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- Controle de Constitucionalidade - Aulas G7 Jurídico (professor Marcelo Novelino) + questões de concurso + Informativos DOD. - Observação: Compreende Arquivo 05, Pasta 01. - Leitura Lei Seca: Lei 9868/99; Lei 9882/99; Lei 11.417/06; Lei 12.562/11; Lei 13.300/16; Constituição Federal (principais artigos: art. 36, inciso III; art. 97; art. 102 a 103-A; art. 125, §2º); Súmulas Vinculantes (nº 10); Súmulas do STF (642 e 614); - Atualização em 10/11/2023: questões de concurso - Atualização em 11/10/2021: ponto “Controle Preventivo” + Info do DOD, especialmente quanto à abstratização do controle difuso (decisão do STF – site DOD + inclusão de comentários da aula de atualização do G7 Jurídico – Jan./2018) + inclusão de julgado do Info 896 STF (p. 43; 105/106); do Info 899 (item 3.3.1., ponto “atos normativos” – cabimento de ADI contra Resoluções do CNMP, em nota de rodapé); do Info 900 (item 3.3.1., ponto “atos normativos” – cabimento de ADI contra Resoluções do TSE, em nota de rodapé); Info 917 (item 3.2.1.1, em nota de rodapé); Info 917 (item 1.3.3.); Info 922 (item 3.2.1.1.1. Perspectiva material da ADPF); Item novo (5.1.1. Coexistência de ADI no Tribunal de Justiça e ADI no STF, sendo a ADI estadual julgada primeiro – julgado veiculado Info 927); Item 7.2 (Info 929); Item 3.2.1.1. Perspectiva material (Info 935); Item 2, letra a): Parâmetro (Info 940); 3.2.1.1. Perspectiva material da ADI/ADC (Info 944); 3.2.1.1. Perspectiva material (Info 734 e Info 964 + questão de concurso); Info 965 (cláusula de reserva de plenário). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 1. TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE De acordo com o Professor Marcelo Novelino, Controle de Constitucionalidade é uma das matérias mais importantes do Direito Constitucional para concursos públicos. Serão diversas aulas sobre o tema, que abordarão: (i) Teoria geral do controle; (ii) Controle concentrado abstrato; (iii) Controle das omissões inconstitucionais; (iv) Controle difuso incidental; e (v) Controle de constitucionalidade no âmbito dos Estados. 1.1. SUPREMACIA CONSTITUCIONAL[footnoteRef:1] [1: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPF-2022.] A expressão “supremacia constitucional” pode ser usada em dois sentidos: material (conteúdo) ou formal (procedimento de elaboração das normas). 1.1.1. Supremacia material É o corolário (consequência lógica) do objeto clássico das constituições, ou seja, das chamadas matérias constitucionais (que são os fundamentos do Estado de Direito). Por serem os fundamentos do Estado de Direito, estão acima do conteúdo das leis. São elas: · Direitos e Garantias Fundamentais; · Estrutura do Estado e; · Organização dos Poderes. A supremacia material é atributo de toda a Constituição. Não existe Constituição sem tais matérias e que, portanto, não tenha supremacia de conteúdo com relação às leis. Todavia, não é a supremacia mais importante para fins de controle de constitucionalidade. 1.2.1. Supremacia formal ou jurídica Ao contrário da supremacia material, presente em toda e qualquer Constituição, a supremacia formal ou jurídica é característica exclusiva das Constituições rígidas, [footnoteRef:2] pois tais constituições são as únicas que possuem um procedimento de elaboração de suas normas mais solene e complexo do que o procedimento de elaboração da legislação ordinária. [footnoteRef:3] É exatamente essa dificuldade na elaboração das normas que faz com que a Constituição tenha uma supremacia formal em relação às leis (se a forma for a mesma, não há como falar em supremacia formal). [2: (PGERR-2023-CESPE): No que diz respeito às assembleias nacionais constituintes, à rigidez constitucional, ao direito constitucional intertemporal e à mutação constitucional, julgue o seguinte item: Uma das principais manifestações da noção de rigidez constitucional no regime posterior a 1988 é a supremacia da Constituição, que se exterioriza, entre outras formas, pelo núcleo de matérias objeto de cláusula pétrea previsto no texto constitucional. (Espec. Regulação/ANP-2013-CESPE): A supremacia formal ou jurídica somente existe nas constituições rígidas. (Anal. Judic.-TRE/PB-2007-FCC): Em tema de controle de constitucionalidade, a chamada supremacia formal é atributo das Constituições classificadas como rígidas.] [3: (TCEMS-2013-PUCPR): A supremacia formal da constituição decorre da ideia de rigidez e da existência de mecanismos de controle de constitucionalidade.] Isso traz uma superioridade hierárquica das normas constitucionais em relação às leis, que se expressa de duas formas: · Quanto à forma de elaboração das leis: Uma norma infraconstitucional deve observar o procedimento estabelecido pela Constituição. Ex.: CF, art. 69: “As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta”. Esta é uma formalidade constitucionalmente prevista para leis complementares; se uma lei, que trata de matéria reservada à lei complementar for aprovada por maioria simples, haverá uma inconstitucionalidade formal da lei. · Quanto ao conteúdo da Constituição: As normas devem observar o conteúdo da Constituição em razão do princípio da unidade do ordenamento jurídico (não podem haver normas com conteúdo conflitante entre si). Ex.: se uma lei possui conteúdo incompatível com o conteúdo constitucional, esta lei será materialmente inconstitucional. Em matéria de controle de constitucionalidade, o que importa é a supremacia formal da constituição, supremacia esta que decorre da rigidez constitucional (como é o caso da CF/88). Caso haja essa superioridade hierárquica, as leis devem observar a forma prevista na Constituição, bem como o conteúdo das normas constitucionais.[footnoteRef:4] [4: (TCERJ-2021-CESPE): Acerca de Constituição, poder constituinte e princípios fundamentais, julgue o item seguinte: A supremacia constitucional é garantida pela rigidez das normas constitucionais e pelo controle de constitucionalidade. (DPU-2017-CESPE): A CF goza de supremacia tanto do ponto de vista material quanto do formal. (Anal. Adm./DPU-2010-CESPE): No que tange à supremacia constitucional e à vigência das normas, assinale a opção correta: As normas jurídicas anteriores à CF devem respeitar a supremacia material da constituição atualmente vigente, sob pena de não serem recepcionadas.] #EM RESUMO: Os doutrinadores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo explicam, de forma didática, a diferença entre supremacia formal e material: · A SUPREMACIA FORMAL decorre da rigidez constitucional, isto é, da existência de um processo legislativo distinto, mais laborioso, para elaboração da norma constitucional. Uma norma constitucional é dotada de supremacia formal pelo fato de ter sido elaborada mediante um processo legislativo especial, mais rígido, que a diferencia das demais leis do ordenamento. · A SUPREMACIA MATERIAL decorre do conteúdo da norma constitucional. Uma norma constitucional é dotada de supremacia material em virtude da natureza do seu conteúdo, isto é, por tratar de matéria substancialmente constitucional, que diga respeito aos elementos estruturantes da organização do Estado. #Atenção: #Entendimento Doutrinário: #MPPR-2019: Daniel Sarmento e Cláudio Neto explicam que, “(...) sem embargo, a associação direta entre a supremacia da Constituição e o controle judicial de constitucionalidade - chamada por alguns de “lógica de Marshall” - , não é isenta de críticas. É possível afirmar-se numa ordem jurídica a superioridade da Constituição em face da legislação, mas, ainda assim, não se acolher a possibilidade de controle jurisdicional de constitucionalidade, confiando-se em outros meios para assegurar a prevalência da Lei Maior, como a separação de poderes ou a força da opinião pública. Pode-se, por exemplo, considerar que os órgãos políticos representativos tendem a ser mais fiéis aos valores da Constituição do que o Poder Judiciário, ou temer-se que os juízes, no exercício da jurisdição constitucional, convertam-se em déspotas, diante da possibilidade de imporem as suas preferências ideológicas, ou mesmo os seus interessesSTF em relação ao instituto do foro de prerrogativa de função, que ocorrerá independentemente da edição de uma Emenda Constitucional. A hermenêutica constitucional denomina esse fenômeno de mutação informal da Constituição. BL: Info 900, STF. #Atenção: É o que se depreende do seguinte excerto da questão: “haverá uma mudança de posicionamento do STF em relação ao instituto do foro de prerrogativa de função, que ocorrerá independentemente da edição de uma Emenda Constitucional é o fenômeno” da mutação constitucional, que representa a possibilidade de alteração da Constituição sem passar por seu processo formal de modificação, que ocorre mediante emenda constitucional. A alteração é feita por um processo informal, que modifica o significado da norma, sem alterar o seu texto. (MPRJ-2012): No que se refere à interpretação constitucional, o processo informa de alteração da Constituição possibilita modificar o sentido de norma constitucional originária, sem alterar o seu texto, é mutação constitucional.] Imagine que a lei foi criada com base em uma interpretação da CF/88 (lembrando que norma é o resultado da interpretação). Contudo, posteriormente aquele mesmo dispositivo da CF/88 passa a ser interpretado de outra maneira, gerando uma norma diferente, de modo que a lei criada passe a ser incompatível com essa nova interpretação. No caso, a lei é posterior ao dispositivo, mas é anterior à nova norma constitucional (originária da nova interpretação). Esse caso é de não recepção ou inconstitucionalidade? Há inconstitucionalidade. Ex.: Lei de Crimes Hediondos – Houve uma mudança do sentido do art. 5º, XLVI da CF/88 (princípio da individualização da pena). A interpretação originária era compatível com o art. 2º da Lei de Crimes Hediondos. Contudo, com a “nova inteligência” do princípio (novo sentido), foi declarada a inconstitucionalidade do dispositivo. Assim, diante do fenômeno da mutação constitucional ocorrida com o princípio da individualização da pena, a norma foi declarada inconstitucional. Vejamos o seguinte trecho de julgado do STF: STF: “Conflita com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.” (STF, HC 82.959/SP). A incompatibilidade superveniente resultante de uma mutação constitucional operada pela via interpretativa, como citado na ementa do HC 82.959/SP, é tratada como inconstitucionalidade. Tal hipótese, a par das implicações teóricas, tem grande relevância prática para fins de admissibilidade de recurso extraordinário e de cabimento da ADI. A mudança das relações fáticas ou jurídicas pode ter reflexos, ainda, na interpretação conferida a dispositivos infraconstitucionais e, por conseguinte, na aferição de compatibilidade com o texto da CF/88, de modo a suscitar uma terceira espécie de inconstitucionalidade quanto ao momento, a seguir analisada. c) Progressiva: [footnoteRef:42] [42: #Atenção: Tema cobrado na prova do TRF2-2018.] Nas situações de inconstitucionalidade progressiva, a norma se situa entre a constitucionalidade plena e a inconstitucionalidade absoluta, sendo considerada momentaneamente validada (norma ainda constitucional), enquanto perdurar a situação constitucional imperfeita. Tal hipótese pode ocorrer com dispositivos legais editados antes ou depois do surgimento da norma-parâmetro. Trata-se, portanto, de mecanismo utilizado para a manutenção de normas de constitucionalidade duvidosa quando a invalidação tende a ser mais prejudicial que a manutenção temporária, seja pelos efeitos deletérios dela advindos, seja por razões de segurança jurídica. Em contextos de progressiva inconstitucionalidade, o tribunal pode fazer um “apelo ao legislador” para a implementação das modificações necessárias com a finalidade de evitar o trânsito definitivo para a inconstitucionalidade. Em outras palavras, nesta espécie de inconstitucionalidade há uma situação intermediária entre a constitucionalidade plena e a inconstitucionalidade absoluta (nem é totalmente constitucional, nem totalmente incompatível com a Constituição). Contudo, em razão das circunstâncias fáticas existentes naquele momento, o Poder Judiciário opta por manter a norma em vez de invalidá-la, pois, se declarar a inconstitucionalidade, os prejuízos advindos da declaração de inconstitucionalidade são maiores que os benefícios. É um cálculo de custo-benefício da decisão.[footnoteRef:43] [43: (MPGO-2016): Assinale a alternativa correta: Ocorre a inconstitucionalidade progressiva quando o Supremo Tribunal Federal profere decisão no sentido de que a lei atacada, apesar de ser inconstitucional, possa ser mantida no ordenamento jurídico até que uma condição estabelecida pelo próprio Tribunal seja cumprida. Uma vez cumprida a condição, a lei, então passa a padecer do vício de inconstitucionalidade. #Atenção: O primeiro julgamento do STF, neste sentido, foi o HC 70514, julgamento em 23 de março de 1994, relator Ministro Sydney Sanches, em que se discutia a constitucionalidade do art. 5º, § 5º da Lei 1060/50, acrescentado pela Lei 7871/89, que concedia o prazo em dobro às Defensorias Públicas para a prática de todos os atos processuais.] Exemplo 1: STF: “(...) Não é de ser reconhecida a inconstitucionalidade do § 5 do art. 1 da Lei n 1.060, de 05.02.1950, acrescentado pela Lei n 7.871, de 08.11.1989, no ponto em que confere prazo em dobro, para recurso, às Defensorias Públicas, ao menos até que sua organização, nos Estados, alcance o nível de organização do respectivo Ministério Público, que é a parte adversa, como órgão de acusação, no processo da ação penal pública.” (STF, HC 70514, Rel. Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, j. 23/03/1994). O art. 5º, §5º da Lei 1.060/50 (Lei de Assistência Judiciária Gratuita), incluído pela Lei 7.871/89), estabelece o prazo em dobro para a Defensoria Pública. O STF, analisando a situação fática entre as estruturas da Defensoria e do Ministério Público, declarou que a norma ainda seria constitucional até quando a Defensoria alcançasse o nível de organização do seu quadro de pessoal e estrutura funcional, momento em que a norma passará a ser inconstitucional. Dito de outro modo, a norma só passará a ser inconstitucional quando a defensoria pública tiver a mesma estrutura do que o MP (pode-se falar em “inconstitucionalidade progressiva”). Nova realidade trará nova interpretação ao dispositivo. Exemplo 2: STF: “Inconstitucionalidade progressiva. Viabilização do exercício de direito assegurado constitucionalmente. Assistência jurídica e judiciária dos necessitados. Subsistência temporária da legitimação do Ministério Público. Ao Estado, no que assegurado constitucionalmente certo direito, cumpre viabilizar o respectivo exercício. Enquanto não criada por lei, organizada - e, portanto, preenchidos os cargos próprios, na unidade da Federação - a Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo 68 do Código de Processo Penal, estando o Ministério Público legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista. Irrelevância de a assistência vir sendo prestada por órgão da Procuradoria-Geral do Estado, em face de não lhe competir, constitucionalmente, a defesa daqueles que não possam demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem prejuízo do próprio sustento”. (STF, RE 135.328/SP). Nesse caso, se a ação fosse proposta hoje (que todos os estados da federação possuem Defensorias Públicas), o STF teria feito outra intepretação e a decisão teria sido diferente. Com a mudança das circunstancias fáticas, a norma que foi recepcionada se tornará progressivamente inconstitucional. #RESUMINDO: · REGRA: A inconstitucionalidade superveniente é tratada como não recepção ou revogação. · EXCEÇÃO: A exceção é quando há mudança nas relações fáticas ou jurídicas (que pode afetar a interpretação do dispositivoconstitucional, gerando a mutação constitucional, ou a interpretação do dispositivo infraconstitucional, levando à inconstitucionalidade progressiva). d) Inconstitucionalidade Superveniente: Acepção Tradicional versus Acepção Moderna No julgamento do STF, veiculado no Info 874, em que se proibiu a utilização de qualquer forma de amianto, merece destaque no voto do Min. Dias Toffoli, que mencionou a ocorrência da inconstitucionalidade superveniente em relação à Lei Federal nº 9.055/95. Como se sabe, a utilização dessa expressão sempre gera uma certa dúvida. Isso porque a maioria das pessoas conhece a concepção “tradicional” do que seja “inconstitucionalidade superveniente” e pensa que ela é proibida. No entanto, essa expressão possui dois sentidos, vejamos: · ACEPÇÃO TRADICIONAL (entrada em vigor de uma nova CF e leis anteriores incompatíveis) . Assim, se a lei ou ato normativo for anterior à CF/88 e com ela incompatível, não se pode dizer que há uma inconstitucionalidade. Nesse caso, o que existe é a não-recepção da lei pela Constituição atual. Logo, nesse sentido, afirma-se que não existe no Brasil inconstitucionalidade superveniente para se explicar que a lei anterior à 1988 e que seja contrária à atual CF não pode taxada como “inconstitucional”. Tal acepção não é admitida no Brasil. · ACEPÇÃO MODERNA (lei que sofreu um processo de inconstitucionalização) Significa que a lei ou ato normativo impugnado por meio de ADI deve ser posterior ao texto da CF/88 invocado como parâmetro. Desse modo, significa dizer que uma lei ou ato normativo que foi considerado constitucional pelo STF pode, com o tempo e as mudanças verificadas no cenário jurídico, político, econômico e social do país, tornar-se inconstitucional em um novo exame do tema. Assim, inconstitucionalidade superveniente, nesse sentido, ocorre quando a lei (ou ato normativo) torna-se inconstitucional com o passar do tempo e as mudanças ocorridas na sociedade. Não há aqui uma sucessão de Constituições. A lei era harmônica com a atual CF e, com o tempo, torna-se incompatível com o mesmo Texto Constitucional. Tal acepção é admitida no Brasil. #Em resumo: Gilmar Mendes, citando Canotilho, explica que a inconstitucionalidade superveniente refere-se, em princípio, à contradição dos atos normativos com as normas e princípios materiais da Constituição e não à contradição com as regras formais ou processuais do tempo da sua elaboração. Em outras palavras, a inconstitucionalidade superveniente ocorre quando uma lei, que era constitucional ao tempo de sua edição, passa a ser constitucional em razão de uma modificação no parâmetro constitucional, que a torna incompatível com a Constituição agora em vigor. Quanto à acepção tradicional e à acepção moderna da inconstitucionalidade superveniente, o STF tem se mantido firme em não aceitar a acepção tradicional - afinal, se o ato impugnado for anterior à Constituição, não há que se falar em inconstitucionalidade, mas sim em "não-recepção" e a discussão se dará por ADPF, e não por ADI. Na acepção moderna, por sua vez, tem-se que o ato era considerado constitucional mas, com o passar do tempo, torna-se inconstitucional. Não há mudança de constituição e a atual incompatibilidade se dá sem que haja mudança de parâmetro - a mudança foi apenas de "percepção" de constitucionalidade. Esta acepção é aceita no Brasil e, inclusive, foi mencionada no julgamento da ADI n. 4066.[footnoteRef:44] [44: (MPPR-2017): Assinale a alternativa correta: A inconstitucionalidade superveniente refere-se à contradição dos atos normativos com as normas e princípios materiais da Constituição e não à contradição com as regras formais ou processuais do tempo de sua elaboração.] 3.5.1. Quanto ao prisma de apuração a) Direta (imediata ou antecedente): Resulta da violação frontal à Constituição, ante a inexistência de ato normativo situado entre a norma-objeto e o parâmetro ofendido. Em outras palavras, é aquela que ocorre quando o objeto impugnado está ligado diretamente à Constituição, violando, portanto, diretamente uma norma constitucional. A lei questionada está diretamente ligada à Constituição, por isso, se a lei viola a Constituição, tal violação é direta. A Constituição é o fundamento de validade direto da norma-objeto (Kelsen). #IMPORTANTE: Só são admitidas como objeto de uma ação de controle normativo abstrato (ADI, ADC, ADPF) normas que violem diretamente a Constituição, raciocínio utilizado também para o Recurso Extraordinário (art. 102, § 3º, “a”, CF/88). b) Indireta (mediata):[footnoteRef:45] [45: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPMG-2023; ii) PFN-2023 (CESPE).] Ela ocorre quando da presença de norma interposta entre o objeto e o dispositivo constitucional, ou seja, quando um ato interposto entre a Constituição e o ato impugnado. Nesse caso, entre a Constituição e o ato questionado, há um outro ato interposto (por exemplo, uma lei). Em razão desse ato interposto, a violação da Constituição ocorrerá apenas de maneira indireta. A inconstitucionalidade indireta pode ser de duas subespécies, que geram consequências diferentes, permitindo ou não a propositura de uma ação de controle concentrado: INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE: É aquela que ocorre quando a inconstitucionalidade do ato é decorrente da inconstitucionalidade de um a outra norma. O vício de uma norma atinge outra dela dependente. Há uma norma inconstitucional e, por isso, ela acaba gerando a inconstitucionalidade de outra norma que depende dela. Ex.: Uma lei, cujo assunto é de competência da União, é editada por assembleia legislativa de um Estado-membro (há uma inconstitucionalidade formal orgânica que, nesse caso, é direta). Contudo, o governador do Estado-membro elabora um decreto para regulamentar tal lei. Este decreto será inconstitucional em razão da inconstitucionalidade da lei por ele regulamentada (a inconstitucionalidade é consequente da inconstitucionalidade da lei). A lei, por violar diretamente a Constituição, pode ser objeto de uma ADI. Contudo, se o STF declarar a inconstitucionalidade desta lei e não mencionar o decreto, ele ficará perdido no ordenamento jurídico e não poderá ser objeto de nenhuma ação de controle normativo abstrato, já que ele não viola diretamente a Constituição. Portanto, nos casos de inconstitucionalidade consequente, a lei poderá ser objeto da ADI e o decreto - mesmo que não tenha sido impugnado na ADI – poderá também ser declarado inconstitucional pelo STF através da TÉCNICA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO ou POR ATRAÇÃO (utilizada nos casos de inconstitucionalidade consequente). Tal técnica pode ocorrer com normas de níveis distintos (arrastamento VERTICAL) e normas com dispositivos interdependentes (arrastamento HORIZONTAL) – ex.: art. 1º é dependente do art. 2º. Os juristas Gilmar F. Mendes, Inocêncio M. Coelho e Paulo Gustavo G. Branco lecionam que “a dependência ou a interdependência normativa entre os dispositivos de uma lei pode justificar a extensão da declaração de inconstitucionalidade a dispositivos constitucionais mesmo nos casos em que estes não estejam incluídos no pedido inicial da ação. (...)”[footnoteRef:46] Nesse contexto, explica Nathalia Masson que tal técnica de inconstitucionalidade por arrastamento “ocorre quando há entre duas normas uma relação de dependência - uma principal e outra acessória - sendo que a declaração de inconstitucionalidade da principal enseja a declaração de inconstitucionalidade da acessória, ainda que o pedido tenha se limitado à norma principal.”[footnoteRef:47]-[footnoteRef:48] Ex.: Lei "X" é regulada pelo Decreto "Y". Se a Lei "X" é declarada inconstitucional, essa inconstitucionalidade contamina o Decreto "Y". Logo tanto a Lei "X" quanto o Decreto "Y" serão banidos do ordenamento jurídico. [46: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio M.; BRANCO, Paulo g. Gonet - Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007.] [47: Manual de Direito Constitucional, Editora JusPodivm, 2016, p. 1059.] [48: (MPRS-2021): Em relação ao controlejudicial de constitucionalidade de normas, assinale a alternativa correta: A inconstitucionalidade por arrastamento ocorre quando a declaração de inconstitucionalidade de uma norma impugnada se estende aos dispositivos normativos que apresentam com ela uma relação de conexão ou de interdependência. (Advogado/BANPARÁ-2017): A dependência ou interdependência normativa entre os dispositivos de uma lei pode justificar a extensão da declaração de inconstitucionalidade a dispositivos constitucionais mesmo nos casos em que estes não estejam incluídos no pedido inicial da ação direta de inconstitucionalidade. É o que se pode denominar de declaração de inconstitucionalidade consequente ou por arrastamento. BL: ADI 4772 e ADI 1521, STF.] #Atenção: #TRF2-2009: #DPETO-2013: #TRF5-2013: #PFN-2023: #CESPE: Como a técnica do arrastamento pode ser aplicada em processos distintos? Retornando ao exemplo anterior, suponha que foi ajuizada uma ADI em face da Lei "X" e o STF a julgou inconstitucional. 2 anos depois, uma nova ADI é instaurada, agora em face do Decreto "Y". Perceba que o Decreto "Y" era uma norma acessória da Lei "X", porém tanto o autor da ADI quanto o STF "esqueceram-se" de ampliar a declaração de inconstitucionalidade para esse último. Nessa segunda ADI, o STF limitar-se-á a declarar a inconstitucionalidade do decreto, pois a inconstitucionalidade da lei fora reconhecida na primeira ADI. Por conta disso, podemos concluir que a técnica do arrastamento poderá ser aplicada: i) No mesmo processo, quando, no exemplo acima, o STF declara a inconstitucionalidade da Lei "X" e do Decreto "Y" na mesma ADI. [footnoteRef:49] [49: (TRF5-2013-CESPE): Ainda com relação ao controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos, assinale a opção correta: O STF admite a declaração de inconstitucionalidade por arrastamento, também denominada por atração, de decreto regulamentar de lei que tenha sido objeto de ADI julgada procedente. (DPETO-2013-CESPE): No que se refere ao controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: Com fundamento na denominada inconstitucionalidade por arrastamento, o STF pode declarar a inconstitucionalidade de norma que não tenha sido objeto do pedido na ADI, sendo a inconstitucionalidade declarada não em decorrência da incompatibilidade direta da norma com a CF, mas da inconstitucionalidade de outra norma com a qual aquela guarde relação de dependência.] ii) Em processos diferentes, quando, no exemplo acima, o STF declara a Lei "X" inconstitucional e, tempos depois, em nova ADI, declara o Decreto "Y" inconstitucional por arrastamento.[footnoteRef:50] [50: (TRF2-2009-CESPE): Quanto ao controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: De acordo com a doutrina, a técnica da declaração de inconstitucionalidade por arrastamento pode ser aplicada tanto em processos distintos como no mesmo processo.] Perceba, portanto, que a inconstitucionalidade por reverberação/ arrastamento/ consequencial ou por atração trata-se de uma exceção ao princípio da adstrição ao pedido.[footnoteRef:51] Desse modo, em regra, o STF deve se ater ao julgamento do pedido do interessado, mas nesse caso, o STF vai além e declarará a inconstitucionalidade da norma dela decorrente.[footnoteRef:52] Segundo Nathalia Masson, a inconstitucionalidade consequencial, ou por arrastamento, por atração ou por reverberação normativa (Expressão empregada pelo Min. Carlos Ayres Britto em seu voto na ADI 1923-DF, noticiada no Informativo 622, STF. Utilizada depois em diversos outros julgados, como, por exemplo, no MS 28.666-DF, relatado pela Min. Carmen Lúcia e noticiado no Informativo 643, STF) ocorre quando há entre duas normas uma relação de dependência - uma principal e outra acessória - sendo que a declaração de inconstitucionalidade da principal enseja a declaração de inconstitucionalidade da acessória, ainda que o pedido tenha se limitado à norma principal. Isso porque não faz sentido retirar do ordenamento a norma principal, deixando a norma secundária (dependente da primeira) que, sozinha, não tem sentido normativo. Como a norma secundária dependente absolutamente de outra (a principal), deve ser arrastada ou atraída para a inconstitucionalidade a fim de evitar que tenhamos no ordenamento uma norma sem efeitos e sem sentido, pois isso feriria a coerência sistêmica, a lógica e a segurança jurídica.[footnoteRef:53] [51: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPMG-2023; ii) PFN-2023 (CESPE).] [52: (Cartórios/TJRS-2019-VUNESP): Segundo a doutrina pátria e a jurisprudência do STF, no tocante ao controle de constitucionalidade, um decreto que tinha por fundamento lei declarada inconstitucional em decisão proferida em Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), pode também ser declarado inconstitucional na mesma decisão, segundo a teoria denominada de inconstitucionalidade por reverberação normativa. (PGM-Manaus/AM-2018-CESPE): No tocante às técnicas de decisão em sede de controle abstrato, julgue o item que se segue: Se a inconstitucionalidade de uma norma atinge outra, tem-se a denominada inconstitucionalidade consequencial ou por arrastamento. #Atenção: #PGM-Manaus/AM-2018: #MPMG-2023: #PFN-2023: #CESPE: Sobre o tema, é correto afirmar que a inconstitucionalidade consequencial, também denominada de inconstitucionalidade por arrastamento, por atração ou por reverberação normativa, ocorre quando existe, entre duas normas, uma relação de dependência - uma principal e outra acessória - sendo que a declaração de inconstitucionalidade da principal acarreta na declaração de inconstitucionalidade da acessória, ainda que o pedido tenha se limitado à norma principal. Isso ocorre porque não faz sentido retirar do ordenamento a norma principal, deixando a norma secundária (dependente da primeira) que, sozinha, não possui sentido normativo. Como a norma secundária dependente absolutamente de outra (a principal), deve ser arrastada ou atraída para a inconstitucionalidade. A expressão foi empregada pelo Min. Carlos Ayres Britto em seu voto na ADI 1923-DF, noticiada no Informativo 622, STF. Posteriormente, foi utilizada em diversos outros julgados, como, por exemplo, no MS 28.666-DF, relatado pela Min. Cármen Lúcia e noticiado no Informativo 643, STF. a fim de evitar que tenhamos no ordenamento uma norma sem efeitos e sem sentido, pois isso feriria a coerência sistêmica, a lógica e a segurança jurídica. (PF-2013-CESPE): Considerando o controle de constitucionalidade no ordenamento jurídico pátrio, julgue o item subsecutivo: Na ação direta de inconstitucionalidade ajuizada perante o STF, apesar de lhe ser aplicável o princípio da congruência ou da adstrição ao pedido, admite-se a declaração de inconstitucionalidade de uma norma que não tenha sido objeto do pedido, na hipótese configuradora da denominada inconstitucionalidade por arrastamento.] [53: MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. 3.ed. Salvador: Jus Podium, 2015, pp. 1059-1060.] INCONSTITUCIONALIDADE REFLEXA (OU OBLÍQUA): Resulta da violação a normas infraconstitucionais interpostas (constitucional). Não há violação direta à Constituição.[footnoteRef:54]-[footnoteRef:55] [54: (MPMG-2014): A inconstitucionalidade reflexa ou por via oblíqua resulta da violação de uma norma infraconstitucional interposta entre o ato questionado e a Constituição.] [55: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRF2-2013 (CESPE); ii) PF-2018 (CESPE); iii) TJGO-2021 (FCC); iv) MPMS-2022 (AOCP); v) MPMG-2023.] Dito de outro modo, é aquela que ocorre quando o objeto impugnado é diretamente ilegal e indiretamente inconstitucional, ou seja, entre ele e a CF existe outro ato normativo interposto. Quando um decreto viola ou exacerba o conteúdo de uma lei, tal decreto não pode ser impugnado numa ADI. Nesse caso, a lei (norma interposta) é constitucional. No entanto, o decreto é incompatível com a lei (ilegal). Por ser ilegal, o decreto é inconstitucional por via reflexa, pois há violação da CF, art. 84, VI “Compete privativamente ao Presidente da República: [...] IV- sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; [...]”. Mesmo quando o decreto vai além do conteúdo da lei (exorbita os limites da regulamentação legal), a violação à Constituição é tão-somente indireta. Sobre o tema, vejamos o seguinte trecho de julgado do STF: Ação direta de inconstitucionalidade: descabimento: caso de inconstitucionalidade reflexa. (...) Tem-se inconstitucionalidade reflexa - a cuja verificação não se presta a ação direta - quando o vício de ilegitimidade irrogado a um ato normativo é o desrespeito à Lei Fundamental por haver violado norma infraconstitucional interposta, a cuja observância estaria vinculado pela Constituição. STF. Plenário. ADI 3132, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 15/02/2006. Para ser caso de violação direta, é necessário que não exista um ato interposto entre o decreto e a CF, ou seja, o decreto deve ser autônomo (regulamentador de assunto tratado na CF). É nesse sentido o que afirma Alexandre de Moraes, em que o STF, excepcionalmente, tem admitido ação direta de inconstitucionalidade cujo objeto seja decreto, quando este, no todo ou em parte, manifestamente não regulamenta a lei, apresentando-se, assim, como decreto autônomo. Nessa hipótese, haverá possibilidade de análise de compatibilidade diretamente com a Constituição Federal para verificar-se a observância do princípio da reserva legal. 4.1. FORMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Existem várias classificações quanto à forma de controle de constitucionalidade. 4.1.1. Quanto ao momento de realização do controle a) Controle de constitucionalidade preventivo Realizado durante o processo legislativo com o objetivo de evitar ofensa à Constituição, ou seja, ocorre antes que o processo legislativo esteja acabado. Tem por finalidade prevenir que a Constituição seja atingida por lei ou ato normativo, antes que o processo legislativo esteja acabado. [footnoteRef:56] [56: (MPPB-2018-FCC): No Direito Constitucional brasileiro, o controle preventivo de constitucionalidade tem natureza marcadamente política, mesmo quando levado a efeito em juízo, porque atua ainda quando do processo de elaboração normativa.] b) Controle de constitucionalidade repressivo: Realizado após a conclusão definitiva do processo legislativo com o objetivo de reparar ofensa à Constituição. Já não serve mais para evitar, mas para reparar eventual lesão à Constituição. #Obs.: É a mesma ideia do Mandado de Segurança preventivo/repressivo e/ou Habeas Corpus preventivo/repressivo. #Atenção: Existe divergência no STF sobre o momento exato da transição de um tipo de controle para o outro: · 1ª CORRENTE: Para o ex-ministro Cezar Peluso, deve ser levado em consideração a promulgação da lei, ou seja, a partir do momento em que é promulgada, a lei pode ser objeto do controle repressivo. · 2ª CORRENTE: De outro lado, para os Ministros Marco Aurélio e Celso de Mello (posição acompanhada pelo professor Marcelo Novelino), o controle repressivo só ocorre depois que o ato é editado, promulgado E publicado. Sendo assim, antes da publicação, não pode haver controle repressivo, pois a lei ainda não produz efeitos, de modo que não há como falar em violação à Constituição. #Atenção: Durante o período de vacatio legis também há controversa. Pelo entendimento dos Ministros Marco Aurélio e Celso de Mello seria possível o controle repressivo na vacatio legis, pois a lei já foi publicada. #Atenção: Os três poderes podem exercer tanto o controle preventivo, quanto o repressivo. #Questiona-se: É possível que o STF, ao julgar Mandado de Segurança impetrado por parlamentar, exerça controle de constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare inconstitucional, determinando seu arquivamento? · REGRA: EM REGRA, não se deve admitir a propositura de ação judicial para se realizar o controle de constitucionalidade prévio dos atos normativos.[footnoteRef:57] [57: (TJSP-2015-VUNESP): Por meio de mandado de segurança preventivo, Vereador pretende obter ordem judicial obstando a tramitação de projeto de lei municipal que disciplina, no âmbito do Município, como deve ser ministrado o ensino religioso. Adotando como referência o decidido pelo STF no julgamento do MS 32033/DF, é correto afirmar que não é cabível o controle preventivo de constitucionalidade material das normas em curso de formação.] · EXCEÇÕES: Há DUAS EXCEÇÕES em que é possível o controle de constitucionalidade prévio realizado pelo Poder Judiciário: a) caso a proposta de emenda à Constituição seja manifestamente ofensiva à cláusula pétrea[footnoteRef:58]; e [58: (Advogado/UEPB-2017-CPCON): Sobre as Emendas Constitucionais e o seu processo de elaboração é CORRETO afirmarmos que a proposta de emenda constitucional, ainda em tramitação parlamentar, poderá ser impugnada por meio de mandado de segurança sob o argumento de vulneração às cláusulas pétreas.] b) na hipótese em que a tramitação do projeto de lei ou de emenda à Constituição violar regra constitucional que discipline o processo legislativo.[footnoteRef:59] [59: #Atenção: #STF: #DOD: #MPES-2013: #TRF1-2013: #TRF5-2013: #MPF-2013: #MPT-2013: #MPGO-2013/2014: #TJDFT-2014: #Cartórios/TJDFT-2014: #Cartórios/TJSE-2014: #PGERN-2014: #MPDFT-2015: #DPU-2015: #DPEPR-2017: #PGEAC-2017: #PGESE-2017: #PCMT-2017: #TJSP-2015/2018: #MPPB-2018: #DPEMA-2018: #TRF3-2018: #MPPR-2019: #PGEMS-2014/2021: #DPEAP-2022: #DPESE-2022: #DPERS-2022: #AGU-2023: #Anal. Judic./TJES-2023: #CESPE: #FCC: #FMP: #VUNESP: É possível que o STF, ao julgar MS impetrado por parlamentar, exerça controle de constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare inconstitucional, determinando seu arquivamento? Em regra, não. Existem, contudo, duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura: a) proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea; b) proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo. STF. Plenário. MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 20/6/2013 (Info 711). (DPEMA-2018-FCC): No julgamento do MS 32033/DF, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, com redação do acórdão pelo ex-Ministro Teori Zavascki, de 20/06/13, o Plenário do STF enfrentou caso em que o Poder Judiciário foi procurado para realizar controle de constitucionalidade prévio de atos normativos. Nessa oportunidade, o Plenário entendeu que em regra, não se deve admitir a propositura de ação judicial para realizar o controle de constitucionalidade prévio dos atos normativos, salvo duas exceções: caso a proposta de emenda à Constituição seja manifestamente ofensiva à cláusula pétrea e na hipótese em que a tramitação do projeto de lei ou de emenda à Constituição violar regra constitucional que discipline o processo legislativo. BL: Info 711, STF. (PGESE-2017-CESPE): Embora o sistema brasileiro não admita o controle jurisdicional da constitucionalidade material dos projetos de lei, a jurisprudência do STF reconhece, excepcionalmente, que tem legitimidade para impetrar mandado de segurança o parlamentar, para impugnar inconstitucionalidade formal no processo legislativo ou proposição tendente a abolir cláusulas pétreas. BL: Info 711, STF. (TJSP-2015-VUNESP): Por meio de mandado de segurança preventivo, Vereador pretende obter ordem judicial obstando a tramitação de projeto de lei municipal que disciplina, no âmbito do Município, como deve ser ministrado o ensino religioso. Adotando como referência o decidido pelo STF no julgamento do MS 32033/DF, é correto afirmar que não é cabível o controle preventivo de constitucionalidade material das normas em curso de formação. BL: Info 711, STF. (TJDFT-2014-CESPE): No que se refere à impetração de mandado de segurança por vício de inconstitucionalidade e ao ajuizamento de ADI contra PEC em tramitação no Congresso Nacional, assinale a opção correta: Somente parlamentar temlegitimidade para impetrar mandamus contra atos ditos incompatíveis com disposições constitucionais sobre processo legislativo e praticados durante o trâmite de PEC. BL: Info 711, STF. (MPES-2013-VUNESP): No sistema de controle de constitucionalidade brasileiro, a possibilidade de atacar, por via judicial, proposta de emenda constitucional, que viole cláusula pétrea é reconhecida apenas em favor de parlamentar federal por meio de mandado de segurança a ser ajuizado junto ao Supremo Tribunal Federal.] Nessas duas situações acima, o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado aos aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa (regras de processo legislativo), sendo, portanto, admitida a impetração de mandado de segurança com a finalidade de corrigir tal vício, antes e independentemente da final aprovação da norma. #Cuidado: #STF: #Atenção: #TRF1-2013: #MPF-2013: #MPT-2013: #MPGO-2014: #Cartórios/TJDFT-2014: #Cartórios/TJSE-2014: #PGERN-2014: #TRF5-2013/2015: #DPU-2015: #PGEAC-2017: #PGESE-2017: #PCMS-2017: #PCMT-2017: #TJSP-2018: #PGEMS-2014/2021: #DPEAP-2022: #DPESE-2022: #PGEPA-2023: #Anal. Judic./TJES-2023: #CESPE: #FAPEMS: #FCC: #FGV: #FMP: #VUNESP: É possível afirmar que, no sistema constitucional brasileiro, de acordo com a jurisprudência do STF, o mandado de segurança poderá ser utilizado para impedir a tramitação de projeto de lei ou proposta de emenda constitucional (PEC) que contenha vício de inconstitucionalidade. Entretanto, quando se trata de PEC, o STF admite o controle prévio nos aspectos formais e materiais; quando se trata de projeto de lei, apenas se admite o controle dos aspectos formais. Vejamos a seguinte decisão do STF: Não se admite, no sistema brasileiro, o controle jurisdicional de constitucionalidade material de projetos de lei (controle preventivo de normas em curso de formação). 1. O que a jurisprudência do STF tem admitido, como exceção, é “a legitimidade do parlamentar - e somente do parlamentar - para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo” (MS 24667, Pleno, Min. Carlos Velloso, DJ de 23.04.04). Nessas excepcionais situações, em que o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado a aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa, a impetração de segurança é admissível, segundo a jurisprudência do STF, porque visa a corrigir vício já efetivamente concretizado no próprio curso do processo de formação da norma, antes mesmo e independentemente de sua final aprovação ou não. 2. Sendo inadmissível o controle preventivo da constitucionalidade material das normas em curso de formação, não cabe atribuir a parlamentar, a quem a Constituição nega habilitação para provocar o controle abstrato repressivo, a prerrogativa, sob todos os aspectos mais abrangente e mais eficiente, de provocar esse mesmo controle antecipadamente, por via de mandado de segurança. (...) (STF. Planário. MS 32033, Min. Rel. Gilmar Mendes, Rel. p/ Ac. Teori Zavascki, j. 20/06/13). [footnoteRef:60] [60: (PGEPA-2023-CESPE): Acerca do poder constituinte e da tipologia constitucional, assinale a opção correta: O STF admite a legitimidade do parlamentar — e somente do parlamentar — para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatível com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo. BL: Entend. Jurisprud.] #DIZERODIREITO: #Quadro-resumo: É possível que o STF, ao julgar MS impetrado por parlamentar, exerça controle de constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare inconstitucional, determinando seu arquivamento? Regra geral: NÃO Existem duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura: a) Proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea; b) Proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo. #Atenção: #TJRJ-2013: #VUNESP: O fato de uma Proposta de Emenda à Constituição possuir disposição violadora ao regimento interno não é causa para atuação do parlamentar junto ao STF por meio de mandado de segurança. O que possibilita sua atuação por meio do mandado de segurança é a ofensa a CF/88, mais precisamente no que tange a ofensa ao devido processo legislativo. Sem respaldo constitucional/legal para sua atuação, lhe falta interesse de agir, portanto, é caso de não conhecimento do mandado de segurança.[footnoteRef:61] Nesse sentido, vejamos a seguinte julgado do STF: [61: (TCDF-2021-CESPE): No que diz respeito a controle da constitucionalidade, julgue o item a seguir: O controle exercido pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania das casas legislativas é meramente político e preventivo, visto que a legislação aprovada poderá, posteriormente, ser objeto de demanda judicial de caráter constitucional. #Atenção: Quanto ao momento, o controle preventivo de constitucionalidade (que tem como objeto leis ou atos normativos em formação) é feito, no Poder Legislativo, em regra, pelas comissões de constituição e justiça. Antes da apreciação pelo Plenário, as proposições são examinadas pela Comissão de Constituição e de Cidadania, para o exame de sua constitucionalidade por meio de parecer terminativo. Quanto à natureza do órgão, o controle político é realizado por órgãos sem poder jurisdicional. Denomina-se sistema político de controle o adotado por países nos quais o exercício é atribuído ao Legislativo ou a órgãos criados especificadamente para esse fim. (TJRJ-2013-VUNESP): No ano de 2012, na Câmara dos Deputados, foi discutida, votada e rejeitada uma determinada proposta de emenda constitucional (PEC). No ano de 2013, a mesma matéria daquela PEC veio à pauta novamente para deliberação pelos Deputados Federais. Discordando desse procedimento, bem como do projeto que continha disposição violadora do Regimento Interno da respectiva Casa Legislativa, um Deputado impetra um mandado de segurança perante o STF para impedir que essa nova PEC seja votada e aprovada. Considerando essas informações, bem como o entendimento do STF sobre o assunto, é correto afirmar que o referido mandado de segurança embora haja em tese legitimidade do parlamentar, o writ não deve ser conhecido e nem poderia ser concedida a segurança, uma vez que, no caso, não houve qualquer violação à Constituição Federal.] (...) I - O tema da cognoscibilidade do pedido precede o da apreciação do agravo regimental contra despacho concessivo de liminar, e de seu cabimento à vista da jurisprudência do Supremo. II - A natureza interna corporis da deliberação congressional - interpretação de normas do Regimento Interno do Congresso - desautoriza a via utilizada. Cuida-se de tema imune à análise judiciária. Precedentes do STF. Inocorrência de afronta a direito subjetivo. Agravo regimental parcialmente conhecido e provido, levando ao não-conhecimento do mandado de segurança. (MS 21754 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Ac. Min. Francisco Rezek, Tribunal Pleno, j. 7/10/93, DJ 21-2-97). #Distinção: Ambas as formas de controle são realizadas por todos os Poderes. O controle preventivo é majoritariamente exercido pelo Poder Legislativo (Poder Judiciário, excepcionalmente). Por outro lado, o controle repressivo (controle típico) é precipuamente exercido pelo Poder Judiciário (Poderes Legislativo e Executivo, excepcionalmente). É por isso que no Brasil se diz que o sistema de controle adotado é o de “controle jurisdicional” (é o “sistema jurisdicional”). Vejamos: 4.1.2. Hipóteses de controle preventivo 4.1.2.1. Poder Legislativo[footnoteRef:62] [62: #Atenção: Tema cobrado nas provas i) TRF2-2009 (CESPE); ii) MPBA-2018; iii) TRF2-2018; iv) Cartórios/TJGO-2021 (VUNESP); v) DPEAP-2022 (FCC).] i. COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA (CCJ):Toda casa Legislativa possui uma Comissão de Constituição e Justiça, encarregada precipuamente do exercício prévio de controle de constitucionalidade dos projetos de lei. #Obs.: Tamanha a importância da CCJ, que ela pode arquivar projetos de lei. De fato, esse arquivamento pode ser contestado perante o Plenário da Casa e o projeto pode prosseguir para julgamento, porém se não houver a impugnação o projeto fica definitivamente arquivado. ii. PLENÁRIO: O controle pode ser exercido também pelo Plenário das Casas. Nada impede que, mesmo com a CCJ entendendo que o projeto de lei é constitucional, os Deputados e Senadores, ao votarem aquele projeto de lei, em Plenário, tenham um entendimento diverso (seja de proposta de lei, seja de proposta de emenda). iii. DELEGAÇÃO ATÍPICA (CF, art. 68, §3º): A delegação atípica ocorre quando o Presidente da República solicita a delegação do Congresso Nacional para a elaboração de uma lei. Porém, em vez de dar a delegação típica (na qual após a resolução autorizativa o restante do procedimento legislativo se passa no âmbito do executivo), ele dá uma delegação atípica, na qual o projeto feito pelo Presidente da República retorna ao Congresso Nacional para sua apreciação. Se o Congresso Nacional entender que a lei delegada é incompatível com a constituição (ou simplesmente exorbitou os limites da delegação), ele pode rejeitar o projeto. Vejamos o teor do art. 68, §3º da CF: CF, art. 68, § 3º: As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional; (...). § 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda. 4.1.2.2. Poder Executivo O Poder Executivo exerce o controle preventivo através do veto jurídico do Presidente da República.