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Fichamento - Discurso do método

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DESCARTES, René. Discurso do método; Meditações. 2.ed. São Paulo: Martin Claret. 2012. 134 p.
DISCURSO DO MÉTODO
Primeira parte
“(…) a potência de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que chamamos bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, assim, a diversidade de nossas opiniões não vem de uns serem mais razoáveis do que outros, mas só de conduzirmos nossos pensamentos por caminhos diversos e não considerarmos as mesmas coisas”.[1: DESCARTES, 2012, p. 11.]
“(…) e aqueles que só caminham muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que os que correm e dele se afastam”.[2: DESCARTES, 2012, p. 11.]
“(…) quero crer que a razão ou o juízo, na medida em que é a única coisa que nos torna homens e nos distingue dos animais, está inteiramente em cada um, e nisso seguir a opinião comum dos filósofos, que dizem só haver o mais e o menos entre os acidentes e não entre as formas ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie”.[3: DESCARTES, 2012, p. 11.]
“(…) procure sempre pender para o lado da desconfiança mais do que para o da presunção (…)”.[4: DESCARTES, 2012, p. 12.]
“Sei quão sujeitos estamos a nos enganar no que nos diz respeito e também quão suspeitos nos devem ser os juízos dos nossos amigos, quando são a nosso favor”.[5: DESCARTES, 2012, p. 12.]
“Os que se aventuram a dar conselhor devem considerar-se mais hábeis do que aqueles a quem os dão; e, se erram na minima coisa, devem ser censurados”.[6: DESCARTES, 2012, p. 12.]
“(...) por meio delas [letras] poderíamos adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida (...)”.[7: DESCARTES, 2012, p. 12.]
“Pois me achava acossado por tantas dúvidas e erros, que me parecia que meu único lucro, ao procurar instruir-me, fora ter descoberto cada vez mais a minha ignorância”.[8: DESCARTES, 2012, p. 13.]
“(...) as ações memoráveis das histórias [...] lidas com discernimento, ajudam a formar o juízo (...)”.[9: DESCARTES, 2012, p. 13.]
“(...) é bom examiná-las todas [as ciências], mesmo as mais supersticiosas e as mais falsas, para conhecer seu justo valor e evitar ser por elas enganado”.[10: DESCARTES, 2012, p. 13.]
“É bom saber algo dos costumes de diversos povos, para julgarmos os nossos de modo mais sadio e não pensarmos que tudo o que é contra os nossos modos seja ridículo e contrário à razão, como costumam julgar os que nada viram”.[11: DESCARTES, 2012, p. 13-14.]
“(...) quando somos curiosos demais das coisas que se faziam nos séculos passados, costumamos permanecer muito ignorantes das que se praticam neste”.[12: DESCARTES, 2012, p. 14.]
“Os que têm o raciocínio mais forte e melhor digerem seus pensamentos para torná-los claros e inteligíveis, sempre podem persuadir melhor a respeito do que propõem, mesmo que só falem baixo-bretão e jamais tenham aprendido retórica (...)”.[13: DESCARTES, 2012, p. 14.]
“(...) ainda nela [filosofia] nada se ache sobre o que não se discuta e, por conseguinte, não seja duvidoso (...); e considerando como pode haver opiniões diversas acerca de uma mesma matéria sendo defendidas por gente erudita, sem que sobre o assunto possa haver mais de uma só que seja verdadeira, eu quase tinha por falso tudo o que não passasse de verossímil”.[14: DESCARTES, 2012, p. 15.]
“E continuava a ter um desejo extremo de aprender a distinguir o verdadeiro do falso, para ver claro em minhas ações e caminhar com segurança nesta vida”.[15: DESCARTES, 2012, p. 16.]
“(...) aprendia a não crer muito firmemente em nada do que só me fora inculcado pelo exemplo e pelo costume: e assim ia aos poucos me libertando de muitos erros que podem ofuscar a nossa luz natural e nos tornar menos capazes de ouvir a razão”.[16: DESCARTES, 2012, p. 16.]
