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DIREITO CIVIL II - PARTE GERAL 
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS 
PROF. GIANELLI RODRIGUES OBERST CORDOVIL
CAPITULO IV – DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO – (art. 138 ao 165)
Já estudamos exaustivamente que o elemento fundamental do negócio jurídico é a vontade, que, manifestando-se corretamente por meio de sua declaração, produz o nascimento, a modificação ou a extinção das relações jurídicas. Para ser juridicamente eficaz, a vontade tem de ser livre e incondicionada no seu nascimento e correta na sua expressão. Podem incorrer, todavia, defeitos no seu processo formativo, no caso de o agente ter falsa noção das pessoas, dos objetos ou dos demais elementos entre o que o agente quer e o que efetivamente declara.
Defeitos nos negócios jurídicos são as imperfeições que neles podem surgir, decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua declaração. Os primeiros são os chamados vícios da vontade, caracterizando as figuras típicas do erro, se o agente tem uma falsa noção dos elementos ou circunstâncias do negócio, pelo desconhecimento natural da matéria; do dolo, se ele é maliciosamente induzido em erro; e da coação, quando manifesta sua vontade sem liberdade, sob ameaça de outra pessoa. Considera-se, ainda, como manifestação defeituosa ad vontade a do agente que se encontra em estado de perigo, situação que o leva a praticar um ato para salvar-se de grave dano pessoal ou familiar, assumindo obrigação excessivamente onerosa, e também aquela em que o agente pratica o ato em estado de necessidade ou de inexperiência, do que decorre uma lesão no seu direito, isto é, um prejuízo resultante da desproporção entre as prestações das partes. A exigência de segurança nas relações jurídicas impõe que a manifestação de vontade seja livre e espontânea, em uma afirmação do princípio da autonomia privada e até da justiça comutativa, no sentido de que as partes do negócio se beneficiem de modo equivalente ao despendido. Sendo assim, existe uma série de normas jurídicas que disciplinam a matéria dos vícios da formação e da declaração de vontade, matéria essa que, juntamente com as regras sobre a incapacidade, protege a integridade do querer do agente, o elemento dinâmico do negócio jurídico e do mundo jurídico. Agora temos 6 vícios ou defeitos do negócio jurídico: 
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I. Vícios de Vontade:
1)Erro ou Ignorância
2) Dolo
3) Coação
4) Lesão
5) Estado de Perigo
II. Vício de Objeto (Social)
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6) Fraude contra credores
1. ERRO ou IGNORÂNCIA – Erro é um falso conhecimento da realidade, alguém emite uma vontade porque não tem o perfeito conhecimento dos fatos. Seu conhecimento sobre um fato ou, sobre uma pessoa ou, sobre uma circunstância é distorcido ou, incompleto e, em razão disso, o agente emite uma vontade que não emitiria se o seu conhecimento fosse perfeito. Resumindo: O erro resulta de um falso conhecimento da realidade. Há uma diferença entre o erro e a ignorância que o código não explicita. No erro, o agente tem o conhecimento distorcido ou, incompleto de um fato e, em razão disso, emite a vontade. Na ignorância, ele emite a vontade porque desconhece inteiramente o fato. Ou seja, ele não emitiria a vontade se conhecesse o fato. Em ambos os casos o resultado é o mesmo: a anulabilidade do negócio jurídico. Tanto no erro quanto na ignorância o negócio jurídico é anulável. O prazo decadencial para que o agente possa desconstituir o negócio jurídico por erro é de quatro anos, a contar do dia em que se celebrou o negócio. Não é qualquer erro que conduz à anulabilidade do negócio jurídico. Há erros que não provocam essa anulabilidade. Para que o erro anule o negócio jurídico, é preciso que ele seja essencial, também conhecido como substancial. Como o nome está dizendo, ele é a causa do negócio, ele está na substância do negócio. É o erro, por exemplo, que diz respeito à própria natureza jurídica do negócio ou, que diga respeito ao seu objeto ou, as qualidades essenciais do objeto ou também, que diga respeito às qualidades essenciais da pessoa com quem se celebra o negócio (chamado erro essencial de pessoa – muito invocado para se anular o casamento). Já o erro acidental não provoca a anulabilidade do negócio jurídico, porque não chega a influir no seu objeto, é um erro de pequena conseqüência, não há necessidade de se anular o negócio jurídico se, apesar desse erro, foi possível alcançar seu objetivo, o objeto perseguido pelo agente. Por isso, é chamado de erro acidental, é um mero acidente de percurso, mas que não chega a macular profundamente o negócio e, por isso, o negócio pode ser aproveitado. O Novo Código Civil trouxe, no art. 138, uma importante mudança no que se refere ao erro ou ignorância. Agora para que o erro se considere essencial e provoque a anulação do negócio jurídico, é preciso que o destinatário da vontade, ou seja, a outra parte que celebrou o negócio jurídico pudesse perceber que o agente estava cometendo um erro, e se ele podendo perceber o erro, não o adverte, não avisa ao emissor da vontade, aí sim, se anulará o negócio jurídico. Isso é uma novidade, é a chamada teoria da confiança (adotada no Código Italiano e foi agora copiada por nós). Por que se chama teoria da confiança? Porque quem emite uma vontade destinada a produzir efeitos em outra pessoa, tem que ter a confiança de que o destinatário dessa vontade o avisará se perceber que ele está praticando um erro. Ex.: Um homem honesto, um homem probo percebendo que aquele com quem está celebrando um negócio jurídico está incidindo em erro, porque não conhece bem a realidade, o homem honesto o adverte, o avisa. Se, ao contrário, ele silencia, aproveitando-se do erro alheio, aí o negócio deverá ser anulado para que o outro contratante não se beneficie do erro alheio. No sistema antigo o juiz não precisava verificar se o destinatário da vontade emitida em erro, poderia percebê-lo. Agora o juiz só anulará o negócio jurídico, se convencido que o destinatário da vontade poderia ter percebido o erro e não o advertiu. Isso é importantíssimo. Isso é uma grande virada. Isso é uma enorme mudança sobre a concepção do erro. O art. 138 do Código Civil é muito comentado, analisado, já está suscitando teses, monografias, porque é algo absolutamente novo no direito brasileiro. Além do erro essencial, que provoca a anulação do negócio e do erro acidental, que não provoca a anulação, o código ainda alude algumas outras modalidades de erro: 
ERRO NA TRANSMISSÃO DA VONTADE – Quando o agente emite a vontade através de um equipamento como, um telex, um fax, um telegrama, a Internet, e, o equipamento utilizado pelo agente distorce a mensagem. O agente emite a vontade, que queria emitir sem erro algum, o erro decorreu da transmissão da vontade. Ex.: O fax estava defeituoso e a mensagem ficou distorcida ou, suprimiu-se uma frase ou, uma palavra ficou borrada e foi entendida de maneira errada pelo destinatário. Também ocorrerá o erro na transmissão da vontade, quando o agente incumbir uma 3ª pessoa para transmiti-la e, esta 3ª pessoa se confunde toda e transmite essa vontade de maneira distorcida. Isso seria um erro não do próprio agente, mas um erro ocorrido na transmissão da vontade, seja por um defeito do equipamento utilizado para transmitir a vontade, seja por uma confusão da pessoa encarregada de transmiti-la. O erro na transmissão da vontade também provoca a anulação do negócio jurídico, tal como se a vontade tivesse sido diretamente emitida pelo agente. Ou seja, o Código Civil equipara o erro na transmissão da vontade ao erro diretamente praticado.
ERRO DE MOTIVO – O motivo de um negócio jurídico pode ser conceituado como sendo a razão pessoal da sua celebração, estando no seu plano subjetivo. Este dispositivo trata do erro quanto ao fim colimado. Antigamente era chamado de erro de causa. Ex.: Alguém fazendo um cruzeiro marítimo, o navio naufraga à noite, o passageiro percebe que está morrendo afogado quando, de repente, sente que alguém começa a puxá-lo tentando ajudar, e eleperde os sentidos e, só os recobra numa praia, onde só há ao lado dele um marinheiro do navio desfalecido.
Supondo que foi o marinheiro que o salvou, o náufrago resgatado, como gratidão, doa ao seu salvador um imóvel. E, na escritura de doação, declara que o motivo da doação foi o salvamento feito pelo donatário. Reparem que o salvamento foi o motivo único e determinante desse negócio jurídico, e foi declarado como tal. Só que depois o doador descobre que foi outro marinheiro que o resgatou, que ao se aproximar da praia, pelo esforço desenvolvido, acabou morrendo afogado, sendo seu corpo levado pelas águas. Houve, portanto, um falso motivo para a doação, e como esse motivo era o único e determinante do negócio, sendo ele falso, o doador pode assim anular a doação por erro de motivo. O erro de motivo só provocará a anulação do negócio, se ele for o único e determinante motivo do negócio, e mais ainda, se isso estiver declarado no negócio.Se essa doação fosse feita sem qualquer alusão ao salvamento, e se além do salvamento, houvesse outros motivos, como uma pré-amizade entre as partes, aí já não seria erro de motivo capaz de anular a doação. O motivo tem que ser único e determinante, além de ter que estar declarado no negócio.
ERRO DE CÁLCULO – Novidade do Novo Código. Também não anula o negócio jurídico. Ele conduz apenas a correção do cálculo. Não há motivo para anular-se o negócio, só porque se errou num cálculo matemático. Basta que se corrija então o cálculo. Assim, erro acidental e o erro de cálculo não anulam o negócio jurídico. 
