Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE NOSSA CIDADE PROJETO INTEGRADOR IV 4º Semestre Lei nº11340/2006 – Maria da Penha Carapicuíba 2015 9 FACULDADE NOSSA CIDADE PROJETO INTEGRADOR IV 4º Semestre Lei nº11340/2006 – Maria da Penha Artigo Científico no âmbito penal, solicitado como requisito para conclusão do 4º Semestre de Bacharel em Direito, na matéria de Projeto Integrador IV, orientado pelo professo Ivan Rosas Teixeira na FNC (Faculdade Nossa Cidade). CARAPICUÍBA 2015 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................6 2. LUTA FEMINISTA –COMBATE CONTRA À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER..................................................................................................7 3. A LEI MARIA DA PENHA .......................................................................................9 3.1 Principais Mecanismos da nova Lei.....................................................................10 4. MUDANÇAS E AVANÇO DA LEI NA SOCIEDADE..............................................11 5. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER..................................................12 6. MEDIDAS PROTETIVAS PARA ÀS VÍTIMAS.......................................................16 6.1 Medidas de Prevenção e assistência às vítimas..................................................18 7. A LEI MARIA DA PENHA E O STF .......................................................................20 7.1 Jurisprudência......................................................................................................20 CONCLUSÃO ............................................................................................................22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIA................................................................................23 9 Bruna Magalhães e Daiane Ribeiro1 RESUMO A violência doméstica é um mal que assombra mulheres no mundo inteiro, desde tempos mais remotos até hoje. Infelizmente tal violência sempre foi, mesmo que inconscientemente, aceita na sociedade. As agressões vão desde a psicológica até a sexual e na maioria dos casos vem daquele que deveria proteger a mulher, seu marido. Quando elas se veem sem alguém para apoiá-las e acuadas dentro de seu próprio lar, não conseguem ver um futuro para si. Com isso a vergonha, o medo e a falta de perspectiva de um futuro, faz com que muitas mulheres aceitem a violência. Só que muitas conseguem ver “uma luz no fim do túnel” e ao tentar lutar contra essa violência acabam por serem ainda mais hostilizadas por seus companheiros. No presente estudo analisaremos a linha histórica da violência contra a mulher até o grande avanço no Brasil, que foi a aprovação da Lei Maria da Penha. Além dos aspectos psicológicos que envolvem a relação agressor/agredida e como a família é afetada por esse comportamento violento. Para a lei ter mais efetividade deve-se mudar não só a legislação, mas também a sociedade num todo, inclusive no aspecto cultural. Ainda há muito para se fazer, e a sociedade não pretende parar de lutar para garantir os direitos das mulheres. Palavras-chave: Lei Maria da Penha – Violência contra a mulher 1 Estudantes do curso de Direito – FNC – Artigo cientifico com exigência parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Direito, sob orientação do Professor Mestre Ivan Rosas Teixeira. 9 ABSTRACT Domestic violence is an evil that plagues women worldwide, from ancient times until today. Unfortunately such violence has always been, even if unconsciously accepted in society. The assaults range from the psychological to the sexual and in most cases come one who should protect the woman, her husband. When they find themselves without someone to support them and cornered inside their own home, they cannot see a future for themselves. With that shame, fear and lack of perspective of a future, it makes many women accept violence. Only that many can see "light at the end of the tunnel" and trying to fight this violence end up being further harassed by their peers. In this study we analyze the historical line of violence against women to the great breakthrough in Brazil, which was the approval of the Maria da Penha Law. In addition to the psychological aspects involving the aggressor relationship / assaulted and how the family is affected by this violent behavior. For the law to have more effectiveness should change not only the law, but also society as a whole, including cultural aspect. There is still much to do, and the company does