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RESUMO TEMA 04_NEGOCIO_JURIDICO

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RESUMO DIREITO CIVIL (Sala de aula virtual) 
NEGÓCIO JURÍDICO – TEMA 4 
 
MÓDULO 01 - Identificar os fundamentos dos negócios jurídicos, seus elementos e suas 
principais classificações. 
 
1. FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
Iniciamos o estudo deste conteúdo buscando, em primeiro lugar, situar o objeto da nossa análise: 
o negócio jurídico. Como veremos na chave classificatória mais adiante, ele é uma subespécie 
dos fatos jurídicos humanos lícitos. 
 
 
 
Começamos, então, pelos fatos jurídicos lato sensu ou em sentido lato, que nada mais são do 
que um evento qualquer que tem repercussão jurídica porque é disciplinado pelo Direito, isto é, 
porque sobre aquele fato incide uma norma jurídica que lhe empresta consequências e que o 
disciplina. 
 
Fato jurídico em sentido amplo é, portanto, todo acontecimento da vida que o ordenamento 
jurídico considera relevante no campo do Direito. 
 
Em razão disso, diz-se que os “fatos jurídicos são os eventos mediante os quais as relações 
jurídicas nascem, se modificam e se extinguem” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 240). 
 
Fato jurídico é o nome que se dá a todo fato do mundo real sobre o qual incide norma jurídica. 
Quando acontece, no mundo real, aquilo que estava previsto na norma, esta cai sobre o fato, 
qualificando-o como jurídico; tem ele, então, existência jurídica. 
 
A incidência da norma determina, como diz Pontes de Miranda (2012), sua entrada no mundo 
jurídico. O fato jurídico entra no mundo jurídico para que aí produza efeitos jurídicos. Tem ele, 
portanto, eficácia jurídica. 
 
Por isso mesmo, a maioria dos autores define o fato jurídico como o fato que produz efeitos no 
campo do Direito (AZEVEDO, 2002, p. 23). 
 
Dentro desses fatos jurídicos em sentido amplo, temos os fatos naturais ou fatos jurídicos 
stricto sensu/em sentido estrito, precisamente aqueles que provêm da natureza, sem qualquer 
interferência humana – como o surgimento de uma ilha. A doutrina ainda distingue, de acordo 
com Tepedino e Oliva (2021, p. 242), os fatos naturais em: 
 
 
 
Há, ainda, fatos que derivam da atuação do homem, os chamados fatos humanos, que se 
subdividem em: “fatos lícitos (valorados positivamente pela ordem jurídica) e fatos ilícitos lato 
sensu (reprovados pelo Direito), que, a seu turno, se distinguem em atos ilícitos (stricto sensu) e 
atos antijurídicos (contrários ao Direito, a exemplo do abuso do direito)” (TEPEDINO; OLIVA, 
2021, p. 240). 
 
Por fim, “[o]s fatos lícitos, ou seja, atribuídos à atividade humana e não reprovados pelo Direito, 
compreendem os negócios jurídicos, os atos jurídicos stricto sensu, também designados atos 
lícitos de conduta, e os chamados atos-fatos, reconhecidos por parte da doutrina” (TEPEDINO; 
OLIVA, 2021, p. 240). 
 
Estes três últimos (negócio jurídico, ato-fato jurídico e ato jurídico stricto sensu) merecem uma 
análise própria. Deixaremos os negócios jurídicos por último, porque eles se conectam com o 
nosso próximo tópico. 
 
A diferença entre as espécies dependerá, basicamente, da valoração que o ordenamento dá à 
vontade dos sujeitos envolvidos. Desse modo, no ato-fato jurídico, a vontade e o intuito de 
quem o pratica são indiferentes para o Direito, uma vez que a consequência será a mesma. O 
ordenamento não leva em consideração a sua vontade. 
 
Exemplo 
Podemos pensar na criança absolutamente incapaz que planta uma árvore frutífera num terreno 
baldio: a lei não leva em consideração a sua vontade, o que não impede, todavia, que o seu ato 
gere consequências, como a possibilidade de a criança ser indenizada por aquilo. Isso ocorre 
porque “há certas ações humanas que a lei encara como fatos, sem levar em consideração a 
vontade, a intenção ou a consciência do agente, [que demandam] apenas o ato material” 
(GONÇALVES, 2013, p. 319). 
 
Já no ato jurídico stricto sensu, a vontade é considerada pelo Direito, que a torna apta a 
produzir consequências, mas disciplinadas pela lei, não pela autonomia das partes. O agente, 
ao praticar tais atos, “submete-se às consequências jurídicas que lhe estão previamente 
reservadas” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 247). 
 
O exemplo mais comum na doutrina é o do reconhecimento de paternidade: uma vez optando 
por fazê-lo, a pessoa se submeterá integralmente ao regulamento legal, isto é, não poderá 
escolher quais efeitos da paternidade irá assumir. Além disso, como a sua vontade é considerada 
(embora sem tanta força), alguém que não pode exprimir validamente sua vontade não poderia 
praticar o ato. É assim que não se admitiria que um absolutamente incapaz fizesse 
reconhecimento de paternidade. 
 
Por último, mas não menos importante, vem a categoria dos negócios jurídicos, em que a 
autonomia das partes é maior: aqui elas têm que querer praticar o ato, devem estar conscientes 
e têm discricionariedade, dentro de certo limite legal, para estabelecer os efeitos que vão resultar 
dos seus atos. 
 
Definimos, assim, o negócio jurídico como sendo “o regulamento de interesses estipulado pela 
autonomia privada, ou autorregulamento ou ato jurídico apto a regular interesses” (TEPEDINO; 
OLIVA, 2021, p. 243). 
 
Como exemplo mais claro, podemos citar o contrato, haja vista que as partes podem estabelecer 
a própria regulamentação de interesses dentro da liberdade que é conferida pelo ordenamento. 
Ou seja, as partes são livres para autodeterminar as condições dentro dos limites impostos pela 
lei. Assim, podemos conceber o negócio jurídico como uma declaração de vontade voltada 
para a produção de determinados efeitos. 
 
É por isso que se diz que o negócio jurídico é, geralmente, fonte de relações jurídicas e 
estabelece direitos subjetivos para as partes. Na definição de Alberto Trabucchi (1993, p. 124), 
negócio jurídico é a “manifestação de vontade, dirigida a um escopo prático que consiste 
na constituição, modificação ou extinção de uma situação juridicamente relevante”. 
 
