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Ensaios Mecânicos I SENAI- SP, 2002 Trabalho elaborado pela Escola SENAI Roberto Simonsen do Departamento Regional de São Paulo. Coordenação Geral Dionisio Pretel Coordenação Laur Scalzaretto Alcindo Daniel Fávero Organização João Carlos Voltarelli Editoração Écio Gomes Lemos da Silva Silvio Audi Escola SENAI Roberto Simonsen Rua Monsenhor Andrade, 298 – Brás CEP 03008-000 - São Paulo, SP Tel. 011 3322-5000 Fax 011 3322-5029 E-mail: senaibras@sp.senai.br Home page: http://www.sp.senai.br Sumário Página Normalização dos ensaios 3 Diagrama ferro-carbono 7 Tratamento térmico 21 Temperar e revenir 47 Recozer aço 53 Macrografia 57 Micrografia 79 Dureza 147 Impacto 165 Molas 173 Embutimento 227 3 Normalização dos ensaios A normalização descreve as condições em que um material deve ser ensaiado, para que não ocorram resultados duvidosos. Ela é conseguida através de uma série de recomendações já testadas em laboratórios confiáveis e reunidas em normas técnicas estabelecidas por entidades especializadas. No Brasil, a entidade encarregada do estabelecimento dessas normas é a ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. Outras Normas são conhecidas e utilizadas no Brasil, tais como a ASTM (Estados Unidos) e a DIN (Alemanha). A normalização dos ensaios traz uma série de vantagens: • Reduz o desentendimento entre fabricante e consumidor; • Torna a qualidade de produção mais uniforme; • Reduz os tipos similares de peças e materiais; • Diminui o custo unitário da produção; • Orienta o projetista na escolha do material mais adequado ao produto a ser fabricado; • Permite a comparação dos resultados obtidos sem diferentes laboratórios, pela adoção do mesmo método de ensaio. Tipos de ensaios Os ensaios podem ser classificados segundo diversos critérios, por exemplo: a) quanto aos resultados que fornecem, os ensaios podem ser quantitativos ou qualitativos. 4 Os ensaios quantitativos determinam as propriedades do material ensaiado através de números. Por exemplo, um ensaio de cisalhamento é quantitativo porque permite determinar os valores numéricos para propriedades mecânicas do material testado. Esses valores podem servir de base para aplicações práticas, como determinar o diâmetro de um rebite que vai unir duas chapas em um determinado produto. Os ensaios qualitativos, são apenas indicativos de qualidades dos materiais e não medidas numéricas. Assim, um ensaio de som pode detectar trincas em peças fundidas sem, contudo, medi-las. b) Dependendo das condições de realização, os ensaios podem ser: práticos ou tecnológicos. Ensaios práticos: Os ensaios práticos não necessitam de equipamentos especiais e, geralmente, baseiam seus resultados na observação direta de amostras do material. Os tecnológicos são mais complexos, tanto no que se refere às normas técnicas que devem ser observadas, quanto ao equipamento necessário. Como exemplo de ensaio prático, podemos citar o ensaio de centelha. Nesse ensaio, um material é classificado segundo as centelhas que emite ao ser atritado em um esmeril. Outro ensaio prático é o ensaio com lima, utilizado para verificar a dureza de um material, pela maior ou menor facilidade de soltar cavacos que ele apresenta em atrito com outros. Assim, 5 um material mais mole apresentará um volume maior de cavacos do que outro, de maior dureza. O exemplo mais simples de ensaio prático é, entretanto, o ensaio visual. É, geralmente, o primeiro tipo de controle que se faz em relação a um material e pode ser usado para distinguir materiais pela sua cor característica; verificar defeitos de superfície (porosidade, trincas, etc); fazer controle de qualidade do acabamento superficial de laminados, peças usinadas, revestimentos superficiais (tintas, cromação, etc), entre outras Ensaio tecnológico O ensaio de resistência à compressão constitui um exemplo de ensaio tecnológico, porque exige a utilização de equipamento especial (prensa para aplicar a pressão, dinamômetro para medir a força aplicada), além de obedecer normas técnicas que determinam desde o formato e dimensões de corpo de prova, até o procedimento técnico e análise dos resultados. De acordo com a possibilidade, ou não, de aproveitamento do material após a realização dos ensaios, estes podem ser classificados em: ensaios não-destrutivos e ensaios destrutivos. Os ensaios não-destrutivos, como o próprio nome indica, não inutilizam o material ou o corpo de prova ensaiado, permitindo sua utilização prática após o ensaio. Um exemplo de ensaio não-destrutivo é o ensaio com raio x. Nesse ensaio, o corpo de prova (ou o próprio produto acabado) é passado por um aparelho de raio x e suas falhas são identificadas em um filme radiográfico. Outros ensaios não-destrutivos incluem o uso de partículas não magnéticas, ultrassom ou líquidos penetrantes – todos eles permitem detectar falhas nos materiais, sem prejudicar sua posterior utilização prática. 6 Nos ensaios destrutivos, os corpos de prova são inutilizados ou pela sua destruição ou por alguma marca deixada pelo ensaio (riscos muito visíveis, amassamentos, trincas, etc.). O ensaio de resistência à compressão é destrutivo, pois produz deformações, trincas ou ruptura do corpo de prova. 7 Diagrama Ferro-Carbono As ligas de ferro-carbono são as mais utilizadas dentre todas as ligas metálicas. O ferro é um metal abundante na crosta terrestre e caracteriza-se por ligar-se com outros elementos, metálicos ou não metálicos, dos quais o principal é o carbono. O diagrama ferro -- carbono é fundamental para facilitar a compreensão sobre o que ocorre com as ligas ferrosas quando submetidas a operações de tratamento térmico, que modificam suas propriedades mecânicas para aplicações sob as mais variadas condições de serviço. Inicialmente, observaremos as transformações do elemento ferro quando submetido ao aquecimento ou resfriamento lentos. O ferro, como todos os metais tem uma estrutura cristalina. A disposição própria e regular dos átomos de cada metal, em forma de cristais, se chama rede cristalina ou reticulado cristalino. O ferro sólido, quando aquecido ou resfriado, apresenta diferentes estruturas em seu reticulado cristalino; conseqüentemente, suas propriedades também ficam diferentes. Esse fenômeno se denomina alotropia e é representado pelas letras do alfabeto grego: α, β, γ, δ, etc. 8 O gráfico a seguir mostra a curva característica de resfriamento ou aquecimento. do ferro puro e sua correspondente transformação alotrópica. No intervalo de 1538ºC e 1394ºC o ferro puro se solidifica em reticulado cúbico de corpo centrado CCC, chamado Fe δ (ferro delta). A 1394ºC se realiza a reestruturação do reticulado cúbico de corpo centrado em reticulado cúbico de face centrada, permanecendo até 912ºC. O reticulado cúbico de face centrada CFC denomina-se Fe γ (ferro gama) ou austenita. 9 A 912ºC o ferro puro sofre mudança na estrutura do reticulado novamente para cúbico de corpo centrado CCC, chamado Fe α (ferro alfa) ou ferrita. Abaixo dessa temperatura, a estrutura do reticulado do ferro é cúbica de corpo centrado. O trecho abaixo de 770ºC não representa mudança de estrutura do reticulado, mas o surgimento de propriedades magnéticas do ferro; o Feα abaixo de 770ºC é magnético e acima de 770ºC não tem propriedades magnéticas. A mudança estrutural do reticulado cristalino do ferro traz consigoa modificação de suas propriedades; assim, o Feα quase não dissolve o carbono; o Feγ dissolve até 2,11% de carbono e o Fe δ dissolve até 0,09% de carbono. Essa situação ocorre devido à estrutura cúbica de face centrada do Feγ apresentar uma distância maior entre os átomos do que a estrutura cúbica de corpo centrado do Feα e Feδ, então é mais fácil aceitar átomos estranhos, como por exemplo, átomos de carbono. A esse fenômeno damos o nome de solubilidade no estado sólido. O ferro puro raramente é usado, comumente está ligado com o carbono. No gráfico apresentado foi vista a curva de resfriamento ou aquecimento do ferro puro com indicações das formas alotrópicas e suas respectivas temperaturas de transformação. Nas ligas de ferro – carbono existem também as formas alotrópicas α e γ, mas as temperaturas de transformação oscilam em função do teor de carbono na liga. O diagrama abaixo de fase ferro – carbono, auxilia na visualização dessas oscilações importantes para o estudo dos aços e ferros fundidos. 10 O diagrama de fase ferro – carbono pode ser dividido em três partes: de 0 a 0,008%C - ferro puro de 0,008 a 2,11%C - aço de 2,11 a 6,69%C - ferro fundido Fases relevantes do diagrama ferro-carbono Ferrita (α) Solução sólida de carbono em ferro CCC , existente até a temperatura de 912ºC, caracteriza-se pela baixa solubilidade de carbono no ferro, chegando ao máximo de 0,0218% a 727ºC. 11 Austenita (γ) Solução sólida de carbono em ferro CFC, existindo entre as temperaturas de 912ºC e 1495ºC, e com solubilidade máxima de carbono no ferro de 2,11% a 1148ºC. Ferrita (δ) Solução sólida de carbono em ferro CCC, sendo estável até 1538ºC, quando o ferro se liqüefaz. A solubilidade do carbono é baixa, atingindo um máximo de 0,09% a 1495ºC. Quando não houver referência contrária, o termo ferrita, subentenderá a ferrita α . Cementita (Fe3C) É um carboneto de ferro de alta dureza com teor de carbono de 6,69% de carbono. Linhas relevantes do diagrama ferro-carbono Linha A1 Indica a ocorrência de uma parada (Arrêt) durante a transformação. Assim ao resfriar um aço com 0,77% C, observa- se uma “parada” na temperatura de 727ºC, ou seja, enquanto a transformação γ → α+ Fe3C não se completar a temperatura permanecerá constante. 