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Monografia - Raphaella Alves Marcelino

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Faculdade Mineira de Direito 
 
 
 
 
Raphaella Alves Marcelino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FAMÍLIAS PARALELAS: 
desconstrução do princípio da monogamia através das mudanças sociais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Betim 
2019 
 
Raphaella Alves Marcelino 
 
 
 
 
 
 
 
FAMÍLIAS PARALELAS: 
desconstrução do princípio da monogamia através das mudanças sociais 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas 
Gerais, como requisito parcial para obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Prof. Lucas Cruz Neves 
 
Área de concentração: Direito Constitucional 
 
 
 
 
 
 
 
Betim 
2019
 
Raphaella Alves Marcelino 
 
 
 
 
 
 
 
FAMÍLIAS PARALELAS: 
desconstrução do princípio da monogamia através das mudanças sociais 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas 
Gerais, como requisito parcial para obtenção 
do título de Bacharel em Direito. 
 
Área de concentração: Direito Constitucional 
 
 
___________________________________________________ 
Prof. Me. Lucas Cruz Neves – PUC Minas (Orientador) 
 
___________________________________________________ 
Jairo Coelho Moraes – PUC Minas (Banca Examinadora) 
 
___________________________________________________ 
Fernando Gonçalves Rodrigues – PUC Minas (Banca Examinadora) 
 
 
 
Betim 
2019 
 
“Nossos provérbios precisam ser reescritos. Eles foram escritos no inverno, e é 
verão agora1”. 
 
1
 “Our proverbs want rewriting. They were made in winter, and it is summer now”. (WILDE, Oscar apud 
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2004, p. 22). 
 
 
RESUMO 
 
Este trabalho de conclusão de curso trata do avanço das relações interpessoais, que 
se formaliza em relações jurídicas, que garantem aos participantes direitos e 
obrigações, levando em consideração o avanço social, a boa-fé, a vontade dos 
cônjuges/companheiros, em busca se um bem comum: instituir família. O objetivo 
deste trabalho é mostrar como as Leis brasileiras, as jurisprudências e as doutrinas 
têm se posicionado com relações às demandas que vêm surgindo no que se refere 
às uniões paralelas, no que tange ao seu reconhecimento, de modo a garantir que o 
princípio da liberdade, dignidade humana e outros elencados na Constituição 
Federal sejam preservados, e ainda que o “princípio da monogamia”, dito desde os 
primórdios como obrigatório e correto, ao ponto de vista unicamente moral da 
sociedade, que perpassa entre as gerações, deixou de ser o único aceito pela 
comunidade. A metodologia utilizada foi a revisão doutrinária, teses, dissertações, 
artigos científicos, análise e comparação jurisprudencial, para melhor 
desenvolvimento do tema. A proposta em analisar este tipo de relação conjugal é 
auxiliar nas interpretações e ampliar o que a sociedade tem como senso comum, 
que muitas vezes é o modo de discriminação, ocasionado pela falta de 
conhecimento, conferindo então, a possibilidade de aceitação, bem como 
reconhecimento de direitos inerentes às outras formas de relacionamento já 
elencadas na Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro. 
 
Palavras-chave: Monogamia. Relações interpessoais. Casamento. União estável. 
Famílias paralelas. 
 
 
ABSTRACT 
 
This project of conclusion of course deals with advancement of interpersonal 
relations, which is formalized in legal relations, which guarantee to the participants 
rights and obligations, taking into account social advancement, the good faith, the will 
of spouses/partners, in search of a good common: to institute a family. The objective 
of this project is to show how Brazilian laws, jurisprudences and doctrines have been 
positioned with relations to the demands that arise in relation to parallel unions, 
regarding their recognition, in order to ensure that the principle of freedom, human 
dignity and others principles listened in the Federal Constitution are preserved, and 
even if “principle of monogamy”, which has been said from the beginning as 
obligatory and correct, to the only moral point of view of society, which permeates 
between generations, is no longer the only one accepted by the community. The 
methodology used was the doctrinal review, theses, dissertations, scientific articles, 
analysis and jurisprudential comparison, for better develop of the theme. The 
proposal to analyze this type of conjugal relationship is to help in the interpretations 
and broaden what society has as common sense, which is often the mode of 
discrimination, caused by lack of knowledge, thus conferring the possibility of 
acceptance, as well as recognition of rights inherent to other forms of relationship 
already listed in the Federal Constitution and in the Brazilian Civil Code. 
 
Keywords: Monogamy. Interpersonal Relations. Marriage. Stable union. Parallel 
families. 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
§ - Parágrafo 
aC – Antes de Cristo 
AC – Apelação Cível 
Ag. – Agravo 
AREsp – Agravo em Recurso Especial 
Art. – Artigo 
Ap. - Apelação 
CC/02 – Código Civil de 2002 
CCB – Código Civil Brasileiro 
CF/88 – Constituição Federal de 1988 
CP/41 – Código Penal de 1941 
dC – Depois de Cristo 
Des. - Desembargador 
DJe – Diário do Judiciário eletrônico 
Dr. - Doutor 
P. - Página 
Rg. – Regimental 
RS – Rio Grande do Sul 
STF – Supremo Tribunal Federa 
STJ – Supremo Tribunal de Justiça 
TJMA – Tribunal de Justiça do Maranhão 
TJRS – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul 
V. - Volume 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17 
2 A FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ............................. 19 
2.1 Breve histórico sobre as formações familiares ........................................... 20 
2.1.1 A família para a Constituição Federal de 1988 .......................................... 24 
2.1.2 A família para o Código Civil de 2002 ........................................................ 26 
2.2 O novo conceito de entidade familiar .......................................................... 27 
3 O DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL E A HERMERÊUTICA 
CONSTITUCIONAL .................................................................................................. 29 
4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS NO DIREITO DE FAMÍLIA ... 33 
4.1 Princípio do livre e pleno desenvolvimento da personalidade de cada 
membro da entidade familiar .............................................................................. 34 
4.2 Princípio da pluralidade de entidades familiares ........................................ 34 
4.3 Princípio da solidariedade familiar ............................................................... 35 
4.4 Princípio da igualdade ................................................................................... 36 
4.5 Princípio da liberdade .................................................................................... 36 
4.6 Princípio da boa-fé objetiva .......................................................................... 37 
5 A MONOGAMIA COMO VALOR SOCIAL E AS FAMÍLIAS PARALELAS ....... 39 
5.1 Do conceito de monogamia .......................................................................... 39 
5.1.1 A família monogâmica na sociedade ......................................................... 40 
5.1.2 A monogamia para a Constituição Federal de 1988 e para o Código Civil 
de 2002 ............................................................................................................... 43 
5.2 O instituto do casamento, nulidade e impedimentos matrimoniais .......... 45 
5.3 Do reconhecimento jurídico da família paralela ..........................................47 
5.4 Divergências jurisprudenciais ...................................................................... 51 
5.5 Da adoção, guarda, alimentos e bens das famílias paralelas .................... 58 
6 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 63 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 65 
17 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem o objetivo de estabelecer esclarecimentos acerca 
das uniões paralelas, também denominadas concomitantes ou simultâneas, que são 
novos tipos de modalidade familiar. 
O primeiro capítulo tratará sobre o modelo de família presente no 
ordenamento jurídico brasileiro, fazendo um breve histórico sobre as organizações 
familiares romanas, bárbaras, francesas, Brasil Colônia e Império, até os dias atuais, 
através de dispositivos da Constituição Federal e Código Civil, finalizando com o 
conceito de família interpretado por doutrinadores e pela legislação vigente. 
No segundo capítulo será abordado o tema Direito Civil Constitucional e 
Hermenêutica Constitucional, que buscam assegurar direitos em busca de uma 
sociedade fraterna e sem preconceitos, através de uma correta aplicação e 
interpretação da lei e de valores sociais. 
O terceiro capítulo abarca princípios constitucionais, como liberdade, 
pluralidade, solidariedade e boa-fé, que são inerentes às formações familiares, 
sejam elas “novas” ou “antigas”, que buscam cada vez mais, se adequar à realidade. 
E no quarto, e último capítulo, será abordado o tema principal deste trabalho: 
a monogamia. Conceituando-a, mostrando seu desenvolvimento nas formações 
familiares, as visões constitucionais e civis, definindo o casamento e os 
impedimentos matrimoniais, objetivando a sua desqualificação como princípio 
constitucional, adequando o reconhecimento jurídico, alisando ainda jurisprudências, 
e ainda, expondo direitos e deveres no que diz respeito à adoção, guarda e bens. 
19 
 
2 A FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO 
 
O conceito de família, no mundo moderno, difere do existente no século XIX. 
O Código Civil de 1916 (CC/16) considerava que as famílias se constituíram 
somente através do instituto do casamento. Hoje, vemos que o Direito de Família se 
adequa à realidade social, remoldando os referenciais trazidos pelos antepassados 
e, consequentemente, quebrando tabus. 
A Constituição Federal de 1988 (CF/88) trouxe, além do casamento, o 
reconhecimento da União Estável e da Família Monoparental, conferindo-lhe 
proteção do Estado, conforme o artigo (art.) 226, caput2, da Carta Magna. Neste 
diapasão, desconstruiu-se o modelo patriarcal, patrimonial e hierarquizado. 
As evoluções sociais vêm trazendo novas estruturas familiares, que objetivam 
no desenvolvimento de seus membros, através da solidariedade, apoio emocional, 
psicológico, cooperativismo e proteção. O que antes era considerado como função 
social da família, baseado na formação, socialização e desenvolvimento do 
indivíduo, hoje se modificou, pelo simples fato de os laços afetivos e os sentimentos 
estão sendo preponderantes para a formação da família. 
A concepção de família, segundo Santos e Viegas3, sofreu mudanças, 
preponderando atualmente o sentimento e o vínculo afetivo: 
 
O pluralismo das relações familiares – outro vértice da nova ordem jurídica 
– ocasionou mudanças na própria estrutura da sociedade. Rompeu-se o 
aprisionamento da família nos moldes restritos do casamento, mudando 
profundamente o conceito de família. A consagração da igualdade, o 
reconhecimento da existência de outras estruturas de convívio, a liberdade 
de reconhecer filhos havidos fora do casamento operaram verdadeira 
transformação na família4. 
 