 
2. ELEMENTOS E CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
A categoria do negócio jurídico sempre foi vista como máxima expressão da autonomia privada 
e do voluntarismo liberal (SOUZA, 2017a, p. 95-96), embora não possua, “exatamente, os efeitos 
que o declarante quer que tenha; ele terá os efeitos que o ordenamento admite que o que foi 
querido possa ter” (VELOSO, 2005, p. 13). 
 
É assim que, inserido na categoria mais ampla dos fatos jurídicos, Antônio Junqueira de Azevedo 
(2002, p. 16) definia os negócios jurídicos, em concreto, como sendo “todo fato jurídico 
consistente em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos 
designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e eficácia 
impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”. 
 
Tal declaração de vontade é, ainda, uma “manifestação de vontade qualificada, destinada a 
produzir efeitos jurídicos” (VELOSO, 2005, p. 9), muito embora parte da doutrina defenda que a 
vontade não seja um elemento necessário para a existência do negócio, isto é, ela só teria 
relevância para a sua validade e eficácia, de modo que não se poderia admiti-la como o 
“elemento definidor ou caracterizador do negócio” (AZEVEDO, 2002, p. 9). 
 
Todo negócio jurídico cria relação jurídica, constituindo, ou modificando, ou constituindo 
negativamente (extintividade) direitos, pretensões, ações ou exceções. 
 
A análise dos negócios jurídicos no Brasil tradicionalmente está atrelada a um exame em três 
planos, que se convencionou chamar Escada ou Escala Ponteana, numa alusão ao clássico 
civilista. 
 
Ou seja, a ideia central é que o negócio jurídico tem que primeiro existir juridicamente, em 
segundo lugar valer (não ter vícios) e, em terceiro lugar, ser apto a produzir efeitos. Um ato 
existente pode ser nulo ou anulável. Pode, contudo, existir, ser válido, mas não produzir efeitos. 
 
Vejamos as fases dos negócios jurídicos: 
 
Existência 
Então, no plano da existência, o negócio precisa de elementos para existir. 
 
Validade 
No plano da validade, precisa de requisitos para ser válido. 
 
Eficácia 
No planoda eficácia, precisa do negócio de fatores de eficácia para ser eficaz. 
 
Quanto aos seus elementos, mais uma vez não há consenso na doutrina. No entanto, podemos 
optar por uma classificação simples, segundo a qual são elementos de existência do negócio 
jurídico: 
 
 
 
É o mnemônico do “FAVO”. O negócio tem que ter um agente (pessoa); uma vontade, que, por 
sua vez, tem que ter um objeto (algo sobre o qual incide esta vontade); e, por fim, a 
exteriorização dessa vontade tem que ter uma forma (verbal, escrita, gestual etc.). Dito 
diversamente: para existir, o negócio precisa ter, pelo menos, esses quatro elementos. 
 
E, para esses negócios serem válidos, é preciso que observem, sobretudo, o que está 
disciplinado no art. 104 do CC, segundo o qual “a validade do negócio jurídico requer: 
I - agente capaz; 
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
III - forma prescrita ou não defesa em lei”. 
 
Vejamos o que diz a lei a respeito da forma e do agente: 
 
Forma 
Quanto à forma, segundo o inciso III do art. 104 do CC, precisa ser prescrita (determinada pela 
lei, como no art. 108 do CC) ou não em defesa em lei, isto é, que não seja proibida pela lei. 
 
Agente 
Quanto ao agente, requer o art. 104, inciso I, que seja capaz (arts. 3º e 4º do CC). Além disso, 
em alguns casos, exige-se também a legitimidade daquele agente, isto é, uma condição 
especial para a prática de determinado ato. 
 
Exemplo 
Pensemos que, na compra e venda de ascendente a descendente, o pai precisa da anuência 
dos outros filhos e do cônjuge para celebrar o negócio. Dito diversamente: o pai é capaz, mas 
lhe falta legitimidade para praticar aquele ato naquelas circunstâncias (de ser para descendente). 
 
O art. 496 do CC diz que a não observância disso acarreta a invalidade do ato: “É anulável a 
venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante 
expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o 
consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória”. 
 
Quanto à vontade, ela precisa ser livre, sem vícios ou erros. Não pode ser manipulada, nem 
ameaçada. (Veremos no Módulo 2 os defeitos dos negócios jurídicos, onde esmiuçaremos 
cada uma das hipóteses.) 
 
Por fim, segundo o art. 104, II, o objeto precisa ser: 
 
 
 
(Como elementos da eficácia, temos, por exemplo, a condição e o termo, que serão tratados no 
tópico seguinte deste módulo.) 
 
A doutrina ainda classifica os negócios jurídicos quanto a três espécies de elementos. Vejamos 
as definições de acordo com Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 252-253, grifos 
no original): 
 
Essenciais (essencialia negotti) 
“São os elementos fundamentais para o ingresso do ato no mundo jurídico. 
Trata-se da vontade declarada, do objeto, da forma e da causa do negócio.” 
Naturais (naturalia negotti) 
“São os elementos que, fixados supletivamente pela lei para o negócio, 
comporão o regulamento de interesses se não forem afastados pela autonomia 
privada. Pense-se, por exemplo, no lugar do pagamento, quando não 
convencionado (art. 327 do Código Civil).” 
 
Acidentais (accidentalia negotti) 
“São os elementos que podem figurar no negócio desde que expressamente 
previstos pelas partes. São responsáveis por modificar apenas a eficácia do ato, 
como a condição e o termo. Embora a doutrina brasileira nem sempre o admita, 
a causa é elemento essencial do negócio jurídico, ao lado dos elementos 
subjetivo, objetivo e formal. Não se confunda causa com motivo, de natureza 
subjetiva ou psicológica. Do ponto de vista técnico, a causa consiste na mínima 
unidade de efeitos essenciais que caracteriza determinado negócio, sua função 
jurídica, diferenciando-o dos demais. Somente a identificação da causa pode 
determinar a qualificação contratual, a invalidade ou ineficácia de certas 
relações jurídicas para as quais o exame dos demais elementos mostra-se 
insuficiente. Bastaria lembrar os contratos, como a compra e venda de coisa 
futura e a empreitada, que se diferenciam exclusivamente em virtude da função 
ou causa que lhes é peculiar; ou a compra e venda de objeto lícito (uma arma, 
por exemplo), mas cuja invalidade decorre da ilicitude do motivo determinante 
no contexto causal (a arma destinada à prática de certo crime)” (TEPEDINO; 
OLIVA, 2021, p. 252-253, grifos no original). 
Atenção 
Importante, ainda, observarmos que, segundo o art. 105 do CC, “[a] incapacidade relativa de 
uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos 
cointeressados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação 
comum”. 
 
