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Trabalho Psicologia juridica

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Introdução
No Brasil e no mundo, observa-se uma efetiva participação do profissional da psicologia no contexto do judiciário. Este profissional é reconhecido como Psicólogo Jurídico. Diferenciando-se na categoria não só pelo contexto em que está inserido, mas pela sua técnica especializada, a qual exige capacitação e conhecimento da ciência jurídica, conquista profissional que o qualifica e o restringe. A questão é como atua, na prática, esse profissional?
Afinal, o encontro prático das ciências humanas e jurídicas pode constituir um grande problema. No âmbito do judiciário e diante da ótica de cada ciência, os conflitos humanos são uma realidade que produz enormes e diferentes questionamentos. Onde a visão do todo pode ficar comprometida, se camuflando por um discurso social e uma incompreensão semântica, em que a verdade dos fatos, juridicamente relevantes, se perde. E assim, falando línguas diferentes, erros inferenciais podem ser produzidos e a informação distorcida, acarretando falhas interpretativas da qual ninguém se dá conta, a não ser, claro, a vítima, o autor e o grupo social em que se inserem.
Para tanto é necessário discutir as questões entre o Direito e a Psicologia, compreendendo que essas questões estão em seus fundamentos, princípios e matrizes teóricas, e para sua aplicação prática é necessário compreender as diferenças. Um breve estudo axiológico permite demonstrar a diferença do Direito finalista e da Psicologia causalista, um pertencendo ao mundo do dever ser (mundo ideal), e a outra do ser (realidade social). Mundos aparentemente estranhos, em que o homem é o ator principal.
Primeiramente, há de se considerar que a intervenção psicológica e a intervenção judicial são diferenciadas. Ao se inserir em um contexto jurídico, não terapêutico, o psicólogo pode enfrentar um problema de identidade, tornando sua atuação inadequada. Observa-se, por outro lado, que o Direito não opera com conjecturas, não pode o juiz proferir decisão por mera presunção. A certeza da autoria dos fatos e da culpabilidade do agente é necessária, tanto na área cível como na criminal as responsabilidades dependem de provas, as quais precisam ser firmes e seguras a ponto de ensejar a decisão. O problema então é: o que são provas, para a Psicologia e para o Direito? E, como o profissional da psicologia pode auferir valor a prova jurídica? Qual o espaço ocupado por esse profissional e como considerar sua participação no sistema jurídico, considerando que a psicologia jurídica só existe a partir de um sistema jurídico?
Diante do dilema, iremos intercambiar princípios jurídicos e teorias psicológicas. Abordar leis e doutrinas, esclarecendo a lógica das provas, o significado dos indícios e vestígios como verdade real. A pesquisa, portanto, tem como objetivo geral orientar a atuação do Psicólogo Jurídico na busca da prova como verdade objetiva. Compreendendo o que é verdade para o Direito e tendo a conduta humana como ponto de referência das investigações. Em decorrência, como objetivo específico pretendeu-se esclarecer a atuação do psicólogo no contexto judiciário; descrever a realidade jurídica através do olhar psicossocial; descrever a realidade psicossocial através do olhar jurídico; e então comparar a visão dos Juízes e dos Psicólogos e, por último, compreender na prova objetiva os elementos subjetivos da investigação.
A pesquisa empírica realizou-se a partir da elaboração de um questionário unificado e harmônico, construído sobre parâmetros psicojurídicos (TRINDADE, 2009), no qual, combinando perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha, foi aplicado em uma amostra selecionada por conveniência, juízes e psicólogos jurídicos, em exercício no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Possibilitando comparar a Psicologia e o Direito na perspectiva pessoal desses profissionais. Por fim, procedeu-se à análise e discussão dos resultados, bem como as conclusões e recomendações para futuros estudos, salientando as limitações do trabalho realizado, que se caracteriza como estudo exploratório.
O que é Psicologia social 
A psicologia social começou a desenvolver-se em inícios do século XX nos Estados Unidos da América. Trata-se de um ramo da psicologia que parte do princípio de que existem processos psicológicos que determinam a forma como funciona a sociedade e a forma mediante a qual tem lugar à interação social. Estes processos sociais são os que determinam as características da psicologia humana.
