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Formação de conselheiros para a vigilância em saúde no SUS CURSO CONHECENDO O TRABALHO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Módulo 1 - O SUS e a vigilância em saúde GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Vigilância em Saúde - SVS Departamento de Articulação Estratégica de Vigilância em Saúde - DAEVS Forproex Dex/UnB UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Vice-Reitora: Pró-reitor de Pós-Graduação: Pró-reitor de Pesquisa e Inovação: Pró-reitora de Extensão: CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretor: Vice-Diretor: DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM Chefe: Sub-chefe: FORMAÇÃO DE CONSELHEIROS PARA A VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO SUS Coordenadora: Sub-coordenadora: Coordenadora AVA: EDIÇÃO Felipa Rafaela Amadigi DIAGRAMAÇÃO Emanuela Kelly da Natividade Guilherme Ribeiro Alfa Maria Carolina Candido Burg Irineu Manoel de Souza Joana Célia dos Passos Werner Kraus Jacques Mick Olga Regina Zigelli Garcia Fabricio de Souza Neves Ricardo de Souza Magini Ângela Maria Alvarez Patricia Klock Rosani Ramos Machado Felipa Rafaela Amadigi Monica Motta Lino Todo o Curso de Formação de conselheiros para a vigilância em saúde no SUS está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Para acessar uma cópia da licença, acesse: https://creativecommons.org/licenses/by-nc- sa/4.0/deed.pt_BR https://grupos.moodle.ufsc.br/user/view.php?id=428932&course=3175 https://grupos.moodle.ufsc.br/user/view.php?id=362030&course=3175 http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/ AUTORES Rosani Ramos Machado Felipa Rafaela Amadigi ORGANIZADORES Rosani Ramos Machado Felipa Rafaela Amadigi TÍTULO DA OBRA Curso de formação para conselheiros em vigilância em saúde no SUS SUBTÍTULO O SUS e a vigilância em Saúde Autores R O S A N I R A M O S M A C H A D O F E L I P A R A F A E L A A M A D I G I Enfermeira graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (1980). Especialista em Gestão de RH (1998) e em Metodologia para a Profissionalização da Enfermagem (1999), Mestre e Doutora em Enfermagem (2002 e 2009) e Doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2009). Foi servidora da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina com atuação direta na área de gestão. É docente do Departamento de Enfermagem da UFSC e Coordenadora do Projeto de extensão Formação de conselheiros desde 2014. Atua no Curso de Enfermagem e na Residência Multiprofissional em Saúde da Família (REMULTISF) e Residência Multiprofissional em Saúde (RIMS). Pesquisadora do Grupo PRÁXIS/UFSC - Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem. E-mail: rosani.ramos@ufsc.br Enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003), Mestre em Saúde Pública (2005) e Doutora em Enfermagem (2011). Atuou como servidora da Secretaria Municipal de saúde de Florianópolis na Atua no Projeto de Formação de Conselheiros desde 2015. Tem experiência na área de (I) Saúde Coletiva, com ênfase em (II) Gestão em Saúde, atuando principalmente nos temas: gestão em saúde, processo de trabalho, Estratégia de Saúde da Família. Docente do Curso de Enfermagem da UFSC, da Residência Multiprofissional em Saúde da Família (REMULTISF) e da Residência Multiprofissional em Saúde (RIMS). Vice-líder do LITES - Laboratório Interdisciplinar em Tecnologias Educacionais em Saúde (2020). Pesquisadora do Grupo PRÁXIS/UFSC - Laboratório de Pesquisa sobre Trabalho, Ética, Saúde e Enfermagem. E-mail: felipa.amadigi@ufsc.br Apresentação 01. Legislação do SUS 3.2 Objetivo do módulo 02. A Política Nacional de Vigilância em Saúde: conceito, área de atuação e finalidade 3.3 Módulo 1 - A vigilância em saúde e o SUS 03. Participação da comunidade na Política Nacional de Vigilância em Saúde. 3.4 História do SUS 3.1 S U M Á R IO Apresentação 06 Neste módulo conversaremos sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), focando na vigilância em saúde. Recordaremos a organização, os princípios e diretrizes do SUS e a sua legislação. Abordaremos alguns conceitos como: saúde, vigilância em saúde, análise da situação de saúde. Convidaremos você para uma conversa conosco, síncrona, para aprofundarmos a aprendizagem sobre a temática! Desejamos a você bons estudos e muito aprendizado! Rosani Ramos Machado Felipa Rafaela Amadigi 07 Objetivo do módulo Fortalecer a capacidade dos conselheiros e potenciais conselheiros de saúde para abordar e atuar nos determinantes da saúde em seu território. História do SUS. Legislação do SUS. A Política Nacional de Vigilância em Saúde: conceito, área de atuação, finalidade. Participação da comunidade na Política Nacional de Vigilância em Saúde. Estrutura do módulo 01 Live com especialistas (ao vivo no Youtube) - 07 de março - 19h 01 aula (ao vivo no Youtube) - 14 de março - 19h 01 Roda de discussão com facilitadores (ao vivo Google meet) - 21 de março - 19h 01 Fórum de discussão (Moodle) - 28 de março Agenda do módulo M Ó D U LO 1 Provavelmente alguns já ouviram ou leram a história das políticas de saúde no Brasil. Hoje vocês terão uma nova oportunidade para compreender mais alguns aspectos dessa história. Essa compreensão