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Fundadores A. C. Pacheco e Silva, Fernando de O. Bastos, J. Carvalhal Ribas, J. R. de Albuquerque Fortes Editores de Área Editores Wagner Farid Gattaz Valentim Gentil Editor Assistente Orestes Vicente Forlenza Artigos Originais Geraldo Busatto Revisões da Literatura Francisco Lotufo Neto Relatos de Casos Frederico Navas Demétrio Atualização Rápida Renério Fráguas Júnior Novos Caminhos em Pesquisa Márcio Antonini Bernik Estatística Hélio Elkis Comissão Editorial Jair de Jesus Mari (UNIFESP - EPM/SP - BR) Jerson Laks (FCM-UERJ - UFRJ - RJ - BR) João Quevedo (Univ. Extremo Sul Catarinenese - SC - BR) Laura H. S. Guerra de Andrade (FMUSP - SP - BR) Ligia Ito (FMUSP - SP - BR) Luis Augusto Rohde (Hosp. de Clínicas de Porto Alegre - RS - BR) Marco Aurélio Romano Silva (UFMG - MG - BR) Mauricio Silva de Lima (Univ. Federal de Pelotas - RS - BR) Miguel Roberto Jorge (UNIFESP - EPM/SP - BR) Almir Ribeiro Tavares Jr. (UFMG - MG - BR) Clarice Gorenstein (FMUSP - SP - BR) Eduardo Iacoponi (Lambeth Early Onset Services Londres - Inglaterra) Ester Nakamura Palacios (UFES - ES - BR) Fábio Gomes de Matos e Souza (UFCE - CE - BR) Flávio Kapczinski (Hosp. de Clínicas de Porto Alegre - RS - BR) Gunter Eckert (Univ. de Frankfurt - Frankfurt - Alemanha) Helena Maria Calil (UNIFESP-EPM/SP - BR) Irismar Reis de Oliveira (Universidade Federal da Bahia - BA - BR) Jair Constante Soares (Universidade do Texas - Texas - EUA) Mônica Yassuda (UNICAMP - SP - BR) Osvaldo Pereira de Almeida (Universidade Western - Perth - Austrália) Paulo Belmonte Abreu (UFRS - RS - BR) Paulo Canineu (PUC - SP - BR) Paulo Rossi Menezes (FMUSP - SP - BR) Paulo Mattos (UFRJ - RJ - BR) Renato Teodoro Ramos (FMUSP - SP - BR) Ricardo Nitrini (FMUSP - SP - BR) Ronaldo Ramos Laranjeira (UNIFESP - EPM/SP - BR) Stephan Heckers (Harvard - Boston - USA) ISSN 0101-6083 VOLUME 33 • NÚMERO 3 • 2006 Cartas e Pontos de Vista Carmita Helena Najjar Abdo Comentário de Livros Zacaria Borge Ali Ramadam Psiquiatria, História e Artes Paulo Clemente Sallet Fontes de Indexação: • EMBASE - Excerpta Medica database • LILACS - Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde • PERIODICA - Índice de Revistas Latino-americanas em Ciências • SciELO - Scientific Eletronic Library Online • SIIC - Sociedad Iberamericana de Información Científica • Scopus - (www.scopus.com) Psiquiatria 33 3.indd 113 27/6/2006 17:58:13 Instruções para os autores Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 114, 2006 Instruções para os autores114 A missão da Revista de Psiquiatria Clinica é fornecer aos profissionais de saúde mental um programa de atualização e educação continuada nas áreas de interesse clínico. Serão também publicados trabalhos de pesquisa básica onde os resultados tenham potencial implicação para a prática clínica. Os manuscritos devem ser enviados para o endereço gattaz@usp.br como anexos formatados em Word para Windows, acompanhados de uma carta do autor responsável ao editor, solicitando publicação na Revista de Psiquiatria Clínica. Por questões de custos, manuscritos impressos enviados pelo correio não serão devolvidos aos autores. Ao ser recebido, o artigo será registrado e o recebimento será imediatamente confirmado por e-mail ao autor principal. Aspectos gerais Todos os artigos publicados são revisados no mínimo por dois pare- ceristas anônimos. A decisão sobre a aceitação do artigo para publicação ocorrerá geralmente dentro do prazo de até três meses a partir da data de seu recebimento. A submissão de um manuscrito implica: a) que o trabalho descrito não tenha sido publicado anteriormente em língua portuguesa (exceto na forma de um resumo ou como parte de uma palestra publicada); b) que não esteja sendo analisado para ser publicado em outro periódico de língua portuguesa; c) que sua publicação tenha sido aprovada por todos os co-autores, se houver algum, assim como pelas autoridades responsáveis na instituição onde o trabalho foi realizado; d) se e quando o manuscrito for aceito para publicação, os autores concordam com a transferência automática dos direitos autorais à Revista de Psiquiatria Clínica. O direito autoral corresponde aos direitos exclusivos e ilimitados de reproduzir e distribuir em qualquer forma de publicação (impressa, mídia eletrônica ou outra forma qualquer). Formato Os artigos devem ser digitados em espaço duplo, fonte Arial e tipo 12. Todas as páginas, inclusive a do título, devem ser numeradas. I. A primeira página deve conter: a) título do artigo; b) nome com- pleto dos autores sem abreviação e respectivas titulações aca- dêmicas; c) o nome e o endereço da instituição onde o trabalho foi elaborado; e d) o endereço do autor para correspondência, incluindo e-mail. II. Cada trabalho deve incluir um resumo de não mais de 200 pa- lavras em português e um abstract em inglês. O abstract deve ser seguido de título do trabalho e de keywords em inglês. Os conteúdos do resumo e do abstract devem ser idênticos. III. Palavras-chave. Seguindo o resumo, não mais de cinco palavras devem ser usadas. Elas devem representar o conteúdo e caracteri- zar a terminologia usada naquele campo de estudo em particular. Termos e frases do Index Medicus são recomendáveis. IV. Referências. A RPC adota as normas da ABNT. Todas as refe- rências citadas no texto, mas somente essas, devem ser listadas no final do trabalho em ordem alfabética, pelo sobrenome do primeiro autor. Uma ordem cronológica deve ser usada para mais de um trabalho do mesmo autor ou grupo de autores. Títulos de periódicos devem ser abreviados de acordo com o Index Medicus. É de total responsabilidade dos autores verificar se as referên- cias citadas no texto constam da lista de referências, com datas exatas e nomes de autores corretamente grafados. Para a lista de referências, os seguintes exemplos devem ser seguidos. Capítulo em livro: GATTAZ, W.F.; KOHLMEYER, K.; GASSER, T. - Computed Tomographic Scans in Schizophrenia, In: Häfner, H. & Gattaz, W.F. (eds.) Search for the Causes of Schizophrenia, vol. II. Springer Verlag, Berlin, Heidelberg, New York, pp. 242-256, 1990. Artigo em periódicos: GATTAZ, W.F.; LEVY, R.; CAIRNS, N.J.; MARAS, A. - Distúrbios do Metabolismo de Fosfolipídeos na Doença de Alzheimer. J Bras Psiquiatria 45: 345-349, 1996. No texto, as citações devem ser feitas pelo nome dos autores, seguidos do ano de publicação. Exemplos: a) Trabalhos com 1 autor: Cardoso (1994); b) Trabalhos com 2 autores: Cardoso e Malan (1994); c) Trabalhos com 3 ou mais autores: Cardoso et al. (1994). Se houver mais de uma referência pelo mesmo autor ou grupo de autores no mesmo ano, então as letras “a, b, c” etc. devem ser acrescentadas ao ano no texto e na lista de referências. V. Tabelas. Devem ser submetidas em folhas separadas com as respectivas legendas. As tabelas devem ser numeradas consecutivamente, na ordem em que foram citadas no texto e encabeçadas por um título e legenda apropriados. VI. Figuras. O número e o tamanho das ilustrações devem ser os menores possíveis para esclarecimento do texto. Ilustrações co- loridas serão aceitas; todavia, os autores deverão cobrir os gastos adicionais. Todas as figuras, tais como fotografias, gráficos ou diagramas, devem ser numeradas consecutivamente, na ordem em que forem citadas no texto e submetidas em folhas separadas. As legendas das figuras devem vir em folhas separadas e devem permitir uma compreensão clara da figura, sem a necessidade de referência ao texto. Cada figura deve ter um título curto, seguido de uma descrição concisa. Todas as abreviaturas e símbolos que aparecem nas figuras devem estar explicados nas legendas. Comentários como “paraexplicação (ou detalhes) vide texto” devem ser evitados. VII. Fotografias de pacientes. A Revista não encoraja a publicação de fotografias de pacientes. Quando isto for imprescindível para o entendimento do texto, a fotografia deverá ter uma tarja que não permita a identificação do paciente e, mesmo assim, deverá vir acompanhada de uma autorização por escrito do paciente e/ou de seus responsáveis legais. VIII. Separatas podem ser encomendadas quando o artigo for aceito para publicação. Tipos de artigos Artigos originais Os artigos originais devem apresentar os seguintes tópicos: resumo, palavras-chave, abstract (com título em inglês) e keywords, introdução, métodos, resultados e discussão. Devem conter até 5.000 palavras e não ultrapassar a soma de seis tabelas e figuras. Recomendam-se até 40 refe- rências bibliográficas. Revisões da literatura As revisões devem apresentar: introdução, discussão, conclusão e outras subdivisões, a critério dos autores. Devem conter até 6.000 palavras e não ultrapassar a soma de seis tabelas e figuras. Devem apresentar um resumo com as principais conclusões da literatura sobre o tema. Recomen- dam-se até 80 referências bibliográficas. Casos clínicos O objetivo da seção “Casos clínicos” é abordar novas questões clí- nicas ou teóricas relevantes para o diagnóstico ou o manejo clínico de patologias psiquiátricas. Os artigos submetidos