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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Direito da UERJ Transcrição de Direito Processual Civil I – Aula 4 – 21.08.19 Professor: André Roque Transcritores: Marcos Paulo Maia, Alice Alván, Ana Beatriz Torres, Carol Santana, Fabienne Louzada, Gabriel Pegoretti, Gabriella Barcelos, Gabriella Thomaz, Hállan Fidalgo, Livia Araujo, Maria Eduarda Eiras e Maria Bruna Revisor: Luiz Felipe Rodrigues Professor: A gente colocou o procedimento todo no quadro, na última aula e falta a gente falar alguns detalhes. Detalhes específicos da sessão de julgamento. Então, aquele momento em que o recurso ou ação de competência originaria é julgada pelo colegiado. A primeira coisa que tem que ser dita sobre a sessão de julgamento diz respeito ao art.937, que disciplina a questão da sustentação oral. O que é a sustentação oral? Em alguns recursos, em algumas ações, não são todas, quando se inicia o julgamento... [não conclui]. Como que todo julgamento se inicia? Se inicia pela a leitura do próprio relatório do relator. Esse relator já estava nos autos, já estava no processo, já estava no recurso. As partes já conhecem esse relatório. Então, se inicia pela leitura do relatório. Então, o que acontece? Isso para todos os julgamentos colegiados. Para alguns recursos ou para algumas ações de competência originária, após a leitura do relatório, mas antes de qualquer um deles votar, nem o relator, abre-se espaço para a chama sustentação oral. O que é a sustentação oral? É a possibilidade, que os advogados das partes, de ambas as partes, ou de todas as partes, enfim, de apresentar oralmente suas razões perante o colegiado. A importância disso, porque se vocês se lembrarem, o relator já teve contato com o processo, ele já leu o processo ou, pelo menos, a gente presume que ele leu o processo, mas os outros dois, que a gente chama de vogais, eles estão conhecendo aquele recurso, aquele processo, na sessão de julgamento. Eles não tiveram contato com o processo. Eles não leram o processo. Eles não leram o processo. Então, esse momento da sustentação oral é para o advogado trazer aquilo que lhe parece mais relevante para o processo, alguma circunstância que ele acredita que deve ser levada em consideração pelo colegiado. É claro que, como o tempo é curto, não é para ele falar tudo do processo, absolutamente todas as coisas que estão no processo. Porque não dá tempo, tem que escolher. A importância da sustentação oral é essa. Qual é o prazo de sustentação oral? Alguém tem ideia? Em regra, 15 minutos é o tempo de sustentação oral. E há uma ordem para isso. A ordem é sempre: primeiro, recorrente, que é quem recorreu, ou o autor da ação de competência originária. Depois, é o recorrido, contra quem se recorreu, ou o réu da ação de competência originária. Se tiver Ministério Público como custos legis, como fiscal do ordenamento jurídico, ele também pode sustentar, mas depois das partes, ele fala por último. Agora, podemos ter o problema do litisconsórcio. E se, por exemplo, nós tivermos a apelação de um autor contra dois réus? E os dois réus estão sendo patrocinados por advogados diferentes, porque se for só um advogado ele vai ter 15 minutos para falar. Mas tendo dois réus, então o autor apelou, e tem do outro lado dois réus com advogados diferentes. Como que a gente faz isso na sustentação? Como a gente resolve esse problema? Quando você tem litisconsórcio com escritórios de advocacia diferentes, primeiro, você dobra o prazo. Então, não são 15 passam a ser 30 minutos, para que aquele polo que tem mais de uma parte. E aí, eles poderão negociar o tempo entre eles, “não, eu falo 10, você fala 20”. Mas, se não chegarem a um acordo divide-se por igual. Nesse caso, se eles não chegarem a um acordo cada um vai falar 15 minutos. E se forem três? Se não chegarem a um acordo cada um vai falar 10 minutos. Aluno: Pergunta inaudível Professor: É, mas imagina se num caso a gente tem 8 réus. Oito vezes 15 dá duas horas. Você acha razoável termos 2 horas de sustentação oral? [Ambos continuam conversa – inaudível] Não tem como ter uma solução construída a cada caso. A lei resolveu que tem uma solução de compromisso. Tem o dobro do tempo, mas divide entre eles. Tem um limite. Senão você vai ficar tendo julgamento aí que dura 5 horas. Agora, evidentemente, quando a gente fala de litisconsorte aqui, basta que sejam patrocinados por escritórios distintos. Aqui, ninguém vai exigir o requisito do artigo 229, que sejam processos em autos físicos. Normalmente, se afasta esse prazo em dobro do processo eletrônico porque o processo está disponível para ambas as partes simultaneamente, mas na sustentação não dá para falar os dois ao mesmo tempo. Então, evidentemente que o prazo em dobro não tem nenhuma relevância aqui na sustentação oral se o processo é eletrônico ou é físico, basta que as duas partes sejam patrocinadas por escritórios diferentes. O parágrafo 4º do artigo 937, que