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Autores: Profa. Maria José Teixeira Prof. Alexandre Saramelli Profa. Cristiane Nagai Colaboradoras: Profa. Rachel Niza Prof. André Galhardo Fernandes Contabilidade Financeira Professores conteudistas: Maria José Teixeira / Alexandre Saramelli /Cristiane Nagai Maria José Teixeira Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Católica de São Paulo, graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Católica de São Paulo, licenciada pela Faculdade de Educação Campos Salles e com curso de Controladoria, Controle de Custos e Orçamentos - Programa de Educação Continuada para Executivos - pela Fundação Getúlio Vargas. Tem experiência na área de contabilidade societária, contabilidade tributária, custos e controladoria exercendo diversas funções de coordenação, contadora e gerente de contabilidade em grandes grupos empresariais nacionais e multinacionais. Experiência na área acadêmica atuando nas disciplinas de contabilidade em geral, Custos e Análise de Balanços em diversas instituições de ensino superior. Atualmente, é professor adjunto I da UNIP - Universidade Paulista, ministrando as disciplinas de Contabilidade Societária, Contabilidade Financeira, Contabilidade Pública e Planejamento Contábil Tributário. Alexandre Saramelli Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e mestre profissional em Controladoria pela mesma universidade. Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP. Cristiane Nagai Mestre em Contabilidade pela Universidade de São Paulo (2012), especialista em controladoria pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap, 2007) e em ensino a distância (2011). Graduada em Direito e em Ciências Contábeis pela UNIP (2005). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T266c Teixeira, Maria José. Contabilidade financeira. / Maria José Teixeira, Alexandre Saramelli, Cristiane Nagai. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 76 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Contabilidade financeira. 2. Estimativas e provisões. 3. Pagamentos. I. Saramelli, Alexandre. II. Nagai, Cristiane. III. Título. CDU 657.15 U505.70 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Amanda Casale Juliana Muscovick Sumário Contabilidade Financeira APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 AJUSTES DE REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS ...................................................... 11 2 ESTIMATIVAS COMO CONTAS REDUTORAS DO ATIVO CIRCULANTE .......................................... 13 2.1 Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (ECLD) ..................................................... 14 2.2 Estimativa para ajuste a valor de mercado dos estoques .................................................... 24 3 ESTIMATIVAS COMO CONTAS REDUTORAS DO ATIVO NÃO CIRCULANTE............................... 28 3.1 Perdas estimadas por valor não recuperável em investimentos não circulantes: CPC 01 (R1) - Redução do valor recuperável de ativos ....................................... 28 3.2 Perdas estimadas por valor não recuperável em imobilizado: CPC 01 (R1) – Redução ao valor recuperável de ativos ............................................................... 29 3.3 Perdas estimadas por valor não recuperável em intangível: CPC 01 (R1) – Redução ao Valor Recuperável de Ativos ............................................................. 33 4 PROVISÕES COMO EXIGÍVEIS ..................................................................................................................... 33 4.1 Provisões para contingências .......................................................................................................... 35 4.2 Diferença entre provisão para contingências e reservas para contingência ............... 35 Unidade II 5 OPERAÇÕES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL .................................................................................. 41 5.1 Arrendamento mercantil ................................................................................................................... 42 5.1.1 Alcance do pronunciamento técnico CPC 06 (R2) – Arrendamentos ............................... 44 5.1.2 Classificação de arrendamento ......................................................................................................... 44 5.2 Mensuração e reconhecimento do arrendamento mercantil no arrendatário .......... 45 5.2.1 Isenção de reconhecimento ............................................................................................................... 46 5.2.2 Contabilização do arrendamento mercantil no arrendatário ............................................... 47 5.2.3 Exemplo de contabilização de arrendamento mercantil no arrendatário ....................... 48 5.3 Mensuração e reconhecimento do arrendamento mercantil no arrendador .............. 49 5.3.1 Arrendamento financeiro .................................................................................................................... 50 5.3.2 Arrendamento operacional ................................................................................................................ 50 5.3.3 Contabilização do arrendamento mercantil no arrendador ................................................. 51 5.4 Contratos de aluguel – Tratamento como arrendamento mercantil .............................. 51 6 LEASEBACK ........................................................................................................................................................ 51 Unidade III 7 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (DVA) ............................................................................. 58 8 INSTRUÇÕES PARA PREENCHIMENTO .................................................................................................... 62 7 APRESENTAÇÃO O objetivo traçado para esta disciplina é o de proporcionar meios ao aluno para estudar assuntos inerentes à atividade contábil, entre eles a questão das perdas estimadas como contas redutoras do ativo e provisões como contas de passivos, considerando-se o processo de convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais. Trata, ainda, da contabilização de operações de arrendamento mercantil e seus reflexos nas demonstrações contábeis da empresa arrendadora e da arrendatária, sendo que traz ainda a Demonstração do Valor Adicionado. A contabilidade financeira, de uma forma geral, é conhecida como uma contabilidaderecursos para o governo. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a estimativa de perda de recursos com despesas extras não podem aumentar o ativo do governo. 39 CONTABILIDADE FINANCEIRA C) Alternativa correta. Justificativa: a provisão para o pagamento de possíveis derrotas no judiciário se configura em possível aumento das obrigações do estado para com as pessoas ou empresas. D) Alternativa incorreta. Justificativa: os precatórios se vencidos, contra o governo, aumentam a obrigação do poder público para com a sociedade. E) Alternativa incorreta. Justificativa: emolumentos são ganhos casuais, e os precatórios são perdas quase certas do poder público. Questão 2. Em uma economia hipotética, algumas razões levaram à aplicação de uma política monetária contracionista, isto é, a autoridade monetária foi obrigada a aumentar a taxa básica de juros e aumentar o percentual dos depósitos compulsórios dos bancos comerciais. Essa decisão de aumentar a taxa de juros terá um efeito secundário que é o encarecimento do crédito para pessoas e empresas. Todo esse desdobramento pode ter como consequência: A) Um aumento da ECLD em função do aumento do custo do dinheiro no mercado bancário. B) Diminuição do passivo circulante da companhia, que deverá optar por diminuir seus gastos diante do aumento do índice de preços. C) Aumento da estimativa de contas redutoras do ativo circulante, uma vez que o aumento de preços deve trazer compressão dos lucros da companhia. D) Diminuição da estimativa de contas redutoras do ativo circulante em decorrência do aumento de preços. E) Melhora dos ganhos de empresas com juros ligados ao processo de compras a prazo. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: o aumento do custo do crédito pode trazer problemas para empresas cujo capital de giro, investimento e outros, são, por vezes, provenientes de empréstimos bancários. Um custo mais do crédito pode inviabilizar a tomada de empréstimos ou comprometer, devido ao aumento dos custos com juros, a capacidade de pagamento do cliente. Neste sentido, pode haver aumento da estimativa para crédito de liquidação duvidosa (ECLD). 40 Unidade I B) Alternativa incorreta. Justificativa: o aumento do nível de preços pode significar grade oportunidade de ganho para empresas dos mais variados setores, seria equivocado creditar a diminuição do passivo em decorrência do aumento da inflação. C) Alternativa incorreta. Justificativa: um aumento de preços generalizada não trará necessariamente uma compressão das margens de lucro das empresas. Além de ser muito relativo, o processo inflacionário pode trazer, no limite, mais lucros para alguns segmentos da economia. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o aumento da inflação não deve trazer uma mudança autônoma relevante que permita a empresa a reduzir as estimativas de perdas com clientes inadimplentes. E) Alternativa incorreta. Justificativa: para que isso ocorra a empresa tem que estar diretamente ligada à concessão de empréstimos ou, ter nos juros, mora e multa por atraso, por exemplo, um grande componente das receitas totais. Ainda assim, o aumento dos ganhos estão mais ligados a outros fatores, como propensão marginal a consumir, elasticidade-preço da demanda em função da taxa de juros, entre outros.dedicada ao usuário externo, que vai produzir as demonstrações contábeis/financeiras. Há diversos assuntos e temas que devem fazer parte de uma demonstração contábil/financeira e que são estudados ao longo de algumas disciplinas dessa área. Muitos dos termos que são utilizados já foram estudados em outras disciplinas. Aqui, introduzem-se outros conhecimentos, com destaque para as operações de arrendamento mercantil, que a partir de 2019 estão sob a vigência da versão R2 do CPC 06 - Operações de arrendamento mercantil. O objetivo é que o aluno conheça como uma empresa deve proceder, de acordo com as leis e das normas contábeis e entenda como aplicar esse conhecimento. Para tal, inseriram-se alguns exercícios resolvidos, para que o aluno tenha condições de entender o como fazer, ao mesmo tempo em que entende o por que fazer. A maior parte do conteúdo a ser abordado aplica-se a empresas de qualquer porte e/ou ramo e, atualmente, com as normas internacionais de contabilidade, em praticamente todos os países que aderiram a elas. Há também o intuito de orientar o aluno em relação ao processo de convergência contábil internacional, um grande esforço dos contadores e que está em pleno andamento. Há espaço também para lidar com a cultura corporativa, os jargões próprios da área contábil/financeira e administrativa, ajudando o estudante a se inserir no mercado de trabalho. Na elaboração deste livro-texto, seguiram-se orientações do Conselho Federal de Contabilidade e da Fundação Brasileira de Contabilidade (Proposta Nacional de Conteúdo para os Cursos de Graduação em Ciências Contábeis), do Ministério da Educação (Resolução CNE/CES 10/2004 e Parecer CNE/CES 269/2004). Além disso, as orientações da Organização das Nações Unidas (ONU), da United Nations Conference on Trade and Development (Unctad), da International Accounting Standards Board (Iasb) com as Normas Internacionais de Contabilidade, e da International Federation of Accountants (Ifac) com as Normas Internacionais de Educação Contábil e os pronunciamentos do Comitê [brasileiro] de Pronunciamentos Contábeis (CPC). 8 INTRODUÇÃO Olá, aluno. Imagino que você já deva estar bastante ansioso para começar a estudar esta disciplina e não é para menos: trata-se de um dos assuntos que mais atraem a atenção dos profissionais da área. Mas é preciso ter cuidado com o nome contabilidade financeira, pois nós não iremos tratar apenas de assuntos financeiros, empréstimos, financiamentos, juros. O financeiro do qual estamos nos referindo é uma contabilidade voltada a usuários externos da empresa, que mostra tópicos essenciais para a boa administração de uma empresa. Por exemplo, será que a empresa gera valor adicionado durante o desenvolvimento de suas atividades? Como e para quem esse valor adicionado gerado foi distribuído? Surge aqui a necessidade de dizer a verdade, de mostrar o que realmente ocorreu na empresa. Então, vamos estudar três tópicos que chamam a atenção para a boa execução dos negócios e geralmente envolvem informações relevantes no processo decisório dos usuários da informação contábil: estimativas, operações de arrendamento mercantil e demonstração do valor adicionado. No que se refere às estimativas, sabe-se que as demonstrações contábeis das empresas devem retratar o mais fielmente sua realidade econômico-financeira, visto que as informações servirão aos mais diversos usuários (governo, acionistas, fornecedores, concorrentes). Os ativos da empresa devem estar gravados no balanço patrimonial da companhia pelo seu valor de provável realização, resguardadas suas respectivas regras, e todos os seus passivos deverão estar devidamente reconhecidos. Primeiramente, estudaremos a técnica de constituir as estimativas relacionadas às contas de determinados ativos e as provisões registradas no passivo. Em seguida, veremos o que são operações de arrendamento mercantil e seu reconhecimento nas empresas arrendadoras e arrendatárias. Por fim, será abordada a demonstração do valor adicionado, que se tornou obrigatória com o advento da Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007, com efeito a partir de 2008. Ao final deste estudo, espera-se que você tenha formado habilidades para lidar com esses três tópicos de forma natural e saber agir, analisar, fazer julgamentos profissionais. Todo e qualquer lugar pode ser um ambiente perfeito para estudar. Mas, para estudar da melhor forma possível, cada um tem suas individualidades e manias. Há pessoas que conseguem absorver bem um assunto a partir de uma simples leitura. Outros não têm muita paciência para ler e preferem fazer exercícios. Há ainda os que têm predileção por livros coloridos, preenchidos com gráficos, elementos visuais e resumos, ou aqueles que não gostam de teorias acadêmicas e dão preferência a livros que ilustrem exemplos práticos e, assim, retratem o cotidiano empresarial. Desse modo, quando este trabalho foi elaborado, pensou-se em mesclar estratégias de ensino para que ele se tornasse interessante. No entanto, o que viria a ser um conteúdo interessante? O que seria um conteúdo chato? Essas respostas dependem de sua postura como aluno. Por isso, a recomendação é: aproveite este livro-texto com olhos interessados. 9 É claro que você é livre para estudar da maneira que achar melhor e que acreditar ser mais eficiente. Contudo, sugere-se que, antes de qualquer atitude, seu estudo seja iniciado pela bibliografia. Verifique livros, artigos e referências que foram utilizados na elaboração deste livro-texto. Em seguida, percorra as unidades, sempre fazendo as atividades propostas. Esta disciplina vai lhe exigir bastante atenção. Como uma sugestão, recomenda-se que você refaça os exercícios propostos em seu caderno passo a passo, bem longe do livro-texto e depois compare o seu exercício com o livro-texto. Recomenda-se veementemente reservar algumas horas do seu tempo exclusivamente para estudar contabilidade financeira. E quando eu digo exclusivamente, é exclusivamente mesmo, não se dedique a mais nada, (evite atender ao telefone, receber mensagens, conversar com os amigos nas redes sociais da internet, deixar a TV ligada em um noticiário, estar próximo a crianças ou animais e a outras distrações). Isso pode parecer um absurdo para muitos, ainda mais na nossa era da internet, mas os resultados serão satisfatórios. Bom (e entusiasmado) estudo! Observação Interaja sempre com os tutores, com seus colegas e com o professor nos fóruns. Além disso, contribua com pesquisas, curiosidades e observações. 11 CONTABILIDADE FINANCEIRA Unidade I 1 AJUSTES DE REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS As demonstrações contábeis constituem fonte de informação da empresa para os mais diversos tipos de interessados. É por meio do balanço patrimonial, por exemplo, que um potencial acionista poderá constatar os direitos e obrigações de uma empresa e o quanto esta poderá lhe render, caso se torne um acionista. Assim, é de extrema importância que os valores constantes nesse demonstrativo não levem seus usuários ao engano. Tomemos como exemplo as contas patrimoniais duplicatas a receber ou clientes. Tais contas representam valores a serem recebidos pela empresa, seja por mercadorias, produtos ou serviços vendidos/prestados a prazo, ou ainda pela venda de qualquer outro direito ou bem vendido a prazo. Ainda que de fato a empresa tenha esses valores a receber, representando, supostamente, ingressos em seu caixa, a prática comercial indica que há a possibilidade de que dentro dessa conta clientes inadimplentes estejam presentes. Em outras palavras, é possível que o valor a receber não seja efetivamente recebido de clientes que estejam em precária situação financeira. Conhecendo tal situação, não pode a empresa deixar de apresentar uma estimativa de modo a corrigir tal conta ao seu provável valor de realização, de recebimento. Observação É muito comum as pessoas confundirem as palavras provisão e previsão. O termo previsão não é umanomenclatura contábil. Quando há uma situação de dúvida, os contadores não realizam um trabalho de previsão, como na meteorologia, realizam um trabalho com dados conhecidos no momento, para prover, preparar a empresa. Portanto, não se usa a palavra previsão. E, com as IFRS, utilizamos a expressão estimativa. O mesmo ocorre quanto aos passivos da empresa. Supondo que a empresa seja