Além disso, como prevê o artigo seguinte, “[a] impossibilidade inicial do objeto não invalida o 
negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver 
subordinado”. E, de acordo com o art. 107, “[a] validade da declaração de vontade não dependerá 
de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. 
 
Por fim, no art. 108, como já vimos anteriormente, “[n]ão dispondo a lei em contrário, a escritura 
pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, 
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior 
salário mínimo vigente no País”. 
 
Passamos, então, às diversas classificações dos negócios jurídicos. Mais uma vez, precisamos 
destacar que cada doutrinador acaba classificando conforme seu modo peculiar. Por isso, 
trataremos a seguir das mais comuns e relevantes. 
 
Unilaterais, bilaterais e plurilaterais 
O critério distintivo aqui é o número de partes necessário para que o negócio seja formado. 
Importante a advertência de Tepedino e Oliva (2021, p. 263-264), de “que não se confunde 
pessoa com parte, uma vez que o mesmo centro de interesses na relação negocial pode ser 
ocupado por vários indivíduos e, ainda assim, representar uma única parte. Contam-se, assim, 
não propriamente os sujeitos que integram o negócio, mas o número de centros de interesses”. 
 
 
 
Vamos entender melhor sobre o número de partes necessário para que o negócio seja formado: 
 
a. Unilateral 
Será unilateral, por exemplo, o testamento, que se reputa válido pela simples declaração de 
vontade do testador, observados os aspectos formais. 
 
b. Bilateral 
Bilaterais serão, por exemplo, os contratos, porque “pressupõem a convergência de ao menos 
duas declarações complementares de vontade para o seu nascimento, sendo compostos de pelo 
menos duas partes” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 264). 
 
c. Plurilaterais 
Bilaterais serão, por exemplo, os contratos, porque “pressupõem a convergência de ao menos 
duas declarações complementares de vontade para o seu nascimento, sendo compostos de pelo 
menos duas partes” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 264). 
 
Típicos e atípicos 
 
Serão típicas, por exemplo, a compra e venda, a doação e a empreitada. 
 
Quanto aos atípicos, trata-se, “não raro, de contratos complexos que combinam elementos de 
diversos tipos legais. Ilustrativamente, tem-se o contrato celebrado entre o viajante e a agência 
de turismo, compreendendo a prestação de serviços de transporte, hospedagem e diversos 
outros” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 264). 
 
Onerosos e gratuitos 
Vejamos sobre os negócios gratuitos e onerosos: 
 
Gratuitos 
São “gratuitos os negócios que impõem sacrifício patrimonial para apenas uma das partes, ao 
passo que onerosos são os negócios que importam em sacrifício patrimonial para ambas.” 
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 265). Como exemplo, temos o testamento (negócio jurídico 
unilateral e gratuito). 
 
Onerosos 
Nos negócios onerosos, para receber uma vantagem, é preciso ceder, suportar algum sacrifício. 
Como exemplo, temos a compra e venda: para adquirir a propriedade, será preciso pagar por 
ela (sacrifício econômico). 
 
Inter vivos e causa mortis 
 
Segundo a doutrina: 
 
São “inter vivos os negócios cuja eficácia pode ser plenamenteatingida durante a vida das 
partes.” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 266, grifo no original) 
 
“Causa mortis são os que têm sua eficácia dependente da morte do declarante, sendo o exemplo 
clássico o testamento” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 266, grifo no original). 
 
Além disso, de acordo com os autores Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva, “[o] negócio 
inter vivos pode operar efeitos desde logo, ao passo que o causa mortis tem sua eficácia 
postergada para momento subsequente à morte da parte” (2021, p. 266, grifo no original). 
 
Formais e informais 
 
 
 
Consensuais e reais 
 
Reais 
Finalmente, são contratos reais aqueles que somente irão se aperfeiçoar com a entrega do bem. 
O empréstimo gratuito de coisas infungíveis será real e é chamado de comodato, por sua vez, 
porque o art. 579 do CC determina que o contrato só estará concluído com a entrega do bem. 
Segundo tal dispositivo, “o comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se 
com a tradição do objeto”. 
 
Consensuais 
Os contratos consensuais se opõem aos reais, reputando-se perfeitos, prontos e acabados 
apenas com o consenso (obtenção do consentimento) entre as partes. Exemplo de consensual 
é o mandato. 
 
 
3. REPRESENTAÇÃO, CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO 
 
Para finalizarmos este primeiro módulo, precisamos analisar, ainda, a representação, o termo 
e o encargo ou modo. Começaremos, no entanto, com os três últimos, que são conhecidos 
como modalidades ou elementos acidentais do negócio jurídico. 
 
[A]s partes podem introduzir elementos acidentais ao negócio jurídico, os quais submeterão a 
produção de efeitos do negócio (existente e válido) [à] condição, [ao] termo ou encargo. Tais 
eventos, inseridos pela autonomia privada na declaração de vontade, incorporam-se ao seu 
conteúdo, vinculando o negócio, em seu plano de eficácia, à sua realização. 
 
No entanto, apesar de denominarmos tais elementos como acidentais, uma vez estando eles 
“incorporados ao negócio jurídico tornam-se essenciais para a concreta relação negocial. A 
acidentalidade, portanto, refere-se à prescindibilidade desses elementos para a qualificação do 
tipo negocial abstratamente considerado, não já para, no ajuste de interesses celebrado, 
reputá-los menos relevantes para o desempenho da função perseguida pelas partes” 
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 298). 
 
Condição 
 
Segundo o art. 121, considera-se condição “a cláusula que, derivando exclusivamente da 
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”. 
 