disciplina aquilo que se chama de sustentação oral por videoconferência. E é pensando nos advogados que têm o seu escritório longe da sede do Tribunal. Então, vamos supor, eu tenho um processo que vai ser julgado no TJ aqui do RJ, lá no centro, só que o advogado é de Itatiaia. Para não obrigar esse cara a vir aqui, o código previu a possibilidade da sustentação oral por videoconferência, ou, se você quiser pensar no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, a área de abrangência do TRF1 vai de MG até o Acre, e eu não estou exagerando quanto a isso. Então, pode ser muito distante para o advogado. (conversa aleatória sobre o ar condicionado) Então, a ideia da sustentação por videoconferência é permitir a sustentação oral do advogado que não tem domicílio, não tem seu escritório ali na sede do Tribunal. § 4º: É permitido ao advogado com domicílio profissional em cidade diversa daquela onde está sediado o tribunal [precisa estar sediada em cidade diversa1] realizar sustentação oral por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que o requeira até o dia anterior ao da sessão. Porque a videoconferência precisa ser preparada, não dá pra pedir na hora. Agora, qual o problema da videoconferência? O problema da videoconferência é que é um recurso que depende de ser implantado pelos tribunais. E quase nenhum tribunal implantou a videoconferência. Para não dizer que nenhum, o TRF-4, da região Sul, implementou. Então esse é um dispositivo que ainda não está sendo aplicado na prática pela maioria dos tribunais. Porque claro, o código de processo civil é muito novo, né, ele surgiu de uma hora pra outra, as pessoas acordaram e no dia seguinte tinha um novo CPC, não teve nem vacatio de um ano. Imagina. Então não teve como se preparar pra isso. O fato é que isso quase não foi implementado pelos tribunais até o momento. Daqui a pouco criam um procedimento no CNJ pra forçar os tribunais. Agora, quais casos que vamos ter sustentação oral? Isso a gente vai ver a medida em que for examinar cada recurso. Mas, o mais importante por hora, é que vocês saibam os casos em que há sustentação oral e os que não há, estão relacionados no 937. Aí vai dizer que cabe na apelação, cabe no recurso ordinário, enfim, vai ter todos os casos aqui. Só que, esse é o, vamos dizer, os casos mínimos. Nada impede que o tribunal crie novas hipóteses de sustentação por meio do regimento interno. O tribunal pode tirar uma hipótese legal por regimento interno? Não, o regimento interno não pode se sobrepor à lei. Então casos em que a lei prevê a sustentação oral, o tribunal não pode tirar. Mas o 1 Comentários do professor tribunal pode dar sustentação oral em mais casos do que aqueles que estão no CPC. Existem alguns negócios jurídicos processuais que envolvem a sustentação oral.O primeiro deles eu já falei, pacto de divisão de tempo entre os litisconsortes. Você fala 20, eu falo 10. Normalmente isso é ajustado na própria sessão de julgamento, ali na hora, sem muita formalidade. Isso é admitido. Uma outra coisa que é admitida, isso já é, talvez, um jeitinho, mas um jeitinho que pegou. Muitas vezes você vai lá na sessão de julgamento e aí só está presente uma das partes, por exemplo, o apelado. E aí no início da sessão de julgamento, uma das primeiras coisas que eles perguntam é: ‘tem advogado aí?’ E aí o cara levanta ‘tem, tem eu aqui’. ‘Mas você tá pelo apelante ou pelo apelado?’ E o cara fala ‘Pelo apelado’. Muitas vezes, há um hábito muito informal que se dá dentro da sessão de julgamento. Quando só tem uma das partes presentes, o relator propõe o seguinte: ‘olha só, o meu voto já vai ser favorável ao que você vai falar, então vamos já adiantar o julgamento e se tiver alguma dúvida, alguma divergência, algum problema, eu vou te dar a palavra depois. Pode ser assim?’ Se o advogado falar: ‘Pode’, ele abriu mão, de forma condicionada, à sua sustentação oral. Se não tiver nenhum problema e o voto for totalmente favorável, acabou o julgamento ali. Se tiver alguma divergência, o advogado fala ‘estou com dúvida’, aí deixa o advogado falar, que aí também o advogado já vai falar e já tem uma noção do problema que surgiu ali e já direciona a sustentação oral dele pro ponto em que há alguma divergência ali entre os julgadores. Isso também pode acontecer. Agora vamos supor, que eu tenha um contrato firmado com o Yuri e a gente fez um negócio jurídico processual. A gente pactuou o seguinte: em todo e qualquer processo decorrente desse contrato, quando houver sustentação oral, a sustentação oral será pelo prazo de uma hora para cada um de nós. Eu pergunto: esse negócio jurídico processual é válido, é permitido ou não? A gente ampliou o nosso tempo de sustentação oral de 15 min pra 1 hora pra cada. Aluna: Não. Não vai ser só você que vai falar, você não pode determinar que vai poder falar por 5 horas. Professor: Um discurso né? Então, esse negócio jurídico processual não é admitido por uma razão: ele gera aquilo que nós