do processo histórico de construção e consolidação das políticas de saúde, pode ser um agente facilitador para entender a importância de um sistema de saúde como o SUS e, quão fundamental é para nós que o defendamos. Como estava estruturada a rede de assistência à saúde antes do SUS e quem tinha acesso a essa rede? Do ponto de vista do acesso o que mudou com a consolidação do SUS? Como você vê o SUS? Para reflexão: Agora você vai assistir a um vídeo que destaca alguns aspectos da história da saúde pública no Brasil. Para acessar basta clicar no link: A história da saúde pública no Brasil – 500 anos na busca de soluções (https://www.youtube.com/watch?v=7ouSg6oNMe8) 08 https://www.youtube.com/watch?v=7ouSg6oNMe8 Um segundo engano comum, segundo Ligia Bahia, é pensar que a população sem carteira só tinha atendimento se recorresse à filantropia. “O que a gente tinha? Algumas unidades públicas que atendiam a todos. Os hospitais universitários, que atendiam a todos, alguns como indigentes, outros como medicina previdenciária. E as filantrópicas, que também atendiam a todos, embora na condição de indigentes”, explica Ligia, que cita ainda duas iniciativas – o Programa de Interiorização de Ações de Saúde e Saneamento (PIASS) e a Fundação SESP – que, de alguma forma, levaram ações de assistência aos grotões do país (CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS DA FIOCRUZ ANTONIO IVO CARVALHO, 2018). (https://cee.fiocruz.br/?q=antes-do-sus). A pesquisadora Ligia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) diz que um mito importante a ser quebrado é que todos que tinham carteira assinada usavam, necessariamente, a previdência – e que eram iguais. Não eram, porque embora a classe média tivesse carteira assinada e pudesse usar a medicina previdenciária, ela pagava. Era natural. “A classe média nunca foi atendida pelo setor público. Ela pagava consulta particular, pagava os procedimentos, que eram muito mais baratos. As pessoas pagavam parto, cirurgia”. Além disso, a maior parte dos previdenciários eram pobres (CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS DA FIOCRUZ ANTONIO IVO CARVALHO, 2018). Mais da metade dos brasileiros, na época, recebia um salário-mínimo ou menos e cerca de 19% entre um e dois salários-mínimos. Essas pessoas, mesmo previdenciárias, continuavam com dificuldade de acesso e ficavam em longas filas para serem atendidas, assim como no SUS hoje. 09 Antes de iniciarmos o estudo do Marco Regulatório do SUS, responda: você usa o SUS? Onde o SUS está presente na nossa vida? ... Respondeu? Então acesse o link a seguir: QUEM USA O SUS - IDISA, junho de 2016 https://www.youtube.com/watch?v=98fdvZy9IHs O Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento tinha como diretrizes ampla utilização de pessoalde nível auxiliar, recrutado nas próprias comunidades a serem beneficiadas e ênfase no combate às doenças transmissíveis e encaminhamentos de doentes; desenvolvimento de ações de saúde de baixo custo, e disseminação de unidades de saúde tipo miniposto; e ampla participação da comunidade (BRASIL, 1979). 09 O Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) foi criado em 1942, a partir de acordo entre os governos brasileiro e norte-americano, tendo como funções, o saneamento de regiões produtoras de matérias-primas, como a borracha da região amazônica e o minério de ferro e mica do Vale do Rio Doce (RENOVATO; BAGNATO, 2010). https://www.youtube.com/watch?v=98fdvZy9IHs 10 A Lei Orgânica da Saúde é composta por duas leis: ✔ A Lei 8.080/90 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços e a ✔ Lei 8.142/90 que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Figura 1: autores. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Construindo o SUS no Brasil Decreto 7.508 Regulamenta a lei nº 8.080. Leis Orgânicas da Saúde: Lei 8.080/90 Lei 8.142/90 2011 Isso porque quando foi proposta a lei, o presidente Fernando Collor de Melo vetou todos os artigos que dispunham sobre repasse financeiro e participação popular. No entanto, como os movimentos sociais estavam bem-organizados, vindo de uma icônica 8ª Conferência Nacional de Saúde, com pressão popular e organização, conseguiram que fosse aprovada outra lei, três meses depois com alguns dos artigos vetados por ele, principalmente no que tange ao repasse financeiro e participação popular. 1 1 No entanto, sabemos que o SUS vive em constante tensão com o mercado privado em um sistema capitalista, pois o SUS tem uma alma solidária, socialista, que busca a universalidade, a equidade e a integralidade na assistência. Por isso mesmo, o decreto que regulamenta as Leis Orgânicas da Saúde só foi publicado em junho de 2011, 31 anos depois da publicação das Leis Orgânicas. Isso deve significar alguma coisa, não? A regulamentação da lei por decreto é importante para esclarecer e permitir uma melhor aplicação da lei. Nesse sentido, temas que merecem esclarecimentos podem ser regulamentados para garantir sua efetividade, como a previsão de ações de governo para atingir os objetivos estabelecidos para o SUS. Decreto Nº 7.508, de 28 de junho de 2011 - Regulamenta a Lei nº 8.080/90 Refere ainda que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. Registra