As autoras ainda destacam que “no atendimento do afeto, solidariedade, 
lealdade, confiança, respeito e amor (...) ao legislador é imposto o dever de 
 
2 Art. 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” BRASIL. [Constituição 
(1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Nós, representantes do povo 
brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, 
destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, [...]. Brasília, DF: Planalto, 
[2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso 
em: 14 ago. 2019. 
3 SANTOS, Anna Isabella de Oliveira; VIEGAS, Cláudia Mara A. R. Poliamor: conceito, aplicação e 
efeitos. In: Caderno do Programa de Pós-Graduação em Direito PPGDir./UFRGS, Porto Alegre: 
Edição Digital, vol. XII, n. 2, 2017, p. 368 
4
 SANTOS, Anna Isabella de Oliveira; VIEGAS, Cláudia Mara A. R. Poliamor: conceito, aplicação e 
efeitos. In: Caderno do Programa de Pós-Graduação em Direito PPGDir./UFRGS, Porto Alegre: 
Edição Digital, vol. XII, n. 2, 2017, p. 368 
20 
 
programar as medidas cabíveis para a consecução da plena constituição e 
desenvolvimento das famílias”5. Em suma, a Constituição Federal ressalta a 
igualdade entre os filhos e os cônjuges, e reconhece que são detentores de direitos 
e obrigações recíprocas. 
O Código Civil (CC/02) expressa a importância da proteção às estruturas 
familiares por parte do Estado, tendo em vista o bem-estar social dos entes, de 
modo que os interesses sociais devem prevalecer sobre os individuais, ou seja, o 
Direito de Família se trata de um direito privado e sua formação possui caráter 
particular, que valoriza a liberdade das partes de contrair matrimônio, dissolver e 
controlar a natalidade. 
Para Adriana Maluf6 
 
É difícil o equilíbrio entre as normas de ordem pública e os acordos 
privados em matéria de família, pois privilegiar o contrato em detrimento 
das normas de ordem pública familiar desnatura essa sociedade particular 
e dificulta a plena inserção do indivíduo na sociedade global; por outro 
lado, um apego exacerbado às normas de ordem pública familiar impede o 
contrato de produzir plenamente os efeitos que lhe serão inerentes. 
 
Apesar da atualização do Código Civil, nota-se a necessidade de nova 
interpretação do texto normativo, a fim de que não se façam aplicações inequívocas, 
que possam limitar ou dirimir o direito à dignidade humana e à igualdade para estes 
novos grupos conjugais. 
 
2.1 Breve histórico sobre as formações familiares 
 
Segundo Coulanges7, no Direito Romano, a família era o conjunto de pessoas 
colocadas sob o poder do paterfamilias, de cunho patriarcal, em que as pessoas 
eram consideradas bens móveis e estavam sujeitos ao mesmo culto religioso. Não 
necessariamente o paterfamilias deve ser o pai, ou seja, basta que seja o chefe 
efetivo ou em potencial, a quem se confia o grupo domestico. E ainda, que a família 
 
5
 SANTOS, Anna Isabella de Oliveira; VIEGAS, Cláudia Mara A. R. Poliamor: conceito, aplicação e 
efeitos. In: Caderno do Programa de Pós-Graduação em Direito PPGDir./UFRGS, Porto Alegre: 
Edição Digital, vol. XII, n. 2, 2017, p. 368. 
6 MALUF, Adriana Caldas do Rego Dabus, apud TERRÉ, François. In: Novas modalidades de família 
na pós-modernidade. Tese (Doutorado). Faculdade de Direito da USP. São Paulo, 2010. P. 125 – 
126 
7 COULANGES, Numa Denis Fustel de. A cidade antiga. Tradução de Frederico Ozanam Pessoa. 
São Paulo: Edameris, 2006. 
21 
 
não estava fundada em laços de afetividade, importando apenas a formação da 
prole, para que não se desfizesse a continuidade de culto aos mortos. 
O casamento era considerado o precursor de legitimidade da prole e da 
manutenção da entidade familiar, portanto, era um ato obrigatório na sociedade. 
Estavam submetidos à patria potestas: a materfamilias (mulher casada, sob o 
poder do marido), filius e filiasfamilias, descendentes destes e suas esposas (cummanu), os netos, escravos (dominica potestas) e pessoas in mancípio (similares aos 
escravos). 
Assim, a família romana tinha como pilar o patriarcalismo, a monogamia e a 
autonomia. Insta salientar que a monogamia não evitava relações extramatrimoniais, 
como por exemplo, em casos em que o homem não podia ter filhos, a mulher podia 
se relacionar com um dos parentes do marido, a fim de procriação. 
Existiam ainda além do casamento (matrimonium ou justae nuptiae), outras 
formas de união, sendo: concubinatus (que não nivelava socialmente a mulher ao 
marido), matrimonium sine connubio (tratava-se da união entre romanos e 
peregrinos, e era considerado um matrimônio injusto), contubernium (união de fato 
entre escravos ou pessoas livres, com escravos, não gerando consequências 
jurídicas), casamento entre peregrinos. 
Destas relações, ressalta-se que os parentes eram reconhecidos como 
agnatos (parentesco civil), os cognatos (parentesco sanguíneo), e os parentes por 
afinidade, sendo que apenas aos agnatos observavam-se os efeitos sucessórios. E 
comente com Justiniano é que foi possível o reconhecimento do parentesco apenas 
de forma sanguínea. 
O concubinato somente passou a ser considerado como união legítima 
através da Lei Julia de adulteriis, e conferiu aos concubinos a obrigação de 
fidelidade. 
No que tange ao segundo matrimônio, Maluf8 aponta que somente era 
possível após o prazo de dez meses após a morte do marido ou doze meses no 
caso de divórcio. Caso não respeitados tais prazos, o novo casamento era 
considerado como uma ofensa à memória do marido, o que gerava danos 
patrimoniais à mulher. 
 
8 MALUF, Adriana Caldas do Rego Dabus, apud PEROZZI, Silvio. In: Novas modalidades de família 
na pós-modernidade. Tese (Doutorado). Faculdade de Direito da USP. São Paulo, 2010. 
22 
 
A viúva que não se casasse em um ano ou a divorciada que não fizesse em 
seis meses, estipulada pela Lex Julia de maritandis ordinibus de 736 aC, 
posteriormente alterada pela Lex Pappia Poppaea de 9 dC, do tempo de Augusto, 
que alterou esse prazo para dois anos e dezoito meses, impunha a mulher caelibe a 
incapacidade de fazer qualquer aquisição por testamento (por força do costume 
deveria estar vivendo maritalmente o homem com idade entre 25 e 60 anos e a 
mulher de 20 a 50 anos, respectivamente).9 
Apenas no século IV dC, com Constantino Magno, a família romana ganhou 
novos olhares, passando a possuir uma concepção cristã, formada pelo casal e seus 
filhos, tendo a Igreja o poder de legislar sobre a sua estrutura, ou seja, o casamento 
deixou de ser um contrato e passou a ser um sacramento dotado de grande valor 
moral. Existiam ainda, impedimentos para o casamento, baseados na bigamia e 
incesto; e o divórcio era impossível, devido à premissa católica de indissolubilidade 
do casamento. 
Para os bárbaros, o casamento era reconhecido em duas modalidades: por 
rapto e por compra, sendo que neste último, a vontade da mulher não era levada em 
consideração. Apenas com a evolução dos tempos, foi que a Igreja Católica passou 
a interferir neste tipo de casamento, passando a permitir que a mulher consentisse e 
não mais fosse tratada como objeto, fazendo com que sua essência passasse a ser 
a vontade das partes. 
Após da Revolução Francesa, o casamento passou a ser definido pela 
Constituição Francesa de 1791, como contrato civil (art. 7, título 2), e permitiu, em 
1792, o divórcio por lei. A partir disso, Maluf10 afirmam que o casamento se tornou 
uma união livre, em que os cônjuges poderiam formar e dissolver observando as 
formalidades estabelecidas pela lei. 
Durante o período colonial e Império, o Brasil considerava o casamento como 
a única fonte formadora da família, sendo um contrato social necessário à inclusão 
na sociedade. 
 
