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W BA 07 64 _V 2. 0 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 2 Mariana Gerardi Mello Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2024 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 1ª edição 3 2024 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Juliana Schiavetto Dauricio Juliane Raniro Hehl Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Elaine Cristina Marques Esper Editorial Beatriz Meloni Montefusco Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Rosana Silverio Siqueira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Mello, Mariana Gerardi Ciências dos materiais/ Mariana Gerardi Mello, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A 2024. 32 p. ISBN 978-65-5903-656-1 1. Ciência e Engenharia dos Materiais. 2. Difusão em sólidos. 3. Propriedades dos materiais. I. Título. CDU 621 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 M527c © 2024 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Os materiais e sua estrutura atômica ________________________ 06 Estrutura cristalina e não cristalina dos materiais ___________ 17 Mecanismos de difusão e diagramas de fases _______________ 30 Propriedades dos materiais _________________________________ 40 CIÊNCIA DOS MATERIAIS 5 Apresentação da disciplina Seja bem-vindo(a) à disciplina Ciência dos Materiais. Aqui, você aprenderá um pouco sobre a estrutura atômica e cristalina dos materiais, suas propriedades e como alterar estrutura, visando às alterações de propriedades. Os materiais são compostos de átomos, os quais se ligam por meio de ligações químicas, formam estruturas cristalinas ou não e possuem defeitos na constituição de suas redes cristalinas e de seus grãos, que podem ser dosados de acordo com o que se deseja para os materiais. Portanto, compreender esses fenômenos faz com que possamos entender e controlar os defeitos, para que propriedades desejadas sejam alcançadas. Por isso, é importante entender mecanismos de difusão e formação de fases via estudo de diagrama de fases. Diagramas de fases são essenciais toda vez que trabalhamos com uma liga metálica. Se considerarmos a grande aplicação dos aços e ferros fundidos, só aí já percebemos a importância de conhecer esse assunto. Aqui, entender todas essas premissas é só o princípio para compreender as propriedades dos materiais. E são tantas! Existem propriedades mecânicas, ópticas, elétricas, térmicas, magnéticas, de corrosão, entre outras. Elas governarão as aplicações dos materiais, então conhecê-las é o ponto de partida para alterá-las. Enfim, são muitas possibilidades e opções! E aí, está pronto para mergulhar no mundo fantástico dos materiais? Vamos nessa! Bons estudos! 6 Os materiais e sua estrutura atômica Autoria: Mariana Gerardi de Mello Nassif Leitura crítica: Elaine Cristina Marques Esper Objetivos • Compreender os fundamentos da Ciência dos Materiais e sua importância na Engenharia de Materiais. • Analisar a estrutura atômica dos sólidos e sua relação com as propriedades dos materiais. • Explorar os diferentes tipos de ligações químicas e sua influência nas propriedades físicas e químicas dos materiais. 7 1. Introdução à Ciência dos Materiais e sua importância na Engenharia de Materiais A Ciência dos Materiais é uma disciplina multidisciplinar que estuda a relação entre a estrutura, as propriedades e o processamento dos materiais. Ela desempenha um papel fundamental na Engenharia de Materiais, pois fornece as bases teóricas e práticas necessárias para o desenvolvimento e aprimoramento de novos materiais com propriedades específicas que permitem que aplicações específicas sejam realizadas para esses novos materiais. Assim, a Ciência dos Materiais se preocupa com o conhecimento sobre a estrutura em diferentes escalas, que variam desde a escala atômica até a macroscópica, bem como as propriedades dos materiais e o que a modificação da estrutura resulta em alteração de propriedades. A engenharia de materiais, por sua vez, se preocupa em utilizar esses conhecimentos em aplicações cada vez mais complexas, extraindo o máximo de cada material, chegando, inclusive, à manipulação de propriedades para atender às necessidades específicas de cada aplicação. A compreensão dos materiais é essencial para a criação de produtos inovadores e tecnologicamente avançados. Através do conhecimento em Ciência dos Materiais, os engenheiros são capazes de selecionar os materiais mais adequados para cada aplicação, levando em consideração fatores, como resistência mecânica, condutividade térmica, resistência à corrosão, entre outras propriedades importantes em um projeto. 1.1 Estrutura atômica dos sólidos A estrutura atômica dos materiais descreve a organização dos átomos e é crucial para entender as propriedades e os comportamentos deles. 8 Os materiais podem ser classificados, de acordo com sua estrutura atômica, em cristalino ou amorfo (Figura 1). Figura 1 – Representação das estruturas atômicas cristalina e amorfa Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Crystalline_or_amorphous_es.svg. Acesso em: 21 ago. 2024. A estrutura cristalina é caracterizada por uma organização regular e repetitiva dos átomos em uma rede tridimensional. Essa organização é representada por uma célula unitária, que é a menor unidade que se repete ao longo de todo o cristal. Exemplos de sólidos com estrutura cristalina incluem todos os metais em estado sólidos, boa parte das cerâmicas e alguns polímeros, que são conhecidos por seu índice de cristalinidade, um valor percentual que indica o quão organizadas podem ser as moléculas de um polímero. Já os sólidos amorfos não possuem uma estrutura ordenada, apresentando uma disposição aleatória dos átomos. Esses materiais não possuem uma célula unitária definida, e suas propriedades podem variar significativamente em diferentes regiões do material. Exemplos de sólidos amorfos incluem o vidro e os plásticos amorfos. Os materiais cristalinos se organizam em múltiplos cristais e, por isso, formam sólidos policristalinos. Essa organização, na forma de múltiplos 9 cristais, é conhecida como grãos, que possuem diferentes orientações cristalográficas. Cada grão possui uma estrutura cristalina bem definida, mas a orientação entre os grãos pode variar, como mostrado na Figura 2. Essa estrutura é comumente encontrada em materiais metálicos. Figura 2 – Representações da formação e estrutura dos grãos Fonte: Callister e Rethwisch (2024, [n. p.]). A estrutura atômica dos sólidos influencia diretamente suas propriedades físicas e químicas. Por exemplo, a distância entre os átomos na estrutura cristalina determina a densidade do material. A disposição dos átomos também afeta a condutividade térmica e elétrica, a resistência mecânica, a dureza e a capacidade de deformação plástica. Além disso, a estrutura atômica dos sólidos está relacionada à formação de defeitos, como lacunas, interstícios e discordâncias. Esses defeitospodem afetar significativamente as propriedades do material, como sua resistência à tração, ductilidade e tenacidade. É importante lembrar que existem outros fatores que também afetam as propriedades físicas e químicas dos sólidos. Por exemplo, a composição química dos átomos presentes no material pode influenciar suas propriedades, como a reatividade química e a capacidade de formar ligações interatômicas. Outros fatores, como a temperatura, a pressão 10 e o tratamento térmico, também podem ter um impacto significativo nas propriedades deles. Portanto, é importante considerar todos esses fatores em conjunto para entender completamente as propriedades físicas e químicas dos materiais. A compreensão da estrutura atômica dos sólidos é essencial para projetar e desenvolver materiais com propriedades específicas. Através do controle da estrutura atômica, é possível modificar as propriedades dos materiais, tornando-os mais adequados para determinadas aplicações. Isso inclui a criação de ligas metálicas com propriedades superiores, a otimização da resistência à corrosão em materiais cerâmicos e a melhoria da transparência em vidros. 1.2 Ligação interatômica nos sólidos A ligação interatômica nos sólidos é um aspecto fundamental para compreender as propriedades e os comportamentos dos materiais. Ela descreve a forma como os átomos se unem para formar uma estrutura sólida. Existem três tipos principais de ligação interatômica nos sólidos: ligação iônica, ligação covalente e ligação metálica. Cada tipo de ligação é caracterizado por diferentes interações entre os elétrons que compõem os átomos, como mostrado na Figura 3. 