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Arquitetura Financeira Contemporânea Apresentação da arquitetura monetária contemporânea e a importância das principais moedas no sistema monetário internacional. Prof. Livio Ribeiro 1. Itens iniciais Propósito O colapso do sistema de Bretton Woods significou a ascensão de um sistema monetário internacional que impactou diversos países. Essa nova dinâmica afetou diretamente a Europa, de forma a criar incentivos para criação de uma moeda única — o Euro. Esse novo sistema também impactou diretamente o dólar e, principalmente, orenminbi– moeda chinesa cuja relevância tem aumentado no cenário internacional. Dada a importância do sistema monetário e financeiro para a economia mundial, compreender essa nova dinâmica é essencial para a análise econômica contemporânea. Objetivos Descrever a transição para um sistema monetário baseado no câmbio flutuante. Analisar o processo de integração da União Monetária Europeia. Examinar o processo de ascensão do renminbi no cenário internacional. Introdução Com o colapso do sistema de Bretton Woods nos primeiros anos da década de 1970, o sistema monetário internacional passou por significativas mudanças no seu modo de funcionamento. Após a suspensão da conversibilidade do dólar em ouro, as moedas passaram a ser emitidas sem qualquer lastro físico. A moeda passou a ser fiduciária, ou seja, não tem qualquer valor intrínseco e não é lastreada em qualquer bem ou ativo de valor. Nesse caso, o valor da moeda decorre apenas da credibilidade na instituição emissora em garantir a estabilidade do seu poder de compra. Após o colapso do sistema de Bretton Woods, e diante de uma crescente dificuldade de impor controles sobre fluxos de capitais cada vez mais sofisticados, o novo sistema monetário internacional, pós-Bretton Woods, passou a ser baseado em um regime de câmbio flutuante, com livre fluxo de capital e autonomia da política monetária. Foi essa autonomia que permitiu aos bancos centrais conduzir suas políticas monetárias com o objetivo de garantir a estabilidade da moeda ao longo do tempo. No módulo 1, veremos a maneira pela qual o mecanismo de taxas de câmbio flutuantes foi colocado em prática, bem como as vantagens e desvantagens associadas a ele. O impacto de taxas de câmbio flutuantes na economia de cada país não foi homogêneo. Países cujas transações comerciais internacionais representavam uma parcela menor do Produto Interno Bruto não sentiam tanto os efeitos negativos desse tipo de regime. Por outro lado, países com economias mais abertas, cuja produção era fortemente voltada para as exportações, ou que eram mais dependentes de importações, foram afetados pela incerteza quanto à volatilidade cambial. Esse era o caso dos países europeus, e um dos motivos pelos quais os países da comunidade europeia iniciaram um processo de integração monetária em direção à criação de uma moeda única, o Euro. No módulo 2, abordaremos brevemente as principais características de uma união monetária e o processo de integração dos países europeus. A mudança de sistema monetário internacional não diminuiu a relevância do dólar norte-americano no cenário global, que manteve sua posição de reserva de valor e meio de troca para transações internacionais, mesmo após o abandono da conversibilidade em ouro. De certa forma, a posição hegemônica do dólar foi garantida diante do cenário de evidente supremacia econômica dos EUA. A ascensão econômica de outros países, no entanto, especialmente da China, é vista por muitos como uma ameaça à posição do dólar no cenário mundial. O módulo 3 abordará a ascensão do renminbi chinês como moeda internacional. • • • 1. Sistema monetário após o colapso de Bretton Woods Início do câmbio flutuante O sistema de Bretton Woods, que durou de 1944 até o início da década de 1970, apresentava falhas em seus mecanismos de ajuste para corrigir desequilíbrios nos balanços de pagamentos. Os governos temiam que esse tipo de desvalorização provocasse movimentos especulativos que desestabilizassem o sistema e acabassem por gerar uma perda de credibilidade, uma vez que, após a primeira desvalorização, não haveria motivos para acreditar que não ocorreriam novas desvalorizações. Pelo Trilema de Mundell-Fleming, um país não pode alcançar, simultaneamente, o livre fluxo de capital, taxa de câmbio fixa e a autonomia da política monetária. A solução encontrada para impedir desequilíbrios descontrolados das contas externas foi impor controles sobre os fluxos de capital, e mecanismos que criassem desincentivos à sua saída. Isso permitiu que os países fixassem suas moedas e mantivessem algum grau de autonomia sobre suas políticas monetárias. Por um lado Os recursos disponíveis para financiamento de déficits externos não eram suficientes para permitir um ajuste gradual dos balanços de pagamentos dos países em dificuldade. Por outro lado O regime de câmbio ajustável, no qual era possível realizar desvalorizações cambiais controladas, praticamente não foi usado pelo sistema de Bretton Woods. Robert Mundell. Marcus Fleming. A sofisticação e a modernização dos mercados financeiros, no entanto, se apresentavam como crescentes desafios aos governos. Se tornava cada vez mais difícil impor controles sobre os fluxos internacionais de capital. Mundo financeiro em constante mudança. Além disso, conforme destacado por Eichengreen (2000), “os países que impunham controles onerosos corriam o risco de perder sua participação no mercado mundial de negócios”. A situação era ainda mais delicada para países em desenvolvimento: aqueles “que não liberalizassem seus mercados financeiros corriam o risco de não atrair investimentos estrangeiros”. Estava cada vez mais difícil sustentar a configuração do Trilema que havia sido acordada em Bretton Woods. Eventualmente, diante de forte pressão sobre o sistema e a impossibilidade de adotar mecanismos de ajuste que o reequilibrassem, a conversibilidade do dólar em ouro foi abandonada unilateralmente pelos EUA, e os demais governos foram, um a um, deixando suas taxas de câmbio flutuarem em relação ao dólar. A transição para um sistema monetário baseado em um regime de câmbio flutuante não era inédita, mas também não estava pautada em experiências passadas relevantes. A flutuação cambial vivenciada após a Primeira Guerra Mundial, e novamente após a Grande Depressão, foi