9 MALUF, Adriana apud PEROZZI, Silvio. In: Novas modalidades de família na pós-modernidade. 
Tese (Doutorado). Faculdade de Direito da USP. São Paulo, 2010. 
10 MALUF, Adriana apud MAZEAUD, Henri et Leon; MAZEAUD, Jean. In: Novas modalidades de 
família na pós-modernidade. Tese (Doutorado). Faculdade de Direito da USP. São Paulo, 2010. 
23 
 
Ocorre que Direito de Família sofreu alterações ao longo dos anos, e o 
Código Civil de 1916 trouxe a possibilidade do reconhecimento da família natural, a 
independência da mulher, a afetividade, igualdade e emancipação dos filhos, entre 
outros fatores. Cresceu ainda, o número de agrupamentos familiares, advindos de 
junções paralelas à família matrimonializada, e o de famílias chefiadas por mulheres 
que viviam sozinhas com os filhos. Logo, notou-se uma mudança significativa dos 
valores e dos costumes em consequência da evolução legislativa. 
Já no século XX, já com a modernização social, a família passou a se fundar 
na sua função afetiva, privilegiando os indivíduos que compõem a família, igualando 
os filhos, possibilitando a independência da mulher, o surgimento do divórcio, e 
deixando de lado a sua função reprodutiva, ou seja, a partir do século XX aos 
membros foi reconhecido o direito à dignidade da pessoa humana. 
Em resumo, Hironaka11 aponta que 
 
A família é uma entidade histórica, ancestral como a história, interligada 
com os rumos e desvios da história ela mesma, mutável na exata medida 
em que mudam as estruturas e a arquitetura da própria história através dos 
tempos, a história da família se confunde com a própria humanidade. 
 
E Dias pondera ainda12 
 
Na ideia de família o que mais importa é pertencer ao seu âmago, é estar 
naquele idealizado lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças 
e valores, permitindo a cada um sentir-se a caminho da realização de seu 
próprio projeto de felicidade pessoal – a casa, o lar, a prosperidade e a 
imortalidade na descendência. 
 
Através destas avaliações, é possível dizer que a família contemporânea se 
tornou menos conservadora, mais humanizada e voltada ao respeito à dignidade e 
direitos humanos, possibilitando que novas modalidades surjam, sejam 
reconhecidas e que tenham devida proteção do Estado. 
 
 
11 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito Civil: estudos. Belo Horizonte: Del Reyu, 
2000. P. 17-18. 
12
 DIAS, Maria Berenice apud HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. In: Casamento: nem 
direitos nem deveres, só afeto. 01 de setembro de 2010. P. 1 
 
24 
 
2.1.1 A família para a Constituição Federal de 1988 
 
Até 1988, o casamento era o único vínculo familiar reconhecido no Brasil, 
sendo ele considerado como ato formal e litúrgico. Essa espécie se fundava nas 
questões da moralidade, com total intervenção do Estado e da religião, como uma 
forma de manter a ordem social e regular, portanto, as relações conjugais. 
Após a promulgação da Constituição Federal, o Estado passou a organizar e 
correlacionar os anseios sociais e seus valores, estabelecendo conceitos novos de 
família, e ainda imputando reflexos civis e penais, de forma que fossem respeitados 
e libertos de quaisquer tipos de discriminação. 
Isto posto, Bahia13 conclui que 
 
Com a Constituição de 1988, todo o ordenamento jurídico e toda a 
atividade legislativa ficaram condicionados à observação e cumprimento 
dos princípios fundamentais elencados no artigo 1º da Constituição Federal 
e dos objetivos fundamentais previstos em seu artigo 3º, donde advém que 
o cerne do sentido passa a ser a valorização do ser humano, e sua efetiva 
proteção. 
 
Baseado na regulamentação do instituto do casamento pela CF/88, temos 
que pela quantidade de exigências essenciais para a celebração do casamento, 
pouco vale a vontade dos nubentes, tendo em vista que, os direitos e deveres são 
instituídos até mesmo depois da dissolução da sociedade conjugal. 
Ocorre que a sociedade sofreu mutações ao longo dos anos, e alegislação 
teve que se readaptar às novas realidades. Hoje, o que podemos ver, é que a família 
não pode ser reconhecida apenas como a compreendida na Constituição, mas como 
aquele ambiente que possui dois requisitos basilares: a afetividade e a estabilidade. 
Podemos concluir a partir daí, que existem duas teorias sobre a forma de 
concepção da família: a primeira aponta ser o casamento o principal vínculo de 
família. Os adeptos desta corrente apontam que os artigos 226, §1º e §2ª da CF 
topograficamente privilegiam o casamento. Em verdade, o artigo 226, §3º, da 
Constituição Federal, ao estabelecer que a lei deva facilitar a conversão da união 
estável em casamento, de certa forma, dá o tom da preferência do Constituinte pelo 
casamento. 
 
13 BAHIA, Cláudio José Amaral. A natureza jusfundante do direito à família. Revista do IASP, São 
Paulo, ano 11, n. 22, p. 21 jul./dez. 2008. 
25 
 
E a segunda corrente, que defende o princípio da isonomia entre os vínculos 
familiares, estabelece que o casamento seja apenas uma das formas de família, 
baseando sua tese nos artigos 5º e 226 da CF, bem como no projeto do Estatuto 
das Famílias (Projeto nº 2.285/2007). 
A Constituição Federal reconhece hoje, como entidade familiar, aquela 
advinda do casamento, da união estável e a monoparentalidade, conferindo-lhes 
assim, caráter de legitimidade, o que possibilita o direito de igualdade, sem a 
distinção de qualquer natureza, seja ela origem, raça, sexo, cor, religião ou idade. 
Baseiam-se na realização e desenvolvimento da personalidade de seus membros, 
de acordo com o princípio da dignidade da pessoa humana. 
Neste sentido, Pereira14 afirma que “a família é uma estruturação psíquica 
onde cada integrante possui um lugar definido, independente de qualquer vínculo 
biológico”. 
Lôbo15 ressalta ainda que 
 
Somente com a Constituição de 1988, cujo capítulo dedicado às relações 
familiares pode ser considerado um dos mais avançados dentre as 
constituições de todos os países, consumou-se no término da longa história 
da desigualdade jurídica na família brasileira. Em normas concisas e 
verdadeiramente revolucionárias, proclamou-se em definitivo o fim da 
discriminação das entidades familiares não matrimonializadas, que 
passaram a receber tutela idêntica às constituídas pelo casamento (caput 
do art. 226), a igualdade dos direitos e deveres entre homem e mulher na 
sociedade conjugal (§ 5 do art. 226) e na união estável (§ 3 do art. 226), a 
igualdade entre filhos de qualquer origem, seja biológica ou não biológica, 
matrimonial ou não (§ 6 do art. 227). 
 
 Logo, cabe dizer que a família não existe devido ao reconhecimento legal, e 
sim por traços estruturais da realidade social e suas eventuais mudanças. Ou seja, a 
Constituição rompeu o ideal de hierarquização, se fundando atualmente, na 
consagração de uma família plural e eudemonista, tendo como pilar o princípio da 
igualdade. 
 
14
 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Família e dignidade humana. Anais... Belo Horizonte: IBDFAM, 
2005a, p. 20. 
15 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito civil: famílias. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 23 
26 
 
2.1.2 A família para o Código Civil de 2002 
 
Ao abandonarmos o Código Civil Brasileiro de 1916, abandonamos a tradição 
de família patriarcal romana, considerada modelo ideal à época de sua elaboração. 
Hoje, o atual Código Civil (CC/02) reconhece como entidade familiar, a união 
estável entre homem e mulher, desde que esteja configurada de forma pública, 
contínua e duradoura, como consta no artigo 1.72316. Reconhece ainda alguns dos 
novos modelos familiares, que se classificam como: família matrimonial; 
concubinato; união estável; família monoparental; família anaparental; família 
pluriparental; eudemonista; família ou união homoafetiva; família paralela; família 
unipessoal. 
E estabelece a existência de dois graus de parentesco: o consanguíneo ou 
natural, e o por afinidade ou civil. Na família contemporânea, todos os seus 
membros possuem direitos individuais, sendo proibidas quaisquer distinções 
discriminatórias com relação à filiação. Seu artigo 1.634 estabelece que aos pais 
cabe, independente de sua relação conjugal: 
 
I - dirigir-lhes a criação e a educação; 
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; 
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, 
nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem 
partes, suprindo-lhes o consentimento; 
VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; 
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de 
sua idade e condição. 
17 
Reiterando assim, o que descreve o art. 226, § 5 da CF/88: "os direitos e 
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e 
pela mulher". 
O que se nota com isto, é que a instituição familiar não se configura hoje 
como proveniente apenas do casamento. Assim, é necessário que os Tribunais 
 
16 Art. 1.723. “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, 
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de 
constituição de família. § 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 
1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de 
fato ou judicialmente.§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da 
união estável.” BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil: Planalto. 
Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan 2002. [2019]. 
17
 BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil: Planalto. Diário Oficial da 
União, Brasília, 11 jan 2002. [2019]. 
27 
 
realinhem suas jurisprudências, a fim de que os direitos de todos os membros das 
relações familiares sejam resguardados. 
 