11 Figura 3 – Representação das ligações interatômicas Fonte: elaborada pela autora. A ligação iônica ocorre quando há transferência completa ou parcial de elétrons entre átomos de diferentes elementos. Isso resulta na formação de íons positivos e negativos, que são atraídos pela força eletrostática. Essa ligação é comumente encontrada em compostos iônicos, como sais e cerâmicas, e é responsável por suas altas temperaturas de fusão e rigidez. Essa ligação também contribui para a baixa condutividade elétrica em estado sólido, mas pode permitir a condução quando o material está em solução aquosa. Além disso, a ligação iônica influencia a solubilidade e a capacidade de dissociação em soluções. A ligação covalente ocorre quando dois átomos compartilham um ou mais pares de elétrons. Essa ligação é mais comum em materiais orgânicos e em alguns compostos inorgânicos, como diamante e silício. A ligação covalente está associada a materiais com alta estabilidade química e resistência mecânica. Essa ligação é responsável por propriedades, como a tenacidade e a baixa condutividade elétrica. 12 A presença de ligações covalentes fortes também pode influenciar a polaridade das moléculas, afetando propriedades, como a solubilidade e a reatividade química. A ligação metálica ocorre em metais, nos quais os átomos estão dispostos em uma rede tridimensional e compartilham seus elétrons de valência. Essa ligação é caracterizada pela mobilidade dos elétrons, que formam uma nuvem eletrônica ao redor dos átomos. Essa nuvem eletrônica é responsável pela condução elétrica e térmica dos metais, bem como pela sua maleabilidade e ductilidade. A presença de ligações metálicas também pode influenciar a resistência mecânica e a capacidade de deformação plástica dos materiais. Além desses tipos de ligação, existem as interações de van der Waals, que ocorrem nas moléculas, portanto em compostos que possuem ligação covalente. Essas interações são mais fracas do que as ligações iônicas, covalentes e metálicas, mas ainda desempenham um papel importante nas propriedades de materiais poliméricos. A natureza da ligação interatômica nos sólidos influencia diretamente suas propriedades físicas e químicas. Por isso, é necessário conhecer não apenas a estrutura, mas também o tipo de ligação interatômica presente em um material. 1.3 Propriedades físicas dos materiais relacionadas às ligações químicas As ligações químicas nos materiais têm um impacto significativo nas suas propriedades físicas. A natureza das ligações afeta diretamente como os materiais se comportam em termos de condutividade elétrica, condutividade térmica, dureza, ponto de fusão, entre outros aspectos. 13 A condutividade elétrica dos materiais está diretamente relacionada às ligações químicas presentes. Materiais com ligações iônicas, por exemplo, geralmente têm baixa condutividade elétrica em estado sólido, pois os elétrons estão fortemente ligados aos íons e não podem se mover facilmente. No entanto, quando esses materiais são dissolvidos em água ou fundidos, os íons se separam e a condutividade elétrica aumenta. Por outro lado, materiais com ligações metálicas têm maior condutividade elétrica, pois os elétrons estão mais livres para se moverem. A condutividade térmica dos materiais também é influenciada pelas ligações químicas. Materiais com ligações metálicas tendem a ter alta condutividade térmica devido à mobilidade dos elétrons na estrutura. Outro fator que auxilia é o elevado número de portadores de carga (elétrons) presente na estrutura do material. Por outro lado, materiais com ligações covalentes ou iônicas têm menor condutividade térmica, pois a transferência de calor ocorre, principalmente, através de vibrações atômicas e a mobilidade dos átomos nessas ligações é baixa. A dureza dos materiais está relacionada às ligações químicas, à estrutura do material e à sua resistência a deformações permanentes. Materiais com ligações iônicas tendem a ser mais duros, pois as ligações são fortes e requerem mais energia para serem quebradas. Materiais com ligações metálicas tendem a ser mais maleáveis e menos duros, pois os átomos podem deslizar uns sobre os outros sem quebrar as ligações. Materiais com ligações covalentes, por sua vez, podem apresentar dureza elevada, como a do diamante, ou serem extremamente macios, como ocorre com o grafite. As diferenças e explicações a respeito da dureza ficam por conta da estrutura desses materiais, que é cristalino para o diamante e lamelar para o grafite. O ponto de fusão dos materiais também é influenciado pelas ligações químicas. Materiais com ligações iônicas, normalmente, têm pontos 14 de fusão elevados, pois a quebra das ligações requer uma quantidade significativa de energia. Materiais com ligações covalentes também podem ter pontos de fusão elevados, dependendo da força das ligações. Já materiais com ligações metálicas tendem a ter pontos de fusão intermediários, pois as ligações são mais fracas em relação à ligação iônica e podem ser facilmente rompidas. 1.4 Propriedades químicas dos materiais relacionadas às ligações químicas As propriedades químicas dos materiais também são fortemente influenciadas pelas ligações químicas presentes. A natureza das ligações afeta diretamente como os materiais interagem com outras substâncias e reagem quimicamente. A reatividade química dos materiais está relacionada às ligações químicas presentes. Materiais com ligações covalentes tendem a ser menos reativos, pois as ligações são estáveis e requerem uma quantidade significativa de energia para serem quebradas. Por outro lado, materiais com ligações iônicas ou covalentes são mais reativos, pois as ligações podem ser facilmente rompidas e os átomos ou íons podem interagir com outras substâncias. A estabilidade química dos materiais também é influenciada pelas ligações químicas. Materiais com ligações covalentes tendem a ser mais estáveis e menos suscetíveis a reações químicas indesejadas, fato que torna os materiais poliméricos, por exemplo, um problema ambiental em seu descarte. Por outro lado, materiais com ligações mais fracas podem ser mais propensos a reagir com outras substâncias e sofrer alterações químicas. 15 A solubilidade dos materiais em diferentes solventes também é afetadapelas ligações químicas. Materiais com ligações iônicas tendem a ser solúveis em solventes polares, como água, pois os íons são atraídos pelas moléculas polares do solvente. Materiais com ligações covalentes não polares, por outro lado, tendem a ser solúveis em solventes não polares, como hidrocarbonetos. A capacidade de absorção de energia dos materiais também está relacionada às ligações químicas. Materiais com ligações covalentes mais fortes tendem a ter maior capacidade de absorver energia, pois as ligações requerem mais energia para serem quebradas. Isso pode resultar em materiais com alta resistência a choques térmicos ou mecânicos. Conectando à Realidade: Aplicação de Materiais na Indústria Automotiva Na indústria automotiva, a Ciência dos Materiais desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de materiais avançados para melhorar a eficiência, a segurança e o desempenho dos veículos. Compreender as propriedades dos materiais é essencial para selecionar os mais adequados para cada componente do automóvel. Ao projetar um novo veículo, é necessário considerar a estrutura atômica dos materiais utilizados. Por exemplo, a utilização de aços que possuem estrutura cristalina permite obter produtos com alta resistência mecânica, essencial para a segurança estrutural do veículo. A ligação interatômica é crucial para a escolha dos materiais na indústria automotiva. Por exemplo, a utilização de ligas de alumínio que possuem ligação metálica proporciona baixa densidade e alta condutividade térmica, tornando-os ideais para componentes como radiadores e blocos de motor. Nessa mesma linha de raciocínio, a utilização de 16 ligas de titânio, que também possuem ligação metálica, proporciona alta resistência mecânica e baixa densidade, tornando-os ideais para componentes estruturais, como chassis e suspensões. Outro exemplo é a utilização de adesivos estruturais, que possuem ligações covalentes e permitem a união de diferentes materiais, proporcionando maior resistência e reduzindo o peso do veículo. A utilização de polímeros termoplásticos que possuem ligações covalentes é outro exemplo, pois esse tipo de ligação proporciona maior flexibilidade e resistência ao impacto, ideal para a aplicação desses materiais em para-choques e painéis internos. Podemos citar, ainda, a utilização de revestimentos anticorrosivos que possuem ligações covalentes, os quais são estáveis quimicamente e protegem a carroceria do veículo contra a corrosão causada por agentes químicos e condições ambientais adversas. Em resumo, a aplicação dos conceitos da Ciência dos Materiais na indústria automotiva é essencial para o desenvolvimento de veículos mais seguros, eficientes e duráveis. Referências CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2024. 