considerada, à época, um vetor de instabilidade e desorganização para o sistema. Primeira Guerra Mundial. Grande Depressão. Por esse motivo, resquícios do sistema de Bretton Woods continuavam presentes. Mesmo após a adesão do câmbio flexível na maior parte dos países, em 1973, diretores do Fundo Monetário Internacional ainda buscavam uma forma de retorno ao regime de câmbio ajustável e uma reforma adequada das paridades cambiais que permitisse maior equilíbrio externo. Houve, ainda, uma série de tratativas diplomáticas para tentar restaurar o sistema de Bretton Woods, com câmbio fixo, mas sem sucesso. Os EUA eram a favor do favor do regime de câmbio flexível, ao contrário dos países europeus e do Japão. No final da década de 1960, eram os EUA que estavam sendo prejudicados pela rigidez dos acordos de Bretton Woods, apresentando elevados déficits no balanço de pagamentos e uma trajetória insustentável das contas externas. Os países europeus, por sua vez, apresentavam superávits e acúmulo de reservas internacionais em dólar, o que ameaçava as reservas de ouro norte-americanas. Ao abandonar a conversibilidade em ouro e não ter que se preocupar com a flutuação cambial, os EUA poderiam financiar seus déficits externos por meio da emissão de moeda, o que, na prática, eliminava a restrição externa norte-americana. O Tesouro dos EUA se mostrou disposto a aceitar algum grau de estabilização do dólar dentro de uma banda ampla o suficiente para permitir que a condução da política econômica pudesse ser voltada para outros aspectos além do câmbio. Curiosidade O governo norte-americano propôs ainda mecanismos que obrigariam os países superavitárioso dobro da observada ao final de 2016, e já maior do que a registrada para o dólar australiano ou o franco suíço. Certamente, no entanto, o caminho é longo, sendo necessário evoluir, principalmente, na percepção da moeda chinesa como reserva de valor. Comentário Permanece distante o momento em que o renminbi virá a rivalizar com o dólar norte-americano como moeda de referência global e, sem uma indicação clara de que o governo chinês busque uma efetiva liberalização da conta capital, é contestável se este é, de fato, um objetivo das autoridades chinesas. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. O passo a passo da internacionalização do renminbi Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Os novos passos da internacionalização do renminbi Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 O avanço da internacionalização do renminbi está baseado em: A Abertura total da conta capital chinesa e conversibilidade da moeda. B Promoção de fluxos governamentais de divisas, através de swaps cambiais e empréstimos diretos, sem participação do setor privado. C Promoção de fluxos privados de divisas, com autorização a investimento estrangeiro na China e investimento chinês no exterior, sem passar por novos arranjos governamentais para os fluxos cambiais. D Integração comercial, sem participação de fluxos financeiros. E Uma extensa combinação de integração comercial, promoção de fluxos oficiais de divisas e aumento dos canais bilaterais de investimento privado, ainda que de forma assimétrica e sem chegar à flexibilização total da conta capital. A alternativa E está correta. O processo de internacionalização do renminbi inverteu a lógica tradicional, não tendo como condição necessária a abertura total da conta capital e a conversibilidade da moeda. Questão 2 Ainda que registrando grandes avanços nos últimos anos, o processo de internacionalização do renminbi ainda se aprofunda em diversas frentes, com: A Integração comercial pela Iniciativa Cinturão e Rota e conversibilidade total da moeda. B Objetivos geopolíticos de promoção de moeda forte, com o renminbi ocupando o lugar do dólar norte- americano como moeda de reserva global. C Aumento das operações comerciais em renminbi, criação de centros internacionais de compensação e consistente aumento dos fluxos financeiros para o mundo, diretamente associados a investimentos no exterior, inovações financeiras e empréstimos externos, com evidente relação com a expansão da Iniciativa Cinturão e Rota. D Controle cambial e manutenção da moeda depreciada frente ao dólar norte-americano, aumentando a competitividade dos produtos chineses no mundo. E Estrito controle de capitais, limitando as possibilidades de investimento chinês no exterior e de investimentos estrangeiro na China continental A alternativa C está correta. A internacionalização de uma moeda passa pela ampliação de sua área de circulação. No caso específico do renminbi, e em paralelo às inúmeras iniciativas de promoção do uso na moeda, pela demanda e pela oferta, a implementação da Iniciativa Cinturão e Rota parece ser o caminho natural para um maior uso global da moeda chinesa. Com o adensamento das operações de comércio, investimento e construção ligados a empresas chinesas, é esperado que a Iniciativa implique em maior demanda pelo renminbi offshore. 4. Conclusão Considerações finais A posição hegemônica do dólar norte-americano no cenário global permanece intacta, com a moeda mantendo sua posição de meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Em vários aspectos, isso reflete o poderio econômico americano e constitui-se como um privilégio adicional dos EUA – com total independência de sua política econômica, custos de transação reduzidos e possibilidade de auferir ganhos de senhoriagem. Há, no entanto, um longo e consolidado processo de criação de outras moedas internacionais, ainda que sem desafiar a supremacia do dólar norte-americano. Neste capítulo, discutimos a ascensão de duas moedas, o Euro e o renminbi, cada qual respondendo a questões institucionais específicas e atingindo distintos níveis de internacionalização e conversibilidade. Se por um lado, não desafia o dólar como reserva de valor (é discutível se o Euro não o faz, em algum nível), constitui-se como unidade de conta e meio de troca nas transações internacionais, ajudando a reduzir os custos para seus respectivos países emissores e a diversificar o panorama de moedas globalmente relevantes. Podcast Os regimes de câmbio fixo e flutuante apresentam vantagens e desvantagens que são inerentes ao seu funcionamento. Estes regimes são dois pontos opostos de um espectro e admitem regimes “intermediários”. Ouça para saber mais. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para ouvir o áudio. Explore + Leia o livro A globalização do capital, de Barry Eichengreen, para um aprofundamento de 150 anos de história monetária internacional, bem como de diversos assuntos abordados nesse conteúdo. Referências AZIZ, J. Latin America’s role in renminbi internationalization. Inter-American Dialogue, China and Latin America Economics Brief, 2013. COHEN, J. A. Recent Chinese legislation assisting foreign investors to solve their hard currency problem: import substitution and other options. Brigham Young University (BYU) Law Review, Vol.3, 1988. EICHENGREEN, B. A globalização do capital. 1. ed. São Paulo: Editora 34, 2000. GÅSEMYR, H. J. China and Multilateral development banks: positions, motivations, ambitions. Norwegian Institute of International Affairs, Report 8/18, 2018. HISHOW, O. et al. The euro paradox: explaining the resilience of the single currency. Stiftung Wissenschaft und Politik, German Institute for International and Security Affairs, Working Paper RD EU/Europa, n. 1, 2018. KENEN, P. The optimum currency area: an ecletic view. In MUNDELL, R.; SWOBODA, A. Monetary Problems of the International Economy, University of Chicago Press, 1969. KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson Education. 2015. MUNDELL, R. A theory of optimum currency areas. The American Economic Review, American Economic Association, Vol. 51, nº 4, pp. 657 – 665, 1961. PAULINO, L. A. The internationalization of renminbi and role of Latin America. Macau Journal of Brazilian Studies, v. 1, p. 17-34, 2018. PEOPLE’S BANK OF CHINA (PBoC). 2020 RMB Internationalization Report, 2020. Arquitetura Financeira Contemporânea 1. Itens iniciais Propósito Objetivos Introdução 1. Sistema monetário após o colapso de Bretton Woods Início do câmbio flutuante Curiosidade Resumindo Aqueles que defendiam a adoção de um regime de câmbio flutuante. Aqueles que eram contra a adoção de um regime de câmbio flutuante. Comentário Atenção Argumento do câmbio flutuante Autonomia da política monetária Simetria monetária Taxas de câmbio como estabilizadores automáticos Taxa de câmbio e equilíbrio externo Câmbio flutuante: teoria Conteúdo interativo Vem que eu te explico! O início do câmbio flutuante I Conteúdo interativo O início do câmbio flutuante II Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 2. União monetária europeia Argumento para uma união monetária Elevação das taxas de inflação Desequilíbrio de balanços contábeis Eliminação da volatilidade cambial Eliminação de depreciações competitivas Redução de custos de transação Qual é, então, o melhor regime a ser adotado por um país? Exemplo Integração comercial Integração bancária Convergência das taxas de inflação Federalismo fiscal Flexibilidade de preços e salários Mobilidade do fator trabalho O argumento da união monetária: resumo Conteúdo interativo Processo de integração monetária da Zona do Euro Curiosidade Vem que eu te explico! O argumento para uma união monetária Conteúdo interativo O processode integração monetária da Zona do Euro Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 3. A ascensão do renminbi Passo a passo da internacionalização do renminbi Preâmbulo: Internacionalização vs. conversibilidade de uma moeda Primeira característica Segunda característica Terceira característica Internacionalização vs. conversibilidade: resumo Conteúdo interativo Processo de internacionalização do renminbi Curiosidade AfDB ADB BID Atenção Atenção Novos passos da internacionalização do renminbi Primeiro Segundo Terceiro Atenção Comentário Vem que eu te explico! O passo a passo da internacionalização do renminbi Conteúdo interativo Os novos passos da internacionalização do renminbi Conteúdo interativo Verificando o aprendizado 4. Conclusão Considerações finais Podcast Conteúdo interativo Explore + Referênciasa valorizar suas moedas e compartilhar o ônus do ajuste com os países deficitários, como era o caso dos EUA. EUA Emissores da moeda de reserva internacional, não sofreriam as possíveis consequências negativas da adoção do câmbio flutuante e entendiam essa flutuação como um problema de outros países. Países europeus e Japão Demonstravam uma preferência pelo restabelecimento dos valores fixos de paridade cambial, retornando a um sistema que se assemelhasse ao que foi acordado em Bretton Woods. O Castelo de Rambouillet, onde ocorreram as negociações. Eichengreen (2000) destaca que, em 1975, na Conferência de Rambouillet, diante da posição hegemônica dos EUA e das dificuldades para restaurar o sistema de Bretton Woods, os franceses e as demais potências europeias concordaram com a implementação de um “sistema estável” de taxas de câmbio, ao contrário do que defendiam (um “sistema de taxas de câmbio estáveis”). Pelo que foi acordado, as taxas de câmbio não precisariam ser estáveis, mas o sistema, como um todo, sim. A estabilidade do sistema se daria por meio da promoção de condições econômicas equilibradas e “saudáveis”, que impediriam movimentos especulativos intensos e desestabilizadores. Tais condições seriam constantemente supervisionadas pelo Fundo Monetário Internacional. Resumindo Na prática, isso abria o caminho para a flutuação cambial sem que houvesse protestos por parte dos países que defendiam o retorno a taxas de câmbio fixas. Havia bons argumentos econômicos para ambos os sistemas. Esses argumentos, no entanto, estavam diretamente relacionados ao fato de não existir consenso quanto à trajetória esperada para as taxas de câmbio. Veja: Aqueles que defendiam a adoção de um regime de câmbio flutuante. Acreditavam que a flexibilidade cambial eliminaria os desalinhamentos frequentes da época do câmbio fixo e promoveriam ajustes mais rápidos em desequilíbrios nas contas externas. Acreditavam, ainda, que a taxa de câmbio convergiria sempre para o valor que equilibraria o balanço de pagamentos e, dessa forma, sua volatilidade seria limitada. Aqueles que eram contra a adoção de um regime de câmbio flutuante. Acreditavam que a volatilidade cambial provocaria instabilidades tão grandes a ponto de se tornar um vetor adicional de desequilíbrio, em vez de um mecanismo que facilitasse o retorno ao equilíbrio. Na prática, o que se viu foi um meio termo entre essas duas posições. Por um lado, as taxas de câmbio apresentaram bastante volatilidade, especialmente no