not intend to stop fighting to ensure women's rights. Keywords: Maria da Penha Law - Violence against women 6 INTRODUÇÃO Este artigo tem por finalidade levar algumas informações sobre a Lei Maria da Penha, e falar sobre sua importância na sociedade. A mulher sempre foi vista como elo fraco da sociedade. Até pouco tempo atrás a mulher não podia votar, escolher seu marido e no Brasil, até a Constituição de 1988, ela não podia sequer administrar seus bens mesmo aqueles adquiridos com o dinheiro que ela mesmo ganhava trabalhando. A criação desta Lei também teve por finalidade a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres, bem como prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, além de alterar o Código do Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal. Por muito tempo, muitas mulheres sofreram no silêncio de seus lares, violência psicológica, agressões diversas que as tornam objetos nas mãos dos maridos. Com isso, para combater todas essas violências contra a mulher surgiu a lei com um objetivo determinado, mas que por diversas razões acaba não chegando à sua devida finalidade. Portanto é de suma importância o conhecimento de toda a população sobre a Lei Maria da Penha para seus resultados se tornarem muito mais eficaz. A denominação surgiu em homenagem a Maria da Penha Maia Fernandes, biofarmacêutica cearense que foi casada com o professor universitário Marco Antonio Herredia Viveros, que tentou assassiná-la por duas vezes. Maria da Penha sobreviveu e não parou de lutar por seus direitos e de todas as mulheres. A referida lei é uma conquista para todas as mulheres garantirem seus direitos de fato, pois muitas delas sofrem diariamente com a violência em seu âmbito familiar ou social, e a lei oferece medidas protetivas e medidas assistências para essas vítimas, cuidando para que elas se reintegrem a sociedade sem nenhum ou com mínimo de dano possível. 7 2. LUTA FEMINISTA – COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER O passo inicial do feminismo brasileiro, foi conquista por direitos formais. A mulheres sempre foi vista como o “sexo frágil” e submissa, esse pensamento muitas vezes machista, de que a mulher deveria “pilotar o fogão” e somente servir ao marido predominou durante muito tempo. Algumas mulheres queriam para si mais que isso, e por este motivo acabavam sendo vítimas de agressões pelo próprios maridos. A vontade de ser mais do que submissa ao homem e ter direito iguais, fez com que as mulheres começassem a lutar por direito humanos igualitários. Além destas agressõeshavia também mulheres que eram vítimas por motivo torpe, fútil ou até mesmo sem motivo, simplesmente por a vítima ser mulher. Desde 1970, as feministas se organizavam promovendo de luta contra todas as formas de discriminação e de violência. Essa época foi época marcada por protestos e passeatas contra a impunidade dos agressores; e a reivindicação por leis específicas dentre outros movimentos. Em 1980 foi criado o SOS Mulher, para prestar atendimento às vítimas de violência. Na luta para criação de uma lei específica de combate à violência contra a mulher, seis organizações criaram um Consórcio de ONGs Feministas, sedo as seguintes: CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria (que assumiu a coordenação do consórcio); ADVOCACI – Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos; AGENDE – Ações em Gênero Cidadania e Desenvolvimento; CEPIA – Cidadania, Estudos, Pesquisa, Informação, Ação; CLADEM/BR – Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher; THEMIS – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, bem como por juristas e feministas especialistas no assunto. 8 Os trabalhos iniciaram em julho de 2002 e ao final de 2003 o resultado do Consórcio foi apresentado à Bancada Feminina do Congresso Nacional. na Câmara dos Deputados. As principais propostas do Consórcio eram as seguintes: “a) - Conceituação da violência doméstica patrimonial e moral contra a mulher; b) - Criação de uma Política Nacional de combate à violência contra a mulher; c) - Medidas de proteção e prevenção às vítimas; d) - Medidas cautelares referente aos agressores; e) - Criação de serviços públicos de atendimento multidisciplinar; f) Criação de Varas Especializadas, para julgar os casos de violência doméstica contra as mulheres. g) a não aplicação da lei 9099/95 nos casos de violência doméstica contra as mulheres. ” (Segundo a página da CFEMEA, 2005) 9 3. A LEI MARIA DA PENHA Lei Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. “Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar”. A