2.2 O novo conceito de entidade familiar 
 
A família está atualmente caracterizada como uma entidade flexível, que se 
reproduz ao longo dos séculos, tanto no âmbito público, quanto no privado, de 
acordo com o interesse da sociedade e da mudança de paradigmas. Sob esse 
aspecto, o Estado busca distinguir as pessoas da relação, segundo o entendimento 
de Venosa18, entre casadas, conviventes, solteiras, separadas judicialmente, 
divorciadas, parentes consanguíneos ou afins. 
O conceito de família paralela vem sendo enfrentado com divergência 
perante o Poder Judiciário. Muito já se disse sobre os múltiplos arranjos familiares, 
que sempre foram uma realidade, porém nem todos são protegidos pelo Estado por 
meio da jurisdição. Ocorre, porém, que a família possui uma diversidade de direitos, 
deveres e obrigações, logo, suas solicitações visam reafirmar sua existência e 
reconhecer que geram efeitos jurídicos. 
Para Dias19, a família simultânea se compara ao concubinato, que está 
baseado na má-fé, mas essa questão vai além da boa e má-fe, pois cada vez mais 
essas famílias se tornam uma realidade cada vez mais presente na sociedade. 
Assim, tendo em vista a importância dos princípios constitucionais que regem 
o Direito de Família, se vê a necessidade da sociedade em reconhecer a 
pluralidade das entidades familiares. Portanto, os princípios da dignidade da pessoa 
humana, da afetividade e do pluralismo são de extrema relevância para analisar a 
família paralela. 
Conforme explica Couto20 em seu artigo “Famílias paralelas e poliafetivas”, 
para que haja uma entidade familiar, ante o princípio da pluralidade de entidades 
familiares e conforme a norma aberta e de inclusão do art. 226 da CF, que retirou 
do casamento a exclusividade de modelo familiar, há necessidade de se verificar 
três elementos: afetividade, estabilidade e ostensibilidade.18 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 9. Ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 160-161 
19 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Família. 10. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista 
dos Tribunais, 2015. P. 282. 
20 COUTO, Cléber. Famílias paralelas e poliafetivas. Jusbrasil, 07/2015. 
28 
 
Além disso, utiliza-se a afetividade para caracterizar a entidade familiar, que 
não se baseia em qualquer afeto e sim um afeto especial – considerado como valor 
jurídico. O afeto familiar se caracteriza pelo animus de constituição de família: o 
desejo dos familiares compartilharem a mesma vida, o afeto é um dos elementos 
responsáveis pela constituição das relações familiares. 
Fiuza e Poli21 esclarecem que 
 
O conceito de família hoje decorre do seguinte: família para a promoção do 
indivíduo, sua autonomia e pleno desenvolvimento da personalidade; família 
sem necessário casamento, pautada na igualdade entre os filhos e entre os 
genitores. Em todos os lares onde houver pessoas ligadas, seja por laços 
de sangue ou não, unidas pelo afeto, pelo plano de concretização das 
aspirações de cada uma delas e daquele núcleo como um todo, 
concatenadas e organizadas econômico e psicologicamente, haverá uma 
família. 
 
Além disso, segundo destaca Krapf22, para que o paralelismo familiar se 
verifique, seja concomitantemente a um casamento ou a uma união estável, é 
necessário que sejam preenchidos requisitos, que se parecem muito com os 
pressupostos para a configuração da própria união estável, a demonstrar 
estabilidade e ostensibilidade no vínculo afetivo, uma vez que não se pretende a 
tutela de relações eventuais, mas sim a proteção aos partícipes e porventura filhos 
da união estável paralela. 
No mesmo sentido também é o entendimento de Almeida23, que retrata que 
“a família paralela como outros fenômenos sociais que buscaram o reconhecimento 
jurídico, precisa vencer barreiras e principalmente romper um dos parâmetros 
sociais de maior carga dogmática, qual seja o ideal de monogamia”. 
Insta salientar que os relacionamentos “esporádicos”, pelo fato de não serem 
considerados estáveis, juridicamente falando, não se enquadram no âmbito das 
relações familiares, logo não recebem proteção à luz da legislação.
 
21 FIUZA, César; POLI, Luciana. Núcleos familiares concomitantes: (im)possibilidade de proteção 
jurídica. Fortaleza: Pensar. V. 21, n. 2, p. 631, mai/ago. 2016. 
22 KRAPF, Alessandra Heineck. Famílias Simultâneas: Reflexos Jurídicos a partir de uma 
perspectiva constitucional e jurisprudencial. 2013. 
23 ALMEIDA, Renata Barbosa de; RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil 
Famílias. Rio de Janeiro. Lumen Juris, 2010. 
29 
 
 
 
3 O DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL E A HERMERÊUTICA 
CONSTITUCIONAL 
 
 O Estado Democrático de Direito é compreendido como “governo do povo”, 
que atua sob os limites da legislação e busca atender os anseios da sociedade. 
Neste contexto, a Constituição Federal firma em seu preâmbulo, que tem o objetivo 
de 
 
instituir um Estado Democrático Destinado a assegurar o exercício dos 
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o 
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma 
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social.24 
 
Gustavo Tepedino25 mostra que para que se tenha correta aplicação do 
Direito Civil é necessário um novo modelo interpretativo da lei, em que o Código Civil 
associe normas que descrevem valores e parâmetros hermenêuticos, e ainda que o 
intérprete legislativo promova a conexão entre o CC/02 e a CF/88, que define tais 
valores e princípios fundamentais à ordem pública. 
A constitucionalização do Direito Civil influencia diretamente nas relações 
privadas, pelo fato de ser interpretado e, consequentemente, aplicado observando 
valores e princípios descritos na Constituição, com destaque ao princípio da 
dignidade da pessoa humana e ao princípio da igualdade. 
Tepedino ainda aponta que existem quatro características centrais da técnica 
legislativa contemporânea26: a narrativa, que permite uma atuação aprimorada e 
conjunta dos valores jurisprudenciais e dos valores sociais; a busca de técnicas 
legislativas que possam assegurar uma maior efetividade dos critérios 
hermenêuticos, através da definição dos princípios que devem ser tutelados, 
possibilitando esclarecer os aspectos que definem a identidade cultural, de modo 
que tenha total integração entre o caso concreto e o preceito normativo; a ampliação 
 
24 BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. 
25
 TEPEDINO, Gustavo (Coordenador). A parte geral do novo Código Civil: estudos na perspectiva 
civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, 3. ed. rev. p. XV 
26 TEPEDINO, Gustavo (Coordenador). A parte geral do novo Código Civil: estudos na perspectiva 
civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2007, 3. ed. rev. 
30 
 
dos mecanismos de tutela da personalidade, que deve ser considerada um valor 
jurídico, de maneira mais ampla, visto que o modelo do direito subjetivo tipificado 
atualmente é insuficiente para atender todas as demandas pleiteadas juridicamente; 
e a construção de doutrinas que abordem os direitos de personalidade, bem como a 
tipificação de situações previamente estipuladas, nas quais pudesse incidir o 
ordenamento, a fim de que não se camufle a realidade. 
A era da modernidade fez surgir um novo modelo constitucional, e, 
consequentemente, uma nova ordem social, jurídica e política. Posto isto, a CF se 
apresenta como o documento catalisador dos ideais e das exigências modernas. 
Sendo, portanto, símbolo dessa nova filosofia. 
A idealização da Constituição escrita teve o objetivo de propagar as 
conquistas e trazer segurança ao homem. Que são segundo Baracho27: 
a) Crença na superioridade da Constituição escrita sobre a Constituição 
costumeira por, justamente, atribuir maior certeza à conquista dos direitos; 
b) Proporcionar a ideia de renovação do Contrato Social; 
c) Representar um insuperável meio de educação política, difundindo entre os 
cidadãos o conhecimento de seus direitos. 
Neste sentido, Canotilho28 aponta que 
 
Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do 
governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão 
estruturante da organização político-social de uma comunidade. Neste 
sentido, o constitucionalismo moderno representará uma técnica específica 
de limitação do poder com fins garantísticos. 
 
Desta forma, esclarece-se que a constitucionalização escrita foi o marco 
inicial para a consagração do Princípio da Supremacia da Constituição. 
A Hermenêutica Constitucional possui problemas interpretativos que a 
diferenciam da Hermenêutica Jurídica Clássica, no que se referente à originalidade, 
hierarquia, supremacia da constituição e o fato dessa ser fonte normativa. Ocorre 
que se considera que há apenas uma Hermenêutica, no sentido que a interpretação 
da Constituição não se diferencia da interpretação das demais leis. 
 
