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. DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO I SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4 ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO TRABALHO ................................................................... 5 COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO .................................................................. 6 COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA .............................................. 6 COMPETÊNCIA MATERIAL ................................................................................................ 7 SISTEMAS JURÍDICOS UNIFICADOS E SISTEMAS JURÍDICOS FRAGMENTADOS...... 7 REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO (EC Nº 45, DE 2004) ............................................... 8 RELAÇÕES DE TRABALHO ............................................................................................. 10 DISSÍDIOS COLETIVOS ................................................................................................... 14 MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS E HABEAS DATA ............................. 16 COMPETÊNCIA TERRITORIAL ........................................................................................ 16 COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO ............................................................................. 17 PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA ............................................................................. 17 COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO ................................................................................ 17 FORO DE ELEIÇÃO .......................................................................................................... 18 COMPETÊNCIA TERRITORIAL NOS DISSÍDIOS COLETIVOS ....................................... 18 COMPETÊNCIA FUNCIONAL ........................................................................................... 18 CONFLITOS DE COMPETÊNCIA ..................................................................................... 20 INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO ............................................................ 20 EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA .................................................................................... 21 SERVIÇOS AUXILIARES DA JUSTIÇA DO TRABALHO .................................................. 23 SECRETARIA .................................................................................................................... 23 DISTRIBUIDORES ............................................................................................................ 24 DO CARTÓRIO DOS JUÍZOS DE DIREITO ...................................................................... 25 DAS SECRETARIAS DOS TRIBUNAIS REGIONAIS........................................................ 25 DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA E OFICIAIS DE JUSTIÇA AVALIADORES ......................... 26 PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ............................................ 27 PRINCÍPIOS PECULIARES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO ..................... 27 PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE ........................................................................................ 28 PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE .................................................................................... 28 PRINCÍPIO DO JUS POSTULANDI................................................................................... 29 PRINCÍPIO DA ORALIDADE ............................................................................................. 30 PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE ................................................................................. 31 PRINCÍPIO DA CELERIDADE ........................................................................................... 36 PRINCÍPIO DA CONCILIAÇÃO ......................................................................................... 37 MAJORAÇÃO DOS PODERES DO JUIZ DO TRABALHO NA DIREÇÃO DO PROCESSO..... ................................................................................................................. 38 PRINCÍPIO DA BUSCA DA VERDADE REAL ................................................................... 46 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE ............................................................................... 47 PRINCÍPIO DA NORMATIZAÇÃO COLETIVA .................................................................. 48 PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 ............................................ 49 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 51 INTRODUÇÃO De acordo com Maurício Godinho Delgado (2015), o Direito do Trabalho pode ser definido como o “complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam a relação empregatícia de trabalho e outras relações normativamente especificadas, englobando, também, os institutos, regras e princípios jurídicos concernentes às relações coletivas entre trabalhadores e tomadores de serviços, em especial através de suas associações coletivas”. O Direito do Trabalho é, portanto, a disciplina jurídica das relações individuais e coletivas de trabalho. Consiste, basicamente, na melhoria das condições de pactuação de força de trabalho na ordem socioeconômica. Note-se que esta função não pode ser vista sob a ótica individualista, devendo ser considerado o ser coletivo obreiro, a categoria, o universo global de trabalhadores. Além disso, deve-se destacar a função modernizante e progressista do Direito do Trabalho, do ponto de vista econômico e social. Pode-se citar, ainda, sua função política conservadora, pois o Direito do Trabalho confere legitimidade política e cultural às relações de trabalho. O processo do trabalho é conceituado por Sérgio Pinto Martins (2021) como o conjunto de princípios, regras a instituições que se destinam a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução dos conflitos individuais ou coletivos, que advém das relações trabalhistas em geral. Ressalta-se que por princípios, entende-se que são proposições genéricas das quais derivam das demais normas, por regras, a maioria delas está contida na CLT e por instituições, vemos que são determinadas pela legislação e que resolvem as controvérsias existentes entre as partes, individuais ou coletivas. O processo é o complexo de atos e termos por meio dos quais se concretiza a prestação jurisdicional, através de um instrumento chamado “ação”, originado de um dissidio trabalhista, ou seja, é meio pelo qual o empregado se utiliza para satisfazer um prejuízo que eventualmente tenha tido da relação de trabalho. Desse modo, a presente disciplina pretende apresentar os aspectos introdutórios do processo trabalhista. ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA DO TRABALHO Por ser o Brasil um país de escala continental, seu Judiciário possui uma organização complexa, com ramos federais e locais. A distribuição da Justiça é feita da seguinte forma: Justiça Federal (juízes e Tribunais Regionais Federais), Justiça Eleitoral (juízes eleitorais – Tribunais Regionais Eleitorais e Tribunal Superior Eleitoral), Justiça Militar (juízes militares/auditorias – Tribunais Militares e Superior Tribunal Militar), Justiça do Trabalho (juízes do trabalho – Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal Superior do Trabalho), Justiça dos Estados (juízes de direito e Tribunais de Justiça) e Justiça dos Territórios e do Distrito Federal, conforme quadro demonstrativo anteriormente. A Justiça do Trabalho concilia e julga as ações judiciais entre trabalhadores e empregadores e outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como as demandas que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive as coletivas. Os órgãos da Justiça do Trabalho são o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os Tribunaisque a aplicação da legislação processual trabalhista e sim a importância do Direito Processual do Trabalho, como sendo um instrumento célere, efetivo, confiável, que garanta, acima de tudo, a efetividade da legislação processual trabalhista e a dignidade da pessoa humana”. Jorge Luiz Souto Maior (s.d.): Dito em outras palavras, mais claras e diretas: quando alguém diz que foram formuladas mudanças no Código de Processo Civil, o processualista trabalhista deve indagar: – alguma das inovações traz benefício à efetividade do processo do trabalho, para fins de melhor fazer valer os direitos trabalhistas? Se a resposta for negativa ou, até o contrário, que representa a criação de uma formalidade capaz de gerar algum óbice a este propósito, deve-se concluir sem medo de se estar errado: – então, não é preciso nem dizer quais foram as tais alterações!”. Nessa linha de raciocínio, aduz o Enunciado 66, da 1ª Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho na Justiça do Trabalho: “Enunciado 66. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DE NORMAS DO PROCESSO COMUM AO PROCESSO TRABALHISTA. OMISSÕES ONTOLÓGICA E AXIOLÓGICA. ADMISSIBILIDADE. Diante do atual estágio de desenvolvimento do processo comum e da necessidade de se conferir aplicabilidade à garantia constitucional da duração razoável do processo, os artigos 769 e 889 da CLT comportam interpretação conforme a Constituição Federal, permitindo a aplicação das normas processuais mais adequadas à efetivação do direito. Aplicação dos princípios da instrumentalidade, efetividade e não retrocesso social”. Assim, devemos adotar a tríplice classificação das lacunas, considerando não apenas as lacunas normativas, mas também as ontológicas e axiológicas. A efetividade do processo é assunto da ordem do dia, e deve-se buscar o acesso real e efetivo do trabalhador à Justiça do Trabalho com primazia, trazendo o rápido recebimento de seu crédito alimentar. De outra sorte, a crítica construtiva que faço à Teoria Ampliativa é a aplicação subsidiária desmedida, trazendo grande insegurança jurídica aos jurisdicionados e aos operadores do Direito, afrontando inexoravelmente o consagrado princípio constitucional do devido processo legal, princípio dos princípios da Ciência Processual. A segurança e a estabilidade das relações jurídicas e sociais devem ser respeitadas, com base no princípio da segurança jurídica. Concluindo, devemos adotar a aplicação subsidiária do Processo Civil ao Processo do Trabalho (diálogo das fontes), com base na efetividade do processo, melhoria do Processo Laboral e acesso real e efetivo do trabalhador à Justiça Obreira, sem esquecimento dos princípios do devido processo legal e da segurança jurídica. Os princípios da ponderação de interesses, da razoabilidade, da proporcionalidade e da equidade deverão pautar a atuação do juiz do trabalho na aplicação subsidiária das normas do Processo Civil ao Processo do Trabalho. Também, os princípios constitucionais do processo e os valores de direitos humanos fundamentais deverão ser observados, em uma interpretação sistemática e teleológica dos sistemas processuais. A nosso ver, o ideal é a reforma da própria CLT, ou melhor, a edição de um Código de Processo do Trabalho, trazendo a regulamentação mais completa possível das situações processuais trabalhistas e evitando-se ao máximo aplicações subsidiárias. Princípio da celeridade Este princípio está na pauta do dia, tendo em vista o novo inciso LVIII do art. 5º da CF, pautado no Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana sobre Direitos Humanos). Trata-se do princípio da celeridade processual ou da razoável duração do processo. Corrobora a efetividade processual e o acesso à ordem jurídica justa. A busca da celeridade processual, de modo que o processo apresente uma razoável duração, é escopo de todos os ramos do Direito. A demora na entrega da prestação jurisdicional é um vício extremamente grave para a sociedade, e deve ser combatida com veemência. O jurisdicionado deve ter a sensação de que o Poder Judiciário é uma instituição preocupada com a solução dos conflitos de interesses e a entrega do bem da vida, de forma célere, rápida e efetiva. No Processo do Trabalho, o princípio da celeridade deve ser observado com primazia, tendo em vista o trabalhador ser a parte mais fraca na relação jurídica (hipossuficiente), e a natureza alimentar dos créditos trabalhistas. Princípio da conciliação Existem três formas de solução de conflitos de interesses: (1ª) Autotutela (autodefesa): significa fazer justiça com as próprias mãos, prevalecendo a lei do mais forte e subjugo do mais fraco (força física, econômica, social, política etc.). É a forma mais rudimentar de solução de conflitos, devendo ser apenas excepcionalmente admitida. Exemplo: legítima defesa. (2ª) Autocomposição: inegavelmente, é a melhor forma de solução dos conflitos e mundialmente privilegiada. Traduz a solução dos conflitos de forma amigável entre as partes envolvidas, sem o emprego da força. Exemplos: Comissão de Conciliação Prévia e mediação. (3ª) Heterocomposição: é a forma tradicional e mais comum de solução dos conflitos, apresentando duas características básicas: - a presença de um terceiro; - esse terceiro tem poder de decisão sobre as partes. São exemplos a jurisdição e a arbitragem. Com efeito, deve-se priorizar a autocomposição, representada com primazia pela conciliação. Nessa linha de raciocínio, aduz o art. 764 da CLT: “Art. 764. Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação. § 1º Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos. § 2º Não havendo acordo, o juízo conciliatório converter-se-á obrigatoriamente em arbitral, proferindo decisão na forma prescrita neste Título. § 3º É lícito às partes celebrar acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório”. No mesmo sentido, preconiza o art. 3º, caput, do CPC/2015: “O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos”. A Justiça do Trabalho sempre preconizou a conciliação dos conflitos de interesses, desde as suas origens históricas. Assim, todos os dissídios individuais e coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sujeitos a conciliação, visto que os juízes do trabalho empregarão os seus bons ofícios e persuasão nesse sentido. Ademais, é lícita a celebração de acordo pelas partes que ponha fim ao processo, mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório. Vale ressaltar que a EC 45/2004 (Reforma do Judiciário) ampliou significativamente a competência material da Justiça do Trabalho ao substituir, no caput do art. 114 da CF, o termo conciliar por processar. A reforma em nada alterou a grande função da Justiça do Trabalho, que é a conciliação das lides trabalhistas. Justifica-se a modificação pelas novas ações de competência material da Justiça do Trabalho, que naturalmente não são suscetíveis de conciliação, como o mandado de segurança e as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho. Bons exemplos que ressaltam a importância da conciliação no Processo do Trabalho são as duas tentativas obrigatórias de conciliação no procedimento comum (ordinário): (1ª) após a abertura da audiência / antes da apresentação da defesa – art. 846 da CLT; (2ª) após as razões finais / antes da sentença – art. 850 da CLT. Majoração dos poderes do juiz do trabalho na direção do processo O juiz do trabalho tem amplos poderes na condução do processo, sendo considerado seu diretor. Assim, os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo evelarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas (art. 765 da CLT). De acordo com a Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017), a execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado (jus postulandi – arts. 791 e 839, “a”, da CLT e Súmula 425 do TST). Portanto, houve mitigação do princípio do impulso oficial na execução trabalhista. A doutrina moderna estabelece que o magistrado não pode se contentar com a verdade formal, que é a aquela que está nos autos, mas deve buscar a verdade real, ou seja, procurar verificar o que realmente ocorreu no mundo dos fatos para a prolação de uma sentença mais justa e equânime. Assim, exige-se postura mais ativa do juiz (princípio inquisitivo ou inquisitório), uma vez que detém ampla liberdade na condução do processo para a determinação de qualquer diligência que seja necessária para o esclarecimento do conflito de interesses. O sistema processual vigente adota o princípio do convencimento motivado ou da persuasão racional do juiz, na medida em que o magistrado apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento (art. 371 do CPC/2015). Protecionismo temperado (mitigado ou relativizado) ao trabalhador/princípio do protecionismo processual O Princípio da Proteção (tutelar, tuitivo ou protetivo) é o Princípio-Mãe do Direito do Trabalho. Como dizem, é o princípio dos princípios. Aliás, todos os demais princípios que fundamentam o Direito do Trabalho partem dos ideários do Princípio da Proteção. Objetivamente, nele se encontra a premissa de uma clara desigualdade econômica entre o empregado e o empregador no plano dos fatos. O trabalhador é considerado hipossuficiente, representando a parte mais fraca na relação jurídica. Assim, o escopo do Direito do Trabalho é assegurar uma superioridade jurídica ao empregado, traduzindo aplicação do princípio da igualdade (isonomia ou paridade de armas). A igualdade é traduzida pelo tratamento desigual conferido aos desiguais, na medida de suas desigualdades. Uma desigualdade somente é solucionada criando-se outra desigualdade. Nas palavras do saudoso jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez (2000), temos o seguinte: “O princípio da proteção se refere ao critério fundamental que orienta o Direito do Trabalho, pois este, ao invés de inspirar-se num propósito de igualdade, responde ao objetivo de estabelecer um amparo preferencial a uma das partes: o trabalhador. Enquanto no direito comum uma constante preocupação parece assegurar a igualdade jurídica entre os contratantes, no Direito do Trabalho a preocupação central parece ser a de proteger uma das partes com o objetivo de, mediante essa proteção, alcançar-se uma igualdade substancial e verdadeira entre as partes”. O eminente jurista e Ministro do TST Mauricio Godinho Delgado (2010) assim preleciona: “Informa este princípio que o Direito do Trabalho estrutura em seu interior, com suas regras, institutos, princípios e presunções próprias, uma teia de proteção à parte hipossuficiente na relação empregatícia – o obreiro –, visando retificar (ou atenuar), no plano jurídico, o desequilíbrio inerente ao plano fático do contrato de trabalho. (...) Parte importante da doutrina aponta este princípio como o cardeal do Direito do Trabalho, por influir em toda a estrutura e características próprias desse ramo jurídico especializado. Esta, a propósito, a compreensão do grande jurista uruguaio Américo Plá Rodriguez, que considera manifestar-se o princípio protetivo em três dimensões distintas: o princípio in dubio pro operario, o princípio da norma mais favorável e o princípio da condição mais benéfica. (...) Como excluir essa noção do princípio da imperatividade das normas trabalhistas? Ou do princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas? Ou do princípio da inalterabilidade contratual lesiva? Ou da proposição relativa à continuidade da relação de emprego? Ou da noção genérica de despersonalização da figura do empregador (e suas inúmeras consequências protetivas ao obreiro)? Ou do princípio da irretroação das nulidades? E assim sucessivamente. Todos esses outros princípios especiais também criam, no âmbito de sua abrangência, uma proteção especial aos interesses contratuais obreiros, buscando retificar, juridicamente, uma diferença prática de poder e de influência econômica e social apreendida entre os sujeitos da relação empregatícia. Desse modo, o princípio tutelar não se desdobraria em apenas três outros, mas seria inspirador amplo de todo o complexo de regras, princípios e institutos que compõem esse ramo jurídico especializado”. Diante da grande importância do princípio da proteção para o Direito do Trabalho, surge a seguinte indagação: o princípio tuitivo é aplicável ao Processo do Trabalho? A doutrina justrabalhista moderna vem sustentando a aplicação do protecionismo temperado, mitigado ou relativizado ao trabalhador (princípio da proteção temperada, mitigada ou relativizada – princípio do protecionismo processual). Assim, no âmbito processual o princípio em análise não é visto com a mesma intensidade no Direito do Trabalho, mas deve ser respeitado de forma temperada para facilitar o acesso do trabalhador à Justiça do Trabalho. Isso significa que o obreiro contará com algumas prerrogativas processuais que objetivam compensar eventuais dificuldades ao procurar a Justiça do Trabalho. Além de, sob o ponto de vista econômico, ser hipossuficiente, o trabalhador possui grandes dificuldades de provar suas alegações, pois os documentos que comprovam a relação de emprego, em sua maioria, ficam na posse do empregador. Nesse diapasão, ensina Emília Simeão Albino Sako (2008) sobre a inversão do ônus da prova e o princípio da aptidão da prova: “O estado de miserabilidade, de fraqueza e de vulnerabilidade, em sentido econômico, seja do trabalhador ou do consumidor, dificulta a produção da prova e, consequentemente, pode obstar ou dificultar as vias de acesso à justiça. A desigualdade na produção da prova no processo do trabalho é imensa, pois os empregadores geralmente contam com departamentos jurídicos organizados e de bom nível técnico, o que facilita a produção de qualquer tipo de prova. Além disso, podem pagar a emissão de pareceres e certidões, honorários para que profissionais acompanhem as perícias de insalubridade, periculosidade, médicas, com emissão de laudos etc., facilidades que, em regra, não tem o trabalhador quando em litígio com seu empregador. A distribuição do ônus da prova leva em conta as possibilidades de cada litigante em demonstrar os fatos alegados, conjugados com o que se extrai da experiência e a observação do que ordinariamente acontece. A inversão do ônus da prova é cabível quando a posição processual de uma das partes for apenas defensiva em relação à outra, porque encontra dificuldades de agir em razão de alguma carência. Alegando o réu que a afirmação do autor não é verdadeira ou que carece de correção, atrairá para si o ônus de provar tais alegações. O juiz verificará, em cada caso, a qual das partes incumbia o ônus da prova, decidindo contra aquela sobre a qual recaía esse ônus (ônus objetivo) e dele não se desvencilhou. Pelo princípio da aptidão da prova, a parte dotada de maiores condições de produzir em juízo a prova exigida deve fazê-lo. No processo vigora o princípio segundo o qual aquele que tiver melhores condições e/ou facilidades de produzir a prova deverá fazê-lo (princípio da aptidão da prova). (...) A parte dotada de melhores condições de produzir a prova deverá fazê-lo, independente de ser o autor ouo réu. Em se tratando de documentos relativos ao contrato de trabalho ou da relação de trabalho, o empregador ou tomador tem o dever legal de mantê-los em seus arquivos pelo prazo que a lei determina; o empregado e o prestador de serviços, não. Assim, quando demandado, é o empregador ou tomador quem deve trazê-los ao processo sempre que forem exigidos, pois tem melhores condições e facilidades para assim agir. Sonegando a prova com o intuito de prejudicar a parte adversa, ou não a produzindo a contento, o juiz poderá declarar provados os fatos cuja prova foi obstada ou dificultada pelo réu (CPC [/73], arts. 355 e seguintes [art. 396, CPC/2015]; Súmula n. 338 do TST). Esse princípio funda-se no estado de hipossuficiência do trabalhador e do consumidor, e orienta o juiz a direcionar o ônus da prova a quem tem melhor condição de produzi-la (CDC, art. 6º), que, em regra, é o empregador ou o tomador”. São manifestações do protecionismo temperado ao trabalhador no Processo do Trabalho: - possibilidade de inversão do ônus da prova, a fim de facilitar o acesso real e efetivo à Justiça da parte vulnerável da relação jurídica (art. 6º, VIII, da Lei 8.078/90 – Código de Defesa do Consumidor); - ausência do reclamante na audiência trabalhista gera o arquivamento da reclamação trabalhista, possibilitando a repropositura da ação; de outra sorte, a ausência do reclamado em audiência gera revelia, além da confissão quanto à matéria de fato (art. 844 da CLT). As consequências processuais são mais graves no caso de ausência do reclamado; - jus postulandi, que é a possibilidade do trabalhador de postular pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final, sem a necessidade de advogado (art. 791 da CLT); - possibilidade de reclamação trabalhista verbal (art. 840 da CLT); - possibilidade de a execução trabalhista ser promovida ex officio pelo juiz do trabalho, apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado (art. 878 da CLT); - exigência de depósito recursal somente ao empregador no caso de interposição de recurso (art. 899 da CLT). O depósito recursal tem natureza jurídica híbrida ou mista, pois, além de ser um pressuposto recursal objetivo ou extrínseco, serve para a garantia do juízo em relação à futura execução trabalhista a ser promovida pelo empregado-reclamante, bloqueando recursos meramente protelatórios, que dificultam o célere recebimento dos créditos trabalhistas de natureza alimentar pelo trabalhador. Vale ressaltar que a observância do princípio da