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Monografia_Leila_União Estável (2)DIREITO

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INTRODUÇÃO
	Este trabalho através de pesquisas apresentará as leis que apóiam àqueles que vivem a situação da União Estável, orientando-os em tudo que se faz necessário; o que mudou após a Constituição de 1988 em relação a União Estável; o Código Civil de 1916, considerado o parâmetro moral e social da época, acabou por entender como família ideal apenas e tão somente a que decorre do casamento.
	O homem e a mulher que vive junto têm seus direitos garantidos por lei, da mesma forma daqueles que são casados. O emprego da expressão “união estável” como forma de designação das uniões extras matrimoniais formadores de família e definida pela jurista Marilene Guimarães, para quem após a Constituição Federal de 1988, não se deveria usar mais a expressão concubinato, e sim união estável, como consta do art. 226, parágrafo 3º.
	Serão observadas as dúvidas que pairam entre muitos casais esclarecendo-os dentro das leis vigentes no país. Também serão examinadas várias obras que ratam do assunto em voga procurando apresentar um trabalho bem esclarecedor, tais como: artigos, livros, revistas e também, se necessário, pesquisa de campo.
	Para fechar esse trabalho discutiremos a união homoafetiva que o Brasil desde 1995, através de um projeto de lei que leva o nº 1.115, de autoria de Marta Suplicy, então Deputado Federal, visando regulamentar as uniões homossexuais, protegendo o direito à sucessão, à propriedade dos participantes dessas uniões. 
	Esse trabalho foi dividido em quatro capítulos, sendo que o primeiro capítulo tratará da União Estável como entidade familiar abordando desde sua origem até uma análise de acordo com a legislação vigente. No segundo capítulo, analisaremos a família e todos os seus direitos; sua relação com o casamento, Estado, sociedade, igreja, os juristas e as Leis. No capítulo seguinte, abordaremos a união estável no Brasil com um breve comentário sobre cada item. Por fim, o quarto e último capítulo serão focalizados os direitos e deveres sucessórios dos companheiros em união estável. o resultado esperado é auxiliar àqueles que vivem tal situação e precisam dos seus direitos diante das leis vigentes no país, a partir da Constituição de 1988.
	
CAPITULO I - A FAMÍLIA
	De acordo com o minidicionário SACCONI da língua portuguesa� Família, eis a definição: Grupo social fundamental na sociedade, constituindo basicamente de um homem, uma mulher e seus descendentes. Outra definição, do mesmo dicionário fala que é um grupo de pessoas de ancestrais comuns.
	
A Origem da Família
	Conforme Pereira a palavra família, que tem o radical fam, apresenta o mesmo radical dham da língua ariana que significa pôr, estabelecer, e que transmite a idéia de fixação, da qual a casa é o bem imóvel por excelência. Na língua antiga sânscrito, a palavra que nomeia casa de dhaman, a qual, pela mudança do dh em f em dialeto antigo, deu a palavra faama, cuja desistência exprime coletividade. Casa em latim é i, no grego domos, com o mesmo radical ariano dam, que significa unir, construir. Deriva também do verbete latino famulus – domésticos, servidores, escravos, séquito, comitiva, cortejo, casa, família.� 
	Concluindo, a identidade de significação das dias raízes parece indicar um mesmo sentido porque a inteligência dos povos primitivos não era tão rica que se desse ao luxo verbal de dispor de várias palavras para exprimir a mesma idéia. Acrescente-se que a palavra de mais semelhança com família encontrada nos textos antigos é farmuli, como eram chamados todos os que habitavam a casa e, portanto, podemos considerar familiar o conjunto deles.�
O Conceito Família
	A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimônio ou adoção. Nesse sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes diretos. A família é unida reciprocamente durante uma vida e durante as gerações.
	Minuchin (1990) define a família como: 
“um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a igualmente como um sistema que opera através de padrões transacionais. Assim, no interior da família, os indivíduos podem construir subsistemas, podendo estes ser formados por geração, sexo, interesse e/ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. A família como uma unidade social enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes”.�
1.2.1. Analisando Juridicamente
	Juridicamente a família assenta sua existência concreta na noção de estado, entendido este como uma posição relativa que o indivíduo ocupa naquele agrupamento em que ela se exterioriza.	Em sentido lato, abrange não somente a família oriunda da consaguinidade, como também a família legítima ou natural, e ainda aquele tipo de família criada pela lei sobre vontade das partes, ou seja, a família adotiva. O conceito de família, nesse sentido, compreende todas as pessoas unificadas pela convivência, sob o mesmo teto e economia comum. Em sentido restrito, família é um grupo de pessoas composto de pais e filhos, apresentando certa unidade de relações jurídicas, tendo uma comunidade de interesse, fins morais e materiais, organizado sob a autoridade denominada pátrio poder. Ainda em sentido mais estrito – uma concepção da constituição moderna – a entidade familiar como comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (CF, art.226, § 4º). Sintetizando, família exprime a reunião de várias pessoas sob o pátrio poder. �
		Conforme Alberto Eiguer, psicanalista Francês, são três organizadores:
1. Escolha de objeto;
2. “As vivências do “eu familiar” e sentimentos de pertença”;
3. O romance familiar, vivido na primeira infância representando uma imagem idealizada dos pais.
Quanto ao primeiro item – “escolha de objeto” – haveria três modelos: Uma família norte-americana
Escolha objetal analítica, ou assimétrica: o homem ou a mulher buscam um parceiro que lhes forneça amparo e apoio (mãe ou pai da infância). É uma escolha alimentada pela pulsão de conservação e visa, antes de tudo, dominar a angústia de perda das figuras parentais. Haveria uma identificação mútua na perda e cada um idealiza o outro. De alguma forma, o casal se julga sabedor de como um deve sanar a falta do outro. Dois caminhos se oferecem; a) defensivo: quando o homem escolhe uma mulher que é o oposto ao pai e vice versa; b) regressivo: quando se identifica, no parceiro, um sucedâneo da figura parental de identificação.
Escolha objetal narcisista ou simétrica: Neste caso, a pessoa se liga a um parceiro que se assemelha; a) ao que se é; b) ao que se foi; c) ao que gostaria de ser; d) ao que possui uma parte do que se foi.
	O vínculo se estabelece a partir de uma idéia de poder, orgulho, onipotência e ambição. Por exemplo: o parceiro seria alguém que seja difícil, a fim de se comparar com ele em força e em capacidade manipuladora. Há um jogo sadomasoquista na relação. Exemplo: uma pessoa, muito fechada, tímida e insegura se sente atraída pelo parceiro arrogante e sociável. É provável que uma das partes acabe desprezando a outra.
3) Escolha objetal edípica, ou dissimétrica: trata-se de uma escolha regida, pela identificação madura e adulta ao pai do mesmo sexo. Exemplo: 
a) um rapaz se casa com uma mulher que, de alguma forma, representa a mãe dele; 
b) casais que procuram o significado de sua relação amorosa, de interação homem-mulher, baseado nas vivências satisfatórias em suas famílias de origem.�
	As afirmações de Alberto Eiguer se basearam em pesquisas feitas durante anos, na França,com casais que procuram terapia. As bases teóricas se fundamentam na teoria psicanalítica do Complexo de Édipo e sua resolução – teoria esta colocada em cheque por inúmeros autores. Afinal, Freud viveu na época vitoriana e tinha, por modelos, a família estruturada pelo pai, mãe e filhos. Esse tipo de família, por incrível que pareça, somente foi definido por Littré, em 1869 (há menos de duzentos anos).� 
A Família na História
	Até o início da década de sessenta, não se poderia sequer pensar numa história da família. As ciências históricas ainda se encontram, nesse domínio, sob a influência dos Cinco Livros de Moisés. A forma patriarcal da família, pintada nesses cinco livros com maior riqueza de minúcias o que em qualquer outro lugar, não somente era admitida, sem reservas, como a mais antiga, como também se identificava – excetuando a poligamia – com a família burguesa de hoje, de modo que era como se a família não tivesse tido evolução alguma através da história. Quando muito, admitia-se que nos tempos primitivos pudesse ter havido um período de promiscuidade sexual. É certo que, além da monogamia, conheciam-se a poligamia no Oriente e a poliandria na Índia e no Tibete; mas estas três formas não podiam ser dispostas historicamente, em ordem sucessiva: figuravam juntas, umas ao lado das outras, sem nenhuma conexão.
	O estudo da história da família começa, de fato, em 1861, com o Direito Materno de Bachofen. Nesse livro, o autor formula as seguintes teses: � 
1 - primitivamente, os seres humanos viveram em promiscuidade sexual (impropriamente chamada de heterismo por Bachofen); 
2 – estas relações excluíam toda a possibilidade de estabelecer, com rigor, a paternidade, pelo que a filiação apenas podia ser contada por linha feminina, segundo o direito materno, e isso se verificou em todos os povos antigos; 
3 – como consequência desse fato, as mulheres, como mães, como únicos progenitores conhecidos da jovem geração, gozavam de grande apreço e respeito, alcançando, de acordo com Bachofen, o domínio absoluto (gineococracia); 
4 – a passagem para a monogamia, em que a mulher pertence a um só homem, incidia na transgressão de uma lei religiosa muito antiga (isto é, do direito imemorial que os outros homens tinham sobre aquela mulher), transgressão que devia ser castigada, ou cuja tolerância se compensava com a posse da mulher por outros, durante determinado período.
