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Desenvolvimento Econômico e Qualidade de Vida. Do PIB ao FIB (trechos de textos para estudo) Tradicionalmente, o desenvolvimento é associado ao desenvolvimento econômico. Quando se pensa em um país desenvolvido, se pensa na riqueza deste país, ou em quanto dinheiro circula atualmente neste país. Desenvolvimento econômico é a riqueza econômica dos países ou regiões obtida para o bem estar dos seus habitantes. De uma perspectiva política, desenvolvimento econômico pode ser definido como o esforço que visa melhorar o bem-estar econômico e a qualidade de vida de uma comunidade através da criação e/ou manutenção de empregos e do crescimento da renda. [...] O PIB é um indicador de desempenho econômico, calculado no Brasil pelo IBGE. O PIB real mede o produto total de bens e serviços de um país e, portanto, a capacidade desse país de satisfazer as necessidades e desejos de seus cidadãos. Este indicador foi criado depois da II Guerra Mundial e é, ainda hoje, o critério mais utilizado para medir os níveis de desenvolvimento de uma região ou de um país. Talvez uma das questões mais importantes da macroeconomia seja saber o que determina o nível e o crescimento do PIB. O PIB depende dos fatores de produção, capital, trabalho e da tecnologia que transforma o capital e trabalho em produto. O PIB cresce quando os fatores de produção aumentam ou a tecnologia avança. Admite-se que, no longo prazo, a capacidade de um país de produzir bens e serviços determina o nível de vida de seus cidadãos. PIB É o produto interno bruto agregado que expressa o total da produção final de bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo. PIB = C + G + I + (X – M) G = Consumo do governo C = Consumo das famílias I = Investimento bruto X = exportações de bens e serviços M = importações de bens e serviços Nesta abordagem, o aumento do bem estar econômico e a melhora na qualidade de vida (incluindo lazer, saúde, cultura e educação) são consequências da maior circulação de dinheiro em um país. De maneira resumida, quanto maior o PIB mais desenvolvido seria um país. Tal associação é facilmente compreendida quando lembramos que um PIB elevado significa um mercado suficientemente forte para garantir um consumo igualmente forte e um setor industrial capaz de, por seu lado, garantir a transformação de bens primários em bens de consumo, num circulo virtuoso que leva a mais crescimento econômico e a um PIB crescente. [...] Uma das formas propostas para complementar a análise referente ao nível de desenvolvimento econômico de um país, dá-se por meio de alguns indicadores sociais, tais como: taxa de mortalidade infantil, taxa de analfabetismo, número de médicos e leitos hospitalares por habitante, quantidade média de anos na escola e expectativa de vida. O conceito de desenvolvimento implica, portanto, em muito mais que o simples crescimento e o crescimento econômico não é suficiente para garantir este desenvolvimento.” (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 7-9, grifos nossos) A avaliação do desenvolvimento de um país pelo seu PIB tem sido criticada por não levar em consideração aspectos relacionados ao bem estar socioambiental, que incluem a distribuição da renda e das oportunidades de realização pessoal (acesso à cultura, lazer, esporte, saúde...), bem como a conservação dos serviços ambientais que são a base da existência e da qualidade das ações humanas. Neste sentido, índices como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e o FIB (Felicidade Interna Bruta) aparecem como resposta em uma perspectiva de avanço na idéia de desenvolvimento, para além da idéia de crescimento econômico. [...] o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), [...] mede a média das realizações de um país em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: uma longa expectativa de vida, o conhecimento e um padrão de vida digno para a população. O IDH é uma medida comparativa de pobreza, alfabetização, esperança de vida para os diversos países do mundo. Seu cálculo vai de 0 (zero) a 1 (um), sendo que quanto mais próximo da unidade, mais desenvolvido é considerado o país. A escolaridade inclui a alfabetização dos adultos e a educação primária, secundária e terciária da população em geral. O PIB per capita entra no cálculo do IDH como um substituto de uma medida do padrão de vida ou de distribuição de renda. (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 9) Com o IDH foram incluídos fatores sociais no cálculo da medida do desenvolvimento, mas para avaliar se este desenvolvimento seria sustentável, ainda falta um fator essencial a ser considerado: o meio ambiente. [...] os economistas, que consideram que o desenvolvimento é conseqüência do aumento da circulação e da distribuição do dinheiro, devem aprender como o sistema humano está inserido no meio ambiente. O que os economistas chamam de “externalidades”, mas que na verdade são os fluxos de energia que controlam a economia, devem ser melhor entendidos”. (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 13, grifo nosso) ___________________________________________________________________________________ Um breve histórico e explanação sobre o FIB pode ser visto no texto a seguir, extraído de http://www.felicidadeinternabruta.com.br/oque.php FIB O conceito de Felicidade Interna Bruta nasceu em 1972, em um pequeno país do Himalaia, quando o rei questionou se o Produto Interno Bruto seria o melhor índice para designar o desenvolvimento de uma nação. Desde então, o reino do Butão começou a praticar esse conceito e atrair a atenção do resto do mundo com a sua nova fórmula para o cálculo de riqueza de um país, que considera outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas. Através dos quatro pilares da FIB, economia, cultura, meio ambiente e boa governança, derivam-se 9 domínios de onde são extraídos indicadores para que a “Felicidade” de uma nação seja avaliada: • Bem-estar psicológico - Avalia o grau de satisfação e de otimismo que cada habitante tem em relação à sua própria vida. Os indicadores incluem a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, como os sentimentos de egoísmo, inveja, calma, compaixão, generosidade e frustração. O estresse, as atividades espirituais, a auto-avaliação da saúde, física e mental, também são analisados. • Meio Ambiente - Mede a qualidade da água, do ar e do solo e a biodiversidade. Os indicadores incluem o estado dos recursos naturais, as pressões sobre os nossos ecossistemas, a diversidade e resiliência ecológica. • Saúde - A relação entre saúde e bem-estar é autoexplicativa. O objetivo desse indicador é mostrar os resultados das políticas de saúde. Critérios, como expectativa de vida, também entram na conta. Os indicadores de status de saúde incluem a auto-avaliação da saúde, invalidez, as limitações para atividades e a taxa de dias saudáveis. Os indicadores dos fatores determinantes de saúde incluem padrões de comportamento arriscados, exposição a condições de risco, status nutricional, práticas de amamentação e condições de higiene. O sistema de saúde é medido a partir do ponto de vista da satisfação do usuário em diversas dimensões, tais como amabilidade do provedor, competência, tempo de espera, custo, distância e etc. • Educação - Essa categoria indica o ritmo de crescimento das taxas de alfabetização e do acesso às escolas e faculdades, além de avaliar a eficácia da educação em prol da meta do bem-estar coletivo. O domínio da educação leva em conta vários fatores, tais como: participação, competências, apoio educacional, entre outros. Esse domínio inclui no seu escopo a educação informal (competências nativas, técnicas tradicionais orgânicas de agricultura e