proteção temperada no Processo do Trabalho, como o próprio nome sugere, não afasta o respeito ao princípio da paridade de armas do Processo do Trabalho, assegurando-se a ambas as partes as mesmas oportunidades processuais. Função social do processo do trabalho De acordo com a doutrina de vanguarda, todos os institutos de Direito Material ou Processual devem ser estudados à luz de sua função social, ou seja, com a preocupação da supremacia do interesse público em detrimento do interesse de classe ou particular, bem como os adequando à sociedade atual, ao contexto social vigente e adotando-se a primazia da dignidade da pessoa humana. Sobre a função social dos contratos comenta o Professor Flávio Tartuce (2002) que “(...) a função social dos contratos é princípio que interessa a toda a coletividade, constituindo tanto o art. 421 quanto o art. 2.035, parágrafo único, do Código Civil normas de ordem pública, inafastáveis por convenções ou disposição contratual” Conceituamos o princípio da função social dos contratos como um regramento contratual, de ordem pública (art. 2.035, parágrafo único, do CC), pelo qual o contrato deve ser, necessariamente, analisado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade. Assim, para este autor, a ideia de função está relacionada com o conceito de finalidade ou utilidade. No caso, deve-se imaginar que o contrato tem uma finalidade em relação ao meio que o cerca e, portanto, com ele deve ser analisado. Se um contrato for ruim para as partes, também o será, de forma indireta, ruim para a sociedade, pois não atende à sua finalidade social. De forma inversa, um contrato que é ruim para a sociedade também o é para as partes contratantes, em regra. Isso porque os elementos parte- sociedade não podem ser concebidos isoladamente, mas analisados como um todo. Por isso é que este autor enxerga na função social dos contratos a sua dupla eficácia. Não se pode afastar o fundamento constitucional desse princípio, como vem reconhecendo a doutrina, quase que com unanimidade. Inicialmente, a função social dos contratos está ligada à proteção dos direitos inerentes à dignidade da pessoa humana, amparada no art. 1º, III, da CF/1988. Ademais, tendo em vista ser um dos objetivos da República a justiça social (art. 170, caput, do Texto Maior), bem como a solidariedade social (art. 3º, III), nesses dispositivos também residiria a função social dos pactos. Por outro lado, para a valorização da liberdade, tão em crise na esfera dos negócios jurídicos, procura-se encampar a igualdade ou isonomia muitas vezes não percebida no momento de execução do contrato, buscando-se tratar de maneira igual os iguais e de maneira desigual os desiguais, nos termos do art. 5º, caput, da CF/1988. Na busca da função social dos contratos, é crescente a valorização da pessoa humana, seguindo a tendência de personalização do Direito Civil, apresentada por vários autores do Direito Privado. Na conceituação do princípio, há uma fusão de preceitos patrimoniais e existenciais, assegurando-se ao sujeito de direito o mínimo para que viva com dignidade. A moderna doutrina processual justrabalhista vem sustentando a existência do princípio da função social do processo do trabalho. Fundamentos doutrinários: - relevante interesse social presente na entrega do crédito trabalhista ao empregado; - caráter publicista do Direito Processual do Trabalho. São características da função social do Processo do Trabalho: - supremacia do interesse público sobre o interesse de classe ou particular; - dignidade da pessoa do reclamante e do reclamado; - eficácia vertical e horizontal dos direitos humanos fundamentais (dimensões objetiva e subjetiva), ou seja, o respeito aos direitos fundamentais nas relações Estado/particular e entre particulares; - princípio da vedação ao retrocesso social, isto é, o Processo do Trabalho deve estar em constante atualização à realidade social, às transformações da sociedade, tendo por base a evolução dos direitos fundamentais; - princípio da igualdade processual (isonomia ou paridade de armas), garantindo-se igualdade de oportunidades às partes litigantes; - princípio da igualdade real ou substancial, dando a cada um o que é seu por direito; - efetividade processual; - celeridade processual (razoável duração do processo); - acesso à ordem jurídica justa; - prestação jurisdicional confiável; - decisões judiciais pautadas na realidade; - facilitação do acesso do trabalhador à Justiça do Trabalho; - princípio da melhoria da condição social do trabalhador; - princípios do devido processo legal e da segurança jurídica, de modo que os atos processuais sejam praticados de forma razoável e previsível, sem surpresas ao jurisdicionado. Assim, a legislação, a doutrina e a jurisprudência processual trabalhista devem ter a preocupação constante com a modernização do Direito Processual do Trabalho, adaptando-o às transformações da sociedade, antenados na evolução dos direitos fundamentais, tendo como focos a dignidade das partes, a melhoria da condição social do trabalhador e a efetividade do processo. São fundamentos legais do princípio em comento: CF: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e doDistrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III – a dignidade da pessoa humana; (...) Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; (...) Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (...) XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; (...) Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) III – função social da propriedade”. CLT “Art. 8º As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público”. LINDB “Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. CC “Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. O Professor Carlos Henrique Bezerra Leite (2017) comenta o princípio da seguinte forma: “A diferença básica entre o princípio da proteção, acima referido, e o princípio da finalidade social é que, no primeiro, a própria lei confere a desigualdade no plano processual; no segundo, permite-se que o juiz tenha uma atuação mais ativa, na medida em que auxilia o trabalhador, em busca de uma solução justa, até chegar o momento de proferir a sentença. Parece-nos, contudo, que os dois princípios – proteção e finalidade social – se harmonizam e, pelo menos em nosso ordenamento jurídico, permitem que o juiz, na aplicação da lei, possa corrigir uma injustiça da própria lei”. Princípio da busca da verdade real O princípio da busca da verdade real encontra fundamento no princípio da primazia da realidade, que rege o Direito Material do Trabalho. O princípio da primazia da realidade sobre a forma estabelece que no confronto entre a verdade real e a verdade formal deve prevalecer a verdade real. Assim, a realidade dos fatos deverá prevalecer em relação a algum documento não correspondente a essa realidade. Com base nesse princípio, o contrato de trabalho é conhecido como contrato- realidade. A doutrina e a jurisprudência moderna exigem uma postura mais ativa do magistrado (princípio inquisitivo ou inquisitório), isto é, que ele não se contente apenas com a verdade formal, aquela contida nos autos. Dessa forma, o juiz da atualidade deve pautar a sua decisão nos valores da justiça e equidade, necessitando investigar mais profundamente os limites objetivos e subjetivos da lide por meio da análise mais apurada da realidade dos fatos (busca da verdade real). É inegável que a verdade real, na essência, é muito difícil de ser apurada; no entanto, o magistrado, na formação do seu livre convencimento motivado, deve buscar a verificação do que realmente aconteceu no conflito de interesses, até porque “o papel aceita tudo”, evitando, assim, a distorção da realidade. Corroborando o que foi dito acima, os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao seu esclarecimento (art. 765 da CLT). Ademais, caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, bem como indeferir as diligências inúteis ou meramente protelatórias (art. 370 do CPC/2015). O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento (art. 371 do CPC/2015). Princípio da indisponibilidade Este encontra fundamento no princípio da indisponibilidade, irrenunciabilidade ou inderrogabilidade dos direitos trabalhistas, estabelecendo que os direitos trabalhistas sejam indisponíveis, em regra, não podendo ser objeto de renúncia ou de transação. O Estado, para assegurar uma superioridade jurídica ao empregado hipossuficiente, atua na relação jurídica empregatícia assegurando direitos trabalhistas mínimos (patamar civilizatório mínimo), sendo conhecida essa intervenção como intervencionismo básico do Estado ou dirigismo estatal básico. Logo, os direitos trabalhistas estão assegurados ao trabalhador mediante normas estatais imperativas, cogentes ou de ordem pública, que são de observância obrigatória pelas partes. Esse respeito obrigatório às normas trabalhistas acaba produzindo reflexos no Direito Processual do Trabalho. Em especial, na entrega da prestação jurisdicional. Enfim, o Processo do Trabalho tem uma função finalística, qual seja, a prestação jurisdicional pautada no efetivo cumprimento dos direitos indisponíveis dos trabalhadores. Princípio da normatização coletiva O princípio da normatização coletiva encontra fundamento constitucional no art. 114, § 2º, da CF: “Art. 114. (...). § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente”. O comentado princípio é relacionado com o Poder Normativo da Justiça do Trabalho, que é a competência constitucionalmente assegurada aos tribunais trabalhistas de criar normas e condições gerais e abstratas, sendo uma atividade atípica do Poder Judiciário e típica do Poder Legislativo, conhecida como Poder Legiferante da Justiça do Trabalho. Com efeito, os dissídios coletivos (de natureza econômica ou jurídica) são de competência originária dos tribunais trabalhistas, cujos julgamentos são consubstanciados pelas sentenças normativas, com eficácia ultra partes, produzindo efeitos jurídicos nos contratos individuais de trabalho dos trabalhadores da categoria profissional envolvida. O eminente Professor Amauri Mascaro Nascimento (2009) comenta o Poder Normativo da Justiça do Trabalho: “Dá-se o nome de poder normativo à competência constitucional dos tribunais do trabalho para proferir decisões nos processos de dissídios coletivos econômicos, criando condições e normas de trabalho com força obrigatória. Desenvolveu-se uma doutrina de suporte ao sistema instituído a partir de 1939, por meio de conceituadas opiniões, como as de Geraldo Bezerra de Menezes, para quem não se justificaria uma jurisdição especial sem o poder de criar normas nos conflitos coletivos; Rezende Puech, que recomendava o poder normativo, tendo em vista a fragilidade do sindicalismo; Cotrim Neto, defensor da necessidade de contratos coletivos impostos; Cesarino Júnior, que viu no poder normativo a preservação da igualdade e da justiça social”. Para finalizar, destacamos que o mencionado princípio da normatização coletiva não é absoluto, e sim relativo. O Poder Normativo da Justiça do Trabalho atua no vazio da lei, no vácuo da lei, encontrando limites na própria Constituição Federal, na legislação trabalhistacogente de proteção ao trabalhador e nas condições mínimas de trabalho definidas nos instrumentos de negociação coletiva (convenções coletivas de trabalho e acordos coletivos de trabalho). Princípios do Código de Processo Civil de 2015 Os arts. 1º a 15 do novel estuário processual civil trazem à baila princípios que consubstanciam verdadeiros mandamentos de otimização que orientam o operador do Direito Processual na visão pós-positivista, a saber: (1º) Princípio da interpretação do Processo Civil em conformidade com os valores e as normas fundamentais constitucionais (art. 1º): o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. (2º) Princípio da iniciativa da parte/princípio do impulso oficial (art. 2º): o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. (3º) Princípio da inafastabilidade da jurisdição ou do amplo acesso ao Poder Judiciário/princípio da conciliação/princípio da estimulação das formas alternativas de solução dos conflitos (art. 3º): não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. É permitida a arbitragem, na forma da lei. O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. (4º) Princípio da celeridade processual e da razoável duração do processo/princípio da primazia do julgamento do mérito/princípio do máximo aproveitamento processual (art. 4º): as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. (5º) Princípio da lealdade e da boa-fé processual (art. 5º): aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. (6º) Princípio da cooperação ou da colaboração (art. 6º): todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. (7º) Princípio da paridade de tratamento processual (art. 7º): é assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. (8º) Princípio da dignidade processual da pessoa humana (art. 8º): ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (9º) Princípio do contraditório e da ampla defesa (arts. 9º e 10): não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. A aludida regra comporta exceções: I – à tutela provisória de urgência; II – às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, II e III; III – à decisão prevista no art. 701. Vale ressaltar que o princípio em estudo também deverá ser observado na seara das matérias de ordem pública (objeções processuais). Com efeito, o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Trata-se do princípio da primazia do contraditório e mitigação da matéria de ordem pública. 