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Texto 07 - Sociologia - SANTO, Felipe Agusto. Pluralismo juridico e o Direito achado na rua

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Pluralismo jurídico, Direito 
alternativo e Direito achado na rua. 
O Direito em face de seus determinantes sociais 
Felipe Augusto Rocha Santo 
 
 
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/13583/pluralismo-juridico-direito-alternativo-e-direito-achado-na-
rua#ixzz2MDz5YRm4 
 
 
Este breve trabalho tem como objetivo precípuo a abordagem da 
correlação entre os conceitos do pluralismo jurídico, Direito Alternativo e 
"Direito achado na rua", enquanto fundamentais para o (re)pensar 
do Direito em relação às evoluções, involuções e contradições da sociedade. 
Tentaremos, sem a pretensão de esgotar o tema, convergir esses temas 
para uma análise do Direito sob as lentes do "Direito vivo" de Eugen Ehrlich e 
da contemplação da estrutura jurídica enquanto fenômeno sócio-cultural, criado 
e recriado a partir das mudanças que pulsam dentro do seio social, sob o 
prisma de que o fenômeno jurídico é uma estrutura que deve ser contemplada 
além das cancelas do legalismo [01] e do Estado. 
Valendo-nos do ideário do notável professor Antônio Carlos Wolkmer, 
iniciamos nosso percurso com a conceituação do pluralismo jurídico, enquanto 
contrário à inexorabilidade do Estado como fonte exclusiva de toda a produção 
do Direito. Dessa forma, "trata-se de uma perspectiva descentralizadora e 
antidogmática que pleiteia a supremacia de fundamentos ético-político-
sociológicos sobre critérios tecno-formais positivistas" (WOLMER, 2001, p.7). 
Em consonância com essas palavras pontuadas por Wolkmer, impõe-se 
encarar o pluralismo jurídico a partir da multiplicidade de manifestações 
normativas num mesmo espaço político-social. Esse caráter múltiplo decorre 
justamente do reconhecimento de que o Direito estatal, perante a 
complexidade, instabilidade e contradições das atuais sociedades, é 
apenas uma dentre inúmeras fontes de direito. 
Mas, dadas essas constatações, em que cenário deve ser contemplado 
o fenômeno do pluralismo jurídico? Faz-se mister enxergar sua pertinência em 
face da ineficácia do atual aparato jurídico tecno-formal perante relações 
sociais cada vez mais imprevisíveis; daí a importância do reconhecimento de 
manifestações normativas fora da égide estatal e oriundas das necessidades e 
particularidades dos novos sujeitos sociais. 
Desse modo, o que pretendemos defender é que, se o Direito deve ser 
enxergado como reflexo de uma estrutura pulverizada também pelo conflito 
entre múltiplos atores sociais (WOLKMER, 2007, p.1), é lógica e plenamente 
possível a existência de normas derivadas de fontes diversas, desde que 
reiteradas nas práticas e interações sociais. 
Poderíamos remeter, pois, ao que versa Ehrlich (1986, p.27-29), quando 
concebe o Direito como um produto espontâneo da sociedade, sendo que cada 
uma delas cria internamente a sua própria norma jurídica. É precisamente esse 
o "Direito vivo", desapegado dos grilhões dogmáticos, doutrinários e estatais; 
proveniente da vida concreta dos indivíduos. Desse modo, Ehrlich traz a lume 
um direito que se volta para o solucionamento dos conflitos intersubjetivos de 
uma forma mais equânime e eficaz. Ora, fica-nos flagrante a oposição à ciência 
jurídica dominante, preconizadora do direito positivo enquanto receptáculo de 
toda a lei. 
O Direito Vivo de Ehrlich nos denuncia o perigo que representa esse 
desprestígio à pluralidade de fontes de direito, vício inculcado na maioria dos 
operadores da área jurídica. Esse apego quase absoluto às leis é o devaneio 
do Direito moderno. De acordo com o brilhante pensamento do autor, "querer 
encerrar todo o direito de um tempo ou de um povo nos parágrafos de um 
código é tão razoável quanto querer prender uma correnteza em uma lagoa" 
(EHRLICH, 1980, p.110). Valorizar, pois, essa noção, é optar pela defesa de 
um direito moribundo e negar o direito vivo, isto é, o direito na plenitude de seu 
dinamismo, advindo diretamente das relações sociais. 
Eis por que entendemos muitíssimo pertinente pontuarmos o ideário do 
sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, em seus escritos em "Para 
uma Revolução Democrática da Justiça". Boaventura traz como alicerce o 
desafio de se construir uma sociedade justa e atenta a todas as classes sociais 