chamamos de uma externalidade. Ou seja, é uma consequência, um impacto, para o poder judiciário. É um impacto sobre os recursos de tempo que o poder judiciário terá que alocar para todos os processos que têm. Então, não é razoável, permitido, você chegar e dizer ‘não, o meu julgamento vai ser mais importante do que o resto, então o meu julgamento vai ter uma hora de sustentação pra cada’. Se for assim acabou, viraria um caos. O próprio judiciário não conseguiria administrar esses processos. Então esse tipo de negócio jurídico processual não é admitido. Claro que, em tese, poderia ser admitido um negócio jurídico processual em que as partes renunciassem antecipadamente a sustentação oral, mas eu não vejo grande utilidade nisso. Na verdade, eu nunca vi um negócio jurídico processual com esse tipo de conteúdo. Mas, nessa situação, em princípio, não haveria um prejuízo para terceiros, seria algo de dentro da esfera das partes. Bom, aí após a sustentação oral passa-se, então, ao voto do relator. O relator já tem seu voto escrito e irá ler seu voto, e depois os outros terão que votar. Os vogais. Eles podem dizer simplesmente “acompanho o relator” ou podem divergir. Só que, claro, eles vão ali “de boca”. Depois, se houver alguma divergência, a gente já viu, que quando há voto vencido, este tem que ser formalizado por escrito. Mas ali é uma sessão de julgamento, é tudo oral. O único voto escrito que já vem preparado é o do relator. É claro que a prática – e a prática sempre se distancia um pouquinho da teoria, em que a gente fala “o único voto é o relator, outros estão conhecendo o processo. Na prática, eles acabam trocando votos antes da sessão de julgamento. Ou seja, os outros membros do colegiado já deram uma “lidinha” ali, já têm uma ideia do que que é, já têm uma ideia se vão divergir ou não divergir. Mas isso não está na lei, isso é o que é feito na prática, no dia-a-dia. De qualquer forma, o debate na sessão de julgamento é oral. Essa discussão, pelo menos, formalmente falando, pode ser já tenha acontecido nos bastidores, mas formalmente essa discussão acontece ali na sessão de julgamento, na presença dos advogados. E aí, pode ser que um dos julgadores fique em dúvida em razão da sustentação oral do advogado. Ele pode chegar à conclusão: “poxa, preciso examinar melhor este caso”. Se isso acontecer, qualquer um dos julgadores, inclusive o relator, pode fazer o que a gente chama de “pedido de vista”. Esse pedido de vista está regulado no artigo 940 do CPP. O que é o pedido de vista? Eu, um dos julgadores, quero analisar os autos, o julgamento é, então, suspenso para mim, o processo/recurso/ação vai pro gabinete do julgamento que pediu vista e será depois marcada nova sessão para continuar o julgamento. Então, o pedido de vista sempre implica suspensão do julgamento. O art. 940 fala: “O relator ou outro juiz que não se considerar habilitado a proferir imediatamente seu voto poderá solicitar vista pelo prazo máximo de 10 (dez) dias, após o qual o recurso será reincluído em pauta para julgamento na sessão seguinte à data da devolução.” Bom, pelo código a coisa parece séria. “§ 1º Se os autos não forem devolvidos tempestivamente ou se não for solicitada pelo juiz prorrogação de prazo de no máximo mais 10 (dez) dias o presidente do órgão fracionário os requisitará para julgamento do recurso na sessão ordinária subsequente, com publicação da pauta em que for incluído.” Ou seja, o presidente vai tomar o processo a força e vai julgar. Parece sério o negócio né. “§ 2º Quando requisitar os autos na forma do § 1º, se aquele que fez o pedido de vista ainda não se sentir habilitado a votar, o presidente convocará substituto para proferir voto, na forma estabelecida no regimento interno do tribunal.” Quantas vezes vocês já viram os parágrafos 1º e 2º sendo aplicados? Eu nunca vi, mas está aqui. É aquela coisa que parece ser séria, mas acaba não sendo, sobretudo porque em Tribunal Superior você tem aquele pedido de vista a perder de vista. Não é o que o código determina, mas né... Bom, tendo ou não vista, você então colhe os votos de cada um dos julgadores, podem ser 3, podem ser 5, podem ser 11 como no Supremo, não importa, você vai colher o voto de cada um deles. E aí a gente tem que observar como que é feita essa colheita de votos no art. 938. O art. 938 então ele fala como são colhidos esses votos. “Art. 938. A questão preliminar suscitada no julgamento será decidida antes do mérito, deste não se conhecendo [do mérito2] caso seja incompatível com a decisão [preliminar3].” E aí o parágrafo primeiro fala da vedação à decisão surpresa e tudo mais. Então se não houver preliminar você já colhe os votos do mérito, ou seja, acolhe a apelação não acolhe a apelação, julga procedente o pedido, não julga. Se tiver preliminar você primeiro colhe os votos da preliminar. Então por exemplo, tem uma preliminar numa ação de competência originária de ilegitimidade passiva, você colhe os votos, e se a preliminar