27 BARACHO, José Alfredo de Oliveira. Teoria geral das constituições escritas. Belo Horizonte: 
Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1985, v. 60/61 
28 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 3. Ed. Coimbra: 
Almedina, 1999, p. 47. 
31 
 
E ainda, Hesse29 estabelece que existe apenas uma Hermenêutica Jurídica, 
que traça novos critérios de interpretação, sendo sustentados pela: unidade da 
Constituição, a concordância prática entre o conflito e os bens protegidos, a exatidão 
funcional no que se refere à separação dos poderes, o efeito integrador, a força 
normativa da Constituiçãode forma atualizada e efetiva, e a interpretação conforme 
o padrão constitucional, descartando então os sentidos ambíguos ou 
indeterminados. 
Assim, a Hermenêutica Jurídica é a arte de interpretar e determinar o alcance 
do Direito, sendo sua aplicação realizada de forma justa e equilibrada. Tal equilíbrio 
somente será alcançado a partir do desenvolvimento do chamado senso de 
adequabilidade que, segundo Günther30, é a necessidade de adequar o discurso 
normativo à situação fática. 
O que se deve ter claro na mente do legislador é que a interpretação dos 
textos normativos, doutrinas e jurisprudências necessita ocorrer de forma delicada, 
jamais sendo de forma automática, mecânica, devido ao fato de a interpretação 
sofrer mutações, assim como a realidade social. 
Tendo em vista os anseios e transformações da sociedade, faz-se necessária 
a atualização periódica do ordenamento jurídico, para que não se façam 
interpretações errôneas e muito menos, que algum direito seja negado/violado. 
 
29 HESSE, Konrad. A força normativa da constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto Alegre: 
Fabris, 1991. 
30 GÜNTHER, Klaus. The sense of appropriateness: application discourses in morality and law. 
Trad. John Farrell. Albany: State University of New York Press, 1993, p. 215 et seq. 
33 
 
 
4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS NO DIREITO DE 
FAMÍLIA 
 
 Antes de especificar os princípios que regem as relações familiares, é preciso 
ter em mente que eles não podem ser aplicados integralmente e de forma definitiva, 
pois necessitam de interpretação Assim, os princípios, quando colidem, devem ser 
ponderados, analisados e aplicados em observância ao caso concreto. 
Devemos estabelecer que o princípio da dignidade humana, estabelecido no 
art. 1º da CF/88, visa orientar toda a sociedade e ser o pilar do Estado Democrático 
de Direito, que busca a justiça e a equidade de seus membros. Mas que existem 
outros princípios aplicáveis no direito de família. 
Robert Alexy31 pondera ainda que princípios não se confundem com valores, 
pois princípios expressam dever, proibição, permissão ou direito a algo, enquanto os 
valores estão ligados à classificação do que é bom ou ruim, ou seja, há uma 
hierarquização ou uma preferibilidade. Deste modo, em se tratando de ponderação, 
o que se analisa são as normas e os princípios, não os valores que possam vir a 
conter. 
Segundo Dworkin32, 
 
[...] a diferença entre princípios jurídicos e regras jurídicas é a natureza 
lógica. Os dois conjuntos de padrões apontam para decisões particulares 
acerca da obrigação jurídica em circunstâncias específicas, mas 
distinguem-se quanto à natureza da orientação que oferecem. As regras 
são aplicáveis à maneira do tudo ou nada. Dados os fatos que uma regra 
estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que ela fornece 
deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso em nada contribui para a 
decisão. [...] Mas não é assim que funcionam os princípios [...] Um princípio 
[...] não pretende (nem mesmo) estabelecer condições que tornem sua 
aplicação necessária. Ao contrário, enuncia uma razão que conduz o 
argumento em uma certa direção. 
 
Em resumo, para que haja uma aplicação justa do Direito em uma sociedade 
mutante, as normas devem ser interpretadas de acordo com o aspecto histórico, 
com os princípios e valores que eles possuem. 
 
 
31 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São 
Paulo: Malheiros Editores, 2008, p. 153. 
32 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução: Nelson Boeira. São Paulo: Martins 
Fontes, 2002, 1. Ed. p. 39-41. Disponível em: 
34 
 
4.1 Princípio do livre e pleno desenvolvimento da personalidade de cada 
membro da entidade familiar 
 
A CF/88 estabelece que a pessoa humana e a sua liberdade para 
desenvolver, se expressar e adquirir personalidade, são os pilares dos direitos 
humanos. 
Sobre a liberdade de construção da personalidade como um todo, e não 
apenas no ambiente familiar, Moreira33 pontua: 
 
Este direito leva em consideração a autodeterminação da individualidade 
humana. A pessoa, como dona do seu próprio destino, escolhe 
cotidianamente os rumos da sua vida. Ao Estado e aos agentes particulares 
cabe respeitar (abstenção) e promover os meios para a realização destas 
decisões existenciais. 
 
Esta liberdade sofre limitações externas, no que diz respeito ao interesse de 
terceiros e os demais direitos fundamentais, constitucionalmente estabelecidos. 
Ocorre, porém, que o legislador não pode interferir em tal agrupamento, pelo falo de 
que a liberdade no seio familiar seja observada de acordo com a observação social 
dos fatos, possibilitando que os seus integrantes determinem a forma de constituição 
e direção, ou seja, faz com que a família tenha um caráter dinâmico. 
 
4.2 Princípio da pluralidade de entidades familiares 
 
Podemos afirmar que hoje, a família possui diversas formas de constituição, 
que se modificam de acordo com o contexto histórico, as necessidades e interesses 
sociais. 
A Constituição e o Código Civil se encarregam de estabelecer os modelos de 
entidade familiar, o que proporcionou uma evolução do Direito de Família. O que 
ocorre atualmente é que o texto normativo não é atualizado na medida em que a 
sociedade muda, desta maneira, a doutrina e a jurisprudência começaram a adotar 
novas modalidades de família. 
 
O pluralismo das relações familiares – outro vértice da nova ordem jurídica 
– ocasionou mudanças na própria estrutura da sociedade. Rompeu-se o 
 
33 MOREIRA, Rodrigo Pereira. Direito ao livre desenvolvimento da personalidade: proteção e 
promoção da pessoa humana. Curitiba: Juruá, 2016. P. 14. 
35 
 
aprisionamento da família nos moldes restritos do casamento, mudando 
profundamente o conceito de família. A consagração da igualdade, o 
reconhecimento da existência de outras estruturas de convívio, a liberdade 
de reconhecer filhos havidos fora do casamento operaram verdadeira 
transformação na família.34 
 
Considerando que o Código Civil de 2002 retrata apenas alguns modelos de 
família, classificamos as espécies de família da seguinte forma: família matrimonial, 
concubinato, união estável, família monoparental, família anaparental, família 
pluriparental, eudemonista, família ou união homoafetiva, família paralela, família 
unipessoal. Sendo os fatores necessários para a construção das entidades 
familiares: afetividade, estabilidade, ostensibilidade e animus familiae. 
Logo, a família que atualmente se busca fomentar é aquela comprometida 
com a união estável, cooperativa e voluntária dos seus membros, cumprindo a 
função basilar de proteger seus integrantes de forma solidária. 
 
4.3 Princípio da solidariedade familiar 
 
A ideia de solidariedade está ligada à responsabilidade entre os membros, em 
busca de respeito, cooperação, auxílio material, tolerância e desenvolvimento de um 
ambiente feliz e harmonioso, onde todos são tratados como iguais. 
Este princípio é complementar da dignidade da pessoa humana, pelo fato de 
que no seio familiar, a solidariedade é o meio que se busca o crescimento e a 
realização individual de seus membros. 
Nas palavras de Dias35, conclui-se que, 
 
[...] ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo familiar, safa-
se o Estado do encargo de prover uma gama de direitos que são 
assegurados constitucionalmente ao cidadão. Basta atentar que, em se 
tratando de crianças e adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à 
sociedade e finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com 
absoluta prioridade os direitos inerentes aos cidadãos em formação. 
 
Desta forma, pode-se afirmar que a solidariedade familiar impõe confiança e 
lealdade entre aquelesque compõem a família. E neste sentido, pode-se dizer que 
 
34
 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11.ed. Porto Alegre: Revista dos Tribunais, 
2015. 
35 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias – de acordo com o novo CPC. 11. ed. rev., 
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 
36 
 
nas famílias paralelas ou simultâneas, a solidariedade justifica a lealdade e 
confiança entre os conviventes. 
 
4.4 Princípio da igualdade 
 
 A evolução social permitiu que a mulher ganhasse direitos e deveres dentro 
da sociedade conjugal. Desapareceu o poder do pater familias, a submissão e a 
única função de cuidar da casa, do marido e dos filhos. Ou seja, a mulher passou a 
ter condições de igualdade. Esta paridade entre os cônjuges está prevista no art. 
226, § 5 da CF/88. 
A condição de igualdade não foi dada apenas às mulheres, mas também aos 
filhos, que passaram a ser reconhecidos, independente de serem legítimos, adotivos 
ou naturais, vedando assim, qualquer possibilidade discriminação. 
Ainda no esclarecimento de igualdade familiar, Moraes36 afirma que: 
 
O modelo democrático de família pressupõe justamente a existência de uma 
pluralidade de estruturas familiares, nenhuma delas apresentando 
legitimidade superior, na medida em que todas manifestam igual potencial 
de desenvolver as funções intrínsecas à família. 
 