pecuária, remédios caseiros, genealogias familiares,conhecimento sobre a cultura e história locais). • Cultura - O domínio da cultura leva em conta a diversidade e o número de instalações culturais, padrões de uso, diversidade no idioma e participação religiosa. Os indicadores estimam valores nucleares, costumes locais e tradições, bem como a percepção de mudanças em valores e tradições. • Padrão de vida - Avalia a renda per capita e a qualidade dos bens e serviços disponíveis à população. O domínio do Padrão de Vida cobre o status econômico básico dos cidadãos do país. Esses indicadores avaliam os níveis de renda ao nível individual e familiar, medem a segurança financeira, o nível de dívidas, a qualidade das habitações e o montante de assistência em espécie recebida por familiares e amigos. • Uso do tempo - Avalia a possibilidade que cada um tem de escolher como aproveitar seus dias. Os indicadores devem mostrar o tempo que a população dedica ao trabalho, à família e à cultura, considerados fundamentais para a sensação de bem-estar das pessoas. • Vitalidade Comunitária - O índice mostra o grau de identidade entre os habitantes. O domínio da vitalidade comunitária foca nas forças e nas fraquezas dos relacionamentos e das interações nas comunidades. Ele examina a natureza da confiança, da sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado. Esses indicadores possibilitarão aos formuladores de política pública rastrear as mudanças nos efeitos adversos para a vitalidade comunitária. • Boa Governança - Avalia como a população enxerga o governo; ver se ele passa a imagem de que respeita características como responsabilidade, honestidade e transparência. Os temas desses indicadores incluem liderança em vários níveis do governo, na mídia, no judiciário, na polícia e nas eleições. Atualmente, existem diversas discussões em torno da revisão do cálculo da riqueza de um país. O PIB é uma medida quantitativa, e não qualitativa, não leva em conta a distribuição da renda e não inclui nenhum julgamento moral sobre o valor da atividade executada (a não ser excluir atividades ilegais, como o tráfico de drogas). Então, por exemplo, a limpeza de um acidente nuclear contribuiria para o PIB da mesma maneira que a produção de energia solar. Quando o petróleo é extraído do solo e vendido aos consumidores, isso é somado à riqueza de uma nação, e não contabilizado como um esgotamento de seus recursos. Esperamos que, ao mudarmos a maneira como calculamos a atividade econômica, possamos mudar nossas prioridades políticas e construir sociedades mais felizes e ambientalmente justas. Veja algumas das iniciativas que promovem uma discussão sobre o cálculo do PIB: Índice de Desenvolvimento Humano – ONU Índice de Genuíno Progresso – Canadá World Database of Happyness – Holanda Comissão de revisão do cálculo do PIB - Joseph Stiglitz Happy Index Planet – Europa O Texto a seguir tem parte do artigo de Eric Zencey “G.D.P. R.I.P (PIB – Descanse em Paz)”, obtido em http://www.visaofuturo.org.br/pdfs2/GNP%20RIP%20-%20PIB%20-%20Descanse%20em%20Paz%20-%20Eric %20Zencey.pdf, no qual o autor aponta diversos limites da utilização do PIB. [...] Para começar, o PIB exclui uma grande parte da produção que tem valor econômico. Nem o trabalho voluntário nem os serviços domésticos não remunerados (faxina, limpeza, cuidar das crianças pequenas, manutenção e melhoramentos do tipo “Faça-Você-Mesmo - Do-It-Yourself”) entram nessa contabilidade, sendo que o nosso padrão de vida, nosso nível geral de bem-estar econômico, se beneficia poderosamente de ambos. Nem tampouco inclui o enorme benefício que obtemos, fora de qualquer mercado, diretamente da natureza. Um exemplo mundano: se você deixar que o sol seque suas roupas, esse serviço é grátis e não aparece no nosso PIB; se você jogar sua roupa suja na secadora, você vai queimar combustível fóssil, aumentar sua pegada carbônica, tornar a economia mais insustentável – e vai dar um empurrãozinho para aumentar o PIB. De uma forma geral, a substituição de serviços do capital-natural (como o sol secando roupas, ou a propagação de peixes, ou controle de enchentes ou a purificação da água) por serviços de capital-construído (capital-built) (como aqueles de uma secadora, ou de uma fazenda de piscicultura industrial, ou de diques, represas e estações de tratamento de água) é uma roubada – capital-construído é caro, não se mantém, e em muitos casos provê um serviço inferior e mais imprevisível. Mas no PIB, cada instância de substituição de um serviço de capital-natural por um serviço de capital- construído aparece como algo bom, um aumento na nossa atividade econômica nacional. Não é de se admirar que atualmente estamos nos defrontando com uma crise global na forma de uma premida escassez de serviços de capital- natural de todos os tipos. Isso aponta para o equívoco maior e mais profundo em se usar uma medida nacional de renda como um indicador de bem-estar econômico. Ao resumir toda a atividade econômica da economia, o PIB não faz distinção entre itens que são ‘custos’ e itens que são ‘benefícios’. Se você sofrer um acidente automobilístico e colocar seu carro amassado numa oficina para fazer lanternagem, o PIB sobe. Um similar e contra intuitivo resultado vem de outros tipos de gastos para reparação, como assistência médica, redução da poluição, controle de enchentes e custos associados com crescimento populacional e crescente urbanização – incluindo prevenção ao crime, construção de auto-estradas, tratamento de água e expansão de escolas. Gastos com tudo isso aumentam o PIB, embora a maior parte do que almejamos comprar não seja um melhorado padrão de vida, e sim a restauração ou a proteção da qualidade de vida da qual já desfrutávamos. E as quantias envolvidas não são nenhuma mixaria. O furacão Katrina produziu algo como 82 bilhões de dólares em danos na cidade de Nova Orleans, nos EUA, e na medida em que a destruição ali foi remediada, o PIB subiu. Algumas das despesas com reparos na Costa do Golfo (onde se situa a cidade de Nova Orleans) de fato representam uma mudança positiva em prol do bem-estar econômico, já que antigos utensílios e tapetes e automóveis foram substituídos por novos, presumivelmente aperfeiçoados. Mas muitas dessas despesas não melhoraram a comunidade (de fato, em certos casos pioraram), se compararmos com o estado dela anteriormente. Considere os cerca de 70 km de mangue esponjoso entre a cidade de Nova Orleans e a Costa do Golfo que outrora protegia a cidade das tempestades. Quando aqueles mangues foram perdidos em prol do desenvolvimento – fatiados até a morte por canais para que, na maior parte das vezes, plataformas petrolíferas pudessem ser transportadas – o PIB subiu, mesmo quando esses “melhoramentos” destruíram as defesas naturais da cidade e dizimaram a crucial área para desova de camarões para a pesca da Costa do Golfo. Os mangues eram uma espécie de capital-natural, e sua perda gerou um custo que jamais entrou em qualquer contabilidade – nem no PIB nem em qualquer outra. Decisões sábias dependem de avaliações precisas dos custos e benefícios de diferentes cursos de ação. Se não levarmos em conta os serviços do ecossistema como um benefício na nossa mensuração básica de bem-estar, suas perdas não poderão ser contabilizadas como um custo – e nesse caso o processo de tomada de decisão do ponto de vista econômico inevitavelmente nos levará a indesejáveis e perversos resultados anti-econômicos. O problema básico é que o PIB mede a atividade, e não o benefício. Se você anotasse suas despesas no seu talão de cheque do jeito que o PIB mede as contas nacionais, você registraria todo o dinheiro que fosse depositado na sua conta bancária, faria entradas para cada cheque que você emitisse (suas