for superada aí você colhe os votos do mérito. Uma observação que eu já faço aqui é a seguinte: tomem cuidado que preliminar do recurso não é igual à preliminar do processo onde foi interposto esse recurso. O que eu quero dizer com isso? O mérito do recurso é sempre aquilo que foi decidido na decisão que você recorreu. A preliminar do recurso tem a ver com os requisitos de admissibilidade desse recurso. Se ele foi interposto dentro do prazo, se o recurso era o correto, se as custas foram recolhidas - depois a gente vai sistematizar quais são cada um desses requisitos, que são chamados de pressupostos recursais. Preliminar de recurso semprese refere a pressuposto recursal. Porque que eu estou advertindo pra isso? Porque, por exemplo, digamos que a decisão do juiz acolheu uma preliminar de ilegitimidade passiva, ok? Aí 2 Comentários do professor 3 Comentários do professor uma das partes não gostou muito disso, o autor, e recorreu. A ilegitimidade passiva nesse caso é mérito ou preliminar do recurso? Mérito, porque vai ser isso que vai ser analisado a fundo no recurso. Preliminar seria: o recurso foi correto? Foi interposto dentro do prazo? Foram recolhidas as custas? A ilegitimidade nesse meu exemplo é uma preliminar do processo e não do recurso. Porque o objeto do recurso é justamente rever a apreciação dessa preliminar no processo. Só vai colher votos em separado para a preliminar do recurso. Ah, tem uma discussão sobre se o recurso foi interposto dentro do prazo, vamos colher os votos dos desembargadores para decidir se o recurso é ou não tempestivo, se é um recurso que está dentro ou fora do prazo. E aí caso superada a preliminar, vamos julgar o mérito. Outra coisa que tem que ser observada: vamos supor que tem uma preliminar no recurso, uma discussão se o recurso é tempestivo ou não é tempestivo, e foi vencida a preliminar por dois a um. Então um desembargador disse que o recurso estava fora do prazo e dois disseram que estava dentro do prazo e aí porque foi vencida a preliminar passou-se ao julgamento do mérito daquele recurso. O que eu pergunto é o seguinte: aquele que foi vencido, que disse que o recurso estava fora do prazo, ele vota no mérito também? Quem vota, só os dois que derrubaram a preliminar ou todo mundo? Aluno: Deve ser todo mundo. Professor: Todo mundo? Por que? Aluno: Lógica Professor: Lógica? Aluno: São questões diferentes. Professor: Pois é, isso é o que fala o art. 939: “Art. 939. Se a preliminar for rejeitada ou se a apreciação do mérito for com ela compatível, seguir-se-ão a discussão e o julgamento da matéria principal, sobre a qual deverão se pronunciar os juízes vencidos na preliminar.” Então, todo mundo que votou na preliminar também voto no julgamento da questão principal, também vota no julgamento do mérito. E aí podemos ter um fenômeno curioso, que é a chamada dispersão de votos. Assim, quando todos julgam no mesmo sentido, ninguém tem dúvida: a conclusão é aquilo que foi decidido por unanimidade. Quando você tem um 2x1, também não tem discussão. O que venceu foi o que aqueles dois votaram. Só que as vezes acontece de cada um dos 3 dar um voto diferente. Por exemplo, vamos supor que eu tenho uma apelação discutindo dano moral. Então, o juiz de primeiro grau deu nada de dano moral, julgou improcedente, e aí vai para o tribunal. O tribunal concorda em dar o dano moral, todos estão de acordo. Só que o relator acha que tem que dar 10 mil, o primeiro vogal acha que tem que dar 80 mil, e o segundo vogal acha que tem que dar 60 mil. Eu pergunto, quanto o autor vai ganhar de danos morais nesse caso? Aluno: 75 Profesor: Oi? Por que 75? Aluno: a média disso Outro aluno: 50 Professor: que média foi essa? Aluno: 50, 50. Professor: Eu sei que faculdade de Direito exigir matemática é pesado, mas a gente precisa saber quanto o cara ganhou aqui no final, se não a gente não chega a uma conclusão. E aí, quanto será que esse cara ganhou? Bom, isso é matéria que regimento interno vai definir, mas os regimentos internos têm 2 soluções para esse tipo de situação aqui. A primeira solução é a menos comum: é média aritmética. Vai pegar isso tudo aqui e dividir por 3. Vai somar 80 com 60 com 10, aqui estamos falando de 140, mais 10, 150, divididos por 3 isso daria 50. Mas isso não é o critério mais comum porque, vejam só que loucura, a gente chegou a um valor que nenhum dos três deu. Como é que a gente vai anunciar o resultado desse julgamento? “Então, deu-se provimento ao recurso, para fixar a indenização em 50, vencido o relator que fixava em 10, vencido o primeiro vogal que fixava em 80 e vencido o segundo vogal fixado em 60”. Todo mundo foi vencido? Cara, que decisão é essa? Nós temos o segundo critério, que é o critério do voto médio. O que é o voto médio? O resultado por esse segundo critério daria 60. “Ah, mas é porque é o que fica no meio?” É o que fica no meio, mas não é bem assim. Qual é a razão da justiça do critério? Agora isso aqui vai virar quase que