A psicologia social estuda a determinação mútua entre o indivíduo e o seu meio social. Posto isto, esta ciência analisa os aspectos sociais do comportamento e do funcionamento mental.
Podem-se mencionar várias abordagens dentro da psicologia social, como a psicanálise, o condutismo, a psicologia pós-moderna e a perspectiva dos grupos.
A psicanálise entende a psicologia social como sendo o estudo das pulsões e das repressões coletivas, que se originam no interior do inconsciente individual para influir no coletivo e no social.
A psicologia, como ciência e profissão, vem trabalhando a questão da subjetividade e da complexidade. Entretanto, pouco tem produzido sobre a questão da subjetividade dos próprios psicólogos e os processos que envolvem as identidades sociais dos mesmos. Fatores sociais vêm contribuindo para isso, e a psicologia vem se apresentando como uma ciência fragmentada que possui linhas de conhecimento diferentes e divergentes (NASCIMENTO, MANZINI e BOCCO, 2006).
Trindade (2009) sustenta que a Psicologia tem um longo passado e uma curta história. Afirma que é muito jovem e que fala muitas línguas. Thá (2006) traduz o drama contemporâneo dos profissionais da psicologia, que se inicia na academia quando se questionam sobre as diversas teorias apresentadas. Como se identificar? Qual das teorias corresponde à descrição da realidade profissional? Afinal, o que se espera é aprender uma profissão, exercê-la e, com esta, se sustentar.
No Brasil, a profissão de Psicólogo foi regulamentada somente em 1962, pela lei 4.119. Diferentemente do que era quando surgiu como ciência independente (final do século XIX), o foco atual é compreender o sujeito biopsicossocial e sua rede complexa que envolve áreas diferentes, transdisciplinares. Observa-se, então, o surgimento de “projetos que tomam a própria prática do psicólogo como questão” (NASCIMENTO, MANZINI e BOCCO, 2006 p. 15). Em 2001 a APA apresentou uma lista de 53 divisões da psicologia aplicada: Clinica, Educacional, Saúde, Social, Hospitalar, Jurídica e outras (TRINDADE, 2009).
O que é Psicologia jurídica
A psicologia jurídica compreende o estudo, a explicação, a avaliação, a prevenção, a assessoria e o tratamento dos fenómenos psicológicos, comportamentais e relacionais que incidem no comportamento legal das pessoas. Para tal, recorre aos métodos próprios da psicologia científica.
A psicologia jurídica é, em suma, uma área de trabalho cujo objeto de estudo é o comportamento dos atores jurídicos no âmbito do direito, da lei e da justiça. Trata-se de uma disciplina reconhecida por associações e organizações de todo o mundo.
Entre as funções do psicólogo jurídico, destacam-se a avaliação e o diagnóstico das condições psicológicas dos atores jurídicos; a assessoria aos órgãos judiciais relativamente a questões próprias da sua área; a concepção e a realização de programas para a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a integração dos atores jurídicos na comunidade ou no meio penitenciário; a formação de profissionais do sistema legal em conteúdos e técnicas psicológicas úteis ao seu trabalho; as campanhas de prevenção social contra a criminalidade; e a assistência às vítimas para melhorar a sua qualidade de vida.
Autores como Sabaté (1980, apud Trindade, 2009), consideram que a psicologia jurídica na prática é um campo a ser explorado e construído. Para Jesus (2010 p.52) a psicologia jurídica constitui-se de um “campo especializado de investigação psicológica, que estuda o comportamento dos atores jurídicos no âmbito do direito,da lei e da justiça.” Sabaté (1980, apud Trindade, 2009 p. 24), estabelece três grandes caminhos para o que chamou de método psicojurídico, são eles:
A psicologia do direito, cujo objetivo seria explicar a essência do fenômeno jurídico, isto é, a fundamentação psicológica do direito uma vez que todo o direito está repleto de conteúdos psicológicos. Essa tarefa de investigação psicológica do direito recebeu a denominação de psicologismo jurídico.
A psicologia no direito, que estudaria a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulos vetores das condutas humanas e nesse aspecto, a psicologia no direito é uma disciplina aplicada e prática. 