12 Linha A2 Indica a temperatura de transformação magnética do ferro CCC a 770ºC. Linha A3 Indica a temperatura de transformação γ → α. À medida que o teor de carbono vai aumentando, a temperatura A3 vai diminuindo, até o limite de 727ºC, onde se encontra com A1. Linha Acm Indica a temperatura de transformação γ → Fe3C. Inicia-se a 727ºC com 0,77% C e vai aumentando com a elevação do teor de carbono, até atingir 1148ºC a 2,11% C. Linha Solidus Indica que, abaixo desta linha, todo material estará no estado sólido. Linha Liquidus Indica que, acima desta linha, todo material estará na forma líquida. Pontos relevantes do diagrama ferro-carbono Ponto eutético Indica a presença de uma liga eutética, com 4,3% C a 1148ºC. Ponto eutetóide Indica a presença de uma liga eutetóide, com 0,77%C a 727ºC. 13 Componentes da estrutura dos aços No ponto eutetóide se verifica uma transformação importante no estudo dos aços, ou seja um aço com 0,77%C acima de 727ºC encontra-se no estado de austenita. No ponto eutetóide a austenita se transforma em uma mistura de duas fases – ferrita e cementita – que se denomina perlita. A perlita tem uma estrutura finamente raiada que, semelhante a madrepérola, está formada de lâminas finíssimas superpostas, alternando-se uma camada de ferrita e outra de cementita, conforme a figura a seguir. Assim os aços com 0,77% C são chamados de eutetóides. Aços com menos de 0,77%C são chamados hipoeutetóides e com mais de 0,77%C são chamados hipereutetóides. 14 Embora a perlita não seja uma fase, e sim um constituinte, é possível prever quais são as microestruturas presentes nos aços após o resfriamento lento. Os aços hipoeutetóides (até 0,77%C) apresentam em sua microestrutura ferrita e perlita conforme mostra a figura esquemática abaixo. A figura a seguir mostra o aspecto micrográfico de um aço hipoeutetóide com aproximadamente 0,3%C, submetido ao ataque reativo de nital, ampliado 200 vezes. Os grãos escuros são de perlita e os grãos brancos são de ferrita. 15 Os aços eutetóides (0,77%C) apresentam em sua microestrutura somente perlita, conforme mostra a figura esquemática abaixo. A figura a seguir mostra o aspecto micrográfico de um aço eutetóide com 0,77%C, submetido ao ataque reativo de nital, ampliado 1000 vezes. Nota-se a estrutura lamelar; as linhas escuras representando a cementita e as linhas brancas a ferrita. 16 Os aços hipereutetóides (0,77% a 2,11%C) apresentam em sua microestrutura perlita e cementita, conforme mostra a figura esquemática a seguir. A figura a seguir mostra o aspecto micrográfico de um aço hipereutetóide com aproximadamente 1%C, submetido ao ataque reativo de picral, ampliado 200 vezes. Nota-se que a cementita está disposta em torno dos grãos de perlita, formando uma rede. Os aços hipoeutetóides apresentarão tanto maior quantidade de ferrita quanto menos carbono contiverem, e os aços hipereutetóides tanto maior quantidade de cementita quanto mais se aproximarem do teor de 2,11% de carbono. A figura a seguir mostra de modo esquemático o teor de carbono e sua microestrutura correspondente. 17 Interpretação final dos diagramas Os aços hipoeutetóides (0,4%C por exemplo) têm pouco carbono, portanto há pouca perlita e quase nenhuma cementita livre. A maior parte de massa constitui-se de ferrita que é Feα , caracterizando-se pela baixa dureza, porém com alta ductilidade. O diagrama de fase apresentado a seguir, indica as fases presentes nos pontos determinados e o respectivo estado físico do aço hipoeutetóide com 0,4% C, quando submetido ao resfriamento lento. Ponto Temperatura aproximada Estado físico Fases presentes Comentários A 1600ºC líqüido líqüida Toda a matéria líqüida. Todo o carbono dissolvido B 1480ºC líqüido líqüida Início da solidificação. Forma-se o primeiro cristal sólido C 1450ºC mistura líqüida + sólida Campo bifásico. O líqüido vai transformando-se continuamente em austenita D 1350ºC sólido austenita Todo material solidificado. O ultimo líqüido solidificou-se E 1000ºC sólido austenita Apenas sólido presente – austenita - é Fe CFC com todo carbono dissolvido F 780ºC sólido austenita Início da transformação da austenita em ferrita. O carbono começa a liberta-se G 750ºC sólido austenita + ferrita CFC transforma-se continuamente em CCC, libertando carbono para formar a perlita H 727ºC sólido perlita + ferrita Completada a transformação I <727ºC sólido perlita + ferrita Material pronto para ser utilizado 18 Nos aços hipereutetóides (0,9%C por exemplo), devido ao alto teor de carbono, teremos a formação de cementita mais a perlita. O diagrama de fase apresentado a seguir mostra as fases presentes e o respectivo estado físico do aço hipereutetóide com 0,9% C ,quando submetido ao resfriamento lento. Ponto Temperatura aproximada Estado físico Fases presentes Comentários A > 1500ºC líqüido líqüida Toda a matéria líqüida. Todo o carbono dissolvido. B 1500ºC líqüido líqüida Início da solidificação. Forma-se o primeiro cristal sólido. C 1450ºC mistura líqüida + sólida Campo bifásico.O líqüido vai transformando-se continuamente em austenita. D 1430ºC sólido austenita Todo material solidificado. O último líqüido solidificou-se. E 1000ºC sólido austenita Apenas sólido presente - austenita - é Fe CFC com todo carbono dissolvido. F 800ºC sólido austenita Início da transformação da austenita em cementita. O carbono começa a libertar-se. G 760ºC sólido austenita + cementita CFC transforma-se continuamente em CCC, libertando carbono para formar a cementita. H 727ºC sólido perlita + cementita Completada a transformação. I < 727ºC sólido perlita + cementita Material pronto para ser utilizado. 19 Efeito da velocidade de resfriamento nos aços Um aço resfriado muito lentamente a partir do campo austenítico apresentará, em temperatura ambiente, uma ou mais das fases ferrita, perlita e cementita, dependendo de seu teor de carbono. Porém, se o resfriamento do aço a partir da região austenítica for muito rápido impede-se a formação da perlita. Certamente produz-se um rearranjo cúbico de face centrada (CFC) para cúbico de corpo centrado (CCC), porém os átomos de carbono permanecem retidos em seu núcleo. Como o resfriamento é rápido e a dimensão do reticulado cristalino α é menor que a dimensão do reticulado cristalino γ, o carbono é forçado a permanecer no reticulado cristalino α, causando deformação e tensão, a conseqüência disso é uma estrutura dura, quebradiça, acicular denominada martensita, que não é prevista no diagrama ferro carbono. 20 21 Tratamento térmico Tratamentos térmicos são ciclos térmicos a que são submetidos os aços. São compostos por operações de aquecimento, a uma velocidade adequada, com permanência por tempo suficiente em temperatura de tratamento correta e velocidade de resfriamento compatível com o objetivo desejado. Os tratamentos térmicos visam alterar a estrutura natural dos aços, conferindo ou melhorando suas propriedades mecânicas. Os principais objetivos dos tratamentos térmicos são: • remoção de tensões internas (oriundas de resfriamento desigual, trabalho mecânico ou outra causa); • aumento ou diminuição da dureza; • aumento da resistência mecânica; • melhora da ductilidade; • melhora da usinabilidade; • melhora da resistência ao desgaste; • melhora das propriedades de corte; • melhora da resistência à corrosão; • melhora da resistência ao calor; • modificação das propriedades elétricas e magnéticas. 22 Fatores de influência nos tratamentos térmicos O tratamento térmico é composto por um ciclo de tempo - temperatura, e os fatores mais importantes a considerar são: aquecimento, tempo de permanência nessa temperatura e resfriamento. Aquecimento: como o objetivo principal do tratamento térmico é a modificação de suas propriedades mecânicas. Verifica-se que isso só é conseguido mediante uma alteração em sua estrutura. Assim sendo, o aquecimento é feito acima da zona crítica até sua completa austenitização, ou seja, a dissolução total do carboneto de ferro no ferro gama. O diagrama de fase Fe-C permite visualizar as temperaturas mínimas de transformação alotrópica em função do teor de carbono do aço em tratamento. Na fase de aquecimento, dentro do processo de tratamento térmico, são apropriadamente consideradas a velocidade e a temperatura máxima de aquecimento. A velocidade de aquecimento deve ser adequada à composição e ao estado de tensões do aço. 23 Como tendência geral, o aquecimento muito lento provoca um crescimento excessivo dos grãos de austenita, tornando o aço frágil. Por outro lado, um aquecimento muito rápido em aços ligados ou em aços com tensões internas (provocadas por fundição, forjamento, etc.) poderá provocar empenamento ou mesmo aparecimento de fissuras. A temperatura de aquecimento deverá ser adequada para que ocorram as modificações estruturais desejadas. Se ela for inferior a temperatura de transformação, as modificações não ocorrerão; se for demasiadamente superior ocorrerá um crescimento indesejável dos grãos de austenita. Essa temperatura de aquecimento depende da composição química do aço e principalmente do seu teor de carbono. A figura a seguir mostra de modo esquemático o crescimento do grão da austenita devido a temperaturas excessivas. Na prática, o máximo que se admite é 50ºC acima de A3 para os aços hipoeutetóides. Para os aços hipereutetóides, devido à necessidade de altas temperaturas para dissolução do carboneto de ferro, será inevitável o crescimento de grão de austenita. No tratamento térmico, o crescimento do grão de austenita é mais prejudicial que a presença de carboneto não dissolvido; assim, a temperatura recomendada é inferior à linha Acm , mais precisamente, 50ºC acima de A1. 