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Unidade_II_Aula_01_O_significado_do_Golpe_de_Abril

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UNIDADE II 
A AUTOCRACIA BURGUESA E O “MUNDO DA CULTURA”
In: Ditadura e Serviço Social, José Paulo Netto.
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: FUNDAMENTOS II
PROFESSORA: LARA ABREU CRUZ 
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“Os três lustros que demarcaram no Brasil a forma aberta da autocracia burguesa (Fernandes, 1975) [...] assinalaram, para a totalidade da sociedade brasileira, uma funda inflexão: afirmaram uma tendência de desenvolvimento econômico-social e político que acabou por modelar um país novo” (p. 15).
 Lustro? 
 Autocracia burguesa?
 Inflexão?
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 Lustro: período de cinco anos (três lustros equivale a 15 anos, sendo assim, JPN se refere ao período que vai de 04/1964 a 03/1979, ou seja, do início da Ditadura Militar, com o governo de Castello Branco, ao início do governo de Figueiredo, período de aceleração da abertura política.)
 Autocracia Burguesa: termo desenvolvido por “Florestan Fernandes”, em seu livro “A Revolução Burguesa no Brasil” para se referir a um traço estrutural do Estado brasileiro: uma burguesia no poder que se coloca como sócia do imperialismo dos países de capitalismo central.
 Inflexão: desvio
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E agora você já é capaz de traduzir?
- O que JPN quis dizer em sua afirmativa é que durante os quinze primeiros anos da Ditadura Militar no Brasil (de 1964 a 1979), a qual assinala um período claro de predomínio dos interesses da classe burguesa no poder, vão assinalar um desvio no desenvolvimento econômico, político e social, o qual acabou por modelar um novo país. 
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“Ao cabo do ciclo ditatorial, nenhum dos grandes e decisivos problemas estruturais da sociedade brasileira [...] estava solucionado. Ao contrário: aprofundados e tornados mais complexos, ganharam um dimensionamento mais amplo e dramático. [...] e aqui a sua novidade: o desastre nacional em que se resume o saldo da ditadura para a massa do povo brasileiro desenhou uma sociedade de características muito distintas das existentes naquela em que triunfou o golpe de abril” (p. 15)
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José Paulo Netto afirma que o período ditatorial no Brasil modelou um país novo e desenhou uma sociedade de características muito distintas ao do país antes da Ditadura Militar.
Por isso, para o autor, torna-se necessário que estudemos esse período da história do Brasil para que possamos estabelecer alguma procedência as condições que neste mesmo período se desenvolveram (ou não se desenvolveram) certas tendências, paradigmas e linhas de reflexão no Serviço Social.
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AULA 01 
A SIGNIFICAÇÃO DO GOLPE DE ABRIL
Análise do tema do subcapítulo: 
-A que golpe o autor se refere? 
 - Por que “Golpe de Abril”? 
- Qual o objetivo do autor neste subcapítulo?
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 O GOLPE DE ABRIL FAZ PARTE DE UM CONTEXTO INTERNACIONAL:
- Segundo os analistas da ditadura brasileira, esta emergiu de um contexto que transcendia largamente as fronteiras do país, ou seja, a instauração de uma ditadura no Brasil faz parte de um contexto internacional de instauração de ditaduras militares em outros países de “terceiro mundo”, como cita o próprio autor, a Indonésia.
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“[...] os centros imperialistas, sob o hegemonismo norte-americano, patrocinaram, especialmente no curso dos anos sessenta, uma contra-revolução preventiva em escala planetária (com rebatimentos principais no chamado Terceiro Mundo, onde se desenvolviam, diversamente, amplos movimentos de libertação nacional. e social” (p. 16, grifos nossos).
 CONTRA-REVOLUÇÃO PREVENTIVA?
- Revolução preventiva contra a revolução que estava em curso, ou seja, a revolução comunista. Foi uma revolução para prevenir o mundo da revolução comunista.
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 A finalidade da contra-revolução preventiva era tríplice:
Adequar os padrões de desenvolvimento nacionais e de grupos de países ao novo quadro do inter-relacionamento econômico capitalista;
(2) Golpear e imobilizar os protagonistas sociopolíticos habilitados a resistir a esta reinserção mais subalterna no sistema capitalista;
(3) Dinamizar em todos os quadrantes as tendências que podiam ser catalisadas contra a revolução e o socialismo.
(página 16)
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 Os resultados da contra-revolução preventiva tornaram-se mais nítidos a partir da segunda metade da década de 1960, quando conseguiram:
afirmar um padrão de desenvolvimento econômico associado subalternamente aos interesses imperialistas, com uma integração mais dependente ao sistema capitalista;
(2) exclusão de protagonistas comprometidos com projetos nacional-populares e democráticos;
(3) E a presença de um discurso oficial (e uma prática policial militar) anticomunista.
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Sobre esse contexto internacional, JPN chama atenção para o fato de que os vetores internos, endógenos que moviam cada sociedade durante a instauração de suas ditaduras são extremamente importantes para serem analisados:
“[...] a significação do golpe de abril, sem menosprezo da contextualidade internacional da contra-revolução preventiva, deve ser buscada na particularidade histórica brasileira” (p. 17)
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 OS ASPECTOS ENDÓGENOS DA INSTAURAÇÃO DA DITADURA MILITAR NO BRASIL:
A construção, desde o período colonial e com assombrosa, todavia explicável, perdurabilidade, de um arcabouço de atividades econômicas básicas internas cujo eixo de gravitação era o mercado externo 
- ou seja, um país que sempre se desenvolveu economicamente para atender ao mercado externo;
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(2) A ausência de uma nuclear e radical ruptura com o estatuto colonial;
(3) Uma estrutura de classes em que à burguesia não conseguia acabar com o monopólio oligárquico da terra, nem tão pouco realizar ações “nacionais”, devido a sua dependência aos centros externos;
(4) Experiência industrial tardia.
