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MICROBIOLOGIA APLICADA À ODONTOLOGIA AULA 06 – ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS DAS ISTs Ø Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) • Antes era conhecido como doença sexualmente transmissível e houve essa alteração para infecção sexualmente transmissível porque não necessariamente a presença do microrganismo causará doença e também porque quando ocorre a transmissão, não é a doença que está sendo transmitida e sim o microrganismo. • Infecções sexualmente transmissíveis ainda são problema endêmico global, segundo OMS. • Exemplos de ISTs: herpes genital, sífilis, gonorreia, HIV, HPV, hepatites virais B e C e uretrite. • Os principais microrganismos relacionados com as ISTs incluem: Neisseria, Mycoplasma genitatalium, Shigella frexneri, Chlamydia trachomatis. • Sabemos que a principal forma de controle e combate das ISTs são as campanhas de conscientização que hoje em dia encontram-se defasadas, isto é, não a vemos com muita frequência nos dias de hoje. Ø Agentes bacterianos de ISTs • Quando falamos de agentes bacterianos relacionados as infecções sexualmente transmissíveis, temos a lista descrita abaixo: § Gonorreia – Neisseria gonorrhoeae. § Uretrites e cervicites não gonocócicas – Chlamydia trachomatis. § Linfogranuloma venéreo – C. trachomatis. § Cancro mole ou cancroide – Haemophilus ducreyi. § Sífilis – Treponema pallidum. Ø Neisseria gonorrhoeae • Características: § Cocos Gram-negativos normalmente aos pares (diplococos). Isso é típico da N. gonorrhoeae. § É o agente etiológico da gonorreia. § Só é encontrada em séries humanos (patogênico). § Imóveis. § Fastidiosos. § São oxidase-positivo: expressam a enzima oxidase e isso é utilizado para a sua identificação. § Encontrados no interior ou associados a leucócitos polimorfonucleares (neutrófilos). § Representação esquemática das estruturas de superfície de N. gonorrhoeae: § Quando olhamos a estrutura do Cocos Gram-negativos veremos diferentes estruturas e cada estrutura estará associada ao processo patogênico. Por se tratar de uma bactéria gram-negativa, é comum encontramos LPS na membrana externa. A N. gonorrhoeae também tem LPS, mas é um LPS diferente. Na imagem acima, podemos comparar um LPS de estrutura convencional (com lipídio A, core e antígeno O) com o LPS da N. gonorrhoeae (não tem antígeno O). Por isso, devemos lembrar que em bactérias Gram-negativas, a endotoxina é o LPS e quem confere a ação endotóxica ao LPS é o lipídeo A. Assim, no caso da N. gonorrhoeae, o lipooligossacarideo (LOS) que a bactéria tem sem o antígeno O é uma endotoxina, porque mantém o lipídeo A que é responsável pela ação endotóxica do LPS. § Além disso, na estrutura encontramos o Pili tipo 4 que confere capacidade de adesão, capacidade de captação do DNA exógeno, ele não forma a ponte de conjugação, mas confere essas outras características. § Existem também diferentes proteínas na superfície dessa bactéria e essas diferentes proteínas irão conferir características patogênicas a essa bactéria. • Fatores de patogenicidade: § Pili tipo 4 – confere adesão e diversidade antigênica. A diversidade antigênica é importante para a bactéria porque quando o individuo contrai uma amostra de microrganismo, ele cria anticorpos direcionados normalmente ao pili que o infectou. Em uma outra infecção com pili diferente, por exemplo, o anticorpo não consegue reconhecer. Por isso, uma pessoa pode ter gonorreia várias vezes na vida, visto que por causa da diversidade antigênica, ela não terá proteção constante. Ademais, as amostras sem pili são avirulentas, isto é, não tem capacidade de se multiplicar em um organismo e provocar doença. § Proteínas (PorA e PorB) – formam o íris e induzem a endocitose. Também ativam o citoesqueleto da bactéria, emitem pseudópodes e facilitam a internalização na célula do hospedeiro. Lembrando que essa bactéria pode ser encontrada no interior de neutrófilos, o que é uma característica importante porque é lá que ela vai evadir do sistema imune. § Outras proteínas (Opa) – ajudam na aderência às células epiteliais humanas. § LOS – endotoxina (lipídio A – já foi falado