Segunda parte
“Assim, imaginei que os povos que, tendo sido antigamente semisselvagens e só se tendo civilizado aos poucos, somente fizeram suas leis à medida que o incômodo dos crimes e dos conflitos os obrigava a tanto, não poderiam ser tão bem administrados quanto os que, desde que se reuniram, observaram as constituições de algum prudente legislador”.[17: DESCARTES, 2012, p. 18.]
“É verdade que não vemos derrubarem todas as casas de uma cidade unicamente pare reconstruí-las de outra maneira e para tornar mais belas as ruas; mas vemos que muitos derrubam as suas para reconstruí-las e até, às vezes, são obrigados a isso, quando elas correm o risco de desabar por si mesmas e as suas fundações não estão bem firmes”.[18: DESCARTES, 2012, p. 18.]
“(...) quanto a todas as opiniões a que dera, até então, meu crédito, nada melhor podia fazer do que tentar uma boa vez tirar-lhes esse crédito, para adotar mais tarde outras melhores ou até as mesmas, depois de ajustadas ao nível da razão. E acreditei firmemente que com isso conseguisse conduzir a minha vida muito melhor do que se só edificasse sobre velhos fundamentos e se só me apoiasse nos princípios que me deixara inculcar na juventude, sem jamais ter examinado se eram verdadeiros”.[19: DESCARTES, 2012, p. 18-19.]
“(...) assim como as grandes estradas que serpenteiam entre as montanhas vão aos poucos se tornando tão planas e cômodas, de tanto serem frequentadas, que é muito melhor segui-las do que tentar seguir reto, escalando rochedos e descendo precipícios”.[20: DESCARTES, 2012, p. 19.]
“Já a simples decisão de se desfazer de todas as opiniões antes acreditadas não é um exemplo que cada qual deva seguir. E o mundo é composto quase que apenas de dois tipos de espíritos, aos quais ele não convém de modo algum: a saber, daqueles que, crendo-se mais hábeis do que são, não conseguem evitar os juízos precipitados nem ter paciência para conduzir pela ordem todos os seus pensamentos e, assim, se tivessem uma vez tomado a liberdade de duvidar dos princípios que receberam e de se afastar do caminho comum, jamais conseguiriam manter-se na trilha que é preciso tomar para ir mais direto e ficariam perdidos a vida inteira; em seguida, daqueles que, tendo bastante razão ou modéstia para julgarem que são menos capazes de distinguir o verdadeiro do falso do que alguns outros pelos quais podem ser instruídos, devem antes se contentar em seguir as opiniões desses outros do que procurar por si mesmos outras melhores”.[21: DESCARTES, 2012, p. 19-20.]
“(...) todos os que têm sentimentos muito contrários aos nossos nem por isso são bárbaros ou selvagens, mas muitos se servem da razão tanto ou mais do que nós; e tendo considerando como um mesmo homem, com seu mesmo espírito, tendo sido criado desde a infância entre franceses ou alemães, se torna diferente do que seria se sempre tivesse vivido entre chineses ou canibais, e como, até na moda dos nossos trajes, o mesmo que nos agradou há dez anos e talvez ainda nos venha a agradar antes que se passem outros dez anos, hoje nos pareça extravagante e ridículo (...)”.[22: DESCARTES, 2012, p. 20]
“(...) a pluralidade das opiniões não é uma prova que tenha algum valor para as verdades um pouco difíceis de descobrir, pois é muito mais provável que um só homem as tenha descoberto do que um povo inteiro (...)”.[23: DESCARTES, 2012, p. 20.]
“Mas, como um homem que caminha sozinho e nas trevas, resolvi ir tão devagar e usar de tanta circunspeção em tudo, que, embora avançasse muito pouco, pelo menos evitaria cair”.[24: DESCARTES, 2012, p. 20.]
