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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA Olá! A ciência tal vez seja o mais novo dos empreendimentos intelectuais humanos, se considerarmos que, em seu formato atual, surgiu apenas no século XVII. Todavia, encontramo-nos hoje total mente imersos em suas referências e subprodutos (os artefatos tecnológicos). Compreender a ciência significa compreender um pouco do nosso mundo contemporâneo – incluindo aí sua subjetividade inerente. Muito embora a maio ria de nós não pretenda se transformar em um cientista propriamente dito, consideramos fundamental compreender minimamente como essa forma de conhecimento funciona e como influencia nossa vida cotidiana. O objetivo desta aula é buscar uma primeira aproximação com o conceito e o uni verso da ciência, em suas diversas acepções. Bons estudos! AULA 1 – CONHECIMENTO CIENTÍFICO Nesta unidade de aprendizagem, você estudará sobre a evolução da ciência, sobre a diferença entre conhecimento de senso comum e científico, bem como, de outros tipos reconhecidos de conhecimentos. Após esses estudos, você será capaz de: Identificar os momentos mais importantes da evolução do pensamento científico; Reconhecer a diferença entre conhecimento de senso comum e o científico; Diferenciar entre conhecimento filosófico, artístico, religioso e o científico. 1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS A estadia do homem no planeta Terra é relativamente recente. O universo conhecido tem 13,5 bilhões de anos. Nosso planeta tem 4,5 bilhões de anos e o homo sapiens em torno de 200 mil anos. Tempo diminuto diante da existência do universo, porém bastante promissor em termos de transformação da realidade. Antes do homem, as reações bioquímicas e as transformações naturais balizavam a existência dos seres vivos e não vivos. Porém tudo mudou com o aparecimento do homem. A natureza nunca mais foi a mesma. O que outrora era regido pelas leis físico- químicas, agora se dobra ao poder manipulador do homem. Ele não se contenta em apenas subsistir diante de uma natureza equilibrada, mas a transforma com o intelecto ao traduzir as leis outrora escondidas. O intelecto humano fez do mundo um lugar diferente, um lugar propício ao desenvolvimento das mais sofisticadas técnicas e tecnologias. A razão humana fez o homem entender a natureza de modo a controlá- la. O homem fez dos minérios oxidados na terra os maiores prodígios tecnológicos, propiciando até mesmo viagens interplanetárias com robôs. Da manipulação da natureza conseguiu extrair moléculas que propiciaram cura para as mais variadas doenças. Enfim, criou um universo próprio cujo funcionamento pode ser controlado. Quando o homem acendeu uma fogueira, não imaginava o quão poderosa seria sua jornada pela conquista da natureza (OLIVEIRA, D.; OLIVEIRA, C., 2019). As conquistas humanas foram contínuas. Não houve lapso temporal inócuo para posterior ascensão de um conhecimento sobre a natureza. A evolução do conhecimento científico se deu quando os descendentes absorviam e melhoraram os conhecimentos anteriores dos seus antecedentes. O homem que vagava sobre a terra à procura de alimentos descobriu a agricultura, cuja técnica lhe permitiu ter um lar fixo, o que era propício para a realização de outros afazeres como a inquirição da natureza. Foram erguidas estruturas grandiosas como as pirâmides com o conhecimento dos sistemas de roldanas. Os minerais brutos foram fundidos para a produção de armas e instrumentos mais resistentes. No passado a natureza ditava as regras de sobrevivência, agora o homem pode ditar suas próprias regras a partir do entendimento da natureza (OLIVEIRA, D.; OLIVEIRA, C., 2019). A filosofia dos filósofos gregos propiciou novo entendimento da realidade e os pressupostos lógicos da argumentação nasceram para tornar as ideias mais racionais. As invasões a Roma desencadearam o nascimento de um mundo que Deus havia planejado com leis que subsistem à realidade. E nessa realidade nascem as universidades, o berço do conhecimento. Então, com o desenvolvimento do método científico moderno surgem os expoentes da ciência renascentista que modelaram o mundo com a descoberta das leis empíricas. O intelecto humano vislumbrou conquistas científicas benéficas, mas também as maléficas. Dessas também se desenvolvia o conhecimento científico. E, por fim, aquele homem que no início de sua existência se deslumbrava com o arder das chamas de uma fogueira, também se deslumbra com o arder das chamas produzidas pelas naves que o levaram a conquistar a Lua. No início era uma visão poética, porém hoje é uma realidade épica (OLIVEIRA, D.; OLIVEIRA, C., 