	Bachofen encontrou as provas dessas teses em numerosos trechos da literatura clássica antiga, por ele reunidos com zelo singular. A passagem do “heterismo, à monogamia e do direito materno ao paterno, segundo Bachofen, processa-se – particularmente entre os gregos – em consequência do desenvolvimento das concepções religiosas, da introdução de novas divindades, representativas de idéias novas, nos grupos de deuses tradicionais, que eram a encarnação das velhas idéias; pouco a pouco os velhos deuses vão sendo relegados para segundo plano. �
1.4. A Família no Brasil
	A abordagem histórica do tema da família no Brasil, quando se inicia a partir dos anos 80, faz-se nessas condições. Em um primeiro momento, privilegiando análise empírica, quando não quantitativas, os historiadores voltaram-se contra a obra clássica de Gilberto Freyre. Interpretando-a mais como uma descrição empírica da família brasileira, negaram o caráter patriarcal da família a partir de uma série de pesquisas históricas localizadas no Sudeste brasileiro, atribuindo àquilo que consideravam um “modelo” de Freyre à situação histórica do longínquo Nordeste colonial. Não viram que Freyre falava de um modelo e sim de uma mentalidade que ultrapassa de longe o âmbito da família biológica e institucional, para se aninhar no seio da própria sociedade colonial, com repercussões até os dias presentes.�
	As famílias institucionais estudadas na história da região Sudeste não eram tão amplas quanto dizia Freyre, parecendo mais famílias nucleares modernas – três outros argumentos eram avançados. �
1 - As mulheres separavam-se dos maridos com certa frequência; falou-se até de divórcio no sentido que lhe é dado atualmente; 
2 - Havia muitos filhos ilegítimos, bastardos; 
3 - As mulheres viúvas ou na ausência do marido assumiam papéis de mando nos empreendimentos da família, de liderança, de cabeça de casal. De tudo isso aviria a conclusão de que aquela família patriarcal de Freyre era um modelo antigo, próprio apenas do Nordeste atrasado, enquanto no sudeste, por causa destas características citadas, teria havido desde a Colônia, uma família mais próxima da moderna.
	Pensar, portanto a família patriarcal como uma mentalidade, incorporando nossos historiadores clássicos, permite integrar a história da família à história da sociedade brasileira, interligando o espaço privado e o público, tal como se combinaram no Brasil tradicional. Ou seja, inserindo o estudo da parte – a família – na totalidade do social.
	Em sua obra clássica Raízes do Brasil�, Sérgio Buarque de Holanda mostra como a família fornecia “a idéia mais normal do poder, da respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os homens”, invadia com seus valores a esfera pública, norteando a política que era feita de lealdades entre o senhor rural depois transformado em coronel, e seus capangas e apaniguados. Claro está que a família da qual se fala aqui nada tem a ver como seu modelo nuclear burguês (pai, mãe e filhos), mas o contrário refere-se à noção de família patriarcal rural, onde se incluem os agregados e os escravos. Longe da racionalidade burguesa em que os partidos pretendem guiar-se por princípios assentados em interesses materiais de classe, movidos por sentimentos vindos do coração, e não da razão, daí a cordialidade, sentimentos de ódio ao outro e de afeto e favorecimento aos nossos. Como bem disse Vitor Nunes, aos amigos a justiça, aos inimigos a lei�. São todo um conjunto de elementos mentais legados pela família patriarca cuja origem é a unidade rural escravista, que perpassam não apenas a nossa história, mas inúmeras características de nossa mentalidade atual.
 A Família Cristã no Mundo Contemporâneo
	Estamos conscientes de que o atual ambiente cultural não facilita a vida à família cristã. Esta para permanecer fiel e ser sinal, trava continuamente uma luta, como quem nada contra a corrente. Se resistir, fortalece-se; mas a fidelidade tornou-se mais exigente. Abaixo relataremos alguns traços dessa cultura ambiente e as repercussões que têm sobre a família, dividindo em quatro tópicos: a prioridade do indivíduo sobre a pessoa e a comunidade, a visão funcional da sexualidade, o que é efêmero e positivo sobre o perene com a marca da eternidade e também que a ciência genética fez grandes progressos nos últimos tempos, permitindo ao homem penetrar no mundo insondável da vida.
A prioridade do indivíduo sobre a pessoa e a comunidade. A própria sociedade é concebida como um conjunto de indivíduos, com direitos e deveres regulados pela Lei e raramente se fala da dimensão comunitária da sociedade, que, no entanto é o verdadeiro princípio da sua humanização.
Uma visão funcional da sexualidade. Está na moda desligar a sexualidade do amor; se este existir, pode ajudar. A intimidade sexual aparece na lógica do próprio interesse, não gera compromissos, não é expressão de uma vida partilhada. Se a sexualidade não tiver a beleza e a exigência do amor, a união do casal não é construtora de comunhão e a sua estabilidade está ameaçada. É que na lógica da comunhão, nada exige tanto a gratuidade e generosidade do dom e da busca do bem do outro, como a intimidade sexual. A convivência acordada ou negociada será sempre um simulacro do amor.
Prioridade o que é efêmero e positivo sobre o perene com a marca da eternidade. Se vivermos numa civilização do provisório, do usa e deita fora, porque não havemos de mudar as opções fundamentais da nossa vida? Aliás, haverá ainda lugar para opções definitivas?
A ciência genética fez grandes progressos nosúltimos tempos, permitindo ao homem penetrar no mundo insondável da vida. Esses progressos podem ser benéficos para os casais, desde que os critérios científicos não ditem comportamentos e não se transformem em princípios éticos.
	As leis que se aplicam à família são pragmáticas, tendem a regularizar situações de fato, raramente assentam em princípios doutrinais sobre a família. Localiza-se o aborto, facilita-se o processo de divórcio, equiparam-se à família as chamadas “união de fato”, ferindo a família na sua dignidade institucional. O universo ético que protege a família na sua dignidade é cada vez menos secundado pelas leis, obrigando os cônjuges à coragem de posições pessoais, generosas e decididas.
Neste contexto a família cristã, na sua fidelidade, assume a qualidade de denúncia profética, sinal de um mundo novo, traçando na sociedade um rastro de luz, semente da esperança. Cada pessoa deve muito à força da família a maneira como se comporta em sociedade. A família é o ponto de partida para a cidade e o lar onde se regressa, em busca da força da comunidade. Famílias felizes são sementes de uma sociedade diferente.
	Será que a família cristã sofre, hoje, ataques específicos, ou os dados que referimos são apenas frutos inevitáveis da evolução da sociedade? Por vezes temos a sensação de que o ideal cristão de família é alvo de ataques concretos. Será que querem atingir a Igreja, destruindo a família? Quem destruir a família destrói a sociedade.
CAPÍTULO II - A FAMÍLIA E SEUS DIREITOS
	O art. 1º, inc. III, da Constituição Federal de 1988 prevê que o nosso Estado Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Trata-se daquilo que se denomina princípio máximo, ou superprincípio, ou macroprincípio, ou princípio dos princípios. Diante desse regramento inafastável de proteção da pessoa humana é que está em voga, atualmente entre nós, falar em personalização, repersonalização e despatrimonialização do Direito Privado (ANEXOS). Ao mesmo tempo em que o patrimônio perde importância, a pessoa é supervalorizada.
	Não há ramo do Direito Privado em que a dignidade da pessoa humana tenha mais ingerência ou atuação do que o Direito de Família. De qualquer modo, por certo é difícil a denominação do que seja o princípio da dignidade da pessoa humana. Reconhecendo a submissão de outros preceitos constitucionais à dignidade humana, Ingo Wolfgang Sarlet conceitua o princípio em questão como "o reduto intangível de cada indivíduo e, neste sentido, a última fronteira contra quaisquer ingerências externas. Tal não significa, contudo, a impossibilidade de que se estabeleçam restrições aos direitos e garantias fundamentais, mas que as restrições efetivadas não ultrapassem o limite intangível imposto pela dignidade da pessoa humana".�
	É possível trazer aqui alguns exemplos de aplicação, pela jurisprudência nacional, do princípio da dignidade da pessoa humana no Direito de Família. Primeiro, podemos citar o comum entendimento do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que o imóvel em que reside pessoa solteira é bem de família, estando protegido pela impenhorabilidade constante da Lei n. 8.009/90�. Como reconhece a própria ementa do julgado (aqui transcrita), o que almeja a lei referenciada é a proteção da pessoa, e não de um grupo específico de pessoas, a família em si. Com isso, protege-se a própria dignidade� e o direito constitucional à moradia (art. 6º da CF/88)�.
	É certo que, pelo que consta no art. 226 da Constituição Federal, uma pessoa solteira não constituiria uma família, nos exatos termos do sentido legal. Um solteiro, como se sabe, não constitui uma entidade familiar decorrente de casamento, união estável ou família monoparental. Estaria, então, o julgador alterando o conceito de bem de família? Parece-nos que sim, ampliando o seu conceito para bem de residência da pessoa natural ou bem do patrimônio mínimo, utilizando-se a brilhante concepção de Luiz Edson Fachin. Reside, nesse ponto, forte tendência de personalização do Direito Privado.