17 Estrutura cristalina e não cristalina dos materiais Autoria: Mariana Gerardi de Mello Nassif Leitura crítica: Elaine Cristina Marques Esper Objetivos • Identificar e descrever as estruturas cristalinas e não cristalinas dos materiais. • Avaliar a influência das imperfeições nos sólidos nas propriedades dos materiais. • Analisar a estrutura dos materiais e sua relação com as propriedades. 18 1. Estrutura amorfa versus estrutura cristalina Uma das principais diferenças entre materiais cristalinos e amorfos (não cristalinos) é a forma como os átomos estão organizados. Nos materiais cristalinos, os átomos se organizam em uma rede tridimensional, formando um padrão repetitivo que se estende por todo o material. Já nos materiais amorfos, os átomos estão dispostos de forma desordenada, sem um padrão definido. As propriedades dos materiais amorfos são diferentes das propriedades dos materiais cristalinos. Os materiais amorfos tendem a ser menos resistentes, menos densos, conduz menos energia elétrica, serem mais frágeis e menos rígidos do que os materiais cristalinos. Além disso, eles geralmente possuem uma temperatura de transição vítrea, acima da qual se tornam mais viscosos. A formação de materiais amorfos pode ocorrer de várias maneiras. Uma delas é o resfriamento rápido de um material fundido. Quando um material é resfriado rapidamente, os átomos não têm tempo suficiente para se organizar em uma estrutura cristalina, resultando em uma estrutura amorfa. Isso é muito comum para materiais cerâmicos, como o vidro, e para os polímeros. Mas, não confunda essa estrutura amorfa com a estrutura da martensita. Essa estrutura é obtida por meio do resfriamento rápido, porém continua sendo uma estrutura cristalina para o aço, mas menos organizada do que a perlita. Outro método de formação de materiais amorfos é a deposição física de vapor. Nesse processo, um material é evaporado e depositado em uma superfície, formando uma camada fina de material amorfo. Esse método é amplamente utilizado na fabricação de filmes finos para aplicações em eletrônica e revestimentos. O diamante CVD pode ser obtido dessa 19 forma, e é uma estrutura muito menos organizada do que a estrutura do diamante. Existem vários exemplos de materiais amorfos. Um dos mais conhecidos é o vidro, que é obtido através do resfriamento rápido de uma mistura de óxidos, como sílica, alumina e cal. O vidro possui uma ampla gama de aplicações, desde janelas e garrafas até fibras ópticas e telas de dispositivos eletrônicos. Os polímeros amorfos também são exemplos de materiais amorfos. Os polímeros são compostos por cadeias moleculares longas e flexíveis, que se entrelaçam formando uma estrutura desordenada. Esses materiais são amplamente utilizados na indústria de plásticos, em produtos como embalagens, filmes e peças moldadas. 2. Estrutura cristalina 2.1 Redes cristalinas A estrutura cristalina é um dos principais aspectos estudados na Ciência dos Materiais. Para entendermos o que é uma estrutura cristalina, é preciso entender que os átomos em um sólido cristalino estão dispostos em uma estrutura repetitiva e ordenada, formando uma unidade básica chamada célula unitária, que, por sua vez, corresponde à menor porção da estrutura cristalina que, quando repetida em todas as direções, forma o cristal completo, ao qual chamamos de estrutura cristalina. A rede cristalina, ou o retículo cristalino, se refere ao tipo de célula unitária presente no material, e são os padrões geométricos que descrevem a organização dos átomos na célula unitária. 20 O empilhamento de esferas, que, neste caso, são os átomos que compõem a célula unitária pode ocorrer de 14 formas diferentes, conhecidas como Redes de Bravais, que formam 14 tipos de redes cristalinas tridimensionais. Elas foram propostas pelo matemático e físico francês Auguste Bravais, em 1848, e podem ser classificadas de acordo com a simetria e a disposição dos átomos na célula unitária em: • Cúbica simples ou cúbica primitiva (P): os átomos estão localizados apenas nos vértices da célula unitária cúbica. • Cúbica de corpo centrado (I): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro da célula unitária cúbica. • Cúbica de face centrada (F): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro de cada face da célula unitária cúbica. • Tetragonal simples (P): os átomos estão localizados apenas nos vértices da célula unitária tetragonal. • Tetragonal de corpo centrado (I): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro da célula unitária tetragonal. • Ortorrômbica simples (P): os átomos estão localizados apenas nos vértices da célula unitária ortorrômbica. • Ortorrômbica de corpo centrado (I): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro da célula unitária ortorrômbica. • Ortorrômbica de face centrada (F): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro de cada face da célula unitária ortorrômbica. • Monoclínica simples (P): os átomos estão localizados apenas nos vértices da célula unitária monoclínica.21 • Monoclínica de corpo centrado (I): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro da célula unitária monoclínica. • Triclínica simples (P): os átomos estão localizados apenas nos vértices da célula unitária triclínica. • Hexagonal simples (P): os átomos estão localizados apenas nos vértices da célula unitária hexagonal. • Hexagonal de corpo centrado (I): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro da célula unitária hexagonal. • Hexagonal de face centrada (F): além dos átomos nos vértices, há um átomo adicional no centro de cada face da célula unitária hexagonal. A Figura 1 mostra a esquematização das 14 Redes de Bravais. Figura 1 – Redes de Bravais Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f4/Redes_de_Bravais.png. Acesso em: 21 ago. 2024. 2.2 Parâmetros de rede Os parâmetros de rede são as medidas que descrevem as dimensões e os ângulos da célula unitária. Eles são utilizados para caracterizar a 22 estrutura cristalina de um material. Os principais parâmetros de rede são: Arestas: são os comprimentos dos lados da célula unitária ao longo dos eixos de simetria, que, normalmente, são representados pelas letras a, b e c. Ângulos entre os lados da célula unitária: são os ângulos formados entre os lados da célula unitária, os quais são representados pelas letras α, β e γ. 2.3 Planos e direções cristalográficas Os planos cristalinos são superfícies imaginárias que dividem um cristal em duas partes. Eles são definidos pela posição dos átomos que compõem o cristal e são representados por uma série de índices entre colchetes, como [hkl], e cada conjunto de índices representa um plano específico. Os planos cristalinos são importantes na engenharia de materiais porque afetam as propriedades físicas e químicas dos materiais cristalinos. Por exemplo, a resistência mecânica de um material pode variar dependendo da orientação dos planos cristalinos em relação à direção de aplicação da força. Além disso, os planos cristalinos também influenciam a forma como os materiais cristalinos se deformam. A deformação plástica, por exemplo, ocorre quando os planos cristalinos deslizam uns sobre os outros. Dessa forma, outra propriedade afetada pelos planos cristalinos é ductilidade dos materiais. As direções cristalográficas, por sua vez, são linhas imaginárias que se estendem através de um cristal. Elas são definidas pela posição 23 dos átomos que compõem o cristal e são representadas por uma série de índices entre colchetes, como [uvw]. Cada conjunto de índices representa uma direção específica. A orientação das direções cristalográficas pode afetar a morfologia dos cristais e a formação de defeitos cristalinos, como discordâncias. Para determinar uma direção, deve-se determinar as coordenadas do ponto inicial e do ponto final do vetor, subtrair as coordenadas do ponto final das coordenadas do ponto inicial e apresentar esses números como os menores valores inteiros. Observe direções e planos cristalinos presentes na Figura 2. Note que a segunda figura apresenta direções e planos cristalinos presentes em duas células cristalinas. Figura 2 – Direções e planos cristalinos Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/4d/Indices_miller_plan_ definition.svg/300px-Indices_miller_plan_definition.svg.png. Acesso em: 21 ago. 2024. A Quando se estuda a estrutura cristalina de um material, muitas propriedades podem surgir da organização desse material, mas a alteração de propriedades é até mais efetiva quando a estrutura cristalina apresenta algum tipo de defeito. Por isso, é importante estudarmos esses defeitos. 