoje têm devaneios sobre seu futuro muito parecidos com a vida da gente: eles sonham com um dia a dia que, para nós, adultos, não é sonho algum, mas o resultado (mais ou menos resignado) de compromissos e frustrações. Eles são “razoáveis”: seu sonho é um ajuste entre suas aspirações heroico-ecológicas e as “necessidades” concretas (segurança do emprego, plano de saúde e aposentadoria). Alguém dirá: melhor lidar com adolescentes tranquilos do que com rebeldes sem causa, não é? Pode ser, mas, seja qual for a qualidade dos professores, a escola desperta interesse quando carrega consigo uma promessa de futuro: estudem para ter uma vida mais próxima de seus sonhos. É bom que a escola não responda apenas à “dura realidade” do mercado de trabalho, mas também (talvez, sobretudo) aos devaneios de seus estudantes; sem isso, qual seria sua promessa? “Estude para se conformar”? Consequência: a escola é sempre desinteressante para quem para de sonhar. [...] FONTE: Adaptado de Contardo Calligaris. Folha de S. Paulo, 11/01/07. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1101200718.htm>. Acesso em 30 mar. 2013. TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 35 A frase “os adolescentes e os pré-adolescentes de hoje têm devaneios sobre seu futuro” apresenta dois núcleos, “adolescentes”, “pré-adolescentes”, portanto, temos um sujeito composto. Para que se configure como sujeito composto, é preciso que tenha mais de um núcleo. O fato de o núcleo ser uma palavra no plural não altera sua condição de sujeito simples. Observe: Os torcedores foram ao estádio. Núcleo = torcedores Sujeito = simples. UNI c) Sujeito oculto, elíptico, implícito, subentendido ou desinencial É aquele que não está expresso no período, mas pode ser facilmente identificado pelo contexto ou pela flexão de número-pessoa do verbo. Vejamos um exemplo prático: Clarice Lispector entrevista Millôr Fernandes [...] Quais os homens que você mais admira e por quê? Vou limitar a pergunta, no tempo e no espaço. E prefiro assim ter a coragem de escolher um homem de meu tempo e de meu espaço. Vinicius de Moraes. Pelo muito que somos iguais, pelo imenso que nos separa, eu elejo o poetinha como o dono de uma visão de vida essencial. De conversa puxa conversa, passamos, não sei como, a falar da morte. [...] FONTE: Disponível em: <http://www.jornaljovem.com.br/edicao9/especial_04.php>. Acesso em: 15 out. 2012. Observe que neste pequeno fragmento temos os verbos “vou”, “prefiro” que fazem referência a um “eu” (neste caso Millôr) embora o pronome não esteja explicitado na oração. O sujeito destas orações está oculto, ou melhor, está implícito, subentendido na desinência do verbo que indica primeira pessoa do singular. Igual perspectiva se verifica nos verbos “somos” e “passamos”, que deixam subentendido, implícito que o sujeito é um “nós”, formado por Millôr e Vinícius de Moraes. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 36 d) Sujeito indeterminado O sujeito indeterminado é definido, pelas várias gramáticas, como aquele que não se conhece ou não se quer identificar. Almeida (2005, p. 414) o define da seguinte forma: O sujeito é indeterminado quando de impossível identificação. Tal acontece em orações com verbos: a) Ativos, acidentalmente impessoalizados na 3ª pessoa do plural (§484, 1): “Dizem que ele vem”. b) Acidentalmente impessoalizados na passiva (§485): “Precisa-se de datilógrafo” – “Assim se vai aos céus”. Cegalla (2008) afirma que o sujeito indeterminado pode ser construído de três modos: a) Com o verbo em 3ª pessoa do plural, desde que não faça referência a qualquer sujeito já expresso em períodos anteriores. Exemplo: Trocaram as tabuletas e não avisaram a ninguém. O verbo “trocar” aparece em 3ª pessoa do plural e não é possível identificar a quem se refere, constituindo-se, portanto, em uma indeterminação de sujeito. b) Com verbo em 3ª pessoa do singular mais o pronome se. Exemplo: Aqui se vive bem. A composição “se vive” não permite identificar o sujeito da oração, constituindo-se em um sujeito indeterminado. ?? Sujeito Indeterminado Trocaram as tabuletas e não avisaram a ninguém. TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 37 ATENCAO Cuidado para não confundir o pronome