2019). A evolução da ciência não obedece a uma ordem cronológica, todavia está de modo indelével associada à cultura de uma época. Não há cultura cuja curiosidade não produziu avanços na ciência. Em todos os momentos da história humana houve calorosos e produtivos debates sobre o porquê dos fenômenos físicos, químicos e biológicos. Desse modo, veremos como a filosofia dos gregos trouxe a lógica para a ciência ocidental. E a Idade Média? Desfigurada por muitos autores, foi o berço das universidades europeias modernas, onde nasceram e nascem os grandes expoentes científicos da humanidade. E o que falar do Renascimento, quando Galileu aperfeiçoou o telescópio e conseguiu observar as luas de Júpiter. No mesmo ano que Galileu morre, nasce o expoente da mecânica clássica, Isaac Newton (OLIVEIRA, D.; OLIVEIRA, C., 2019). A ciência de Newton norteou grandes avanços científicos e ainda gerou o modo de pensar mecanicista. Foi preciso esperar o século XX para que o determinismo newtoniano fosse contestado pela teoria quântica. E quanto aos cientistas que fizeram de sua ciência armas de guerra? Da antiguidade à modernidade existem exemplos notórios deles. Embora seja uma leitura da realidade natural, a ciência não é neutra. O axioma da neutralidade da ciência impossibilita a existência histórico-social do conhecimento. Dessa forma, esse ideal de ciência neutra não está livre dos interesses e paixões das investigações que conduz o cientista. A ciência carrega a opinião e visão de seus idealizadores. Ela já foi utilizada para justificar a perseguição de raças como no nazismo. Foi usada também para desenvolver a guerra química na Primeira Guerra Mundial. Os mesmos “heróis” que revolucionaram a agricultura com o invento dos pesticidas foram aqueles que desenvolveram o gás mostarda na Primeira Guerra Mundial. Eivados pela Guerra Fria, os Estados Unidos enviaram o homem à Lua, propiciando grande avanço tecnológico. Enfim, a ciência é a mais completa tradução dos sentimentos do homem diante de uma natureza complexa que precisa ser entendida. A ciência é capaz de modelar épocas, mudar costumes e paradigmas, porém continua a ser uma visão humana. Às vezes uma visão brilhante, capaz de perpetuar e salvar a vida das pessoas, outras vezes capaz de construir armas de destruição em massa. Em todos os sentidos, a ciência é o estudo das causas dos antigos filósofos, mas também segue o princípio da verificação e da falseabilidade de Karl Popper e o apego ao sensível dos positivistas. Ciência é a inquietação humana capaz de traduzir e moldar a realidade (OLIVEIRA, D.; OLIVEIRA, C., 2019). 1.1 A revolução da ciência A revolução científica recebe esse nome por tratar-se de uma mudança radical, ocorrida entre os séculos XV e XVII, na maneira de produzir conhecimento. Essa época coincide com o Renascimento europeu. Nesse momento, em algumas regiões da Europa, o modelo econômico feudal, agrário e fechado começou a ser trocado pelo modelo econômico mercantil, concentrado em cidades prósperas e movimentadas,como Veneza, Milão e Bruxelas. Junto com o fluxo de transações comerciais e de riquezas, floresceu nessas cidades uma nova geração de intelectuais, que não aceitavam as explicações místicas dadas pela Igreja para a vida e para o Universo (MASCARENHAS, 2018). Esses intelectuais queriam separar a ciência da religião e, ao mesmo tempo, da filosofia, à qual ela permanecia ligada desde a Antiguidade. O objetivo deles era tornar o conhecimento científico imparcial e objetivo: a partir de então, para serem científicas, as conclusões teriam que ser comprovadas com base em dados concretos. Foram nomes de peso - como Copérnico, Galileu, Bacon e Descartes — que conduziram essa revolução científica. Eles criaram o método experimental, tornando a ciência mais metódica e racional. O método experimental é o conjunto de procedimentos que tem por objetivo construir o conhecimento de modo preciso e objetivo, por meio de um experimento. Esse método busca evidências para testar se uma hipótese é ou não verdadeira. Por isso, durante o experimento, é importante que o cientista conheça todos os fatores que podem influenciar os resultados. A sua criação foi importante para estudos de química e biologia, em particular. No século XVIII, o homem já sabia bastante sobre o funcionamento e a estrutura dos organismos vivos. Durante esse período, a matemática também ganhou importância, pois era usada para testar verdades de maneira clara e objetiva (MASCARENHAS, 2018). A partir da segunda metade do século XVIII, o desenvolvimento científico se acelerou. Uma das grandes mudanças foi a Revolução Industrial, um processo que deslocou o