parte em um processo judicial trabalhista, em que a probabilidade de ser vencida é provável e o valor a ser despendido é mensurável com suficiente segurança, tal valor deverá constar em seu passivo por meio de uma estimativa. Mobile User 12 Unidade I As expectativas de perdas de ativos ou estimativas de valores a desembolsar que, apesar de financeiramente ainda não efetivadas, derivam de fatos geradores contábeis já ocorridos, isto é, dizem respeito a perdas economicamente incorridas (como a depreciação, a perda de valor de investimentos, o provável não recebimento de créditos, a estimativa de não recuperação de valores aplicados nos estoques etc.). Assim, temos: estimativas de perdas que reduzem o valor do ativo, ou estimativas que aumentam as obrigações (exigibilidades) da empresa. À medida que deixam de ser estimativas, isto é, expectativas de perda de ativos ou expectativa de obrigações, tornando-se totalmente definidas, o procedimento contábil correto é abandonar o conceito de estimativa. As expectativas de obrigações, por exemplo, quando se tornam líquidas e certas, não são estimativas e sim passivos genuínos (por exemplo, salários a pagar, ICMS a recolher). É de fundamental importância a constituição de estimativas e provisões, de modo que se atenda às características qualitativas da informação contábil útil, dispostas na Estrutura Conceitual da Contabilidade, também conhecida como Pronunciamento Técnico CPC 00. As características qualitativas dispostas no CPC 00 são divididas em fundamentais e de melhoria. As características qualitativas fundamentais são: relevância e representação fidedigna. Para que a informação contábil seja relevante e, portanto, útil no processo decisório dos usuários, ela deve ser capaz de fazer diferença em seus julgamentos, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros, seja confirmando ou corrigindo suas avaliações anteriores ou subsidiando o usuário de informações para que possa fazer novas avaliações. Representação fidedigna diz respeito à representação adequada daquilo a que se propõe a representar. Quando analisamos, por exemplo, o valor da conta duplicatas a receber ou clientes, possuindo indícios de que não receberemos integralmente o valor a que temos direito, seja por experiências passadas no recebimentos de créditos ou por análise da situação econômica dos clientes, precisamos avisar os usuários sobre essa informação. E, nesse caso, utilizamos a estimativa para créditos de liquidação duvidosa. O importante é que você entenda que ao constituirmos a estimativa de perda com recebimento de créditos, estamos buscando representar fidedignamente a situação econômico-financeira da empresa. A informação contábil para ser fidedigna precisa atender a três atributos: ser completa, neutra e livre de erros. Deve-se entender informação completa no sentido de incluir toda a informação necessária para que o usuário compreenda a situação financeira e o desempenho da entidade. A informação será neutra se for imparcial, não podendo ser otimista ou pessimista em relação às projeções futuras. No caso da constituição da estimativa de perdas com créditos de liquidação duvidosa, por exemplo, não devemos constituí-la por um valor menor daquele que Mobile User 13 CONTABILIDADE FINANCEIRA temos evidência de que poderemos não receber (visão otimista) ou por um valor muito maior do que o necessário (visão pessimista ou conservadorismo em excesso). A prudência na constituição da estimativa deve estar sempre presente. Será livre de erro a informação isenta de omissões, sem erros propriamente ditos, refletindo com fidedignidade as transações efetuadas pela empresa. No que se refere às características qualitativas de melhoria, o CPC 00 apresenta as seguintes características: comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade. • Comparabilidade: as informações contábil-financeiras devem ser comparáveis entre as empresas do mesmo setor e da própria empresa ao longo do tempo. • Verificabilidade: quanto maior for a possibilidade do usuário verificar, recalcular ou reconstruir a informação, maior será a qualidade da informação prestada. • Tempestividade: uma informação será mais útil se estiver disponível para o usuário a tempo de influenciar suas decisões. É a informação prestada em tempo oportuno para o usuário. • Compreensibilidade: a informação prestada deve ser clara, concisa, prontamente entendida e compreendida pelo usuário. O CPC 00 também apresenta definições sobre o regime de competência que determina que as receitas e despesas correlatas devem ser reconhecidas nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. Observação Se o profissional da contabilidade não conhece o mercado e as práticas do ramo de negócio, é natural que ele seja mais precavido e aja com cautela. Isso porque os mercados de uma forma geral costumam ser hostis. Entretanto, se o contador conhece o mercado específico do ramo de negócios, os players, acompanha detalhes da operação, tende a ser menos conservador. É o que se chama de conservadorismo responsável. 2 ESTIMATIVAS COMO CONTAS REDUTORAS DO ATIVO CIRCULANTE Há determinados bens ou direitos classificados no ativo cujo valor real de realização é menor do que aquele destacado contabilmente. Daí a necessidade de se constituir uma estimativa para reduzi-lo a um valor que efetivamente possa ser realizado. As estimativas que reduzem o ativo são, obviamente, contas credoras, visto que corrigem o saldo do ativo que tem natureza devedora. A contrapartida na constituição de uma estimativa ativa será sempre Mobile User 14 Unidade I uma conta de despesa ou custo, indedutível para fins de cálculo do resultado tributável de imposto de renda e contribuição social. Como espécies de estimativas redutoras do ativo, temos: Quadro 1 Conta/Grupo do ativo Estimativa Clientes/Ativo circulante Estimativa para créditos de liquidação duvidosa Estoques/Ativo circulante Estimativa para ajuste a valor de mercado dos estoques Investimentos avaliados pelo custo/Ativo não circulante Estimativa para perdas permanentes Imobilizado/Ativo não circulante Depreciação e exaustão Intangível/Ativo não circulante Amortização A seguir, estudaremos as estimativas redutoras do ativo circulante. 2.1 Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (ECLD) Essa estimativa, também denominada Estimativa para Devedores Duvidosos, é constituída em função da expectativa de perdas que a empresa suscita que possam ocorrer em virtude de ter efetuado vendas a prazo (fato gerador contábil) e da possibilidade de nem todos os devedores honrarem seus compromissos. Assim, as contas a receber devem ser avaliadas por seu valor líquido de realização, ou seja, pelo produto final em dinheiro ou equivalente que se espera obter. Para tanto, devem-se baixar as contas prescritas e constituir uma Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa para cobertura das perdas esperadas na cobrança das contas a receber, motivo pelo qual essa estimativa é classificada como redução das contas a receber, para serem apresentadas por seu valor líquido realizável. É nesse sentido que o inciso I do art. 183 da Lei n. 6.404/76, com alterações introduzidas pela Lei n. 11.638/07, estabelece os critérios de avaliação desse ativo, indicando que serão excluídos os direitos e títulos de créditos já prescritos, sendo feitas as estimativas adequadas para ajustá-lo ao valor provável de realização. A empresa, para estimar o valor de perda provável na realização de suas contas a receber, duplicatasa receber ou clientes, considera, por exemplo, aspectos peculiares de sua clientela, a conjuntura econômica do momento em que se está estimando o risco e o ramo de negócios em que atua, entre outras variáveis. Há que se adotar um mecanismo de cálculo para a estimativa que melhor reflita o que realmente pode vir a ocorrer em termos de perdas no recebimento, considerando a experiência anterior da empresa com relação a prejuízos no recebimento de seus créditos. O critério adotado pode ser, portanto, diferente para cada empresa. De acordo com a Lei n. 9.430/96 (IN SRF 1.700/17), a despesa oriunda da constituição da estimativa para créditos de liquidação duvidosa não é dedutível para fins de apuração da base tributável Mobile User 15 CONTABILIDADE FINANCEIRA em imposto de renda e contribuição social, devendo ser adicionada no Livro de apuração do lucro real – Lalur. Entretanto, quando as perdas forem efetivadas, de acordo com a legislação fiscal, as perdas de créditos poderão ser registradas como dedutíveis (Regulamento do Imposto de Renda/2018, art. 71, § 1º): I. Em relação aos quais tenha havido a declaração de insolvência do devedor, mediante sentença emanada do Poder Judiciário. II. Sem garantia de valor: a. Até R$15.000,00, por operação, vencidos há mais de seis meses, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento. b. Acima de R$15.000,00 até R$100.000,00, por operação, vencidos há mais de um ano, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento, porém mantida a cobrança administrativa. c. Superior a R$100.000,00, por operação, vencidos