e às peculiaridades que as circundam. Tal proposta passa pela superação 
desses paradigmas inerentes ao campo jurídico e que contribuem para a 
perpetuação de um Direito estático, frio e talhado pelas vicissitudes do 
normativismo absoluto. 
É justamente nesse contexto que podemos adentrar o segundo 
elemento do nosso trinômio: o "Direito achado na rua". Preliminarmente, 
devemos aqui contemplar a rua justamente como o palco das organizações 
populares, o espaço fértil às mobilizações e aos clamores do povo. O 
"Direito achado na rua", expressão cuja nascente encontra o brilhante ideário 
de Roberto Lyra Filho [02], emerge do pluralismo jurídico na medida em que 
nasce, não do ventre do Estado, mas do clamor dos oprimidos e das práticas 
dos novos sujeitos sociais. 
Dessa forma, urge que a rua seja vista não como mero espaço físico, 
mas como o espaço simbólico por intermédio do qual os indivíduos se 
convertem em coletividade; é nela que surge um povo que vocifera por seus 
próprios anseios; é ela que pertence ao povo. Portanto, é no bojo do pluralismo 
jurídico não-estatal que surge esse Direito dos oprimidos, oposto 
àqueleDireito estaticamente codificado em normas e distante da dialética 
social. Em harmonia com Wolkmer (2002, p.100) – amparado no pensamento 
de Lyra Filho, 
[...] o Direito não mais refletirá com exclusividade a superestrutura 
normativa do moderno sistema de dominação estatal, mas solidificará o 
processo normativo de base estrutural, produzido pelas cisões classistas e pela 
resistência dos grupos menos favorecidos. 
Há que se observar, pois, o que atenta Wolkmer a respeito da 
contribuição do "Direito achado na rua": ele se insere justamente na proposta 
desse Direito novo que vai ao encontro da capacidade popular de se afirmar 
como agente determinante e não só determinado por esta ou aquela estrutura 
estatal. É assim que a escória do corpo social se mostra soberana quanto à 
afirmação de seus interesses, visto que manifestam, nas relações sociais, 
formas jurídicas completamente novas, desformalizadas e contrárias à inércia 
do Direito posto em códigos. 
Faz-se mister, ainda, observarmos que as contribuições de Lyra Filho e 
do "Direito achado na rua" propiciaram – timidamente, é verdade – uma 
reconstrução criativa nas faculdades jurídicas. Impossível não lembrarmos das 
idéias de Mauro Cappelletti, quando menciona a necessidade de se investir em 
uma melhor formação dos estudantes de Direito [03]. Essa proposta de reflexão 
sobre a atuação jurídica dos novos e mais variados sujeitos sociais encontra as 
mentes inquietas dos acadêmicos do campo jurídico e impulsiona a análise das 
experiências populares de (re)criação do Direito. 
Em suma, urge a compreensão do "Direito achado na rua" a partir da 
identificação da rua enquanto palco no qual se manifestam práticas sociais e, 
por conseguinte, a partir do qual surgem direitos fora do baluarte estatal e 
condizentes com os desideratos dos novos sujeitos sociais. Ademais, busca-se 
justamente definir novas categorias jurídicas a partir das reiteradas práticas 
sociais inovadoras e propagadoras de novos direitos – aproximando-se da 
perspectiva do Pluralismo Jurídico, quando atenta para a existência de mais 
fontes jurídicas do que se está de fato revelado. 
Nesse cenário de realce do processo de formação normativa em função 
das especificidades de sujeitos sociais emergentes, é de plana conveniência 
abordarmos a polêmica que envolve o DireitoAlternativo. Como terceiro 
elemento de nossa análise, esse movimento traz a lume uma proposta 
diferenciada no que tange à interpretação e aplicação das leis pelos juízes. 
Seus desideratos trazem em si justamente uma alternativa aos paradigmas da 
ciência jurídica, desnudando uma harmonização entre o Direito e seus 
determinantes sociais. 
Na marcha de nossa análise do Direito sob as lentes da perspectiva 
crítico-sociológica, o Movimento de Direito Alternativo evidencia justamente 
uma preocupação em restabelecer o Direito enquanto propiciador da 
construção de uma sociedade mais justa e efetivamente democrática. Trata-se 
de uma proposta que teve seu germe no Rio Grande do Sul, em meados da 
década de 90 e se opõe à cultura jurídica tecno-formal-normativista, de apego 
absoluto à lei. Entre os objetivos do Direito Alternativo, ao contrário desse 
caráter, está a proposta de um esforço hermenêutico no sentido de aproximar o 
texto legal do caso concreto – evidenciando, pois, clara preocupação quanto 