“(...) buscando o verdadeiro método para chegar ao conhecimento de todas as coisas de que o meu espírito seja capaz”.[25: DESCARTES, 2012, p. 20.]
“O que fez que eu julgasse ser preciso buscar algum outro método que, compreendendo as vantagens desses três, não tivesse os seus defeitos”.[26: DESCARTES, 2012, p. 21.]
“[lógica] (...) contanto que tomasse a decisão firme e constante de jamais deixar de observá-los”.[27: DESCARTES, 2012, p. 21.]
“O primeiro era o de jamais aceitar algo como verdadeiro sem saber com evidência que seja tal; isto é, evitar com
cuidado a precipitação e a prevenção (...)”.[28: DESCARTES, 2012, p. 21.]
“O segundo, o de dividir cada dificuldade examinada em tantas partes quantas puder e for necessário para melhor resolvê-las. O terceiro conduzir pela ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de se conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos e supondo até haver certa ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros”.[29: DESCARTES, 2012, p. 21.]
“E o último, fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que me assegure de nada omitir”.[30: DESCARTES, 2012, p. 21.]
“(...) todas as coisas que podem cair sob o conhecimento dos homens se seguem umas às outras do mesmo modo e, contanto que nos abstenhamos de aceitar como verdadeira alguma que não o seja e sempre conservemos a ordem necessária para deduzi-las umas das outras, não pode haver nenhuma tão distante a que não cheguemos, nem tão escondida que não a descubramos”.[31: DESCARTES, 2012, p. 22.]
“Mas o que mais me agradava nesse método era que por ele estava seguro de usar em tudo a minha razão, senão perfeitamente, pelo menos o melhor que podia, além de sentir, ao praticá-lo, que o meu espírito ia aos poucos se acostumando a conceber mais nítida e distintamente os seus objetos; e que, não tendo-o sujeitado a nenhuma matéria particular, prometia a mim mesmo aplicá-lo tão utilmente às dificuldades das outras ciências quanto o fizera com a álgebra”.[32: DESCARTES, 2012, p. 23.]
Terceira parte
“(...) uma moral provisória que consistia em apenas três ou quatro máximas (...)”.[33: DESCARTES, 2012, p. 25.]
“A primeira era obedecer às leis e aos costumes do meus país, guardando com firmeza a religião na qual Deus me fez a graça de ser instruído desde a infância (...)”.[34: DESCARTES, 2012, p. 25.]
“A minha segunda máxima consistia em ser o mais firme e mais decidido possível nas ações e em não seguir menos firmemente as opiniões mais duvidosas, quando a isso me houvesse decidido, do que se elas fossem muito seguras (...)”.[35: DESCARTES, 2012, p. 26.]
“Minha terceira máxima era procurar sempre vencer antes a mim mesmo do que à fortuna e mudar antes meus desejos do que a ordem do mundo, e, em geral, acostumar-me a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso poder, a não ser os nossos pensamentos, de sorte que, depois de termos feito o máximo que pudermos quanto às coisas que nos são exteriores, tudo o que faltar para sermos bem-sucedidos é para nós absolutamente impossível. E só isto já me parecia suficiente para me impedir de desejar alguma coisa no futuro que não a pudesse alcançar e, assim, me dar por contente”.[36: DESCARTES, 2012, p. 27.]
“Além disso, as três máximas precedentes só se fundavam no propósito de continuar a me instruir, pois, tendo Deus dado a cada um de nós certa luz para distinguir o verdadeiro do falso, não teria jamais acreditado dever contentar-me um só momento com as opiniões alheias (...)”.[37: DESCARTES, 2012, p. 28.]
“(...) refletindo particularmente e cada matéria sobre o que podia torná-la suspeita e nos dar ocasião de nos enganar, desarraigava, porém, do meu espírito todos os erros que nele podiam ter-se introduzido anteriormente. Não que nisso imitasse os céticos, que só duvidam por duvidar e se mostram sempre irresolutos; pois, ao contrário, todo o meu propósito só visava a me assegurar e a rejeitar a terra movediça e a areia para encontrar a rocha ou a argila”.[38: DESCARTES, 2012, p. 29.]