Esses 4 elementos vão configurar uma particularidade histórica ao Brasil, salientada em 3 ordens de fenômenos:
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O desenvolvimento do capitalismo no Brasil não liquidou as formas econômico-sociais desenvolvidas historicamente no Brasil, mas as redimensionou, refuncionalizando-as e as integrando em sua dinâmica.
- Sobre isso, o autor cita como por exemplo o latifúndio.
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O Brasil tem latifúndios: 70 mil deles
Carta Capital (06/01/2015)
As grandes propriedades rurais improdutivas, consideradas por definição como latifúndio, não apenas existem no Brasil, ao contrário do que afirmou na segunda-feira 5 a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, como cresceram. (...) Os dados do Incra diagnosticam esse cenário de expansão da concentração de terras. Em 2003, 58 mil propriedades concentravam 133 milhões de hectares improdutivos. Em 2010, eram 69,2 mil propriedades improdutivas, controlando 228 milhões de hectares. Ao todo, 228 milhões de hectares estão abandonados ou produzem abaixo da capacidade, o que os torna sem função social e, portanto, aptos para a reforma agrária de acordo com a Constituição.
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A expansão não se dá pela compra de terras, segundo Rodrigues, mas pela ocupação de áreas indígenas, zonas sob proteção ambiental ou por meio da grilagem (falsificação de documentos) de terras que pertencem à União. Exemplo disso é o inquérito da Polícia Federal que tramita no município de Barra do Ouro (TO), estado de Kátia Abreu, onde o empresário Emilio Binotto é acusado de grilar mais de 20 mil hectares de terras públicas destinadas à reforma agrária. A grilagem e a cooptação de pequenos proprietários são fatos comuns no País e envolvem personalidades bem conhecidas. O banqueiro Daniel Dantas, investigado pela Operação Satiagraha por gestão fraudulenta e evasão de divisas, é acusado de grilar mais de 25 mil hectares no sul do Pará, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra. O ex-ministro das Comunicações e senador Eunício Oliveira (PMDB-GO) possui uma propriedade com mais de 21 mil hectares, adquirida por meio da cooptação de pequenos fazendeiros do estado de Goiás, afirma o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
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(2) A recorrente exclusão das forças
populares dos processos de decisão política.
“A socialização da política, na vida brasileira, sempre foi um processo inconcluso – e quando, nos seus momentos mais quentes, colocava a possibilidade de um grau mínimo de socialização do poder político, os setores de ponta das classes dominantes lograram neutralizá-lo” (p. 18-19).
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(3) O específico desempenho do Estado na sociedade brasileira, conseguindo atuar com sucesso como um vetor de desestruturação, seja pela incorporação desfiguradora, seja pela repressão das agências da sociedade que expressam os interesses das classes subalternas.
“[...] um Estado que historicamente serviu de eficiente instrumento contra a emersão, na sociedade civil, de agências portadoras de vontades coletivas e projetos societários alternativos” (p. 19)
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 Segundo JPN essas características começam a se condensar na entrada dos anos 1960, por força de um processo cumulativo que vinha de meados da década anterior.
 A partir de 1956 com o estabelecimento de um novo padrão de acumulação: a industrialização pesada.
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“Após o fracasso da intentona golpista que cercou a renúncia de Quadros (agosto de 1961), as forças mais expressivas do campo democrático – responsáveis, aliás, pela manutenção das liberdades políticas fundamentais no seguimentos dos eventos posteriores ao 25 de agosto – ganharam uma nova dinâmica. Com Goulart à cabeça do executivo, espaços significativos do aparelho de Estado foram ocupados por protagonistas comprometidos com a massa do povo e, mesmo enfrentando um legislativo onde predominavam forças conservadoras, tais protagonistas curto circuitaram em medida ponderável as iniciativas de repressão institucional” (p. 21, grifos nossos).
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“A emersão de amplas camadas trabalhadoras, urbanas e rurais, no cenário político, galvanizando segmentos pequeno-burgueses (com especial destaque para camadas intelectuais) e sensibilizando parcelas da Igreja Católica e das Forças Armadas era um fato novo na vida do país” (p. 22)
 Segundo JPN esse novo fato não se caracterizava como um quadro pré-revolucionário, MAS se não fosse o golpe “é bem provável que seus desdobramentos originassem um reordenamento político-social capaz de engendrar uma situação pré-revolucionária [...]” (p. 22)
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NÃO FOSSE O GOLPE...
“[...] um novo bloco de forças político-sociais poderia engendrar-se e soldar-se, assumindo e redimensionando o Estado na construção de uma nova hegemonia e na implementação de políticas democráticas e populares nos planos econômico e social” (p. 23)
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 Entre 1963 e 1964 criou-se toda uma movimentação sociopolítica em busca da solução a ser encontrada contra o avanço desse novo bloco de forças formado. 
 As alianças que sustentavam Goulart no poder vão se enfraquecendo devido a própria dinâmica econômica (precipitada por uma crise).
 Enquanto isso, a direita colecionava adesões e saía da sombra.
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 O desfecho de abril foi a solução política que a força impôs. Esse é para JPN o significado do Golpe de Abril:
“Seu significado imediatamente político e econômico foi óbvio: expressou a derrota das forças democráticas, nacionais e populares; todavia, o seu significado histórico-social era de maior fôlego: o que o golpe derrotou foi uma alternativa de desenvolvimento econômico-social e político que era virtualmente a reversão do já mencionado fio condutor da formação social brasileira” (p. 25).
Ou seja, o latifúndio, a exclusão das forças populares e o Estado excludente.

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