24 Tempo de permanência na temperatura de aquecimento – o tempo de permanência na mesma temperatura deve ser o suficiente para que as peças se austenitizem de modo uniforme em toda a secção. Se o tempo de permanência for além do necessário, pode haver indesejável crescimento dos grãos de austenita. Empiricamente, adotam-se 2 minutos por milímetro de espessura. Assim, para uma peça com 20mm de espessura serão necessários 40 minutos de permanência na temperatura de aquecimento para a completa difusão dos elementos da liga na austenita. Resfriamento – Este é o fator mais importante do ponto de vista de tratamento térmico, pois a velocidade de resfriamento determinará efetivamente a estrutura e as propriedades finais desejadas. 25 Os meios de resfriamento usuais são: ambiente do forno, ar e meios líqüidos. O quadro abaixo apresenta em ordem crescente de velocidade alguns meios de resfriamento. Meio de resfriamento Solução aquosa a 10% NaOH Solução aquosa a 10% NaCL Solução aquosa a 10% Na2CO3 Água a 0ºC Água a 18ºC Água a 25ºC Óleo 1 Óleo 2 Óleo 3 Água a 50ºC Tetracloreto de carbono Água a 75ºC Água a 100ºC Ar liqüido Ar Vácuo A figura ao lado permite comprovar a importância do diagrama de resfriamento contínuo na determinação dos constituintes e suas respectivas propriedades, que resultam de quando os aços são submetidos a diferentes velocidades de resfriamento. 26 Examinando a figura podemos concluir que: um aço esfriado muito lentamente, no forno, por exemplo (curva A), começa a se transformar em perlita ao atingir o ponto Ai e, ao atingir Af, é inteiramente Transformado em perlita. Essa perlita é de granulação grosseira e apresenta baixa dureza; logo, aços esfriados muito lentamente apresentam, em temperatura ambiente, o constituinte perlita de granulação grosseira e de baixa dureza. Com esfriamento mais rápido, em ar, por exemplo (curva B), o aço apresentará perlita fina, com dureza elevada. Com velocidade de esfriamento maior, em óleo (curva C), a transformação iniciada em Ci e terminada em Cf dá como constituinte perlita mais fina, com dureza maior. Com resfriamento ainda mais rápido (curva D), verifica-se que o início de transformação se dá no ponto Di. A velocidade de esfriamento agora é tal que não possibilita que a curva de esfriamento D toque na curva de fim de transformação, de modo que a transformação em perlita apenas se inicia, interrompendo-se em seguida e, ao atingir o ponto DMi, a austenita que não se transformou passa a martensita, cuja formação termina em DMf. A estrutura resultante dessa velocidade de esfriamento é simultaneamente perlita e martensita. Com esfriamento muito rápido (curva F), em água, verifica-se que a curva de esfriamento não toca na curva de transformação, de modo que não há transformação da austenita em produto lamelar, mas simplesmentepassagem a martensita, quando, no esfriamento, são atingidas as temperaturas correspondentes a Mi e Mf. Logo, os aços esfriados mais rapidamente são os mais duros. Há uma curva de esfriamento (curva E), que tangencia a curva C de início de transformação para esfriamento contínuo. 27 Essa velocidade de esfriamento, denominada velocidade crítica de têmpera, indica que é desnecessário esfriar-se o aço mais rapidamente para que se produza estrutura martensítica. Pode- se definir a velocidade crítica de esfriamento (ou de têmpera) como a menor velocidade de esfriamento que produzirá estrutura inteiramente martensítica. Em última análise, o tratamento térmico será escolhido de acordo com a estrutura e as propriedades que se desejam. Assim, quando se visa obter a máxima dureza, deve-se procurar produzir a estrutura martensítica, isto é, escolher um tratamento térmico com esfriamento rápido. Quando se visa ao mínimo de dureza, é necessária a estrutura perlítica, ou seja um resfriamento lento. Efeitos da secção da peça - A velocidade de esfriamento é afetada pela secção da peça, pois seu interior se esfria mais lentamente que a superfície. A figura abaixo mostra de modo esquemático o esfriamento do centro e o da superfície de uma peça em três meios de esfriamento diferentes. Formas de tratamento térmico do aço Recozimento É o tratamento térmico que visa reduzir a dureza do aço, aumentar a usinabilidade, diminuir a resistência à tração, remover tensões de trabalhos a frio ou a quente, atingindo a microestrutura ou as propriedades desejadas. 28 Existem, basicamente, 3 tipos principais de recozimento: • Recozimento total ou pleno. • Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico. • Esferoidização. Recozimento total ou pleno – consiste em austenitizar o aço a uma temperatura de mais ou menos 50ºC acima da linha A3 para aços hipoeutetóides e de 50ºC acima de A1 para hipereutetóides. O aço deve ser mantido nesta temperatura o tempo suficiente para que ocorra a solubilização do carbono e dos outros elementos de liga na austenita. Em seguida, deve-se fazer um resfriamento lento dentro do próprio forno, controlando- se a velocidade de resfriamento de aproximadamente 25ºC por hora. O diagrama de fase Fe-C apresentado abaixo mostra de modo esquemático as faixas de temperatura para o recozimento pleno. Obtém-se, no recozimento pleno, uma estrutura de perlita grosseira que é a microestrutura ideal para melhorar a usinabilidade dos aços de baixo e médio teor de carbono (0,2% a 0,6%C); para aços de alto carbono, é preferível a estrutura “esferoidita”; obtida pelo coalescimento. 29 A figura ao lado indica que os constituintes estruturais que resultam do recozimento pleno são: perlita para os aços eutetóide, perlita e ferrita para os aços hipoeutetóides e perlita e cementita para os aços hipereutetóides. Recozimento para alívio de tensões ou subcrítico - consiste no aquecimento do aço a uma temperatura entre 10ºC e 20ºC abaixo de A1, objetivando aliviar tensões provocadas por transformações mecânicas, corte por chama, soldagem, etc. A peça deve ser mantida a essa temperatura de 1 a 2 horas e, em seguida, resfriada lentamente no próprio forno, na cal ou ao ar livre. A figura a seguir mostra esquematicamente as faixas de temperaturas utilizadas no recozimento para alívio de tensões ou subcrítico. 30 Esferoidização: o recozimento de esferoidização aplica-se principalmente em aços de médio e alto teor de carbono, com a finalidade de melhorar a usinabilidade. O tratamento objetiva transformar a rede de lâminas de cementita, em forma globular ou esferoidal de carboneto, em aço. A figura a seguir mostra esquematicamente a microestrutura do aço, antes e após o recozimento de esferoidização. Antes Depois Para ocorrer essa transformação, o aço deve ser aquecido entre 680ºC e 750ºC. Esta temperatura deve ser mantida o tempo suficiente para homogeneizar a temperatura em toda a peça e o resfriamento deve ser lento, cerca de 10º a 20ºC por hora. A figura a seguir mostra esquematicamente as faixas de temperaturas utilizadas no recozimento de esferoidização. 31 Normalização Esse tratamento térmico consiste na austenitização completa do aço, seguida de resfriamento em ar tranqüilo. A figura aao lado mostra no diagrama Fe-C que a faixa de temperatura para a normalização, supera a linha A3 para os aços hipoeutetóides e a linha Acm para os aços hipereutetóides. Essa temperatura situa-se entre 35ºC e 40ºC, conforme o teor de carbono do aço em consideração. O objetivo deste tratamento é obter uma microestrutura mais fina e homogênea dos cristais. A normalização é usada no aço, após a fundição, forjamento ou laminação, preparando-o para uma boa resposta à têmpera. Têmpera: é um tratamento térmico que executamos no aço com teor de carbono maior que 0,3%C, com a finalidade de obter combinações de dureza e resistência mecânica. A estrutura que permite tais combinações é a estrutura martensítica. A têmpera é composta por um conjunto de três etapas: aquecimento, manutenção numa determinada temperatura e resfriamento. No aquecimento, o aço deve ser austenitizado em torno de 50ºC acima da linha A3 para aços hipoeutetóides. Para aços hipereutetóides a temperatura é de 50ºC acima de A1, isto é, nos aços hipoeutetóides a ferrita e a perlita se transformam em austenita. Nos aços hipereutetóides a perlita se transforma em austenita e a cementita continua inalterada por ser um constituinte duro. 32 A figura a seguir mostra no diagrama Fe-C a faixa de temperatura de têmpera em função da porcentagem de carbono no aço. A permanência do aço numa determinada temperatura deve ser suficiente para que a superfície e o centro da peça adquiram a mesma temperatura e ocorra a solubilidade completa do carbono. Como regra, 2 minutos por milímetro de espessura do material são suficientes. O resfriamento na têmpera determina efetivamente a estrutura martensítica, portanto ele deve ser feito em um meio que possibilite uma curva de resfriamento que passe à esquerda do cotovelo da curva em C, evitando assim a transformação da austenita em produtos normais. A figura a seguir mostra a curva de resfriamento para temperar aço 1080; a linha Mi indica o início, e a linha Mf, o fim da transformação da austenita em martensita. 