Prévia do material em texto
UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE DIREITO PRESIDENCIALISMO SOBERANO JOEL DA SILVA CALHAU São Paulo 2024 CIP – Catalogação na Publicação Calhau, Joel da Silva Calhau Presidencialismo Soberano/ Joel da Silva Calhau, 2024. 67 f. Trabalho de conclusão do curso de bacharel em Direito, apresentado ao Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Paulista, São Paulo, 2024. Área de concentração: Direito Eleitoral – Sistema de Governo, Soberania Popular. Orientadora: Profa. Me. Dra. Mônica M.C. Vieira Bortolassi 1. Direito eleitoral. 2. Poder executivo.3. Sistema de Governo. 4. Forma de Governo. 5.Sistema proporcional e majoritário de eleição. 5. Poder soberano do povo. 6. Sistema Presidencialista Soberano. JOEL DA SILVA CALHAU PRESIDENCIALISMO SOBERANO Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de bacharel em direito apresentado à Universidade Paulista UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA FACULDADE DE DIREITO Orientadora: Profa. Me. Dra. Mônica M.C. Vieira Bortolassi São Paulo 2024 JOEL DA SILVA CALHAU PRESIDENCIALISMO SOBERANO Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do título de bacharel em direito apresentado à Universidade Paulista Aprovado em: Banca Examinadora ___________________/__/__ Prof.________________ Universidade Paulista – UNIP Banca Examinadora ___________________/__/__ Prof.________________ Universidade Paulista – UNIP Banca Examinadora ___________________/__/__ Prof.________________ Membro convidado para a Banca AGRADECIMENTOS O poder e a força de Deus estão proporcional e adequadamente dispostos na mente do ser humano. Outrossim, a força de vontade de cada pessoa é a mola propulsora para vencer obstáculos e realizar sonhos. Inicialmente, agradeço a Deus pela vida e aos meus pais pelos exemplos de pessoas, com muita dedicação e sacrifício para dar o melhor aos filhos, uma educação suficiente para alavancar e crescer com dignidade e prosperidade. Agradeço também, os professores desde o primário até o ensino superior, em especial, os professores do curso de Direito pelos ensinamentos práticos da vida cotidiana, com apreço distinto à coordenadora do curso e orientadora desse trabalho, Profa. Me. Dra. Mônica M. C. Vieira Bortolassi. Ademais, com uma formação de engenharia de materiais e especialização em polímeros, fui agraciado com uma segunda graduação, uma grande realização complementar para os ensinamentos de uma vida holística. Por último, finalizo agradecendo minha esposa Acelis e meus filhos Alvaro e Denise Calhau pelo carinho, amor mútuo e ajuda nessa grande conquista. RESUMO A presente monografia apresenta uma proposta para implantação do presidencialismo soberano em países com regimes democráticos. Esse modelo é um sistema de governo que garante a plenitude da soberania popular. Ainda, acaba com a necessidade do poder executivo de barganhar com o legislativo para formar uma maioria de sustentação do governo no parlamento. Ademais, no sistema de governo proposto, os cidadãos elegem seus representantes para o poder executivo por maioria absoluta dos votos e garante pelo mesmo percentual dessa vitória, também o preenchimento das cadeiras do parlamento. Destarte, o sistema presidencialista soberano corrige e soluciona o maior problema dos atuais modelos presentes no mundo democrático, ou seja, a desobediência política do eleito com relação às propostas feitas durante a campanha eleitoral e vitoriosas nas urnas. Essa desobediência ocorre tanto no sistema parlamentarista como no presidencialismo, em virtude da necessidade de flexibilização ou até ignorar algumas propostas, para compor uma maioria no parlamento e dar sustentação política ao Chefe de Governo. Ainda, essa dissertação traz uma avaliação dos vários sistemas de governo desde a antiguidade, apresentando as vantagens e desvantagens de cada modelo já implementado no mundo e enfatiza a principal diferença entre os modelos conhecidos e o sistema de governo novo, denominado presidencialismo soberano. Não obstante, a principal característica do novo sistema apresentado é o reconhecimento, na prática, do direito soberano do povo em escolher e exigir obediência dos eleitos, conforme vontade da população manifestada nas urnas. Por último, o presidencialismo soberano tem três primícias necessárias: a iniciativa popular para legislar, a substituição do eleito ou do indicado para o cargo público com comportamento distinto do mandato outorgado pelo voto popular e a eliminação por completo das obrigatórias negociações políticas, decorrentes dos sistemas de governo presentes nas democracias atuais, pois tais modelos envolvem sempre troca de favores, barganhas políticas, má gestão dos recursos públicos e a possibilidade de corrupção sistêmica. ABSTRACT This monograph presents a proposal for implementing sovereign presidentialism in countries with democratic regimes.This model is a system of government that guarantees fullness popular sovereignty. It also eliminates the need for executive power to bargain with the legislative power in order to form a majority to support the government in Parliament. In addition, in the proposed system of government, citizens elect their representatives to the executive power by an absolute majority of votes and guarantee the same percentage of this victory, also filling seats in Parliament. Thus, the sovereign presidential system corrects and solves the biggest problem of the current models in the democratic world, which is the political disobedience of those elected in relation to the proposals made during the electoral campaign and victorious at the polls. This disobedience occurs in both parliamentary and presidential systems, due to the need to make some proposals more flexible or even ignore them in order to form a majority in Parliament and give political support to the head of government. Furthermore, this dissertation brings an evaluation of the various systems of government since antiquity, presenting the advantages and disadvantages of each model already implemented in the world and emphasizes the main difference between the known models and the new system of government, called sovereign presidentialism. Nevertheless, the main characteristic of the new system presented is the recognition, in practice, of the sovereign right of the people to choose and demand obedience from those elected, according to the will of the population expressed at the polls. Finally, sovereign presidentialism has three necessary first steps: the popular initiative to legislate, the replacement of those elected or appointed to public office who behave differently from the mandate granted by popular vote and the complete elimination of the obligatory political negotiations that result from the systems of government present in current democracies, since such models always involve the exchange of favors, political bargaining, mismanagement of public resources and the possibility of systemic corruption. Sumário INTRODUÇÃO ..................................................................................................................exige-se mudança no modelo de participação do eleitor nas decisões durante o mandato. Logo, uma decisão do parlamento contrária às promessas durante a campanha eleitoral, deveria ser impedida a sua efetividade pelo próprio povo. No modelo proposto, elege-se um parlamento responsável e com o número de cadeiras igual ao percentual do poder executivo eleito, com isso, acaba com as negociações nefastas para formar a tal maioria pela governabilidade. A solução do problema atual pode ocorrer com a implementação do presidencialismo soberano apresentado no capitulo 5. Do sistema presidencialista em combinação com o parlamentarismo surgiu o denominado semipresidencialismo. Há várias combinações e diferenças de um país para outro, principalmente na forma da divisão do poder central, podendo ainda, ser uma monarquia. Nesse sistema, o chefe de governo é exercido de forma compartilhada entre o Primeiro Ministro e o Presidente eleito ou Monarca por sucessão hereditária. Poucos países adotam esse modelo, sendo ainda, que o seu êxito está diretamente relacionado aos partidos políticos com ideologia claras e definidas, atuação forte e com alta responsabilidade e representatividade na sociedade. Atualmente, esse sistema está implementado na França. A grande maioria dos países adotam o sistema presidencialismo ou monarquia parlamentar. No entanto, destaca-se as monarquias islâmicas absolutas e teocráticas presentes em vários países. CAPITULO 4 PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO Os brasileiros no ano de 1993 escolheram, através de um plebiscito nacional, o sistema de governo presidencialista. A escolha descartou a monarquia e parlamentarismo. Cada ala política adotou uma estratégia de divulgação e 36 propaganda pelos meios de comunicação. Ainda, as partes juntamente com os grupos intelectuais, políticos e jurídicos defenderam suas bandeiras abertamente diante o eleitorado, através de propaganda no rádio e na televisão. De plano, o resultado ficou evidente pela tradição do sistema presidencialista, com total desinteresse em experimentar o parlamentarismo ou a monarquia. Diante da vontade popular, manifestada diretamente pelo povo, torna-se obrigatório manter o sistema presidencialista e corrigir as falhas existentes. Ademais, as críticas são várias e a tendência seria caminhar para o parlamentarismo, no entanto, frente a vontade popular manifestada nas urnas contra o parlamentarismo e as próprias vulnerabilidades do mesmo, principalmente a falta de programas de governo bem definidos pelos partidos políticos atuais do Brasil, manteve-se o presidencialismo. Portanto, a questão a ser contornada ocorre em ambos os sistemas apresentados, pois trate-se de corrigir a fragmentação partidária, combinada com um sistema de eleição independente para o Presidente da República e parlamentares. É recorrente nas últimas eleições, a vitória do Presidente da República, oriundo de um partido político diverso da maioria do Congresso Nacional. Dessa forma, o Presidente eleito não tem maioria no congresso para governar e precisa resolver essa questão já nos primeiros meses de governo. Por essa razão, o Presidente eleito, os Ministros empossados e demais ocupantes de cargos públicos do poder executivo precisam negociar com o parlamento para formar uma maioria e obter aprovação das propostas de interesse do governo. Sergio Henrique Abranches foi o primeiro escritor a chamar esse sistema de presidencialismo de coalizão. Afirma ainda, que esse sistema inverteu a lógica inglesa, ou seja, no sistema parlamentar inglês, o parlamento forma uma maioria e escolhe o Primeiro Ministro para governar. No presidencialismo de coalizão é o Presidente eleito que precisa fazer acordo e negociar com o parlamento para formar uma maioria para a governabilidade. Observa-se de pronto, que no sistema inglês, a maioria formada tem responsabilidade com o resultado do programa de governo, enquanto no presidencialismo de coalizão o parlamentar negocia apoio no varejo e, portanto, não tem responsabilidade pelo fracasso da política do governo. O escritor nomeado acima, 37 acrescenta por derradeiro, o sistema de coalizão é uma ideia ilusória em todos os pontos. É precisamente esse passo que deve ser dado pelas instituições brasileiras. O presidencialismo é uma solução ilusória e insuficiente para o enfrentamento a contento dos problemas próprios da governabilidade experimentada pela pratica brasileira (ABRANCHES, 1998, p. 5 a 34)39. Logo, a ideia de ressurgir o parlamentarismo é comum em vários grupos da sociedade brasileira. A fundamentação encontra-se na inevitável atuação do Judiciário para resolver pendências, conforme argumenta Sergio Henrique Abranches. Tanto é verdade que não garante efetiva decisão política para solução das grandes questões nacionais, o que gera em vários assuntos – vácuo decisório que tem sido preenchido por um crescente e já bastante intenso – ativismo judicial (ABRANCHES, 1988, p.5 a 34)40. Os argumentos a favor do parlamentarismo são bons, no entanto, falta trazer à baila as desvantagens. O modelo parlamentar foi derrotado nas urnas em plebiscito, então, não tem como implanta-lo contra a vontade do povo. É desconfortável para a população brasileira tomar conhecimento pela imprensa ou redes sociais, dos resultados ruins da gestão de quadros de pessoas indicadas por partidos políticos que compõem a base governamental. A má gestão é oriunda da incompetência do indicado e pode ocorrer ainda, desvio de recursos públicos e até corrupção. Por fim, todos os problemas de gestão e governabilidade passa necessariamente pela forma e como compor a maioria no Congresso Nacional. Luiz Alberto Rocha testifica a necessidade de mudança em virtude do resultado até o momento: Os escândalos que disseminam a cultura da impunidade em diversos níveis das autoridades públicas na Europa, América, até a multiplicação de casos de corrupção no Japão, deixam claro que os mecanismos democráticos enfrentam problemas estruturais porque quebraram a essência da representatividade que é a confiança no desempenho de suas funções (ROCHA, 2008, p.185)41. 39 ABRANCHES, Sergio Henrique Hudson de. Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro. 40 ABRANCHES, Sergio Henrique Hudson de. Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro. 41 ROCHA, Luiz Alberto G.S. Estado, democracia e globalização. 38 A questão envolve necessariamente uma avaliação constante do eleitor para verificar como está votando seu representante. Aliado a esse acompanhamento, o eleitor precisa dispor de uma forma rápida para cassar o mandato do parlamentar pela via direta, caso haja desvirtuamento do prometido em campanha e a realidade de votação do eleito. No século XXI já existe desenvolvimento de tecnologia de consulta popular rápida e segura para cassar mandato de parlamentar com atuação diversa das propostas no período de eleição. Para tanto, o povo precisa se organizar para exigir seu direito de cassar o mandato de qualquer político eleito que muda a forma de atuação, mediante recebimento de cargos públicos ou outros privilégios não republicanos. O escritor Maurice Duverger informa acontecimentos de fisiologismo já em 1714 no parlamento inglês, com o chamado posto de secretário político de tesouraria, a fim de cumprir os acordos entre políticos. Dessa forma, garantia-se a maioria dos parlamentares, por práticas de recompensas ilegais. Com esse relato do parlamento pioneiro no mundo, fica demonstrado que existe interdependência entre os poderes e a formação de maioria no parlamento estão sujeitas à troca de favores e faz reviver as práticasantigas do século XVIII na Inglaterra (DUVERGER, 1970, p. 22-23)42. Sergio Antônio Ferreira Victor apresenta uma solução para resolver a questão do fisiologismo no sistema presidencialista que causa distorções institucionais. Assim, é premente a necessidade de se reduzir a fragmentação partidária originada do sistema proporcional de lista aberta, pois ele sacrifica a competição entre os partidos em prol da competição no interior deles ou das coligações, bem como impede que o eleitor exerça o voto retrospectivo. (VICTOR, 2015, p. 145)43. A redução de partidos ou a disputa entre apenas dois partidos fortes como ocorre nos Estados Unidos, elimina a possibilidade de representação das minorias no congresso e seria um retrocesso político. Ainda, não resolve a questão do Presidente 42 DUVERGER, Maurice. Os partidos políticos. 43 VICTOR, Sergio Antônio Ferreira. Linha de pesquisa: presidencialismo de coalizão: exame do atual sistema de governo brasileiro. 39 da República, que se obriga a negociar com o parlamento, momento das trocas de favores para formar maioria congressual. Diante ao exposto, algumas correntes de pensadores defendem o voto distrital e, assim, os eleitores tem mais contato e consciência das propostas dos candidatos e acompanhamento da atuação do eleito. No entanto, a visão nacional e os problemas regionais seriam praticamente ignorados. Acrescenta-se ainda, que os ministérios teriam que adotar uma fragmentação muito difícil de controlar e administrar, sem contar que o eleitor as vezes vota na legenda e nem identifica o eleito, razão pela qual, fica impossível acompanhar a atuação do eleito indiretamente. José Levi Melo Amaral Junior estabelece uma necessidade de mudança para o sistema atual. Deve-se repensar o sistema de governo, para que o governo decorra da maioria parlamentar, e não o contrário. É preciso inverter a equação da democracia brasileira, ou seja, fazer com que o governo decorra da maioria parlamentar para que ambos sejam, desde logo, responsáveis pelas políticas públicas. Do contrário, quando o governo é estabelecido independentemente da maioria parlamentar do dia, ele precisa providenciar uma maioria de modo a legitimar suas políticas. Disso decorrem severas distorções institucionais como experimentado recentemente (AMARAL JUNIOR, 2009, p.138)44. Amaral Junior identificou com êxito a questão central do presidencialismo de coalizão brasileiro. Dentre as distorções citadas, pode-se trazer à baila a corrupção, o desvio de dinheiro público e a incompetência de gestão. Portanto, está pacificado que o Presidente da República precisa negociar com o Congresso para formar uma maioria tanto no sistema do presidencialista atual, como no parlamentarismo. Assim, pode ocorrer distorções de várias modalidades em ambos sistemas atuais. Mas também, outras questões, conforme assegura Mario Lúcio Quintão Soares. Os Estados latino-americano degeneraram o sistema presidencialismo para ditaduras militares ou neopresidencialismo, ao transformar seus presidentes em autênticos caudilhos, devido a sua tradição política de Estado unitário, no qual o poder central concentra todos os poderes (SOARES, 2022, p. 387)45. 44 AMARAL JUNIOR, José Levi Melo, 20 anos de Constituição Brasileira de 1988. A Constituição foi capaz de limitar o poder. 45 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 40 Diante desse contexto, fica evidente a necessidade de mudança no sistema eleitoral brasileiro. Ainda, acrescenta-se que o modelo parlamentar foi rejeitado pelo povo brasileiro e a vontade do eleitor nunca será atendida pelo atual sistema no Brasil. Ante ao exposto, torna-se evidente que o modelo do presidencialismo soberano resolve essa principal discrepância eleitoral. Ainda, não precisa restringir o número de partido e nem eliminar a minoria do parlamento. O modelo proposto muda apenas o preenchimento das cadeiras do parlamento, ou seja, o presidente eleito preenche o mesmo percentual de vagas no Congresso Nacional. Dessa forma, o Presidente eleito pela maioria absoluta no primeiro ou segundo turno, leva também a maioria das duas casas parlamentares, pelo mesmo percentual da sua vitória. Assim, não precisa negociar com o Congresso para formar a maioria, não tem necessidade de fatiar o governo com partidos estranhos a sua proposta vencedora nas urnas, pode preencher as pastas dos Ministérios de forma livre, portanto, empossar o melhor nome para cada cargo público de direção. Desse modo, acaba a troca de favores, os escândalos de corrupção, a má gestão e a instabilidade política do governo. CAPITULO 5 PRESIDENCIALISMO SOBERANO 5.1. Caracterização do Sistema do Presidencialismo Soberano O principal objetivo do sistema presidencialista soberano é o exercício pleno do poder pelo povo brasileiro e, assim, eliminar o fisiologismo presente na política do País, posto que, o atual sistema denominado de presidencialismo de coalizão, demonstrou ser incapaz de atender a necessidade da população e reduzir as desigualdades sociais. Contudo, os acordos políticos não republicanos tornaram-se uma prática cotidiana. Além disso, o Presidente da República eleito pela maioria absoluta do povo, não garante a maioria no Congresso Nacional diretamente das urnas. Outrossim, o eleito para o poder executivo é obrigado a negociar com o parlamento para formar uma maioria de sustentação política do governo. O príncipe 41 Hans-Adam II estabeleceu algumas premissas para o sucesso do Estado no terceiro milênio. O grande desafio para o terceiro milênio será o desenvolvimento de um modelo de Estado que atenda as seguintes condições:1- Evitar guerras entre estado, bem como guerras civis.2- Servir não só a uma parte privilegiada da população, mas toda população.3– Oferecer ao povo o máximo de democracia em um estado de direito.4 - Ser voltado para a competição na era da globalização (HANS-ADAM, 2015, p.100-101)46. Destarte, o modelo de Estado proposto pelo príncipe Hans-Adam II para o terceiro milênio está na direção correta. Acrescenta-se ainda, um ponto vital para o êxito do governo: adotar uma política voltada para a área do crescimento econômico alinhada a estabilidade política do governo. Essa estabilidade depende do máximo de democracia como já estabelecido pelos especialistas no assunto, mas também, de maioria parlamentar no legislativo para a governabilidade pelo poder executivo. Além do mais, deve haver o controle direto da sociedade para cassar o mandato dos eleitos, por desvio de finalidade ou votação contrária ao prometido na campanha eleitoral ou atuação contra a vontade popular. Diante ao exposto, o modelo do presidencialismo soberano é a melhor alternativa para o sistema de governo para o terceiro milênio, principalmente para o Brasil atual. O monarca do País Liechtenstein, Príncipe Hans-Adam II acrescenta: “Esses objetivos só podem ser atingidos se o Estado for visto como uma organização que serve o povo, e não o contrário (HANS-ADAM, 2015, p.101)”.47 O escritor Mario Lúcio Quinhão Soares atesta e confirma o poder titular soberano do povo e deve ser exercido plenamente pelos cidadãos do país. O Estado constitucional construído pelas revoluções, o povo deve atuar como sujeito de dominação, isto é, afirmar-se como titular do poder soberano, a partir de seu representante ou diretamente, sedimentando o substrato do aparelho ideológico do Estado democrático (SOARES, 2022, p.178)48. 