	Como segundo exemplo de aplicação da dignidade humana em sede de Direito de Família, podemos citar a tendência doutrinária e jurisprudencial de relativização ou mitigação da culpa nas ações de separação judicial.� 
	A título de exemplo, podemos transcrever:
Separação judicial – pedido intentado com base na culpa exclusiva do cônjuge mulher – decisão que acolhe a pretensão em face da insuportabilidade da vida em comum, independentemente da verificação da culpa em relação a ambos os litigantes – admissibilidade. 
	A despeito de o pedido inicial atribuir culpa exclusiva à ré e de inexistir reconvenção, ainda que não comprovada tal culpabilidade, é possível ao Julgador levar em consideração outros fatos que tornem evidentes a insustentabilidade da vida em comum e, diante disso, decretar a separação judicial do casal. Hipótese em que da decretação da separação judicial não surtem conseqüências jurídicas relevantes. Embargos de “divergência conhecidos, mas rejeitados (ANEXOS).
	Como terceiro e último exemplo, trazemos a tão comentada tese do abandono paterno-filial ou teoria do desamor. Em mais de um julgado, a jurisprudência pátria condenou pais a pagar indenização aos filhos pelo abandono afetivo, por clara lesão à dignidade humana. O julgado mais notório é o do extinto Tribunal de Alçada Civil de Minas Gerais, cuja ementa é transcrita a seguir, com referência expressa à dignidade humana: “Indenização Danos Morais – Relação Paterno-Filial – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana – Princípio da Afetividade”. A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno, que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana.� 
	Naquela ocasião, reformando a decisão de primeira instância, o pai foi condenado a pagar indenização de 200 salários mínimos ao filho por tê-lo abandonado afetivamente. Isso porque, após a separação em relação à mãe do autor da ação, o seu novo casamento e o nascimento da filha advinda da nova união, o pai passou a privar o filho de sua convivência. Entretanto, o pai continuou arcando com os alimentos para o sustento do filho, abandonando-o somente no plano do afeto, do amor.(ANEXOS). Entretanto, mais recentemente, a decisão foi reformada pelo Superior Tribunal de Justiça, que afastou a condenação por danos morais (ANEXOS). 
	A decisão provocou manifestações contrárias da doutrina, como a que nos foi enviada por mensagem eletrônica pela jurista Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, professora associada do Departamento de Direito Civil da Universidade de São Paulo, no dia 30 de novembro de 2005�.
	Como se pode perceber, o princípio de proteção da dignidade da pessoa humana é o ponto central da discussão atual do Direito de Família, entrando em cena para resolver várias questões práticas envolvendo as relações familiares. Concluindo, podemos afirmar que o princípio da dignidade humana é o ponto de partida do novo Direito de Família brasileiro (ANEXOS).
2.1. A Família e o Casamento
	O Código Civil de 1916 proclamava, no art.229, que o primeiro e principal efeito do casamento é a criação da família legítima. A família estabelecida fora do casamento era considerada ilegítima e só mencionada em alguns dispositivos que faziam restrições a esse modo de convivência, então chamado de concubinato, proibindo-se, por exemplo, doações ou benefícios testamentários do homem casado à concubina, ou a inclusão desta como beneficiária de contrato de seguro de vida.
	Os filhos que não procediam de justas núpcias, mas de relações extra-matrimoniais, eram classificados como ilegítimos e não tinham suas filiações asseguradas pela lei, podendo ser naturais e espúrios. Os primeiros eram os� que nasciam de homens e mulher entre os quais não havia impedimento matrimonial. Os espúrios eram nascidos de pais impedidos de se casar entre si em decorrência de parentesco,afinidade ou casamento anterior e se dividiam em adulterinos e incestuosos. Somente os filhos naturais podiam ser reconhecidos, embora apenas os legitimados pelo casamento dos pais, após sua concepção ou nascimento, fossem em tudo equiparados aos legítimos (art. 352)(ANEXOS).
	O art.358 do mencionado Código Civil de 1916 proibia, no entanto, expressamente, o reconhecimento dos filhos adulterinos e incestuosos. O aludido dispositivo só foi revogado em 1989 pela Lei nº 7.841, depois que a Constituição Federal de 1988 proibiu, no art. 227, § 6º, qualquer designação discriminatória relativa à filiação, proclamando a igualdade de direitos e qualificações entre os filhos, havidos ou não da relação do casamento.�
	Antes mesmo da Nova Carta, no entanto, aos poucos, a começar pela legislação previdenciária, alguns direitos da concubina foram sendo reconhecidos, tendo a jurisprudência admitida outros, como o direito à menção dos bens adquiridos pelo esforço comum (STF, Súmula 380). As restrições existentes no Código Civil passaram a ser aplicadas somente aos casos de concubinato adulterino, em que o homem vivia com a esposa e, concomitantemente, mantinha concubina. Quando, porém, encontrava-se separado de fato da esposa e estabelecia com a concubina um relacionamento more uxório, isto é, de marido e mulher, tais restrições deixavam de ser aplicadas, e a mulher passava a ser chamada de companheira.�
	As soluções para os conflitos pessoais e patrimoniais surgidos entre os que mantinham uma comunhão de vida sem casamento eram encontradas, todavia, fora do direito de família. A mulher abandonada fazia jus a uma indenização por serviços prestados, baseada no princípio que veda o enriquecimento sem causa. 
Muitas décadas foram necessárias para que se vencessem os focos de resistência e prevalecesse uma visão mais socializadora e humana do direito, até se alcançar o reconhecimento da própria sociedade concubinária como fato apto a gerar direitos, ainda que fora do âmbito familiar, datando de meados do século passado a consolidação desse entendimento.�
	Ao longo do século XX, as transformações sociais foram gerando uma sequência de normas que alteraram, gradativamente, a feição do direito de� família brasileira, culminando com o advento da Constituição Federal de 1988. Esta alargou o conceito de família, passando a integrá-lo as relações monoparentais, de um pai com os seus filhos. Esse redimensionamento, “calcado na realidade que se impôs, acabou afastando da ideia de família o pressuposto de casamento. Para sua configuração, deixou-se de exigir a necessidade de existência de um par, o que, consequentemente, subtraiu de sua finalidade a proliferação.
	O citado art. 227, aduz, redimensionou a ideia de filiação, enquanto o art. 226 inclui no plano constitucional o conceito de entidade familiar, “quer decorrente da união estável entre homem e mulher, quer daquele oriundo da comunidade entre qualquer dos pais e seus descendentes, previsto no art. 226 § 4º, da Constituição Federal. O novo e instigante dispositivo constitucional reconheceu a existência das ‘famílias monoparentais’, que passam os dois extremos voga, indefinida, a noção de ‘família monoparentais’, que passam, a partir de então, a ser protegidas pelo Estado. Ao lado do casamento (legalizado), o constituinte reconheceu a união livre (não legalizada), e entre os dois extremos vaga, indefinida, a noção de ‘família monoparental’, ainda aguardando integral definição, estruturação e limites pela legalização infraconstitucional.
	Ao reconhecer como família a união estável entre um homem e uma mulher, a Carta Magna conferiu juridicidade ao relacionamento existente fora do casamento. Todavia, somente em 29 de dezembro de 1994 é que surgiu a primeira lei (Lei nº 8.971/94) regulando a previsão constitucional, mas que se revelou tímida. Em 10 de maio de 1996 surgiu a Lei nº 9.278, com maior campo de abrangência, já que não qualificou prazo de convivência e albergou as relações entre pessoas somente separadas de fato, gerando a presunção de que os bens adquiridos são fruto do esforço comum.�
	Finalmente, o Código Civil de 2002 inseriu titulo referente à união estável no Livro de Família, incorporando, em cinco artigos, os princípios básicos� das aludidas leis, que tem agora caráter subsidiário, tratando, nesses artigos, dos aspectos pessoais e patrimoniais. Verifica-se, assim, que a Constituição Federal, alterando o conceito de família, impôs novos modelos. Embora a família continue a ser a base da sociedade e a desfrutar da especial proteção do Estado, não mais se origina apenas do casamento, uma vez que, ao seu lado, duas novas entidades familiares, passaram a ser reconhecidas: a constituída pela união estável e a formada por qualquer dos pais e seus descendentes.�
2.2. A Família e o Estado
	No que se refere ao papel do Estado: Como evitar a contradição existente entre o discurso político e a ação governativa? Ou então, como fazer com que o forte investimento discursivo de que a família é alvo se converta em ações coerentes e eficazes quer no plano da intervenção política quer, sobretudo, ao nível das mudanças que promove? Em nível nacional, o problema não é tanto a falta de compromissos políticos com a “questão familiar”, mas a falta de ações consequentes que concretizem e reabilitem a fragmentação e desnorteie familiares as contradições persistentes entre aquilo que é o discurso político sobre a matéria e a escassez de intervenção que existe nesta área não é um exclusivo da nossa sociedade. 