que a iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde - SUS, em caráter complementar (artigos 1º; 2º e 3º). Como vemos, na lei estão descritos os fatores determinantes e condicionantes da saúde, indicando a necessária intersetorialidade para se conseguir uma vida saudável. A figura a seguir ilustra os fatores determinantes e condicionantes na nossa saúde. Assim sendo, cabe compreendermos como isso nos afeta e como poderemos atuar, enquanto conselheiros de saúde, para fortalecer nossas condições de vida e diminuir as fragilidades. Agora vamos abordar cada legislação separadamente: A Lei 8.080/90 regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado. Também explicita que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. Então, olhando essa imagem, o que você como conselheiro poderia fazer para influir nos determinantes sociais de saúde? 12 Modelo-DSS-Dahlgren and Whitehead (1991) Nesta imagem, por conta do tempo em que foi elaborada, apesar de ser bastante completa e didática, ainda não se discutiam os determinantes comerciais da saúde. 13 Segundo Kickbush (2015) os determinantes comerciais da saúde (DCS) abrangem fatores como comportamentos e escolhas individuais relacionados a consumo e estilo de vida, e questões relacionadas à sociedade global, como riscos de consumo, economia política e globalização. Aspectos que serão abordados no módulo 4. Os objetivos do SUS estão descritos no artigo 5º da Lei 8.080/90 e são eles: Para OPAS os DCS são uma dimensão dos DSS, que estão ligados às dinâmicas de mercados nacionais e transnacionais, dirigidas por corporações e seus aliados e podem comprometer a saúde e o meio ambiente quando as práticas corporativas ou interesses comerciais buscam depreciar políticas públicas eficazes para maximizar lucros e vantagens comerciais (https://www.paho.org/pt/noticias/4-1- 2022-inaugurada-vitrinedo-conhecimento-sobre-dimensao- comercial-dos-determinantes). I identificar e divulgar os fatores condicionantes e determinantes da saúde; II formular a política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do direito à saúde como dever do Estado; III assistir às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. https://www.paho.org/pt/noticias/4-1-2022-inaugurada-vitrinedo-conhecimento-sobre-dimensao-comercial-dos-determinantes II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico; III - a ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde; IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar; V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho; VI - a formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção; VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para a saúde; VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano; IX - a participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; X - o incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico; XI - a formulação e execução da política de sangue e seus derivados 14 No seu artigo 6º está definido o campo de atuação do SUS. I - a execução de ações: a) de vigilância sanitária; b) de vigilância epidemiológica; c) de saúde do trabalhador; e d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica; 15 I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IIV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie*; Atualmente prefere-se usar o termo equidade, pois a equidade trata de forma diferente os desiguais, quando reconhece as diferenciações sociais e assim amplia o acesso das populações vulneráveis ao SUS. Equidade não é tirar de quem tem mais e dar para quem tem menos. É dar as condições necessárias para quem possui necessidades diferenciadas. Fonte: http://educacaoereflexoes.blogspot.com/2019/09/igualdade-eequidade.html 16 V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação deinformações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo entre outros. Será que no dia a dia este direito universal e igualitário está efetivado? - Participar na formulação e na implementação das políticas: ✔ de controle das agressões ao meio ambiente; ✔ de saneamento básico; e ✔ relativas às condições e aos ambientes de trabalho. - Definir e coordenar os sistemas: ✔ de redes integradas de assistência de alta complexidade; ✔ de rede de laboratórios de saúde pública; ✔ de vigilância epidemiológica; e ✔ vigilância sanitária. - Participar da definição de normas e mecanismos de controle, com órgão afins, de agravo sobre o meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na saúde humana; - Participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador; - Coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica; - Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios; - Estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade sanitária de produtos, substâncias e serviços de consumo e uso humano; - Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde. Competências do SUS Neste módulo destacaremos algumas competências relacionadas à vigilância em saúde. 17 O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo (art. 1º; ¶ 2º). A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde (art. 1º; ¶ 1º). Esta lei define que o SUS possui duas instâncias colegiadas: o Conselho de Saúde e as conferências de saúde. 