24 3. Imperfeições nos sólidos As imperfeições nos sólidos são características intrínsecas dos materiais que afetam suas propriedades e desempenham um papel fundamental na Ciência dos Materiais. Essas imperfeições podem ser definidas como qualquer desvio da estrutura cristalina perfeita de um material sólido. Elas podem ocorrer em diferentes formas, como vacâncias, intersticiais, substitucionais, discordâncias, entre outras. As vacâncias são imperfeições em que um átomo está ausente em sua posição ideal na estrutura cristalina. Isso ocorre quando um átomo é removido de sua posição normal, deixando um espaço vazio. Essas vacâncias podem ocorrer naturalmente durante a solidificação de um material ou podem ser introduzidas por processos de deformação ou tratamentos térmicos. As imperfeições intersticiais ocorrem quando um átomo ocupa um espaço intersticial entre os átomos da estrutura cristalina. Esses átomos intersticiais podem ser de tamanho diferente dos átomos da matriz, o que pode afetar as propriedades do material. As imperfeições substitucionais ocorrem quando um átomo é substituído por outro átomo de tamanho e carga diferentes. Isso pode ocorrer durante a solidificação ou por tratamentos térmicos específicos. Essas substituições podem afetar as propriedades do material, como a condutividade elétrica ou térmica. As discordâncias são imperfeições lineares que ocorrem quando as camadas atômicas não estão perfeitamente alinhadas. Existem dois tipos principais de discordâncias: discordância de linha e discordância de plano. A discordância de linha ocorre quando uma linha de átomos está fora de alinhamento com as camadas adjacentes, enquanto a discordância de plano ocorre quando uma camada inteira de átomos está fora de posição. 25 Defeitos de vacâncias, intersticiais, substitucionais e discordâncias são muito comuns em materiais metálicos. Polímeros semicristalinos também apresentam esses e outros defeitos, como os de dobra de cadeia e pontas de cadeia fora da região cristalina. No caso das cerâmicas, além desses defeitos, também existem outros relacionados com a repulsão das cargas no material. Nos materiais semicondutores, são as imperfeições que tornam esses materiais aplicáveis em microchips, processadores, radares, fibras óticas etc. As imperfeições, de uma forma geral, afetam a movimentação dos átomos nos sólidos. Essa movimentação é estudada por meio de um mecanismo de difusão atômica, que ocorre quando os átomos se movem através da estrutura cristalina devido a gradientes de concentração ou gradientes de energia. Existem diferentes mecanismos de difusão, como a difusão por lacunas, em que os átomos se movem através de vacâncias, e a difusão por interstícios, em que os átomos se movem através de espaços intersticiais. Controlar ou alterar essas movimentações é o que altera as propriedades dos materiais. Nas ligas metálicas, por exemplo, as imperfeições podem ser controladas para melhorar as propriedades mecânicas e a resistência à corrosão. Nas cerâmicas, as imperfeições podem afetar a condutividade elétrica e a resistência mecânica. Veremos algumas dessas influências a seguir. 4. Influência das imperfeições nas propriedades dos materiais As imperfeições nos materiais têm um impacto significativo em suas propriedades, afetando sua resistência mecânica, condutividade elétrica e térmica, estabilidade química, entre outras características. Compreender esses efeitos é essencial para projetar materiais com 26 propriedades desejáveis e melhorar o desempenho dos materiais em diversas aplicações. Começaremos pela resistência mecânica. As discordâncias, que são imperfeições lineares, podem atuar como obstáculos ao movimento de deslizamento dos planos atômicos, aumentando a resistência do material. Isso é observado em ligas metálicas, nas quais a introdução controlada de discordâncias pode melhorar a resistência mecânica do material. Um exemplo prático é o uso de tratamentos termomecânicos para introduzir discordâncias em aços, aumentando sua resistência e tenacidade. As imperfeições também afetam a condutividade elétrica dos materiais. As vacâncias e as imperfeições intersticiais podem reduzir a condutividade elétrica, pois interrompem o fluxo de elétrons. Por outro lado, as substituições podemaumentar ou diminuir a condutividade elétrica, dependendo das propriedades do átomo substituinte. Um exemplo prático é o uso de dopantes em semicondutores, em que a introdução controlada de substituições pode alterar a condutividade elétrica e permitir a fabricação de dispositivos eletrônicos, como transistores e circuitos integrados, nos quais a dopagem permite o controle do fluxo de elétrons. Por exemplo, a introdução de impurezas do tipo p ou n em silício permite a fabricação de transistores de junção bipolar (BJT) ou transistores de efeito de campo (FET), que são componentes essenciais em circuitos eletrônicos. Nas células solares, a introdução controlada de imperfeições em materiais semicondutores permite a absorção eficiente da luz solar e a geração de corrente elétrica, melhorando a eficiência de conversão de energia. A condutividade térmica é outra propriedade que pode ser alterada. Nesse caso, as imperfeições costumam afetar a transferência de calor em um material, pois interferem no movimento dos átomos, que é o caso das discordâncias e das imperfeições intersticiais. No entanto, em alguns casos, as 27 imperfeições podem aumentar a condutividade térmica. Por exemplo, nas cerâmicas, a introdução controlada de imperfeições pode criar caminhos preferenciais para a transferência de calor, melhorando a condutividade térmica do material. A estabilidade química dos materiais também é influenciada pelas imperfeições. As vacâncias e as imperfeições intersticiais podem criar sítios reativos, nos quais reações químicas indesejáveis podem ocorrer, levando à degradação do material. Por outro lado, as substituições podem melhorar a estabilidade química, tornando o material mais resistente à corrosão ou à oxidação. Um exemplo prático é o uso de ligas metálicas com substituições específicas para melhorar a resistência à corrosão em ambientes agressivos. Por isso, elementos, como cromo e níquel, costumam ser adicionados ao aço. Para controlar e manipular as imperfeições nos materiais, existem diversas técnicas disponíveis, tais como os tratamentos térmicos específicos, que são utilizados para introduzir ou eliminar imperfeições. Nesse sentido, a recristalização é utilizada para eliminar discordâncias, e a têmpera, para introduzir discordâncias. Além disso, técnicas de dopagem podem ser empregadas para controlar as substituições em materiais semicondutores, e a nanotecnologia também oferece a possibilidade de manipular imperfeições em escala atômica, permitindo a criação de materiais com propriedades sob medida. As imperfeições controladas em materiais têm diversas aplicações práticas. Por exemplo, na indústria aeroespacial, ligas metálicas com imperfeições controladas são utilizadas para fabricar componentes estruturais leves e resistentes. Além disso, nas indústrias de energia, materiais com imperfeições controladas são utilizados em turbinas eólicas, células solares e baterias de íons de lítio, melhorando sua eficiência e seu desempenho. 28 Conectando à Realidade: Exemplos Práticos Na indústria aeroespacial, é essencial utilizar materiais que sejam leves e resistentes para fabricar componentes estruturais de aeronaves. Uma forma de alcançar essas propriedades desejáveis é através da introdução controlada de imperfeições nas ligas metálicas. A multiplicação das discordâncias nas ligas metálicas pode aumentar sua resistência mecânica, pois as discordâncias atuam como obstáculos ao movimento de deslizamento dos planos atômicos, dificultando a deformação plástica do material. Isso torna as ligas metálicas mais resistentes a forças externas, como as que atuam sobre uma aeronave durante o voo. Além disso, a introdução controlada de substituições nas ligas metálicas pode melhorar sua resistência à corrosão. Substituir átomos de um metal por átomos de outro metal pode alterar a estrutura cristalina e criar uma barreira para a corrosão. Isso é especialmente importante na indústria aeroespacial, na qual as aeronaves estão expostas a ambientes agressivos, como a umidade e os produtos químicos presentes na atmosfera. O exemplo prático que ilustra essa influência das imperfeições nos materiais é a utilização de ligas de alumínio na fabricação de aeronaves. O alumínio puro é um metal leve, porém relativamente fraco. Para torná-lo adequado para uso aeroespacial, é necessário adicionar outros elementos à sua estrutura, formando ligas metálicas mais resistentes. Uma liga de alumínio comumente utilizada na indústria aeroespacial é a liga de alumínio 7075. Essa liga é composta, principalmente, por alumínio, mas também contém pequenas quantidades de zinco, magnésio, cobre e outros elementos. A adição desses elementos cria imperfeições controladas na estrutura cristalina do alumínio, melhorando suas propriedades mecânicas. 