46 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 47 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 48 SOARES,Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 42 Ademais, a instabilidade política associada ao processo eletivo, sem a devida, transparência, tão necessária em todo o sistema eleitoral, geram descontentamento da sociedade, desinteresse do povo pela política e cresce cada vez mais as desigualdades sociais. Portanto, o Estado brasileiro precisa, através do espaço democrático, enfrentar as questões sociais do século XXI. Em destaque, a violência urbana, os conflitos de terra e a necessidade do básico para uma vida digna para grande parte da população. Esse espaço democrático deve servir para apresentar, identificar e solucionar problemas vivenciados cotidianamente pelos diversos atores da sociedade (SOARES. 2022, p. 212)49. As negociações políticas envolvendo os poderes executivo e legislativo retardam as implementações de políticas sociais corretas e justas. Ainda, as indicações políticas para compor o governo torna o Estado muito grande e de custo elevado. Nesse sentido, Hans- Adam II adverte sobre a dificuldade de manter a lei e a ordem. Tornou-se mais difícil para o estado proteger seus cidadãos, tanto dos crimes menores quanto dos mais graves. Como resultado, o estado democrático de direito pode vir a se tornar uma fachada e ruir um dia, na verdade é um pequeno milagre que a manutenção da lei e da ordem ainda funcione em diversos estados (HANS-ADAM, 2015, p.106)50. Quando o poder executivo está fraco, precisa ceder ainda mais, flexibilizar as propostas vencedoras nas urnas e o governo deixa de enfrentar os problemas sociais que afligem a população. Dessa forma, as implementações de propostas justas são retardadas para atender determinada corrente política, tudo pela maioria no parlamento, mesmo em prejuízos aos anseios da maioria dos eleitores. Além do mais, esse sistema está sujeito a corrupção e outros desvios de recursos pela incompetência de gestão. 49 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 50 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 43 Lamentavelmente, o discurso constitucional, que sustenta o Estado democrático de direito brasileiro, é uma utopia, distante da realidade constitucional, a qual, apresenta instituições políticas carcomidas pela ineficiência e pela corrupção, conspurcando o processo democrático (SOARES, 2022, p. 272)51. A solução para essa questão social crescente e de difícil enfrentamento pelo sistema de poder no Brasil, passa, necessariamente, pela permissão através do voto popular soberano, constituído de maioria absoluta para o executivo e legislativo, quer dizer, que uma determinada corrente vencedora na eleição, tenha plena capacidade de governar, sem fazer nenhuma negociação no seu programa de governo vitorioso nas urnas. Diante ao exposto, o sistema presidencialismo soberano deve ser implementado para salvar o estado de direito e a democracia no Brasil. O executivo eleito pela maioria absoluta tem o mesmo percentual de cadeiras no parlamento, sendo o restante completado pela oposição, com isso, pode implementar o programa de governo sem fazer concessões e, assim, atender a vontade popular. Ante ao modelo proposto, a população julgará a gestão na próxima eleição, mantendo a atual corrente no poder ou pode mudar para outra visão política mais justa e coerente com as necessidades do País. Contudo, ocorrendo desvio da proposta do período eleitoral, corrupção ou má gestão, o povo pode cassar o mandato do executivo e do legislativo de forma individual, em qualquer momento do mandato, por via direta. Enfim, ambos sistemas, parlamentarismo e presidencialismo por coalizão ocorrem as trocas de favores entre o executivo e o legislativo. A troca de apoio por cargos é um caminho ruim, visto que, na maioria das vezes a pessoa indicada não tem perfil para o cargo. O resultado dessas negociações leva ao atendimento com prioridade aos interesses de grupos políticos em total detrimento do coletivo necessitado. Ainda, esses acordos podem conduzir ao desvio de finalidade, má aplicação dos recursos públicos e possibilidade de corrupção. Urge, portanto, a correção do modelo atual de eleição dos poderes executivo e legislativo, como prioridade absoluta do povo brasileiro. A estabilidade governamental deve vir diretamente das urnas e não por negociação no parlamento. Dessa forma, basta uma mudança no preenchimento das cadeiras do parlamento, ou seja, as vagas serão preenchidas com o mesmo percentual do poder 51 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 44 executivo pela eleição majoritária absoluta e o restante pela oposição vencida na eleição direta para o Poder Executivo. Alinhado a esse sistema, deve ocorrer, transparência e contagem pública dos votos, através do voto impresso. Para Montesquieu, na república, o povo em conjunto possuía o poder soberano, caracterizando a democracia, sendo o povo admirável para escolher aqueles aos quais devia delegar uma parte de sua autoridade,isto é, representantes, que iriam decidir em seu nome (SOARES, 2022, p. 252)52. Ademais, o Estado brasileiro precisa se preparar para enfrentar os crimes que trazem insegurança e perturbação à sociedade: crime do “colarinho branco”, lavagem de dinheiro, tráfico de armas e drogas e outros de grande impacto na coletividade. A razão desse enfrentamento reside na possibilidade desse poder econômico ilícito eleger direta ou indiretamente representantes para os poderes executivo e legislativo. Diante desse contexto, somente um Estado forte, com maioria no parlamento dando apoio integral ao executivo, também eleito pela maioria absoluta, tem legitimidade e poder para acabar com esse poder paralelo no País. Não obstante, o Estado deve ter um Judiciário totalmente independente e suas substituições decorrentes sempre de instância imediatamente inferior, sem nenhuma interferência política, nesse sentindo atesta Hans-Adam II. Quem quer que tenha analisado decisões politicamente sensíveis, nas quais estão em jogo interesses do estado, vai notar que, até nos estados democráticos de direito, os tribunais tomam decisões que vão contra a letra e o sentido da lei (HANS-ADAM, 2015, p.116)53. Logo, a magistratura deve ser preparada para atuar com imparcialidade e sem nenhum viés político ou econômico. Para tanto, somente através de concurso público é possível o ingresso na primeira instância do Judiciário e, esse por mérito ou idade deve preencher as vagas dos tribunais superiores. O preenchimento de um quinto constitucional, previsto na Constituição Federal do Brasil para os Tribunais superiores, deve ocorrer através de concurso público e avaliação de títulos, procedimento instituído por cada Tribunal Superior correspondente. Essa questão foi debatida pelo 52 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 53 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 45 escritor Hans- Adam II e merece atenção, sendo uma sugestão para evitar nomeações políticas no Judiciário. Até nos estados democráticos de direito, as nomeações são feitas por motivos políticos, mesmo quando, muito claramente, os indivíduos não são adequados para este papel (HANS-ADAM, 2015, p.117)54. Haja vista, a dificuldade de colocar em prática o programa de governo eleito pela maioria absoluta, sem uma maioria no parlamento. Essa situação é constante em todos os sistemas de governo. Os diferentes modelos possuem vantagens e desvantagens. De modo geral, é difícil que um governo sem maioria no parlamento ponha em prática seu programa (HANS-ADAM, 2015,p.120)55. Assim, a proposta de governo vitoriosa nas urnas, deve ter plenas condições políticas para sua implementação, para isso ocorrer, o poder legislativo será também preenchido, pela mesma maioria absoluta em percentual do respectivo executivo eleito. A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu enquadramento nos moldes de uma constituição observada e praticada, sua legitimidade está sempre no poder contido naquela constituição, exercendo-se de conformidade com as crenças, valores e os princípios da ideologia dominante, no caso a ideologia democrática (BONAVIDES, 2003, p.112)56. Outra vantagem indiscutível do presidencialismo soberano é a obrigação do eleito de cumprir suas promessas da campanha eleitoral. A desculpa mais comum do poder executivo refere-se à necessidade de flexibilizar ou até esquecer algumas propostas em virtude da negociação para compor uma maioria parlamentar. Por outro lado, no presidencialismo soberano o poder executivo terá a maioria, conforme o percentual da sua própria vitória, portanto, não existe necessidade de flexibilização, nem negociação, troca de favores, preenchimento de cargos de comissão por 54 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 55 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 56 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 46 indicação, aumento de número de ministério e das despesas. Enfim, o Brasil pode crescer muito mais e atender plenamente as necessidades da sociedade brasileira. Ademais, a soberania popular ocorre pela eleição de representante do povo pelo sistema democrático e pode acomodar os interesses da sociedade. Para isso, torna-se fundamental o acompanhamento da atuação do representado e mecanismo de remoção quando ocorre a má representação. Essa doutrina funda o processo democrático sobre a igualdade política dos cidadãos e o sufrágio universal, consequência necessária o que chega Rousseou, quando afirma que se o estado for composto de dez mil cidadãos, cada um deles terá a decima milésima parte da autoridade soberana (BONAVIDES, 2003, p.130-131)57. Na verdade, a soberania popular somente se manifesta no dia da eleição e não tem mais nenhuma ação durante o mandato do eleito. A transferência de poder ao representante está correta para a dinâmica das decisões, no entanto, deveria ser revogável durante o mandato em atuação contrária a vontade do eleitor, principalmente quando está em jogo os interesses vitais da população, a paz, o bem estar do povo e o risco da democracia. Mais cedo ou mais tarde, ditaduras e oligarquias corruptas chegavam novamente ao poder e destruíam o estado democrático de direito e a economia de mercado com promessas de realizar o paraíso na terra por meio de ideologias nacionalistas e socialistas (BONAVIDES, 2003, p.130-131)58. Nesse sentido, as crises governamentais no sistema presidencialista de coalizão, são sempre preocupações constantes, inclusive, de ruptura do governo, seja pelo “Impeachment” ou paralisia das atividades essenciais por falta de acordo ou por revolta popular. É exato que o sistema presidencialismo comprovou ótimos resultados no Estados Unidos da América do Norte, mas isso se explica, principalmente pelo fato de possuir o povo norte americano um alto nível cultural (MALUF, 2023, p.266)59. 57 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 58 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 59 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 47 Sahid Maluf destaca: o sucesso do Presidencialismo Americano ocorre também pela total independência dos poderes executivo e legislativo, inclusive nenhum parlamentar pode ocupar cargo na administração pública. Além disso, a primordial atuação do Poder Judiciário Americano, com punição exemplar e com rapidez frente aos desvios de conduta dos políticos de todos os níveis, sendo portanto, um fundamento essencial para o sucesso do modelo americano. Diante ao exposto, o Brasil pode alcançar resultados exitosos como ocorrem nos Estados Unidos, optando pelo sistema presidencialista soberano, com algumas mudanças pontuais na legislação atual. 5.2 Mudanças necessárias para implantar o presidencialismo soberano. É consenso que o sistema de governo de um país é muito dependente da participação do eleitor durante o mandato. Ainda, o Poder Judiciário deve agir com rapidez para punir os pequenos desvios. Ademais, os partidos políticos devem com clareza expor e seguir seu programa de governo, conforme ideologia defendida. As demandas políticas são legitimas e a discussão de ideias devem ocorrer durante as eleições. No entanto, uma vez vitorioso o programa nas urnas, deveria ser obrigatório sua implementação. Entretanto, mesmo em sistema parlamentarista já consolidado, bem como no presidencialismo pioneiro encontra-se dificuldade de atender o desejo do povo manifestado nas urnas. O Brasil acumula ainda, mais questões emblemáticas, passando pela legitimidade das urnas, negociação para formar maioria no parlamento e distanciamento do governo eleito das propostas vencedoras nas urnas. Diante desse contexto, torna-se necessário uma mudança, pelo menos, no preenchimento das cadeiras do parlamento de acordo com o percentual absoluto do poder executivo obtido nas urnas. Pela tradição do povo brasileiro demonstrada no último plebiscito, torna-se necessário manter o sistema presidencialista. Contudo, carece de algumas mudanças pontuais no sistema de eleição abordados a seguir: A coalizão não é o problema principal, afinal a política deve sim haver debate de ideias para chegar a melhor solução. A questão problemática não é a defesa das 48 convicções políticas de cada grupo e sim a forma como ocorre a negociação para formação da maioria no parlamento. Consoante, a moeda de troca circula até no varejo, por meio de liberação de emendas, além de cargos em comissão diretos e indiretos nos ministérios, autarquias e estatais, desnecessários para a gestão. 5.2.1 Redução do mandato de Senador da Republica Os Senadores da República são os representantes dos Estados e do Distrito Federal. A eleição desses parlamentares ocorre pelo princípio majoritário e renova-se em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços, com mandato de 8 anos (Art. 46, CF/88). Considerando que todos os mandatos dos poderes executivos e legislativos são de quatro anos, com exceção dos Senadores; considerando ainda, que o sistema do presidencialismo soberano requer a eleição total dos parlamentares no mesmo ano e junto com o poder executivo. Esse sistema único de eleição é para garantir a maioria do Parlamento para o partido ou coligação do executivo eleito com maioria absoluta. Portanto, a solução para resolver essa questão necessita da redução do mandato do Senador da República de oito anos para quatro anos. Para tanto, torna- se imprescindível fazer uma alteração por emenda constitucional do artigo 46, § 1º da CF/88, para reduzir o mandato de Senador da República para quatro anos. Assim, o candidato do poder executivo eleito pela maioria absoluta dos votos validos, elege também dois senadores dentre os mais votados do seu partido ou coligação em cada Estado e Distrito Federal e a oposição elege o mais votado entre os partidos ou coligações que perderam a eleição para o poder executivo. A sustentação para manter no legislativo parte dos Senadores para a legislatura seguinte com experiência, não é mais necessária, tendo em vista a natural recondução nos cargos pela reeleição. Além disso, há uma impossibilidade de dividir pela maioria na eleição de um terço dos Senadores e quando renovar dois terços será pela metade a divisão e, assim, nãoocorre a maioria absoluta. Dessa forma, não seria possível uma divisão para dar a maioria ao partido do Presidente da República eleito e, também, ter pelo menos um representante da oposição no Senado Federal. 49 5.2.2 Sistema de Votação O atual sistema de votação ocorre por dois mecanismos de contagem de votos. O Presidente da República, Governadores, Prefeitos e Senadores são eleitos pelo sistema majoritário. Os Deputados Federais, Distritais, Estaduais e Vereadores pelo sistema proporcional. No sistema majoritário é eleito o candidato com a maioria absoluta dos votos válidos no primeiro ou segundo turno, com exceção da circunscrição que está dispensado o segundo turno e para Senador da República, pois nesses casos, são eleitos os mais votados nominalmente (DE CICCO,2022, p. 65)60. No sistema proporcional usado no Brasil não tem similaridade com os outros sistemas adotado no mundo democrático. A lista aberta de candidatos é adotada atualmente no Brasil, segundo alguns especialistas, contribui para a manutenção do fisiologismo e clientelismo. Outra distorção que ocorre em lista aberta é a eleição indireta de candidatos por voto na legenda ou transferência dos votos do candidato “campeão de votos”. Essa questão, chamada eleição de “carona” somente é possível porque o preenchimento das cadeiras do legislativo obedece a uma regra do quociente eleitoral, que na verdade distorce a proporcionalidade prevista na Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF/88). O artigo 45 da CF/88 estabelece eleição para Deputado Federal pelo sistema proporcional e os artigos 106, 107,108 e 109 do Código Eleitoral (lei 4.737/65) definem o procedimento para determinação do quociente eleitoral e partidário (DE CICCO, 2022, p.116).61 Art. 106. Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos pelo de lugares a preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um, se superior. Art. 107. Determina-se para cada partido o quociente partidário dividindo-se pelo quociente eleitoral o número de votos validos dados sob a mesma legenda, desprezada a fração. Art. 108. Estarão eleitos entre os candidatos registrados por um partido que tenham obtido votos em número igual ou superior a 10% (dez por cento) do 60 DE CICCO, Claudio; GONZAGA Álvaro de Azevedo. Teoria geral do estado e ciência política. 61 DE CICCO, Claudio; GONZAGA Álvaro de Azevedo. Teoria geral do estado e ciência política. 50 quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido. Parágrafo único. Os lugares não preenchidos em razão da exigência de votação nominal mínima a que refere o caput serão distribuídos de acordo com as regras do art.109. Art. 109. Os lugares não preenchidos com aplicação dos quocientes partidários. I – dividir-se-á o número de votos válidos atribuídos a cada partido pelo número de lugares por ele obtido mais 1 (um), cabendo ao partido que apresentar a maior média um dos lugares a preencher, desde que tenha candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima; II – repetir-se-á a operação para cada um dos lugares a preencher; III – quando não houver mais partidos com candidatos que atendam às duas exigências do inciso I deste caput, as cadeiras serão distribuídas aos partidos que apresentarem as maiores médias. § 1º O preenchimento dos lugares com que cada partido for contemplado far- se-á segundo a ordem de votação recebida por seus candidatos. § 2º Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos que participaram do pleito, desde que tenham obtido pelo menos 80% (oitenta por cento) do quociente eleitoral, e os candidatos que tenham obtido votos em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) desse quociente. De plano, nota-se que não existe a proporcionalidade estabelecida pela Constituição Federal do Brasil, pois alguns candidatos são eleitos com votos dados a outros candidatos mais votados e pelos votos no partido. Assim, é notória a eleição indireta de parte dos candidatos. Além do mais, não tem proporcionalidade nenhuma no cálculo de maiores médias, conforme afirma Paulo Roberto de Figueredo Dantas. A maior desvantagem do voto proporcional é a grande dissociação entre a vontade do eleitor e o resultado produzido nas urnas. Com efeito, muitas vezes, o voto do eleitor não se mostra suficiente para eleger o candidato em quem votou, apenas porque este, apesar de bem votado, não atingiu o coeficiente eleitoral (DANTAS, 2021, p. 6)62. Por conseguinte, Darcy Azambuja avança na dificuldade desse sistema para o candidato do poder executivo eleito pelo sistema majoritário. 62 DANTAS, Paulo Roberto de Figueredo. Curso de direito constitucional. 51 Os parlamentares eleitos pela representação proporcional, segundo as formulas mais tecnicamente perfeitas, são parlamentares sem maiorias, o que torna o governo difícil e a elaboração das leis morosa e desordenada, impossibilidade muitas vezes da adoção de medidas necessárias e de uma orientação definida na atividade dos poderes públicos (AZAMBUJA, 2008, p. 326)63. Consoante, Karoline Mattos Roeder atesta que o sistema de representação proporcional não traz a tranquilidade para governar, e pior ainda, gera dificuldade insuperável, necessitando, portanto, da barganha com o Parlamento. A dificuldade na formação de coalizões para governar e a impossibilidade, muitas vezes, de implementar projetos partidários de governo, uma vez que um partido de esquerda ou de direita, por exemplo, precisa negociar apoio com partido de centro, o que geralmente significa abdicar de projetos mais ideológicos (ROEDER, 2017, p.142)64. Por outro lado, a sugestão de alguns especialistas em sistema eleitoral, para a mudança da lista aberta para lista fechada (não adotada no Brasil), tem problemas ainda piores e sem solução. O eleitor vota na lista fechada contendo os nomes dos candidatos e o preenchimento das cadeiras é pela ordem da lista e independe do número de votos de cada candidato. A desvantagem dessa modalidade (lista fechada) de voto é que retira do eleitor a possibilidade de escolher um determinado candidato, mesmo que pertença ao partido em que votou, já que é o partido, e não os eleitores, quem escolhe a ordem em que seus candidatos serão eleitos (DANTAS, 2021, p. 6)65. Segundo Paulo Bonavides, o sistema adotado pelo Brasil de lista aberta aproxima mais o eleitor do candidato. O primeiro (lista aberta) vota mais na pessoa deste, em suas qualidades políticas (a personalidade ou a capacidade de bem representar o eleitorado) do que no partido ou na ideologia (BONAVIDES, 2003, p.248)66. 