despesas), e depois somaria todosesses valores. O resultado dessa soma pode lhe dizer algo de útil sobre o fluxo total de caixa da sua família, mas não irá lhe dizer se, financeiramente falando, você está melhor neste mês do que no mês passado, ou se de fato você está solvente ou falindo. Pelo fato de usarmos tal equivocada métrica de bem-estar econômico, é tolice perseguir políticas cujo principal propósito seja aumentá-lo. Fazer isso é uma instância de “falácia de concretude deslocada” (fallacy of misplaced concreteness) – tomar o mapa pelo território, ou tratando uma leitura de um instrumento como se fosse a realidade em vez de uma representação. Quando você está sentindo frio na sua sala de estar, você não acende um fósforo e o coloca debaixo de um termômetro, para em seguida alegar que a sala esquentou. Mas é isso que fazemos quando buscamos melhorar o nosso bem-estar econômico pela estimulação do PIB. Diversas alternativas ao PIB têm sido propostas, e cada uma lida com o problema central de se colocar valor nos bens e serviços que jamais foram “precificados”. As alternativas são controversas, porque tal tipo de avaliação abre espaço para a subjetividade – para a expressão de valores pessoais, de ideologia e de crença política. Como então, afinal de contas, devemos julgar exatamente o valor daqueles mangues do estado da Louisiana (cuja capital é Nova Orleans)? Será que foi de 82 bilhões de dólares? Mas o que dizer sobre o valor da área de pesca de camarão que já havia sido perdida, mesmo antes do Katrina? E o que dizer sobre o valor do seguro oferecido para a proteção dos mangues contra uma outra perda futura de 82 bilhões de dólares? E o que dizer da segurança e senso de continuidade de vida desfrutados por milhares de pessoas que viviam e ganhavam sua vida em função daqueles mangues antes que estes desaparecessem? É admissivelmente difícil “precificar” (colocar um preço em) tais coisas – mas não há razão para se arbitrar seus preços como zero, do jeito que o PIB atualmente faz. O senso comum nos diz que, se quisermos uma acurada contabilidade da mudança do nosso nível de bem-estar econômico, precisamos subtrair os custos dos benefícios, e contabilizar todos os custos, incluindo aqueles relacionados aos serviços providos pelo ecossistema, uma vez que estes sejam perdidos por conta do desenvolvimento econômico. E nestes custos deveriam ser incluídos proteção contra inundações e tempestades, purificação e abastecimento de água, manutenção da fertilidade do solo, polinização das plantas e regulação do clima numa escala global e local. (Uma recente estimativa coloca o valor mínimo de mercado desses serviços de capital-natural em torno de 33 trilhões de dólares por ano). A natureza também tem um valor estético e moral; alguns de nós experienciam deslumbramento, arrebatamento e humildade nos nossos encontros com ela. Mas não precisamos ir tão longe a ponto de incluir tais intangíveis subjetivos para consertar a contabilidade da renda nacional. À medida que os desgastados ecossistemas pelo mundo forem desaparecendo, será cada vez mais fácil atribuir uma avaliação não subjetiva aos mesmos - um valor que devemos atribuir caso queiramos mantê-los de fato. Nenhuma civilização pode sobreviver à sua perda. Considerando os problemas fundamentais com o PIB enquanto um principal indicador econômico, e o nosso hábito de tomá-lo como a medida de bem-estar econômico, deveríamos descartá-lo completamente. Poderíamos manter o atual número, mas “renomeando-o” para tornar mais claro o que ele de fato representa: poderíamos chamá-lo de “Transações Domésticas Brutas”. Poucas pessoas se deixariam iludir, assumindo que uma mensuração de transações brutas representaria uma mensuração do bem-estar geral. E essa “renomeação” iria criar espaço para a aceitação de uma nova mensuração, que pudesse sinalizar de forma mais acurada as mudanças no nível de bem-estar econômico que estivéssemos desfrutando. Nosso uso de produtividade total como sendo nosso principal indicador econômico não é mandatário por lei, de modo que seria razoavelmente fácil para o Presidente Obama convocar um painel de economistas e outros especialistas para que se juntassem ao Bureau of Economic Analysis na criação de uma nova e mais acurada medida. Pode até ser chamada de “Bem-Estar Econômico Líquido”. No lado dos benefícios figurariam os tais bens de fora do mercado, como o trabalho doméstico não remunerado e os serviços providos pelo ecossistema, e no lado do débito ficariam os gastos defensivos e de reparação que não melhoram o nosso padrão de vida, juntamente com a perda dos ecossistemas, e o capital que gastamos ao tentar substituí-los. Em 1934, o economista Simon Kuznets, no seu primeiro relatório sobre a renda nacional no Congresso americano, alertou que “o bem-estar de uma nação não pode ser inferido a partir de uma medida de renda nacional”. Assim como essa crise que estamos vivendo nos dá a oportunidade de acabar com a abordagem econômica da “natureza-que se-dane” e do “quanto-mais-melhor”, que floresceu quando o petróleo era barato e abundante, podemos finalmente agir em cima do sábio alerta de Kuznets. Estamos num buraco econômico, e à medida que subimos para fora dele, o que precisamos não é simplesmente uma medida do quanto de dinheiro passa pelas nossas mãos a cada trimestre, mas de um indicador que nos possa dizer se estamos de fato e realmente ganhando terreno na perene luta para melhorar as condições materiais da nossa vida. ENTREVISTA COM Dr. ERIC ZENCEY Por que deveríamos estar pensando numa alternativa ao PIB agora? O PIB é uma medida extremamente tola para se avaliar o progresso econômico e o bem-estar humano. Esse índice jamais foi idealizado para medir esses conceitos, e precisamos achar uma medida melhor o quanto antes. Qualquer hora é uma boa hora para se fazer isso, mas a crise pela qual estamos passando atualmente torna esse momento ainda mais oportuno. O que estamos vendo do ponto de vista econômico é, de muitas maneiras, inédito, e a resolução dessa crise irá requerer que pensemos de modos que não foram pensados anteriormente. Em termos práticos, com o PIB em baixa no mundo todo, fica mais fácil fazer a mudança. Uma nova métrica poderia ser implementada, e poderia orientar as políticas públicas em prol de uma recuperação econômica que possa nos dar mais daquilo que realmente almejamos, que é bem- estar social, e não apenas atividade econômica. Por que o PIB é uma medida “extremamente tola” de bem-estar? O primeiro e maior problema é que o PIB não mede coisa alguma de bemestar, ele mede a soma total do valor monetário das transações do mercado. Por conta disso, ele junta coisas que são custos e coisas que são benefícios, sem fazer muita distinção entre ambos. Isso é uma tolice. E mesmo como um somatório de todos os custos e benefícios o PIB é falho, por que ele não mede os custos de forma acurada. Mas o que é que o PIB falha em medir? O custos mais significativos que o PIB falha em medir, na minha opinião, são os custos do desenvolvimento econômico – as perdas de capital natural, e por conseguinte os custos dos serviços do capital natural, que acontecem com a destruição ou a radical simplificação de complexos ecossistemas. Nenhuma civilização pode sobreviver à perda dos serviços do capital natural da qual ela depende. Se deixarmos de contabilizar as perdas por esses serviços na nossa contabilidade nacional, avançaremos diretamente para a nossa extinção. Será que você poderia dar exemplos de serviços de capital natural? Certamente que posso! Essa terminologia ainda é um tanto recente, porém a conscientização do conceito está crescendo. Nós – nós humanos, nas nossas comunidades, nações e civilizações – desfrutamos de inegáveis e diretos bens e