33 Revenido É um tratamento térmico que normalmente se realiza após a têmpera com a finalidade de aliviar as tensões internas, diminuir a dureza excessiva e a fragilidade da martensita temperada, e, assim, aumentar a ductilidade e resistência ao choque. O revenido deve ser feito logo após a têmpera, para se evitar a perda de peças por ruptura provocada pelas tensões da têmpera. A figura a seguir mostra de modo esquemático o ciclo de têmpera e revenido. A temperatura do revenido varia em função do tipo de aço, dureza e característica mecânica desejada. O diagrama abaixo permite avaliar o efeito da temperatura de revenido sobre a dureza e a resistência ao choque de um aço 1045 temperado. Cada material possui uma curva característica. A temperatura de revenido também tem o objetivo de regularizar a dureza. Isso pode ser feito de duas maneiras. Uma delas é experimental, e se revine a peça aos poucos a partir de 100ºC, medindo-se a dureza em cada faixa até que se obtenha a dureza desejada. Outra maneira é a consulta aos diagramas de 34 revenido, onde se lê diretamente o valor da temperatura em função da dureza desejada. Um exemplo de aplicação do diagrama é apresentado na figura abaixo.A manutenção numa determinada temperatura é um importante fator para peças de massa elevada. Como regra, deve-se manter por 60 minutos, adicionando-se uma hora para cada polegada de espessura da peça. O esfriamento após o revenido é feito em ar livre, salvo nos casos de aços que sofrem um fenômeno chamado fragilidade ao revenido (aços ligados ao Cr e Ni), quando revenidos nas faixas entre 260ºC e 315ºC e, também, entre 450ºC e 600ºC. É recomendado que, no caso de dúvida quanto à susceptibilidade do aço a este problema ou quando o revenido tiver que ser feito nestas faixas de temperatura, que seja seguido de resfriamento brusco em água fria. 35 Tratamentos isotérmicos Esses tratamentos baseiam-se no conhecimento das curvas em C ou TTT e nos fenômenos que ocorrem durante o aquecimento e o resfriamento dos aços, possibilitando substituir com vantagens os tratamentos térmicos convencionais. Dentre esses tratamentos, destacam-se a austêmpera e a martêmpera. Austêmpera Esse tratamento isotérmico aproveita as transformações da austenita que ocorrem a uma temperatura constante. O constituinte que se origina na austêmpera é a bainita, que se caracteriza pela alta ductilidade, tenacidade e resistência mecânica, conhecida como “efeito mola”, portanto, com propriedades superiores à da martensita revenida. A austêmpera consiste em submeter o aço a uma seqüência de operações e transformações: • aquecimento a uma temperatura que possibilite a austenitização; como regra, seguir os parâmetros de aquecimento da têmpera; • resfriamento num banho mantido a uma temperatura constante, geralmente entre 260ºC e 400ºC; • permanência no banho a essa temperatura para, isotermicamente, ocorrer a transformação da austenita em bainita; • resfriamento até a temperatura ambiente, em ar livre ou banho de sal. 36 A figura a seguir representa esquematicamente o diagrama de transformação da austêmpera. Martêmpera Esse tratamento consiste em interromper o resfriamento a partir da temperatura de austenitização, de modo a retardar o resfriamento do aço por alguns instantes em uma temperatura pouco superior à linha MI (temperatura de início da transformação martensítica), resultando numa uniformização de temperatura na superfície e no centro das peças submetidas a esse tratamento. Esse procedimento diminui a perda de peças por trincas e empenos, que são defeitos causados pelo resfriamento rápido da têmpera convencional. A martêmpera consiste em submeter o aço a uma seqüência de operações: • Aquecimento a uma temperatura de austenitização; • Resfriamento num meio fluido quente (óleo quente, banho de sal) até uma temperatura acima da transformação martensítica (linha Mi ); • Manutenção nesse meio de resfriamento até a uniformização da temperatura entre a superfície e o núcleo da peça; • Resfriamento posterior a uma velocidade moderada (geralmente em ar) de modo a prevenir diferenças de temperatura entre a superfície e o núcleo das peças. 37 Após a martêmpera, as peças são submetidas a uma operação comum de revenido, como se tivessem sido temperadas. A figura a seguir representa esquematicamente o diagrama de transformação da martêmpera. Têmpera superficial Na têmpera superficial produz-se uma mudança da estrutura cristalina localizada apenas na superfície do aço, que adquire as propriedades e características típicas da estrutura martensítica. Esse processo tem como objetivo aumentar consideravelmente a resistência ao desgaste na superfície e manter a tenacidade do núcleo das peças tratadas. Devem ser empregados aços de 0,3% a 0,6% de teor de carbono. A têmpera superficial pode ser realizada por dois processos: chama e indução. 38 Têmpera por chama: o aquecimento da peça é feito por meio da incidência de uma chama oxiacetilênica na superfície da peça, a uma temperatura acima da zona crítica (727ºC), atingindo uma camada predeterminada a endurecer; em seguida é feito um resfriamento por jateamento de água. Existem dois métodos de aquecimento para têmpera superficial: circular e linear. A figura a seguir mostra esquematicamente uma peça submetida ao método circular combinado com o movimento progressivo giratório. A próxima figura mostra esquematicamente um dispositivo próprio para têmpera superficial linear. 39 Têmpera superficial por indução: o calor para aquecer a peça até a temperatura de austenitização pode ser gerado na própria peça por indução eletromagnética. A peça a ser temperada é colocada dentro de uma bobina. Um gerador fornece a corrente elétrica de alta freqüência, que cria um campo magnético na bobina. Esse campo magnético provoca um fluxo de corrente elétrica na peça (princípio de indução). O aquecimento da peça é gerado pela resistência do material ao fluxo da corrente elétrica. A figura a seguir mostra o processo de têmpera superficial por indução. Alcançada a temperatura de têmpera, resfria-se rapidamente a peça por meio de um jato de água ou óleo. Tratamentos termoquímicos Os processos termoquímicos são aplicados nos aços com baixo teor de carbono com o objetivo de aumentar sua dureza superficial e a resistência ao desgaste, mantendo o núcleo dúctil e tenaz. 40 Absorvendo um elemento endurecedor, o material modifica sua composição química superficial. A figura a seguir ilustra esta situação. Os tratamentos termoquímicos mais usados são: • cementação; • nitretação; • carbonitretação; • boretação. Esses tratamentos são feitos com substâncias sólidas, líquidas ou gasosas. Cementação Aplica-se a aços com até 0,30% de carbono e com baixo teor de elementos de ligas. A cementação é aplicada em peças como engrenagens, eixos, parafusos, etc., que necessitam de resistência mecânica e de alta dureza na superfície e núcleo dúctil com boa tenacidade. O aço é colocado em um meio rico em carbono e aquecido a uma temperatura acima da temperatura de transformação em austenita, pois neste estado ele consegue dissolver melhor o carbono. A profundidade de penetração do carbono depende do tempo de cementação. 41 O diagrama abaixo mostra a influência do tempo e da temperatura na penetração superficial de carbono. Como o processo se dá por difusão, a camada superficial apresentará grande saturação do elemento carbono na superfície, decrescendo em direção ao núcleo como mostra a figura abaixo. As temperaturas de cementação mais elevadas favorecem a penetração reduzindo o tempo de cementação, porém, conferem uma granulação mais grosseira, o que reduz os limites de resistência a tração, torção, flexão, etc. Os valores mais usuais de temperatura de cementação oscilam de 850ºC a 950ºC. 42 O tempo de cementação é determinado em função da espessura da camada cementada desejada, da temperatura e do meio cementante. Obviamente, quanto maior for o tempo e mais alta a temperatura, mais profunda será a camada. A tabela abaixo relaciona o tipo de cementação com o meios cementantes Tipo de cementação Meios cementantes Sólida (caixa) Carvão vegetal duro Carvão coque 20% Ativadores 5 a 10% Líquida (banho em sais fundidos) Cianeto de sódio Cianeto de bário Cianato de sódio Cianato de bário Outros sais Gasosa (fornos de atmosfera) Gás metano Gás propano, etc. Os aços, depois de submetidos à cementação, devem ser temperados; geralmente não se faz o revenido, mas, se for necessário aliviar as tensões residuais da têmpera, faz-se, então o revenido com temperatura entre 160º e 200ºC. Nitretação É um tratamento termoquímico de endurecimentosuperficial semelhante à cementação, que se caracteriza pela introdução superficial de nitrogênio no aço até uma certa profundidade, sob a ação de um ambiente nitrogenoso a uma temperatura determinada, para formar uma camada dura de nitretos. A nitretação é realizada com os seguintes objetivos: • obtenção de elevada dureza superficial, maior do que nos outros processos, exceto na boretação; • aumento da resistência ao desgaste; • aumento da resistência à fadiga; • aumento da resistência à corrosão; • melhoria de resistência superficial ao calor. 