à publicação nessa seção deverão obedecer às normas gerais para todos os artigos da Revista de Psiquiatria Clínica. Dessa forma, o relato deve conter as seguintes seções: título, resumo (em português e inglês), introdução, descrição do caso clínico, discussão e referências. A introdução deverá especificar o problema apresentando uma breve revisão da literatura sobre os aspectos clínicos e terapêuticos ou o diag- nóstico diferencial em relação ao caso apresentado. O relato do caso deverá ser sucinto, evitando-se dados redundantes ou não-relevantes para o esclarecimento do problema. Por exemplo, exames de laboratório de rotina sem alterações deverão ser resumidos em poucas palavras (“sem alterações laboratoriais e radiológicas relevantes”). A discussão deverá contrapor dados do caso apresentado (semelhan- ças e diferenças) com casos semelhantes da literatura. Recomendam-se até 15 referências bibliográficas. Resolução no 1.595 do Conselho Federal de Medicina de 18/5/2000: é obrigatório que os autores de “artigos divulgando ou promovendo produtos farmacêu- ticos ou equipamentos para uso em Medicina declarem os agentes financeiros que patrocinaram suas pesquisas”. Psiquiatria 33 3.indd 114 27/6/2006 17:58:13 Index Index Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 115, 2006 115 Special Edition – Women’s Health – Part II - Guest Editors: Joel Rennó Jr. and César Eduardo Fernandes Review Article Premenstrual dysphoric disorder review – concept, history, epidemiology and etiology ........................................................................................... 117 Gislene C. Valadares, Luciana Valadares Ferreira, Humberto Correa Filho, Marco Aurélio Romano-Silva The onco-psychiatry in breast cancer – considerations about the female matter ........................................................................................................ 124 Fábio Scaramboni Cantinelli, Renata Sciorilli Camacho, Oren Smaletz, Bárbara Karina Gonsales, Érika Braguittoni, Joel Rennó Jr. The impact of eating disorders as a comorbidity on psychoactive drug-dependent women seeking care ................................................................ 134 Silvia Brasiliano, Patricia B. Hochgraf Hyperandrogenic chronic anovulation and psychologic disturbances .......................................................................................................................... 145 José Arnaldo de Souza Ferreira, César Eduardo Fernandes, Lucia Helena de Azevedo, Sérgio Peixoto Androgen insufficiency syndrome - diagnostic and therapeutic criteria ....................................................................................................................... 152 César Eduardo Fernandes, Joel Rennó Jr., Eliana Aguiar Petri Nahas, Nilson Roberto de Melo, José Arnaldo de Souza Ferreira, Rogério Bonassi Machado, Sérgio Peixoto Diagnostic and therapeutic aspects of female sexual dysfunctions ................................................................................................................................ 162 Carmita Helena Najjar Abdo, Heloisa Junqueira Fleury Sexual side effects of psychotropic drugs ......................................................................................................................................................................... 168 Táki Athanássios Cordás, Marcionilo Laranjeiras Schedule of Events ................................................................................................................................................................................................. 174 Psiquiatria 33 3.indd 115 27/6/2006 17:58:13 Submission of Papers Submission of Papers Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 116, 2006 116 Submission of Papers 116 Rua Cunha Gago, 412, 2º andar, cj. 21, Pinheiros – 05421-001 – São Paulo, SP. Fone/fax: 11 3039-5669. www.segmentofarma.com.br – segmentofarma@segmentofarma.com.br Diretor geral Idelcio D. Patricio Diretor executivo Jorge Rangel Diretor editorial Maurício Domingues Coordenação editorial Angela Helena Viel Assistente editorial Fabiana Souza Produção gráfica Fabio Rangel, André Mendonça Gerentes de negócios: Eli Proença, Walter Pinheiro, Claudete Vernillo, Marcela Crespi Cód. da publicação 2550.06.06 Three hard copies of the manuscript should be mailed to Editors (Prof. Wagner F. Gattaz or Prof. Valentim Gentil) at the Department and Institute of Psychiatry, Rua Ovídio Pires de Campos s/n, 05403-010, Sao Paulo, SP, Brazil, fax +55 11 3083-6588. Alternatively, electronic submission is encouraged, in which case manuscripts should be sent by e-mail to: gattaz@usp.br. Please do not duplicate your submission by submitting online and as hard copy. Manuscripts should be submitted electronically to the e-mail address gattaz@usp.br in the format of attached files, including a submission letter. We prefer MS Word for Windows documents for both main text and letter. Manuscripts sent by regular mail will not be returned to authors. Upon receipt, the submitted manuscript will be registered and a confirmation message will be forwarded to the corresponding author. Papers should be written in Portuguese, Spanish or English. Authors are responsible for grammatical accuracy of their texts. Manuscripts should not exceed the length of eight off-print pages (or 24 double-space typed A4 pages, with approximately 33 lines per page, and 65 types per line), including a maximum number of 8 tables and/or figures. Authors submitting manuscripts in hard copy format are requested to include a computer disk containing the electronic version of paper. The submission of short communications of new or preliminary re- sults derived from original research is encouraged, in which case papers are eligible to fast-track review and publishing. Short communications should not exceed one thousand words (four manuscript pages) and one table or figure, including a brief description of the study, its background, and related references. The submission of studies containing confirmatory data should be avoi- ded. Clinical descriptions and case reports, whenever necessary to illustrate a study, should be presented as briefly as possible. Review Process Papers, except invited reviews, will be evaluated by at least two exter- nal experts. The choice of reviewers is made by the Editors exclusively. The authors will be notified as soon as possible whether a contribution isaccepted for publication in the form that it was submitted, acceptable after a revision (which, in general, will be reviewed again), or rejected. Structure of the manuscript Original Articles I. Title page should include: a) a concise and clear title; b) names of the authors (first name, middle initials, and family name); c) name and address of the Institution where the study was con- ducted; d) affiliations of all authors; e) complete address of the corresponding author, including phone, fax, and e-mail. II. An abstract of no more than 200 words should be provided in single paragraph format. III. Up to five relevant keywords should follow the abstract. Please refer to the Index Medicus for the designation of key-words. IV. Footnotes should be consecutively numbered in the text. Foo- tnotes respective to tables and figures should be indicated by bold letters. V. References cited in the text should be arranged in alphabeti- cal order with authors’ names, article title, journal name, and publication details. Reference list should be double-spaced. Journal names should be written in full or abbreviated according to Index Medicus. Book chapters and journal papers should be cited as follows: Book chapter Gattaz, W.F.; Kohlmeyer, K. & Gasser, T. - Computed Tomographic Scans in Schizophrenia, In: Häfner, H. & Gattaz, W.F. (eds.) Search for the Causes of Schizophrenia, vol. II. Springer Verlag, Berlin, Heidelberg, New York, pp. 242-256, 1990. Journal papers Gattaz, W.F.; Levy, R.; Cairns, N.J. & Maras, A. - Distúrbios do Metabo- lismo de Fosfolipídeos na Doença de Alzheimer J Bras Psiquiatria 45: 345-349, 1996. Citations in the text should appear in parentheses, with the name of the author(s) followed by the year of publication, e.g.: a) Publications with 1 author: Cardoso (1994), or: (Cardoso, 1994); b) Publications with 2 authors: Cardoso and Malan (1994), or: (Cardoso and Malan, 1994); c) Publications with 3 authors or more: Cardoso et al. (1994), or: Cardoso et al., 1994) . Two or more citations that refer to the same author or group of authors should be listed according to the chronological order of publication. In case the year of publication also coincides, then these citations should be identified with the letters “a, b, c” etc. both in the text and reference list. VI. Tables: Tables should be consecutively numbered with Arabic numbers in the text, and presented in separate pages after the Reference List. VII. Figures: Figures should restricted both in number and size to the strictly necessary in order to clarify the text contents. Figures should be consecutively numbered in