anteriormente). § Proteínas Rmp e IgA proteases – proteínas que inibem a atividade antimicrobiana nas mucosas (Rmp) e proteínas que auxiliam na colonização, porque quando são liberadas, elas inativam anticorpos como, por exemplo, o IgA (IgA protease). § Ademais, adquire facilmente DNA exógeno a partir da ação do pili tipo 4, além de adquirir genes de resistência. Por isso, não é nada fácil lidar com essa bactéria. • Outras características: § Coloniza principalmente a mucosa genital, mas de forma geral ela vai colonizar a mucosa que foi a porta de entrada no hospedeiro. Assim, ela pode colonizar a mucosa ocular, a mucosa nasofaríngea, a mucosa anal, entre outras. Tudo dependerá do contato inicial. § Não produz exotoxinas. Por isso, os seus mecanismos de patogenicidade estarão relacionados a mecanismos de adesão e invasão. Além disso, gera resposta imunológica, o que faz com que células do sistema imune (ex.: neutrófilos) cheguem ao local. § A grande diversidade antigênica (LOS e T4P) também contribui para evasão do sistema imune e também está relacionada com os casos de recorrência da doença. § Normalmente, como essa bactéria tem muitos mecanismos de adesão e invasão, ela facilmente pode se disseminar no hospedeiro, podendo gerar doença reumática como artrite infecciosa e também doença cardiovascular como endocardite. • Mecanismos de patogenicidade: § Aderem ao epitélio da uretra ou outra superfície mucosa (olhos, garganta, etc.): Pili tipo 4, proteína Opa, LOS, PorB. § Invasão em células epiteliais (transitose): Opa, LOS. § Atingem o tecido conjuntivo: inflamação (mediadores inflamatórios, influxo de neutrófilos e dano tecidual). § Aparecem os sinais clínicos (exsudato purulento). § O período de incubação é de 2 a 8 dias. • Gonorreia: § Sintomas: o Homens – são resultados da inflamação, sendo de fácil diagnóstico: exsudato purulento e dor ao urinar. o Mulheres: as manifestações clínicas passam despercebidas, com sintomas inespecíficos e sem dor. O corrimento vaginal causado pelo influxo de neutrófilos pode ser confundido com vaginose bacteriana, infecção por fungos ou variação hormonal nas secreções vaginais. § O dogma é que infecções nas mulheres são assintomáticas e nos homens são sintomáticas. Porém, há estudos que mostram que infecções assintomáticas são comuns em ambos os sexos. • Gonorreia – Manifestações Clínicas: • Genes de resistência: § Genes para betalactamases – os antimicrobianos usados contra as bactérias normalmente possuem um anel beta-lactâmico que é essencial para que a droga seja ativa contra a bactéria. Porém, algumas bactérias produzem beta-lactamase, uma enzima que degrada o anel beta-lactâmico. É por esse motivo que alguns beta- lactâmicos são prescritos juntos a um inibidor de beta-lactamase (ex.: amoxiciclina com ácido clavulânico). § Bombas de efluxo – essas bombas expulsam o antimicrobiano do interior das células bacterianas. § Transmissão por conjugação – ela não falou, mas segundo a internet, a transmissão por conjugação é um mecanismo de transferência horizontal de genes entre bactérias, ou seja, uma bactéria transfere material genético para outra e esse material pode conter genes de resistência. § Gene tetM: resistência a tetraciclinas – ela não falou, mas pode ser transmitido para outras bactérias também por transferência horizontal. • A evolução dos medicamentos utilizados e do desenvolvimento de genes de resistência estão indicados na imagem abaixo. • Então, inicialmente (1930), quem possuía a bactéria era tratado com penicilina. Depois o tratamento passou a ser feito com penicilina e sulfonamida. A seguir, foi utilizado espectimiocinajunto com tetraciclina, tetraciclina, fluoroquinolonas e cefalosporina, macrolideos com cefalosporina, finalizando nos anos 2000 somente com cefalosporina. Hoje em dia o tratamento é bem mais complicado, visto que há muitas amostras resistentes. Por isso, usa-se ceftriaxona sendo que algumas vezes, ela será ministrado junto com azitromicina e outras vezes com doxiciclina. Entretanto, em muitos casos, a bactéria torna-se resistente a essas três drogas, gerando casos de gonorreia não tratados. Por isso que temos descritos a supergonorreia. Nesse