18 Lei 8.142/90 - Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Os recursos referidos no inciso IV do art. 2° desta lei serão repassados de forma regular e automática para os Municípios, Estados e Distrito Federal, de acordo com os critérios previstos no art. 35 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Em relação à organização do SUS criou as Regiões de Saúde que representam o espaço privilegiado da gestão compartilhada da rede de ações e serviços de saúde, tendo como objetivos: garantir o acesso resolutivo e de qualidade à rede de saúde, constituída por ações e serviços de atenção primária, vigilância à saúde, atenção psicossocial, urgência e emergência e atenção ambulatorial especializada e hospitalar; efetivar o processo de descentralização, com responsabilização compartilhada, favorecendo a ação solidária e cooperativa entre os entes federados, e reduzir as desigualdades loco-regionais, por meio da conjugação interfederativa de recursos (BRASIL, 2014). 19 Este decreto regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado e, em seu Art. 2º refere que a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. Decreto 7.508, de 28 de junho de 2011. Ao regulamentar a Lei 8.080/90 no que tange à organização, ao planejamento, à assistência à saúde e a articulação interfederativa lança novos desafios para a gestão quando propôs o COAP – Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde. Aspecto que não se consolidou até o momento. Para assegurar ao usuário o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde do SUS, caberá aos entes federativos, nas Comissões Intergestores, garantir a transparência, a integralidade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde; orientar e ordenar os fluxos das ações e dos serviços de saúde; monitorar o acesso às ações e aos serviços de saúde; e ofertar regionalmente as ações e os serviços de saúde. O planejamento em saúde é obrigatório para os entes federados bem como indutor de políticas para a inciativa privada. Cabe aos Conselhos de Saúde deliberar sobre as diretrizes para o estabelecimento de prioridades e a expressão do planejamento em saúde dar-se-á em cada Plano de Saúde. O Mapa da Saúde (descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada) deve ser utilizado na identificação das necessidades de saúde e orientará o planejamento integrado dos entes federativos. Para que o Plano de Saúde possa ser executado, é necessário que esteja alinhado com o Plano Plurianual (PPA), que é o instrumento que materializa as políticas públicas traduzindo-as em Diretrizes, Programas, Ações e Metas a serem implementadas num período de 4 anos (BRASIL, 2014). Todos estes conceitos serão aprofundados no Módulo 6. U N I Ã O E S T A D O C I T C I B C I R R E D E D E A T E N Ç Ã O I N T E G R A L À S A Ú D E R E G I Õ E S D E S A Ú D E M U N I C Í P I O S L E G I S L A T I V O A P R O V A P P A ( P a r a 4 a n o s ) L D D a L O A ( P a r a 1 a n o ) P L A N O D E S A Ú D E ( P a r a 4 a n o s ) P R O G . A N U A L D E S A Ú D E ( P a r a 1 a n o ) R E L A T Ó R I O A N U A L D E G E S T Ã O ( P A R A 1 A N O ) C O N T R O L E S O C I A L Níveis de Organização do Espaço da Gestão Interfederativa do SUS Instrumento de Planejamento e Orçamento no SUS Diretrizes, objetivos e metas para despesas de capital e aquelas relativas aos programas da direção consultada. Metas e prioridades para o exercício financeiro subsequente, orientado a LDA. Diretrizes, objetivos e metas de acordo com as necessidades de saúde da população. -Ações -Metas físicas e financeiras anuais -Indicadores Fonte: DAI/SGEP/MS.. Fonte: DAI/SGEP/MS.. Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Agora vamos abordar a Política Nacional de Vigilância em Saúde. Mas o que é saúde para você? 2 1 A Lei 8.080/90 em seu artigo terceiro descreve: Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. SICKO O cineasta Michael Moore analisa as crises do sistema de saúde americano e observa porque milhões de americanos continuam sem seguro saúde adequado para tratamentos. Ele explica como o sistema se tornou problemático e visita outros países que recebem tratamentos gratuitos, tais como Canadá, França, Reino Unido e Cuba. Link: https://www.facebook.com/watch/?v=554640958237340 Where To Invade Next – O invasor americano Para mostrar o que os Estados Unidos podem aprendercom o resto do mundo, o diretor Michael Moore viaja por diversos países como um invasor solitário que rouba suas ideias e práticas para levá-las às terras norte-americanas. Link: https://www.youtube.com/watch?v=dSSbXvBPo-U Filmes: Agora que você já conheceu um pouco sobre o SUS vamos disponibilizar alguns links que abordam como são os sistemas de saúde no mundo. 