63 AZAMBUJA, Darcy. Introdução a Ciência Política. 64 ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários. 65 DANTAS, Paulo Roberto de Figueredo. Curso de direito constitucional. 66 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 52 Diante ao exposto, Karoline Mattos Roeder faz uma indagação importante: “Existe um sistema de representação majoritário para a Presidência da República e para o Congresso Nacional? (ROEDER, 2017, p.203)67”. De plano, o modelo do presidencialismo soberano traz a solução para a questão da representação parlamentar. Haja vista, a eleição ocorre pelo sistema atual e apenas o preenchimento das cadeiras será majoritário e proporcional, por ordem decrescente de votação individual de cada candidato. Assim, ocorre a proporcionalidade exigida pela constituição atual do País e a preservação da representatividadeda minoria eleita diretamente pelo eleitor. Consequentemente, não há necessidade de mudar o atual sistema de lista aberta, por que o eleitor não vota numa ideia ou no partido pela ideologia, mas no candidato capaz de solucionar os problemas concreto da sociedade, pela avaliação da proposta. Ainda, existe mais contato direto com o candidato e possiblidade de cobrar coerência durante a atuação do eleito. Ressalta por último, dois ilustres escritores: “Afirma que parte da doutrina entende que o sistema majoritário é mais adequado que o proporcional (RAMAYAVA, 2011,p.143-146)68” e complementa Manoel Rodrigues Ferreira sobre o aperfeiçoamento do sistema eleitoral. As modificações das leis eleitorais brasileiras sempre tiveram a finalidade de alcançar um aperfeiçoamento (FERREIRA, 2005, p.18)69. No sistema distrital não muda nada, apenas ocorre uma divisão do Estado em distritos e no sistema misto ocorre uma blenda de ambos sistemas. No sistema distrital misto a metade das vagas são preenchidas pelo sistema majoritário e a outra pelo proporcional, conforme ocorre na Alemanha, pelo sistema parlamentarista (ANDRADA, 2006, p.121)70. 67 ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários. 68 RAMAYAVA, Marcos. Direito eleitoral. 69 FERREIRA, Manuel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. 70 ANDRADA, Bonifácio de. A crise dos partidos do sistema eleitoral e a militância Política. 53 Na Inglaterra, França e Estados Unidos o sistema adotado é distrital puro, elege-se apenas um candidato mais votado e as minorias ficam sem nenhuma representação no parlamento, conforme informa Bonifácio de Andrada. O Estado é dividido em várias circunscrições ou distrito nos quais os eleitores pela forma majoritário elegem um deputado, ficando os demais candidatos derrotados (ANDRADA, 2006, p.121)71. Ressalta-se, no entanto, que o sistema proporcional é mais representativo, precisa-se apenas eliminar os votos no partido, porque assim, não há identificação direta do candidato e eleitor e, acabar com a transferência de votos de um candidato campeão de votos para outros candidatos. O sistema proporcional deve eleger sempre o mais votados dentro todos os candidatos, independente dos partidos políticos. Em suma, sob esse aspecto, trata-se de um sistema eleitoral que permite ao eleitor sentir a força do voto e saber de antemão de sua eficácia, porquanto toda a vontade do eleitorado se faz representar proporcionalmente ao número de sufrágios (BONAVIDES, 2003, P.250)72. O sistema proporcional misto corrige algumas distorções, mas não resolve a questão de representatividade uniforme. Enfim, o sistema proporcional permite de modo adequado a representação dos grupos de interesses e oferece então um quadro político mais autêntico e mais compatível talvez com a realidade contida no pluralismo democrático da sociedade ocidental de nosso tempo (BONAVIDES, 2003, p.251)73. A proporcionalidade deve ser respeitada para abarcar toda representação diversificada da sociedade, conforme afirma o especialista em direito eleitoral Márlon Reis. 71 ANDRADA, Bonifácio de. A crise dos partidos do sistema eleitoral e a militância Política. 72 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 73 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 54 O critério (ou sistema) proporcional tem por premissa a representação política das diversas correntes de pensamento político presentes na sociedade, observada a relevância conquistada por cada uma delas no tecido social (REIS, 2023, p. 133)74. O cálculo atual para preenchimento das vagas conta todos os votos de legenda, ou seja, no partido mais todos os votos obtidos pelos candidatos. Assim, basta verificar quantas vezes perfaz o quociente eleitoral e o preenchimento ocorre na ordem decrescente e depois tratadas as sobras por fórmula matemática complicada, ou seja, pela maior média. A representação proporcional ameaça de esfarelamento e desintegração do sistema partidário ou enseja uniões esdruxulas de partidos, uniões intrinsecamente oportunistas que arrefecem no eleitorado o sentimento de confiança na legitimidade da representação, burlada pelas alianças e coligações de partidos, cujos programas não raros brigam ideologicamente (BONAVIDES, 2003, p.253)75. O melhor sistema para preenchimento das cadeiras do legislativo é apresentado por Bonifácio de Andrada, denominado sistema majoritário geral. Nas eleições o eleitor vota em qualquer candidato de qualquer partido e os mais votados majoritariamente são considerados eleitos. É o processo de eleição de senadores que se adotará para todos os deputados dentro do Estado (ANDRADA, 2006, p,123)76. Segundo Bonifácio de Andrada, o sistema proporcional uninominal e vigente hoje no Brasil, mais nenhum outro país adota (ANDRADA, 2006, p,123)77. Portanto, o presidencialismo soberano possui como característica a valorização do voto no candidato, assim, adota o sistema majoritário geral proposto por Bonifácio Andrada. O eleitor não vota mais no partido e, sim, somente no candidato. Haverá uma maior identificação do eleitor e candidato e, acaba com a eleição indireta de 74 REIS, Marlon, Coleção esquematizado. 75 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 76 ANDRADA, Bonifácio de. A crise dos partidos do sistema eleitoral e a militância política. 77 ANDRADA, Bonifácio de. A crise dos partidos do sistema eleitoral e a militância política. 55 candidato puxada pela legenda ou por votos de outros candidatos, que não tem identificação popular. O pluralismo político é um pilar das democracias atuais e de importância impar para a diversidade ideológica presente na sociedade. Optar por uma sociedade pluralista significa acolher uma sociedade conflitiva, de interesses contraditórios e antinômicos. O problema do pluralismo está precisamente em construir o equilíbrio entre as tensões múltiplas e por vezes contraditórias, em administrar os antagonismos e evitar divisões irredutíveis (SILVA, 2005, p.143)78. Diante das várias correntes de pensamento, ainda prevalece o pluripartidarismo, mesmo ocorrendo fragmentação, pois o objetivo maior é a representatividade da minoria da sociedade no parlamento. Contempla o pluripartidarismo, as representações das minorias e a governabilidade pela maioria majoritária das urnas para todos os cargos com a adoção do presidencialismo soberano. 5.2.3 Preenchimento de cadeiras legislativas O principal objetivo do presidencialismo soberano é garantir a maioria no parlamento decorrente diretamente do voto popular de acordo com a votação para o executivo. Fica garantido o número de vagas no legislativo, incluindo nesse sistema, os Senadores da República, Deputados Federais, Estaduais, Distritais e Vereadores. Portanto, o número de vagas no legislativo corresponderá ao mesmo percentual da votação para o executivo eleito no primeiro ou segundo turno pela maioria absoluta. O restante das vagas será preenchido pelos candidatos mais votados dos partidos ou coligação de oposição. Por conseguinte, torna-se necessário a revogação dos artigos 107, 108, 109 e 111 e alterar o artigo 106 do Código Eleitoral para o seguinte conteúdo: Art. 106. Estarão eleitos entre os candidatos registrados por um partido ou coligação da seguinte forma: I – Do partido ou coligação do poder executivo vencedor na eleição, preencherá as vagas no respectivo parlamento (Deputado Federal, Estadual, Distrital e Vereador) até o mesmo percentual absoluto, obtido pelo candidato vitorioso no78 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 56 primeiro ou segundo turno do poder executivo, a fração será equivalente a uma vaga e, dois Senadores da República por Estado e Distrito Federal, no pleito nacional. II – O restante das vagas será preenchido pelos partidos ou coligação de oposição (perdedores da eleição para o executivo correspondente) e um Senador da República no plano nacional. III – Para o município que não há exigência de segundo turno, o partido vencedor ou coligação fica com 51% (cinquenta e um por cento) das vagas para o parlamento. Parágrafo Único. O preenchimento das vagas será sempre por ordem decrescente de votação individual de cada candidato do parlamento e para Senador, ainda, não será considerado voto na legenda e nem exigência mínima pessoal de votos. Outrossim, fica autorizado a união de partidos na forma da lei atual, em torno de uma candidatura nacional que valerá de forma vertical para todos os cargos, já no momento de registro da candidatura. Segue um exemplo: na eleição para Presidente da República o candidato vencedor obteve 52% dos votos válidos. Logo, tem direito a 52% das vagas para Deputado Federal e o restante 48% será preenchida pelos candidatos de oposição que perderam a eleição para o executivo nacional. Ainda, ressalta-se, que o preenchimento das vagas será por ordem decrescente de votos pessoais, tanto para a ala vencedora como para a oposição. A mesma sistemática será adotada para as eleições dos Governadores e Prefeitos. A única diferença será para o preenchimento das vagas do Senado Federal. Seguindo o exemplo acima o candidato do executivo eleito com 52% dos votos válidos elege também os dois senadores mais votados do seu partido ou coligação. O outro Senador será o mais votado da oposição. Assim, o candidato eleito terá dois Senadores mais votados pessoalmente em cada Estado e no Distrito Federal e a oposição tem o direito de preencher uma vaga com o candidato mais votado entre todos os partidos da oposição. Cabe observar, que sempre o candidato do executivo será eleito por maioria absoluta e, portanto, terá sempre a maioria no congresso nacional. Em caso de empate segue as regras vigente para definir a eleição e maioria parlamentar será de 51% (cinquenta e um por cento) para compor o legislativo. 57 Em caso de cassação de mandato será convocado o candidato imediato na sequência. Por esse modelo, considera-se extintos os cargos de suplência e não há limite mínimo de votos para eleição de candidatos. Por essa metodologia, o preenchimento do número de vagas no legislativo depende exclusivamente da votação recebida pelo executivo no primeiro turno já com maioria absoluta ou no segundo turno das eleições e obedece rigorosamente a proporcionalidade. O preenchimento das vagas (cadeiras) do legislativo ocorre sempre levando em consideração o mais votado do partido ou coligação do candidato vencedor do cargo executivo e o restante das vagas serão preenchidos por candidatos mais votados dos partidos, ou coligação dos que perderam a eleição para o cargo executivo. Para definição do número de vagas, ocorrendo números fracionados no percentual da eleição do poder executivo, a fração equivale a uma vaga para o vencedor da eleição. Nas eleições sem a necessidade do segundo turno, o candidato vencedor com maioria simples, tem automaticamente 51% (cinquenta e um por cento) das cadeiras do parlamento preenchidos por candidatos do seu partido ou coligação e o restante para os candidatos de oposição. Observar-se-á sempre a ordem decrescente de votos para preenchimento das cadeiras em ambos os lados. 5.3 Eleição no presidencialismo soberano A soberania popular ocorre através das eleições dos representantes na democracia indireta. Assim, o povo tem o poder soberano e transfere esse poder para os eleitos pelo período do mandato. No presidencialismo soberano o sistema de eleição de representantes fica inalterado. Recomenda-se apenas, utilizar a tecnologia disponível para imprimir o voto, sem o contato do eleitor com o voto, apenas conferência visual. Haja vista, o sistema de impressão de voto vai gerar maior transparência e possiblidade de conferência do resultado, assim, acaba com as dúvidas, as reclamações ou a crença que o candidato não foi eleito. Outrossim, a lisura, a transparência e a segurança do resultado são suficientes para eliminar o boicote daqueles que não acreditam no resultado das urnas e trazem apaziguamento do povo. Ainda, ocorrerá a união de esforços para efetivação do 58 programa de governo aprovado pela maioria absoluta da população. Ressalta o escritor COMPARATO (1996) Apud GOMES. Não há sistemas idealmente perfeitos para todos os tempos e todos os países, mas apenas sistemas mais ou menos úteis à consecução das finalidades políticas que se tem em vista em determinado país e em determinado momento histórico (GOMES, 2011, p.105-106)79. O principal objetivo do presidencialismo soberano é dar ao poder executivo a maioria no parlamento diretamente das urnas, tendo o número de cadeira igual ao percentual absoluto obtido na eleição do poder executivo. Esse modelo pretende acabar com a necessidade das negociações entre os poderes executivo e legislativo para compor maioria parlamentar. Karoline Mattos Roeder afirma de forma contundente, a realidade do atual presidencialismo no Brasil. No presidencialismo de coalizão, dificilmente o partido do presidente consegue alcançar uma maioria sozinho para aprovar seus projetos no legislativo. Para o executivo ter êxito nas relações com o congresso é necessária uma grande coalizão, ou seja, uma aliança do partido do executivo com outros partidos que foram eleitos para o legislativo nacional (ROEDER, 2017, p.147)80. Diante ao exposto, torna-se recomendável uma avaliação do presidencialismo soberano, apresentado nesse trabalho, para garantir a maioria no parlamento do mesmo partido ou coligação do executivo vitorioso nas urnas. 5.4 Programa mínimo de governo Os programas de governos dos partidos políticos tornam-se figurativos, pois tem apenas a intenção de propostas, para implementação quando possível. Ademais, na pratica não existe nenhuma obrigação de aplicar o programa quando o partido se sagra vencedor nas eleições, tanto para o poder executivo como legislativo. Diante desse contexto, a prática política no mandato não tem correlação com o programa de 79 GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 80 ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários. 59 governo apresentado na eleição. Ainda, agrava-se a situação com as mudanças para formar uma maioria parlamentar. O presidencialismo soberano apresenta a necessidade de um programa mínimo de governo obrigatório ao eleito. Assim, cada candidato responde pessoalmente quatorze questões relacionadas aos seus objetivos para depois de eleito. As questões serão respondidas diretamente para o Tribunal da respectiva jurisdição nacional ou regional e fica arquivada e com acesso ao público durante todo o mandato do eleito. Dessa forma, o candidato eleito fica comprometido e obrigado a defender e votar conforme suas posições assumidas nas respostas das perguntas, sob pena de perder o mandato por cassação direta do eleitor. Consoante, o candidato responde às perguntas de forma individual diretamente no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ou Tribunal Regional Eleitoral (TRE), conforme circunscrição eleitoral de interesse, nacional ou regional ou municipal. A falta de uma resposta às questões obrigatórias é motivo para indeferimento de plano da candidatura e, até mesmo, fica impedido de fazer o registro da candidatura. Desse modo, o programa mínimo de governo será realizado através dequatorze perguntas claras e objetivas formuladas como segue: a) 6 (seis) perguntas formuladas pelo poder executivo vigente no período de eleição, para cada esfera: federal, estadual e municipal. b) 6 (seis) perguntas pelo Congresso Nacional ou pelo Parlamento Regional ou Municipal, através de seus Presidentes: sendo três pelo Senado Federal e três pela Câmara dos Deputados no plano nacional. c) 2 (duas) perguntas pelo Poder Judiciário, nas respectivas esferas de atuação. Pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, para a área nacional e pelo presidente dos Tribunais de Justiça para cada Estado e Prefeitura. Portanto, fica assegurado a implementação do programa mínimo de cada candidato eleito, aliado a maioria do parlamento em apoio ao executivo, cujo objetivo é atender no mínimo as necessidades básicas da população. 5.5 A efetividade das propostas vencedoras É sabido que o sistema presidencialista atual existe uma dependência direta do poder 60 executivo da maioria do parlamento. Logo, o projeto político vencedor nas urnas para o poder executivo, pelo sistema majoritário absoluto no primeiro ou no segundo turno das eleições, encontra resistência no Congresso Nacional e sua implementação necessita de negociações com o Parlamento. Essa questão é recorrente nas últimas eleições para o poder executivo no Brasil. O eleito para o posto executivo não elege a maioria no parlamento do mesmo partido ou coligação. Tanto que, o eleitor brasileiro não possui a identidade partidária ideológica de maneira clara. Ainda, tem liberdade para votar no candidato para o poder executivo de um partido e para um candidato ao legislativo de outro partido ou coligação. É evidente que o atual sistema proporcional apresenta uma forma de eleição do parlamento direta e indireta. Isso ocorre pelo voto no partido ou pela eleição de candidato com a soma de votos do mais votados da legenda. Nesse contexto, muitos são eleitos com pouca ou nenhuma identidade ou responsabilidade com o eleitor. As negociações partidárias fazem parte do jogo democrático, no entanto, geram propostas de acordo político bem diferente da vontade do eleitor. Por outro lado, ocorre a troca de favores por apoio no parlamento, representada por nomeação de “amigos” para cargos de direção, sem a qualificação técnica necessária. Assim, as alianças para apoio ao executivo não são centralizadas na ideologia partidária e nem programática. Logo, os partidos pequenos estão prontos para dar apoio mediante privilégios às vezes não republicanos. Fica notório que o povo é a única parcela do sistema que perde nesse emaranhado de interesses. Ainda, as promessas durante o período eleitoral são esquecidas durante o mandato ou mudadas pela conveniência política. Assim, ocorrendo essas discrepâncias durante o mandato, deveria o representado perder a função de representação, conforme afirma Carlos Mário da Silva Velloso e Walber de Moura Agra. As opções escolhidas devem estar de acordo com o sentimento da população, inclusive, em muitos casos, se ele não se mantiver fiel às propostas elaboradas quando da campanha eleitoral, podem os cidadãos revogar seu mandato (VELLOSO, 2023, p.79)81. Diante dessa situação, o eleito não cumpri suas promessas de campanha e, 81 VELLOSO, Carlos Mario da Silva; AGRA, Walber de Moura. Elementos de direito eleitoral. 61 ainda, apresenta as mesmas justificativas em cada eleição para receber o voto do eleitor, ou seja, a falta de maioria consolidada no parlamento para implementar as propostas formuladas na campanha e aceitas pelo eleitorado. Diante desse contexto, a barganha torna-se um meio oficial para ocorrer aprovação pontualmente de proposta do poder executivo. Esse sistema tornou-se um vício ruim, pois na eleição seguinte o candidato retorna com as mesmas propostas, alegando a impossibilidade de implementação por falta de maioria no parlamento. O modelo presidencialista soberano acaba com a troca de favores entre os poderes executivo e legislativo. O eleito para o cargo executivo terá garantia da maioria diretamente das urnas. Por conseguinte, o eleito não tem desculpas pela não implementação do programa vencedor nas urnas. Dessa forma, durante o mandato o eleito deve obrigatoriamente implementar o programa de governo, sob pena de perder o mandato e o povo deve avaliar a cada quatro anos as ações de cada representante com relação as promessas de campanha e sua real implementação. 5.6 Perda de Mandato por via Direta O controle da representatividade deve ser diretamente realizado pelo povo. Na verdade, a eleição é um meio de manifestação popular na escolha dos representantes. Destarte, a questão mais importante é o controle durante o mandato, e isso, não ocorre nos modelos atuais. Existe o controle indireto pelos próprios pares ou pelo Judiciário. No entanto, o titular do poder delegado não tem nenhuma forma direta de cassar o mandato do eleito infiel ou pelo recebimento de privilégios não republicano. No presidencialismo atual pode ocorrer a cassação do mandato do Presidente da República pelo processo de “Impeachment”. No sistema parlamentar ocorre a moção de desconfiança e o Primeiro Ministro é substituído, ou antecipa as eleições. A ideia de responsabilidade é inseparável do conceito de democracia, e o “Impeachment” constitui eficaz instrumento de apuração de responsabilidade e, por conseguinte, de aprimoramento da democracia (BROSSARD, 1992, p.7)82. No presidencialismo soberano, acrescenta-se mais uma alternativa de perda 82 BROSSARD, Paulo. O “Impeachment”. 