A psicologia para o direito, a psicologia jurídica como ciência auxiliar do direito, tal como a medicina legal, a engenharia legal, a economia, a contabilidade, a antropologia, a sociologia e a filosofia, entre outras. (TRINDADE, 2009)
No dizer de J. Selosse apud Doron & Parot (2006, p.629) a atuação da Psicologia na justiça se subdivide em três possiblidades:
Psicologia judiciária que trata dos atores dos processos: acusado, vitima, acusador, testemunha; e pelos métodos de informação de instrução e confissão, e ainda busca entender a lógica de atuação dos juízes e seus auxiliares. A psicologia criminal que se apropria da investigação e análise do indivíduo delinquente, sua conduta e os processos criminógenos, e a Psicologia legal que, estuda as significações e conceitos jurídicos penais e civis nos quais se baseiam os processos, compreendendo os princípios jurídicos que orientam a tomada de decisão, como: responsabilidade culpa periculosidade, interesse das partes, autoridade legal (DORON & PAROT, 2006).
Alguns autores buscaram distinguir a psicologia jurídica e a psicologia forense/judicial, (Sabaté, 1980, Garzón 1990 apud Trindade, 2009) historicamente fez sentido essa distinção. No entanto, atualmente, segundo Trindade (2009) o termo psicologia jurídica, engloba qualquer prática aplicada da ciência e da profissão de psicologia para os problemas e questões legais. Jesus (2010) segue o mesmo raciocínio, afirmando que essa nomenclatura seria mais abrangente, pois o termo forense estaria restrito ao fórum. Apesar disso, as psicologias jurídicas, segundo Clemente (1998, apud Trindade 2009) são citadas de acordo com o tema que abordam: Psicologia judicial, penitenciária, criminal, civil e família, do testemunho, da criança e do adolescente infrator, policial, da vitima, e outras.
Diante da proposta de pesquisa, fazem-se necessárias algumas conceituações que podem parecer elementares ao olhar jurídico, mas que seria o cerne das distorções interpretativas ocorridas entre a psicologia e o direito: a falta do enfoque jurídico. Caires (2003, p. 30) relata sua experiência de atuação como psicóloga na área jurídica, ressaltando que:
A dificuldade em perceber que o esforço em me fazer entender, esmiuçando as correlações clínicas, neurofuncionais e psicodinâmicas, não era nem louvável e sequer sinal de competência e, pior, gerava entendimentos confusos e passíveis de distorção por parte dos profissionais solicitantes do exame. Não pude compreender naquele momento, é que os juristas não eram da área da saúde e, por isso, não podiam e nem precisavam entender a clínica do sujeito.
Assim, a autora descreve e reforça a necessidade do conhecimento jurídico para a prática da psicologia jurídica. Procurando não se esquecer de que a pobreza das relações interdisciplinares constitui o grande problema das ciências humanas, sendo relevante destacar as considerações de Trindade (2009 p.23).
Considerando que somente no contexto do direito é que a psicologia jurídica se realiza, torna-se necessário compreender esse contexto. Não isoladamente, mas conjuntamente com os operadores do direito, intercambiando. Para tanto, é preciso conceituar o encontro da Psicologia com o Direito. Encontro que na prática favorece o desafio da objetividade científica e da realidade jurídica, capaz de afastar o olhar terapêutico e lançar um olhar investigativo sobre o fato jurídico.
Psicologia e Contexto jurídico
O homem é um ser que pensa, tem consciência e se move num contexto histórico-cultural. De acordo com Longo (2004 p.25) “O homem constrói o mundo com sua inteligência, com seus braços, com sua vontade determinante e com seu Deus”. Nesse contexto, interage com o outro, inicialmente com sua família e posteriormente com os outros membros da sociedade da qual faz parte. Este convívio com o grupo social proporciona a construção das identidades e das regras. Onde quer que se encontre um agrupamento social, onde quer que o homem esteja, por mais rudimentar que seja o fenômeno jurídico esta presente (MONTEIRO, 2003).
É sabido que as sociedades humanas se encontram ligadas ao direito, o homem já nasce sujeito de direitos, é uma necessidade fundamental. Dele recebe estabilidade e a própria possibilidade de sobrevivência, pois encontra as garantias das condições necessárias à coexistência social. Estas são definidas e asseguradas pelas normas, que criam a ordem jurídica dentro da qual o Estado organizado, sociedade e indivíduo compõem o seu destino. (BRUNO, 1969).
