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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFACISA GRADUAÇÃO EM MEDICINA COORDENAÇÃO DE TUTORIA ANO II / SEMESTRE 3 INSTRUMENTO DE RACIOCÍNIO CLÍNICO PARA ESTUDANTES DE MEDICINA ANA CAROLINA MARQUES DE LIMA- 2322040109- BLOCO XII- CASO 4 SUBJETIVO - Quais as informações subjetivas do caso? D. Marta volta a UBS após cerca de 1 mês da sua última consulta, segue apática e com o olhar triste, para apresentar o resultado dos exames solicitados. Após consulta, agenda uma reavaliação para dali a 15 dias. (a-04= debilidade/cansaço geral/fadiga) (p-03=sensação de depressão) OBJETIVO - Quais as informações objetivas do caso? Foram verificados seus sinais vitais, estando todos dentro da normalidade. Dr. Rodrigo, ao avaliar os exames, observa discreta alteração compatível com anemia leve e os demais exames sem alterações, como também a observa ainda mais introspectiva e reaplica a escala PHQ 9, fechando o diagnóstico para depressão. AVALIAÇÃO - Quais conhecimentos das áreas médicas estão envolvidos no caso? ENTENDER OS TIPOS DE DEPRESSÃO E RELACIONAR COM O CASO Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor - É um novo diagnostico criado para o DSM-5, o qual deve ser atribuído a crianças entre 12 e 18 anos (não podendo ser atribuído a crianças menores de 6 anos de idade). - O objetivo da criação deste diagnóstico é responder às preocupações de excessos de diagnósticos de bipolaridade em crianças, as quais apresentariam irritabilidade e episódios frequentes de extremo descontrole comportamental. Crianças com esse padrão de sintomatologia tipicamente desenvolvem transtornos depressivos unipolares ou transtornos de ansiedade, em vez de transtorno de humor/afetivo bipolar, durante a adolescência ou idade adulta. - O diagnóstico deve ser feito observando-se características como temperamento explosivo com graves e recorrentes de manifestações de agressividade físicas ou verbais a situações ou provocações, de intensidade e duração desproporcionais. - A sintomatologia deve persistir por, pelo menos, um ano, manifestando- se pelo menos três vezes por semana, em dois ou mais ambientes. Transtorno Depressivo Maior - Caracteriza-se pela presença de de cinco ou mais sintomas, no período de duas semanas, presentes quase todos os dias: humor deprimido na maior parte do dia, acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta ou redução ou aumento do apetite, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor e fadiga ou perda de energia, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes), capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, e pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer). Transtorno Depressivo Persistente (Distimia) - Considerando que os critérios para um episódio depressivo maior incluem quatro sintomas que podem estar ausentes da lista de sintomas de transtorno depressivo persistente (distimia), um número muito limitado de indivíduos terão sintomas depressivos que persistirão por mais de dois anos não satisfazendo os critérios para transtorno depressivo persistente. - Evidências de estudos naturalísticos mostram que o comprometimento do funcionamento social e ocupacional da distimia é maior do que o dos episódios depressivos maiores, sugerindo que a extensão do comprometimento social e ocupacional seja mais relacionada com o tempo denpermanência de sintomas do que com sua intensidade. - A distimia é uma variante atenuada do espectro das doenças afetivas. Modernamente, a distimia pode ser considerada como uma forma de depressão menos grave que aumenta o risco para depressão maior. - Suas principais características são cronicidade dos sintomas de baixa intensidade, por pelo menos dois anos (ou um ano para crianças), início insidioso e precoce e curso intermitente e persistente. - O transtorno distímico é uma importante causa de morbidade, muito prevalente em nosso meio e que aumenta os custos financeiros e a utilização do sistema de saúde. Transtorno Disfórico Pré-Menstrual - As características essenciais do TDPM são a expressão dos sintomas labilidade de humor, irritabilidade, disforia, e de ansiedade que ocorrem repetidamente durante a fase pré-menstrual do ciclo e competências em torno do início ou um pouco depois da menstruação. Os sintomas devem ter ocorrido na maioria dos ciclos menstruais durante o último ano e deve ter efeito adverso no trabalho ou no funcionamento social. A intensidade, mas não a duração, de sintomas pode ser comparada à da depressão maior ou