lei foi batizada de Lei Maria da Penha, pois esta foi um importante símbolo da luta contra a violência doméstica no Brasil. Maria da Penha Fernandes quase foi assassinada por seu então marido. Os fatos aconteceram em 1983, a primeira tentativa foi com o uso de arma de fogo e a segunda por eletrocussão e afogamento. Esses episódios causaram lesões irreversíveis à saúde de Maria da Penha. Apesar de condenado em dois julgamentos, o autor da violência não havia sido preso devido aos sucessivos recursos de apelação. Em 2001, após 18 anos da prática do crime, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica e recomendou várias medidas em relação ao caso concreto de Maria da Penha e em relação às políticas públicas do Estado para enfrentar a violência doméstica contra as mulheres brasileiras. Por força da pressão internacional de audiências de seguimento do caso na Comissão Interamericana, em 2002, o processo no âmbito nacional foi encerrado e em 2003 o ex-marido de Penha foi preso. A Lei Maria da Penha foi sancionada em 7 de agosto de 2006 e entrou em vigor no dia 22 de setembro do mesmo ano. Tem como propósito prevenir, punir e erradicar a violência doméstica ou familiar sofrida pela mulher. Em relação ao trabalho, a mulher também não podia ter emprego, sendo restrita única e exclusivamente a cuidar do lar, dos filhos e do marido. 10 O que define a violência como doméstica é qualquer ação ou omissão baseada no fato de a vítima ser do sexo feminino, que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. A lei se refere aos casos em que a vítima e o agressor fazem parte de uma família ou unidade doméstica. Segundo índices do IPEA (Índice de Pesquisa Econômica Aplicada), a Lei Maria da Penha ajudou a reduzir esses índices em 2007, logo após entrar em vigor, mas nos anos seguintes os números voltaram a subir e chegaram a patamares anteriores à lei, que endureceu as punições contra agressores. 3.1 Principais Mecanismos da nova Lei Tipifica as formas da violência; Permiti que o juiz determine que o agressor participe de a programas de recuperação e reeducação; Proíbe as penas pecuniárias; Torna típica a violência doméstica e familiar contra a mulher; Cria juizados especiais com competência cível e criminal; Estabelece que só poderá ocorrer desistência da à denúncia na presença do juiz; Tipifica aumento de pena em 1/3 se a vítima for portadora de deficiência; Proíbe que a intimação seja pela mulher; Extingue os julgamentos com base na lei 9.099/95; 11 4. MUDANÇAS E AVANÇO DA LEI NA SOCIEDADE Para maior amparo às mulheres vítimas de violência, foi criado em 2005, o chamado “Ligue 180” - Central de Atendimento à Mulher. O Ligue 180, foi criado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, é um serviço do Governo Federal que presta atendimento e orientação à vítimas, as ligações são gratuitas e atendidas em todo o Brasil. A promulgação da lei 11.340/2006 trouxe mudanças significavas a nossa sociedade, antes não havia uma lei específica, e os crimes de violência doméstica contra à mulher não eram motivos para agravante de pena, hoje ela passa a ser agravante no Código Penal. Antes da Lei, a intimação ao agressor era entregue muitas vezes, pela própria mulher, após a sua criação ela proíbe que a mulher entregue a intimação ao agressor. Antes a mulher podia voltava para seu lar e podia desistir da denúncia indo até a delegacia, isto ocorria com muita frequenta por vários fatores, como o pensamento de que o agressor iria se redimir ou até por medo, hoje após a Lei estipula que a mulher só poderá desistir da denúncia na presença do juiz, uma vez acionado o judiciário este irá agir. A pena para esse tipo de violência era de 6 meses a 1 ano, hoje é a pena mínima é reduzida para 3 meses e a máxima aumentada para 3 anos, acrescentando- se mais 1/3 no caso de portadoras de deficiência. Além disso hoje o Juiz pode determinar que o agressor obrigatoriamente participe de programas de recuperação e reeducação, o que antes não era previsto. E o mais absurdo para as mulheres vítimas era que seu agressor podia frequentar os mesmo lugares e não era proibido que este mantivesse contato com a vítima, após a Lei poderá ser fixado pelo juiz que o agressor mantenha um limite de distância da mulher bem como de seus familiares e testemunhas. Após a promulgação da Lei, nossa sociedade já evoluiu muito, com esta evolução as mulheres conseguiram várias conquistas. Surgiu uma nova era feminista a mulher chefe de família, empreendedora, trabalhadora, batalhadora. 