the text, and presented after the list of Tables. Figures and layouts should fit to column width (85mm) or to page width (176mm). Maximum lenght is 235mm, including legend. Whenever possible several figures should be included in one page. Colour illustrations are accepted, but additional costs will be forwarded to authors. VIII. Legends: Each table and figure should include a legend with the necessary information for its thorough understanding. For that purpose, a short title followed by a concise explanation of the table or figure is encouraged. However, legends should not replicate contents in the text. Abbreviations and symbols that appear in tables or figures should be referred to, even though already cited in the text. IX. Patient photography: we do no encourage the publication of photographies of patients. Whenever indispensable for the comprehension of the article, written informed consent must be signed by the patient or respective caregiver, and patient details must be removed from the illustration. X. Reprints can be requested at reduced cost after the acceptance of the paper for publication (please ask for pricing and details). Theses and Dissertations Synopses should have a maximum length of four double-spaced pages including the following sections: a) Introduction: 1-2 statements with ra- tionale of the study; b) Objectives: hypotheses to be tested and discussed; c) Methods: e.g., sample characteristics, inclusion and exclusion criteria, diagnostic and assessment instruments; d) Results; e) Conclusions; f) References: up to five relevant citations. Case Reports The purpose of this section is to discuss relevant clinical and theore- tical aspects related to diagnosis and management of complex psychiatric syndromes. Submitted articles should follow general publication guidelines (i.e., submission details, format, citations, etc.), and should be structured with: Title, Abstract, Introduction, Case Report, Discussion, and Reference List. The introduction should provide a brief review of the literature and point out the main issues regarding the case that will be presented. The report itself should be brief and precise, and redundant or irrelevant in- formation should be ruled out. Critical information elicited by the current case should be discussed in the light of available clinical and research knowledge on the subject. Psiquiatria 33 3.indd 116 27/6/2006 17:58:14 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 Revisão de Literatura Transtorno disfórico pré-menstrual revisão – conceito, história, epidemiologia e etiologia GISLENE C. VALADARES1 LUCIANA VALADARES FERREIRA2 HUMBERTO CORREA FILHO3 MARCO AURÉLIO ROMANO-SILVA4 Resumo Estudos epidemiológicos demonstram que até 80% das mulheres apresentam sintomas físicos e/ou psíquicos no período pré-menstrual e que cerca de 3% a 11% os apresentam de maneira severa, havendo prejuízos sociais, familiares ou profissionais, o que caracteriza o transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM). O TDPM apresenta sintomas que aparecem na semana que antecede a menstruação, ces- sando nos primeiros dias após o início desta. Diversas teorias têm sido propostas para justificar a sua etiologia. Fatores hormonais, psicológicos e ambientais parecem estar envolvidos; no entanto, ainda não há conclusões precisas que justifiquem essa patologia. Palavras-chave: Disforia pré-menstrual, etiologia, alterações hormonais, prejuízos sociais. Abstract Epidemiologic studies show that till 80% of the women have physical and/or psychiatric symptoms in the premenstrual period, and in about 3% till 11% of them, this disease has serious consequences, causing familiar or professional damages; characterizing the pre- menstrual dysphoric disorder. The premenstrual dysphoric symptoms happen in the week before menstruation, stopping in the first days after menstruation beginning. A lot of theories have been proposed to justify its etiology. Hormonals, psychological and environmental factors seem to be involved, however there are no strict conclusions to justify this pathology Key-words: Premenstrual disphoric disorder, etiology, hormonals alterations, social damages. Premenstrual dysphoric disorder review – concept, history, epidemiology and etiology 1 Psiquiatra do Serviço de Interconsulta do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), coordenadora do Programa de Saúde Mental da Mulher HC-UFMG, mestre em farmacologia e bioquímica molecular pela UFMG. 2 Acadêmica de medicina pela Faculdade de Medicina de Catanduva. 3 Doutor, professor adjunto do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG. 4 Doutor, professor adjunto do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Endereço para correspondência: Gislene C. Valadares. Rua do Ouro, 686 Serra - 30.220-000 Belo Horizonte MG. E-mail: gislenev@terra.com.br Recebido: 20/03/2006 - Aceito: 27/03/2006 Psiquiatria 33 3.indd 117 27/6/2006 17:58:14 118 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A.Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 Introdução Milhões de mulheres em idade reprodutiva apresentam sintomas emocionais, cognitivos e físicos relacionados ao seu ciclo menstrual. Elas demonstram irritabilida- de intensa, freqüentemente acompanhada de humor depressivo, assim como inúmeras queixas mentais e somáticas. Tais sintomas, segundo Bathia e Bhatia (2002) e Wikander et al. (2002), são recorrentes durante a fase lútea do ciclo menstrual e interferem de maneira significativa no seu funcionamento social, ocupacional e sexual. Essa constelação de sintomas tem recebido denominações como tensão pré-menstrual (TPM), síndrome pré-menstrual (SPM), transtorno disfórico da fase lútea tardia (TDFLT; DSM-III-R) ou transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) (DSM-IV). Enquetes epidemiológicas mostram que 75% a 80% das mulheres apresentam sintomas durante o período pré-menstrual. Aproximadamente 10% das mulheres entrevistadas declararam que seus sintomas são perturbadores, impondo a necessidade de auxílio profissional. Entre 2% e 8% das mulheres em idade re- produtiva padecem de sintomas severos o suficiente para desequilibrar suas vidas social, familiar e/ou profissional durante uma a duas semanas de cada mês. Portanto, esse sofrimento constitui um problema de saúde públi- ca, com conseqüências importantes nas áreas pessoal, econômica e de eqüidade para as mulheres afetadas e para a sociedade. Depressão e desordens cognitivas são mais co- muns em mulheres do que em homens. A compreensão da diferença nas doenças mentais entre gêneros, rela- tiva à apresentação, à idade de início, à epidemiologia, à sintomatologia específica, à evolução, à resposta ao tratamento, assim como ao tipo de mecanismo envolvi- do (genético, neuroendócrino, psicossocial), evidencia que mulheres têm necessidades diferentes e sofrem de forma diferente, em especial na idade reprodutiva e com problemas relacionados à menstruação. O período perimenstrual parece ser propício a dis- túrbios psíquicos, com elevação das taxas de admissão hospitalar, atendimento em emergências, tentativas e consumação de auto-extermínio, crimes violentos, aci- dentes, prescrições de antidepressivos e uso abusivo de cigarros e outras drogas. Também é descrito aumento na freqüência de crises de pânico, de bulimia e agrava- mento de sintomas ansiosos, depressivos, obssessivo- compulsivos, impulsos cleptomaníacos e para compras excessivas ou mesmo agravamento e aparecimento de sintomas psicóticos no período pré-menstrual. A questão estabelecida por esses achados é determinar em qual extensão o fenômeno é resultante das características hormonais da mulher adulta mais do que dos fatores ambientais, domésticos ou socioculturais. Influências genéticas mediadas fenotipicamente através de neurotransmissores e neurorreceptores pa- recem ser bastante significativas na etiologia do TDPM (Dickerson et al., 2003). Grande número de estudos tem sido dedicado à relação entre neurotransmissores e hormônios gonadais femininos na explicação do aparecimento e do padrão de sintomas da disforia pré-menstrual. A serotonina tem sido o alvo predileto dos estudos em função da semelhança dos sintomas do TDPM com os quadros depressivos. Entretanto, as evidencias apontam para mecanismos múltiplos envolvidos nesse transtorno, e diversos sintomas assemelham-se não apenas a quadros depressivos, mas também a quadros compulsivos e mesmo psicóticos. O envolvimento de outros neuro- transmissores e seus receptores, como a dopamina, é objeto de pesquisas recentes, visto que sintomas como alterações do humor, déficit de atenção, incoordenação motora, desânimo, descontrole do peso corporal, do tamanho e do número de refeições são mediados pela sinalização dopaminérgica em modelo animal, corres- pondendo a queixas importantes das mulheres com TDPM (Vallone, 2002). Conceito A SPM é a ocorrência repetitiva de um conjunto de alte- rações físicas, do humor, cognitivas e comportamentais com a presença de queixas de desconforto, irritabilida- de, depressão ou fadiga, geralmente