Como características, podemos ressaltar que a condição é um elemento acidental; decorre da 
autonomia das partes; cria um direito expectativo e é inexa ao negócio jurídico – isto é, uma 
vez prevista pelas partes, ela passa a integrar o conteúdo/corpo daquele negócio jurídico. Ela 
não está anexa, ao lado, mas se incorpora ao negócio de tal modo que, se a condição for ilícita 
e acabar se materializando na prática, todo o negócio cairia, porque aquela condição seria inexa 
a ele. 
 
E quais são as espécies de condição? 
 
A distinção mais importante diz respeito à clivagem entre condições suspensivas e 
resolutivas. A principal diferença é que “[n]o primeiro caso, o início da produção de efeitos do 
negócio submete-se à ocorrência do evento futuro e incerto. Já no segundo caso, ao revés, a 
extinção de efeitos subordina-se a tal acontecimento” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 302). Ou 
seja: se o negócio se submeter à condição suspensiva, obsta-se a produção de alguns efeitos 
até que o evento futuro e incerto ocorra. 
 
Como consequência, “subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, 
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa” (art. 125 do CC). 
 
Haverá, nesse período, tão somente expectativa de direito/direito expectativo. Nada obstante, 
“ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido 
praticar os atos destinados a conservá-lo” (art. 130). 
 
Conforme o art. 126, “se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente 
esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com 
ela forem incompatíveis”. 
 
Por outro lado, entende-se como condição resolutiva “aquela cuja ocorrência extingue o direito, 
pondo fim à produção dos efeitos do negócio jurídico que a ela se subordinavam. O negócio 
sujeito à condição resolutiva opera todos os efeitos imediatamente, ao contrário daquele 
subordinado à condição suspensiva” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 303). 
 
Ademais, caso esse tipo de condição se implemente, isso significará “a perda da eficácia do 
negócio jurídico antes plenamente operante. Na condição resolutiva, a aquisição do direito é 
imediata – não há expectativa de direito ou situação de pendência –, todavia com caráter 
resolúvel, e permanecerá no patrimônio do adquirente se e até quando a condição ocorrer (CC, 
art. 127)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 303-304). 
 
O art. 128 preceitua o seguinte: 
 
Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; 
mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo 
disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis 
com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé. 
 
Segundo o art. 123 do CC, invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: 
 
- As condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas (impossibilidade física, 
como abraçar o sol ou jurídica, quando houver obstáculo legal). 
- As condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita (ex.: “se você torturar alguém”). 
- As condições incompreensíveis ou contraditórias (ex.: “se você for ou não for ao Japão”). 
 
Além disso, de acordo com o art. 124, “têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando 
resolutivas, e as de não fazer coisa impossível”. 
 
Vedam-se também as chamadas condições puramente potestativas, isto é, que submetem o 
negócio ao exclusivo arbítrio de um dos negociantes, a exemplo da cláusula que diz: “só se eu 
quiser”. Tal vedação está prevista na parte final do art. 122 do CC, que dispõe que são lícitas, 
em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre 
as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico ou o 
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. 
 
Finalmente, de acordo com o art. 129 do CC, reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, 
a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, 
considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por 
aquele a quem aproveita o seu implemento. 
 
Termo 
Esta modalidade “difere da condição, justamente porque se trata de evento futuro e certo, ao 
qual se subordina a eficácia do negócio jurídico. Daí ser comum a associação dos termos com 
datas futuras” (SCHREIBER, 2020, p. 350). 
 
Contudo, a rigor, “termo pode ser não apenas uma data, mas qualquer evento futuro cuja 
ocorrência seja indubitável: a morte de determinada pessoa, por exemplo, configura 
tecnicamente um termo” (SCHREIBER, 2020, p. 350). Ele também é inexo, isto é, integra o 
negócio jurídico, mas não existe termo ilícito. 
 
Importante ressaltar que “no termo o evento é sempre certo (certo que ocorrerá), ainda que nem 
sempre se tenha certeza de quando ele ocorrerá (incerteza quanto ao momento). Distinguem-
se, assim, o termo certo ou determinado do termo incerto ou indeterminado” (TEPEDINO; OLIVA, 
2021, p. 310). 
 
Exemplo 
Como certo, pode-se citar uma data: 3/1/2031. Incerto, contudo, seria “quando fulana morrer” – 
é certo que ela vai morrer, porque todos morrem, mas há incerteza no que diz respeito a quando 
isso irá acontecer. 
 
Já como termo impossível podemos citar o dia 31/2/2031, uma vez que o mês de fevereiro nunca 
terá 31 dias. Fala-se, também, em negócios não atermáveis,ou seja, que não admitem termo, 
como o casamento e a adoção. 
 
A classificação mais significativa aparta o termo inicial/suspensivo/dilatório do termo 
final/resolutivo/peremptório. 
 
 
 
Diz o art. 131: “O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito”. 
 
Encargo ou modo 
O terceiro elemento acidental consiste num ônus imposto a uma liberalidade e, diferentemente 
do termo e da condição, só existe em negócios jurídicos gratuitos, como a doação. Além 
disso, esse ônus não pode ser tão grande que seja encarado como uma contraprestação, porque 
isso o desfiguraria. 
 
Podemos dizer que o modo ou encargo “vincula o direito atribuído à realização do ônus 
estipulado pelo autor do benefício. Restringe a vantagem criada pelo negócio jurídico ao 
estabelecer específica finalidade para o direito adquirido, ou ao impor prestação a ser 
desempenhada pelo beneficiário, que pode inclusive ser em benefício de terceiro” (TEPEDINO; 
OLIVA, 2021, p. 312-313). 
 
São comuns, por exemplo, os legados feitos por testadores que impõem encargos como mandar 
celebrar missas pela alma do falecido ou construir um mausoléu. Logo, o encargo pode ter 
natureza econômica ou não econômica. Caso o encargo não seja cumprido, no caso da doação, 
há um mecanismo conhecido como revogação por descumprimento do encargo. 
 
 
Atenção 
Diferença significativa do encargo para a condição e o termo é que a condição suspensiva 
suspende, mas não obriga. Já o encargo obriga, mas não suspende. Isso quer dizer que um 
direito sob encargo já está adquirido e já pode ser exercido pelo devedor do encargo. 
 