Pereira (2001, p.4) afirma que “há e sempre houve uma norma, uma regra de conduta, pautando a atuação do indivíduo, nas suas relações com os outros indivíduos”. O autor acrescenta que quando “um indivíduo sustenta suas faculdades e repele agressão, afirma ou defende os seus poderes, diz que defende o seu direito. E, quando o juiz dirime os conflitos invocando a norma, diz-se que ele aplica o direito”. Existindo o que se pode chamar de realidade jurídica, reconhecível no comportamento humano. Monteiro (2003) corrobora dizendo que existem outras normas de convivência impostas na sociedade, que a rigor não se confundem com as jurídicas, regras morais. Ambas se constituem como normas de comportamento.
Assim, de acordo com Pereira (2001), o anseio por justiça integra-se na consciência do indivíduo, e o poder público o reveste de sanção possibilitando a convivência individual e coletiva. Estabelece o comportamento social, sem o qual não haveria a possibilidade do jurídico, pois para a vivência individual ninguém poderia exigir o seu direito sem limitar o direito do outro, sendo, portanto, necessário suportar restrições à própria conduta. Pode-se, então, afirmar que “o direito é o principio de adequação a vida social”, ou seja, somente no meio social haverá o direito. (PEREIRA 2001. p. 5).
De acordo com Montoro (1981), axiologia é a ciência dos valores. Estes representam os princípios que orientam a conduta do homem e da sociedade. Onde quer que se manifeste o direito, encontra-se uma ação, ou seja, um fato da natureza que é ao mesmo tempo um fato de vontade, sendo o direito, portanto, a expressão da vontade humana, da ação do homem. Como o direito não funciona como um todo fechado, o conjunto das normas jurídicas é denominado de ordenamento jurídico, sendo essa a expressão formal do direito. (MONTORO, 1981, REALE, 1981, FRIEDE, 2002).
Ao ser aplicado, o direito utiliza critérios de interpretação: gramatical, lógico, sistemático e axiológico (FRIEDE, 2002). Sauvigny (apud Monteiro, 2003 p.35) diz que “interpretar é a reconstrução do pensamento contido na lei”. A lei é sempre clara, e deve ser aplicada como soam as palavras, determinando seu verdadeiro sentido e procurando o que quis dizer o legislador (FRIEDE, 2002).
É importante saber utilizar a linguagem adequada no momento adequado. A clareza das ideias está relacionada com a clareza e precisão das palavras. Qualquer sistema jurídico para atingir plenamente seus fins deve cuidar do valor “nocional” do seu vocabulário, e estabelecer relações semântico-sintáticas harmônicas e seguras na organização do pensamento (NARDINI & RAMOS).
Segundo os autores, o pensamento humano evoca ações que expressam estados ou qualidades, que justificam determinadas condutas. E, para simbolizar o agir e o sentir, a linguagem é fundamental, pois permite estabelecer as relações psicológicas e traduzir o significadodas palavras e a realidade ali representada. Para realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe, seleciona e organiza as palavras conforme a sua vontade. Todo este trabalho de seleção e organização não é aleatório, está ligada a intenção do sujeito (NARDINI & RAMOS).
A realidade jurídica: penal, civil e familiar, tem que partir de ações, e não das fontes psicológicas. Pois as ações são o objeto de conflito, e não as resoluções. A tipicidade é o ponto de partida e, devem ser traduzidas de forma coerente e concisa, dentro de um determinado contexto jurídico. Etimologicamente, o termo contexto pode ser conceituado como “conjunto de circunstâncias que acompanham um acontecimento, exemplo: julgar um fato em seu contexto histórico”. O adjetivo jurídico é relativo ao direito, “que está de acordo com as normas do direito: ato jurídico” (KOOGAN/HOUAISS, 1997).
A inserção da Prática da Psicologia com Enfoque Jurídico.