acompanhadas da sensação de intumescimento e dolorimento de seios, abdome, extremidades, além de cefaléia e compulsão por alimentos ricos em carboidratos, acrescidos ou não de distúrbios autonômicos, com início em torno de duas semanas antes da menstruação e alívio rápido após o início do fluxo menstrual. Em função do grande número de sintomas atribuí- dos à SPM (mais de 150 relacionados a vários órgãos e sistemas), não existe um consenso quanto a uma de- finição mais exata e, sim, a suposição de que ocorram diversos subtipos desse distúrbio, cada um com a sua gravidade e sustentados por um complexo conjunto de fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Devido a essa grande diversidade de sintomas, alguns autores referem-se a ela como “síndromes ou alterações pré- menstruais” (Steiner, 1997). Há também quem advogue ser a SPM parte do grupo de transtornos do humor com sintomatologia tipo depressiva leve ou atípica (Cheniaux Jr., 2001). Na realidade, a conceituação da SPM está muito mais sustentada na ciclicidade ou na periodicida- de, vinculada temporalmente à menstruação, do que na sintomatologia per se. Os principais sintomas físicos da SPM são dolori- mento e tumefação das mamas (mastalgia), cefaléia e alterações do humor, que acometem mais de 75% das mulheres durante três a dez dias anteriores à menstru- ação, e designa-se como transtorno disfórico pré-mens- trual (TDPM) a um transtorno variante da síndrome pré-menstrual, mais severa ou extrema, com a oscilação Psiquiatria 33 3.indd 118 27/6/2006 17:58:14 119 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 do humor apresentada como fator mais perturbador e debilitante no complexo de sintomas descritos. O TDPM caracteriza-se por: 1) recorrência cíclica, durante a fase lútea, de sinto- mas de humor e comportamentais em primeira instância, e somáticos, sendo depressão, ansieda- de, labilidade afetiva, tensão, irritabilidade, ira, dis- túrbios do sono e do apetite os mais freqüentes; 2) sintomas severos o suficiente para o comprome- timento do funcionamento social, ocupacional e escolar; 3) sintomas relacionados diretamente às fases do ciclo menstrual e que podem durar, tipicamente, de cinco a catorze dias. Em geral, pioram com a aproximação da menstruação e usualmente cessam de forma ime- diata ou logo a seguir (um a dois dias) ao início de fluxo menstrual (Thys-Jacob, 1998; Parry, 1999). Tais observações são válidas em presença de um ciclo espontâneo, ovulatório, em ausência de intervenção farmacológica, hormonal e ingestão de drogas e álcool, os quais mascaram a progressão dos sintomas no curso do ciclo menstrual. O TDPM deve ser diferenciado da SPM, termo pri- mariamente reservado para sintomas físicos moderados anteriormente descritos, acrescidos de leves variações, de humor. Torna-se importante diferenciar o TDPM também da amplificação de sintomas de outras doenças psiquiátricas ou clínicas concorrentes. Os critérios utilizados para pesquisar a presença do TDPM, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (1994), são os seguintes: A. Os sintomas devem ocorrer durante a semana anterior à menstruação e remitirem poucos dias após o início desta. Cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes e pelo menos um deles deve ser o de número 1, 2, 3, ou 4: 1. Humor deprimido, sentimentos de falta de esperança ou pensamentos autodepreciativos. 2. Ansiedade acentuada, tensão, sentimentos de estar com os “nervos à flor da pele”. 3. Significativa instabilidade afetiva. 4. Raiva ou irritabilidade persistente e conflitos interpessoais aumentados. 5. Interesse diminuído pelas atividadeshabituais. 6. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar. 7. Letargia, fadiga fácil ou acentuada falta de energia. 8. Alteração acentuada do apetite, excessos alimen- tares ou avidez por determinados alimentos. 9. Hipersonia ou insônia. 10. Sentimentos subjetivos de descontrole emocional. 11. Outros sintomas físicos, como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor de cabeça, dor articu- lar ou muscular, sensação de inchaço geral “e ganho de peso”. B. Os sintomas devem interferir ou trazer prejuízo no trabalho, na escola, nas atividades cotidianas ou nos relacionamentos. C. Os sintomas não devem ser apenas exacerbação de outras doenças. D. Os critérios A, B, e C devem ser confirmados por anotações prospectivas em diário durante pelo menos dois ciclos consecutivos. (American Psychiatric Association, 1995). A utilização dos critérios do DSM-IV, em associa- ção ao preenchimento de diários prospectivos por pelo menos dois ciclos menstruais consecutivos, é atualmen- te reconhecido como o modo prático de confirmação diagnóstica (American Psychiatric Association, 1987; Freemam et al., 2000). O diagnóstico diferencial do TDPM baseia-se na ex- clusão de doenças clínicas ou psiquiátricas com as quais possa ser confundido. O pilar dessa diferença é a presen- ça de um período assintomático de duração relativa entre os dias 2 e 14 do ciclo menstrual (Figura 1). Na lista de outras desordens, os diagnósticos psiquiátricos são os mais comuns, especialmente, a depressão e a ansiedade. Três síndromes de causas pouco conhecidas têm sin- tomas similares, mas não restritos à fase lútea: edema cíclico, síndrome da fadiga crônica e fibromialgia. Finalmente, desordens clínicas gerais que podem apresentar padrão de agravamento na fase lútea in- cluem: cefaléia migratória, epilepsia, síndrome do colo irritável e hipotireoidismo, que também necessitam ser descartadas. Doenças sem padrão na fase lútea, como anemia, endometriose, doença fibrocística da mama e lúpus eritematoso sistêmico, devem ser lembradas na avaliação e no raciocínio diagnósticos (Tabela 1). Figura 1. Diferenças entre TPM e TDPM. Notar as diferenças na prevalência, no número e nos tipos de sintomas, além do profissional médico que geralmente faz o diagnóstico, distinguindo TPM de TDPM. A prevalência menor e com predomínio de sintomas do humor caracteriza o TDPM. TPM • Prevalência: 75% a 80% • Grande número de sintomas • Diversos subtipos • Diagnóstico por ginecologista TDPM • Prevalência: 3% a 8% • Sintomas de humor são os mais prevalentes e mais cor- relacionados com déficits no funcionamento social, profis- sional, familiar • Sintomas de ansiedade, irrita- bilidade e labilidade do humor • Diagnóstico por psiquiatra Psiquiatria 33 3.indd 119 27/6/2006 17:58:15 120 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 Histórico Apesar do questionamento sobre ser a SPM resultante da vida moderna cada vez mais estressante para as mu- lheres, Semonides (2600 a.C.), em seu Essay on Women, e Hipócrates (600 a.C.), no tratado A doença das virgens, já descreviam as alterações de comportamento, as idéias de morte, as alucinações e os delírios resultantes da re- tenção do fluxo menstrual, também relatados por Platão, Aristóteles e Plínio. A descrição de doenças e transtor- nos que incidem no período menstrual foram também encontradas nos papiros de Ebers e Kahun (2000 a.C.). Trotula de Salermo (século XI) e Von Feuchtersleben (século XIX) igualmente descreveram o sofrimento das mulheres jovens no período que antecede a chegada da menstruação (Mato, 2002). Donoso e Marinovic (2000) citam algumas refe- rências relacionadas à menstruação e à psicopatologia, evidenciando sintomas como obsessão, estados confu- sionais, ninfomania, depressão etc. entre 1759 e 1840. Os autores acrescentam uma das primeiras descrições da SPM, datada de 1842, como caso de “insanidade” pré-menstrual (grifo do autor). Segundo os mesmos cientistas, pesquisadores franceses, a partir desta data, começaram a descrever o período menstrual como um intervalo de tempo em que ocorria clara alteração de tipo afetivo (depressão e mania), assim como a existên- cia de relação dessas alterações com a ocorrência da psicose puerperal. Em 1837, Pritchard, citado por Donoso e Marinovic (2000), descreveu um quadro caracterizado por mau humor, propensão a brigas e melancolia no período pré-menstrual. Também autores alemães estudaram o tema, e, em 1902, o texto Psychosis Menstrualis, de Krafft-Ebing, classifica os casos segundo a sua associa- ção temporal com o ciclo menstrual. Posteriormente, em 1914, Jolly, também citado por esses autores, realiza uma extensa revisão de casos e propõe uma classifica- ção segundo a etapa do ciclo de vida da mulher em que aparece o transtorno. Grupos britânicos, em especial o da Universidade de Birmingham, Grã-Bretanha (prin- cipalmente o grupo do professor Ian Brockington), de japoneses e de escandinavos também investigam o tema, propondo critérios diagnósticos atualmente reconheci- dos e uma classificação da apresentação das doenças relacionadas ao ciclo reprodutivo feminino (Donoso e Marinovic, 2000). Atribui-se, entretanto, a Robert T. Frank, em 1931, a primeira descrição científica da tensão pré-menstrual relacionada a acúmulo de hormônios sexuais no organis- mo. Frank classificou a TPM em três grupos diferentes de acordo com o tipo de sintomas: • Sintomas leves (fadiga) no período pré-menstrual; • Doenças