serviços da natureza, que estão à margem de qualquer mercado. Os economistas que falam dessas coisas têmencontrado diversos modos de classificar os serviços de capital natural em diferentes categorias, mas basicamente eles são em torno de uma dúzia. Permita-me discorrer sobre essa lista: micro e macro moderação climática, purificação e transporte de água; polinização; controle de enchentes e moderação de tempestades; provisão de matéria prima; absorção (e algumas vezes desintoxicação) dos nossos afluentes; fertilidade do solo; reciclagem de nutrientes; habitat para espécies; criação e manutenção de um estoque de possibilidades genéticas; e oportunidades recreativas, estéticas, espirituais e educacionais para os seres humanos. Repito, essa é apenas uma possível maneira de descrever os tipos de serviços que a natureza nos oferece. Gostaria de ressaltar com estudantes que historicamente o movimento ambiental tem sido associado apenas com a última categoria – a imagem do ambientalista é aquela do “abraçador de árvores”, a pessoa que enxerga valores estéticos, recreativos ou espirituais na natureza. Em parte isso se dá porque tradicionalmente a economia tem dito “claro, a natureza tem valor, algumas pessoas pagarão para apreciá-la, por isso ela deve ter algum valor”. O que o conceito de capital natural faz e redimensionar essa moldura. Ele diz que os valores ambientais não são um mero subconjunto dos valores econômicos, mas justamente o oposto. Uma economia não navega à deriva numa Terra-do-Nunca, do modo que os livros acadêmicos a modelam. Uma economia está inserida num ambiente mais amplo. Ela troca matéria e energia com esse ambiente. E isso significa que os processos econômicos são na verdade um subconjunto dos processos ambientais. Existe um capital natural e um capital construído (built capital), sendo que a nossa economia extrai serviços produtivos de ambos.[...] (p.2-7) São apresentados a seguir alguns trechos do artigo “Educar para a Sustentabilidade: complexidade, reflexividade, desafios” de Pedro Roberto Jacobi (Professor Titular da Faculdade de Educação da USP) Ver a publicação completa (inclusive para consulta das referências bibliográficas em: JACOBI, Pedro. Educar para a Sustentabilidade: complexidade, reflexividade, desafios- In: Revista Educação e Pesquisa- vol. 31/2- maio-agosto 2005, FEUSP. (disponível em http://www.ufmt.br/gpea/pub/jacobi_art.rev.fe-2005.abril%202005.pdf) [...] 1- O Complexo Desafio da Sustentabilidade As noções de desenvolvimento e direitos humanos representam duas idéias força que marcam a segunda metade do século XX. Em ambos os casos, o sistema das Nações Unidas desempenha o papel de promotor e impulsionador dos processos de debate e formulação de agendas que colocam estes temas para a sociedade. No caso do tema do meio ambiente, a sua emergência é mais recente, como conseqüência dos debates sobre os riscos de degradação do meio ambiente, que de forma esparsa, começaram nos anos sessenta. [...] O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que a relação estabelecida entre os humanos e o meio ambiente está causando impactos cada vez mais complexos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, nas condições de vida das populações e na capacidade de suporte planetária com vistas a garantir a qualidade de vida das futuras gerações. O conceito de desenvolvimento sustentável surge no contexto do enfrentamento da crise ambiental, configurada na degradação sistemática de recursos naturais e nos impactos negativos desta degradação sobre a saúde humana. [...] Articulam-se [..], de um lado, os impactos da crise econômica dos anos 80 e a necessidade de repensar os paradigmas existentes; e de outro, o alarme dado pelos fenômenos de aquecimento global e a destruição da camada de ozônio, dentre outros problemas (Jacobi, 1997, Guimarães, 2001, Conca et al,1995). Assim, o que se observa é que enquanto se agravavam os problemas sociais e se aprofundava a distancia entre os países pobres e os industrializados, emergiram com mais impacto diversas manifestações da crise ambiental, que se relacionam diretamente com os padrões produtivos e de consumo prevalecentes. Os sinais da crescente conscientização se observam a partir de alguns referenciais que agregam à dimensão do discurso propostas de sustentabilidade ambiental , social e de desenvolvimento, como é o caso dos movimentos sociais em defesa da ecologia, as conferências internacionais promovidas pela ONU principalmente, a partir da Conferência das Nacões Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, – Organização das Nações Unidas — para debater os temas do meio ambiente e do desenvolvimento; nos relatórios do Clube de Roma e, mais ou menos diretamente, nos trabalhos de autores pioneiros, de diversos campos, que refletiram sobre as mesmas questões. Um dos mais destacados foi A Primavera Silenciosa de Rachel Carson, cientista e ecologista americana, que lançado em 1962, marcou o início da revolução ecológica nos Estados Unidos (Martell, 1994; Dobson, 1994;). Rachel Carson questionava o modelo agrícola convencional e sua crescente dependência do petróleo como matriz energética. Ao tratar do uso indiscriminado de substâncias tóxicas na agricultura, alertava para a crescente perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos e os efeitos dessa utilização sobre os recursos ambientais. A maior contribuição de A Primavera Silenciosa1 foi a conscientização pública de que a natureza é vulnerável à intervenção humana. Poucas pessoas até então, se preocupavam com problemas de conservação, a maior parte pouco se importava se algumas ou muitas espécies estavam sendo extintas. O alerta de Rachel Carson era assustador demais para ser ignorado: a contaminação de alimentos, os riscos de câncer, de alteração genética, a morte de espécies inteiras... Pela primeira vez, a necessidade de regulamentar a produção industrial de modo a proteger o meio ambiente se tornou aceita. Em pouco tempo a obra de Carson tornou-se uma referência do emergente movimento ambientalista nos EUA: e foi também um dos principais alicerces do pensamento ambientalista naquele país e no restante do mundo, tornando-se um referencial no debate em torno dos desequilíbrios ecológicos provocados pela ação humana no planeta. Logo após a publicação de Primavera Silenciosa, trabalhos como o de Paul Ehrlich, The Population Bomb (1966) e o de Garret Hardin, Tragedy of the Commons(1968), reforçaram a teoria malthusiana, relacionando a degradação ambiental e a degradação dos recursos naturais ao crescimento populacional. Em 1972, com a publicação pelo Clube de Roma2 do livro Limites do Crescimento, os cientistas, liderados por Dennis Meadows argumentam de forma catastrofista que a sociedade se confrontaria dentro de poucas décadas com os limites do seu crescimento por causa do esgotamento dos recursos naturais. Para alcançar a estabilidade econômica e ecológica se propõe o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos limitados e indicando um forte viés para o controle demográfico. No mesmo ano, a Organização das Nações unidas promove a Conferência de Estocolmo, onde pela primeira vez na história se discute a questão ambiental, e se insere a discussão ambiental na agenda internacional. Em 1973, utiliza-se pela primeira vez o conceito de ecodesenvolvimento para caracterizar uma concepção alternativa de desenvolvimento, cujos princípios foram formulados por Ignacy Sachs. Tinham como pressuposto a existência de cinco dimensões do ecodesenvolvimento, a saber: 1) a sustentabilidade social, 2) a sustentabilidade econômica, 3) a sustentabilidade ecológica, 4) a sustentabilidade espacial e 5) a sustentabilidade cultural . Estes princípios se articulam com teorias de autodeterminação que estavam sendo defendidaspelos países não alinhados desde a década dos 60 (Sachs, 1986; Guzman, 1997, Jacobi, 1997). 