centro da economia da agricultura e do artesanato para o interior das fábricas. Essa revolução começou na Inglaterra, no século XVIII, mas rapidamente se espalhou para outros países mundo afora, mudando as técnicas de produção. A Revolução Industrial foi resultado de um conjunto de inovações tecnológicas: por um lado, foram criadas máquinas movidas a vapor, a carvão e a petróleo, que minimizavam a necessidade da força humana; por outro lado, foram desenvolvidos métodos de produção mais eficientes, como a divisão das tarefas entre vários trabalhadores. Com esses dois tipos de avanço, produzir bens tornou-se muito mais fácil e rápido - por isso mesmo, dizemos que a Revolução Industrial abriu caminho para o que hoje chamamos de produção em massa. Porém, vale lembrar que isso tudo não foi fruto de um passe de mágica: foram necessários muito suor muita pesquisa para inventar as máquinas que permitiram encurtar drasticamente o tempo de produção das mercadorias (MASCARENHAS, 2018). No século XIX, a ciência atraiu os olhares do mundo quando o inglês Charles Darwin publicou seus trabalhos sobre evolução e seleção natural. De acordo com suas pesquisas, todas as formas de vida que habitam o planeta Terra teriam uma origem comum. Às diferentes espécies só surgiram com o passar do tempo, em razão das modificações que aconteciam de uma geração para outra. A evolução, segundo Darwin, foi marcada pela seleção natural; ou seja, os seres vivos que se adaptavam melhor ao ambiente externo tinham mais chances de sobreviver e procriar. Em outras palavras, à seleção natural garante a evolução das espécies por meio dos indivíduos mais aptos. Michael Faraday foi outro grande cientista do século XIX. Dedicado aos estudos sobre física e química, ele fez grandes descobertas no campo da eletricidade e do magnetismo. Faraday entrou para as páginas da História por inventar o motor elétrico e ser o primeiro a produzir uma corrente elétrica a partir de um campo magnético. Com base em pesquisas, ele concluiu que o magnetismo tem efeito sobre a luz — uma descoberta que, alguns anos depois, ajudou muito foi o inventor norte-americano Thomas Edison (MASCARENHAS, 2018). Conhecido como um dos pais da eletricidade, Thomas Edison inventou, em 1879, a lâmpada incandescente, que ainda hoje usamos em casa. E não foi só isso: ele foi responsável por outras invenções, que possibilitaram até mesmo a construção de um sistema de fornecimento de energia elétrica capaz de iluminar cidades inteiras, O século XIX também assistiu o nascimento das ciências sociais - como a sociologia, a psicologia, a antropologia e a linguística. O surgimento desses novos ramos científicos está liado a várias mudanças que marcaram a História desse período, é importante lembrar que, nessa época, a sociedade estava sendo sacudida por revoluções políticas e sociais. No campo econômico, surgia a Revolução Industrial, da qual acabamos de tratar, no campo das ideias, a Revolução Francesa fez ecoar mundo afora o lema “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Além disso, a sociedade apostou na criação de regras de conduta, fazendo surgir debates na área da educação e do direito, por exemplo. Com tantas questões importantes em pauta, era natural que o homem buscasse abordá-las com mais rigor e objetividade. Foi assim que diversos temas sociais — tanto econômicos quanto cultuais e políticos — viraram objeto de estudo científico. Pouco a pouco, às ciências sociais aprenderam a usar as ferramentas metodológicas existentes para conduzir estudos que fossem além do senso comum. Mais recentemente, no século XX, foram desenvolvidas pesquisas bem precisas e avançadas sobre navegações espaciais, transplantes e genética, por exemplo. Os meios de comunicação não ficaram de fora: os avanços das últimas décadas do século XX mudaram radicalmente à maneira como trocamos informações. Com o advento da internet, passou a ser possível enviar instantaneamente dados de um canto a outro do mundo (MASCARENHAS, 2018). 