uma aula de matemática. Vamos supor que nós pudéssemos desenhar graficamente isso. Então temos aqui o voto do relator, temos aqui o segundo voto do segundo vogal e temos um terceiro voto do primeiro vogal. Por que que eu fiz esse conjunto? Nesta área aqui, quantos chegaram a essa parte aqui? Aluno: um só Professor: quantos chegaram a até essa parte aqui? Aluno: dois. Professor: primeiro e segundo vogal, e eu já tenho maioria. Então prevalece o 60 porque dois conseguiram chegar até aqui [indica desenhos no quadro]. Então nesse caso o julgamento seria anunciado da seguinte forma: “por maioria fixou-se a indenização em 60, vencido o segundo vogal que aumentava para 80 e vencido o relator que só fixava em 10”. Pelo menos você garante que o resultado final corresponda a algum dos votos que foi dado na sessão de julgamento. Aluno: Mas nessa lógica os três chegariam a 10. Professor: Sim, mas pra você chegar a um resultado você não precisa ter três, basta você ter dois. Aluno: Mas três é melhor que dois, né Professor: Concordo que três é maior que dois, mas, olha só, se dois aqui tivessem votado 60, 60 e 10, alguém teria alguma dúvida que seria 60? Não. 60 por dois a um. “Ah, mas três é maior que dois”, aqui também, né. Você tem que buscar até onde você pode ir, preservada a exigência mínima de ter maioria, ou seja, dois. Então você consegue ir até aqui [indicando no quadro]. Aluna: cara, o desafio aí é fazer o assistido ver esse negócio. Ele vai lá e vê o voto do relator “a, mas é 80.000, mas como tá aí 60.000?” aí você tem que explicar. [risos da aluna e do professor relatando a situação] Aluno: [pergunta não está clara no áudio] isso é só pra critério de valores ou também para fundamentação? Professor: É pro dispositivo. A fundamentação não precisa ter maioria, a gente já comentou sobre isso. Se cada um for pra um lado, mas, no final, eles chegam à mesma conclusão é um julgamento unânime. O que acontece, quando você tem dispersão de argumento o julgado não forma precedente, foi o que a gente já comentou em outra aula. Isso é muito comum de acontecer no Supremo, às vezes tem maioria de 6 a 5, de 7 a 4. Mas quando você olha os votos, eles vão por caminhos diferentes. Então aquilo não é propriamente um precedente, mas você tem um julgamento por maioria aí. Você sempre olha pro dispositivo aqui. Agora, se você quiser me perguntar: “mas e se a dispersão não for só quantitativa, for qualitativa?” Então, por exemplo, numa discussão de direito de vizinhança, o relator manda fechar o bar, o outro vogal manda estabelecer uma proteção acústica e o terceiro estabelece umas astreinte, sei lá. Se cada um for pra um lado, isso é matéria de regimento interno e, normalmente, o que o regimento vai prever, o que os tribunais vão prever, é fazer várias simulações. “Entre duas opções, qual que você escolheria?” Não tem uniformidade entre os tribunais. Aí a situação é muito mais complicada que essa aqui, não tem como a gente entrar nessa discussão. Mas, dispersão quantitativa, em sua grande maioria, os tribunais usam esse segundo critério, o critério do voto médio. Bom, e aí, ao final disso tudo, colhemos os votos, teve pedido de vista, não teve. Ao final do julgamento o presidente da turma, da câmara, proclama o resultado. É quando ele fala: “por unanimidade deu-se provimento ao recurso/ por maioria negou-se provimento ao recurso”. Isso tá regulado, essa conclusão do julgamento, né, a proclamação do resultado, no artigo 941. Aluno:E se for provimento parcial? Professor: Não tem problema. Por exemplo, o apelante pediu para aumentar a indenização de danos morais para 100 mil. A câmara deu provimento parcial para dar só 60 mil. Então o presidente da câmara anunciará: “por unanimidade, deu se o provimento parcial do recurso.” Ai o art.941 fala: "Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do julgamento, designando para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o autor do primeiro voto vencedor.” A gente já comentou que quem redige o acórdão é sempre o relator, ou, se ele ficou vencido, redige quem primeiro votou no sentido vencedor. Agora, essa proclamação do resultado tem uma importância no processo, não é só uma formalidade. Nesse momento que marca a conclusão do julgamento colegiado. O julgamento colegiado se torna um ato jurídico perfeito. Enquanto não ocorre a proclamação do julgamento, o julgamento em colegiado é um ato em formação. Ele ainda não concluiu sua formação. Isso significa o seguinte: enquanto não é proclamado o resultado qualquer um dos julgadores pode mudar seu voto, pode voltar atrás, pode pensar melhor. Então, por exemplo, o relator julgou favorável para o recorrente. Aí alguém pediu vista. Duas semanas depois, aquele recurso volta para julgamento. O relator pode chegar e falar “mudei de ideia, vou acompanhar o vogal, e reformulo meu voto.” Pode acontecer? Pode. Mas isso não pode acontecer se já estiver proclamado o resultado do julgamento. §1º: "§ 1º O voto poderá ser