10º) Princípio da necessidade de fundamentação das decisões judiciais (art. 11): todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público. (12º) Princípio da territorialidade (art. 13): a jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte. (13º) Princípio da irretroatividade da lei processual/princípio da imediatidade ou da imediaticidade/princípio do isolamento dos atos processuais (art. 14): a norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. (14º) Princípio da aplicação supletiva e subsidiária do Código de Processo Civil aos processos trabalhistas, administrativos ou eleitorais (art. 15): na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. Por fim, os princípios são a base fundante de qualquer ramo, instituto e ciência do direito, sendo fundamental seu estudo. Entretanto, no processo do trabalho, a peculiaridade de seus princípios são a base dos entendimentos sedimentados da Justiça do Trabalho, servindo de base para decisões nos processos e interpretando direitos e garantias das partes. Com o advento da Lei n. 13.467/2017, a Reforma Trabalhista, entende-se que o Processo do Trabalho ganhou maior formalismo, exigindo habilidade técnica mais apurada dos operadores do direito na seara justrabalhista. REFERÊNCIAS BEZERRA LEITE, Carlos Henrique (org.). Novo CPC: repercussões no processo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2017. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2010. MAIOR, Jorge Luiz Souto. Reflexos das alterações no Código de Processo Civil no processo do trabalho. Revista LTr, vol. 70, n.08. MANUS, Pedro Paulo Teixeira; TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. A execução no processo do trabalho. O devido processo legal, a efetividade do processo e as novas alterações do Código de Processo Civil. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, v. 73, n. 1, jan./mar. 2007. Rio Grande do Sul: Síntese, 2007. MARTINS, Sergio Pinto: Direito Processual do Trabalho. 30 ed. São Paulo: Atlas, 2010. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 13. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. NASCIMENTO, Amauri Mascaro: Curso de direito processual do trabalho. 28 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. PEREIRA, Leone. Princípios do direito processual do trabalho. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Pedro Paulo Teixeira Manus e Suely Gitelman (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/383/edicao- 1/principios-do-direito-processual-do-trabalho PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000. SAKO, Emília Simeão Albino. A prova no processo do trabalho: os meios de prova e o ônus da prova nas relações de emprego e trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008. SARAIVA, Renato: Curso de Direito Processual do Trabalho. 5 ed. São Paulo: Método, 2008. SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 11. ed. São Paulo: LTr, 2016. TARTUCE, Flavio. Função social dos contratos: do Código de Defesa do Consumidor ao Código Civil de 2002. 2. ed. São Paulo: Método, 2007. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Processo do trabalho: embargos à execução ou impugnação à sentença? (a propósito do art. 475-J do CPC). Revista LTr, vol. 70, n. 10. THEODORO JÚNIOR,Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015.Regionais do Trabalho (TRTs) e os Juízes do Trabalho. Os Juízes do Trabalho atuam nas Varas do Trabalho e formam a 1ª instância da Justiça do Trabalho. Os vinte e quatro (24) Tribunais Regionais do Trabalho são compostos por Desembargadores e representam a 2ª Instância da Justiça do Trabalho. Quanto ao Judiciário Trabalhista, a Emenda Constitucional n. 24, de 9.12.1999, extinguiu a representação classista na Justiça do Trabalho. A partir daí, a Justiça do Trabalho passou a ser monocrática na 1.ª Instância (Varas do Trabalho), composta apenas e tão somente do juiz togado, que presta concurso de provas e títulos. Os tribunais também mudaram suas composições porque saíram os classistas e passaram a ser compostos de juízes togados, advindos da carreira ou do quinto constitucional (Ministério Público e Advocacia). Estabelece o art. 111 e seguintes da Constituição Federal quais são os órgãos da Justiça do Trabalho: Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho: I - o Tribunal Superior do Trabalho; II - os Tribunais Regionais do Trabalho; III - Juízes do Trabalho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de 1999). COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO Competência é a distribuição interna do exercício da atividade jurisdicional, ou seja, é a “medida” da jurisdição. Todo juiz tem jurisdição, entretanto só pode exercitá-la em determinadas matérias e em determinados espaços, segundo sua competência, que é a determinação do âmbito de atuação dos órgãos encarregados das funções jurisdicionais. Por isso, é possível dizer que a jurisdição é inerente à atividade de todo juiz, mas nem todo juiz tem poderes para julgar todos os litígios. Só o juiz competente tem legitimidade para fazê-lo validamente. Competência absoluta e competência relativa A competência é considerada absoluta, em princípio, quando fixada em razão da matéria, em razão da pessoa ou pelo critério funcional. A competência absoluta é inderrogável, não podendo ser modificada. A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção. Em regra, ela é arguida como preliminar da contestação. Declarada a incompetência absoluta, os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juízo competente. Considera-se competência relativa quando fixada em razão do território ou em razão do valor da causa. A incompetência relativa é arguida por meio de exceção. Caso o réu não o faça, no momento oportuno, dar-se-á a prorrogação da competência e o juiz que era incompetente passa a ser competente, embora pudesse ter sido afastado. O juiz não pode declarar a incompetência relativa de ofício, pois não pode ele conhecer de questões suscitadas, a cujo respeito à lei exige a iniciativa da parte. A exceção é um incidente, processado em separado, em autos apartados, que serve para acusar a incompetência relativa do juiz, bem como sua suspeição ou impedimento. Na Justiça do Trabalho, as competências absolutas são a material e a funcional, enquanto a competência territorial é relativa. Competência material Quando à competência material, o tema pode ser analisado sob o ângulo dos setores do direito do trabalho, dos tipos de relações jurídicas e dos dissídios individuais e coletivos. Sistemas jurídicos unificados e sistemas jurídicos fragmentados É necessária, primeiramente, uma distinção entre sistemas jurídicos unificados e sistemas jurídicos fragmentados para uma melhor compreensão do tema. Sistemas jurídicos unificados são aqueles nos quais a Justiça do Trabalho tem competência mais ampla, abrangendo não só o direito do trabalho propriamente dito mas também o direito de previdência social e acidentes do trabalho. Já nos sistemas jurídicos fragmentados, a competência material para julgar os diferentes setores próprios e conexos das questões trabalhistas é distribuída entre diferentes órgãos da jurisdição. É o sistema adotado pelo Brasil, onde a matéria trabalhista é julgada pela Justiça do Trabalho, a matéria previdenciária é julgada pela Justiça Federal e a matéria acidentária é julgada pela Justiça Estadual. Justamente por isso, há a separação entre competência própria, originária ou específica, relativa àquela competência natural, derivada da própria Constituição; e competência imprópria, derivada ou decorrente, relativa àquelas competências que foram fruto da vontade do legislador ordinário. Reforma do Poder Judiciário (EC nº 45, de 2004) É fácil ver os inconvenientes da fragmentação. Assim, o aprimoramento da nossa organização judiciária exige revisão, em parte feita pela EC nº 45, de 2004. A Reforma do Poder Judiciário deu maior projeção à Justiça do Trabalho ao transferir, para a sua esfera de competência, ações que vinham sendo julgadas pela justiça comum e pela Justiça Federal, e que, pela sua natureza, a sua apreciação, pelo Judiciário Trabalhista, é adequada e poderá ser mais célere. Em resumo, há modificações ampliativas da competência e outras confirmativas. Entre as primeiras estão a sua competência material, agora, para conhecer e decidir: 1) ações oriundas da relação de trabalho; 2) ações sobre disputas de representatividade entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e empregadores; 3) ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; 4) os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, portanto, conflitos de competência de todos os seus tribunais, excluídos aqueles entre Tribunais Superiores. Entre as segundas, inclui-se a sua competência para: 1) a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; 2) ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho, o que vinha sendo admitido pela jurisprudência; 3) ações que envolvam exercício do direito de greve, os mandados de segurança, habeas corpus, que já vinha apreciando com base em legislação subsidiária e jurisprudência, e habeas data quando o ato questionado envolver matéria sujeita a sua jurisdição. O texto da EC n. 45 retira, do plano constitucional, a competência da Justiça do Trabalho para conciliar. Antes da alteração, a Constituição de 1988 dispunha que “compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar” (art. 114) e, na forma da citada Emenda, de 2004, que modifica seu texto, o mesmo art. 114 recebeu outra redação declarando que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar (art. 114, caput). Todavia, a função conciliatória não foi excluída. Foi preservada. Continua com respaldo infraconstitucional (CLT, art. 652, a). Os processos em curso, na justiça comum, podem ser remetidos para a sua continuidade na Justiça do Trabalho? O princípio geral é o seguinte: determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. A exceção ao princípio também é clara: alterada a competência em razão da matéria, o processo deve ser transferido para a jurisdição que a adquiriu. Como a EC n. 45 modificou a competência da justiça comum e da Justiça Federal, os processos nela em trâmite devem ser imediatamente enviados à Justiça do Trabalho, perante a qual terão seguimento. A doutrina predominante segue as lições de Paul Roubier (Le droit transitoire), a sua teoria do efeito imediato sobre as relações jurídicas de trato sucessivo. Efeito imediato não se confunde com retroatividade. A lei nova aplica-se imediatamente aos atos jurídicos futuros (efeito imediato) da relação jurídica (no caso o processo) em andamento. Há decisões judiciais que não seguem essas diretrizes, priorizando imperativos práticos. Tomam por base, para definir a competência,a data da sentença proferida em primeiro grau. Se a decisão é da justiça comum o processo nela deve continuar até o fim. Se não foi proferida decisão de primeiro grau na justiça comum, o processo deve ser remetido à Justiça do Trabalho (STF, CC 7.204, MG, rel. Min. Carlos Britto, 20-6-2005, DJ, 9 dez. 2005). A transferência, para a Justiça do Trabalho, de ações movidas originariamente na justiça comum pode trazer problemas de competência. Ex.: ação de prestação de serviços autônomos movida na justiça comum no último ano do prazo prescricional de cinco anos e remetida para a Justiça do Trabalho, na qual o prazo de prescrição é de dois anos. Trata- se de uma questão que deve ser solucionada com base no princípio do efeito imediato da lei nova. Para o juiz do trabalho, as transformações são da maior importância na medida em que o qualificam, bem como ao Judiciário Trabalhista, para decidir conflitos que, inicialmente, não estavam sob a sua jurisdição, o que valoriza a instituição. E, para o juiz de direito, deixar de julgar essas questões será vantajoso, pois terá maior disponibilidade para outras demandas que não se referem a relações de trabalho. Relações de trabalho Dissídios sobre relações de trabalho abrangem: - situações de emprego; - algumas formas semelhantes às relações de