12 5. FORMAS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER A lei dispõe de mecanismos para coibire prevenir a violência doméstica e familiar e garantir a integridade física, psíquica, sexual, moral e patrimonial. A partir da vigência da nova lei, a violência doméstica não guarda correspondência com quaisquer tipos penais. No artigo 5ª da Lei 11.340, é identificado o agir que configura violência doméstica ou familiar contra a mulher. São definidos os espaços onde o agir configura violência doméstica no âmbito da unidade doméstica, e o familiar em qualquer relação de afeto. Finalmente de modo didático, são descritas as condutas que configuram a violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Art. 5º: Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. As formas de violência deixam evidente a ausência de conteúdo exclusivamente criminal na ação do agressor. A simples leitura das hipóteses previstas em lei mostra que nem todas as ações que configuram violência doméstica constituem delitos. Além do mais, as ações descritas, para configurarem violência doméstica, precisam ser observadas no âmbito da unidade doméstica ou familiar ou em qualquer relação íntima de afeto. Assim, é possível afirmar que a Lei Maria da 13 Penha considera violência doméstica as ações que descreve (art. 7º) quando levadas a efeito no âmbito das relações familiares ou afetivas (art. 5). Estas condutas, no entanto, mesmo que sejam reconhecidas como violência doméstica, nem por isso se configuram crimes que desencadeiam uma ação penal. De qualquer modo, mesmo não havendo crime, mas tomando conhecimento a autoridade policial da prática de violência doméstica, deverá tomar as providências determinadas na lei (art. 11). Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá, entre outras providências: 14 I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. Além disso, a polícia poderá proceder ao registro da ocorrência, tomando por termo a representação e remeter a juízo, quando a vítima solicitar, alguma medida protetiva (art. 12). Todas estas providências devem ser tomadas diante da denúncia da prática de violência doméstica, ainda que ação do agressor não constitua infração penal que justifique a instauração do inquérito policial. Ainda neste caso, não afasta o dever da delegacia de polícia tomar as providências determinadas na lei. Isso porque, é a violência doméstica que autoriza a adoção de medidas protetivas, e não exclusivamente o cometimento de algum crime. Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - ouvir o agressor e as testemunhas 15 VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. § 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá cI - qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. § 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. § 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde. "(...) o uso da força física, psicológica ou intelectual para obrigar outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa de manifestar sua vontade, sob pena de viver gravemente ameaçada ou até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter outrem ao seu domínio, é uma forma de violação dos direitos essenciais do ser humano." (CAVALCANTI, Stela, 2010). 166. MEDIDAS PROTETIVAS PARA AS VÍTIMAS Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. § 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público. § 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso. § 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial. § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil). 17 A lei prevê Medidas Protetivas de Urgência, descritas no Capítulo II – Das Medidas Protetivas de Urgência, do Título IV – Dos Procedimentos, ela cria mecanismos para assegurar uma intervenção preventiva do estado cujo objetivo é resguardar a mulher de toda a forma de negligência, exploração, crueldade opressão além de dar uma resposta efetiva à violência. Estas medidas têm caráter cautelar e traduzem providências apontadas como um dos maiores avanços no combate à violência doméstica e familiar. Uma vez constatada a prática da violência doméstica e familiar o juiz poderá aplicar tais medidas de acautelamento imediatamente, independentemente de audiência e de manifestação do Ministério Público. As medidas cautelares podem ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente e as medidas previstas neste capitulo não impedem a aplicação de outras providências não descritas na lei. O juiz, a pedido do Ministério Público ou da ofendida poderá conceder novas medidas de acautelamento uma