62 de mandando eleitoral, pela manifestação dos eleitores, através de abaixo assinado, devidamente conferidas as assinaturas pelo Tribunal Eleitoral. A revogabilidade de mandato é um mecanismo eficiente para controle do mandato do político, pois os eleitos devem governar de acordo com a vontade popular. A democracia é o regime em que os governantes são eleitos pelo povo e governam de acordo com a opinião pública. Por isso, a denominam também governo popular ou governo de opinião (AZAMBUJA, 2008, p. 294)83. Portanto, o direito de revogação deve ser implementado para correção de rumos da política, matéria já em vigência na Suíça e em algumas regiões dos Estados Unidos. O doutor Mario Lúcio Quintão Soares aborda o assunto e recomenda. A irrevogabilidade do mandato: os eleitores não podem destituir os seus representantes. Com a crise do Estado Liberal de direito, outros mecanismos da democracia semidireta, como o “recall” e o “abberufungsrecht”, foram instituídos, respectivamente, nos Estados Unidos da América e na Suíça, no sentido de corrigir distorções do mandato representativo (SOARES, 2022, p. 267)84. A força legitimadora do órgão representativo concentra-se também no conteúdo justo de seus atos caracterizando representação democrática material (SOARES, 2022, p. 266)85. Direito de revogação: permite a uma fração do corpo eleitoral solicitar a destituição de um funcionário eleito ou parlamentar, antes de expirar o seu mandato (SOARES, 2022, p. 285)86. Diante ao exposto, a revogação de mandato pode ocorrer através de abaixo assinado. O procedimento deve ocorrer sob controle do Tribunal Eleitoral correspondente, sendo protocolado na respectiva casa legislativa do parlamento. Em seguida, o Presidente da casa deve enviar para o Tribunal Eleitoral, no prazo máximo de quinze dias contados do protocolo, sob pena de responder pela desobediência legal e abuso de poder. Nessa circunstância, passado o prazo e não ocorrer o envio para o sistema eleitoral, fica o Presidente da casa suspenso até a decisão final do processo de cassação em andamento e o abaixo assinado pode ser encaminhado por83 AZAMBUJA, Darcy. Introdução a Ciência Política. 84 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 85 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 86 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 63 qualquer integrante da mesa, até mesmo diretamente pelos interessados pela cassação. Por conseguinte, o Tribunal Eleitoral responsável administrativo pela eleição do parlamentar, faz a verificação e validação das assinaturas. O TSE ou TRE tem prazo de trinta dias para validar as assinaturas do abaixo assinado, prorrogável por mais trinta dias quando for necessário, desde que motivado. Após esse prazo, deve devolver, via protocolo, o abaixo assinado com as assinaturas validadas, na respectiva casa legislativa. Assim, confirmado o número de assinaturas validadas, no mínimo necessário para cassação do mandato, o eleito perde automaticamente e de imediato o mandato, mediante o protocolo na casa legislativa correspondente. Então, a mesa da casa deve fazer a comunicação em plenário na primeira sessão seguinte ao protocolo. Por fim, o número de assinatura validada mínima para cassar o mandato de um parlamentar, do executivo e de autoridades nomeadas com previsão de impedimento no ordenamento jurídico será conforme segue: a) Para o Poder Executivo será necessário um mínimo de assinatura correspondente a cinquenta e um por cento do total de votos validos na eleição do respectivo cargo. b) Para Senador, Deputado Federal, Estadual, Distrital e Vereador será necessário um mínimo de vinte por cento correspondente aos votos validos na respectiva eleição. c) Para Ministro de Estado, Ministro das Cortes Superiores, Procurador Geral, Desembargadores, Advocacia Geral, Magistrados e demais cargos por indicação será necessário um mínimo de trinta por cento correspondente aos votos validos da eleição do poder executivo que fez a nomeação ou indicação. 5.7 Iniciativa popular A fonte de poder na democracia provém do povo. Os movimentos revolucionários do século XVIII geraram o sistema constitucional democrático representativo. De fato, a separação entre os órgãos incumbidos de cada uma das funções do estado produziria, esperava Montesquieu e com ele os constituintes do século XVIII e XIX, um sistema de freios e contrapesos, 64 essencial para a defesa da liberdade individual (FERREIRA FILHO, 2002, p.60)87. A escritora Mônica de Melo concorda com maior amplitude do voto, conforme segue: Aos poucos, foi se ampliando o direito de voto e se passou a entender que quanto maior a extensão dos que pudessem votar, maior o grau de democracia do sistema.” (MELO, 2001, p.35)88. No entanto, a democracia precisa de ajustes, principalmente no sistema de representação e fidelidade do candidato eleito. Assim, Mônica de Melo faz uma crítica a democracia representativa: A democracia representativa, ao longo da história, apresentou e ainda apresenta inúmeros problemas onde é aplicada, principalmente nos países com regime de democracia indireta (MELO, 2001, p.35)89. E acrescenta com relação ao Brasil. No Brasil, por exemplo, há uma estrutura partidária frágil, que não permite a existência de partidos claramente identificáveis a partir dos programas que propõem, vigorando em muitos deles pratica clientelista. Ademais, a proporcionalidade dos votos para os estados da federação apresenta problema, gerando distorções de representatividade, além da confusão do papel do senado federal com o da câmara dos deputados (MELO, 2001, p.35)90. O Escritor Mario Lúcio Quintão Soares aborda o ideal da democracia, na atualidade e mediante ajustes oriundos da tecnologia. O tipo ideal de democracia é a democracia direta, modulada pelo aprofundamento da identidade popular, ao possibilitar que as funções públicas sejam exercidas de modo imediato e direto, pela totalidade dos cidadãos, dotados de plenos direitos políticos, em assembleia popular ou assembleia primaria (SOARES, 2022, p.276)91. 87 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves Filho. O processo legislativo. 88 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 89 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 90 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 91 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 65 Diante ao exposto, considerando ainda, a tecnologia disponível, é possível aumentar a consulta direta ao eleitor, através de plebiscito, referendo, aceitar propostas de leis oriundas do povo e cassação direta de mandato ou cargo de indicação ou nomeação política. Na verdade, na democracia indireta, dita representativa, cada vez mais se denota que nem sempre a maioria parlamentar exprime os anseios da maioria do povo, gerando uma crise de legitimidade de consenso (MELO, 2001, p.35)92. Ademais, a vontade popular pode ser observada por consulta direta, tendo em vista, que a representação sofre inúmeras influencia desde o nascedouro até a atuação no parlamento. Destaca-se como principal, os acordos políticos de interesses de grupos para compor o governo e com total abandono das propostas feitas durante a campanha eleitoral. A possibilidade de participação direta deve ser garantida, não apenas porque o regime representativo vai mal ou pode ir mal, mas porque se deve garantir a possibilidade de participação direta, nos assuntos públicos, a qual o povo é efetivamente titular do poder no regime democrático (MELO, 2001, p.37)93. O doutor em direito constitucional traz à baila a democracia praticada na antiguidade. Tal democracia foi praticada na polis e na civitas, consoante o paradigma clássico das instituições políticas grego romanas e suas complexas transições para a idade moderna (SOARES, 2022, p. 186)94. Aliás, a Constituição Federal do Brasil, permite a realização de plebiscito, através da convocação do Congresso Nacional, bem como admite a iniciativa popular para apresentação de projeto de lei. O artigo 61, § 2° da CF/88, regulamentada pela lei 9.709/98. 92 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 93 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 94 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 66 Esses mecanismos adequadamente utilizados, promovem a educação política popular, produzem a motivação, o interesse do cidadão pela gestão da coisa pública. Permitem ainda, que o exercício da soberania popular se faça sem intermediários, que tantas vezes distorcem o interesse público, em busca de interesses pessoais ou mesmo corporativos (MELO, 2001, p.122)95. Atualmente, dois países destacam-se na utilização da consulta popular direta com êxito. Assim, a frequência desse mecanismo deve ser implementada e incentivada pelas democracias populares. Na Suíça as consultas são nacionais e nos Estados Unidos ocorrem no âmbito regional. Assim, ao povo cabe também legitimar as funções legislativas e executivas, mediante eleições livres e periódicas, projetos de iniciativa popular, plebiscito e referendo (SOARES, 2022, p. 179)96. Logo, o uso da iniciativa popular pode reduzir, consideravelmente os erros dos representantes e direciona a política nacional para os anseios da sociedade. A implementação dos mecanismos de participação direta – plebiscito, referendo e iniciativa popular – não vem substituir a democracia representativa, mas aperfeiçoar o regime democrático, conferir maior legitimidade as decisões da soberania popular (MELO, 2001, p.36)97. Pelo voto popular soberano elege-se o Presidente da República, queexerce o mandato por um tempo definido na Constituição Federal. Então, pelo mesmo voto popular escrito, por abaixo assinado, deveria ser permitido sua cassação, pelo desvio de finalidade, infidelidade, má gestão, corrupção e falta de implementação das propostas aceitas e aprovadas, durante a campanha eleitoral. Determinado número de cidadãos, em geral a decima parte do corpo de eleitores, formula, em petição assinada, acusações contra o deputado ou magistrado que decaiu da confiança popular, pedindo sua substituição no lugar que ocupa ou intimidando-o a que se demita do exercício de seu mandato. (BONAVIDES, 2003, p.292)98. 95 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 96 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 97 MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular. 98 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 67 Com o auxílio da tecnologia a consulta direta à população tornou-se praticável e recomendada, no entanto, há muitas resistências no meio político. Ao longo das últimas décadas, o desenvolvimento político nos estados democráticos vem demonstrando que a democracia direta tem ganhado espaço com muita lentidão, mas de forma constante. Parece que o povo quer mais democracia, e os políticos não podem evitar totalmente essa tendência, muito embora, em geral, sejam bem- sucedidos em restringir a democracia direta. O fortalecimento dessa tendência para mais democracia direta será a tarefa de todos os democratas em estreita cooperação com políticos, partidos e meios de comunicação.” (HANS - ADAM, 2015, p.176)99. O direito de revogação de mandato é legitimo e deve ser implementado em todas democracias representativas. Pois, trata-se de um mecanismo de ação direta e efetiva do povo sobre os eleitos ou indicados por parlamentares ao cargo público, com objetivo de afastar o eleito que descumpre as propostas feitas durante o período eleitoral. Determinados publicistas opinam, porém que o plebiscito se caracteriza com um pronunciamento popular válido por si mesmo, inteiramente unilateral, que independe do concurso de qualquer outro órgão do estado (BONAVIDES, 2003, p.288)100. Além do mais, o titular do direito é o povo e, através de eleições confere esse poder aos representantes eleitos por um período de quatro anos. A iniciativa popular apenas resgata ou cancela a procuração quando o representante caminha de forma diversa do estabelecido no mandato, conforme declara Paulo Bonavides. Falo aliás, o exercício de direito que não pode ser tolhido, desde que, para tanto, determinada fração do corpo eleitoral reúna o número legal de proponentes, indispensáveis a dar o impulso legislativo, do qual resultará o estabelecimento de novas leis ou ab-rogação das existentes, tanto em matéria de legislação ordinária quanto constitucional (BONAVIDES, 2003, p.290)101”. O sistema democrático ainda possui inúmeras vantagens em comparação com outros sistemas ou regimes, além disso, o sistema representativo reflete as várias correntes 99 HANS - ADAM, O estado no terceiro milênio. 100 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 101 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 68 de pensamento e, também, a complexidade da sociedade. A democracia representativa constitui, pois, mecanismos que objetiva reproduzir no governo a complexidade que marca a composição do tecido social. Quanto mais amplos os estratos e segmentos sociais, se espera, maior será a sua presença proporcional nos órgãos de representação política (REIS, 2023, p. 20)102. Destarte, o presidencialismo soberano devolve ao povo brasileiro o direito de decidir o destino do País, participando ativamente no controle, fiscalização, cassação de mandato e elaboração de leis. O atual sistema de poder está centralizado no legislativo, tanto para aprovação de leis como para controle dos mandatos. Além do mais, a iniciativa popular é possível, mas o legislativo tem prerrogativa de alterar inteiramente a proposta apresentada. Contudo, considerando que o poder é do povo, considerando ainda, que tanto o poder executivo como o legislativo representam o povo, pode então, o povo legislar diretamente, sem a interferência modificadora do Congresso Nacional ou do poder executivo. Dessa forma, tornou-se necessário apenas adequar o número de eleitores com poder para assinar uma proposta de lei. O único requisito é o número mínimo de assinatura válida para implementação da lei popular, cassação de mandato e outras prerrogativas de interesse da sociedade, conforme segue: a) Para implementação de uma lei ordinária será necessário um mínimo de vinte por centro de assinaturas válidas, em relação aos votos validos para o Poder Executivo correspondente. b) Para uma lei complementar será necessário um mínimo de trinta por cento de assinaturas válidas, correspondente aos votos validos para o Poder Executivo em questão. c) Para uma Emenda constitucional será necessário um mínimo correspondente a cinquenta e um por cento de assinaturas válidas em relação aos votos válidos para o Poder Executivo em verificação. Desse modo, a proposta é protocolada na Câmara dos Deputados ou equivalente nos demais níveis, devendo então, ser encaminhada no prazo de quinze 102 REIS, Marlon, Coleção esquematizado. 69 dias para o TSE ou TRE para validação das assinaturas. O prazo para o sistema eleitoral validar as assinaturas é trinta dias prorrogáveis por mais trinta dias, quando necessário e motivado. Após o prazo do sistema eleitoral, a proposta com as assinaturas validadas é devolvida ao legislativo correspondente. A mesa legislativa respectiva deve encaminhar para análise da constitucionalidade da proposta. No entanto, fica assegurado que somente os itens inconstitucionais podem ser alterados, no prazo máximo de sessentas dias e, anunciado no plenário sua aprovação. Em seguida, a mesa da respectiva casa inicial encaminha para a casa revisora, quando a legislação assim exigir. O tramite da proposta popular no Senado Federal será o mesmo da casa inicial, ainda, será obedecido o mesmo prazo e prerrogativas de alterar apenas as inconstitucionalidades e, anunciado no plenário sua aprovação. Após a revisão, a proposta popular será encaminhada ao poder executivo para sanção ou veto em questões apenas inconstitucionais. A etapa seguinte será de acordo com o ordenamento jurídico já estabelecido quanto a promulgação e publicação. No caso de proposta popular de emenda constitucional a promulgação e publicação também seguirá o ordenamento jurídico vigente. Em todas as hipóteses de propostas populares, a lei ou emenda entra em vigor noventas dias após a publicação. 5.8 Partidos Políticos O sistema de eleição atual está centrado nas filiações obrigatórias em um partido político. As organizações políticas devem ter um núcleo ideológicos pelo qual se agruparão várias pessoas com o mesmo pensamento. Segundo Karoline Mattos Roeder o partido político está relacionado ao interesse político de exercer mandato por votação popular. Partido político é uma associação voluntária que busca exercer o poder em dada coletividade política por meio da ocupação de cargos governamentais, que se organizam hierarquicamente em torno de um programa que mobilize determinada base social (ROEDER, 2017, p.31)103. 103 ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários. 70 No Brasil os partidos políticos não apresentam claramente um núcleo ideológico, geralmente o9 CAPITULO 1 ................................................................................................................... 12 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SISTEMA DE GOVERNO .................................................. 12 1.1- Forma de governo na antiguidade - monarquia .................................................. 12 1.2- Forma de governo no Feudalismo – monarquia ................................................. 15 1.3- Forma de governo na idade moderna - monarquia ............................................. 16 1.4- Forma de governo na idade contemporânea....................................................... 18 1.4.1 – Estado Liberal ........................................................................................................ 18 1.4.2- Decadência do Liberalismo ............................................................................................ 19 1.4.3- Estado Social .................................................................................................................. 20 1.4.4- Estado Comunista .......................................................................................................... 20 1.4.5- Estado democrático ....................................................................................................... 21 CAPITULO 2 ................................................................................................................... 22 A VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA PARLAMENTAR ............................. 22 CAPITULO 3 ................................................................................................................... 29 A VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA PRESIDENCIALISMO ..................... 29 CAPITULO 4 ................................................................................................................... 35 PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO ............................................................................. 35 CAPITULO 5 ................................................................................................................... 40 PRESIDENCIALISMO SOBERANO ................................................................................. 40 5.1. Caracterização do Sistema do Presidencialismo Soberano................................ 40 5.2 Mudanças necessárias para implantar o presidencialismo soberano. ................ 47 5.2.1 Redução do mandato de Senador da Republica .............................................................. 48 5.2.2 Sistema de Votação ........................................................................................................ 49 5.2.3 Preenchimento de cadeiras legislativas .......................................................................... 55 5.3 Eleição no presidencialismo soberano ................................................................ 57 5.4 Programa mínimo de governo .............................................................................. 58 5.5 A efetividade das propostas vencedoras ............................................................. 59 5.6 Perda de Mandato por via Direta .......................................................................... 61 5.7 Iniciativa popular .................................................................................................. 63 5.8 Partidos Políticos.................................................................................................. 