Em um contexto judicial, o objetivo é verificar e determinar se os fatos realmente ocorreram. Possibilitando a responsabilização, a proteção da sociedade e garantindo os direitos. Em um contexto clínico, o psicólogo deve observar os sintomas com o intuito principal de intervir e auxiliar o sujeito a lidar com esses sintomas. No âmbito social o psicólogo ajuda o sujeito a lidar com o ocorrido, orienta e auxilia na utilização dos recursos e meios necessários a esse fim, atuando na segurança pública, inclui, também, o sistema jurídico.
De acordo com Friede (2002), é necessário considerar os dados subjetivos no campo dos valores: sentimentos e opiniões que fogem a disciplina das leis, elevando o grau de responsabilidade dos profissionais e diminuindo os riscos de injustiças e abstrações por parte dos operadores do direito. Portanto, o conhecimento dos aspectos legais orientará o psicólogo jurídico na compreensão da influência que seus relatórios, pareceres e laudos ocupam no contexto jurídico. Pois os aspectos individuais observados e descritos tecnicamente serão acolhidos a rigor como matéria probante, dirimindo as dúvidas judiciais existentes.
Caires (2003) destaca a importância de se conhecerem os aspectos criminógenos, sociais e psíquico-psicológicos que abrangem o sistema de justiça. Através de ponderações históricas, a autora busca resgatar aspectos relevantes do trabalho do psicólogo no judiciário: as questões sobre a doença mental e sua proteção; o reconhecimento da psiquiatria forense no Brasil, ocorrido na década de 20, em um caso de clamor público, onde coube o primeiro diagnóstico médico legal de inimputável. A autora descreve suscintamente, o caminho percorrido pela psicologia, que se inicia com o estudo da alma, e vai se modificando para o estudo do comportamento. Firma-se através de métodos científicos ao lado da Psiquiatria, e a transcende através de técnicas mensuráveis conhecidas até hoje como testes psicológicos.
Nota-se que a inserção do psicólogo no sistema judiciário se fortalece na necessidade de que os fatos revelados sejam relevantes ao mundo jurídico e que a busca destes fatos ocorram de forma técnica e confiável. De acordo com Caires (2003), todos os caminhos levam a um único tema: a perícia.
É importante perceber que em matéria penal, tanto na fase de execução como na fase processual, as informações fornecidas terão sempre valor probante (Caires, 2003 e Trindade, 2006), servindo a critério do Juiz. E, dentro dos parâmetros legais, atenuar ou agravar a situação do agressor (réu), revelar circunstâncias e possíveis consequências do crime.
Art. 59 do CP - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime.
Na prática o juiz atribui ao agente, quase que aleatoriamente, as expressões “personalidade desajustada”, “personalidade não informada nos autos”, “personalidade com inclinação para o crime”, e ainda, “personalidade desregrada”. Tais expressões nada contribuem para a demonstração da personalidade do agente. Carvalho (2001) discute a tarefa difícil do juiz: “a experiência cotidiana revela que a valoração da personalidade do acusado, nas sentenças criminais, é quase sempre precária, imprecisa, incompleta e superficial”.
Em casos que envolvem estupro, maus tratos e estupro contra vulneráveis, a inserção do psicólogo torna-se cada vez mais importante. Nessa linha de entendimento, pontifica a doutrina e a jurisprudência que as declarações da vítima constituem um meio de prova. Em princípio, o conteúdo das declarações deve ser aceito com reservas. No entanto, por se tratar de um delito às ocultas, é necessário que as declarações sejam seguras, estáveis, coerentes, plausíveis, uniformes, perdendo sua credibilidade quando o depoimento se revela reticente e contraditório a outros elementos probatórios.
As demandas judiciais das Varas de Família é outro domínio em que a psicologia se faz presente e exerce forte influência na proteção judicial dos menores. Levando o magistrado a buscar, junto à Psicologia, um trabalho técnico, seguro, capaz de embasar as decisões, resguardando os direitos das crianças e adolescentes em questões de regulamentação de visitas e guarda familiar (TRINDADE, 2002). Em matéria civil, a comprovação dos fatos alegados é pressuposto da ação, e a partir dele é que se podem apurar responsabilidades, que no caso independe de culpa. (artigo 333, 342, 348, 400 e seguintes).