Há dois dispositivos importantes no Novo Código Civil quanto ao erro: O art. 138, que introduziu no direito brasileiro a Teoria da Confiança e o Erro de Direito. No sistema passado, o erro poderia ser de fato ou de direito. O erro de fato é o que se refere a um fato. O erro de direito é o que decorria do desconhecimento da lei. Pelo sistema passado, só o erro de fato anulava o negócio jurídico. O erro de direito era considerado sempre indesculpável, inescusável e, por isso, não anulava o negócio jurídico. Ninguém poderia alegar o desconhecimento da lei ou a má interpretação da lei para desconstituir o negócio que celebraram. Mas, isso era profundamente injusto, porque embora haja uma presunção absoluta decorrente da LICC (art. 3º) que todos conhecem a lei, isso não condiz com a realidade social, na verdade, poucos conhecem a lei. Por isso, o NCC, numa das suas mais extraordinárias mudanças, mitigou essa regra, permitindo admitir-se o erro de direito, desde que não importe em negativa de vigência de lei cogente, de cumprimento à aplicação de lei cogente. Portanto, há grandes mudanças no que se refere ao erro. Assim, para não falarmos em suposto conflito de normas, antinomia, ou lacuna de conflito. Não se admite o desconhecimento ou o erro de direito quando o que se pretende é contrariar o princípio da obrigatoriedade da Lei, mas admite-se o erro ou a ignorância no caso de tratar-se re pressuposto reclamado pela própria Lei para a validade do ato jurídico, podendo alegar-se no caso de anulação de ato jurídico de que tenha sido causa, ou ainda para a obtenção dos efeitos resultantes de boa-fé.
2) DOLO – É outro defeito de vontade. O dolo é muito próximo do erro. É muito freqüente que o dolo conduza ao erro da outra parte. Dolo e erro estão freqüentemente de mãos dadas, embora possa haver erro sem que tenha decorrido de dolo, mas é muito freqüente que o dolo esteja associado ao erro. O Dolo é um artifício astucioso, um estratagema, um ardil utilizado por alguém para induzir outrem a celebrar um negócio que lhe cause prejuízo e beneficie o autor do dolo. Com a nova teoria da confiança, na verdade, quando o destinatário da vontade não adverte o emissor que ele está em erro, ele está praticando o dolo (dolo omissivo). Por isso, que o dolo está profundamente ligado ao erro. Então no dolo, alguém pratica uma conduta astuciosa, um artifício malicioso para induzir uma outra pessoa a celebrar um negócio que traga prejuízo para a vítima do dolo e benefício para o seu autor ou 3º. O dolo pode ser omissivo ou comissivo.
Dolo Comissivo – É aquele que se pratica através de uma ação. Ex.: Alguém que quer vender seu veículo usado, cuja lataria está corroída pela ferrugem e, para enganar o comprador, tampa os buracos de ferrugem com massa plástica.
Dolo Omissivo – É o que se perpetra através de uma omissão, de um silêncio. Quando não se avisa ao comprador de um defeito que a coisa apresenta. Ex.: Alguém que vendendo um touro como reprodutor, não avisa ao comprador que ele é estéril.
É evidente que só haverá dolo, quando a conduta omissiva ou comissiva repercutir no patrimônio das partes. Se não houve qualquer prejuízo para a vítima do dolo, se, apesar do dolo, não houve prejuízo para a vítima, não se anula o ato, é o que se chama de dolus bônus. Ex.: Aumentou as qualidades de um remédio que está vendendo ao paciente, mas o remédio tem algumas qualidades e acaba curando o paciente. Ele não é tão milagroso quanto o vendedor garantiu ao paciente, mas acaba curando.
Dolus bônus – se tolera, não sendo necessário anular-se o negócio. 
Dolus Malus – anula o negócio jurídico, é preciso que haja um prejuízo para a vítima e um benefício econômico para o autor do dolo. A idéia do dolo, como defeito de vontade, está umbilicalmente ligada a idéia de prejuízo e benefício econômico. Há uma visão patrimonial no dolo.
O que não ocorre no direito alemão. Neste, ainda que não haja repercussão patrimonial, a parte que sofreu o dolo, poderá pedir anulação do negócio, porque, entendem os alemães que, o bem jurídico que se procura proteger é a vontade e não o patrimônio.
Mesmo que a vítima não tenha prejuízo, a sua vontade foi violentada, ele foi vítima de um artifício para obtê-la e, por isso, deve ter o direito de desconstituir esse negócio. A visão do direito alemão é mais ética do que a nossa, que é mais pragmática, porque aceita um negócio mesmo havendo dolo, mas se não houver prejuízo. Também há um prazo decadencial de quatro anos para que a vítima do dolo pugne pela sua anulação. O mesmo prazo do erro, também contando-se do dia em que se celebrou o negócio.
Dolo essencial ou substancial é diferente do dolo acidental (é o mesmo que ocorre no erro). 
Dolo Substancial – É a causa do negócio, ou seja, o negócio não se realizaria se não fosse o dolo e, por isso, provoca a anulação do negócio. Ex.: Se o comprador do touro fosse avisado pelo vendedor que ele era estéril, é óbvio que não o compraria, porque buscava um reprodutor. Então o silêncio do vendedor quanto a esterilidade do touro é a causa do negócio. Por isso que os romanos chamavam o dolo essencial de DOLUS CAUSAM, a causa do negócio.
Dolo Acidental – Não anula o negócio, porque ele não é a causa do negócio, o dolo apenas tornou o negócio mais oneroso para a vítima. A vítima iria realizar o negócio de qualquer maneira, independente do dolo, não havia a necessidade do dolo para levar a vítima a realizar o negócio, mas o dolo foi praticado para realizar o negócio de maneira mais onerosa para a vítima, esta sofreu um prejuízo que não sofreria se não fosse o dolo, mas não foi o dolo que levou a vítima a realizar o negócio e, por isso, a conseqüência do dolo acidental é condenar o autor a ressarcir a vítima do prejuízo que sofreu. Ex.: Um negociante vende uma geladeira ao comprador, que ia comprar de qualquer maneira e, o vendedor não revela que a geladeira está em promoção e que ele teria um desconto. Isso é um dolo acidental, ele ia comprar a geladeira e, a comprou de forma mais onerosa, porque ele não se beneficiou da promoção. O comerciante seria condenado a ressarcir o comprador da diferença a maior que ele pagou. Isso é que é um dolo acidental que não provoca anulação do negócio, porque não foi a causa do negócio, provoca apenas o ressarcimento da vítima.
Dolo de Terceiro - (cai muito em prova) É quando o dolo é praticado por um 3º que não é o seu beneficiário. Quer dizer, quem praticouo dolo não teve proveito econômico com o dolo, pratico o dolo para ajudar uma outra pessoa. Ex.: Anunciei a venda de um touro, mas eu estava ausente e, sendo assim, um amigo meu resolve vendê-lo em meu lugar. Ele sabia que o touro era estéril, mas não advertiu o comprador convencendo-o a adquiri-lo e, o fez para ajudar-me, não ia ganhar nada com a venda. Praticou o dolo omissivo, sabendo que o touro era estéril, mas não informando ao comprador.
Questão de prova: Qual a conseqüência do dolo de 3º? Teremos que ver se o beneficiário do dolo (eu, o dono do touro estéril), verificar se eu sabia da existência do dolo praticado pelo 3º, aí anula-se o negócio jurídico, porque é como se o beneficiário estivesse conluiado com o autor do dolo, porque eu sabia da existência do dolo praticado pelo meu amigo (o 3º). Mas, se, ao contrário, o beneficiário ignorava o dolo praticado por 3º, aí não se anula o negócio jurídico, cabendo a vítima perdas e danos contra o autor do dolo. Só anulará o negócio jurídico, se o beneficiário desse dolo soubesse, tivesse o conhecimento do dolo.
Dolo de Preposto – Muitos candidatos confundem como dolo de 3º. Quem pratica o dolo não é o beneficiário, mas sim, um preposto do beneficiário.
No dolo de 3º, o 3º que praticou o dolo, não tinha com o beneficiário qualquer relação de dependência, não era um empregado, um representante, nem um preposto, era um amigo.
No dolo de preposto, quem pratica o dolo é um preposto do beneficiário – Lato Sensu, um mandatário, um prestador de serviço, um representante legal, um empregado.
Questão de prova: Qual é a diferença entre dolo de 3º e dolo de preposto? É que no dolo de 3º para que se anule o negócio jurídico, é preciso verificar se o beneficiário conhecia o dolo praticado pelo 3º. Já no dolo de preposto, isso é irrelevante, mesmo que o beneficiário ignorasse o dolo praticado pelo seu preposto, anular-se-á o negócio, porque pelo dolo de preposto, o negócio se anulará mesmo que o beneficiário ignorasse o dolo, porque o preponente responde sempre pelo ato do preposto (essa é a diferença). Então, vai-se anular o negócio, não porque o beneficiário soubesse ou não e, sim porque é preponente. 
Dolo Recíproco – Ambas as partes de um negócio jurídico estão se conduzindo com dolo, isto é, uma querendo prejudicar a outra, uma querendo enganar a outra. É lobo comendo lobo.
Qual á a conseqüência jurídica do dolo recíproco? É a compensação do dolo. Se o dolo é recíproco, diz o NCC expressamente, nenhuma das partes pode alegá-lo contra a outra, para ressarcir-se do prejuízo. 
Outra questão de prova: E se um sofreu um prejuízo maior que o outro, poderia reclamar a diferença para se equilibrar o dolo? O Código Civil é omisso e, por isso, a doutrina entende que é irrelevante que um tenha sofrido mais prejuízo que o outro, porque a torpeza é a mesma, é há um aforismo jurídico que diz que “ninguém pode alegar a própria torpeza para auferir benefício”. O que se pune é a torpeza do dolo. 