“E como, ao derrubar um velho edifício, se costuma reservar o material demolido para servir na construção de um novo, assim, ao destruir todas as minhas opiniões que considerasse mal fundamentadas, fazia diversas observações e adquiria muita experiência que me servia mais tarde para estabelecer outras mais certas”.[39: DESCARTES, 2012, p. 29.]
Quarta parte
“(...) [primeiras meditações] são tão metafísicas e tão pouco comuns que talvez não sejam do gosto de todos: no entanto, para que se possa julgar se os fundamentos que estabeleci são suficientemente firmes, vejo-me, por assim dizer, obrigado a falar delas”.[40: DESCARTES, 2012, p. 31.]
“(...) uma vez que desejava então dedicar-me unicamente à busca da verdade, julguei que era preciso fazer exatamente o contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que podia imaginar a menor dúvida, para ver se depois disso não restaria algo entre as minhas convicções que fosse inteiramente indubitável”.[41: DESCARTES, 2012, p. 31.]
“(...) julgando estar eu tanto quanto os outros sujeito a erro, rejeitei como falsas todas as razões que tomara antes como demonstrações; e enfim, considerando que todos os pensamentos que temos quando despertos nos podem vir também quando dormimos, sem que nenhum deles seja então verdadeiro, resolvi fingir que todas as coisas que jamais me entraram no espírito não fossem mais verdadeiras que as ilusões dos meus sonhos. Mas imediatamente notei que, enquanto queria assim pensar que tudo fosse falso, era preciso necessariamente que eu que o pensava fosse alguma coisa; e notando que esta verdade, penso, logo sou, era tão firme e tão segura, que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de abalá-la, julguei que podia aceitá-la sem escrúpulos como o primeiro princípio da filosofia que buscava”.[42: DESCARTES, 2012, p. 31-32.]
“(...) soube que eu era uma substância de que toda a essência ou natureza não é senão pensar e que para ser não precisa de nenhum lugar nem depende de nenhuma coisa material (...)”.[43: DESCARTES, 2012, p. 32.]
“E tendo notado que absolutamente nada há nisto, penso, logo sou, 	que me garanta que digo a verdade, senão que vejo muito claramente que para pensar é preciso ser, julguei que podia tomar como regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras, mas que há apenas certa dificuldade em bem observar quais são as que concebemos distintamente”.[44: DESCARTES, 2012, p. 32.]
“Mas o mesmo não podia ocorrer com a ideia de um ser mais perfeito que eu: pois recebê-la do nada era coisa manifestamente impossível”.[45: DESCARTES, 2012, p. 32-33.]
“(...) restava, assim, que ela tivesse sido posta em mim por uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que eu e até tivesse em si todas as perfeições de que eu pudesse ter alguma ideia, ou seja, para me explicar, numa só palavra, que fosse Deus”.[46: DESCARTES, 2012, p. 33.]
“(...) mas era preciso necessariamente que houvesse algum outro mais perfeito do qual eu dependesse e do qual tivesse adquirido tudo o que tinha: pois, se eu fosse só e independente de qualquer outro, de modo que eu tivesse recebido de mim mesmo todo este pouco que eu participava do ser perfeito, teria podido receber de mim, pela mesma razão, tudo o mais que sabia faltar-me, e assim ser eu mesmo infinito, eterno, imutável, onisciente, onipotente e, enfim, ter todas as perfeições que podia notar haver em Deus”.[47: DESCARTES, 2012, p. 33.]
“Além disso, eu tinha ideias de várias coisas sensíveis e corporais; pois, ainda que supusesse estar sonhando e que tudo o que via ou imaginava fosse falso, não podia, porém, negar que as ideias delas estavam verdadeiramente em meu pensamento”.[48: DESCARTES, 2012, p. 33.]
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