[footnoteRef:63]-[footnoteRef:64] [63: (TRF2-2018): Assinale a alternativa correta: Admite-se o controle preventivo de constitucionalidade do projeto de lei, por comissão da própria casa legislativa de origem ou pelo presidente da República, quando da sanção. #Atenção: De acordo com o momento, o controle de constitucionalidade pode ser preventivo ou repressivo. Em ambos, poderá ser realizado pelo Legislativo, executivo ou Judiciário. O controle preventivo de constitucionalidade ocorre antes da promulgação de uma lei ou emenda e tem por finalidade precípua evitar uma lesão à Constituição. No âmbito do Poder Legislativo é exercido pelas Comissões de Constituição e Justiça, as quais têm caráter permanente (CF, art. 58). No Poder Executivo, o controle preventivo ocorre por meio do veto jurídico oposto pelo Presidente da República a projeto de lei considerado inconstitucional (CF, art. 66, § 1°). (Anal. Legisl.-Câm. Deputados-2014-CESPE): O fato de um projeto de lei ser aprovado e, após seu encaminhamento para sanção do presidente da República, sofrer veto presidencial com fundamento na inconstitucionalidade do ato objeto de deliberação comprova a existência, no ordenamento legislativo brasileiro, de controle preventivo de constitucionalidade, ao lado do consagrado sistema jurisdicional, normalmente de caráter repressivo. BL: art. 66, §1º, CF. (Anal. Administ./ANTT-2013-CESPE): No Brasil, o controle preventivo de constitucionalidade é realizado dentro do processo legislativo pelas comissões de constituição e justiça e também pelo veto jurídico deferido ao chefe do Poder Executivo.] [64: #Atenção: Tema cobrado na prova do TRF5-2013 (CESPE).] #Atenção: Lembrar que o veto pode ser político ou jurídico. O veto político é aquele contrário ao interesse público, ao passo que o veto jurídico se refere à análise de constitucionalidade de um projeto de lei. Sobre o assunto, vejamos o art. 66, §1º da CF: CF, art. 66, § 1º: Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. Sendo assim, no Poder Executivo, o controle preventivo ocorre por meio do veto jurídico oposto pelo Presidente da República a projeto de lei considerado inconstitucional (CF, art. 66, § 1°). #Atenção: #Doutrina: #STF: #TRF4-2014: Acerca da possibilidade ou não de retratação do veto, explica Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz: “A Constituição Federal de 1988, seguindo a tradição constitucional desde a Carta Imperial de 1824, mantém o instituto do veto, isto é, autoriza a Lei Maior que o Chefe do Poder Executivo recuse sanção a projeto de lei já aprovado pelo Legislativo, dessa forma impedindo a sua transformação em lei (art. 66, § 1º, da CF/88). (...) O ponto nodal da questão está em se saber se a Constituição admite a possibilidade de retratação de um veto pelo titular do Poder Executivo. A doutrina, em expressiva maioria, responde pela negativa, concluindo que o uso do veto não permite arrependimento e, uma vez lançado, é irretratável. Pontes de Miranda, com insuperável clareza, expõe esse princípio de Direito Constitucional com estas palavras, verbis: “Vetado o projeto de lei, não pode o Poder Legislativo resolver corrigi-lo e submetê-lo a novas discussões. A fortiori, pedir que o Presidente da República lho devolva, para que, antes da sanção, se emende. Os trâmites da elaboração das leis são irreversíveis. Também o Presidente da República que exerceu o direito de vetar não pode penitenciar-se e revogar ou modificar o veto. Se vetou totalmente o projeto de lei, não lhe é permitido passar ao veto parcial. Se só parcialmente o vetou, não se lhe concede vetá-lo duas vezes, em parte, ou mais de uma vez no todo.” (...) O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Representação nº 432-DF, em 22 de janeiro de 1960, sendo relator o Ministro Ary Franco, teve a oportunidade de se pronunciar a respeito de retratação do veto. O acórdão possui a seguinte ementa, verbis: “O poder de veto, se usado pelo executor, não pode ser retratado.” (...) A gravidade dessa medida, quando utilizada pelo titular do Executivo pois o coloca na posição de defensor da Carta Magna, exercendo um verdadeiro controle preventivo para resguardá-la de qualquer violação ao seu texto, resultante da entrada em vigor de uma lei inconstitucional implica, uma vez aposto o veto, a impossibilidade de sua posterior retratação.” (Fonte: Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, in: A retratação do veto. https://www.editorajc.com.br/a-retratacao-do-veto/)[footnoteRef:65] Portanto, o veto é irretratável, pois, uma vez manifestado e comunicadas as razões ao Poder Legislativo, tornar-se-á insuscetível de alteração a opinião do Presidente da República, somente podendo ser revogado pelo voto da maioria absoluta do Congresso Nacional, em sessão unicameral. Inteligência do art. 66, da Constituição Federal. [65: (TRF4-2014): Assinale a alternativa correta: Na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o veto é irretratável. BL: art. 66, §1º, CF e Entend. Doutrinário e Jurisprud.] 4.1.2.3. Poder Judiciário[footnoteRef:66] [66: (TCM/RJ-2015-FCC): São mecanismos de controle preventivo de constitucionalidade existentes no Direito brasileiro: comissões parlamentares de constituição e justiça; sanção e veto; e mandado de segurança contra proposta de emenda constitucional questionada em face de cláusula pétrea. (MPF-2011): Existe a possibilidade de controle preventivo de constitucionalidade no caso de proposta de emenda constitucional infringente de cláusula pétrea.] O Poder Judiciário somente exerce o controle preventivo quando impetrado mandado de segurança por parlamentar quando inobservado o devido processo legislativo constitucional.[footnoteRef:67] Nesse sentido, vejamos as seguintes decisões do STF sobre o assunto: [67: (Cartórios/TJGO-2021-VUNESP): Assinale a alternativa correta a respeito do controle de constitucionalidade no direito brasileiro: O Judiciário pode exercer o controle preventivo por meio de mandado de segurançaimpetrado por parlamentar, com o objetivo de garantir a observância do devido processo legislativo constitucional. (Anal. Legisl-Valinhos/SP-2017-VUNESP): O controle prévio ou preventivo de constitucionalidade a ser realizado pelo Poder Judiciário sobre projeto de lei em trâmite na Casa Legislativa pode ser legitimamente exercido pelo parlamentar, exclusivamente, na medida em que somente os membros do Poder Legislativo possuem o direito público subjetivo de participar de um processo legislativo hígido. #Atenção: #STF: #AGU-2023: #CESPE: Somente o parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional. (MS 24642, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, julgado em 18/02/2004). (Anal. Legisl./Câm. Deputados-2014-CESPE): De acordo com o entendimento do STF, caso o processo de aprovação de uma proposta de emenda à Constituição esteja incompatível com as disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo, apenas o parlamentar — deputado federal ou senador — terá legitimidade para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir os atos praticados durante o processo de aprovação. (TJMA-2013-CESPE): O controle judicial preventivo de constitucionalidade é admitido no sistema brasileiro unicamente por meio do denominado controle in concreto, de modo incidental. OBS: O controle judicial preventivo de constitucionalidade é admitido no sistema brasileiro unicamente por meio do denominado controle in concreto, de modo incidental. (TJPB-2011-CESPE): Acerca do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: O controle judicial preventivo de constitucionalidade, que envolve vício no processo legislativo, deve ser exercido pelo STF via mandado de segurança, caracterizando-se como controle in concreto e efetivando-se de modo incidental. BL: MS 24667. (Anal. Judic./TRT5-2008-CESPE): O senador da República tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança para o controle da constitucionalidade de aspecto procedimental relativo a processo legislativo de decreto legislativo que esteja em tramitação no Senado Federal. BL: MS 24642, STF.] O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo. Precedentes do STF: MS 20257/DF, Min. Moreira Alves (leading case) (RTJ 99/1031); MS 20452/DF, Min. Aldir Passarinho (RTJ 116/47); MS 21642/DF, Min. Celso de Mello (RDA191/200); MS 24645/DF, Min. Celso de Mello, DJ de 15-9-03; MS 24593/DF, Min. Maurício Corrêa, DJ de 8-8-03; MS 24576/DF, Min. Ellen Gracie, DJ de 12-9-03; MS 24356/DF, Min. Carlos Velloso, DJ de 12-9-03." (MS 24667-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, j. 4-12-03, Plenário, DJ de 23-4-04.) No mesmo sentido: MS 32033, rel. p/ o ac. min. Teori Zavascki, j. 20-6-/13, Plenário, DJE de 18-2-14.[footnoteRef:68]- [footnoteRef:69] [68: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPRN-2009 (CESPE); ii) MPTO-2012 (CESPE); iii) PGESP-2012 (FCC); iv) PGERN-2014 (FCC); v) PGEPA-2015; vi) PGEAC-2017 (FMP); vii) PGESE-2017 (CESPE); viii) PCMS-2017 (FAPEMS); ix) PCMT-2017 (CESPE); x) PGEMS-2014/2021 (CESPE); xi) Cartórios/TJGO-2021 (VUNESP).] [69: (PGEPA-2023-CESPE): Acerca do poder constituinte e da tipologia constitucional, assinale a opção correta: O STF admite a legitimidade do parlamentar — e somente do parlamentar — para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de lei ou emenda constitucional incompatível com disposições constitucionais que disciplinam o processo legislativo. BL: Entend. Jurisprud.] Para o STF,“[...] apenas os membros do Congresso Nacional dispõem de legitimidade ativa ‘ad causam’ para provocar a instauração de controle jurisdicional referente o processo de formação de espécies normativas, [...] assistindo-lhes, sob tal perspectiva, irrecusável direito subjetivo de impedir que o Poder Legislativo, no exercício de sua competência institucional, incida em desvios institucionais” (STF. Decisão monocrática. MS 35.537-MC/DF, rel. Min. Celso de Melo, j. 19.02.2018).[footnoteRef:70] [70: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TJSP-2018, (VUNESP); ii) TRF3-2018.] Cumpre ressaltar que a admissão do mandado de segurança como ferramenta do controle preventivo não possui previsão constitucional expressa, mas, sim, implícita. [footnoteRef:71] [71: #Atenção: Tema cobrado na prova do TJSP-2018 (VUNESP).] Além disso, apenas o parlamentar da Casa na qual o projeto esteja em tramitação poderá impetrar o mandado de segurança nesse caso (v.g. se o projeto tramita no Senado Federal, o Deputado Federal não pode impetrar MS nesse momento). A justificativa decorre da violação de um direito líquido e certo do parlamentar, qual seja, a observância do devido processo legislativo constitucional. Se, após impetrado o Mandado de Segurança, o mandato do parlamentar terminar, por ser um direito subjetivo dele, o mandado de segurança será extinto sem julgamento de mérito por perda do objeto (perda superveniente da legitimidade). Sobre o assunto, vejamos o seguinte precedente do STF: STF, MS 27.971/DF: EMENTA: [...] PERDA SUPERVENIENTE, PELO IMPETRANTE, DE SUA CONDIÇÃO POLÍTICO-JURÍDICA DE PARLAMENTAR. IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO MANDAMENTAL. LEGITIMAÇÃO ATIVA “AD CAUSAM” QUE DEVE ESTAR PRESENTE, JUNTAMENTE COM AS DEMAIS CONDIÇÕES DA AÇÃO, NO MOMENTO DA RESOLUÇÃO DO LITÍGIO (CPC, ART. 462) (...) a perda superveniente de titularidade do mandato legislativo tem efeito desqualificador da legitimidade ativa do congressista que, apoiado nessa específica condição político-jurídica, ajuizou ação de mandado de segurança com o objetivo de questionar a validade jurídica de determinado procedimento que ambas as Casas do Congresso Nacional têm adotado em matéria de apreciação de medidas provisórias. É que a atualidade do exercício do mandato parlamentar configura, nesse contexto, situação legitimante e necessária, tanto para a instauração, quanto para o prosseguimento da causa perante o STF”.[footnoteRef:72]-[footnoteRef:73] [72: (TJAC-2019-VUNESP): Na hipótese de um parlamentar que impetrou mandado de segurança perante o STF com o objetivo de impugnar projeto de lei eivado de inconstitucionalidade por ofensa ao devido processo legislativo, mas que, posteriormente, venha a perder o mandato parlamentar, é correto afirmar que o writ deve ser declarado extinto.] [73: #Atenção: Tema cobrado na prova da PGEMS-2021 (CESPE).] Portanto, o STF tem entendimento assente no sentido de que a perda superveniente de mandato impõe a extinção do mandado de segurança impetrado justamente em razão da condição de parlamentar. Entende-se que, para o mandado de segurança, vige a regra da atualidade quando da apreciação da legitimidade ativa. A perda do mandato implicaria, assim, extinção do processo. #Atenção: Não confundir essa perda superveniente de legitimidade do MS (que é um direito subjetivo do parlamentar) com as hipóteses em que os partidos políticos ajuízam ADI, ADC e ADPF: Para que os partidos políticos ajuízem ADI, ADC e ADPF, eles precisam possuir um representante no Congresso Nacional. Porém, caso percam esse representante depois de ajuizada a ação, a ADI, ADC e ADPF prossegue até o final. Nesse caso, a legitimidade é aferida no momento da propositura. #Atenção: Ressalve-se que se trata de um controle preventivo, não havendo obstáculo para que, posteriormente, seja realizado o controle repressivo. #Atenção: O Brasil não contempla o controle judicial preventivo concentrado.[footnoteRef:74] Como já referido, o controle judicial preventivo se dá por meio de mandado de segurança impetrado por parlamentar perante o STF contra projeto de lei ou proposta de emenda constitucional.No entanto, segundo A DOUTRINA DOMINANTE, trata-se de controle difuso de constitucionalidade. É nesse sentido também a jurisprudência do STF (STF, MS 24.667). [74: (TCESP-2017-VUNESP): No que diz respeito às espécies de controle de constitucionalidade, é correto afirmar que o sistema brasileiro não contempla o controle judicial preventivo concentrado.] #Atenção: #STF: #DOD: #MPRS-2021: #PGECE-2021: #PGEMS-2021: #CESPE: Não se pode declarar a inconstitucionalidade formal da lei sob o argumento de que houve mero descumprimento das regras do regimento interno, sendo indispensável o desrespeito às normas constitucionais que tratam sobre o processo legislativo: O controle judicial de atos “interna corporis” das Casas Legislativas só é cabível nos casos em que haja desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo (arts. 59 a 69 da CF). Tese fixada pelo STF: “Em respeito ao princípio da separação dos poderes, previsto no art. 2º da CF, quando não caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é defeso ao Poder Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do alcance de normas meramente regimentais das Casas Legislativas, por se tratar de matéria ‘interna corporis’.” STF. Plenário. RE 1297884/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/6/21 (Repercussão Geral – Tema 1120) (Info 1021). [footnoteRef:75] [75: (PGEMS-2021-CESPE): No curso de determinado processo legislativo, cogitou-se impetrar mandado de segurança no STF, com o objetivo de paralisar o trâmite de proposta de emenda constitucional sob o argumento de haverem sido desrespeitadas normas da CF e do Regimento Interno do Senado Federal. Nessa situação hipotética, conforme o disposto na CF e a jurisprudência do STF acerca da separação dos poderes, seria cabível o controle jurisdicional no tocante à ofensa a normas da CF, mas não relativamente ao desrespeito a normas do Regimento Interno do Senado Federal, por se tratar, neste caso, de assunto interna corporis. BL: Info 1021, STF.] 4.1.3. Hipóteses de controle repressivo 4.1.3.1. Poder Legislativo[footnoteRef:76] [76: #Atenção: Tema cobrado nas provas i) TRF2-2009 (CESPE); ii) MPBA-2018; iii) PF-2018 (CESPE); iv) MPGO-2022 (FGV); v) MPMS-2022 (AOCP).] i. CF, art. 49, V: O Congresso Nacional poderá SUSTAR os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem o poder regulamentar ou os limites de delegação legislativa. Vejamos o teor do dispositivo: CF, art. 49, V: É da competência exclusiva do Congresso Nacional: V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. Sendo assim, é um controle de legalidade, mas indiretamente, reflexamente é um controle de inconstitucionalidade. Vejamos alguns exemplos: Ex.1: Uma lei é regulamentada por um decreto do Presidente da República, porém esse decreto regulamentador não se atém a fiel execução da lei e exorbita seus limites ao tratar de matéria não contida na lei. Nesse caso, o Congresso Nacional poderá sustar essa parte do decreto elaborado pelo Presidente da República que exorbitou os limites do poder regulamentar. Ex.2: O Presidente solicita a delegação da elaboração de uma lei e o Congresso Nacional fixa os seus limites. Ao elaborar a lei delegada, o Presidente da República extrapola os limites da resolução, tratando de temas alheios aos que lhe foram delegados. Da mesma forma, o Congresso Nacional poderá editar um decreto legislativo sustando esta parte da lei delegada que exorbitou os limites da delegação. Vejamos o teor do art. 68 da CF/88: CF/88, Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional. § 1º Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. § 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda. Cumpre destacar que, o controle repressivo, por regra, é exercido pelo Poder Judiciário, tanto de forma concentrada como difusamente. No entanto, a essa regra surgem exceções, fixando-se hipóteses de controle repressivo pelo Poder Legislativo e pelo Poder Executivo (analisado no próximo item). Em se tratando da exceção do controle repressivo realizado Poder Legislativo, o art. 49, V, CF/88 dispõe ser competência exclusiva do Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. A CF/88 atribuiu competência ao Presidente da República para elaborar a lei delegada, mediante delegação do Congresso Nacional, através de resolução, especificando o conteúdo e os termos de seu exercício (art. 68). Assim, no caso de elaboração de lei delegada pelo Presidente da República, extrapolando os limites da aludida resolução, poderá o Congresso Nacional, através de decreto legislativo, sustar o referido ato que exorbitou dos limites da delegação legislativa.[footnoteRef:77] [77: (DPEDF-2013-CESPE): Acerca do controle de constitucionalidade, julgue o item seguinte: Embora a regra geral do controle de constitucionalidade brasileiro seja o controle judicial repressivo, admite-se o controle político repressivo, por exemplo, quando o Congresso Nacional susta atos normativos do Poder Executivo que exorbitem os limites da delegação legislativa. BL: art. 49, V, CF.] #Questiona-se: #TRF4-2012: #Prova MPRJ-2016: #PF-2018: #MPGO-2022: #MPMS-2022: #AOCP: #CESPE: #FGV: O decreto legislativo elaborado pelo Congresso Nacional para sustar o ato do executivo que exorbitou os limites do poder regulamentar ou da delegação legislativa poderá ser objeto de ADI? Sim, pois os atos sustados por ele são atos normativos. Logo, o decreto legislativo também será um ato normativo. Para que o Decreto Legislativo possa ser objeto de ADI perante o STF, ele deve ter um caráter normativo. A jurisprudência do STF é no sentido de que, se o Decreto Legislativo está suspendendo um ato normativo geral e abstrato, esse Decreto Legislativo também tem a característica da generalidade e abstração, e, como ele decorre diretamente da Constituição, ele pode ser objeto de uma ADI. Segue precedente do Supremo sobre o tema: STF - ADI 748/RS: “O decreto legislativo, editado com fundamento no art. 49, V, da Constituição Federal, não se desveste dos atributos tipificadores da normatividade pelo fato de limitar-se, materialmente, a suspensão de eficácia de ato oriundo do poder executivo. Também realiza função normativa o ato estatal que exclui, extingue ou suspende a validade ou a eficácia de uma outra norma jurídica. A eficácia derrogatória ou inibitória das conseqüências jurídicas dos atos estatais constitui um dos momentos concretizadores do processo normativo.” [footnoteRef:78] [78: (MPGO-2022-FGV): O governador do Estado-membro Alfa editou o Decreto nº XX, regulamentando a Lei estadual nº YY. Por entender que o referido decreto avançara em espaço reservado à lei, tendo extrapolado, portanto, o exercício do poder regulamentar, a Assembleia Legislativa do Estado Alfa editou o Decreto Legislativo nº ZZ, suspendendo diversos dos seus preceitos. Irresignado com o ocorrido, já que, a seu ver, o Decreto nº XX limitara-se a regulamentar a Lei estadual nº YY, o governador questionou sua assessoria sobre a possibilidade de o Decreto Legislativo nº ZZ ser submetido à apreciação do STF, sendo-lhe respondido, corretamente, que o decreto legislativo:por ostentar generalidade e abstração negativa, contrapondo-se à positiva do ato sustado, possui caráter normativo e pode ser submetido ao controle concentrado de constitucionalidade. BL: art. 49, V, CF e Entend. Jurisprud. #Atenção: Da possibilidade de controle de constitucionalidade do decreto legislativo editado com base no artigo 49, inciso V: As ADIs nº 748-3/RS e 1.553-2/DF tiveram como objetos decretos legislativos estaduais editados para sustar atos regulamentares de governadores. "O decreto legislativo, editado com fundamento no art. 49, V, da Constituição Federal, não se desveste dos atributos tipificadores da normatividade pelo fato de limitar-se, materialmente, a suspensão de eficácia de ato oriundo do poder executivo. Também realiza função normativa o ato estatal que exclui, extingue ou suspende a validade ou a eficácia de uma outra norma jurídica. A eficácia derrogatória ou inibitória das consequências jurídicas dos atos estatais constitui um dos momentos concretizadores do processo normativo. O exame de constitucionalidade do decreto legislativo que suspende a eficácia de ato do poder executivo impõe a análise, pelo supremo tribunal federal, dos pressupostos legitimadores do exercício dessa excepcional competência deferida a instituição parlamentar. Cabe à corte suprema, em consequência, verificar se os atos normativos emanados do executivo ajustam-se, ou não, aos limites do poder regulamentar ou aos da delegação legislativa.” (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 1992, p. 41)] ii. CF, art. 62: Trata-se da sustação das medidas provisórias. Como a medida provisória produz efeitos desde a sua edição, se ela for incompatível com a CF/88, irá imediatamente ofendê-la. Se o Congresso Nacional rejeitar uma medida provisória irá reparar uma inconstitucionalidade que já ocorreu. Desse modo, o Congresso poderá rejeitar medidas provisórias: 1) por ausência dos requisitos objetivos de relevância e urgência (art. 62, §5º); 2) por terem conteúdo incompatível com a CF/88 ou por ela vedado (art. 62, §1º) ou, ainda, 3) por terem sido reeditadas na mesma sessão legislativa em que foram rejeitadas ou que tenham perdido sua eficácia por decurso de prazo (art. 62, §10).[footnoteRef:79] Vejamos o teor das partes citadas do art. 62 da CF/88: [79: (TJSP-2018-VUNESP): É possível afirmar que, no sistema constitucional brasileiro, embora o controle repressivo de constitucionalidade seja, em regra, exercido pelo Judiciário, existem exceções, uma delas correspondente ao juízo sobre a constitucionalidade das medidas provisórias que cada uma das Casas do Congresso Nacional realiza antes de deliberar sobre o seu mérito.] CF, art. 62: Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) I – relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) II – que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) III – reservada a lei complementar; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da República. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) § 5º A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) (...) § 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) #Atenção: Quando o Presidente da República elabora uma Medida Provisória, ela já possui força de lei, isto é, ela já produz efeitos desde a sua edição. Todavia, nos termos do caput do art. 62 da CF/88, o Presidente da República, deverá submeter a MP, de imediato, ao Congresso Nacional (Poder Legislativo), que verificará se ela é ou não compatível com a CF/88. Se o Congresso rejeitar a medida provisória, ele estará reparando uma inconstitucionalidade que já ocorreu, sendo, portanto, um exemplo de controle político repressivo exercido pelo Poder Legislativo. iii. Súmula do 347 STF: O Tribunal de Contas, órgão auxiliar do Legislativo, dentro do exercício de suas atribuições, poderá apreciar se determinada lei ou ato do Poder Público, nos quais o ato fiscalizado se baseou, são compatíveis ou não com a Constituição., isto é, a constitucionalidade deles. Vejamos o teor da Súmula 347 do STF: Súmula 347 do STF: O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público. #Atenção: O Tribunal de Contas não é subordinado ao Poder Legislativo e não pertence ao Poder Legislativo, mas é um órgão auxiliar do Poder Legislativo. Por essa razão, pode exercer este controle. É um controle incidental. #Atenção: #DOD: #STF: A Súmula 347 não pode ser lida como uma licença para que os Tribunais de Contas realizem controle abstrato de constitucionalidade. Na realidade, “o verbete confere aos Tribunais de Contas – caso imprescindível para o exercício do controle externo – a possibilidade de afastar (incidenter tantum) normas cuja aplicação no caso expressaria um resultado inconstitucional (seja por violação patente a dispositivo da Constituição ou por contrariedade à jurisprudência do STF sobre a matéria)” (Min. Gilmar Mendes). Sob essa compreensão, a Súmula 347 mostra-se compatível com a ordem constitucional de 1988, desde que se perceba que o tratamento de questões constitucionais por Tribunais de Contas observe “a finalidade de reforçar a normatividade constitucional”: “da Corte de Contas espera-se a postura de cobrar da administração pública a observância da Constituição, mormente mediante a aplicação dos entendimentos exarados pelo Supremo Tribunal Federal em matérias relacionadas ao controle externo”. STF. Plenário. MS 25888, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 22/08/2023. 4.1.3.2. Poder Executivo A única hipótese de controle repressivo que pode ser realizado pelo Poder Executivo é quando da negativa de cumprimento a uma lei por ele considerada inconstitucional. Atente-se que essa possibilidade de controle repressivo não é pacífica: · 1ª Corrente (minoritária): Após a promulgação da CF/88, o Chefe do Poder Executivo não pode negar cumprimento a uma lei. O Chefe do Executivo é um dos legitimados para a propositura de ADI (CF, art. 103, I e V), de forma que se entender pela inconstitucionalidade deve ajuizar uma e pedir liminar. · 2ª Corrente (majoritária): Mesmo após a promulgação da CF/88 o Chefe do Poder Executivo continua tendo a opção de negativa de cumprimento. Há precedentes do STF e do STJ neste sentido (ADI n. 221-MC e REsp n. 23121). #Obs.: Nesse caso, para que o Chefe do Poder Executivo não pratique crime de responsabilidade (deixar de cumprir a lei é considerado crime de responsabilidade) e não corra o risco de sofrer uma intervenção federal no Estado (ou intervenção estadual no Município) alguns requisitos devem ser observados: (i) o ato deve ser motivado; e (ii) deve ser dada publicidade ao ato por meio dedecreto. · 3ª Corrente (posição do Ministro Gilmar Mendes): O Chefe do Poder Executivo, mesmo após a CF/88, pode negar cumprimento a uma lei, mas deve concomitantemente ajuizar uma ADI, por uma questão de coerência. Caso não o faça, poderá ser caracterizada má-fé do Chefe do Poder Executivo. Nesse sentido, AO n. 1415/SE. 4.1.3.3. Poder Judiciário É a regra, por termos adotado o sistema jurisdicional. O Poder Judiciário exerce o controle repressivo de duas formas sendo considerado, portanto, um controle misto[footnoteRef:80], a saber: [80: (PCGO-2013-UEG): Constitucionalidade é a relação estabelecida entre a Constituição e um dado comportamento que lhe seja conforme, compatível ou de acordo com seu sentido, não se manifestando tão somente por um caráter lógico- racional, mas por um caráter valorativo. O controle dessa relação se faz, no Brasil, pela atribuição a órgãos jurisdicionais ordinários, em um modelo difuso de controle de constitucionalidade das leis combinado com um modelo concentrado de corte constitucional, sistema a que se tem denominado misto. (Anal. Judic./TRT22-2010-FCC): No Brasil o controle de constitucionalidade repressivo judiciário é misto.] (i) controle concentrado (exercido pelo STF no âmbito federal ou pelo TJ no âmbito estadual)[footnoteRef:81]; e [81: (Anal. Judic./TRF5-2012-FCC): Considera-se mecanismo de controle de constitucionalidade jurisdicional repressivo, previsto na CF/1988, a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual, de competência originária do Supremo Tribunal Federal. BL: art. 102, I, “a”, CF.] (ii) controle difuso (exercido por qualquer juiz ou Tribunal).[footnoteRef:82] [82: (Cartórios/TJRS-2013): Em relação ao controle da constitucionalidade no sistema jurídico brasileiro, assinale a alternativa correta: O controle de constitucionalidade pode ocorrer tanto na forma concentrada, quanto na difusa, e em ambos os casos ele é exercido pelo Poder Judiciário. (TRT18-2012-FCC): O controle de constitucionalidade das leis no direito brasileiro pode ser levado a efeito por juízes que ainda não tenham adquirido vitaliciedade ou que estejam no exercício da judicatura em juizado especial.] 4.1.4. Quanto à Competência Jurisdicional 4.1.4.1. Controle Difuso (ou aberto) É aquele cuja competência é atribuída a por qualquer órgão do Poder Judiciário, ou seja, a qualquer juiz ou Tribunal.[footnoteRef:83] Não existe limitação. É um controle aberto. [83: (Anal. Judic./TRT20-2011-FCC): O controle difuso de constitucionalidade é verificado quando se reconhece o seu exercício a todos os membros do Poder Judiciário.] Recebe também a denominação “sistema norte-americano” em razão de que o controle difuso foi criado nos Estados Unidos no Caso Marbury v. Madison em 1803 (juiz John Marshall).[footnoteRef:84] Embora esse caso seja considerado um paradigma para o controle de constitucionalidade, outros precedentes estadunidenses anteriores e relevantes são Hayburn’s Case (1792) e Hylton’s Case (1796), os quais, de certa forma, também exerceram o controle difuso de constitucionalidade. [84: (PGM-Teresina/PI-2022-FCC): Em “Marbury vs. Madison” (1803), a Suprema Corte estadunidense proferiu uma decisão que é considerada um marco histórico para o direito constitucional. Tal decisão consagrou o princípio da supremacia da constituição e o controle judicial de constitucionalidade das leis. #Atenção: Novelino explica que a relevância deste caso vem do fato de nele terem sido estabelecidas as bases teóricas para o sistema de controle difuso de constitucionalidade, a partir do voto proferido por John Marshall, Chief Justice da Suprema Corte, tendo sido esta foi a primeira vez em que a Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade de um ato legislativo do Congresso. Note que a situação envolvia dois problemas: o primeiro (caso concreto) era a recusa de Madison em nomear Marbury para o cargo a que havia sido indicado pelo Presidente anterior; o segundo (o conflito de normas) dizia respeito à competência da Suprema Corte para apreciar ou não o writ of mandamus impetrado por Marbury e sobre a possibilidade de uma lei (posterior) ter revogado um dispositivo da Constituição americana (anterior), por ser-lhe diretamente contrário. O Juiz Marshall teceu, em sua decisão, uma série de considerações sobre o papel da Constituição escrita e, segundo Lenza, concluiu que nela há um princípio essencial, segundo o qual ”é nula qualquer lei incompatível com a Constituição; e que os tribunais, bem como os demais departamentos, são vinculados por esse instrumento”. Assim, em caso de conflito entre a aplicação de uma lei em um caso concreto e a Constituição, deve prevalecer a Constituição. Estavam lançadas as bases do controle judicial de constitucionalidade das leis. Assim, no Caso Marbury vs. Madison, a questão sobre a prevalência ou não da Constituição sobre a lei deveria ser resolvida pelo magistrado antes de se decidir se Marbury tinha ou não direito à sua nomeação. Esta é a razão pela qual este caso é associado ao controle difuso de constitucionalidade. A título de observação, ressalta-se a importância de se considerar o contexto histórico em que este caso se insere, pois muitos dos conceitos atuais de supremacia da Constituição e concepção do ordenamento jurídico não existiam à época - a Teoria Pura do Direito, por exemplo, foi escrita por Kelsen aproximadamente 130 anos depois. (TJRO-2011): O modelo difuso, criação jurisprudencial americana, é adotado no Brasil e permite que quaisquer magistrados se manifestem acerca da constitucionalidade de leis. (DPEES-2008-CESPE): O controle difuso de constitucionalidade tem sua origem histórica no direito norte-americano, no caso Marbury versus Madison.] Portanto, o modelo de controle nos EUA foi definido a partir do caso MARBURY x MADISON decidido entre os anos de 1801 e 1803 pela Suprema Corte norte-americana. O controle, nos EUA é, portanto, judicial, difuso (qualquer órgão do poder Judiciário norte-americano pode fazê-lo - Judicial Review), incidental (em casos concretos) e fundamentado no Princípio da NULIDADE (norma inconstitucional é NULA desde o seu nascimento). Logo, o modelo norte-americano classifica-se como: judicial, concreto, repressivo e difuso. Nesse sentido, o Juiz John Marshall, da Suprema Corte norte-americana explica que, “assim, a 'fraseologia' particular da Constituição dos Estados Unidos confirma e corrobora o princípio essencial a todas as constituições escritas, segundo o qual é nula qualquer lei incompatível com a Constituição; e que os tribunais, bem como os demais departamentos, são vinculados por esse instrumento” (vide John Marshall, Decisões constitucionais de Marshall apud LENZA, 2018).[footnoteRef:85] [85: (MPRR-2017-CESPE): Tendo em vista que, em grande medida, o sistema de controle de constitucionalidade norte-americano serviu de inspiração inicial ao modelo brasileiro, assinale a opção correta: Para o relator do caso norte-americano conhecido como Marbury versus Madison, lei incompatível com a Constituição deve ser considerada nula. (PGEPA-2011): Sobre o caso Marbury v. Madison (1803), assinale a alternativa CORRETA: Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte, em que pese não ter decidido o mérito, afirmou, em seus dicta, o princípio da supremacia da Constituição, assim como a autoridade do Poder Judiciário para zelar por ela, inclusive invalidando os atos emanados dos Poderes Executivo e Legislativo que a contrariem.] #Atenção: #MPF-2022: O revisionismo de Marbury: Michele Carvalho Santos e Leandro Côrrea de Oliveira explicam: “É um pensamento comum que o Chief Justice Marshall e a Suprema Corte dos Estados Unidos estabeleceram (ou criaram) o judicial review no caso de Marbury v. Madison em 1803. Descrita como “a mais importante decisão do direito constitucional americano”2, Marbury tornou-se objeto do revisionismo histórico legal. A recente doutrina revisionista sobre o caso tem desafiado esse entendimento em três aspectos,de classe, em detrimento daqueles adotados pela maioria do povo. Aliás, até o final da II Guerra Mundial, a maioria dos países que contavam com constituições rígidas, tidas como superiores, não adotava o controle jurisdicional de constitucionalidade das leis. Portanto, a instituição do controle jurisdicional de constitucionalidade não é consequência lógica inexorável da atribuição de supremacia à Constituição. Trata-se de uma escolha sobre o desenho institucional do Estado, que deve ser feita tomando em conta uma comparação entre riscos e vantagens envolvidos na adoção do instituto, que podem variar, dependendo do contexto histórico e das tradições jurídicas e políticas de cada sociedade. De toda sorte, essa é a escolha que a grande maioria das democracias contemporâneas vem fazendo, e que faz bastante sentido, sobretudo em ambientes institucionais como o nosso, em que a política majoritária, praticada pelos órgãos representativos, não inspire tanta confiança no que concerne à garantia de direitos básicos. Em quadros como esse, o controle jurisdicional de constitucionalidade pode se converter numa peça importante nas engrenagens do Estado, protegendo as minorias políticas e sociais do arbítrio das maiorias, salvaguardando direitos fundamentais e assegurando a observância das regras do jogo democrático”.[footnoteRef:5]-[footnoteRef:6] [5: SAMENTO, D.; NETO, C. P. de S. Direito constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. 1ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012.] [6: (MPPR-2019): Assinale a alternativa correta: A instituição do controle jurisdicional de constitucionalidade não é consequência lógica inexorável da atribuição de supremacia à Constituição.] 2.1. PARÂMETRO (NORMAS DE REFERÊNCIA) #Questiona-se: Quais as partes da Constituição que podem servir de base para o controle de constitucionalidade? Tudo que está no texto constitucional serve como parâmetro? Em controle de constitucionalidade, quando falamos em "parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras, parâmetro compreende as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se determinada lei é ou não inconstitucional, ou seja, a norma constitucional supostamente violada. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é inconstitucional. a) Constituição formal A CF/88 é dividida em (i) preâmbulo; (ii) parte permanente – arts. 1º ao 250; e (iii) ADCT. PREÂMBULO: Nos termos da jurisprudência do STF, o preâmbulo não possui caráter normativo e, portanto, não serve como parâmetro para o controle de constitucionalidade. Ex.: Constituição do Estado do Acre não prevê a proteção de Deus no preâmbulo e, por isso, foi questionada sua constitucionalidade em face do preâmbulo da CF/88. Entretanto, o STF decidiu que o preâmbulo não pode ser invocado como parâmetro de constitucionalidade. PARTE PERMANENTE (arts. 1º a 250 da CF/88): Todas as normas da parte permanente, sem exceção, são normas formalmente constitucionais (elaboradas por um procedimento diferenciado e pelo Poder Constituinte Originário ou Derivado) e, portanto, servem como parâmetro para o controle de constitucionalidade. Não importa a relevância do conteúdo e se é matéria constitucional ou não, mas apenas a forma como foram editadas – supremacia formal (ex.: não importa se é a norma que trata sobre o Colégio Pedro II ou se é a que se refere à dignidade da pessoa humana). ADCT: Segundo STF, depende do tipo de norma, conforme abaixo: · Normas de eficácia exaurível (ainda não exauriram a sua eficácia, ou seja, não foram aplicadas ao caso concreto por elas previsto) servem como parâmetro para o controle de constitucionalidade. · Normas de eficácia exaurida (já produziram os efeitos para que foram criadas) não servem como parâmetro para o controle de constitucionalidade. Ex.1: ADCT, art. 2º “No dia 7 de setembro de 1993 o eleitorado definirá, através de plebiscito, a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo) que devem vigorar no País”; Ex.2: ADCT, art. 3º “A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”. #Atenção: #STF: #DOD: Cabe ADPF para declarar a constitucionalidade de dispositivo de lei cuja eficácia já foi exaurida. Dado o seu perfil subsidiário, a arguição de descumprimento de preceito fundamental se apresenta como medida processual mais adequada para afirmar a constitucionalidade do art. 38 da Lei nº 8.880/94, dispositivo de natureza transitória e de eficácia já exaurida que instrumentalizou a instituição do Plano Real. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/5/19 (Info 940). #Comentário do julgado acima: #DOD: Nas palavras do STF: “O requisito da subsidiariedade está presente, visto que se questiona preceito de natureza eminentemente transitória, com efeitos exauridos no momento do ajuizamento da ação. É incabível outro instrumento de controle concentrado capaz de solver a controvérsia de forma ampla, geral e imediata”. b) Princípios implícitos na Constituição (ordem constitucional global) Os princípios implícitos são aqueles que estão consagrados no texto da Constituição, mas não de maneira textual (expressa), apenas de maneira implícita. Em outras palavras, são aqueles que podem ser deduzidos das normas expressamente consagradas no texto constitucional. Ex.: princípio da razoabilidade – não está expresso na CF/88, mas pode ser deduzido de várias normas nela consagradas (por exemplo, Estado de Direito). #Atenção: Canotilho utiliza a expressão “ordem constitucional global” para se referir tanto aos princípios implícitos, quanto à normas expressas (escritas) da Constituição formal. c) Tratados e convenções internacionais de direitos humanos (CF, art. 5º, § 3º) Com a EC 45/04, passamos a ter um novo parâmetro para o controle de constitucionalidade, que são os tratados e convenções internacionais de direitos humanos. São normas fora do texto da CF/88 que possuem o status de Emenda Constitucional, visto que possuem a mesma forma de aprovação das Emendas.[footnoteRef:7] Vejamos: [7: (MPF-2022): Assinale a alternativa correta: A previsão constitucional de rito especial para a aprovação de tratados de direitos humanos (art. 5º, § 3º) representa um marco integrativo entre os direitos humanos e os direitos fundamentais. BL: art. 5º, §3º, CF. #Atenção: A previsão da inserção de tratados internacional de Direitos Humanos pelo rito especial, que acarreta sua inserção no ordenamento jurídico nacional com status de emenda constitucional, representa um grande avanço na integração do plano internacional (Direitos Humanos) com o plano nacional (Direitos Fundamentais).] CF, art. 5º, § 3º: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Sendo assim, a CF/88 exige um requisito material (serem os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos) e um requisito formal (serem aprovados por 3/5 dos votos dos membros da Câmara e do Senado e em dois turnos).