período inicial, tendo em vista que os desalinhamentos acumulados durante os anos de câmbio fixo estavam sendo corrigidos. Por outro lado, a volatilidade como vetor de instabilidade não foi uma regra. As taxas de câmbio, apesar de flutuantes, eram administradas ativamente pelos governos e bancos centrais. Os governos intervieram no mercado monetário, muitas vezes ajustando suas políticas monetária e fiscal, de forma a reduzir a volatilidade do mercado de câmbio. Na maioria das vezes, as intervenções tinham o objetivo de limitar movimentos exagerados nas taxas de câmbio, sem alterar sua tendência. Por vezes, algum grau de coordenação internacional foi necessário, com o objetivo de sustentar moedas que rapidamente perdiam valor ou impedir a valorização acentuada de outras. Essas intervenções internacionais conjuntas e coordenadas eram, em geral, feitas por meio de créditos especiais entre bancos centrais e linhas de swap. Além disso, a condução da política econômica interna a cada país, fiscal ou monetária, apesar de não ter como objetivo um determinado nível de câmbio, era utilizada para sustentar o câmbio quando este alcançava níveis críticos. Durante a década de 1970, ainda foi possível impor alguns tipos de controle sobre os fluxos financeiros, o que permitia “afrouxar”, mesmo que temporariamente, o Trilema de Mundell- Fleming. Geralmente, esses controles eram impostos quando havia conflito entre as necessidades de condução da política econômica interna e uma trajetória de câmbio bem-comportada. Comentário A primeira década de implementação do regime de câmbio flutuante teve alguma instabilidade monetária. No entanto, a disposição dos governos em promover uma flexibilidade cambial administrada foi suficiente para garantir intervenções ordenadas que permitiram um funcionamento estável do sistema. A década de 1980, por sua vez, se mostrou um período de maior instabilidade monetária e cambial. Ao final da década de 1970 e início da de 1980, o Federal Reserve, presidido por Paul Volcker, elevou consideravelmente a taxa de juros, como forma de combater as altas taxas de inflação observadas na economia norte-americana nesse período. Essas altas taxas de inflação eram consequência de dois fenômenos: O governo Reagan promoveu uma reforma tributária que reduziu impostos, mas, ao mesmo tempo, aumentou significativamente os gastos públicos, especialmente os militares. Isso expandiu o déficit orçamentário e configurou um componente de elevação dos juros que estava restrito aos EUA. Com isso, o diferencial de juros entre os EUA e os países europeus e o Japão elevou-se consideravelmente, o que atraiu para os EUA dólares que estavam no mercado internacional. A redução da oferta de dólares no mercado internacional valorizou a moeda e, consequentemente, desvalorizou as demais. I Segunda Crise do Petróleo, em 1979, que elevou o preço do barril, com impactos sobre toda a cadeia produtiva global. II O segundo se refere à política fiscal norte-americana. Reagan em 1982. Os países europeus e o Japão eram mais sensíveis em relação à flutuação cambial e demonstravam uma preferência clara por taxas de câmbio mais estáveis. Esses países, no entanto, se viram dependentes e diretamente afetados pela condução de políticas econômicas associadas a fatores puramente internos aos EUA. Apesar de ter sido causado por políticas econômicas voltadas ao mercado interno, o dólar valorizado não favorecia os exportadores norte-americanos. Diante da crescente pressão, o governo Reagan foi obrigado a ceder e intervir no mercado de câmbio. Afinal, entre intervir no mercado de câmbio e adotar uma legislação que ia contra sua política de desregulamentação e liberalização econômica, a primeira opção era vista como melhor. Atenção Vale destacar que os demais países cooperaram com esse movimento por conta do temor de perder o acesso ao mercado norte-americano, caso as medidas protecionistas fossem, de fato, aprovadas. Assim, foi feita, de forma ordenada, uma desvalorização do dólar (valorizando as demais moedas). Esses acordos de realinhamento das moedas, firmados em 1985, ficaram conhecidos como Acordos de Plaza. Posteriormente, ainda foram executadas novas desvalorizações do dólar, que visavam compensar os anos de consecutivos déficits externos dos EUA e sustentar a posição dos exportadores norte-americanos no mercado global (que havia sido perdida na época do câmbio supervalorizado). Japão Utilizou o câmbio desvalorizado como uma oportunidade para aumentar a competitividade de suas exportações, o que foi um vetor para o crescimento econômico do país. Países europeus Viram nessa dinâmica um bom motivo para dar sequência ao processo de integração, por meio de uma união monetária que eliminaria a volatilidade cambial entre seus membros. Ao final da década de 1980, já no governo Bush, os EUA adotaram uma política de não intervenção ao câmbio, liberalizando o mercado e permitindo que a moeda flutuasse com maior grau de liberdade, de acordo com as oscilações naturais do mercado. Argumento do câmbio flutuante Para muitos economistas e acadêmicos, a adoção do regime de câmbio flutuante é considerada uma evolução positiva do sistema monetário internacional, uma vez que ele seria capaz de promover soluções de mercado mais eficientes e automáticas para desequilíbrios externos. Após o colapso de Bretton Woods, quase todas as principais economias do mundo permitiram que suas taxas de câmbio flutuassem de acordo com os fluxosinternacionais de capital. Krugman e Obstfeld (2010) apontam que o argumento teórico em defesa de um sistema de taxas de câmbio flutuantes estava baseado em quatro pilares principais: autonomia da política monetária; simetria monetária entre os países; taxas de câmbio utilizadas como estabilizadores automáticos; e equilíbrio externo. Autonomia da política monetária No sistema do padrão ouro – no qual havia livre circulação dos fluxos internacionais de capital – e nos anos finais do sistema de Bretton Woods – nos quais se tornava cada vez mais difícil controlar esses fluxos – os países não desfrutavam de autonomia sobre suas respectivas políticas monetárias. Isso porque, caso optassem por alterar unilateralmente suas taxas de juros, esse movimento alteraria o diferencial de juros entre os países e, consequentemente, impactaria os fluxos internacionais de capital, que fluíram em direção ao