43 A nitretação é realizada com temperatura inferior à zona crítica, de 500ºC a 560ºC, tornando as peças menos suscetíveis a empenamentos ou distorções. Após a nitretação, não é necessário têmpera para produzir dureza na camada nitretada. A nitretação pode ser feita em meio líquido ou gasoso. O nitrogênio introduzido na superfície do aço combina-se com o ferro, formando uma camada de nitreto de ferro de elevada dureza. Na nitretação gasosa, o elemento nitretante é a amônia que se decompõe, parcialmente, fornecendo o nitrogênio. Nesse processo, o tempo de formação da camada é muito grande, como mostra o gráfico abaixo. Na nitretação líquida, o meio nitretante são banhos de sais fundidos, em geral cianetos e cianatos, responsáveis pelo fornecimento do nitrogênio. A nitretação líquida apresenta vantagens sobre a gasosa, pois confere ao aço camadas mais profundas em menos tempo e reduz a possibilidade de deformações. Oferece bons resultados também para os aços ao carbono. 44 O gráfico a seguir mostra a influência do carbono e dos elementos de liga na profundidade da camada nitretada. Nota-se que a profundidade de penetração é tanto menor, quanto maior o teor de carbono. Carbonitretação Processo de introduzir carbono e nitrogênio no aço a partir de uma mistura gasosa apropriada. O carbono provém de um gás rico em carbono e o nitrogênio a partir da amônia. É um processo misto de cementação a gás e nitretação a gás, e sua temperatura varia de 700ºC a 900ºC. O objetivo principal da carbonitretação é formar no aço uma camada resistente ao desgaste, de 0,07mm a 0,7mm, e é usada geralmente em peças de pequeno porte, como componentes de máquinas de escrever, carburadores, relógios e aparelhos eletrodomésticos. Boretação Processo mais recente entre os tratamentos superficiais nos aços carbono, aços liga, ferro fundido comum e nodular. 45 O processo consiste no enriquecimento superficial do aço com de boro e se efetua em meio sólido de carboneto de boro a uma temperatura de 800ºC a 1050ºC. O composto formado na superfície da peça boretada é o boreto de ferro, com dureza elevadíssima, que, medida na escala Vickers, alcança 1700 kgf/mm2 a 2000 kgf/mm2 (16.680 MPa a 19.620 MPa). A alta dureza da camada boretada oferece elevada resistência ao desgaste e resistência à corrosão. Essa camada é resultado do tempo de boretação que varia de 1 a 8 horas. O diagrama a seguir permite verificar a profundidade da camada boretada em função do tempo e da temperatura. O aço boretado é usualmente temperado e revenido. 46 47 Temperar e revenir Temperar e revenir são operações de tratamento térmico destinadas a aços carbono e aços ligados, conferindo ao aço tratado propriedades mecânicas de dureza e, consequentemente, resistência ao desgaste. Na operação de têmpera, o aço adquire elevada dureza acompanhada de tensões e fragilidades, que são características da estrutura martensítica, obtida pelo resfriamento rápido. O revenido reduz a fragilidade provocada pela têmpera, corrige a dureza e aumenta a tenacidade do aço temperado. Normalmente a operação de revenir acompanha a operação de têmpera. 48 Processo de execução: Têmpera 1. Ligue o forno. 2. Regule a temperatura de aquecimento. Observação A temperatura de aquecimento deve ser de 50ºC acima da linha A3 para aços hipoeutetóides e de 50ºC acima da linha A1 para aços hipereutetóides. 3. Coloque o material no forno. Observação O tempo de permanência na temperatura de aquecimento deve ser suficiente para a completa difusão dos elementos da liga na austenita. Como regra, adota-se um tempo de 2 minutos por milímetro de bitola. 49 4. Resfrie o material para efetivar a operação de têmpera. Observações • A velocidade de resfriamento está relacionada à severidade do meio (água ou óleo), ao tipo de aço, ao grau de agitação e ao volume da peça. • Resfriamento deve ser feito em um meio liquido para possibilitar a formação da martensita. • As peças devem ser mergulhadas sempre na vertical. • Deve-se agitar a peça ou o meio de resfriamento para garantir que a curva de resfriamento passe à esquerda da curva em “C” do aço em tratamento. Processo de execução: Revenir 1. Regule a temperatura de aquecimento. 50 Observação A temperatura de aquecimento varia em função do tipo de aço, da dureza e da característica mecânica desejada. • Cada material tem uma curva característica. 2. Coloque o material no forno. Observação O tempo de permanência na temperatura de aquecimento deve ser de no mínimo 60 minutos para peças com até 25mm de espessura. Para peças de massa elevada, acrescentar 60 minutos para cada 25mm de espessura. 3. Resfrie o material para efetivar a operação de revenido no aço temperado. 51 Observações • A velocidade de resfriamento deve ser média, normalmente ao ar tranqüilo. • Aços ligados ao cromo e níquel, principalmente, devem ser resfriados em água para evitar o fenômeno chamado de fragilidade ao revenido. 4. Repetir a operação até obter a dureza desejada. 52 53 Recozer aço O recozimento pleno ou simplesmente recozimento é um tratamento térmico que deve ser feito para recuperar e homogeneizar a estrutura cristalina do aço. Visa reduzir principalmente a dureza do aço, recuperando a usinabilidade em peças que sofreram têmpera, forjamento, laminação ou deformação a frio. O recozimento pleno é composto basicamente por três fases: aquecimento, tempo de permanência à temperatura e resfriamento. 54 Processo de execução 1. Ligue o forno. 2. Regule a temperatura de aquecimento. Observação A temperatura de aquecimento deve ser de 50ºC acima da linha A3 para aços hipoeutetóides e de 50ºC acima da linha A1 para aços hipereutetóides. 3. Coloque o material no forno. Observação O tempo de permanência na temperatura de aquecimento deve ser suficiente para a completa difusão dos elementos da liga na austenita. Como regra, adota-se um tempo de 2 minutos por milímetro de bitola. 55 4. Resfrie o material para efetivar o recozimento. Observações O resfriamento deve ser feito no próprio forno ou na câmara de esfriamento a uma velocidade de 25ºC por hora. Um método empírico consiste em recobrir as peças com cavacos de ferro fundido, cinza, cal virgem em pó ou qualquer material que seja mal condutor de calor para diminuir a velocidade de resfriamento. A microestrutura obtida no recozimento pleno é a perlita grosseira de baixa dureza, que é o constituinte ideal para melhorar a usinabilidade dos aços. 56 57 Macrografia Definições A macrografia consiste no exame do aspecto de uma peça ou amostra metálica, segundo uma secção plana devidamente polida e em regra atacada por um reativo apropriado. O aspecto, assim obtido, chama-se Macro-Estrutura. O exame é feito à vista desarmada ou com auxíliode uma lupa. A palavra macrografia é também empregada para designar os documentos que reproduzem a macro-estrutura, em tamanho natural ou com ampliação máxima de 10 vezes. Para ampliações maiores, emprega-se o termo micrografia, porque são, em geral, obtidas com o microscópio. Advertências oportunas Quando um material ou peça é entregue a um laboratório de ensaios a fim de ser examinado para esclarecer alguma questão, o encarregado de estudar o assunto precisa, antes de tomar qualquer providência, inteirar-se bem do que o interessado deseja e qual o fim visado. Uma vez ciente do que se trata e admitida a viabilidade do que é solicitado, o encarregado verificará se o material trazido e as informações prestadas são suficientes para poder delinear e executar o programa de ensaios que o caso requeira. 58 Esse trabalho preliminar de obtenção de informações se impõe na maioria dos casos, pois raras vezes o seu histórico é relatado espontaneamente e com clareza. Outras vezes o material é enviado ao Laboratório apenas acompanhado de um pedido para que sejam executadas determinados ensaios sem maiores esclarecimentos. Se o interessado não especificar as regiões da peça onde os ensaios devem ser feitos, pelo menos para que fim se destinam o encarregado não deve dar início a qualquer ensaio, sem antes o assunto ser discutido com o remetente. Isto tudo se explica, considerando que as pessoas que se dirigem a esses laboratórios nem sempre estão familiarizados com os métodos usados para solução destas questões. Daí suas dúvidas e hesitações quanto aos ensaios e análises que devem partir e quais os esclarecimentos que devem prestar. Cabe, por isso, ao engenheiro ou técnico orientar essas pessoas, esclarecê-las e às vezes mesmo ajudá-las a corrigir os elementos disponíveis para depois traçar, com maior segurança, o programa de ensaios julgados necessários. Se assim não proceder e executar estritamente aquilo que o interessado pede, terá freqüentemente a surpresa de vê-lo retornar, reconhecendo que não era bm aquilo que ele queria, mas sim tais e tais determinações e exames para este ou aquele fim. Há pois, toda a vantagem em derimir de início, o quanto possível essas dúvidas, antes de se perder tempo e trabalho em determinações que depois se revelam inaproveitáveis no caso. E não obstante esses cuidados, é muito comum, durante os ensaios, ir-se constatando fatos que exigem verificações complementares e não raros novos e mais amplos esclarecimentos do interessado sobre determinados ângulos da questão. 