2 2 Texto: Os sistemas de saúde no Brasil e no mundo Link: https://ares.unasus.gov.br › bitstream 2 3 Conceito: A PNVS é uma política pública de Estado e função essencial do SUS, tendo caráter universal, transversal e orientador do modelo de atenção nos territórios, sendo a sua gestão de responsabilidade exclusiva do poder público. Neste contexto entende-se por Vigilância em Saúde o processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando o planejamento e a implementação de medidas de saúde pública, incluindo a regulação, intervenção e atuação em condicionantes e determinantes da saúde, para a proteção e promoção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças (art. 2º, ¶ 1º). A Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS) foi aprovada pela Resolução Nº 588, de 12 de julho de 2018 do Conselho Nacional de Saúde. Área de atuação da PNVS A PNVS atua sobre todos os níveis e formas de atenção à saúde, abrangendo todos os serviços de saúde públicos e privados, além de estabelecimentos relacionados à produção e circulação de bens de consumo e tecnologias que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde (art. 2º, ¶ 2º). A PNVS compreende a articulação dos saberes, processos e práticas relacionados à vigilância epidemiológica, vigilância em saúde ambiental, vigilância em saúde do trabalhador e vigilância sanitária e alinha-se com o conjunto de políticas de saúde no âmbito do SUS, considerando a transversalidade das ações de vigilância em saúde sobre a determinação do processo saúde- doença (art. 2º, ¶ 3º). Neste sentido, a análise de situação de saúde e as ações laboratoriais são atividades transversais e essenciais no processo de trabalho da Vigilância em Saúde. É um processo analítico-sintético que permite caracterizar, medir e explicar o perfil de saúde-doença de uma população, incluindo os danos ou problemas de saúde, assim como seus determinantes, que facilitam a identificação de necessidades e prioridades em saúde, a identificação de intervenções e de programas apropriados e a avaliação de seu impacto (BRASIL, 2015, p.10). Análise da Situação de Saúde é um processo pelo qual se busca explicar o estado de saúde dos habitantes, de um determinado espaço geográfico, em um dado momento. Isso é alcançado por meio da análise do entorno segundo o ponto de vista dos diferentes atores sociais (BRASIL, 2015, p.10). Mas o que significa Análise de Situação de Saúde (Asis)? 2 4 Análise de Situação de Saúde Portanto, ao fazer uma Asis produzimos informações e conhecimentos úteis para orientar nosso fazer em saúde. Essas informações são relevantes para a definição de prioridades na hora de realizar o planejamento em saúde. O diagnóstico da situação de saúde dá suporte ao controle social, na medida que amplia e facilita o acesso às informações. Neste diagnóstico conhecemos nosso território, nossas necessidades para melhorar nossa qualidade de vida. 25 A finalidade da PNVS é definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do SUS, para o desenvolvimento da vigilância em saúde, visando a promoção e a proteção da saúde e a prevenção de doenças e agravos, bem como a redução da morbimortalidade, vulnerabilidades e riscos decorrentes das dinâmicas de produção e consumo nos territórios (art. 4º). Visando à integralidade da assistência pressupõe-se a inserção de ações de vigilância em saúde em todas as instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde do SUS, mediante articulação e construção conjunta de protocolos, linhas de cuidado e matriciamento da saúde, bem como na definição das estratégias e dispositivos de organização e fluxos da rede de atenção. A PNVS deve contemplar toda a população, mas visando a equidade da assistência deve priorizar territórios, pessoas e grupos em situação de maior risco e vulnerabilidade, na perspectiva de superar desigualdades sociais e de saúde e de buscar a equidade na atenção, incluindo intervenções intersetoriais. O diagnóstico para riscos e vulnerabilidades devem ser identificados e definidos a partir da análise da situação de saúde local e regional e do diálogo com a comunidade, trabalhadores e trabalhadoras e outros atores sociais, considerando-se as especificidades e singularidades culturais e sociais de seus respectivos territórios (Art. 5º). 26 I – Conhecimento do território: utilização da epidemiologia e da avaliação de risco para a definição de prioridades nos processos de planejamento, alocação de recursos e orientação programática. II – Integralidade: Articulação das ações de vigilância em saúde com as demais ações e serviços desenvolvidos e ofertados no SUS para garantir a integralidade da atenção à saúde da população. III – Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo. IV – Inserção da vigilância em saúde no processo de regionalização das ações e serviços de saúde. A PNVS tem como princípios (art. 7º): V – Equidade: Identificação dos condicionantes e determinantes de saúde no território, atuando de forma compartilhada com outros setores envolvidos. VI – Universalidade: Acesso universal e contínuo a ações e serviços de vigilância em saúde, integrados a rede de atenção à saúde, promovendo a corresponsabilização pela atenção às necessidades de saúde dos usuários e da coletividade. VII – Participação da comunidade de forma a ampliar sua autonomia, emancipação e envolvimento na construção da consciência sanitária, na organização e orientação dos serviços de saúde e no exercício do controle social. VIII – Cooperação e articulação intra e intersetorial para ampliar a atuação sobre determinantes e condicionantes da saúde. IX – Garantia do direito das pessoas e da sociedade às informações geradas pela Vigilância em Saúde, respeitadas as limitações éticas e legais. X – Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. 