Este princípio proíbe então, qualquer tipo de distinção ou hierarquização tanto 
para com os indivíduos, quanto para as entidades familiares, principalmente devido 
à pluralidade de suas estruturas. 
 
4.5 Princípio da liberdade 
 
Este princípio está relacionado à menor intervenção do Estado no seio familiar, 
por ser considerado um ambiente íntimo. Cabe aos seus membros à liberdade para, 
segundo Alves37: “constituir ou extinguir a entidade, para adquirir e administrar o 
patrimônio familiar, no planejamento familiar, na formação dos filhos etc”. E completa 
dizendo 
 
36 MOREAES, Maria Celina Bodin de. Na medida da pessoa humana: estudo de direito civil-
constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2010, p. 224 
37 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Direito de família mínimo: a possibilidade de aplicação e o 
campo de incidência da autonomia privada no direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. 
P. 145. 
37 
 
 
Em verdade, o Estado somente deve interferir no âmbito familiar para 
efetivar a promoção dos direitos fundamentais dos seus membros – como a 
dignidade, a igualdade, a liberdade, a solidariedade, etc. –, e, contornando 
determinadas distorções, permitir o próprio exercício da autonomia privada 
dos mesmos, o desenvolvimento de sua personalidade e o alcance da 
felicidade pessoal de cada um deles, bem como a manutenção do núcleo 
afetivo. Em outras palavras, o Estado apenas deve utilizar-se do Direito de 
Família quando essa atividade implicar uma autêntica melhora na situação 
dos componentes da família.38 
 
Dito isto, Fugie e Carvalho Neto39 esclarecem que: 
 
As relações jurídicas do casamento, união estável, adoção e 
reconhecimento dos filhos nascem de atos voluntários, do exercício de 
liberdade, que, entretanto, uma vez realizados, submetem-se às normas 
cogentes, de interesse público, assumindo na maior parte dos casos o 
caráter de dever. 
 
A liberdade é, portanto, indispensável para a felicidade, afeto e convivência 
comum dos entes familiares, pois o indivíduo, dotado de razão e consciência, é 
capaz de decidir o que é melhor para si, sendo então um direito essencial para toda 
a sociedade. Ou seja, a liberdade na concepção, manutenção e atribuição de 
direitos deve ser vista como necessária para a promoção da dignidade, da 
autonomia privada, da solidariedade e do pleno desenvolvimento da personalidade 
de seus membros. 
 
4.6 Princípio da boa-fé objetiva 
 
Este princípio diz respeito à boa-fé dos companheiros dentro da união estável, 
no que tange ao conhecimento da existência de uma família paralela à primeira 
união (a união legal), ou seja, a transparência mútua entre os familiares. 
Não há de se falar em putatividade da união, pelo fato de ser reconhecida por 
todos que compõem a relação, podendo citar como exemplo: a mulher que é casada 
com o marido e com ele têm bens e filhos, sabe que o marido possui relação, família 
e bens com uma terceira pessoa. Insta salientar, que esta terceira relação, para que 
 
38 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Direito de família mínimo: a possibilidade de aplicação e o 
campo de incidência da autonomia privada no direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. 
P. 145. 
39 CARVALHO NETO, Inácio de; FUGIE, Érika Harumi. Novo Código Civil comparado e 
comentado: direito de família. Curitiba: Juruá, 2002, v. 6, p. 7. 
38 
 
se considere união paralela, é necessário que tenha os seguintes requisitos 
caracterizadores da entidade familiar. 
A boa-fé objetiva está baseada na honestidade, não podendo dizer que 
haverá um prejudicado na relação, visto que a todos serão conferidos direitos 
sucessórios, em caso de falecimento do cônjuge que possuir duas famílias. 
Embora não conste no Código Civil e nem da Constituição Federal, a união 
paralela não é um fato a ser negado pela jurisprudência e pela legislação, visto que 
a sociedade sofre constantes modificações, e negar às famílias os direitos que lhes 
cabem, é negar-lhes direitos constitucionais. 
Cabe lembrar que os elementos formadores da família contemporânea são: a 
afetividade (sentimento de amor, respeito, carinho), a vontade de constituir família, e 
ainda devendo ser uma relação pública, contínua e duradoura; o que confere aos 
participantes direitos e obrigações. 
39 
 
 
5 A MONOGAMIA COMO VALOR SOCIAL E AS FAMÍLIAS 
PARALELAS 
 
5.1 Do conceito de monogamia 
 
Monogamia, para Ruzyk 40, pode ser entendida como a relação conjugal entre 
um homem e uma mulher, na qual os cônjuges devem preencher requisitos formais 
estabelecidos pelo Estado, e possuem o intuito de formar um ambiente familiar, não 
podendo possuir mais de uma união com mais de uma pessoa. 
Pelo fato de o casamento ser um contrato mútuo de vontades, qualquer tipo 
de relação diferente deste modelo é visto como uma afronta ao “sistema” de regras 
morais. Ocorre, porém, que monogamia e fidelidade não são sinônimos, não 
podendo então ser aplicados juntos. 
A fidelidade desta forma trata-se de uma escolha pessoal, logo, o Estado não 
é capaz de controlar tal comportamento. A diversidade de estruturas familiares 
demonstra que não existe mais o temor de abandonar a estrutura familiar antigo, 
enraizado na sociedade como única relação (legítima) e aceita pelos ditames 
religiosos. 
Elevar a monogamia à categoria de princípio constitucional é um retrocesso, 
visto que é claro que esta característica não passa de um valor de conduta moral 
enraizado pela Igreja Católica, e ainda, negar o reconhecimento e proteção dos 
diversos núcleos familiares que vêm surgindo através dos tempos. 
Neste contexto, Lana e Rodrigues Júnior41 expõem que 
 
A monogamia apresenta-se como um valor, resquício da influência religiosa 
no ordenamento jurídico. Não parece que tenha natureza normativa, 
apresentando-se como um valor a ser considerado e desejado. Valores 
pertencem ao âmbito da axiologia, a refletir o conceito de bom; suas 
avaliações serão consideradas a partir do melhor ou pior. 
 
 
40 RUZYK, Carlos Eduardo Pianovski. Famílias Simultâneas e Monogamia. Anais do V Congresso 
Brasileiro de Direito de Família. São Paulo: Thomson, 2006, p. 197 
41 LANA, Fernanda Campos de Cerqueira; RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson. O direito e a falta de 
afeto nas relações paterno filiais. In: FIUZA, César; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira;SÁ, Maria 
de Fátima Freire de. Direito Civil: Atualidades IV – teoria e prática no direito privado. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2010, p. 267. 
40 
 
A monogamia somente será relevante para o Direito de Família quando violar 
o princípio e direito à dignidade da pessoa humana, logo, não cabe ao Direito fazer 
juízo de valor, considerando que as demais relações contrariam a moral e a ética, 
somente pelo fato do seu uso repetitivo na sociedade, como sendo referência de 
modo de vida e forma de se relacionar. 
O fato é que a monogamia deixou de ser uma realidade única, devendo, 
portanto, o legislador reconhecer os diversos elementos formadores das novas 
relações familiares, se adequando a realidade e não se apegando à dogmática. 
 
5.1.1 A família monogâmica na sociedade 
 
A Igreja Católica, pelo Concílio de Trento42, reconheceu o matrimônio como 
união indissolúvel, no qual os cônjuges tinham o dever de serem fiéis, e sendo o 
adultério um pecado imperdoável. Porém, a sociedade atual não pode ser 
considerada como monogâmica. O que podemos notar é que os relacionamentos, 
não apenas matrimoniais, estão cada vez mais abertos, com traições, ou até mesmo 
relacionamentos em que o casal, de comum acordo, busca outros parceiros para 
ingressar em seu meio (o que alguns chamam de “trizal”). Estar em um 
relacionamento com alguém seja de forma matrimonial ou não, não garante que o 
parceiro seja fiel, afastando ainda mais a ideia de monogamia. 
Desde a antiguidade a monogamia não é respeitada. Voltemos ao modelo 
familiar romano, em que a mulher casada com o homem que não podia ter filhos, 
deveria se relacionar com um dos parentes do cônjuge, a fim de procriação. Não era 
então, considerado traição, muito menos seria passível de divórcio. 
Citemos ainda, as relações entre os animais. O macho não está ligado à 
fêmea logo após a cópula. Seu único “interesse” é a reprodução de seu gene, 
independente da quantidade de fêmeas que fertilize. Logo, não podemos dizer que 
existem evidências biológicas ou antropológicas que sustentem a monogamia como 
algo natural das uniões. 
 