sistêmicas que variavam conforme o ciclo menstrual (asma e epilepsia); • Minoria com tensão pré-menstrual (TPM) e sintomas emocionais graves (suicídio, “tensão nervosa”), com alívio à chegada da menstruação. Nesta classificação, ele refere-se a um grupo de mulheres que se queixam de uma tensão indescritível dez a sete dias antes da menstruação, cujos sintomas po- Tabela 1. Avaliação do transtorno disfórico pré-menstrual. Mostra os pilares de avaliação para o diagnóstico e a base de planejamento do tratamento do TDPM, especificando as avaliações psiquiátrica, clínica e laboratorial, a história familiar e de uso de medicamentos, bem como os hábitos nutricionais das pacientes. Tipo de avaliação Componentes Psiquiátrica História dos sintomas, duração, curso, fatores precipitantes e de risco, tratamentos prévios. História psiquiátrica pregressa, especialmente de desordens do humor. História de abuso de álcool ou substâncias. Clínica História clínica, doenças endócrinas e ginecológicas (tireóide, endometriose, doença fibrocística da mama) e outras com padrão pré-menstrual. Laboratorial Avaliação hematológica e bioquímica, incluindo glicemia, cálcio, magnésio, testes de função tireoidiana etc. História familiar História de sintomas pré-menstruais, estratégias de tratamento, e resultados em mulheres da família. História psiquiátrica familiar. Uso de medicamentos Avaliação de medicamentos que possam produzir efeitos adversos psiquiátricos (anti- hipertensivos, antiulcerosos, corticóides, analgésicos, sedativos, broncodilatadores, descongestionantes, vasodilatadores, antialérgicos etc.). Avaliação nutricional Avaliar o uso de cafeína, sal, álcool; excluir deficiências nutricionais (vitaminas B6, cálcio, magnésio, triptofano etc.). Adaptado de Burt VK et al. Premenstrual disphoric disorder in Women’s Mental Health. Washington DC: American Psychiatric Press, 1997. Psiquiatria 33 3.indd 120 27/6/2006 17:58:15 121 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 dem persistir até a chegada do fluxo menstrual. Segundo Frank (1931), as pacientes ressentem-se em função de fadiga e irritabilidade, como se não coubessem em si, e apresentam desejo de aliviara sua tensão por meio de ações consideradas tolas ou doentias. O sofrimento pessoal dessas mulheres é intenso, sendo manifesta- do em atitudes imprudentes, afoitas e, muitas vezes, repreensíveis. A consciência dessas alterações não se restringe à mulher, mas ao seu marido e familiares, que as consideram inabordáveis em suas atitudes e reações. Elas obtêm alívio completo das suas queixas físicas e mentais logo após a descida do fluxo. Dalton e Green, na década de 1950, revisaram a nomenclatura da TPM e consideraram tal termo insu- ficiente, sendo a tensão apenas um dentre os sintomas apresentados nesse transtorno, propondo a adoção do termo “síndrome pré-menstrual”. Também padecendo de sintomas pré-menstruais, Dalton relacionou a SPM principalmente à diminuição de progesterona durante a última quarta parte do ciclo menstrual (Green e Dalton, 1953). A partir do reconhecimento da SPM como doença, surgiu uma série de questões éticas e legais relacionadas à responsabilidade penal e à discriminação das mulheres portadoras desse sofrimento. A SPM foi utilizada como atenuante para crimes violentos e acidentes, esteve envolvida em 50% das admissões de mulheres em urgên- cias psiquiátricas e 70% das hospitalizações de mulheres deprimidas. Por outro lado, apesar do reconhecimento da SPM como doença, esta continua vista socialmente como motivo de chiste e depreciação feminina, com muitas das mulheres portadoras de sintomas severos queixando-se, com frustração e mágoa, da falta de sensi- bilidade dos profissionais de saúde em avaliar a doença, bem como da falta de opções terapêuticas (Thys-Jacob, 1998; Parry, 1999). Para a psiquiatria, a doença é considerada recente. Em 1983, o Instituto Nacional de Saúde Mental America- no (NIMH) promoveu um workshop em que se aprovou consensualmente sobre a necessidade de se documentar em diário 30% ou mais de mudança na severidade dos sintomas, comparando-se as fases folicular e lútea do ciclo menstrual, bem como a necessidade de se observar uma fase livre de sintomas em meados da fase folicular para diferenciar as síndromes pré-menstruais da exacer- bação de outras condições também crônicas. A entidade clínica síndrome de tensão pré-mens- trual surgiu na 9a Classificação Internacional de Doen- ças (CID-9), restrita ao capítulo destinado às doenças ginecológicas, e, em 1986, em um rascunho da CID-10, aparece codificada em F53, incluída no capítulo XIV de doenças do sistema geniturinário como “N94.3 Síndrome Pré-Menstrual”. Em 1987, definiram-se características operacionais com propósitos de diagnóstico e pesquisa para o que denominaram transtorno disfórico da fase lútea tardia (TDFLT) na edição revisada do III Manual de Diagnósti- co e Estatística (DSM-III-R), no qual a entidade aparece inclusa em “categorias propostas necessitando estudos adicionais”, devido à grande polêmica entre grupos feministas que se embatiam, considerando, de um lado, o avanço via reconhecimento de sofrimentos gêneros específicos e, por outra parte, o receio da classificação desse transtorno como doença servir para a discrimina- ção feminina na sociedade, no trabalho e até nos seguros de saúde (American Psychiatric Association, 1987). Em 1994, houve revisão e nova denominação pela Associação Psiquiátrica Americana, acrescida de critérios diagnósticos operacionais para o transtorno, que passou a ser nomeado transtorno disfórico pré- menstrual (TDPM), considerado o padrão-ouro para pesquisa e adotado pelo Food and Drug Administration Neuropharmacology Advisory Comittee para regular as pesquisas e os tratamentos propostos (Apolinário, 2003; Endcott, 2000). O TDPM foi mantido em apêndice pela pressão dos mesmos grupos políticos e aparece citado entre os “transtornos depressivos não especificados em outra parte” do capítulo de transtornos do humor, sendo os critérios diagnósticos apresentados no apên- dice do DSM-IV. Apesar de aderirem aos métodos americanos de diagnóstico, diversos estudiosos têm criticado a arbitra- riedade em quantificar em cinco ou mais sintomas car- dinais o diagnóstico e advogam que a ocorrência de um ou mais sintomas principais, como irritabilidade e/ou humor depressivo, possa ser suficiente, desde que haja confirmação prospectiva por diários durante dois meses consecutivos e observação de prejuízo significativo na área social, profissional ou relacional. Essa variante não-ortodoxa do TDPM foi nomeada como disforia pré-menstrual (DPM) e já é utilizada em publicações e teses na Europa e no Canadá. Epidemiologia A SPM pode ser observada em diversas culturas, varian- do apenas a freqüência de determinados sintomas. Um total de 75% a 95% de mulheres em idade reprodutiva com o ciclo menstrual regular apresentam algum tipo de sintoma pré-menstrual de intensidade leve, sem necessidade de intervenção médica ou psiquiátrica. Segundo Bernstein (1993), sua prevalência é estimada entre 10% e 20% a partir de estudos populacionais feitos entre mulheres de 18 a 45 anos de idade que procuram algum tipo de tratamento para seus sintomas. Já em Che- nieux Jr. et al. (1994), Dickerson et al. (2003) e Endicott (2000) aproximadamente 3% a 11% de mulheres relatam que seus sintomas são graves a ponto de provocarem prejuízo importante ou mesmo incapacidade em suas atividades cotidianas. O TDPM tem sido descrito desde a menarca até a menopausa. Muitas mulheres relatam aumento da seve- ridade e da duração dos sintomas com a proximidade da menopausa (Halbreich et al., 2003). O início dos sinto- Psiquiatria 33 3.indd 121 27/6/2006 17:58:16 122 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 mas está descrito na metade da segunda década de vida, sendo que a demanda por tratamento geralmente ocorre na metade dos 30 anos. O impacto causado pelo TDPM talvez explique o apogeu de sintomas nessa faixa etária, visto que uma mulher que inicia com sintomas aos 26 anos de idade, vai sofrer mais de 200 ciclos sintomáticos, ou seja, de 1.400 a 2.800 dias com prejuízo funcional e relacional (Steiner, 1997). O estresse crônico progressi- vo ao longo da vida reprodutiva vai sendo acumulado a cada ciclo sintomático, com tais mulheres apresentando de 7 a 14 dias sintomáticos/mês, o equivalente a 1.680 dias sintomáticos/década (Halbreich, 2003). É impor tante relatar que as mulheres com TDPM se referem a um comprometimento na fase lútea semelhante ao observado em portadoras de epi- sódio depressivo maior no que se refere a atividades familiares, sociais e ocupacionais (Apolinário, 2003). Mais de 300 sintomas pré-menstruais foram relatados pelas pacientes com SPM, sendo os mais estudados: irritabilidade, tensão, depressão, inchaço, mastalgia e dores de cabeça. Observa-se uma considerável diversidade de resultados nas pesquisas epidemiológicas relativas à prevalência da SPM, apontando para o questionamento de diversos pesquisadores de uma subavaliação de uma grande proporção