1.2 Formas de raciocínio e tipos de conhecimento De acordo com Mascarenhas (2018), o raciocínio exige esforço e concentração. Além disso, é uma forma coerente e lógica de organizar as ideias. Ele pode acontecer de três formas: por indução, dedução, inferência. Descreveremos brevemente cada um deles a seguir: Indução: A indução é uma forma de raciocínio que apura conclusões generalizadas com base em premissas particulares. O objetivo da indução é argumentar que características compartilhadas em certos casos podem ser generalizadas para todos os casos semelhantes. A partir daí, é dever do cientista construir provas que revelem se essa conclusão é verdadeira ou não. Dedução: Na dedução, fazemos o caminho inverso da indução, pois, partimos de uma verdade universal para formular uma conclusão sobre algo específico. À dedução só é possível quando o caso específico de que falamos estiver contido no grupo mais geral. Toda dedução é construída com base em um encadeamento lógico entre uma premissa e uma conclusão, se a premissa for verdadeira, a conclusão também é. A vantagem é que a dedução apresenta poucas falhas; afinal, uma lei geral sempre se aplica nos casos específicos regidos por ela, por outro lado, é importante ficar de olho para não ultrapassar os limites das leis que utilizamos: as conclusões específicas que fazemos com base na dedução não podem conter nada que vá além dos limites da lei geral em questão. Inferência: Inferir é entender algo que está dito de forma implícita em uma mensagem. Toda vez que inferimos, propomos um conhecimento novo com base na continuação lógica de uma verdade que já aceita. A inferência também é a ferramenta que os cientistas utilizam para generalizar descobertas. Em geral, ela pode ser: imediata ou mediata. A imediata acontece quando chegamos à conclusão sem ajuda de intermediários. Vamos conferir como isso se aplica à um exemplo: nenhum homem é imortal; logo, nenhum imortal é homem. Veja que a inferência imediata acontece quando trocamos a posição das palavras da premissa inicial, ainda assim, obtemos uma conclusão verdadeira. A mediata é aquela que acontece quando chegamos à conclusão com ajuda de um ou mais termos médios(MASCARENHAS, 2018). 1.3 Tipos de conhecimento Entende-se por conhecer a relação que estabelecemos com um objeto de estudo. Nessa relação, temos o objetivo de nos apropriar desse objeto. Quando o objeto é físico, como um som ou um feixe de luz, podemos utilizar nossos sentidos — nesses exemplos, a audição e a visão, respectivamente. Porém, nem todo objeto de estudo é concreto; nessas circunstâncias, os sentidos não são suficientes para quem precisa construir conhecimento abstrato, na hora de lidar com leis, verdades e princípios, precisamos de outros instrumentos (MASCARENHAS, 2018). Como você pode ver, devemos levar em conta o tipo de conhecimento com que trabalhamos antes de escolher a ferramenta de análise que vamos utilizar. Pode ser que você queira apenas aprender coisas simples, ligadas a seu cotidiano, sem grandes aprofundamentos. Nesse caso, você pode utilizar apenas seus sentidos e experiências anteriores. Por outro lado, há situações em que o objeto que você quer conhecer é bastante complexo. Quando isso acontece, vale a pena usar o método científico para investigar a fundo o tema em questão. No entanto, existem assuntos que não podem ser explicados com tanta objetividade: a relação do homem com o divino e o porquê de nossa existência são bons exemplos disso (MASCARENHAS, 2018). O conhecimento como um todo sofre influências de determinado ponto de vista e de um lugar social, entenderemos que ele pode ser dividido em cinco tipos: conhecimento popular ou de senso comum, filosófico, empírico, científico e teológico ou religioso. 1.3.1 Conhecimento popular ou de senso comum De acordo com Marconi e Lakatos (20220), o conhecimento de senso comum ou popular como elas o chamam, tem um caráter mais valorativo, pois, fundamenta- se em estados de ânimo e emoções. Elas também explicam que ele carrega uma dimensão mais reflexiva e por encontrar-se limitado pela familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. Ele também é considerado pelas autoras como assistemático, pois, se fundamenta na organização particular das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, na procura de uma formulação geral que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. Finalmente, elas o consideram falível e inexato, pois conforma-se com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Este tipo de conhecimento recusa a elaboração de hipóteses (MARCONI; LAKATOS, 2022). De acordo com Mascarenhas (2018), usamos o senso comum no cotidiano para entender o lugar onde vivemos e às pessoas que nos cercam. Temos conhecimento empírico sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre às coisas. Parte desse conhecimento é construída por nossas próprias experiências. Outra parte vem da experiência coletiva —ou seja, valores, costumes e ideias que uma comunidade transmite de uma geração para outra (MASCARENHAS, 2018). 