No sistema passado ainda se falava em dolo de aproveitamento, porque hoje este se enquadra no conceito de lesão. Lesão é quando alguém se aproveita da inexperiência ou, da vulnerabilidade ou, da premente necessidade de outrem. 
3) COAÇÃO - É a coação, provavelmente, o mais reprovável de todos os defeitos, porque nela se obtém uma vontade mediante ameaça de um mal injusto aterrorizando a vítima, conseguindo dela uma vontade que jamais emitiria se não fosse essa ameaça. No dolo, o autor do dolo, geralmente, o pratica com um sorriso nos lábios, graças a sua lábia, malícia, mas sem qualquer violência, ao contrário, o bom autor do dolo se mostra sempre gentil, atencioso, solicito para enganar a vítima. Dizem que o dolo está para o estelionato no Direito Penal, como a coação está para o estupro. Então, o bom estelionatário se orgulha de jamais ter pego numa arma, enquanto que o estuprador é aquele que pratica o crime pela violência física. É preciso que se fixe alguns conceitos confundidos até mesmo por advogados e, por isso mesmo, muito perguntado em concurso.
É necessário saber qual a diferença entra a VIS ABSOLUTA e a VIS COMPULSIVA. Vis é força.
VIS ABSOLUTA – A ameaça é tão forte, tão insuportável, que a vítima não tem como resistir, ainda que queira, ela não tem como enfrentar tamanha pressão que sobre a sua vontade o coator exerce, por isso, se chama Vis Absoluta, não há como deixar de atender a exigência do coator. Ex.: Alguém que encosta o revólver na cabeça da vítima para que ela assine um documento que lhe interessa. Quem pode resistir ao cano de um revólver encostado na sua nuca? Quem pode dizer não diante da ponta do punhal encostado na sua jugular? Você faz o que o coator quiser, porque o instinto de sobrevivência domina qualquer outro pensamento. Por isso, a vis absoluta torna o negócio nulo, a rigor, inexistente, é como se não houvesse manifestação de vontade, está tão maculada, que é como se ela não existisse. Portanto, a vis absoluta é punida com a nulidade do negócio, que, aliás, no rigor técnico seria inexistência. Mas, o direito brasileiro não é muito simpático a tese da inexistência do negócio, assim, equipara a inexistência à nulidade. Então se dirá que o ato obtido por vis absoluta é nulo, não produz efeito algum, é como se não tivesse existido. Um outro exemplo, é quando se obtém a vontade de outrem aplicando-se diretamente sobre ele a força física. Alguém muito mais forte do que eu fisicamente, segura o meu braço e o levanta para que eu aprove a proposta que eu quero reprovar. Então estou votando como quer o coator, mas porque ele está aplicando sobre mim a própria força física contra a qual eu não posso resistir.
VIS COMPULSIVA – É a coação propriamente dita, que torna o negócio anulável. A diferença é que nesta há uma ameaça, mas a vítima ainda tem um espaço para resistir, ainda pode decidir se lhe convém sucumbir ou enfrentar a ameaça, o coator. É uma questão de opção –“submeto-me ao coator para não sofrer o mal ameaçado ou, o enfrento correndo o risco”. Ex.: Alguém mais forte que eu diz: “se você não aprovar tal proposta, lhe espero lá fora para lhe dar uma surra”. Ele não está encostando o dedo em mim, e eu também posso examinar se me submeto, porque sei lutar Karatê ou, porque estou armado e posso enfrentar a ameaça. Isso é vis compulsiva. A vis compulsiva, que o Código Civil chama de coação propriamente dita, anula o negócio jurídico e não o torna nulo. Ela provoca anulabilidade e não nulidade.
Qual a diferença entre coação e temor reverencial? Há uma profunda diferença. A coação anula o negócio jurídico, é um vício de vontade. O coacto (que é a vítima da coação) pode pleitear a desconstituição do negócio. Já o temor reverencial não se considera vício de vontade e, assim, não provoca a anulação do negócio jurídico, porque não houve nenhuma ameaça. No temor reverencial não há qualquer ameaça a outrem, é uma submissão psicológica de resistir a uma ordem emanada de um superior hierárquico ou de uma pessoa a quem se respeite muito. Há um tamanho grau de dependência psicológica, que advém de uma hierarquia funcional ou de relação de parentesco que não se consegue resistir ao comando do outro, mas não há necessidade de ameaça. O temor reverencial aparecia muito no passado entre ascendentes e descendentes, hoje praticamente não mais existe. Existe principalmente em carreiras que se fundam numa noção muito rígida de hierarquia, como, por exemplo, as forças armadas, o clero etc. Ex.: Há 80 anos atrás, no interior do Nordeste, onde havia os patriarcas, senhores quase que da vida e da morte da família. Um dia, o pai comunica a filha o acerto de seu casamento com o filho de um outro coronel e, assim, alega “você ficará protegida, nossas terras se unirão etc, e você vai se casar daqui a 30 dias”. Só que a filha ama perdidamente um peão da fazenda do pai, mas não tem condições psicológicas de dizer não ao pai. E, assim, no dia designado, entra na igreja e diz sim ao padre. Isso é um exemplo clássicode temor reverencial. Não é coação e não pode anular o casamento, isto porque o pai não fez a menor ameaça a filha. Porém, se a filha do coronel, conseguindo reunir forças, se nega a casar com o escolhido do pai porque ama o peão da fazenda. O pai responde dizendo que vai lhe dar um surra, expulsa de casa e, ainda, a deserda. Por causa disso ela acaba casando com aquele que o pai indicou, aí já é coação, depois pode anular o casamento.
Nas forças armadas isso acontece até hoje. O sargento obedece o coronel imediatamente diante de uma ordem deste, não precisa haver ameaça (manda quem pode, obedece quem tem juízo).
O temor reverencial foi toda defesa usada no julgamento de Nuremberg. No tribunal de Nuremberg, que julgou os criminosos de guerra da 2ª guerra mundial, todos os advogados alegaram temor reverencial, ou seja, eles não tinham como resistir às ordens do Fürer, tamanho o respeito que dedicavam a ele. E, quando o seu superior mandava jogar os judeus no crematório, o comandante sustentava que o fazia porque não tinha como resistir. Só que o argumento, evidentemente, não foi acolhido pelo Tribunal, como o correto entendimento que o temor reverencial tem limites. Por maior respeito que se tenha ao superior hierárquico, há ordens que temos que resistir de tão absurdas que são. O Tribunal de Nuremberg não acolheu a tese, embora reconhecesse que houvesse temor reverencial, mas tamanha era a imoralidade do comando que os subordinados tinham o dever ético de resistir.
Questão de prova: Qual o prazo decadencial para se anular um negócio jurídico por coação? São quatro anos, o mesmo do erro, do dolo, do estado de perigo e da lesão. O prazo decadencial para se promover a anulação do negócio é de 4 anos. Só que na coação há um detalhe, ele não corre do dia que se celebrou o negócio, mas do dia em que o coacto se viu livre da coação, da ameaça do coator, ou seja, quando cessar a coação, o que pode levar 20 anos. Ex.: Eu doei uma casa ao meu vizinho, porque ele disse que se eu não a doasse ele mataria meu filho. Ele continua morando ao meu lado; se eu propuser a ação de anulação, ele vai matar meu filho. Agora, quando eu souber que o meu vizinho, que é o coator, foi preso a 20 anos de reclusão em regime fechado ou, que morreu etc e que assim não poderá mais cumprir a ameaça, começaria então a correr o prazo de 4 anos. Ou seja, enquanto o coacto estiver sob a influência do coator, enquanto este puder cumprir a ameaça que fez, não estará correndo o prazo decadencial de 4 anos para anular-se o negócio. Ou seja, o prazo decadencial é o mesmo dos outros vícios, mas o DIES A QUO é diferente. O DIES A QUO é o momento em que se celebrou o negócio. Na coação é o momento em que cessou a coação, em que o coacto ficou fora da influência do coator. 
Basta chegar para o juiz e alegar que praticou tal negócio jurídico sob ameaça, sob coação? Não. Tem que provar que houve a coação. Senão, os negócios jurídicos, a todo momento seriam desconstituídos, bastava você se arrepender de um negócio jurídico, e depois alegar que foi feito sob ameaça. 
Cabe a quem alega a coação, prová-la e, para prová-la, alguns PRESSUPOSTOS obrigatoriamente terão que estar presentes. O juiz terá que analisar, vai ter que se convencer desses pressupostos, que eles estão presentes. Se um destes pressupostos faltar, não haverá a coação e, conseqüentemente, não se anulará o negócio. O juiz tem que ser muito cuidadoso ao acolher a alegação de coação, para evitar que aqueles que se arrependessem dos negócios realizados alegassem a coação, que na verdade não teria existido. 
1º PRESSUPOSTO - Que haja ameaça de um mal determinado ou determinável. Ex.: Se você não votar a favor da proposta, espero-o lá fora e lhe dou uma surra. Isso é um mal determinado, sei do que estou sendo ameaçado. “Mato seu filho”, “incendeio sua a casa”. Não precisa detalhes. Uma vaga referência não caracteriza coação, tipo: “se você não assinar esse documento de venda, você vai se arrepender”. Isso não é coação, “vai se arrepender” é muito vago. Pode ser: “você nunca mais terá chance de realizar um negócio tão bom em sua vida, então você vai se arrepender”. Ou, “você vai ver o que lhe acontece”. Isso também não é coação, pois pode ser uma coisa boa ou ruim. O juiz terá que ver se eu pratiquei o ato porque percebi que estava sendo ameaçado de um mal que eu poderia perfeitamente identificar. Isso é o 1º pressuposto para eliminar essas insinuações como coação, porque senão fica muito frágil a validade do negócio jurídico.