aos sujeitos preteridos pelo aparato jurídico dominante e cujos interesses, 
contradições e necessidades são mais facilmente encontrados no "jus-
rueirismo". 
Assim, o movimento se aglomera acerca de uma nova forma de ver, ler 
e interpretar o Direito. Em consonância com o célebre professor Amilton Bueno 
de Carvalho (apud, WOLKMER, 2002, p.142), um dos precursores 
do Direito Alternativo, trata-se da utilização, por intermédio da interpretação 
diferenciada, "das contradições, ambiguidades e lacunas do Direito legislado 
numa ótica democratizante". Desse modo, o magistrado busca flexibilizar a 
aplicação da norma em face dos dados reais da sociedade, levando em conta, 
por que não, o direito vivo, achado na rua e próximo da consecução da justiça 
social. 
É imperioso, ainda, observarmos que o volume de críticas dirigidas 
ao Direito Alternativo é gigantesco. Atribui-se a ele o estereótipo de um 
movimento de juristas contrários à lei e interessados em julgar a gosto próprio, 
sem quaisquer critérios legais [04]. 
Contudo, há que se perceber que, a despeito dos ataques – geralmente 
inconsistentes – dirigidos aos juízes simpáticos a esse movimento, ele não 
representa uma subversão total ao direito positivo, mas uma crítica à 
exacerbação positivista que se mostra conveniente às classes dominantes e 
automatiza a atuação dos magistrados ante os casos concretos. O professor 
Antônio Carlos Wolkmer, já citado aqui, esteve no germe desse movimento, 
cuja revolução passa, ainda, pela proposta de coadunação entre ordenamento 
jurídico e um Direito mais equânime, socialmente adaptado e atento às 
contradições sociais. Ademais, é flagrante sua aversão ao capitalismo e sua 
intenção de criar uma sociedade efetivamente democrática. 
Aproximando-nos do fim do nosso percurso, poderíamos dizer que a 
característica que talvez seja o ponto axiomático do Direito Alternativo reside 
justamente no pluralismo jurídico, uma vez que, conforme exposto, não cabe 
apenas ao Estado o papel de criação do Direito. Essa pluralidade tem como 
sustentáculo a noção de um Direito vivo, transformador e transformado pela 
sociedade. Dá-se, então, atenção ao Direito achado nas ruas, fora da esfera 
estatal e compromissado com as camadas desfavorecidas, aproximando-se, 
assim, da efetiva democratização da sociedade. Os três elementos de nossa 
análise resgatam, pois, o entendimento, partilhado por autores como Luís 
Alberto Warat, Antônio Carlos Wolkmer e Boaventura de Sousa Santos 
(cavaleiros errantes em meio a uma multidão de paladinos da inércia), de que 
o Direito deve ser visto a partir de seu potencial transformador e interdisciplinar. 
Ele não subsiste sozinho; o fenômeno jurídico deve estar numa constante 
reinvenção e adaptação ante as particularidades e contradições sociais, 
confirmando o Direito enquanto reflexo de uma estrutura pulverizada também 
por manifestações organizadas de poder e conflitos entre toda uma 
multiplicidade de autores sociais. 
Impõe-se, pois, compreender o trinômio "pluralismo 
jurídico/Direito alternativo/Direito achado na rua" como uma estrutura única, 
aproximada de uma concepção de justiça mais democrática, humana, plural e 
socialmente comprometida. Essa idéia passa pela noção de que as fontes de 
produção de direitos são muito mais vastas do que se poderia pressupor por 
intermédio de leis e códigos. Ademais, passa pelo entendimento de que a 
capacidade de um juiz de atender às demandas da sociedade cada vez mais 
multifacetada é tão mais forte quanto sua vontade de atuar de forma 
interdisciplinar e não-automatizada, voltado para o direito emergente dos 
conflitos e manifestações dos excluídos; o direito nascido da rua. 
Eis que, só quando estiver imersa no ideário coletivo a concepção de 
que o Direito não só conforma a realidade, mas, numa relação dialética, 
também é transformado por ela, poder-se-á compreender o papel social 
do Direito dentro da sociedade. Os muros robustos do legalismo e da visão 
estática que assolam o campo jurídico só ficam mais próximos de serem 
transpostos quando também se enrobustece a noção de um pluralismo no qual 
as classes oprimidas e suas relações com o mundo também se tornam fontes 
de direito. Da criação e recriação do Direito, das ruas e da interpretação 
diferenciada dos magistrados ante os novos sujeitos da esfera social, nasce a 
esperança de uma sociedade mais justa e igualitária. 
 