alterado até o momento da proclamação do resultado pelo presidente, salvo aquele já proferido por juiz afastado ou substituído. " A ressalva final é que o julgamento pode se prolongar, e aí você pode ter um julgador que se aposentou, julgador que morreu, qualquer razão. Nesse caso, se você tiver um julgador que já votou e ficou afastado em definitivo, foi substituído ou se aposentou, aquele voto dele fica congelado. Aquele voto já foi dado e não pode voltar a atrás. O substituto não pode chegar e alterar o voto. Todos os demais votos podem ser alterados até o momento em que ocorre a proclamação do resultado. E aí por fim o voto válido, com o voto no acórdão, foi concluída a sessão de julgamento. O acórdão vai ser formalizado, a gente chama isso de redigir o acórdão de lavratura do acórdão. E sobre a lavratura do acórdão a gente tem o 943 parágrafo 2º: “Lavrado o acórdão, sua ementa será publicada no órgão oficial no prazo de 10 dias.” A partir do momento em que é publicado no diário oficial, as partes são intimadas por meio eletrônico do resultado do julgamento e passa a abrir o prazo para eventuais recursos contra esse acórdão. E o 944, por fim, ele fala o que acontece se demorar demais a publicar o acórdão. O que acontece? É assim: o sujeito ele teria a sessão de julgamento e ele sentou em cima, não lavrou o acórdão. É mais um dispositivo que quando você lê parece sério. 944: “Não publicado o acórdão em um prazo de 30 dias da sessão de julgamento, as notas taquigráficas o substituirão para todos os fins legais independentemente de revisão. Parágrafo único. No caso do caput, o presidente do tribunal lavrará de imediato as conclusões e a ementa a partir das notas taquigráficas e mandará publicar o acórdão sob a revelia de quem deveria redigir”. Parece sério. Já viu isso acontecer? Nunca. Até porque há uma questão. Vocês talvez estejam se perguntando “que diabo é isso de notas taquigráficas?”. Nota taquigráfica é a transcrição do que foi falado na sessão de audiência. Isso tem nos tribunais superiores, no STJ, no Supremo. Mas muitos tribunais não tem notas taquigráficas. O TJ do Rio não tem. O TJ de São Paulo também não tem. E aí quando o tribunal não tem, já fica inviabilizado de pronto aplicar esse artigo. E mesmo que tenha, como nos tribunais superiores têm, eu nunca vi presidente intervir em processo e falar “manda pra cá que eu vou publicar”. Nunca vi acontecer, mas aqui mais um artigo que parece sério. Bom, visto isso, a gente terminou esse ponto da ordem do processo nos tribunais, que são artigos para falar como são os julgamentos colegiados em que se aplicam tanto a recursos quanto a ações de competência originária. E agora a gente entra no tema da Teoria Geral dos Recursos. O que a gente for falar a partir de agora só se aplica a recursos. Não se aplica a ações de competência originária. Agora nos estamos falando de um assunto um pouco mais restrito. Vamos falar só de recursos. E aí claro a primeira coisa que a gente tem que saber: afinal, o que é um recurso? O que que seria um recurso? Aluno: inaudível Professor: de uma decisão. Se eu impetro um mandado de segurança contra uma decisão judicial, isso cabe lá nos juizados especiais, isso é recurso? Aluno: inaudível Professor: Ou então, eu vou fazer uma outra pergunta. Habeas Corpus. Habeas Corpus é recurso? Juiz decretou a preventiva. Habeas Corpus é recurso? Aluno: eu acho que não. A não ser que tenha uma definição diferente. Professor: bom, vamos por partes. Primeiro: o recurso, assim, pode parecer algo óbvio, mas eu vou falar. Vocês concordam comigo que pra ter recurso a parte tem que querer recorrer né? Tem uma voluntariedade na coisa. Então, o primeiro elemento aqui no nosso conceito é que ele é sempre um meio voluntário. Aluno: na verdade tem hipótese trabalhista que não depende da vontade, né. Sempre vai pro grau superior. Professor: então, a gente vai falar disso agora. Olha só. Não só na área trabalhista, nós temos ações contra a fazenda pública, nós temos o instituto da remessa necessária. Tá lá no art. 441. Qual é a ideia da remessa necessária? A Fazenda Pública foi condenada em um valor que supera o permitido, então por exemplo a União foi condenada ao valor acima de mil salários mínimos, é isso que a lei exige. Mesmo que a União não interponha a apelação, o processo vai ser encaminhado à segunda instância para verificar o acerta da sentença. Por isso, remessa necessária, necessariamente, o processo será submetido a segunda instância. E a razão disso aqui é a proteção do interesse público. Para a doutrina amplamente dominante, isso aqui não tem natureza de recurso, por que? Porque não há voluntariedade. Recurso a parte tem que querer, isso aqui não é. É claro que se a Fazenda Pública foi condenada ela pode apelar normalmente, pode se valer do recurso. Isso aqui é apenas uma proteção caso ela não recorra. Agora não é pacifico isso, tem alguns autores, o próprio Didier, o Araken de Assis, vão dizer que a