2º PRESSUPOSTO – Tem que ser um mal injusto. Porque se o mal ameaçado decorre do exercício de um direito legítimo, não é coação. Ex.: O locador, já sem paciência, diz ao locatário, que está há 6 meses sem pagar o aluguel, “se o Sr. não me pagar até amanhã às 18 horas, depois de amanhã vou requerer o seu despejo”. Não há ameaça mais aterrorizadora do que ameaçar um chefe de família de colocá-lo na rua com a família. Mas isso não é coação, porque despejar um locatário, que está sem pagar os aluguéis, é um direito mais do que legítimo do locador. Ele não está ameaçando o locatário de um mal injusto, ele está ameaçando de um mal justo. Ou ainda, alguém diz para um comerciante, “se você não pagar até amanhã a fatura vencida, eu requererei sua falência”. Ele vai perder o sono, mas não poderá dizer que está sendo coagido a pagar a fatura, porque requerer a falência do comerciante moroso é um legítimo direito do credor. Sendo assim, o juiz tem que verificar se a ameaça se referia a um mal injusto como, por exemplo, “se você não doar sua casa, eu mato seu filho”. Ninguém é obrigado a doar a casa. Porém, o mal que estão ameaçando, o dano, o prejuízo, é injusto, NÃO decorre de um direito legítimo.
3º PRESSUPOSTO – Se o mal é iminente. Iminente não é instantâneo, imediato, é aquele que não há tempo para a vítima adotar medidas eficazes, hábeis, para não sofrer tal mal. Ex.: Um sujeito que tem 2 metros de altura e está ao meu lado na assembléia, diz “se você não aprovar tal proposta, vou te esperar lá fora e vou te dar uma surra”. A surra não será naquele momento, mas daqui a umas duas horas. Isso é um mal iminente, porque dentro da assembléia não tenho como adotar medidas eficazes para me garantir que eu não sofrerei esse mal. Agora, se a ameaça foi de uma surra daqui há 1ano, já não caracteriza a coação. Isso não é coação, porque em 1 ano dá para fazer um curso de luta, pedir proteção à polícia, contratar um guarda costas. O juiz tem que examinar no caso concreto para aferir esses pressupostos. Então, o mal tem que ser iminente, o que não quer dizer instantâneo, imediato, e sim, que não haja tempo suficiente para que a vítima da coação adote medidas eficazes para evitar o mal.
4º PRESSUPOSTO – A ameaça tem que se dirigir ao próprio coacto ou, a sua família ou, ao seu patrimônio ou, a uma pessoa ligada por profundos laços de amizade. Ex.: Alguém lhe ameaça dizendo “ou você assina tal documento ou vou colocar fogo naquele automóvel”, você não sabe de quem é o automóvel aí você diz “pode tocar fogo, tanto faz, não sei de quem é o carro” (isso é da natureza humana). Agora, se ele disser “vou tocar fogo no seu carro” é diferente. Ou, “vou dar uma surra em você” ou, “vou raptar o seu filho”. A ameaça tem que se dirigir à própria vítima ou, a pessoa de sua família ou, ao seu patrimônio, porque é da própria natureza humana, a pessoa só sucumbe à ameaça, para que não sofra o mal, se esta for dirigida a si próprio ou, aos familiares ou, ao seu patrimônio. Se é um estranho, você está pouco ligando ao seu destino. O Novo Código Civil trouxe algo interessante: é que se questionava muito a seguinte hipótese: “se você não assinar a doação, mato o seu melhor amigo, o José”. Isso seria coação? A ameaça não sendo dirigida ao próprio, a sua família, nem aos seus bens. O Novo Código Civil resolveu essa questão, diz que se a ameaça se dirigir a alguém que não é da família da vítima, o juiz poderá examinar o grau de amizade. Assim, adota-se o ditadoespanhol “Parentes são amigos pelo sangue, amigos são parentes pelo sentimento”. Há amigos para os quais você se sacrificaria, e há parentes que você nem está ligando. Essa foi uma das melhores inovações do NCC. Ele permite ao juiz examinar se a pessoa a quem se dirige a ameaça, é tão ligada a você, embora não seja seu parente, que você sucumbe a ameaça para evitar um mal a esse amigo. Portanto, o juiz terá que verificar se a ameaça se dirige à própria vítima da coação ou, a pessoas de sua família ou, aos seus bens ou a uma pessoa, que embora não sendo da família da vítima, ligada à vítima por profundos laços de amizade. Isso também dependerá do caso concreto, o Código não pode ser casuístico ao ponto de determinar quais são os amigos exatamente que a vítima resolveu proteger.
OBS.: Essa ameaça pode ser de um mal físico (uma surra), de um mal patrimonial ou, mesmo, uma ameaça moral (na linguagem popular: uma chantagem), que é muito comum. É mais freqüente a coação feita com ameaça de mal moral do que mal físico. É alguém que sabe de um segredo do outro, que uma vez revelado o exporá ao ridículo como, por exemplo, “se você não me doar a sua casa, eu revelo o seu segredo”. Então, pouco importa se o mal seja apenas moral, seja físico ou seja patrimonial, o que se exige é que haja dano, que eu sofra um dano, se não sucumbir a exigência. E, esse mal tem que ser dirigido à própria vítima, a parentes, a um amigo, aos seus bens. 
5º PRESSUPOSTO – Interessantíssimo. O juiz ainda tem que verificar se há um razoável equilíbrio econômico entre o prejuízo sofrido pela vítima praticando o ato extorquido pelo coator, e o prejuízo que sofreria se resistisse a coação se a ameaça se concretizasse. Ex.: Doei minha cobertura de Ipanema, de 5 milhões de reais, ao réu, porque ele ameaçou que destruiria minha bicicleta. Nenhum juiz acolherá essa pretensão, porque o juiz perguntaria qual seria o prejuízo sofrido praticando o ato exigido (5 milhões de reais) e qual seria o prejuízo sofrido caso não tivesse doado (perderia a bicicleta). Mesmo que seja uma bicicleta super moderna, não poderia custar mais de 10 mil reais. Agora, se eu disser “Dr. Juiz eu doei minha cobertura de 5 milhões de reais, porque ele ameaçou matar meu filho”. Aí tudo bem, a vida de um filho não tem preço. Quando é mal moral é mais complicado, porque ele ameaçou a revelar um segredo, por exemplo. O juiz vai ter que ver, embora a dor moral seja insuscetível de avaliação patrimonial. Isso é um problema na prática, terá que verificar se há um equilíbrio.
Houve um caso concreto desse assunto. Era uma sucessão valiosíssima, haviam 3 irmãos na qualidade de herdeiros. Já aberto o inventário, uma das irmãs cede todo seu quinhão ao irmão. Fez uma escritura de cessão gratuita de direitos hereditários ao irmão e não recebeu nada da herança. Dois anos depois, ajuizou uma ação pretendendo anular essa cessão , porque finalmente teve a coragem de revelar que ela fizera aquela doação porque o irmão descobriu uma correspondência dela com uma amiga de infância que revelava que havia entre elas uma relação homoafetiva. E, ela apavorada que a família tomasse conhecimento do fato, acabou cedendo a herança para o irmão, para não ter o seu segredo revelado. Num julgamento memorável, o Tribunal julgou improcedente o pedido, porque entendeu que a herança era valiosíssima e a revelação do segredo, é claro que causaria um constrangimento, mas nada que a fizesse ficar exilada numa ilha, que ninguém mais a cumprimentaria, pelo contrário, aqui no Rio de Janeiro, talvez isso até aumentasse sua inserção social. Mas, o acórdão diz textualmente que se essa ação tivesse transcorrendo em uma pequena cidade do interior, ainda com valores morais diferentes, aí sim, poderia caracterizar a coação. Vejam como é difícil decidir essas questões. Assim, não se pode dizer que o acórdão está certo, nem dizer que está errado, é uma questão de convicção do julgador diante do caso concreto. 
Tem que analisar o local em que ocorreram os fatos, os valores éticos que ali predominam. Por isso, é difícil decidir. Assim, a dor moral não tem mensuração patrimonial, mas o juiz tem que dar uma solução.
Depois de verificar tudo isso, se havia um mal determinado, se era injusto, se era iminente, se era dirigido à vítima, a família, aos bens, aos amigos, se havia um equilíbrio econômico. Depois de tudo isso, o juiz é obrigado a examinar o sexo, a idade, a saúde e o temperamento, tanto do coator quanto do coacto. Porque todos esses dados influem na coação.
O SEXO – Porque convencionou-se dizer que as mulheres são o sexo frágil. Então a ameaça de uma surra dirigida a uma mulher, o juiz pode considerar que ela se sentiu coagida. A ameaça de uma surra a um homem, o juiz pode achar que, sendo homem, ele teria como resistir, a mulher não. Isso está expresso no Código, tem que considerar o sexo. Ou, ao contrário, se quem ameaçou um homem de uma surra foi uma mulher, o juiz pode entender que ele (homem) não poderia se sentir coagido, pois foi uma mulher que o ameaçou de uma surra. Agora, se fosse um homem, poderia se sentir coagido. Por exemplo: vai ameaçar a Edinancir de uma surra, para ver o que acontece. Edinancir é uma lutadora de judô, medalhista brasileira. De qualquer maneira, o NCC achou que em linhas gerais, as mulheres são mais frágeis fisicamente do que os homens e, por isso, são mais suscetíveis de sucumbir ameaças físicas.