42 O Concílio de Trento foi o 19º conselho ecumênico reconhecido pela Igreja Católica, convocado pelo 
papa Paulo III, em 1542, e durou entre 1545 e 1563. Teve esse nome, pois foi realizado na cidade de 
Trento, no norte da Itália. O principal objetivo do Concílio de Trento era reafirmar os dogmas da fé 
católica frente à disseminação do protestantismo. 
41 
 
Outra coisa que devemos levar em consideração, é o fato de afirmar que 
“algo é de um jeito”, pois o tempo muda com o passar do tempo, assim como os 
costumes, os valores, os pensamentos, e as leis. A sociedade passou (e passa) por 
modificações constantes, e no que diz respeito às formações familiares, por 
exemplo, surgiram várias, além daquelas advindas do casamento. Então porque 
dizer que a situação monogâmica não é mutável? 
Os doutrinadores tratam a monogamia como uma regra de comportamento 
civil, e que a poligamia afeta a moral e os bons costumes, além de ser contrária à 
orientação da Igreja. 
Neste sentido, Silva43 explica que, 
 
[...] no senso comum dos juristas, trata-se (a monogamia) de um dogma, 
isto é, uma verdade proclamada a priori. Uma vez proclamada, ela 
necessita apenas de amparos argumentativos ou de justificação 
legitimadora. 
 
Dias44 ainda ensina que: 
 
Ainda que a lei recrimine de diversas formas quem descumpre o dever 
de fidelidade, não há como considerar a monogamia como princípio 
constitucional, até porque a Constituição não a contempla. Ao contrário, 
tanto tolera a traição, que não permite que os filhos se sujeitem a qualquer 
discriminação, mesmo quando se trata de prole nascida de relações 
adulterinas e incestuosas. O Estado tem interesse na mantença da estrutura 
familiar, a ponto de proclamar que a família é a base da sociedade. Por 
isso, a monogamia – que só é monogamia para a mulher – não foi instituída 
em favor do amor, mas mera convenção decorrente do triunfo da 
propriedade privada sobre o estado condominial primitivo. 
 
Em ideia contrária a maioria dos doutrinadores, Fisher45 aponta 
 
Our concept of infidelity is changing. Some married couples agree to have 
brief sexual encounters when they travel separately; others sustain long-
term adulterous relationships with the approval of a spouse. Even our 
concept of divorce is shifting. Divorce used to be considered a sign of failure; 
today it is often deemed the first step toward true happiness.46 
 
43 SILVA, Marcos Alves da. Da monogamia: a superação como princípio estruturante do direito de 
família. Curitiba: Juruá, 2013, p. 141. 
44 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. Ed., São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2007, p. 58. 
45 FISHER, Helen. The new monogamy: foward to the past: na author and anthropologist looks at the 
future of love. The futurist, Bethesda, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010, p. 27 
46 “Nosso conceito de infidelidade está mudando. Alguns casais concordam em ter encontros sexuais 
breves quando viajam separadamente; outros sustentam relacionamentos adúlteros de longo prazo 
com a aprovação do cônjuge. Até mesmo nosso conceito de divórcio está mudando. O divórcio 
costumava ser considerado um sinal de fracasso; hoje é muitas vezes considerado o primeiro passo 
42 
 
 
As pessoas estão condicionadas a pensar que o casamento heterossexual, 
monogâmico e indissolúvel é a única forma correta de relacionamento, e que 
comportamentos contrários desencadeiam perturbações e são considerados 
desrespeitosos, moralmente falando. 
O reconhecimento da família pelo ordenamento como fenômeno social, e não 
como modelo de obter propriedade, procriação e desenvolvimento da prole, fez com 
que esta situação jurídica (o casamento) deixasse de ser uma imposição e passasse 
a ser objeto de livre escolha do casal, e em razão desta liberdade, não devem ser 
impostas condições extremas para a sua formação (como a exigibilidade de que seja 
uma relação monogâmica ou que seja uma relação heterossexual - como já 
observamos hoje, com a existência das relações homoafetivas). 
Assim, a família se constitui atualmente, pelo desejo de seus membros, 
respeitando os requisitos mínimos legais, de forma que não importa se monogâmico 
ou não, e sim a escolha de todos os indivíduos. Vale lembrar ainda, que pelo 
princípio da pluralidade familiar, não se pode dizer que o rol descrito no CC/02 e na 
CF/88 é taxativo. 
Desta forma, a simultaneidade conjugal consiste na formação de duas ou 
mais famílias, em que um ou ambos ou cônjuges formam núcleos familiares distintos 
- que se caracterizam como um único núcleo familiar -, na condição de 
companheiros, sendo pautada na honestidade, consenso, ética e confiança, e ainda 
de forma estável, ostensiva, afetiva e com intuito familiae. 
Sobre a imposição da monogamia e a aceitação desta nova estrutura familiar, 
indaga Santos47: 
 
Será que o conceito de família não evoluiu ao ponto das práticas 
poligâmicas serem alvo de aceitação como um sistema integrado a par da 
monogamia? De quem é o interesse maior em relação à intangibilidade do 
preceito monogâmico? Justificar-se-á que a violação do preceito 
 
para a verdadeira felicidade.” FISHER, Helen. The new monogamy: forward to the past: an author 
and anthropologist looks at the future of love. The futurist, Bethesda, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010, p. 
27. In: SANTOS, Maria Alice de Souza. Famílias simultâneas no direito brasileiro: a boa-fé no 
reconhecimento e na partilha de bens. (Tese). Belo Horizonte. 2017. p. 56. 
47 SANTOS, Marina Alice de Souza Santos. Famílias simultâneas no direitobrasileiro: a boa-fé no 
reconhecimento e na partilha de bens. Tese (Pós-Graduação) – Pontifícia Universidade Católica de 
Minas Gerais. Belo Horizonte. 2017. Apud PINTO, Andreia Novais. Poligamia numa perspectiva 
jurídica. 2012. 64 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 
Coimbra, 2012. 
43 
 
monogâmico constituía um crime contra a família, ou seja, que a 
transgressão da ordem moral estabelecida justifique, só por si, a prática de 
uma infração penal, numa era em que o discurso político autodesignado 
“fraturante” pode ou não revolucionar o conceito de seio familiar? 
 
Isto posto, é possível compreender que o ordenamento jurídico que nega às 
famílias existentes o devido reconhecimento e proteção, simplesmente pelo fato de 
não atender o “princípio” monogâmico, retroage socialmente e ainda, nega o 
princípio da dignidade da pessoa humana, ao impor a lei e oprimir direitos básicos 
inerentes ao cidadão. 
 
5.1.2 A monogamia para a Constituição Federal de 1988 e para o Código Civil 
de 2002 
 
Com o desenvolvimento da sociedade, alteraram-se os costumes e, 
consequentemente, surgiram novos conceitos de família, possibilitando a realização 
pessoal dos membros. 
Insta salientar que o art. 235 do CP/4048, que trata da bigamia e da punição 
ao fato de contrair novo casamento, com alguém já casado, é ultrapassado, e é um 
dos motivos para que a imposição do “princípio da monogamia” seja relaxada, dando 
possibilidade aos membros da família, composta de mais de duas pessoas, de 
receberem tutela jurisdicional. Neste sentido, cabe dizer que o seio familiar, 
independente de sua formação, é o local reservado à liberdade, formação e 
transformação do cidadão. 
Logo, impor limites à liberdade individual requer amparo na função social, 
com base no art. 1513 do CC/0249, pois o contrário é considerado arbitrário, 
rompendo os avanços sociais e jurídicos conquistados e vigentes neste século. Ou 
seja, que a monogamia não encontra mais respaldo na ordem jurídica em 
 
48 Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 
1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa 
circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2º - Anulado por qualquer 
motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o 
crime. (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: 
Presidência da República, [2019]). 
49 Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de 
vida instituída pela família. (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código 
Civil. Brasília, DF: Congresso Nacional, [2019].) 
44 
 
decorrência da inadmissibilidade de qualquer tipo de discriminação, como consta 
descrito no art. 3º, Constituição Federal de 198850. 
Cabe aqui a crítica de Gomes51 ao Código Civil: 
 
Não se tolera a mistificação de uma recodificação que não renova, nem 
avança. Se a reforma se consente, é para que pelo menos sirva como 
fermento de novos critérios de disciplina, de novas lógicas e de novas 
categorias interpretativas. 
 
Neste entendimento, é praticamente impossível limitar à Constituição a 
imposição de limites à sociedade, a fim de evitar prejuízos à liberdade individual, 
visto que o papel do poder judiciário é preservar o interesse público, assegurando as 
garantias constitucionais às minorias, estabelecendo o Código Civil de 2002 a 
possibilidade do livre planejamento familiar. Tal liberdade não pode significar que o 
tipo de formação familiar escolhido pelo casal seja considerado “desqualificado”, a 
ponto que a legislação estaria desfavorecendo alguns e ferindo princípios 
constitucionais, pois o que a sociedade busca, no final de tudo, é a igualdade, bem 
como a possibilidade de aplicação dos mesmos direitos inerentes às estruturas 
familiares ditas “corretas”, estabelecidas na Constituição e no Código Civil, por 
serem uniões voluntárias e responsáveis. 
Diante da crescente demanda social por igualdade de direitos, cabe à 
legislação, embora não havendo previsão expressa do modelo familiar simultâneo, 
procurar resolver conflitos de interesses daí decorrentes, consagrando-as 
reconhecimento e importância pelo fato de seguirem com os requisitos basilares da 
formação familiar, já mencionados anteriormente (convivência pública, contínua, 
duradoura e com animus de constituir família). 
 