do transtorno de ansiedade generalizado. Estes sintomas também podem ser acompanhados por sintomas comportamentais e físicos. Transtorno Depressivo Induzido por Substâncias/Medicamentos - No transtorno depressivo induzido por substâncias/medicamentos, o sujeito apresenta distúrbio proeminente e persistente do humor, marcado por humor deprimido ou interesse ou prazer consideravelmente diminuídos em todas ou quase todas as atividades. - Importante que esse quadro ocorra logo após ou durante a intoxicação com a substância ou medicamento que seja de gerar tais sintomas. É preciso que haja comprovação de exame físico, laboratorial, ou ambos. - Os sintomas deverão trazer prejuízos para a vida social, ocupacional ou outras áreas da vida do indivíduo. Transtorno Depressivo Devido à Outra Condição Médica - Distúrbio proeminente e persistente do humor, marcado por humor deprimido ou interesse ou prazer consideravelmente diminuídos em todas ou quase todas as atividades. - Após exame físico, laboratorial, ou ambos, é possível constatar que os sintomas são uma consequência patofisiológica de outra condição médica e não de um transtorno mental/neurológico. - Neste caso, o diagnóstico diferencial deverá ser feito verificando se o sujeito não está apresentando as manifestações clínicas devido à ingestão de alguma substância ou pela presença de transtorno de ajustamento. Outros Transtornos Depressivos Específicos - Sintomas que se apresentam como característicos de transtornos depressivos, mas não preenchem critério para tais. - Categoria usada em situações em que o clínico escolhe comunicar a razão específica pela qual o sujeito não preenche critérios para nenhum transtorno depressivo. Isso é feito pela descrição: “outros transtornos depressivos específicos” + (razão específica). - As razões específicas podem receber as seguintes designações: 1) depressão breve recorrente (humor deprimido associado a mais quatro outros sintomas, com duração de 2 a 13 dias, pelo menos uma vez por mês – não devido a ciclo menstruais – por doze meses consecutivos - em indivíduo que não preencha critérios para qualquer outro transtorno depressivo, bipolar ou psicótico; 2) episódio depressivo de curta duração (humor deprimido associado a mais quatro outros sintomas, com duração de 4 a 13 dias e que não atenda aos critérios para depressão breve recorrente ou a outro transtorno depressivo, bipolar ou psicótico); 3) episódio depressivo com sintomas insuficientes (afeto deprimido associado a pelo menos um dos outros sintomas de um episódio depressivo maior e sofrimento ou prejuízo clinicamente significativos, persistindo pelo menos 2 semanas - em indivíduo que não preencha critérios para qualquer outro transtorno depressivo, bipolar, psicótico ou ansioso. Outros Transtornos Depressivos Não-Específicos Sintomas que se apresentam característicos de transtornos depressivos, mas não preenchem critério para tais. No entanto, a categoria não-especificada dos transtornos depressivos é utilizada em situações em que o clínico escolhe não especificar a razão para que os critérios não preenchem para um transtorno depressivo específico. Além disso, inclui apresentações para as quais não existe informação suficiente para fazer um diagnósticomais específico (por exemplo, em ambientes de sala de emergência). RELAÇÃO ENTRE ANEMIA E A TDM - Existem poucos estudos sobre prevalência e diagnóstico da depressão em pacientes com doenças hematológicas, e há poucos artigos com dados sobre a nossa realidade (realizado aqui no Brasil). - Algumas pesquisas realizadas para avaliar a associação entre depressão e deficiência de vitamina B12 e anemia mostraram resultados interessantes. Contudo não é possível, através de seus relatos, estabelecer a prevalência de depressão nesses grupos específicos, pois só referem a prevalência dessas deficiências em deprimidos e não-deprimidos. - A própria doença hematológica e seus tratamentos geram uma série de alterações no funcionamento e na aparência, deixando o indivíduo com a sensação de ser incapaz, um peso para todos. Isso provavelmente funciona como estressor importante que faz precipitar episódios depressivos naqueles que são vulneráveis à depressão. Uma vez iniciada, a depres- são tem como um de seus sintomas a baixa auto-estima, o que agrava ainda mais a sensação de fracasso dos pacientes, e o círculo vicioso é mantido. - Vários fatores que interferem na qualidade de vida podem estar relacionados a depressão nos pacientes portadores de anemia falciforme, como, por exemplo, desemprego, baixa