caso, basicamente, não tem o que pode ser feito para tratar. • Já no mapa abaixo , temos representado a porcentagem de isolados resistentes, sendo o vermelho representando as menores porcentagens e o azul, as maiores. Ø Treponema • Causa sífilis. • Características: § São espiroquetas delgadas, com formato espiralado. § Bactérias Gram-negativos, mas que não possuem LPS na membrana externa e, por isso, não se coram pela coloração de Gram. Por esse motivo, o diagnóstico não pode ser realizado dessa maneira. Só é possível ver a bactéria em campo escuro ou fazendo iluminação por prata para ela ficar mais rosa (não sei se foi isso que ela disse). Além disso, pelo fato de não terem LPS na membrana externa, os mecanismos de patogenicidade são diferentes de outras bactérias Gram-negativas. § São móveis, visto que possuem endoflagelos que acompanham toda a superfície da bactéria. É a presença desse endoflagelo que faz com que a bactéria tenha um movimento em espiral/circular e esse movimento auxilia nos mecanismos de evasão do sistema imune do hospedeiro. § São microaerófilos (1 a 4% de O2). § São bactérias que possuem crescimento muito lento e que são muito difíceis de serem cultivadas. • Existem várias espécies de Treponema, mas hoje iremos falar do Treponema pallidum subsp. pallidum, relacionada com a sífilis. • Algumas notícias associadas é que durante a pandemia de COVID-19 ocorreu um aumento dos casos de sífilis, associados, principalmente, ao sexo desprotegido. • Treponema pallidum § Com relação a bactéria, elas não são cultiváveis em meios artificias, ovos embrionários ou cultura de tecidos. Quando cultivamos uma bactéria, o objetivo é estuda-lá, saber o que tem no genoma dela, se tem genes de resistência, se sofre mutação com frequência, quais são as toxinas que ela produz, se tem adesinas, entre outras características possíveis. Entretanto, por se tratar de uma bactéria não cultivável, ela era, até recentemente, uma bactéria muito difícil de ser estudada. Hoje em dia, com a biologia molecular e com as práticas a longo prazo, é possível saber um pouco mais sobre ela. Assim, o cultivo in vitro a longo prazo de T. palladium foi alcançado pela primeira vez em 2017 e depende da cocultura com células epiteliais de coelho, em um meio de cultura de tecido especializado. Por isso, veremos a seguir que não trataremos muito sobre os mecanismos de patogenicidade dessa bactéria e sim dos mecanismos de invasão ao tecido do hospedeiro. § São bactérias que não resistem ao ressecamento ou a temperaturas acima de 42°C. § São viáveis 24h no sangue a temperatura de 4°C e é por isso que sempre que fizermos doação de sangue, precisamos ser testados para sífilis. Isso porque se a bactéria estiver presente, ela continua viável e pode ser transmitida para outra pessoa no momento da transfusão sanguínea. § Sua estrutura antigênica é pouco caracterizada devido a dificuldade de cultivo. O que se sabe é que existem alguns lipídeos que vão proteger as proteínas do reconhecimento por anticorpos e que vão também produzir hialuronidase, para quebrar o ácido hialurônico do tecido conjuntivo e garantir a invasão no hospedeiro. Portanto, a patogenicidade está relacionada aos mecanismos de invasão no hospedeiro e evasão do sistema imune. • Fatores de patogenicidade: § O que se sabe hoje sobre os fatores de patogenicidade do Treponema pallidum são: o Proteínas de membrana externa (Tp92 - é bem caracterizada) - está relacionada com aderência, isto é, com a capacidade de adesão da bactéria e também com a morte celular. Nesse caso, ela pode ser reconhecida pelo sistema imune do hospedeiro e, nesse momento, induzir diferentes tipos de morte celular (ex.: piroptose e apoptose). o Produz hialuronidase - enzima que facilita a invasão por quebrar o ácido hialurônico. o Proteínas que se ligam a fibronectina - ela pode revestir a bactéria com fibronectina e isso impede que ela seja fagocitada por macrófagos. Isso porque esse revestimento ajuda ela a escapar do reconhecimento e da resposta imune inata do hospedeiro. Assim, ela se passa como se fosse célula do hospedeiro e não uma bactéria, evadindo do sistema imune. • Outras características: § Possui