A IDADE – O Código é perfeito. A idade modifica a capacidade de resistência. Os idosos resistem menos. A ameaça de uma surra dirigida a um homem de 70 anos, o juiz considera coação. Entretanto, a um jovem de 25 anos pode considerar que não é. Da mesma maneira, se quem está ameaçando de dar uma surra é um homem de 70 anos, o juiz vai dizer que não tem cabimento ter medo de uma surra de um idoso, que mal pode caminhar. Agora, se quem está ameaçando de bater é um jovem de 25 anos, o juiz considera que possa ser coação.
A SAÚDE – Vejam como é importante o legislador ser humano, quer dizer, ele conhece a natureza humana, e sabe que a saúde influi. Ameaçar um homem doente, asmático, com enfisema é coação, porque ele não tem como resistir. Agora, um homem com perfeita saúde, ele pode resistir.
O TEMPERAMETO - O juiz vai ver se aquele que está alegando que foi coagido tem temperamento tímido, medroso, covarde ou, se, ao contrário, tem temperamento agressivo. Há pessoas que basta você dar um grito para sucumbirem e, há outras que, ao contrário, se perceberem um leve tom de ameaça, aí decidem não atender de maneira alguma. Esse é o temperamento corajoso, agressivo, tem a tendência ao contrário, ao invés de sucumbir a ameaça, enfrenta-a.
Esses são todos os pressupostos da coação. Por aí dá para perceber que não é fácil para o juiz decidir uma causa em que se alegue coação. Os juízes temem muito as causas em que se discute a ocorrência de coação, porque todos esses pressupostos terão que ser verificados.
Coação de Terceiro - É como o dolo de 3º, é praticado por um outro que não é o beneficiário. Ex.: Um amigo meu sabendo que há um posseiro em meu terreno, e que eu quero retirá-lo de lá, ele, querendo me ajudar, dirige-se ao posseiro e diz: “se você não sair do terreno da Professora até amanhã, eu mato seu filho”. Reparem que não estou fazendo a menor ameaça e nem estou sabendo, que um 3º está fazendo a ameaça querendo me ajudar. O tratamento é o mesmo do dolo de 3º. O NCC agora equipara inteiramente a coação de 3º ao dolo de 3º. O juiz vai ter que ver se o beneficiário da coação tinha conhecimento dela. Se eu sabia que meu amigo ameaçou de morte o filho do posseiro, caso ele não saísse do terreno, então anula-se o negócio, o ato. Ele pode mover uma reintegração de posse, porque ele vai alegar que demitiu-se da posse sob coação, pois eu sabia disso. Mas, se eu ignorava a coação feita pelo 3º, aí não se anula o negócio, cabendo perdas e danos contra o autor da coação, o 3º.
Resumindo: se eu não sabia, cabe perdas e danos, porque a demissão da possetraz prejuízo para o posseiro, ele pode ressarcir-se desses prejuízos contra o autor da coação, e não contra mim, que fui o beneficiário e ignorava a coação. Agora, se o beneficiário soubesse da coação praticada pelo 3º, não só anula-se o ato, como responderão solidariamente pelas perdas e danos o autor da coação e o beneficiário. Se o beneficiário vier a saber depois, não responderá pelas perdas e danos. 
Criou-se aqui, no NCC, uma nova obrigação solidária, tanto o beneficiário da coação, quanto o 3º que a praticou, responderão solidariamente pelos prejuízos sofridos pelo coacto.
Questão de prova: No dolo de 3º também responde solidariamente? Também, embora o Código Civil não fale, quer dizer, se o beneficiário sabia, é óbvio que responde.
Coação de Preposto - Na coação de preposto é a mesma coisa do dolo de preposto, é irrelevante que soubesse ou não, porque pelo ato do preposto responde sempre o preponente.
4) ESTADO DE PERIGO – Quando alguém se aproveita da premente necessidade de outrem, de salvar a própria vida ou a vida de um parente ou de um amigo íntimo, impondo uma obrigação excessivamente onerosa. Em outras palavras, você aceita uma obrigação excessivamente onerosa, que poderá conduzi-lo à miséria, porque se não o fizer, perderá a própria vida ou de um parente ou de um amigo muito íntimo. Isso é ético. Um homem honesto, um homem probo jamais se aproveitará do desespero de outrem de salvar a própria vida para obter uma vantagem econômica exagerada. Isso é um comportamento desprezível, altamente censurado. Por isso o negócio jurídico celebrado em estado de perigo é anulável. Quem se obrigou a uma obrigação excessivamente onerosa em estado de perigo, poderá depois pleitear a sua anulação, não fica, portanto, vinculado. Cessado o estado de perigo, ele pode então desconstituir o negócio que se viu compelido a aceitar.
A doutrina cita exemplos clássicos de estado de perigo:
- A exigência de um depósito muitas vezes superior às disponibilidades da pessoa para aceitar a internação de um doente grave.
- O barqueiro que para salvar o náufrago, conduzindo-o à praia em segurança, exige 1 milhão de reais ou a metade da sua fortuna.
- Para estancar a hemorragia de um filho o pai paga o que o hospital exigir naquele momento.
Porém, o melhor exemplo de estado de perigo que existe é o da peça de Sheakespeare “Ricardo III”, quando derrotado na batalha final, caído ao solo ensangüentado e percebendo que seus inimigos se aproximavam, levantou-se e gritou para os seus soldados que fugiam “Meu reino por um cavalo”.
Evidente que para se caracterizar o estado de perigo, alguns pressupostos são necessários e eles estão no art. 156. É preciso que a obrigação imposta seja excessivamente onerosa, quase insuportável para a parte. O juiz é que vai avaliar, no caso concreto, se a obrigação foi excessivamente onerosa. É preciso que realmente haja um perigo de vida e, mais ainda, eminente e precisa ser afastado. O juiz terá que avaliar se havia o eminente perigo de vida da vítima, de um parente ou de um amigo íntimo. O NCC, pela 1ª vez equipara o amigo íntimo ao parente. Isso é muito bom. Eu costumo seguir aquele ditado espanhol: “Parentes são amigos pelo sangue, mas amigos são parentes pelo sentimento”.
O parágrafo único é extraordinário: “Tratando-se de pessoa não pertencente família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.” Isso deixou para o juiz uma grande discricionariedade. Ele terá que ver se aquela 3ª pessoa está tão ligada à vítima que ela aceitaria a obrigação excessivamente onerosa para salvar sua vida. O código deixou propositadamente uma grande margem de flexibilidade ao juiz para aferir o grau de estado de necessidade.
Um outro pressuposto essencial é que a parte que se beneficia, tenha conhecimento desse fato. Ou seja, aquele que exigiu uma prestação excessivamente onerosa de outrem teria que ter conhecimento do fato da premente necessidade, isto está claríssimo no art. 156. Aí é que está a matéria, aí é que está o comportamento desprezível, aproveitar-se conscientemente do desespero de outrem.
Uma crítica: o código brasileiro se limitou a definir o estado de perigo e a aludir aos seus pressupostos. Ele foi muito sucinto, ele podia ter ido um pouco mais além, como fazem o código italiano e o alemão. No código italiano há um dispositivo que diz expressamente que o juiz poderá, ao invés de anular o negócio jurídico, reduzir o proveito. Se o serviço já foi prestado o juiz poderá reduzir a prestação. Ex.1: O barqueiro levou o náufrago à costa por um milhão de reais, mas o juiz verificando num critério justo e equânime, que o salvamento representaria R$ 5.000,00, fixará então neste valor. Isso está no código italiano. Ou seja, ao invés de anular o negócio jurídico que, na maioria das vezes, nenhum efeito prático daria porque já foi realizado o serviço. Não há como retornar as partes ao estado anterior. Isso é possível no direito brasileiro? Sim. Isso é possível no direito brasileiro e vai fazer parte do poder cautelar genérico do juiz. Se a parte pedir a anulação do negócio com o retorno das partes ao estado anterior e, se o juiz verificar que isso traduzirá um benefício exagerado para quem foi vítima do estado de perigo ele, ao invés de anular, vai poder modificar, ou seja, reduzir esse benefício. Não era preciso que o código expressamente o dissesse. Isso se inclui no poder cautelar genérico do juiz, ele vai acolher parcialmente o pedido em vez de acolhê-lo inteiramente. O fato do código não dizer isso expressamente, pode levar alguém a pensar que esse negócio será sempre anulável e, retornando as partes ao estado anterior. O que, na maioria das vezes, traduziria locupletamento daquele que recebeu o serviço. Mas, o que se quer na verdade com o art. 156, é impedir que uma pessoa se aproveite da premente necessidade de outrem. Isso também mostra, uma vez mais, a grande discricionariedade que o NCC confere ao judiciário. O judiciário vai ver o caso concreto, vai ver se a obrigação imposta foi excessivamente onerosa, se havia o perigo eminente, se era um perigo grave, se a parte sabia desse fato e se aproveitou dele. Isso tudo fica a critério do juiz diante da prova produzida e também ficará ao seu critério anular o negócio jurídico ou mantê-lo reduzindo o proveito. 