69 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 72 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 76 9 INTRODUÇÃO O mundo passa por grandes transformações, especificamente destaca-se as mudanças advindas do campo tecnológico e nas áreas envolvendo as mídias digitais, que influenciam diretamente o comportamento social. No entanto, o sistema eleitoral não tem acompanhado com a mesma rapidez as mudanças recentes, embora com tecnologia a disposição para o enfretamento dos problemas nas apurações eleitorais e quando rápidas, surgem incertezas ou dúvidas da representatividade e do resultado. Logo, as dúvidas decorrentes do sistema de eleição geram conflitos sociais e dificuldade na pacificação do país após o pleito. Haja vista, sistema eleitoral parcialmente informalizado ou falta de impressão dos votos para uma possível verificação e conferência são as maiores reclamações do eleitor brasileiro e, consequentemente, a insubordinação civil e a inaceitabilidade do resultado são constantes no sistema de eleição vigente no País. Outrossim, o sistema presidencialista atual gera uma incongruência sistêmica: o presidente eleito pelo sistema majoritário, não garante a maioria no Congresso Nacional. Pois, o sistema independente da eleição para o executivo e legislativo apresenta uma impossibilidade de governar, sem fazer os acordos políticos, cujo objetivo é ter uma base de apoio no Congresso Nacional. Dessa forma, o presidente eleito deve compor uma maioria parlamentar para legitimar sua política de governo vencedora nas urnas. A questão emblemática é a forma das negociações para composição dessa maioria, que normalmente ocorre com troca por cargos na administração pública ou por favores nas indicações por partidos políticos. Ainda, as indicações de pessoas sem as qualificações necessárias para cargo de direção no setor público são constantes no sistema atual. O resultado dessa prática é uma má gestão por incompetência ou até desvio de recurso públicos. Essa troca de favores torna-se imprescindível para a estabilidade do governo, sob ameaça de “impeachment” quando não tem a maioria no parlamento ou dificuldade de aprovação de leis para implementar sua política ou programa de governo. Nesse diapasão, nasce a necessidade de mudar pontualmente o sistema de eleição brasileiro para ocorrer a maioria no parlamento, na mesma proporção da eleição do Presidente da República, modelo de eleição chamado de presidencialismo 10 soberano, pois a maioria absoluta no executivo gera também a maioria no parlamento pelo voto popular. De plano, a proposta desse trabalho é trazer no capitulo 1, uma evolução do sistema de governo ao longo do tempo. Assim, entender o primeiro sistema de governo e as mudanças ocorridas para atender as exigências da sociedade da época. Além desse conteúdo, no capítulo 2 aborda-se o sistema de governo parlamentarista, trazendo as vantagens e desvantagens desse sistema. Cabe salientar que os parlamentares são eleitos pelo povo e o Primeiro Ministro provém do próprio parlamento e na crise do governo ou perda da maioria desse grupo político, pode ocorrer outra composição e, portanto, o Primeiro Ministro é substituído ou convoca-se eleições antecipadas. Cabe ressaltar ainda, a necessidade constante das negociações parlamentares para a estabilidade do governo, ou seja, ocorre necessariamente a troca de favores, para implementações de propostas negociadas, independente das propostas vencedoras nas urnas. Em contraste ao sistema parlamentarista, no capítulo 3 apresenta-se uma discussão envolvendo o sistema presidencialista, com vantagens e desvantagem. No presidencialismo adota-se eleição direta para Presidente da República pelo voto popular. A questão neste sistema, está na eleição do executivo ser independente do legislativo e, por essa razão, não forma maioria no parlamento, diretamente pelo voto popular. Em vista disso, no capítulo 4 aborda-se a questão mais complicada do presidencialismo, pois envolve a necessidade do Presidente da República de negociar com o Congresso Nacional, para formar uma maioria. A negociação em si não é o problema, a questão é a forma como ocorre: troca de favores de forma não republicana, o abandono do programa de governo vencedor nasaspecto político tem um caráter abrangente de ideias. Esse conjunto de ideias são constantemente alterados para ocorrer acordos e barganha por cargos. O Brasil possuía 32 partidos políticos com registro no Tribunal Superior Eleitoral (REIS, 2023, p.31)104. Dessa forma, pode-se pensar em candidatura consolidada, desde que sustentada pelo programa mínimo de quatorze perguntas que serão respondidas no momento do registro da candidatura. Ademais, a liberdade de atuação política está presente na sociedade, principalmente, através das mídias sociais. No entanto, a obrigação de filiação em um partido político para concorrer às eleições restringe o direito político do cidadão. Ainda, existe em muito partidos a figura do “dono” do partido, ou grupo fechado que dificulta a filiação de muitos interessados em concorrer em um cargo público eletivo. O sistema presidencialismo soberano fortalece a responsabilidade direta de cada eleito e fica atrelado as questões partidárias e compromissado com o eleitor. Além disso, evita a troca de favores que envolve a nomeação de cargos públicos por parentes. Aliás, o nepotismo é uma pratica condenada, no entanto, surgiu o nepotismo cruzado de difícil comprovação. O Conselho Nacional de Justiça brasileiro definiu o nepotismo conforme segue: Nepotismo é o favorecimento dos vínculos de parentesco nas relações e trabalho ou emprego. As práticas de nepotismo substituem a avaliação de mérito para o exercício da função pública pela valorização de laços parentesco (CNJ, 2021)105. Portanto, o exercício do mandato exige responsabilidade tanto do partido como do eleito. Assim, torna-se possível a política por meios de vários partidos políticos. Os adeptos do pluralismo partidário amplo louvam-no como a melhor forma de colher e fazer representar o pensamento de variadas correntes de opinião, emprestando as minorias politicas o peso de uma influência que lhes faleceria, tanto no sistema bipartidário como unipartidário (BONAVIDES, 2003, p.363)106. 104 REIS, Marlon, Coleção esquematizado – Direito eleitoral. 105 CNJ, 2021. 106 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 71 No mundo contemporâneo, as correntes ideológicas tendem a formar coligações para chegar ao poder. No sistema parlamentar do moderno estado partidário, o multipartidarismo conduz inevitavelmente aos governos de coligação, com gabinetes de composição heterogênea, sem rumos políticos coerentes, sujeitos portanto, pela variação de propósitos a uma instabilidade manifesta (BONAVIDES, 2003, p.363)107. No sistema presidencial, indica-se ordinariamente a pulverização partidária como fator de enfraquecimento do regime, determinando-lhe, não raro, o colapso (BONAVIDES, 2003, p.364)108. A Constituição brasileira permite a formação de vários partidos políticos com seus respectivos estatutos. Os partidos políticos enfrentam a infidelidade que podem ocorrer basicamente de duas formas: a oposição por atitude ou pelo voto contrário as diretrizes estabelecidas pelo partido. Contudo, não tem nenhuma dependência ou controle do eleitor. José Afonso entende que a infidelidade deveria ser punida com mais rigor. Os estatutos dos partidos estão autorizados a prever sanções para os atos de indisciplina e de infidelidade, que poderão ir da simples advertência até a exclusão. Mas a constituição não permite a perda do mandato por infidelidade partidária. Ao contrário, até o veda, Art. 17, 3°, que têm eles direito a recursos do fundo, que a lei já regula – lei 4.740/65, Artigos, 95 a 109 (SILVA, 2005, p.406-408)109. Os partidos políticos são a base da democracia representativa, pois são responsáveis pela discussão de propostas e canais de diálogo com a sociedade. Efetivamente, os partidos políticos são peças necessárias senão mesmo as vigas do travejamento político e jurídico do Estado democrático. Aliás é generalizado o conceito simplista de democracia representativa como Estados de Partidos, ilustrando-se a ideia de que se não pode conceber esse sistema de governo sem a pluralidade de partidos políticos, isso é, sem a técnica do pluripartidarismo (MALUF, 2023, p.331)110. 107 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 108 BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 109 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 110 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 72 O problema da representação atual está na infidelidade do eleito com o eleitor. Outrossim, os candidatos para os poderes executivo e legislativo lançam propostas durante a campanha eleitoral com objetivo apenas de se elegerem. Dessa forma, o eleitorado escolhe o candidato pelas propostas de governo. No entanto, quando o candidato ao poder executivo é eleito precisa negociar com o parlamento para formar maioria e, para isso, é obrigado a mudar suas propostas de campanha. Por outro lado, o candidato ao cargo no parlamento deve acompanhar seu partido, que também flexibiliza sua proposta para compor com o executivo. Diante ao exposto, existe a infidelidade do candidato eleito tanto no poder executivo como no poder legislativo com o eleitor. Essa infidelidade gera o desânimo no eleitor que procura escolher um candidato com afinidade de pensamento e,que depois de eleito, esse não segue as suas próprias propostas vencedoras nas urnas. Outro efeito dessa questão, é o desinteresse do eleitor diante da infidelidade, causando um aumento cada vez maior de ausência no pleito, ainda, a crença que na política nada muda. As candidaturas avulsas não são permitidas no Brasil. O sistema atual obriga a filiação partidária (Art.14, 3º, V da CF/88). A possibilidade de candidatura avulsa é viável, basta o candidato apresentar no momento da inscrição um abaixo assinado de apoiadores de pelo menos um décimo por cento do eleitorado da circunscrição. Diante desse contexto, e considerando o sistema multipartidário irreversível, torna-se urgente encontrar uma solução para evitar desfecho da paralização de governo, insatisfação geral da sociedade, guerra civil e o aparecimento de ditaduras. A solução é a implantação do presidencialismo soberano, pois este modelo muda a forma de preenchimento de cadeiras no parlamento, concedendo o número de vagas no parlamento de acordo com a votação majoritária e absoluta do Chefe do Executivo. CONCLUSÃO O presidencialismo soberano é uma alternativa de sistema de governo mais adequado para países com regime político democrático. Indubitavelmente, o sistema de governo mais presente na sociedade constituída até o presente momento, foi a monarquia. Destaca-se o início desse 73 sistema com a monarquia familiar, pelo poder pátrio, passando para monarquia teocrática, absolutista e parlamentarista. Contudo, na monarquia teocrática e absolutista os poderes executivo e legislativo estão concentrados exclusivamente na figura do monarca ou rei ou imperador. Por outro lado, na monarquia parlamentarista os poderes executivo e legislativo estão nas mãos dos parlamentares. O sistema de governo predominante até o século XVIII foi a monarquia absolutista ou totalitária. No entanto, a insatisfação da sociedade sempre esteve presente, ora reprimida, ora com alguma flexibilização, ou ainda, ocorreram guerras civis e revolução para mudar o sistema. Portanto, o sistema de monarquia com concentração dos poderes públicos em uma só pessoa ou grupo político, mostrou-se incompetente para assegurar uma vida digna para a população, distribuição de renda compatível com a riqueza do país e paz social. A monarquia parlamentarista atendeu parte dos anseios da sociedade. Destaca-se como vantagens dessemodelo a rápida solução em momento de impasse e crise política no parlamento, pois tanto pode ocorrer a composição de uma nova maioria e, assim, ocorrer a substituição do Primeiro Ministro, como a convocação antecipadas das eleições para manter ou reformar o parlamento. Além disso, todos os parlamentares da base do governo são responsáveis pela implementação do programa de governo. Por outro lado, as desvantagens da monarquia parlamentarista estão no primeiro momento em construir uma maioria no parlamento. Essa necessidade obriga os eleitos a negociar, fazer acordo e flexibilizar as propostas vencedoras nas urnas. Ainda, essas negociações requerem a troca de favores, clientelismo e o compartilhamento de cargos públicos, as vezes de forma não republicana. Dessa forma, a implementação do programa de governo fica bem distante da vontade popular, desde que acordado e construído uma maioria no parlamento. Por último, o êxito do sistema monárquico parlamentarista está no nível cultural do povo, vigilância e cobrança do eleitor junto ao seu representante. Amparado ainda, pelo poder judiciário independente e combativo, diante de desvios institucionais, oriundo da luta pelo poder e dos privilégios dos grupos políticos. O sistema presidencialista iniciado nos Estados Unidos da América traz claramente a separação do poder executivo e legislativo. Cabe observar, que o êxito 74 desse sistema no país de origem, que não ocorre em outros países, é decorrente da cultura e do conhecimento de política dos eleitores, bem como, da cobrança e vigilância sobre os representantes. Além é claro, de um poder judiciário atuante e intolerante com os desvios institucionais do sistema. No Brasil, o sistema de governo adotado é o presidencialismo, no entanto, o modelo eleitoral está distorcido e não garante a governabilidade ao poder executivo eleito por uma maioria absoluta dos votos. Por essa razão, o poder executivo precisa negociar com o parlamento para formar uma maioria de sustentação do governo. Entretanto, a questão inaceitável é a forma que ocorre esses acordos políticos, basicamente, através de troca de favores, preenchimento dos cargos públicos com apadrinhados ou por indicação de partidos políticos da base governamental. O resultado desse modelo de coalizão é a má gestão ou desvio de recurso públicos. Ademais, essas negociações envolvem apenas os interesses da classe política e a sociedade é a grande perdedora e, ainda, ausente dessas negociações. O sistema eleitoral de um país deve assegurar uma representação proporcional de todas as correntes ideológicas da sociedade. Além disso, garantir a governabilidade do poder executivo eleito por maioria absoluta dos votos. A proposta do modelo presidencialismo soberano proporciona uma maioria no parlamento pelo mesmo percentual da eleição do poder executivo. A grande vantagem do novo modelo é eliminar a necessidade do poder executivo de barganhar com o parlamento, para formar uma base de sustentação do governo. Pelo presidencialismo soberano, o governo eleito pela maioria absoluta deve implementar obrigatoriamente seu programa de governo, sem ocorrer nenhuma flexibilização e, ainda, pode preencher os cargos públicos com os melhores profissionais de cada setor. A implantação do presidencialismo soberano passa por pequenas mudanças na atual legislação. Destarte, o mandato de Senador da República deve ser reduzido para quatro anos, assim o partido ou coligação do Presidente da República eleito fica com duas cadeiras de Senadores em cada Estado da Federação e do Distrito Federal e os partidos de oposição, que perderam a eleição para o poder executivo, preenche o restante das cadeiras do Senado Federal. Em ambos os lados, são preenchidas as vagas por ordem decrescente da votação individual de cada candidato e não será considerado o voto na legenda. 75 Ademais, o preenchimento das cadeiras do parlamento será pelo partido ou coligação e com o mesmo percentual da votação para o cargo do poder executivo no primeiro ou segundo turno das eleições, por maioria absoluta. Os restantes das vagas serão preenchidos pelos partidos de oposição que perderam a eleição do cargo executivo. Em ambos os lados, são preenchidas as vagas por ordem decrescente de votação individual dos candidatos, sem estabelecimento de votação mínima e não será considerado o voto na legenda. No município sem necessidade de segundo turno, o candidato vencedor para o cargo executivo, por maioria simples, ou no empate, fica automaticamente com 51% (cinquenta e um por cento) das cadeiras do parlamento para seu partido ou coligação e o restante para oposição. Os preenchimentos das vagas são também por ordem decrescente de votos individuais para ambos os lados. A implementação do sistema presidencialista soberano, associado ao sistema de votação transparente e com voto impresso, acaba, definitivamente com o descontentamento popular com o resultado, traz apaziguamento ao povo e crescimento do produto interno bruto de acordo com a política de cada grupo no poder. Assim, o povo pode avaliar cada gestão e mudar quando houver desvio da proposta vencedora ou até mesmo insatisfação com o resultado. Aliado ao sistema presidencialista soberano, a legislação deve impor de forma obrigatória ao eleito, a implementação do seu programa de governo, sob pena de perder o mandato. Não obstante, o controle de todo o mandato do representante será através dos eleitores com poder para cassar os mandatos dos eleitos e dos indicados no descumprimento da ordenança popular. Além disso, o poder soberano é do povo brasileiro e para exercer esse direito deve-se assegurar a iniciativa popular na elaboração de leis, sem ocorrer nenhuma alteração pelo parlamento, exceto de inconstitucionalidade. Por fim, o sistema presidencialista soberano devolve ao povo prerrogativa de decidir seu próprio destino 76 BIBLIOGRAFIA ABRANCHES, Sergio Henrique Hudson de, Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional brasileiro, Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, V.31, N1, 1988, P.5-34. AMARAL JUNIOR, José Levi Melo, 20 anos de Constituição Brasileira de 1988. A Constituição foi capaz de limitar o poder. In Moraes Alexandre de (Org). Os 20 anos da Constituição da República Federativa do Brasil, São Paulo, Editora Atlas, 2009. AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado, 1ª edição, São Paulo, Editora Globo, 2000. AZAMBUJA, Darcy. Introdução a Ciência Política, 2ª edição, São Paulo, Editora Globo, 2008. ANDRADA, Bonifácio de, A crise dos partidos do sistema eleitoral e a militância política, 1ª edição, Barbacena, UNIPAC, 2006. ARISTOTELES. A Política. Tradução: Roberto Leal Ferreira, 2ª edição, São Paulo, Editora Martins fontes, 1998. ALMEIDA, Luís de, Direito civil brasileiro, volume II, 1ª edição, São Paulo, Editora Lux, 2021. ALMEIDA, Luís de, Direito civil brasileiro, volume I, Um passo além da história,1ª edição, São Paulo, Editora Lux, 2020. ALMEIDA, Luís de, Corrupção brasileira, 1ª edição, São Paulo, Editora Fontenele Publicações, 2019. BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional, 30ª edição, São Paulo, Editora Malheiros, 2015. BONAVIDES, Paulo. Ciência política, 10ª edição, São Paulo, Editora Malheiros, 1994. BONAVIDES, Paulo. Ciência política, 26ª edição, São Paulo, Editora Malheiros, 2019. BONAVIDES, Paulo. Teoria geral do estado, 11ª edição, São Paulo, Editora Malheiros, 2018. BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa. 1ª edição, São Paulo, Editora Malheiros, 2003. BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República do Brasil, DF: Senado Federal. Centro Gráfico,1988. 77 BRASIL, Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, Código Eleitoral. Diário Oficial da União, Brasília, DF, publicado no DOU de 19-07-1965 e retificadono DOU de 30-07-1965. BRASIL, Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998, Regulamenta a execução do disposto nos incisos I, II e III do artigo 14 da constituição Federal. Diário Oficial da União, DF, publicado no DOU de 19-11-1998. BRASIL – Tribunal Superior Eleitoral. Resolução n.16.336, de 1990. Fixa o número de deputados a câmara dos deputados e as assembleias legislativas. Disponível em www.tse.gov.br, Acessado em 17/10/2023 às 16:00 horas. BRASIL – Conselho Nacional de Justiça - https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4015, acessado em 17/10/2023 às 12:00 horas. BROSSARD, Paulo. O “Impeachment”, 2ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1992. BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Tradução: Calos Nelson Coutinho, 1ª edição, Rio de Janeiro, Editora Campus, 1991. BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significado de uma distinção política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira, 2ª edição, São Paulo, Fundação UNESP, 1995. BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: fragmento de um dicionário político. Tradução: Marco Aurélio Nogueira, 27ª edição, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 2022. CALDEIRA, Violeta Santi; SANTOS Marcel Albiero da Silva. Uma introdução a política, estado de direto, democracia e instituições da justiça. Curitiba, Editora Intersaberes, 2023 (2 MB, PDF). CLÉVE, Clémerson Merlim. Atividade legislativa do poder executivo, 2ª edição, São Paulo, 1988. CARVALHO, Kindave Gonçalves. Direito constitucional, VOL.I, 20ª edição, Belo Horizonte, Editora Del Rey, 2013. CAMPOS, Roberto de Oliveira, Analogia do bom senso, Rio de Janeiro, Topbooks Editora, 1996. COSTA, Nelson Nery. Curso de ciências políticas, 1ª edição, Rio de Janeiro, Editora Forense, 2001. CERQUEIRA, Thales e Camila. Direito eleitoral esquematizado.1. São Paulo, Editora Saraiva, 2011. DUVERGER, Maurice. Ciências política teoria e método. Tradução Heloisa de Castro, 1ª edição, Rio de Janeiro, Editora Zahar, 1962. DUVERGER, Maurice. Os partidos políticos. Tradução Cristiano Monteiro Oiticica, 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Zahar, 1970. http://www.tse.gov.br/ https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/4015 78 DE CICCO, Claudio; GONZAGA Álvaro de Azevedo. Teoria geral do estado e ciência política, 9ª edição, São Paulo, Editora Thomson Reuters Brasil, 2022. DANTAS, Paulo Roberto de Figueredo. Curso de direito constitucional, 6ª edição, Indaiatuba-SP, Editora Foco, 2021 (Capítulo 6). FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. A democracia no limiar do século XXI, São Paulo, Editora Saraiva, 2001. FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. O parlamentarismo, São Paulo, Editora Saraiva, 1993. FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. O processo legislativo, São Paulo, Editora Saraiva, 2002. FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de teoria geral do estado e ciência, 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Forense Universitária, 1997. FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de teoria geral do estado e ciência, 9ª edição, Rio de Janeiro, Editora Forense Universitária, 2015. FERREIRA, Manuel Rodrigues. A evolução do sistema eleitoral brasileiro. Ed. Rev. e Alt, Brasília, TSE/SDI, 2005. FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do patronato político brasileiro, 5ª edição, São Paulo, Editora Globo, 2012. GOMES, José Jairo. Direito eleitoral, 19ª edição, São Paulo, Editora Atlas, 2023. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem, São Paulo, Editora Zahar, 2014. HANS-ADAM II, O estado no terceiro milênio. Tradução: Heloisa Gonçalves Barbosa, 1° edição, Rio de Janeiro, editor Antônio Pedro Goulart, Capivara Editora, 2015. JUNIOR, Miguel Reale. Brasil/93, a hora do parlamentarismo, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1993. JUNIOR, Hilário Franco. A idade média: Nascimento do ocidente, São Paulo, Brasiliense Editora, 2006. LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. Livro II, segundo tratado 1, 1ª edição, São Paulo, Editora Martins Fontes, 1689. LEITE, Fernando. Ciência política, da antiguidade aos dias de hoje, 1ª edição, Curitiba, Editora Intersaberes, 2016. MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Barão da la Bréde e de. O espírito das leis. 3ª edição, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2005. 79 MORAIS, Carlos Blanco de. Curso de direito constitucional – tomo I: A lei e os atos normativos no ordenamento jurídico português, centro de investigação da faculdade de direito de Lisboa, Coimbra, 2008. MORAIS, Alexandre de. Direito constitucional, 35ª edição São Paulo, Editora Atlas, 2019. MIRANDA, Jorge. Formas e sistemas de governo, 1ª edição, Rio de Janeiro, Editora Forense, 2007. MAINWARING, Scott P. Sistemas partidários em novas democracias: o caso do Brasil: tradução Vera Pereira, Rio de Janeiro, Editora FGV, 2001. MELO, Monica de. Plebiscito, Referendo e Inciativa Popular, Porto Alegre, editor Sergio Antônio Fabris, 2000. MALUF, Sahid. Teoria geral do estado, 24ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 1998. MALUF, Sahid. Teoria geral do estado, 36ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2023. MENDES, Ferreira Gilmar. Direitos fundamentais e controle de constitucionalidade, estudos constitucionais, 4ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2012. MAQUIAVEL, Nicolau, o príncipe. Tradução: Fulvio Lubisco, 6ª edição, São Paulo, Almedina Editores, 2007. NOVAIS, Jorge Reis, Semipresidencialismo, teoria do sistema de governo semipresidencialista, 3ª edição, Coimbra, Editora Almedina, 2021. PIÇARRA, Nuno. A separação dos poderes como doutrina e princípio constitucionais: um contributo para o estudo das suas origens e evolução, Coimbra, Editora Coimbra, 1989. PRESIDENCIALISMO de coalizão e crise de governança, conjuntura política, Associação Brasileira de Ciência Política – ABCP, departamento de ciência política – UFMG. (www.cevep.ufmg.br) ABCP, 2001, acessado 17/10/2023, às 10:00 horas. QUEIROZ, Cristina. O sistema de governo semipresidencialista, Coimbra, Editora Coimbra, 2007. ROCHA, Luiz Alberto G.S. Estado, democracia e globalização, Rio de Janeiro, Editora Forense, 2008. ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários, Curitiba, Editora Intersaberes, 2017 (livro eletrônico). RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. Tribunal superior eleitoral, 17ª edição, Niterói, Ímpetus Editora, 2019. http://www.cevep.ufmg.br/ 80 REIS, Marlon, Coleção esquematizado – direito eleitoral, coordenado por Pedro Lenza, 1ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2023. SOUZA, Ricardo Gonçalves. Ciência política e direito: da evolução do estado desde a antiguidade até os dias atuais, Revista Jus, disponível em 16/04/2018. SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo, 25ª edição, Revista e atualizada nos termos da reforma constitucional n° 48, São Paulo, Editora Malheiros, 2005. SILVA, Jose Afonso. Curso de direito constitucional positivo, 40ª Edição, Revista e atualizada nos termos da reforma constitucional nº 95, São Paulo, Editora Malheiros, 2017. SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização, 6ª edição, Curitiba, Editora Intersaberes, 2022. TORRES, João Camilo de Oliveira. O presidencialismo no Brasil, 1ª edição, Rio de Janeiro, Editora Câmara, 2021. VICTOR, Sergio Antônio Ferreira. Linha de pesquisa: presidencialismo de coalizão: exame do atual sistema de governo brasileiro, 1ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2015. VELLOSO, Carlos Mario da Silva; AGRA, Walber de Moura. Elementos de direito eleitoral, 8ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2023. UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA INTRODUÇÃO CAPITULO 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SISTEMA DE GOVERNO 1.1- Forma de governo na antiguidade - monarquia 1.2- Forma de governo no Feudalismo – Monarquia 1.3- Forma de governo na idade moderna – Monarquia 1.4- Forma de governo na idade contemporânea 1.4.1 – Estado Liberal 1.4.2-Decadência do Liberalismo 1.4.3- Estado Social 1.4.4- Estado Comunista 1.4.5- Estado democrático CAPITULO 2 A VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA PARLAMENTAR Compreende-se desde logo que a Inglaterra da época, fracionada em feudos dominados pelos Barões e outros nobres, tinha nesses a verdadeira fonte do poder, já que grande parte dos recursos de armas e homens era por eles fornecida à coroa, sobretudo na ... CAPITULO 3 A VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA PRESIDENCIALISMO Dessa forma, esse sistema está desenhado para o povo escolher seu representante compromissado com tais direitos mínimos. Caso contrário, o representante perderia o mandato. A consolidação desse sistema com limitação ou compromisso com os direitos mín... Assim, o poder legislativo tornou-se o único poder capaz de aprovar leis para mudar a situação da sociedade, no sentido de atender cada vez mais as necessidades crescentes da população. Ademais, na teoria a separação de poderes o fundamento para obter êxito nas políticas públicas, em atendimento a vontade popular é uma prioridade. Assim, existe a necessidade da ideia de equilibro entre os poderes, o sistema de freios e contrapesos, ... Ainda pior, a realidade nos últimos anos, as prioridades e interesses de grupos políticos mudaram o sistema idealizado por Montesquieu, criado para melhorar as condições das sociedades subordinadas. Assim, as negociações parlamentares necessárias par... Todavia, no sistema presidencialista os interesses coletivos são prioridades absolutas e devem ser respeitadas pelos poderes executivo e legislativo. No entanto, a realidade fática revela uma situação adversa e até inversão de valores ocorrem, tudo i... Diante do exposto, fica evidenciado o interesse dos políticos em detrimento da vontade popular, consolidando, portanto, a prioridade do sistema do governo em atender em primeiro lugar os grupos políticos com distribuição de cargos públicos ou troca d... Carlos Blanco de Morais afirma que a separação rígida dos poderes propostas por Montesquieu nunca teve efetiva aplicação. Na verdade, da vivência no poder concluiu o professor português: ocorre uma interdependência entre os poderes. No entanto, a int... Porém, a reclamação da sociedade é porque a interdependência gera privilégios para estabilidade e permanência no poder de um grupo político de forma continuada e o povo passa necessidade do mínimo para viver com dignidade humana. No presiden... Assim, a maior vantagem do sistema presidencialista é a eleição de um candidato à Presidência da República com liderança nacional, que concede legitimidade para o executivo implementar sua política de governo vitoriosa nas urnas. No entanto, em eleiç... Destarte, essa situação dividida, também está presente no parlamentarismo, sendo uma oposição forte e impeditiva ao avanço da proposta vencedora nas urnas. Diante desse contexto, a única alternativa para o presidente eleito é negociar, ajustar, fazer... É evidente que mesmo com tantos erros e dificuldade de compor com o legislativo, ainda a democracia é o melhor caminho para o exercício do poder público. O lado oposto já comprovou ineficaz, além das possibilidades de rupturas, ideias totalitárias, t... Complementa Norberto Bobbio, que o estado de guerra foi substituído pelo estado de paz. As distorções institucionais evolvendo os poderes executivo e legislativo são praticamente comuns em sistemas interdependentes. Porque o poder soberano do povo é transferido aos poderes executivo e legislativo por um período delimitado e o povo fica ... As desvantagens do sistema presidencialista e a crença do povo em eleger um salvador da pátria, as vezes esse candidato faz promessas messiânicas e impossíveis suas implementações durante o mandato, ainda mais difícil, com um parlamento fragmentado d... Ferreira Filho complementa o pensamento desfavorável ao presidencialismo atual. Por esse motivo, ocorre um certo desconforto em votar para uma grande parte dos eleitores brasileiros. Acrescenta-se ainda, a crença que nenhuma mudança vai ocorrer. Diante disso, as abstenções crescem com o tempo à medida que os acordos políticos s... É evidente o crescimento das necessidades do povo, para isso, o caminho de redução dos gastos públicos é uma forma de sobrar recursos para investimento em políticas públicas sociais. No entanto, mesmo prometendo o enxugamento da máquina administrativ... Outra questão que distancia o eleitor dos empossados, ocorre porque a maioria vota no partido e não no candidato pessoalmente. Assim, o chamado voto de legenda é um mecanismo de eleição indireta do parlamento, pois muitos candidatos são beneficiados ... Diante ao exposto, nessa época contemporânea, exige-se mudança no modelo de participação do eleitor nas decisões durante o mandato. Logo, uma decisão do parlamento contrária às promessas durante a campanha eleitoral, deveria ser impedida a sua efetiv... Do sistema presidencialista em combinação com o parlamentarismo surgiu o denominado semipresidencialismo. Há várias combinações e diferenças de um país para outro, principalmente na forma da divisão do poder central, podendo ainda, ser uma ... Poucos países adotam esse modelo, sendo ainda, que o seu êxito está diretamente relacionado aos partidos políticos com ideologia claras e definidas, atuação forte e com alta responsabilidade e representatividade na sociedade. Atualmente, esse... A grande maioria dos países adotam o sistema presidencialismo ou monarquia parlamentar. No entanto, destaca-se as monarquias islâmicas absolutas e teocráticas presentes em vários países. CAPITULO 4 PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO CAPITULO 5 PRESIDENCIALISMO SOBERANO 5.1. Caracterização do Sistema do Presidencialismo Soberano 5.2 Mudanças necessárias para implantar o presidencialismo soberano. 5.2.1 Redução do mandato de Senador da Republica 5.2.2 Sistema de Votação 5.2.3 Preenchimento de cadeiras legislativas 5.3 Eleição no presidencialismo soberano 5.4 Programa mínimo de governo 5.5 A efetividade das propostas vencedoras 5.6 Perda de Mandato por via Direta 5.7 Iniciativa popular 5.8 Partidos Políticos CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIAurnas, instabilidade do governo, etc. Esse modelo foi chamado de governo de coalizão pelo escritor Sergio Henrique Abranches. Diante ao exposto, no capítulo 5 é apresentada a proposta para resolver as distorções institucionais do sistema presidencialista de coalizão e do parlamentarismo. Destaca-se no atual modelo, a necessidade do Presidente da República de formar uma maioria no Congresso Nacional é uma prioridade absoluta. Assim, o governo eleito é obrigado a flexibilizar suas propostas vencedoras na eleição, para compor 11 com outros partidos políticos e desatende os seus eleitores. A diferença da implementação do governo e a proposta da campanha eleitoral é a primeira reclamação da sociedade. Em seguida, o preenchimento dos cargos de primeiro escalão é dividido entre os partidos da base do governo. A partilha dos cargos não é o problema, afinal quando feito de forma republicana e transparente não há distorção. Contudo, as indicações de políticos para cargo de direção, sendo na maioria das vezes, o indicado sem o perfil técnico para a pasta, gera desconfiança do eleitor, pior ainda, é o resultado dessa indicação: má gestão pela incompetência ou desvio de recursos públicos. Destarte, a solução para este anacrônico sistema passa necessariamente pelo voto popular alinhado com os poderes executivo e legislativo. Assim, a proposta do presidencialismo soberano traz a solução para essas questões, ou seja, Presidente da República eleito garante o mesmo percentual da sua eleição no parlamento, sendo a outra parte preenchida pelos partidos ou coligações perdedoras da eleição para o executivo e vão formar a oposição. Em arremate, é apresentada uma conclusão sobre a necessidade de mudança no sistema de governo vigente, principalmente pelo crescimento da insatisfação da grande maioria da sociedade com as atuais gestões públicas, a falta de interesse em votar pela crença que nada muda na política, a dificuldade cada vez maior de compor proposta para formar a maioria no parlamento, cujo objetivo seria sanar os problemas da violência urbana, o desemprego e a falta de recursos financeiros para investimento no social. Em contrapartida, o aumento dos gastos do governo é constante. Além do mais, falta ainda, acabar com os casos de desvios de finalidades, corrupção sistêmica e má gestão nos governos constituídos no modelo presente. É sabido que, a falta de enfrentamento destas questões, podem resultar em revoltas populares, basta observar, os levantes sociais ocorridos em sistemas de governos que não atenderam as necessidades mínimas e básicas do povo. Em virtude do exposto, torna-se necessário e urgente avaliar o sistema presidencialista soberano em substituição ao atual modelo de presidencialismo puro ou de coalizão. 12 CAPITULO 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SISTEMA DE GOVERNO 1.1- Forma de governo na antiguidade - monarquia Desde as primeiras famílias constituídas até a nação mais desenvolvida, existe a necessidade de uma ou grupo de pessoas e através de uma forma ou sistema de governo, responsáveis pela tomada das decisões pelo coletivo e com obediência absoluta do povo. No primeiro sistema de governo, os costumes, os rituais religiosos eram transmitidos pelo pai, oralmente, ao primogênito, esse filho tinha o dever e obrigação de continuidade e defesa da família “pater”. A lei ou os costumes passava oralmente de pai para filho. Ninguém sabe ou antes se ignora a data de sua origem, contudo não se dúvida de que foram estabelecidos para a eternidade, pelos deuses. (FERREIRA FILHO, 2002, p.24) 1. Observa-se que a primeira forma de governo foi oriunda do pátrio poder. Nesse modelo o poder estava concentrado e exercido pelo chefe da família. Portanto, o poder do líder envolvia a vida religiosa e quaisquer outros aspectos dos membros da família. O poder ainda, era exercido de forma totalitária, sendo este líder: o juiz, censor de costumes e o poder executivo. Desse modo, concluiu-se, que a primeira forma de governo foi monarquia no âmbito familiar. A obediência era uma condição de sobrevivência na sociedade familiar. Pois, o soberano tinha poder ilimitado, inclusive para tirar a vida de uma pessoa do grupo familiar, por essa razão, não existia a mínima possibilidade de discussão ou flexibilização do poder “pátrio” familiar. O homem desde que nasce e durante toda a vida, faz parte simultânea ou sucessivamente de diversas instituições ou sociedades, formadas por interesses materiais ou espirituais (AZAMBUJA, 2000, p. 1)2. 1 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. O processo legislativo. 2 AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. 13 Contudo, as necessidades familiares foram aumentando com o tempo e ocorreu a união de famílias em torno de interesse comum e social, embora preservado ainda, a questão religiosa de culto de forma individual para seus deuses. O poder de governo, sob o ponto de vista social, político ou jurídico precisou sempre de crenças ou doutrinas que justificassem, tanto para legitimar o comando quanto para legitimar a obediência (MALUF,2023, p.75)3. Outras uniões ocorreram e formou-se as cidades. Assim, houve também a necessidade de defesa de interesses comuns das famílias. Entretanto, as guerras constantes entre os povos e o desejo de paz, principalmente para as grandes famílias, tribos e depois nas cidades deram início ao sistema de segurança, desempenhado por um rei ou imperador sobre todos. Esse grande pacto flexibilizou o poder dos senhores das grandes famílias, principalmente para aceitarem um governo central responsável pela defesa da região. A necessidade de unir forças para defesa do território e das próprias pessoas do grupo familiar formou uma espécie de “estado”. O estado romano tinha a sua origem, efetivamente, na ampliação da família. A família era constituída pelo pater, seus parentes agnados, os parentes destes, os escravos (servis) e mais os estranhos que se associavam ao grupo (MALUF, 2023, p.117)4. Essa comunidade estreitou relacionamentos sociais e a sociedade cresceu, objetivada nos aspectos políticos e sociais, de acordo com a opinião de Sahid Maluf. Apoia-se esta escola nos ensinamentos de Aristóteles: o homem é um ser eminentemente político; sua tendência natural é para a vida em sociedade, para a realização das superiores formas associativas. No espírito associativo da gênese da “polis” (estado da Grécia antiga). A família é a célula primária do Estado; a associação da família constitui o grupo político menor; a associação destes grupos constitui o grupo maior, que é o Estado (MALUF, 2023, p. 93)5. Nada obstante, os impérios que se formavam também sofriam com invasões de outros povos. Na verdade, não eram estados organizados, pois reuniam povos de 3 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 4 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 5 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 14 diferentes raças conquistados e escravos (agrupamento humanos heterogêneos). A renúncia de direitos iniciais foram aumentando em virtude da necessidade de recolher recursos para manter o exército que defendia todas as famílias ou eram subjugados por invasões. Em vista disso, ocorria a submissão total ao rei defensor ou a outros reis ou imperadores. No final, os imperadores dominavam a população e acumulavam as funções militares, judicial, sacerdotal como representante da própria divindade na terra, de forma vitalícia e hereditária. Os povos viviam constantemente em guerra. O imperador que triunfasse em maior número de batalhas anexava os territórios conquistados e escravizava as populações vencidas, formando um grande império com plena hegemonia sobrevastas e determinadas regiões (MALUF, 2023, p. 110)6. Contudo, uma pequena luz da democracia existiu nesse período antigo: Estado de Israel, que era uma espécie de democracia, pois todos os indivíduos gozavam da rede de proteção do rei e da lei. O Estado Grego, embora monárquico, mantinha um conselho de anciões para consulta. Na “polis” no Estado Grego teve início o governo republicano, com base nas leis e chegou a incluir um Senado em cada cidade, ainda, assembleias regionais e assembleia geral dos estados gregos. José Geraldo Brito Filomeno descreve esse momento como um avanço nas relações sociais da época. Ou seja, o fenômeno decisório, de mando e aplicação das normas de conduta, era circunscrito nos muros da cidade estado, cada qual com suas peculiaridades próprias (FILOMENO, 1997, p.9)7. O primeiro estado romano tinha a forma de governo da monarquia do tipo patriarcal e sua sucessão operou da hereditariedade para república. Os poderes foram divididos com a realeza que dominavam os cônsules, a aristocracia exercia os poderes do senado e a democracia pelo povo nos comícios. A antiguidade se estendeu desde o aparecimento da escrita até o século V da Era Cristã e a forma de governo foi invariavelmente a monarquia absoluta teocrática. 6 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 7 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de teoria geral do estado e ciência. 