se que atua como índice de indeterminação do sujeito com a partícula apassivadora se. O primeiro faz com que não se consiga identificar o executor da ação do verbo, a segunda remete àquele que está na condição passiva, ou seja, o recebedor da ação. c) Com o verbo no infinitivo impessoal. Exemplo: É impossível identificar o sujeito. O verbo identificar não indica qual é o sujeito desta oração, configurando-se em um sujeito indeterminado. DICAS O sujeito indeterminado é alvo de estudos e discussões dada a sua particularidade. Por isso, não deixe de ler o texto que incluímos no final deste tópico como leitura complementar. e) Orações sem sujeito Algumas orações da Língua Portuguesa são desprovidas de sujeito, uma vez que o conteúdo não é atribuído a nenhum ser. Isso ocorre quando temos: a) Verbo haver nos sentidos de existir, acontecer, realizar-se, decorrer. Exemplo: Houve dias de aflição naquela época. b) Verbos fazer, passar, ser e estar, indicando tempo. Exemplo: UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 38 Faz horas que se foi. c) Verbos indicativos de fenômenos meteorológicos. Exemplos: Choveu ontem à noite. ATENCAO Lembre-se de que quando os verbos indicativos de fenômenos meteorológicos estão em sentido figurado, apresentam um sujeito indicado na oração. Exemplo: Em seu sonho, choviam balas e caramelos. Neste caso, “balas e caramelos” funcionam como o sujeito do verbo chover. ATENCAO A questão do sujeito já foi muito discutida por alguns estudiosos da área, pois consideram uma incoerência definir o sujeito como um termo essencial da oração, uma vez que todas as gramáticas aceitam que existem orações desprovidas de sujeito. Outros, no entanto, afirmam que o fato de que se construam orações sem sujeito não invalida sua condição de essencial às orações das quais faz parte. E você, professor(a) ou futuro(a) professor(a) de nossa língua, o que pensa sobre isso? 2.2 PREDICADO Observe a seguinte situação: Na festa, o homem se aproxima da mulher e diz: - Entendo de gramática. Se fôssemos partes de uma oração, você seria o meu predicado e eu seria o seu sujeito. A mulher se lembrou das antigas aulas de língua portuguesa, que assistiu quando era criança, e ironiza: - Você está dizendo que eu sou o “resto” ou “o que sobra”? Ele sorri e termina a cantada: TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 39 É comum ouvirmos, ainda hoje, explicações sobre sujeito e predicado como a que lembrou a mulher da história. “Predicado é o que sobra” ou “predicado é o resto”. Fato é que se entende por predicado tudo aquilo que se refere ao sujeito da oração. Quando um verbo trouxer um complemento, este ficará, de maneira sintática, sendo parte dele, assim, o predicado se construirá com a formação de verbo e seu complemento. Os predicados decorrem da existência ou não, como brincou a nossa personagem, deste complemento. Em outras palavras, o predicado deve conter obrigatoriamente um verbo, porém seu núcleo pode ser um verbo ou um nome, podendo, ainda, ser constituído de um verbo e de um nome. O que nos dirá como o predicado será classificado é o tipo de núcleo que traz. Como o sujeito, o predicado é classificado em tipos, que veremos a seguir. 2.2.1 Tipos de predicados Assim como existem vários tipos de sujeitos, existem alguns tipos de predicados. Classificamos o predicado como nominal, verbal e verbo-nominal. a) Predicado verbal Predicado verbal é aquele que tem como núcleo um verbo. Note estas duas situações: 1. Predicado verbal constituído por um verbo intransitivo, ou seja, não exige complemento. O jogador saiu. 2. Predicado verbal, cujo verbo não seja de ligação com seu complemento. - Não. Estou dizendo que não posso existir sem você, mas um predicado pode existir sem sujeito. FONTE: A autora Os policiais viram o acidente. A situação requer calma. Estudar gramática exige concentração e esforço. Meu irmão contou sua versão da história para a minha mãe. UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 40 FIGURA 8 – TIRINHA FONTE: Disponível em: <http://luluteenmonicajovem.blogspot.com.br/p/preview-das-edicoes- -da-lulu-teen.html>. Acesso em: 13 out. 2012. Na oração “Ela é alérgica a rímel”, temos um exemplo de predicado nominal, uma vez