[footnoteRef:8] [8: (MPCE-2020-CESPE): No Brasil, após a promulgação da EC nº 45/04, os tratados relativos aos direitos humanos aprovados na forma prevista são equivalentes às emendas constitucionais. BL: art. 5º, §3º, CF. (MPSC-2019): Em conformidade com o entendimento do STF, os tratados e convenções sobre direitos humanos que não foram aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da Constituição da República Federativa do Brasil, possuem natureza de normas supralegais. BL: art. 5º, §3º, CF.] Ex.: Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Embora esteja fora do texto constitucional é formalmente constitucional e, portanto, serve como parâmetroquestionando o pioneirismo da decisão para o judicial review, a originalidade dos seus argumentos e a recepção e reconhecimento da decisão como significativa no seu próprio tempo. Estes novos estudos não são apenas uma resposta à tradicional ênfase na importância de Marbury, isto é, à concepção tradicional que lhe confere o status de decisão histórica; são também uma resposta às frequentes invocações do caso pela Corte Rehnquist para apoiar o exercício controverso do judicial review. Tais trabalhos exploram as concepções americanas iniciais do instituto do controle de constitucionalidade e reexaminam o significado e o impacto de Marbury no estabelecimento desta doutrina. Com efeito, diversos estudiosos têm observado que Marbury apenas se tornou parte do cânone constitucional após assumir uma forma mítica. Desmistificar o caso tornou-se necessário. Neste intento analisar-se-á as contribuições revisionistas, com foco nos aportes explicativos sobre o processo de ascendência constitucional do precedente e o surgimento de sua aura mítica. Marbury foi uma decisão importante para seu tempo, sob as circunstâncias as quais foi proferida. Contudo, os elogios ao caso não são direcionados à decisão da Suprema Corte em exercer originariamente a jurisdição ou por discutir o uso adequado do mandado de segurança. Ao contrário, a doutrina tradicional foca na associação do caso ao princípio do judicial review. Desse modo, a grandeza de Marbury não é lembrada pelas qualidades intrínsecas da decisão nem pelo significado histórico quando foi proferido. Ao invés, “goza de grandeza porque a doutrina o associou intimamente com o judicial review”.3 Em primeiro lugar, Marbury não estabeleceu o judicial review, uma vez que a prática já tinha encontrado larga aceitação antes da histórica decisão, com um punhado de casos nos tribunais estaduais e federais e um pequeno número de casos na Suprema Corte.4 Larry Kramer registra que “comentadores geralmente parecem surpresos com o volume de evidências suportando judicial review antes de Marbury. Também ficam desconcertados pela aparente ausência de significativa controvérsia” sobre isso.5 A construção do raciocínio do Chief Justice Marshall não se deu ao acaso, apesar da ausência de norma constitucional expressa acerca do instituto do judicial review. Como registra William Treanor, cortes estaduais e federais já haviam começado a exercer o judicial review e fornecido justificativas para a possibilidade do controle antes de Marbury.6 Para ilustrar, em 1792, no caso Hayburn7, pela primeira vez, os juízes da Suprema Corte assumiam claramente que tinham o poder de invalidar um ato do Congresso. Em 1796, no caso Hylton v. United States8, a Suprema Corte contou, pela primeira vez, com o judicial review para decidir a constitucionalidade de um ato do Congresso. E, ainda três anos antes de Marbury, o Juiz Samuel Chase, resumia o estado de coisas, no caso Cooper v. Telfair: “isso é, de fato, uma opinião comum, que é expressamente admitido por todos os tribunais e alguns dos juízes têm, individualmente, no Circuits, decidido que a Suprema Corte pode declarar um ato do Congresso inconstitucional e, portanto, inválido”. Mas, ele adicionou, “não há julgamento da Suprema Corte sobre o assunto”.9 Apesar da notoriedade alcançada pelos argumentos de Marshall em Marbury, nada do que ele afirmou sobre o judicial review era novo. É bem verdade que Marbury foi o primeiro caso no qual a Suprema Corte inequivocamente declarou a inconstitucionalidade de um ato do Congresso, contudo, esta possibilidade já havia sido discutida, como no caso Hylton v. Unites States e na declaração do Juiz Chase em Cooper v. Telfair. Até a lógica da decisão de Marshall não foi original, teve como precursora aquilo que James Iredell10 e Alexander Hamilton11 haviam dito anos antes. Marbury não teve um papel fundamental na criação da doutrina do judicial review. Aliás, a defesa da doutrina no caso é defeituosa12 É verdade que a linguagem eloquente e precisa empregada por Marshall começou a ser notada por alguns juízes em meados do século XIX, mas, no geral, quando juristas daquela época buscavam uma autoridade para explicar o poder do judicial review, geralmente, citavam o ensaio de Alexander Hamilton no Federalist Papers, os escritos de St. George Tucker de Blackstone ou a decisão de Justice Samuel Chase no caso Calder v. Bull13 ao invés da opinião de John Marshall.14 Para célebres juristas do século XIX, Marbury era lembrado como um caso que havia exposto a doutrina do judicial review de forma clara, sem contudo, nenhuma força criativa.15 Apenas, após um longo tempo, o caso passou a ser identificado como pedra de fundação do controle de constitucionalidade. Mas não evidenciou, como assinala Larry Kramer “um novo território para a teoria do judicial review”.16 Michael Klarman, por sua vez, acusou a decisão de Marshall de fazer “nada para facilitar a aquisição pela Corte do ato político necessário para fazer o judicial review praticamente, como também, teoricamente significante”.17 Em 1803, portanto, o poder do judicial review já estava suficientemente bem estabelecido. A novidade da decisão de Marshall estava em outro ponto: era o primeiro caso no qual a Suprema Corte declarava a inconstitucionalidade de um ato do Congresso. Esclarece Keith Whittington que, assim como foi percebido nos anos iniciais da República, o caso foi apenas um exemplo entre outros da afirmação do poder do judicial review. Mas não foi o caso que estabeleceu ou criou o instituto. Foi o caso onde a Suprema Corte “exerceu” ou “explicou” o judicial review.18 No início do século XXI, Marbury tem um significado particular e ocupa um lugar especial e relevante do direito constitucional, mas nem sempre teve a importância que hoje lhe é dada. A doutrina revisionista observou que a importância e a identidade acerca da decisão mudaram ao longo do tempo. Aquilo que havia sido pouco notado e associado ao judicial review no século XIX, tornou-se, no século XX, um importante precedente para as cortes e para comentadores que buscavam justificar o mecanismo de controle jurisdicional. Para analisar quando e como Marbury ganha importância, uma análise da quantidade e qualidade das citações do caso é necessária. Robert Clinton, talvez o primeiro a observar a que a Suprema Corte raramente notou o caso ou o associou ao judicial review durante o século XIX, sugere três padrões diferentes no nível de citação do judiciário quanto ao uso de Marbury pela Suprema Corte. O primeiro período de tempo abrange os primeiros cem anos depois que Marbury foi proferido. Durante este período, o caso foi pouco notado e raramente citado. Quando citado, não o era para apoiar a ideia do judicial review, mas para tratar de jurisdição e do uso do mandado de segurança. O segundo período se estende desde o centenário de aniversário de Marbury, em 1903, até Cooper v. Aaron, em 1958, quando apenas oito referências foram feitas ao caso em contraste com cinquenta casos nos quais a Corte citou Marbury para apoiar o judicial review durante o terceiro período.19 Em um recente artigo revisionista, Keith Whittington20 criou um original conjunto de dados para análise das citações do caso Marbury ao incluir os tribunais federais e estaduais, além da Suprema Corte, e ao examinar também referências ao caso em documentos do legislativo e executivo federais, bem como em livros e comentários jurídicos do século XIX. Este estudo fornece uma base mais abrangente do acolhimento e uso do mesmo, servindo de indicador para quando o caso se tornou historicamente importante. Os dados levantados neste trabalho contestam a afirmação de Robert Clinton, de que Marbury teria sido pouco notado em seu tempo. O caso era pouco notado se comparado aos níveis de citação que atingiu após o século XX. Segundo os dados, o padrão de citação mostra um aumento da taxa de citação de Marbury na Suprema Corte, nos tribunais federais, nos tribunais estaduais e nos debates políticos ao longo do tempo.” (Fonte: O mito de Marbury v. Madison: aquestão da fundação da supremacia judicial - https://www.scielo.br/j/rinc/a/MWdwcWq4mdjmypwPwTFkrxQ/#).[footnoteRef:86] [86: (MPF-2022): No que concerne ao controle de constitucionalidade, assinale a proposição correta: Embora seja comum atribuir ao Justice Marshall a origem do judicial review no célebre caso Marbury v. Madison (1803), o mecanismo não era de todo inédito: no final do século XVIII, tribunais estaduais norte-americanos já afastavam a incidência de leis que conflitassem com as constituições estaduais. Antes de ratificada a constituição dos EUA, já era possível encontrar a defesa do judicial review nos artigos federalistas (Federalist Papers).] #Atenção: #MPRR-2017: #MPT-2017: #CESPE: O controle de constitucionalidade difuso surgiu em um sistema constitucional que não o prevê expressamente, como é o caso do sistema americano. A doutrina construída pelos norte-americanos desenvolveu uma técnica de atribuir um valor superior da Constituição frente às leis ordinárias. Em suma, no caso Marbury v. Madison, o juiz Marshal concluiu que a competência da Suprema Corte americana teria sede constitucional e não poderia ter sido modificada pela lei ordinária que lhe afetou o julgamento do "whit of Mandamus" impetrado por Marbury contra o secretário James Madison, objetivando a sua diplomação como juiz de paz. Em 1803, o Presidente Thomas Jefferson consegue a aprovação de uma lei revogando a Lei do Judiciário de 1789, que outorgava o poder de conceder o "mandamus" (perecendo o objeto do Writ). Então, mesmo tendo como pano de fundo outras questões, o caso reconheceu a primazia do controle jurisdicional sobre a interpretação da constitucionalidade das leis. #Atenção: Destaque-se que essa espécie de controle de constitucionalidade é uma criação totalmente jurisprudencial deles, não havendo até hoje previsão expressa na constituição norte-americana. A título de complementação, décadas antes houve uma decisão semelhante na Inglaterra, proferida pelo juiz Sir Edward Coke (1610), a qual é inclusive citada por John Marshall ao julgar o caso Marbury v. Madison. O magistrado Edward Coke exercia suas funções em um Tribunal chamado “Common Pleas”, cujo controle teve como parâmetro uma constituição não escrita. #Atenção: No direito brasileiro, o controle difuso foi introduzido na Constituição Republicana de 1891, positivando-se a adoção do modelo estadunidense (Poder Judiciário como guardião da Constituição). A constituição imperial de 1824 não tinha controle de constitucionalidade, pois seguia o sistema francês de “supremacia do parlamento”.[footnoteRef:87] [87: (MPF-2022): No que concerne ao controle de constitucionalidade, assinale a proposição correta: No Brasil, o controle difuso foi implementado pelo Decreto n. 848/1890, que também instituiu a Justiça Federal. No ano seguinte, essa modalidade de fiscalização veio a ser incorporada na Constituição de 1891 e, a partir de então, passou a ser reconhecida nas constituições vindouras. Portanto, o controle difuso brasileiro teria, por aproximação, quase a mesma idade da República. (Proc./BACEN-2006-FCC): O controle concentrado de constitucionalidade no Brasil contempla a ação direta genérica, interventiva e por omissão, além da ação declaratória de constitucionalidade e da arguição de descumprimento de preceito fundamental.] 4.1.4.2. Controle Concentrado (ou reservado) Esse controle é atribuído exclusivamente a determinado Tribunal, estando os demais órgãos do judiciário excluídos de tal munus. Recebe a denominação de “sistema austríaco” ou “sistema europeu” por ter sido criado por Hans Kelsen, o qual o introduziu na Constituição da Áustria de 1920, quando lá era Ministro de Guerra, sendo em seguida utilizado pela maior parte dos países da Europa. Embora haja muita polêmica sobre o tema, o ENTENDIMENTO CORRETO é o de que no direito brasileiro o controle concentrado de constitucionalidade foi introduzido pela Constituição de 1934, através da previsão da Representação Interventiva (art. 12 da Constituição de 1934), que atualmente é a ADI Interventiva. E a primeira vez que foi criado o controle concentrado abstrato foi com a EC 16/65, que trouxe a Representação de Inconstitucionalidade, tendo como único legitimado o Procurador-Geral da República,[footnoteRef:88] que poderia ser destituído a qualquer momento pelo Presidente, que, então, acabava controlando as suas ações.[footnoteRef:89] [88: (TRF4-2014): Assinale a alternativa correta: No regime constitucional anterior à Constituição Federal de 1988, o único legitimado para propor a ação direta de inconstitucionalidade era o Procurador-Geral da República.] [89: (TRF4-2014): Assinale a alternativa correta: O controle de constitucionalidade na modalidade concentrada foi introduzido no Brasil pela Emenda Constitucional nº 16/65. #Atenção: #PGERS-2015: #PGEAC-2017: #FMP: #Fundatec: O controle de constitucionalidade difuso foi introduzido no Brasil com a Constituição de 1891. A Constituição de 1934 estabelece a ação direita de inconstitucionalidade interventiva e a cláusula de reserva de plenário. A Constituição de 1946, por meio da EC n. 16/65 introduziu no Brasil a ação direta de inconstitucionalidade, com competência originária do STF. Considera-se que foi esse o marco do controle de constitucionalidade na modalidade concentrada no Brasil. A Constituição de 1988 trouxe outras novidades para o controle de constitucionalidade. Dentre eles: ampliação do rol de legitimados para propor a representação de inconstitucionalidade; possibilidade de controle de constitucionalidade de omissões legislativas; ADPF. A partir da EC n. 3/93 a ADC e a EC n. 45/2004 aumentou os legitimados para a ADC.] #Obs.: A representação interventiva era proposta pelo Procurador-Geral da República para que o Presidente decretasse a intervenção nos Estados, em determinadas situações. A competência para processá-la e julgá-la era atribuída exclusivamente ao STF. 4.1.5. Quanto à Finalidade do Controle Jurisdicional 4.1.5.1. Controle Concreto (ou incidental, ou por via de defesa, ou por via de exceção) Nesse tipo de controle, a pretensão é deduzida em juízo através de processo constitucional subjetivo, exercido com a finalidade principal de solucionar controvérsia envolvendo direitos subjetivos. Em outras palavras, a que se exige é que haja um conflito de interesses, uma pretensão resistida, um ato concreto. O controle incidental de constitucionalidade somente pode se dar na tutela de uma pretensão subjetiva. Em outras palavras, o controle difuso verifica-se em um caso concreto, e a declaração de inconstitucionalidade dá-se de forma incidental (incidenter tantum), prejudicialmente ao exame do mérito. [footnoteRef:90]-[footnoteRef:91] [90: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPSC-2023 (CESPE).] [91: (MPPR-2019): Sobre o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro, é correto afirmar: O controle incidental é sempre de natureza concreta. (Cartórios/TJSP-2018-VUNESP): Sobre o controle difuso de constitucionalidade no Brasil, é correto afirmar que o seu exercício se dá por via de exceção, ou seja, qualquer interessado poderá suscitar a inconstitucionalidade, em qualquer processo e em qualquer juízo.] O controle concreto é realizado a partir de um caso concreto. O indivíduo recorre ao Poder Judiciário para proteger direitos subjetivos. Em outras palavras, a preocupação daquele que provoca o controle concreto não é com a supremacia da Constituição, mas com a proteção de direitos subjetivos. Sendo assim, um indivíduo tem o seu direito violado e para que ocorra a proteção, será necessário afastar a lei, declarando a sua inconstitucionalidade. Por tal razão, o processo constitucional subjetivo é regido pelos princípios e regras do processo civil/processo penal. #Obs.: Embora a finalidade primária seja a solução de um caso concreto, indiretamente se está protegendo a supremacia da Constituição. Ora, ao passo que o Judiciário decide a situação concreta da parte, incidentalmente deverá dizer se o ato normativo impugnado é ounão constitucional. Ex.: Indivíduo que entende ser tributado excessivamente em razão de uma lei federal, a qual aumentou a alíquota de um determinado imposto. A preocupação deste indivíduo é a de não pagar o imposto majorado e ser restituído. Para isso, incidentalmente, no curso do processo, o Poder Judiciário deverá declarar a inconstitucionalidade da lei, a qual majorou o imposto. 4.1.5.2. Controle abstrato (ou por via de ação, ou por via direta, ou por via principal) É voltado precipuamente (não exclusivamente) a assegurar a supremacia da constituição, ou seja, da ordem constitucional objetiva. No controle concentrado de constitucionalidade de lei ou ato normativo decide-se sobre um ato ou lei, em tese, abstrato, genérico e impessoal.[footnoteRef:92] [92: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPSC-2023 (CESPE).] #Obs.: Ao assegurar a supremacia da constituição, indiretamente também acaba protegendo direitos subjetivos. No caso do controle abstrato, a pretensão é deduzida em juízo através de um processo constitucional objetivo, ou seja, um processo constitucional sem partes formais (autor e réu). Não há a defesa de interesses próprios. Por essa razão, o processo constitucional objetivo não é regido pelos princípios e regras do processo civil (v.g. ampla defesa, duplo grau de jurisdição, contraditório, etc.). Sobre o tema, Pedro Lenza explica: “Ao contrário da via de exceção ou defesa, pela qual o controle (difuso) se verificava em casos concretos e incidentalmente ao objeto principal da lide, no controle concentrado a representação de inconstitucionalidade, em virtude de ser em relação a um ato normativo em tese, tem por objeto principal a declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo impugnado. O que se busca saber, portanto, é se a lei (lato sensu) é inconstitucional ou não, manifestando-se o Judiciário de forma específica sobre o aludido objeto.” [footnoteRef:93] [93: LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12ª Ed. Editora Saraiva, 2008, p. 144.] #Obs.: Nas ações referentes ao controle abstrato há legitimados nos polos ativo e passivo. Porém, não há autor e réu, pois ninguém deflagra a ação para defender interesse próprio e sim para proteger a ordem constitucional objetiva. O controle abstrato foi introduzido no direito brasileiro pela EC n. 16/65, que criou a representação de inconstitucionalidade, a qual corresponde hoje à ADI.[footnoteRef:94] [94: (TJMG-2012-VUNESP): O sistema judicial de controle de constitucionalidade brasileiro foi alterado pela Emenda n.º 16/65 à Constituição Federal brasileira de 1946, uma vez que introduziu o controle judicial abstrato.] #Questiona-se: No controle abstrato é permitida a análise de questões fáticas? Sim. Embora se fale em controle abstrato, as questões fáticas podem e devem ser analisadas nesse tipo de controle. #Obs.: Por isso a nomenclatura “abstrato” não é considerada a mais adequada, sendo tecnicamente mais correta a nomenclatura “por via principal”. Vejamos o teor do art. 9º, §1º da Lei 9868/99: Lei n. 9.868/99, art. 9º, § 1º: Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria.[footnoteRef:95] [95: (MPGO-2016): Informe o item que está de acordo com os aspectos processuais e procedimentais das ações diretas de inconstitucionalidade e das ações declaratórias de constitucionalidade: É possível a apuração de questões fáticas, tanto que se admite, por exemplo, a designação de peritos em caso de necessidade de esclarecimentos de circunstância de fato. BL: art. 9º, §1º, da Lei 9868/99. (PGM-Recife/PE-2014-FCC): Ao dispor sobre o processamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade, a Lei 9.868/99, expressamente autoriza a realização pelo STF de audiências públicas para ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria, em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou, de notória insuficiência das informações existentes nos autos. BL: art. 9º, §1º, da Lei 9868/99.] Observe-se que a elucidação de uma questão fática pode ser fundamental para a decisão sobre a constitucionalidade de uma lei. Ex.1: ADI 3510 (questionamento sobre a constitucionalidade da Lei de Biossegurança no ponto em que permite a pesquisa com células-troncos embrionárias): foi necessária uma análise da importância com pesquisas dessa espécie para fins de cura, pois se pudessem ser alcançados os mesmos resultados com células comuns, não seria ética a pesquisa em debate. Assim, o STF convocou audiência pública para ouvir 17 especialistas, com o fito de elucidarem questões fáticas. Ex.2: ADPF 54 (discussão sobre a criminalização do aborto de fetos anencéfalos): Para decidir a questão, o STF precisava saber se, no âmbito da medicina, é possível detectar, com precisão, a existência ou não de uma anencefalia. Se não houvesse a possibilidade de analisar de forma clara e precisa se há acrania ou não, haveria muito mais questões em debate. Com as respostas em sentido positivo, o STF considerou que a antecipação terapêutica do parto nesses casos não pode ser considerada crime de aborto. #Obs.: Paralelo entre as formas de controle quanto à finalidade e quanto à competência:[footnoteRef:96] [96: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPPR-2019.] EM REGRA, no direito brasileiro, o controle será CONCENTRADO-ABSTRATO ou DIFUSO-CONCRETO: · O controle feito para assegurar a supremacia da constituição (CONTROLE ABSTRATO), EM REGRA, irá se concentrar em determinado Tribunal (CONTROLE CONCENTRADO).[footnoteRef:97] [97: (PGM-São José do Rio Preto/SP-2023-VUNESP): A respeito do Controle de Constitucionalidade, assinale a alternativa correta: O controle principal é, via de regra, de natureza abstrata, mas pode, excepcionalmente, ter natureza concreta. #Atenção: O controle abstrato (da constitucionalidade da lei em tese) é realizado perante ações concentradas no STF, a exemplo da ADPF, que pode, excepcionalmente, originar-se de um caso concreto nas instâncias inferiores, tratando-se de controle principal (pelo STF) com natureza concreta (ADPF incidental). (Assistente de Chancelaria/MRE-2004-ESAF): Quando se realiza o controle de constitucionalidade de atos normativos por um único tribunal, independentemente da existência de um caso concreto a ser julgado, diz-se que esse controle é concentrado e abstrato.] · O controle feito à luz do caso concreto (CONTROLE CONCRETO), EM REGRA, poderá ser exercido por qualquer juiz ou Tribunal (CONTROLE DIFUSO). Porém, HÁ EXCEÇÕES: · CONTROLE CONCENTRADO-CONCRETO (ou INCIDENTAL): · Representação interventiva (art. 36, III, CF); · ADPF Incidental (art. 1º, § único, I, da Lei 9.882/99);[footnoteRef:98] [98: (TJCE-2018-CESPE): Considerando o entendimento do STF acerca dos modelos, dos instrumentos e dos efeitos das decisões no controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: Embora seja ação típica do modelo concentrado, a arguição de descumprimento de preceito fundamental se presta, entre outros fins, ao controle concreto de constitucionalidade. BL: art. 1º, § único, I, Lei 9882/99. #Atenção: Isso se dá devido à possibilidade de a ADPF servir com arguição incidental, sendo cabível quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição, contestados em face de um preceito constitucional fundamental (Lei 9.882/1999, art. 1°, parágrafo único, I). Desse modo, embora o controle concentrado (realizado pelo STF e TJs) seja, em regra, abstrato (análise do ato normativo em tese), na hipótese do ADPF incidental é possível o controle da legitimidade da lei em face de sua aplicaçãoem uma situação concreta, resultando em excepcional hipótese de controle de constitucionalidade concentrado e concreto.] · Mandado de Segurança Impetrado por parlamentar quando inobservado o devido processo legislativo constitucional. · CONTROLE DIFUSO-ABSTRATO: Exercido pelo Plenário ou Órgão Especial, no caso previsto no art. 97 da CF (Cláusula de reserva de plenário). Sobre o tema, Pedro Lenza explica: "No direito brasileiro, como exceção à regra do controle concentrado e abstrato de constitucionalidade, podemos pensar em situação na qual o controle será concentrado (em órgão de cúpula, com competência originária), mas incidental, discutindo-se a questão de constitucionalidade como questão prejudicial ao objeto principal da lide. Como exemplo de controle concentrado e incidental, então, citamos o art. 102, I, “d”, que estabelece ser competência originária do STF processar e julgar o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal.”[footnoteRef:99] [99: LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12ª Ed. Editora Saraiva, 2008, p. 144.] #Obs.: Terminamos a teoria geral do controle de constitucionalidade. II - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE EM ESPÉCIE – CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE 1. CONTROLE CONCENTRADO-ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE #Obs.: A ADI foi a primeira ação do controle abstrato a surgir, com a EC 16/65, que introduziu a representação de inconstitucionalidade. A CF/88 só trazia a ADI e a previsão de que a lei regulamentasse a ADPF. A ADC veio com a EC 03/93.[footnoteRef:100] [100: (TRF4-2014): Assinale a alternativa correta: A Ação Declaratória de Constitucionalidade foi introduzida no Direito Constitucional brasileiro pela: Emenda Constitucional nº 3/93.] Aqui serão estudadas a ADI, a ADC e a ADPF. 1.1. Aspectos Introdutórios 1.1.1. Leis Regulamentadoras da ADI, ADC e ADPF As leis regulamentadoras da matéria são: · Lei n. 9.868/99 (ADI e ADC); · Lei n. 9.882/99 (ADPF). 1.1.2. Caráter Dúplice (ou Ambivalente ou “de sinal trocado”) da ADI e da ADC[footnoteRef:101] [101: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPF-2022; ii) TJDFT-2023 (CESPE); iii) PCAL-2023 (CESPE).] A ADI e ADC são ações de mesma natureza com sinal trocado, ou seja, elas possuem um caráter dúplice (ou ambivalente).[footnoteRef:102] [102: (TJSP-2021-VUNESP): Quanto aos efeitos da declaração de inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar: A ação direta de inconstitucionalidade ou declaratória de inconstitucionalidade tem natureza dúplice: a procedência do pedido na ação direta de inconstitucionalidade resulta na declaração de inconstitucionalidade do ato impugnado, o que também é válido para a hipótese contrária, ou seja, o julgamento de improcedência equivale à declaração da constitucionalidade do ato impugnado. BL: art. 24, Lei 9868/99. (MPDFT-2009): A ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade são consideradas ações dúplices, quanto aos efeitos da decisão. BL: art. 24, Lei 9868/99.] Dado ao caráter dúplice (ou ambivalente), a diferença fundamental entre ADI e ADC é a seguinte: · ADI: é uma ação direta de inconstitucionalidade. Quando se propõe a ADI, pede-se ao STF que declare que a lei é incompatível com a Constituição. Se o pedido for julgado improcedente, a lei é constitucional. · ADC: é uma ação declaratória de constitucionalidade. Quando se propõe a ADC, pede-se ao STF que declare a lei como constitucional. Se o pedido for julgado improcedente, a lei é inconstitucional. O que as diferencia, portanto, é o objetivo de quem as propõe. Vejamos o teor do art. 24 da Lei 9868/99, que proclama exatamente esse caráter dúplice: Lei n. 9.868/99, art. 24: Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória. Por essa razão, quando uma mesma lei é objeto de ADI e de ADC, essas ações serão reunidas e julgadas em conjunto. Ex.: Lei da Ficha Limpa, que foi objeto das ADC n. 29, ADC n. 30 e da ADI n. 4578. Foram todas reunidas e julgadas em conjunto. 1.1.3. Pressuposto da ADC: Controvérsia Judicial Relevante Quando criada a ADC por meio da EC nº 3/93,[footnoteRef:103] foi questionada sua constitucionalidade. Dentre as supostas inconstitucionalidades arguidas, argumentava-se que existia uma presunção de constitucionalidade das leis e, se as leis se presumem constitucionais, não haveria sentido em pedir ao STF para declarar algo que já se presume. [103: (DPEMA-2018-FCC): A ação que tem como pressuposto fático a existência de decisões de constitucionalidade, em processos concretos, contrárias à posição governamental é conhecida como ação declaratória de constitucionalidade. #Atenção: José Afonso da Silva explica que a ação declaratória de constitucionalidade “é uma ação que tem a característica de um meio paralisante de debates em torno de questões jurídicas fundamentais de interesse coletivo; terá como pressuposto fático a existência de decisões de constitucionalidade, em processos concretos, contrárias à posição governamental; seu exercício gera um processo constitucional contencioso, de fato, porque visa desfazer decisões proferidas entre as partes, mediante sua propositura por uma delas; tem natureza de meio de impugnação antes que de ação, com o mesmo objeto das contestações, sustentando a constitucionalidade da lei ou ato normativo”. Para o autor, a ADC “gera um processo constitucional contencioso, de fato, porque visa a desfazer decisões proferidas entre partes, mediante sua propositura por uma delas. Nesse sentido, ela tem verdadeira natureza de meio de impugnação antes que de ação, com o mesmo objeto das contestações apresentadas nos processos concretos, sustentando a constitucionalidade da lei ou ato normativo federal e sem as contrarrazões das partes contrárias. Então, a rigor, não se trata de processo sem partes e só aparentemente é processo objetivo, porque, no fundo, no substrato da realidade jurídica em causa, estão as relações materiais controvertidas que servem de pressupostos de fato da ação.” (Fonte: José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10a edição, 1995, p. 59-60.)] Ocorre que a presunção de constitucionalidade é relativa e poderá ser afastada por qualquer juiz ou Tribunal por meio do controle difuso-incidental. A ADC surgiu em razão dessa presunção relativa e possui como pressuposto de admissibilidade a existência de controvérsia judicial relevante, que é exatamente para evitar que o STF se transforme em órgão de consulta. Em outras palavras, só se justifica a provocação do STF para se manifestar sobre a constitucionalidade de uma lei se houver dúvidas sobre essa constitucionalidade. [footnoteRef:104] [104: (MPSP-2022): Assinale a alternativa correta: As leis e atos normativos gozam de presunção iuris tantum de constitucionalidade, cabendo àquele que alega a inconstitucionalidade o ônus da prova. #Atenção: José Afonso da Silva explica que a ação declaratória de constitucionalidade “é uma ação que tem a característica de um meio paralisante de debates em torno de questões jurídicas fundamentais de interesse coletivo; terá como pressuposto fático a existência de decisões de constitucionalidade, em processos concretos, contrárias à posição governamental; seu exercício gera um processo constitucional contencioso, de fato, porque visa desfazer decisões proferidas entre as partes, mediante sua propositura por uma delas; tem natureza de meio de impugnação antes que de ação, com o mesmo objeto das contestações, sustentando a constitucionalidade da lei ou ato normativo”. Para o autor, a ADC “gera um processo constitucionalcontencioso, de fato, porque visa a desfazer decisões proferidas entre partes, mediante sua propositura por uma delas. Nesse sentido, ela tem verdadeira natureza de meio de impugnação antes que de ação, com o mesmo objeto das contestações apresentadas nos processos concretos, sustentando a constitucionalidade da lei ou ato normativo federal e sem as contrarrazões das partes contrárias. Então, a rigor, não se trata de processo sem partes e só aparentemente é processo objetivo, porque, no fundo, no substrato da realidade jurídica em causa, estão as relações materiais controvertidas que servem de pressupostos de fato da ação.” (Fonte: José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10a edição, 1995, p. 59-60.)] Como referido, STF não é um órgão de consulta. A controvérsia tem que ser judicial, não podendo ser meramente doutrinária. O STF já se pronunciou afirmando que seis ou sete julgados questionando a constitucionalidade da lei não seriam suficientes. Vale lembrar que a controvérsia precisa ser efetiva, não bastando ser potencial.[footnoteRef:105] Vejamos o seguinte trecho de decisão do STF: [105: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPGO-2016; ii) MPMG-2017 iii) MPBA-2018; iv) PGM-São Paulo/SP-2023 (CESPE).] “(...) O ajuizamento da ação declaratória de constitucionalidade, que faz instaurar processo objetivo de controle normativo abstrato, supõe a existência de efetiva controvérsia judicial em torno da legitimidade constitucional de determinada lei ou ato normativo federal. Sem a observância desse pressuposto de admissibilidade, torna-se inviável a instauração do processo de fiscalização normativa "in abstracto", pois a inexistência de pronunciamentos judiciais antagônicos culminaria por converter, a ação declaratória de constitucionalidade, em um inadmissível instrumento de consulta sobre a validade constitucional de determinada lei ou ato normativo federal, descaracterizando, por completo, a própria natureza jurisdicional que qualifica a atividade desenvolvida pelo Supremo Tribunal Federal”. (STF, Plenário. ADC 8-MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 13-10-1999). Agora vejamos o teor do art. 14, III da Lei 9868/99: Lei n. 9.868/99, art. 14, III: a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória.[footnoteRef:106] [106: (Anal. Finanças e Controle/CGU-2006-ESAF): Sobre controle de constitucionalidade, assinale a única opção correta: É requisito de admissibilidade da ação declaratória de constitucionalidade a demonstração de existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória. BL: art. 14, III da Lei 9868/99.] Com a finalidade de dar segurança ao ordenamento jurídico confirmando e validando-a, a lei já 'nasce' constitucional, presumidamente. Segundo art. 14, III da Lei 9868/99, deve-se comprovar, para que seja cabível o ADC, a existência de controvérsia judicial relevante sobre aplicação de lei, de modo que se existam expressivas decisões ou matérias controvertidas, não sendo possível, portanto, o ajuizamento, após a imediata promulgação de uma lei para o fim de obter declaração antecipada de sua constitucionalidade. [footnoteRef:107] [107: (PGM-São Paulo/SP-2023-CESPE): A ação declaratória de constitucionalidade (ADC) não pode, em regra, ser ajuizada, de forma válida, após a imediata promulgação de uma lei para o fim de obter declaração antecipada de sua constitucionalidade. BL: art. 14, III da Lei 9868/99.] Ainda sobre o assunto “controvérsia judicial relevante”, vejamos recente julgado do STF, veiculado no Info 786, resumida, de forma didática, pelo Dizer o Direito: A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos da petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia judicial relevante sobre a lei objeto da ação. Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não há razão para se propor a ADC. É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher o requisito da “controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato normativo? SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível preencher o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa lei ou ato normativo inconstitucional. O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia não se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas decisões em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando inconstitucional a lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais elevada da vontade do parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada for relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem. STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/5/15 (Info 786). [footnoteRef:108] [108: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPGO-2016; ii) MPMG-2017 e; iii) MPBA-2018 e iv) PCAL-2023 (CESPE); v) PFN-2023 (CESPE); vi) PGM-São Paulo/SP-2023 (CESPE).] 1.1.4. Caráter Subsidiário/Residual da ADPF A ADPF só é cabível quando inexistir outro meio eficaz para sanar a lesividade. Assim, não é cabível a ADPF quando couber, por exemplo, ADI ou ADC. Exemplo: As normas anteriores à Constituição não podem ser objeto de ADI porque no Brasil não se admite, como regra, a tese da inconstitucionalidade superveniente. Portanto, nesse caso o instrumento cabível será a ADPF. Foi o que ocorreu na Lei de Imprensa e nas discussões acerca do art. 128 do Código Penal (aborto da anencefalia). Vejamos o teor do art. 4º, §1º da Lei 9.882/99, no qual prevê o caráter subsidiário da ADPF: Lei n. 9.882/99, art. 4º, §1º: Não será admitida argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.[footnoteRef:109] [109: (MPDFT-2021): Assinale a alternativa correta: Nos termos da legislação em vigor, quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade resultante de ato do poder público, não será admitida a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. BL: art. 4º, §1º da Lei. (DPEBA-2021-FCC): A ação de descumprimento de preceito fundamental possui caráter subsidiário em relação a outras ações que podem vir a sanar a lesividade observada. BL: art. 4º, §1º da Lei. (DPEPE-2018-CESPE): O ajuizamento da ADPF deve atender à subsidiariedade, sendo proposta quando inexistir outro meio idôneo para instrumentalização da pretensão de sanar lesão a preceito fundamental. BL: art. 4º, §1º da Lei. (TJMSP-2016-VUNESP): A ADPF, fórmula processual subsidiária do controle concentrado de constitucionalidade, é via adequada à impugnação de norma pré-constitucional. BL: art. 4º, §1º da Lei. #Atenção: #STF: "Lei de Imprensa. Adequação da ação. A ADPF, fórmula processual subsidiária do controle concentrado de constitucionalidade, é via adequada à impugnação de norma pré-constitucional. Situação de concreta ambiência jurisdicional timbrada por decisões conflitantes. Atendimento das condições da ação." (ADPF 130, rel. min. Carlos Britto, julgamento em 30-4-2009, Plenário) #Atenção: Aplica-se à arguição de descumprimento o princípio da subsidiariedade, pois, nos termos do art. 4º, §1º desta Lei, não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade. (Anal. Judic./STF-2013-CESPE): A arguição de descumprimento de preceito fundamental é instrumento de controle concentrado de constitucionalidade que possui caráter subsidiário ouresidual, só podendo ser utilizada quando não houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade. BL: art. 4º, §1º da Lei. (ABIN-2010-CESPE): ADPF tem caráter subsidiário, ou seja, só é possível se conhecer da ação caso inexista outro meio eficaz para a sua propositura. BL: art. 4º, §1º da Lei.] #Obs.: Pela expressão “outro meio eficaz”, entende o STF que a expressão significa outro meio que tenha a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude. #Questiona-se: Para que o cabimento da ADPF seja afastado, é necessário que haja outra ação de controle concentrado-abstrato? Não, necessariamente. O STF interpreta no sentido de que o meio não precisa ser o instrumento de controle abstrato, mas deve ter a mesma imediaticidade, amplitude e efetividade da ADPF, ou seja, que ele substitua aquilo que a ADPF poderia fazer. Há, portanto, a possibilidade de que haja outro meio igualmente eficaz que não seja ADI, ADC ou ADO. Ex.: A ADPF 128 foi intentada com o objeto de uma súmula vinculante. O STF não admitiu a ADPF porque a Lei da Súmula Vinculante prevê outro meio com a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude que a ADPF, qual seja, o pedido de revisão ou cancelamento da súmula vinculante. É um mecanismo que tem a mesma imediaticidade, amplitude e efetividade, de forma a não se observar o caráter subsidiário da ADPF. [footnoteRef:110] [110: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TJMT-2018 (VUNESP); ii) PGM-São Paulo/SP-2023 (CESPE).] #Atenção: #STF: #TJSC-2022: #FGV: Diante da aplicação do princípio da subsidiariedade, não é cabível o manejo de ADPF para impugnar lei municipal que viola norma de reprodução obrigatória existente em Constituição Estadual. Nesse caso, é cabível o ajuizamento de ADI, a ser julgada pelo Tribunal Local, tendo como parâmetro a norma constante da Constituição Estadual. Vejamos o seguinte julgado do STF: AGRAVO REGIMENTAL EM ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. LEI MUNICIPAL QUE INSTITUI FERIADO. ALEGAÇÃO DE USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO. NORMA DE REPRODUÇÃO OBRIGATÓRIA. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE. INOBSERVÂNCIA. CABIMENTO DE ADI ESTADUAL. DESPROVIMENTO. 1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal exige a aplicação do princípio da subsidiariedade às ações de descumprimento de preceito fundamental (art. 4º, §1º, da Lei 9.882/1999), configurado pela inexistência de meio capaz de sanar a controvérsia de forma geral, imediata e eficaz no caso concreto. Precedentes. 2. A impugnação da norma municipal que desafia tanto o texto federal quanto o estadual, pode ser feita perante o Tribunal local por meio do ajuizamento de ação de controle concentrado. Ausente o requisito da subsidiariedade. Precedentes. 3. Agravo regimental desprovido. (STF, ADPF 723 AgR, Tribunal Pleno, Rel. Min. EDSON FACHIN, DJE 16/04/2021) [footnoteRef:111]-[footnoteRef:112] [111: #Atenção: Tema cobrado na prova da PGESC-2022 (FGV).] [112: (TJSC-2022-FGV): Sobre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, instituída pela Lei 9.882/99, como instrumento de controle de constitucionalidade, é correto afirmar, de acordo com a jurisprudência majoritária do STF, que: não poderá ser proposta contra Lei municipal que violar, ao mesmo tempo, a Constituição da República de 1988 e a Constituição do Estado, em norma de observância obrigatória. BL: Info 810, STF.] #Atenção: #DOD: #STF: #TJMSP-2016: #PCGO-2017: #DPEAM-2018: #TJMS-2020: #MPF-2012/2022: #FCC: #VUNESP: Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada. STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 27/10/2015 (Info 810).[footnoteRef:113] [113: (DPEAM-2018-FCC): A aplicação de determinada lei municipal tem sido objeto de decisões contraditórias nos órgãos judiciais de primeira instância, em função de interpretações conflitantes quanto à sua constitucionalidade. O partido político ao qual é filiado o Prefeito do Município respectivo pretende submeter a questão diretamente ao STF, por meio de ADPF, requerendo, inclusive, seja concedida medida liminar para que se determine a suspensão do andamento de processos ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria, até julgamento final da ADPF. Nessa hipótese, à luz das normas pertinentes e da jurisprudência do STF sobre a matéria, a medida liminar, que poderá ser concedida nos termos requeridos, inclusive por decisão do Relator, ad referendum do Pleno do STF, não terá, no entanto, o condão de atingir a eficácia de decisões judiciais anteriormente transitadas em julgado. BL: Entend. Jurisprud.] #Questiona-se: É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)? SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde que fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que comporta solução por meio de autocomposição. Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo. O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que estiverem dentro do âmbito da disponibilidade das partes. A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir maior efetividade à prestação jurisdicional. STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892). [footnoteRef:114] [114: (MPF-2022): No que diz respeito à arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), assinale a proposição em conformidade com a jurisprudência do STF: Conquanto se trate de ação do controle concentrado de constitucionalidade, tem-se admitido a extinção de ADPF, com resolução do mérito, mediante homologação de transação entabulada entre proponente da ação e “amici curiae”. Nesse caso, é possível transigir quanto a aspectos patrimoniais subjacentes à questão constitucional. BL: Info 892, STF.] #Atenção: #STF: #DPERO-2023: #CESPE: De acordo com o STF, é cabível ADPF contra decreto regulamentador de lei do qual se depreenda controvérsia constitucional suscitada em abstrato e que ofenda diretamente a CF: É cabível arguição de descumprimento de preceito fundamental que impugne decreto regulamentador de lei, por ser este caracterizado como ato do Poder Público, quando, da leitura da petição inicial, for possível depreender controvérsia constitucional suscitada em abstrato, cuja ofensa se mostra direta à Constituição da República. STF. Plenário. ADPF 763, Rel. Min. André Mendonça, j. 03/11/22. #Atenção: #STF: #DPERO-2023: #CESPE: Não é cabível ADPF para questionar fundamento adotado pelo STJ no exercício de sua competência relativa à uniformização da legislação federal, em caso de julgamento sob o rito dos recursos repetitivos: A ADPF não é via adequada para questionar fundamento de decidir adotado pelo STJ no exercício de sua competência atinente à uniformização da legislação federal, ainda que em julgamento sob o rito dos recursos repetitivos. STF. Plenário. ADPF 427 AgR-segundo, Rel. Min. André Mendonça, j. 03/11/22. #Atenção: #STF: #DPERO-2023: #CESPE: É cabível ADPF para impugnar conjunto de decisões judiciais consideradas lesivas a preceitos fundamentais: É cabível o ajuizamento de ADPF para a impugnação de conjunto de decisões judiciais proferidas por vários órgãos e instâncias jurisdicionais com o entendimento alegadamente atentatório a preceito fundamental. STF. Plenário. ADPF 670 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Ac. Alexandre de Moraes, j. 08/09/20. #Atenção: #STF: #DOD: #DPERO-2023: #CESPE: Ação de controle concentrado de constitucionalidade não pode ser utilizada como sucedâneo das vias processuais ordinárias: Caso concreto: partido político ajuizou ADPF alegando que determinados discursos, pronunciamentos e comportamentosdo Presidente da República, de Ministros de Estado e de outros integrantes do alto escalão do Poder Executivo federal representariam violação de preceitos fundamentais do Estado Democrático de Direito e do direito à saúde. O autor pediu “que o Presidente da República, bem como todos os seus Ministros e auxiliares imediatos pautem doravante seus atos, práticas, discursos e pronunciamentos em conformidade com os princípios constitucionais suprarreferidos.” O STF não conheceu da ADPF. Na ação, o partido pede, em síntese, que o STF profira comando judicial para que o Presidente da República e seus auxiliares cumpram a Constituição. Ocorre que isso já é óbvio. À luz do constitucionalismo contemporâneo, não há qualquer dúvida de que a supremacia constitucional é o postulado sobre o qual se assenta a validade de todos os atos estatais. Mostra-se inócua e desprovida de qualquer utilidade provocar o Poder Judiciário objetivando, única e exclusivamente, declarar que as autoridades públicas estão sujeitas à ordem constitucional. Em um Estado Democrático de Direito, como o Brasil, nenhum ato jurídico pode ser praticado validamente à margem da Constituição. Transgressões aos princípios e regras constitucionais praticadas por autoridades públicas ou particulares, quando ocorrem, exigem a intervenção judicial, em caráter preventivo ou repressivo, diante de situações concretas e específicas, e não por meio de uma ação de controle concentrado de constitucionalidade. STF. Plenário. ADPF 686/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/10/21 (Info 1034). (...) Arguição ajuizada com propósito de revisão de decisões judiciais. Não cabimento da ADPF como sucedâneo recursal. STF. Plenário. ADPF 891 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 23/05/22.[footnoteRef:115] [115: (DPERO-2023-CESPE): De acordo com a jurisprudência do STF, no que se refere à arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), é incabível ADPF para revisar decisões judiciais, valendo-se da ação como sucedâneo recursal. BL: Info 1034, STF.] 1.1.5. Princípio da Fungibilidade entre ADI, ADC e ADPF (e ADO)[footnoteRef:116] [116: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) DPEPR-2012 (FCC); ii) TJMS-2020 (FCC); iii) TJSC-2022 (FGV).] Embora nem todos os princípios e regras do processo civil sejam aplicáveis ao controle concentrado-abstrato (por se tratar de um processo constitucional objetivo), o princípio da fungibilidade é aplicado a essas ações, salvo na hipótese de erro grosseiro. Temos vários exemplos no STF: ADPF 132 – União Homoafetiva: 1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO CONJUNTO. [...] #Atenção: #DOD: #STF: Fungibilidade entre ADPF e ADI: A ADPF e a ADI são fungíveis entre si. Assim, o STF reconhece ser possível a conversão da ADPF em ADI quando imprópria a primeira, e vice-versa. No entanto, essa fungibilidade não será possível quando a parte autora incorrer em erro grosseiro. É o caso, por exemplo, de uma ADPF proposta contra uma Lei editada em 2013, ou seja, quando manifestamente seria cabível a ADI por se tratar de norma posterior à CF/88. STF. Plenário ADPF 314 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/12/14 (Info 771).