cromossomos circular e não tem transpossons (segmentos de DNA que podem se mover dentro do genoma). Isso o torna seu cromossomo altamente conservado e faz com que essa bactéria, até hoje, seja sensível a penicilina (ela disse que se não estiver enganada, é a única bactéria sensível a penicilina). • Sífilis: § Doença causada pelo Treponema pallidum. § É uma infecção que está relacionada com o contato, ou seja, ela vai aparecer na porta de entrada da bactéria (onde houve o contato inicial com o microorganismo). Os locais usuais de inoculação são vagina, endocérvice e pênis e esses locais serão onde ocorrerá a multiplicação da bactéria. § É uma doença de vasos sanguíneos e de áreas perivasculares. Assim, a bactéria pode circular tanto pelo sangue quanto pela linfa, atingindo tanto vasos sanguíneos quanto vasos linfáticos. § O hospedeiro é o humano, sendo que a transmissão principal ocorre por meio do sexo, com contato sexual direto com indivíduo que apresenta lesão sifilítica primária ou secundária ativa. Assim, falamos de sífilis adquirida. § No entanto, também pode acontecer de ocorrer transmissão transplacentária para o feto. Nesse caso, falamos de sífilis congênita. • Sífilis adquirida: § É dividida em 3 etapas: o Primária (recente) - é a primeira lesão que se desenvolve a partir do contato com o microrganismo. Essa lesão ocorre no local de inoculação do Treponema pallidum e, normalmente, é uma lesão única. o Secundária (recente) - ocorre cerca de 2 a 10 semanas após a lesão primária. Quando não tratada, pode evoluir para a sífilis terciária. o Terciária (tardia) - evolução da doença. § A disseminação ocorre pelas vias sanguínea e linfática. • Manifestações clínicas: § Com relação a sífilis primária, a lesão única que ocorre na área que foi porta de entrada do microorganismo, é chamada de cancro duro e vai aparecer de 2 a 10 semanas após a infecção. Trata-se de uma pápula que se rompe, originando uma úlcera com base endurecida. Normalmente é uma lesão que não dói, não incomoda e as vezes até passa despercebida. § Cicatrização espontânea - quando a doença está nessa fase, as pessoas geralmente não buscam por ajuda porque é uma lesão que cicatriza rapidamente. Se não for tratada, ela evolui para uma forma um pouco mais grave. § Essa fase é marcada pela presença de exantema maculopapular. Ocorre de 2 a 10 semanas após a cicatrização (da lesão primária) e nela aparecem lesões secundárias avermelhadas pelo corpo, como mãos e pés. § Se não for tratada, o paciente entra em estado de latência, podendo ficar por anos sem nenhum sintoma. 30% dos casos permanecem latentes por anos (de 2 a 20 anos). § Outros casos podem evoluir para casos mais graves chamados goma. 40% dos casos evoluem para a sífilis terciária, onde pode aparecer lesões granulomatosas na pele, osso, fígado, alterações no SNC e no SCV. • Sífilis adquirida primária: § Contato com a lesão sifilítica. § Cancro duro - lesão no local da infecção seguida de multiplicação do microorganismo.Essa lesão é altamente rica em Treponema e é altamente contagiosa. Sendo assim, o diagnóstico é feito a partir de material coletado da lesão. § Gera uma ferida única, indolor, não coça e não tem pus. Pode surgir na vagina, no pênis, no ânus ou na boca (na boca, parece uma afta). § Período de incubação - 30 dias. § Se não tratar, evolui para a sífilis secundária. • Sífilis adquirida secundária: § De 2 a 10 semanas após a cicatrização do cancro duro. § Lesões ricas em Treponemas, sendo altamente contagiosa. § Presença de exantema maculopapular (manchas avermelhadas) nas mãos, pés, órgãos geniais e boca. Dentre os sintomas incluem- se: dores de cabeça, mal-estar e febre. § As lesões desaparecem espontaneamente. 