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1. FUNDAMENTOS: ETIMOLOGIA, HISTÓRIA E CONCEPÇÕES DO TRABALHO 1.1. ETIMOLOGIA DA PALAVRA TRABALHO A palavra trabalho deriva do latim tripliquem ou triplos, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados. Curiosamente era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo triplicarem cujo primeiro significado era "torturar". Os povos de gregos e os latinos diferenciavam o trabalho criativo dos artistas e elites do trabalho braçal ou penoso dos escravos: Trabalho criativo: ergon (grego) e opus (latino) Trabalho braçal: ponos (grego) e labor (latino) 1.2. UMA SÍNTESE DA FORMAÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO 1.2.1. A visão bíblica do trabalho Sustenta-se que as primeiras menções à atividade do trabalho estão relacionadas com a obra da criação: “No sétimo dia Deus já havia concluído a obra que realizara, e nesse dia descansou” (Gen. 2:2). Em Gen. 2:15 está escrito que “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo”. Antes mesmo do pecado original o homem já trabalhava. Com o pecado original, a doutrina cristã destaca o trabalho como um castigo, um esforço penoso: Você fez o que a sua mulher disse e comeu a fruta da árvore que eu o proibi de comer. Por causa do que você fez, a terra será maldita. Você terá de trabalhar duramente a vida inteira a fim de que a terra produza alimento suficiente para você. Ela lhe dará mato e espinhos, e você terá de comer ervas do campo. Terá de trabalhar no pesado e suar para fazer com que a terra produza algum alimento; isso até que você volte para a terra, pois dela você foi formado. Você foi feito de terra e vai virar terra outra vez (Gen. 3:17-19). 1.2.2. O trabalho na Antiguidade Embora alguns pensadores da Antiguidade enxergassem o trabalho como atividade essencial ao homem, predominava a ideia do trabalho como uma mercadoria vil, sem valor ou opressor da inteligência, o que tornou possível a escravidão. Nessa forma de trabalho o homem perde a posse de si mesmo. Nessas circunstâncias o escravo torna-se objeto do direito de propriedade e não sujeito de direito, razão pela qual se torna inviável falar-se em Direito do Trabalho. Durante muito tempo o sentido de trabalho esteve mais ligado a valores penosos ou desprezíveis. Com o Renascimento, porém o trabalho passou a ser visto de uma forma positiva, como a essência do homem. 1.2.3. O trabalho na Idade Média O trabalho escravo decai, dando lugar a uma economia agrária. O trabalho era confiado ao servo da gleba, a quem se reconhecia a natureza de pessoa, e não de coisa, embora a situação do servo fosse muito próxima à de escravo. Nessa época surgiram as corporações de ofício, que eram associações de pessoas qualificadas para trabalhar numa determinada função, que se uniam em corporações a fim de se defenderem e de negociarem de forma mais eficiente. Uma pessoa só podia trabalhar em um determinado ofício - pedreiro, carpinteiro, padeiro ou comerciante - se fosse membro de uma corporação. 1.2.4. O trabalho da Idade Moderna Na Idade Moderna as corporações de ofício foram extintas. Na França, a Lei de Chapelier, de 1791, garantiu a liberdade para o trabalho a todas as pessoas, proibindo as corporações, os sindicatos e as greves. O novo regime consagrou a liberdade para o exercício das profissões e para as livres contratações. Fundamentou-se nos princípios do regime liberal (laissez-faire ou laissez-passer e individualismo). O Código Civil Francês (Código de Napoleão), de 1804, estabeleceu a vontade contratual como norma suprema das relações jurídicas e regulou o contrato de trabalho como uma das modalidades de locação. Com o objetivo de evitar o ressurgimento da escravidão, o Código dispunha que o trabalhador só poderia se obrigar por certo tempo ou para a execução de determinada obra. Os códigos elaborados no século XIX e no início do século XX, inclusive o Código Civil brasileiro de 1916, regulamentaram o serviço ou trabalho como locação de coisas. Daí a afirmação de que o Direito Civil da época regulamentava as relações de trabalho por meio de normas de locação de serviços, deslocando a relação jurídica do campo do Direito Civil somente como surgimento do Direito do Trabalho. 1.3. CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL SOBRE O TRABALHO O surgimento da classe operária. A Revolução Industrial deu origem à classe operária, transformando as relações sociais. O trabalho de mulheres e crianças. O emprego das máquinas começou a exigir menos mão-de-obra e reduziu o esforço físico, permitindo o trabalho de mulheres e crianças. A questão social. Os trabalhadores suportavam salários ínfimos, jornadas desumanas e condições de trabalho degradantes, com graves riscos de acidentes. Lei de bronze dos salários. Predominava o entendimento de que o salário era determinado pelo mercado e deveria ser fixado com base na quantidade de alimentos e outras necessidades básicas requeridas para a subsistência de uma família. Ou seja, o salário deveria ser próximo ao mínimo de necessário para a subsistência. Teoria da pauperização da classe operária de Karl Marx. Analisando a lei de bronze dos salários, Karl Marx desenvolveu a teoria da