de mulheres sintomáticas na população geral apresentando estresse, prejuízo e impacto em suas vidas – semelhante a outras doenças psiquiátricas –, necessitando, portanto de diagnóstico e tratamento adequados. É relatado ainda que 12,6% de mulheres preenchem totalmente os critérios para TDPM por um ciclo menstrual e no seguinte têm menos sinto- mas; porém, os que permanecem apresentam grande severidade (Chawla et al., 2002). Wittchen et al. (2002) encontraram também alta prevalência (35,3%) de mulhe- res com quatro ou mais sintomas, que se aproximam, mas não alcançam, os quesitos do DSM-IV de cinco ou mais sintomas cardinais. Eles encontraram prevalência de 18,6% de subdiagnosticadas, que, apesar de não se enquadrarem nos critérios americanos, apresentaram risco bastante elevado para tentativas de suicídio (Chaue Chang, 1998, 1999; Cleckner-Smith et al., 1998; Freeman et al., 1996; Rivera-Tovar e Frank, 1990; Shye e Jaffe, 1991; Wittchen et al., 2002). Etiologia Muitas teorias têm sido propostas, porém, sem conclu- são definitiva, para que um único fator explique a rica sintomatologia e patofisiologia do TDPM. Assim como em outros transtornos do humor femininos, o papel dos hormônios sexuais tem impor- tância central; entretanto, os estudos não confirmaram nenhuma correlação entre TDPM e excesso de estró- geno, déficit de progesterona, abstinência de estrógeno ou mudanças nas taxas de estrógeno/progesterona. Estudos de tratamento sugerem que progesterona e progestágenos podem, na verdade, mais agravar do que melhorar os sintomas (Steiner, 1997). O consenso atual sugere que a função ovariana normal – e não algum desequilíbrio hormonal – seja o desencadeador dos eventos bioquímicos relacionados ao TDPM no sistema nervoso central e em outros tecidos, encorajando investigações a respeito da neuromodula- ção central pelos hormônios gonadais sobre os neuro- transmissores e os sistemas circadianos que influenciam o humor, o comportamento e a cognição. A interação entre esses sistemas é multifatorial e complexa, sendo improvável que um fator etiológico simples e único explique os sintomas do TDPM. A ligação entre as fun- ções dos hormônios ovarianos e os neurotransmissores aponta para o que parece ser uma cadeia de eventos que pode ser afetada pela alteração ou manipulação de vários links, tanto em nível central quanto periférico. Estudos prévios mostram níveis séricos de an- drógenos elevados em mulheres com irritabilidade e disforia pré-menstrual, estando o turn over de serotonina central associado a impulsividade e concentrações ele- vadas de testosterona em agressores do sexo masculino (Frackiewcz e Shiovitz, 2001). O modelo de possível ruptura na atividade dos re- ceptores de neurotransmissão, devida à mudança aguda nos níveis dos esteróides gonadais, exerce particular atração em função do início agudo dos sintomas da TDPM, sugerindo uma etiologia diferente das doenças afetivas que ocorrem de maneira mais gradual. A res- posta dos sintomas a tratamento utilizado somente na fase lútea ancora essa idéia de mudanças agudas com possibilidade de reversão também aguda. Um possível aumento agudo no tônus serotoninérgico, ou um desvio parcial na capacidade de ligação dos opióides endóge- nos, pode ser resultante da queda rápida dos esteróides gonadais, típica da fase lútea. Diversas evidências apontam a serotonina como um importante fator na etiopatogênese do TDPM. Estu- dos têm demonstrado baixa significativa de serotonina total, em comparação com controles nos últimos dez dias do ciclo e a exacerbação de sintomas quando ocorre depleção de triptofano (Young et al, 1998). Captação alterada de serotonina plaquetária e diminuição no nú- mero de sítios de ligação de imipramina em plaquetas de mulheres com alterações pré-menstruais severas desde o início da fase lútea, bem como alterações em vários testes de estímulos têm sido descritas. Também a elevação da temperatura corporal duran- te o ciclo menstrual, o adiantamento de fase no sistema de produção de melatonina e a anormalidades no sistema norepinefrinérgico são relatados na literatura, mas, em geral, as mulheres com TDPM não manifestam alterações consistentes de disfunção no eixo hipotálamo-pituitário- adrenal nem na tireóide (Praschak-Rieder et al., 2001). Pouco se sabe sobre a influência de outros neurotrans- missores – como a dopamina – na origem dos sintomas pré-menstruais, um desafio aos pesquisadores. Psiquiatria 33 3.indd 122 27/6/2006 17:58:16 123 Valadares, G.C.; Ferreira, L.V.; Correa Filho, H.; Romano-Silva, M.A. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 117-123, 2006 Causas ambientais podem também estar relacio- nadas à TPM. Entre elas, ressalta-se o papel da dieta. Alguns alimentos parecem ter importante implicação no desenvolvimento dos sintomas, como chocolate, cafeína, sucos de frutas e álcool. As deficiências de vitamina B6 e de magnésio são consideradas. Porém, até o momento, o papel desses nutrientes na causa ou no tratamento não foi confirmado (Halbreich, 2003). Os fatores sociais parecem exercer influência maior no agravamento de sintomas, não havendo estudos consistentes correlacio- nando-os etiologicamente ao TDPM. Referências bibliográficas AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder. 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Aspectos como possibilidades cirúrgicas, imagem corporal e impacto sobre auto-estima e sexualidade, tratamentos sistêmicos e conseqüências físicas, tais como fadiga, náuseas e vômitos, foram discutidos. As diferenças entre os grupos etários submetidos ao tratamento também foram relevadas, separando-se suas questões. Tópicos sobre a qualidade de vida sempre foram ressaltados. Questões sobre inter- venções farmacológicas e psicoterapêuticas foram igualmente levantadas, incluindo medicina alternativa. Palavras-chave: Câncer de mama, psiquiatria, qualidade de vida, tratamento, revisão. Abstract The authors performed a broad literature review about psychiatric factors in breast cancer. Inside the master reasoning of the surgical and oncological treatments, an emphasis was made on heir impact over the mental health. Aspects like surgical possibilities and body image and its impact over the self-estime and sexuality and systemic treatments and their physical conse- quences, like fatigue, nausea and vomiting were discussed. The differences between the aged groups treated also were considered, separating their issues. Topics about Quality of Life was always considered. Questions about pharmacological and psychotherapeutical approach were considered too, including alternative medicine. Key-words: Breast cancer, psychiatry, quality of life, treatment, review. The onco-psychiatry in breast cancer – considerations about the female matter 1 Médico psiquiatra. Colaborador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher (Pró-Mulher) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). 2 Médico oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo. 3 Psicóloga clínica. Colaboradora do Pró-Mulher do IPq-HC-FMUSP. 4 Médico psiquiatra. Coordenador do Pró-Mulher do IPq-HC-FMUSP. Endereço para correspondência: Rua Bastos Pereira, 58, Vila Nova Conceição – 04507-010 – São Paulo, SP. Fone: (11) 3885-3036. E-mail: cantinelli@apm.org.br Recebido: 20/03/2006 - Aceito: 27/03/2006 Psiquiatria 33 3.indd 124 27/6/2006 17:58:17 125 Cantinelli, F.S.; Camacho, R.S.; Smaletz, O.; Gonsales, B.K.; Braguittoni, E.; Rennó Jr., J. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 124-133, 2006 Introdução A oncopsiquiatria é uma área de interesse especial dentro da psiquiatria que vem, ao longo dos últimos anos, ganhando força e acumulando conhecimentos científicos. Visando ao enfoque sobre as demandas psíquicas do paciente com câncer, promove, de maneira geral, o fortalecimento do indivíduo na guerra contra a doença. Assim, a oncopsiquiatria busca entender cada indivíduo dentro do contexto de mudanças que o cân- cer acarreta. Sabendo que o câncer não é uma doença única, mas um conjunto grande de patologias diversas, cada tipo de câncer pode trazer demandas específicas aos indivíduos. Dessa maneira, as neoplasias mamárias têm sua demanda sobre as mulheres. A mama é a metonímia do feminino, e, dentro de uma espiral de complexidade, o seu acometimento expõe as pacientes a uma série de questões: o seu posi- cionamento como mulher, atraente e feminina, ou a mãe que amamenta. Portanto, entender a oncopsiquiatria das neoplasias mamárias é uma maneira de entender o universo feminino. O National Cancer Policy Board dos Estados Unidos (2004) cita algumas dessas questões: medo da recorrên- cia, sintomas físicos como fadiga, problemas de sono ou dor, alterações da imagem corporal, disfunção sexual, ansiedades relacionadas ao tratamento, pensamentos intrusivos a respeito da doença-ansiedade persistente, relações maritais, sentimentos de vulnerabilidade e ela- borações existenciais, incluída a questão da morte. O objeto desta revisão é levantar algumas dessas questões relacionadas ao cuidado-tratamento dessas