	Apesar das transformações, amplas, rápidas e profundas, querem sociais querem culturais, por que tem passado, podemos afirmar que a família continua a protagonizar uma ação fundamental na produção e reprodução dos seres humanos e dos bens sociais. Socializa e educa as gerações jovens, presta cuidados e apoio às gerações idosas. Sendo embora uma ficção, um artefato social, uma categoria polissêmica e ilusória no sentido mais corrente do termo, é, no dizer de Pierre Bourdieu, “uma ilusão bem fundada, porque, sendo produzida e reproduzida com a garantia do Estado, recebe a cada momento do Estado os seus meios de existência e de subsistência”, configurando, no entanto, o elo mais íntimo do privado. Por isso mesmo, talvez nos seja permitido afirmar que o desenvolvimento das idéias sobre a família está muito ligado a vontade política de atuar sobre a família, pois a instituição familiar é uma carta que se joga entre os cidadãos e o Estado, ainda que, muitas vezes, uma carta sem rosto, porque abstrata e abstraída dos seus reais problemas.�
	A instituição responsável pelo maior controle social é o Estado, com os seus diversos braços. Apresentaremos apenas os atos mais explícitos de controle social. Aos 18 anos, todos os jovens do sexo masculino são obrigados a comparecer a uma junta militar e se alistar. Acreditamos que o braço do Estado capaz de exercer um maior controle da sociedade (talvez por agir durante toda nossa vida) seria polícia, que tem a função de fiscalizar se as normas impostas pelo Estado estão sendo cumpridas, e até mesmo abrir fogo contra pessoas que se recusam a cumprir certas normas.�
	Sabemos que as formas de controle social exercidas pelo Estado não param por aí. O veto obrigatório, o pagamento de impostos e tributos, seria uma garantia de fidelidade ao Estado. Lutar contra um governo no qual fomos nós os responsáveis por sua eleição, parece um tanto contraditório, e talvez esse seja um dos objetivos do sufrágio universal, causar certa confusão na cabeça dos eleitores. A menor idéia de liberdade anda é um sonho distante, já que, encontrar um lugar onde o controle social não aja, parece uma tarefa um tanto árdua.�
2.3. A Família e a Sociedade
	A família é um dos elementos centrais e a maior fonte de humanidade em todas as sociedades, sendo considerada a mais antiga instituição, porque originária do estado gregário e social e merece ser cuidada como um tesouro precioso. Como instituição fundamental para a vidade cada sociedade, ela é uma realidade humana, social, jurídica e teológica. Independentemente da forma que assume e da extensão das suas funções nas diferentes culturas e épocas históricas, ela marcou sempre o comportamento dos homens como pessoas e dos povos como coletividades organizadas.�
	Ninguém tem dúvida sobre a estreita relação entre família e sociedade e a interdependência que deveria reinar entre elas. Infelizmente, o que se verifica é um crescente e recíproco desligamento, causando enormes prejuízos tanto à comunidade familiar que deixa de contar com o necessário apoio da sociedade ou até recebe dela inúmeros ataques, como à sociedade que é o somatório das famílias.�
	Se, de um lado, as famílias merecem severas críticas porque não desempenham a contento seu papel, a sociedade, igualmente, está em falta com as famílias porque não respeita sua importância, nem seus direitos. Sociedade e família já não se entendem mais: sociedade segue seu caminho, seus interesses, menospreza a família. Quando perguntamos o que aconteceu com a família, é preciso antes perguntar o que aconteceu com o casamento, com o sacramento do matrimônio. E, ainda antes: o que aconteceu com o Homem, com seus sentimentos?�
	Temas éticos e morais, de grande seriedade, interessam nossos governantes e nossos legisladores: aborto, eutanásia, embriões, células-tronco, uniões homossexuais; muitos acabam seduzidos pelos interesses de grupos minoritários, com fortes prejuízos para a família e para a sociedade. A legislação não só deixa de amparar, proteger e fortalecer a família e seus valores, como os enfraquece.
	Esta é a nossa linha de preocupação, um pronunciamento feito em 1994, pelo Senador Amir Lando. Em relação à família e aos seus valores, adverte que, quando: 
Os princípios gravados na Constituição não merecem dos governantes preocupações permanentes e cotidianas, quando essas disposições constituem letra morta, mais do que nunca é preciso vigilância daqueles que acreditam no Brasil, nos valores éticos e cristãos. É preciso dar esse sinal de alerta à sociedade, porque não podemos continuar nessa inércia permanente de não fazer nada, como se essas questões não dissessem respeito à sociedade e a nós como indivíduos.�
	Não há dúvidas de que estamos diante da desintegração da família. Perde a pessoa, perde a sociedade, perde a cidadania. Como bem lembrou o papa João Paulo II: “A família está no centro de todos estes problemas e tarefas; relegá-las para um papel subalterno e secundário, excluindo-a da posição que lhe compete na sociedade, significa causar um grave dano ao autêntico crescimento do corpo social inteiro.”�
	Acrescentem-se ainda as palavras do Senador Francisco Rollemberg: 
Para que a família vá bem, é preciso que o País vá bem, que mundo mesmo vá bem, para que todos, despidos da angustiante necessidade do pão de cada dia, possam encontrar no refúgio do seu lar, da sua casa, o seu repouso, o seu aconchego e a realização dos seus sonhos maiores. Aquele que tem o carinho da esposa, o amor dos seus filhos, que é respeitado, pode trazer para sua casa o atendimento de suas necessidades básicas. Quando isso na acontece, a família vai mal. Vai mal, não porque é pobre ou tão rica. Vai mal porque há uma dissociação afetiva muito grande, que começa com a perda do respeito ao chefe da família. E os órgãos de comunicação vendem uma qualidade de vida ilusória, em que os pecados mais densos e as idéias mais esdrúxulas são apresentados como fatos naturais. A família vai mal quando já não conversa não troca idéias, não se senta junta no sofá, nem se abraça nem se acaricia nem se ama.�
	
	Apesar das transformações, ampla, rápida e profunda, quer social quer cultural, por que tem passado, podemos afirmar que a família continua a protagonizar uma ação fundamental na produção e reprodução dos seres humanos e dos bens sociais. Sendo embora uma ficção, um artefato social, uma categoria polissêmica e ilusória no sentido mais corrente do termo, é, no dizer de Pierre Bourdieu, “uma ‘ilusão bem fundada’, porque, sendo produzida e reproduzida com a garantia do Estado, recebe a cada momento do Estado os seus meios de existência e de subsistência”, configurando, no entanto, o elo mais íntimo do privado. Por isso mesmo, talvez nos seja permitido afirmar que o desenvolvimento das idéias sobre a família está muito ligado à vontade política de atuar sobre a família, pois a instituição familiar é uma carta que se joga entre os cidadãos e o Estado, ainda que, muitas vezes, uma carta sem rosto, porque abstrata e abstraída dos seus reais problemas.�
	Dadas as grandes transformações sociais que temos vindo a constatar, e que entre nós são mais notórios, sobretudo a partir das décadas de sessenta e setenta do século passado, os discursos que se têm elaborado sobre a família nem sempre têm em consideração a realidade experienciada na sociedade atual. Antes, a família, observada através dos índices demográficos, parecia estar de “boa saúde” e todos estavam de acordo quando ao fato de a família ser “um lugar que proporcionava apoio afetivo aos seus membros”. Universo onde, normalmente, ficam suspensas as leis correntes do mundo econômico, a família é o lugar da confiança e da dádiva por oposição ao mercado e ao domínio ou espaço da troca�. No dizer de Georges Lapassade, “a família como grupo primário é um refúgio e uma toca”.
	No entanto, de entre os setores da sociedade que mais alterações sofreram a partir da data, contam-se a própria configuração da instituição familiar, do matrimonio, do controle da natalidade, do emprego que se feminizou etc.. Manuel Braga da Cruz, ao mencionar algumas das transformações sofridas pela família nos tempos mais recentes aponta, entre outras: a crescente privatização da sua natureza; a progressiva redução da sua dimensão; a diminuição gradual das suas funções e a igualitarização dos papéis sociais no seu interior.�
	Na sociedade tradicional, facilmente podemos imaginar a família – alicerçados em valores, considerados como essenciais e centrais – como um navio firmemente ancorado ao seu ancoradouro. De todos os lados, grandes cabos se estendiam para prendê-lo à doca. O navio não se deslocava e quase que fazia parte do porto. Esta imagem não revela muita das sombras que se faziam presença na família tradicional, solidamente ancorada nos valores essenciais de estabilidade e de pragmatismo. Família numerosa, sóbria, com predominância do matrimonio de razão e do patrimônio familiar etc.� 
	Podemos, pois, afirmar que, então, era o casamento e o parentesco que constituíam os pilares da instituição familiar; o chefe inquestionável da família era o marido-pai (autoridade marital), o mesmo que escolhia os cônjuges dos seus filhos (casamento de razão); as famílias tinham, em média, cinco ou seis filhos, dos quais um morria antes de atingir um ano de idade (família de dimensão grande, plurigeracional, alargada e numerosa); a mulher era socializada num sistema de valores que privilegiava a anti-paixão, pois havia que preservar a castidade das raparigas e evitar que engravidassem antes do matrimonio; a sexualidade estava circunscrita ao casamento e era destinada, sobretudo, à reprodução; o casamento era indissolúvel, exceto por morte (estabilidade estrutural); as crianças eram olhadas como adultos em miniatura, podendo mesmo participar desde muito cedo nas atividades econômicas do agregado familiar (familismo). Toda a vida social e econômica estava organizada em função do casal, de acordo com a repartição das tarefas. “A modernidade veio alterar, significativamente, os paradigmas dominantes nas sociedades tradicionais, aumentarão a produção verdadeiramente sociológica de trabalhos sobre a família, instancia que continua a resistir ao nosso olhar”.�
2.4. A Família e a Igreja
	A instrução espiritual nos tempos bíblicos era dada tão somente pelos pais. A igreja era apenas o lugar de culto e adoração, caindo toda a responsabilidade de orientar espiritual dos filhos sobre os pais da família. Éfato que a Bíblia nos fala de Samuel, que foi levado ainda menino para aprender com Eli na Casa do Senhor (I Sm 1.28) e fala das escolas de profetas (2Rs 2.15). Fala de Jesus, que ensinou os discípulos e a multidão nas praias, ruas e caminhos. Porém, o modo moderno de instrução cristã na Igreja surgiu em 1780, com aparecimento da Escola Dominical. Martinho Lutero foi um grande apologista da instrução religiosa dada no lar, atribuindo ao pai, à responsabilidade de ensinar toda a família.�
2.5. O que dizem os juristas?
	Ressalte-se que o sentido da palavra família, na linguagem jurídica, possui diversos significados, desde conceitos amplos, quanto restritos. Silvio de Salvo Venosa� assim se expressa: 
A família em um conceito amplo é o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico em um conceito amplo é o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Em conceito restrito, família compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder. �
	A Família não possui personalidade jurídica, tese que já foi defendida no passado. Dizia-se que a família era detentora de direitos extra-patrimonial e patrimonial, como, por exemplo, o nome e a propriedade de bem de família. No entanto tal acepção já foi descartada, pois não é defeso à família possuir aptidão e capacidade para usufruir direitos e contrair obrigações.	Com os direitos até então inerentes à família são características de cada membro da família, considerado individualmente.�
	Silvio de Salvo Venosa, ao citar Belluscio em seu livro, diz que a família é uma união associativa de pessoas, sendo uma instituição permanente integrada por pessoas cujos “com personificação anômala”. Isso porque lhe faltam os requisitos imprescindíveis à personificação.�
2.6. O que dizem as leis
	No intuito de proteger a família constituída pela União Estável, o legislador pretendeu não deixá-la à margem dos direitos e deveres estabelecidos ao casamento prevendo a facilitação da sua conversão em matrimônio. Já o Código civil disciplina o direito de Família com a concessão de diretrizes para a constituição da família, as capacidades para que o casamento possa ser celebrado, os impedimentos para a realização do casamento, as suas causas de suspensão e invalidade, dentre outros tópicos. Passou a regular também as relações oriundas de união estável e relações de parentesco.�
	O Código Civil de 1916 mantinha disposições que iam de encontro com as normas promulgadas na Constituição Federal de 1988. Como exemplo pode citar o principio da absoluta igualdade entre homens e mulheres nas relações conjugais admitido pela Carta Magna enquanto aquela Codificação possuía discriminações entre os sexos. Com o advento do Novo Código Civil, houve uma harmonia entre as legislações vigentes, adequando-se dessa forma, o texto legal à precisão constitucional.�
	A proteção à família não é só verificada no Livro IV do Código Civil. Ela se ramifica e pode ser percebida em vários outros negócios jurídicos disciplinados por essa codificação, como exemplifica Washington de Barros Monteiro�, “nas doações (arts. 544, 546, 550, 511, parágrafos único, do Cód. Civil de 2002), na venda de ascendente a descendente (art. 496 do Cód. Civil de 2002), na reparação do dano (art. 948, n. II, do Cód. Civil de 2002).
 
CAPÍTULO III - A UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL
	O emprego da expressão “união estável” como forma de designação das uniões extras matrimoniais formadoras de família é defendido pela jurista Marilene Guimarães, para quem após a Constituição Federal de 1988, não se deveria usar mais a expressão concubinato, e sim união estável, como consta do art.226, parágrafo 3º.�
	Se o Código Civil de 1916, considerado o parâmetro moral e social da época, acabou por entender como família ideal apenas e tão-somente a que decorresse do casamento, a Constituição Federal de 1988, abriu-se ao fato de que se impunha considerar a família real. Consequente das inúmeras e variadas modificações havidas na sociedade e da moral vigente, principalmente em face da necessidade de reconhecer a presença do ente familiar, como já advertia Orlando Gomes, ainda sob a égide do anterior ordenamento constitucional, independente da moldura matrimonial, asseverado, então: 
“(...) que o fim da norma constitucional ‘não foi impor a tese de que só do casamento pode nascer a família’, até porque não cabe ao legislador constituinte definir a sociedade familiar -, como bem manifestou Espósito em relação à Constituinte italiana, mas, sim, e apenas que a família legítima é constitucionalmente garantida e goza da proteção dos poderes públicos”�.
	Os pares deveriam ser denominados de companheiros e não mais de concubinos, utilizando-se esta denominação apenas para os que vivem em concubinato adulterino ou união clandestina, para evitar confusões. “A vida dita aos homens as suas leis, leis que não estão escritas em nenhum lugar”.� 
3.1. Definindo União Estável
	“Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”.� A união estável foi tratada durante décadas com o mais absoluto desprezo pelo legislador. Ao fechar os olhos diante da realidade social, o legislador marginalizava famílias formadas pelo afeto, sem a feição legal. A rigidez da lei errou ao excluir, ao invés de cobrir de legalidade aquelas famílias formadas fora do casamento.
	Kauss explica que o novo código dedica apenas cinco artigos (1.723 a 1.727) à união estável. Costumamos dizer que para matéria tão difícil de ser legislada não é justo criticar. Uma união de fato, imitando o casamento, estável que deve ser provisória porque recomendada a conversão em casamento, até facilitada pelo comando constitucional (art. 226, § 3º) e recebido pelo Código Civil (art. 1.726), sem parâmetro em direito comparado respeitável, realmente é difícil regular a sua existência. Aliás, de difícil justificação, também, a necessidade da sua existência jurídica codificada em país onde existe divórcio. Significa dizer que a união no Brasil tem um modelo definido e foi retratado em duas leis modernas que serão analisadas no final do capítulo e agora pelo Código Civil.�
	Para que seja reconhecida a existência de união estável são necessários os seguintes requisitos: �
– Pessoas de sexos diferentes;
– Convivência pública, continua e duradoura;
– Objetivo de constituir família.
	Foi abandonado o caráter temporal objetivo, que estabelecia o período mínimo de cinco anos, adotando-se a medida subjetiva do lapso de tempo, estabelecendo que a união estável decorra dos fatos, de sua continua e ininterrupta sucessão. Também é dispensada a coabitação, uma vez que ela pode existir mesmo que os companheiros não residam sob o mesmo teto, desde que seja notório que sua vida se equipara à dos casados civilmente.�
	Discutindo a união estável na contemporaneidade, para tal, contando com a contribuição de doutrinadores, leis e jurisprudências correlatas. Segundo Rodrigo da Cunha Pereira “considera-se união estável o concubinato more uxório, público, contínuo e duradouro, entre homem e mulher, cuja relação não seja incestuosa ou adulterina”. Na definição de Basílio de Oliveira “a união estável” se caracteriza pela vida em comum, more uxore, com duração mínima de cinco anos e que demonstre estabilidade e vocação de permanência familiar, com uso em comum do patrimônio.�
	Conforme Ronaldo Frigini conceitua “união de um homem e uma mulher que ostentem vida de casados, em comunhão de interesses, independentemente da existência de filhos, residência sob o mesmo teto ou comunhão de bens”, união estável (...) é sinônima de família sem casamento”.� Na ótica de Álvaro Villaça de Azevedo, define o “concubinato” como sendo “a união estável, duradoura, públicae contínua, de um homem e de uma mulher, não ligados por vínculo matrimonial ou concubinato, mas convivendo como se casados, sob o mesmo teto ou não, constituindo, assim, uma família de fato”.�
	O emprego da expressão “união estável” como forma de designação das uniões extramatrimoniais formadoras de família é definido pela jurista Marilene Guimarães, para quem após a Constituição Federal de 1988, não se deveria usar mais a expressão concubinato, e sim união estável, como consta do art. 226, parágrafo 3º.� 	
3.2. A União Estável no Direito Brasileiro Antes do Código Civil
	A primeira regulamentação da norma constitucional que trata da união estável adveio com a Lei n.8.971, de 29 de dezembro de 1994, que definiu como “companheiros” o homem e a mulher que mantenham união comprovada, na qualidade de solteiros, separados judicialmente, divorciados ou viúvos, por mais de cinco anos, ou com prole (concubinato puro).�
	A Lei n. 9.278, de 10 de maio de 1996, alterou esse conceito, omitindo os requisitos de natureza pessoal, tempo mínimo de convivência e existência de prole. Preceituava o seu art.1º que se considera entidade familiar� a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e de uma mulher, estabelecida com o objetivo de constituição de família. Usou-se a expressão “convivente” em substituição a “companheiros”.
	Embora esse trabalho não aludisse expressamente à união estável pura, ou seja, não incestuosa e não adulterina, inegavelmente se aplicava a ela. Conforme acentuou Álvaro Villaça Azevedo, em comentário à aludida lei, 
É certo que o § 3º do art. 226 da Constituição Federal também não especifica nesse sentido. Contudo, ambos os dispositivos legais apontam o objetivo de constituição familiar, o que impede que exista concubinato impuro (contra o casamento pré-existente de um dos concubinos ou em situação incestuosa) ou concubinato desleal (em concorrência com outro concubino puro).� 
	Percebe-se, assim, que não era possível, no sistema da Lei n. 9.278/96, a simultaneidade de casamento e união estável, ou de mais de uma união estável.