 
 
Vistos os elementos acidentais do negócio, falta falarmos da representação, que consiste, em 
síntese, na “técnica jurídica de atuação em nome de outrem. A representação faz com que 
os efeitos de um ato ou negócio jurídico recaiam não sobre quem o pratica, mas sobre a pessoa 
em nome de quem é praticado” (SCHREIBER, 2020, p. 359). Ou seja: é o representante quem 
age, mas a sua ação repercutirá no patrimônio de outrem (representado), que responderá por 
essa ação que o representante levou a efeito. 
 
O negócio jurídico é o campo por excelência da representação, embora haja negócios jurídicos, 
como o testamento, que não a admitam. Igualmente, para os atos jurídicos stricto sensu, em 
princípio, não há qualquer empecilho. 
 
A chave da representação é que alguém atua em nome de outrem: é agir contemplatio domini, 
isto é, em contemplação, vinculando o titular em cujo nome se age. Em outras palavras, a 
contemplatio é a “publicidade ou exteriorização do fato de que a atuação se dá em nome de um 
representado” (SCHREIBER, 2020, p. 360). 
 
Quanto à sua natureza jurídica, a representação pode ser: 
 
 
 
Atenção 
Importante pontuar, portanto, que, “[t]ecnicamente, a representação, como agir em nome alheio, 
existe independentemente de o representante ter, de fato, recebido o poder de agir em nome do 
representado”. 
 
Para que ocorra a representação, “basta que um negócio jurídico tenha sido declaradamente 
celebrado em nome de um terceiro com o fim de que sobre tal pessoa recaiam os seus efeitos” 
(SCHREIBER, 2020, p. 359). 
 
 
 
É por isso que pode ser que haja representação sem mandato, como no caso da representação 
legal, mas não seria possível que houvesse mandato sem representação para alguns 
doutrinadores como Tepedino e Oliva (2021, p. 281-282). 
 
Ressaltamos, também, que segundo a terminologia adotada por Pontes de Miranda (2012), 
quem integra uma pessoa jurídica não a representa, mas sim a presenta, porque não há um 
mandato, não é um caso de representação, porque não se trata de outra pessoa. Pensemos, por 
exemplo, que, num clube de futebol, a presidência é um órgão daquela pessoa jurídica. Como o 
clube não existe palpavelmente, alguém tem que exercer seus atos, então o presidente do clube 
passa a presentar o clube. Pode ser, contudo, que o clube designe um mandatário. 
 
Exemplo 
Na hipótese em que um vendedor determina que um terceiro celebre, em seu nome, uma venda, 
por um preço tal, a procuração outorgaria o seguinte poder: “venda”. Já o mandato diria: “venda 
por tal preço”. A razão para isso é que “[e]nquanto o representante age em nome do 
representado, o mandatário age em nome e no interesse do mandante” (TEPEDINO; OLIVA, 
2021, p. 284). 
 
 
 
MÓDULO 02 - Identificar as modalidades e os defeitos dos negócios jurídicos 
 
1. DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Os defeitos do negócio jurídico são aqueles “vícios que maculam a declaração de vontade do 
agente, deflagrando a anulabilidade do negócio jurídico celebrado” (SCHREIBER, 2020, p. 366). 
 
Segundo o Código Civil (CC), são eles: 
 
 
 
Erro 
Consiste este defeito “em falsa representação da realidade que vicia a manifestação de vontade. 
A partir da percepção equivocada de relevantes aspectos negociais, forma-se a vontade 
defeituosa, por haver divergência entre a vontade declarada e a que seria declarada não fosse 
a errônea compreensão da realidade” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 316). 
 
No entanto, para que o erro tenha o condão de levar o negócio à anulabilidade, é preciso que 
ele seja substancial e também cognoscível, o que está na parte final do art. 138 do CC: 
 
São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro 
substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das 
circunstâncias do negócio. 
 
Nesse sentido, substancial é o erro determinante, isto é, se a parte não tivesse nele incorrido, 
ela não teria celebrado o negócio. É o exemplo do colecionador de objetos históricos que compra 
um “anel de ouro de Pompeia”, achando que se tratava da região italiana, mas, em verdade, o 
anel era da região com o mesmo nome em São Paulo. 
 
Segundo o art. 139 do CC, o erro é substancial quando: 
 
 
A isso se contrapõe o erro acidental: é aquele que diz respeito a qualidades secundárias do 
objeto do negócio, de modo que o indivíduo até celebraria o negócio, mas não naquela 
circunstância. É o exemplo da pessoa que compra o apartamento 201 pensando que está 
comprando o 202, onde bateria mais sol: a pessoa até compraria o 201, mas preferia o 202. O 
erro acidental não enseja anulabilidade, mas eventualmente apenas perdas e danos. 
 
Outro exemplo está no art. 142 do CC, que prevê que o erro de indicação da pessoa ou da coisa, 
a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas 
circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. Além disso, “O erro de cálculo 
apenas autoriza a retificação da declaração de vontade” (art. 143). Ainda, “o falso motivo só vicia 
a declaração de vontade quando expresso como razão determinante” (art. 140). 
 
Dolo 
 
Na definição de Clóvis Beviláqua (2001, p. 299), “é o artifício ou expediente astucioso, 
empregado para induzir alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao 
autor do dolo ou a terceiro”. Todavia, para que o dolo enseje a anulação do negócio, ele 
precisa “ser a sua causa (dolo essencial), isto é, razão determinante da celebração do ajuste 
(CC, art. 145)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 321). 
 
 
Contudo, o chamado dolo acidental, embora desperte para a vítima do ardil o direito ao 
ressarcimento pelas perdas e danos experimentados: 
 
Não acarreta a invalidação do negócio, haja vista que este seria celebrado a despeito do dolo, 
embora por outro modo (CC, art. 146). O dolo essencial, a seu turno, além da invalidação do 
negócio, também sujeita aquele que operou maliciosamente a indenizar eventuais danos sofridos 
pela parte que manifestou a vontade viciada. 
 
A doutrina ainda diferencia o dolus maluss do dolus bonus: 
 
 
 
O dolo pode se dar por ação ou por omissão, como prevê o art. 147: 
 
Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou 
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o 
negócio não se teria celebrado. 
 