país de maior taxa de juros, desviando a taxa de câmbio de mercado de sua paridade fixada pelo governo. Em um regime de taxa de câmbio flutuante, não haveria necessidade de manter a taxa de câmbio em um patamar determinado. Nesse caso, o mecanismo de reequilíbrio do balanço de pagamentos seria a própria flutuação cambial. Portanto, a política monetária poderia ser utilizada para outros fins, como definir o nível de estímulo à atividade econômica (impactando diretamente a taxa de inflação). Veja exemplos: • • • • A autonomia sobre suas respectivas políticas monetárias permitia aos governos e bancos centrais perseguirem a taxa de inflação de longo prazo que desejassem. Nos regimes de câmbio fixo isso não era possível, pois, teoricamente, o ajuste de desequilíbrios externos seria feito pelo nível de preços e a única forma de reequilibrar o sistema seria por meio de aumentos na inflação no resto do mundo. Em um regime de câmbio flexível, diferenciais de inflação poderiam ser corrigidos por meio de depreciações cambiais automáticas. Nesse caso, o impacto que os diferenciais de inflação teriam sobre os preços relativos seriam anulados por uma depreciação cambial de igual magnitude, preservando o equilíbrio inicial. Simetria monetária Um segundo argumento utilizado pelos defensores do regime de câmbio flexível é o de que não era necessário atrelar uma moeda nacional a outra. Durante os anos de vigência do sistema de Bretton Woods, todas as moedas estavam atreladas ao dólar e, nesse sentido, a oferta dessas moedas estava diretamente ligada à oferta de dólares do Federal Reserve. Ao lastrear suas moedas ao dólar, a moeda norte-americana desempenhava um papel central na economia mundial, não só como meio de troca para as transações internacionais, mas também como reserva de valor mundialmente aceita. Assim, os demais países não tinham muito espaço de manobra para controlarem a oferta monetária interna, uma vez que ela estava condicionada às suas reservas em dólar. Ao adotar um sistema de taxas de câmbio flutuantes, essas assimetrias tenderiam a desaparecer. Considerando que não precisariam mais lastrear suas emissões monetárias ao dólar, sob esse modelo, os bancos centrais teriam mais autonomia para decidir sobre a oferta monetária doméstica. Taxas de câmbio como estabilizadores automáticos Em um regime de câmbio flutuante, as taxas de câmbio funcionam como estabilizadores automáticos, no sentido de que possuem a capacidade de se adaptar rapidamente a mudanças nos preços relativos e nos termos de troca, de forma a manter as condições de equilíbrio no balanço de pagamentos. Exemplo I Em um cenário de crise, no qual a atividade econômica se encontra em situação frágil, o banco central teria autonomia para reduzir a taxa de juros, barateando o crédito e impulsionando a demanda agregada, via consumo e investimento. Exemplo II Em um cenário de atividade econômica superaquecida, no qual a inflação se encontra elevada, o banco central teria autonomia para aumentar a taxa de juros, encarecendo o crédito e desacelerando o consumo das famílias e o investimento das empresas. Ou seja, nos regimes de câmbio flexível, é o câmbio que permite o reequilíbrio das contas externas, e não mais a taxa de juros (como no caso dos regimes de câmbio fixo). A taxa de câmbio como estabilizador automático funciona da seguinte forma: Considere um modelo de dois países, A e B. Este modelo se encontra, inicialmente, em equilíbrio, ou seja, não há superávit ou déficit de qualquer país. Considere que um choque exógeno assimétrico, que não afeta igualmente os dois países, desequilibra o balanço de pagamentos: o país A passa a apresentar um balanço deficitário enquanto o país B apresenta um balanço superavitário. Sob um regime de câmbio fixo, o ajuste se daria por meio do nível de preços. O país A precisaria apresentar uma queda na atividade econômica de tal magnitude que elevaria o desemprego, reduziria os salários e, consequentemente, a produção de A eventualmente restauraria sua competitividade por meio da redução dos custos de produção. Esse processo, no entanto, seria socialmente custoso, tendo em vista o seu impacto sobre o desemprego e o nível de produção. Sob um regime de câmbio flexível, uma depreciação cambial resultante da própria dinâmica de mercado substituiria o aumento do desemprego que ocorreria em A, sem necessidade de uma intervenção por parte do governo. A restauração da competitividade seria feita de forma nominal, uma vez que a depreciação cambial baratearia as exportações. Tendo em vista que o ajuste não seria real – por meio de redução de custos –, não seria necessário incorrer em elevadas taxas de desemprego e queda da produção. Taxa de câmbio e equilíbrio externo Este ponto está diretamente ligado ao papel da taxa de câmbio como estabilizador automático. Supondo o mesmo modelo descrito, tem-se que, sob um regime de câmbio flexível, os movimentos cambiais substituem o desemprego em A e a inflação em B. Os próprios fluxos de capital – que, neste caso, fluem de A para B – alteram a taxa de câmbio, provocando uma depreciação cambial da moeda nacional do país A e, consequentemente, uma apreciação cambial da moeda nacional do país B. Esse movimento cambial alteraria os preços relativos entre os dois países. Veja: Esse movimento eliminaria o déficit externo do país A e o superávit externo do país B, fazendo com que o balanço de pagamentos retornasse ao equilíbrio inicial. O mecanismo descrito criava a expectativa de que a volatilidade da taxa de câmbio seria baixa. Existia a crença de que, aos primeiros sinais de déficit, especuladores antecipariam os fluxos de saída e entrada necessários para depreciar a moeda e restaurar a competitividade da produção, eliminando o déficit. Isso impediria que o desvio do balanço de pagamentos em relação ao equilíbrio aumentasse exageradamente. Como corolário, o desvio da taxa de câmbio em relação à taxa de câmbio que equilibra o balanço de pagamentos também seria limitado. Câmbio flutuante: teoria O câmbio flutuante é defendido com base em quatro argumentos principais, mas que se resumem à autonomia de política e eficiência do ajuste. Veja mais no vídeo a seguir: • • • • • • • • Depreciação da moeda Em A eleva a competitividade da produção de A, ao baratear as exportações de A para B. Apreciação da moeda Em B reduz a competitividade da produção de B, encarecendo as exportações de B para A. Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. O início do câmbio flutuante I Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O início do câmbio flutuante II Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 A respeito do que foi apresentado acerca da adesão a um regime de câmbio flutuante, é possível afirmar que seu caráter internacional foi: A resultado de um acordo de cooperação para organizar um novo sistemamonetário, no qual as principais economias do mundo foram signatárias. B resultado de sanções comerciais e financeiras aplicadas sobre os países que se recusavam a aderir ao sistema. C resultado de imposições feitas pelos EUA a outros países, por meio de guerras e invasões militares. D resultado não planejado de um contexto histórico específico favorável à adoção da libra esterlina como meio de pagamento de referência. E resultado de desequilíbrios insustentáveis do sistema de Bretton Woods, que inviabilizaram a manutenção das paridades fixas e obrigaram os países a permitirem a flutuação cambial. A alternativa E está correta. O sistema de Bretton Woods acumulou desequilíbrios que se tornaram insustentáveis. Os consecutivos déficits externos dos EUA fizeram com que o governo americano suspendesse unilateralmente a conversibilidade do dólar em ouro. Esses constantes déficits "inundavam" o mercado internacional com dólares. Para manter a paridade fixa, os demais bancos centrais transformavam esses dólares em reserva, em troca de aumento na oferta de moeda nacional. Diante da necessidade de controlar a oferta de suas próprias moedas, os governos permitiram a flutuação cambial para retomarem autonomias sobre suas políticas monetárias. Questão 2 Um dos argumentos utilizados para defender a adoção do regime de câmbio flexível diz respeito aos mecanismos de ajustes inerentes a esse tipo de sistema. Acerca desses ajustes, é possível afirmar que se tratam de: A ações coordenadas entre os países, para sincronização da taxa de juros, de forma que nenhum deles apresente fluxos de saída de ouro. B mudanças automáticas na taxa de câmbio que alteram os preços relativos e reequilibram os balanços de pagamentos. C ajustes automáticos nos preços relativos (termos de troca), consequência de alterações na oferta de moeda e nos níveis de preço. D mudanças controladas na taxa de câmbio e disponibilidade de recursos para financiar os países deficitários. E suspensões temporárias e coordenadas da conversibilidade em ouro. A alternativa B está correta. Teoricamente, em um regime de câmbio flexível, os próprios fluxos internacionais de capital provocam movimentos na taxa de câmbio, de forma a alterar preços relativos e ajustar desequilíbrios no balanço de pagamentos. 2. União monetária europeia Argumento para uma união monetária Uma união monetária é qualquer região territorial que utiliza a mesma moeda. De maneira geral, a moeda é, muitas vezes, vista como um símbolo de soberania e identidade nacional. Por esse motivo, é difícil dissociar o domínio territorial de uma moeda do domínio territorial de seu país emissor. Nesse sentido, toda união monetária pode ser entendida simplesmente como um conjunto de sub-regiões que decidiram adotar uma mesma moeda, o que significa adotar taxas de câmbio fixas entre si – sob paridade de um para um. No entanto, o regime cambial em uniões monetárias é mais restrito do que o regime de câmbio fixo, pois a união monetária não permite qualquer tipo de desvalorização ou mudança de paridade. A teoria das zonas monetárias ótimas, desenvolvida por Mundell (1961) e complementada por diversos outros autores, buscou explicar quais características econômicas permitem que os benefícios de duas ou mais regiões adotarem uma mesma moeda sejam maiores do que seus custos. A teoria das zonas monetárias ótimas é frequentemente associada ao processo de integração monetária da Zona do Euro, uma vez que esta se trata de um projeto sem precedentes de formação de uma união monetária entre diferentes países independentes. Ao todo, 19 países da Europa formam uma união monetária, cuja moeda é o euro. No entanto, o conceito de união monetária pode ser aplicado até para as diferentes regiões em cada país. Por exemplo: os 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal, formam uma união monetária, cuja moeda é o real. Quais condições econômicas fazem com que a utilização de uma mesma moeda, por duas ou mais regiões, promova maior bem-estar para seus residentes? Para responder a essa pergunta, convém destacar, primeiramente, as principais vantagens e desvantagens do regime de câmbio fixo e do regime de câmbio flexível. Conforme apresentado anteriormente, o regime de câmbio flexível tem algumas vantagens importantes. Em particular, é possível destacar duas: O rápido ajuste de desequilíbrios nas contas externas A autonomia de política monetária para os bancos centrais Esse tipo de regime, no entanto, também está associado a desvantagens, que podem ter sérios impactos sobre a economia e configurar vetores de desequilíbrio, em vez de mecanismos de ajuste. De maneira geral, tais desvantagens se resumem à(ao): Elevação das taxas de inflação Movimentos de depreciação cambial exagerados podem resultar em encarecimento das importações e aumentar os custos em toda cadeia produtiva de um país, o que elevaria os níveis de preço. Desequilíbrio de balanços contábeis Movimentos rápidos de depreciação cambial podem afetar o balanço contábil de empresas e governos cujos passivos estão denominados em moeda estrangeira. Uma depreciação cambial elevaria esses passivos e elevaria o risco de insolvência. Toda economia com taxas de câmbio flutuantes está sujeita à ocorrência de overshootings cambiais – que ocorrem quando a volatilidade cambial é maior do que aquela necessária para efetuar o ajuste de retorno ao equilíbrio. Overshootings Pode ser traduzido informalmente como um movimento exagerado. Por exemplo, fatores econômicos indicando que o real deva se desvalorizar: a taxa de câmbio deva passar de R$3 por dólar para R$4 por dólar. Porém, em um movimento de overshooting, a taxa passa para R$5 reais por dólar. Por outro lado, um regime de câmbio fixo também tem vantagens e desvantagens. Suas desvantagens estão diretamente relacionadas às vantagens do câmbio flexível. Sob um regime de câmbio fixo, os governos e