[footnoteRef:117]-[footnoteRef:118] [117: #Atenção: Tema cobrado na prova da DPERO-2023 (CESPE).] [118: (MPSC-2021-CESPE): Acerca das disposições referentes à jurisdição constitucional, julgue o item a seguir: Ação direta de inconstitucionalidade cujo objeto seja a discussão acerca da recepção, pela CF, de determinada lei ou ato normativo pode ser admitida como arguição de descumprimento de preceito fundamental, uma vez preenchidos seus respectivos requisitos, com base na fungibilidade. BL: Info 771, STF. (TJMSP-2016-VUNESP): A ADPF, fórmula processual subsidiária do controle concentrado de constitucionalidade, é via adequada à impugnação de norma pré-constitucional. BL: art. 4º, §1º da Lei. #Atenção: #STF: "Lei de Imprensa. Adequação da ação. A ADPF, fórmula processual subsidiária do controle concentrado de constitucionalidade, é via adequada à impugnação de norma pré-constitucional. Situação de concreta ambiência jurisdicional timbrada por decisões conflitantes. Atendimento das condições da ação." (ADPF 130, rel. min. Carlos Britto, julgamento em 30-4-2009, Plenário) #Atenção: Aplica-se à arguição de descumprimento o princípio da subsidiariedade, pois, nos termos do art. 4º, §1º desta Lei, não será admitida arguição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade. (Anal. Judic./STF-2013-CESPE): A arguição de descumprimento de preceito fundamental é instrumento de controle concentrado de constitucionalidade que possui caráter subsidiário ou residual, só podendo ser utilizada quando não houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade. BL: art. 4º, §1º da Lei. (ABIN-2010-CESPE): ADPF tem caráter subsidiário, ou seja, só é possível se conhecer da ação caso inexista outro meio eficaz para a sua propositura. BL: art. 4º, §1º da Lei.] A fungibilidade entre a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental e a Ação Direta de Inconstitucionalidade pressupõe dúvida aceitável a respeito da ação apropriada, a fim de não legitimar o erro grosseiro na escolha. (ADPF 451 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moares, Tribunal Pleno, j. 09/04/18).[footnoteRef:119] [119: #Atenção: Tema cobrado na prova da DPERO-2023 (CESPE).] Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental conhecida como Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Resolução 4.765, de 27 de novembro de 2019, do Conselho Monetário Nacional (CMN). Cobrança de tarifa de cheque especial. 3. Resolução editada pelo CMN tem caráter de norma primária. 4. Princípio da subsidiariedade e fungibilidade entre as ações diretas. 5. Atuação do CMN no campo da intervenção estatal na economia (arts. 174 e 192 da CF). Tarifa bancária com características de taxa. Possível violação ao princípio da legalidade tributária. Cobrança que coloca o consumidor em situação de vulnerabilidade econômico-jurídica. Desproporcionalidade da medida adotada pelo CMN para correção de falha de mercado. 6. Presença dos requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora para deferimento da medida cautelar em sede de ação direta. 7. Agravo regimental interposto pelo BACEN contra decisão monocrática que deferiu a medida cautelar pleiteada. 8. Medida cautelar referendada pelo Plenário do STF. 9. Agravo regimental julgado prejudicado. (ADI 6407 MC-Ref, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j. 30/11/20). ADI 72 QO/PA: [...] Questão de ordem resolvida com o aproveitamento do feito como ação direta de inconstitucionalidade, ante a perfeita satisfação dos requisitos exigidos à sua propositura (legitimidade ativa, objeto, fundamentação e pedido), bem como a relevância da situação trazida nos autos, relativa a conflito entre dois Estados da Federação” (STF. ADPF 72 QO/PA, rel. Min. Ellen Gracie, DJ 02.12.2005). ADI 4.163/SP: [...] 2. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Impropriedade da ação. Conversão em Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF. Admissibilidade. Satisfação de todos os requisitos exigidos à sua propositura. Pedido conhecido, em parte, como tal. Aplicação do princípio da fungibilidade. Precedente.[footnoteRef:120] [120: (Cartórios/TJSE-2014-CESPE): De acordo com a disciplina constitucional, legal e jurisprudencial do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: De acordo com o STF, é possível a aplicação do princípio da fungibilidade para o conhecimento de ADI como arguição de descumprimento de preceito fundamental, se coexistentes todos os requisitos de admissibilidade desta, em caso de inadmissibilidade daquela. (MPGO-2013): A respeito das hipóteses de cabimento, dos pressupostos processuais de validade e de existência e dos parâmetros de controle pertinentesà arguição de descumprimento de preceito fundamental, é licito, segundo a jurisprudência dominante do STF, afirmar que o princípio da subsidiariedade, que informa a arguição de descumprimento de preceito fundamental, não afasta a aplicação do princípio da fungibilidade, de sorte que, tendo a arguição por objeto a declaração de inconstitucionalidade de regulamento autônomo, pode o STF convertê-la em ação direta de inconstitucionalidade. #Atenção: O princípio da fungibilidade aplica-se ao caso em testilha, isto é, a ADPF pode ser conhecida como ADIN. Consoante as lições extraídas de Pedro Lenza (Direito Constitucional Esquematizado. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 362), ao responder a indagação se a ADPF pode ser conhecida como ADIN: SIM: “Tendo em conta o caráter subsidiário da arguição de descumprimento de preceito fundamental — ADPF, consubstanciado no § 1.º do art. 4.º da Lei 9.882/1999, o Tribunal resolveu questão de ordem no sentido de conhecer, como ação direta de inconstitucionalidade — ADI, a ADPF ajuizada pelo Governador do Estado do Maranhão, em que se impugna a Portaria 156/2005, editada pela Secretaria Executiva de Estado da Fazenda do Pará, que estabeleceu, para fins de arrecadação do ICMS, novo boletim de preços mínimos de mercado para os produtos que elenca em seu anexo único. Entendeu -se demonstrada a impossibilidade de se conhecer da ação como ADPF, em razão da existência de outro meio eficaz para impugnação da norma, qual seja a ADI, porquanto o objeto do pedido principal é a declaração de inconstitucionalidade de preceito autônomo por ofensa a dispositivos constitucionais, restando observados os demais requisitos necessários à propositura da ação direta. Precedente citado: ADI 349 -MC/DF (DJU de 24.09.1990). ADPF 72 QO/PA, Rel. Min. Ellen Gracie, 1.º.06.2005. (ADPF -72)” (Inf. 390/STF). Reafirmando esse entendimento, também, no sentido do conhecimento de ADPF como ADI (princípio da fungibilidade — art. 4.º, § 1.º, da Lei n. 9.882/99 — e perfeita satisfação dos requisitos exigidos à propositura da Ação Direta de Inconstitucionalidade — legitimidade ativa, objeto, fundamentação e pedido), cf. ADI 4.180 -REF -MC, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 10.03.2010, Plenário, DJE de 27.08.2010.] ADI 875: [...] Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI n.° 875/DF, ADI n.° 1.987/DF, ADI n.° 2.727/DF e ADI n.° 3.243/DF). Fungibilidade entre as ações diretas de inconstitucionalidade por ação e por omissão. Fundo de Participação dos Estados - FPE (art. 161, inciso II, da Constituição). Lei Complementar n° 62/1989. Omissão inconstitucional de caráter parcial. Descumprimento do mandamento constitucional constante do art. 161, II, da Constituição, segundo o qual lei complementar deve estabelecer os critérios de rateio do Fundo de Participação dos Estados, com a finalidade de promover o equilíbrio socioeconômico entre os entes federativos. Ações julgadas procedentes para declarar a inconstitucionalidade, sem a pronúncia da nulidade, do art. 2º, incisos I e II, §§ 1º, 2º e 3º, e do Anexo Único, da Lei Complementar n.º 62/1989, assegurada a sua aplicação até 31 de dezembro de 2012. [footnoteRef:121] [121: (DPEPR-2012-FCC): O controle abstrato de constitucionalidade previsto pela Constituição Federal de 1988, regulamentado pelas leis nos 9.868/99 e 9.882/99 e interpretado pelo STF, admite conhecimento de ações diretas de inconstitucionalidade como ações diretas de inconstitucionalidade por omissão quando se trata de omissão parcial, em decorrência da fungibilidade. (AGU-2012-CESPE): O atual posicionamento do STF admite a fungibilidade entre a ADI e a ADIO. BL: ADI 875. #Atenção: O atual posicionamento do STF admite a fungibilidade entre a ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) e a ADIO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão). O termo "'fungibilidade"' significa a substituição de uma coisa por outra. O núcleo da fungibilidade, em questões juridicionais, esta em possibilitar o resultado prático, ainda que o meio processual adotado não seja o mais adequado. O tema da fungibilidade entre ADI e ADI por omissão é recente na jurisprudência do STF e foi aceita pela primeira vez em 2010, ao julgar a ADI 875. Nessa ADI, o Ministro Gilmar Mendes, do STF, comentou: "É preciso reconhecer que, em nosso sistema abstrato de controle de constitucionalidade, deve existir uma natural fungibilidade entre os diversos tipos de ação" e complementa o Ministro afirmando que "a distinção rígida entre as ações diretas de inconstitucionalidade por ação e por omissão, como pressuposto de sua infungibilidade, não se coaduna mais com a própria jurisprudência do Tribunal no tocante Tribunal no tocante ao controle abstrato de normas e às novas técnicas de decisão.. Tem-se, portanto, o estabelecimento de uma nova posição do STF, no sentido da fungibilidade entre as diversas ações que compõem o controle abstrato de constitucionalidade".] #Obs.: Atente-se para o fato de que em alguns casos não será possível a fungibilidade pela ausência de algum requisito essencial, como o de controvérsia judicial relevante da ADC. Acrescente-se, ainda, que, em decorrência do princípio da fungibilidade, o STF tem admitido a cumulação de ações (de pedidos). Ou seja, pode-se em uma mesma ação o legitimado reunir pedidos que são de ações distintas. Nesse sentido, vejamos os seguintes precedentes: ADPF 378/DF – Impeachment da Dilma: A ação é cabível, mesmo se considerarmos que requer, indiretamente, a declaração de inconstitucionalidade de norma posterior à Constituição e que pretende superar omissão parcial inconstitucional. Fungibilidade das ações diretas que se prestam a viabilizar o controle de constitucionalidade abstrato e em tese. ADI 5.316 MC/DF - “Pec da Bengala”: Assento de plano a admissibilidade da cumulação de ações de controle concentrado de constitucionalidade. […] Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações […] apenas ensejaria a propositura de uma nova demanda com pedido e fundamentação idênticos, a ser distribuída por prevenção, como costuma ocorrer em hipóteses de ajuizamento de ADI e ADC em face de um mesmo diploma. #Atenção: #DOD: #STF: #MPBA-2018: Acerca da ADI 5.316/MC, citada acima, vejamos as considerações trazidas pelo DOD: O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado constitucional? É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC? SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única demanda de controle concentrado. A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de questões minimamente relacionadas entre si. Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na Lei 9.868/99, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente a demanda, com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção. STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/5/15 (Info 786). #Parêntese: #Atenção: #DOD: #STF: #MPTO-2022: #DPEPI-2022: #PGEAM-2022: #Cartórios/TJSC-2023: #CESPE: #FCC: Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI: O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação. Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o ato contra o qual se insurge. Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularizaçãoantes que seja reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, j. 27/03/20. STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905). [footnoteRef:122] [122: (DPEPI-2022-CESPE): À luz do sistema brasileiro de controle de constitucionalidade e da jurisprudência do STF, assinale a opção correta: O regular processamento de ação direta de inconstitucionalidade (ADI) depende da apresentação de procuração com poderes específicos pelo advogado signatário da petição inicial, não bastando procuração genérica sem a indicação da lei ou do ato que se pretende impugnar. BL: Info 905, STF.] 1.2. Legitimidade Ativa A legitimidade ativa entre ADI, ADC e ADPF é exatamente a mesma: CF/88, Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) V o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. § 1º O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.[footnoteRef:123] [123: (TJMA-2008): O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do STF, o qual também pode propor ações diretas de inconstitucionalidade ou ações declaratórias de constitucionalidade. BL: art. 103, inciso VI e §1º da CF/88.] § 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias. § 3º Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto impugnado. A legitimidade ativa foi alterada pela CF/88, a qual ampliou o rol de legitimados previstos no art. 103 da CF/88. Antes da CF/88, apenas o Procurador-Geral da República poderia propor a única ação existente de controle concentrado-abstrato (representação de inconstitucionalidade – atualmente chamada de ADI).[footnoteRef:124] Na época, o PGR não era apenas o Chefe do MPU, como é atualmente, e exercia também a função atualmente desempenhada pelo Advogado-Geral da União. E mais: além de defender o governo, o PGR era demissível “ad nutum” pelo Presidente da República, colocando sua independência e imparcialidade em xeque. Com a CF/88 o PGR passou a exercer apenas a função de chefe do MPU e a função de AGU foi atribuída a outro órgão. [124: (TRF4-2014): Assinale a alternativa correta: No regime constitucional anterior à Constituição Federal de 1988, o único legitimado para propor a ação direta de inconstitucionalidade era o Procurador-Geral da República.] Além disso, a CF/88 ampliou o rol de legitimados. Essa ampliação trouxe uma série de efeitos, entre os quais o surgimento do fenômeno da judicialização da política (v.g., qualquer partido, mesmo que com apenas um representante, pode ir ao judiciário) e das relações sociais (v.g. Conselho Federal da OAB e Conselhos de Classe podem recorrer ao STF). O rol de legitimados deve ser interpretado restritivamente (numerus clausus). Portanto, não deve ser interpretado extensivamente, assim como, não é possível incluir, por analogia, legitimados que não estejam previstos no dispositivo constitucional.[footnoteRef:125] Nesse sentido, vejamos o teor de trecho de julgado do STF: [125: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPGO-2016.] “(...) A jurisprudência deste Tribunal se consolidou no sentido de que o rol de legitimados ativos à propositura das ações de controle concentrado de constitucionalidade é taxativo (art. 103 da C/88), não alcançando os conselhos profissionais.” (AgR ADC 34 DF). No controle concentrado-abstrato, por ser tratar de um processo constitucional objetivo, a lei e o regimento interno do STF, não admitem: · Desistência (o requerente não é titular da supremacia da Constituição; vide art. 5º da Lei 9.868/99).[footnoteRef:126] [126: (TJRJ-2011-VUNESP): Em se tratando de ADI, o STF firmou o entendimento de que ação dessa natureza não é suscetível de desistência. BL: art. 5º desta Lei.] · Assistência (vedada expressamente pelo Regimento Interno do STF). · Intervenção de terceiros (vedada expressamente pela Lei 9.868/99, art. 7º)[footnoteRef:127]. [127: #Atenção: #STF: #TJAC-2019: #VUNESP: “Recurso interposto por terceiro prejudicado. Não cabimento. Procedentes. Embargos de declaração opostos pela OAB. Legitimidade. Questão de ordem resolvida no sentido de que é incabível a interposição de qualquer espécie de recurso por quem, embora legitimado para a propositura da ação direta, nela não figure como requerido” (STF. Plenário. ADI 1.105 MC-ED-QO, rel. Min. Maurício Corrêa, j. 23.08.2001).] #Obs.: Controvérsia doutrinária sobre o “amicus curiae”: Sendo certa a admissão dele (art. 7, §2º, Lei 9.868/99), há duas interpretações possíveis: · Se considerar que o “amicus curiae” é espécie de intervenção de terceiros: trata-se de exceção à regra. → Entendimento majoritário.[footnoteRef:128] Trata-se de uma intervenção anômala ou sui generis entre os Ministros do STF. [128: (TJDFT-2012): Embora não seja admitida a intervenção de terceiros no processo da ADI, o STF vem permitindo o “amicus curiae”, para possibilitar à sociedade um mais amplo debate da questão constitucional. BL: art. 7º,§2º da Lei 9.868/99. #Atenção: Uma das características do controle concentrado de constitucionalidade é a inadmissibilidade de intervenção de terceiros (art. 7º, caput desta Lei). Mas o relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades (art. 7º, §2º desta Lei), o que abre espaço para a figura do amicus curiae, conforme já decidiu o STF na ADI 2238. Assim, pode-se dizer que a atuação do amicus curiae tem natureza sui generis.] · Se considerar que o “amicus curiae” não é espécie de intervenção de terceiros: não é exceção à regra. #Obs.: Em relação aos legitimados, o STF estabelece uma distinção entre legitimados universais e legitimados especiais, a fim de perquirir a necessidade de pertinência temática. Não há previsão legal desta distinção, consubstanciando-se em uma jurisprudência defensiva. · LEGITIMADO ATIVO UNIVERSAL: Não precisa demonstrar pertinência temática. Assim, poderá questionar qualquer lei ou ato normativo sem ter que demonstrar para o STF o nexo de causalidade entre o conteúdo do objeto impugnado e o interesse por ele representado (v.g. Presidente da República). · LEGITIMADO ATIVO ESPECIAL: Precisa demonstrar pertinência temática, ou seja, precisa demonstrar o nexo entre o conteúdo do objeto impugnado e suas finalidades ou interesses (do legitimado) (v.g. Governador e Estado-Membro). #Questiona-se: O Governador pode questionar uma lei de outro Estado-Membro, visto que é necessário existir pertinência temática? Sim, desde que ele demonstre que a lei do outro Estado-Membro viola o interesse do Estado por ele representado. Ex.: Questionar norma de outro Estado-Membro que reduziu alíquota de imposto, prejudicando a arrecadação de seu Estado-Membro. 1.2.1. Legitimados Ativos Universais São os legitimados ativos universais: (i) Presidente da República; (ii) Mesa do Senado Federal; (iii) Mesa da Câmara dos Deputados; (iv) Procurador-Geral da República; (v) Conselho Federal daOAB; (vi) Partidos políticos com representação no Congresso Nacional.[footnoteRef:129] [129: (PGERS-2015-Fundatec): No que tange à legitimidade ativa para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade, a Constituição Federal de 1988: Expandiu o rol dos legitimados para agir, antes restrito apenas ao Procurador-Geral da República, atribuindo ao Conselho Federal da OAB e a partido político com representação no Congresso Nacional legitimação ativa universal, conforme jurisprudência do STF. (MPPR-2008): De acordo com a jurisprudência consolidada pelo STF, são considerados “legitimados universais” para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade perante aquele Tribunal: Apenas o Presidente da República, o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados e o partido político com representação no Congresso Nacional.] 1.2.1.1. Presidente da República O rol de legitimados, como já referido, é de numerus clausus, de modo que, em tese, o Vice-Presidente da República não poderia ser legitimado.[footnoteRef:130] [130: (PCPR-2007-UFPR): Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade as pessoas e órgãos adiante nominados, EXCETO: o Vice-Presidente da República.] #Questiona-se: O Vice-Presidente da República possui legitimidade para ajuizar ADI, ADO e ADPF? DEPENDE. Se o Vice-Presidente estiver no exercício da Presidência da República, é perfeitamente possível, pois ajuizará as respectivas ações não como Vice-Presidente, mas como Presidente da República em exercício. No entanto, se estiver atuando como Vice-Presidente, a resposta é negativa. Destaque-se que a legitimidade deve ser aferida no momento da propositura. O mesmo raciocínio é aplicado aos Governadores de Estado. Logo, Vice-Presidente da República só tem legitimidade para ajuizar essas ações quando estiver no exercício da Presidência. 1.2.1.2. Mesa do Senado Federal A mesa é o órgão diretivo da Casa. 1.2.1.3. Mesa da Câmara dos Deputados A mesa é o órgão diretivo da Casa. #Questiona-se: A Mesa do Congresso Nacional (formada por membros da Mesa do Senado e membros da Mesa da Câmara) possui legitimidade ativa? Não, visto que o rol do art. 103 da CF/88 é de numerus clausus, devendo a interpretação deve ser restritiva. 1.2.1.4. Procurador-Geral da República 1.2.1.5. Conselho Federal da OAB Destaque-se ser o único Conselho Federal que possui essa legitimidade.[footnoteRef:131] Os demais Conselhos não a possuem (ADI n. 641-MC). [131: (Cartórios/TJRS-2019-VUNESP): No que diz respeito ao controle de constitucionalidade brasileiro, é correto afirmar sobre a pertinência temática na ação direta de inconstitucionalidade (ADI): Os partidos políticos com representação no Congresso Nacional podem ajuizar a ADI, independentemente de seu conteúdo material, eis que não incide sobre as agremiações partidárias a restrição da pertinência temática. BL: art. 2º, VIII da Lei 9868 e art. 103, VIII, CF. (PCMG-2018-Fumarc): Segundo precedentes do Supremo Tribunal Federal, a comprovação da relação de pertinência temática em ação direta de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade NÃO é exigida para o Conselho Federal das Ordem dos Advogados do Brasil. BL: art. 2º, VII Lei 9868 e art. 103, VII, CF. (TJMS-2015-VUNESP): Segundo a CF/88 e a jurisprudência do STF, são dois exemplos de legitimados universais para a propositura da ação declaratória de constitucionalidade: o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e os partidos políticos com representação no Congresso Nacional. BL: art. 2º, VII e VIII da Lei 9868 e art. 103, VII e VIII, CF. (TJGO-2009-FCC): Conforme a disciplina do controle de constitucionalidade no ordenamento jurídico brasileiro, o Conselho Federal da OAB pode propor ADI, ADC e ADPF, perante o STF, sem exigência de pertinência temática. BL: art. 103, VII, CF.] 1.2.1.6. Partidos políticos Os partidos políticos estão condicionados a possuir representação no Congresso Nacional. A legitimidade do partido político deve ser aferida no momento da propositura da ação (ADI 2618-Agr-Agr). Se perder o representação no Congresso Nacional, a ação continua em regular trâmite. Em outros termos, a perda superveniente de representação no Congresso Nacional não obsta a continuidade da ação.[footnoteRef:132] [132: (TJAC-2019-VUNESP): Assinale a alternativa que está de acordo com o direito pátrio no que tange ao controle de constitucionalidade concentrado: A perda superveniente A perda superveniente de representação parlamentar de Partido Político não o desqualifica para permanecer no polo ativo da ação direta de inconstitucionalidade. #Atenção: #STF: #TRF2-2014: #MPSP-2019: #TJPR-2021: #FGV: Conforme o STF, “Partido político. Legitimidade ativa. Aferição no momento da sua propositura. Perda superveniente de representação parlamentar. Não desqualificação para permanecer no polo ativo da relação processual. Objetividade e indisponibilidade da ação” (ADI 2.618 AgR-AgR, rel. min. Gilmar Mendes, j. 12/8/04). (Analista/EBC-2011-CESPE): A aferição da legitimidade do partido político para a propositura de uma ação direta de inconstitucionalidade deve ser feita no momento da propositura da ação, sendo irrelevante a ulterior perda de representação no Congresso Nacional.] #Atenção: Devemos lembrar que tal situação se diferencia do Mandado de Segurança, proposto por parlamentar no controle preventivo de constitucionalidade junto ao Poder Judiciário: Nesse caso, trata-se de direito subjetivo do parlamentar ao devido processo legislativo constitucional, de modo que a perda superveniente de mandato enseja a falta de interesse de agir. Por outro lado, como já referido acima, a legitimidade dos partidos políticos refere-se à ADI, ADC e ADPF, que é um processo constitucional objetivo. O partido não defende interesse dele, mas sim a supremacia da Constituição. 1.3. Legitimados Especiais (não-universais)[footnoteRef:133] [133: (MPSP-2012): Em relação à legitimidade para propositura de ação direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal exige a comprovação da presença de pertinência temática, por parte dos seguintes colegitimados: Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Governador do Estado ou do Distrito Federal e confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.] São os legitimados ativos especiais: (i) Governadores; (ii) Mesas das Assembleias Legislativas e da Câmara Legislativa; (iii) Confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional. Esses legitimados precisam demonstrar a pertinência temática.[footnoteRef:134] Acerca da pertinência temática, vejamos o seguinte julgado do STF: [134: (TJDFT-2007): Assinale a alternativa correta acerca da ação direta de inconstitucionalidade: segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a relação de pertinência temática entre o objeto da ADI e a atividade da entidade de classe de âmbito nacional também deve ser demonstrada na ação proposta pelo Governador de Estado que impugna ato normativo de outro Estado. #Atenção: O Governador de um Estado poderá impugnar ato normativo de outro Estado, desde que comprove a pertinência temática, isto quer dizer que a referida norma poderá interferir em outro Estado. No caso de ICMS, o Estado de São Paulo poderá impugnar uma lei estadual do Pará que tenha causado mesmo que indiretamente prejuízo. ] AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONFEDERAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO BRASIL (CSPB) - AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE ATIVA "AD CAUSAM" POR FALTA DE PERTINÊNCIA TEMÁTICA - INSUFICIÊNCIA, PARA TAL EFEITO, DA MERA EXISTÊNCIA DE INTERESSE DE CARÁTER ECONÔMICO-FINANCEIRO - HIPÓTESE DE INCOGNOSCIBILIDADE - AÇÃO DIRETA NÃO CONHECIDA. - O requisito da pertinência temática - que se traduz na relação de congruência que necessariamente deve existir entre os objetivos estatutários ou as finalidades institucionais da entidade autora e odo controle de constitucionalidade. #Atenção: Existem três tratados internacionais aprovados no Brasil nesses moldes: · A Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência; · O Protocolo Facultativo à proteção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Convenção de Nova Iorque); e · O Tratado de Marraqueche (dá direito às pessoas com deficiência visual de terem livros impressos escritos em plataformas legíveis por tais pessoas, em detrimento dos direitos autorais dos autores e editoras). [footnoteRef:9] [9: (DPEPR-2017-FCC): De acordo com o posicionamento do STF sobre a hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos, consideram-se como tratados de hierarquia constitucional: 1) Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu respectivo Protocolo Facultativo − Convenção de Nova Iorque e; 2) Tratado de Marraqueche para facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para aceder ao texto impresso. #Atenção: O Tratado de Marraqueche foi aprovado pelo Congresso Nacional com status de emenda pelo Decreto Legislativo 261/15, em setembro de 2015, sendo ratificado em 11 de dezembro de o 2015. Ainda aguarda-se a promulgação do Tratado. (ACR, 2017, p. 282/283). Sendo assim, o Brasil aprovou o Tratado de Marraqueche na forma qualificada prevista no § 3º do artigo 5º da Constituição Federal, conforme o Projeto de Decreto Legislativo 347/15 do Senado Federal (57/15, na Câmara dos Deputados). Com o vigor internacional do Tratado, o Brasil passa a ter mais um instrumento com equivalência de emenda constitucional — o terceiro tratado com nível hierárquico formalmente constitucional no Brasil, que vem somar-se à Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e pelo seu Protocolo Facultativo, ambos aprovados por maioria congressual qualificada em 2009 (promulgados pelo Decreto 6.949/09). (MPSP-2013): O Decreto Legislativo n.º 186, de 09 de julho de 2008, aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007. O Decreto n.º 678, de 6 de novembro de 1992, promulgou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.Tais normas ingressaram no ordenamento jurídico brasileiro com o grau hierárquico de norma constitucional e norma supralegal, respectivamente. #Atenção: A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em março de 2007 trata-se DE NORMA CONSTITUCIONAL, posto que FOI APROVADA PELO QUORUM QUALIFICADO DE EMENDA CONSTITUCIONAL, previsto no art. 5º § 3º da CF/88. Já a Convenção Americana de Direitos Humanos, como NÃO FORA APROVADA PELO QUORUM QUALIFICADO, trata-se de NORMA SUPRALEGAL, isto é, acima, da lei, mas abaixo da CF/88, consoante entendimento do STF. Porém, há doutrina que entende que os tratados internacionais de Direitos Humanos, MESMO QUE NÃO APROVADOS PELO QUORUM QUALIFICADO DE EMENDA CONSTITUCIONAL, tem status DE NORMA CONSTITUCIONAL, consoante art. 5º, §3º DA CF/88.] #Atenção: Tripla hierarquia dos Tratados Internacionais: O STF a partir do RE 466.343/SP determinou que os Tratados Internacionais possuem tripla hierarquia. Os de maior hierarquia são os de direitos humanos aprovados na forma do §3º art. 5º da CF/88, que possuem o mesmo patamar da Constituição Federal. Abaixo deles estão os Tratados sobre Direitos Humanos que não foram aprovados na forma citada, tendo status supralegal, como o Pacto de São José da Costa Rica. Eles estão abaixo da CF e acima das leis. Há ainda os tratados internacionais que não são de direitos humanos, que tem status de leis ordinárias. Tal raciocínio pode ser resumido no quadro abaixo extraído do site do professor Márcio Cavalcante, do Dizer o Direito, que apresenta, de forma detalhada, a natureza jurídica e a equivalência da espécie normativa dos tratados internacionais promulgados pelo Brasil: Qual é a natureza jurídica dos tratados internacionais promulgados pelo Brasil? Os tratados internacionais são equivalentes a que espécie normativa? 1) Tratados internacionais que não tratem sobre direitos humanos Status de lei ordinária 2) Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos, mas que não tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88 Status supralegal 3) Tratados internacionais sobre Direito Tributário (art. 98 do CTN) Status supralegal 4) Tratados internacionais sobre matéria processual civil (art. 13 do CPC/2015) Status supralegal 5) Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos e que tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88 Emenda constitucional #Atenção: #STF: #DOD: Segundo o STF, não se admite ADI contra lei que teria violado tratado internacional não incorporado ao ordenamento brasileiro na forma do art. 5º, § 3º da CF/88: Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado internacional. Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de controle concentrado de constitucionalidade. Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do § 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional. STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/8/2017 (Info 872). [footnoteRef:10] [10: #Atenção: Tema cobrado na prova do TJMA-2022 (CESPE).] O STF, em relação ao julgado acima, não conheceu da ADI proposta contra a referida lei estadual porque a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias (Decreto 87.566/1982) não trata sobre direitos humanos e, portanto, possui status de lei ordinária em nosso país. Logo, o autor estava alegando, em uma ADI, que uma lei estadual teria violado uma norma com status de lei ordinária federal. Isso não é matéria de ADI. Nas palavras do STF, “não se admite o exame de contrariedade à norma infraconstitucional em sede de controle concentrado de constitucionalidade”. #Atenção: Registre-se que todos os tratados internacionais sobre Direitos Humanos são paradigmas do controle da convencionalidade das leis - não apenas a CADH. –, compreendendo uma modalidade parecida com o controle de constitucionalidade, como medida apta a aferir a consonância das normas aos tratados internacionais com status de emenda constitucional ou de supralegalidade. Existem duas situações: · 1ª) Controle CONCENTRADO de Convencionalidade: requer-se que o tratado tenha equivalência de emenda constitucional, caso contrário, não será apreciado pelo STF. Temos tratados aprovados com essa equivalência pelo Brasil: a) A convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência; b) O Protocolo dos Direitos das Pessoas com Deficiência; e b) O Tratado de Marrakesh. Pode-se utilizar todas as ações do controle abstrato para invalidar leis federais ou estaduais que violem os tratados internacionais de Direitos Humanos constitucionalizados (ex.: ADI; ADCON; ADPF). · 2ª) Controle DIFUSO de Convencionalidade: todos os juízes podem exercer. Tem como base TODOS os tratados de direitos humanos, sejam tratados supralegais, sejam os com status de emendas, sejam aprovados pela sistemática do art. 5º, §2º ou art. 5º, §3º da CF. Desse modo, quaisquer tratados de direitos humanos possuem status especial no direito brasileiro, acima das leis ordinárias e, portanto, serão paradigmas de controle pela via difusa. Além disso, os tratados sobre direitos humanos não se contentam em aplicar sempre o tratado. Assim, havendo norma mais benéfica ao indivíduo, aplica-se a norma mais benéfica, isto é, no controle difuso de convencionalidade opera sempre que o tratado internacional for mais benéfico ao cidadão, independe o status de tratado sobreconteúdo material da norma questionada em sede de controle abstrato - foi erigido à condição de pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa "ad causam" para efeito de instauração do processo objetivo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. STF. Plenário. ADI 1157 MC, Min. Rel. Celso de Mello, j. 01/12/94.[footnoteRef:135] [135: (MPRO-2008-CESPE): Acerca do controle da constitucionalidade, assinale a opção correta: O requisito da pertinência temática foi erigido à condição de pressuposto qualificador da própria legitimidade ativa ad causam para efeito de instauração do processo objetivo de fiscalização concentrada de constitucionalidade. BL: Entend. Jurisprud.] #Obs.: O professor Marcelo Novelino entende ser a necessidade de demonstração da pertinência temática incoerente com a finalidade do processo constitucional objetivo (proteger a supremacia da constituição). 1.3.1. Governadores Tanto dos Estados quanto do Distrito Federal. Sobre o assunto, vejamos o seguinte julgado: O Governador de Estado precisa demonstrar a pertinência temática na arguição de inconstitucionalidade (STF. Plenário. ADI 902-MC/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 3.3.94). #Atenção: #STF: #PGEES-2023: #CESPE: De acordo com o STF, o Governador do Distrito Federal possui legitimidade para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade contra ato normativo, editado pela União, a versar remuneração de integrantes de carreiras de órgãos cujos serviços são prestados à população local. STF. Plenário. ADI 4507, Rel. Min. Cármen Lúcia, Rel. p/ Acórdão: Marco Aurélio, j. 05/08/20. #Atenção: #DOD: #STF: #TRF4-2022: Procurador público possui capacidade postulatória para interpor recurso extraordinário em ação de controle concentrado de constitucionalidade, desde que o legitimado tenha outorgado poderes: Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em que o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 4/6/20 (Info 980). #Atenção: #DOD: #STF: #TRF4-2022: O Procurador da Câmara Municipal dispõe de legitimidade para interpor recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça proferido em representação de inconstitucionalidade em defesa de lei ou ato normativo estadual ou municipal: Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. STF. 2ª T. RE 1126828 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, j. 4/2/20 (Info 965). #Atenção: #DOD: #STF: #TJAC-2019: #TJMT-2019: #Cartórios/TJRS-2019: #TRF4-2022: #TJDFT-2023: #Cartórios/TJSC-2023: #PGEES-2023: #CESPE: #FCC: #VUNESP: O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade: O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em sede de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada pelo respectivo Governador. A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como legitimado pelo art. 103 da CF). Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos processuais em sede de controle concentrado de constitucionalidade. STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 05/04/18 (Info 896).[footnoteRef:136] (...) “Embora dos legitimados especiais, como o Governador de Estado, devam comprovar a pertinência temática, “os Estados-membros da Federação não estão no rol dos legitimados a agir como sujeitos processuais em sede de controle concentrado de constitucionalidade, sendo indevida, no modelo de processo objetivo, a intervenção de terceiros subjetivamente interessados no feito” STF. Plenário. ADI 3.013 ED-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, j. 31/05/06. [136: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TJAC-2019 (VUNESP); ii) MPMT-2019 (FCC); iii) Cartórios/TJRS-2019 (VUNESP); iv) TRF4-2022; v) TJDFT-2023 (CESPE).] #Atenção: #STF: #MPMG-2021: #PGEES-2023: #CESPE: Os governadores dos estados e do DF, as Mesas das Assembleias Legislativas ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal as confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional são designados como legitimados especiais. Isso significa que, ao ajuizar uma ADI, eles precisam demonstrar o efetivo interesse na declaração de inconstitucionalidade da norma. Esse interesse é chamado de pertinência temática, que é definida pelo STF como “a existência de correlação direta entre o objeto do pedido de declaração de declaração de inconstitucionalidade e os objetivos instituições do legitimado especial”. STF, Plenário. ADI 4474 AgR, Rel. Min. Alexandre De Moraes, j. 18/12/17. #Atenção: #STF: #TRT8-2015: #PGM-Salvador/BA-2015: #PCPA-2016: #PCPE-2016: #Cartórios/TJRS-2019: #MPMG-2021: #PGEES-2023: #CESPE: #VUNESP: O Governador de um Estado pode impugnar lei de outro Estado, desde que demonstre que há uma repercussão do ato para os interesses do seu Estado em razão da exigência de pertinência temática. Portanto, em se tratando de impugnação a diploma normativo a envolver outras Unidades da Federação, o Governador há de demonstrar a pertinência temática, ou seja, a repercussão do ato considerados os interesses do Estado. STF. Plenário. ADI 2747, Rel. Marco Aurélio, j. 16/05/07. #Atenção: #STF: #DOD: #PGEAL-2021: #Cartórios/TJSC-2023: #PGEPA-2023: #CESPE: Governador de Estado afastado do cargo não pode propor ADI: Governador de Estado afastado cautelarmente de suas funções — por força do recebimento de denúncia por crime comum — não tem legitimidade ativa para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário. ADI 6728 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 30/4/21 (Info 1015) 1.3.2. Mesas das Assembleias Legislativas e da Câmara Legislativa 1.3.3. Confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional Quanto as entidades de classe, o STF entende que elas só têm legitimidade se forem representativas de UMA determinada categoria profissional ou econômica. Exemplos: (i) CUT e CGT não possuem legitimidade para propor ADI, ADC e ADPF, pois não representam uma categoria profissional, mas sim várias categorias. Não há homogeneidade de interesses (STF, ADI, 271). (ii) No mesmo sentido, a UNE também não possui legitimidade para propor ADI, ADC e ADPF, pois ela não representa uma categoria profissional ou econômica, mas sim uma categoria social. Ademais, a Constituição exige que as entidades de classe sejam DE ÂMBITO NACIONAL. Como a CF/88 e a lei não dizem o que é “âmbito nacional”, o STF aplica, por analogia, a legislação eleitoral. O partido político para ter caráter nacional deve estar presente em pelo menos 1/3 dos Estados da Federação brasileira. Portanto, para ser considerada de âmbito nacional a entidade de classe deve estar presente em pelo menos 1/3 dos Estados da Federação (é a regra – ADI n. 3850-AgR). Temos uma exceção, abaixo analisada. #Exceção (ADI n. 2866-MC): Ajuizada pela Abersal (Associação Brasileira dos Extratores e Refinadores de Sal). A Abersal não possui representantes em nove Estados, pois não são todos os Estados-Membros produtores de sal, apenas os Estados costeiros. Neste caso ela foi admitida como legitimada porque o STF entendeu que, embora a entidade não cumprisse o requisito previsto em Lei e aplicado por analogia, a atividade possuía relevância nacional da atividade. #Atenção: #STF: #DOD: A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) possui legitimidade para propor ADI contra ato normativo que previa que a competência para autorizar o pedido de trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. A ABERT enquadra-se no conceito de entidade de classe de âmbito nacional (art. 103, IX, CF) e possui pertinência temáticapara questionar ato normativo que versa sobre esse tema, considerando a participação de crianças e adolescentes nos programas de suas associadas. STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27/9/18 (Info 917). #Obs.: Confederação sindical é sempre de âmbito nacional. Um terceiro aspecto importante é o de que o STF só admitia entidades de classe formadas por pessoas físicas, ou seja, não admitia entidades formadas por pessoas jurídicas (“associação de associações”, também denominadas de “fundações nacionais das associações”). O entendimento foi alterado, de modo que ATUALMENTE a jurisprudência do STF admite que associações formadas por pessoas jurídicas possam propor ADI, ADC e ADPF.[footnoteRef:137] Vejamos o seguinte julgado do STF: [137: #Atenção: Tema cobrado na prova do TRF5-2013 (CESPE).] Ação direta de inconstitucionalidade: legitimação ativa: "entidade de classe de âmbito nacional": compreensão da "associação de associações" de classe: revisão da jurisprudência do Supremo Tribunal. 1. O conceito de entidade de classe é dado pelo objetivo institucional classista, pouco importando que a eles diretamente se filiem os membros da respectiva categoria social ou agremiações que os congreguem, com a mesma finalidade, em âmbito territorial mais restrito. 2. É entidade de classe de âmbito nacional - como tal legitimada à propositura da ação direta de inconstitucionalidade (CF, art 103, IX) - aquela na qual se congregam associações regionais correspondentes a cada unidade da Federação, a fim de perseguirem, em todo o País, o mesmo objetivo institucional de defesa dos interesses de uma determinada classe. 3. Nesse sentido, altera o Supremo Tribunal sua jurisprudência, de modo a admitir a legitimação das "associações de associações de classe", de âmbito nacional, para a ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário. ADI 3153 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Rel. Min. p/ Ac. Sepúlveda Pertence, j. 12/08/2004. #Atenção: #PGERS-2011: #TJRS-2012: #TJMA-2013: #DPERS-2014: #Cartórios/TJDFT-2014: #TRF1-2015: #PGEMS-2016: #PGEPB-2021: #PFN-2023: #CESPE: #FCC: Sobre os legitimados em geral (CF, art. 103), não possuem capacidade postulatória, isto é, precisam ser representados por advogado: (i) Partidos políticos;[footnoteRef:138] [138: (TJMA-2013-CESPE): À luz da jurisprudência do STF, assinale a opção correta em relação ao exercício do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade: Para ajuizar ação declaratória de constitucionalidade, o partido político com representação no Congresso Nacional deve estar representado por advogado.] (ii) confederações sindicais; e (iii) entidades de classe de âmbito nacional.[footnoteRef:139] [139: (TJRS-2012): Com exceção de confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional e de partidos políticos com representação no Congresso Nacional, todos os demais legitimados para propor ação direta de inconstitucionalidade dispõem de capacidade postulatória especial, podendo praticar, no processo, quaisquer atos ordinariamente privativos de advogados.] #Questiona-se: O CFM (“Conselho Federal de Medicina”.) possui legitimidade para ajuizar ADC? NÃO. Essa pergunta foi cobrada na prova da 2ª Fase do concurso da AGU. A banca deu como resposta o seguinte: “O CFM, por não ser entidade de classe, mas uma entidade de fiscalização profissional, não é legitimado para propor ADC, pois, conforme previsto no art. 103 da CF, o rol dos legitimados para propor ADC é taxativo e não inclui esse tipo de entidade de fiscalização. Nessa lógica, destacou-se que: “De fato, jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal fixou-se no sentido de que os conselhos de fiscalização de classe não detêm legitimidade para o ajuizamento das ações de controle concentrando, por serem entidades autárquicas, detentoras, portanto, de personalidade jurídica de direito público, não se enquadrando no conceito de 'entidade de classe de âmbito nacional' constante artigo 103 (inciso IX) da Constituição Federal". A única exceção, entre os conselhos de classe, é o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em virtude de menção expressa na CF. Assim, não se mostra viável a ADC apresentada, por ilegitimidade ativa ad causam. Nesse sentido, a ADI 641 MC, Rel. para Acordão Min. Marco Aurélio, DJ 12/03/93; ADI 1997, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 8/6/99.”[footnoteRef:140]-[footnoteRef:141] [140: (TJPA-2014-VUNESP): Conselho Federal de Medicina propõe Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) que tem por objeto Emenda à Constituição. Segundo o entendimento do STF, a referida ação: não deverá ser conhecida sob o fundamento de que o Conselho Federal de Medicina não se enquadra na previsão constitucional relativa às entidades de classe de âmbito nacional.] [141: #Atenção:Tema cobrado nas provas: i) MPGO-2016; ii) TJES-2023 (FGV).] #Atenção: A entidade de classe de âmbito nacional, por ser um legitimado especial, deverá provar que a legislação questionada guarda relação de pertinência temática com as finalidades institucionais dessa entidade (STF. Plenário. ADI 2903, Rel. Min. Celso de Mello, j. 01/12/2005). #Atenção: #STF: #DOD: #PGECE-2021: #PGEPB-2021: #MPF-2022: #Cartórios/TJSC-2023: #PFN-2023: #CESPE: #CESPE: Para ser considerada entidade de classe de âmbito nacional e, assim, ter legitimidade para propor ações de controle abstrato de constitucionalidade, é necessário que a entidade possua associados em pelo menos 9 Estados-membros: A CF/88 e a lei preveem que a “entidade de classe de âmbito nacional” possui legitimidade para propor ADI, ADC e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que apenas as entidades de classe com associados ou membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação de controle abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei 9.096/95). STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski, j. 05/08/20 (Info 988 – clipping). #QUADRO-RESUMO: Legitimados ativos da ADI e ADC UNIVERSAIS (NEUTROS) ESPECIAIS (NÃO UNIVERSAIS) São aqueles que podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que versem sobre qualquer matéria, sem a necessidade de comprovar interesse específico no julgamento da ação. São aqueles que somente podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que tratem sobre matérias que digam respeito às funções ou objetivos do órgão ou entidade. O autor especial terá que provar o seu interesse específico no julgamento daquela ação. Terá que ser provada a pertinência temática entre a norma impugnada e os objetivos do autor da ação. Quem são os legitimados universais: • Presidente da República; • Mesa do Senado e Mesa da Câmara; • Procurador-Geral da República; • Conselho Federal da OAB • Partido político com representação no CN. Quem são os legitimados especiais: • Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; • Governador de Estado/DF; • Confederação sindical; • Entidade de classe de âmbito nacional. 