REFERÊNCIAS 
EHRLICH, Eugen. Fundamentos da Sociologia do Direito. Brasília: UnB, 
1986. 
SANTOS, Boaventura de Sousa. A formação dos magistrados e a cultura 
jurídica. In: ______. Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo: 
Cortez, 2007. p.66-78. (Coleção Questões da Nossa Época, v.134). 
WOLKMER, Antônio Carlos. Introdução ao pensamento jurídico crítico. 4. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 
______. Pluralismo jurídico: fundamentos de uma nova cultura no Direito. 
São Paulo: Alfa Omega, 2001. 
 
NOTAS 
1. Em harmonia com Roberto Lyra Filho, não se confunde legalidade com 
legalismo; este transforma aquela em fetiche, reduzindo o Direito a um conjunto 
sistemático de leis e desconsiderando tudo o que foge do monopólio estatal. 
2. O advogado Roberto Lyra Filho (1926-1986) foi o fundador do que ele 
proclamou "Nova Escola Jurídica Brasileira", propondo a prática da "ilegalidade 
não-selvagem" em oposição ao legalismo; esse combate se daria com o 
exercício do "verdadeiro direito" – achado justamente na "rua". 
3. Mauro Cappelleti, em sua renomada obra "Acesso à justiça", expôs a 
problemática acerca do ensino jurídico enquanto fundamental à proposição de 
um modelo de acesso à justiça efetivamente democrático e atento às 
particularidades sociais. 
4. É célebre o episódio em que o Jornal da Tarde, de São Paulo, em outubro de 
90, trouxe um artigo cujo título estampava: "Juízes gaúchos 
colocam direito acima da lei". Em vez de desmoralizar o grupo de estudos 
alternativista, deu impulsão ao início do movimento. 
 
 
Leia mais: http://jus.com.br/revista/texto/13583/pluralismo-juridico-direito-
alternativo-e-direito-achado-na-rua#ixzz2MDzLDgec

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