	Como acentuou Euclides de Oliveira, 
O que não se admite, contudo, em vista dos contornos exigidos na lei para configuração de uma união estável, é a ligação adulterina de pessoa casadas simultaneamente ao casamento, sem estar separada de fato do seu cônjuge. Tem primazia, em tal situação, a família constituída pelo casamento. A outra união seria de caráter concubinário, à margem da proteção legal mais ampla que se concede à união estável. A verdade é que, afora hipóteses excepcionais, em tais casos geralmente a vivencia extramatrimonial é mantida com reservas, sob certo sigilo ou clandestinidade. Falta-lhe, pois, o indispensável reconhecimento social, até mesmo pelas discriminações que cercam esse tipo de amasiamento. O mesmo se diga das uniões desleais, isto é, de pessoa que viva em união estável e mantenha outra ligação ou, quem sabe, até múltiplas relações de cunho afetivo.�
3.3. A União Estável no Código Civil
Seis anos decorreram de 1996 a 2002, quando se fez publicar o novo Código Civil, O projeto que o originou apresentava-se recheado de problemas no Título que cuidou da união estável e trazia sério retrocesso legislativo, extremamente danoso à sociedade, mas foi corrigido a tempo, sanando-se a maior parte das imperfeições. No que diz respeito à terminologia utilizada, entretanto, o legislador de 2002 fez retroceder o texto normativo, voltando a adotar a expressão "companheiros", para nominar os conviventes, restabelecendo expressão já abandonada pela lei especial. Realmente parece soar melhor falar-se na companheira de um homem e no companheiro de uma mulher, do que na convivente de um homem e no convivente de uma mulher, a despeito de, em nossa obra, termos sugerido a criação de novo estado civil, com esta denominação (conviventes), o qual nos parece muito mais adequado para tal finalidade.� 
	Revogadas as mencionadas Leis n. 8.971/94 e 9.278/96 em face da inclusão da matéria no âmbito do Código Civil de 2002, que fez significativa mudança, inserindo o título referente à união estável no Livro de Família e incorporando, em cinco artigos (1.723 a 1.727). Os princípios básicos das aludidas leis, bem como introduzindo disposições esparsas em outros capítulos quando a certos efeitos, como nos casos de obrigação alimentar (art. 1.694).�
O direito de nossos dias depara dupla necessidade. A primeira é a de uma nova compilação (Restatement), que nos traga certeza e ordem, livrando-nos da confusão dos precedentes judiciários. Esta é a tarefa da ciência legal. A segunda é de uma filosofia que exerça o papel de mediadora entre as exigências de estabilidade e de progresso em conflito, e forneça um princípio de evolução.�
	Segundo disposto no caput do art. 1.723 do novo Código Civil, “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, continua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”.� O novo diploma tratou, nesses dispositivos, dos aspectos pessoais e patrimoniais, deixando para o direito das sucessões e efeito patrimonial sucessório.� 
	Foi admitida expressamente, no § 1º do aludido dispositivo, a união estável entre pessoas que mantiveram seu estado civil de casadas, estando, porém, separadas de fato, nestes termos: “A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521: não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato e judicialmente”. No campo pessoal, reiteram o novo diploma os deveres de “lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”, como obrigação recíproca dos conviventes. �
	Em face da equiparação do referido instituto do casamento, aplicam-se-lhe os mesmos princípios e normas atinentes a alimentos entre cônjuges. Anote-se que, havendo previsão legal para a concessão de alimentos aos companheiros desde a vigência das leis especiais supracitadas, não mais se justifica falar em indenização por serviços prestados ao que não deu causa à dissolução da união estável, conformem vem reconhecendo a jurisprudência.�
	Pondera, no entanto, Sérgio Gischkow Pereira que, 
Repetida a possibilidade alimentos, porque não aceita união estável adulterina, “o reconhecimento do concubinato deve ensejar indenização por serviços domésticos, antiga elaboração jurisprudencial que precisa ressurgir. É preciso recordar que, admitidos os alimentos na união estável, passou-se a entender que não haveria mais aquela espécie de ressarcimento. Volta ele para os casos de concubinato, como este é definido no novo Código Civil. Isto, é claro, supondo-se que o concubino não possa obter partilha de bens adquiridos em comum (era assim anteriormente), porque não adquirido patrimônio durante a convivência ou porque não houvesse prova de contribuição (na sociedade de fato, que seria aplicável, é indispensável tal prova). Em outras palavras: o concubino (segundo conceito do novo Código Civil) pode não receber alimentos, herdar e não ter participação automática na metade� dos bens adquiridos em comum, mas terá em seu prol a sociedade de fato e a indenização por serviços domésticos prestados.�
	Já decidiu a propósito o Superior Tribunal de Justiça que, não havendo patrimônio a partilhar, tem a concubina o direito de pleitear indenização pelos serviços prestados ao concubino. No tocante aos efeitos patrimoniais, o Código civil de 2002 determina a aplicação, no que couber, do regime da comunhão parcial de bens, pelo qual haverá comunhão dos aquestos, isto é, dos bens adquiridos na Constancia da convivência, como se casados fossem, “salvo contrato escrito entre os companheiros.� 
3.4. A União Estável e as Constituições
	Pode-se observar com curiosidade, e vale aqui lembrar, as expressões usadas em outros países da América Latina para denominar união estável: a Constituição da Guatemala de 1945 denominou união com estabilidade,a Constituinte do Peru de 1979 chama de união estável, A Constituição do Paraná de 1946 denomina de união de fato, a Constituição da Nicarágua de 1986 intitula de união de fato.�
As primeiras constituições brasileiras não trataram da proteção, como instituição, à família. Iniciou esta preocupação a Constituição Federal de 1934, que em seu art. 144 asseverava ser a família "constituída pelo casamento indissolúvel" e recebendo esta "proteção especial do Estado". A constituição da família, segundo este instrumento normativo supremo, deveria ser realizada pelo casamento civil ou ter seu registro civil, segundo estabelecido no art. 146. Digno de nota é que o casamento era uma vez estabelecido, indissolúvel, assim permanecendo até a Emenda Constitucional n°. 9, quando se admitiu a separação judicial e o divórcio.
A Constituição de 1967, em seu art. 175, estabelece que "A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes Públicos" donde apreendemos que o Estado protegerá os laços familiares pela constituição do casamento. A vigente Constituição Federal, em seu art. 226, estabelece, nesta esteira, que "a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.�
A proteção do Estado para o círculo familiar encontra-se, em nosso atual sistema normativo, ampliado já que prevê sua formação não apenas pelo casamento, mas também pelo animus em constituir família, reconhecendo, no art. 226, § 3°. "a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento". Contudo, prevê este mesmo artigo, § 6°. sua dissolução.�
	O art. 226 da Constituição Federal de 1988 reconhece expressamente a denominada “união estável” entre um homem e uma mulher como entidade familiar, usando o verbo “reconhecer” porque no campo fático e social essas uniões sempre ocorreram como espécie de família, reparando, o constituinte, um equívoco histórico.� 
	Observa-se que mesmo com a Constituição promulgada há 18 anos, na época, 29 de dezembro de 1994, foi sancionada a Lei 8.971, cognominada lei dos concubinos. Tratou-se apenas sobre o direito a alimentos e a sucessão entre eles. Prevê que companheiro em igualdade ou reciprocamente de direitos e deveres, desde que o outro seja solteiro(a), separado(a) judicialmente, divorciado(a) ou viúva(a), desde que conte com mais de cinco anos dessa convivência ou tenha prole, poderá valer-se do disposto na Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968, da ação de alimentos, enquanto não constituir nova união e desde que prove a necessidade.�
Dispõe o art. 1723, § 1º do Código Civil de 2002 (CCB/2002) dispõe que a pessoa casada, quando separada de fato ou judicialmente, pode constituir união estável. No entanto, é fato incontroverso que estas não podem casar, por força da vedação instituída pelo art. 1521, inciso VI deste mesmo instituto normativo. O art. 1727 do CCB/2002 diz que a relação entre homem e mulher, impedidos de casar (há a inclusão dos separados de fato e judicialmente) constituem concubinato impuro.�
Observa-se, dessa forma, que os artigos em análise, ambos dispostos no Livro IV, Titulo III, se contradizem, ao passo que o primeiro admite a união estável entre os impedidos de casar, enquanto que o segundo trata a relação, no mesmo caso, como não sendo uma união estável, e sim, concubinato impuro, o qual, causa repulsa tanto no ordenamento jurídico como na sociedade.