2. PARÂMETRO O parâmetro é a norma da constituição supostamente violada. 2.1. Causa de Pedir Aberta Antes de analisarmos o parâmetro específico das ADI, ADC e ADPF, deve ser destacado que a causa de pedir nos processos constitucionais objetivos É ABERTA. A causa de pedir é a suposta violação de um determinado dispositivo da constituição. O fato da causa de pedir ser aberta significa o STF pode analisar a ação tendo como parâmetro não só o dispositivo indicado na inicial, mas toda a Constituição Federal. Em outras palavras, o STF não é vinculado ao parâmetro invocado pelo legitimado.[footnoteRef:142] Vejamos as seguintes do STF: [142: (DPECE-2008-CESPE):O STF pode decidir ação direta de constitucionalidade por outros fundamentos ainda que não alegados na petição inicial em razão da causa de pedir aberta.] ADI 3.576/RS: […] ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 155, § 2º, XII, G, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INOCORRÊNCIA. CAUSA DE PEDIR ABERTA. ART. 167, IV, DA CARTA MAGNA. (...) O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor. Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta. Isso significa que todo e qualquer dispositivo da CF ou do restante do bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional. STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 8/3/17 (Info 856).[footnoteRef:143] [143: #Atenção: Tema cobrado nas provas i) TJRJ-2019 (VUNESP); ii) PGEPB-2021 (CESPE); iii) TJES-2023 (FGV).] #Atenção: #STF: #MPSP-2019: #TJES-2023: #FGV: Vejamos o seguinte julgado do STF: (...) Ação direta de inconstitucionalidade. Objeto abrangido por ação anterior intentada pela mesma parte. Causa de pedir aberta das ações de controle concentrado. Desnecessidade de nova impugnação ao mesmo ato normativo quando possível declinar os mesmos fundamentos em ação já em curso no supremo tribunal federal. Litispendência parcial. 1. A causa de pedir aberta das ações do controle concentrado de constitucionalidade torna desnecessário o ajuizamento de nova ação direta para a impugnação de norma cuja constitucionalidade já é discutida em ação direta em trâmite perante o STF, proposta pelo mesma parte processual. (...) STF. Plenário. ADI 5749 AgR, Min. Rel. Alexandre de Moraes, j. 09/02/18.[footnoteRef:144] [144: (MPSP-2019): Assinale a alternativa correta: A causa de pedir aberta das ações do controle concentrado de constitucionalidade torna desnecessário o ajuizamento de nova ação direta para a impugnação de norma cuja constitucionalidade já é discutida em ação direta em trâmite, proposta pela mesma parte processual.] #Atenção: #DOD: #STF: #PGEPB-2021: #DPEPI-2022: #TJDFT-2023: #CESPE: É possível o aditamento da petição inicial da ADI para a inclusão de novos dispositivos legais? Não é admitido o aditamento à inicial da ação direta de inconstitucionalidade após o recebimento das informações dos requeridos e das manifestações do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. STF. Plenário. ADI 4541/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/4/21 (Info 1013). #Atenção: #DOD: #STF: #DPEPI-2022: #TJDFT-2023: #CESPE: O STF possui o entendimento no sentido de que o aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação: a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e b) não prejudique o cerne da ação. Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de novos dispositivos legais que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas manifestações da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os princípios da economia e da celeridade processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta, na medida em que ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, j. 20/04/20. 2.2. Parâmetro nas ADI e ADC No caso da ADI e da ADC o parâmetro é qualquer norma formalmente constitucional. Vamos relembrar: · CF/88: a parte permanente e as normas de eficácia exaurível do ADCT (o preâmbulo não pode ser invocado como parâmetro); · Princípios implícitos (ordem constitucional global); · Tratados e convenções de direitos humanos, aprovados pelo rito da CF, art. 5º, § 3º. 2.3. Parâmetro da ADPF Na ADPF o parâmetro é uma “arguição de descumprimento de preceito fundamental”. Em outras palavras, não é a norma formalmente constitucional, mas apenas àquelas normas que forem preceitos fundamentais. Por norma que constitui preceito fundamental, entende-se ser àquela norma imprescindível à identidade da Constituição e ao regime por ela adotado (José Afonso da Silva). Não existe um dispositivo da Constituição ou uma lei que defina quais seriam esses preceitos fundamentais. Diante disso, entende-se que cabe ao STF, na função de guardião da Constituição, no caso concreto, dizer se aquele dispositivo invocado pelo autor pode ou não ser enquadrado como preceito fundamental. Dentre os preceitos fundamentais, não se inclui apenas aqueles dispositivos expressos, mas também as prescrições implícitas, desde que consideradas fundamentais. Exemplos: · Princípios fundamentais (Título I da Constituição Federal); · Direitos e garantias fundamentais - em sua maioria (Título II da Constituição Federal);[footnoteRef:145] [145: (DPESP-2010-FCC): A "Constituição Dirigente" determina tarefas, estabelece metas e programas e define fins para o Estado e para a sociedade. Nesse modelo, é cabível juízo de constitucionalidade de políticas públicas que podem ser consideradas incompatíveis com os objetivos constitucionais que vinculam a ação do Estado. #Atenção: #DPESP-2010: #FCC: #TRF4-2010: #ADPF 45, STF: As Constituições dirigentes são aquelas que não apenas declaram os direitos dos cidadãos, mas que, mediante normas programáticas, implementam políticas públicas que devem ser realizadas pelo Estado, de forma que se tornem efetivos esses direitos. Uma vez implementadas as políticas públicas, estas podem vir a sofrer controle de constitucionalidade perante o STF, desde que sejam violados os direitos mínimos da pessoa, caracterizando omissão por parte do Estado que tem o dever de aplicar os direitos sociais. É o entendimento do STF, que se pode observar na ADPF nº 45. #Atenção: #DPESP-2010: #FCC: #TRF4-2010: #ADPF 45, STF: Na ADPF 45, no que tange à legitimidade constitucional do controle e da intervenção do Poder Judiciário em tema de implementação de políticas públicas, quando configurada hipótese de abusividade governamental, o rel. Min. Celso de Mello assim se manifestou: “A questão da legitimidade constitucional do controle e da intervenção do poder judiciário em tema de implementação de políticas públicas, quando configurada hipótese de abusividade governamental. Dimensão política da jurisdição constitucional atribuída ao STF. Inoponibilidade do arbítrio estatal à efetivação dos direitos sociais, econômicos e culturais. Caráter relativo da liberdade de conformação do legislador. Considerações em torno da cláusula da "reserva do possível". Necessidade de preservação, em favor dos indivíduos, da integridade e da intangibilidade do núcleo consubstanciador do "mínimo existencial". Viabilidade instrumental da arguição de descumprimento no processo de concretização das liberdades positivas (direitos constitucionais de segunda geração).”] · Princípios constitucionais sensíveis (CF, art. 34, VII – princípios que podem gerar intervenção federal no Estado-Membro, caso violados); · Cláusulas pétreas – conferem identidade à Constituição. #Obs.: Há outros “preceitos fundamentais” espalhados pela CF/88: direito à saúde, ao meio ambiente, etc. #Obs.: Na ADPF 405 MC/RJ, a Min. Rosa Weber afirmou que poderiam ser considerados preceitos fundamentais: · A separação e independência entre os Poderes; · O princípio da igualdade; · O princípio federativo; · A garantia de continuidade dos serviços públicos; · Os princípios e regras do sistema orçamentário (art. 167, VI e X, da CF/88); · O regime de repartição de receitas tributárias (arts. 34, V e 158, III e IV; 159, §§ 3º e 4º; e 160 da CF/88; · A garantia de pagamentos devidos pela Fazenda Pública em ordem cronológica de apresentação de precatórios (art. 100 da CF/88). 2.3.1. Espécies da ADPF Há duas espécies de ADPF, que não estão propriamente explicitadasna CF, mas se encontram na Lei 9.882/99 que regulamentou a ADPF. Nesse contexto, vejamos: Arguição autônoma ou direta Arguição incidental, indireta ou parelela Visa evitar ou reparar lesão a preceito fundamental da Constituição resultante de ato do Poder Público. Visa evitar ou reparar lesão a preceito fundamental da Constituição em virtude de controvérsia constitucional em relação à lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, inclusive os anteriores à Constituição. Dito de outro modo, na esfera legislativa foram consagradas duas hipóteses de cabimento: A) arguição autônoma: nas modalidades preventiva (evitar lesão) e repressiva (reparar lesão); e II) a arguição incidental. Essa espécie tem por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental resultante de ato do Poder Público (art. 1º, caput, da Lei 9.882/99). Trata-se de ação típica do controle normativo abstrato, proposta diretamente perante o STF, independentemente de qualquer controvérsia. A pretensão é deduzida em juízo mediante um processo constitucional objetivo, cuja: finalidade precípua é proteger os preceitos fundamentais ameaçados ou lesados por ato do Poder Público. [footnoteRef:146] [146: (AGU-2023-CESPE): De acordo com o entendimento do STF, o questionamento quanto à compatibilidade de lei federal editada em 1970 com a CF, em razão de ter sido verificada potencial ofensa à isonomia constitucional entre trabalhadores urbanos e rurais, é cabível mediante arguição de descumprimento de preceito fundamental autônoma, sendo prescindível a demonstração de controvérsia judicial relevante. BL: art. 1º, § único, I c/c art. 3º, V, Lei 9882. #Atenção: #TJRJ-2023: #AGU-2023: #CESPE: #VUNESP: A impugnação no controle de constitucionalidade de normas pré-constitucionais somente é cabível por meio da ADPF. Além disso, não é necessário a demonstração de controvérsia judicial relevante (art. 3º, V, Lei 9882/99). (PGM-São José do Rio Preto/SP-2023-VUNESP): A respeito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), assinale a alternativa correta: Tanto a arguição autônoma quanto a incidental podem ter por objeto qualquer ato do Poder Público, inclusive anteriores à Constituição, administrativos e jurisdicionais. BL: art. 1º, § único, I, Lei 9882. #Atenção: #TJRJ-2023: #PGM-São José do Rio Preto/SP-2023: #VUNESP: A arguição sob a forma autônoma está contida no art. 1º, caput, da Lei nº 9.882/99: "Art. 1º. A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público". A arguição autônoma tem natureza objetiva, que pode ser proposta para defesa exclusivamente objetiva contra violação de preceitos fundamentais decorrente de um ato do poder público, seja este ato federal, estadual ou municipal, conforme parágrafo único do art. 1º: "Caberá também arguição de descumprimento de preceito fundamental: I – quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição.” Este segundo caso revela a natureza subjetiva-objetiva, incidental ou indireta da arguição de descumprimento de preceito fundamental, pressupondo a existência de controvérsia sobre lei ou ato normativo, de todos os órgãos políticos autônomos, bem como dos anteriores à Constituição. Há uma aparente limitação imposta pelo inciso I, parágrafo único, do art. 1º da Lei 8.882/92, segundo o qual a ADPF incidental somente é cabível quando houver controvérsia sobre lei ou ato normativo do poder público. Entretanto, a melhor doutrina entende que o inciso I, parágrafo único, do art. 1º deve ser interpretado em conjunto com o caput do mesmo artigo, aplicando-se ambas as modalidades (autônoma e incidental) a qualquer lesão a preceito fundamental. (Fonte: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2508/A-arguicao-de-descumprimento-de-preceito-fundamental).] B) arguição incidental: Ela será cabível quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição, contestados em face de um preceito constitucional fundamental (art. 1º, § único, I, da Lei 9.882/99). Não se trata de ação autônoma, por surgir no curso de processo judicial concreto, em razão de controvérsia constitucional relevante, requisito de admissibilidade a ser comprovado quando de sua propositura (art. 3º, V, Lei 9.882/99). A arguição incidental permite que uma questão constitucional relevante envolvendo a interpretação e a aplicação de um preceito constitucional fundamental possa ter um trânsito direto e imediato de qualquer órgão judicial para o STF, desde que não tenha sido definitivamente julgada. Nesse caso, ocorrerá uma "cisão" entre a questão constitucional e as demais questões suscitadas pelas partes no caso concreto, cabendo à Corte Constitucional a apreciação apenas da primeira, uma vez que a competência para decidir acerca da pretensão deduzida continua sendo dos órgãos judiciais ordinários (CUNHA JR., 2008). A legitimidade ativa é a mesma da arguição autônoma (art. 2º, I, da Lei 9.882/99), não se admitindo o ajuizamento pelas partes envolvidas na controvérsia. 3. OBJETO O objeto é a lei ou o ato normativo impugnado. A lei ou ato normativo impugnado devem atender a certos requisitos para que possam ser objeto de ADI, ADC ou ADPF. 3.1. Pedido: Adstrito[footnoteRef:147] [147: #Atenção: Tema cobrado na prova da PGEPB-2021 (CESPE).] Antes de analisarmos o que pode ou não ser objeto, importante destacarmos que ele está relacionado ao pedido. O pedido de um processo constitucional objetivo é a declaração de (in)constitucionalidade da lei. Como o objeto principal da ação é exatamente a declaração de inconstitucionalidade para assegurar a supremacia constitucional, vale a regra da adstrição. Ou seja, se o legitimado questionou a constitucionalidade de determinado dispositivo, o STF deve ficar adstrito ao dispositivo impugnado (o STF não pode analisar a constitucionalidade de toda a lei ou de outras leis). Ex.: Se é proposta uma ADI questionando o art. 21 do CC/02, não pode o STF analisar todo o CC à luz da CF/88. #Obs.: Não devemos confundir com a causa de pedir, que está relacionada ao parâmetro e é aberta (o fato de um legitimado invocar a violação a um dispositivo da constituição não impede que o STF analise a violação de outros dispositivos constitucionais).[footnoteRef:148] [148: (MPSP-2012): No controle abstrato de constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal fica condicionado ao pedido, porém não a causa de pedir, ou seja, analisará a constitucionalidade dos dispositivos legais apontados pelo autor, porém poderá declará-los inconstitucionais por fundamentação jurídica diferenciada, não estando adstrito aos fundamentos invocados pelo autor, podendo declarar a inconstitucionalidade por fundamentos diversos dos expedidos na inicial.] → Parâmetro → Norma violada → Aberto; → Objeto → Norma violadora → Adstrito. Porém, EXISTEM DUAS EXCEÇÕES, ou seja, situações nas quais mesmo sem ter sido provocado acerca dele, o STF pode declarar o dispositivo inconstitucional: i. INTERDEPENDÊNCIA ENTRE DOIS DISPOSITIVOS: Se um dispositivo depende do outro, não tem sentido um deles ser invalidado e o outro não, só porque não houve provocação, permanecer na lei. Exemplo: Questiona-se apenas o art. 1º de uma lei, o qual é interdependente com o art. 2º. O STF pode se manifestar tanto sobre o art. 1º quanto sobre o art. 2º. ii. INCONSTITUCIONALIDADE CONSEQUENTE: A inconstitucionalidade consequente ocorre quando o vício de uma norma atinge outra dela dependente. Há uma norma inconstitucional e, por isso, ela acaba gerando também a inconstitucionalidade de outra norma que depende dela. Exemplo: É questionada uma lei e há um decreto cuja inconstitucionalidade é consequente da lei, mesmo sem ter sido provocado sobre o decreto, o STF pode declará-loinconstitucional. Em ambos os casos se utiliza da técnica da inconstitucionalidade por arrastamento ou por atração (precedente: ADI n. 4451-MC-Ref.). É uma técnica de decisão judicial. 3.2. Perspectivas A análise do objeto da ADI, ADC e ADPF deve ser feita sob três perspectivas distintas: (i) material (o conteúdo/natureza do ato); (ii) temporal (em que momento o ato foi feito – antes ou depois); (iii) espacial (de onde o ato emanou – federal, estadual ou municipal). # Atenção: A análise não se faz pelo nome. Exemplo: um decreto, ou mesmo uma portaria, podem ou não ser objeto de ADI. Quanto a perspectiva material: se qualquer deles violar diretamente a CF pode; se estiver tratando de assunto contido em decreto que, por sua vez, está tratando de assunto contido em lei, não pode. 3.2.1. ADI e ADC O objeto da ADI e da ADC está previsto no art. 102, I, a, da CF. CF, art. 102, I: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo (aspecto material) federal ou estadual (aspecto espacial) e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo (aspecto material) federal (aspecto espacial). 3.2.1.1. Perspectiva material Para que um ato possa ser objeto de ADI ou ADC, ele deve ser: (i) LEI ou ATO NORMATIVO; (ii) VIGENTE e EFICAZ; (iii) QUE VIOLE DIRETAMENTE A CONSTITUIÇÃO. · LEI: O termo “LEI” deve ser interpretado em sentido estrito, ou seja, abrange leis ordinárias e complementares. Hodiernamente, admite-se como objeto de ADI e ADC qualquer tipo de lei, com ou sem efeitos concretos. #Atenção: #STF: #TRF4-2010: #MPMG-2011: #AGU-2013: #DPEPR-2017: #MPBA-2018: #FCC: Até o julgamento da ADI n. 4048-MC, o STF não admitia como objeto leis de efeitos concretos (forma de lei, mas conteúdo de ato administrativo) (v.g. lei que concede a alguém o título de cidadão honorário: possui destinatário certo e objeto determinado).[footnoteRef:149] Desse modo, o STF passou a admitir qualquer lei, inclusive leis de efeitos concretos, isto é, que têm objeto certo e destinatário determinado. É lei formal, mas, materialmente, é um ato administrativo. Ex.: de lei orçamentária.[footnoteRef:150]-[footnoteRef:151] Quanto à lei de efeitos concretos, Celso de Barros Correia Neto[footnoteRef:152] discorre: “Durante muitos anos, prevaleceu no Supremo Tribunal Federal a orientação de que as leis de natureza orçamentária não poderiam ser submetidas ao controle abstrato de constitucionalidade. Seriam leis apenas em sentido “meramente formal” ou “de efeito concreto”, sem matéria que pudesse ser apreciada na jurisdição constitucional. (...) No precedente, o STF teve oportunidade de rediscutir os fundamentos que justificavam a orientação tradicional do Tribunal e, ao final, concluiu pelo cabimento do controle abstrato de constitucionalidade em relação às leis orçamentárias. A mesma orientação adotada na ADI 4.048 foi também aplicada no julgamento da medida cautelar na ADI 3.949 e na ADI 4.049, com relatoria dos ministros Gilmar Mendes e Ayres Britto, respectivamente.”(...). [149: (Anal. Judic./TJRJ-2014-FGV): Determinado Estado editou lei prorrogando certo contrato de concessão de serviço público, o que terminou por burlar a exigência constitucional de prévia licitação. Em situações como essa, é possível afirmar que o Supremo Tribunal Federal: realiza o controle concentrado de constitucionalidade, já que a lei é um ato de aplicação primária da Constituição, ainda que tenha efeitos concretos.] [150: #Atenção: #STF: #DOD: #MPPR-2017: #DPEPR-2017: #PGESE-2017: #MPBA-2018: #MPMS-2018: #MPTO-2022: #CESPE: #FCC: Leis orçamentárias podem ser objeto de ADI: É possível a impugnação, em sede de controle abstrato de constitucionalidade, de leis orçamentárias. Assim, é cabível a propositura de ADI contra lei orçamentária, lei de diretrizes orçamentárias e lei de abertura de crédito extraordinário. STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 10/3/16 (Info 817). ] [151: Tema cobrado nas provas: i) MPMG-2011; ii) MPF-2011; iii) AGU-2013 (CESPE); iv) MPPR-2017; v) MPBA-2018 e; vi) MPMS-2018.] [152: https://www.conjur.com.br/2013-fev-23/observatorio-constitucional-stf-orcamento-creditos-extraordinarios ] #Atenção: #DOD: #STF: #PGEGO-2021: #FCC: Lei estadual que modifique os limites geográficos de Município pode ser objeto de ADI: Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado. Tais atos normativos inovam e perpetuam-se no sistema jurídico pátrio, de modo que são passíveis de impugnação por ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz Fux, j. 15/04/20 (Info 978). #Atenção: #STF: #DOD: #PGEPB-2021: #CESPE: O fato de uma lei possuir destinatários determináveis não retira seu caráter abstrato e geral, tampouco a transforma em norma de efeitos concretos. STF. 1ª T. RE 1186465 AgR/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 8/10/19 (Info 955). [footnoteRef:153] [153: (PGEPB-2021-CESPE): A respeito da ação direta de inconstitucionalidade, assinale a opção correta, com base na CF e na jurisprudência do STF: Lei que tenha destinatários determináveis não perde seu caráter abstrato e geral, podendo, portanto, ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade. BL: Info 955, STF.] · ATOS NORMATIVOS: Os atos normativos são gerais e abstratos, com capacidade de inovar na ordem jurídica e produzidos pelos poderes públicos. São exemplos: (i) emendas à CF/88 (normas constitucionais derivadas)[footnoteRef:154]-[footnoteRef:155]; [154: (MPPR-2011): Relativamente à ação direta de inconstitucionalidade é correto afirmar: Emenda à Constituição Federal está sujeita ao controle de constitucionalidade por essa via. (TJPR-2010): Emendas à Constituição constituem obra do poder constituinte derivado reformador, que se submete a limitações diversas emanadas do Poder Constituinte Originário. Se alguma emenda constitucional for aprovada com desrespeito, formal ou material, ao comando preconizado no art. 60 da CF, deverá ser declarada inconstitucional, podendo a impugnação se dar por meio de uma ADIN genérica perante a Corte Suprema (STF). #Atenção: Em outras palavras, pode-se dizer que se admite a existência de normas constitucionais inconstitucionais, desde que não sejam originárias, mas oriundas de emendas constitucionais.] [155: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRF2-2017; ii) TRF3-2022] (ii) Medidas Provisórias; (iii) Decretos legislativos; [footnoteRef:156]-[footnoteRef:157] [156: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPGO-2022 (FGV).] [157: (TRF4-2012): Considerando os seguintes atos normativos, assinale a alternativa que relaciona aquele(s) que pode(m) ser objeto(s) de controle concentrado de constitucionalidade: O decreto legislativo ratificador de tratado internacional.] (iv) Resoluções[footnoteRef:158]-[footnoteRef:159] (ex.: Resolução do CNMP[footnoteRef:160]; Resolução do TSE[footnoteRef:161]); [158: #Atenção: Tema cobrado na prova da PF-2018 (CESPE).] [159: (Anal. Judic./STF-2013-CESPE): Cabe ação direta de inconstitucionalidade contra resolução do Senado Federal que, ao suspender a execução de lei declarada inconstitucional pelo STF, extrapole os limites da decisão a que faz referência. BL: ADI 3.929-MC, STF. #Atenção: Quando o STF, em sede de controle difuso de constitucionalidade, declara a inconstitucionalidade de uma lei, tal decisão terá, em regra, validade apenas para o caso concreto. Dizemos “em regra” porque o Senado Federal poderá expandir os efeitos dessa decisão, atribuindo-lhe eficácia “erga omnes”. Para isso, o Senado Federal tem a faculdade de editar resolução, a qual terá o condão de atribuir eficácia geral à decisão do STF, suspendendo o ato inconstitucional. Conforme afirma o enunciado, caso essa resolução extrapole os limites da decisão do STF, ela poderá ser objeto de ação diretade inconstitucionalidade. Ademais, a resolução do Senado Federal, por ser geral e abstrata, é um ato normativo federal e pode ser alvo de controle de constitucionalidade. #Atenção: Ação direta de inconstitucionalidade. Medida cautelar concedida. Referendo. Resolução 7, de 21-6-2007, do Senado Federal. Suspensão erga omnes da eficácia de todo o texto de leis relativas à cobrança do ICMS no Estado de São Paulo. Declaração de inconstitucionalidade anteriormente estendida, no exercício do controle difuso, apenas aos dispositivos que haviam prorrogado a majoração de alíquota e a sua vinculação a uma finalidade específica. Plausibilidade jurídica da alegação de ofensa ao art. 52, X, da CF. Perigo na demora igualmente demonstrado. O ato normativo impugnado, ao conferir eficácia erga omnes a um julgado singular, revela sua feição geral e obrigatória, sendo, portanto, dotado de generalidade, abstração e impessoalidade. Precedentes. O exame minucioso das decisões plenárias proferidas nos autos dos RE 183.906, 188.443 e 213.739 demonstra que a declaração de inconstitucionalidade dos atos normativos que sucederam à Lei estadual paulista 6.556/1989 alcançaram, tão somente, os dispositivos que tratavam, exclusivamente, da majoração da alíquota do ICMS e sobre a vinculação desse acréscimo percentual ao fundo criado para o desenvolvimento de determinado programa habitacional. O Senado Federal, em grande parte orientado por comunicações provenientes da Suprema Corte, acabou por retirar do mundo jurídico dispositivos das Leis paulistas 7.003/1990 e 7.646/1991, que, embora formalmente abarcados pela proclamação da inconstitucionalidade do próprio Diploma em que inseridos, em nenhum momento tiveram sua compatibilidade com a CF efetivamente examinada por este Supremo Tribunal. Plausibilidade da tese de violação ao art. 52, X, da Carta Magna. Deferimento de medida cautelar referendado pelo Plenário." (ADI 3.929-MC, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 29-8-2007, Plenário, DJ de 11-10-2007.)] [160: #Atenção: #STF: #DOD: #MPMG-2021: #MPRJ-2022: #MPPA-2023: #CESPE: #VUNESP: A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e abstrato, editado pelo Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato normativo primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no Supremo Tribunal Federal. STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 25/4/18 (Info 899).] [161: #Atenção: #STF: #DOD: É cabível ADI contra Resolução do TSE que tenha, em seu conteúdo material, “norma de decisão” de caráter abstrato, geral e autônomo, apta a ser apreciada pelo STF em sede de controle abstrato de constitucionalidade. STF. Plenário. ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/5/2018 (Info 900). #Atenção: #STF: #DOD: #PCMS-2021: #FAPEC: A Resolução do TSE pode ser impugnada no STF por meio de ADI se, a pretexto de regulamentar dispositivos legais, assumir caráter autônomo e inovador. STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).] (v) Regimentos internos dos Tribunais (desde que possuam caráter normativo e autônomo, assumem a feição de norma primária, com generalidade e abstração)[footnoteRef:162] e Regimento Interno de Assembleia Legislativa (desde que possua caráter normativo e autônomo)[footnoteRef:163]; [162: (TJMT-2018-VUNESP): Assinale a alternativa que aponta um tipo de ato ou espécie normativa que, como regra, é passível de controle abstrato de constitucionalidade: Regimentos Internos dos Tribunais.] [163: #Atenção: #STF: #DOD: Dispositivo de Regimento Interno de uma Assembleia Legislativa pode ser impugnado no STF por meio de ADI, desde que possua caráter normativo e autônomo. É o caso, por exemplo, de um artigo do Regimento Interno que preveja o pagamento de remuneração aos Deputados Estaduais em virtude de convocação para sessão extraordinária. STF. Plenário. ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 22/5/14 (Info 747)] (vi) Atos do poder executivo com força normativa; (vii) Tratados e convenções internacionais comuns; (viii) Atos primários editados por pessoas jurídicas de direito público; [footnoteRef:164] [164: (TRF1-2015-CESPE): Acerca da ADI, da ADC e da ADPF, assinale a opção correta: Podem ser objeto de ADI, entre outros, os atos normativos editados por pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federais ou estaduais. BL: art. 102, I, “a”, CF. #Atenção: Podem ser objeto de ADI, entre outros, os atos normativos editados por pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federais ou estaduais. “Os atos normativos editados por pessoas jurídicas de direito público criadas pela União, bem como os regimentos dos Tribunais Superiores, podem ser objeto do controle abstrato de normas se configurado seu caráter autônomo, não meramente ancilar. [...] Atos normativos expedidos por pessoas jurídicas de direito público estadual podem, igualmente, ser objeto de controle abstrato de normas.” (MENDES e BRANCO, 2013, p. 1121 e 1122).] (ix) Deliberações e/ou decisões proferidas em processo administrativo;[footnoteRef:165]-[footnoteRef:166] [165: #Atenção: #STF: #DOD: #MPGO-2014/2016: Decisão administrativa de TJ que estende gratificação a todos os servidores do Judiciário estadual pode ser objeto de ADI. No caso concreto, o Plenário do TJRN, em um processo administrativo envolvendo dois servidores do Poder Judiciário, reconheceu que eles teriam direito a determinada gratificação e, além disso, estendeu esse mesmo benefício para todos os demais servidores do Tribunal que estivessem em situação análoga. O STF decidiu que essa decisão administrativa poderia ser objeto de ADI porque ela teve conteúdo normativo, com generalidade e abstração. Quanto ao mérito, o STF decidiu que a decisão administrativa do TJ foi inconstitucional por violar a necessidade de lei para concessão da gratificação (art. 37, X), por implicar em equiparação remuneratória entre os servidores (art. 37, XIII) e por violar o entendimento exposto na Súmula 339 do STF. STF. Plenário. ADI 3202/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734). (MPGO-2016): Podem ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade as decisões proferidas em processo administrativo, quando a extensão dessas mesmas decisões seja tal que as torne um verdadeiro ato administrativo normativo genérico. BL: Info 734 do STF.] [166: #Atenção: #STF: #DOD: É possível, em tese, o ajuizamento de ADI contra deliberação administrativa de tribunal, desde que ela tenha conteúdo normativo com generalidade e abstração, devendo, contudo, em regra, a ação ser julgada prejudicada caso essa decisão administrativa seja revogada. É cabível ação direta de inconstitucionalidade contra deliberação administrativa do Tribunal que determina o pagamento de reajuste decorrente da conversão da URV em reais (“plano real”) aos magistrados e servidores. Depois que a ADI foi proposta, e antes que fosse julgada, o TRT decidiu revogar essa deliberação administrativa. Diante disso, indaga-se: o mérito da ação foi julgado? NÃO. Em decorrência da revogação da deliberação, o STF julgou prejudicada a ADI, por perda superveniente de objeto. STF. Plenário. ADI 1244 QO-QO/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 19/12/19 (Info 964).] (x) Recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional do Trabalho recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística[footnoteRef:167]. [167: #Atenção: #STF: #DOD: Cabe ADI contra recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional do Trabalho recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza artística. Esta recomendação deve ser considerada como ato de caráter primário, autônomo e cogente, inovando no ordenamento jurídico, razão pela qual pode ser impugnada por meio de ADI. STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min.Marco Aurélio, j. 27/9/18 (Info 917).] · EM RESUMO: Pode ser qualquer lei (em sentido estrito), seja de efeito geral ou concreto. Já ato normativo só pode se for geral e abstrato, pois não vale como objeto atos de efeitos concretos[footnoteRef:168] (ex.: decreto regulamentar não autônomo e resolução que autoriza processo contra o Presidente da República). [168: (TJMS-2015-VUNESP): No tocante ao controle concentrado de constitucionalidade, é correto afirmar sobre a ação direta de inconstitucionalidade (ADI): ato normativo, de caráter autônomo, geral e abstrato expedido por pessoa jurídica de direito público estadual e decreto editado com força de lei podem ser objeto de ADI perante STF. BL: art. 102, I, “a”, CF.] · (…) VIGENTE E EFICAZ: Deve assim ser em razão de que se não estiver mais dentro do ordenamento jurídico ou se não tiver mais aptidão para produzir os efeitos que lhes são próprios, não estará a lei ou o ato normativo mais ameaçando a supremacia da Constituição. Por isso, não são admitidas como objeto leis temporárias após o fim da vigência, normas de eficácia suspensa pelo Senado Federal (52, X, CF), e normas de efeito concreto já exaurido. Caso a revogação ou o exaurimento da eficácia ocorram após a propositura da ação, restará prejudicada por perda superveniente do objeto, salvo se houver fraude processual ou houver julgamento pelo STF por ausência de prévia comunicação a ele a respeito da revogação. Ademais, a revogação do ato normativo originalmente combatido não impede a análise da inconstitucionalidade quando a alteração implementada pela norma revogadora não é substancial. · (…) QUE VIOLE DIRETAMENTE A CONSTITUIÇÃO: Quando há uma violação diretamente à constituição (não há um ato interposto entre a CF/88 e o ato impugnado), admite-se ADI e ADC. Se houver um ato interposto (v.g. impugna-se um decreto por ele violar a lei) ele será inconstitucional apenas de forma reflexa ou oblíqua e, sendo a inconstitucionalidade apenas indireta, inviabiliza-se o cabimento do controle normativo abstrato. A análise dos atos tipicamente regulamentares, de natureza secundária, deve ocorrer no plano da legalidade. Portanto, não pode haver nenhum ato entre ele e a CF/88. O STF não admite como objeto de ADI/ADC atos tipicamente regulamentares (ex: decreto regulamentar não autônomo do chefe do Poder Executivo[footnoteRef:169] e resolução que autoriza processo contra o Presidente da República[footnoteRef:170]), que se restringem a regulamentar determinada lei, pois a violação aqui seria reflexa ou oblíqua. O decreto autônomo, no entanto, viola diretamente a CF e pode ser objeto de ADI/ADC (STF, ADI 3664). Os decretos autônomos são aqueles que “veiculam normas que estabelecem proibições, mandamentos ou permissões que não estavam previstos no ordenamento jurídico. Cuida-se de atos que buscam validade diretamente da Constituição, como se fossem normas primárias.” (BERNARDES, Juliano Taveira; FERREIRA, Olavo Augusto Vianna Alves. Direito Constitucional. Tomo II. 8ª ed. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 515). Sobre o tema, recentemente o STF entendeu que cabe ADI contra decreto regulamentar de lei estadual, vejamos: [169: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPF-2011; ii) DPEDF-2013 (CESPE); iii) TJMT-2018 (VUNESP); iv) PF-2018 (CESPE); v) TJGO-2021 (FCC).] [170: #Atenção: #TJMT-2018: #VUNESP: A resolução que autoriza processo contra o Presidente da República, prevista no inciso I do art. 51 da Constituição, não está revestida de abstração e generalidade, o que impede o seu controle.] A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é meio processual inadequado para o controle de decreto regulamentar de lei estadual. Seria possível a propositura de ADI se fosse um decreto autônomo. Mas sendo um decreto que apenas regulamenta a lei, não é hipótese de cabimento de ADI. STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905). [footnoteRef:171] [171: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPMT-2019 (FCC); ii) TJGO-2021 (FCC).] #Obs.: Detalhamento de aspectos relevantes à perspectiva material da ADI e ADC: Não são admitidos como objeto de ADI e ADC: (a) ATOS TIPICAMENTE REGULAMENTARES: O nome do ato é irrelevante (v.g. decreto, portaria, resolução,[footnoteRef:172] instrução normativa). Deve ser analisado se entre o ato e a CF/88 há um ato interposto: caso o ato tipicamente regulamentar esteja ligado diretamente à CF, a inconstitucionalidade será direta ou antecedente e, portanto, poderá ser objeto de controle. Assim, um decreto poderá ser objeto de ADI ou ADC quando violar frontalmente a CF (v.g. decreto autônomo, na ADI n. 3664). [172: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) PF-2018 (CESPE); ii) MPGO-2022 (FGV).] O STF afirmou que a ADI deveria ser conhecida, ou seja, que o seu mérito deveria ser apreciado. Isso porque cabe ADI contra decreto desde que este tenha “coeficiente mínimo de normatividade, generalidade e abstração”, ou seja, desde que esse decreto possa ser considerado um ato normativo autônomo, que retire seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal. Nesse sentido, ADI 3239/DF, publicado no Info 890 do STF. Resumidamente, para que um ato administrativo seja impugnado mediante ADIn, dois são os requisitos: 1) Ter o ato administrativo caráter autônomo, isto é, ele deve afrontar diretamente a Constituição Federal; 2) Ter o ato administrativo caráter normativo, ou seja, ser dotado de generalidade, abstração e normatividade. Entretanto, na hipótese de violação oblíqua ou reflexa (inconstitucionalidade indireta), o ato não pode ser admitido como objeto de ADI ou ADC. #Atenção: #STF: #DOD: #TJMT-2018: #VUNESP: É cabível ADI contra decreto presidencial que, com fundamento no art. 84, VI, “a”, da CF, extingue colegiados da Administração Pública federal. Isso porque se trata de decreto autônomo, que retira fundamento de validade diretamente da Constituição Federal e, portanto, é dotado de generalidade e abstração. STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12 e 13/6/19 (Info 944). (b) NORMAS CONSTITUCIONAIS ORIGINÁRIAS:[footnoteRef:173] Inicialmente, cumpre ressaltar que as normas constitucionais originárias têm caráter de absoluta constitucionalidade, diferente das emendas constitucionais, que poderão ser objeto de controle de constitucionalidade. Por conta disso, a CF/88 possui dois tipos de normas: as normas elaboradas pelo Poder Constituinte Originário e as normas elaboradas pelo Poder Derivado Reformador ou Revisor. Vejamos: [173: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRF4-2010; ii) MPMG-2011; iii) TRF2-2017; iv) TJMT-2018 (VUNESP); v) DPEPI-2022 (CESPE); vi) MPSC-2023 (CESPE).] · Normas elaboradas pelo Poder Constituinte Originário: não poderão ser objeto de controle, em razão do princípio da unidade da Constituição, que afasta a tese da hierarquia entre normas constitucionais (v.g. ADI 4097, do PSC).[footnoteRef:174] Portanto, as normas constitucionais fruto do trabalho do poder constituinte originário serão sempre constitucionais, não podendo falar em controle de sua constitucionalidade.[footnoteRef:175] [174: #Atenção: #STF: #MPGO-2019: #DPEPI-2022: #MPMG-2023: #MPSC-2023: #CESPE: Ação direta de inconstitucionalidade. ADI. Inadmissibilidade. Art. 14, § 4.º, da CF. Norma constitucional originária. Objeto nomológico insuscetível de controle de constitucionalidade. Princípio da unidade hierárquico-normativa e caráter rígido da Constituição brasileira. Doutrina. Precedentes. Carência da ação. Inépcia reconhecida. Indeferimento da petição inicial. Agravo improvido. Não se admite controle concentrado ou difuso de constitucionalidade de normas produzidas pelo poder constituinte originário. (ADI 4.097-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 08.10.2008, DJE de 07.11.2008).] [175: #Atenção: Tema cobrado nas provas i) TRF2-2017; ii) MPGO-2019; iii) DPEPI-2022 (CESPE).] · Normas elaboradas pelo Poder Derivado Reformador ou pelo Poder Derivado Revisor: devem observar as limitações previstas na CF/88 (temporais, circunstancias, formaise materiais). Em caso de não observância, poderão ser objeto de controle de constitucionalidade. #Atenção: #STF: #DPEMA-2011: #AGU-2012: #PGEPA-2015: #PGERS-2015: #PGEMS-2016: #TJRS-2018: #TJSP-2018: #PCMS-2021: #MPAC-2022: #MPMS-2022: #DPEPI-2022: #PGM-Recife/PE-2022: #MPT-2022: #PGM-São Paulo/SP-2023: #AOCP: #CESPE: #FAPEC: #Fundatec: #VUNESP: A tese de normas constitucionais inconstitucionais não é compatível com o sistema brasileiro (STF. Pleno. ADI 815/DF, rel. Min. Moreira Alves, j. 28.03.96). Em caso de aparente conflito entre as normas constitucionais aplicam-se os princípios da hermenêutica constitucional. Por outro lado, as normas constitucionais derivadas são, sim, suscetíveis de controle de constitucionalidade (STF. Pleno. ADI 939/DF, rel. Min. Sidney Sanches, DJ 17.12.1993). (c) LEI OU NORMA DE EFEITOS CONCRETOS JÁ EXAURIDOS: As leis de efeitos concretos, segundo a jurisprudência atual do STF, podem ser objeto de controle (v.g. ADIs n. 4048, 4049, 4050 e 4051). No entanto, leis ou normas de efeitos concretos com eficácia exaurida não poderão ser objeto de controle concentrado porque, se não produzem mais efeito (falta de aptidão para serem aplicadas ao caso concreto), não ameaçam a supremacia da Constituição. Em outras palavras, como o objetivo é proteger essa supremacia, não haveria mais utilidade no pronunciamento acerca de sua constitucionalidade. (d) LEIS TEMPORÁRIAS: Leis temporárias são aquelas que vigem apenas durante um prazo pré-fixado. Caso o período de vigência tenha se esgotado, não poderá a lei temporária ser objeto de ADI ou ADC, porque não estará mais produzindo efeitos e, portanto, não ameaçará a supremacia da Constituição. #EXCEÇÃO: se a lei temporária ainda estiver em seu período de produção de efeitos e for impugnada em tempo adequado (ou seja, a ADI ou ADC for proposta enquanto a lei temporária ainda estiver produzindo efeitos), o STF admite que tal lei seja objeto de controle de constitucionalidade, mesmo que a sua eficácia fique exaurida posteriormente (ADI n. 4426). (e) NORMAS REVOGADAS: A norma revogada não produz mais efeitos e, portanto, não ameaça a supremacia da Constituição. Portanto, em regra, não são admitidas como objeto de controle de constitucionalidade. Assim, quando a lei é revogada no curso da ação, esta é extinta por perda do objeto. No entanto, o STF admite duas exceções: · FRAUDE PROCESSUAL: Segundo o STF, se houver fraude processual, mesmo estando revogada a norma pode continuar sendo objeto de ADI. Exemplo: ADI n. 3306 → (i) a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou determinada lei, a qual fora objeto de ADI no STF. No entanto, antes do julgamento da ação pelo Tribunal, a Câmara revogou a lei, para que a ADI perdesse o objeto. (ii) Posteriormente, a Câmara editou uma segunda lei com conteúdo idêntico à primeira, a qual fora novamente impugnada no STF. Entretanto, antes de julgá-la, o Tribunal tomou conhecimento de nova revogação e extinguiu a ação. (iii) A Câmara, não contente, editou uma terceira lei com o mesmo conteúdo das anteriores. (iv) Isso se justifica em razão de que a lei produz efeitos até a sua revogação, mas caso o STF declarasse a lei inconstitucional, a decisão, em regra, teria efeitos retroativos (“ex tunc”) e, portanto, a lei não teria validade em momento algum. Assim, a Câmara Legislativa optou por revogá-la para que produzisse efeitos durante o período em que ela esteve em vigor. (v) O STF reconheceu que o procedimento adotado burlava a jurisdição constitucional e que ficou caracterizada a fraude processual. (vi) Portanto, mesmo a lei tendo sido novamente revogada, a ADI prosseguiu até o julgamento final.[footnoteRef:176] [176: #Atenção: Tema cobrado nas provas i) MPPR-2019; ii) PGEPB-2021 (CESPE).] · Quando o julgamento de mérito é realizado sem que o Tribunal seja informado da revogação da lei: Ocorre quando o STF julga a ADI e só depois de fazer o julgamento avisam ele que a lei já havia sido revogada. É comum ocorrer com leis estaduais. Exemplo1: ADI 951-ED → Nesses embargos de declaração, um dos legitimados avisou que a lei foi declarada inconstitucional, mas a lei já havia sido revogada antes do julgamento. O STF respondeu que, de fato, quando a lei é revogada antes do julgamento, em regra, a ADI perde o objeto. Porém, nesse caso ele não foi cientificado de que a lei havia sido revogada, tendo gastado seu tempo e exercido a jurisdição constitucional, não havendo sentido em simplesmente ignorar o julgamento que foi feito. Portanto, para aproveitar o ato, houve a declaração de inconstitucionalidade proferida, declarando-se a lei inconstitucional durante o período no qual esteve em vigor. Exemplo2: ADI 3147-ED → Um decreto autônomo foi objeto de impugnação em ADI, mas foi revogado por outro decreto. A distinção em relação à ADI n. 951-ED é que o segundo ato possuía conteúdo idêntico ao do primeiro já revogado. O STF decidiu que, embora o decreto tenha sido revogado, o novo decreto possuía conteúdo idêntico ao anterior e, portanto, o julgamento deveria ser aplicado para ambos. Em outras palavras, quando um ato normativo é revogado por outro, de idêntico conteúdo, a decisão pode abranger ambos. #Atenção: #STF: #DOD: #TRF5-2011: #TRF3-2018: #PGEPB-2021: #TJRS-2022: #MPTO-2022: #TRT/Unificado-2023: #CESPE: #Faurgs: #FGV: O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do julgamento da ação?: Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203). Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306).[footnoteRef:177] [177: (MPPA-2023-CESPE): Conforme a jurisprudência do STF, restará prejudicado o julgamento da ADI quando houver revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e não for demonstrada a ocorrência de fraude processual, com o objetivo de evitar que o STF declare o ato inconstitucional. BL: Entend. Jurisprud.] Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016. Info 824). [footnoteRef:178] [178: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPPA-2023 (CESPE).] Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/10/2016 Info 845). [footnoteRef:179] [179: #Atenção: Tema cobrado na prova do TRT/Unificado-2023 (FGV).] #Atenção: #STF: #DOD: #MPPA-2023: #CESPE: Alteração do parâmetro constitucional não prejudica o conhecimento da ADI: A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em curso, não prejudica o conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em que uma lei que nasceu claramente inconstitucional volte a produzir, em tese, seus efeitos. STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).