voluntariedade não é essencial para se pedir recurso. Então, que a remessa necessária teria natureza de recurso. É minoritário, mas tem gente que fala isso. Por favor, não escrever na prova Anakin de Assis. Eu não quero que nasça um Darth Vader na minha prova. Então, todo recurso tem algo em comum também, e isso não tem muita dificuldade. Ele tem como pressuposto sempre o reexame de uma decisão judicial. Então, sempre querendo o reexaminar, rever a decisão de um juiz no processo. Mas não é só isso que está no conceito, há uma outra coisa. O recurso ele se dá dentro de um processo, ou seja, ele sempre vai se dar no mesmo processo. Ele não cria uma nova ação, ele é um prolongamento do procedimento, do processo. O processo continua, mas na fase recursal. E aí que muita gente diz o recurso é um prolongamento do direito de ação. E isso gente, é o que o diferencia do mandado de segurança contra ato judicial, e o que diferencia os recursos do habeas corpus. Porque habeas corpus e mandado de segurança podem ocorrer de atacar as decisões judiciais. Mas eles são sempre novas ações autônomas. Eles criam um novo processo. Então, por que mandado de segurança e habeas corpus não são recursos? Porque eles criam um novo processo. Isso não é comum, o mais comum é uma decisão seja impugnada por meiode recurso. Só que, depois a gente vai falar um pouco disso, o ordenamento jurídico prevê que de decisões que não caibam recursos, você ainda tem uma última via que é o mandado de segurança; e lá no processo penal você tem sempre a via do habeas corpus. Fora o recurso que você ainda pode interpor no processo. E por fim, o último elemento desse nosso conceito, é que o recurso pode visar a reforma, anulação, integração ou esclarecimento de uma decisão. Para gente detalhar isso aqui: quando eu peço a reforma, eu peço que para que ela seja mudada. Então, o juiz deu uma decisão favorecendo o autor, julgando procedente o pedido, o réu pede para que seja reformada, para que o pedido seja julgado improcedente. Ou o autor ganha R$10.000,00, mas ele quer que seja reformada para que aumente a indenização e ele pede a reforma. Na anulação é diferente, eu peço o desfazimento, ela tem algum vício. Por exemplo, ela não está fundamentada. Ou houve o que a gente chama de cerceamento de defesa. Cerceamento de defesa é um negócio que o réu adora alegar. Cerceamento de defesa é assim: o jogo está difícil e chega uma bola na área e você se joga esperando o juiz dar o pênalti. O cerceamento de defesa é quando você alega que o juiz deu a sentença, mas não permitiu que você produzisse todas as provas necessárias para demonstrar as suas alegações. Então você pediu uma prova pericial e o juiz não permitiu, e decidiu contra você. Então você alega cerceamento de defesa, porque a prova pericial poderia levar à outra conclusão. E aí você pede que a sentença seja desfeita porque você está alegando que o juiz não poderia ter julgado antes de fazer a perícia. Anulação. Na integração eu digo que a decisão judicial padece de um vício específico que é a omissão. Faltou alguma coisa na decisão. Por exemplo, você pediu dano material e moral, e o juiz apreciou apenas o pedido de dano material. Esqueceu de julgar o dano moral. Você quer que a sentença seja integrada, que ela seja complementada. E no esclarecimento, você imputa também um vício específico, que é a obscuridade. Ou seja, você diz que a decisão judicial não é compreensível, que ela é ininteligível. Foi escrita de forma ambígua, ou tem duas interpretações. Você não entende muito bem o que o juiz quer dizer, ou simplesmente o que ele falou não tem nada a ver, viajou na decisão. Sabe um caso que hoje não acontece mais, mas que se falava de obscuridade de decisão judicial? Processo físico, na época escrito à mão, o juiz dava a decisão à mão. Mas ninguém entende o que ele escreveu. Isso era obscuridade. Sintetizando tudo: o que é um recurso? É um meio voluntário que busca o reexame de uma decisão judicial, no mesmo processo, sempre com vistas à sua reforma, anulação, integração ou esclarecimento. Tudo isso compõe o conceito do que é um recurso. Aluno: Anulação da sentença é sanável? Professor: Iremos ver mais a frente que o código sempre busca evitar anulação. Então, se por exemplo, o tribunal estiver em condições de julgar o mérito e evitar que o processo volte pra trás, ou seja, volte para a primeira instância para darem uma nova sentença, ele pode fazer isso. Nós vamos ver depois em que situações ele pode fazer isso. Aluno: Buscar não anular o processo... – interrompido – Professor: Sim, porque 1. É muito ruim isso. Seu processo estava em segunda instância, teve uma anulação e vai voltar para a primeira, ou seja, aquilo que é processo – andar pra frente – vai retroceder “vamos voltar porque tem um vício aqui”. Aluno: Você falou “falta de fundamentação”. Isso acontece? Outra aluna: Eu já vi, foi até essa semana o processo, exatamente voltou só para fundamentar. Era improcedente e voltou