Pode aindaser dolo recíproco, e, se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode 
alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. 
Vamos abordar agora outros dois tipos de dolo: 
 
- Dolo de Terceiro 
Ocorre se quem induz o declarante a erro for não a outra parte do negócio, mas um terceiro (art. 
148 do CC). Nessa hipótese, o negócio só será “anulável se o receptor da declaração dele tivesse 
ou devesse ter conhecimento. Caso contrário, o negócio subsiste, mas o terceiro responde por 
todas as perdas e [os] danos sofridos pela vítima do dolo” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 323). 
 
- Dolo do Representante 
O art. 149 alude ao dolo do representante: “O dolo do representante legal de uma das partes só 
obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, 
o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por 
perdas e danos”. 
 
Coação 
Nesta modalidade, incute-se no declarante (chamado de paciente) fundado temor de dano 
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. Caso diga respeito a uma 
pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se 
houve coação. É o que afirmam o art. 151 do CC e seu único parágrafo. Além disso, no apreciar 
a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente 
e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela (art. 152). 
 
Alude-se a dois tipos de violência: 
 
 
 
A coação a que se referiu o Código seria somente a moral, pois a física excluiria “por completo 
a vontade do agente, reduzido a instrumento passivo do ato, implicando ausência total de 
consentimento. Aqui não há vício porque não há sequer vontade, elemento essencial à própria 
formação do negócio jurídico” 
 
Na coação se verifica o recurso à violência moral por alguém (coator ou autor da coação) para 
compelir outrem (paciente ou coacto) a celebrar negócio jurídico. Trata-se de pressão ou 
violência moral irresistível contra quem declara a vontade, tornando-a defeituosa. 
 
Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor 
reverencial (art. 153 do CC). 
 
No entanto, vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse 
ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por 
perdas e danos (art. 154). 
 
Outra é a solução se a coação decorrer de terceiro sem que a parte a que aproveite dela tivesse 
ou devesse ter conhecimento. Nesse caso, subsistirá o negócio jurídico, mas o autor da coação 
responderá por todos os danos e perdas que houver causado ao coacto (art. 155). 
 
 
 
 
2. VÍCIOS SOCIAIS: ESTADO DE PERIGO, LESÃO E FRAUDE 
 
a. Estado de perigo 
Segundo o art. 156 do CC, “configura-se estado de perigo quando alguém, premido da 
necessidade de salvar-se, ou a uma pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra 
parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não 
pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias”. 
 
Exemplo 
O pai que, vendo seu filho à beira da morte, aceita pagar um valor desproporcional para que ele 
receba um tratamento no hospital. 
 
Conforme Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 328), três são os requisitos 
necessários para a caracterização do estado de perigo: 
 
(i) Assunção de obrigação excessivamente onerosa. 
 
(ii) Dolo de aproveitamento, consistente no ânimo de se aproveitar do estado de necessidade de 
outrem. 
 
(iii) Vulnerabilidade daquele que assume a prestação excessivamente onerosa, oriunda da 
necessidade de salvar a si ou a pessoa de sua família. 
 
O perigo não precisa ser real para viciar a formação da vontade; basta a crença do declarante 
de que a grave situação de perigo existe, aliada ao aproveitamento deste estado psicológico pela 
contraparte. 
 
b. Lesão 
Segundo o art. 157 do CC, ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou 
por inexperiência, se obriga à prestação de realizar um negócio jurídico com alguma pessoa, 
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 
 
De acordo com Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 330), são requisitos da lesão: 
 
- A desproporção manifesta entre as prestações estabelecidas no contrato no momento da 
realização do negócio (requisito objetivo); e 
 
- Inexperiência do lesado ou ter este agido premido por necessidade (requisito subjetivo). 
 
Aqui, diferentemente do estado de perigo, o legislador não exige o dolo de aproveitamento. Com 
efeito, a parte que se beneficia da lesão: 
 
Não precisa agir com o intuito de se aproveitar da inexperiência ou da necessidade da 
contraparte, não existindo, quanto a ela, qualquer requisito subjetivo. Na lesão é necessária, de 
outra parte, a inexperiência ou a necessidade do lesado (requisito subjetivo), determinantes para 
a celebração do negócio naquelas condições. Em uma palavra, exige-se o aproveitamento 
(objetivo) da situação de inexperiência ou de necessidade, mas não o dolo de aproveitamento. 
 
c. Fraude contra credores 
Segundo o art. 158 do CC, os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, 
se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, 
poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. A intenção 
do legislador aqui foi a proteção dos credores quirografários – isto é, aqueles “que têm como 
garantia o patrimônio geral do devedor, sem qualquer privilégio ou garantia real, bem como 
aqueles cuja garantia se torne insuficiente (CC, art. 158, § 1º) – de negócios praticados pelo 
devedor em prejuízo da garantia patrimonial geral” (TEPEDINO; OLIVA, p. 334). 
 
Atenção 
O ato só poderá ser qualificado como fraudulento “se efetivamente comprometer a capacidade 
do devedor de honrar suas obrigações, reduzindo-o à insolvência – que se caracteriza pela 
circunstância de o passivo patrimonial superar o ativo – ou agravando este quadro (eventus 
damni). Sem esse pressuposto objetivo não há de se cogitar de fraude contra credores”. 
 
Tradicionalmente, a doutrina aponta, portanto, dois elementos como caracterizadores da fraude 
contra credores (SCHREIBER, 2020, p. 390): 
 
Eventus damni 
É o prejuízo objetivamente causado ao credor, por tornar o devedor insolvente 
ou por ter agravado ainda mais seu estado de insolvência. 
Consilium fraudis 
É definida como a intenção do devedor ou do devedor aliado com terceiro de 
ilidir os efeitos da cobrança pelos credores. 
Atenção 
Nada obstante, o consilium fraudis “tem passado por progressiva relativização, dispensando-se 
a tormentosa prova da intenção de prejudicar, quer nas transmissões gratuitas, quer nas 
onerosas”, de modo que não se tem exigido do devedor a intenção deliberada de causar prejuízo 
(animus nocendi), bastando que haja a consciência de produzir o dano (SCHREIBER, 2020, p. 
390-391). 
 
Há diferença entre negócios gratuitos e onerosos: 
 
[N]o primeiro caso, basta a demonstração de que o ato ensejou a insolvência ou de que, à época 
de sua celebração, o devedor já estava insolvente (CC, art. 158, caput). Em se tratando de 
negócio oneroso, é necessário, ainda, demonstrar que (i) a contraparte sabia – ou tinha meios 
para saber – da insolvência do devedor; ou (ii) a insolvência era notória (CC, art. 159). 
 