 
 
 
50 Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma 
sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e 
a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, 
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
(BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
Brasília, DF: Presidência da República, [2019].) 
51 GOMES, Orlando. A caminho dos microssistema: Novos temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: 
Forense, 1983, p. 50. 
45 
 
5.2 O instituto do casamento, nulidade e impedimentos matrimoniais 
 
Segundo Moraes52, o casamento é, “no modelo tradicional, a relação conjugal 
indissolúvel era o que fundava a família, portanto, era considerada o seu núcleo 
central, o eixo de estabilidade em relação ao qual os membros orbitavam”. 
O Código Canônico trazia em seu cânone nº 1.055, § 1º, a definição do 
matrimônio53 para a Igreja Católica, que tratava desse instituto como um vínculo 
entre o homem e a mulher, destinado à procriação e educação da prole. 
Desde o início dos tempos, o casamento é reconhecido como um negócio 
jurídico consensual, celebrado entre as famílias, e hoje é baseado no direito de 
igualdade de direitos e deveres, prestando mútua assistência, e não se destinando 
apenas à procriação. 
A principal finalidade do casamento, segundo Gonçalves54, “é estabelecer 
uma comunhão plena de vida como prevê o artigo 1511 do Código Civil, oriundo do 
amor do casal, baseado na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e na mútua 
assistência”. 
A validade civil do casamento religioso está condicionada à habilitação e ao 
registro no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, critérios estes, 
estabelecidos no art. 1.51555 do CC/02. Entretanto, o casamento pode apresentar 
vícios, tornando-o nulo (art. 1.548 e 1.549, CC) ou anulável (art. 1550, CC), e 
consequentemente, impondo consequências à família. 
 
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da 
vida civil; 
II - por infringência de impedimento. 
 
Art. 1.550. É anulável o casamento: 
 
52 MORAES, Maria Celina Bodin de. A nova família, de novo – Estruturas e função das famílias 
contemporâneas. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas. Fortaleza. V. 18, n. 2. P. 592, mai./ago. 
2013. 
53 Cânone, Art. 1055, § 1º - “o pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o 
consórcio íntimo de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à 
procriação e educação da prole, entre os batizados foi elevado por Cristo Nosso Senhor à dignidade 
do sacramento”. (CODIGO de direito canônico. 4. Ed. Rev. Lisboa: Conferência Episcopal 
Portuguesa, 1983). 
54 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 5. Ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 6, p. 30-
31. 
55 Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento 
civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data 
de sua celebração. (BRASIL. Leinº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 
Brasília, DF: Congresso Nacional, [2019]). 
46 
 
I - de quem não completou a idade mínima para casar; 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante 
legal; 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558; 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o 
consentimento; 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse 
da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges; 
VI - por incompetência da autoridade celebrante. 
 
Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o 
consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado 
mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a 
saúde e a honra, sua ou de seus familiares. 56 
 
E sobre os impedimentos matrimoniais, o art. 1.521 do CC/02 elenca o 
seguinte: 
 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o 
foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro 
grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte.57 
 
Desta forma, Amaral58 aponta que o casamento nulo é “aquele que, embora 
existente é inválido e ineficaz, pois decorre "da falta de qualquer dos requisitos 
legais da formação do ato ou de expressa disposição da lei”. 
No que diz respeito à natureza jurídica do casamento, Maluf59 aponta são três 
as correntes que visam defini-lo: a contratual, a institucional e a eclética. 
 A teoria contratual, adotada por doutrinadores como Pontes de Miranda, 
Orlando Gomes, Caio Mário da Silva Pereira, aponta a liberdade dos nubentes para 
a celebração do contrato de casamento. 
 A teoria institucional, defendida por Washington de Barros Monteiro, Maria 
Helena Diniz, Regina Beatriz Tavares da Silva e Arnold Wald, também denominada 
 
56 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Congresso 
Nacional, [2019]. 
57 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Congresso 
Nacional, [2019]. 
58 AMARAL, Francisco. Direito Civil. 5. Ed. Rev. Aum. Atual. Rio de Janeiro: Renovar. 2003. P. 524. 
59 MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Novas modalidades de família na pós-
modernidade. 2010. Tese (Doutorado). Faculdade de Direito da USP. São Paulo, 2010. P. 125 – 
126. 
47 
 
supraindividual, considera o casamento como uma relação jurídica, oriundo de um 
acordo de vontades, cujas normas e efeitos se encontram previamente 
estabelecidos na legislação. 
 A teoria eclética, defendida por Silvio Rodrigues, consagra dois elementos: o 
volitivo e o institucional, que considera o casamento “como um contrato em sua 
formação, por originar-se de acordo com vontades e uma instituição em sua 
duração, em face da interferência do Poder Público e do caráter inalterável de seus 
efeitos”60. 
Dentre as teorias apresentadas, a que ganha destaque é a institucional, que 
coloca a vontade dos nubentes para a instituição do casamento e da família, 
garantindo efeitos que decorrem desta união. 
Ressalta-se que o Código Civil, em seu artigo 1.72761 prevê a definição de 
concubinato, que se trata da relação não eventual entre homem e mulher, impedidos 
de contrair novo casamento. A este ponto, seria correto pensar que às relações 
paralelas não gerariam efeitos jurídicos, porém, caberia dizer que não seria possível 
o dever, por exemplo, de prestar alimentos? Por que dar direitos até certo ponto? 
Qual o problema de a legislação atender às necessidades da sociedade e rever o 
contexto histórico-cultural, e adaptarem-se as novas realidades? Negar o 
reconhecimento às uniões que surgem é negar o direito a liberdade de escolha, de 
expressão e até de comunicação com o Judiciário. 
Hoje, apesar de todas as limitações e preconceitos, considera-se que um dos 
maiores avanços do sistema jurídico é a admissão da união estável firmada entre 
pessoas casadas, já separadas de fato, judicial ou extrajudicialmente, possibilitando 
a formação de novos ambientes familiares. 
 
5.3 Do reconhecimento jurídico da família paralela 
 
As uniões paralelas, inicialmente consideradas como concubinato, passaram 
a adentrar na esfera judicial em busca de igualdade, reconhecimento e direitos. O 
 
60 RODRIGUES, Silvio apud MALUF, Carlos Alberto Dabus Maluf; MALUF, Adriana Caldas do Rego 
Freitas Dabus. Curso de Direito de Família. 3. Ed. Rev. Atual. São Paulo: Saraiva. 2018. 
61 Art. 1727 CC/02. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, 
constituem concubinato. (BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. 
Brasília, DF: Congresso Nacional, [2019]). 
48 
 
Supremo Tribunal Federal (STF), através da Súmula 380, anuncia que “comprovada 
à existência da sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução 
judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum”62. 
A fim de provar judicialmente a sociedade de fato, se fazia necessária à 
comprovação do convívio e da constituição do patrimônio conjunto, para que não 
fosse considerado como obtenção ilícita de lucros. 
Somente com a aceitação pelo ordenamento da união estável, foi que o 
concubinato foi reconhecido com “bons olhos” pela legislação, possibilitando e 
assegurando os mesmos direitos, vedando possíveis discriminações. Neste 
diapasão, os Tribunais estão sendo obrigados a se readequar à realidade social, 
analisando as situações fáticas, em busca de uma melhor aplicação do direito, não 
causando desigualdade entre as partes. 
Baseada no princípio da monogamia, a jurisprudência e a doutrina não 
possibilitam o reconhecimento da simultaneidade familiar, ou seja, a poliafetividade 
seria considerada um impedimento matrimonial. Ocorre, porém, que o CC/02 não 
exclui os efeitos jurídicos a esta forma conjugal, impossibilitando assim, a negação 
de tutela a estas famílias que vêm ganhando cada vez mais espaço na sociedade. 
Na esfera criminal, a bigamia é considerada uma atitude ilícita, e está 
tipificada no art. 235 do Código Penal de 1940 (CP/40), que descreve: 
 
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, 
conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a 
três anos. 
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por 
motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime63. 
 
Vale lembrar, que o Código Penal foi promulgado em 1940, logo, não pode 
ser aplicado com rigidez, por não ter sofrido alterações e adequações condizentes 
com a realidade social do século atual. E ainda ressalta-se que a monogamia não 
passa de um valor moral, o que consideraria a bigamia estabelecida no CP como tal, 
não devendo, portanto, ser analisado como crime. 
 
62 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 380. Comprovada a existência de sociedade de fato 
entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo 
esforço comum.: Diário de Justiça: Brasília, DF, 12 maio 1964. 
63 BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: 
Presidência da República, [2019]. 
49 
 
Por outro lado, o relacionamento paralelo constituído de má-fé64 não gera 
possibilidades de reconhecimento jurídico, uma vez que a boa fé é requisito

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