emprego. - contratos de atividade laboral do Código Civil. O instrumento pelo qual o conflito é posto perante seus órgãos é denominado dissídio. A palavra “conflito” deve ser utilizada para designar a divergência de interesses no plano material. Uma das modificações introduzidas pela EC n. 45 de 2004, que instituiu a Reforma do Poder Judiciário, amplia a competência da Justiça do Trabalho para (art. 114) “processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho” e “IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”. Diferem, portanto, os textos da Constituição de 1988, ao declarar que essa competência é para questões entre trabalhadores e empregadores, e o da EC n. 45, segundo o qual a competência do Judiciário Trabalhista é definida, em termos mais amplos, para julgar ações oriundas ou decorrentes das relações de trabalho. Onde a EC n. 45 não restringiu não é dado ao intérprete, celebremente, impor uma limitação, de modo que a amplitude do novo conceito realmente alargou a competência do Judiciário Trabalhista, que não pode ser alterado por lei infraconstitucional. Distinguem-se, portanto, dois conceitos, o de relação de trabalho e o de relação de emprego, e a EC n. 45/2004, ao atribuir ao Judiciário Trabalhista competência para julgar relações de trabalho, sem dúvida modificou as diretrizes constitucionais. A nova lei permite concluir que o Judiciário Trabalhista pode julgar toda relação de trabalho de pessoa física para pessoa jurídica ou física, uma vez que no plano constitucional o sujeito passivo que recebe os serviços de alguém não é mais o empregador, mas o tomador de serviço. Alguns contratos de trabalho do Código Civil também são abrangidos pelo conceito genérico de relação de trabalho, com o que é possível concluir que o seu julgamento, como tal, foi transferido do Judiciário comum para o trabalhista. O consumidor, como tal, é protegido pelo Código do Consumidor, e essa questão é decidida pela justiça comum e pelos Juizados Especiais da justiça comum. O trabalhador, quanto ao serviço que prestou para um tomador, pode pleitear perante a Justiça do Trabalho. A competência da Justiça do Trabalho limita-se às demandas de servidores públicos civis regidos pela legislação trabalhista, caso em que há, na verdade, relação de emprego no serviço público. Exclui as lides de servidores públicos estatutários, que são os funcionários públicos. Em conclusão, a competência para decidir relações de trabalho não estatutárias ou “celetistas” é da Justiça do Trabalho, enquanto relações de funcionários públicos com a administração direta ou de pessoal a eles equiparados por lei cabem à justiça comum ou à Federal, conforme o nível estadual ou federal do órgão público questionado. A competência para julgar questões sobre contrato a tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público da Administração é da justiça comum, quando, evidentemente, tratar-se de estatutário. Conclui-se, assim, que o inciso I do art. 114 é ampliativo da Justiça do Trabalho e o inciso IX dirige-se às controvérsias relacionadas, como ações de acidentes de trabalho, de previdência social ou outras, se a lei vier a assim dispor, o que dependeria de uma reforma da organização da Justiça do Trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para apreciar dissídios individuais entre empregados e empregadores rurais. Também é competente para apreciar o processo entre o empregado doméstico e seu empregador, que será uma pessoa ou família. Dá-se o nome de ação de cumprimento ao dissídio individual que legitima, concorrentemente, o empregado ou o sindicato a pleitear a condenação da empresa à observância e pagamento dos direitos previstos em instrumento coletivo, assim considerado aquele que resulta de uma negociação coletiva ou de um dissídio coletivo. A ação de cumprimento é um dissídio individual ordinário com rito comum e tem por fundamento uma sentença normativa proferida em dissídio coletivo. É prevista na CLT, art. 872, parágrafo único. Está acoplada ao dissídio coletivo, do qual depende e resulta, de modo que, não havendo sentença normativa, a não ser quando proferida em ação coletiva, inexistirá ação de cumprimento sem o prévio dissídio coletivo que lhe deu vida. A Lei n. 8.984, de 1995, ampliou o âmbito da ação de cumprimento, antes restrito à execução das sentenças normativas proferidas nos dissídios coletivos, para autorizar as referidas ações também com base em acordos ou convenções coletivas de trabalho. Como se vê, a interpretação literal da lei indica que o objeto da ação de cumprimento é a cobrança de salários previstos em sentenças normativas; todavia, a prática judicial tem admitido uma extensão mais ampla para fazer da ação de cumprimento meio de cobrar qualquer cláusula de sentença normativa, posição que, como se vê, ultrapassa os parâmetros da lei. Estão legitimados, concorrentemente o empregado e o sindicato, na forma prevista pela Lei n. 8.984/95, e quando a ação tiver como partes o sindicato e a empresa ou dois sindicatos, a competência da Justiça do Trabalho é derivada e não originária ou específica, porque nesse caso não estará julgando uma questão entre empregados e empregador. A Justiça do Trabalho é competente para decidir questões de trabalho avulso. O trabalhador avulso, assim considerado aquele que presta serviços sem relação de emprego e com a intermediação do próprio sindicato, inconfundível, embora semelhante, com o trabalhador eventual, tem o direito de ação na Justiça do Trabalho. Quanto às ações entre empreiteiro operário e empreitador, algumas observações podem ser feitas. Empreitada é contrato de direito civil, regido pelas normas próprias desse setor da ordem jurídica. A empreitada não se confunde com a relação de emprego. Há grandes e pequenas empreitadas, conforme o vulto econômico do negócio, e empreiteiras pessoas jurídicas ou pessoas físicas. Portanto, há, em consequência, grandes e pequenos empreiteiros, e entre estes o empreiteiro operário. Este é um trabalhador. Presta serviços pessoalmente. A CLT, art. 652, a, III, atribuiu competência à Justiça do Trabalho para decidir as questões entre o empreiteiro operário ou artífice e os tomadores dos seus serviços. Não há inconstitucionalidade. O art. 114 da Lei Maior prevê a competência do Judiciário Trabalhista para relações de trabalho. Trabalhador temporário é aquele que presta serviço para empresas cedentes de mão de obra, para atendimento de necessidadeseventuais de terceiros que se beneficiam com esse trabalho. A Justiça do Trabalho é competente para apreciar as questões entre o trabalhador temporário e ambas as empresas, a cedente e a cessionária, por força do disposto no art. 19 da Lei n. 6.019/74. Porém, para as questões entre ambas as empresas, a cedente e a cessionária, a Justiça do Trabalho é incompetente em razão da matéria por se tratar de lide de direito civil. A prevalecer a interpretação ampla da EC n. 45, a Justiça do Trabalho é competente para julgar ações de prestadores de serviços autônomos e de serviços eventuais. É o entendimento que mais se coaduna com a citada Emenda quando define a Justiça do Trabalho competente para relações de trabalho e porque esses dois tipos de atividades são relações de trabalho. Certo é que há autônomos nos diferentes níveis de segmento social, porque autônomo tanto é o motorista de táxi que, ao receber o pagamento de uma corrida, desentende-se com o passageiro e quer solucionar o conflito, como o médico cirurgião que não recebeu os honorários da cirurgia, como, ainda, o advogado que quer arbitramento judicial do valor dos seus serviços. O contrato do advogado é o mandato. Há entendimento segundo o qual o mandato é uma relação de trabalho, mas é possível, também, interpretá-lo como uma outorga de poderes e não uma relação de trabalho. Dissídios coletivos No Brasil, a Justiça do Trabalho é competente para julgar dissídios coletivos de interesse ou econômicos. Os dissídios coletivos econômicos, a partir de 2004 (EC n. 45) tornaram-se um sério problema jurídico com a exigência legal da concordância do suscitado para a admissibilidade do processo e com a supressão dos vocábulos que constavam da Constituição de 1988 pela EC n. 45 e que são “criar normas e condições de trabalho”. Para Amauri Mascaro Nascimento, o dissídio coletivo econômico foi transformado em arbitragem facultativa. Por meio dos dissídios coletivos são estabelecidas regras gerais denominadas sentenças normativas, constitutivas de novos direitos, não previstos ainda pelas demais normas jurídicas. São da competência originária dos órgãos de segundo grau, os Tribunais Regionais do Trabalho. Quando abrange mais de uma Região, passa para a competência do Tribunal Superior do Trabalho. Nesse caso, o TST atua como instância recursal para os dissídios coletivos da competência originária dos Tribunais Regionais, e como instância originária para os dissídios coletivos que interessam e atingem mais de uma Região. A competência para julgar dissídios coletivos de natureza econômica envolve discussão sobre o modelo adotado para a solução desses conflitos a partir de 2004 (EC nº 45). É mantida a exigência da tentativa prévia da negociação coletiva para solucionar o conflito, como também a possibilidade de arbitragem, como já estabelecia a Constituição Federal de 1988, não podendo, desse modo, desde logo ser proposto o dissídio coletivo econômico, sob pena de carência da ação, sem que se comprove o exaurimento da via consensual ou a recusa de uma das partes em negociar. A EC nº 45/2004 dispõe apenas que é facultado às partes, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito respeitadas as disposições mínimas legais de proteção do trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. O número de dissídios coletivos econômicos, que já vem caindo, tenderá a diminuir, a negociação coletiva poderá ser fortalecida e há a possibilidade de ampliação da greve nos casos de recusa da empresa em negociar ou autocompor-se. Os dissídios coletivos jurídicos, assim considerados aqueles nos quais a ação judicial se destina à declaração ou interpretação de norma jurídica ou contratual, como uma cláusula de contrato coletivo, não sofreram modificação, continuando a possibilidade do seu ajuizamento unilateral com a finalidade de obter, do Judiciário, a interpretação final e definitiva do Direito. Quanto à competência para julgar greve em atividade essencial e não essencial, quando presente a possibilidade de lesão do interesse público, em nome deste interesse e no desempenho das suas atribuições constitucionais, a Procuradoria da Justiça do Trabalho pode instaurar dissídio coletivo de greve perante os Tribunais Regionais do Trabalho, e se a amplitude da greve ultrapassar o âmbito de um Tribunal Regional, a competência originária será do Tribunal Superior do Trabalho. A greve em atividade não essencial é judicialmente apreciada como dissídio coletivo instaurado pela entidade sindical dos trabalhadores ou pela entidade sindical patronal e/ou empresa, seguindo os trâmites do dissídio coletivo econômico. A diferença entre dissídios coletivos de greve e ações que envolvam o exercício do direito de greve é a mesma que há entre conteúdo e procedimento. Essas ações não se referem ao julgamento do pleito ou da licitude ou ilicitude da greve, questão que fica para a esfera do dissídio coletivo nos tribunais. Restringem-se à verificação da regularidade ou não dos meios que estão sendo adotados pelas partes no procedimento de greve. O mérito, isto é, a abusividade ou não da greve e o pleito econômico que a gerou é matéria de dissídio coletivo. Os atos sindicais ou patronais que possam ferir o exercício da greve são da competência das Varas do Trabalho. A greve não se confunde com os pleitos por ela reivindicados pelos trabalhadores. O meio não é o mesmo que o fim visado para atingi-lo. Pode haver pleitos coletivos sem greve resolvidos, sem as vias judiciais, por negociação coletiva ou pelos meios processuais com os dissídios coletivos, igualmente sem greve. Combinam-se, nesse caso, a autotutela, permitida pelo direito do trabalho, e o processo judicial, o que leva o Tribunal a dois tipos de decisão numa só sentença normativa: o julgamento do mérito da greve para considera- la abusiva ou não e o julgamento de cada pretensão apresentada pelo sindicato autor na inicial, que será acolhida ou rejeitada, terminando assim o conflito. Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data O novo art. 114 da Constituição estabeleceu como competência da Justiça do Trabalho processar e julgar os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição. Uma das grandes novidades é a possibilidade de impetração de mandado de segurança perante a Vara do Trabalho (primeiro grau de jurisdição), evidentemente quando o ato questionado envolver matéria sujeita a sua jurisdição. O habeas corpus, quando o ato questionado envolver matéria sujeita a jurisdição trabalhista, passa a ser julgado pela Justiça do Trabalho. Em relação ao habeas data, a Constituição permite o manejo desse remédio na justiça trabalhista para possibilitar ao trabalhador o acesso a dados pessoais constantes de bancos de dados em poder do Estado e do próprio empregador. Objetiva o habeas data, portanto, salvaguardar os direitos da personalidade, por meio da autodeterminação informativa, protegendo-se o direito à intimidade e à vida privada. Competência territorial Denomina-se competência territorial ou de foro aquela determinada com base nos espaços geográficos sobre os quais ata o órgão jurisdicional. Trata-se, portanto, de um modo de delimitação territorial da jurisdição. São três as regas destinadas a definir a Vara perante a qual a questão deve ser movida, estabelecidas pelo art. 651 da CLT. A primeira, que é geral, é a Vara do loca da prestação de serviços. De acordo com o art. 651 da CLT, a competência das Varas do Trabalho é determinada pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. A segunda, para viajantes e agentes, tendo em vista que prestam serviços movimentando-seem localidades diferentes a Vara da localidade em que prestam contas dos seus serviços ao superior hierárquico. A terceira, para empresas que promovem atividades em mais de uma localidade, é a Vara tanto do local onde o empregador estiver exercendo a atividade como a da sua sede. As empresas brasileiras podem manter empregados trabalhando em filiais situadas em outros países. Prevalece o princípio da territorialidade: o empregado está sujeito às leis do país em que trabalha e a sua jurisdição. Porém a nossa legislação processual não excluiu a possibilidade da ação no Brasil. Se houve um tratado internacional, prevalecerá o local por ele indicado, e não outro (art. 651, § 2º, da CLT). Há, aqui, um foro optativo, de modo que a propositura da ação em um local exclui o direito de fazê-lo em outro. Competência por distribuição Num mesmo território com diversas Varas igualmente competentes, os processos serão distribuídos entre elas. É a competência por distribuição. Nas localidades em que existir mais de uma Vara, haverá um distribuidor (CLT, art. 713), cabendo-lhe a distribuição dos processos, pela ordem de entrada, sucessivamente a cada Vara na medida em que forem apresentadas as ações. Também por distribuição será fixada a competência dos órgãos de segunda instância, em decorrência da existência de mais de uma turma em alguns Tribunais Regionais e da repartição dos processos entre relatores. Prorrogação de competência A competência territorial, como é simplesmente relativa, pode ser prorrogada, sempre que movido o processo perante Vara não competente e a exceção de incompetência não venha a ser suscitada. Não pode a Vara, ex officio, declarar-se incompetente ratione loci, mas somente mediante provocação do interessado. Há, no entanto, incoerência da lei que se afasta da doutrina e é pouco elucidativa quando ordena ao juiz declarar de ofício nulidade decorrente de incompetência de foro (CLT, art. 795, § 1º). Competência por prevenção É o fenômeno processual pelo qual se afirma a competência de um órgão dentre mais de um igualmente competente. Aquele que primeiro conhece da lide tem a sua competência estabelecida, em razão desse mesmo fato. Foro de eleição O foro de eleição é aquele em que as partes, num contrato, acordam no sentido de que qualquer pendência será resolvida em determinado local. É muito comum no Direito Civil (art. 78 do Código Civil). No processo do trabalho, não se admite o foro de eleição, pois a sua admissibilidade redundaria em problemas de difícil solução dada a hipossuficiência do trabalhador. É considerada não escrita a cláusula no contrato de trabalho que estabeleça foro de eleição. A regra a respeito da competência no processo do trabalho é a estabelecida no art. 651 da CLT e seus parágrafos, inexistindo foro de eleição. Não há omissão na CLT para se aplicar o CPC. Competência territorial nos dissídios coletivos Há dissídios coletivos entre sindicatos que têm base territorial limitada a uma Região da Justiça do Trabalho. Porém pode haver dissídio coletivo entre sindicatos que têm base territorial excedendo uma Região da Justiça do Trabalho. Assim, duas regras são necessárias. Os dissídios coletivos devem ser propostos perante o TRT onde o sindicato tem base territorial. No entanto, quando o dissídio coletivo, pela sua amplitude, exceder o âmbito jurisdicional de um Tribunal Regional, alcançando mais de uma Região, porque o sindicato representa trabalhadores de várias Regiões, será proposto perante o TST (CLT, arts. 677 e 702, I, b). Competência funcional A competência funcional é a definida em razão das atribuições das quais se desincumbem as pessoas. Refere-se a um aspecto do processo: os atos que cabem aos diferentes órgãos e juízes, no mesmo processo. No plano horizontal, significa o critério de determinação das funções dos juízes num mesmo órgão e, no plano vertical, é determinada em razão das funções dos magistrados de diversos órgãos pelos quais o processo, em primeira e segunda instância, tramita. Compete aos juízes das Varas do Trabalho a prática de atos de audiência e atos fora da audiência. Atos de audiência: - dirigir a audiência; - formular perguntas às partes e às testemunhas, tanto as próprias como as dos advogados; - tomar os esclarecimentos dos peritos; - documentar essas provas, ordenando ao datilógrafo de audiência que as anote em uma ata; - apreciar as petições formuladas pelas partes; - tentar a conciliação entre as partes; - executar as sentenças transitadas em julgado; - cumprir as cartas precatórias que lhe forem deprecadas. Os atos fora de audiência que o juiz pratica são, em sua quase totalidade, os despachos das petições e processos, inclusive dos recursos interpostos pelas partes. A redação das sentenças, ato que também é privativo do juiz, tanto é feita na audiência como fora dela, uma vez que a lei concede prazo de 48 horas para tal fim. Atribuições administrativas são a posse de funcionários, a assinatura de relatórios dos trabalhos mensais e anuais etc. O juiz-presidente dos TRTs preside as reuniões e tem voto de desempate. Nas sessões administrativas, vota como os demais juízes, além do voto de qualidade. Preside as audiências de conciliação dos dissídios coletivos, salvo nos tribunais em que essa função é transferida para o vice-presidente. Fora das sessões, as suas atribuições principais são os despachos de recursos interpostos pelas partes, a decisão das correições parciais a distribuição dos feitos designando os juízes que devem relatar. Além disso, possui inúmeras atividades de natureza administrativa. Os TRTs podem ser divididos em turmas, grupos e seções especializadas, caso em que são escolhidos os presidentes de turmas e de grupos de turmas ou seções especializadas que presidem as sessões na forma do regimento interno do Tribunal. Todos os relatores, revisores e demais juízes votam no julgamento, negando ou dando provimento total ou parcial ao recurso. Há TRTs não divididos e outros nos quais há uma subdivisão dos órgãos em turmas e grupos de turmas. Nos tribunais não divididos, a competência é recursal e originária. Nos tribunais divididos, a divisão não é sempre a mesma. A competência funcional do TST é definida pela Lei 7.701/88, a qual estabelece a competência do Tribunal Pleno, da seção especializada em dissídios coletivos, da seção especializada em dissídios individuais e das turmas do TST. O Regimento Interno do TST também dispõe sobre a composição e competência do Órgão Especial do Tribunal Superior do Trabalho e sobre os temas tratados pela lei mencionada. Conflitos de competência Dão-se quando dois ou mais juízes se derem por competentes ou incompetentes. Na jurisdição trabalhista, os conflitos de competência, previstos do art. 803 ao 812, serão resolvidos na forma do art. 808, da CLT. De acordo com o art. 805 da CLT, o conflito pode ser suscitado pelo juiz, pelas partes ou pelo Ministério Público. Assim, serão processados e julgados pelo Tribunal Superior, os suscitados entre Tribunais Regionais, ou entre Varas do Trabalho e Juízos de Direito sujeitos à jurisdição de Tribunais Regionais diferentes; e pelos Tribunais Regionais, os suscitados entre Varas do Trabalho e entre Juízos de Direito investidos na jurisdição trabalhista, ou entre uma e outras, nas respectivas regiões. Ressalte-se ainda o que dispõe a Súmula 420 do TST: não se configura conflito de competência entre Tribunal Regional do Trabalho e Vara do Trabalho a ele vinculada. Incompetência da Justiça Do Trabalho A CLT, no seu art. 643, § 2º, dispõe que as questões referentes a acidentes de trabalho continuam sujeitas à justiça ordinária. A Justiça do Trabalho é incompetente para julgar questões de acidentes do trabalho. A EC nº 45, ao dispor que compete à Justiça do Trabalho julgar asações oriundas das relações de trabalho, não foi explícita em atribuir-lhe competência para decidir sobre acidentes de trabalho. É sustentável concluir que isso ocorreu porque a ação judicial não visaria à obtenção de direitos decorrentes do contrato de trabalho, mas à concessão de prestação previdenciária por parte do INSS. As questões de natureza previdenciária, entre o segurado ou seus dependentes e o INSS, são decididas, na esfera administrativa, pelos órgãos administrativos da própria instituição previdenciária. No plano jurisdicional, são decididas pela Justiça Federal, por se tratar de ação contra autarquia federal. A justiça comum, no entanto, decide essas lides sempre que a comarca não seja sede de Vara da Justiça Federal. Entretanto as reclamações sobre complementação de aposentadoria são de competência da Justiça do Trabalho, por se tratar de dissídio entre empregado e empregador. A Constituição Federal, no seu art. 109, VI, atribuiu competência aos juízes federais para julgar crimes contra a organização do trabalho. A EC nº 45, ao dispor que a Justiça do Trabalho é competente para julgar ações oriundas das relações de trabalho, abriu a discussão. Para alguns, o Judiciário Trabalhista possui competência para essas ações, pois estariam compreendidas no conceito de “relações do trabalho”, além do fato de que os maiores conhecimentos do juiz do trabalho sobre irregularidades trabalhistas facilitaria a compreensão dos casos. Os argumentos contrários vão no sentido de que isso é matéria de direito penal e o princípio do favor laboratoris do direito do trabalho opõe-se ao princípio penal do in dubio pro reo. Exceção de incompetência As exceções são defesas dirigidas contra o processo e não contra o mérito, não visam à improcedência do pedido, mas sim a trancar o curso do processo, provocando a sua extinção sem resolução do mérito, ou a dilatação do seu curso. Ou seja, exceção é o indicativo de um tipo especial de resposta do réu, ao lado da contestação e da reconvenção, cabível nas hipóteses em que o sujeito passivo objetive alegar incompetência relativa, impedimento ou suspeição. A incompetência que deve ser apontada em razão de exceção trata-se da incompetência relativa, ou seja, aquela que se dá pelo fato do juízo que está para julgar determinada demanda não ser o competente devido aos critérios territoriais ou em virtude do valor da causa, conforme especificam os arts. 102 e 111 do CPC. A CLT disciplina as exceções no artigo 799 assim redigido: “Nas causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente podem ser opostas com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou incompetência. § 1º. As demais exceções serão alegadas como matéria de defesa”. Somente a incompetência relativa deve ser arguida por meio de exceção, pois a incompetência absoluta deve ser alegada no próprio bojo da contestação, como matéria preliminar. A competência em razão do lugar é relativa. Por isso, se não for arguida a exceção, no prazo para resposta (artigo 847, da CLT), haverá preclusão da matéria, prorrogando-se a competência da Vara em que a reclamação foi proposta. O Juiz do Trabalho não poderá conhecer, de ofício, da incompetência relativa. Embora o artigo 795, § 1º, da CLT assevere que deverá ser declarada de ofício a incompetência de foro, esta incompetência é a absoluta e não a relativa. O termo foro deve ser interpretado no sentido da Justiça competente em razão da matéria, ou seja: foro civil, foro criminal, foro trabalhista, etc. Somente o reclamado poderá arguir a exceção de incompetência em razão do lugar, pois o reclamante já escolheu a Vara do local em que pretendeu propor a ação, havendo preclusão consumativa. A CLT disciplina o procedimento da exceção de incompetência nos artigos nos artigos 799 e 800, da CLT, não havendo espaço para aplicação do CPC no aspecto. Nos termos do artigo 799 da CLT, apresentada a exceção, o juiz suspenderá o feito