bancos centrais não desfrutam de autonomia sobre suas políticas monetárias e não há um mecanismo rápido de ajuste de desequilíbrios externos. O regime de câmbio fixo, no entanto, apresenta vantagens inerentes ao seu funcionamento: Eliminação da volatilidade cambial A volatilidade cambial pode gerar incertezas sobre as transações comerciais. As transações comerciais não são instantâneas, e a volatilidade do câmbio pode dificultar a projeção da lucratividade de tais transações. Eliminação de depreciações competitivas Em um regime de câmbio fixo, se torna impossível ganhar competitividade em relação aos demais países por meio de desvalorizações cambiais manipuladas para alterar os termos de troca. • • Redução de custos de transação Em uma união monetária, não há incidência de custos cambiais sobre transações comerciais e financeiras. Esses custos, presentes quando se faz operações entre duas moedas, são resultantes de diversos fatores, como impostos sobre operações de câmbio e o spread (diferença entre preço de compra e venda) que gera lucro para as casas de câmbio. Qual é, então, o melhor regime a ser adotado por um país? Como outras análises econômicas, trata-se de uma análise de custo-benefício. O melhor regime a ser adotado é aquele que, observadas as condições e características econômicas de um país, proporcione maiores benefícios do que custos. As condições econômicas que devem ser observadas se resumem ao grau de assimetria dos choques e à presença de mecanismos de ajuste que substituam o câmbio flexível. No que tange ao grau de assimetria dos choques, o raciocínio é intuitivo. Para simplificar, suponha um modelo no qual existem dois países, A e B. O modelo se encontra inicialmente em equilíbrio. No caso de um choque assimétrico, que atinja os países A e B de forma desigual e desloque demanda de A para B, algum mecanismo de ajuste se mostra necessário. Exemplo A China faz um embargo à carne brasileira (o Brasil é o país A) e passa a comprá-la dos EUA (país B). Os efeitos de choque em A seriam uma desaceleração da atividade econômica e alta do desemprego.Os efeitos em B, por sua vez, seriam um aquecimento da economia e aceleração da inflação. Essa dinâmica desequilibra as contas externas – provocando déficits externos em A e superávits externos em B – e altera preços relativos. Sob um regime de câmbio flexível, a taxa de câmbio seria um mecanismo de ajuste rápido e automático – depreciações e apreciações do câmbio restaurariam os preços relativos que permitiriam um retorno ao equilíbrio. Sob um regime de câmbio fixo, outros mecanismos de ajuste devem estar presentes para substituir o ajuste que seria promovido pela flutuação cambial. Esses mecanismos de ajuste alternativos serão abordados mais à frente. Pelo modelo descrito acima, é possível observar que o custo de uma união monetária é menor quando há pouca ou nenhuma assimetria dos choques que incidem sobre as sub-regiões integrantes da união. Ou seja, os choques são semelhantes, não afetam diferentes países de formas (muito) diferentes. Uma vez estabelecida essa relação, é conveniente questionar: quais características econômicas podem reduzir a assimetria dos choques? Integração comercial A Os efeitos em A seriam uma desaceleração da atividade econômica e alta do desemprego. B Já os efeitos em B seriam um aquecimento da economia e aceleração da inflação. Quanto mais integradas comercialmente forem duas ou mais regiões, menor a assimetria dos choques que incidem sobre elas. Isso porque as relações comerciais fazem com o que o choque seja dissipado entre as regiões. Considerando novamente o modelo descrito, um choque negativo pode afetar, inicialmente, apenas o país A. Contudo, se A e B são fortemente integrados comercialmente, há grandes possibilidades de as importações de A oriundas de B serem afetadas, impactando negativamente a produção de B destinada à exportação para A. Assim, o choque se dissipou por toda a união monetária composta por A e B, reduzindo a necessidade de ajuste. Integração bancária Quanto mais integrado for o sistema bancário, menor a assimetria dos choques. Isso se dá por dois motivos: em um sistema bancário integrado, os bancos têm operações em todo o território da união monetária. No caso de um choque assimétrico que provocasse uma crise em apenas uma sub-região, diminui a necessidade de o banco reduzir sua concessão de crédito nessa sub-região específica para se proteger da crise, pois suas operações estariam diversificadas por todas as demais regiões. A manutenção do crédito tenderia a atenuar o impacto do choque na região afetada. Em um sistema não integrado, a atuação dos bancos está restrita a sub-regiões específicas. Caso um choque assimétrico atinja uma dessas regiões, os bancos que nela operam reduziriam a concessão de crédito, em uma tentativa de se proteger da inadimplência gerada pela crise. Isso acabaria tendo um efeito pró-cíclico, agravando ainda mais o problema. Convergência das taxas de inflação A convergência das taxas de inflação das sub-regiões que compõem uma união monetária é essencial para manter a estabilidade dos preços relativos. Prolongados diferenciais de inflação alteram os preços relativos e podem causar desequilíbrios nas contas externas. Quando mantidos por muito tempo, esses diferenciais podem se tornar um vetor de assimetria. Por esse motivo, os diferenciais de inflação entre as sub-regiões de uma união monetária devem se anular no longo prazo, de forma a manter os termos de troca constantes. Federalismo fiscal Quando as sub-regiões que compõem uma união monetária também formam uma união fiscal, existe um sistema federal de arrecadação tributária. Ao pagar benefícios sociais e seguro-desemprego para residentes de uma região afetada por um choque assimétrico negativo, ocorre uma transferência de recursos arrecadados em regiões que não foram atingidas em direção a regiões atingidas. Essas transferências atenuam o choque e, consequentemente, aumentam a simetria entre as sub-regiões da união monetária. Mesmo que uma união monetária apresente todas as características descritas, sempre haverá alguma assimetria dos choques. Logo, sempre haverá alguma necessidade de ajuste entre as sub-regiões de uma união monetária. Considerando que a flexibilidade cambial é um mecanismo de ajuste que não está disponível, é preciso que estejam presentes mecanismos