Visando punir e prevenir a violência doméstica contra a mulher, surge a lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha). E, no mesmo ano, a Lei 11343/06, que prevê projetos educacionais para redução do dano ao usuário de drogas ilícitas. Essas duas leis proporcionam um espaço terapêutico ao psicólogo jurídico. Espaço que não afasta a especialização, nem o enfoque legal, mas possibilita um espaço diferenciado de atuação no sistema judiciário.
Poderíamos discorrer sobre cada prática desenvolvida pelo psicólogo no âmbito do judiciário, no entanto, o nosso objetivo é a atuação do psicólogo na busca da prova. Pois a prova, como observado, é comum a todo sistema jurídico. Acrescentando que o sistema inclui, de acordo com Código de Processo Penal (CPP), o processo de investigação policial.
A psicologia e a Perícia no Âmbito Jurídico
A lei 4112/62 estabelece em seu art. 4º, inciso 5, que: “Cabe ao Psicólogo realizar perícias e emitir pareceres sobre a matéria de Psicologia”. Caires (2003) defende a diferença entre a entrevista psicológica pericial, em que o indivíduo não tem uma queixa, e sim, um fato jurídico e está sob o domínio legal, e entre a entrevista clínica. Justificando a diferenciação da técnica de psicodiagnóstico, pois o psicólogo está a serviço da justiça, o individuo o vê como aquele que investiga e julga como se fosse uma extensão do juiz.
Para tanto, a autora sugere procedimentos e técnicas baseados em sua experiência, como: estudo psicológico do processo, mapeamento do caso, mapeamento do desenvolvimento sócio afetivo, histórico médico, antecedentes pessoais e aplicação de testes. Na construção do laudo ou parecer, deve-se utilizar uma linguagem concisa. Sabendo que o judiciário necessita de respostas que embasem medidas legais, sem expor o sujeito além do necessário.
Segundo Manzano (2011), a perícia realizada na fase do inquérito policial é investigativa, prova antecipada, se justifica se tiver natureza cautelar e quando é realizada deve ter assegurado o contraditório. A prova é colocada à prova, ressaltando que o juiz não está obrigado a aceitar o laudo ou parecer do perito. No Brasil, o princípio do liberatório está no CPP e no CPC e defende o livre convencimento do juiz, sendo esse apenas mais um elemento de prova (MANZANO, 2011).
Conclusão
Podemos dizer que os operadores do direito reconhecem a contribuição dos psicólogos na busca de provas e como peritos. Entretanto, incapazes de afirmar a verdade, o que é confirmadopelos psicólogos que não acreditam nesta contribuição como prática, apesar de se reconhecerem como peritos. Observa-se que tanto psicólogos como juízes reconhecem o papel de perito e do assistente na figura do psicólogo jurídico, e também questionam o que é o psicólogo jurídico.
Essa afirmação é de um psicólogo, que reconhecendo o contexto somente como terapêutico, atribui à intervenção como “só de escuta”, entretanto se considera perito por ser funcionário do Estado. Pode-se dizer que tal afirmação encontra apoio entre os juízes, pois atribui caráter terapêutico ao contexto, contrariando os psicólogos e os reconhecendo como peritos. Chama atenção às técnicas e premissas utilizadas pelos profissionais da psicologia, que divergem daquelas em que os juízes acreditam se basear os laudos e pareceres.
Consideramos a relação entre a psicologia e o direito importante pois os juízes apontam ‘falas’, cuidados com famílias, a oitiva das crianças, particularmente relevante. No entanto, vislumbra-se um longo caminho de desentendimentos, onde a psicologia caminha disfarçada por uma autodenominação e por um papel profissional limitado, aquém de suas possibilidades. Sem perceber, restringe sua atuação de prevenção e proteção da sociedade e dos jurisdicionados.
REFERÊNCIAS
Conceito de psicologia jurídica - O que é, Definição e Significado http://conceito.de/psicologia-juridica#ixzz3WNyEBa2O
 Conceito de psicologia social - O que é, Definição e Significado http://conceito.de/psicologia-social#ixzz3WO9UIPjE
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BRASIL, Lei nº 11.690, de 9 de Junho de 2008. Altera dispositivos do código de Processo Penal sobre a aprova, e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial da União de 10 jun.2008. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm
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