mulheres. Epidemiologia do câncer de mama Primeiro câncer em incidência entre as mulheres em termos mundiais – que apresentam chance em torno de 12,5% de desenvolvê-lo ao longo da vida – e segundo quanto à mortalidade, perdendo apenas para o câncer de pulmão, no Brasil, representa a primeira causa de morte por câncer entre as mulheres, segundo Mendonça et al. (2004). Segundo a Estimativa INCA para 2005 (INCA, 2004), o número de casos novos de câncer de mama esperados para o Brasil em 2005 foi de 49.470, com o risco estimado de 53 casos a cada 100 mil mulheres. Com base nas informações disponíveis dos Registros Hospitalares do Instituto Nacional do Câncer (INCA), no período 2000/2001, 50% dos tumores de mama foram diagnosticados nos estádios III e IV. Possíveis relações de quadros psiquiátricos com câncer de mama Os estudos epidemiológicos também apontam o câncer de mama como uma patologia de incidência aumentada em mulheres em idade de ciclo reprodutivo, o que indica o envolvimento dos hormônios reprodutivos femininos na etiologia. Dumitrescu e Cotarla (2005), em ampla revisão dos fatores de risco relacionados ao câncer de mama, apontam a raridade desse diagnóstico antes dos 25 anos de idade. Este é um fator de risco, pois a incidência aumenta com ele. De maneira geral, o câncer de mama é resultado da interação bastante complexa de uma gama enorme de fatores. Ainda, essa é também a faixa de maior incidência de transtornos psiquiátricos, em especial, os quadros depressivos. Embora os fatores de risco não coincidam, o diag- nóstico de câncer geralmente representa uma sobre- carga emocional e, portanto, diagnóstico de eixo IV do DSM-IV, podendo desencadear reações de ajustamento ou mesmo ser o gatilho de quadros afetivos (principal- mente a depressão), ansiedade ou até mesmo psicoses. Os transtornos psiquiátricos também representam uma interação complexa de fatores, entre eles, a estrutura de personalidade e a capacidade de enfrentamento de problemas. De maneira inversa, um quadro psiquiátrico, isto é, o alcoolismo, é um fator de risco bem confirmado para câncer de mama, segundo os mesmos autores. Esse risco é dose-dependente em consumos acima de 60 g por dia, e para cada 10 g de incremento de dose por dia, o risco pode aumentar em 9%. Entre os mecanismos possíveis, o álcool teria ação indireta por meio de seu primeiro metabólito, o acetaldeído, bem conhecido carcinogênico e mutagênico; o aumento dos níveis de estrogênios em mulheres alcoólatras pré-menopausadas também é citado.Mais ainda, o álcool pode levar à deterioração no sistema imune e depleção de certos nutrientes que es- tariam na linha de frente do combate à carcinogênese. Wrensch et al. (2003) fizeram um estudo epidemiológico dos fatores de risco associados ao câncer de mama em Marin County, Estados Unidos, e encontraram maior incidência de câncer de mama associado ao maior con- sumo de álcool. A relação de outras comorbidades psiquiátricas como fator para câncer ainda é especulativa, mas a cro- nificação de determinados quadros deterioraria a função imune e a vigilância em relação a células cancerosas. Kiecolt-Glaser et al. (2002) revisaram a modulação psi- cológica do sistema imune e relataram que síndromes depressivas aumentam os níveis de citocinas pró-in- flamatórias – em especial a interleucina (IL)-6, o que responderia pelos altos níveis de comorbidades clínicas associadas a esses quadros. Também ocorre a diminui- ção da atividade NK e de contagens de células T. Em quadros do espectro ansioso, também estabe- lece-se a relação. No transtorno de ansiedade generali- zada (TAG), ocorre diminuição da expressão linfocítica do receptor para IL-2. Em pacientes com transtorno do estresse pós-traumático (PTSD, em inglês), ocorre dimi- nuição da atividade lítica das células NK. Outro aspecto Psiquiatria 33 3.indd 125 27/6/2006 17:58:17 126 Cantinelli, F.S.; Camacho, R.S.; Smaletz, O.; Gonsales, B.K.; Braguittoni, E.; Rennó Jr., J. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 124-133, 2006 interessante do estudo cita que determinados estilos de personalidade, tais como negação, repressão, evitação e dificuldades em externar emoções ou conteúdos inter- nos, cursam com função imune menos ativa. Tratamentos do câncer de mama Tratamento do tumor primário CIRURGIA A cirurgia para o câncer de mama requer a excisão de qualquer tumor invasivo com margens negativas. O tumor deve ser excisado “em bloco”, com alguns centí- metros de tecido normal. No final do século XIX, William Halsted desenvolveu a técnica de mastectomia radical que revolucionou a mastologia. Por volta dos anos 1870, somente 4% das mulheres sobreviviam três anos após uma cirurgia de câncer de mama. Com a técnica de Halsted, na qual a mama inteira era retirada, além de músculos da parede torácica e dos linfonodos axilares (Halsted, 1898), o número de mulheres que sobreviviam três anos sem metástases passou para 46,5%. A técnica de Halsted predominou por mais de meio século e passou por algumas modificações, mas somente nos últimos 20 anos houve um outro grande impacto: para várias mulheres com tumores iniciais, a mastectomia pôde ser evitada, e uma cirurgia conser- vadora, como a lumpectomia, seguida por radioterapia e tratamento sistêmico, com resultados de sobrevida similares, segundo Veronesi et al (1981; 2002). Hoje, a minoria das mulheres é submetida à mas- tectomia. As indicações são para aquelas com dois ou mais focos de tumores primários em áreas diferentes da mama, microcalcificações com aspecto maligno e difuso, radioterapia prévia para a mama (impossibilita mais radioterapia após a cirurgia conservadora), margens positivas persistentes após três ou mais tentativas de remoção do tumor primário, doença do colágeno ativa (como escleroderma e lúpus eritematoso sistêmico) e tumor grande em uma mama pequena. Uma das complicações da cirurgia é o desenvolvi- mento de linfedema no membro superior após a dissec- ção de linfonodos axilares. Além de a paciente sentir-se mutilada pela cirurgia, o linfedema causa alterações im- portantes não só físicas como funcionais. Recomenda-se que, após a dissecção de linfonodos axilares, não sejam feitos movimentos bruscos com o membro superior, se evitem infecções nesse membro, não se permita a colocação de agulhas etc. Recentemente, a técnica do linfonodo sentinela possibilitou a diminuição do número de pacientes com essa complicação. RADIOTERAPIA Indicada como tratamento complementar para pacien- tes submetidas a tratamento cirúrgico conservador da mama, para diminuir a recidiva ipsilateral. Existe também uma indicação formal desse tratamento como adjuvante para as pacientes com tumores de mama que se submeteram à mastectomia e que têm alta chance de recidiva locorregional, principalmente naquelas pacien- tes com alguns linfonodos axilares acometidos, segundo Overgaard et al. (1997). Tratamento sistêmico O tratamento sistêmico para o câncer de mama inicial é realizado para diminuir a chance da maior ameaça do tumor de mama: a recidiva a distância, ou seja, metástases. Assim como a cirurgia e a radioterapia encarregam-se do controle da doença locorregional, o tratamento sistêmico é utilizado para atacar eventuais células microscópicas responsáveis pelas metástases nas pacientes recidivantes. O tratamento sistêmico, que pode melhorar a chance de cura por volta de 30%, é dividido em três componentes: hormonoterapia, qui- mioterapia e imunoterapia. HORMONOTERAPIA É um dos tratamentos sistêmicos adjuvantes mais eficazes no tumor de mama, mas é eficaz somente nas pacientes que têm tumores que expressam os receptores hormonais de estrógeno e/ou progesterona (Early Bre- ast Trialists’ Collaborative Group, 1998a). O benefício é a redução absoluta da mortalidade em mais de 10%. Os principais efeitos colaterais são os relacionados com a menopausa. O tamoxifeno é um modulador seletivo do receptor de estrógeno e pode causar ondas de calor, tromboembolismo, tumores de endométrio, mas, ao mesmo tempo, possui certa proteção contra a osteopo- rose e a arteriosclerose. Mais recentemente, uma nova classe de hormô- nios foi desenvolvida – os inibidores de aromatase –, que diminuem a produção de estrógeno pela conversão periférica da testosterona. Remédios dessa classe (como anastrosole, letrosole e examestano) têm perfil um pou- co diferente do tamoxifeno: não poupam as pacientes da osteoporose e tampouco da arteriosclerose. A secura vaginal é um importante efeito colateral da hormonoterapia em geral, o que prejudica a atividade sexual. A ooforectomia ou o uso de análogos de gona- dotrofinas pode ser indicado em pacientes pré-meno- pausadas com tumores receptores hormonais positivos, levando à menopausa precoce. QUIMIOTERAPIA O impacto na redução da recidiva e no ganho de so- brevida existe, mas de maneira mais modesta que na hormonoterapia. É mais indicada para pacientes com alta chance de recidiva, seja pelo tamanho do tumor ou pelo número de linfonodos acometidos, e, principalmen- te, nas pacientes com receptores hormonais negativos (Early Breast Trialists’ Collaborative Group, 1998b). Nem todos os esquemas de poliquimioterapia causam náuseas ou vômitos e alopecia. Os esquemas com an- tracíclicos (doxorrubicina ou epirrubicina) são aqueles com maior potencial de emese, além de alopecia; os Psiquiatria 33 3.indd 126 27/6/2006 17:58:18 127 Cantinelli, F.S.; Camacho, R.S.; Smaletz, O.; Gonsales, B.K.; Braguittoni, E.; Rennó Jr., J. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 124-133, 2006 taxanos – drogas recentemente utilizadas na adjuvância – também causam alopecia. IMUNOTERAPIA Cerca de 20% a 25% dos tumores de mama hiperexpres- sam uma proteína transmebrana, o Her2-neu, ou fator de crescimento epitelial. Essa proteína mostrou ser um fator prognóstico para pacientes com câncer de mama tratadas com quimioterapia. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se um anticorpo anti-Her2-neu – a herceptina ou trastuzuma- be –, que, além de mostrar o seu benefício em pacientes com tumores metastáticos que hiperexpressem essa proteína, também pode reduzir a recidiva de pacientes tratadas com esse anticorpo por um ano após a cirurgia (Romond et al., 2005; Piccart-Gebhart et al., 2005). O diagnóstico de transtornos mentais em mulheres com câncer de mama Avaliar a paciente diagnosticada e submetidaa tratamen- to por câncer de mama é questão importante e, muitas vezes, tarefa a cargo do oncologista, do cirurgião, da enfermeira ou dos demais membros da equipe multi- disciplinar, já que raramente o psiquiatra ou o psicólogo entram em cena no início da abordagem. Uma questão que pode preocupar essa equipe multidisciplinar é a dificuldade em reconhecerem qua- dros psiquiátricos. Em geral, percebe-se a ocorrência de determinadas alterações psicopatológicas relacio- nadas à ansiedade e à depressão, mas raramente um diagnóstico amplo ou formal é feito. Payne et al. (1999) apontaram essa dificuldade dos oncologistas em fazer tal reconhecimento. Assim, realizaram um estudo ava- liando a utilidade de três instrumentos de auto-avaliação na identificação dessas síndromes psiquiátricas: HADS (Escala Hospitalar para Depressão e Ansiedade, em inglês), BSI (Inventário Curto de Sintomas, em inglês) e VAS (Escala Visual e Análoga, em inglês). Os autores apontam maior utilidade da HADS. A incidência dos quadros mentais pode variar conforme a fase do tratamento. Burguess et al. (2005) fizeram um estudo observacional de coorte enfocando a ocorrência de depressão e ansiedade em mulheres em fase inicial de câncer de mama. A prevalência no primei- ro ano da doença é cerca de duas vezes a da população feminina geral. Com a remissão do quadro, os níveis igualam-se aos da população geral, mas na recorrência do câncer, pode haver um suave aumento nesses níveis. Os fatores de risco para depressão e ansiedade parecem estar mais relacionados à paciente do que à doença ou ao tratamento. Esses fatores são aqueles associados à depressão e à ansiedade na população geral, isto é, idade jovem, problemas psicológicos prévios e dificuldades no suporte social. A quimioterapia adjuvante pode aumentar o risco para depressão e ansiedade durante, mas não após, o tratamento. Esse risco não parece ser afetado por fatores clínicos como prognóstico, tipo de cirurgia ou radioterapia adjuvante. Em um estudo cruzado seccional e multinstitucio- nal, Kadan-Lottick et al. (2005) buscaram estabelecer a prevalência de diagnósticos psiquiátricos em pacien- tes com doença avançada (metastática) em serviços oncológicos (também enfocando outros tumores). De maneira geral, encontraram 12% de pacientes com critério para algum distúrbio psiquiátrico; 28% já haviam acessado algum serviço de saúde mental; 17% mantinham conversas com algum profissional de saúde mental e 90% desejavam receber tratamento para questões emocionais. Kornblith e Ligibel (2003) abordaram o funciona- mento psicossocial e sexual em sobreviventes de câncer de mama. Enfocando o ajustamento psicossocial, rele- vando as questões que vão do desconforto psicológico aos diagnósticos psiquiátricos mais formais, levantaram tópicos como dúvidas a respeito da cirurgia, medo da recorrência, depressão relacionada a ter tido o câncer de mama, sentir-se desconfortável em suas próprias roupas, sentir-se sexualmente não atraente, náuseas e vômitos, inchaço nos membros superiores (pós-linfade- nectomia axilar), desfiguração, medo da morte, medo de abandono por familiares e amigos. Nos quadros de ansiedade diagnosticados, a PTSD ocupa a faixa de 4% a 24%, quando a prevalência geral varia de 0,5% a 1,3% ou de 15% a 16% quando associada a traumas. Assim, pacientes que se mantêm hiperalertas, vigilantes ou em guarda, evocando freqüentemente lembranças ou visões do hospital, certos cheiros, até mesmo comidas, vivenciadas dentro de um contexto hospitalar devem ser relevados. Em relação ao medo da recorrência, existem dados significativos de que mulheres submetidas a trata- mentos mais agressivos (cirurgia + quimioterapia neo ou adjuvante) têm menos medo da recorrência em relação àquelas com tratamentos mais conservadores. Okamura et al. (2005) examinaram a prevalência e os fatores associados com distúrbios psiquiátricos e o impacto sobre a qualidade de vida em pacientes com primeira recorrência de câncer de mama. A taxa de pre- valência de quadros psiquiátricos foi em torno de 22%, comparáveis às taxas de 14% a 38% para transtornos psi- quiátricos em fase precoce do tratamento encontradas na literatura, e menores que as taxas para transtornos psiquiátricos em câncer recorrente (geralmente, em torno dos 42%). Os diagnósticos encontrados foram de episódio depressivo (2%), PTSD (2%), outros transtornos de ansiedade (18%). Fatores significativos encontrados foram antece- dentes de transtorno depressivo, principalmente quem manifestou quadro na fase inicial do tratamento, o que pressupõe que essas pacientes devam ter seguimento psiquiátrico ao longo de todo o tratamento, em especial quando associado à falta de esperança e à ajuda. Além disso, o intervalo menor que 24 meses entre o ataque da doença e a recorrência do câncer pressupõe risco maior, embora os autores ressalvem o tamanho de sua amostra para essa conclusão. Psiquiatria 33 3.indd 127 27/6/2006 17:58:18 128 Cantinelli, F.S.; Camacho, R.S.; Smaletz, O.; Gonsales, B.K.; Braguittoni, E.; Rennó Jr., J. Rev. Psiq. Clín. 33 (3); 124-133, 2006 Um fator interessantemente apontado é o regime quimioterápico CAF (ciclofosfamida, doxorrubicina e 5- fluorouracil), tido como indutor de maiores dificuldades para se manter o trabalho e a vida social. A perda da qualidade de vida (QV) esteve associada a baixos índi- ces nos quesitos “funcionamento emocional”, “imagem corporal” e “perspectiva de futuro” e alto índice na escala de sintomas, como perda de apetite, diarréia, fadiga e náusea e vômitos. Tratamento cirúrgico e impacto sobre a saúde mental Schover (1994) levantou a questão dos tratamentos conservadores serem mais protetores, do ponto de vista psicológico, para a mulher com câncer de mama. Uma decisão favorável para essa modalidade de tratamento – a lumpectomia – pode ter repercussão imediata na saúde mental da mulher pela questão da “imagem corporal”, um termo que, segundo Engel et al. (2004), é falho em descrever a complexidade da experiência psicossocial em perder uma mama. Esses autores conduziram um estudo comparando a QV entre o tratamento conservador e a mastectomia total. O tratamento conservador está claramente associa- do com melhor QV; na mastectomia total, as mulheres sentiam-se menos atraentes, não gostavam de sua apa- rência geral, não se sentiam inteiras, estavam infelizes com a cicatriz, tinham limitações no trabalho, no lazer e em outras atividades do dia-a-dia, ficavam inseguras e chegavam a evitar o contato com outras pacientes. Mesmo em mulheres com mais de 70 anos de idade, havia a perda na QV por não se sentirem mais “inteiras” e propensas às suas atividades habituais. Outra decisão que pode ter impacto psicossocial é aquela pela mastectomia bilateral preventiva (MBP) ou não. Hatcher et al. (2001) discutiram esse procedimento do ponto de vista do impacto sobre a saúde mental (sem considerar méritos clínicos oncológicos). Avaliaram que o procedimento determinava a diminuição de níveis de ansiedade e depressão no pós-seguimento e não oferecia impacto sobre a imagem corporal ou o funcionamento sexual. As mulheres que geralmente optam por esse procedimento têm uma percepção alta e com freqüência não acurada do risco de desenvolverem câncer na mama contralateral. Em verdade, na decisão ou não desse procedimento deve pesar uma série de outros fatores. A partir desses fatos, seria fácil concluir que a reconstrução ou plástica mamária tem impacto posi- tivo sobre a saúde mental e a QV, e que quanto mais precocemente for realizada, maior será tal impacto. Esse é um fato que goza de razoável consenso entre equipes multidisciplinares envolvidas no tratamento de câncer de mama. No entanto, é notável no levantamento bibliográfico para este artigo a relativa falta
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