há mais de um ano, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento. III. Com garantia, vencidos há mais de dois anos, de valor: a) Até R$ 50.000,00, por operação, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias. b) Superior a R$ 50.000,00, por operação, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias. IV. Contra devedor declarado falido ou pessoa jurídica em concordata ou recuperação judicial, relativamente à parcela que exceder o valor que esta tenha se comprometido a pagar, observado o disposto no § 8º. Caso a pessoa jurídica concordatária ou em recuperação judicial não honre o compromisso do pagamento de parcela do crédito, esta também poderá ser deduzida como perda, observadas as condições gerais para dedução das perdas (IN SRF n. 1.700 de 2017). Para efeito da legislação fiscal, entende-se por créditos com garantia aqueles provenientes de vendas com reserva de domínio, alienação fiduciária em garantia ou de operações com outras garantias reais, conforme dispõe o art. 347, § 4º do Regulamento do Imposto de Renda de 2018 (RIR/18). Observação A fim de elucidar tais garantias citadas no art. 347 do RIR/18, tem-se que no contrato de compra e venda com reserva de domínio a propriedade do bem permanece com o vendedor até que o comprador pague de forma Mobile User 16 Unidade I integral o devido. Já na alienação fiduciária, percebe-se a figura de três sujeitos envolvidos no negócio: o vendedor, o comprador e uma instituição financeira. Delineiam-se duas relações jurídicas: uma entre vendedor e comprador e outra entre comprador e o agente fiduciário. Assim, o vendedor recebe o preço à vista e o comprador transfere a propriedade do bem à instituição financeira – uma vez que foi esta última quem pagou o preço da coisa – como garantia, até que se extinga a obrigação. As outras garantias reais citadas no artigo em comento são: penhor, anticrese, hipoteca e alienação fiduciária em garantia. Penhor: bem móvel que o devedor entrega ao credor como garantia da dívida. Anticrese: cessão de um bem do devedor ao credor, para seu uso ou aluguel, até receber os rendimentos para cobrir a dívida. Hipoteca: o bem imóvel em posse do devedor, garantindo a dívida para o credor. Aplicando todo o exposto de maneira prática, temos: 1. Exemplo de cálculo para constituição da Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa e contabilização Suponha que uma empresa utilize, como forma de estimar suas perdas, um percentual que considera sua experiência no recebimento de créditos provenientes de vendas realizadas a prazo durante os últimos três anos. Lembrete Essa Estimativa deve ser razoável, feita de acordo com a experiência e intuição. Por isso, é importante que o profissional da área de contabilidade conheça o ramo de negócios e as atividades da empresa em específico, o que diminuirá o conservadorismo condicional. Durante X8, a empresa realizou um total de $ 100.000 de vendas a prazo. Como as vendas se referem ao período de X8, é nesse ano que deverá ser constituída a estimativa para fazer face às perdas que poderão ocorrer no período seguinte – X9, observando, portanto, o regime de competência. Tabela 1 Ano Vendas a prazo Perda com devedores duvidosos % das perdas sobre vendas X7 80.000 640 0,8% (640 / 80.000) X6 50.000 310 0,62% (310 / 50.000) X5 40.000 240 0,60% (240 / 40.000) Totais 170.000 1.190 0,70% (1.190 / 170.000) Mobile User 17 CONTABILIDADE FINANCEIRA A fim de se constituir a estimativa, deve-se proceder ao seguinte cálculo: Vendas a prazo de X8 $ 100.000 % sobre as vendas x 0,007 Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa = $ 100.000 x 0,007 = $ 700. O lançamento contábil de constituição da estimativa é: Lançamento 1 D – Despesas com Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa 700 C – Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa (conta redutora do ativo) 700 2. Baixa de títulos incobráveis Quando se torna efetiva a perda estimada dos créditos gerados no período anterior, a contabilidade deve providenciar a baixa do título. Continuando o exemplo anterior, suponha que da estimativa constituída em X8, no valor de $700, de fato não foram recebidos em X9, $ 300. A contabilidade deverá, portanto, em X9 providenciar a baixa do título por meio da seguinte partida de diário: Lançamento 2 D – Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa 300 C – Clientes / Duplicatas a receber – Cia. Luz 300 Existe a possibilidade de a empresa ter baixado um título considerado incobrável e, posteriormente, o cliente saldar sua dívida. Nesse caso, houve uma recuperação de crédito baixado e esta deverá ser registrada na conta de resultado (outras receitas operacionais). O nosso cliente Cia. Luz resolve quitar sua dívida, porém, por já ter sido baixado esse direito, devemos assim registrar essa operação: Lançamento 3 D – Caixa 300 C – Outras receitas operacionais (recuperação de créditos) 300 Mobile User 18 Unidade I 3. Reversão do saldo da conta Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa Pode ocorrer que a estimativa com perdas no recebimento de créditos tenha sido constituída por um valor maior do que o das perdas efetivas, restando, ao final do exercício, o saldo não utilizado. Ainda considerando o exemplo anterior, percebe-se que restou um saldo não utilizado de $ 400 ($ 700 – $ 300). O procedimento considerado tecnicamente o mais correto a ser adotado, neste caso, é reverter o saldo da conta de modo a zerá-la e constituir a estimativa para o ano seguinte. O lançamento a ser efetuado seria: Lançamento 4 D – Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa (conta redutora do ativo) 400 C – Reversão de Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa (conta de resultado) 400 Outra tratativa possível para o saldo não utilizado seria complementá-lo com a estimativa a ser constituída para o ano seguinte. Assim, se a estimativa para o ano seguinte fosse de $ 900, por exemplo, haveria apenas a complementação de $ 500. E, nesse caso, o lançamento contábil a ser efetuado seria: Lançamento 5 D – Despesas com Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa 500 C – Estimativa para Créditos deLiquidação Duvidosa (conta redutora do ativo) 500 Entretanto, assim como pode ocorrer da estimativa de perdas ter sido constituída por um valor maior que o suficiente para cobrir as perdas com recebimento de créditos, o contrário também é verdadeiro, isto é, pode ocorrer de o saldo estimado ter sido insuficiente para cobrir as perdas efetivas. Desse modo, o procedimento a ser adotado é o lançamento diretamente para despesa, que acarretará efeito no resultado do exercício em que se observou a perda efetiva no recebimento de créditos devido à insuficiência da estimativa. O lançamento contábil, nesse caso, será: D – Perdas com incobráveis (despesas de vendas) C – Duplicatas a receber / Clientes Mobile User 19 CONTABILIDADE FINANCEIRA Despesas com estimativa para créditos de liquidação duvidosa Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (1) 700 (2) 300 700 (1) (4) 400 400 Duplicatas a receber - Cia. Luz Caixa SI 300 300 (2) (3) 300 Outras receitas operacionais (recuperação de créditos) Reversão de estimativa para créditos de liquidação duvidosa 300 (3) (3) 300 400 (4) Considerando a situação de completar a Estimativa (sendo assim, não haveria o lançamento 4), voltaremos com o saldo da Estimativa em 400 Despesas com estimativa para créditos de liquidação duvidosa Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (5) 500 (2) 300 700 (1) 400 500 (5) Exercício resolvido Foi estimado, em 31/12/X7, que os débitos incobráveis da empresa Fonte S/A, nos últimos três anos, correspondiam a 1,5% das vendas a prazo. Nesse dia, o saldo da conta Estimativa para créditos de liquidação duvidosa, antes de ser ajustado, era de $ 98.270. As vendas a prazo, nesse mesmo ano, totalizaram $ 10.570.000. Propositadamente, não informamos os saldos iniciais para as contas de Duplicatas a receber e Caixa, uma vez que o assunto abordado é o estudo sobre a Estimativa para créditos de liquidação duvidosa. Durante X8, ocorreram as seguintes transações: Janeiro – Foi recebida a notícia de que a empresa Abaeté Ltda. havia falido e, portanto, não pagaria seu débito. Abaeté Ltda. devia uma duplicata no valor de $ 13.200. Março – A empresa Iguape Ltda. enviou um cheque no valor de $ 2.810. Sua conta havia sido considerada incobrável e baixada em X7. Abril – A empresa Luna Ltda. pagou $ 75.000, que foram creditados em sua conta cujo saldo devedor era de $ 91.300. Seus negócios não iam bem e a cobrança do restante da dívida foi considerada totalmente impraticável. 