29 A introdução de discordâncias na liga de alumínio 7075 aumenta sua resistência mecânica, permitindo que a aeronave suporte cargas mais elevadas e resista a condições extremas, como turbulências e mudanças bruscas de temperatura. Além disso, a adição de elementos, como o cobre e o magnésio, melhora a resistência à corrosão da liga, protegendo-a da ação de agentes corrosivos presentes no ambiente aeroespacial. Referências CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2024. 30 Mecanismos de difusão e diagramas de fases Autoria: Mariana Gerardi de Mello Nassif Leitura crítica: Elaine Cristina Marques Esper Objetivos • Compreender os conceitos de difusão, seus mecanismos e os fatores envolvidos. • Entender a solução sólida e o mecanismo de endurecimento por solução sólida. • Discutir os princípios e as aplicações dos diagramas de fases. 31 1. Mecanismos de difusão em sólidos A difusão em sólidos é um fenômeno fundamental que ocorre devido ao movimento de átomos ou moléculas através da estrutura cristalina. Existem diferentes mecanismos de difusão em sólidos, sendo os principais: difusão por lacunas, difusão intersticial e difusão por contorno de grão. Esses mecanismos são influenciados por fatores, como temperatura, concentração e microestrutura do material. O estudo desses mecanismos é essencial para entender a difusão em materiais e suas aplicações em áreas como tratamentos térmicos, crescimento e formação das estruturas cristalinas e dopagem de materiais semicondutores. A difusão por lacunas é um dos mecanismos mais comuns de difusão em sólidos. Nesse processo, os átomos vizinhos deixam lacunas em suas posições na rede cristalina, e outros átomos se movem para ocupar essas lacunas. Isso ocorre mediante a aplicação de calor, que fornece energia para os átomos se moverem. A taxa de difusão por lacunas pode ser calculada usando a equação de Arrhenius, que relaciona a taxa de difusão com a temperatura. Outro mecanismo de difusão em sólidos é a difusão intersticial. Nesse mecanismo, os átomos se movem através de posições intersticiais, ou seja, os espaços vazios entre os átomos ao longo da rede cristalina. Assim, a difusão intersticial é comum em materiais com átomos menores que podem se encaixar nas posições intersticiais. Outro mecanismo é a difusão por contorno de grão, que ocorre ao longo das interfaces entre os grãos individuais em um material policristalino. A difusão por contorno de grão ocorre devido à diferença de estrutura cristalina entre os grãos. Os átomos podem se mover mais facilmente ao longo dos contornos de grão, pois essas regiões apresentam uma estrutura cristalina menos ordenada. 32 Um dos principais efeitos que utilizam os conceitos de difusão é o conceito de endurecimento por solução sólida. Para isso, é importante definirmos solução sólida: uma solução sólida é um tipo de mistura homogênea em que os átomos de um ou mais elementos são distribuídos uniformemente dentro da estrutura cristalina de um metal ou outro material sólido. Em outras palavras, é uma fasesólida contendo dois ou mais componentes misturados em nível atômico. Uma solução sólida não é uma mistura, pois seus componentes se dissolvem um no outro, formando uma nova fase. O endurecimento por solução sólida é um mecanismo de fortalecimento dos materiais metálicos que ocorre quando átomos de um elemento (soluto) são adicionados a um metal base (solvente), formando uma solução sólida. Esse processo aumenta a resistência e a dureza do material ao dificultar o movimento das discordâncias, que são defeitos lineares na estrutura cristalina responsáveis pela deformação plástica. Átomos de soluto são introduzidos na matriz do metal solvente. Esses átomos podem se posicionar em sítios substitucionais (substituindo átomos do solvente) ou intersticiais (ocupando espaços intersticiais entre os átomos do solvente). A presença de átomos de soluto causa distorções na rede cristalina do metal solvente. Isso ocorre porque os átomos de soluto, geralmente, têm tamanhos diferentes dos átomos do solvente, criando tensões locais na estrutura cristalina. As tensões locais causadas pelos átomos de soluto interagem com as discordâncias, dificultando seu movimento. O movimento das discordâncias é essencial para a deformação plástica, e qualquer impedimento a esse movimento aumenta a resistência do material. 33 Nem todos os elementos podem ser adicionados em grandes quantidades devido às limitações de solubilidade no metal solvente. Como você deve ter percebido, o entendimento desses conceitos faz com que propriedades sejam mais bem compreendidas e possam ser alteradas. Além da difusão, que controla a cinética das transformações de fase e a evolução microestrutural dos materiais, outro conceito importante são os diagramas de fases, os quais fornecem o mapa das fases estáveis em diferentes condições de temperatura e de quantidade de cada material presente. A difusão e os diagramas de fases estão intimamente ligados, e entender essa relação é crucial para o desenvolvimento e processamento de materiais com propriedades desejadas. 2. Tipos de diagramas de fases Os diagramas de fases são construídos com base em dados experimentais e cálculos termodinâmicos para determinar as condições em que ocorrem as transformações de fase. Essas transformações são regidas pelas leis da termodinâmica, que estabelecem as condições de equilíbrio entre as fases. Relacionada ao equilíbrio termodinâmico, a regra das fases de Gibbs é uma fórmula fundamental na termodinâmica que relaciona o número de fases em equilíbrio com o número de componentes e as variáveis intensivas do sistema. Ela é expressa pela seguinte equação: F = C - P + 2 Onde: • F é o número de graus de liberdade (ou variáveis intensivas que podem ser alteradas independentemente sem mudar o número de fases em equilíbrio, como temperatura, pressão, concentração). 34 • C é o número de componentes químicos independentes no sistema. • P é o número de fases em equilíbrio. Refere-se às diferentes formas físicas em que os componentes podem existir, como sólido, líquido e gás. Essa fórmula pressupõe um equilíbrio termodinâmico, o que nem sempre ocorre em condições reais. Existem diferentes tipos de diagramas de fases, cada um adequado para diferentes sistemas materiais e composições. Os diagramas binários são aqueles que envolvem dois componentes e são os mais comuns entre os materiais metálicos. Quando se consideram dois elementos que formam apenas uma fase sólida, dizemos que o diagrama de fases é isomorfo. No entanto, aprofundaremos o estudo em um diagrama binário mais comum, o diagrama ferro-carbono, que é amplamente utilizado na metalurgia e engenharia de materiais, uma vez que o aço é um dos principais materiais aplicados industrialmente. Figura 1 – Diagrama de fases ferro-carbono Fonte: lightningmcqueen/adobe.adobe.com. 35 No diagrama Fe-C, diferentes fases coexistem em função da temperatura e do teor de carbono. O ferro, em temperatura ambiente, forma uma estrutura do tipo cúbica de corpo centrado, e os átomos de carbono ficam localizados nos interstícios dessa estrutura CCC. Sobre as principais informações que podem ser encontradas no diagrama de fases do sistema Fe-C, temos: • Fases principais • Ferrita (α): é uma solução sólida de carbono em ferro com estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (CCC). Tem baixa solubilidade de carbono (máximo de 0,022% a 723 °C). É magnética até 768 °C (ponto de Curie). • Austenita (γ): é uma solução sólida de carbono em ferro com estrutura cristalina cúbica de face centrada (CFC). Pode dissolver até 2,06% de carbono a 1147 °C. Não é magnética. • Cementita (Fe₃C): é um composto intermetálico de ferro e carbono (6,67% de carbono). É dura e frágil. • Perlita: é uma microestrutura constituída por lamelas alternadas de ferrita e cementita. Forma-se a partir da austenita durante o resfriamento lento. • Transformações de fase • Transformação Eutetoide: austenita se transforma em perlita ao resfriar abaixo de 727 °C para uma concentração de 0,8% em massa de carbono. • Transformação Eutética: Líquido se transforma em austenita e cementita a 1147 °C e em uma concentração de 4,3% me massa de carbono. 