[footnoteRef:180] [180: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPPA-2023 (CESPE).] #Atenção: #STF: #DOD: #TJRS-2022: #TRT/Unificado-2023: #Faurgs: #FGV: Alteração da Lei impugnada antes do julgamento da ADI: O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na redação original. A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de apresentar eventual pedido de aditamento,caso considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou revogação. Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em razão da perda superveniente do objeto. STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/18 (Info 890) (...) Ausente alteração substancial no conteúdo do ato normativo questionado, superveniente alteração meramente redacional não implica prejuízo ao exame do mérito. STF. Plenário. ADI 3534, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/10/19. [footnoteRef:181]-[footnoteRef:182] [181: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPAM-2023 (CESPE); ii MPPA-2023 (CESPE).] [182: (TJRS-2022-Faurgs): O STF vem proferindo decisões relevantes acerca de temas como mutação constitucional e controle de constitucionalidade, redefinindo, não raras vezes, os seus limites e possibilidades. Considere a afirmação a seguir, tendo por base o posicionamento do STF acerca dessas matérias: A superveniente alteração redacional de ato normativo questionado em ação direta de inconstitucionalidade não impede o julgamento dessa ação, desde que não tenha havido alteração substancial no conteúdo desse ato. BL: Info 935, STF.] #Atenção: #STF: #DOD: #TJPR-2021: #MPPR-2021: #PGECE-2021: #TJRS-2022: #MPGO-2022: #MPPA-2023: #CESPE: #Faurgs: #FGV: Se for editada MP revogando lei que está sendo questionada por meio de ADI, esta ação poderá ser julgada enquanto a MP não for votada (enquanto a MP não for votada, não há perda do objeto): Determinada lei foi impugnada por meio de ação direta de inconstitucionalidade. Foi editada medida provisória revogando essa lei. Enquanto esta medida provisória não for aprovada, será possível julgar esta ADI. Assim, se chegar o dia de julgamento da ADI, e a MP ainda não tiver sido votada, o STF poderá apreciar livremente a ação, não tendo havido perda do interesse de agir (perda do objeto). Isso, porque a edição de medida provisória não tem eficácia normativa imediata de revogação da legislação anterior com ela incompatível, mas apenas de suspensão, paralisação, das leis antecedentes até o término do prazo do processo legislativo de sua conversão. Embora seja espécie normativa com força de lei, a medida provisória precisa ser confirmada. A medida provisória é lei sob condição resolutiva. Se for aprovada, a lei de conversão resultará na revogação da norma. Dessa maneira, enquanto não aprovada a MP, não se pode falar em perda de interesse (perda do objeto). STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 27/3/19 (Info 935).[footnoteRef:183] [183: (MPGO-2022-FGV): A Lei federal nº XX foi impugnada em sede de ação direta de inconstitucionalidade (ADI), que se encontrava em tramitação no âmbito do STF. Durante essa tramitação, foi editada a Medida Provisória nº YY, que dispôs, em seu último artigo, que estava revogada a Lei federal nº XX. À luz da sistemática vigente, é correto afirmar que: a Medida Provisória nº YY apenas suspendeu a eficácia da Lei federal nº XX, não afetando o trâmite da ADI. BL: Info 935, STF.] 3.2.1.1.1. Perspectiva material da ADPF O objeto da ADPF está previsto na Lei 9.882/99, em seu art. 1º, dispondo que o seu objeto é evitar ou reparar (preventiva ou repressiva) lesão a preceito fundamental (parâmetro), resultante de ato do Poder Público. Vejamos: Lei n. 9.882/99, art. 1º: A argüição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público. A expressão “ato do Poder Público” é mais ampla do que “lei ou ato normativo”, utilizada na ADC e ADPF. Portanto, há a possibilidade de que um ato do Poder Público possa ser impugnado em ADPF, mesmo não sendo lei ou ato normativo.[footnoteRef:184] [184: (TJSP-2014-VUNESP): A respeito do controle de constitucionalidade no direito brasileiro, pode-se afirmar que a ADPF pode servir para contrastar atos normativos, atos administrativos e atos jurisdicionais. BL: art. 1º, caput.] Dentro dessa perspectiva material, define-se o objeto da ADPF como qualquer ato do Poder Público que viole, diretamente, preceito fundamental da Constituição. #Atenção: #STF: #DOD: #DPERS-2022: #CESPE: É inconstitucional concessão de descontos lineares nas mensalidades das faculdades privadas na pandemia da Covid-19: São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente fundamentadas na eclosão da pandemia de Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam às instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas contraprestações dos contratos educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes contratuais envolvidas na lide. Tese fixada pelo STF: É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as circunstâncias fáticas efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais, e determina a concessão de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados por instituições de ensino superior. STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF 713/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 17 e 18/11/21 (Info 1038).[footnoteRef:185] [185: (DPERS-2022-CESPE): Em razão das consequências econômicas da pandemia de COVID-19, determinado estado-membro promulgou lei ordinária com o seguinte teor: “Ficam as instituições de ensino da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e superior da rede privada do Estado obrigadas a conceder diferimento em suas mensalidades em percentual mínimo de 30% (trinta por cento), enquanto durarem as medidas temporárias para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia de COVID-19”. A partir dessa premissa, julgue o item que se segue, considerando a jurisprudência do STF e as disposições da CF sobre a matéria: A lei impugnada padece de inconstitucionalidade material ao estabelecer descontos lineares a todos os consumidores dos serviços educacionais, impedindo que as partes disponham livremente sobre outras formas de repactuação dos contratos e contrariando o princípio constitucional da livre iniciativa. BL: Info 1038, STF.] #Atenção: #STF: #DOD: #MPSC-2021: #CESPE: O conjunto de reiteradas decisões sobre determinada matéria é considerado ato do poder público passível de controle pela ADPF e esta é a via correta para questionar interpretação judicial de normas constitucionais e legais. STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 31/10/2018 (Info 922).[footnoteRef:186] [186: (MPSC-2021-CESPE): Acerca das disposições referentes à jurisdição constitucional, julgue o item a seguir: A arguição de descumprimento de preceito fundamental pode ter por objeto decisões judiciais.] #Atenção: #STF: #DOD: #MPSC-2021: #CESPE: É cabível o ajuizamento de ADPF contra interpretação judicial de que possa resultar lesão a preceito fundamental: Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial em desfavor do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação UDEs e que recaiam sobre verbas destinadas à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 4/6/20 (Info 980). #Atenção: #STF: #DOD: #MPSC-2021: #CESPE: É cabível ADPF para questionar interpretação judicial de norma constitucional. Em outras palavras, cabe ADPF para dizer que a interpretação que está sendo dada pelos juízes e Tribunais a respeito de determinado dispositivo constitucional está incorreta e, com isso, viola preceito fundamental. STF. Plenário. ADPF 216/DF, Rel. Min. Cámen Lúcia, j. 14/3/18 (Info 894). #Atenção: #STF: #DOD: É possível que seja proposta ADPF contra súmula (comum ou vinculante)? SIM. É possível o ajuizamento de ADPF contra súmula de jurisprudência, quando o enunciado tiver preceito geral e abstrato. STF. Plenário. ADPF 501-AgR, Rel. p/ Ac. Min. Ricardo Lewandowski, j. 14/09/20. #Questiona-se:A ADPF pode ter como objeto as omissões do Poder Público? A ADPF destina-se a proteger os preceitos fundamentais. Surge, então, a questão em torno da definição de preceito fundamental. A questão deve ser solucionada a partir de uma compreensão de valores, pois, a priori, toda norma constitucional é fundamental. Porém, os preceitos fundamentais são aqueles que estão ligados diretamente aos valores supremos do Estado e da Sociedade. Preceito fundamental não significa o mesmo que a expressão princípio fundamental. Trata-se de conceito mais amplo, abrangendo todas as prescrições que dão sentido básico à ordem constitucional. Assim, pode-se conceituar preceito fundamental como toda norma constitucional – norma princípio ou norma regra – que serve de fundamento básico para a conformação e preservação da ordem política e jurídica do Estado. Apesar de o conceito de “descumprimento” para efeito da ADPF ser consideravelmente mais amplo que o conceito de “inconstitucionalidade”, a Lei 9.882/99, entretanto, reduziu a abrangência da ADPF tão somente aos atos do poder público, mantendo a ideia de englobar atos de qualquer natureza, sejam normativos ou não, inclusive as omissões. Com efeito, pode-se afirmar que a ADPF pode ter como objeto omissões. Um exemplo possível seria a recente ADPF do Partido Rede Sustentabilidade em face da situação carcerária brasileira, que tratou diretamente da omissão estatal no trato com o problema penitenciário nacional. #Atenção: #STF: #DOD: #MPSC-2021: #CESPE: Sobre o tema, o STF entende que cabe ADPF quando se alega que está havendo uma omissão por parte do poder público: A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) é instrumento eficaz de controle da inconstitucionalidade por omissão. A ADPF pode ter por objeto as omissões do poder público, quer totais ou parciais, normativas ou não normativas, nas mesmas circunstâncias em que ela é cabível contra os atos em geral do poder público, desde que essas omissões se afigurem lesivas a preceito fundamental, a ponto de obstar a efetividade de norma constitucional que o consagra. STF. Plenário. ADPF 272/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 25/3/21 (Info 1011). [footnoteRef:187]-[footnoteRef:188] [187: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) DPEBA-2021 (FCC); ii) DPERJ-2021 (FGV); iii) PGEAL-2021 (CESPE); iv) TJMA-2022 (CESPE); v) TJSC-2022 (FGV).] [188: (MPAM-2023-CESPE): Considerando a jurisprudência do STF, assinale a opção correta acerca do controle de constitucionalidade: A arguição de descumprimento de preceito fundamental é instrumento eficaz de controle de inconstitucionalidade por omissão. BL: Info 1011, STF.] #Obs.: Detalhamento de aspectos relevantes à perspectiva material da ADPF: Não são admitidos como objeto de ADPF: (a) ATOS TIPICAMENTE REGULAMENTARES: Eles não violam, diretamente, preceito fundamental da Constituição. Não havendo violação direta, não se admite a ADPF. É o mesmo raciocínio da ADC e da ADI.[footnoteRef:189] [189: #Atenção: Tema cobrado na prova do TRF2-2018.] #Obs.: Lembrar que todas as ações de controle objetivo de constitucionalidade exigem que a violação seja direta e antecedente, salvo no caso do arrastamento (inconstitucionalidade consequente). (b) NORMAS CONSTITUCIONAIS ORIGINÁRIAS: O princípio da unidade da Constituição afasta a tese da hierarquia entre normas constitucionais. Por isso, normas originárias não são admitidas como objeto. (c) SÚMULAS COMUNS E SÚMULAS VINCULANTES: · Súmula comum: É apenas a sedimentação de um entendimento adotado pelo Tribunal. Portanto, por apenas consolidar uma jurisprudência sobre determinado tema, não faz sentido que seja objeto de ADPF (ADPF 80/AgR). #Atenção: #Mudança de Entendimento (vide abaixo julgado de 2020!!!: Ao menos, não fazia sentido antes do advento do Novo CPC, o qual valorizou o sistema de precedentes: consta do novo diploma processual que os Tribunais devem observar as súmulas de Tribunais Superiores. Portanto, atualmente a súmula comum possui uma eficácia maior do que possuía anteriormente. Entretanto, o STF, em 2020, modificou o seu entendimento acerca do tema, afirmando que é possível o ajuizamento de ADPF contra súmula de jurisprudência (comum ou vinculante), quando o enunciado tiver preceito geral e abstrato. · Súmula vinculante: Ela possui um caráter normativo, mas o STF não a admitia, até pouco tempo, como objeto de ADPF pela ausência do caráter subsidiário (inexistência de outro meio similarmente eficaz para sanar a lesividade). Cumpre registrar que a aei que regulamenta a súmula vinculante possui mecanismo próprio: o pedido de cancelamento ou a revisão da súmula. Por haver procedimento específico com a mesma efetividade, imediaticidade e amplitude da ADPF, o caráter subsidiário não seria atendido (ADPF 147/AgR).[footnoteRef:190] [190: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRF5-2015 (CESPE); ii) TJDFT-2015/2016 (CESPE); iii) PGEMT-2016 (FCC); iv) TJMSP-2016 (VUNESP); v) do TJMT-2018 (VUNESP); vi) PGEMS-2021 (CESPE); vii) TJSC-2022 (FGV); viii) PGEES-2023 (CESPE); ix) PGEPA-2023 (CESPE).] #Atenção: #Mudança de Entendimento (vide abaixo julgado de 2020!!!: Ocorre que, em 2020, o STF também modificou o entendimento acerca do tema quanto às sumulas vinculante, afirmando que é possível o ajuizamento de ADPF contra súmula de jurisprudência (comum ou vinculante), quando o enunciado tiver preceito geral e abstrato. #Atenção: #STF: #DOD. É possível o ajuizamento de ADPF contra súmula de jurisprudência, quando o enunciado tiver preceito geral e abstrato. Obs: no caso concreto, era uma súmula do TST. STF. Plenário. ADPF 501-AgR, Rel. p/ Ac. Min. Ricardo Lewandowski, j. 14/09/20. [footnoteRef:191] [191: (PGEES-2023-CESPE): Considerando o entendimento jurisprudencial a respeito do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: Cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra súmula do Tribunal Superior do Trabalho. BL: Entend. Jurisprud.] (d) PROPOSTAS DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO: A PEC não é ato pronto e acabado do Poder Público, mas apenas um ato em elaboração (um ato que ainda está em formação), que pode sequer chegar a ser aprovado (ADPF 43/AgR). (e) VETOS: Não se admite ADPF em relação a veto em razão de que o veto deve ser analisado no âmbito político pelo Parlamento, o qual pode derrubá-lo (CF, art. 57, § 3º, IV) (ADPFs 01 e 73). (f) DECISÕES JUDICIAIS TRANSITADAS EM JULGADO: Não se admite em razão de que, nesta hipótese, a ADPF seria utilizada como sucedâneo da ação rescisória (ADPF 288/MC). [footnoteRef:192]-[footnoteRef:193] [192: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPF-2022.] [193: (MPF-2012): Para o STF, não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental em face de sentenças transitadas em julgado.] #Atenção: #DOD: #STF: #TJMSP-2016: #PCGO-2017: #DPEAM-2018: #TJMS-2020: #MPF-2012/2022: #CESPE: #FCC: #VUNESP: Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada. STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 27/10/15 (Info 810). #Obs.: No entanto, se as ações judiciais ainda não transitaram em julgado, poderão ser objeto de ADPF. Exemplo: ADPF n. 101. Nesse caso concreto, o objeto da ADPF abordou decisões judiciais autorizativas da importação de pneus usados. O STF entendeu que tais decisões violavam dois preceitos fundamentais: o direito ao meio ambiente equilibrado e o direito à saúde das pessoas. (g) LEIS REVOGADAS: (TEMA POLÊMICO – não há entendimento consolidado). Vejamos: · Pela impossibilidade: ADPF n. 49. O Min. Menezes Direito, como relator, manifestou-se pela não admissão de ADPF que tinha como objeto lei revogada. Foi utilizado o mesmo raciocínio aplicado à ADI e à ADC, pelo qual estando a lei revogada não há ameaça à supremacia da Constituição. · Pela possibilidade: ADPF n. 33. O Min. Gilmar Mendes entende ser possível haver ADPF que tenha como objeto lei revogada,Direitos Humanos. Porém, ressalte-se que nos casos em que a regra interna seja a mais benéfica, o próprio tratado internacional cederá diante do direito interno.[footnoteRef:11] [11: (MPSP-2019): A respeito do controle de convencionalidade, é correto afirmar: É realizado de forma difusa por qualquer juízo ou tribunal, inclusive o STF em julgamento de RE. (TJRS-2018-VUNESP): No atual sistema normativo brasileiro, à luz do posicionamento assumido pelo STF, os tratados que possuem status normativo supralegal são sujeitos a um controle de convencionalidade difuso, sendo dever do juiz nacional examinar a compatibilidade das normas internas com as convencionais, mediante provocação da parte ou de ofício. BL: art. 5º, §3º, CF.] #Atenção: Incorporação dos Tratados Internacionais no ordenamento jurídico brasileiro: · 1ª tese: A jurisprudência e doutrina concordam que qualquer tratado internacional já é norma com status constitucional. Se aprovado pelo art. 5, §3º, da CF, são equivalentes às Emendas Constitucionais; · 2ª tese: O STF vai dizer que todos os tratados de Direitos Humanos têm status supralegal, porém infraconstitucional. Todavia, se aprovados pelo art. 5º, §3º da CF, serão equivalentes às Emendas Constitucionais; · 3ª tese: DIVERGÊNCIA = Tratado NÃO APROVADOS pelo art. 5º, §3º, da CF: · STF: a hierarquia é de norma supralegal. · Doutrina: a hierarquia é de norma com status constitucional. 2.1.1. “Bloco de constitucionalidade”[footnoteRef:12] [12: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) DPEMS-2012 (VUNESP); ii) MPT-2012; iii) PCDF-2015; iv) PGERS-2021 (Fundatec).] Expressão cunhada pelo autor Louis Favoreu para fazer referência às normas do ordenamento jurídico francês com status constitucional. Na França, além da Constituição de 1958, também faz parte do “bloco de constitucionalidade”, o preâmbulo da Constituição de 1946 (Obs.: a Constituição de 1958 não possui preâmbulo), a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e os princípios implícitos extraídos pela jurisprudência do Conselho Constitucional francês, órgão de cúpula francês no âmbito administrativo (Ex.: salvaguarda da dignidade da pessoa humana e da continuidade do serviço público). A expressão “bloco de constitucionalidade” é muito utilizada pelo Min. Celso de Mello. Tal expressão se espalhou pelo mundo e hoje é utilizada pela doutrina em dois sentidos diferentes: [footnoteRef:13] [13: (TRF3-2018): O parâmetro do controle de constitucionalidade é encontrado na Constituição Federal, havendo tendência jurisprudencial e doutrinária no sentido de ampliação desse parâmetro a partir do conceito de “bloco de constitucionalidade”. Já o objeto da ADI genérica é norma veiculada por lei ou ato normativo que se mostre em confronto com o parâmetro. Sob essa ótica, é correto afirmar que: A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo (Nova York, 2007), promulgada pelo Decreto nº 6.949/09, faz parte do conceito de bloco de constitucionalidade. (DPEMS-2012-VUNESP): Considerando a doutrina pátria do direito constitucional, pode-se afirmar sobre o denominado bloco de constitucionalidade brasileiro que a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 186/08, passou a integrar o nosso bloco de constitucionalidade. (TRF5-2009-CESPE): A respeito do controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos, assinale a opção correta: A expressão bloco de constitucionalidade pode ser entendida como o conjunto normativo que contém disposições, princípios e valores materialmente constitucionais fora do texto da CF formal.] SENTIDO AMPLO: Abrange normas formalmente constitucionais e, também, normas vocacionadas a desenvolver a eficácia dos preceitos constitucionais, isto é, normas necessárias a desenvolver direitos garantidos na CF/88, a exemplo do art. 7º, IV da CF/88, que trata do salário mínimo que deve ser fixado em lei. Dessa forma, a lei que determina o salário mínimo faria parte do bloco de constitucionalidade. Nos direitos sociais isso é muito comum. Sendo assim, o bloco de constitucionalidade em sentido amplo abrange, inclusive, normas infraconstitucionais que regulamentam dispositivos da Constituição. [footnoteRef:14] Vejamos o teor do art. 7º, IV da CF/88: [14: (Assessor Jurídico/TJPR-2013-PUCPR): Bloco de constitucionalidade é o parâmetro de constitucionalidade fundado numa concepção ampliada de elemento conceitual de constitucionalidade, numa ideia de ordem constitucional global.] CF/88, art. 7º, IV: “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; [...]”. Para que o trabalhador usufrua do salário-mínimo é necessário que exista uma norma regulamentadora fixando o seu valor. Assim, em sentido amplo, a lei que estabelece que o valor do salário-mínimo faz parte do bloco de constitucionalidade, pois, sem ela, a norma prevista na Constituição não possuirá eficácia positiva (aptidão para ser aplicada ao caso previsto por ela). Portanto, tal preceito é fundamental para dar eficácia e efetividade ao dispositivo constitucional. No Brasil, seria possível incluir o preâmbulo da CF/88 no bloco de constitucionalidade e o Pacto de São José da Costa Rica – tratado internacional de direitos humanos não aprovado pelo rito da CF, art. 5º, § 3º (status supralegal). Embora não sirvam como parâmetro, estão dentro do bloco de constitucionalidade em sentido amplo. SENTIDO ESTRITO (utilizado pelo Ministro Celso de Mello, do STF): Abrange apenas normas de referência para o controle de constitucionalidade. Em sentido estrito, portanto, o bloco de constitucionalidade é equivalente ao parâmetro (“paradigma de confronto”) de constitucionalidade, restringindo-se à CF/88, aos princípios implícitos e aos Tratados sobre Direitos Humanos, aprovados na forma do art. 5º, §3º da CF/88. [footnoteRef:15] [15: (PF-2021-CESPE): A respeito do controle de constitucionalidade no sistema constitucional brasileiro, julgue o item subsequente: Conforme o conceito de bloco de constitucionalidade, há normas constitucionais não expressamente incluídas no texto da CF que podem servir como paradigma para o exercício de controle de constitucionalidade. #Atenção: De forma bem simplificada, bloco de constitucionalidade significa que a Constituição pode ser formada não apenas pelos dispositivos que estão ali expressamente escritos, mas também por outras normas não presentes no texto, como, por exemplo, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (promulgada pelo Decreto 6.949/09), ou seja, por tratados internacionais incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro. O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor. Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta. Na prática, isso significa dizer que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional. STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/3/2017 (Info 856). (DPEMT-2016-UFMT): Leia o texto abaixo. [...] A Constituição de 1988 é explicitamente receptiva ao Direito Internacional Público em matéria de direitos humanos, o que configura uma identidade de objetivos do Direito Internacional e do Direito Público Interno, quanto à proteção da pessoa humana. [...] (LAFER, C. A internacionalização dos direitos humanos: Constituição, racismo e relações internacionais. Barueri, SP: Manole,mencionando tal posição em questão obter dicta (não fez parte da ratio decidendi). Gilmar Mendes explica que, “diferentemente do que se verifica no âmbito do controle abstrato de normas (ADI/ADC), a ADPF poderá ser proposta contra ato normativo já revogado, tendo em vista o interesse jurídico da solução quanto à legitimidade de sua aplicação no passado” (Curso de Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes e Paulo Gustavo Gonet Branco. 6ª ed., p. 1259.). No mesmo sentido destaca Bernardo Gonçalves Fernandes, na obra Curso de Direito Constitucional, 3ª ed., p. 989: “Porém, segundo decisão do STF na ADPF nº 84, cabe a ADPF contra ato normativo revogado”. #Cuidado: #DPERN-2015: #PCGO-2017: #CESPE: A Banca CESPE entende que lei revogada pode ser objeto de ADPF: (DPERN-2015-CESPE): Com relação à ADPF, assinale a opção correta: Ato normativo já revogado é passível de impugnação por ADPF. 3.2.1.2. Perspectiva temporal A perspectiva material pauta-se pelo momento em que o ato surgiu. No Brasil, em regra, não se admite inconstitucionalidade superveniente, a qual se dá quando o ato surge de acordo com a constituição e se torna incompatível depois (salvo mutação constitucional ou inconstitucionalidade progressiva). A inconstitucionalidade, portanto, deve ser originária, ou seja, já ter nascido incompatível com a constituição. 3.2.1.2.1. Perspectiva temporal na ADC e ADI Na ADC, o objeto deve ser norma posterior ao parâmetro invocado/violado. Norma posterior ao parâmetro invocado não se confunde com norma posterior à Constituição, pois o parâmetro invocado pode ser uma emenda à CF/88.[footnoteRef:194] [194: (MPGO-2016): O fato de a ação declaratória ter sido criada pela EC nº 3/1993, não a impede de ter por objeto lei ou ato normativo produzido anteriormente à data da promulgação da referida emenda, desde que posterior ao parâmetro constitucional invocado (adaptada).] Exemplo: Lei de 1999 não pode ser objeto de ADC se o parâmetro for uma EC de 2004. #Obs.: A ADC não é norma originária, já que foi criada pela EC 3/93. #Questiona-se: Atos anteriores à criação da ADC poderão ser objeto desta ação? Sim, leis e atos normativos, anteriores à EC n. 3/93, podem ser objeto de ADC (v.g. ADC 01 teve por objeto a LC 70/91). 3.2.1.2.2. Perspectiva temporal na ADPF A ADPF pode ter como parâmetro normas anteriores ou posteriores a ele. Veja-se que a ADPF não é arguição de inconstitucionalidade, mas arguição de descumprimento de preceito fundamental e o termo “descumprimento” é mais amplo que o termo “inconstitucionalidade”. Assim, se aplicarmos uma norma anterior à CF/88 que não foi recepcionada por ela, embora essa norma não seja inconstitucional, estar-se-á descumprindo a Constituição, pois há a aplicação de algo em descompasso com a lei maior. Vejamos o art. 1º, parágrafo único, inciso I da Lei 9882/99: Lei n. 9.882/99, art. 1º: (…) Parágrafo único. Caberá também argüição de descumprimento de preceito fundamental: I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição;[footnoteRef:195] (…). [195: (TJMS-2015-VUNESP): Uma lei federal em vigor antes da atual Constituição Federal pode ser objeto de controle de constitucionalidade por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. BL: art. 1º, § único, I desta Lei 9982/99. (MPMS-2011): Havendo evidente controvérsia constitucional acerca de importante dispositivo de lei estadual anterior à Constituição Federal de 1988, o Governador do Estado é legitimado a ingressar no STF com arguição de descumprimento de preceito fundamental. BL: art. 1º, § único, I desta Lei 9882/99.] 3.2.1.3. Perspectiva espacial A perspectiva espacial refere-se ao local, dentro da Federação (esferas federal, estadual e municipal), de onde o ato emanou. 3.2.1.3.1. Perspectiva espacial da ADC A ADC somente admite como objeto lei ou ato normativo FEDERAL. #Obs.: Lei ou ato normativo dos Estados ou do Distrito Federal não pode ser objeto de ADC. 3.2.1.3.2. Perspectiva espacial da ADI A ADI admite como objeto lei ou ato normativo FEDERAL e ESTADUAL. #Obs.: O Distrito Federal possui competência híbrida (acumula a competência estadual ou municipal). Caso a lei ou o ato normativo do Distrito Federal possua conteúdo estadual poderá ser objeto de ADI. No entanto, caso possua conteúdo municipal, não. Vejamos a teor da Súmula 642 do STF: Súmula 642, STF: Não cabe ação direta de inconstitucionalidade de lei do Distrito Federal derivada da sua competência legislativa municipal.[footnoteRef:196] [196: (MPRO-2010-CESPE): Não é cabível o ajuizamento de ADI perante o STF para impugnar ato normativo editado pelo DF, no exercício de competência que a CF tenha reservado aos municípios. BL: S. 642 do STF.] O Distrito Federal, por não ser dividido em Municípios, acumula competências estaduais e municipais (art. 32, §1º, CF). Assim, o DF pode editar leis tratando sobre assuntos de competência dos Estados ou dos Municípios. O art. 102, I, “a” da CF/88 somente admite ADI contra lei ou ato normativo federal ou estadual. Não cabe contra lei ou ato normativo de competência municipal. Logo, quando o DF edita uma lei no exercício de competência municipal, não cabe ADI contra este ato normativo. Porém, se tiver conteúdo de lei municipal, poderá ser objeto de ADPF. Portanto, com a promulgação da CF/88, o Distrito Federal passou a ter autonomia administrativa, legislativa e financeira, tornando-se um ente federativo de posição intermediária entre os Estados e os Municípios, pois tem Poderes próprios (Executivo e Legislativo); competência legislativa e tributária de ambos; o Chefe do Executivo é o Governador e não mais Prefeito; o Poder Legislativo é denominado Câmara Legislativa do Distrito Federal (nos Estados: Assembleia Legislativa; nos Municípios: Câmara Municipal). No que concerne ao controle concentrado, é cabível ADIN sobre o direito distrital, mais especificamente quando se fala em competência legislativa estadual para o exercício do controle concentrado junto à Corte Suprema. No entanto, no que se refere às normas distritais de caráter municipais, de âmbito ou interesse local, o STF possui entendimento diverso, não realizando o controle concentrado via ADIN, o que se confirma com a Súmula 642 do STF. Todavia, há outro meio de controle concentrado de norma municipal em face da Constituição Federal, que é a ADPF. Assim, tanto em normas com viés estaduais, como municipais em se tratando de Distrito Federal, será possível a realização de controle abstrato pelo STF. [footnoteRef:197] [197: (MPT-2020): A respeito do controle de constitucionalidade brasileiro, examine a assertiva a seguir: Há possibilidade de controle concentrado-abstrato de qualquer lei distrital pelo Supremo Tribunal Federal. BL: S. 642 do STF.] 3.2.1.3.3. Perspectiva espacial da ADPF A ADPF admite como objeto lei ou ato do Poder Público FEDERAL, ESTADUAL ou MUNICIPAL. #Obs.: O Distrito Federal possui competência híbrida (acumula a competência estadual e municipal). Portanto, o ato do Poder Público do DF poderá ser objeto de ADPF, seja derivado da competência estadual ou municipal. #DICA: Para não confundir isso em prova coloque sempre na ordem alfabética: ADC (1 esfera), ADI (2 esferas) e ADPF (3 esferas). 4. PARTICIPAÇÃO DE ÓRGÃOS E ENTIDADES 4.1. “Amicus Curiae” 4.1.1. Conceito O “amicus curiae”, em tradução literal, é um “amigo da Corte”. Tem-se que o “amicus curiae” é alguém que pode contribuir para a decisão a ser dada pelo Tribunal. 4.1.2. Papel O “amicus curiae” exerce importante papel no âmbito do controle de constitucionalidade em razão da ausência de partes formais no controle concentrado, a qual enseja uma dificuldade na elaboração de uma “síntese” dos aspectos materiais discutidos, por não haver argumentos antagônicos. Assim, o “amicus curiae” contribui para: (i) pluralizar o debate constitucional; e (ii) conferir maior legitimidade democrática à decisão. O “amicus curiae” traz ao STFargumentos, os quais contribuem para pluralizar o debate e conferir maior legitimidade democrática à decisão, porque são órgãos ou entidades representativas da sociedade. Tal papel está relacionado ao método concretista da constituição aberta de Peter Häberle. 4.1.3. Natureza Jurídica Há duas correntes: · 1ª CORRENTE (Fredie Didier Jr. e Marcelo Novelino) – minoritária: o “amicus curiae” é um auxiliar do juízo. · 2ª CORRENTE (defendida pela maioria dos Ministros do STF) – MAJORITÁRIA: o “amicus curiae” é uma espécie de intervenção de terceiros, figurando como exceção à inadmissibilidade da intervenção de terceiros no controle concentrado. #Obs.: Atualmente, tal figura está regulamentada também no art. 138 do CPC, o qual se encontra no capítulo referente às intervenções de terceiro. 4.1.4. Admissibilidade nas espécies de controle Embora a previsão legal do amicus curiae seja apenas a da Lei 9.868/99, que trata apenas da ADI, aplica-se a figura do “amicus curiae”, por analogia, à ADC e à ADPF, segundo o STF.[footnoteRef:198] [198: (TJMS-2020-FCC): A CF/1988 estabelece que a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, dela decorrente, será apreciada pelo STF, na forma da lei. A esse propósito, considerada a regulamentação da matéria à luz da jurisprudência da referida Corte, admite-se o ingresso de amici curiae na ADPF, pela aplicação, por analogia, do estabelecido em lei relativamente à ação direta de inconstitucionalidade, desde que demonstradas a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes. BL: art. 138, caput, NCPC c/c art. 7º, §2º, Lei 9868 e Entend. Jurisprud. #Atenção: #STF: #TRF1-2015: #CESPE: #FCC: A Lei 9.882/99 (Lei da ADPF) não possui previsão expressa acerca do amicus curiae, o que não impede, porém, sua intervenção quando do julgamento de ADPFs. A aplicação decorre de aplicação analógica do art. 7º, §2º, da Lei 9.868/99 (Lei da ADI) e é louvável medida que visa conferir maior legitimidade democrática às decisões de cariz objetivo da Corte. A título de exemplo, vejamos o seguinte julgado do STF: “Diante do exposto, com base no disposto no art. 7º, §2º, da Lei 9.868/99, aqui aplicável por analogia, e o art. 138, caput, do CPC, admito a Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, como amicus curiae, facultando-lhe a apresentação de informações, memoriais escritos nos autos e de sustentação oral por ocasião do julgamento definitivo do mérito da presente ADPF”. (STF. Decisão monocrática. ADPF 403/SE, rel. Min. Edson Fachin, j. 26/06/18).] A figura do “amicus curiae” é também admitida no controle difuso-concreto. 4.1.5. Admissibilidade em concreto e requisitos necessários A entrada no processo pode ser requerida pelo próprio “amicus curiae” (v.g. a entidade interessada pede para atuar como tal), ou solicitada pelo STF de ofício (v.g. em tema de alta complexidade, o STF requer que grande autoridade fale sobre o assunto – HC 82.484). Quando a participação é requerida pelo interessado, cabe ao Relator admiti-lo ou não. O despacho de admissão é irrecorrível, enquanto o despacho de inadmissão é recorrível por agravo ao Plenário. Nesse passo, são os requisitos de admissibilidade previstos no art. 7º, §2º, da Lei 9.868/99: (i) relevância da matéria e a (ii) representatividade do postulante. Além desses dois requisitos, no âmbito do controle abstrato, o STF tem exigido que o requerente seja pessoa jurídica: órgão ou instituição. O Supremo entende que a lei menciona apenas órgão ou instituição de forma que não são admitidas pessoas físicas. #Obs.: No controle difuso pode ser pessoa física. Ademais, o STF tem exigido pertinência temática, ou seja, aquele que pede para participar deve demonstrar que o conteúdo impugnado afeta, de alguma forma, o seu interesse. #Obs.: Marcelo Novelino entende ser equivocada essa exigência, pois o papel do “amicus curiae” é contribuir para a decisão e não defender interesse próprio. Portanto, a seu ver, o STF acabou desconfigurando a essência desse instituto. #EM RESUMO: São os requisitos de admissibilidade atualmente requeridos: · Requisito objetivo: relevância da matéria. · Requisito subjetivo: representatividade do postulante; · Pessoa jurídica órgão ou instituição; · Pertinência temática. 4.1.6. Forma de manifestação A forma de manifestação do “amicus curiae” pode ser oral (pedir para ingressar e fazer sustentação oral) ou ser escrita (pedir para apresentar memoriais escritos). O mais comum é que ele apresente pedido de ingresso já com memoriais e peça, também, para fazer sustentação oral. O STF pode admitir os dois, um dos dois, ou mesmo nenhum. #Atenção: #STF: #DPEES-2016: #FCC: O amicus curiae, uma vez admitido seu ingresso no processo objetivo, tem direito a ter seus argumentos apreciados pelo Tribunal, inclusive com direito a sustentação oral, mas NÃO TEM direito a formular pedido ou de aditar o pedido já delimitado pelo autor da ação. (AC 1362 / MG).[footnoteRef:199] [199: (DPEES-2016-FCC): O Supremo Tribunal Federal, no âmbito da ADI 5.357/DF, em que são impugnados dispositivos da nova Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência − Lei 13.146/15 (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência), admitiu a intervenção de Defensoria Pública Estadual, por meio do seu Núcleo Especializado de Direitos das Pessoas com Deficiência, como amicus curiae, evidenciando a importância de tal atuação institucional em prol dos indivíduos e grupos sociais vulneráveis. Em relação ao instituto do amicus curiae, ou “amigo da corte”, no âmbito das ações constitucionais, é correto afirmar: O amicus curiae, muito embora tenha assegurado o direito de ter seus argumentos apreciados pelo Tribunal, não tem direito a formular pedido ou aditar o pedido já delimitado pelo autor da ação.] 4.1.7. Prazo para ingresso Não há prazo legal para ingresso. Em regra, o STF admite o requerimento de ingresso do “amicus curiae” até a solicitação de julgamento do processo pelo Relator, que é quando se dá a inclusão na pauta de julgamento. (ADI 4.071-AgR, STF). [footnoteRef:200] [200: (TRT21-2012): O amicus curiae somente pode demandar sua intervenção nos autos até a data em que o relator liberar o processo para pauta. BL: STF, ADI 4.071-AgR.] No entanto, o STF vem admitindo várias exceções a esta regra, permitindo-se a participação de amicus curiae cujo requerimento de ingresso foi feito mesmo após a inclusão na pauta de julgamento. Exemplo: RE n. 597.064. 4.1.8. Análise comparativa: controle concentrado e abstrato e controle difuso incidental/concreto · CONTROLE CONCENTRADO ABSTRATO: Lei n. 9.868/99, art. 7º: Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade [regra]. (…) § 2º: O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir [obs.: não admissão: cabimento de agravo regimental], observado o prazo fixado no parágrafo anterior [obs.: vetado], a manifestação de outros órgãos ou entidades [obs.: STF não admite pessoas físicas, como ‘amicus curiae’, no controle concentrado abstrato].[footnoteRef:201] [201: (TJDFT-2012): Embora não seja admitida a intervenção de terceiros no processo da ADI, o STF vem permitindo o “amicus curiae”, para possibilitar à sociedade um mais amplo debate da questão constitucional. BL: art. 7º,§2º da Lei 9.868/99. #Atenção: Uma das características do controle concentrado de constitucionalidade é a inadmissibilidade de intervenção de terceiros (art. 7º, caput desta Lei). Mas o relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir a manifestação de outros órgãos ou entidades (art. 7º, §2º desta Lei), o que abre espaço para a figura do amicus curiae, conforme já decidiu o STF na ADI 2238. Assim, pode-se dizer que a atuação do amicus curiae tem natureza sui generis.] #ATENÇÃO: #PROVADAAGU: #CESPE: De acordo com o STF, a admissão de terceiros na qualidade de amicus curiae não lhes assegura o direito à interposição de recursos, nem mesmo de embargosde declaração (ADI 4167, 27.02.13). O único recurso que pode ser interposto pelo amicus curiae é o agravo regimental quando indeferida a sua admissão no processo (ADI 3396, 10.05.12).[footnoteRef:202] [202: (Proc. Municipal-Aracaju/SE-2008-CESPE): O amicus curiae não tem legitimidade para recorrer de decisões proferidas em ação declaratória de inconstitucionalidade, salvo daquelas que não o admitam como tal no processo. BL: ADI 3396, STF.] · CONTROLE DIFUSO INCIDENTAL/CONCRETO: CPC, art. 138: O juiz [obs.: juiz de 1º grau] ou o relator [obs.: Tribunal], considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.[footnoteRef:203] [203: (MPSC-2016): Nos termos do novo CPC, no que se refere a intervenção do amicus curiae, o juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada. BL: art. 138, NCPC. #Atenção: A partir do NCPC, tornou-se possível, em tese, a atuação do "amicus curiae" em qualquer processo. (TJPR-2017) (PGEMT-2016-FCC): A intervenção de amicus curiae é admitida expressamente tanto no juízo de piso como perante órgãos colegiados. BL: art. 138, NCPC. (PGEMT-2016-FCC): A intervenção de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada na condição de amicus curiae independe de pedido das partes, pois a lei prevê expressamente a possibilidade de ser determinada de ofício pelo magistrado. BL: art. 138, NCPC.] §1º: A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos [obs.: regra – aplicada ao controle concentrado abstrato], ressalvadas a oposição de embargos de declaração [obs.: não é aplicado ao controle concentrado abstrato] e a hipótese do § 3º. §2º: Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae. §3º: O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.[footnoteRef:204] [204: (TJMSP-2016-VUNESP): A respeito do amicus curiae, é correto afirmar que passou a ser modalidade de intervenção de terceiro no processo, com poder de interpor recurso de decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. BL: art. 138, NCPC.] #Atenção: VEJAMOS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS: i. Quanto aos legitimados: · Controle concentrado abstrato (Lei n. 9.868/99): órgãos ou entidades. · Controle difuso incidental/concreto (NCPC): pessoa natural ou jurídica. ii. Quanto aos recursos: · Controle concentrado abstrato (Lei 9.868/99): “amicus curiae” não tem legitimidade para requerer medida cautelar nem para interpor recurso. · Controle difuso incidental/concreto (CPC): pode opor embargos declaratórios e recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. #Atenção: #DOD: #STF: #DPEPI-2022: #CESPE: Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar: O amicus curiae não tem legitimidade para propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem legitimidade para, no curso do processo, formular pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 18/3/20 (Info 970). #Atenção: #STF: #DOD: #TRF4-2022: #MPAM-2023: #TRF1-2023: #CESPE: #FGV: A decisão do Relator que admite ou inadmite o ingresso do amicus curiae é irrecorrível É irrecorrível a decisão na qual o relator indefere pedido de ingresso de amicus curiae na ação. STF. Plenário. ADO 70 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/07/22. (...) É irrecorrível a decisão que indefere o pedido de ingresso na condição de amicus curiae. A diretriz vigora também relativamente a processos de índole subjetiva (RE 1017365 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, DJe de 24/9/20). STF. Plenário. Inq 4888 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 22/08/22. (...) Cabe recurso contra a decisão do Relator que admite o ingresso do amicus curiae? NÃO. O art. 138 do CPC/15 expressamente prevê que se trata de decisão irrecorrível. Veja: “Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.” 5.2. Procurador-Geral da República[footnoteRef:205] [205: #Atenção: Tema cobrado na prova do TJDFT-2023 (CESPE).] Conforme o art. 103, §1º, da CF/88, o Procurador-Geral da Repúblcia deve ser intimado em “todos” os processos de competência do STF: CF, art. 103, § 1º: O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.[footnoteRef:206] [206: (TJMA-2008): O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência do STF, o qual também pode propor ações diretas de inconstitucionalidade ou ações declaratórias de constitucionalidade. BL: art. 103, inciso VI e §1º da CF/88.] Porém, considerando a grande demanda de processos que chega à Corte, o STF interpreta a regra da CF, art. 103, §1º, com temperamentos, no sentido de que não é necessário que o PGR seja formalmente intimado a se manifestar em todos os processos, mas sim que possua conhecimento da tese discutida. Então, se ele foi intimado a se manifestar sobre determinada tese em determinado processo, essa manifestação vale para todos os outros processos que abordem a mesma tese. Especificamente em relação ao controle concentrado abstrato, a atuação do PGR é a seguinte: além de lhe ser possibilitada a propositura da ação, ele tem o poder/dever de participar em todos os processos, atuando como “custos constitutionis” (fiscal da supremacia da Constituição) Assim, ele protege a ordem constitucional objetiva de violações. #Atenção: Inclusive, o PGR pode se manifestar contrariamente a uma ação proposta por ele mesmo (ADI n. 4975). O que não pode ocorrer é a desistência. #Atenção: Sobre o tema, Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino explica: “Ademais, mesmo quando o Procurador Geral da República é o autor da ação direta preserva ele o seu direito de opinar a respeito do cabimento dessa ação. Poderá o Procurador Geral da República, inclusive, opinar pela improcedência da ADI que ele mesmo ajuizou (manifestando-se, ulteriormente, com fundamento no ART. 103, parágrafo 1°, contra a inconstitucionalidade que ele próprio arguiu, no uso da sua legitimação consagrada no ART. 103, VI, da CF)”. (Fonte: Direito constitucional descomplicado - Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 2022). 5.3. Advogado-Geral da União Como não há autor e réu nas ações de controle abstrato, o AGU possui importante função, distinta da que ele exerce normalmente (CF, art. 131). Nesses processos, o AGU age na função de “defensor legis”, ou seja, defendendo a presunção de constitucionalidade das leis (é como se fosse um curador). CF, art. 103, § 3º: Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá oato ou texto impugnado.