1 A autora, mostrou como o DDT penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem (chegou a ser detectada a presença de DDT até no leite humano!), com o risco de causar câncer e doenças genéticas. A grande polêmica movida pelo instigante e provocativo livro é que não só ele expunha os perigos do DDT, mas questionava de forma eloqüente a confiança cega da humanidade no progresso tecnológico. Dessa forma, o livro ajudou a abrir espaço para o movimento ambientalista que começava a emergir. 2 O Clube de Roma foi uma associação livre de cientistas, empresários e políticos de diversos países que se reuniu em Roma, no princípio da década de 70, para refletir, debatere formular propostas sobre os problemas do sistema global (McCormick, 1992). [...] Os pressupostos do ecodesenvolvimento e outras formulações desenvolvidas nos anos setenta conseguiram introduzir a dimensão ambiental nos esquemas tradicionais de desenvolvimento econômico prevalecentes na América Latina, e a partir delas avançou-se na adoção de políticas ambientais mais estruturadas e consistentes. [...] Provavelmente a maior virtude do ecodesenvolvimento seja a de que além da incorporação definitiva dos aspectos ecológicos no plano teórico, enfatiza a necessidade de inverter a tendência autodestrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a natureza. O conceito de ecodesenvolvimento propunha uma abordagem multidimensional e alternativa de desenvolvimento que articulava promoção econômica, preservação ambiental e participação social. O conceito de desenvolvimento sustentável pela Comissão Brundtland em 19873 3 - “Nosso Futuro Comum” possibilita uma complexa integração conceitual entre meio ambiente e desenvolvimento, - projeta mundialmente o termo “desenvolvimento sustentável” e o conteúdo da nova estratégia oficial de desenvolvimento. A Comissão parte de uma visão complexa das causas dos problemas sócio-econômicos e ecológicos da sociedade global, sublinhando as interrelações entre economia, tecnologia, sociedade e política, e enfatiza a necessidade de uma nova postura ética assentada na responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os integrantes da sociedade dos nossos tempos. Apresenta uma lista de ações a serem assumidas enquanto atribuições dos Estados e também define metas a serem realizadas no nível internacional, tendo como agentes as diversas instituições multilaterais.[...] [...] Apesar das críticas a que tem sido sujeito, o conceito de desenvolvimento sustentável representa um importante avanço. O principal referencial é a Agenda 21 global, plano abrangente de ação para o desenvolvimento sustentável no século XXI, que considera a complexa relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente, que a partir de um tripé, combina eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica, como premissas da construção de uma sociedade solidária e justa. O desenvolvimento sustentável4 não se refere especificamente a um problema limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma estratégia ou modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto uma viabilidade econômica quanto ambiental. Num sentido abrangente a noção de desenvolvimento sustentável remete à necessária redefinição das relações sociedade humana – natureza, e, portanto a uma mudança substancial do próprio processo civilizatório. Entretanto, a falta de especificidade e as pretensões totalizadoras tem tornado o conceito de desenvolvimento sustentável, difícil de ser classificado em modelos concretos e operacionais e analiticamente precisos. Por isso, ainda é possível afirmar que não se constitui num paradigma no sentido clássico do conceito, mas uma orientação ou um enfoque, ou ainda uma perspectiva que abrange princípios normativos (Jacobi, 1997; Ruscheinsky, 2004;Guimarães, 2001). O desenvolvimento sustentável (Jacobi, 1997) somente pode ser entendido como um processo onde, de um lado, as restrições mais relevantes estão relacionadas com a exploração dos recursos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional. De outro, o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente aqueles relacionados com a equidade, o uso de recursos – em particular da energia, e a geração de resíduos e contaminantes. Além disso, a ênfase no desenvolvimento deve fixar-se na superação dos déficits sociais nas necessidades básicas e na alteração de padrões de consumo, principalmente nos países desenvolvidos para poder manter e aumentar os recursos base, sobretudo os agrícolas, energéticos, bióticos, minerais, ar e água. [...] Freqüentemente, observa-se o conceito de desenvolvimento sustentável como idéia força integradora, apesar do consenso que tem sido construído, e que serve para impulsionar os enfoques integradores entre meio ambiente e desenvolvimento. Podemos afirmar que ainda prevalece o enfoque sobre o desenvolvimento sustentável mais centrado na sua capacidade de idéia força, nas suas repercussões intelectuais e no seu papel articulador de discursos e de práticas atomizadas. Atualmente, o avanço rumo a uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos, na medida em que existe uma restrita consciência na sociedade a respeito das implicações do modelo de desenvolvimento em curso. As causas básicas que provocam atividades ecologicamente predatórias podem ser atribuídas às instituições sociais, aos sistemas de informação e comunicação e aos valores adotados pela sociedade. Isto implica principalmente na necessidade de estimular uma participação mais ativa da sociedade no debate dos seus destinos, como uma forma de estabelecer um conjunto socialmente identificado de problemas, objetivos e soluções (Jacobi, 1997, Guimarães, 2001). 3 Este relatório é o resultado do trabalho da comissão da ONU World Comission on Environment and Development presidida por Gro Harlem Brundtlandt, então primeira ministra da Noruega, foi organizada pela ONU, em 1983, para estudar a relação entre o desenvolvimento e o meio ambiente e criar uma nova perspectiva para abordar essas questões. O Relatório “Nosso Futuro Comum”, produzido pela Comissão, veio a público em 1987 (McCormick, 1992). 4 O livro organizado por Clovis Cavalcanti (1997) “ Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas” apresenta um conjunto de contribuições de autores nacionais e estrangeiros numa perspectiva interdisciplinar, reunindo diferentes abordagens teóricas e expressando as preocupações básicas em torno dos desafios da sustentabilidade. A sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra-econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a eqüidade , a justiça social e a ética dos seres vivos. Os anos noventa marcam mudanças significativas no debate internacional sobre os problemas ambientais. A atenção do planeta para a crise ambiental, que se inicia em Estocolmo em 1972, atinge seu clímax no Rio de Janeiro, em 1992, quando são lançadas as bases para uma nova concepção de desenvolvimento. No processo que conduziu à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento –a Rio 92 – o enfoque do desenvolvimento sustentável foi adotado como um marco conceitual que presidiu todo o processo de debates, declarações e documentos formulados. Assim a interdependência entre o desenvolvimento socioeconômico e as transformações no meio ambiente, ignorada durante décadas, entrou tanto no discurso como na agenda de grande parte dos governos do mundo. A décadade 90 representa um marco no debate internacional sobre os problemas ambientais, tendo a Conferência Rio 92 como ponto de inflexão pelo seu significado para a legitimação de uma nova