36 • Transformação Peritética: líquido e ferrita se transformam em austenita a 1495 °C. Os diagramas de fase também podem ser ternários, ou seja, envolver três componentes. Um exemplo é o diagrama alumínio-silício-magnésio, que é utilizado na indústria de fundição de ligas de alumínio. Além dos diagramas binários e ternários, existem também os diagramas de fases complexos, que envolvem mais de três componentes ou apresentam fases intermediárias. Esses diagramas são mais complexos e exigem uma análise mais detalhada. 3. Aplicações dos diagramas de fases Uma das aplicações dos diagramas de fases é no projeto de ligas. Ao analisar um diagrama de fases, é possível identificar as composições e temperaturas adequadas para obter propriedades específicas em uma liga. Por exemplo, se deseja-se desenvolver uma liga com alta resistência mecânica e boa resistência à corrosão, o diagrama de fases pode ser utilizado para determinar as composições e temperaturas que proporcionam essas características desejadas. Outra aplicação importante dos diagramas de fases é no controle de processos de solidificação. Ao analisar o diagrama de fases de uma liga metálica, é possível determinar a sequência de transformações de fase que ocorrem durante a solidificação. Essas informações são cruciais para controlar a microestrutura resultante, que influencia diretamente as propriedades mecânicas e a capacidade de processamento do material. Portanto, os diagramas de fases são utilizados na indústria de fundição para garantir a obtenção de microestruturas desejadas nos produtos finais. 37 No caso do aço, por exemplo, as transformações de fases apresentadas no diagrama de fases ocorrem mediante resfriamento lento, sendo comuns os processos de recozimento e normalização na região próxima ou dentro da fase austenítica. O resfriamento lento resulta na formação de fase perlita. Para aumentar a resistência do aço, o processo de tempera envolve o resfriamento rápido após a austenitização do aço, que dá origem à fase martensita, de estrutura tetragonal de corpo centrado, mais dura do que a perlita. Por que isso acontece? Por falta de tempo hábil para que ocorra o processo de difusão e a estrutura CFC da austenita se torne a estrutura CCC da ferrita. Assim, o conhecimento em diagramas de fases e difusão leva à obtenção de um material com propriedades desejadas e únicas. A seleção de materiais também se beneficia dos diagramas de fases. Ao considerar as propriedades desejadas e as condições de processamento, é possível utilizar o diagrama de fases para identificar os materiais que atendem a esses requisitos. Por exemplo, ao projetar um componente que será exposto a altas temperaturas, é importante escolher um material que não sofra transformaçõesindesejadas em sua microestrutura nessa faixa de temperatura. O diagrama de fases auxilia na escolha do material mais adequado para essa aplicação específica. Além dessas aplicações práticas, os diagramas de fases também são utilizados em estudos científicos para entender o comportamento dos materiais em diferentes condições termodinâmicas. Eles permitem a compreensão dos fenômenos que ocorrem durante as transformações de fase, contribuindo para o desenvolvimento de novos materiais com propriedades específicas. 38 Conectando à Realidade: Exemplos Práticos Você é um engenheiro de materiais trabalhando em uma empresa aeroespacial. Sua equipe recebeu a tarefa de desenvolver uma nova liga metálica para as pás das turbinas de motores a jato. Essas pás precisam ter alta resistência mecânica, resistência à corrosão e estabilidade em altas temperaturas para garantir a eficiência e segurança do motor. Passos para resolver a situação: Análise dos requisitos: Identificar as propriedades mecânicas, a resistência à corrosão e a estabilidade térmica necessárias para as pás das turbinas. Determinar a faixa de temperatura de operação das pás, que pode chegar a mais de 1.000 °C. Consulta ao Diagrama de Fases: Utilizar diagramas de fases binários e ternários para identificar possíveis combinações de elementos que formem ligas com as propriedades desejadas. Por exemplo, consultar o diagrama níquel-crômio-alumínio (Ni-Cr-Al) para entender como diferentes teores desses elementos influenciam as fases presentes e suas propriedades mecânicas e térmicas. Seleção dos elementos de liga: Escolher elementos de liga que possam ser adicionados ao níquel para melhorar a resistência mecânica e a resistência à corrosão em altas temperaturas. Elementos, como cobalto (Co), molibdênio (Mo) e tântalo (Ta), são frequentemente utilizados para essas finalidades. Verificar a solubilidade desses elementos no níquel e como eles afetam a microestrutura da liga, utilizando diagramas de fases apropriados. 39 Simulação e testes: Realizar simulações computacionais para prever o comportamento da nova liga sob condições de operação. Produzir amostras da liga e realizar testes de laboratório para avaliar suas propriedades mecânicas, resistência à corrosão e estabilidade térmica. Otimização e ajustes: Analisar os resultados dos testes e ajustar a composição da liga conforme necessário. Utilizar o conhecimento sobre difusão em sólidos para entender como os tratamentos térmicos podem ser aplicados para otimizar a microestrutura e as propriedades da liga. Implementação: Após a validação da nova liga, iniciar a produção em escala das pás das turbinas utilizando a liga desenvolvida. Monitorar o desempenho das pás em campo e realizar ajustes conforme necessário para garantir a qualidade e a durabilidade dos produtos Referências ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2024. 40 Propriedades dos materiais Autoria: Mariana Gerardi de Mello Nassif Leitura crítica: Elaine Cristina Marques Esper Objetivos • Apresentar o panorama geral das principais propriedades dos materiais. • Compreender as propriedades mecânicas dos materiais. • Avaliar a resistência dos materiais. • Investigar as propriedades térmicas dos materiais. • Explorar as propriedades magnéticas dos materiais. • Entender as propriedades ópticas dos materiais. 41 1. Introdução O estudo das propriedades dos materiais é crucial para a Ciência dos Materiais e as engenharias, influenciando a eficiência, a segurança e a durabilidade dos produtos. Essas propriedades são classificadas em físicas, químicas e outras específicas. Propriedades físicas incluem propriedades mecânicas (tensão, deformação, elasticidade, resistência, dureza), térmicas (condutividade térmica, expansão térmica), magnéticas (momento magnético, domínios magnéticos) e ópticas (reflexão, refração, absorção, transparência). Já as propriedades químicas abrangem a reatividade química (oxidação, corrosão), a estabilidade química (térmica, à luz) e a composição química (elementos constituintes, estrutura molecular). Ainda podemos nos referir a outras propriedades, como propriedades elétricas (condutividade, resistividade), acústicas (velocidade do som, absorção acústica), de processamento (usinabilidade, soldabilidade) e estruturais (densidade, porosidade). Compreender essas propriedades é essencial para a seleção e aplicação adequada dos materiais em diversas indústrias, garantindo produtos eficientes, seguros e duráveis. Aprofundaremos nosso estudo nas principais propriedades para variadas aplicações. 42 2. Propriedades mecânicas 2.1 Tensão e deformação A tensão (σ ) é definida como a força aplicada por unidade de área em um material. É expressa em unidades de pressão, como Pascal (Pa) ou MegaPascal (MPa). A deformação (ε ), por sua vez, é a medida da mudança na forma ou no tamanho (comprimento deformado/ comprimento inicial) de um material em resposta à aplicação de uma força, sendo uma medida adimensional. A deformação pode ser elástica, quando o material retorna à sua forma original após a remoção da força, ou plástica, quando a deformação é permanente. A Figura 1 mostra a curva tensão-deformação, uma representação gráfica da relação entre a tensão aplicada a um material e a deformação resultante. Essa curva é fundamental para entender o comportamento mecânico dos materiais. Inicialmente, a curva é linear, indicando um comportamento elástico, cuja tensão é proporcional à deformação. O ponto em que a curva deixa de ser linear é conhecido como limite de elasticidade, ou tensão de escoamento, ou limite de fluência, (σe) como mostrado no gráfico. Além desse ponto, o material começa a se deformar plasticamente. O ponto T mostrado no gráfico é o valor de tensão máxima (σmáx) suportada pelo material, conhecido também por limite de resistência à tração (LRT). Já o ponto k representa o ponto de ruptura do material. O Módulo de Young, ou módulo de elasticidade, é uma medida da rigidez de um material. É definido como a razão entre a tensão e a deformação na região elástica da curva tensão-deformação. Materiais com um alto Módulo de Young são mais rígidos e menos propensos a deformações elásticas. 