O Superior Tribunal de Justiça, em decisão de maio de 2010, corrobora com os enunciados acima esposados, senão vejamos:
101000041833 - DIREITO CIVIL - FAMÍLIA - PARALELISMO DE UNIÕES AFETIVAS - RECURSO ESPECIAL - Ação de reconhecimento de união estável post mortem e sua consequente dissolução. Concomitância de casamento válido. Peculiaridades - [...] - Nos termos do art. 1.571, § 1º, do CC/02, que referendou a doutrina e a jurisprudência existentes sob a vigência da legislação civil anterior, o casamento válido não se dissolve pela separação judicial; Apenas pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio. Por isso mesmo, na hipótese de separação judicial, basta que os cônjuges formulem pedido para retornar ao status de casados. Já, quando divorciados, para retornarem ao status quo ante, deverão contrair novas núpcias - [...]. Deve o juiz, ao analisar as lides de família que apresentam paralelismo afetivo, de acordo com as peculiaridades multifacetadas apresentadas em cada caso, decidir com base na dignidade da pessoa humana, na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na igualdade, bem assim, com redobrada atenção ao primado da monogamia, com os pés fincados no princípio da eticidade. Recurso especial não provido.�
3.5. Bens a Serem divididos na União Estável
	O art. 5º da Lei n. 9.278/96 mencionada cuidava da meação sobre os bens adquiridos durante o tempo de convivência, a título oneroso, considerando-os fruto do trabalho e da colaboração comum, salvo se houvesse estipulação contrária escrito, ou se a aquisição dos bens se desse com o produto de outros anteriores ao inicio da união (sub-rogação). Estabeleceu-se, assim, a presunção de colaboração dos conviventes na formação do patrimônio ao que negasse a participação do outro. A questão que suscitou polemica, ao tempo do Código Civil de 1916, é a concernente à possibilidade de ser promovida a partilha patrimonial, em caso de existência de uma sociedade de fato, estando o concubino ainda casado e apenas separado de fato de legitima esposa.�
	Acabou prevalecendo acorrente que a admitia, sendo de se destacar, a propósito, os argumentos do voto vencido do Des. Alexandre Loureiro no acórdão do tribunal de Justiça de São Paulo, que colocou as coisas em seus devidos lugares, declarando: 
Inescondíveis o concubinato e a formação do patrimônio comum. A partilha dos bens decorre, na verdade, não da existência do concubinato, mas da sociedade de fato, existente desde 1956 e admitida pela corré apelante a partir de 1962. pouco importa o adultério. A partilha de bens nada tem a ver com o Direito de Família e é indene às suas violações. A divisão dos bens diz respeito mais à dissolução da sociedade do que ao próprio concubinato. Não fosse assim, haveria enriquecimento ilícito de um dos sócios em detrimento do outro.�
	Em suma, os bens adquiridos a título oneroso na Constância da união caso de dissolução, com observância das normas que regem o regime da comunhão parcial de bens. Como assevera Francisco José Cahali, atualizador da obra de Sílvio Rodrigues:
A forma proposta é mais abrangente que o regime até então vigente, de condomínio sobre o patrimônio adquirido a titulo oneroso. Passam a integrar o acervo comum, por exemplo, os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior, e o fruto dos bens particulares (C.C., art. 1.660). Mas o próprio artigo permite aos companheiros afastar a incidência desse regime mediante contrato escrito.� 
	Assim, não celebrando os parceiros contrato escrito estabelecendo regra diversa, aplicar-se-á à união por eles constituída o regime de comunhão de bens abrangendo os aquestos, ou seja, os bens que sobrevieram na Constância do casamento. Permanecendo como bens particulares de todos os quais os adquiridos anteriormente e os sub-rogados em seu lugar, bem como os adquiridos durante a convivência a titulo gratuito, por doação ou herança. Aplicam-se à união estável, pois, os art. 1.659, 1.660 e 1.661 do Código Civil.�
CAPÍTULO IV - DEVERES E DIREITOS
	O art. 1.724 do Código Civil regula as relações pessoais entre os companheiros. Declara o aludido dispositivo: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”.�
	Os três primeiros são deveres e direitos recíprocos, vindo em seguida os de guarda, sustento e educação dos filhos. O dever de fidelidade recíproca está implícito nos de lealdade e respeito. Embora o Código Civil não fale em adultério entrecompanheiros, a lealdade é gênero de que a fidelidade é espécie. E, o dispositivo em apreço exige que eles sejam leais. Não haveria a configuração do companheirismo na hipótese de prática desleal perpetrada por um dos companheiros, mantendo conjunção carnal com terceiro, inexistindo a denominada affectio maritalis no caso específico.�
	O dever e o respeito, também mencionado no dispositivo supratranscrito, consistem não só em considerar a individualidade do outro, senão também em não ofender os direitos da personalidade do companheiro. Como os concernentes à liberdade, à honra, à intimidade, à dignidade etc. é ele descumprindo quando um dos conviventes comete injúria grave contra o outro, atingindo-lhe a honra ou a imagem mediante o emprego de palavras ofensivas ou gestos indecorosos.�
	A assistência constitui também dever recíproco dos companheiros correspondentes ao dever de mútua assistência imposto aos cônjuges. � Tal dever os obriga a se auxiliarem reciprocamente, em todos os níveis. Assim, inclui a recíproca prestação de socorro material, como também a assistência moral e espiritual. Envolve o desvelo, próprio do companheirismo, e o auxilio mutuo em qualquer circunstância, especialmente em situações difíceis.�
	A união duradoura entre homem e mulher, com o propósito de estabelecer uma vida em comum, pode determinar, como proclamou o Superior Tribunal de Justiça, “a obrigação de prestar alimentos ao companheiro necessitado, uma vez que o dever de solidariedade não decorre exclusivamente do casamento, mas também da realidade do laço familiar”.�
	Menciona ainda o aludido art. 1.724 os deveres impostos aos companheiros, de “guarda, sustento e educação dos filhos”, em tudo semelhantes aos respectivos deveres atribuídos aos cônjuges no art. 1.566, IV, como um dos efeitos do casamento. A guarda é, ao mesmo tempo, dever e direito dos pais. Ocorrendo a separação destes, sem que haja acordo quanto à guarda dos filhos, será ela atribuída “a quem revelar melhores condições para exercê-la”, nos moldes do dispositivo no art. 1.584 do Código Civil.�
	O dever de fornecer educação aos filhos inclui não só o ensinamento escolar, os cuidados com as lições e o aprendizado, como também o zelo para que tenham formação cultural e moral e se desenvolvam em ambiente sadio. Justifica-se a não inclusão do dever de coabitação, em virtude do entendimento mencionado no item 4.1., letra a, retro, de que a vida em comum sob o mesmo teto more uxório, não é indispensável à caracterização do companheirismo.�
	A proteção jurídica à entidade familiar constituída pela união estável entre o homem e a mulher abrange o complexo de direitos de cunho pessoal e de natureza patrimonial mencionados no item anterior, além de inúmeros outros, no plano material, os concernentes a alimentos, meação e herança.�
a) - Alimentos – O art. 1.694 do Código Civil assegura o direito recíproco dos companheiros aos alimentos. Na hipótese de dissolução da união estável, o convivente terá direito, além da partilha dos bens em comum, a alimentos, desde que comprove suas necessidades e as possibilidades do parceiro, como o exige o § 1º do aludido dispositivo. Cessa, todavia, tal direito, com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor (art. 1.708). Perderá também o direito aos alimentos o credor que tiver “procedimento indigno em relação ao devedor”i (art. 1.708, parágrafo único).�
b) - Meação e Regime de Bens – O art. 5º da Lei n. 9.278/96 estabeleceu a presunção de colaboração dos conviventes na formação de patrimônio durante a vida em comum, invertendo-se o ônus probatório, que competia ao que negava a participação do outro. A presunção de esforço comum não era absoluta, pois, mesmo estando estabelecida em lei, podia ser contestada. �
O art. 1.725 do novo Código Civil, embora guarde semelhança com o referido dispositivo, não abre a possibilidade de se provar o contrário para afastar o pretendido direito à meação, pois a união estável, nesse particular, foi integralmente equiparada ao casamento realizado em regime da comunhão parcial de bens. Dispõe, com efeito, o mencionado dispositivo: “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”.
Em suma, os bens adquiridos a titulo oneroso na Constância da união estável pertencem a ambos os companheiros, devendo ser partilhados, em caso de dissolução, com observância das normas que regem o regime da comunhão parcial de bens.
c) - Sucessão Hereditária – O Código Civil de 2002, no campo do direito sucessório, preserva a meação, que não se confunde com herança, do companheiro sobrevivente, em razão do regime da comunhão parcial de bens, nos termos do art. 1.725 do aludido diploma. No tocante à herança, os direitos sucessórios limitam-se “aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável”, como preceitua o art. 1.790, caput.
4.1. A União Estável versus Casamento
	
	O casamento caracteriza impedimento à constituição da união estável como também é impedimento ao casamento quando na Constância de um anterior, tendo em vista que nosso ordenamento jurídico somente permite relações monogâmicas, sendo indispensável para a constituição da união estável, no mínimo a separação de fato. Assim, o casamento deixará de ser um impedimento se a pessoa casada estiver separada de fato ou judicialmente, uma vez que a separação judicial põe fim aos deveres conjugais recíprocos, colocando ainda fim no regime de bens. Essa característica aproveita-se à separação de fato também, quando da inexistência de comunicabilidade de bens, evitando assim o enriquecimento ilícito de qualquer dos participantes da relação. Se um dos participantes da união ainda for participante de outra união, permanecendo com estado civil de casado, a nova união é denominada concubinato. Para esta relação concubinária não existe qualquer proteção do Estado ou garantia constitucional, a não ser que fique comprovada a separação de fato. 