15 O que caracterizava o estado no antigo oriente apesar de uma ou outra peculiaridade, foi o caráter sacro e religioso do poder, sendo o soberano considerado divino e filho dos deuses (DE CICCO,2022, p.188)8. A ditadura existiu nesse período como forma de enfrentar os perigos da cidade, principalmente pelas invasões de exércitos inimigos. Assim, os cônsules nomeavam um ditador com poderes ilimitados para combater os invasores. Esse sistema tornou- se uma forma de governo imperial absoluto e acabou com os direitos públicos individuais, até mesmo, a liberdade religiosa e se apresentou como forma de governo perene para manter a paz. 1.2- Forma de governo no Feudalismo – Monarquia A desagregação do grande império romano no século V, gerou a divisão das terras em feudos entre os chefes guerreiros vitoriosos e o povo conquistado passou a trabalhar para o senhor feudal. Ademais, a noção de estado desapareceu com as divisões de terras dominadas pelos reis bárbaros. O senhor feudal tinha todos os poderes de chefe de estado, pois podia decretar e arrecadar tributos, administrava a justiça, expedia regulamentos e promovia a guerra. (MALUF, 2023, p.127)9. Portanto, o poder central passa a ser soberano sobre todos os proprietários de terras e a produção agrícola tem um papel importante para a subsistência da população (vassalos e servos). O costume do feudo, simbolizava a legislação do governo da época e não havia governo forte na idade média capaz de se encarregar de tudo (HUBERMAN,2014, p.8)10. Outrossim, O senhor feudal era autoridade máxima em seu feudo, porém fazia a vontade da igreja e dependia do poder soberano central para manter a paz e evitar as guerras. Dessa forma, o poder central retira a liberdade do povo e cobrava os pagamentos de tributos e medidas necessárias para intimidar os subordinados, 8 DE CICCO, Claudio; GONZAGA Álvaro de Azevedo. Teoria geral do estado e ciência política. 9 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 10 HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 16 consolidando assim, o sistema ou a forma de governo da monarquia absoluta, teocrática e com sucessões hereditárias. O Estado medieval que emergiu das invasões bárbaras cristalizou-se em torno da Igreja romana. Sobrevivei esta à ruina do poder temporal, ostentando, vigorosa, a força do seu prestigio, como refúgio para o espírito dos homens nos momentos mais graves da história da humanidade. (MALUF, 2023, p.129)11. Durante o século XI ao XIII, o feudalismo atingiu seu apogeu, principalmente, nas regiões que atualmente corresponde à Alemanha, à França e norte da Itália. A marca maior desse período foi a união da Igreja e o Estado. 1.3- Forma de governo na idade moderna – Monarquia O estado moderno ocorreu em meados do século XV a partir do declínio do feudalismo, uma reação ao enfraquecimento do Estado e contra o controle da Igreja Romana e, ainda, para evitar a destruição total e pela sobrevivência do povo. Haja vista, que houve a necessidade de realização de um grande pacto para a centralização do poder na forma monárquica e, assim, trazer o fim das guerras constante e paz para a região. A monarquia absoluta predominou até o século XVIII, com a participação ou interferência direta da igreja. Então, houve a fusão de princípios religiosos e das leis impostas pelo governo com poder absoluto e sucessões por laços de sangue, principalmente na Espanha, França e Áustria. Até a revolução americana, no final do século XVIII, poucos foram os estados grandes que atravessaram longos períodos de tempo sem instituir a monarquia hereditária. Roma, antes da era império, foi uma exceção. Com efeito, durante o período da republica romana, conflitos internos e as guerras civis tiveram como resultado a transformação da república em monarquia (HANS- ADAM, 2015, p. 64)12. Não obstante, com o crescimento urbano e o fim do isolamento feudal, as organizações políticas dos reinos sofrem grandes mudanças por influência do comércio praticado pela classe burguesa e ocorreu o enfraquecimento dos senhores 11 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 12 HANS- ADAM, O estado no terceiro milênio. 17 feudais. Destarte, os estados nacionais são mais bem definidos em toda Europa: Espanha, França, Áustria e nos países mais tradicionais católicos. Assim, o poder dos senhores feudais decaiu, diretamente ameaçado pela extinção gradual da servidão. O resultado disso foi o deslocamento da coerção política, em um sentido ascendente rumo a uma cúpula dotada de poder centralizado e militarizado: o estado absolutista (SOARES, 2022, p.100)13. É sabido que os eventos decisivos foram concentrados na revolução Francesa de 1.789, na revolução industrial nos Estados Unidos e Inglaterra. Ademais, deram início a flexibilização do poder monárquico absoluto. A classe burguesa detentora de riqueza, adquire força financeira suficiente para assumir o poder político. Por conseguinte, as modificações foram introduzidas gerando novos sistemas de governo: parlamentarista, presidencialismo ou blendas de ambos ou ainda variações de regime autoritários por via civil ou religiosa. Paulo Bonavides faz o seguinte comentário sobre a revolução francesa, tratando esse movimento como sendo o principal acontecimento para mudança de governo da época. Esse poder novo, oposto ao poder decadente e absoluto das monarquias de direito divino, invoca a razão humana ao mesmo passo que substitui Deus pela nação como titular da soberania. Nasce assim, a teoria do poder constituinte, legitimando uma nova titularidade do poder soberano e conferindo expressão jurídica aos conceitos de soberania nacional e soberania popular (BONAVIDES, 2015, p. 143)14. A revolução popular baseou-se nas ideias liberais de John Locke que pregava a limitação do poder do rei e pela soberania popular, com isso, ocorreu a limitação do poder soberano, ou seja, a divisão do poder central e acabou os abusos. Luiz Alberto Rocha apresenta, de forma bem clara e objetiva, as estratégias de conquista de novos mercados consumidores e aumento da lucratividade da classe burguesa. Essa força financeira levou a divisão do poder do rei e uma configuração global do comércio. Os projetos ultramarinos de Portugal e Espanha no final doséculo XV, a estrutura manufatureira e de comércio de especiarias das cidades do norte italiano com a expansão mineral nas américas no século XVI, o fortalecimento econômico, político e social da burguesia, na formação dos estados nacionais centralizando o poder europeu com a 13 SOARES, Mario Lucio Quintão. Teoria do estado novos paradigmas em face da globalização. 14 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18 colonização e o surgimento do mercantilismo nos séculos XVII e XVIII (ROCHA, 2008, p.81)15. Diante ao exposto, nasce um novo modelo de sociedade, aparece o direito individual e a lei torna-se positivada. Ademais, o Estado assegura o cumprimento das leis e dos direitos individuais. Assim, estado de direito foi uma reação ao absolutismo da monarquia que era caracterizada pela inexistência dos direitos e liberdades individuais. 1.4- Forma de governo na idade contemporânea 1.4.1 – Estado Liberal O estado liberal emergiu na Inglaterra e defendia o conceito natural do humanismo e acima de tudo de igualdade política. A ideia liberal divide o poder em três fragmentados distintos, assegura os princípios de igualdade política sem distinção de classe, raça, sexo ou crença e com igual oportunidade de enriquecimento. JOHN LOCKE (1632 – 1704) desenvolveu o contratualismo em bases liberais, opondo ao absolutismo de Hobbes. Foi Locke o vanguardeiro do liberalismo na Inglaterra. Em sua obra Ensaio sobre o governo Civil – 1960, em que faz a justificação doutrinaria da revolução inglesa de 1688 (MALUF, 2023, p. 84)16. Ainda, o sistema nasce com liberdade religiosa, independência do Chefe de Governo e atribuições ao Chefe de Estado pela regulamentação e exercício das relações externas. Além disso, o pensamento de divisão de tarefas do soberano foi essencial para a separação de poderes ou funções, também, contribuiu para a separação de poderes o crescente pensamento dos direitos individuais, como por exemplo: direito à vida, à liberdade, à propriedade adquirida legalmente, os julgamentos imparciais e a criação de uma força pública que assegurassem esses direitos, inclusive contra a vontade do monarca. Porquanto, o monarca ao aceitar esses direitos e regras, houve naturalmente limitação e divisão de seus poderes, assim, manteve-se soberano em parte com 15 ROCHA, Luiz Alberto G.S. Estado, democracia e globalização. 16 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 19 funções relacionadas ao Chefe de Estado e o parlamento se encarregou de formular as leis para garantias mínimas de direitos individuais. Haja em vista, que o desenho do sistema parlamentar Inglês foi consolidado no século XVIII e serviu de modelo para vários países da Europa, com mudanças pontuais com relação a divisão de poderes entre o executivo e legislativo. No entanto, foi mantido a principal mudança: as leis somente teriam validade quando aprovada pelo parlamento e, por isso, surgiu o equilíbrio dos poderes no já conhecido sistema de freios e contrapesos defendido por Montesquieu. Carlos Blanco de Morais afirma que a separação Inflexível de poderes proposta por Montesquieu nunca teve na pratica uma efetividade absoluta. Na vivência dos poderes revela uma interdependência. Essa questão é verificada no interesse coletivo para discutir as propostas, melhorar a economia e acabar com a situação de pobreza. Por outro lado, essa interdependência traz, infelizmente a prioridade do interesse de grupos políticos em detrimento do interesse social (MORAIS, 2008, p.39-40)17. 1.4.2- Decadência do Liberalismo O fracasso do modelo liberal ocorreu com o advento da revolução industrial que mudou todo o cenário social e político. A crítica foi muito contundente em razão de haver operário de fábrica, obrigado a aceitar um salário miserável e uma carga de trabalho insuportável. Diante dessa situação, a solução desse desequilíbrio entre as classes sociais da época, veio com o parlamentarismo, socialismo, fascismo e o comunismo. Por este motivo, no mundo atual é possível verificar sistemas, formas e regimes de governos mistos ou com variações importantes de um país para outro. O sistema parlamentarista é comum em vinte e oito países, sendo o monarca constituído por hereditariedade ou um presidente eleito pelo voto popular que exerce a função de Chefe de Estado por um período. No sistema presidencialista é marcante a clara divisão entre o poder executivo e o legislativo e predomina em cinquenta e quatro países. Ambos os poderes são constituídos pelo voto popular. O sistema semipresidencialista é formado por uma blenda dos sistemas parlamentar e 17 MORAIS, Carlos Blanco de Curso de direito constitucional – tomo I: A lei e os atos normativos no ordenamento jurídico português. 20 presidencialista. A divisão de funções do poder executivo sofre variações de um país para outro de acordo com a vontade dos cidadãos. Na esteira da queda do liberalismo ocorreu o sistema totalitário. O Estado exerce o poder absoluto sobre o povo na vida civil e privada. Destaca-se nesse sistema, a monarquia absoluta oriunda de sucessões hereditárias ou por via religiosa. Ainda, existem variações desse sistema dependendo do grau e forma de sucessões nos poderes executivo e legislativo. Inclui nesse modelo, o comunismo que possui como regra uma ideologia social, geralmente as sucessões ocorrem por votação indireta e o controle político está concentrado em um único partido político. Destaca-se ainda, o surgimento dos sistemas autoritários das ditaduras diretas ou indiretas. Observa-se que todos os poderes concentram nas mãos de um Chefe do Governo, oriundo do meio civil ou militar, ambos os chefes tem apoio incondicional das forças armadas do país. 1.4.3- Estado Social Com a queda do liberalismo nasce várias vertentes de poder e, nesse cenário, destaca-se o socialismo em suas várias modalidades: fascismo, nazismo e estado social democrático. Tanto que, na segunda metade do século XIX as várias correntes socialistas se firmam no poder. A primeira guerra mundial trouxe espaço para os movimentos sociais, em virtude da concentração dos poderes militares nas mãos de pequenos grupos e ocorreu uma violenta transformação da ordem constituída. A revolução Russa atacou e acabou com a sociedade burguesa, aboliu a propriedade privada, ocorreu a nacionalização das fontes de produção e a instauração da ditadura do proletariado. 1.4.4- Estado Comunista O regime comunista teve continuidade após as guerras, enquanto outros regimes como por exemplo o fascismo e nazismo desapareceram. No comunismo inverte-se a ordem do poder e a soberania popular passa a centralizar o poder absoluto, por grupo de pessoas, que tem tanto os poderes executivo como o legislativo. Dessa forma, o controle do poder central passa para um partido político. 21 Assim, o conselho de operário assume o poder executivo ou outros grupos políticos, conforme modelo construído em cada país. Consoante, Hans- Adam o comunismo não resolveu e não trouxe solução as demandas de classe. A tentativa do comunismo de retornar ao modelo de distribuição igual e compartilhada da propriedade que era utilizada pelos caçadores coletores redundou em uma catástrofe econômica e política. O indivíduo já não tinha motivação para produzir novas riquezas a cada ano (HANS-ADAM, 2015, p. 124)18. Nesse sistema de poder há controle absoluto da forma de sucessões, através de partido político único, que representa a vontade popular. Aliás, forma-se assim, a ditadura classista e hereditária ou eleição de membro do partido único ou grupo militar. Enfim, a concentração do poder total está nas mãos do chefesupremo e há restrições às liberdades e censura. 1.4.5- Estado democrático Nas antigas civilizações, nos estados grego e romano ocorreram as primeiras manifestações de democracia. Assim, houve uma manifestação popular para defesa dos seus próprios interesses. A democracia tem como sustentação principal a igualdade entre as pessoas e o direito de decidir seu destino, através de uma maioria consolidada. Ademais, a igualdade jurídica é base indispensável para construir uma sociedade justa, sem discriminação de raça, cor de pele, religião, ideologia, posição social e outros preconceitos que afetam a dignidade da pessoa humana. Outrossim, a igualdade do sufrágio que reafirma o valor unitário do voto de cada cidadão, do acesso à cultura, do padrão mínimo de sustentação da vida e liberdade de expressão. Além do mais, o regime democrático é uma oposição clara à forma autoritária da escolha do chefe do poder executivo e dos membros do poder legislativo. Na democracia o poder é do povo, que exerce esses poderes através de eleições diretas ou indiretas e os eleitos representam o povo nos poderes executivo e legislativo. Jose Afonso Silva define a democracia representativa contemporânea da seguinte forma: 18 HANS-ADAM, O estado no terceiro milênio. 22 A democracia representativa pressupõe um conjunto de instituição que disciplinam a participação popular no processo político que vem formar os direitos políticos que qualificam a cidadania, tais como as eleições, o sistema eleitoral, os partidos políticos, etc. (SILVA, 2005, p.138)19. Na república o chefe de governo e os parlamentares exercem os poderes durante o mandato. Bem como, as eleições são periódicas e os candidatos são eleitos, conforme determina a constituição e através de partidos políticos. Entretanto, a representatividade em todos os sistemas de governo é diversificada e, portanto, ocorre muita dificuldade para a implementação de medida de interesse popular, em virtude da imprescindível negociação para formar maioria para a governabilidade. Diante ao exposto, os especialistas em política estão debruçados nos estudos, com objetivo de encontrar uma solução para eliminar o fisiologismo da política, razão pela qual, este trabalho traz uma proposta do sistema do presidencialista soberano, ou seja, para devolver o poder soberano ao povo, no exercício do voto e no decorrer do mandato dos representantes, segundo descrito no capítulo 5. CAPITULO 2 A VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA PARLAMENTAR Grande parte dos escritores e especialistas em sistema de governo são unânimes em afirmarem que o início do parlamentarismo ocorreu na Inglaterra, oriundo das ideias do escritor John Lock. É sabido também, que ocorreu algumas adaptações do modelo de Montesquieu. No entanto, o principal fato dessa mudança, foi o enfraquecimento dos poderes dos senhores feudais, com surgimento do comercio, conforme esclarece Jose Geraldo Brito Filomeno. Compreende-se desde logo que a Inglaterra da época, fracionada em feudos dominados pelos Barões e outros nobres, tinha nesses a verdadeira fonte do poder, já que grande parte dos recursos de armas e homens era por eles fornecida à coroa, sobretudo na guarda do 19 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 23 território, constantemente ameaçada pelos povos do continente, e a guerra santa das cruzadas (FILOMENO,1997, p. 178)20. No século XVIII consolidou-se o sistema parlamentarista na Inglaterra com a separação do poder do Monarca. Esse sistema foi espalhado para outros países da Europa, guardadas algumas mudanças na divisão do poder monárquico em cada país e nas sucessões, sendo por eleição ou por hereditariedade. Destarte, a divisão do poder monárquico em chefe de estado e chefe de governo trouxe equilíbrio ao modelo de governo constituído na Inglaterra. Além do mais, o princípio da responsabilidade política, aliado ao compromisso dos parlamentares com um projeto de governo, foi a principal sustentação desse sistema. Ainda, as sucessões ocorreram por eleições diretas para os parlamentares e por hereditariedade para o Monarca. Por fim, a maioria dos parlamentares eleitos tinham a responsabilidade de indicar ou eleger o Primeiro Ministro, responsável pela condução da política do governo. Por outro caminho, surgiu também nos Estados Unidos da América um sistema com divisão de poderes diretamente pela constituição e adotou como chefe de governo uma pessoa denominada de Presidente da República e com um legislativo bicameral. Destaca-se nesse momento da história, que em ambos os novos sistemas de governo, o executivo depende de aprovação de leis pelo poder legislativo. No entanto, o sistema de governo parlamentarista adotou uma solução rápida e eficaz para acabar com as crises governamentais. Não obstante, as crises são comuns em todos os sistemas de governo, pela dependência do poder executivo com relação ao poder legislativo, principalmente no tocante à aprovação de leis de interesse do governo e necessárias à implementação do projeto político vitorioso nas urnas. É sabido ainda, que no sistema parlamentar, a instabilidade dura pouco tempo, pois o mecanismo de dissolução do parlamento pode ocorrer quando não há acordo para formar a maioria no parlamento. Essa alternativa, chamada de voto de desconfiança, gera a substituição imediata do Primeiro Ministro ou a dissolução do parlamento e convocação de eleições antecipadas pelo Chefe de Estado ou pelo próprio gabinete parlamentar. Aliás, essa prerrogativa do sistema parlamentar é o 20 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de teoria geral do estado e ciência. 24 grande diferencial de outros sistemas de governo, principalmente em situação de crise. Sahid Maluf concorda que essa agilidade evita maiores tensões políticas e atrasos na implementação de projeto político de interesse do povo. Ao princípio da responsabilidade política do Ministério perante a representação nacional corresponde o da faculdade que tem o Chefe de Estado para dissolver o Parlamento em consulta a nação (MALUF, 2023, p. 289)21. Além de tudo, o sistema parlamentar pode sofrer variações quanto às funções e responsabilidades do Chefe de Governo, pois o Poder Executivo que exerce a função de governar o país, geralmente é denominado de Primeiro Ministro e o Chefe de Estado representa o país, podendo ser eleito ou assume o cargo por hereditariedade, assim complementa Sahid Maluf. A responsabilidade política do Ministério é promovida através das interpelações, votos de censura e moções de confiança ou desconfiança. Os trâmites desses processos são variáveis em cada país e decorrem dos preceitos constitucionais (MALUF, 2023, p.287)22 A execução do programa de governo fica a cargo do Primeiro Ministro e, também do parlamento que forma maioria em torno das propostas. Portanto, a governabilidade está garantida e assegurada a implementação das propostas de acordo com a maioria do parlamento. Todavia, uma análise mais criteriosa revela que os poderes executivo e legislativo formam um só poder, tendo em vista que ambos os poderes são constituídos por parlamentares. Segundo Karoline Mattos Roeder: “No sistema parlamentarista o executivo está subordinado ao legislativo” (ROEDER, 2020, p. 109)23. Em vista disso, é consenso no meio político, que a grande vantagem do sistema parlamentar é a estabilidade do governo, uma vez conduzido conforme acordado com a maioria dos parlamentares, não existe interrupção prejudicial ao andamento normal de implementação do projeto de governo. Ainda, outra vantagem é a substituição doPrimeiro Ministro por outra maioria parlamentar, que ocorre praticamente de imediato, mediante o voto de desconfiança dessa nova maioria parlamentar. 21 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 22 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 23 ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários. 