27 I – Articular e pactuar responsabilidades das três esferas de governo, consonante com os princípios do SUS, respeitando a diversidade e especificidade locorregional II – Abranger ações voltadas à saúde pública, com intervenções individuais ou coletivas, prestadas por serviços de vigilância sanitária, epidemiológica, em saúde ambiental e em saúde do trabalhador, em todos os pontos de atenção. IIII – Construir práticas de gestão e de trabalho que assegurem a integralidade do cuidado, com a inserção das ações de vigilância em saúde em toda a Rede de Atenção à Saúde e em especial na Atenção Primária, como coordenadora do cuidado. IV – Integrar as práticas e processos de trabalho das vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental e em saúde do trabalhador e da trabalhadora e dos laboratórios de saúde pública, preservando suas especificidades, compartilhando saberes e tecnologias, promovendo o trabalho multiprofissional e interdisciplinar. Diretrizes da PNVS: V – Promover a cooperação e o intercâmbio técnico científico no âmbito nacional e internacional. VI – Atuar na gestão de risco por meio de estratégias para identificação, planejamento, intervenção, regulação, comunicação, monitoramento de riscos, doenças e agravos. VII – Detectar, monitorar e responder às emergências em saúde pública, observando o Regulamento Sanitário Internacional, e promover estratégias para implementação, manutenção e fortalecimento das capacidades básicas de vigilância em saúde. VIII – Produzir evidências a partir da análise da situação da saúde da população de forma a fortalecera gestão e as práticas em saúde coletiva. IX – Avaliar o impacto de novas tecnologias e serviços relacionados à saúde de forma a prevenir riscos e eventos adversos. Há também a proposição de Processos de trabalho integrados com a atenção à saúde, que devem considerar a colaboração necessária para a integralidade em seus vários aspectos como a integração das diversas ações e serviços que compõem a rede de atenção à saúde; a articulação das ações de promoção e proteção à saúde, prevenção de doenças e agravos e do manejo das diversas tecnologias de cuidado e de gestão necessárias à detecção, prevenção, tratamento e reabilitação e nas demais responsabilidades específicas da vigilância em saúde, bem como a articulação intersetorial. A PNVS também contempla como deve acontecer a articulação entre as vigilâncias orientando ao planejamento e produção conjuntos, a harmonização e unificação dos instrumentos e a proposição e produção de indicadores conjuntos. Além de investigação conjunta de surtos e eventos inusitados ou situação de saúde decorrentes de potenciais impactos ambientais de processos e atividades produtivas nos territórios, envolvendo as vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental, em saúde do trabalhador e da trabalhadora e a rede de laboratórios de saúde pública. 28 Considera ainda, a regionalização das ações e serviços de vigilância em saúde articuladas com a atenção em saúde no âmbito da região de saúde e a inserção da vigilância em saúde na Rede de Atenção à Saúde (RAS), que deve contribuir para a construção de linhas de cuidado que agrupem doenças e agravos e determinantes de saúde, identificando riscos e situações de vulnerabilidade. 29 Estimular a participação do povo para o controle social; remover de vez a apatia, esse mal que o habitua à miséria e à submissão; não há meia democracia, meio cidadão, mas a vida sem meio, aflita definha; e já que o inesperado ninguém advinha, nos cabe a gestão da vida presente; gerir com cuidado a saúde da gente, gestando a outra história que é sua, que é minha. Agora destacando a participação da comunidade na PNVS Cenopoesia 4 Roteiro Cenopoético de Ray Lima Ao adentrar na temática do controle social vale a pena destacar alguns conceitos básicos: Cidadania – É a condição de acesso aos direitos sociais (educação, saúde, segurança, previdência) e econômicos (salário justo, emprego) que permite ao cidadão desenvolver todas as suas potencialidades, incluindo a de participar de forma ativa, organizada e consciente da vida coletiva do Estado (ESCOLA NACIONAL DE FARMACÊUTICOS, p. 32, 2011). Democracia – A democracia não é apenas uma forma de organização governamental, vai muito além. É a forma organizacional do Estado, em que a participação do cidadão é fundamental, numa relação cotidiana entre as pessoas (ESCOLA NACIONAL DE FARMACÊUTICOS, p. 32, 2011). 30 Quer saber mais? Assista ao vídeo com Jussara Cony e Wanderley da Silva que falam sobre a participação popular no SUS na 16ª Conferência Nacional de Saúde. 