Por fim, os autores esclarecem: 
 
O negócio considerado fraudulento poderá ser anulado pelos credores prejudicados. Existe 
intenso debate doutrinário acerca da solução legal para o negócio praticado em fraude contra 
credores: anulação ou ineficácia do ato. Ao deliberadamente optar pela consequência da 
anulação, quis o legislador proteger os credores quirografários como um todo com o retorno do 
bem ao patrimônio do devedor, não já apenas o credor que intentou a ação. Por isso, inclusive, 
a disposição expressa do art. 165 do Código Civil de que, havendoconcurso instaurado, o bem 
deve retornar ao acervo em relação ao qual os credores irão satisfazer o seu crédito. A ação a 
ser movida pelo credor fraudado para buscar a anulação do negócio jurídico é denominada ação 
pauliana ou ação revocatória. 
3. SIMULAÇÃO 
 
Para finalizarmos este módulo, falaremos da simulação, que consiste em causa de nulidade do 
negócio jurídico, segundo o caput do art. 167, que prevê que é nulo o negócio jurídico simulado, 
mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. 
 
Em verdade, “[o] negócio simulado não passa de mera aparência: as partes não querem o 
negócio celebrado, seja porque não desejam negócio algum (simulação absoluta), seja porque 
pretendem negócio diverso (simulação relativa)” 
 
Os autores esclarecem, ainda, que, para a doutrina, na simulação: 
 
Há divergência intencional entre o declarado e o efetivamente realizado, diferenciando-se a 
simulação absoluta da relativa pela inexistência, na primeira, de negócio jurídico subjacente 
(negócio dissimulado), que é o verdadeiro acordo almejado pelas partes na simulação relativa. 
O negócio dissimulado pode subsistir, consoante se depreende do art. 167 do Código Civil, caso 
apresente os requisitos de validade que lhe são próprios. 
 
Conforme Anderson Schreiber (2020, p. 400), ela pressupõe a confluência de três elementos: 
 
- A divergência entre o negócio jurídico celebrado e os efeitos perseguidos pelos declarantes. 
- Um acordo simulatório entre os declarantes. 
- O intuito de enganar terceiros. 
 
Em seu § 1º, o art. 167 dispõe que haverá simulação nos negócios jurídicos quando: 
 
I - Aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente 
se conferem, ou transmitem. 
 
II - Contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. 
 
III - Os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados. 
 
Já o § 2º ressalva os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico 
simulado. 
 
Por fim, apesar de ambas conduzirem ao mesmo resultado (a nulidade do negócio), aparta-se a 
simulação maliciosa da inocente. 
 
O intuito de enganar terceiro não implica necessariamente intuito de causar dano ou violar a lei. 
Se esse ocorrer também, reputa-se maliciosa a simulação. É o caso de uma venda em que se 
simula um preço maior que o efetivamente pago para prejudicar o titular de direito de preferência, 
ou um preço menor para prejudicar o Fisco. Se as partes, ao contrário, estiverem de boa-fé, a 
simulação é chamada inocente, como no exemplo do comodante que opta por um comodato por 
prazo indeterminado, disfarçando uma doação que deseja e não celebra abertamente para não 
magoar o terceiro que lhe presentou com o bem. 
 
 
MÓDULO 03 - Identificar as causas de inexistência, nulidade e anulabilidade dos negócios 
jurídicos 
 
1. INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
Como vimos ao longo deste estudo, cada vez mais a doutrina tem adotado uma perspectiva 
funcionalizante dos institutos. Em vez de analisar somente a estrutura, procura-se enxergar a 
função dos institutos. 
 
Isso parece ocorrer também com o estudo dos planos do negócio jurídico e ao que se 
convencionou designar Escada Ponteana em referência ao autor Francisco Cavalcanti Pontes 
de Miranda. 
 
Como pudemos analisar, são três os planos: 
 
Existência 
 
Validade 
 
Eficácia 
 
Ou seja: o negócio precisa incialmente existir (são elementos de existência: a forma, o agente, 
a vontade e o objeto) e, uma vez existente na ordem jurídica, precisa ele ser válido, isto é, precisa 
observar uma série de regras, como aquela constante do art. 104 do Código Civil (CC). 
 
A validade do negócio jurídico requer: 
 
- Agente capaz 
 
- Objeto lícito, possível, determinado ou determinável 
 
- Forma prescrita ou não defesa em lei 
 
Finalmente, existente e válido, passa-se a avaliar se aquele negócio produzirá seus efeitos na 
ordem jurídica. 
 
2. INEXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Como afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2017, p. 619), no plano da 
existência do negócio jurídico, não se discute a sua validade/invalidade ou eficácia. A análise 
recai exclusivamente sobre: 
 
O ser, isto é, o preenchimento das condições mínimas para que possa produzir efeitos. O negócio 
jurídico inexistente é o que não possui os elementos fáticos que a sua natureza supõe e exige 
como condição existencial, conduzindo a sua falta à impossibilidade de sua formação. [Desse 
modo,] frustrados os elementos de existência, não existe na órbita jurídica, não podendo 
produzir, por conseguinte, qualquer efeito jurídico. É o não ato. 
 
Como vimos, a doutrina diverge com relação a quais seriam esses pressupostos de existência. 
No entanto, optamos em nosso estudo por aceitar como elementos os seguintes: a forma, o 
agente, a vontade e o objeto. 
 
Exemplo 
Uma mulher (agente) faz, em pleno gozo de suas faculdades mentais (vontade), testamento 
público (forma) para dispor sobre seu patrimônio disponível (objeto). 
 
Merece menção o entendimento de Azevedo (2002, p. 117), para quem são elementos 
constitutivos do negócio jurídico o objeto, a forma e as circunstâncias negociais. Estas seriam 
compreendidas “como aquelas circunstâncias que fazem com que a manifestação de vontade 
seja vista socialmente como dirigida à produção de efeitos jurídicos. As circunstâncias negociais 
são aquilo que permitiria distinguir, por exemplo, uma promessa de contratar de um mero convite 
para comparecer a um evento social” (SCHREIBER, 2020, p. 339). 
 