pauperização da classe operária. Segundo Marx, há uma lei geral da acumulação capitalista, que é a tendência do capitalismo de produzir, de um lado, uma imensa riqueza, acumulada pela burguesia, e, de outro, uma enorme miséria, vivenciada cotidianamente pelos trabalhadores. A pauperização relativa das massas é uma tendência geral do desenvolvimento capitalista, tendo em vista a desproporção crescente entre o que o trabalhador recebe, em salários, e o que o capitalista acumula, em capitais. A doutrina marxista contribuiu para que despertasse no trabalhador a consciência coletiva e sua força como classe. Encíclica Rerum Novarum (1891). Preocupada com a questão social, a Igreja editou a Encíclica Rerum Novarum, que preconizava salário justo, melhoria das condições de trabalho e a intervenção do Estado para a regular a relação de trabalho. A intervenção do Estado no muno do trabalho. O Estado deixa de ser um simples observador dos acontecimentos do mundo do trabalho, passando a interferir através de leis trabalhistas para proteger, inicialmente, menores, acidentados e mulheres. A criação da OIT. Inicia-se um movimento de abrangência internacional com vistas à proteção do trabalho. Em 1919 é criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT). 1.3. CONCEPÇÕES DO TRABALHO 1.3.1. Concepção do trabalho como ação transformadora da natureza Essa concepção desconsidera o contexto propriamente histórico e dialético do trabalho e o definem genericamente como gasto de energia ou como ação de transformação da natureza. Tal concepção acaba por compreender que, nas sociedades mais complexas, o trabalho se tornou apenas mais carregado de conteúdo tecnológico. Ou seja, a história é vista como um crescente linear de mais técnica, conhecimento e ciência e menos trabalho e esforço. 1.3.2. Concepção do trabalho como processo social Nas concepções mais complexas, o trabalho decorre de um processo social, de uma história que contrapõe os homens e seus interesses e isso implica uma noção de trabalho bastante diferenciada. Esta noção de trabalho mais complexa inclui discutir, por exemplo, para que e para quem os homens trabalham, se eles são obrigados a trabalhar para outros ou se eles o fazem livremente, se trabalham em troca de algo específico ou de uma parte da riqueza geral criada. Uma definição mais complexa do trabalho é dada por Karl Marx e Engels que acreditam o trabalho é um elemento definidor do próprio ser do homem ou sua dimensão ontológica (a antologia estuda o ser enquanto ser, considerando a natureza que lhe é inerente). Ontologicamente falando, o trabalho seria definidor do ser uma vez que gera as condições reais de sua possibilidade de existência. Ou, dito de outro modo, o trabalho se inseririanuma relação de mediação entre o sujeito e o objeto do seu carecimento (necessidade). Enfim, o conceito de trabalho é um conceito histórico. Ao longo da história vão se colocando novas determinações para este conceito. A forma como os homens se organizam para produzir difere de época para época. Assim é que, no mundo moderno, dizer que o trabalho é trabalho assalariado, acrescentando-lhe assim um qualitativo, é dizer o principal do trabalho num certo tempo e lugar. É dizer que nas sociedades mercantis desenvolvidas se transformam não apenas os produtos do trabalho (em mercadorias), mas o próprio trabalho. 1.3.3. A concepção marxista do trabalho Segundo o materialismo histórico de Karl Marx, sociedade está organizada em duas partes que inter-relacionam: a infraestrutura e a superestrutura. A infraestrutura compreende as forças e relações de produção: as condições de trabalho, a divisão do trabalho e relações de propriedade, na qual as pessoas entram para produzir as necessidades e comodidades da vida. Essas relações determinam outras relações e ideias da sociedade, que são descritas como a sua superestrutura. A superestrutura de uma sociedade inclui a cultura, as instituições, as estruturas de poder político, o direito, a ideologia, a religião e o Estado. A infraestrutura determina a superestrutura, mas sua relação não é estritamente causal, porque a superestrutura muitas vezes influencia a infraestrutura. No entanto, a influência da infraestrutura predomina. Essa concepção do trabalho como elemento que decorre de um processo social também constitui uma crítica da economia política inglesa (Smith e Ricardo). Nestes, o trabalho aparece como elemento importante por trás dos preços das mercadorias. 1.3.4 Concepção humanista do trabalho Numa concepção humanista, o trabalho tem um caráter pessoal, pois constitui um ato de vontade livre do homem; singular, na medida em que traduz uma expressão do valor da personalidade de quem o executa; e material, pois constitui meio de subsistência e de acesso a bens e serviço. Além disso, por intermédio do trabalho, o homem entra em contato com outras dimensões ou funções da vida: a social, a política, a previdenciária, etc. Considerando suas múltiplas dimensões, o trabalho possui caráter multidisciplinar e desperta o interesse de várias áreas do conhecimento: Economia, Sociologia, Filosofia, Administração, Medicinas, Direito, entre outras.
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