	Em suma, para que exista e seja reconhecida a união estável, são requisitos:
- convivência pública entre homem e mulher – como se casados fossem;
- relação contínua, duradoura, o mesmo domicílio (apesar de não haver expressa previsão legal);
- capacidade civil dos participantes;
- inexistência de qualquer impedimento ao casamento que se aplicam a união estável, salvo nos casos em que exista separação de fato do antigo casamento.�
		O casamento perdeu, para a Constituinte de 1988, aquela posição de primazia, que desfrutava anteriormente; hoje é a família, derivada ou não do matrimônio, vinda ou não da união estável entre um homem e uma mulher, ou mesmo a comunidade formada por qualquer dos seus pais e seus descendentes, “que está sob a proteção especial do Estado”. Sem que com isso tenha pretendido a Constituição Federal equiparar a união de fato ao casamento.�
	Se tivesse tal intenção não determinaria à lei facilitar a conversão daquela em matrimônio, escrevendo Eduardo de Oliveira Leite, que “tão logo promulgada a Constituição, o afã de passar por moderno e avançado, bem como o tema de parecer positivista-legalista levou grande parte da doutrina nacional a visualizar no art. 226, § 3º uma proposta de equiparação da “união estável” ao casamento”.� Desconsiderando o que assim concluíram, contudo, a própria perspectiva diversa entre matrimonio e união de fato ou união livre e a referencia constitucional à existência de ambas as situações.�
	Conforme nos informa Dias (2007) trata-se de um procedimento de jurisdição voluntária perante o juízo das varas do registro público, sendo dispensável prévia demanda de reconhecimento da existência da união. Quer em face do principio da igualdade, quer porque a união estável constitui entidade familiar, é imperioso reconhecer a possibilidade de qualquer dos companheiros optarem pelo nome do outro. Agora, não só a mulher, também o homem tem o direito de alterar seu nome, passando a usar o da companheira. Igualmente,a limitação a que seja tão-só acrescentado o sobrenome do companheiro, sem a possibilidade de excluir o nome de família, não subsiste.�
	O art. 1.726 do Código Civil que “a união estável poderá converter-se em casamento mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil”.� Assevera Francisco José Cahali, na atualização da obra de Silvio Rodrigues, que falha, e muito, o legislador em não estabelecer os critérios, inócua a previsão, ao fazer substituir, neste contexto, o conturbado ambiente normativo sobre o assunto, desenvolvido pelos tribunais mediante portarias e provimentos, no exercício da Corregedoria dos Cartórios de Registro Civil, e às vezes conflitantes entre si”.�
Entidade familiar paralela ao casamento, a união estável pode vir a converter-se em casamento, hipótese em que demanda satisfação dos requisitos legais para habilitação. Mas quando não desejada ou enquanto não efetuada a conversão, cabe indagar se subsistem para a constituição de uma união estável os mesmos requisitos de constituição válida do casamento no que tange aos impedimentos matrimoniais. (VENOSA, 2006, p. 45)�	
	Em vez de recorrer ao Judiciário, mais fácil será simplesmente casar, com observância das formalidades exigidas para a celebração do casamento civil, máxime considerando-se que a referida conversão não produz efeitos pretéritos, valendo apenas a partir da data em que se realizar o ato de seu registro.� Decidiu o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, antes do Código civil de 2002: “União estável”. Convolação em casamento. Hipótese em que a vigência do matrimônio se inicia a partir da data do pedido.�
Conforme Diniz (2007) num primeiro plano, a Constituinte de 1988 passou a considerar as uniões extraconjugais como realidade jurídica, e não apenas como um fato social. Retirou-lhes todo aspecto estigmatizante, no momento em que as colocou sob a "proteção do Estado". Não se pode eliminá-la do âmbito do Direito de Família, eis que a Constituição as insere no art. 226, no Capítulo destinado à Família. Cumpre, portanto, caracterizar a "entidade familiar". De primeiro, afasta-se a sua equiparação ao casamento. Uma vez que "a lei facilitará sua conversão em casamento" deixou bem claro que não igualou a entidade familiar ao casamento. Não se cogita de conversão, se se tratasse do mesmo conceito. União estável e casamento "são institutos diversos" (Silvio Rodrigues, "Casamento e União Estável", in Revistn citada e local citado), muito embora um ou outro julgado haver, um tanto precipitadamente, proclamado sua equiparação, como acusa Semy Glanz, em artigo publicado na mesma Revista, à p. 90. Veja-se, ainda, na caracterização da "união estável" Humberto Theodoro Júnior, "Alguns Aspectos da Nova Ordem Constitucional sobre o Direito Civil", in Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Uberlândia, v. 20, p. 27.
 	Não tem faltado quem sustente ser de conveniência que o legislador baixe, desde logo, normas esclarecedoras, formulando os extremos da "entidade familiar". A nós não nos parece convinhável. Em princípio, sempre entendemos não caber ao legislador formular definições. Definir é obra da doutrina. A lei baixa comandos, com caráter geral e obrigatório. Tratando-se de conceito novo, sem a devida sedimentação, uma norma legislativa definidora poderia pecar pelo excesso, lançando a noção muito além do objeto a definir ou revelar-se demasiado restrita, deixando de abraçar nos seus termos os pressupostos necessários. É preferível que a elaboração pretoriana vá promovendo sua construção dentro da variedade dos casos de espécie, e destarte permitindo à doutrina uma flexibilidade conceitual mais proveitosa.
4.2. A União Estável versus Concubinato
	
Estabeleceu-se a distinção entre concubina e companheira, para fins de excluir esta última das regras proibitivas dos arts. 1.177, 1.424 e 1.719, III, do Código Civil de 1916. Assim, concubina passou a ser considerada exclusivamente aquela mulher que se relacionava com homem casado, na constância do matrimônio, ao passo que companheira era a que mantinha relacionamento com homem desimpedido ou, ao menos, separado de fato. A primeira integrava um concubinato impuro (com presença de impedimento matrimonial entre os seus integrantes), enquanto a segunda compunha um concubinato puro. Nessa linha situou-se conhecido aresto do STF, relator o Min. Antonio Nader, que, no julgamento do RE nº 83.930, deixou assim assentado: A concubina seria aquela mulher com quem o cônjuge adúltero tem encontros periódicos fora do lar. A companheira seria aquela com quem o varão, separado de fato da esposa, ou mesmo de direito, mantém convivência ‘more uxorio’.�
	A Lei dos Concubinos é restrita, não tardou a necessidade de ser editada outra que se cognominou Lei da União Estável (nº 9.278, de 10 de maio de 1996). Disse a que veio regulamentar o § 3º do art. 226 da Constituição Federal. Portanto, se para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento, como entidade familiar será reconhecida a convivência duradoura, pública e contínua de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família. Logo, os unidos se devem: respeito e consideração; assistência moral e material; além de lhes competir a guarda, sustento e educação dos filhos comuns.�
	Sobre bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos, na constância da união estável e a título oneroso, afirma a lei que é considerada frutos do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, a menos que seja estipulado em contrário, mediante contrato escrito.
	Até a publicação da presente Constituição Federal, a legitimidade da família nascia do casamento civil, considerando ilegítima a união de fato. No Código Civil de 1916 o legislador impôs uma série de restrições aos direitos das concubinas, visando proteger a família oriunda do casamento, entre eles estão: Sobre a discriminação em relação aos filhos oriundos de fora do casamento, chamado filho adulterino ou ilegítimo, posteriormente revogado pela promulgação da Constituição Federal de 1988 estabelecendo o princípio da igualdade. Impedimento da concubina de receber bens deixados por testamento por seu concubino, salvo na hipótese de não haver impedimento matrimonial.
Podemos citar como ato discriminatório o art. 363, I CC/16 que dizia a respeito sobre os filhos bastardos que postulavam ser reconhecidos pelo pai: “Os filhos ilegítimos de pessoas que não caibam no art. 183 I a VI CC/16, têm ação contra os pais, ou seus herdeiros, para demandar o reconhecimento da filiação: Se ao tempo da concepção a mãe estava concubiada com o pretendido pai.”� 
	Os unidos se devem: respeito e consideração; assistência moral e material; além de lhes competir a guarda, sustento e educação dos filhos comuns. Sobre bens móveis e imóveis adquiridos por um ou por ambos os conscientes, na constância da união estável e a título oneroso, afirma a lei que são considerados frutos do trabalho e da colaboração comum, passando a pertencer a ambos, em condomínio e em partes iguais, a menos que seja estipulado em contrário, mediante contrato escrito.�
	É evidente a conclusão, portanto: concubinato é uma condição e união estável, outra. Não existe concubinato puro ou impuro, conforme se esforçaram por definir alguns, no sentido de que aquele é o que existiria entre desimpedidos para se casarem e este, ao contrário. Nas duas condições, pode ser buscado refúgio em lei. Ambos apresentam uma dificuldade na postulação em juízo, porque assim como não basta dizer ao Estado Juiz, eu sou casado com fulano, é necessário provar mediante exibição de certidão do registro respectivo do meu casamento, não basta que eu diga, vivo, convivo, desde tal dia, ou por este tempo com A, preciso provar.�
4.3. A União Estável versus União Homoafetiva
	Conforme expõe Dias é necessário encarar a realidade sem discriminação, pois

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