1.3.2 Conhecimento científico De modo geral, o conhecimento científico é não se baseia em crenças ou tradições: ele é construído a partir de evidências colhidas com u ajuda de métodos bem de que produziu um conhecimento científico de verdade. Seu objetivo é revelar verdades universais, capazes de explicar todos os casos da mesma espécie. É metódico — não é construído aleatoriamente, mas de maneira bem sistemática, com a ajuda de métodos rigorosos e objetivos. É objetivo - o cientista não produz conclusões com base em crenças, experiências e valores pessoais. Ao contrário do empírico, o conhecimento científico não pode ser subjetivo. Por isso, o cientista deve se afastar de suas convicções pessoais e ser o mais neutro possível na hora de tirar conclusões (MASCARENHAS, 2018). Antigamente, era comum acreditar que o conhecimento científico tinha que ser perfeito e imutável — uma verdade definitiva, para ninguém botar defeito. Hoje em dia, a ciência deixou de ser vista como um produto acabado e passou a ser entendida como um processo em construção. Nesse processo, é normal que ocorram falhas, correções e reavaliações: o importante é chegar mais perto da verdade com a ajuda de métodos rigorosos e sistemáticos (MASCARENHAS, 2018). 1.3.3 Conhecimento filosófico Para entender melhor o conhecimento filosófico, nada melhor do que pensar no significado da palavra filosofia. Criada pelo grego Pitágoras, ela é resultado da união de philos (amigo) e sophia (sabedoria). Trocando em miúdos, filosofia significa ser amigo da sabedoria. A origem da palavra tem tudo a ver com o que a filosofia faz na prática: ela inclui e orienta ao mesmo tempo várias áreas do conhecimento científico. Historicamente falando, o conhecimento não era separado em diferentes áreas: antigamente, tudo era filosofia. Com o passar do tempo, os diferentes ramos da ciência se especializaram e acabaram se separando da filosofia. Mesmo assim, ela continua refletindo sobre os princípios, os métodos e os avanços de todos os braços do conhecimento científico (MASCARENHAS, 2018). Surge, então, uma pergunta importante: se o conhecimento científico e o filosófico andam de mãos dadas, o que torna um diferente do outro? Pois bem. As principais diferenças entre esses dois tipos de conhecimento têm a ver com o objeto e o método de estudo. O objeto de estudo do conhecimento científico são dados materiais, que podem ser percebidos pelos sentidos e observados com a ajuda do método experimental. Já o objeto do conhecimento filosófico é bem diferente. A filosofia está interessada em temas que vão além do que os sentidos podem captar: ela parte da experiência material para a reflexão abstrata. Aqui, usamos a reflexão para pensar sobre nós mesmos e sobre a realidade. A ciência produz conclusões sobre o mundo à nossa volta; a filosofia examina e problematiza as verdades científicas. Esse exame não chega a respostas definitivas, pois a filosofia é uma busca sem fim por interpretações sobre tudo que envolve o ser humano. Ora, se filosofar é pensar sobre questões que afetam o homem, é natural que o pensamento filosófico tenha se ocupado de temas diferentes no decorrer da História. Obviamente, alguns nunca saíram de moda. É o caso dos debates sobre o sentido da vida, da liberdade e os limites do conhecimento: seja qual for a época, esses assuntos sempre inspiram discussões acaloradas entre os filósofos (MASCARENHAS, 2018). 1.3.4 Conhecimento teológico De acordo com os estudos de Mascarenhas (2018), existem duas maneiras de lidar com um mistério. A primeira é usar a reflexão com a ajuda de métodos para tentar chegar a uma conclusão, seja ela de natureza científica ou filosófica. A segunda é acreditar na explicação de alguém que diz ter desvendado esse mistério. Quando isso acontece, não exigimos provas de que a explicação é mesmo verdadeira — simplesmente aceitamos com fé tudo que é dito. Chamamos de conhecimento teológico esse conjunto de explicações sobre Deus e a vida, que aceitamos com base na fé. Aqui, entendemos como mistério tudo aquilo que é oculto, portanto, provoca curiosidade. O mistério pode ter a ver com a origem do mundo, a vida após a morte ou o sentido da vida, E damos o nome de revelador ao homem ou à divindade que explica o mistério. A partir daí essa explicação pode ser aceita por várias pessoas, sem que seja necessário comprovar o conhecimento com evidências concretas. É isso que acontece com os livros sagrados, que muitos aceitam como verdadeiros sem exigir provas materiais em troca (MASCARENHAS, 2018). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARCONI, Marina de, A.; Eva Maria LAKATOS. Metodologia Científica. (8th edição). Grupo GEN, 2022. MASCARENHAS, S.A. Metodologia científica. 2. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil,2018. OLIVEIRA, D. A.B. de; OLIVEIRA, C. A. de (Orgs). Breve história da ciência sob nova perspectiva. EDUFT: Palmas (TO), 2019.