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interpretação dos negócios jurídicos

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
ARARAQUARA/SP
2015
PARTE I: INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Interpretação do Negócio Jurídico
Não só a lei, mas também o negócio jurídico, deve ser interpretado. Muitas vezes sua execução exige, antes, a interpretação de suas cláusulas.
O Código Civil traz algumas regras importantes para a interpretação:
Teoria da Vontade
A vontade das partes exterioriza-se por meio de sinais e símbolos, dentre os quais as palavras.
Nos contratos escritos, a análise do texto conduz, em regra, à descoberta da intenção dos pactuantes. Parte-se, portanto, da declaração escrita para se chegar à vontade dos contratantes.
Quando, no entanto, determinada cláusula mostra-se obscura e passível de dúvida, alegando um dos contratantes que não representa com fidelidade a vontade manifestada por ocasião da celebração da avença, e tal alegação resta demonstrada, deve-se considerar a efetiva vontade das partes.
É a teoria mais tradicional. Afirma que a base do negócio jurídico é a intenção (vontade interna). Foi a teoria que mais influenciou o CC/2002, chamada de Teoria da vontade interna (ou voluntarista) que, de acordo com o Art. 112 do CC, declara que nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Outra corrente explicativa do negócio jurídico, se dá através da Teoria da vontade externa (ou da declaração) onde o negócio jurídico se traduz na vontade externa ou declarada.
Durante anos, a doutrina se digladiou para descobrir com que teoria estava a razão. E a resposta é que as duas teorias, na verdade, se harmonizam. O negócio jurídico é fruto da soma da vontade interna com a vontade que se declara.
Boa-Fé
O intérprete deve presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a proposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e deviam as partes entender razoável. Essa presunção do intérprete está calcada nos art. 113 e 422 da lei 10.406/02 (Código Civil), ou seja, deve-se interpretar o contrato a partir da boa-fé objetiva, portanto, a boa-fé se presume e, ao contrário, a má-fé deve ser provada.
Além disso e nos termos do referido artigo 113 CC/02, devem ser considerados na interpretação do negócio jurídico os usos e costumes de cada localidade, pois as regionalidades e seus costumes devem ser considerados devido às suas peculiaridades uma vez que as partes devem agir com lealdade e também de conformidade com os usos do local em que o ato negocial foi por elas celebrado.
O princípio da boa-fé está intimamente ligado não só à interpretação do negócio jurídico, pois segundo ele o sentido literal da linguagem não deverá prevalecer sobre a intenção inferida da declaração da vontade das partes, mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas previsto no art. 421 CC/02.
A aplicação da boa-fé na formação, aplicação e interpretação do contrato como determina o Código Civil, poderá elidir as surpresas e garantir a real intenção de ambas as partes na sua formação e resultar na consolidação da vontade das partes em prejuízo ao que fora erroneamente firmado e/ou unilateralmente imposto.
Interpretação Estrita dos Negócios Jurídicos
O juiz não poderá dar aos atos negociais interpretação ampliativa, devendo limitar-se, unicamente, aos contornos traçados pelos contraentes, vedada a interpretação com dados alheios ao seu texto. Isso quer dizer que o negócio benéfico, isto é, que faz bem, será interpretado como está pactuado. O preceito veda que se amplie o benefício ou a renúncia quando maior alcance não esteja claro na linguagem adotada pelos interessados.
Dispõe o artigo 114 do Código Civil de 2002, que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente, ou seja, a interpretação não deve ser extensiva onde benéficos ou gratuitos são os que envolvem uma liberalidade: somente um dos contratantes se obriga, enquanto o outro apenas aufere um benefício (ex.: doação pura). Devem ter interpretação estrita porque representam renúncia de direitos.
Algumas regras práticas podem ser observadas no tocante à interpretação dos contratos.
A melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual vinham executando o contrato, de comum acordo. Deve-se, ainda, interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor. Por fim, as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais.
 
PARTE II: O SILÊNCIO COMO FORMA DE MANIFESTAÇÃO DA VONTADE
Um dos elementos de existência do negócio jurídico é a vontade manifestada. Sem vontade exteriorizada, em princípio, não há negócio jurídico. 
E o silêncio? Pode a ausência de manifestação de vontade gerar consequências importantes no mundo jurídico? Aquele que silencia está efetivamente anuindo, tal como prega o dito popular Quem Cala Consente?
A resposta a tais indagações não é simples. O silêncio pode sim acarretar efeitos jurídicos relevantes, mas nem sempre equivale à aceitação.
Exemplo onde o silêncio provoca efeitos jurídicos é o expresso no artigo 539 do Código Civil onde o doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo. Ao contrário, se houver encargo, ainda que o benefício da doação compense sobejamente os ônus a ela atrelados, o silêncio representa recusa.
Outra hipótese onde o silêncio acarreta efeitos jurídicos é o do silêncio do herdeiro quanto à herança, o artigo 1.807 da lei 10.406/02 (Código Civil) versa que o interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a herança, poderá, vinte dias após aberta a sucessão, requerer ao juiz prazo razoável, não maior de trinta dias, para, nele, se pronunciar o herdeiro, sob pena de se haver a herança por aceita. Por vezes ocorre o oposto, onde a conclusão da missiva com a assertiva de que o silêncio do notificado, neste caso, importa em renúncia. A vontade do cidadão não pode sobrepor à lei (art. 1.807 CC/02) que proíbe que o silêncio seja interpretado como renúncia da herança, ao contrário, significa aceitação. 
No caso de assunção de dívida por terceiro (Direito das Obrigações), o silêncio do credor revela a recusa a um terceiro que manifesta desejo em assumir determinada dívida, o artigo 299, § único, CC/02 normatiza essa relação onde o maior interessado (credor) com seu silêncio recusa que terceiro assuma dívida a ele devida.
Para os negócios jurídicos, o artigo 111 do CC/02 disciplina o silêncio para estes casos. Referido artigo (111, CC/02) valora sobremaneira o silêncio quando determina que “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Cada caso deve ter suas peculiaridades investigadas minuciosamente pelo pretor para valorar adequadamente o silêncio.
Em caso de dolo, o silêncio pode acarretar até mesmo o desfazimento do negócio jurídico, além de responsabilidade civil. O art. 147 do CC, preceitua que "nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado".

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