vez verificada a necessidade de uma maior proteção. A vítima poderá pedir as providências necessárias à justiça, a fim de garantir a sua proteção por meio da autoridade policial, e o delegado de polícia deverá encaminhar, no prazo de 48 horas, o expediente referente ao pedido, juntamente com os documentos necessários à prova, para que este seja conhecido e decido pelo juiz. O juiz, como forma de proteção a mulher, deverá analisar o pedido de acautelamento e decidir sobre a concessão das Medidas Protetivas de Urgência. Caso o juiz avalie que seja necessário conceder as medidas ele deverá avaliar quais são as medidas aplicáveis ao caso. Os tipos de Medidas Protetivas de Urgência estão descritos na lei nos artigos 22 usque 24, estas medidas não são taxativas, pois o juiz poderá conferir à vítima outras medidas que não estejam elencadas na lei. Ao juiz cabe adotar não só as medidas requeridas pela vítima (art. 12, III, 18, 19 e § 3º) ou pelo Ministério Público (art. 19 e seu § 3º), também lhe é facultado agir de ofício (arts. 20, 22, § 4º 23 e 24). Assim, pode determinar o afastamento do agressor (art. 22, II) e a recondução da ofendida e seus dependentes ao lar (art. 23, III); impedir que ele se aproxime da casa, 18 fixando limite mínimo de distância; vedar que se comunique com a família; suspender visitas; encaminhar a mulher e os filhos a abrigos seguros; fixar alimentos provisórios ou provisionais (art. 22). No inciso III do art. 22 da Lei Maria da Penha objetiva coibir de imediato, ou pelo menos tentar, que o agressor deixe de ter contato com a vítima. O objetivo da Lei Maria da Penha, ao proibir cautelarmente que o agressor frequente determinados lugares, naturalmente aqueles também frequentados pela ofendida, foi o de preservar a integridade física e psicológica da vítima. "Existem, ainda, muitos desafios a enfrentar até colhermos os frutos conquistados com a Lei Maria da Penha. Entre eles está a expansão, interiorização e o funcionamento dos serviços em rede, a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher e da equipe de atendimento multidisciplinar, a implementação de programas e ações nos planos governamentais nas várias esferas de poder, bem como a mudança de cultura e de valores dos(as) profissionais que trabalham nesta área. Neste sentido, é fundamental a ação política dos movimentos feministas nos processos de reivindicação e planejamento das políticas públicas governamentais de prevenção e combate à violência contra a mulher, pois a referida Lei estabelece ao Estado a adoção de políticas de prevenção, assistência e repressão à violência capazes de promover mudanças para a superação das desigualdades entre homens e mulheres." (QUEIROZ, 2008). 6.1 Medidas de Prevenção e assistência às vítimas As medidas de prevenção previstas no artigos 8 da Lei, visando coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, com dispositivos criados junto a esta nova lei. “Art. 8º. A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far- se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes: 19 I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusãodesta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não- governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher”. O artigo 9 da Lei tem por escopo medidas de assistência para as vítimas. “DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR” “Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso”. 20 7. A LEI MARIA DA PENHA E O STF Desde sua promulgação, em 2006, a Lei Maria da Penha foi objeto de discussão no STF em ocasiões diversas. O Habeas Corpus 106212, julgado em março de 2011 pelo STF, discutiu divergência importante em relação à referida lei: a da constitucionalidade do Artigo 41 da Lei Maria da Penha (que afasta a aplicação da Lei 9.099/95). A decisão do STF nesse julgamento, por unanimidade, indeferiu o HC 106212, entendendo que o Artigo 41 da Lei Maria da Penha é constitucional. A questão, todavia, foi examinada como matéria incidental e não afetou a tramitação das ações de controle concentrado de constitucionalidade que já haviam sido propostas: em dezembro de 2007, foi proposta pela Presidência da República a Ação Declaratória de Constitucionalidade 19, e, em 2010, a Procuradoria-Geral da República ingressou com a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4424. A ADC 19 e a ADI 4424, cujas proposições guardam entre si em um tempo de aproximadamente três anos, foram julgadas simultaneamente pelo STF em fevereiro de 2012. Ambas as ações foram julgadas procedentes, sendo a ADC 19 por