25 Haja vista, o povo elege o parlamento pelo voto direto e esse parlamento eleito, escolhe o Primeiro Ministro e o gabinete ministerial é formado com os membros do próprio parlamento. Essas escolhas constituem uma vantagem adicional, pois todos ficam comprometidos com o projeto de governo estabelecido. Por derradeiro, a possibilidade de dissolver o parlamento em situação de impasse político e convocação de eleições antecipadas é uma forma de conscientização do povo e a intenção de manter o atual pensamento e projeto político ou mudar por outro de maior interesse da sociedade. Por outro lado, as desvantagens mais claras ocorrem quando o povo elege várias correntes políticas com ideologias diferentes. Diante dessa situação, onde nenhuma corrente possui a maioria absoluta, tornam-se necessárias as negociações para chegar a um acordo em torno de propostas comuns para implementações pelo Primeiro Ministro. Nesse contexto, as negociações são conduzidas levando em consideração os interesses partidários e de poder de grupos políticos. As propostas que reúnem a maioria dos parlamentares, as vezes são bem diferentes das propostas dos candidatos durante o período eleitoral. Além disso, essa necessidade de flexibilizar as propostas para formar a maioria, pode ocorrer até por meios não republicanos ou por interesse de grupos políticos que podem ser bem diferentes da vontade popular. Aliás, com uma maioria formada no parlamento, não existe nenhum mecanismo popular para afastar o governo, mesmo na condição de políticas não desejadas pela maioria dos eleitores, e, ainda, pode ocorrer acomodações por troca de favores, até casos de corrupção ou má gestão. Por conseguinte, a vontade popular nem sempre é respeitada, diante da necessidade de abrir mão de propostas vencedoras nas urnas, para ocorrer o acordo de governabilidade. Embora, o parlamentarismo se adapta com às duas principais formas de governo mais implementadas no mundo: monarquia e república. Assim, fica evidente sua fragilidade, ou seja, quando o partido fica fiel à proposta da campanha eleitoral não consegue a maioria absoluta no parlamento e quando negocia é obrigado a abandonar algumas propostas prometidas antes da eleição. É sabido, no entanto, que no sistema parlamentar não existe a forma de freios e contrapesos presente no presidencialismo e o governo segue sempre pela maioria 26 no parlamento ou é substituído ou convoca-se eleições antecipadas. Em vista disso, o Chefe de Estado é uma figura simbólica, seja como presidente eleito ou por um monarca hereditário, representa o país e, em alguns casos, tem o poder para dissolver o parlamento, quando gera a impossibilidade de constituir uma maioria parlamentar. Contudo, as negociações envolvendo parlamentares e o executivo, mesmo no sistema parlamentarista é uma fonte constante de troca de favores e em alguns casos desvios de finalidade ou fonte de corrupção. Ressalta-se, portanto, que a garantia de negociações republicanas depende de partidos fortes, com representação expressiva e legitimada pela sociedade, ideologia clara, programa de governo bem definido e vigilância constante da sociedade. Onde começa o abuso termina o assentimento dos representados, porque não é normal supor-se que estes concordem com procedimento discricionários e abusivos (MALUF, 2023, p. 280)24. Portanto, o sucesso do sistema parlamentar depende do grau de envolvimento do eleitorado, do entendimento das várias correntes políticas, dos compromissos partidários com a população e da vigilância do eleitor. No entanto, definida a maioria no parlamento, o povo não tem nenhum mecanismo de interromper o governo, mesmo com desvio das propostas oriundas da vontade popular. Paulo Bonavides na qualidade de estudioso do sistema de governo tem uma posição favorável ao parlamentarismo. A outorga da confiança política da nação mantém os governos no poder por via do instituto da responsabilidade ministerial. A moção de confiança pode em todas as ocasiões de crise renovar ou recursar o apoio parlamentar de que depende a conservação dos gabinetes. (BONAVIDES, 2015, p. 217)25. A moção de censura deve ser objetiva e estabelecer os pontos para correção e divergência e, assim, reconstruir uma nova maioria em negociações partidárias difíceis, cujo objetivo é ajustar uma outra proposta de governo. Esses acordos são 24 MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 25 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 27 realizados dentro dos gabinetes e longe do olhar do eleitor. Logo, falta a participação da sociedade e, isso, causam surpresas, pois no momento de crise a decisão deveria ser totalmente do povo e não de grupos políticos, que nem sempre refletem o interesse coletivo e os anseios da sociedade. Segundo Miguel Reali Junior o parlamentarismo passa também por dificuldade políticas, no entanto, a grande diferença é a forma de solucionar a crise, ou seja, por negociações entre os parlamentares. O parlamentarismo tem várias virtudes, destacando-se, dentre elas, a de instaurar um processo de ação política negociada, em torno de um programa de governo discutido. (JUNIOR, 1993, p. 10)26. Por fim, todo governo precisa da estabilidade e legitimidade para implementar sua política de governo para atender o interesse da sociedade. Aliás, a estabilidade é a paz necessária para discussão e aprovação de leis, projetos já acordados na formação da maioria e indicação do representante desses para Primeiro Ministro. Acrescenta-se ainda, a legitimidade está relacionada com o voto soberano popular para governar, conforme expressa a opinião da maioria nas urnas. No entanto, essa legitimidade está associada ao programa de governo proposto durante as eleições. Entretanto, quando ocorre a negociação partidária para formar a maioria, ocorre também,a mudança de pontos do programa de governo, acarretando a desfiguração, as vezes por completo do programa vitorioso nas urnas. Diante dessa situação, a legitimidade das urnas fica totalmente desfeita e o povo não tem como reagir diante desse acontecimento. Portanto, no parlamentarismo a ideia principal reside na responsabilidade da maioria dos parlamentares e não na vontade da maioria da sociedade. Miguel Reali Junior acrescenta um ponto de vista importante para validação do parlamentarismo. Aqueles que governam, o primeiro ministro e o conselho de ministros, podem ser responsabilizados e sancionados com sua destituição por via de moção de censura, pela má condução do programa de governo ou derrotada sua proposta pelo parlamento. (JUNIOR, 1993, p.31)27. 26 JUNIOR, Miguel Reale. Brasil/93, a hora do parlamentarismo. 27 JUNIOR, Miguel Reale. Brasil/93, a hora do parlamentarismo. 28 Nota-se que a responsabilidade do Primeiro Ministro está diretamente ligada a condução do governo, conforme definido pela maioria dos parlamentares e não tem nenhuma correlação direta com a vontade da sociedade. Para Manuel Gonçalves Ferreira Filho o parlamentarismo tem apenas o mérito de flexibilizar a responsabilidade do governo para atender a maioria parlamentar. Igualmente, como os partidos devem exprimir programas de governo, entre os quais o povo escolhe, o parlamento serviria para realização do programa adotado pela maioria popular, mais que qualquer governo confiado a personalidade com mandato deprazo certo (FERREIRA FILHO, 1993, p.15)28. Assim, a questão em debate é a mesma do sistema presidencialista. O poder Executivo precisa formar maioria no parlamento para implementar o programa de governo vitorioso nas urnas. No entanto, inevitavelmente o programa de governo no final das negociações é diferente da vontade popular. O escritor Manoel Gonçalves Ferreira Filho acrescenta uma ponderação: Não é difícil mostrar que suas virtudes nem sempre se concretizam nos regimes parlamentaristas (FERREIRA FILHO, 1993, p.15)29. Alguns países adotam o sistema de governo parlamentarista, com algumas variações na composição e divisão do poder do monarca e a forma de eleição. Atualmente, é possível identificar o sistema parlamentarista em pelo menos vinte e oito países e outros com variações deste modelo, sendo a forma predominante de monarquia parlamentar, em destaque: Inglaterra, Japão, Portugal, Espanha, Alemanha e Austrália. Para dar fim as negociações imprescindíveis no parlamentarismo, será necessário avaliar e implantar o sistema do presidencialismo soberano, proposta apresentada no capitulo 5. 28 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. O parlamentarismo. 29 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. O parlamentarismo. 29 CAPITULO 3 A VANTAGENS E DESVANTAGENS DO SISTEMA PRESIDENCIALISMO O sistema presidencialista nasceu nos Estados Unidos da América, através da formalização da constituição de 1787 na convenção da Filadélfia. Nesse sistema é marcante e obrigatório a divisão do poder central em três poderes: Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Portanto, a separação de poderes normalmente está bem definida na própria constituição do país, atualmente existe esse sistema claramente definido em cinquenta e quatro países e outros com algumas mudanças decorrentes desse sistema puro. O regime presidencialismo norte americano é o que nos serviu de base para a instituição da Presidência da República, o qual, a seu turno, baseou-se na teoria de Montesquieu quanto a separação estrita das funções governamentais (FILOMENO, 1977, p.172)30. Logo, a eleição do Presidente da República pode ocorrer de forma direta ou indireta, por meio de colégio eleitoral e os parlamentares são eleitos de forma direta em lista aberta ou fechada. Notadamente, observa-se que o Presidente da República escolhe livremente os Ministros de Estado, não existe a obrigação em escolher esses auxiliares dentre os membros do parlamento, como ocorre no parlamentarismo. Acrescenta-se ainda, que Presidente da República deve ser um líder nacional, dado que sua eleição ocorre no âmbito nacional e os parlamentares no ambiente regional. O sistema presidencialista do Estados Unidos tem particularidade própria, pois é vedado a indicação para Ministro de Estado ou qualquer outro cargo na administração pública de membro do parlamento. Haja vista, que o objetivo é a separação total entre os poderes executivo e legislativo e a eleição para Presidente da República é pelo colegiado, conforme votação em cada Estado. Sistema de governo e os tipos de exercícios das funções do poder político é de acordo com o relacionamento que mantenham entre si, os órgãos das funções legislativas, de um lado e executivo de outro (FILOMENO, 1977, p.171)31. 30 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de teoria geral do estado e ciência. 31 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de teoria geral do estado e ciência. 30 Destaca-se um sucesso impar do sistema Presidencialismo Americano por vários motivos: em primeiro lugar observa-se que a administração do executivo é totalmente separada do legislativo; não tem indicação política de membros do legislativo para ocupar cargo no executivo; a existência de dois partidos fortes com programas de governos bem definidos; uma vigilância constante dos eleitores e uma atuação do Judiciário implacável, que impede ou coíbe a troca de favores ou outras formas não republicana entre os Poderes Executivo e Legislativo. Ademais, aliado a intolerância dos eleitores e do Judiciário com punição exemplar dos pequenos desvios, tornam-se uma sustentação inquestionável do êxito do modelo do Presidencialismo Americano. Os pais fundadores dos EUA encontraram uma solução que era ao mesmo tempo simples e genial. Tomaram como base para sua Constituição o sistema político inglês, com algumas melhorias e substituíram a legitimação religiosa do rei pela legitimação democrática do presidente. A câmara dos lordes e a câmara dos comuns foram substituídas pelo Senado e pela Câmara dos Deputados, ambos eleitos pelo povo (HANS- ADAM, 2015, p. 72)32. O sistema presidencialista no Brasil não tem a mesma vigilância dos eleitos, o Presidente da República pode indicar membros do parlamento para qualquer cargo na administração pública direta e indireta, até mesmo aceita indicação de partidos políticos de pessoas com qualificações insuficientes para os cargos técnicos ou de direção. Por conseguinte, o resultado do sistema presidencialista nos Estados Unidos são bem melhores em comparação ao presidencialismo brasileiro, principalmente no atendimento aos anseios da sociedade, desvios de finalidade e gestão dos recursos públicos. Cabe salientar ainda, que existem grandes diferenças das necessidades sociais básicas dos Estados Americanos em relação aos Estados ou regiões do Brasil. Além do mais, a diversidade também ocorre no entendimento ou esclarecimento quanto às propostas dos candidatos. O debate de propostas no sistema brasileiro traz poucas diferenças ideológicas e a discussão torna-se quase pessoal entre os candidatos. 32 HANS- ADAM, O estado no terceiro milênio. 31 Acrescenta-se ainda, que o eleitor brasileiro não tem habito de acompanhar a atuação do seu candidato eleito e, por esse motivo, o empossado tem plena liberdade de atuação no Congresso Nacional. Esse modelo, enseja o resultado da política no Brasil: o político eleito ignora as necessidades básicas do povo, mesmo sendo eleito em uma região de pessoas carentes. Por outro lado, faz acordos políticos no Congresso Nacional para formar maioria de apoio ao Executivo, mesmo endossando propostas opostas às formuladas para ser eleito. Por essas razões, o resultado do presidencialismo brasileiro é bem diferente dos Estados Unidos. No Brasil há uma facilitação dos desvios de recursos ou ocorre uma má gestão ou até mesmo corrupção nos Poderes Executivo e Legislativo. Haja vista, a ideia de separação total dos poderes foi pensada para ocorrer um relacionamento republicano e ambos os poderes voltados para atenderem as necessidades sociais do povo. Outrossim, os poderes deveriam sempre buscar a melhoria para o povo, reconhecimento dos direitos individuais ao mínimo necessário para uma vida digna. Corrobora com essa visão de governo, a corrente de pensamento liderado por Jonh Lock, ou seja, em concordância dos direitos naturais mínimos necessários, manutenção da propriedade privada, julgamentos imparciais pelo Judiciário e uma força pública do Estado capaz de garantir ou restabelece-los na ocorrência de violação. Dessa forma, esse sistema está desenhado para o povo escolher seu representante compromissado com tais direitos mínimos. Caso contrário, o representante perderia o mandato. A consolidação desse sistema com limitação ou compromisso com os direitos mínimos foi idealizado por Montesquieu (1689 – 1755) em adaptação ao pensamento de Jonh Lock e, em oposição ao poder total e absoluto, centralizado nas mãos de uma só pessoa ou um grupo político. Assim, o poder legislativo tornou-se o único poder capaz de aprovar leis para mudara situação da sociedade, no sentido de atender cada vez mais as necessidades crescentes da população. Ademais, na teoria a separação de poderes o fundamento para obter êxito nas políticas públicas, em atendimento a vontade popular é uma prioridade. Assim, existe a necessidade da ideia de equilibro entre os poderes, o sistema de freios e contrapesos, bastando, portanto, colocar em prática o modelo e adotar um relacionamento republicano entre os poderes públicos. 32 Ainda pior, a realidade nos últimos anos, as prioridades e interesses de grupos políticos mudaram o sistema idealizado por Montesquieu, criado para melhorar as condições das sociedades subordinadas. Assim, as negociações parlamentares necessárias para compor maioria no parlamento, passaram a beneficiar pequenos grupos de pessoas privilegiadas. Todavia, no sistema presidencialista os interesses coletivos são prioridades absolutas e devem ser respeitadas pelos poderes executivo e legislativo. No entanto, a realidade fática revela uma situação adversa e até inversão de valores ocorrem, tudo isso, em nome dos acordos do executivo e legislativo para a governabilidade. Diante desse contexto real, as negociações envolvem troca de favores espúrios, privilégios da classe política e perpetuação no poder. Diante do exposto, fica evidenciado o interesse dos políticos em detrimento da vontade popular, consolidando, portanto, a prioridade do sistema do governo em atender em primeiro lugar os grupos políticos com distribuição de cargos públicos ou troca de favores, barganhas diversas de forma velada e não republicanas. Carlos Blanco de Morais afirma que a separação rígida dos poderes propostas por Montesquieu nunca teve efetiva aplicação. Na verdade, da vivência no poder concluiu o professor português: ocorre uma interdependência entre os poderes. No entanto, a interdependência para avaliar e discutir propostas para melhorar a economia, a situação de pobreza e o atendimento das crescentes necessidades sociais é positiva e deve ocorrer no meio político (MORAIS, 2008, p. 39-40)33. Porém, a reclamação da sociedade é porque a interdependência gera privilégios para estabilidade e permanência no poder de um grupo político de forma continuada e o povo passa necessidade do mínimo para viver com dignidade humana. No presidencialismo, o Presidente da República não tem poder para dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas. Por essa razão, é obrigado a negociar com o parlamento. Por outro lado, o parlamento tem poder para cassar o mandato do Presidente da República, através do processo de “Impeachment”. Assim, a maior vantagem do sistema presidencialista é a eleição de um candidato à Presidência da República com liderança nacional, que concede legitimidade para o executivo implementar sua política de governo vitoriosa nas urnas. 33 MORAIS, Carlos Blanco de. Curso de direito constitucional – tomo I: A lei e os atos normativos no ordenamento jurídico português. 33 No entanto, em eleições acirradas e polarizadas com votações apertadas e pequena vantagem para o vencedor, a liderança nacional não prevalece na maioria das vezes. A parte perdedora não aceita às propostas dessa maioria por pouca diferença de votos. Corrobora ainda, essa situação, para o questionamento do resultado, quando não há contagem pública dos votos ou sistema eletrônico sem impressão do voto, porque não confere a transparência necessária para apaziguar o país. (ROEDER, 2020, p.124)34. Destarte, essa situação dividida, também está presente no parlamentarismo, sendo uma oposição forte e impeditiva ao avanço da proposta vencedora nas urnas. Diante desse contexto, a única alternativa para o presidente eleito é negociar, ajustar, fazer concessões, dividir o governo e prometer liberação de emendas ao parlamento, tanto no presidencialismo como no parlamentarismo. É evidente que mesmo com tantos erros e dificuldade de compor com o legislativo, ainda a democracia é o melhor caminho para o exercício do poder público. O lado oposto já comprovou ineficaz, além das possibilidades de rupturas, ideias totalitárias, trazendo regime como fascismo, comunista e nazismo. No século que decorre da era da restauração à Primeira Guerra Mundial, a história da democracia coincide com a afirmação dos Estados representativos nos principais países europeus e com o desenvolvimento interno de cada um deles, tanto que a complexa tipologia das tradicionais formas de governo será pouco a pouco reduzida e simplificada na contraposição entre os dois campos opostos das democracias e das autocracias (BOBBIO, 2022, p.200)35. Complementa Norberto Bobbio, que o estado de guerra foi substituído pelo estado de paz. Esse pacto de união, por outro lado, é concebido de modo a caracterizar a soberania que dele deriva mediante três atributos fundamentais: a irrevogabilidade, o caráter absoluto, a indivisibilidade” (BOBBIO, 1991, p.43)36. 34 ROEDER, Karolina Mattos. Partidos políticos e sistemas partidários. 35 BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: fragmento de um dicionário político. 36 BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. 34 As distorções institucionais evolvendo os poderes executivo e legislativo são praticamente comuns em sistemas interdependentes. Porque o poder soberano do povo é transferido aos poderes executivo e legislativo por um período delimitado e o povo fica ausente das discussões de governo durante o mandato. As desvantagens do sistema presidencialista e a crença do povo em eleger um salvador da pátria, as vezes esse candidato faz promessas messiânicas e impossíveis suas implementações durante o mandato, ainda mais difícil, com um parlamento fragmentado de várias correntes políticas. Afirma Miguel Reali Junior sobre a realidade do presidencialismo brasileiro: A aprovação de propostas no congresso será costurada no varejo, a cada votação, facilitando-se o dando é que se recebe (JUNIOR, 1993, p.13)37. Ferreira Filho complementa o pensamento desfavorável ao presidencialismo atual. O presidencialismo concentra no poder executivo: o poder de condução integral do governo, razão de ocorrer abusos e suscetibilidade de golpe de estado. Outro mal do presidencialismo encontra-se na tentação do abuso da própria natureza humana, que acha terreno propício num sistema que atribui tamanho poder a um só homem (FERREIRA FILHO, 1993, p.15)38. Por esse motivo, ocorre um certo desconforto em votar para uma grande parte dos eleitores brasileiros. Acrescenta-se ainda, a crença que nenhuma mudança vai ocorrer. Diante disso, as abstenções crescem com o tempo à medida que os acordos políticos são fechados entre o executivo e legislativo ignorando a vontade popular. É evidente o crescimento das necessidades do povo, para isso, o caminho de redução dos gastos públicos é uma forma de sobrar recursos para investimento em políticas públicas sociais. No entanto, mesmo prometendo o enxugamento da máquina administrativa na campanha eleitoral, quando eleito o político empossado abandona essa bandeira para atender interesses partidários de cargos e mais cargos. Outra questão que distancia o eleitor dos empossados, ocorre porque a maioria vota no partido e não no candidato pessoalmente. Assim, o chamado voto de legenda é um mecanismo de eleição indireta do parlamento, pois muitos candidatos são 37 JUNIOR, Miguel Reale. Brasil/93, a hora do parlamentarismo. 38 FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves Filho. O parlamentarismo. 35 beneficiados pelo voto na legenda ou dos votos de outros candidatos do mesmo partido, pelo uso quociente eleitoral. Diante ao exposto, nessa época contemporânea,