59 Estas palavras são de advertência aos encarregados de pesquisas para que se precavenham especialmente nos casos em que o programa de ensaios não possa ser pré-estabelecido com segurança. Em qualquer hipótese é altamente prudente proceder a um exame detido da peça sob diversos pontos de vista, como o aspecto da fratura, a existência de marcas de pancadas, gripamentos, vestígios de soldas, azulamentos por aquecimento, porosidades, rebarbas, trincas, polimentos locais, enferrujamento, corrosão, desgastes, marcas punçonadas, entornamentos, etc., antes de determinar cortes ou estrações de amostras ou de corpos de prova. A verificação posterior de fatos que deveriam ter sido notados antes de subdividir a peça, torna- se às vezes dificílima ou mesmo impossível. Na apreciação dos sinais encontrados, é preciso muita atenção para não confundir aqueles que possivelmente já existiam na peça, antes do evento que deu motivo ao estudo, e que podem conduzir a alguma pista para as investigações, com os que possam ter sido ocasionados pela aplicação de ferramentas para retirar a peça de onde estava instalada, ou, então, ocasionados por quedas, ou durante o transporte. É conveniente lembrar, também, que há peças que fracassam em virtude somente de um defeito local, acidental ou de construção, e outras, por culpa do material de que são feitas. Quando os ensaios revelam que o material é homogêneo, de composição química adequada e devidamente tratado e que se tenha certeza de que não trabalhou acima do seu limite de segurança, é lícito admitir uma causa local como origem do acidente. Recomenda-se ainda fotografar e desenhar a peça antes de iniciar seu seccionamento, servindo esses documentos para neles assinalar os pontos a que se tenha de fazer referência mais tarde. 60 Preparo de corpos de prova A técnica de preparo de um corpo de prova de macrografia abrange as seguintes frases: a) escolha e localização da secção a ser estudada; b) realização de uma superfície plana e polida no lugar escolhido; c) ataque dessa superfície por reagente químico adequado. a) Escolha e localização da secção a ser estudada Ai intervém o critério do operador, que será guiado em sua escolha pela forma da peça, pelos dados que ele quer colher e por outras considerações. Far-se-á de preferência um corte transversal, se o objetivo é verificar: • a natureza do material: aço, ferro pudiado; • se a secção e inteiramente homogênea ou não; • a forma e intensidade da segregação; • a posição, forma e dimensão das bolhas; • a forma e dimensões das dendritas; • a existência de restos do vazio; • se a peça sofreu cementação, a profundidade e regularidade desta; • a profundidade da têmpera; • se um tubo é inteiriço, caldeado ou soldado; • certos detalhes de soldas de chapas (secção transversal à solda); • no caso de ferramenta de corte, calçadas, a espessura e regularidade das camadas caldeadas (secção perpendicular a o gume; • a regularidade e a profundidade de partes coquilhadas de ferro fundido, etc...; 61 Um corte longitudinal será preferível quando se quer verificar, por exemplo: • se uma peça é fundida, forjada ou laminada; • se a peça foi estampada ou torneada; • a solda de barras; • como se processou um coldeamente de topo; • eventuais defeitos nas proximidades de fraturas; • a extensão de tratamento térmicos superficiais, etc...; O aspecto da secção longitudinal de barras com segregação depende da maneira pela qual o corte secciona esse defeito, como mostra o desenho da figura. Assim sendo, não é prudente concluir que uma barra apresenta uma segregação maior do que outra, conhecendo-se apenas sua secção longitudinal. A figura abaixo ilustra um caso desses. Nas macrografias representadas nas figuras, pode-se notar a diferença de aspecto em porcas cortadas transversal ou longitudinalmente provenientes de barras com segregação central. Nas peças moldadas, isto é, fundidas diretamente na sua forma definitiva, o corte é guiado apenas pelas forma de peça, preferindo-se contudo, aquele que interesse algum ponto vital, ou que seccione transversalmente suas arestas ou cantos vivos para se apreciar a forma da estrutura dendrítica nesses pontos ou a eventual existência de pequenas fissuras, que ai ocorrem com freqüência. 62 De um modo geral o exame macrográfico de uma peça moldada de aço, visa a dimensão e disposição de estrutura dendrítica, falhas, bolhas, porosidades, e às vezes alguma segregação. Dos ferros fundidos, só os mesclados e coquilhados apresentam interesse sob o ponto e vista macrográfico; nos primeiros pode- se apreciar as dimensões dos pequenos núcleos de ferro fundido cinzento, sua qualidade e medo de distribuição; nos segundos, a profundidade da parte coquilhada e a maneira como se processa a transição para o resto do material. A posição do corte nesses casos depende naturalmente da peça e do que se deseja verificar. b) Realização de uma superfície e polia no lugar escolhido. A obtenção da superfície compreende duas etapas: 1) a do corte ou do desbate e 2) a do polimento. 1. A do Corte é feita comserra ou com cortador de disco abrasivo (“cut-off”) e localiza a superfície a examinar; quando esse meio não é viável, recorre-se ao desbaste que é praticado com o esmeril comum ou com auxílio da plaina até atingir a região que interessa. Por meio de uma lima fina, ou então, uma fixaeira mecânica, termina-se esta primeira etapa, finda a qual, ter-se-á conseguido uma superfície plana bem retificadas com a orientação desejada. Todas essas operações deverão ser levadas a cabo com a devida cautela, de modo a evitar não só encruamentos locais excessivos, bem como acontecimentos a mais de 100% e peças temperada fenômenos que seriam mais tarde postos e evidência pelo ataque perturbado a interpretação da imagem. 2. O Polimento é iniciado sobre lixa, em direção normal ao risco de lima ou de lixa grossa já existentes, e é levado até o completo desaparecimento destes. Depois se passa para a lixa mais fina seguinte, mudando de 90o a direção de polimento e continuando-o igualmente até terem 63 desaparecido os riscos da lixa anterior, e assim por diante até papel de lixa metalográfica 0. O polimento (lixamento) é geralmente feito atritando a superfície sobre a lixa, mas quando a peça é grande, pode-se prendê-la numa morsa, com a face a polir voltada para cima, e passa-se então a lixa com auxílio de uma régua. É preciso ter cuidados especiais para não arredondar as arestas do corpo de prova, defeito muito freqüente quando o operador não tem ainda a necessária experiência. O polimento não deve ser levado até um acabamento especular, primeiramente porque torna o ataque mais difícil e irregular em virtude do reativo não “molhar” por igual a superfície, e em segundo lugar porque cria dificuldade por ocasião de ser fotografada, devido a reflexos prejudiciais. É conveniente passar um pano sobre a superfície em polimento cada vez que se vai mudar de lixa, para não contaminar a nova com resíduos da anterior. Findo o polimento, a secção é cuidadosamente limpa com um pano ou com algodão. Com a superfície nesse estado já se notam, por vezes, algumas particularidades como: restos do vazio, trincas, grandes inclusões, porosidades, falhas em soldas, mas é indispensável proceder-se a um ataque com reativos químicos para por em evidências as outras heterogeneidades. c) Ataque desta superfície por um reagente químico adequado. Quando uma superfície polida é submetida uniformemente à ação de um reativo, acontece, quase sempre, que certas regiões são atacadas com maior intensidade que outras. Esta diferença de atacabilidade provém habitualmente de duas causas principais: diversidade de composição química ou de estrutura cristalina. A origem dessas diferenças será explicada mais adiante. A imagem assim obtida constitue o “aspecto macrográfico” do material. 