concepção de desenvolvimento. Avança-se na adoção de convenções como a de Diversidade Biológica e a de Mudanças Climáticas, indicando novas possibilidades de o fortalecimento das interconexões entre as dimensões ambientais, sociais, culturais e econômicas do desenvolvimento. Representou também um primeiro passo de um longo processo de entendimento entre as nações sobre as medidas concretas visando reconciliar as atividades econômicas com a necessidade de proteger o planeta e assegurar um futuro sustentável para o planeta. Segundo Guimarães (2001:17), o debate internacional que teve início em Estocolmo e consolidou-se no Rio, supera inexoravelmente a perspectiva tecnocrática no tratamento da crise ambiental, a ilusão ingênua que os avanços do conhecimento científico seriam suficientes para permitir a emergência de um estilo sustentável de desenvolvimento. Os problemas ambientais são os problemas do desenvolvimento, de um desenvolvimento desigual para sociedades humanas, e nocivo para os sistemas naturais. Isto requer “declarar reiteradamente que os seres humanos constituem o centro, e a razão de ser do desenvolvimento requer um novo estilo que deve ser ; ambientalmente sustentável no acesso e uso dos recursos naturais e na preservação da biodiversidade; que seja socialmente sustentável na redução de pobreza e das desigualdades e na promoção da justiça social; que seja culturalmente sustentável na conservação do sistema de valores, práticas e símbolos de identidade que determinam integração nacional ao longo do tempo; e que seja politicamente sustentável aprofundando a democracia e garantindo o acesso e participação de todos os setores de sociedade nas decisões públicas. Este estilo tem como diretriz uma nova ética de desenvolvimento, uma ética na qual os objetivos econômicos de progresso material subordinam-se às leis que governam o funcionamento dos sistemas naturais, bem como à critérios superiores de respeito à dignidade humana e de melhoria na qualidade da vida das pessoas. Uma outra iniciativa marcante e que teve ampla repercussão foi a Carta da Terra,resultado da mobilização e articulação da sociedade civil que se inicia a partir da publicação de Nosso Futuro Comum em 1987, e cuja primeira versão foi discutida na Eco 92, durante o Fórum Global de ONGs. Em 1997, durante a Conferência de Meio Ambiente -Rio + 5 foi instituída a comissão responsável para coordenar os processos de consulta e redação, e após amplos processos públicos de debates em quarenta e seis países durante oito anos, em 14 de março de 2000 foi ratificada pela Unesco (Gadotti, 2000; Trevisol, 2003:105-108; Boff, 2002:49-56). Trata-se de uma declaração de princípios globais que orienta as ações individuais e coletivas rumo ao desenvolvimento sustentável e sugere parâmetros éticos globais. Boff (2002:54-55) destaca três pontos relevantes: resgate de valores da solidariedade, da inclusão e da reverência; superação do conceito fechado de desenvolvimento sustentável e ética do cuidado. Na mais recente Cúpula do Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - Rio + 10 , realizada em 2002 em Johanesburgo, as questões mais relevantes sobre clima e energia não foram devidamente tratadas, poucas metas pré- determinadas foram revistas e não foram estabelecidos prazos severos para o seu cumprimento. O plano aprovado na Cúpula apenas faz recomendações e sugestões de objetivos que visam conciliar o crescimento econômico, a justiça social e a proteção ao meio ambiente, sem estabelecer metas com percentuais específicos ou com data marcada para a solução dos problemas. As expectativas geradas com os avanços na Rio 92 se reduzem significativamente antes e após o constatado relativo fracasso da Conferência Rio +10. Apesar dos avanços ocorridos em vários setores, os princípios de proteção ambiental e de desenvolvimento sustentável continuam a ser considerados um entrave para o crescimento econômico. O quadro atual, claramente demonstrado por estudos científicos, indica que os ecossistemas continuam sentindo o impacto de padrões insustentáveis de produção e de urbanização. A base de recursos naturais continua estando sujeita às pressões antrópicas crescentes, e os serviços ambientais estão absorvendo um maior volume de poluição. Além disso, durante a última década muitos países aumentaram sua vulnerabilidade a uma série mais intensa e freqüente de fenômenos que tornam mais frágeis os sistemas ecológicos e sociais, provocando insegurança ambiental, econômica e social, minando a sustentabilidade e gerando incertezas em relação ao futuro. ______________________________________________________________ O que é desenvolvimento sustentável (trechos de obras) “Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.” (PREÂMBULO da Carta da Terra) “No dicionário, a sustentabilidade simplesmente implica que uma determinada atividade ou ação seja susceptível de ser sustentada (ou seja, de continuar indefinidamente). Pensando no meio ambiente, esta definição não é particularmente útil uma vez que muitas práticas altamente nocivas podem ser mantidas por longos períodos de tempo, além do tempo da vida humana individual. Muitas pessoas podem argumentar que os ecossistemas se adaptam às mudanças impostas pela ação humana ao longo do tempo, mas esta é uma representação perversa para o futuro do planeta. Os ecossistemas do planeta, que suportam a totalidade das nossas necessidades no que diz respeito à saúde, à criação de riqueza e bem-estar, têm evoluído ao longo de bilhões de anos. Por sua vez, a civilização moderna surgiu há cerca de 5.000 anos (ou 70 vidas humanas de 70 anos ou cerca de 200 gerações). O ritmo da mudança que temos imposto ao mundo natural é espetacularmente rápido e pode ser também irreversível, uma vez que excede a velocidade em que ecossistemas podem evoluir. Portanto, temos de tomar os diversos ecossistemas do planeta como um ponto de referência fixa para enquadrar as nossas atividades de desenvolvimento, em vez de esperar que os ecossistemas se moldem de acordo com nossas necessidades e desejos. A emergência nas décadas de 80 e 90 para as questões ambientais de alcance global, como o empobrecimento da camada de ozônio e as alterações climáticas, chamou a atenção para o acentuado aumento na taxa e na amplitude das mudanças no ambiente forjadas pela expansão da economia global.” (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 17) Desenvolvimento Sustentável “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.” (Nosso Futuro Comum – Relatório Brundtland - 1987) “O conceito de desenvolvimento sustentável tem uma conotação extremamente positiva. Tanto o Banco Mundial, quanto a UNESCO e outras entidades internacionais adotaram-no para marcar umanova filosofia do desenvolvimento que combina eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica. Esse tripé virou fórmula mágica, que não falta em nenhuma solicitação de verbas para projetos da natureza mais variada no campo eco-sócio-econômico dos países e regiões do nosso velho Terceiro Mundo. O conceito desenvolvimento sustentável sinaliza uma alternativa às teorias e aos modelos tradicionais do desenvolvimento, desgastadas numa série infinita de frustrações.” (BRÜSEKE, 1994, p. 17, grifos nossos)5 Um antecedente importante deste conceito, já visto no texto de Jacobi, foi o trabalho do Clube de Roma (Limites do Crescimento): “[...] O relatório, utilizando simulações em computador, mostrou que a taxa de crescimento da utilização dos recursos e a poluição ameaçavam comprometer o crescimento econômico com consequências imprevisíveis. Segundo as ideias dos economistas tradicionais, era preciso crescer para atingir o desenvolvimento. Mas, se o sistema econômico não pode ser expandir indefinidamente, a fim