30% dos casos permanecem latentes. § Se não tratar, evolui para a sífilis terciária. • Sífilis adquirida terciária: § Aparecem de 2 a 20 anos após a sífilis secundária. § Caracterizada por lesões granulomatosas chamadas de goma. Essas lesões podem aparecer na pele, ossos, fígado, pode causar lesões neurológicas, cardiovasculares, entre outras. § É a forma grave da doença, pois a bactéria se dissemina atingindo diferentes órgãos e tecidos. § Quanto mais tardias são as lesões, mais destrutivas elas são. § Pode causar diferentes alterações físicas e psíquicas. § RESUMINDO - a partir da inoculação, isto é, do contato da pessoa com a bactéria, ela vai desenvolver a sífilis primária (cancro duro) no local de infecção. Se não tratada, ela evolui para a sífilis secundária com exantema maculopapular, pode entrar em estado de latência. Uma vez em estado de latência, a pessoa pode ter recorrência da sífilis secundária e se continuar sem tratamento, pode evoluir para a sífilis terciária representada pela goma cutânea em diferentes órgãos e tecidos. • Transmissão placentária - sífilis congênita: § Ocorre a passagem do Treponema pallidum pela placenta. Por esse motivo, durante o pré-natal, a mãe é testada para sífilis porque se ela tiver a doença ela precisa ser tratada. Se não for tratada, ela pode transmitir para o bebê. Assim, alguns efeitos adversos devido à exposição fetal ao Treponema pallidum são evitáveis se as mulheres forem tratadas antes do final do segundo trimestre de gravidez. § Uma vez que a bactéria atinge o bebê, ela pode gerar alterações ósseas e dentais (dentes em forma de amora ou dentes de Huchtinson), causando má-formação fetal, pode levar ao nascimento prematuro ou, ainda e o que ocorre na maioria dos casos, pode gerar abortos ou natimortos. § Lembrando que a transmissão placentária pode ocorrer em todos os estágios da doença. • Diagnóstico laboratorial: § O diagnóstico da sífilis é basicamente sorológico, mas não necessariamente o diagnóstico citológico será descartado. Porém, normalmente, o que é feito na triagem é a sorologia. § Um dos testes imunológicos é o que verifica a presença de anticorpos não treponêmicos e de anticorpos treponêmicos. § Os testes não treponêmicos vão nos dar uma positividade a um fosfolipídio presente não só no Treponema, mas também em outras bactérias e das nossas próprias células (já que possuem fosfolipídio membrana plasmática). Por isso, são altamente inespecíficos e são muito utilizados em triagem. Geralmente é o primeiro teste a ser realizado para que, se der positivo, o paciente passe para o teste treponêmico. § O teste treponêmico é aquele que faz com que a pessoa seja diagnosticada com a doença, pois ele vai pesquisar a presença de antígenos do Treponema. § Hoje, o teste não treponêmico mais utilizado na triagem de pacientes suspeitos de sífilis é o VDRL, enquanto de teste treponêmico o mais utilizado é o FTA-ABS. O VDRL é um teste quantificado, ou seja, é possível saber o número de anticorpos presentes e é um teste super importante para o monitoramento da resposta ao tratamento. Assim, é possível saber se o paciente está melhorando, visto que ao longo do tratamento o esperado é que o nível de anticorpos reduza (o teste só dá positivo no início da lesão e no desenvolvimento da doença, depois ele cai). Isso não serve para os testes treponêmicos, já que ele fica positivo no início da doença e se mantém positivo ao longo de todo o curso da doença (mesmo com o paciente em tratamento), como representado na imagem abaixo. Lembrando que a diferença entre os dois testes ocorre na fase terciária: o teste treponêmico permanece positivo enquanto o teste não treponêmico reduz. § Para dar o diagnóstico positivo da sífilis, normalmente, fazemos os dois testes (não treponêmico primeiro e depois o treponêmico). Se o resultado for VDRL + e FTA-ABS +, o diagnóstico de sífilis está confirmado. Se der VDRL + e FTA-ABS -, ele indica outra doença que não sífilis. Já se o teste der VDRL - e FTA-ABS +, eles indicam que a sífilis está em estágio bem inicial ou que a sífilis já foi tratada. Por fim, se der VDRL - e FTA-ABS -, eles descartam o diagnóstico de sífilis. Isso está representado na imagem abaixo. § Um lembrete é que o VDRL é utilizado na triagem, mas pode dar positivo também para outras doenças como hanseníase e tuberculose, por isso ele deve ser confirmado pela imunofluorescência indireta. § Entretanto, considerando a epidemia de sífilis no Brasil e a sensibilidade dos fluxos de diagnósticos, recomenda-se iniciar a investigação pelo teste treponêmico, que é o primeiro teste a ficar reagente, diferente do que foi descrito acima.