[footnoteRef:207] [207: (TJMA-2008): O Advogado Geral da União não tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade, perante o STF. BL: art. 103, §3º da CF/88. #Atenção: #TJMA-2008: #AGU-2023: #CESPE: O AGU não tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade, perante o STF, pois, nos termos do art. 103, §3º, da CF, cabe a ele a defesa do ato ou texto impugnado.] A função do Advogado-Geral da União é diferente da exercida pelo Procurador-Geral da República, o qual emite pareceres objetivando a proteção da ordem constitucional objetiva. O AGU é obrigado a defender o ato impugnado (curador da presunção de constitucionalidade). #Questiona-se: #TRF1-2009: #TJAC-2019: #AGU-2015/2023: #CESPE: #VUNESP: Como o AGU é o chefe da Advocacia-Geral da União, estaria ele obrigado a defender também as leis estaduais? Sim. Embora o AGU possua função geral de chefe da Advocacia-Geral da União, ao atuar no âmbito do controle abstrato, ele estará atuando em uma função especial de “defensor legis”, devendo defender o ato impugnado, não importa de onde emanou. Por isso, o entendimento é de que cabe a ele defender a lei ou o ato normativo federal ou estadual. Entretanto, STF adota o entendimento de que, EXCEPCIONALMENTE, o AGU não está obrigado a defender o ato impugnado nas seguintes hipóteses: i. Tese jurídica já declarada inconstitucional pelo STF; ii. O ato for contrário ao interesse da União; #Obs. Para Marcelo Novelino é um entendimento equivocado, pois o AGU atua como “defensor legis” e não defensor da União. iii. O ato cuja defesa seja inviável: Entende-se que, se o ato for claramente incompatível com a Constituição, não é possível obrigar o AGU a defender o ato. Ademais, há uma impossibilidade de sanção ao AGU caso não defenda o ato. #Atenção: #STF: #TRF1-2009: #MPPI-2012: #TRF5-2013: #PGEMS-2014: #MPT-2017: #PGETO-2018: #TJAC-2019: #AGU-2015/2023: #PFN-2023: #CESPE: #FCC: #VUNESP: A regra é de que tanto o AGU, em âmbito federal, quanto o PGE, em nível estadual, defendam a constitucionalidade da norma. A jurisprudência do STF, no entanto, criou uma exceção, retirando a obrigatoriedade da defesa da constitucionalidade da norma quando já houver manifestação anterior da Suprema Corte no sentido da inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. É o que se observa: “(...) O múnus a que se refere o imperativo constitucional (CF, art. 103, § 3º) deve ser entendido com temperamentos. . O Advogado-Geral da União não está obrigado a defender tese jurídica se sobre ela esta Corte já fixou entendimento pela sua inconstitucionalidade. (...). Nesse contexto, o STF entende ser dispensável a atuação do Advogado-Geral da União em ADI na hipótese de já haver pronunciamento prévio da Corte sobre a (in)constitucionalidade da norma (STF. Plenário. ADI 1.616/PE, rel. Min. Maurício Corrêa, j. 25.06.97). “(...) ATUAÇÃO DO ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO NO PROCESSO DE FISCALIZAÇÃO CONCENTRADA DE CONSTITUCIONALIDADE – O Advogado-Geral da União – que, em princípio, atua como curador da presunção de constitucionalidade do ato impugnado (RTJ 131/470 – RTJ 131/958 – RTJ 170/801-802, v.g.) – não está obrigado a defender o diploma estatal, se este veicular conteúdo normativo já declarado incompatível com a Constituição da República pelo STF em julgamentos proferidos no exercício de sua jurisdição constitucional. Precedentes.” (STF. Plenário. ADI 2442, Rel. Celso de Mello, j. 17/10/18). “(...) PROCESSO OBJETIVO – ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO. A teor do disposto no art. 103, § 3º, da CF, no processo objetivo em que o Supremo aprecia a inconstitucionalidade de norma legal ou ato normativo, o Advogado-Geral da União atua como curador, cabendo-lhe defender o ato ou texto impugnado, sendo imprópria a emissão de entendimento sobre a procedência da pecha. (...)” STF. Plenário. ADI 4667, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 22/06/20. De outro lado, a doutrina costuma defender a dispensa do AGU nas ações diretas de inconstitucionalidade por omissão. Isso porque a função do AGU se resume, em síntese, à defesa da norma cuja constitucionalidade fora arguida; deve ele defender a presunção de constitucionalidade das leis. No caso da ADO, não há lei a ser presumida constitucional, não subsistindo a função primordial do AGU.[footnoteRef:208] [208: (AGU-2023-CESPE): No que se refere ao papel do advogado-geral da União no controle concentrado de constitucionalidade, assinale a opção correta: Em ação direta de inconstitucionalidade (ADI), o advogado-geral da União pode deixar de defender a compatibilidade da norma atacada com a Constituição. BL: art. 103, §3º, CF e Entend. STF. (TRF1-2009-CESPE): Quanto às funções essenciais à justiça, julgue o item a seguir: A norma constitucional que impõe a citação prévia do advogado-geral da União para promover a defesa de ato ou texto impugnado em ação direta de inconstitucionalidade é compreendida com moderação, pelo STF, pois o advogado-geral da União não está obrigado a defender tese jurídica se sobre a inconstitucionalidade dela a Corte Suprema já fixou entendimento. BL: art. 103, §3º, CF e Entend. STF.] 6. LIMINAR 6.1. Quórum (de Presença/Votação e de Julgamento) Existem dois quóruns diferentes, o quórum de presença ou de votação (número mínimo de Ministros presentes para que o julgamento possa ser realizado) e o quórum de julgamento (número mínimo de votos para conceder ou não a liminar). 6.1.1. Regra EM REGRA, o quórum necessário para julgamento da liminar é o da maioria absoluta dos membros (6 de 11) e o quórum de presença/instalação/votação é o de 08 Ministros (de 11). Portanto: · Quórum de julgamento: maioria absoluta dos membros (6 de 11); · Quórum de presença/votação: pelos menos 08 ministros (do total de 11). Lei n. 9.868/99, art. 22: A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.[footnoteRef:209] [209: (TJMS-2010-FCC): A ação direta de inconstitucionalidade no Direito Constitucional brasileiro NÃO pode ser decidida pelo STF na presença de seis ministros. BL: art. 22, Lei 9868.] 6.1.2. Exceções (liminar concedida monocraticamente) No caso da ADC, NÃO HÁ EXCEÇÕES. A liminar somente poderá ser concedida pelo Plenário, pois a lei já tem presunção de constitucionalidade. Vejamos o que dispõe o art. 21 da Lei 9.868/99: Lei n. 9.868/99, art. 21: O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo. Entretanto, em se tratando de ADI HÁ DUAS EXCEÇÕES: · Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Presidente do Tribunal, ou quem o estiver substituindo, durante o período de recesso. Nesse caso, após o período de recesso, o feito irá para o Relator, o qual, também monocraticamente, pode modificar essa decisão caso entenda necessário. · Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Relator, em caso de extrema urgência e perigo de grave lesão. Nesse caso, a decisão deve ser referendada posteriormente pelo Pleno. Lei n. 9.868/99, art. 10: Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, observado o disposto no art. 22 [quórum de 8 Ministros], após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.[footnoteRef:210] [210: (TJMA-2008): Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, após a audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado. BL: art. 10 da Lei 9868/99.] Por fim, no caso da ADPF EXISTEM AS MESMAS EXCEÇÕES: · Poderá conceder liminar, monocraticamente,o Presidente do Tribunal, ou quem o estiver substituindo, durante o período de recesso. #Obs.: A lei fala que o relator concederá em período de recesso, mas quem fica no plantão é o Presidente. · Poderá conceder liminar, monocraticamente, o Relator, em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave. Vejamos o teor do art. 5º, §1º da Lei 9.882/99: ADPF: Lei n. 9.882/99, art. 5º: O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida liminar na argüição de descumprimento de preceito fundamental. §1º: Em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ou ainda, em período de recesso, poderá o relator conceder a liminar, ad referendum do Tribunal Pleno.[footnoteRef:211] [211: (TJGO-2015-FCC): Tão logo iniciado o ano judiciário, o Procurador-Geral da República, com base em representação promovida por Procurador-Geral de Justiça de determinado Estado da federação, propõe ADPF, com pedido de liminar, perante o STF, tendo por objeto dispositivos originais da lei de contravenções penais, promulgada em 1941, ainda em vigor e objeto de controvérsia judicial atual. Neste caso, em tese, à luz das normas constitucionais e legais pertinentes, caberá a liminar ser concedida pelo Relator em caso de extrema urgência ou perigo de lesão grave, ad referendum da maioria absoluta dos membros do STF. BL: art. 5º, §1º da Lei 9882/99.] #Atenção: #STF: #TRF5-2015: #MPGO-2016: #CESPE: Segundo o STF, o indeferimento de liminar em ação direta de inconstitucionalidade, pouco importando o fundamento, não dá margem à apresentação de reclamação. STF. Plenário, Rcl 2.810-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 18/11/04. (...) Inadmissibilidade. Oposição contra decisão que indefere liminar em ação direta de inconstitucionalidade - ADI. Fundamentação do indeferimento. Irrelevância. Pedido não conhecido. Agravo improvido. Revisão da jurisprudência do STF. Precedentes. Não se admite reclamação contra decisão que, em ação direta de inconstitucionalidade, indefere, sob qualquer que seja o fundamento, pedido de liminar. STF. Plenário. Rcl 3458 AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 29/10/07. · #Comentários sobre o julgado acima: - A medida liminar não possui, como as decisões definitivas nos processos objetivos de controle, caráter dúplice. É dizer, sua não concessão não produz qualquer efeito. Assim, diante da não concessão de liminar em ADI, não se pode afirmar erroneamente que a norma é, portanto, constitucional - dado o caráter precário da decisão. Por isso, não cabe reclamação diante da não aplicação da norma, só se podendo falar em reclamação após a declaração definitiva de inconstitucionalidade do objeto impugnado. - Acerca do tema, Pedro Lenza explica que a ADI “tem caráter dúplice ou ambivalente, pois, conforme estabelece o art. 24, da Lei n. 9868/99, proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente a eventual ação declaratória e, no mesmo passo, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória. [...] O STF, revendo posição anterior, definiu que o indeferimento da cautelar não significa a confirmação da constitucionalidade da lei com efeito vinculante. Portanto, na medida em que não se poderá sustentar o efeito vinculante da decisão de indeferimento, conforme anotou o STF, 'não se admite reclamação contra decisão que, em ação direta de inconstitucionalidade, indefere, sob qualquer que seja o fundamento, pedido de liminar.' ( Rcl 3458-ArR/2007)" (LENZA, 2013, p.364-379).[footnoteRef:212] [212: (TRF5-2015-CESPE): No tocante às ações de controle concentrado, assinale a opção correta com base no entendimento do STF: A despeito do caráter dúplice da ADI, o indeferimento de medida cautelar não dá margem à propositura de reclamação, visto que essa decisão não possui efeito vinculante. BL: Entend. Jurisprud.] #Atenção: #STF: #MPGO-2016: Prorroga-se a eficácia de liminar concedida em ação direta de constitucionalidade, quando, vencido o prazo, os autos se encontrem, para parecer, na Procuradoria-Geral da República. STF. Plenário. ADC 11 MC, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 28/03/07. 6.2. Eficácia Objetiva e Subjetiva 6.2.1. Aspecto geral Com relação à ADI, ADC e ADPF, os efeitos da liminar são sempre ERGA OMNES e VINCULANTES. O efeito “ERGA OMNES” (efeito contra todos) é inerente ao controle abstrato, dada a inexistência de partes formais. Pelo fato não existir partes formais, não faria sentido que a decisão fosse “inter partes”. 6.2.2. ADC No caso da ADC, o efeito da liminar é A SUSPENSÃO DO JULGAMENTO DE PROCESSOS, nos quais a constitucionalidade da lei seja discutida. A razão disso é que já existe uma presunção de constitucionalidade das leis e, portanto, não há sentido em conceder uma liminar dizendo que a lei é constitucional. Destaque-se que o prazo máximo da suspensão é de 180 dias. Se, em 180 dias o feito não for julgado, a liminar exaure a sua eficácia. Vejamos o teor do art. 21, da Lei 9.868/99: Lei n. 9.868/99, Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo. Parágrafo único. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União [obs.: antes de publicada não produzirá efeitos] a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia. #Obs. A parte dispositiva desta liminar apenas produz efeitos após publicada no Diário Oficial da União. Ora, como ela tem efeitos erga omnes, para que todos tenham conhecimento da liminar, é necessário que haja tal publicação. 6.2.3. ADI Tratando-se de ADI, o efeito da liminar é A SUSPENSÃO DA VIGÊNCIA E EFICÁCIA DA NORMA. Ademais, embora a Lei n. 9.868/99 não possua nenhuma previsão específica de suspensão de processos no caso de ADI, o STF tem aplicado, por analogia, o art. 21 da Lei n. 9.868/99. Vejamos o seu teor: Lei n. 9.868/99, art. 21, parágrafo único: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União [antes de publicada não produzirá efeitos] a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia. 6.2.4. ADPF No caso da ADPF, a lei determina a SUSPENSÃO DA TRAMITAÇÃO DE PROCESSOS ou DE EFEITOS DE DECISÕES JUDICIAIS ou DE QUALQUER OUTRA MEDIDA, salvo se decorrentes da coisa julgada (pois nesse caso é hipótese de cabimento de ação rescisória). Vejamos o art. 5º, §3º da Lei 9.882/99: Lei n. 9.882/99, art. 5º, § 3º: A liminar poderá consistir na determinação de que juízes e tribunais suspendam o andamento de processo ou os efeitos de decisões judiciais, ou de qualquer outra medida que apresente relação com a matéria objeto da arguição de descumprimento de preceito fundamental, salvo se decorrentes da coisa julgada. #Obs.: Efeitos da negativa da liminar: Ao se negar a liminar, o STF está dizendo simplesmente que os pressupostos de cabimento da liminar não estão presentes. Assim, a negativa da liminar não produz nenhum tipo de efeito.[footnoteRef:213] Em outras palavras, a não concessão de liminar não produz qualquer efeito. Não tem efeito, portanto, de considerar a lei constitucional, por exemplo. É nesse sentido, o seguinte julgado do STF, do qual se extrai o seguinte trecho da ementa: [213: (AGU-2010-CESPE): Para o STF, o indeferimento da medida cautelar na ADI não significa confirmação da constitucionalidade da lei com efeito vinculante. #Atenção: O indeferimento da ADI, ou de sua cautelar, pode acontecer por vários motivos, inclusive pela falta de pressupostosformais. Assim, somente se a decisão de mérito, fosse denegatória é que se confirmaria a constitucionalidade da lei.] “(...). Decisões do STF que, tornadas insubsistentes, já não podem respaldar a reclamação. 3. Somente as decisões concessivas das liminares em ADIs e ADCs é que se dotam de efeito vinculante. No caso da ADI 2.797, o que se teve foi decisão denegatória de liminar. 4. Face à natureza subjetiva do processo, as decisões proferidas em reclamação não têm efeito vinculante. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (Rcl 3233 AgR, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, 1ª Turma, j. 27/11/07). 6.3. Eficácia Temporal 6.3.1. ADC No caso da ADC não há que se falar em eficácia temporal, pois o efeito da liminar suspenderá o julgamento dos processos, obviamente daquele momento em diante. Em resumo, não se aplica. 6.3.2. ADI Tratando-se de ADI, EM REGRA, o efeito da suspensão na concessão de uma liminar é “EX NUNC” (a partir da decisão). Veja que, ao se julgar uma liminar, o STF não está dizendo que a lei é inconstitucional, mas apenas que ela aparentemente é inconstitucional e, por isso, a suspensão não possui efeitos retroativos. Porém, EXCEPCIONALMENTE, o STF pode fazer uma modulação temporal dos efeitos da decisão, dando-lhe efeitos “EX TUNC” (eficácia retroativa). A utilização da modulação depende do caso concreto (v.g. excepcional interesse social, segurança jurídica, etc). Vejamos o teor do art. 11, §1º da Lei 9.868/99: Lei n. 9.868/99, art. 11, § 1º: A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc [regra], salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa [efeito ‘ex tunc’ – exceção].[footnoteRef:214] [214: (TJPR-2019-CESPE): O STF pode, por decisão da maioria absoluta de seus membros, deferir pedido de medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade, determinando que juízes e tribunais suspendam o julgamento de processos que envolvam a aplicação de lei ou de ato normativo objeto da referida ação até o seu julgamento definitivo. Nesse sentido, a medida cautelar em ação declaratória de constitucionalidade, até o julgamento final da ação, produzirá efeito vinculante e eficácia ex nunc. BL: art. 11, §1º c/c art. 21 Lei 9868/99. #Atenção: Cumpre destacar que o art. 11 da Lei 9868/99, em que pese esteja no capítulo relativo a ADI, também se aplica à ADC. Tal raciocínio decorre do art. 21 da Lei 9868/99, que assim dispõe: “O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consistente na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.”. Percebe-se, portanto que o comando é geral (“juízes e os Tribunais”), motivo pela qual se depreende ser vinculante. Além disso, não prevê retroação dos efeitos: pelo contrário, o § único do art. 21 prevê perda automática da eficácia cautelar se o Tribunal não julgar o feito em 180 dias. (MPMG-2018): De acordo com a Lei 9.868/99, é CORRETO afirmar: a medida cautelar, na Ação Direta de Inconstitucionalidade, será dotada de eficácia contra todos, e concedida com efeito ex nunc, salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa. BL: art. 11, §1º, Lei 9868/99.] Quando uma lei é suspensa, EM REGRA, a legislação revogada pela nova lei impugnada voltará a produzir efeitos novamente. Trata-se do fenômeno do EFEITO REPRISTINATÓRIO TÁCITO (tácito, porque a decisão do STF não faz nenhuma menção expressa à lei anterior, a qual havia sido revogada pela lei suspensa). Para que não haja o efeito repristinatório, o STF deve manifestar-se expressamente acerca disso[footnoteRef:215]. Sendo assim, o efeito repristinatório tácito É AUTOMÁTICO. Vejamos o teor do art. 11, §2º da Lei 9.868/99: [215: (PCMS-2006-FAPEC): Repristinação de uma lei é o mesmo que revalidação.] Lei n. 9.868/99, art. 11, § 2º: A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário.[footnoteRef:216] [216: (PGM-Várzea Paulista/SP-2016-VUNESP): Acerca do processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade perante o STF, nos expressos termos da legislação vigente sobre o tema, temos que a concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário. BL: art. 11, §2º da Lei 9868/99. (PGM-São Paulo/SP-2014-VUNESP): No que se refere às decisões concessivas de medida cautelar, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade, é correto afirmar, como regra geral, que a norma tem sua eficácia suspensa, com efeito vinculante, ex nunc e erga omnes. BL: art. 11 da Lei 9868/99.] #Questiona-se: #TJRJ-2013: #VUNESP: #MPF-2017: #MPSP-2011/2019: É possível ocorrer o efeito repristinatório decorrente da declaração de inconstitucionalidade? Sim, conforme o entendimento do STF: (...) A declaração final de inconstitucionalidade, quando proferida pelo STF em sede de fiscalização normativa abstrata, importa - considerado o efeito repristinatório que lhe é inerente - em restauração das normas estatais anteriormente revogadas pelo diploma normativo objeto do juízo de inconstitucionalidade, eis que o ato inconstitucional, por ser juridicamente inválido (RTJ 146/461-462), sequer possui eficácia derrogatória. Doutrina. Precedentes (STF). STF. Plenário. ADI 2867, Min. Rel. Celso de Mello, j. 03/12/03.[footnoteRef:217] [217: (MPSP-2019): Assinale a alternativa correta: A declaração final de inconstitucionalidade, quando proferida em sede de fiscalização normativa abstrata, considerado o efeito repristinatório que lhe é inerente, importa em restauração das normas estatais anteriormente revogadas pelo diploma normativo objeto do juízo de inconstitucionalidade. BL: art. 11, §2º, Lei 9868/99 e Entend. Jurisprud.] Desse modo, a declaração da inconstitucionalidade de uma norma pelo STF acarreta o efeito repristinatório em relação à legislação anterior, que por ela havia sido revogada. Exemplificativamente, se a “Lei 2” revoga a “Lei 1”, a posterior declaração da inconstitucionalidade da “Lei 2” produz efeito repristinatório em relação à “Lei 1”, que volta a viger em todo o período em que esteve no ordenamento jurídico a “Lei 2”. Como, em regra, a declaração da inconstitucionalidade da “Lei 2” opera efeitos retroativos (ex tunc), retirando-a do ordenamento jurídico desde o seu nascimento, a anterior revogação da “Lei 1” é desfeita (essa revogação, na verdade, não ocorreu!) e, com isso, esta volta a viger em todo o período, sem interrupção. Conforme explica Marcelo Novelino: “Nos casos em que a decisão proferida pelo STF declarar a inconstitucionalidade de uma lei com efeitos retroativos (ex tunc), a legislação anteriormente revogada voltará a produzir efeitos, desde que compatível com a Constituição. Ocorre, portanto, o fenômeno conhecido como efeito repristinatório tácito. Isso ocorre porque a lei inconstitucional é considerada um ato nulo, ou seja, com um vício de origem insanável. Sendo este vício reconhecido e declarado desde o surgimento da lei, não se pode admitir que ela tenha revogado uma lei válida. (...)” (Manual de Direito Constitucional. 9ª ed., São Paulo: Método, 2014, p. 475). #Atenção: #STF: #AGU-2023: #CESPE: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR - DESISTÊNCIA - IMPOSSIBILIDADE - PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE - PEDIDO DE DESISTÊNCIA INDEFERIDO. O princípio da indisponibilidade, que rege o processo de controle normativo abstrato, impede - por razões exclusivamente fundadas no interesse público - que o autor da ação direta de inconstitucionalidade venha a desistir do pedido de medida cautelar por ele eventualmente formulado. (...) STF. Plenário. ADI 892 MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 27/10/94. 6.3.3. ADPF No que se refere à ADPF, EM REGRA, o efeito dasuspensão na concessão de uma liminar é “EX NUNC” (a partir da decisão). Ressalte-se que, embora a Lei 9.882/99 não discipline o tema, aplica-se, por analogia, o art. 11, §1º, da Lei n. 9.868/99: Lei n. 9.868/99, art. 11, § 1º: A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc [regra], salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa [efeito ‘ex tunc’ – exceção]. 6.3.4. Aspecto comum – Obrigatoriedade[footnoteRef:218] [218: #Atenção: Tema cobrado na prova do MPF-2022.] Por fim, seja na ADI, ADC ou ADPF, a obrigatoriedade da decisão se dá A PARTIR DA PUBLICAÇÃO (e não do trânsito em julgado) do dispositivo da decisão no DOU e DJU. Essa necessidade de publicação decorre do fato de que o processo objetivo inerente às ações de controle abstrato não possui partes formais, sendo as decisões, por natureza, dotadas de efeitos erga omnes. Havendo efeitos erga omnes, para que as pessoas tenham ciência do decidido, é preciso dar publicidade. Vejamos o teor dos art. 11 e 21, § único da Lei 9.868/99: Lei n. 9.868/99, art. 11: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o ato, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I deste Capítulo. Lei n. 9.868/99, art. 21, parágrafo único: Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção especial do Diário Oficial da União [antes de publicada não produzirá efeitos] a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de perda de sua eficácia. 7. DECISÃO DE MÉRITO 7.1. Quórum Essa matéria referente ao quórum é igual para ADI, ADC e ADPF. Ao contrário da liminar, em que pode ocorrer uma concessão monocrática pelo Relator ou Presidente do Tribunal, a decisão de mérito é analisada exclusivamente pelo Plenário do STF. A única exceção a esta regra é a possibilidade do relator, monocraticamente, não admitir a ação. Porém, dessa decisão que indefere a petição inicial, caberá agravo para o Plenário. O quórum de presença/ de sessão/ para votação é de, no mínimo, oito (2/3) Ministros presentes (Lei n. 9.868/99, art. 22 e Lei n. 9.882/99, art. 8º). Vejamos: L. 9.868/99 (ADI e ADC), art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros. L. 9.882/99 (ADPF), art. 8o A decisão sobre a arguição de descumprimento de preceito fundamental somente será tomada se presentes na sessão pelo menos dois terços dos Ministros. O quórum de julgamento, ou seja, o necessário para a declaração da (in)constitucionalidade é de 6 Ministros (maioria absoluta do STF). Vejamos: Lei n. 9.868/99, art. 23: Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade. Se o quórum mínimo de seis ministros (maioria absoluta) não é alcançado para proclamar a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade, a decisão não produzirá efeitos “erga omnes” e efeitos vinculantes em relação àquele ponto. Nesse sentido, vejamos recente julgado do STF, publicado no Info 874 (#DOD): Imagine a seguinte situação: é proposta uma ADI contra determinada lei. Cinco Ministros votam pela inconstitucionalidade da lei. Quatro Ministros votam pela constitucionalidade. Dois Ministros declaram-se impedidos de votar. Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada inconstitucional por maioria de votos? NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos para a declaração de inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o quórum exigido pelo art. 97 da CF, entende-se que o STF não pronunciou juízo de constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei nem constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é constitucional ou inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF. STF. Plenário. ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 23 e 24/8/17 (Info 874). #Atenção: A Lei 9.882/99, em sua redação original, exigia para o julgamento de uma ADPF o quórum de 2/3 (o quórum de julgamento era o mesmo quórum de votação/de sessão). Porém, o Presidente da República vetou esse dispositivo por entender que seria demasiadamente rígido e inviabilizaria o procedimento da ADPF. Assim, a lei da ADPF não prevê quórum, aplicando-se por analogia o mesmo da lei das ADI e ADC. Sendo assim, caso preenchido o quórum de presença/votação (08 Ministros = 2/3), mas não o quórum de julgamento (06 Ministros), a decisão não produzirá efeitos erga omnes e vinculante. Exemplo: O STF vai julgar a (in)constitucionalidade de uma lei e estão presentes 08 (oito) Ministros (quórum de presença/votação preenchido). Para que seja declarada sua (in)constitucionalidade, 06 (seis) desses Ministros devem se manifestar no mesmo sentido. Assim, se 05 (cinco) Ministros votarem pela inconstitucionalidade e 03 (três) Ministros pela constitucionalidade, não haverá quórum mínimo para declarar a lei constitucional ou inconstitucional, de forma que os efeitos da decisão não serão erga omnes e vinculante. Vejamos a seguinte decisão do STF: STF, ADI 4.165/DF: (…) o Tribunal julgou a ação improcedente, por maioria. Quanto à eficácia erga omnes e ao efeito vinculante da decisão em relação ao §4º do art. 2º da Lei n. 11.738/08, o Tribunal decidiu que tais eficácias não se aplicam ao respectivo juízo de improcedência, contra os votos dos Senhores Ministros Joaquim Barbosa (Relator) e Ricardo Lewandowski. 7.2. Recorribilidade A decisão de mérito nas ações de controle abstrato (ADI, ADC e ADPF) é uma DECISÃO IRRECORRÍVEL, o que é óbvio, já que o STF é a última instância em âmbito nacional. EXCEPCIONA-SE a possibilidade de oposição de embargos declaratórios, que embora possam ter efeitos infringentes, não têm o objetivo de alterar a decisão (visam o esclarecimento de um ponto omisso, contraditório ou obscuro). Da mesma forma, não cabe ação rescisória contra decisão proferida em sede de ADI, ADC e ADPF. O art. 26 da Lei 9.868/99 e o art. 12 da Lei 9882/99 assim dispõem: Lei n. 9.868/99, art. 26: A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.[footnoteRef:219] [219: (MPF-2022): Assinale a alternativa correta: A decisão de constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em acórdão em ação direta de inconstitucionalidade ou em ação declaratória de constitucionalidade é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória. BL: art. 26, da Lei 9868/99.] Lei n. 9.882/99, art. 12: A decisão que julgar procedente ou improcedente o pedido em argüição de descumprimento de preceito fundamental é irrecorrível, não podendo ser objeto de ação rescisória. Em relação ao art. 26 da Lei 9868/99, segundo o STF, é cabível a oposição de embargos de declaração para fins de modulação dos efeitos de decisão proferida em ação direta de inconstitucionalidade, ficando seu acolhimento condicionado, entretanto, à existência de pedido formulado nesse sentido na petição inicial. (ADI 2791 ED/PR, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, rel. p/ o acórdão Min. Menezes Direito, 22.4.2009).[footnoteRef:220]-[footnoteRef:221] [220: (DPEPE-2018-CESPE):No procedimento da ação direta de inconstitucionalidade, é cabível a oposição de embargos de declaração, com o objetivo de obter a modulação dos efeitos da decisão. BL: art. 26, da Lei 9868/99 e STF, ADI 2791 ED/PR. (PGERN-2014-FCC): Em ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Procurador-Geral da República, na qual o Advogado-Geral da União manifestou-se pela defesa da lei impugnada, determinada lei federal é declarada inconstitucional por decisão proferida à unanimidade pelo Plenário do STF. Em sede de embargos de declaração, opostos no prazo legal, o Advogado-Geral da União, invocando razões de segurança jurídica, requer que sejam atribuídos efeitos prospectivos à decisão. Nesse caso, o STF poderá acolher os embargos de declaração para o fim de atribuir os efeitos pretendidos à decisão, em vista de razões de segurança jurídica, pelo voto de, pelo menos, dois terços de seus membros. #Atenção: O Info 228 do STF, que dispõe que o AGU não tem legitimidade para embargos de declaração em ADI é a REGRA. No entanto, o STF abriu exceção com o julgamento da ADI 2797, possibilitando a interposição de embargos de declaração pelo AGU ou outro não legitimado, nos casos de modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Inicialmente, o STF entendeu pela impossibilidade de se utilizar os embargos de declaração com esse fim, uma vez que, no silêncio de qual seria o efeito produzido, deveria incidir a regra geral (eficácia ex tunc do julgado). Inexistiria, portanto, uma omissão a ser suprida. Com base nesse fundamento, o STF, na ADI-ED 2728 (julgado em 19/10/2006, Rel. Ministro Marco Aurélio, no mesmo sentido ADI-ED 2791, julgada em 22/4/2009, Rel. para acórdão Ministro Menezes Direito, conforme noticiado no Inf. 543 do STF), entendeu que "a ordem natural das coisas direciona no sentido de ter-se como regra a retroação da eficácia do acórdão declaratório constitutivo negativo à data da integração da lei proclamada inconstitucional, no arcabouço normativo, correndo à conta da exceção a fixação de termo inicial distinto. [...] Inexistindo pleito de fixação de termo inicial diverso (modulção dos efeitos), não se pode alegar omissão relativamente ao acórdão por meio do qual se concluiu pelo conflito do ato normativo autônomo abstrato com a Carta da República, fulminando-o desde a vigência". No entanto, a jurisprudência do STF mudou e, ao julgar a ADI 2797 ED (j. 3/5/12, Rel. Min. Dias Toffoli, conforme noticiado no Inf. 666 do STF), entendeu que existiria uma presunção relativa da eficácia ex tunc que somente se tornaria absoluta com o trânsito em julgado da ação direta e que, até esse momento, desde que presentes as razões que justificassem a modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, não haveria óbice ao seu reconhecimento em sede de embargos de declaração, mesmo que inexistente um pedido do legitimado à propositura da ADI na petição inicial. Por isso, o Tribunal entendeu que os embargos de declaração integrariam a decisão, tratando-se de um instrumento de aperfeiçoamento da prestação jurisdicional. Os embargos declaratórios configurariam, nesse contexto, a última fronteira processual apta a impedir que uma decisão de inconstitucionalidade com efeito retroativo afetassem determinadas relações sociais. (http://pensodireito.com.br/03/index.php/component/k2/item/33-modula%C3%A7%C3%A3o-dos-efeitos-da-decis%C3%A3o-em-adi-pelo-stf-nos-embargos-declarat%C3%B3rios-sem-que-haja-pedido-do-legitimado-na-peti%C3%A7%C3%A3o-inicial) (TRF5-2013-CESPE): Em relação ao controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos, assinale a opção correta: É cabível a oposição de embargos de declaração para fins de modulação dos efeitos de decisão proferida em ação direta de constitucionalidade. BL: art. 26, da Lei 9868/99 e STF, ADI 2791 ED/PR.] [221: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRF5-2013 (CESPE); ii) PGERN-2014 (FCC); iii) TRF1-2015 (CESPE); iv) PCMS-2017 (FAPEMS); v) MPBA-2015/2018; vi) MPF-2022; vi) TJDFT-2023 (CESPE).] #Atenção: #DOD: #STF: #TJMS-2020: #FCC: Segundo o STF, não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública (art. 183, CPC/15): Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata. Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro. Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública. Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário. STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia, j. 6/2/19 (Info 929). #Advertência: O STF entende que a previsão do prazo em dobro trazida atualmente pelo art. 183 do CPC/15 tem incidência unicamente nos processos subjetivos, ou seja, que discutem situações concretas e individuais, não se aplicando nos processos de controle concentrado de constitucionalidade. O processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade configura típico processo de caráter objetivo, destinado a viabilizar o julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese. 7.3. Eficácia Objetiva e Subjetiva 7.3.1. Características gerais e histórico As decisões proferidas em ADI, ADC e ADPF possuem efeitos “ERGA OMNES” e VINCULANTE. 7.3.1.1. Efeitos “erga omnes” A eficácia contra todos (ou EFEITO “ERGA OMNES”) é da própria natureza deste tipo de ação (“processo constitucional objetivo”, sem partes formais). Independe, portanto, de previsão constitucional ou legal. #Obs.: No ordenamento jurídico brasileiro, algumas Constituições Estaduais submetiam a decisão em ADI à análise da Assembleia Legislativa (v.g. Constituição Estadual da Bahia). O STF, ao analisar tais dispositivos, consignou que a Assembleia Legislativa pode dar publicidade à decisão, mas que não é possível condicionar a eficácia contra todos a uma resolução da Casa Legislativa, por se tratar de um efeito decorrente da própria natureza deste tipo de ação. 7.3.1.2. Efeito vinculante O texto originário da Constituição Federal de 1988 previa somente a eficácia “erga omnes”. O efeito vinculante foi introduzido expressamente pela EC 03/1993, a qual criou a ADC e conferiu a esta ação não apenas o efeito “erga omnes”, como também o efeito vinculante às decisões nela proferidas. Posteriormente, a jurisprudência do Supremo estendeu o efeito vinculante à ADI, mesmo sem a previsão em lei ou na Constituição. Em seguida, o art. 28, parágrafo único, da Lei 9.868/99, previu que tanto a ADI quanto a ADC teriam eficácia “erga omnes” e efeito vinculante. Por fim, com a EC n. 45/04 previu-se o efeito vinculante de maneira expressa tanto para a ADI quanto para a ADC (CF, art. 102, § 2º).[footnoteRef:222] [222: (TJMG-2005): De acordo com a jurisprudência do STF, as decisões definitivas de mérito, por ele proferidas nas ações diretas de inconstitucionalidade, produzem eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e aos do Poder Executivo, quando proferidas após a vigência da EC n.º 3, de 17.03.93. #Atenção: Na verdade, o efeito vinculante veio com a EC 45/04, mas o STF, desde a EC 03/93, que criou a ADC com eficácia erga omnes e efeito vinculante, já entendia que a ADIN e ADC eram ações de sinais trocados e tinham a mesma natureza, por conta desse entendimento o efeito vinculante da ADC foi estendido à ADIN.] 7.3.2. Quanto à eficácia subjetiva (sujeitos) A eficácia subjetiva está relacionada aos sujeitos abrangidos pela decisão (poderes públicos e particulares). Vejamos o teor do art. 102, §2º da CF/88 e art. 28, § único da Lei 9.868/99: CF, art. 102, § 2º: As decisões definitivasde mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal (Alterado pela EC 45/04).[footnoteRef:223] [223: (PCPB-2022-CESPE): Se, em ação direta de inconstitucionalidade proposta perante o Supremo Tribunal Federal, for alegada a inconstitucionalidade de certa lei federal, a decisão definitiva de mérito vinculará todos os níveis da administração pública. BL: art. 102, §2º, CF. (DPESC-2017-FCC): As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. BL: art. 102, §2º, CF.] Lei n. 9.868/99, art. 28, parágrafo único: A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusive a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal, estadual e municipal. #Atenção: Quando este artigo fala “órgãos do Poder Judiciário”, o STF não está incluído na vinculação. Sendo assim, o STF não fica vinculado a sua decisão, podendo mudar futuramente o seu posicionamento. Porém, a não vinculação do STF é apenas em relação ao Plenário do Tribunal, de forma que os Ministros e as Turmas ficam vinculados. #Atenção: #TJSP-2018/2021: #VUNESP: Segundo o princípio da interpretação conforme a Constituição, instrumento previsto no art. 28, § único, da Lei 9.868/99, diante de normas que possuem mais de uma interpretação, deve-se adotar a exegese que mais se aproxime da Constituição. Todavia, essa interpretação só é admitida se houver um espaço de decisão. Se a norma for literal, embora contra a Constituição, o intérprete não pode contrariar seu texto só para lei se adapte à Carta Magna. O intérprete não pode se transformar em um legislador. #Atenção: Perceba que nem a CF/88 e nem a lei fazem referência expressa à vinculação do Distrito Federal, mas é evidente que ele também fica vinculado. Lei n. 9.882/99, art. 10, § 3º: A decisão terá eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Público”. #Atenção: Veja que, ao referir-se aos “demais órgãos do Poder Público”, não está incluído o PODER LEGISLATIVO. [footnoteRef:224] [224: (TJPR-2017-CESPE): O juiz constitucional já não interpreta, no processo constitucional, de forma isolada: muitos são os participantes do processo; as formas de participação se ampliam acentuadamente. Os instrumentos de informação dos juízes constitucionais — não apesar, mas em razão da própria vinculação à lei — devem ser ampliados e aperfeiçoados, especialmente no que se refere às formas gradativas de participação e à própria possibilidade de participação no processo constitucional (especialmente nas audiências e nas “intervenções”). Devem ser desenvolvidas novas formas de participação das potências públicas pluralistas como intérpretes em sentido amplo da Constituição. Peter Häberle. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000, p. 47-8 (com adaptações). Tendo o texto precedente como referência inicial, assinale a opção correta acerca dos modelos e dos diversos instrumentos de controle de constitucionalidade do ordenamento jurídico brasileiro. Será constitucional o processo legislativo em que assembleia legislativa aprove lei com idêntico conteúdo de norma declarada inconstitucional pelo STF em sede de controle abstrato. #Atenção: A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder Executivo, NÃO ALCANÇANDO o legislador, que pode editar nova lei com idêntico conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão." (RTJ 193/858, Rel. Min. CEZAR PELUSO)] Além disso, conforme exposto pela legislação, o EFEITO VINCULANTE está direcionado diretamente aos Poderes Públicos (Executivo e demais órgãos do Poder Judiciário), isto é, o efeito vinculante não se dirige diretamente AOS PARTICULARES. No entanto, atinge os particulares indiretamente, pois os poderes públicos não poderão mais aplicar a norma declarada inconstitucional. Já a EFICÁCIA CONTRA TODOS atinge a todos diretamente, ou seja, não só os Poderes Públicos, como também os particulares. Exemplo: Anteriormente à introdução do efeito vinculante no Direito brasileiro, caso o STF julgasse uma ADI procedente, significaria que a lei estava sendo declarada inconstitucional. Essa declaração de inconstitucionalidade produzia eficácia contra todos, pois a lei atacada estava retirada do ordenamento jurídico. Assim, o Judiciário não poderia aplicá-la, o Executivo não poderia executá-la e dois particulares não poderiam celebrar um contrato com fundamento na lei. A (in)existência de efeito vinculante era indiferente. Por seu turno, caso o STF julgasse a ADI improcedente, ele estava declarando que a lei era constitucional, mas como a decisão não era vinculante, o fato de o STF julgar improcedente a ADI, não impedia que outros Tribunais continuassem a declarar a lei inconstitucional no controle difuso. Agora, com a introdução do efeito vinculante, a declaração impede a produção de efeitos divergentes. → Como os órgãos Poderes Públicos são atingidos? #Obs. Apesar de a redação ser diferente na CF88, na Lei 9.868/99 e na Lei 9.882/99, essas regras valem para as três ações (ADI, ADC e ADPF). a) Poder Judiciário[footnoteRef:225] [225: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) PCPB-2022 (CESPE); ii) MPSC-2023 (CESPE).] A decisão vincula todos os órgãos do Poder Judiciário, exceto o próprio STF. O STF não fica vinculado a sua própria decisão. Porém, afirmar que o STF não fica vinculado a sua própria decisão não significa que: (i) uma Turma do Supremo possa dar uma decisão contrária à do Plenário; (ii) um Ministro, individualmente, possa dar uma decisão monocrática contrariando o entendimento adotado pelo Plenário; e (iii) o STF, após ter declarado uma lei inconstitucional, possa dizer que essa mesma lei é constitucional e que poderá voltar a ser aplicada novamente. Todavia, por não ficar vinculado, o Plenário do STF, caso seja novamente provocado, poderá alterar o entendimento a respeito de tese adotada em julgamento anterior. Exemplo: o STF disse ser inconstitucional a extensão por lei da prerrogativa de foro após o término do mandato (ocorreu no CPP). Como ele declarou a inconstitucionalidade, essa norma não pode mais ser objeto de arguição no STF. Porém, se amanhã o legislador fizer uma nova alteração no CPP estendendo a prerrogativa de foro, por exemplo, ao Presidente da República após o término do mandato, nada impede que o STF decida de forma diferente. Ele poderá dizer que, em evolução jurisprudencial, entende que, neste momento, é mais adequado que esta prerrogativa de foro seja estendida após o término do exercício do mandato no caso do Presidente da República. #Obs.: Esse entendimento vale tanto para o controle abstrato, quanto para o controle difuso. Vejamos dois dispositivos do Regimento Interno do STF: RISTF, art. 101: A declaração de constitucionalidade ou inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, pronunciada por maioria qualificada, aplica-se aos novos feitos submetidos às Turmas ou ao Plenário, salvo o disposto no art. 103. RISTF, art. 103: Qualquer dos Ministros pode propor a revisão da jurisprudência assentada em matéria constitucional eda compendiada na Súmula, procedendo-se ao sobrestamento do feito, se necessário. #Atenção: #STF: #PGEPA-2023: #CESPE: A mera instauração do processo de controle normativo abstrato não se reveste, só por si, de efeitos inibitórios das atividades normativas do Poder Legislativo, que não fica impossibilitado, por isso mesmo, de revogar, enquanto pendente a respectiva ação direta, a própria lei objeto de impugnação perante o STF, podendo, até mesmo, reeditar o diploma anteriormente pronunciado inconstitucional, eis que não se estende, ao Parlamento, a eficácia vinculante que resulta, naturalmente, da própria declaração de inconstitucionalidade proferida em sede concentrada. STF. Plenário. ADI 2903, Rel. Min. Celso de Mello, j. 01/12/05. [footnoteRef:226] [226: (PGEPA-2023-CESPE): Acerca do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta consoante entendimento ratificado pelo STF: A mera instauração do processo de controle normativo abstrato não se reveste, por si só, de efeitos inibitórios das atividades normativas do Poder Legislativo, que, por isso mesmo, não fica impossibilitado de revogar, enquanto pendente a respectiva ação direta, a própria lei objeto de impugnação perante o STF, podendo, até mesmo, reeditar o diploma anteriormente pronunciado inconstitucional, visto que não se estende ao parlamento a eficácia vinculante que resulta, naturalmente, da própria declaração de inconstitucionalidade proferida em sede concentrada. BL: Entend. Jurisprud. ] b) Poder Legislativo[footnoteRef:227] [227: #Atenção: Tema cobrado na prova da PCPB-2022 (CESPE).] O entendimento pacífico em relação à ADI e ADC, bem como majoritário em relação à ADPF, é o de que não há uma vinculação do Poder Legislativo. [footnoteRef:228] [228: (PGEAL-2021-CESPE): Acerca do controle de constitucionalidade, assinale a opção correta: O efeito vinculante e a eficácia erga omnes das decisões em sede de controle concentrado de constitucionalidade não alcançam o Poder Legislativo nem o próprio Supremo Tribunal Federal. (PGEPB-2021-CESPE): O prefeito de determinado município encaminhou ao Poder Legislativo municipal projeto de lei que reduzia o salário dos servidores públicos em cinquenta por cento até 31/12/2021, devido à calamidade pública decorrente da pandemia da covid-19. O projeto foi aprovado pela câmara de vereadores e sancionado pelo chefe do Poder Executivo. Com a publicação da aludida norma municipal em 20/07/2020, entidade de classe de âmbito nacional, constatada a pertinência temática, propôs arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) no STF por violação ao art. 37 da CF, que prevê a irredutibilidade dos rendimentos dos servidores públicos. Considerando essa situação hipotética, assinale a opção correta, à luz da CF e da jurisprudência do STF: As decisões de mérito em ADPF não vinculam o Poder Legislativo em sua função típica de legislar. #Atenção: A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder Executivo, NÃO ALCANÇANDO o legislador, que pode editar nova lei com idêntico conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão." (RTJ 193/858, Rel. Min. CEZAR PELUSO)] Porém, destaque-se que, embora seja usual a afirmação de que o Poder Legislativo não fica vinculado às decisões do Supremo, a rigor, o que a decisão não vincula é a função legiferante. Exemplos de vinculação do Poder Legislativo: (i) ADPF n. 378 (discussão sobre o impeachment de Dilma Rousseff): O STF proferiu decisão sobre o procedimento de impeachment (v.g. o Senado não está obrigado a receber, através da autorização da Câmara, o processo de impeachment e a julgá-lo, pois poderia realizar um juízo de admissibilidade por maioria absoluta). Essa decisão proferida na ADPF n. 378 é vinculante para o Senado, órgão do Poder Legislativo, pois neste caso não se trata de uma função legislativa, mas sim de uma função jurisdicional (julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade). Portanto, em relação à função jurisdicional, o Poder Legislativo fica vinculado às decisões do Supremo. (ii) Súmula Vinculante 13 do STF, que trata do nepotismo (“A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.”). O membro do Poder Legislativo não poderá desrespeitar o contido no enunciado da súmula vinculante n. 13, pois a contratação de parentes não é função legislativa, mas a função administrativa. Portanto, em relação à função administrativa, o Poder Legislativo fica vinculado às decisões do Supremo. #EM SUMA: O Poder Legislativo não é vinculado às decisões do Supremo tão somente em relação à função legislativa (função típica). Assim, o Poder Legislativo pode novamente legislar sobre matéria anteriormente declarada inconstitucional pelo STF. #Atenção: Acrescente-se que, essa nova lei, novamente, poderá ser objeto de controle de constitucionalidade pela Suprema Corte, a qual também não está vinculada. A razão dessa desvinculação da função legislativa é que, embora o STF seja o guardião da Constituição, as vias de mudança interpretativa devem permanecer abertas para permitir o diálogo institucional entre os poderes na busca por melhores soluções, de modo a evitar a chamada “FOSSILIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO”. O Estado de Direito é pautado pela lei. Todos devem se submeter a ela. Assim, a rigor, a não vinculação ocorre em relação à atividade legiferante e não ao poder legislativo em si, de modo que suas funções atípicas são atingidas pelo efeito vinculante. [footnoteRef:229]-[footnoteRef:230] [229: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRT6-2015 (FCC); ii) MPSC-2023 (CESPE).] [230: (TJMA-2022-CESPE): Em relação ao controle de constitucionalidade, à súmula vinculante e à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, assinale a opção correta: O efeito vinculante em ação direta de inconstitucionalidade (ADI) e em ação declaratória de constitucionalidade (ADC) não atinge o Poder Legislativo no exercício de sua função típica de legislar, em observância à proibição de fossilização constitucional. (AGU-2009-CESPE): Acerca do controle de constitucionalidade no Brasil, julgue o item que se segue: De acordo com entendimento do STF, a decisão declaratória de inconstitucionalidade de determinada lei ou ato normativo não produzirá efeito vinculante em relação ao Poder Legislativo, sob pena de afronta à relação de equilíbrio entre o tribunal constitucional e o legislador.] #Parêntese: Teoria dos Diálogos Institucionais (constitucionais ou interinstitucionais): Essa teoria visa propor um terceiro ponto de vista quanto ao debate sobre a legitimidade democrática da jurisdição constitucional. Por esta teoria, não incumbe ao Parlamento ou ao Judiciário dar a última palavra definitiva (errar por último) em sede de jurisdição constitucional, mas apenas dar a última palavra provisória que, longe de encerrar os debates, dá início a uma nova rodada de debates. Assim, uma decisão do STF sobre inconstitucionalidade de uma EC ou Lei não impede que o legislativo delibere novamente a respeito do tema e, ao deliberar, reaja contra a decisão do STF (reação/superação legislativa ou override nos EUA). Segundo o STF, caso o legislador edite uma Lei Ordinária contrária a anterior decisão do STF em sede de controle de constitucionalidade, esta lei nascerá com presunção de inconstitucionalidade e terá o legislador o dever de demonstrar argumentativamente que esta lei2005.). Sobre os tratados internacionais de direitos humanos e o bloco de constitucionalidade, assinale a afirmativa correta: As normas dos tratados de direitos humanos recepcionados pela Constituição de 1988 são materialmente constitucionais e servem de parâmetro hermenêutico para imprimir vigor à força normativa da Constituição. (DPEMS-2012-VUNESP): Considerando a doutrina pátria do direito constitucional, pode-se afirmar sobre o denominado bloco de constitucionalidade brasileiro que a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 186/08, passou a integrar o nosso bloco de constitucionalidade.] Nesse sentido, vejamos o seguinte trecho da ADI 545/ES: “Veja-se, pois, a importância de compreender-se, com exatidão, o significado que emerge da noção de bloco de constitucionalidade [...], pois, dessa percepção, resultará, em última análise, a determinação do que venha a ser o paradigma de confronto, cuja definição mostra-se essencial, em sede de controle de constitucionalidade, à própria tutela constitucional” (g.n.). 