5) LESÃO – Num 1º momento pode se confundir com o estado de perigo. Porque tanto no art. 156 quanto no art. 157 se fala em premente necessidade. Em ambos os casos, o que caracteriza o estado de perigo e a lesão é alguém que está sob uma premente necessidade. Só que no estado de perigo a necessidade é de salvar a vida própria ou de um familiar, o risco é de vida. Já na lesão não, a premente necessidade é de celebrar um contrato. Ex.: Eu construo uma casa para morar e, ninguém na sociedade moderna vive sem energia elétrica, e aí a única empresa fornecedora desse serviço, me exige uma contraprestação excessivamente onerosa para ligar a luz. Claro que não vou morrer se não ligarem a luz, mas é evidente que eu tenho uma premente necessidade de ligar a luz, pra poder ligar a geladeira, a TV e alguns confortos que se consideram essenciais à própria dignidade humana. Por outro lado, a lesão se caracteriza, quando alguém se aproveita da inexperiência de alguém. Quando se fala de inexperiência, se inclui também a vulnerabilidade técnica, fática. Ou seja, quando alguém se aproveita de estar em situação de ascendência sobre a outra parte. Ou porque tem melhores condições econômicas, ou porque possui melhores informações técnicas, ou porque tem o monopólio dos serviços que se precisa e aproveitando-se disso impõe à parte uma prestação desproporcional à contraprestação. Reparem que no estado de perigo, se fala numa obrigação excessivamente onerosa. Já na lesão, se fala numa prestação manifestamente desproporcional à contraprestação. Também foi a ética que inspirou o surgimento da lesão. Um homem honesto, um homem probo não se aproveita da necessidade do outro, nem da sua inexperiência,da sua vulnerabilidade para impor uma prestação desproporcional à contraprestação. O estado de perigo está ligado umbilicalmente à idéia de preservação da vida ou da saúde. Já a lesão, está ligada à idéia do equilíbrio, da equação econômica dos contratos. A lesão visa impedir que o contrato nasça economicamente desequilibrado, que ele nasça com uma prestação manifestamente desproporcional à contraprestação. Aliás, o Ministro Rui Rosado, numa brilhante palestra em São Paulo sobre os novos princípios que inspiram os contratos, sobre as cláusulas gerais que inspiram os contratos, disse que, no sentir dele, uma das cláusulas mais importantes é a cláusula geral do equilíbrio da prestação e da contraprestação. O que se deduz daí é que a lesão é sempre, necessariamente, antecedente à celebração do negócio. Ou seja, o negócio já nasce maculado pela lesão, já nasce desequilibrado, já nasce com a sua equação econômica injusta.
Todos os setores da sociedade terão que rever as cláusulas de seus contratos, tudo agora está sob o crivo do judiciário. O judiciário pode entender que aquela contraprestação foi fixada sob a égide da lesão e aí anular o contrato. 
O que se quer dizer é que a lesão antecede ao nascimento do contrato. A lesão começa a surgir nas tratativas, quando uma das partes percebe que a outra parte está em desvantagem (ele está precisando muito desse negócio ou desse produto) e se aproveita disso.
E aí é que vem a distinção entre a lesão (art. 157) e a onerosidade excessiva (art. 478). Isso já foi perguntado várias vezes em diversos concursos depois do advento do Novo Código: Qual a diferença entre a lesão do art. 157 e a onerosidade excessiva que se refere o art. 478? Em ambos os casos, se fala em prestação desproporcional à contraprestação. Em ambos os casos, há um desequilíbrio econômico no contrato, um desequilíbrio entre a prestação e a contraprestação. A lesão antecede a celebração do negócio e se considera um defeito de vontade, um vício de consentimento, cuja conseqüência é a anulabilidade do negócio. A vítima da lesão está autorizada a pedir a anulação do negócio ou a sua modificação (para restaurar o equilíbrio) fica a seu critério. O negócio já nasce maculado pela lesão. Já a onerosidade excessiva é sempre, necessariamente, superveniente ao negócio. Na onerosidade excessiva o negócio nasce perfeito, ninguém se aproveitou do outro, não há má fé, o negócio é perfeitamente equilibrado, celebrado dentro dos mais rígidos princípios da boa fé. Só que os contratos de trato sucessivo, que se projetam no tempo, são alcançados por fatos imprevisíveis supervenientes que rompem o equilíbrio inaugural. Na lesão o desequilíbrio já existe desde o momento que o contrato nasce. Na onerosidade excessiva o desequilíbrio é superveniente. Outras diferenças: a lesão é defeito do negócio jurídico, a onerosidade excessiva não. A lesão decorre da má fé de um dos contratantes, aproveitando-se do outro. Na onerosidade excessiva ambos os contratantes estão na mais absoluta boa fé, só que eles são surpreendidos por um fato superveniente que rompe este equilíbrio, tornando o contrato excessivamente oneroso para uma das partes. Conseqüentemente, enquanto a lesão conduz a anulação do contrato, a onerosidade excessiva jamais poderia fazer isso. Pois, a onerosidade excessiva não é defeito do contrato, o art. 478 autoriza a resolução do contrato que é diferente de anulação. A anulação decorre sempre de um defeito na estrutura interna do negócio. Só se pode anular um negócio jurídico, se havia um defeito na sua estrutura quando ele nasceu. Já a resolução não decorre de um defeito antecedente e, como não é um defeito e não há má fé, a hipótese é de resolver, as partes se desvinculam.
A resolução por onerosidade excessiva é a mitigação do princípio da força obrigatória dos contratos, do “pacta sunt servanda”. O pacta é sunt servanda, enquanto as condições econômicas se mantiverem razoavelmente iguais. Se esse equilíbrio se romper o pacta não pode ser sunt servanda, tem que libertar as partes, ou, pelo menos, modificar o contrato.
Então essa é a diferença do art. 157, que trata da lesão como defeito do negócio jurídico, levando-se à sua anulação e a onerosidade excessiva do art. 478, que é sempre superveniente ao negócio, levando-se à sua resolução ou à sua modificação.
Voltemos à lesão – Reparem que o código usa também um advérbio de modo, no estado de perigo ele fala “excessivamente onerosa”, na lesão ele fala “uma prestação manifestamente desproporcional...” Isso é para dizer que é o juiz que vai ter que decidir, porque nada impede que a prestação seja maior que a contraprestação. Não há nada que diga que a prestação tem que ser matematicamente igual a contraprestação. Ex.: A casa vale 100 mas, eu consegui vender por 110. Não vai se anular esse negócio. A prestação era transferir o domínio e a contraprestação é o preço. Realmente o preço foi maior mas, só 10. 
Nunca se exigiu que a prestação fosse rigorosamente igual ao valor da contraprestação. O que caracteriza a lesão é a prestação ser manifestamente desproporcional à contraprestação. Ex.: A casa vale 100, foi vendida por 50. Então caberá ao juiz verificar se houve essa desproporção manifesta que caracteriza a lesão.
O § 1º do art 157, se refere ao tempo. Isso é porque se no momento em que foi celebrado o negócio jurídico já havia essa manifesta desproporção é lesão. Se, ao contrário, o juiz verificar que a manifesta desproporção for depois, não é lesão, é onerosidade excessiva. O juiz terá que retroagir, fará perícias retrospectivas. Então o juiz vai perguntar ao perito, se for necessário, há 3 anos atrás quanto essa casa valia? O juiz terá que fazer um trabalho retrospectivo para avaliar o equilíbrio da prestação e da contraprestação no momento da celebração do negócio. Se ele se convencer que esse desequilíbrio já existia no momento da celebração e era manifesto, ele anulará esse negócio, entendendo que houve lesão. Se o desequilíbrio se apresentou posteriormente ao negócio, é onerosidade excessiva. O § 2º do art. 157 é da maior importância prática. Isso mostra que há um interesse social em se preservar os negócios jurídicos. Anular um negócio jurídico é sempre traumático. O ideal social é que os negócios jurídicos prevaleçam, porque eles traduzem manifestações de vontade. A anulação de um negócio jurídico sempre deixa seqüelas sociais, criam inseguranças, incertezas, desconfianças. O juiz só deve anular um negócio ou desfazê-lo quando não houver outra solução. Esse § 2º é muito sugestivo, é uma porta que se abriu para permitir a salvação do negócio contaminado pela lesão.
E, para finalizar o estudo sobre a lesão, farei um comentário que me parece importante. Terá sido o Novo Código Civil o 1º a introduzir no direito positivo brasileiro a figura da lesão? Não. Foi o CDC. A figura da lesão já estava no CDC, no art. 6º, inciso V, só que ele não fala expressamente lesão, enquanto que o NCC fala “DA LESÂO”. Então quem lê o NCC não tem a menor dúvida de que ele prevê a lesão e quem lê o CDC, a não ser que seja advogado, pode não perceber, porque não há a menor referência à lesão. Mas, a lesão está lá.
“(Lei 8.078/90) Art. 6º: São direitos básicos do consumidor: 
.......................
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosa;”
Ou seja, este inciso do art. 6º do CDC é interessantíssimo, porque um bom advogado, que já tem uma boa base doutrinária, percebe nitidamente que este inciso está dividido rigorosamente ao meio. A 1ª parte do inciso é a lesão a 2ª a onerosidade excessiva.
Já o Código Civil preferiu separar nitidamente. Colocou a lesão entre os vícios de consentimento, na parte geral e, a onerosidade excessiva, no livro dos contratos.
Mas, há uma diferença ainda maior entre o CDC e o CC. O CDC não fala, nem insinua anulação por lesão, ele fala em modificação,porque nas relações de consumo, rarissimamente interessa ao consumidor anular o negócio jurídico, ele precisa do produto ou do serviço. Ele não tem interesse em anular, porque se anular, ele vai ter que devolver o produto ou o serviço. O que ele quer é modificar para restaurar o equilíbrio inaugural. Por isso, que o CDC só inclui a modificação e, por isso, muita gente questiona se o consumidor poderia pedir a anulação ou se só pode pedir modificação. 