64 O contacto do corpo com o reativo pode ser obtido de três modos: 1. mergulhando a superfície polida numa cuba contendo certo volume de reagente é chamado por ataque por imersão; 2. estendendo uma camada de reativo sobre secção em estudo, com auxílio de um pincel ou chumaço de algodão e, acompanhando o ataque, regulariza-lo se for preciso – é o ataque por aplicação; 3. lançando mão de um papel fotográfico, convenientemente umedecido com um reagente apropriado aplicando-se sobre a superfície polida, e obtendo sobre ele um decalque de maneira como se encontram distribuídos os sulfuretos – é o método de impressão direta de Baumann. Conforme sua direção é profundidade, classificam-se os ataques em lentos ou profundos e rápidos ou superficiais. Estes últimos são os mais empregados. Os ataques lentos visam obter uma corrosão profunda do metal, com relevo acentuado. Empregam-se em alguns casos em que o reativo rápido não dá contraste suficiente como certas estruturas fibrosas. O ataque lento pode durar horas e mesmo dias. O principal reativo utilizado nesse gênero de ataque (para produtos siderúrgicos) é o ácido sulfúrico a 20% em água. Por meio do ataque rápido, com reativos próprios para esse fim, obtém-se o resultado desejado em poucos minutos. Embora a corrosão seja apenas superficiais, produz, entretanto, imagens suficientemente visíveis. Entre esses os mais correntes são: 1. Reativo de IODO; Iodo sublimado 10g Iodeto de potássio 20g Água 100g 65 As imagens produzidas por este reativo, como também por alguns outros, são de duas ordens: I. Imagens que aparece com o simples ataque da superfície e desaparecem quase por completo com um leve repolimento subseqüente: alterações locais ou parciais de origem térmica, como têmperas brandas, têmperas seguidas de revenido, zonas alteradas pelo calor de soldas sem recozimento posterior; granulações grosseiras visíveis à vista desarmada, zonas mais carbonetadas, ou fosforosas na segregação, partes cementadas, etc. II. Imagens que se revelam melhor ou só aparecem após um leve repolimento da superfície atacada: segregação, bolhas, estruturas dendríticas, linhas de caldeamento, texturas fibrosas, etc. em geral estas imagens se tornam mais contrastadas se o leve repolimento ainda for seguido de um ataque de muito curta duração, mais ou menos da ordem de dois segundos, com remoção imediata do reativo sob um jorro de água ou pela sua imersão e agitação numa cuba com água limpa. Algumas páginas adiante voltar-se-á a tratar da ação deste reativo mais pormenorizadamente, porque foi o preferido para a obtenção de quase todas as macrografias deste trabalho. Quando se tratar de reprodução fotográfica dessas duas ordens de imagens serão indicadas as maneiras mais adequadas de iluminá-las. 2. Reativo de ácido sulfúrico: Ácido Sulfúrico 20cm3 Água 100cm3 Este reativo empregado a quente, quase fervente, produz um ataque enérgico em poucos minutos, principalmente se o material contiver muitas inclusões. A frio, o ataque demora muitas horas. As chamadas “fibras” do material são postas bem em evidência com este reativo. 3. Reativo de Heyn: 66 Cloreto cupro-amoniacal 10g Água 120g Ao ser retirado do reativo, o corpo de prova está coberto com uma camada vermelha de cobre pulverulento, que é preciso remover com auxílio de um pouco de algodão sob um jorro de água; se a camada for excessivamente aderente, lava-se a superfície, com uma solução de citrato de amônio em água em água contendo um pouco de amoníaco. Este, como outros reativos cúpricos, destina-se principalmente a revelar as zonas ricas em fósforo. 4. Reativo de ácido clorídrico: Ácido clorídrico 50cm3 Água 50cm3 Este reativo é aplicado a quente, recomendando-se seu emprego nos casos em que se torna necessário revelar a estrutura certos aços inoxidáveis, como o aço 18-8. 5. Reativo de FRY: Ácido clorídrico 120cm3 Água destilada 100cm3 Cloreto cúprico 90cm3 Este reagente é aconselhado para revelar linhas de deformação em material pouco encruado “linhas de Luders”. Método de Baumann. No método de impressão direta de Bauman emprega-se uma folha de papel fotográfico comum, de brometo de prata de preferência mate (sem brilho), que é colocada mais ou menos um minuto numa solução aquosa de ácido sulfúrico (1 a 5%) na ocasião de ser usada. A folha Assim preparada é retirada da solução e depois de se deixar escorrer um pouco o excesso de líquido, é aplicada sobre a superfície polida, com as devidas precausões para assegurar um contacto perfeito, sem deslocações, e evitar a interpretação de bolhas de ar. Depois de 5 minutos é o papel retirado e 67 mergulhado em fixador comum de hiposulfitodes sódio, durante uns dez minutos e em seguida lavado em água corrente durante uma hora. Todas essas operações podem ser feitasá luz do dia. As regiões ricas em sulfuretos dão manchas pardas ou pretas porque o ácido sulfúrico decompõe essas inclusões, com desprendimento de gás sulfídrico (H2S) que, por sua vez, reage com o brometo de prata da camada sensível de papel fotográfico, produzindo sulfureto de prata fica impregnada na gelativa do papel. O fixador de hiposulfito elimina a parte do brometo não atacada e deixa inalterada a parte atacada. Habitualmente há muita semelhança entre a imagem obtida por este processo e a obtida pelo reativo de iodo, quanto à forma da segregação, bolhas, estruturas fibrosas, enfim, todas as imagens de que os sulfuretos participam. Regiões com teorias diferentes de carbono, manganês, silício ou fósforo, regiões somente ricas em fósforo ou que sofrerem alterações estruturas de origem térmica não são detectáveis pelo processo de Baumann. Não há uma relação bem definida entre a intensidade das imagens produzidas pelo impressão de baumann e o teor de enxofre, mesmo mantidas constantes todas as condições do ensaio: concentração da solução, temperatura ambiente, duração de aplicação, qualidade do papel, etc; entretanto, de um modo geral, impressões muito escuras ou muito claras correspondem, respectivamente a materiais com muito ou pouco enxofre. Cabe aqui, porém, uma advertência séria: nos produtos laminados nos quais nos sulfuretos tomam disposição de estraias muito alongadas, verificar-se à que a impressão obtida em secção transversal é sempre muito mais intensa do que a obtida em secção longitudinal, embora o material seja o mesmo e homogêneo. A figura abaixo explica o fenômeno: na secção tranversal o reativo atinge os filetes de impurezas de topo e penetra 68 profundamente por eles, desenvolvendo assim maior quantidade de H2S do que no caso da secção longitudinal. Por esta razão, não se pode comparar a secção longitudinal de um material com transversal de outro. E se quiser fazer uma segunda impressão de Baumann ou extrair um corpo para exame micrográfico, será preciso desbastar muito mais a secção transversal do que a longitudinal para se obter uma nova superfície realmente não afetada pelo ensaio anterior. d) Precauções Não é fora de propósito chamar aqui a atenção do leitor para certos descuidos no polimento e no ataque, que podem conduzir a erros na apreciação do aspecto macrográfico de uma secção. O esmerilhamento, o lixamento mecânico, o corte com o disco abrasivo (“cut-off”) feitos sem certos cuidados podem provocar têmperas, revenidos ou encruamentos locais, que o reativo porá em evidência e que nada tem a ver com a textura da peça examinada. É preciso um cuidado muito grande no enxugamento do corpo de prova, quando existirem na face em estudo porosidades, trincas, cavidades, restos de vazio que possam reter um pouco de reativo ou água, porque o líquido que ficar retido nessas reintrâncias, vem paulatibamente à superfície e espalha-se em torno de sua origem, formando depois estrias pelo seu arrastamento por qualquer pano ou lixa que se passe posteriormente. 69 A falta de imediata limpeza e repolimento da peça da qual se acaba de tirar uma impressão de baumann, faz com que o ácido sulfúrico remanescente ataque desigualmente a superfície, a qual apresentará numerosas manchas no ataque posterior com reativo de iodo. Quando a superfície vai ser atacada, deverá estar o mais limpa possível; nem os dedos, ainda que secos, devem toca-la. Convém remover quaisquer substâncias oleosas ou graxas que se encontram nas faces laterais do corpo de prova e que possam entrar em contacto com o reativo e em seguida contaminar a superfície em estudo. Empregando-se reativos ácidos em aplicações, é preciso ter cuidado com as pinças ou suporte de metal diferente daquele em ataque, porque, se encontram em contacto com o reativo podem contaminá-lo e, pela etletrolise, criar um depósito estranho no corpo de prova. Durante os ataques com ácidos, convém agitar freqüentemente o corpo de prova ou o reativo para dispersar as bolhas que se vão formando em conseqüência das reações químicas, pois, nos pontos onde as bolhas aderem á superfície, o ataque não prossegue. Um polimento muito brilhante dificulta o ataque principalmente porque o reativo não “molha” homogeneamente a superfície, e, cada vez que se retira o corpo de prova do reativo, ou se tenta espalhar este com um chumaço de algodão, verifica-se á que a tensão superficial do líquido o fará contrair-se em gotas debaixo das quais o ataque prossegue, enquanto o resto da superfície permanece livre de reativo. Bolhas de ar arrastadas mecanicamente e que permanecem aderentes á superfície durante o ataque de imersão produzirão áreas circulares não atacadas ou com muito menos ataque do que o resto da secção. 