43 Figura 1 – Gráfico tensão-deformação Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fluencia.jpg. Acesso em: 21 ago. 2024. 2.2 Elasticidade e plasticidade O comportamento elástico de um material é caracterizado pela sua capacidade de retornar à forma original após a remoção da força aplicada. Já o comportamento plástico envolve deformações permanentes, em que o material não retorna à sua forma original. A transição entre esses dois comportamentos é marcada pelo limite de elasticidade. O limite de elasticidade é o ponto na curva tensão-deformação no qual o material deixa de se comportar elasticamente e começa a se deformar plasticamente. Esse ponto é crucial para o projeto de componentes que devem manter sua integridade estrutural sob cargas operacionais. A deformação permanente ocorre quando um material é submetido a tensões além do seu limite de elasticidade. Essa deformação é irreversível e pode comprometer a funcionalidade e a segurança de componentes estruturais. Porém, para alguns processos de transformação, como trefilação ou laminação, a deformação permanente é importante tanto para dar forma ao produto final quanto para aumentar a resistência do material. 44 2.3 Resistência dos materiais Existem vários tipos de resistência mecânica importantes para os materiais que estão diretamente relacionados às aplicações de forças nos materiais, que podem ocorrer por meio de tração, compressão, cisalhamento ou torção. Assim, existem resistências à tração, à compressão e ao cisalhamento. A resistência àtração é a capacidade de um material de suportar forças que tendem a alongá- lo. A resistência à compressão é a capacidade de suportar forças que tendem a esmagá-lo. A resistência ao cisalhamento é a capacidade de suportar forças que tendem a deslizar uma parte do material em relação à outra. Cada uma dessas resistências é crucial para diferentes aplicações e determina a escolha do material para usos específicos. A dureza é a resistência de um material à penetração, geralmente medida pela resistência à penetração de um indentador. Materiais duros são utilizados em aplicações nas quais a resistência ao desgaste é importante, como em ferramentas de corte e superfícies de rolamento. Outras resistências importantes para a aplicação dos materiais incluem a tenacidade e a resiliência. A tenacidade é a capacidade de um material absorver energia e se deformar plasticamente antes de fraturar. A resiliência é a capacidade de um material de absorver energia elástica e retornar à sua forma original. Ambos são importantes para materiais que devem suportar impactos e cargas dinâmicas. Além de todas essas propriedades mecânicas para os materiais, também é importante prever ou entender o que acontecerá com o material durante o momento de sua quebra. Por isso, estudamos fenômenos como fadiga e fratura. 45 2.4 Fadiga e fratura A fadiga é o enfraquecimento de um material devido a cargas cíclicas repetidas. Mesmo tensões abaixo do limite de elasticidade podem causar falhas por fadiga após um número suficiente de ciclos de carga. Vários fatores influenciam a fadiga, incluindo a amplitude e a frequência das cargas cíclicas, a presença de concentrações de tensão, a temperatura e o ambiente químico. Projetistas devem considerar esses fatores para garantir a longevidade e a segurança dos componentes. A fratura pode ocorrer de forma dúctil, em que o material se deforma significativamente antes de quebrar, ou de forma frágil, em que a fratura ocorre com pouca ou nenhuma deformação plástica. A compreensão dos mecanismos de fratura é essencial para prevenir falhas catastróficas em componentes estruturais. Na Figura 2, regiões alveolares representando a fratura dúctil, e as regiões de fratura frágil são destacadas na segunda imagem. Figura 2 – Fratura dúctil versus fratura mista Fonte: Connect Images/adobe.stock.com. Além do entendimento de todas as propriedades mecânicas, a aplicação dos materiais é dependente de todas as outras propriedades. Neste tema, entenderemos quais são as propriedades térmicas, elétricas e ópticas. 46 3. Propriedades térmicas 3.1 Condutividade térmica A condutividade térmica é a propriedade dos materiais que define a sua capacidade de conduzir calor. Existem três mecanismos principais de condução de calor: condução, convecção e radiação. A condução térmica é o mecanismo predominante em sólidos e ocorre através da transferência de energia cinética entre átomos e moléculas adjacentes. Em metais, a condução de calor é facilitada pela movimentação de elétrons livres, enquanto em materiais não metálicos, a condução ocorre principalmente através de vibrações da rede cristalina (fônons). Os materiais condutores térmicos, como metais (cobre, alumínio), possuem alta condutividade térmica devido à presença de elétrons livres que facilitam a transferência de calor. Por outro lado, materiais isolantes térmicos, como a lã de vidro e o poliestireno expandido, possuem baixa condutividade térmica. Esses materiais são utilizados para minimizar a transferência de calor, sendo ideais para aplicações em isolamento térmico em edifícios e equipamentos. 3.2 Expansão térmica A expansão térmica é a tendência dos materiais de mudar de volume em resposta a uma variação de temperatura. O coeficiente de expansão térmica (CET) é uma medida quantitativa dessa mudança, e é definido como a variação fracional no comprimento ou volume por unidade de variação de temperatura. Materiais com um alto CET expandem-se mais com o aumento da temperatura, enquanto materiais com um baixo CET apresentam menor expansão. A expansão térmica tem um impacto significativo em diversas aplicações práticas. Em estruturas de engenharia, como pontes e 47 edifícios, é essencial considerar a expansão térmica para evitar falhas estruturais. Juntas de dilatação são frequentemente incorporadas em projetos de construção para acomodar a expansão e a contração térmica. Em componentes eletrônicos, a diferença nos coeficientes de expansão térmica entre materiais pode levar a tensões internas e falhas prematuras, exigindo o uso de materiais compatíveis. 3.3 Capacidade térmica A capacidade térmica, ou capacidade calorífica, ou calor específico, de um material é a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de uma unidade de massa do material em uma unidade de temperatura, sendo expresso em unidades de J/(kg·K). Materiais com alto calor específico podem absorver grandes quantidades de calor sem uma mudança significativa na temperatura, o que é útil em aplicações que exigem controle térmico, como em sistemas de resfriamento. A radiação térmica é a transferência de calor através de ondas eletromagnéticas e pode ocorrer no vácuo. A compreensão desses mecanismos é crucial para o design de sistemas eficientes de gerenciamento térmico em diversas indústrias, incluindo a eletrônica e a aeroespacial. 3.4 Resistência ao choque térmico A resistência ao choque térmico é a capacidade de um material de resistir a variações rápidas de temperatura sem sofrer danos, como trincas ou fraturas. Essa propriedade é particularmente importante em aplicações nas quais os materiais são expostos a ciclos térmicos extremos, como em motores de combustão interna, reatores nucleares e componentes aeroespaciais. 48 Materiais cerâmicos avançados, como a alumina e o carbeto de silício, são conhecidos por sua alta resistência ao choque térmico. Esses materiais são utilizados em aplicações que exigem estabilidade térmica e resistência a variações bruscas de temperatura. Vidros borossilicatos, como o Pyrex, também apresentam boa resistência ao choque térmico e são amplamente utilizados em utensílios de cozinha e equipamentos laboratoriais. 4. Propriedades magnéticas O momento magnético é uma propriedade fundamental dos materiais que descreve a força e a direção de seu magnetismo. Ele é gerado pelo movimento dos elétrons em torno do núcleo atômico e pelo spin dos elétrons. Em termos simples, o momento magnético pode ser visualizado como um pequeno ímã associado a cada átomo ou molécula. Se os elétrons de um material estão emparelhados, os momentos magnéticos se anulam, e se o material contém elétrons desemparelhados, os momentos magnéticos podem responder ou formar campos magnéticos. Assim, podemos entender que a soma dos momentos magnéticos individuais resulta no comportamento magnético macroscópico do material. Os domínios magnéticos são regiões dentro de um material ferromagnético onde os momentos magnéticos dos átomos estão alinhados na mesma direção. Em um material não magnetizado, esses domínios estão orientados aleatoriamente, resultando em um campo magnético líquido nulo. Quando o material é magnetizado, os domínios se alinham na direção do campo magnético aplicado, aumentando a magnetização do material. A compreensão dos domínios magnéticos é crucial para explicar o comportamento magnético de materiais ferromagnéticos e suas aplicações práticas. 