O Código Civil fez o oposto, não prevê a modificação, e aí vem a pergunta: A luz do Código Civil poderá a vítima da lesão ao invés de pedir a anulação, pedir a modificação? É lógico que pode. Por um princípio de hermenêutica que diz: quem pode o mais, pode o menos. Se o Código Civil me permite pedir a anulação do contrato, por muito mais razão me autoriza pedir a modificação, até porque, como já foi dito, há um interesse social em se manter os contratos. Porém, são óticas diferentes. O CDC junta a lesão e a onerosidade excessiva no mesmo artigo e só fala em modificação. O CC separou e na lesão fala em anulação apenas, não fala em modificação. Uma outra diferença lamentável, o Código Civil, pela demora legislativa, já nasceu requentado. O art. 478 adota nitidamente a teoria da imprevisão, porque esse artigo expressamente diz que você só pode pedir a resolução do contrato em razão de fatos extraordinários e imprevisíveis. Ao passo que o CDC não diz uma palavra sobre a imprevisibilidade, só diz fatos supervenientes, donde se deduz que o CDC adotou a teoria da onerosidade excessiva, mas, o CC se mantém fiel à teoria da imprevisão. Se você interpretar literalmente o art. 478, verá que o fato tem que ser imprevisível e, por isso, você vai reduzir muito a aplicação desse artigo, porque hoje em dia quase todos os fatos econômicos são previsíveis Ex.: a inflação; a política cambial. Por isso é que o STJ, no enunciado 17, para mitigar o art. 478, admitiu que você possa modificar ou resolver o contrato em razão de fatos previsíveis mas, cujos efeitos sejam imprevisíveis. Todo homem comum sabe que a política econômica pode mudar. Agora, se a cotação do dólar aumentou 100% em 24 horas, isso é um efeito imprevisível e, em razão disso, o judiciário pode modificar ou resolver o contrato.
Para finalizar, eu chamo a atenção para esses dois artigos – 156 e 157 – São os mais perfeitos exemplos dessa eticidade que caracteriza o NCC. Eles buscam um contrato justo, equilibrado, mostra que as partes devem agir com lealdade uma com a outra.
Como já foi dito, o Código passado não falava uma palavra sobre a lesão pois, esta não era vista com muito bons olhos pelo estado liberal clássico, pela revolução francesa. Porque a teoria da lesão mitiga ou tempera o princípio da autonomia da vontade. O estado liberal entendia que, ao contratar, as partes eram livres para escolher, portanto, não poderiam modificar o contrato ou resolvê-lo, pois você se obrigou livremente. E, é a liberdade das partes que torna obrigatório o contrato. Então a lesão, assim como a teoria da imprevisão, não eram muito bem aceitos pela doutrina francesa do estado liberal. Como o Código Bevilacqua era inspirado por esses ideais liberais da autonomia da vontade, do pacta sunt servanda, não poderia abrigar idéias da lesão e da onerosidade excessiva, porque essas duas idéias fragilizam esses princípios que eram os pilares de sustentação do estado liberal. Só que os tempos mudaram, o estado liberal clássico faliu e, hoje o que predomina é, o contrário, o dirigismo estatal, a fusão social, a boa fé e, aí percebeu-se que esses 2 princípios fundamentais (a autonomia da vontade e o pacta sunt servanda) devem ser preservados, porém, dever ser mitigados. Não é que nós tenhamos abolidos esses princípios, se nós os abolirmos todo o direito obrigacional vem abaixo, não há como se manter o direito das obrigações e dos contratos. O princípio da autonomia da vontade e o pacta sunt servanda continuarão sendo sempre os princípios fundamentais das obrigações e dos contratos. O que se conseguiu agora e, com grande sacrifício, foi reler esses princípios, revisitá-los, para aproximá-los da realidade moderna de uma sociedade que busca o equilíbrio das prestações, da boa fé, da equidade, da lealdade.
Portanto, os artigos 156 e 157 foram inspirados na idéia de boa fé, de conduta leal, de conduta proba. Entretanto, se conseguiremos alcançar esse ideal de conduta só o tempo dirá.
Encerramos o estudo dos vícios de consentimento e, só falta falar do último vício dos negócios jurídicos, o vício do objeto ou vicio social, que é a:
6) FRAUDE CONTRA CREDORES - É vício de objeto, não é vício de consentimento. A fraude contra credores é um vício que está umbilicalmente ligado ao Direito das Obrigações, o nome deixa isso claro, fraude contra credores.
Credor é quem ocupa o pólo ativo da relação obrigacional. Só pode ser vítima desse vício quem é credor, quem não é credor não pode alegar fraude contra credor. Muitos autores sugerem que a disciplina da fraude contra credores fosse deslocada para o livro das obrigações, mas acabou prevalecendo a tradição de tratar do tema na parte geral, entre os vícios do ato no negócio jurídico. Mas, não deixa de ter uma certa razão essa idéia de tratar da matéria num livro próprio especial das obrigações, que é um tema umbilicalmente ligado ao Direito das Obrigações. 
Para que nós possamos entender o que é uma fraude contra credores, é preciso lembrar que desde a LEX POETELIA PAPIRIA (400 e poucos anos A.C), o que garante o credor, o que assegura a realização do seu crédito, é o patrimônio do devedor. Ou seja, se o devedor não pagar a obrigação, o credor se valerá de seus bens para realizar o seu crédito, ele poderá expropriar os bens do devedor. Mas, não todos os bens, há alguns bens que estão livres dessa ameaça. Há bens impenhoráveis, os quais não poderá se valer o credor. A regra geral é que o credor inadimplido poderá ressarcir-se, assestando a sua pretensão contra o patrimônio do devedor. Quando nós nos obrigamos como devedores, temos que ter consciência que os nossos bens podem ser expropriados pelo credor, caso não paguemos a obrigação, isso desde a LEX POETELIA PAPIRIA, porque antes desta, o que garantia a realização do crédito era a vida do devedor, e depois a sua liberdade. Quer dizer, o devedor inadimplente pagava com a vida, era sacrificado num altar próprio de sacrifícios. A LEX POETELIA tem mais de 25 séculos, e apesar de 25 séculos decorridos, ainda não se inventou nenhum outro sistema melhor. Aliás, graças a Deus, segundo o prof., porque se o sistema inicial dos romanos de sacrificar o devedor inadimplente ainda permanecesse, a população do Brasil estaria reduzida a 1%. LEX POETELIA PAPIRIA foi a 1ª lei que estabeleceu que não seria mais o corpo do devedor que responderia pelo pagamento, e sim o seu patrimônio. Vejam a importância. A LEX PETELIA foi um divisor de águas. Foi ela que livrou os devedores de pagarem com a vida ou com a sua própria liberdade as obrigações. Reafirmando, não se inventou nada melhor até hoje, são os bens do devedor que garantem o credor. 
Vejamos agora o que é uma FRAUDE CONTRA CREDORES. Se são os bens do devedor que garantem a realização do crédito do credor, se um devedor maliciosamente se desfaz de seus bens, se onera de seus bens, num evidente propósito de dificultar o pagamento, ou impedi-lo, é claro que ele está fraudando o direito do credor, que então poderá anular esses atos que reduzem o patrimônio do devedor. 
Questão: Os bens de família podem ser penhorados? Os bens de família, a princípio, são impenhoráveis, porque há exceções. Há 6 ou 7 hipóteses em que se pode penhorar e pracear um bem de família, para cobrar impostos que recaíam sobre os bens, para pagar dívidas trabalhistas, pagar hipoteca....
Há dois tipos de bens de família: Bem de família convencional e Bem de família legal – Lei 8.009/90. Bem de família legal – Imóvel residencial do devedor que não pode ser penhorado. É aquele que está enquadradonos pressupostos da Lei 8.009. O chefe de família não pode ter o imóvel residencial penhorado e praceado, a não ser nas exceções próprias da Lei 8.009/90. Bem de família convencional – É aquele que é instituído na forma do Código Civil, por escritura pública registrada no Registro de Imóveis, ou seja, o chefe de família pode indicar o imóvel residencial através de uma escritura pública, que passará a ser bem de família. E também pode ser penhorado nas mesmas hipóteses da Lei 8.009/90.
Voltando, se o devedor maliciosamente aliena seus bens, grava seus bens, onera seus bens, para impedir ou dificultar a realização do crédito, o credor poderá anular esses atos, alegando fraude ao seu direito de crédito. Inclusive, como para todo direito corresponde uma ação que o assegure, há uma ação própria para que o credor possa anular esses atos, a famosa AÇÃO REVOCATÓRIA, mais conhecida pelo nome de AÇÃO PAULIANA.