de permitir o acesso a melhores padrões de vida para os pobres, como atingir o desenvolvimento? Além disso, o crescimento demográfico e o econômico eram tipicamente vistos como indissoluvelmente ligados, com um apoiando o outro. Como lidar com o crescimento da população? Limites do Crescimento criou a necessidade de responder a tais perguntas em confronto com os modelos de crescimento dominantes. A escolha não estava mais entre o crescimento e o não crescimento, mas na desaceleração do crescimento, para evitar um colapso de proporções indefinidas. Neste sentido, a questão não é tanto o que é sustentabilidade, mas sim o que significa ser insustentável. Esta questão é tratada por Jared Diamond em Colapso. Para Diamond, o resultado de práticas insustentáveis de utilização da natureza, não resulta em catástrofe, mas em que as gerações futuras terão, “níveis de vida significativamente piores”. “riscos mais elevados” e serão privados dos principais valores que atualmente detêm. Ele defende que a economia mundial moderna deve aprender com o passado e utilizar os sinais do presente. O desafio do desenvolvimento sustentável O grande desafio deste século é o de alcançar a situação denominada de desenvolvimento sustentável. Isto implica em compreender que a sociedade e a economia estão inseridas no meio ambiente. A natureza fornece materiais e energia e, quando estes são abundantes, a economia cresce, o conhecimento e as aspirações dos seres humanos aumentam. Se o meio ambiente for explorado a uma velocidade superior àquela que o planeta tem condições de repor, os valores, projetos e aspirações tendem a desacelerar. [...] A capacidade de carga é outro conceito que precisa definição: em biologia é “o máximo de população de uma determinada espécie que uma área pode suportar sem reduzir a capacidade de suporte da mesma espécie no futuro”. Mas para os seres humanos, a definição depende de uma distinção entre crescimento e desenvolvimento. Para a humanidade, a sustentabilidade será alcançada somente quando o desenvolvimento suplantar o crescimento, reconhecendo a natureza finita dos recursos do nosso planeta. 5 BRÜSEKE, Franz (1994) “O problema do desenvolvimento sustentado” In CAVALCANTI, Clóvis (Org.). Desenvolvimento e Natureza: Estudos para uma sociedade sustentável. INPSO/FUNDAJ, Instituto de Pesquisas Sociais, Fundacao Joaquim Nabuco, Ministerio de Educacao, Governo Federal, Recife, Brasil. 1994. p. 262. (14-20 pp.) Disponível em: http://168.96.200.17/ar/libros/brasil/pesqui/cavalcanti.rtf (Acesso em 10/01/2011) De forma mais ampla, a capacidade de carga refere-se ao número de indivíduos que podem ser suportados por uma determinada área, dentro dos limites de seus recursos naturais, e sem degradar os capitais naturais, sociais e econômicos. A capacidade de carga para uma determinada área não é fixa. Ela pode ser alterada pela tecnologia, para melhor ou para pior, por pressões do aumento populacional ou do aumento da poluição. Quando o ambiente é degradado, a capacidade de carga efetivamente encolhe, deixando o ambiente incapaz de suportar até mesmo o número de pessoas que poderiam ter vivido anteriormente na área em uma base sustentável. Nenhuma população pode viver além da capacidade de carga do ambiente por muito tempo. As diferentes opções para o futuro estão condicionadas pela capacidade do meio ambiente em fornecer materiais e energia e à capacidade dos seres humanos de perceber e compreender que o desenvolvimento depende dos fluxos provenientes da natureza e é limitado por eles. (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 18-20, grifos nossos) “Sustentabilidade Ambiental [...] Para que uma sociedade seja sustentável, alguns fatores devem ser observados. Segundo Herman Daly, ideólogo da Teoria da Sustentabilidade, há dois princípios básicos a serem atendidos: 1º princípio da sustentabilidade ambiental – Os recursos naturais não devem ser consumidos a uma velocidade que impeça sua recuperação. 2º princípio da sustentabilidade ambiental – A produção de bens não deve gerar resíduos que não possam ser absorvidos pelo ambiente de forma rápida e eficaz. A aplicação desses princípios em nível global direciona ações locais em prol: • da conservação dos sistemas de sustentação da vida e da biodiversidade, • do aumento de uso de recursos renováveis, • da minimização da utilização de recursos não renováveis e • do respeito aos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas. Nos modelos de interação dos sistemas humanos (econosfera e sociosfera) com o meio ambiente (ecosfera) surgem na literatura, três tipos de sustentabilidade: a econômica, a social e a do meio ambiente. Os três tipos se confundem e são representados por diversos modelos. Aqui será tratada a sustentabilidade ambiental, por entender que a sociedade e a economia não são possíveis sem a interação com o meio ambiente. Os fluxos a que se referem aos princípios da sustentabilidade de Herman Daly podem ser identificados nos modelos de interação dos sistemas humanos. Dependendo do tipo de interação considerado, a sustentabilidade pode ser classificada de três formas diferentes: fraca, média e forte dependendo de quanto se considera a substituição entre os tipos de capital (natural, econômico e social). O primeiro modelo representa a interação entre os sistemas humano e natural como compartimentos separados e ilimitados em seu desenvolvimento. Neste tipo de sustentabilidade fraca, a soma de todos os capitais (ambiental, econômico e social) é mantida constante, sem diferenciação do tipo de capital. Por exemplo, uma planta de tratamento de efluentes líquidos substituiria perfeitamente o serviço ambiental de purificação de água realizado por uma floresta. Dada a atual ineficiência na utilização dos recursos do meio ambiente, a sustentabilidade fraca seria uma melhoria bem-vinda como uma primeira etapa, mas este modelo não representa a sustentabilidade ambiental, já que os capitais não são substitutos perfeitos uns aos outros, pelo contrário, são complementos. Por exemplo, a planta de tratamento de efluentes líquidos complementaria o serviço ambiental de purificação de água realizado por uma floresta. O segundo modelo de sustentabilidade média considera os três compartimentos (eco, econo e sociosfera) com áreas de domínio comuns. Contudo, neste modelo há outras áreas que são independentes. As interações de troca entre os sistemas humanos (social e econômico) possuem áreas que não dependem fortemente do sistema natural. Neste tipo de sustentabilidade, a soma dos três tipos de capital (ecológico, econômico e social) é também mantida constante, porem a substituição entre os diferentes tipos de capital seria parcial. Por exemplo, o plantio de um bosquesubstituiria parcialmente o capital natural de uma MEIO AMBIENTE (ecosfera) ECONOMIA (econosfer a) SOCIEDAD E (sociosfera ) floresta natural. Especial atenção deve ser dada à composição de cada capital. Assim, o petróleo poderia ser explorado, desde que pudesse ser substituído por recursos gerados por outro tipo de capital, como um recurso energético renovável. Além disso, devem-se definir os limites de cada tipo de capital, para evitar preocupações com a sua substituição. Como não sabemos exatamente quais são estes limites críticos para cada tipo de capital, utiliza-se a precaução para não esgotar recursos (especialmente do capital natural). A sustentabilidade média é uma grande melhoria sobre a sustentabilidade fraca. Sua grande fraqueza é que é difícil, se não impossível, definir os limites críticos de cada tipo de capital. No modelo de sustentabilidade ambiental forte, o meio ambiente contém os sistemas humanos, fornecendo recursos (como minérios e energia) e prestando serviços ambientais (como a dispersão