20 Unidade I Julho – O débito da empresa Amaralina & Cia., no total de $ 6.780, foi baixado como incobrável. Agosto – O administrador da empresa Azul Ltda. informou à empresa Fonte S/A que seu sócio fugira com o dinheiro de sua empresa e, por conseguinte, seria forçado a encerrar seu negócio sem condições para liquidar seu débito de $ 4.300. Investigações posteriores confirmaram tais informações. Novembro – Foram recebidos $ 1.100 do administrador da empresa Azul Ltda. por ter sido recuperada uma parte do dinheiro roubado por seu sócio. Dezembro – Várias duplicatas, de diversos clientes, no total de $ 9.800, foram baixadas como incobráveis. As vendas a prazo do exercício de X8 somaram $ 17.600.000, e será utilizado o mesmo percentual de 1,5% para nova constituição da Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa (ECLD). Observação Observe que problemas gravíssimos os clientes da empresa do nosso exemplo se depararam! Poderíamos, como profissionais, orientar aos gestores e proprietários para que realizem uma seleção mais cuidadosa de clientes, mas há situações e/ou ramos de negócios onde isso é muito difícil e mesmo com problemas dessa natureza há interesse ou necessidade em fornecer. Então, é necessário acompanhar, verificar em que grau essas situações ocorrem para bem informar nas demonstrações financeiras e nas notas explicativas. Pede-se: I – Preparar as partidas de diário para ajustar a conta estimativa para créditos de liquidação duvidosa em 31/12/X7. a. Reverter o saldo não utilizado. b. Ou complementar o saldo não utilizado com a nova estimativa para o ano seguinte. II – Fazer as partidas de diário das operações e de ajustes da conta de estimativa relativas a X8. III – Encerrar a(s) conta(s) de resultado(s) e apurar o ARE – Apuração do Resultado do Exercício Observação: transportar as partidas de diário para o razão. Resolução I – Preparar as partidas de diário para ajustar a conta estimativa para créditos de liquidação duvidosa em 31/12/X7. 21 CONTABILIDADE FINANCEIRA Em 31/12/20X7 restava na conta ECLD um saldo não utilizado de $ 98.270. A estimativa para as perdas que poderão ocorrer no ano seguinte sobre as vendas a prazo realizadas em 20X7 é de $ 158.550 ($ 10.570.000 x 0,015). Os procedimentos a serem adotados quanto ao saldo não utilizado são os seguintes: Lançamento 1 D – ECLD (conta redutora do ativo) 98.270 C – Reversão de estimativa (conta de resultado) 98.270 Constituição da nova estimativa considerando as vendas a prazo realizadas em 20X7 que serão recebidas em 20X8: $ 10.570.000 x 0,015 = 158.550 Lançamento 2 D – Despesas com constituição de ECLD (conta de resultado) 158.550 C – ECLD (conta redutora do ativo) 158.550 Saldo não utilizado = $ 98.270 Estimativa para 20X9 = $ 158.550 Complemento da estimativa = $ 158.550 - $ 98.270 = $ 60.280 D – Despesas com constituição de ECLD (conta de resultado) 60.280 C – ECLD (conta redutora do ativo) 60.280 II - Fazer as partidas de diário das operações e de ajustes da conta de Estimativa relativas a X8. Janeiro – Foi recebida a notícia de que a empresa Abaeté Ltda. havia falido e, portanto, não pagaria seu débito. Abaeté Ltda. devia uma duplicata no valor de $ 13.200. Lançamento 3 D – ECLD (conta redutora do ativo) 13.200 C – Duplicatas a receber 13.200 22 Unidade I Março – A empresa Iguape Ltda. enviou um cheque no valor de $ 2.810. Sua conta havia sido considerada incobrável e baixada em X7. Lançamento 4 D – Caixa/Bancos 2.810 C – Recuperação de créditos 2.810 Comentário: nesse caso, não há que se creditar a conta Duplicatas a receber, visto que esse procedimento já foi adotado quando o crédito foi considerado incobrável em X7. D = ECLD (conta redutora do ativo) C = Duplicatas a receber Abril – A empresa Luna Ltda. pagou $ 75.000 dos $ 91.300 que devia à empresa Fonte Ltda. Seus negócios não iam bem e a cobrança do restante da dívida foi considerada totalmente impraticável. Lançamento 5 D – Caixa/Bancos 75.000 D – ECLD (conta redutora do ativo) 16.300 C – Duplicatas a receber 91.300 Julho – O débito da empresa Amaralina & Cia., no total de $ 6.780, foi baixado como incobrável. Lançamento 6 D – ECLD (conta redutora do ativo) 6.780 C – Duplicatas a receber 6.780 Agosto – O administrador da empresa Azul Ltda. informou à empresa Fonte S/A que seu sócio fugira com o dinheiro de sua empresa e, por conseguinte, seria forçado a encerrar seu negócio sem condições para liquidar seu débito de $ 4.300. Investigações posteriores confirmaram tais informações. Lançamento 7 D – ECLD (conta redutora do ativo) 4.300 C – Duplicatas a receber 4.300 23 CONTABILIDADE FINANCEIRA Novembro – Foram recebidos $ 1.100 do administrador da empresa Azul Ltda. por ter sido recuperada uma parte do dinheiro roubado por seu sócio. Lançamento 8 D – Caixa/Bancos 1.100 C – ECLD (conta redutora do ativo) 1.100 Quando um crédito é considerado incobrável e a recuperação deste crédito ocorre no mesmo exercício social, podemos creditar a conta redutora do ativo fazendo uma espécie de estorno do lançamento. Dezembro – Várias duplicatas, de diversos clientes, no total de $ 9.800, foram baixadas como incobráveis. As vendas a prazo do exercício de X8 somaram $ 17.600.000. Lançamento 9 D – ECLD (conta redutora do ativo) 9.800 C – Duplicatas a receber 9.800 Constituição da estimativa sobre as vendas a prazo realizadasem 20X8 a serem recebidas em 20X9: Antes de constituirmos a ECLD referente às vendas a prazo realizadas em 20X8 a serem recebidas em 20X9, há que se verificar se há saldo não utilizado de Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa em 31/12/20X8. No exemplo, o saldo não utilizado é de $ 109.270. Logo, considerando o lançamento de reversão, temos: Lançamento 10 D – ECLD (conta redutora do ativo) 109.270 C – Reversão do saldo não utilizado de ECLD (conta de resultado) 109.270 Para constituir a ECLD para o ano seguinte, vejamos: Vendas a prazo de 20X8 = $ 17.600.000 Base da estimativa = 1,5% sobre as vendas a prazo ECLD = $ 17.600.000 x 0,015 = $ 264.000 24 Unidade I Lançamento 11 D – Despesas com constituição de ECLD (conta de resultado) 264.000 C – ECLD (conta redutora do ativo) 264.000 Duplicatas a receber Caixa ECLD Reversão de ECLD xxxxxxxxxx 13.200 (3) xxxxxxxxxx 98.270 S.I. 98.270 (1) (5) 75.000 2.810 (4) (4) 2.810 (1) 98.270 (a) 98.270 91.300 (5) (8) 1.100 0 6.780 (6) 158.550 (2) 109.270 (10) 4.300 (7) (3) 13.200 1.100 (8) 9.800 (9) (5) 16.300 (b) 109.270 (6) 6.780 (7) 4.300 (9) 9.800 50.380 159.650 109.270 (10) 109.270 264.000 (11) Despesa com ECLD Recuperação de Créditos Resultado 2007 Resultado 2008 (2) 158.550 2.810 (4) (c) 158.550 98.270 (a) (d) 264.000 109.270 (b) 158.550 (c) (d) 2.810 154.730 60.280 (11) 264.000 264.000 (d) 2.2 Estimativa para ajuste a valor de mercado dos estoques O item II do art. 183 da Lei das Sociedades por Ações trata do critério básico de avaliação dos estoques, como segue: Os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio da companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e bens em almoxarifado, (serão avaliados) pelo custo de aquisição ou produção, deduzido de estimativa para ajustá-lo ao valor de mercado, quando este for inferior. A estimativa para ajuste de estoque ao valor de mercado não é dedutível para fins de apuração de lucro real e para a determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro. Mobile User 25 CONTABILIDADE FINANCEIRA Lembrete A base elementar da contabilização dos estoques é o custo. No caso de produtos adquiridos para revenda de matérias-primas ou de outros tipos de materiais utilizados no processo de produção, tal custo é o de aquisição dos itens acrescidos dos gastos relacionados à aquisição e excluídos os tributos recuperáveis. No caso de produtos em processo e acabados, é o custo de produção. Contudo, conforme citado na legislação, e pelos conceitos contábeis, a regra básica de avaliação na data do balanço é a do custo ou mercado, dos dois o menor. Quando houver a perda de utilidade ou a redução no preço de venda ou de reposição de um item que diminua seu valor recuperável, ou seja, de mercado, a um nível abaixo do custo, deve-se então assumir como base final de avaliação tal preço de mercado inferior ao custo, mediante uma estimativa, mantendo-se os controles de estoques ao valor original de custo. O método do custo ou mercado, dos dois o menor, tem como finalidade, portanto, eliminar dos estoques a parcela dos custos que provavelmente não seja recuperável. A aplicação desse critério deve ser na avaliação dos inventários de final de cada ano, para que as perdas resultantes de estragos, deterioração, obsolescência, redução na estrutura de preços de venda ou de reposição sejam reconhecidas nos resultados do exercício em que tais perdas ocorrerem e não no exercício em que a mercadoria é vendida, reposta ou transformada em sucata. Apuração do valor de mercado A aplicação do critério de custo ou mercado, dos dois o menor, deve ser feita separadamente para cada subconta de estoques. a. Matérias-primas, outros materiais utilizados na produção e almoxarifado de uso geral: “preço pelo qual possam ser repostos, mediante compra no mercado” (art. 183, § 1º da Lei das S/A), ou seja, será o custo de reposição de cada material, entendendo-se como custo da reposição a compra de quantidades usuais em circunstâncias normais. Tabela 2 Mercadoria Quantidade Custo médio Custo total Valor de mercado Unitário abaixo do mercado A 2.000 10,00 20.000,00 9,00 1,00 B 1.000 20,00 20.000,00 20,00 - C 400 10,00 4.000,00 11,00 - D 2.000 15,00 30.000,00 16,00 - E 20.000 12,00 240.000,00 11,00 1,00 Conforme o exemplo acima, apenas dois dos materiais possuem valores de mercado abaixo do custo, e, como deve prevalecer o menor, constitui-se contabilmente uma estimativa para redução ao valor de mercado, a qual será debitada ao resultado e calculada da seguinte forma: Mobile User 26 Unidade I Tabela 3 Material Quantidade Valor unitário que prevalece $ Total $ Valor contábil $ Diferença (valor da estimativa) $ A 2.000 9,00 18.000,00 20.000,00 2.000,00 E 20.000 11,00 220.000,00 240.000,00 20.000,00 D – Estimativa para ajuste ao valor de mercado dos estoques (despesa) 22.000,00 C – Estimativa para ajuste ao valor de mercado dos estoques (AC – redutora) 22.000,00 b. Produtos acabados e mercadorias para revenda: nesse caso, o mercado representa o valor líquido realizável de cada item, o qual, por sua vez, é apurado pelo valor líquido entre o preço de venda do item e as despesas estimadas para vender e receber, entendendo-se como tais as despesas diretamente relacionadas com a venda do produto e a cobrança de seu valor, tais como comissões, fretes, embalagens, taxas e desconto das duplicatas etc. Despesas do tipo propaganda, despesas gerais, administrativas etc., que beneficiam não diretamente um produto, mas genérica e constantemente todos os produtos da sociedade, não devem ser incluídas nessa determinação de despesas para vender e receber. Tabela 4 Produtos Quantidade Custo unitário $ Total $ Preço de venda $ A 500 7,00 3.500,00 9,00 B 700 15,00 10.500,00 19,00 C 150 23,00 3.450,00 32,00 A apuração é como segue: Tabela 5 A B C 1. Preço de venda 2. Despesas para vender a) Embalagem b) Entrega (frete) c) Comissões d) Despesas bancárias de cobrança 3. Valor líquido realizável (1 – 2) 4. Custo de fabricação (ou de aquisição) 5. Unitário abaixo do “mercado” 9,00 0,53 0,60 0,80 0,40 2,33 6,67 5,00 x 19,00 0,25 0,40 0,75 1,65 3,05 15,95 17,35 1,40 32,00 0,76 1,23 1,76 0,75 4,50 27,50 26,30 X Mobile User 27 CONTABILIDADE FINANCEIRA Apenas um produto apresentou valor líquido realizável inferior ao custo de fabricação ou compra, tornando-se necessária a formação de uma estimativa para ajuste no valor de $ 980,00, ou seja, 700 unidades a $ 1,40 de custo acima do mercado. No exemplo dado, consideramos que o preço de venda, assim como o custo dos produtos, já se encontra sem o ICMS, não havendo, portanto, necessidade de deduzir a parcela desse imposto. A Lei das S/A determina que, nesses casos, entenda-se por valor de mercado “o preço líquido de realização mediante venda no mercado, deduzidos os impostos e demais despesas necessárias para a venda, e a margem de lucro” (alínea b, § 1º, art. 183). Há que se interpretar aqui o texto legal à base da técnica contábil. Não se aplica pura e simplesmente a dedução da margem de lucro como regra, isto é, não se diminui também do preço de venda o lucro normal, já que isso simplesmente faz voltar ao custo. A aplicação indiscriminada desse critério acaba por fazer a empresa reconhecer prejuízo cada vez que o preço de venda cair, para, talvez, reconhecer lucro no exercício seguinte. Por exemplo: um produto costuma ser vendido com lucro bruto de 40% sobre o custo e tem despesas de venda de 10% do preço de venda. Assim, se ele custar $ 1.000,00, teremos: Preço de venda 1.400,00 Despesas de venda (140,00) Subtotal 1.260,00 Nesse caso, o lucro, após o cômputo das despesas, passa a ser de $ 260,00 por unidade, ou 18,6% sobre o preço de venda, ou ainda 26% sobre o custo. Se em certa data o preço caíssepara $ 1.300,00, teríamos: Preço de venda 1.300,00 Despesas de venda (130,00) Subtotal 1.170,00 Pela regra legal, se olhada sem maior atenção, teríamos ainda que deduzir o “lucro” de $ 260,00, ou de $ 242,00 (18,6% x $ 1.300,00), o que nos obrigaria a considerar: Subtotal 1.170,00 (-) “Lucro” (260,00) Valor líquido realizável 910,00 E, assim, teríamos de reduzir o estoque de $ 1.000,00 para esse valor, fazendo aparecer um prejuízo nesse exercício de $ 90,00. Isso não teria sentido se o produto fosse posteriormente vendido por $ 1.300,00, pois aí registraríamos o lucro total de $ 260,00 ($ 1.300 - $ 130,00 - $ 260,00). 28 Unidade I A legislação, ao mencionar margem de lucro, refere-se, por exemplo, ao caso em que o preço caiu e continuará caindo e a empresa então sabe que nem pelos $ 1.300,00 deverá conseguir vender. Se, por exemplo, estimar que no máximo conseguirá vender pelo líquido de $ 855,00 ($ 950,00 menos despesas de $ 95,00), deverá reduzir o estoque de $ 1.000,00 para $ 855,00, o que, comparado com o preço de venda na data do balanço, aparenta uma redução de margem de lucro de $ 315,00 ($ 1.170,00 - $ 855,00), mas que na realidade significa a antecipação do prejuízo que realmente ela estima que ocorrerá. Por isso, deve-se ter bastante cuidado na hora da utilização do conceito de custo ou mercado. Produtos em processo: esses estoques também devem ser confrontados com o valor de mercado, havendo duas alternativas para seu cálculo. Uma seria tomar seu custo já incorrido mais uma estimativa dos custos a completar. Esse valor final seria comparado com o mercado como se fosse um produto acabado. Por outro lado, para estoques em início do processo, a melhor forma talvez seja decompô-los pelas matérias-primas já requisitadas, cujos custos seriam comparados com o mercado, como se fossem matérias-primas. Pronunciamento Contábil n. 16 (R1) - Estoques, editado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis: o objetivo desse pronunciamento é estabelecer o tratamento contábil para os estoques. A questão fundamental na contabilização dos estoques é quanto ao valor do custo a ser reconhecido como ativo e mantido nos registros até que as respectivas receitas sejam reconhecidas. Esse pronunciamento proporciona orientação sobre a determinação do valor de custo dos estoques e sobre o seu subsequente reconhecimento como despesa em resultado, incluindo qualquer redução ao valor realizável líquido. Também proporciona orientação sobre o método e os critérios usados para atribuir custos aos estoques. Os estoques, objeto desse pronunciamento, devem ser mensurados pelo valor de custo ou pelo valor realizável líquido; dos dois, o menor. 3 ESTIMATIVAS COMO CONTAS REDUTORAS DO ATIVO NÃO CIRCULANTE A seguir serão estudadas as estimativas que reduzem as contas do ativo não circulante, que são as que possuem prazo de realização superior a 12 meses da data do balanço patrimonial. 3.1 Perdas estimadas por valor não recuperável em investimentos não circulantes: CPC 01 (R1) - Redução do valor recuperável de ativos Os investimentos avaliados pelo método de custo devem ser ajustados ao seu valor provável de realização, quando observadas na empresa investida evidências de que o valor de custo não será recuperável em virtude de a investida estar operando, por exemplo, com prejuízos constantes ou por algum evento que não seja possível sua recuperação ao longo dos períodos. Mobile User 29 CONTABILIDADE FINANCEIRA 3.2 Perdas estimadas por valor não recuperável em imobilizado: CPC 01 (R1) – Redução ao valor recuperável de ativos O § 3º do art. 183 da Lei n. 6.404/76 determina que a companhia deverá efetuar periodicamente a análise sobre a recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível, a fim de que sejam registradas as perdas de valor do capital investido quando comprovado que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse valor. Por sua vez, o Pronunciamento Técnico CPC 01 (R1) – Redução ao valor recuperável de ativos determina que se os ativos estiverem avaliados por valor superior ao valor recuperável por meio do uso ou da venda, a entidade deverá reduzi-los a seu valor recuperável, reconhecendo no resultado a perda referente a essa desvalorização. Considerando que o CPC 01 (R1) é de natureza geral e aplicável a qualquer ativo, passaremos a analisar sua aplicação especificamente aos ativos imobilizados. Para os ativos não destinados à venda, mas a produzir benefícios à entidade a partir de seu uso, como é o caso do ativo imobilizado, aplica-se o que costumeiramente é denominado teste de recuperabilidade (impairment). A aplicação desse teste consiste em verificar se um ativo está desvalorizado porque, caso existam indícios ou evidências nesse sentido, uma estimativa de perda para deixá-lo a seu valor recuperável deverá ser efetuada. Os seguintes itens do CPC 01 (R1) identificam quando um ativo pode estar desvalorizado: • 8. Um ativo está desvalorizado quando o seu valor contábil excede seu valor recuperável. Os itens 12 a 14 descrevem algumas indicações de que essa perda possa ter ocorrido. Exceto conforme descrito no item 10, este Pronunciamento Técnico não requer que a entidade faça uma estimativa formal do valor recuperável se não houver indicação de possível desvalorização. • 9. A entidade deve avaliar ao fim de cada período de reporte se há alguma indicação de que um ativo possa ter sofrido desvalorização. Se houver alguma indicação, a entidade deve estimar o valor recuperável do ativo. Os itens abaixo descrevem algumas indicações de que um ativo possa estar