49 4.1 Tipos de materiais magnéticos Diamagnéticos Materiais diamagnéticos são aqueles que exibem uma magnetização negativa em resposta a um campo magnético aplicado. Isso significa que eles criam um campo magnético oposto ao campo aplicado, resultando em uma leve repulsão. Exemplos de materiais diamagnéticos incluem cobre, ouro e bismuto. Embora o efeito diamagnético seja geralmente fraco, ele é uma propriedade universal de todos os materiais, sendo comum em polímeros, madeiras e na maioria dascerâmicas Paramagnéticos Materiais paramagnéticos possuem momentos magnéticos atômicos ou moleculares que se alinham parcialmente com um campo magnético aplicado, resultando em uma magnetização positiva. No entanto, essa magnetização é fraca e desaparece quando o campo magnético é removido. Exemplos de materiais paramagnéticos incluem alumínio, platina e oxigênio líquido. A magnetização paramagnética é geralmente observada a temperaturas elevadas, quando a energia térmica impede o alinhamento completo dos momentos magnéticos. A maioria dos materiais ferrosos são paramagnéticos, devido à presença de elétrons desemparelhados em sua estrutura. Se a magnetização do material ferroso for muito forte, ele se comportará como um ímã, ou seja, como um material ferromagnético. Ferromagnéticos Materiais ferromagnéticos exibem uma forte magnetização mesmo na ausência de um campo magnético externo. Isso ocorre devido ao alinhamento espontâneo dos momentos magnéticos em grandes regiões chamadas domínios magnéticos. Exemplos de materiais ferromagnéticos incluem ferro, níquel e cobalto. Esses materiais são 50 amplamente utilizados em aplicações tecnológicas devido à sua alta permeabilidade magnética e capacidade de reter magnetização. Antiferromagnéticos e ferrimagnéticos Materiais antiferromagnéticos possuem momentos magnéticos atômicos que se alinham em direções opostas, resultando em uma magnetização líquida nula. Exemplos incluem óxido de manganês (MnO) e óxido de ferro (FeO). Materiais ferrimagnéticos, por outro lado, possuem momentos magnéticos que se alinham em direções opostas, mas com magnitudes diferentes, resultando em uma magnetização líquida não nula. Exemplos incluem magnetita (Fe3O4) e granada de ítrio e ferro (YIG). Esses materiais são utilizados em aplicações como gravação magnética e dispositivos de micro-ondas. Curva de Histerese - Ciclo de Magnetização e Desmagnetização A curva de histerese descreve a relação entre o campo magnético aplicado e a magnetização resultante em um material ferromagnético. Durante a magnetização, a magnetização do material aumenta à medida que o campo magnético aplicado aumenta, até atingir a saturação, na qual todos os domínios magnéticos estão alinhados. Durante a desmagnetização, a magnetização diminui, mas não segue o mesmo caminho da magnetização, resultando em uma curva de histerese. Esse comportamento é devido à energia necessária para reorientar os domínios magnéticos. Coercividade e remanência A coercividade é a intensidade do campo magnético necessário para reduzir a magnetização de um material a zero após a saturação. A remanência é a magnetização residual que permanece em um material após a remoção do campo magnético aplicado. Materiais com alta coercividade e remanência são utilizados em ímãs permanentes, enquanto materiais com baixa coercividade são utilizados em núcleos 51 de transformadores e indutores, onde a facilidade de magnetização e desmagnetização é desejável. 5. Propriedades ópticas A interação da luz com materiais pode resultar em três fenômenos principais: reflexão, refração e absorção. A reflexão ocorre quando a luz incide sobre uma superfície e é redirecionada de volta ao meio original. A quantidade de luz refletida depende das propriedades do material e do ângulo de incidência. A refração é a mudança na direção de propagação da luz ao passar de um meio para outro com diferentes índices de refração. A absorção ocorre quando a energia da luz é transferida para o material, geralmente convertendo-se em calor. A eficiência com que um material absorve luz depende de sua composição e estrutura. O índice de refração é uma medida de quanto a velocidade da luz é reduzida dentro de um material em comparação com o vácuo. É definido como a razão entre a velocidade da luz no vácuo e a velocidade da luz no material. Materiais com um índice de refração alto, como o vidro e o diamante, dobram a luz mais significativamente do que materiais com um índice de refração baixo, como o ar. O índice de refração é crucial para o design de lentes, prismas e outros dispositivos ópticos. Transparência e opacidade A transparência de um material é a sua capacidade de permitir a passagem da luz. Materiais transparentes, como o vidro e alguns plásticos amorfos, permitem que a luz passe através deles com mínima dispersão, permitindo uma visão clara através do material. Materiais translúcidos, como o papel vegetal e alguns tipos de vidro fosco, permitem a passagem de luz, mas dispersam-na de tal forma que objetos do outro lado não são claramente visíveis. Materiais opacos, 52 como metais e madeira, não permitem a passagem de luz, absorvendo ou refletindo toda a luz incidente. Propriedades fotônicas A emissão de luz ocorre quando um material libera energia na forma de fótons. Isso pode acontecer de várias maneiras, incluindo a emissão térmica, em que a energia térmica é convertida em luz, e a emissão estimulada, em que a luz incidente provoca a emissão de fótons adicionais. A absorção de luz, por outro lado, ocorre quando os fótons são absorvidos pelos átomos ou pelas moléculas do material, elevando- os a estados de energia mais altos. Fotoluminescência e fluorescência A fotoluminescência é a emissão de luz por um material após a absorção de fótons. Existem dois tipos principais de fotoluminescência: fluorescência e fosforescência. A fluorescência é a emissão rápida de luz após a absorção, geralmente ocorrendo em nanosegundos. A fosforescência, por outro lado, é um processo mais lento, no qual a emissão de luz pode continuar por segundos ou até minutos após a excitação inicial. Esses fenômenos são explorados em diversas aplicações, desde marcadores biológicos até materiais de segurança. Conectando à Realidade: Exemplos Práticos Uma das aplicações mais notáveis das propriedades ópticas é nas telecomunicações, nas quais as fibras ópticas revolucionaram a transmissão de dados. Utilizando o princípio da reflexão interna total, essas fibras permitem a transmissão de grandes volumes de dados a longas distâncias com mínima perda de sinal. Isso é essencial para a internet de alta velocidade, redes de comunicação global e sistemas de transmissão de televisão por cabo. 53 Na área médica, as propriedades ópticas são exploradas em dispositivos, como endoscópios, que permitem a visualização interna do corpo humano sem a necessidade de procedimentos invasivos. As fibras ópticas são usadas para transmitir luz e imagens de alta resolução, facilitando diagnósticos precisos e tratamentos minimamente invasivos. Os dispositivos optoeletrônicos, como LEDs (diodos emissores de luz) e lasers, são baseados nas propriedades de emissão de luz dos materiais. Os LEDs são amplamente utilizados em iluminação doméstica e pública, displays de dispositivos eletrônicos, semáforos e sinalização. Eles são eficientes em termos de energia, têm uma longa vida útil e estão disponíveis em uma ampla gama de cores. Os lasers, que produzem um feixe de luz coerente e altamente colimado, têm aplicações em comunicação óptica, cirurgia médica, corte e gravação de materiais e em tecnologias de impressão 3D. Além disso, as propriedades ópticas são essenciais em tecnologias de visualização, como telas de cristal líquido (LCDs), telas de diodo orgânico emissor de luz (OLEDs) e projetores. Esses dispositivos dependem da manipulação precisa da luz para produzir imagens de alta qualidade em uma variedade de dispositivos, desde televisores e monitores de computador até smartphones e tablets. Referências ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e Engenharia dos Materiais. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019. CALLISTER JR., W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2024. 54 Sumário Recomendável que este título do tema tenha no máximo 2 linhas.