de poluentes). Estes recursos e serviços ambientais são a base do desenvolvimento socioeconômico e são a fonte da real prosperidade humana. Os sistemas humanos estão contidos no sistema natural e a econosfera e a sociosfera não podem crescer além das limitações intrínsecas da biosfera. Neste tipo de modelo, para alcançar a sustentabilidade é necessário manter o capital intacto separadamente. Por exemplo, o esgotamento dos combustíveis fósseis deve ser compensado e garantido pelo desenvolvimento de outra fonte de energia, como as fontes de energia renováveis. Não há substituição do capital, como nos outros graus de sustentabilidade, mas uma relação de complementação. Uma serraria (social-econômico) é inútil sem o complemento natural do capital de uma floresta. Este modelo é o mais adequado para alcançar a sustentabilidade ambiental, com a manutenção das atividades humanas de prosperidade econômica e desenvolvimento social por longo prazo. No modelo de sustentabilidade forte, observam-se os diferentes fluxos de troca entre os diferentes sistemas. A humanidade é usuária dos recursos naturais e controla estes fluxos. Os fluxos de troca entre os sistemas humanos têm maios qualidade, pois abrangem a troca de recursos manufaturados (especialmente entre o sistema econômico e social) e de informação (especialmente entre o sistema social e o econômico). Os sistemas humanos (a econosfera e a sociosfera) têm hierarquia mais alta que os sistemas naturais, pois as decisões tomadas nestes sistemas controlam os fluxos de troca entre o sistema natural e o humano. Os seres humanos buscam hoje a sustentabilidade. Porem, face à escassez de energia iminente, às crises na economia, à explosão demográfica e à preocupação com meio ambiente, os seres humanos podem se ver obrigados a mudas seu modo de vida. Neste momento, é evidente que nosso futuro depende da relação sociedade-economia-ambiente em um sistema de ações interdependentes (modelo de sustentabilidade forte).” (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 22-26, grifos nossos) “Engenharia da sustentabilidade Um princípio simples, conhecido pelos engenheiros, é o que tudo está baseado em energia. A energia constitui a fonte e o controle de todas as coisas, todos os valores e todas as ações dos seres humanos e da natureza. Quando a energia disponível é abundante, a economia, o conhecimento e as aspirações dos seres humanos crescem. Se as fontes de energia são exploradas a uma velocidade superior àquela que o planeta tem condição de regenerar, os valores, projetos e aspirações dos seres humanos são desacelerados, ou no mínimo, adiados. Este fenômeno vem se repetindo ao longo de toda a história da humanidade e da natureza. Na busca pela sustentabilidade, os engenheiros devem utilizar técnicas para medir e avaliar os sistemas de fornecimento de energia considerando tanto o homem como a natureza, incluindo ainda em seus cálculos a economia. Este engenheiro deve perceber que a maior parte doa avanços tecnológicos que ocorreram no século passado (em que houve um crescimento acelerado) só foi possível pela utilização da energia disponível, como a utilização do petróleo em grande escala. À medida que a disponibilidade desta forma de energia diminui, alguns avanços tecnológicos estão fadados a desaparecer. O entendimento da Engenharia da Sustentabilidade implica, portanto em entender como as leis da energia controlam todos os modelos humanos, a economia, os períodos de crescimento e de estabilidade, deve-se hoje contemplar o mundo como um todo e considerar a forma como os seres humanos podem se adaptar ao ambiente. Conhecendo a forma com que a energia produz ECOSFERA ECONOSFERA SOCIOSFE RA ECOSFERA ECONOSFERA SOCIOSFE RA e mantém a ordem para a humanidade e para a natureza, será possível oferecer soluções de engenharia econômicas e inteligentes para que os indivíduos possam escolher sua forma de viver. Os fluxos de energia que formam e mantém os sistemas humanos e naturais Enquanto havia energia em abundância para a rápida expansão da produtividade e para o desenvolvimento da cultura humana, o abastecimento de alimentos, a tecnologia e o conhecimento, o homem foi induzido a considerar a energia, a economia e a sociedade como bens garantidos à sua sobrevivência (sustentabilidade fraca). Ao refletir sobre o futuro, se pensava em diminuir a desigualdade social e garantir o desenvolvimento econômico das sociedades. [...] Entretanto, o rápido crescimento que caracterizou o último século, aliado à percepção da capacidade de carga do planeta e à compreensão de que as nossas fontes de energia são limitadas, nos leva a tentar compreender a este problema complexo se acordo com o modelo de sustentabilidade forte. Em engenharia, para que se possa avaliar um sistema tão complexo se utilizam “sistemas” e diagramas de sistemas para se realizar os cálculos sobre fluxos e depósitos de recursos. Por exemplo, a planta da instalação hidráulica de uma casa é um diagrama de sistemas. A partir dele, podemos compreender a velocidade de entrada e saída de água, quanto custará manter o sistema em funcionamento e as formas de energia necessárias para sua operação. Já que a energia está incluída em todos os processos, se podem fazer diagramas para todos eles, desde os de fluxos de água de uma casa, até os de sistemas de plantação de alimentos e de operação de sistemas mais complexos como uma cidade ou um país.” (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 31-32, grifos nossos) [...] ”As fontes de energia controlam a forma dos sistemas Um sistema está limitado pelas fontes de energia que chegam a ele. Um sistema muito iluminado rico em energia solar tem um tipo diferente de vegetação de outro que, por causa de sua localização geográfica ou altitude elevada, recebe menos energia do sol. Os modelos de agricultura das civilizações antigas estavam baseados somente nos fluxos de sol e chuva. Hoje, na agroindústria, empregam fontes adicionais de energia, como combustíveis fósseis, que direta ou indiretamente, alimentam o maquinário e os serviços das atividades agroindustriais. A competição pela sobrevivência leva cada sistema a ser diferente de outros se a combinação das fontes de energia disponíveis for distinta. Em uma mesma área, um fazendeiro pode plantar milho e outro pode plantar trigo. Depois de vários anos, se as condições do ambiente permanecerem as mesmas, se verá que todos os fazendeiros da região estarão plantando o mesmo tipo de grãos (milho ou trigo), que produz melhores colheitas e mais dinheiro. As fontes de energia externas dão fundamento a um sistema. O sistema gradualmente auto-organiza suas reservas, seus ciclos de materiais, seus sistemas de retro alimentação e seu formato de forma a otimizar o uso de energia disponível.Neste processo de tentativa e erro, há uma seleção entre alternativas. Os sistemas que sobrevivem são aqueles que melhor utilizam sua energia armazenada para estimular o fluxo energético. Quando o fluxo de energia externa de um sistema muda, necessita-se de um tempo para o desenvolvimento de um novo sistema adaptado à nova fonte de energia. Por exemplo, quando o clima muda novas formas de vegetação substituem as formas primitivas. Quando ocorrem mudanças nos modelos energéticos de uma região, ocorrem também mudanças nos modelos agrícolas, industriais, econômicos, culturais e no estilo de vida da população.” (ALMEIDA, GIANNETTI, BONILLA, 2008, apostila, p. 36-37, grifos nossos) Além dos textos acima, pede-se que os alunos que não virão o filme “A história das coisas”, (disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E) ou que gostariam de rever os conceitos apresentados no mesmo, o façam. BONS ESTUDOS
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