desvalorizado. • 12. Ao avaliar se há alguma indicação de que um ativo possa ter sofrido desvalorização, a entidade deve considerar, no mínimo, as seguintes indicações: — Fontes externas de informação: A) Há indicações observáveis de que o valor do ativo diminuiu significativamente durante o período, mais do que seria de se esperar como resultado da passagem do tempo ou do uso normal (alterada pela Revisão CPC 03). Mobile User 30 Unidade I B) Mudanças significativas com efeito adverso sobre a entidade ocorreram durante o período, ou ocorrerão em futuro próximo, no ambiente tecnológico, de mercado, econômico ou legal, no qual a entidade opera ou no mercado para o qual o ativo é utilizado. C) As taxas de juros de mercado ou outras taxas de mercado de retorno sobre investimentos aumentaram durante o período, e esses aumentos provavelmente afetarão a taxa de desconto utilizada no cálculo do valor em uso de um ativo e diminuirão materialmente o valor recuperável do ativo. D) O valor contábil do patrimônio líquido da entidade é maior do que o valor de suas ações no mercado. — Fontes internas de informação: E) Evidência disponível de obsolescência ou de dano físico de um ativo. F) Mudanças significativas, com efeito adverso sobre a entidade, ocorreram durante o período, ou devem ocorrer em futuro próximo, na extensão pela qual, ou na maneira na qual, um ativo é ou será utilizado. Essas mudanças incluem o ativo que se torna inativo ou ocioso, planos para descontinuidade ou reestruturação da operação à qual um ativo pertence, planos para baixa de ativo antes da data anteriormente esperada e reavaliação da vida útil de ativo como finita ao invés de indefinida. G) Evidência disponível, proveniente de relatório interno, que indique que o desempenho econômico de um ativo é ou será pior que o esperado. H) Dividendo de controlada, empreendimento controlado em conjunto ou coligada: para um investimento em controlada, empreendimento controlado em conjunto ou coligada, a investidora reconhece dividendo advindo desse investimento e existe evidência disponível de que: – O valor contábil do investimento nas demonstrações contábeis separadas excede os valores contábeis dos ativos líquidos da investida reconhecidos nas demonstrações consolidadas, incluindo eventual ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill). – O dividendoexcede o total de lucro abrangente da controlada, empreendimento controlado em conjunto ou coligada no período em que o dividendo é declarado. Em resumo, para aplicar esse teste de recuperabilidade no ativo imobilizado e concluir se é necessária a constituição de uma estimativa de perda, recomenda-se seguir três etapas. 1. Calcular o valor contábil do ativo imobilizado. De acordo com o CPC 01 (R1), valor contábil é o montante pelo qual o ativo está reconhecido no balanço depois da dedução de toda respectiva depreciação, amortização ou exaustão acumulada e ajuste para perdas. Mobile User 31 CONTABILIDADE FINANCEIRA 2. Calcular o valor recuperável do ativo imobilizado. O valor recuperável de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa é o maior montante entre o seu valor justo líquido de despesas de venda, e o seu valor em uso. O valor justo líquido de despesas de venda é o montante a ser obtido pela venda de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa em transações em bases cumulativas, entre partes conhecedoras e interessadas, menos as despesas estimadas de venda. O valor em uso é o valor presente de fluxos de caixa futuros estimados, que devem advir de um ativo ou de unidade geradora de caixa. O valor em uso é o valor presente de fluxos de caixa futuros estimados. Estamos diante, portanto, de duas tarefas árduas: estimar fluxos de caixa futuros e, ainda, trazê-los a valor presente, o que nos faz depender de uma taxa de desconto. Os itens 30 e 31 do CPC 01 (R1) recomendam que os seguintes elementos sejam refletidos no cálculo do valor em uso do ativo: Item 30. a. Estimativa dos fluxos de caixa futuros que a entidade espera obter com esse ativo; b. Expectativas sobre possíveis variações no montante ou período desses fluxos de caixa futuros; c. O valor do dinheiro no tempo, representado pela atual taxa de juros livre de risco; d. O preço pela assunção da incerteza inerente ao ativo (prêmio); e e. Outros fatores, tais como falta de liquidez, que participantes do mercado iriam considerar ao precificar os fluxos de caixas futuros esperados da entidade, advindo do ativo. Item 31. A estimativa do valor em uso de um ativo envolve os seguintes passos: a. Estimar futuras entradas e saídas de caixa decorrentes de uso contínuo do ativo e de sua baixa final; e b. Aplicar taxa de desconto apropriada a esses fluxos de caixa futuros. 3. Comparar o valor contábil e o valor recuperável do imobilizado. Se o valor contábil do bem, registrado no balanço patrimonial, for maior que seu valor recuperável, constitui-se uma perda estimada, conta redutora do imobilizado, que em contrapartida afetará diretamente o resultado do exercício. Mobile User 32 Unidade I Exemplo de aplicação A companhia XYZ possui um equipamento adquirido por $100.000,00. A depreciação acumulada, até a data do fechamento do balanço, em 31.12.X1, é de $40.000,00. Nessa data, a empresa poderá vender esse equipamento por $62.000,00, incorrendo em despesas de vendas de $13.000,00. Sabe-se, entretanto, que se a empresa não vender esse equipamento continuará a usá-lo no processo produtivo, sendo capaz de produzir 10 mil unidades por ano durante os próximos três anos. O preço de venda do produto é de $10,00 por unidade e os gastos médios incorridos na produção e venda é de $8,00 por unidade. O custo de capital da companhia XYZ é de 10%. Calcular as perdas por desvalorização 1. Calcular o valor contábil do equipamento. Custo de aquisição 100.000,00 Depreciação acumulada (40.000,00) Valor contábil 60.000,00 2. Calcular o valor recuperável do equipamento que será o maior entre o valor líquido de venda do equipamento e seu valor em uso. Valor líquido de venda Valor de mercado 62.000,00 Gastos incorridos na venda (13.000,00) Valor líquido de venda 49.000,00 Valor em uso do equipamento Tabela 6 Vendas brutas Gastos incorridos Vendas líquidas Valor presente Ano 1 100.000,00 80.000,00 20.000,00 18.181,82 (1) Ano2 100.000,00 80.000,00 20.000,00 16.528,93 (2) Ano 3 100.000,00 80.000,00 20.000,00 15.026,30 (3) Total 300.000,00 240.000,00 60.000,00 49.737,05 (1) 20.000 ÷ 1,10 (2) 20.000 ÷ 1,10 ² (3) 20.000 ÷ 1,10³ 33 CONTABILIDADE FINANCEIRA Como o valor em uso é maior que o valor líquido de vendas, o valor recuperável será dos dois o maior, portanto o valor em uso: 49.737,05. 3. Comparar o valor contábil do bem com seu valor recuperável. Valor contábil 60.000,00 Valor recuperável 49.737,05 Perdas por desvalorização 10.262,95 O valor contábil do bem está por um valor maior do que se pode recuperar por seu uso ou venda (neste caso, por seu uso). Desse modo, a empresa deverá constituir uma estimativa de perda por desvalorização do imobilizado no valor de $10.262,95 ($60.000,00 – $49.737,05). Contabilização D = perdas por desvalorização. (Outras despesas operacionais) 10.262,95 C = perdas estimadas por valor não recuperável em imobilizado (Conta redutora de Imobilizado) 10.262,95 3.3 Perdas estimadas por valor não recuperável em intangível: CPC 01 (R1) – Redução ao Valor Recuperável de Ativos De acordo com o CPC 04 (R1) – Ativo Intangível, os intangíveis, de modo geral, tenham vida útil definida ou indefinida, devem se submeter ao disposto no Pronunciamento Técnico CPC 01 (R1) – Redução ao Valor Recuperável do Ativo, ou seja, devem ser avaliados periodicamente quanto à sua capacidade de gerar benefícios econômicos para a entidade (teste de impairment). O CPC 01 (R1) determina que, independentemente de existir ou não qualquer indício de desvalorização, a entidade deverá testar, no mínimo anualmente, a redução ao valor recuperável de um ativo intangível com vida útil indefinida ou de um ativo intangível ainda não disponível para uso, comparando seu valor contábil com seu valor recuperável, e testar, também anualmente, o ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) em uma aquisição de entidades. 4 PROVISÕES COMO EXIGÍVEIS O Pronunciamento Técnico CPC n. 25 - Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes, convergente com as práticas contábeis internacionais, estabeleceu critérios de reconhecimento, mensuração e evidenciação aplicáveis a provisões, contingências passivas e contingências ativas. 34 Unidade I O termo provisão, como tratado no item 10 do Pronunciamento Técnico CPC 25 - Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes, refere-se apenas aos passivos de prazo ou valor incertos. Ainda, diferencia as provisões propriamente ditas daquelas derivadas de apropriações por competência. Estas são caracterizadas como obrigações já existentes, registradas no período de competência, sendo muito menor o grau de incerteza que as envolve, não devendo ser reconhecidas como provisões (exemplos: férias, 13º salário e respectivos encargos sociais, dividendos propostos etc.). De acordo com o CPC 25, uma provisão somente deve ser reconhecida quando atender, cumulativamente, às seguintes condições: 1. A entidade tem uma obrigação legal ou não formalizada presente como consequência de um evento passado. 