AÇÃO PAULIANA - Em homenagem ao Pretor Paulus, que teria idealizado essa ação. Teria, porque não se sabe nem mesmo se o famoso Pretor Paulus existiu, não há nenhuma evidência histórica da existência desse Pretor. Humberto Theodoro acha que isso era uma referência genérica aos Pretores. Essa ação pauliana, ao contrário do que muitos imaginam, não é uma ação de cobrança ou de execução. O autor da ação pauliana nem de longe está cobrando o crédito. O objetivo único da ação pauliana é anular o negócio jurídico, que resultou na alienação de um bem do devedor ou da sua oneração. Por isso que é possível ajuizar a ação pauliana sem estar o crédito vencido, o credor não precisa esperar que o seu crédito vença para só então propor a ação pauliana, porque ele não está cobrando, só está querendo proteger o patrimônio do devedor. Conseqüência da Ação Pauliana – Quando a ação pauliana é acolhida pelo juiz, o bem do devedor que foi alienado ou onerado, retorna livre ao seu patrimônio. Só é legitimado para ajuizar a ação pauliana o credor quirografário, porque o credor privilegiado não tem interesse de agir. Ex.: Sou credor de José, tenho uma hipoteca sobre o imóvel de José. E descubro que José vendeu esse imóvel. Posso propor uma ação pauliana para anular essa venda? Poder, posso, mas o juiz vai indeferir a inicial e corretamente, porque ele vai dizer que falta um requisito essencial da ação, o interesse da agir. O juiz vai perguntar que interesse ele tem de anular esse negócio? A hipoteca é dotada de seqüela, portanto, se o devedor não pagar a obrigação, o credor vai levar o imóvel a praça, mesmo já tendo sido vendido. Então, o credor privilegiado com garantia real, não tem nenhum interesse para ajuizar uma ação pauliana, alegando que o devedor alienou esse imóvel ou esse bem que lhe está dado em garantia real. Já o credor quirografário tem interesse de agir, porque se o devedor aliena os seus bens, ele, que é quirografário, que não tem garantia real, não teria mais como receber. A Fazenda Pública não é credor quirografário. Ela pode ter interesse de propor uma ação pauliana? Sim, a Fazenda Pública pode, de vez em quando vemos isso. O credor preferencial não tem legitimidade para propor a ação pauliana. Só o credor quirografário e que já o era quando se praticou o ato. Você tem que provar também que já era credor do réu, quando ele alienou os seus bens, ou os onerou.
Não confundir: FRAUDE CONTRA CREDORES com FRAUDE À EXECUÇÃO. 
A fraude contra credores se caracteriza quando o devedor aliena ou onera os seus bens, mas sem que já haja uma ação de cobrança, o devedor ainda não foi afrontado judicialmente pelo credor, porque o crédito nem está vencido. Quer dizer, o credor não está cobrando judicialmente o crédito, até porque, muitas vezes o crédito ainda não venceu. Isso é fraude contra credores.
Agora, fraude à execução é muito mais grave. Ocorre quando o devedor já sendo acionado pelo credor, já no curso da ação, aliena seus bens, já estando o credor em juízo contra o devedor. Isso mesmo que a ação seja de conhecimento, não tem importância. Quando se fala em execução, não é preciso que a ação seja de execução, porque a ação de conhecimento termina em execução. Qualquer ação de cobrança, seja pelo rito ordinário, seja pelo rito especial de execução. As conseqüências são diferentes. O ato praticado por fraude à credor são anuláveis, o credor terá que propor a ação pauliana pelo rito ordinário, obrigatoriamente. Assegurando-se o mais amplo direito de defesa, mais ampla dilação probatória, e o ato só se anulará quando transitada em julgado a sentença. Já a fraude à execução, o juiz provocado pelo autor da ação, quando este comunica ao juiz alienação de um bem do réu, o juiz por decisão interlocutória (nos próprios autos), declara que a alienação é ineficaz em relação ao autor. Ineficaz não é nula, nem anulável, significa que o autor poderá executar aquele bem, mesmo que já tivesse sido alienado, porque em relação ao autor, é como se a alienação não existisse. Por quê? Na fraude contra credores a vítima é exclusivamente o credor. Na fraude à execução, a vítima é a própria sociedade, é um ato atentatório a dignidade do judiciário, porque o que o réu quer fazer é debochar do juiz, “O juiz trabalhou 10 anos nesse processo e não adiantou nada, porque já vendi tudo que era meu, e agora não tem como executar a sentença.” Então, a fraude à execução é uma afronta ao judiciário e, por isso, é punida com muito mais eficiência e rigor. Para que haja FRAUDE A CREDOR anulando-se o negócio é preciso que a alienação seja maliciosa, seja no propósito de dificultar a realização do crédito. Por isso, é necessário que estejam presentes 2 pressupostos: 
1º Pressuposto - EVENTUS DAMNI – (Evento Danoso) – É preciso que o credor prove que a alienação lhe trouxe prejuízo, dificultando a realização do crédito. Porque o devedor não está impedido de vender seus bens só porque é devedor, se ele continua solvente. Ex.: Ele tem 10 imóveis e resolve vender 2. Os 8 que sobraram são mais que suficientes para garantir o pagamento. O credor não tem nada a ver com isso. Para caracterizar o eventus damni a alienação ou a oneração do bem do devedor trouxe prejuízo efetivos ao credor, ou seja, levou o devedor à insolvência ou em vias de insolvência. O credor tem que demonstrar o eventus damni, porque se a alienação não afeta o crédito do credor, não impede o pagamento, não há nenhuma ilicitude nessa alienação. Ex.: O devedor vendeu os seus 2 únicos imóveis ou, tinha 3 e o que sobrou não dá para pagar ao credor. 
2º Pressuposto - CONCILIUM FRAUDIS – Além do eventus damni, tem que se provar o concilium fraudis, ou seja, o conluio na fraude. Tem que se provar que, o 3º que adquiriu os bens do devedor, sabia que a alienação foi feita para prejudicar o credor. Isso é importante, porque o juiz, ao julgar uma ação pauliana, tem que verificar se a alienação foi onerosa ou gratuita. Ex.: Devedor doou seus bens a um amigo ou, a um parente ou, a um filho, fez uma alienação gratuita de seus bens. Ou então, fez uma alienação onerosa, vendendo seus bens a um amigo etc. É importante saber se a alienação foi gratuita ou onerosa porque isso muda completamente o julgamento da ação pauliana. Porque se a alienação é gratuita, o credor, que é o autor da pauliana, não precisa provar, não tem o ônus da prova do eventus damni e do concilium fraudis. Tal ônus não recai sobre os ombros do credor, porque ele se presume, cabe ao réu provar, ao contrário, ou seja, que a doação não o tornou insolvente. 
Portanto, ganhar uma ação pauliana, em se tratando de alienação gratuita é mais fácil de se entender, porque fica dispensado do ônus da prova do eventus damni e do concilium fraudis, porque se presume, se presume porque se você está doando seus bens, a presunção é que seu patrimônio está sendo reduzido. Não entra na cabeça de ninguém que, se você está devendo, não vai se dar ao luxo de fazer liberalidades. A ética recomenda que você só faça liberalidades sendo solvente. Caberá ao réu fazer a prova contrária, ou seja, que ele continua solvente,apesar da doação.
Já na alienação onerosa, a rigor, teoricamente, não houve nenhum prejuízo para o credor, porque o devedor vendeu a casa, mas recebeu o preço, o dinheiro. Então, tecnicamente, o patrimônio do réu não modificou, vendeu os bens, mas recebeu o preço. Nesse caso, caberá ao autor fazer a prova do eventus damni e do concilium fraudis, ou seja, tem que provar que o preço não foi pago ou, que foi abaixo do mercado e que, portanto, o patrimônio do devedor reduziu-se. E tem que provar o concilium fraudis, porque se o adquirente ignorava a situação de insolvência do devedor, mantém-se o negócio, protege-se o 3º de boa fé. O autor tem que provar que o adquirente sabia da situação de insolvência do alienante. É muito mais difícil ganhar a ação pauliana quando o ato acusado de fraudatório é oneroso. E, mais uma dificuldade: ninguém vai falar que está vendendo um imóvel para fraudar o credor “José” ou, que está vendendo uma casa, mas na verdade, não está recebendo o preço. Então, exigir uma prova concreta da fraude é impossível, o juiz se vale de indícios, e das experiências comuns da vida.
1º indício – O adquirente é quase sempre um parente ou, um amigo íntimo. Na fraude a credor praticada por atos onerosos, quando se vai examinar, o comprador é quase sempre um parente do devedor ou, pessoa que está ligada a ele. 
2º indício - Às vezes, vários bens do devedor são alienados à mesma pessoa. Compra tudo: casa, automóvel, televisão. 
3º indício – Quase sempre o preço é abaixo do mercado. Até porque, muitas vezes, o comprador que não comprou nada, está simulando que comprou, ele não tem caixa para justificar a compra de todos aqueles bens, então tem que colocar um preço mais baixo.
4º indício – Que é um farol apontando na direção da fraude. Em todas essas alienações, o comprador permite que o vendedor continue com a posse dos bens. 
O juiz pergunta se o sujeito comprou a casa e, mesmo assim, deixou ele (o vendedor) continuar morando. O carro, a mesma coisa, comprou mas o vendedor continua usando. Assim, o juiz julga com a experiência comum da vida “quem vende uma bem, transfere a posse do bem”. Quando o juiz percebe a presença de todos esses indícios, claro que não são provas concretas, mas são indícios veementes, anula o negócio. 
Anulado o negócio, os bens retornam ao patrimônio do réu, do devedor. Alguns dizem que o credor é bonzinho, move uma ação para proteger o devedor, para que os bens voltem ao devedor. Mas, não é isso, não é altruísmo, o que o credor quer é que os bens retornem ao patrimônio do devedor, para depois o credor assestar a constrição sobre eles. Assim, o que move o credor é o interesse pessoal em restaurar o patrimônio do devedor para poder realizar o seu crédito.
Tem gente que pensa que só caracteriza a fraude contra credores atos de alienação de bens do devedor, mas se o devedor tem um único imóvel, e dá esse imóvel em hipoteca a um outro credor, isso pode ser fraude a credor, porque ele está onerando o seu único bem e, com isso, não permitindo que os outros credores façam recair sobre ele a penhora.
Assim, encerramos o estudo dos vícios dos negócios jurídicos.

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