3.1. FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE São várias classificações, cada uma baseada em determinado critério. #Obs.: O professor Marcelo Novelino analisa as mais importantes para concursos públicos. 3.1.1. Quanto ao tipo de conduta praticada pelo Poder Público[footnoteRef:16] [16: #Atenção:Tema cobrado na prova de Cartórios/TJRR-2013 (CESPE).] a) Por ação Decorre de condutas comissivas (facere) contrárias a preceitos constitucionais. Na inconstitucionalidade por ação, o poder público pratica uma conduta comissiva incompatível com a constituição. Ex.: Lei de Crimes Hediondos, que vedava a progressão do regime em abstrato. Segundo STF, tal disposição violava o princípio da individualização da pena, previsto no art. 5º da CF/88. Nesse caso, o legislador criou uma lei contrária a um preceito constitucional (por isso, inconstitucionalidade por ação). b) Por omissão (total ou parcial) Ocorre quando não são adotadas (non facere ou non praestare), ou quando são adotadas, de modo insuficiente, medidas necessárias para tornar plenamente aplicáveis normas constitucionais carentes de intermediação (“fenômeno da erosão da consciência constitucional”, de Karl Loewenstein). A omissão pode ser total ou parcial.[footnoteRef:17] Nesse sentido, vale recordar a seguinte decisão do STF: [17: (PGEAC-2017-FMP): Assinale a alternativa correta: Quando a norma objeto do controle de constitucionalidade dispuser sobre determinado assunto sem direcionar seus efeitos a todos os sujeitos e/ou a todas as situações (iguais) que deveriam estar incluídas no seu âmbito de aplicação, tem-se inconstitucionalidade por omissão parcial. (TRF4-2010): Assinale a alternativa correta: A inconstitucionalidade pode decorrer de omissão total ou parcial por parte do Poder Público.] STF: “Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-los efetivos, operantes e exequíveis, abstendo-se, em consequência, de cumprir o dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial, quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público.” (ADI 1.458-MC, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 23-5-1996, Plenário, DJ de 29-9-1996.)[footnoteRef:18] [18: (TJAM-2016-CESPE): À luz da jurisprudência do STF, assinale a opção correta acerca da supremacia da CF e dos diferentes tipos de inconstitucionalidade: Se o Estado deixar de adotar as medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da CF, ou seja, a torná-los efetivos, operantes e exequíveis, abstendo-se, em consequência, de cumprir o dever de prestação que a CF lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto constitucional. Desse non facere ou non praestare, resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser total ou parcial. BL: ADI 1458-MC, STF.] No caso de normas de eficácia limitada, se o Poder Público não age, há omissão total – a norma não consegue produzir efeitos no caso concreto. Por outro lado, se a lei for insuficiente (ex.: lei do salário mínimo como valor que não é suficiente para atender às necessidades vitais básicas do cidadão), há omissão parcial por parte do Poder Público. #Obs.: “Fenômeno da erosão da consciência constitucional” (criada por Karl Loewenstein e utilizada por Celso de Mello, ADI 484): Quando o Parlamento se abstém de cumprir o dever de legislar viola a integridade da Constituição e estimula o fenômeno da erosão da consciência constitucional. De acordo com Loewenstein, é um fenômeno no qual a indiferença dos Poderes Públicos em relação à Constituição cria um efeito psicológico na sociedade, ou seja, cria-se uma espécie de atrofia da consciência constitucional (a consciência de que a Constituição é uma norma que deve ser respeitada e observada fica atrofiada). Há uma erosão dessa consciência constitucional. 3.1.1.1. Estado de coisas inconstitucional (ECI)[footnoteRef:19]-[footnoteRef:20] [19: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) PGEMS-2016; ii) MPF-2017; iii) DPEMA-2018 (FCC); iv) PCMA-2018 (CESPE); v) MPMG-2021; vi) MPM-2021; vii) DPERS-2018/2022 (CESPE).] [20: (DPERS-2022-CESPE): A CF estabelece normas a respeito da segurança pública, a ser exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Sobre o tema, julgue o seguinte item: O Poder Judiciário pode determinar que o Estado implemente políticas públicas no campo da segurança pública se caracterizada inadimplência quanto a tal dever constitucional. BL: Info 798, STF. (DPEAP-2018-FCC): Em voto proferido quando da concessão de medida cautelar em sede de arguição de descumprimento de preceito fundamental, o Ministro Relator, apoiando-se em técnica empregada por Corte Constitucional estrangeira, entendeu que estava comprovada, no caso, situação de violação generalizada de direitos fundamentais e incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a situação, sendo que a superação das transgressões exigia a atuação não apenas de um órgão, e sim de uma pluralidade de autoridades. Mais adiante, afirmou o Relator que, em situações tais, ao Tribunal cabe retirar as autoridades públicas do estado de letargia, provocar a formulação de novas políticas públicas, aumentar a deliberação política e social sobre a matéria e monitorar o sucesso da implementação das providências escolhidas, assegurando, assim, a efetividade prática das soluções propostas. Cuida-se, no caso, de técnica de declaração de estado de coisas inconstitucional. BL: ADPF 347 MC/DF, no Info 798 do STF. (DPEPR-2017-FCC): Em determinada decisão de sua relatoria no STF, Ministro da referida casa assim se pronunciou: o Tribunal não chega a ser um “elaborador” de políticas públicas, e sim um coordenador institucional, produzindo um “efeito desbloqueador”. Na mesma decisão disse, ainda, que naquele caso caberia ao Judiciário catalisar ações e políticas públicas, coordenar a atuação dos órgãos do Estado na adoção dessas medidas e monitorar a eficiência das soluções. Os efeitos mencionados pelo Ministro são característicos da decisão que reconhece o Estado de Coisas Inconstitucional BL: ADPF 347 MC/DF, no Info 798 do STF. ] Segundo Carlos Alexandre de Azevedo Campos,[footnoteRef:21] o Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando: [21: #Atenção: Conceito baseado nas lições de Carlos Alexandre de Azevedo Campos (O Estado de Coisas Inconstitucional e o litígio estrutural. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-set-01/carlos-campos-estado-coisas-inconstitucional-litigio-estrutural), artigo cuja leitura se recomenda.] • verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, • causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar tal conjuntura;não confronta os fundamentos da decisão de inconstitucionalidade anterior. Todavia, se o legislador editar uma Emenda Constitucional, haverá a alteração do próprio parâmetro do controle, logo, não nascerá com presunção de inconstitucionalidade. (ADI 5105). (Fonte: comentário retirado do site qconcursos).[footnoteRef:231]-[footnoteRef:232] [231: (MPRS-2021): Assinale a alternativa correta: Em conformidade com a teoria dos diálogos interinstitucionais, o STF entende que não é inconstitucional emenda constitucional editada pelo Congresso Nacional que supera decisão definitiva do STF em ação do controle concentrado de constitucionalidade, desde que não viole cláusulas pétreas.] [232: #Atenção: Tema cobrado na prova do TRF3-2022.] A teoria dos diálogos institucionais visa equacionar a tensão existente entre constitucionalismo e democracia, criando técnicas tendentes à superação da dificuldade contramajoritária da jurisdição constitucional. Assenta-se na ideia de que inexiste um monopólio judicial da interpretação constitucional e rejeita a ideia de há uma última palavra em matéria constitucional. Com efeito, o STF tem a última palavra provisória nas questões constitucionais (ADI 5105/DF). Permite-se uma nova rodada deliberativa (ciclo de debate). O debate por ser reaberto pela mutação constitucional exercida pela via legislativa (law in your face). Isso decorre da fossilização das normas constitucionais. Há, contudo, consequências distintas na superação das decisões a depender da via: i) Legislativa ordinária: inverte-se o princípio da presunção de constitucionalidade. A norma já nasce com uma presunção relativa de inconstitucionalidade. O legislador atrai para si o ônus argumentativo de demonstrar que os fundamentos da decisão da Suprema Corte não mais se fazem presentes. ii) Emenda à CF: ela nasce com presunção de constitucionalidade. Ela só pode ser declarada inconstitucional se violar uma das limitações ao poder de emenda (Ex: vaquejada). b.1.) Efeito backlash Efeito backlash, sinônimo de reação retrógrada ou reação legislativa ou leis in your face, é um termo que descreve a situação em que o Poder Legislativo reage a uma decisão do Poder Judiciário em sede de controle de constitucionalidade concentrado abstrato que invalidou uma determinada norma jurídica, legislando em sentido oposto ao que foi decidido. Tal fenômeno, segundo Klarman, reverte o princípio da presunção de constitucionalidade das leis, já nascendo a novel legislação inquinada com a presunção de inconstitucionalidade. Ex.: A decisão do STF que tornou admissível a união homoafetiva, e que agora está ameaçada pelo Estatuto da Família em tramitação no Congresso Nacional. Vejamos a seguinte decisão do STF, veiculada no Info 810 do STF: As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou ADPF possuem eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da CF/88). O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF não proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos normativos. O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência. Trata-se de uma REAÇÃO LEGISLATIVA à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de reversão jurisprudencial. No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos limites previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas. No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente colidir com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador o ônus de demonstrar, argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. Assim, para ser considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via legislativa. STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 1º/10/15 (Info 801). [footnoteRef:233]-[footnoteRef:234] [233: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TJPR-2017 (CESPE); ii) PCAC-2017; iii) MPT-2017; iv) DPEAM-2018 (FCC); v) TRF2-2018; vi) Anal. Judic./STJ-2018 (CESPE); vii) MPPR-2019; viii) PGEPB-2021 (CESPE); ix) TRF3-2018/2022; x) TJMA-2022 (CESPE); xi) MPSP-2022; xii) PCPB-2022 (CESPE).] [234: (TJPE-2022-FGV): O STF, pela escassa maioria de um voto, declarou a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº XX, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, o que gerou grande insatisfação junto a diversos segmentos da população do Estado Alfa. Sensível a essa insatisfação, um grupo de deputados estaduais apresentou um projeto de lei de teor idêntico ao referido diploma normativo, o qual veio a ser aprovado pela Assembleia Legislativa e sancionado, daí surgindo a Lei Estadual nº YY. Considerando os efeitos regulares da decisão proferida pelo STF ao declarar a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº XX, é correto afirmar que a Lei Estadual nº YY é: constitucional, pois o efeito vinculante da decisão proferida não obsta que o legislador edite outro diploma normativo de idêntico teor. BL: Info 801, STF. (TRF3-2018): A ADI coloca em movimento a chamada jurisdição constitucional orgânica, tutelando a validade da lei e de atos normativos. No que concerne aos efeitos da decisão definitiva de mérito no processo de controle abstrato, por meio do qual a ADI é veiculada, é correto afirmar: Norma criada por lei e declarada inconstitucional pelo STF no processo objetivo ainda assim é suscetível de revogação pelo Congresso. BL: Info 801, STF. #Atenção: O enunciado está correta. Isso porque, apesar de adotar-se a teoria da nulidade (a norma declarada inconstitucional nunca foi, de fato, uma norma), defende-se, no nosso sistema, a independência do Legislativo em criar normas em sentido contrário aos posicionamentos do STF (reação legislativa). Assim, sendo, apesar da inexistência de efeitos práticos, admite-se a revogação, pelo Legislativo, da norma declarada inconstitucional. (Anal. Legisl./ALESE-2018-FCC): No exercício do controle concentrado de constitucionalidade, o STF declarou a inconstitucionalidade de uma lei editada pelo Congresso Nacional, com efeitos ex tunc. Não satisfeito com a decisão, o Poder Legislativo edita nova lei, com conteúdo idêntico à lei tida por inconstitucional pelo STF. Essa nova lei deverá, para que possa ser retirada do ordenamento jurídico pelo Poder Judiciário, ser objeto de novo controle concentrado de constitucionalidade, uma vez que o efeito vinculante das decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF nas ações diretas de inconstitucionalidade não atinge o Poder Legislativo. BL: Info 801, STF. (TJPR-2017-CESPE): O juiz constitucional já não interpreta, no processo constitucional, de forma isolada: muitos são os participantes do processo; as formas de participação se ampliam acentuadamente. Os instrumentos de informação dos juízes constitucionais — não apesar, mas em razão da própria vinculação à lei — devem ser ampliados e aperfeiçoados, especialmente no que se refere às formas gradativas de participação e à própria possibilidade de participação no processo constitucional (especialmente nas audiências e nas “intervenções”). Devem ser desenvolvidas novas formas de participação das potências públicas pluralistas como intérpretes em sentido amplo da Constituição. Peter Häberle. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos intérpretes da Constituição. Porto Alegre: Sergio• de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional. O Estado de Coisas Inconstitucional é uma subespécie de inconstitucionalidade derivada da conduta do Poder Público, criado pela Corte Constitucional Colombiana, resultante de um conjunto de ações e omissões dos Poderes Públicos (ou seja, por condutas comissivas e omissivas). No Brasil, foi trazido pela ADPF 347 – o ECI questionado foi com relação ao sistema carcerário brasileiro. Vejamos o teor da ADPF 347, veiculada no Info 798 do STF (Fonte: DOD): O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando verifica-se a existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura, de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional. O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas. Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do Distrito Federal. A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do agravamento da situação. Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações visando a resolver o problema e monitorar os resultados alcançados. Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando que: 1) juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo máximo de 90 dias, a audiência de custódia; 2) a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado, proibindo a realização de novos contingenciamentos. Na ADPF havia outros pedidos, mas estes foram indeferidos, pelo menos na análise da medida cautelar. STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 9/9/15 (Info 798) 3.1.1.1.1. Origem A ideia de que pode existir um Estado de Coisas Inconstitucional e que a Suprema Corte do país pode atuar para corrigir essa situação surgiu na Corte Constitucional da Colômbia, em 1997, com a chamada "Sentencia de Unificación (SU)". A Corte Constitucional da Colômbia constatou que a inércia estatal decorria do labirinto burocrático e do bloqueio institucional responsáveis por descoordenar e dispersar a responsabilidade sobre o tema (GRAVITO; FRANCO, 2010). Foi aí que primeiro se utilizou essa expressão. Depois disso, a técnica já teria sido empregada em mais nove oportunidades naquela Corte. Existe também notícia de utilização da expressão pela Corte Constitucional do Peru. [footnoteRef:22] [22: #Atenção: Tema cobrado na prova da PCRJ-2022 (CESPE).] 3.1.1.2.1. Pressupostos para a configuração: fático, político e jurídico PRESSUPOSTO FÁTICO: Para que haja um Estado de Coisas Inconstitucional, não basta violação a um direito subjetivo individual; deve haver uma violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, que afete um número elevado e indeterminado de pessoas. A violação é sistêmica e não individualizada, ou seja, deve haver uma vulneração massiva e generalizada de direitos fundamentais de um número significativo de pessoas. Ex.: na Colômbia, foi invocado em razão do deslocamento forçado de pessoas em virtude das FARCs. PRESSUPOSTO POLÍTICO: Caracterizados por exigir um conjunto de ações e omissões reiteradas, tendentes a perpetuar ou agravar o quadro de inconstitucionalidade. Os poderes públicos, ao invés de contribuir para a resolução do problema, acaba fazendo com que o problema fique ainda mais agravado. Isso fica muito claro com a crise do sistema carcerário no Brasil, já que os poderes públicos não têm adotado medidas suficientes para resolver esse problema (até por não ser uma medida muito popular para os eleitores). PRESSUPOSTO JURÍDICO: É a necessidade de adoção de medidas estruturais para a superação das violações constatadas. Não basta apenas uma determinada medida contra um determinado poder. Para que o Estado de Coisas Inconstitucional possa ser resolvido, é necessário que sejam adotadas medidas estruturais (já que as falhas são estruturais). Ainda no exemplo do sistema carcerário, a culpa dessa crise é só de um poder ou entidade? Não, é global, estrutural (há falhas de todos os poderes e ocorre em diversos estados). 3.1.1.3.1. Medidas judiciais As medidas judiciais não são voltadas para a proteção de direitos subjetivos, mas, sim, para proteger a dimensão objetiva dos direitos fundamentais. Em outras palavras, é a proteção dos direitos fundamentais na perspectiva da sociedade como um todo e não de indivíduos específicos. Além disso, são medidas voltadas a resolver um “litígio estrutural”, que é caracterizado pelo alcance a número amplo de pessoas e órgãos (e não entre partes específicas) e por implicar ordens de execução complexa (foge um pouco do padrão de medidas adotadas pelos poderes públicos e do controle judicial) – medidas não ortodoxas. Ex.: revisão dos gastos públicos, debates entre os Poderes sobre as soluções a serem adotadas. É como se o Poder Judiciário fosse uma espécie de provocador do debate. Há uma atuação proativa do Poder Judiciário, isto é, age de forma um pouco mais “forte” do que em outras situações. Nessa atuação, costuma formular ordens flexíveis de execução, isto é, o Poder Judiciário não detalha a política pública a ser implementada, mas limita-se a estabelecer balizas/parâmetros para a atuação dos Poderes. Dentro dessas balizas, os Poderes adotarão as medidas necessárias para tentar resolver o Estado de Coisas Inconstitucional. Além das ordens flexíveis para que realmente a decisão judicial tenha efetividade, a experiência colombiana releva que é necessário um monitoramento contínuo da decisão, uma espécie de fiscalização do cumprimento da decisão. Existem várias críticas a esta atuação proativa do Poder Judiciário quando declara o Estado de Coisas Inconstitucional. A mais contundente, contudo, é com relação à separação dos poderes: o Poder Judiciário, ao ser proativo, acaba por substituir a atuação dos Poderes políticos, de modo a violar o princípio da separação dos Poderes. É a mesma crítica feita ao ativismo judicial. Nesse sentido, vejamos trecho da ADPF 344 MC/DF, julgada pelo STF: “[...] Presente quadro de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional ser caracterizado como ‘estado de coisas inconstitucional’”. #Questiona-se: O que a Corte Constitucional do país faz após constatar a existência de um ECI? O ECI gera um “litígio estrutural”, ou seja, existe um número amplo de pessoas que são atingidas pelas violações de direitos. Diante disso, para enfrentar litígio dessa espécie, a Corte terá que fixar “remédios estruturais” voltados à formulação e execução de políticas públicas, o que não seria possível por meio de decisões mais tradicionais. A Corte adota, portanto, uma postura de ativismo judicial estrutural diante da omissão dos Poderes Executivo e Legislativo, que não tomam medidas concretas para resolver o problema, normalmente por falta de vontade política.[footnoteRef:23] No entanto, o Plenário entendeu que o STF não pode substituir o papel do Legislativo e do Executivo na consecução de suas tarefas próprias. Em outras palavras, o Judiciário deverá superar bloqueios políticose institucionais sem afastar, porém, esses poderes dos processos de formulação e implementação das soluções necessárias. Nesse sentido, não lhe incumbe definir o conteúdo próprio dessas políticas, os detalhes dos meios a serem empregados. Em suma, o Poder Judiciário exerce um papel instaurador e coordenador do diálogo institucional entre os Poderes. Ele provoca o debate em torno do tema para que sejam adotadas as medidas de natureza normativa, administrativa e orçamentária voltadas à resolução do Estado de Coisas Inconstitucional. [23: (TJBA-2019-CESPE): A respeito da situação conhecida como estado de coisas inconstitucional, assinale a opção correta: No plano dos remédios estruturais para saneamento do estado de coisas inconstitucional, estão a superação dos bloqueios institucionais e políticos e o aumento da deliberação de soluções sobre a demanda. BL: Info 798 do STF.] #Atenção: Na ocasião, o Min. Marco Aurélio, ao tratar da legitimidade da Corte para intervir na situação carcerária, em seu voto, esclareceu o seguinte: “Apenas o Supremo revela-se capaz, ante a situação descrita, de superar os bloqueios políticos e institucionais que vêm impedindo o avanço de soluções, o que significa cumprir ao Tribunal o papel de retirar os demais. Poderes da inércia, catalisar os debates e novas políticas públicas, coordenar as ações e monitorar os resultados. Isso é o que se aguarda deste Tribunal e não se pode exigir que se abstenha de intervir, em nome do princípio democrático, quando os canais políticos se apresentem obstruídos, sob pena de chegar-se a um somatório de inércias injustificadas. (AURÉLIO, Marco. Voto medida cautelar da ADPF 347).” 3.2.1. Quanto à norma constitucional ofendida[footnoteRef:24] [24: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) TRF2-2009 (CESPE); ii) PGEMS-2016; iii) PGEPE-2018 (CESPE); iv) MPF-2022.] Levando em consideração a norma constitucional atingida, a inconstitucionalidade poderá ser: a) Formal: (ou nomodinâmica – relacionada ao processo de criação de normas, que é dinâmico).[footnoteRef:25] Significa, portanto, que a norma constitucional atingida estabelece uma formalidade ou algum procedimento a ser observado. [25: (Analista/MPU-2010-CESPE): Verifica-se a inconstitucionalidade formal, também conhecida como nomodinâmica, quando a lei ou o ato normativo infraconstitucional contém algum vício em sua forma, independentemente do conteúdo.] Subdivide-se em três espécies, vejamos: FORMAL PROPRIAMENTE DITA (subjetiva/objetiva): Ocorre quando há violação de norma constitucional referente ao processo legislativo (CF, arts. 59 e ss.). Quando a norma constitucional violada estabelece o processo de elaboração de outras normas, a inconstitucionalidade é formal propriamente dita. Ela poderá ser: · Subjetiva – Está relacionada ao sujeito, ou seja, não houve a observância do sujeito competente para tomar a iniciativa. Ex.: CF, art. 61, § 1º (leis de iniciativa do Presidente da República). Se algum deputado/senador propuser lei sobre alguma das matérias elencadas no § 1º, haverá inconstitucionalidade formal subjetiva da norma. São os casos de vícios de iniciativa. De acordo com o STF (ADI 3739), o vício de iniciativa não pode ser suprido pela sanção posterior do Presidente da República. Trata-se de vício insanável, de forma que a Súmula nº 5 do STF foi superada após a CF/88. · Objetiva – Não houve a observância das demais fases processo legislativo. Ex.: CF, art. 60, § 2º (procedimentos para aprovação de Emendas). Se a Emenda for votada em apenas um turno, haverá inconstitucionalidade formal objetiva. FORMAL ORGÂNICA: Ocorre quando há violação de norma definidora do órgão competente para tratar da matéria. Ex.: CF, art. 22 (elenca uma série de matérias que são de competência da União) – se um estado-membro legislar sobre alguma dessas matérias, haverá inconstitucionalidade formal orgânica. [footnoteRef:26] [26: (PGEMS-2016): O controle de constitucionalidade encerra vários conceitos, princípios e regras. Neste contexto assinale a alternativa que contém uma assertiva correta: O vício formal orgânico de inconstitucionalidade corresponde a violação de regra de competência legislativa.] FORMAL POR VIOLAÇÃO A PRESSUPOSTOS OBJETIVOS: É aquela ocorre por inobservância de requisitos (pressupostos objetivos) constitucionalmente exigidos para elaboração de determinados atos normativos. Ex.: CF, art. 62 – observância dos requisitos de relevância e urgência para edição de Medidas Provisórias. #Atenção: O STF admite o controle judicial dos pressupostos constitucionais para a edição de Medida Provisória, mas apenas em hipóteses excepcionais, quando a inconstitucionalidade for flagrante e objetiva.[footnoteRef:27] Vejamos os seguintes julgados do STF, ambos veiculados no Info 851: [27: (TJSP-2017-VUNESP): A edição de medidas provisórias pelo Presidente da República, com fundamento nos conceitos jurídicos indeterminados de “urgência” e “relevância”, submete-se a controle jurisdicional, uma vez que seu regime jurídico é de natureza constitucional e a atividade do chefe do Poder Executivo é de competência extraordinária. #Atenção: #STF: #DPEPB-2014: #Anal. Legisl.-Câm. Deputados-2014: #TJSP-2017: #CESPE: #FCC: #VUNESP: De acordo com o STF, a análise dos requisitos constitucionais de "relevância" e "urgência" pelo Poder Judiciário é possível mas só deve ocorrer excepcionalmente, quando a inconstitucionalidade for flagrante e objetiva. Conforme entendimento consolidado da Corte, os requisitos constitucionais legitimadores da edição de medidas provisórias, vertidos nos conceitos jurídicos indeterminados de "relevância" e "urgência" (art. 62 da CF), apenas em caráter excepcional se submetem ao crivo do Poder Judiciário, por força da regra da separação de poderes (art. 2º da CF) (ADI 2.213, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23-4-2004; ADI 1.647, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 26-3-1999; ADI 1.753-MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 12-6-1998; ADI 162-MC, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 19-9-1997). ] Se é proposta uma ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e poderá ser conhecida e julgada. Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade. Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei que resulta de sua conversão. Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada, houve a conversão na Lei nº 8.866/94. Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação ao STF e pedindo o aditamento da ação. STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851).[footnoteRef:28]- [footnoteRef:29] [28: #Atenção: Tema cobrado nas provas i) MPMT-2019 (FCC); ii) TJPR-2021 (FGV); iii) MPPA-2023 (CESPE).] [29: (TJPR-2021-FGV): O Presidente da República editou a Medida Provisória nº XX, ampliando o período de inelegibilidade daqueles que fossem definitivamente condenados pela prática de determinados ilícitos. Por entender que a matéria não poderia ser disciplinada em medida provisória, o Partido Político Alfa, que contava apenas com representação na Câmara dos Deputados, ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal, argumentando com a existência de vício formal de inconstitucionalidade. No dia seguinte, a referida medida provisória foi convertida na Lei nº ZZ, sem que fosse promovida qualquer alteração no texto original. Apesar da conversão, o Partido Político Alfa não promoveu o aditamento da petição inicial. À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar que: o não aditamento da petição inicial, na situação indicada, não gera prejudicialidade superveniente. BL: Info 851, STF.] O art. 62 da CF/88prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias em caso de relevância e urgência. A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional. Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos da MP. No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve prevalecer, em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a norma inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88. STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851). STF: (...) “A verificação pelo Judiciário dos requisitos de relevância e urgência para a adoção de medida provisória só é possível em caráter excepcional, quando estiver patente o excesso de discricionariedade por parte do Chefe do Poder Executivo.” (...) (RE 550652 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, 2º Turma, j. 17/12/2013.) STF: (...) “A ausência de aditamento da petição inicial, em sede de controle normativo abstrato, gera a extinção anômala do respectivo processo, eis que se revela imprescindível, no caso de reedição da medida provisória impugnada ou na hipótese de sua conversão em lei, que o autor formalmente adite o pedido inicial, em ordem a permitir que se estenda à medida provisória reeditada ou à lei de conversão dela resultante a impugnação originariamente deduzida. Precedentes. (ADI 1588 AgR-QO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/2002). (...) “Conversão da medida provisória na Lei 11.658/2008, sem alteração substancial. Aditamento ao pedido inicial. Inexistência de obstáculo processual ao prosseguimento do julgamento. A lei de conversão não convalida os vícios existentes na medida provisória.” (ADI 4.048 MC, rel. min. Gilmar Mendes, j. 14-5-2008, P, DJE de 22-8-2008; ADI 4.049 MC, rel. min. Ayres Britto, j. 5-11-2008, P, DJE de 08-5-2009).[footnoteRef:30] [30: (TRF2-2017): Marque a opção correta: Embora ato normativo provisório, cuja finalidade é ser convertida em lei. a Medida Provisória pode ser objeto de Ação Direta de inconstitucionalidade ou de Ação Declaratória de Constitucionalidade, sendo certo que, se convertida em lei, é imprescindível o aditamento da inicial, sob pena de extinção do processo de controle abstrato. BL: Entend. Jurisprud.] STF: (...) “I. ADIn: medida provisória convertida em lei sem alterações: arguição não prejudicada. Não prejudica a ação direta de inconstitucionalidade material de medida provisoria a sua intercorrente conversão em lei sem alterações, dado que a sua aprovação e promulgação integrais apenas lhe tornam definitiva a vigência, com eficácia "ex tunc" e sem solução de continuidade, preservada a identidade originaria do seu conteúdo normativo, objeto da arguição de invalidade. (ADI 691 MC, Relator(a): SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, j. 22/04/92)[footnoteRef:31] [31: #Atenção: Tema cobrado na prova do TJPR-2021 (FGV).] b) Material: (ou nomoestática – relacionada ao conteúdo da norma, que é estático) Ocorre quando o conteúdo da lei impugnada é incompatível com uma a NORMA CONSTITUCIONAL DE FUNDO, ou seja, que estabelecem direitos e deveres a serem observados/respeitados.[footnoteRef:32] Esse termo é utilizado para diferenciar das normas que estabelecem procedimentos (competência, processo legislativo). [32: (PCPA-2016-FUNCAB): No tocante ao controle de constitucionalidade, na hipótese de recente lei ordinária dispensar o contraditório em processo administrativo que objetiva a imposição de sanções a servidores públicos, é correto afirmar que o referido ato normativo padeceria de inconstitucionalidade nomoestática.] Ex.: A inconstitucionalidade do dispositivo da Lei de Crimes Hediondos que vedava a progressão de regime é uma inconstitucionalidade material, pois seu conteúdo era incompatível com o conteúdo de uma garantia prevista na CF, art. 5º, XLVI (garantida da individualização da pena). A INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL não pode ser admitida em razão da violação ao princípio da unidade do ordenamento jurídico (não permite que normas com conteúdo conflitante permaneçam válidas dentro do mesmo ordenamento). Em outras palavras, o princípio que fundamenta esse tipo de inconstitucionalidade é o princípio da unidade do ordenamento jurídico, que impede a coexistência de normas contraditórias. Quando há esse quadro uma delas deve ser afastada, a partir dos critérios cronológicos, da especialidade e o hierárquico, que é o caso ora tratado. #Atenção: Uma coisa é supremacia formal, que é pressuposto para o controle de constitucionalidade. Só há controle se houver essa supremacia formal, isto é, a rigidez da Constituição. A partir disso, pode haver lei com inconstitucionalidade formal ou material. #Questiona-se: O que se entende por inconstitucionalidade chapada/enlouquecida/desvairada? Trata-se de expressão utilizada pelo ex-ministro Sepúlveda Pertence para se referir a situações em que a inconstitucionalidade é evidente, clara, flagrante, não restando qualquer dúvida sobre o vício, seja formal ou material. Cite-se alguns julgados em que a expressão foi utilizada: ADI 2.527, ADI 3.715, ADI 1.923. 3.3.1. Quanto à extensão a) Total: A inconstitucionalidade atinge a lei, o ato normativo ou o dispositivo em sua integralidade, não restando partes válidas a serem aplicadas. b) Parcial: Ocorre quando os poderes públicos deixam de adotar medidas suficientemente adequadas para tornar efetiva normas constitucionais (omissão parcial) ou parte da lei/dispositivo legal afronta a constituição. Sendo assim, pode-se afirmar que ela ocorrerá quando parte de uma lei ou de um dispositivo é incompatível com a Constituição. #Atenção: Quando se fala dos tipos de inconstitucionalidade total ou parcial, é importante mencionar do que se fala (se é lei ou se é apenas de um dispositivo). Isso porque a inconstitucionalidade pode ser total para o dispositivo e parcial para a lei, total para a lei, ou parcial para dispositivo (vejamos exemplo abaixo). Ex.: A declaração de inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º da Lei de Crimes Hediondos. Em relação ao art. 2º, § 1º da referida Lei foi uma declaração de inconstitucionalidade total, pois declarou todo o artigo inconstitucional. Em relação à Lei dos Crimes Hediondos, foi uma declaração de inconstitucionalidade parcial, pois os outros dispositivos continuam válidos. #Cuidado: DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL É DISTINTA DO VETO PARCIAL. O veto parcial (CF, art. 66, § 2º) deve abranger, necessariamente, todo o artigo, todo o parágrafo, toda a alínea ou todo o inciso. Por outro lado, a declaração de inconstitucionalidade parcial pode abranger apenas uma palavra ou uma expressão dentro de um dispositivo. No entanto, é vedado declarar inconstitucional uma palavra ou expressão de modo a modificar o restante do sentido do dispositivo. Ex.: a lei proíbe algo. Tribunal declara inconstitucional a expressão “não” contida na Lei. A norma proibitiva tornar-se-á norma impositiva.[footnoteRef:33] [33: (TRF5-2015-CESPE): Assinale a opção correta com referência ao controle de constitucionalidade no Brasil: Diferentemente do STF, que pode declarar a inconstitucionalidade parcial de expressões ou palavras de artigo de lei, o veto parcial do presidente da República com base na inconstitucionalidade da norma deverá abranger texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.] Nesse sentido, vejamos o teor da ementa da ADI 347 do STF, que, declarou inconstitucional uma expressão do art. 74, XI da Constituição de São Paulo) e da ementa da ADI 2645, nessa ordem: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ART. 74, XI. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DE LEI OU ATO NORMATIVO MUNICIPAL EM FACE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PROCEDÊNCIA. É pacíficaa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, antes e depois de 1988, no sentido de que não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em face da Constituição federal. Precedentes. Inconstitucionalidade do art. 74, XI, da Constituição do Estado de São Paulo. Pedido julgado procedente. (ADI 347, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 20/09/06, DJ 20-10-06)[footnoteRef:34] [34: #Atenção: Tema cobrado na PGM-Boa Vista/RR-2019 (CESPE).] EMENTA: I. Ação direta de inconstitucionalidade da parte final do art. 170 da L. est. 1284-TO, de 17/12/01 - Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado: inadmissibilidade, dado que, em tese, a inconstitucionalidade parcial argüida imporia a declaração de invalidade da lei em extensão maior do que a pedida. II. Ação direta de inconstitucionalidade parcial: incindibilidade do contexto do diploma legal: impossibilidade jurídica. 1. Da declaração de inconstitucionalidade adstrita à regra de aproveitamento automático decorreria, com a subsistência da parte inicial do art. 170, a inversão do sentido inequívoco do pertinente conjunto normativo da L. 1284/01: a disponibilidade dos ocupantes dos cargos extintos - que a lei quis beneficiar com o aproveitamento automático - e, com essa disponibilidade, a drástica conseqüência - não pretendida pela lei benéfica - de reduzir-lhes a remuneração na razão do tempo de serviço público, imposta por força do novo teor ditado pela EC 19/98 ao art. 41, § 3º, da Constituição da República. 2. Essa inversão do sentido inequívoco da lei - de modo a fazê-la prejudicial àqueles que só pretendeu beneficiar -, subverte a função que o poder concentrado de controle abstrato de constitucionalidade de normas outorga ao Supremo Tribunal. (ADI 2645 MC, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 11/11/04, DJ 29-09-06). 3.4.1. Quanto ao momento a) Originária: O surgimento da norma-objeto[footnoteRef:35] é posterior ao da norma-parâmetro[footnoteRef:36] ofendida. [35: Norma-objeto é a lei ou ato normativo que é impugnada em uma ADI, ou seja, é o que está sendo questionado (objeto da ação). ] [36: Norma-parâmetro é aquela norma da Constituição supostamente violada. ] Em uma inconstitucionalidade originária, a norma já nasce inconstitucional. Para tanto, é necessário que o parâmetro seja anterior a ela. Em outras palavras, é aquela que ocorre quando o objeto impugnado surge após a existência do parâmetro. O objeto já nasce inconstitucional, pois o parâmetro já existia. Ex.: Depois da CF/88, uma lei modifica uma disposição do CPP dispondo que a prerrogativa de foro deve ser estendida após o término do mandato (inconstitucionalidade originária). É diferente do que aconteceu com a Lei de Imprensa (de 1967) que era constitucional só que, com o surgimento da CF/88, se tornou inconstitucional (trata-se da inconstitucionalidade superveniente). b) Superveniente:[footnoteRef:37] [37: #Atenção: Tema cobrado nas provas: i) MPPR-2017; ii) MPCE-2020 (CESPE); iii) TCERJ-2021 (CESPE); iv) MPF-2017/2022; v) MPAC-2022 (CESPE); vi) TRF3-2022; vii) TJDFT-2023 (CESPE).] A existência da norma-objeto é anterior à da norma de referência e, embora originariamente constitucional, torna-se incompatível com o novo parâmetro (nova Constituição ou Emenda). Dito de outro modo, é aquela que ocorre quando a norma nasce constitucional, mas em razão de uma mudança do parâmetro, ela acaba se tornando inconstitucional.[footnoteRef:38] [38: (MPMS-2015-FAPEC): Quando a inconstitucionalidade é decorrente de reforma, inovação hermenêutica ou alteração das circunstâncias fáticas fala-se em: Inconstitucionalidade superveniente.] A inconstitucionalidade superveniente, em regra, não é admitida no Brasil. Desse modo, a alteração no entendimento jurisprudencial não autorizaria a caracterização da inconstitucionalidade superveniente, por exemplo. Em Portugal, por exemplo, admite-se a inconstitucionalidade superveniente de forma expressa: Constituição Portuguesa de 76, art. 282, § 2º alude que: “Tratando-se, porém de inconstitucionalidade ou de ilegalidade por infracção de norma constitucional ou legal posterior, a declaração só produz efeitos desde a entrada em vigor desta última”. No Brasil, em regra, trata-se de hipótese de “não recepção” (às vezes, o STF usa a expressão “revogação”). Exemplos: 1) ADPF 130 (Lei de Imprensa não foi recepcionada pela CF/88); 2) ADI 718/MA (aqui, STF usou a expressão “revogação”, mas o mais correto tecnicamente seria “não recepção”). Vejamos o seguinte trecho de julgado do STF: STF: “(...) É que não há falar em inconstitucionalidade superveniente. Tem-se, em tal caso, a aplicação da conhecida doutrina de Kelsen: as normas infraconstitucionais anteriores à Constituição, com esta incompatíveis, não são por ela recebidas. Noutras palavras, ocorre derrogação, pela Constituição nova, de normas infraconstitucionais com esta incompatíveis”. (RE 396.386/SP, Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, DJ 13.8.2004).[footnoteRef:39] [39: (DPEMG-2019): A respeito do sistema brasileiro de controle concentrado de constitucionalidade, assinale a alternativa correta: Inadmite-se, em regra, o fenômeno da inconstitucionalidade superveniente, também conhecido como “processo de inconstitucionalização”.] Portanto, na jurisprudência do STF, em regra, essa relação é categorizada como não recepção (ou revogação), independentemente da mudança ser decorrente de nova constituição ou de simples emenda, como, por exemplo, da norma definidora da legitimidade ativa para propor Ações Diretas de Constitucionalidade (art. 13, Lei 9.868/99), elaborada conforme o §4º do art. 103, mas não recepcionada pela EC 45/04. #Parêntese: #MPPR-2021: Para Hans Kelsen, toda lei necessita de um fundamento de validade para ser elaborada, isto é, a Constituição da época de sua elaboração. Além disso, Hans Kelsen afirmava que a inconstitucionalidade consiste em uma conduta do poder público contrária à Constituição. Nos casos em que a lei é anterior à Constituição, não há conduta incompatível com a Constituição (não é culpa do poder público que a nova Constituição tenha mudado), por isso ocorre a não recepção ou a revogação (e não a inconstitucionalidade). Existe, todavia, uma exceção a esta regra, que decorre de mudança nas relações fática e jurídicas, que afeta a interpretação de dispositivos constitucionais: MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL,[footnoteRef:40] Por ser a norma o produto da interpretação do texto, uma lei pode ser considerada inicialmente compatível com determinado sentido atribuído ao dispositivo constitucional, mas posteriormente inválida à luz da nova interpretação a ele conferida. Isso ocorre nos casos de MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL, processo informal de alteração do sentido da Constituição, sem modificação de seu texto -, quando a norma-objeto, embora editada após a vigência do dispositivo constitucional utilizado como parâmetro, é anterior à norma resultante da nova interpretação a ele conferida pelo Tribunal Constitucional. Portanto, na mutação constitucional há apenas uma mudança na interpretação de um dispositivo constitucional, que continua com o mesmo texto, mas o sentido é alterado. Embora o resultado da nova interpretação seja posterior à Lei, é hipótese de inconstitucionalidade superveniente.[footnoteRef:41] [40: #Atenção: Caiu nas provas: i) TRF3-2011; ii) MPF-2011; iii) PGEMS-2014.] [41: (DPEPB-2022-FCC): A mutação constitucional pressupõe que há nova interpretação sem alteração do texto. (TJRS-2018-VUNESP): No ano de 2017, o Min. Rel. Luís Roberto Barroso suscitou, no âmbito do STF, uma questão de ordem na Ação Penal (AP) 937, defendendo a tese de que o foro de prerrogativa de função deve ser aplicado somente aos delitos cometidos por um deputado federal no exercício do cargo público ou em razão dele. O julgamento se encontra suspenso por um pedido de vistas, mas, se prevalecer o entendimento do Ministro Relator, haverá uma mudança de posicionamento do