escolaridade, pobreza, fatores culturais, estado civil e intensidade das crises dolorosas. - A anedonia (perda de interesse e prazer) é um sintoma central da depressão e sabidamente responde a tratamentos farmacológicos e a fadiga também é um sintoma muito frequente, sobretudo naqueles que estão anêmicos, com neoplasias e fazendo tratamentos como quimioterapia e radioterapia. - Cerca de um quarto a um terço dos pacientes internados com doenças hematológicas apresentaram sintomas depressivos de intensidade moderada a grave. Eles foram mais frequentes em indivíduos com história prévia de depressão, baixa escolaridade e maior comorbidade física. Os sintomas que melhor ajudaram a detectar pacientes com síndromes depressivas moderadas a graves foram: sensação de fracasso, anedonia, culpa e fadiga. PLANO - Quais as intervenções, recomendações e plano terapêutico que você propõe? O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA (MCCP) - É uma forma de atendimento que contempla de maneira mais integral as necessidades, preocupações e vivências relacionadas à saúde ou às doenças vividas pelas pessoas, sendo conjunto claro de orientações para que o profissional de saúde consiga uma abordagem mais centrada na pessoa. Ele está estruturado em seis componentes, que são complementares entre si. 1. Explorando a doença e a experiência da pessoa com a doença: Avaliando a história, exame físico, exames complementares; avaliando a dimensão da doença, pelo SIFE: sentimentos, ideias, efeitos sobre a funcionalidade e expectativas da pessoa. Levando em consideração os comportamentos da pessoa, evidenciando dúvidas, angústias ou insatisfação. 2. Entendendo a pessoa como um todo, inteira: A pessoa completa, sua história de vida, aspectos pessoais e de desenvolvimento; Contexto próximo: família, educação, emprego, suporte social, questões financeiras; Contexto distante: comunidade, cultura, ecossistema, economia, rede social. 3. Elaborando um projeto comum de manejo: Avaliando quais os problemas e as prioridades, de forma mútua; estabelecendo as metas, os objetivos do tratamento e do manejo; avaliando e estabelecendo os papéis da pessoa e do profissional de saúde. 4. Incorporando a prevenção e a promoção de saúde: Abordagem educacional para a conscientização; Melhorias de saúde; identificando precocemente os riscos ou doenças; reduzindo complicações. 5. Fortalecendo a relação médico-pessoa: Exercendo a compaixão; A relação de poder; A cura (efeito terapêutico da relação); O autoconhecimento; A transferência e contra-transferência. 6. Sendo realista: Acompanhamento contínuo; Tempo, entendendo que não dar para lidar com tudo de uma vez; Timing, sendo o tempo correto para abordar determinada questão; construindo e trabalhando em equipe, de forma interdisciplinar; usando adequadamente os recursos disponíveis. POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS A principal estratégia utilizada para tratamento de depressões moderadas são os medicamentos antidepressivos, devido à sua efetividade e à possibilidade de utilização por médicos não especialistas, somada a algumas formas de psicoterapia, como terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia interpessoal, terapia não diretiva suportiva, terapia de resolução de problemas, terapia de ativação comportamental e terapia psicodinâmica breve. Além disso, também é crescente o interesse das associações entre as estratégias usadas nas depressões leves, como atividade física, alimentação, meditação, entre outras. REFERÊNCIAS - Referências utilizadas no estudo individual - CODELY TECNOLOGIA. Moodle USP: e-Disciplinas. Disponível em: . Acesso em: 4 nov. 2024. - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM- 5. Porto Alegre: Artmed, 2014. - - FURLANETTO, L. M. et al. Diagnosticando depressão em pacientes internados com doenças hematológicas: prevalência e sintomas associados. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 55, n. 2, p. 96–101, 2006. - LEITE, A. et al. PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO EM PACIENTES PORTADORES DE ANEMIA FALCIFORME: UMA REVISÃO. Hematology, Transfusion and Cell Therapy, v. 43, p. S447, out. 2021. - FUZIKAWA, A. O MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA UM RESUMO. [s.l: s.n.]. Disponível em: . - STEWART, M; BROWN, JB; WESTON, WW et al. Medicina Centrada na Pessoa – Transformando o método clínico. 2ª Ed., Porto Alegre, Artmed, 2010. - Tratado de psiquiatria da Associação Brasileira de Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 2022.