16ª Conferência Nacional de Saúde - Controle Social - Bate Papo na Saúde https://www.youtube.com/watch?v=dwU4CMvVfuU A PNVS pressupõe que se deva estimular a participação da comunidade destacando que a) Se dê acolhimento e resposta às demandas dos representantes da comunidade e do controle social. b) Que se faça articulação com entidades, instituições, organizações não governamentais, associações, cooperativas e demais representações das comunidades presentes no território, inclusive as populações em situação de vulnerabilidade. https://www.youtube.com/watch?v=dwU4CMvVfuU 31 Agora que já nos aproximamos de alguns princípios, diretrizes e conceitos do SUS e da PNVS, como eu, como conselheiro(a) posso atuar? Onde buscar apoio? c) Que se apoie o funcionamento das Comissões Intersetoriais de Vigilância em Saúde dos Conselhos de Saúde, nas três esferas de gestão do SUS. d) Que se estimule a inclusão da comunidade e do controle social nos programas de capacitação e educação permanente em vigilância em saúde, sempre que possível, e inclusão de conteúdos de vigilância em saúde nos processos de capacitação permanente voltados para a comunidade e o controle social. e) Que se privilegie a inclusão de grupos de populações em situação de vulnerabilidade, com vistas às ações de proteção e promoção da saúde. f) Que se assegure o acesso às informações aos representantes da comunidade e do controle social. Destaca também a importância da gestão do trabalho e da educação permanente, de apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas, e da construção de Sistemas de informação integrados. Bom, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) tem em sua estrutura várias comissões e, entre elas a Comissão Intersetorial de Vigilância em Saúde (CIVS). A CIVS é responsável por assessorar conselheiros e conselheiras sobre os temas relacionados à PNVS. É papel da comissão monitorar e aprimorar o trabalho do poder público diante dessas áreas. Por que é importante a participação popular? Victor Vincent Valla, na década de 1990, desenvolveu o conceito de vigilância civil da saúde. Entendia a vigilância civil em saúde como uma forma de “compreender a vigilância em saúde que agrega a participação popular por meio de processos como a construção compartilhada do conhecimento”. É uma proposta, estruturada a partir do conceito de educação popular de Paulo Freire, constitui um método de construção de uma nova consciência social (MENDONÇA GUIMARÃES et al, 2021). Nesse link: http://conselho.saude.gov.br/livros-publicacoes/2769-1- conferencianacional-de-vigilancia-em-saude você tem acesso a um livro da 1ª Conferência Nacional de vigilância em saúde em pdf e em áudio. Vale à pena clicar nele! 32 Em seu município, além dos Conselhos Locais de Saúde e do Conselho Municipal, a Secretaria de Saúde tem uma estrutura que contempla a vigilância em saúde. Além disso, as Secretarias Estaduais de Saúde também. Daí a importância de se instrumentalizar conselheiros e potenciais conselheiros de saúde para um olhar voltado para a vigilância em saúde, mas com um referencial de determinação social. Quando falamos em determinação social, temos que contextualizar os sujeitos/usuários/pessoas. Como está a disponibilidade de recursos para atender às necessidades diárias dessas pessoas? Qual a disponibilidade de acesso a oportunidades educacionais, econômicas e de emprego, acesso a serviços de saúde? Como é a distribuição de equipamentos e recursos comunitários para suporte social? Que oportunidades para atividades recreativas e de lazer são disponibilizadas? Como se encontra a situação da segurança pública, apoio social, exposição à violência e desordem social e condições socioeconômicas? Como se apresenta a desigualdade social em nosso país? Qual a distância entre o mais rico e o mais pobre? http://conselho.saude.gov.br/livros-publicacoes/2769-1-conferencianacional-de-vigilancia-em-saude 33 Historicamente a vigilância em saúde tem cumprido um papel ditatorial e policialesco, principalmente no que tange à vigilância sanitária. A vigilância epidemiológica, por sua vez, seguiu um padrão de controle de métodos biológicos, baseados somente na identificação e mitigação, imunização e desenvolvimento de terapias, sem estímulo da participação popular. Não se nega a importância dessas informações para a análise e o monitoramento das condições de saúde da população, mas identifica-se a falta de responsabilidade civil e dificuldade de resposta a novas epidemias no mundo, como aconteceu na pandemia da COVID-19 (MENDONÇA GUIMARÃES et al, 2021) As respostas para estes questionamentos são múltiplas e complexas, pois nos remete a pensar a organização da nossa vida em sociedade. E, nesse sentido, os movimentos sociais têm feito este enfrentamento em suas várias formas de resistência. E a vigilância em saúde pode ser um campo profícuo de articulação entre a sociedadecivil e os serviços de saúde (MENDONÇA GUIMARÃES et al, 2021). Visando uma oposição a esta noção, surge o conceito de vigilância participativa como um “método oportuno para empoderar a população a exercer a sua cidadania e apoiar governos na identificação de localidades”. Esta perspectiva vai em direção a uma abordagem mais crítica, envolvendo o controle social no processo de vigilância em saúde (MENDONÇA GUIMARÃES et al, 2021). Enquanto a vigilância convencional concebe o objeto saúde como um processo essencialmente individual (casos), visando a perspectiva da doença, a vigilância participativa, por meio de monitoramento/crítica da sociedade, analisa os determinantes protetores e destrutivos da saúde, os estilos de vida grupais e individuais, e de que adoecem e morrem as pessoas