que um verbo de ligação faz o elo com o sujeito e o predicativo do sujeito, formado por expressões que caracterizam o sujeito. Que tal mais alguns exemplos? Raul (Sujeito) é (verbo de ligação) estudioso. (predicativo do sujeito) Os demais exemplos seguem a mesma estrutura: O padre permanece em estado grave. O cachorro continua louco. O estagiário anda preguiçoso. Agora, veja como isso funciona em um texto de nosso dia a dia: b) Predicado nominal Predicado nominal é aquele que possui um verbo de ligação e o seu complemento, que chamamos de predicativo. TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 41 FIGURA 9 – TIRINHA FONTE: Disponível em: <http://www.ivoviuauva.com.br/charges-polemicas/>. Acesso em: 18 out. 2012. As frases “[...] sua charge é um insulto ao profeta Maomé” e “Suas tirinhas são ofensivas ao cristianismo” seguem a estrutura que acabamos de estudar. Ambas apresentam sujeito (sua charge, suas tirinhas) + verbo de ligação (é, são) + predicativo do sujeito (um insulto ao profeta Maomé, ofensivas ao cristianismo). Com esses exemplos podemos facilmente concluir que para o predicado ser nominal precisa existir um verbo de ligação e o seu núcleo é um nome (substantivo, adjetivo, locuções adjetivas) ou um pronome. Considerando que mencionamos algumas vezes a expressão predicativo do sujeito, é importante lembrar que o predicativo do sujeito é o núcleo do predicado nominal. Ainda em relação ao predicativo, vale ressaltar que ele pode ser do sujeito e do objeto. O predicativo do sujeito é o termo que expressa um estado, modo ou atributo do ser do sujeito, como vimos nos exemplos anteriores referentes ao predicado nominal. Já o predicativo do objeto é o termo que se refere ao objeto de um verbo transitivo. Veja: Perceba que a palavra inocente está completando o sentido de réu, indicando um estado, uma condição sua, portanto, temos um predicativo do objeto. O juiz (Sujeito) declarou (VTD) o réu (objeto direto) inocente (predicativo do objeto). UNIDADE 1 | ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DA LÍNGUA PORTUGUESA 42 Você lembra o que são verbos de ligação, não é? É muito importante saber o que são verbos de ligação, já que têm “ligação direta” com o predicado nominal. Sobre a definição de verbo de ligação, como já dissemos anteriormente, podemos afirmar que é aquele verbo que não possui um significado no sentido mais amplo do termo. Serve apenas para “ligar” o sujeito da oração e sua predicação. Os mais usados são: andar, continuar, estar, ficar, parecer, permanecer, ser, tornar-se, virar. DICAS Por falar em “nome”, vai uma dica valiosa. No predicado nominal, o seu núcleo, como a própria nomenclatura traz, deve ser um nome ligado ao sujeito por um verbo de ligação. O predicado verbal tem como núcleo um verbo de significação. c) Predicado verbo-nominal Você já deve ter percebido sobre o que falaremos aqui. Se um predicado é verbal porque tem como núcleo um verbo e nominal porque traz como núcleo um nome, logo concluímos que o predicado verbo-nominal é aquele que apresenta um verbo e um nome como núcleo. Temos predicado verbo-nominal em situações como as que apresentaremos a seguir: 1. Verbo intransitivo + predicativo do sujeito. O cão voltou arrependido. [O cão voltou e estava arrependido.] 2. Verbo transitivo direto + predicativo do sujeito. O menino deixou a praça chateado. [O menino deixou a praça e estava chateado.] 3. Verbo transitivo indireto + predicativo do sujeito. O aluno chegou ao colégio preocupado. [O aluno chegou ao colégio e estava preocupado] Nos exemplos citados, o predicado tem dois núcleos, sendo um verbo e um nome, mas esses tipos de predicados podem ter suas formações ampliadas por termos acessórios (adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto). Leia: Meu pai ficou muito feliz com o resultado. (com o resultado = adjunto adnominal) O padre reuniu os familiares rapidamente. (rapidamente = adjunto adverbial) O poeta ofereceu a poesia a uma bela moça do teatro. TÓPICO 2 | ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DAS 43 Conseguiu perceber que o verbo, nos exemplos que trouxemos, é de grande importância para a formação do predicado
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