e abrirá vistas do exceto por 24 horas improrrogáveis (artigo 800, da CLT) e proferirá a decisão na primeira audiência sessão que se seguir. Se acolher a exceção, remeterá os autos à Vara competente, se rejeitar, prosseguirá na instrução do feito. No cotidiano das Varas Trabalhistas, o Juiz do Trabalho costuma decidir a exceção de incompetência em razão do lugar na própria audiência em que ela foi arguida se o reclamante reconhecer que, efetivamente, trabalhou no local de trabalho declinado pela excipiente. A decisão que aprecia a exceção em razão do lugar é de natureza interlocutória, não havendo como se recorrer de plano, restando a possibilidade do reclamado renovar a matéria quando do recurso cabível da decisão final (artigo 799, § 2º, da CLT), ou seja em sede de Recurso Ordinária (artigo 895, da CLT). Dispõe o artigo 799, § 2º, da CLT: “Das decisões sobre exceções de suspeição e incompetência, salvo, quanto a estas, se terminativas do feito, não caberá recurso, podendo, no entanto, as partes alegá-las novamente no recurso que couber da decisão final”. Embora o referido dispositivo mencione que a exceção de incompetência em razão do lugar possa ser terminativa do feito, somente a exceção de incompetência absoluta poderá ter esta qualidade, pois o processo será encaminhado para a Justiça competente diversa da trabalhista. A Súmula 214, alínea c, do TST possibilita o recurso ordinário em face da decisão que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado, ou seja, se o Juiz do Trabalho, acolhendo a exceção de incompetência territorial, determinar a remessa dos autos para outra Vara do Trabalho vinculada a outro Tribunal Regional do Trabalho, segundo a citada Súmula há a possibilidade de interposição do Recurso Ordinário, pois a decisão é terminativa do feito junto à jurisdição do TRT em que o Juiz prolatou a Decisão. Quanto ao aspecto formal, a jurisprudência e a praxe trabalhista têm admitido que a exceção de incompetência em razão do lugar seja apresentada no próprio bojo da contestação em razão dos princípios da informalidade e simplicidade do Processo do Trabalho. Além disso, como a exceção e a defesa podem ser apresentadas num mesmo momento em audiência (artigos 846 e 847, da CLT), não há como não admitir que a exceção possa ser apresentada na mesma peça da contestação. SERVIÇOS AUXILIARES DA JUSTIÇA DO TRABALHO Secretaria Cada Vara terá 1 (uma) secretaria, sob a direção de funcionário que o Juiz designar, para exercer a função de secretário, e que receberá, além dos vencimentos correspondentes ao seu padrão, a gratificação de função fixada em lei (Art. 710). Compete à secretaria das Varas (Art. 711): a) o recebimento, a autuação, o andamento, a guarda e a conservação dos processos e outros papéis que lhe forem encaminhados; b) a manutenção do protocolo de entrada e saída dos processos e demais papéis; c) o registro das decisões; d) a informação, às partes interessadas e seus procuradores, do andamento dos respectivos processos, cuja consulta lhes facilitará; e) a abertura de vista dos processos às partes, na própria secretaria; f) a contagem das custas devidas pelas partes, nos respectivos processos; g) o fornecimento de certidões sobre o que constar dos livros ou do arquivamento da secretaria; h) a realização das penhoras e demais diligências processuais; i) o desempenho dos demais trabalhos que lhe forem cometidos pelo Presidente da Junta, para melhor execução dos serviços que lhe estão afetos. Compete especialmente aos secretários das Varas do Trabalho (Art. 712): a) superintender os trabalhos da secretaria, velando pela boa ordem do serviço; b) cumprir e fazer cumprir as ordens emanadas do Presidente e das autoridades superiores; c) submeter a despacho e assinatura do Presidenteo expediente e os papéis que devam ser por ele despachados e assinados; d) abrir a correspondência oficial dirigida à Junta e ao seu Presidente, a cuja deliberação será submetida; e) tomar por termo as reclamações verbais nos casos de dissídios individuais; f) promover o rápido andamento dos processos, especialmente na fase de execução, e a pronta realização dos atos e diligências deprecadas pelas autoridades superiores; g) secretariar as audiências da Junta, lavrando as respectivas atas; h) subscrever as certidões e os termos processuais; i) dar aos litigantes ciência das reclamações e demais atos processuais de que devam ter conhecimento, assinando as respectivas notificações; j) executar os demais trabalhos que lhe forem atribuídos pelo Presidente da Junta. Parágrafo único – Os serventuários que, sem motivo justificado, não realizarem os atos, dentro dos prazos fixados, serão descontados em seus vencimentos, em tantos dias quantos os do excesso. Distribuidores Nas localidades em que existir mais de uma Vara do Trabalho haverá um distribuidor (Art. 713). Compete ao distribuidor (Art. 714): a) a distribuição, pela ordem rigorosa de entrada, e sucessivamente a cada Junta, dos feitos que, para esse fim, lhe forem apresentados pelos interessados; b) o fornecimento, aos interessados, do recibo correspondente a cada feito distribuído; c) a manutenção de 2 (dois) fichários dos feitos distribuídos, sendo um organizado pelos nomes dos reclamantes e o outro dos reclamados, ambos por ordem alfabética; d) o fornecimento a qualquer pessoa que o solicite, verbalmente ou por certidão, de informações sobre os feitos distribuídos; e) a baixa na distribuição dos feitos, quando isto lhe for determinado pelos Presidentes das Juntas, formando, com as fichas correspondentes, fichários à parte, cujos dados poderão ser consultados pelos interessados, mas não serão mencionados em certidões. Os distribuidores são designados pelo Presidente do Tribunal Regional dentre os funcionários das Juntas e do Tribunal Regional, existentes na mesma localidade, e ao mesmo Presidente diretamente subordinados, conforme Art. 715 da CLT. Do cartório dos Juízos de Direito Os cartórios dos Juízos de Direito, investidos na administração da Justiça do Trabalho, têm, para esse fim, as mesmas atribuições e obrigações conferidas na Seção I às secretarias das Juntas de Conciliação e Julgamento (Art. 716). Além disso, segundo parágrafo único, nos Juízos em que houver mais de um cartório, far-se-á entre eles a distribuição alternada e sucessiva das reclamações. Aos escrivães dos Juízos de Direito, investidos na administração da Justiça do Trabalho, competem especialmente as atribuições e obrigações dos secretários das Varas; e aos demais funcionários dos cartórios, as que couberem nas respectivas funções, dentre as que competem às secretarias das Varas, enumeradas no art. 711 (Art. 717). Das secretarias dos Tribunais Regionais Cada Tribunal Regional tem 1 (uma) secretaria, sob a direção do funcionário designado para exercer a função de secretário, com a gratificação de função fixada em lei (Art. 718). Competem à Secretaria dos Conselhos, além das atribuições estabelecidas no art. 711, para a secretaria das Juntas, mais as seguintes (Art. 719): a) a conclusão dos processos ao Presidente e sua remessa, depois de despachados, aos respectivos relatores; b) a organização e a manutenção de um fichário de jurisprudência do Conselho, para consulta dos interessados. Parágrafo único – No regimento interno dos Tribunais Regionais serão estabelecidas as demais atribuições, o funcionamento e a ordem dos trabalhos de suas secretarias. Competem aos secretários dos Tribunais Regionais as mesmas atribuições conferidas no art. 712 aos secretários das Varas do Trabalho, além das que lhes forem fixadas no regimento interno dos Conselhos (Art. 720). Dos Oficiais de Justiça e Oficiais de Justiça Avaliadores Os oficiais de justiça são auxiliares dos juízes, com a função precípua de efetuar citações, intimações e outras diligências dentro da respectiva circunscrição judiciária. Na Justiça do Trabalho, a essas atribuições acrescenta-se a da penhora e avaliação, na fase executória. O artigo 721 da CLT disciplina esse auxiliar. Incumbe aos Oficiais de Justiça e Oficiais de Justiça Avaliadores da Justiça do Trabalho a realização dos atos decorrentes da execução dos julgados das Varas do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho, que lhes forem cometidos pelos respectivos Juízes (Art. 721). Para efeito de distribuição dos referidos atos, cada Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça Avaliador funcionará perante uma Vara do Trabalho, salvo quando da existência, nos Tribunais Regionais do Trabalho, de órgão específico, destinado à distribuição de mandados judiciais (§ 1º). Nas localidades onde houver mais de uma Vara, respeitado o disposto no parágrafo anterior, a atribuição para o comprimento do ato deprecado ao Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça Avaliador será transferida a outro Oficial, sempre que, após o decurso de 9 dias, sem razões que o justifiquem, não tiver sido cumprido o ato, sujeitando-se o serventuário às penalidades da lei (§ 2º). No caso de avaliação, terá o Oficial de Justiça Avaliador, para cumprimento do ato, o prazo previsto no art. 888 (10 dias) (§ 3º). É facultado aos Presidentes dos Tribunais Regionais do Trabalho cometer a qualquer Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça Avaliador a realização dos atos de execução das decisões desses Tribunais (§ 4º). Na falta ou impedimento do Oficial de Justiça ou Oficial de Justiça Avaliador, o Juiz da Vara do Trabalho poderá atribuir a realização do ato a qualquer serventuário (§ 5º). PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO No Direito, os princípios são regramentos básicos que fundamentam todo o ordenamento jurídico, determinado ramo ou área do conhecimento ou um instituto de direito material ou processual do trabalho. O estudo dos princípios, para qualquer ramo ou instituto jurídico, representa a parte mais importante da matéria, servindo de base para a compreensão do conteúdo. Representa a parte nuclear da ciência jurídica. O eminente jurista Celso Antônio Bandeira de Mello (2001) assim define princípio: “É, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”. Princípios peculiares do Direito Processual do Trabalho O Direito Processual do Trabalho é regido por Princípios Constitucionais do Processo, bem como por Princípios do Direito Processual Civil. Além disso, é inegável que o Processo Laboral possui princípios peculiares, típicos, caracterizando a sua autonomia. Princípio da simplicidade Comparando-se o Processo Civil com o Processo do Trabalho, é inegável afirmar que o último é mais simples e menos burocrático do que o primeiro. Na verdade, a CLT preocupou-se com o jus postulandi, que é a possibilidade de empregadoe empregador postularem pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanharem as suas reclamações até o final, sem advogado (art. 791 da CLT), sendo uma exceção do ordenamento jurídico vigente da capacidade postulatória privativa de advogado. Dessa forma, privilegiou-se a facilitação do acesso do trabalhador ao Judiciário Trabalhista, bem como ao trâmite processual simplificado, entregando-se ao jurisdicionado as verbas trabalhistas, de natureza alimentar. Como observamos, sempre que possível, os excessos do formalismo e da burocracia devem ser eliminados, na medida em que a busca da efetiva prestação jurisdicional e do acesso à ordem jurídica justa devem ser uma constante. Princípio da informalidade Processo é o instrumento da jurisdição. É o conjunto de atos processuais coordenados que se sucedem no tempo, objetivando a entrega do bem da vida ao jurisdicionado com a aplicação do direito objetivo ao caso concreto. Já o procedimento é a forma pela qual o processo se desenvolve, de modo mais singelo ou mais complexo. O Processo do Trabalho apresenta quatro procedimentos: I) procedimento comum (ordinário): para as demandas cujo valor da causa seja superior a 40 salários mínimos; II) procedimento sumário (dissídio de alçada): previsto no art. 2º, §§ 3º e 4º, da Lei n. 5.584/70, para os litígios cujo valor da causa não supere dois salários mínimos; III) procedimento sumaríssimo: fruto do advento da Lei n. 9.957/2000, que incluiu na CLT os arts. 852-A a 852-I, abrange os dissídios individuais cujo valor da causa seja superior a dois salários mínimos e limitado até 40 salários mínimos; IV) procedimento especial: abrange todas as ações que apresentam regras especiais, como o inquérito judicial para apuração de falta grave, o dissídio coletivo, a ação de cumprimento, a ação rescisória, o mandado de segurança, a ação de consignação em pagamento, as ações possessórias, o habeas corpus, o habeas data, a ação de prestação de contas etc. Assim, além dos procedimentos especiais tipicamente trabalhistas, temos os ritos especiais constitucionais e cíveis admitidos na Justiça do Trabalho. Assim, o Processo do Trabalho apresenta basicamente um procedimento