em seus territórios. Acesso a serviços completos e de qualidade; Intervenções sobre fatores contextuais de saúde; Abordando os determinantes sociais Monitoramento e avaliação; Vigilância controle e gerenciamento de riscos; Pesquisa e gestão do conhecimento. Políticas, legislação e marcos regulatórios; Participação e mobilização social. Desenvolvimento de RH para a saúde; Medicamentos e outras tecnologias de saúde; Financiamento da saúde. A CE SSO AVALIAÇÃ O A LO CAÇÃO D E R ECURSOS DESENVOLVIM EN TO DE POLÍT IC A S Há décadas a Organização Panamericana de Saúde debate sobre quais são as funções essenciais em saúde pública (FESP). Em 2020 revisou essas funções. As funções essenciais de saúde pública são enquadradas como capacidades institucionais que os países devem fortalecer para uma ação apropriada de saúde pública. A sociedade civil e os principais atores também devem participar do desenvolvimento de políticas e não se limitar a facilitar a prestação de serviços (OPAS). Esta perspectiva ajuda a direcionar o olhar para as prioridades em saúde e dá um norte para população, gestores, trabalhadores e controle social. Funções Essenciais de Saúde Pública 34 Figura 2: Caracterização das funções essenciais da saúde pública na abordagem integrada da saúde pública, OPAS, 2020. Mas qual o conceito de saúde pública? Em 1920, Charles-Edward Amory Winslow conceituou a saúde pública como 35 a ciência e a arte de prevenir doenças, prolongar a vida, promover a saúde e a eficiência física, saneamento do ambiente, o controle de infecções comunitárias, a educação do indivíduo em higiene pessoal, a organização do serviço médico e de enfermagem para o diagnóstico precoce e tratamento preventivo de doenças, e o desenvolvimento da maquinaria social que garanta a cada indivíduo na comunidade um padrão de vida adequado para a manutenção da saúde (OPAS, 2020, p. 14). Outro conceito de saúde pública, inclusive que baseou a definição das funções essenciais da saúde pública (FESP) é o de “intervenção coletiva“, tanto do Estado quanto da sociedade civil, destinada a proteger e melhorar a saúde das pessoas” (OPAS, 2020, p. 14). 36 BRASIL. Ministério da saúde. O Decreto nº 7.508/11 e os desafios da gestão do SUS. Brasília, 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Asis - Análise de Situação de Saúde / Ministério da Saúde, Universidade Federal de Goiás. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. CENTRO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS DA FIOCRUZ ANTONIO IVO CARVALHO. Antes do SUS: Como se (des)organizava a saúde no Brasil sob a ditadura, 2018. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=antes-do-sus Acesso em: 04/01/2023. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução Nº 588 de 12 de julho de 2018. A prova a Política Nacional de Vigilância em Saúde (PNVS). Disponível em: http://conselho.saude.gov.br Acesso em: 04/01/2023. ESCOLA NACIONAL DE FARMACÊUTICOS. Fundação Oswaldo Cruz. Conselho Nacional de Saúde. Integração das Políticas de Saúde. MANZINI, F; VEIGA, A; LEITE, SN. (Org.). 2021. KICKBUSCH, I. Na área de saúde, a abordagem dos fatores determinantes, de natureza comercial, é de importância fundamental para os países emergentes. Editorial Ciênc. saúde coletiva 20 (4). Abr. 2015. https://doi.org/10.1590/1413-81232015204.19962014 REFERÊNCIAS BRASIL. Câmara dos deputados. Decreto nº 84.219, de 14 de novembro de 1979. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970- 1979/decreto-84219-14-novembro-1979-433518- publicacaooriginal-1-pe.html Acesso em: 04/01/23 https://cee.fiocruz.br/?q=antes-do-sus http://conselho.saude.gov.br/ https://doi.org/10.1590/1413-81232015204.19962014 https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-84219-14-novembro-1979-433518-publicacaooriginal-1-pe.html MENDONÇA GUIMARÃES, R., DE FREITAS MARTINS, TC, GOMES PARREIRA DUTRA, V., PASSOS, M., PIMENTA RIBEIRO DOS SANTOS, L., MOUTINHO CREPALDI, M., & CAVALCANTE, JR (2021). Perspectiva crítica da participação social na vigilância em saúde. Em SciELO Preprints . https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.3224 ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. As funções essenciais da saúde pública nas Américas. Uma renovação para o século XXI. Enquadramento conceptual e descrição. Washington, DC: Organização Pan-Americana da Saúde; 2020. Licença: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: https://iris.paho.org Acesso em 05/01/2023 RENOVATO, R. D.; BAGNATO, M. H. S. O serviço especial de saúde pública...Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. especial 2, p. 277-290, 2010. Editora UFPR. ISSN 1984-0411 (online) ROTEIRO Cenopoético de Ray Lima. In: FERLA, Alcindo Antônio (org.) et al. 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde: Proteção das vidas, território e democracia / Organizadores: Alcindo Antônio Ferla, Cicero Kennedy Lacerda, Érika Roméria Formiga de Sousa, Gustavo Cabrera Christiansen, Matheus Madson Lima Avelino e Samuel Pereira do Nascimento;Prefácio de Fernando Zasso Pigatto. – 1. ed. – Porto Alegre, RS: Editora Rede Unida, 2022. Duração: 1h30m. (Série: Rádio-Livros em Defesa do SUS e das Saúdes, v. 2). 37 REFERÊNCIAS https://iris.paho.org/