votação unânime e a ADI 4424 por maioria de votos. Embora os pedidos fossem diferentes, estavam fortemente relacionados. As duas ações foram ajuizadas com o objetivo de redimir as controvérsias judiciais e afastar a insegurança jurídica sobre a constitucionalidade da Lei Maria da Penha. A ADC 19 observava especialmente a constitucionalidade dos Artigos 1º, 33 e 41, e na ADI 4424 requeria-se que fosse conferida interpretação conforme a Constituição aos Artigos 12, I, 16 e 41 da Lei 11.340/2006. A diferença entre o pedido da ADC 19 e da ADI 4424 sugere que novas controvérsias se apresentaram quanto à aplicação da Lei Maria da Penha. Nesse sentido, no pedido referente à ADI 4424, inclui que há controvérsia no Judiciário quanto à natureza da ação nos crimes de lesão corporal leve, cometidos no âmbito da Lei Maria da Penha. 7.1 Jurisprudência 21 “DECISÕES MONOCRÁTICAS ADC 19 / DF - DISTRITO FEDERAL AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento: 21/12/2007 Publicação: DJe-018 DIVULG 31/01/2008 PUBLIC 01/02/2008 Partes: REQTE.(S): PRESIDENTE DA REPÚBLICA ADV.(A/S): ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO Lei nº 11340, de 07 de agosto de 2006. Brasília, 21 de dezembro de 2007. Ministro MARCO AURÉLIO. Relator – Procedente. O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do relator, julgou procedente a ação declaratória, para declarar a constitucionalidade dos artigos 001º, 033 e 041 da Lei nº 11340, de 2006 (Lei Maria da Penha). Votou o Presidente, Ministro Cezar Peluso. Falaram, pelo Ministério Público Federal (ADI 4424), o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, Procurador-Geral da República; pela Advocacia-Geral da União, a Dra. Grace Maria Fernandes Mendonça, Secretária-Geral de Contencioso; pelo interessado (ADC 019), Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Dr. Ophir Cavalcante Júnior e, pelo interessado (ADI 4424), Congresso Nacional, o Dr. Alberto Cascais, Advogado-Geral do Senado. Plenário, 09.02.2012. Acórdão, DJ 29.04.2014”. 22 CONCLUSÃO O absurdo desrespeito aos direitos básicos das mulheres no ambiente doméstico, como o direito de uma vida sem violência e sem sofrimento, justifica a criação de um instrumento voltado a oferecer condições de se reverter tal quadro. Antigamente os crimes cometidos contra a mulher não eram se quer agravantes na pena pelo Código Penal, a impunidade dos agressores era muito grande. Devemos entender, no entanto, que a Lei Maria da Penha, além de aplicada por conta de um contexto internacional e da violência doméstica e familiar contra a mulher se constituir uma das formas de violação dos direitos humanos, é uma lei de ação afirmativa, significando, com isso, que seu caráter é transitório. Ela vigorará, portanto, enquanto for necessária para atingir os objetivos para os quais ela foi criada: coibir e prevenir a violência de gênero, no contexto doméstico, familiar ou de uma relação íntima de afeto. Para cumprir com tal função, ela se vale de ferramentas jurídicas. Vale a pena continuar a luta, até atingirmos o objetivo de cessação deste tipo de violência. 23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIANCHINI, Alice. Lei de violência doméstica e familiar contra mulher (Lei Maria da Penha. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 98, n. 886, 386 pag. 2009. CAVALCANTI, Stela Valéria Soares de Farias. Violência doméstica contra a mulher no Brasil: análise da lei "Maria da Penha", n° 11.340-06. Salvador: JusPodivm, 306 p. 2010. CAMPOS, Roberta Toledo. Aspectos constitucionais e penais significativos da lei Maria da Penha. Unijus: revista jurídica, v. 10, n. 13, 102 pag. 2007. CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: O longo caminho. 6ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. CARDOSO, Maria Lúcia. Lei Maria da Penha: Lei nº 11.340, de 2006: cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 35 pag. 2007. CFEMEA. Centro Feminista de Estudos e Assessoria. Lei Maria da Penha: do papel para a vida. Comentários à Lei 11.340/06 e sua inclusão no ciclo orçamentário. Brasília,-DF, 2007. DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. 2. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. SALDANHA, Alessandra da Gama. Lei Maria da Penha Esquematizada. 2 Edição, Editora Ferreira. São Paulo. 144PAG. 2015. http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADCN&s1=19&processo=19- pesquisado em 02/06/215 às 12:46. http://www.cfemea.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2680&Itemid=154– pesquisado em 24/06/2015às 11:20.
Compartilhar