mais complexo e completo, que é o comum (ordinário), e dois procedimentos céleres (sumário e sumaríssimo). Em todos eles, percebemos a preocupação com a informalidade, se comparamos com os procedimentos do Processo Civil. Todavia, vale ressaltar que essa informalidade não é absoluta, e sim relativa, uma vez que dependerá da documentação do procedimento. O procedimento escrito é fundamental para a observância do princípio constitucional do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), trazendo aos operadores do Direito e ao jurisdicionado maior segurança e estabilidade nas relações jurídicas e sociais. Na verdade, a mencionada informalidade refere-se ao fato de que o procedimento judicial na Justiça do Trabalho não é tão solene e rígido quanto aos demais, justamente para garantir o pleno atendimento à justiça, mas sempre conforme os limites da lei. Princípio do jus postulandi O jus postulandi é uma das principais características do Processo do Trabalho, uma vez que traduz a possibilidade de as partes (empregado e empregador) postularem pessoalmente na Justiça do Trabalho e acompanharem as suas reclamações até o final, sem necessidade de advogado (art. 791 da CLT). Consubstancia uma exceção da capacidade postulatória privativa de advogado. O jus postulandi é um dos grandes fundamentos dos princípios da simplicidade e informalidade supramencionados. É oportuno consignar que, em decisão do Pleno do TST (13-10-2009), o jus postulandi não é mais admitido no âmbito do TST, havendo a necessidade da figura do advogado. Esse novo entendimento é justificado pelo fato de que os recursos trabalhistas de natureza extraordinária (recurso de revista e embargos no TST), por não admitirem a rediscussão de fatos e provas (Súmula 126 do TST), exigem conhecimento técnico-jurídico de um advogado. Com efeito, à luz da Súmula 425 do Tribunal Superior do Trabalho, o jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho. Princípio da oralidade Trata-se de um princípio não exclusivo do Processo do Trabalho, também servindo de fundamento para o Direito Processual Comum. Entretanto, no Processo do Trabalho, ele é observado de forma mais acentuada, tendo em vista os princípios da simplicidade, da informalidade e do jus postulandi. São características do princípio da oralidade do Processo do Trabalho: (a) primazia da palavra: • arts. 791 e 839, a, da CLT – apresentação de reclamação trabalhista diretamente pelo interessado; • art. 840 da CLT – possibilidade de apresentação de reclamação trabalhista oral; • arts. 843 e 845 da CLT – as partes deverão comparecer pessoalmente na audiência trabalhista, independentemente do comparecimento de seus representantes legais; • art. 847 da CLT – apresentação de defesa oral em audiência; • art. 848 da CLT – interrogatório e depoimento pessoal das partes em audiência; • art. 850 da CLT – razões finais orais em audiência; • art. 850, parágrafo único, da CLT – sentença após o término da instrução; (b) imediatidade (arts. 843, 845 e 848 da CLT); (c) concentração dos atos processuais em audiência (arts. 843 a 852 da CLT); (d) identidade física do juiz (vale ressaltar que, embora a identidade física do juiz seja uma das grandes características do princípio da oralidade e presente na CLT, fruto da concentração dos atos processuais em audiência, o TST, em sua Súmula 136, entendia que essa identidade não é aplicável às Varas do Trabalho. Vale ressaltar também que essa Súmula foi cancelada pela Resolução 185, de 14 de setembro de 2012, do TST); (e) irrecorribilidade imediata/direta/em separado/autônoma das decisões interlocutórias (art. 893, § 1º, da CLT); (f) maiores poderes instrutórios ao juiz (arts. 765, 766, 827 e 848); (g) maior interatividade entre o magistrado e as partes, traduzindo o princípio da cooperação, que defende um maior diálogo entre o juiz e o jurisdicionado em prol de um acesso à ordem jurídica justa (arts. 764, §§ 2º e 3º, 846 e 850 da CLT); (h) possibilidade de solução conciliada. Com efeito, muitas das lacunas do Processo do Trabalho apresentadas pela doutrina e pela jurisprudência são intencionais e decorrem do próprio princípio da oralidade, não sendo essencialmente lacunas. Por derradeiro, somos adeptos do entendimento que, com o advento da EC n. 24/99 e a respectiva extinção da representação classista da Justiça do Trabalho em todos os graus de jurisdição, o princípio da identidade física do juiz, que estava previsto no art. 132 do CPC/1973, deve ser aplicado ao Processo do Trabalho. São inegáveis as vantagens da adoção do princípio da identidade física no Processo Laboral, uma vez que possibilita julgamentos mais justos, representados por decisões prolatadas pelos próprios juízes que conduzirem o processo e, especialmente, as audiências. Princípio da subsidiariedade A CLT e a legislação trabalhista esparsa apresentam lacunas naturais, não conseguindo regular todas as situações jurídicas e sociais. Assim, na fase de conhecimento, o art. 769 da CLT aduz que o Direito Processual Comum será fonte subsidiária do Direito Processual do Trabalho, contanto que preencha dois requisitos cumulativos: (1º) omissão (lacuna, anomia) da CLT; (2º) compatibilidade de princípios e regras. Da mesma forma, na fase de execução trabalhista, o art. 889 da CLT estabelece que a Lei de Execução Fiscal (Lei n. 6.830/80) será fonte subsidiária do Processo do Trabalho, isto se preencher, a exemploda fase de conhecimento, dois requisitos cumulativos: (1º) omissão (lacuna, anomia) da CLT; (2º) compatibilidade de princípios e regras. As lacunas da CLT e a aplicação subsidiária do Direito Processual Civil ao Direito Processual do Trabalho Este tema é um dos mais importantes, que merece atenção especial em sua abordagem. O art. 769 da CLT (talvez o mais importante do Diploma Consolidado) trata da matéria: “Art. 769. Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título”. Com fulcro no mencionado dispositivo legal, a aplicação subsidiária do Processo Civil ao Processo do Trabalho depende do preenchimento de dois requisitos cumulativos: (1º) omissão (lacuna, anomia) da CLT: há omissão tanto no Diploma Consolidado quanto na legislação processual trabalhista esparsa (Lei 5.584/1970, 7.701/1988 etc.); (2º) compatibilidade principiológica: compatibilidade entre os princípios e regras do Direito Processual Civil com os princípios e regras do Direito Processual do Trabalho. As lacunas da legislação processual são classificadas em: (a) lacunas normativas: são aquelas representadas pela ausência de norma reguladora do caso concreto, ou seja, não há regulamentação em lei sobre determinada situação processual. As lacunas normativas aproximam-se das lacunas primárias (tradicionais); (b) lacunas ontológicas: partem da premissa da existência de norma reguladora do caso concreto. Todavia, a norma existente está desatualizada, não apresentando mais compatibilidade com os fatos sociais e com o progresso técnico. É o que a doutrina chama de “ancilosamento da norma positiva”, isto é, o envelhecimento da norma; (c) lacunas axiológicas: também partem da premissa da existência da norma reguladora do caso concreto; entretanto, a aplicação da norma existente produzirá uma solução injusta ou insatisfatória, ou seja, não observará os valores de justiça e equidade, que são indispensáveis para a eficácia da norma processual. Cumpre frisar que o assunto em debate (incompletude do sistema processual em decorrência das lacunas existentes no ordenamento processual justrabalhista) gera grandes discussões doutrinárias e jurisprudenciais. Assim, há duas correntes sobre a interpretação do art. 769 da CLT: 1ª corrente – Teoria Tradicional, Clássica ou Restritiva: a aplicação subsidiária das regras do Direito Processual Civil somente é possível na hipótese de lacuna na legislação processual trabalhista. Assim, a existência de omissão é condição indispensável para a aplicação subsidiária. Portanto, somente a lacuna normativa, que é a ausência de norma reguladora do caso concreto, autoriza a aplicação subsidiária. Fundamentos: - respeito ao princípio constitucional do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), evitando-se surpresas ao jurisdicionado com a aplicação de outras regras processuais que não sejam as previstas na legislação processual trabalhista; - princípio da segurança jurídica, assegurando-se estabilidade nas relações jurídicas e sociais não somente aos jurisdicionados, mas também aos operadores do Direito. São adeptos dessa corrente grandes juristas, como Pedro Paulo Teixeira Manus e Manoel Antonio Teixeira Filho (2007): “O art. 769 da CLT dispõe que ‘nos casos omissos o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título’. Referida regra tem aplicação somente na fase de conhecimento ao colocar o CPC como fonte subsidiária primeira do processo do trabalho. Já na fase de execução no processo do trabalho, a regra de aplicação da lei subsidiária é aquela prescrita no art. 889 da CLT que afirma que ‘aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida da Fazenda Pública Federal’. Desse modo, como sabemos, a lei estabelece a regra específica a se aplicar tanto na fase de conhecimento quanto na de execução. E há em comum na aplicação de ambas as leis o requisito da omissão pela CLT, o que desde logo exclui aplicação de norma subsidiária quando aquela disciplinar a matéria. A regra estabelecida em ambos os artigos acima transcritos configura princípio típico do processo do trabalho, que garante o respeito ao devido processo legal, na medida em que o jurisdicionado tem a segurança de que não será surpreendido pela aplicação de norma diversa sempre que houver a solução do texto consolidado. É sob esta ótica que devemos examinar, a nosso ver, as modificações que se processam no Código de Processo Civil e a possibilidade de sua aplicação ao processo do trabalho”. Para Manoel Antonio Teixeira Filho (s.d.): “o art. 769, da CLT, permite a adoção supletiva de normas do processo civil desde que: a) a CLT seja omissa quanto à matéria; b) a norma do CPC não apresente incompatibilidade com a letra ou com o espírito do processo do trabalho. Não foi por obra do acaso que o legislador trabalhista inseriu o ‘requisito da omissão, antes da compatibilidade: foi, isto sim, em decorrência de um proposital critério lógico-axiológico. Desta forma, para que se possa cogitar da compatibilidade, ou não, de norma do processo civil com a do trabalho é absolutamente necessário, ex vi legis, que, antes disso, se verifique, se a CLT se revela omissa a respeito da matéria. Inexistindo omissão, nenhum intérprete estará autorizado a perquirir sobre a mencionada compatibilidade. Aquela constitui, portanto, pressuposto fundamental desta”. 2ª corrente – Teoria Moderna, Evolutiva, Ampliativa ou Sistemática: a aplicação subsidiária do Direito Processual Civil ao Direito Processual do Trabalho é possível não somente nos casos de lacunas normativas, mas também nas hipóteses de lacunas ontológicas e axiológicas. Para essa linha de entendimento, ainda que a CLT ou legislação processual trabalhista extravagante preveja norma específica reguladora do caso concreto, é cabível a aplicação subsidiária da norma do Processo Civil se a norma processual trabalhista estiver desatualizada ou se a respectiva aplicação se mostrar injusta ou insatisfatória. Fundamentos: - princípio da efetividade processual; - princípio da celeridade processual (razoável duração do processo); - princípio do acesso à ordem jurídica justa; - caráter instrumental do processo; - melhoria da prestação jurisdicional trabalhista; - dignidade da pessoa do trabalhador; - melhoria da condição social do trabalhador. Assim, o trabalhador teria real e efetivo acesso à Justiça do Trabalho. São adeptos dessa corrente grandes juristas, como Mauro Schiavi, Carlos Henrique Bezerra Leite e Jorge Luiz Souto Maior. Mauro Schiavi (2016): “Sob outro enfoque, o juiz, como condutor do Processo do Trabalho, encarregado de zelar pela dignidade do processo e pela efetividade da jurisdição trabalhista, conforme já nos posicionamos, deve ter em mente que o processo deve tramitar em prazo compatível com a efetividade do direito de quem postula, uma vez que a duração razoável do processo foi erigida a mandamento constitucional, e buscar novos caminhos e interpretação da lei no sentido de materializar este mandamento constitucional. (...) a moderna doutrina vem defendendo um diálogo maior entre o Processo do Trabalho e o Processo Civil, a fim de buscar, por meio de interpretação sistemática e teleológica, os benefícios obtidos na legislação processual civil e aplicá-los ao Processo do Trabalho. Não pode o juiz do Trabalho fechar os olhos para normas de Direito Processual Civil mais efetivas que a CLT, e se omitir sob o argumento de que a legislação processual do trabalho não é omissa, pois estão em jogo interesses muito maiores