70 Algumas considerações sobre o comportamento de um metal Os produtos siderúrgicos comuns, por motivos vários, apresentam certas heterogeneidades, nem sempre fáceis de serem evitadas, e das quais algumas foram apontadas nesta parte referente à macrografia. Esses defeitos criam zonas frágeis ou de resistência mais baixa, cujos inconvenientes não costumam ser muito sérios nas peças submetidas somente a esforços estáticos, mas naquelas que se destinam a suportar solicitações dinâmicas, como eixos de máquinas, trilhos de estradas de ferro, etc.; sua influência nesta se faz sentir-se de modo acentuado. É comum pequeninas fissuras originarem-se nos pontos mais fracos, e, uma vez iniciadas, propagar-se através de toda a secção sob a influência do Choque ou das tensões repetidas, dando como influência, as “rupturas por fadiga”, altamente perigosas, por passarem geralmente desapercebidas até a peça se romper bruscamente. Além disso, certos efeitos acarretam uma diminuição na resistência ao desgaste, ou ao esmagamento, fazendo com que as peças tenham sua vida abreviada, tornando mais freqüentes as substituições. Não se deve concluir daí que, sempre que uma peça se rompa ou não corresponda às expectativas, se deva procurar o motivo nos defeitos do metal. Inúmeras vezes é devido a cargas excessivas, provenientes de enganos de cálculos ou descuidos de manobra, que de por si, podem acarretar diretamente a ruptura ou acelerar a fadiga do metal, por melhor que seja; outras vezes a peça se rompe por ser inadequado o material ou, então, devido a erros de construção, formas mal projetadas, etc., que exponham as peças a tensões e choques demasiado violentos ou desgastes excessivos. Fora dessas hipóteses, é lícito suspeitar de possíveis defeitos do metal. Destes, alguns são detectáveis pelo macrografia, outros só o exame ao microscópio pode revelar. A não ser em alguns casos típicos, na maioria das vezes, a pesquisa não pode. 71 Impurezas nos aços Os aços comuns contêm sempre, além do carbono, pequenos teores de silício, fósforo, enxofre, manganês, às vezes cobre, e traços de outros metais e metalóides. Essas impurezas podem combinar-se entre si (MnS, SiO2 MNO, Al2O3) ou então com o ferro (FeSi, Fe3P, FeS) ou com o carbono (Mn3C). De um modo geral elas se apresentam sob três formas: a) Como inclusões: MnS, FeS, SiO2, FeO, Al2O3; b) Como constituintes de um autético: Fe3P; c) Como soluções sólidas no ferro (FeSi, Fe3P) ou na cementita (Mn3C). As inclusões são vistas ao microscópio, já antes do ataque os eutéticos somente depois do ataque; e as soluções sólidas não são detectáveis com os recursos da micrografia, isto é diante de uma estrutura granular homogênea não se pode dizer se são grãos de metal puro ou de solução sólida. Por isso não se pode avaliar o teor de silício, fósforo, ou manganês pela micrografia. Algumas inclusões são facilmente identificadaspela sua cor, forma, aspecto, etc., outras só o são após ataque feitos com vários reativos e segundo determinado método, quase sempre muito trabalhoso. A influência das impurezas dissolutas dependentes de sua natureza, quantidade e distribuição e, quanto às inclusões, além desses fatores, deve-se ter ainda em conta o tamanho e a forma das partículas. As impurezas dissolvidas e as inclusões afetam menos as propriedades do metal quando estão homogeneamente distribuídos do que quando estão segredas ou agrupadas. Esta última disposição é freqüente, como aliás ficou claramente exposto e ilustrado do capítulo II (Macrografia). É oportuno repetir aqui que a análise química (habitualmente feita com amostra médias do material) pode dar resultados que satisfazem plenamente as exigências das especificações e, no 72 entanto, o material apresentar pontos fracos em conseqüência de concentrações acentuadas de impurezas em determinados lugares. E se estas áreas estiverem situadas em regiões sujeitas e tensões mais elevados, podem estas tensões, mesmo sem ultrapassar os valores admissíveis para o material são, ser demasiadas para a resistência dessas regiões. Daí a possibilidade do aparecimento de pequenas fissuras locais, que com a repetição dos esforços, se propagam paulatinamente através de toda a secção, reduzindo-a sucessivamente até torná-la insuficiente. Ocorre então a ruptura brusca da peça e também inesperada porque, na maioria das vezes, a fissuração se desenvolve no interior do material sem nenhum vestígio perceptível externamente. Muitas das chamadas rupturas por fadiga se originam assim. O aparecimento de partículas de escória não é comum nos aços mas é característico do ferro puldado e é um dos elementos que serve para a sua identificação. Fósforo: Quando o teor desse elemento ultrapassa certos limites, constitue esse elemento um dos mais nocivos que aparece nos aços, devido à fragilidade que lhes comunica a temperatura ambiente (cold shortness). A fragilidade é agravada no caso de aços duros, isto é, de teor de carbono mais elevado. Por isso as limitações impostas ao fósforo para esses aços são mais severas. As especificações da ASTM restringem os teores máximos admissíveis, aos valores abaixo, conforme o fim a que se destina o material. Trilhos Eixos Estruturas de pontes Estrutura de construção e barras de concreto armado 0,04% 0,05% 0,06% 0,10% Nos aços o fósforo localiza-se ferrita formando com esta solução sólida geralmente imperceptível ao microscópio principalmente quando se apresenta distribuindo em estiras longitudinais. 73 Quando o teor do fósforo ultrapassa 0,1% o aço começa, ás vezes, a apresentar texturas grosseiras persistentes, rebeldes aos tratamentos térmicos que visam torna-las mais finas. Chega- se a observar, no interior dos grãos de ferrita, uma espécie de desenho de contornos côncavos, como se vê nas figuras. Com teores mais elevados ainda como por exemplo, 0,4%, pode ocorrer a formação de um eutético que entra em fusão em torno de 1150o. Este fenômeno traz como conseqüência a ruptura ou esboroamento do aço, e este for deformado a essa temperatura. Além da influência sobre a fragilidade, acima referida, o fósforo aumenta um pouco a dureza, a resistência e diminui a ductilidade do aço. Melhora a resistência à corrosão e facilita como o enxofre, a usinabilidade. Enxôfre: O teor máximo de enxofre geralmente tolerado nos aços é de 0,05%. A presença dessa impureza é facilmente notada ao microscópio, pois forma inclusões de sulfureto, que são visíveis mesmo antes de qualquer ataque. O enxofre combina-se com o manganês e com o ferro formado sulfureto de manganês e sulfureto de ferro. O de manganês solidifica-se a cerca de 1600oC e o de ferro, a cerca de 1000oC no eutético com o ferro. Estes dois sulfuretos são, entretanto, parcialmente solúveis um no outro de modoque formam um sulfureto de estrutura complexa, conforme suas proporções, que se solidifica a temperaturas intermediárias entre as citadas. Como o enxofre tem maior afinidade pelo manganês do que pelo ferro, na solução sólida dos dois sulfuretos haverá predominância do de manganês, sempre que a percentagem deste seja suficientemente alta. O contrário se dará se o teor de manganês, for muito baixo ou insuficiente. No primeiro caso, as inclusões já se solidificam a temperatura muito alta, próxima á de solidificação do próprio aço e à temperatura em que se lamina ou se forja o metal, esse 74 sulfureto é relativamente plástico, deformado e amolgando-se no sentido em que o material é trabalhado. Sua presença no aço não é por isso, muito nociva. No segundo caso, em que predomina o sulfureto de ferro, verifica-se que acima de 98oC pode ocorrer a fusão do eutético, Fé-FeS. Se o aço for de formato acima dessa temperatura, isto é se for laminado, forjado ou simplesmente vergado, romper-se-á com surpreendente facilidade. É a fragilidade a quente (red-short- ness). Aços com teor propositamente alto de enxofre (0,10 a 0,20%) mas com teor também alto de manganês, até 1,65% (para evitar a formação de FeS), são empregados na fabricação de peças cujo trabalho ao torno, freza, tarraxa, etc., deva produzir cavacos curtos e quebradiços, que não dificultam a prefeita usinabilidade das peças, permitindo a obtenção de superfície bem lisas. Esses aços são conhecidos por “free cutting steels” (aços de corte fácil). O enxofre é uma impureza muito difícil de ser eliminada; atenua- se sua influência nociva dando ao aço um teor de Mn tal, que sulfureto que se forma seja rico em sulfureto de manganês. Nos aços comuns essa condição está habitualmente assegurada, porque o teor de manganês é da ordem de dez vezes o do enxofre. Teoricamente bastariam cerca de duas vezes. As inclusões de sulfureto de manganês podem aprensentar-se micrograficamente sob várias formas, como polígonos, quando se solidificam entes do aço, ou disposições arborescentes, quando se formam nos espaços enterdendríticos, (especialmente) digo especialmente nos produtos moldados ricos em S e MN. Sua colocação é cinzenta-escura, como ardósia, fosca e em geral, homogênea. Às vezes, se observa, nas inclusões de forma globulas, um núcleo escuro que pode ser uma particulade óxido. Na secção longitudinal dos aços muito 75 laminados, as inclusões aparecem com forma lenticular ou como estrias longas e delgadas. As inclusões ricas em sulfureto de ferro são caracterizadas pela sua cor amarela e seus contornos exteriores quase sempre côncavos (forma que freqüentemente apresentam os constituintes que se solidificam por último), emitindo às vezes prolongamentos que tendem a envolver os grãos. Com grande aumento, e por vezes mesmo com 200 aumentos, nota-se a textura binária ou então eutectiforme dessas inclusões. Este sulfureto raramente aparece nos aços comuns. O sulfureto de manganês contendo quase sempre certa quantidade de sulfureto de ferro em solução, solidifica-se a temperaturas mais baixas do que o sulfureto de manganês puro. Em conseqüência, o sulfureto se concentra em regiões que se solidificam mais tarde e que são por isso mais ricas em fósforo. Daí a freqüência com que essas duas impurezas são encontradas nas mesmas regiões. Ao atravessar a zona crítica, a ferrita começa a formar-se de preferência nessas regiões, porque o fósforo eleva a linha A3 a precipitação é ainda facilitada pela ação escorvadora das inclusões de sulfureto. É a razão pela qual é tão comum observar-se nos aços carbonos esfriados lentamente, este tipo de inclusões contornado por ferrita. Quando as inclusões se solidificam a temperatura muito mais altas, como por exemplo, no caso de estria negra de
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