 
3. NULIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Segundo Clóvis Beviláqua (2001, p. 345), a nulidade “é a declaração legal de que a determinados 
atos jurídicos não se prendem os efeitos ordinariamente produzidos pelos atos semelhantes. 
Como a pena, em relação ao crime, é a decretação da nulidade uma reação do organismo social 
para manter ou restabelecer o equilíbrio da ordem jurídica”. 
 
E essa reação pode se operar de forma mais ou menos violenta, de acordo com os interesses 
feridos pela ilegalidade daquele determinado ato. É por isso que, classicamente, trata-se do 
regime de invalidades dos negócios jurídicos partindo-se da distinção entre as suas duas 
espécies: 
 
 
 
Ou seja, os casos de nulidade seriam mais graves e, portanto, ensejariam uma reprimenda mais 
intensa do ordenamento se comparada àquela conferida aos atos sujeitos à anulabilidade. 
 
Vejamos a respeito do decreto e dos efeitos de ambas: 
 
Quanto à decretação 
Como consequência, a nulidade deveria ser pronunciada de oficio pelo juiz a qualquer tempo, 
podendo ser invocada tanto pelas partes como pelo Ministério Público (art. 168 do CC), ao passo 
que a anulabilidade, para ser decretada, deveria ser alegada por uma das partes, seguindo um 
critério de aproveitamento (art. 177 do CC). 
 
Quanto aos efeitos 
Quanto aos efeitos, diz-se que a nulidade provoca efeitos retroativamente (ex tunc), enquanto a 
anulabilidade produziria efeitos não retroativos (ex nunc). Além disso, por ser um vício absoluto, 
cujos efeitos se operam de pleno direito (pleno iure), a nulidade não admitira convalescimento, 
sendo considerada, ainda, imprescritível por parte considerável da doutrina. O mesmo não 
sucederia com a anulabilidade, que estaria submetida a prazos decadenciais mais curtos, 
podendo ser suprida pelas partes de maneira expressa ou tácita (arts. 172 a 175 do CC) 
(SCHREIBER, 2020, p. 397-398). 
 
De acordo com o rol não taxativo do art. 166, é nulo o negócio jurídico quando: 
 
- Celebrado por pessoa absolutamente incapaz. 
 
- O seu objeto for ilícito, impossível ou indeterminável. 
 
- O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito. 
 
- Não revestir a forma prescrita em lei. 
 
- For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade. 
 
- Tiver por objetivo fraudar lei imperativa. 
 
- A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 
 
- Tratar-se de negócio jurídico simulado, emborasubsista o que se dissimulou, se válido for na 
substância e na forma. 
 
Contudo, na esteira do art. 171, são causas de anulabilidade dos negócios jurídicos, além dos 
casos expressamente declarados na lei: 
 
- A incapacidade relativa do agente. 
 
- Os vícios resultantes de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. 
 
Quebrando a lógica tradicional, hoje vemos que muitos atos nulos podem ser eficazes, sobretudo 
quando se analisam também os efeitos que, embora não pretendidos pelas partes, acabaram se 
operando. Eduardo Souza (2017b, p. 27) traz alguns desses exemplos no âmbito do Direito Civil 
a seguir. 
 
Uma dação em pagamento nula pode importar confissão de dívida para fins de interrupção da 
prescrição (art. 202, VI do Código Civil). O ato translatício do domínio, ainda que nulo, serve 
como causa justificadora da posse. Subsistem os deveres anexos de proteção a despeito da 
nulidade contratual. O casamento nulo faz prova da filiação (art. 1.617 do Código Civil). O 
casamento putativo produz seus efeitos em prol dos filhos e dos cônjuges de boa-fé (art. 1.561 
do Código Civil). O ato nulo pode, ainda, criar o dever de indenizar, se verificados os requisitos 
da responsabilidade civil (apenas impropriamente alude o art. 182 do Código Civil à ‘indenização’ 
como efeito normal da invalidação). 
 
Importa ressaltar, ainda, que o CC brasileiro dispensou “o critério do prejuízo para a configuração 
da nulidade, rejeitando o velho adágio francês segundo o qual pas de nullité sans grief (não há 
nulidade sem prejuízo). Assim, os negócios jurídicos podem ser declarados nulos 
independentemente de haver configuração de prejuízo para qualquer das partes ou terceiros” 
(SCHREIBER, 2020, p. 398, grifo no original). 
 
A lógica do legislador é a de que tais negócios deveriam ser extirpados da ordem jurídica na 
medida em que a ofendem por si só, pois a sua manutenção estimularia um ambiente negocial 
nocivo. É basilar, assim, “o princípio do respeito à ordem pública, assentando as regras 
definidoras da nulidade na infração de leis que têm este caráter cogente” (PEREIRA, 2017, p. 
508). 
 
Cada vez mais, portanto, se busca evitar a invalidação total dos atos e negócios do ordenamento, 
dadas as consequências traumáticas geradas por toda invalidação, embora as razões que as 
justifiquem sejam, usualmente, interesses tão sensíveis que não se admite que uma violação a 
eles produza efeitos em benefício de quem os deu causa. 
 
Comentário 
Nada obstante, a própria ideia do princípio do aproveitamento dos atos, com a consequente 
conversão dos negócios jurídicos, ao lado da busca por um controle funcional e valorativo das 
invalidades, revela uma tendência crescente de se revisitar as velhas construções dogmáticas 
em matéria de invalidades para se construir, no caso concreto, um resultado mais consentâneo 
com a axiologia constitucional. 
 
Finalmente, cabe a leitura dos arts. 169 e 170 para compreender o procedimento da conversão 
do negócio jurídico, previsto neste último artigo: 
 
 
 
É, de fato, um mecanismo “por meio do qual o intérprete, perante um negócio jurídico a que falte 
um elemento inderrogável, qualifica-o em outro tipo, mediante o aproveitamento dos elementos 
presentes. Trata-se de uma aplicação do brocardo segundo o qual utile per inutile non vitiatur (o 
útil não se vicia pelo inútil)” 
 
Atenção 
Importante notar ainda que a conversão “não modifica a vontade das partes. O que se converte 
não é a declaração de vontade em sua substância, mas o negócio jurídico em que se qualifica” 
(SCHREIBER, 2020, p. 406). 
 
 
FIM DO TEMA 4

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