2. Provável probabilidade de que recursos sejam exigidos para liquidar a obrigação. 3. O montante da obrigação possa ser estimado com suficiente segurança. Obrigação legal: é aquela que deriva de um contrato (por meio de termos explícitos ou implícitos), de uma lei ou de outro instrumento fundamentado em lei. Obrigação não formalizada: é aquela que surge quando uma entidade, mediante práticas do passado, políticas divulgadas ou declarações feitas, cria uma expectativa válida por parte de terceiros e, por conta disso, assume um compromisso. Quando um passivo deixa de atender às condições acima, são tratados na norma como passivos contingentes. A definição, na norma, de passivo contingente é: 1. Uma possível obrigação presente, cuja existência seja confirmada somente pela ocorrência ou não de um ou mais eventos futuros que não estejam totalmente sob o controle da entidade; ou 2. Uma obrigação presente que surge de eventos passados,mas que não é reconhecida porque: a. é improvável que a entidade tenha de liquidá-la. b. o valor da obrigação não pode ser mensurado com suficiente segurança. 3. Quanto à probabilidade de saída de recursos, os passivos devem ser avaliados e classificados em: a. praticamente certo; b. provável; c. possível; d. remoto. 35 CONTABILIDADE FINANCEIRA O tratamento contábil das contingências passivas deverá seguir o seguinte esquema: Quadro 2 Possibilidade de ocorrência do desembolso Tratamento contábil Provável Mensurável com suficiente segurança Provisionar Não mensurável com suficiente segurança Divulgar em notas explicativas Possível Divulgar em notas explicativas Remota Não divulgar em notas explicativas Tal classificação deve ser reavaliada periodicamente e, em caso de mudança, deve-se alterar o procedimento contábil adotado. Saiba mais Para entender melhor a importância e os efeitos da constituição de provisões, leia: VALE: provisões e despesas relacionadas com Brumadinho chegam em US$ 6,036 bi. Estado de Minas, Belo Horizonte, 31 de jul. 2019. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2019/07/31/internas_ economia,1073882/vale-provisoes-e-despesas-relacionadas-com- brumadinho-chegam-em-us-6.shtml. Acesso em: 21 jan. 2020. 4.1 Provisões para contingências Contingência é uma situação de risco existente, cujo resultado final, favorável ou desfavorável, depende de eventos futuros e incertos. É constituída para prevenir contra um prejuízo futuro provável de acontecer em razão de fatos gerados já ocorridos. 4.2 Diferença entre provisão para contingências e reservas para contingência Há, no entanto, situações em que o aplicável é uma reserva para contingência e não a provisão para contingências. O que diferencia uma da outra é o fato gerador. Se o fato gerador já ocorreu, têm-se a figura da provisão, caso ainda não tenha ocorrido, têm-se a reserva. Com o intuito de dissipar eventuais dúvidas quanto à constituição de uma Reserva ou de uma provisão para contingências, a CVM, por meio de nota explicativa à instrução n. 59, estabeleceu as seguintes características para a aplicabilidade da provisão para contingências: • Tem por finalidade dar cobertura a perdas ou despesas, cujo fato gerador já ocorreu, mas não tendo havido, ainda, o correspondente desembolso ou perda. Em atenção ao princípio da competência, entretanto, há necessidade de se efetuar o registro contábil. 36 Unidade I • Representa uma apropriação ao resultado do exercício, contrapartida de perdas extraordinárias, despesas e custos, e sua constituição normalmente influencia o resultado do exercício ou os custos de produção. • Deve ser constituída independentemente de a companhia apresentar, afinal, lucro ou prejuízo no exercício. • Visto que o evento que serviu de base à sua constituição já ocorreu, não há, em princípio, reversão dos valores registrados nessa provisão. A pequena sobre ou insuficiência é decorrente do cálculo estimativo feito à época da constituição. • Se a probabilidade for difícil de calcular ou se o valor não for mensurável, há necessidade de uma nota explicativa esclarecendo o fato e mencionando tais impossibilidades. Exemplo de aplicação Em novembro de X1, a direção apresentou um plano formal e detalhado para encerrar as atividades de uma divisão. Em reunião, o conselho da entidade decidiu encerrar as atividades dessa divisão, logo no exercício seguinte, e estima-se um custo de $ 200.000,00. Contabilização D = Provisão para reestruturação (Resultado - Outras Despesas) 200.000,00 C = Provisão para reestruturação (Passivo) 200.000,00 Saiba mais Para saber mais sobre o conceito de conservadorismo condicional, consulte o artigo: SANTOS, L. P. G. Efeito da Lei 11.638/07 sobre o conservadorismo condicional das empresas listadas BM&FBOVESPA. Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 22, n. 56, 2011. Disponível em: http://www.revistas. usp.br/rcf/article/view/34333. Acesso em: 14 jan. 2020. 37 CONTABILIDADE FINANCEIRA Resumo Apresentamos o tema de contabilidade financeira, assunto crucial para a contabilidade, com foco nas estimativas. As estimativas são um sinal importante de que o contador e a empresa realmente se atentam e respeitam o disposto na Estrutura Conceitual da Contabilidade - CPC 00 quanto às características qualitativas da informação contábil útil. Aprendemos que as demonstrações contábeis/financeiras devem retratar com fidelidade sua realidade econômico-financeira, visto que as informações serão utilizadas como forma de tomada de decisão por diversos usuários (governo, acionistas, fornecedores, concorrentes). Assim, os ativos da empresa devem estar gravados no balanço patrimonial da companhia pelo seu valor de provável realização, resguardadas suas respectivas regras, e todos os seus passivos deverão estar devidamente reconhecidos. Para isso, conhecemos a técnica de constituir as estimativas relacionadas no ativo e as provisões registradas no passivo, e também delineamos a diferença entre elas e a depreciação, exaustão e provisões como exigíveis. A expectativa é a de que neste momento o aluno tenha condições de lidar plenamente com o tópico Estimativas. Alguns conteúdos e exercícios já tratam das partidas dobradas com naturalidade, partindo do princípio que o aluno já está bem situado nesse assunto. Mas se sentir dificuldades com o débito e crédito, deve-se entrar em contato com os tutores. Exercícios Questão 1. Precatórios são requisições de pagamento expedidas pelo Judiciário para cobrar de municípios, estados ou da União, assim como de autarquias, fundações e universidades, o pagamento de valores devidos após condenação judicial definitiva. O precatório é expedido pelo presidente do tribunal onde o processo tramitou, após solicitação do juiz responsável pela condenação. Cabe aos tribunais de justiça estaduais organizar e manter as filas de precatórios devidos pelo estado e pelos municípios que estão sob sua jurisdição. Ao expedir a ordem de pagamento contra a Fazenda Pública, o tribunal dá início a um processo de precatório, que recebe numeração própria e é incluído em lista organizada de acordo com a ordem cronológica e prioridades, seguindo as normas legais. 38 Unidade I No estado de São Paulo, esse trabalho é realizado pela Diretoria de Execuções de Precatórios e Cálculos do TJSP (Depare). Quando o pagamento é disponibilizado, a depare deposita o valor em uma conta vinculada ao processo na origem e o levantamento da quantia ocorrerá no juízo onde tramitou a ação, por meio da expedição do chamado “Mandado de Levantamento”, feito em nome do advogado da parte. Na Capital, esse trâmite ocorre na Unidade de Processamento das Execuções Contra a Fazenda Pública (Upefaz). Nesta fase, são verificadas eventuais contestações da correção dos valores, habilitações de herdeiros, cessões de crédito etc. SÃO PAULO (Estado). Tribunal de Justiça. Precatórios, [s.d.]. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/Precatorios. Acesso em: 13 fev. 2020. Nos orçamentos públicos, os entes são obrigados a provisionar um volume de recursos (passivos contingentes) para eventuais necessidades de desembolso em função dos precatórios. Pelo volume de ações que tramitam no judiciário, essa reserva constitui risco fiscal, constante na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Na iniciativa privada, esse provisionamento feito pelo poder público seria o equivalente a: A) Estimativa de perda que diminui o ativo da empresa. B) Estimativa de ganho que aumenta o ativo da empresa. C) Estimativa de perda que aumenta o passivo da companhia. D) Estimativa de ganho que diminui o passivo da empresa. E) Emolumentos que aumentam o ativo dos entes públicos. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: não diminui o ativo porque mesmo em caso de vitória do poder público sobre a empresa ou pessoa física que esteja movendo a ação, isso não se configura em mais