só para fundamentar. Só isso. A galera faz. Professor: Veremos que o Código evita fazer isso, inclusive na falta de fundamentação. Mas que pode fazer, pode. Uma vez teve um caso em que o cara estava muito “p da vida” com o juiz. O processo estava muito lento, já tinha feito um ano no gabinete do juiz para dar uma decisão. O quê que o advogado faz? O advogado entra com uma petição, desenha um bolo de aniversário com uma velinha de 1 ano e escreve na petição “parabéns para você nessa data querida, porque cumprimentando Vossa Excelência pelo aniversário de 1 ano que o processo está fazendo na conclusão.” Aluno: Não deve ter sido uma boa ideia, não. Professor: Não, não foi, o juiz oficiou a OAB. E sabe o que é pior? Isso aqui é uma trilogia, tá? Tem três coisas para acontecer: a primeira foi a do bolo. Aí, bom, o juiz oficiou para a OAB, claro, aquele barraco todo, e o processo seguiu. Aí chegou no Tribunal. Chegou no Tribunal, o quê que você acha que o Tribunal fez? Adivinha! Anulou a sentença. Aí o advogado, já bem “p da vida”, fez o segundo bolo com uma velinha de 10 anos, cumprimentando o Tribunal de que o processo estava completando 10 anos. Enfim, aí deu outra confusão, não sei o quê, não sei o quê lá, e aí vem a última petição. Ele gostava de fazer desenhos nas petições, né? A última petição é um pouco trágica. É uma petição que tem, basicamente, um caixão desenhado informando que a autora morreu e que, graças a Deus, ele agora não era advogado do espólio e estava saindo do processo. Enfim, é que você falou desse negócio de anulação e eu lembrei dessa situação aqui. Aluno: Realmente é uma vergonha, né? É um absurdo, cara, 10 anos! Professor: Você acha um absurdo? Eu conheço um processo... você ainda não viu um inventário litigioso. Eu conheço um inventário litigioso de 100 anos. Aliás, para a gente não ir para inventário, você não soube do caso lá da família real, não? Foi julgado pelo STJ, o processo tem 120 anos. Aluno: Mais velho que o próprio Direito no Brasil. Professor: O processo discutiu a posse do Palácio Guanabara, se devia ser indenizada a família real ou não devia. Ou melhor, os descendentes da família real. Aluno: Chegou a termo? Professor: Então, foi julgado no STJ para julgar improcedente o pedido, mas teve embargos de declaração, então, ainda está pendente. (Professor diz que não quer que o processo acabe, porque ele sempre usa essa anedota quando fala de duração razoável do processo; se o processo acabar, acaba a piadinha). Bom, só para encerrar, só para dar uma palhinha aqui: fundamentos. Por que existem os recursos? Assim, por quê? Por quê que o ordenamento jurídico simplesmente não diz “é só uma decisão só, não tem recurso, acabou”? Por que recurso? Aluno: Falibilidade humana? Professor: É, os juízes são falíveis, embora alguns deles achem que não são. Então, temos aqui o primeiro fundamento: é a falibilidade humana; e, claro, o natural inconformismo do vencido. Mas não é só isso. Nós temos pelo menos mais três outros fundamentos. O terceiro fundamento é que normalmente os julgamentos nos tribunais, não sempre, a gente já viu, mas normalmente são colegiados. E, normalmente, três cabeças pensam melhor do que uma. Eu estou falando normalmente, porque as vezes vem uma sentença maravilhosa e um acórdão porcaria. Mas, trabalhando com probabilidade, partindo do pressuposto de haja uma discussão do que está sendo julgado, várias cabeças pensam melhor do que uma. Então o terceiro fundamento seria a colegialidade. O quarto fundamento também é uma tendência. Seria a maior experiência dos julgadores das instâncias superiores. “Ah professor, mas tem desembargador filha do Ministro fuxlano de tal que subiu sem experiência.” Tá, tá, mas são exceções. Normalmente desembargadores são mais experientes que juízes e Ministros são mais experientes que desembargadores. Eu falo normalmente. E o último e quinto fundamento, e talvez o mais importante, é o controle do arbítrio judiciário. Quando o juiz sabe que suas decisões estão sujeitas ao reexame, é natural que ele seja mais prudente. Agora, se ele não tiver controle nenhum sobre suas decisões,bom, você abre espaço para a arbitrariedade. E as vezes é uma arbitrariedade que nem é tão intencional assim. Psicologicamente ele pensa “sou a última palavra”. Então um exemplo pratico do que eu estou falando aqui tem acontecido nas Turmas Recursais dos Juizados Especiais. Por que? A gente vai ver que das decisões das Turmas Recursais não cabe recurso direto para o STJ. E o que mais se viu foi Turma Recursal criando entendimento contra a jurisprudência do STJ, quase que dizendo que o STJ não manda neles e que eles vão decidir do jeito deles. E não é isso que se busca. Isso não é o desejado pelo ordenamento jurídico. Então os recursos existem também para evitar esse tipo de situação. Ou pelo menos diminuir as chances de arbítrio judicial. Aluno: Os embargos de declaração são considerados recursos? Professor: São considerados recursos.