de ajuste alternativos. São dois os principais mecanismos de ajuste dentro uma união monetária: Flexibilidade de preços e salários Se os preços e salários são flexíveis, os preços relativos se ajustam rapidamente em resposta a desequilíbrios externos provocados por choques assimétricos. No limite, a flexibilidade de preços e salários substituiria integralmente a flexibilidade cambial, como mecanismo de ajuste. Na prática, no entanto, os preços e salários costumam apresentar algum grau de rigidez. Em geral, os trabalhadores não estão dispostos a aceitar reduções de salário e os produtores não estão dispostos a aceitar reduções em suas margens de lucro. É justamente essa rigidez que faz com que o sacrifício social de choques de ajuste deflacionários seja alto – é preciso uma alta taxa de desemprego para reduzir salários e forte queda na demanda para reduzir preços. Mobilidade do fator trabalho Quanto maior a mobilidade do fator trabalho, menor o custo do ajuste. Mundell (1961) sugere que, em uma união monetária, a mobilidade do fator trabalho pode substituir a flexibilidade cambial como mecanismo de ajuste. Considere novamente o modelo de dois países mencionado anteriormente. Assuma que um choque assimétrico desloque demanda do país A para o país B, tornando A um país deficitário e B um país superavitário, do ponto de vista de contas externas. Na ausência de flexibilidade cambial para ajustar preços relativos, Mundell (1961) sugere que o ajuste pode ser realizado por meio da mobilidade do fator trabalho (que se encontra desempregado no país A), em direção ao país B. I A flexibilidade de preços e salários. II A mobilidade dos fatores de produção, especialmente do fator trabalho. País A O país A apresenta queda na atividade econômica e elevação da taxa de desemprego. País B O país B apresenta um aquecimento de sua economia e aceleração da inflação. O argumento da união monetária: resumo A eficiência de uma união monetária está diretamente relacionada ao grau de assimetria dos choques que a impactam e à presença de mecanismos de ajuste alternativos. Veja mais no vídeo a seguir: Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Processo de integração monetária da Zona do Euro O processo de integração monetária na Europa foi impulsionado por dois motivos principais – diretamente associados à dinâmica interna e externa dos países europeus. No que tange à dinâmica interna, os países europeus buscavam formar no continente um grande mercado único e integrado. Esse objetivo remonta aos anos após a Segunda Guerra Mundial, quando os líderes europeus viram na integração econômica, política e social uma forma de evitar as tragédias ocorridas nas duas grandes guerras que destruíram o continente. A ideia era a de que, quanto mais integrados economicamente fossem os países europeus, menos incentivo haveria para a eclosão de conflitos e disputas que culminassem em guerras. Esse processo de integração se deu por meio da eliminação de barreiras que impedissem o movimento de mercadorias e fatores – barreiras comerciais, burocráticas e alfandegárias foram abolidas. A partir da década de 1990, até mesmo as fronteiras internas foram suspensas, permitindo a livre circulação de pessoas. Os países europeus formaram uma zona de livre comércio e, posteriormente, uma união aduaneira. Assim, uma união monetária era vista como uma etapa essencial para consolidar a formação de um mercado único eficiente. O estopim para o início do desenvolvimento de uma moeda única na Europa, no entanto, parece estar mais associado à dinâmica externa – mais especificamente, aos desequilíbrios do sistema monetário internacional durante a década de 1970. Considerandoas cadeias de comércio no continente e o grau de abertura comercial dos países europeus, existia uma preferência por parte desses países em relação ao regime de câmbio fixo, uma vez que ele garantia estabilidade para as transações comerciais. Países da Zona do Euro Com o colapso no sistema de Bretton Woods em 1971, a conversibilidade do dólar em ouro foi unilateralmente suspensa e os países passaram a adotar taxas de câmbio flexíveis. Existia um consenso entre os governos europeus de que a incerteza inerente à flutuação cambial funcionava como uma barreira ao comércio, o que prejudicaria a atividade econômica desses países, bem como o próprio processo de integração. Krugman e Obstfeld (2015) destacam, ainda, que os impactos negativos da flutuação cambial incentivariam as forças políticas que se manifestavam contra o processo de integração europeu, o que os governos temiam que atrapalhasse a continuidade desse processo. Além disso, os EUA e o dólar mantiveram a posição hegemônica no sistema monetário internacional, de tal forma que as demais moedas ficavam sujeitas a decisões de política monetária e fiscal dos EUA. Algumas dessas decisões provocavam, direta ou indiretamente, grandes movimentos nas taxas de câmbio e acabavam configurando movimentos desestabilizadores que prejudicavam as economias europeias. Na época, estes movimentos ficaram conhecidos como dollar shocks. A formação de uma união monetária era vista como a solução para garantir estabilidade cambial e limitar a influência de políticas norte-americanas sobre a economia e o comércio dos países europeus. Somado a isso, uma moeda comum aos países do continente, incluindo algumas das principais economias do mundo, seria relevante e sólida o suficiente para reduzir a hegemonia do dólar no cenário econômico internacional. Hishow et al. (2018) resumem bem a dinâmica da ideia que era vista como solução para o problema monetário na Europa: “Ao invés de aderir à livre circulação de capitais, independência de política monetária e taxas de câmbio flutuantes, (...) os europeus tiveram uma ideia engenhosa. (...) Internacionalmente, existiria uma moeda única robusta o suficiente para enfrentar novos dollar shocks. Isso permitiria livre circulação de capitais, o Euro flutuante e o Banco Central Europeu com política monetária independente. (...) Internamente, os europeus teriam taxas de câmbio fixas e livre circulação de capitais, o que necessariamente implica perda de autonomia monetária a nível nacional.” (Hishow et al., 2018) Em outras palavras, em troca de maior estabilidade econômica e menos incerteza cambial, os países europeus aceitaram abandonar a autonomia de política monetária que desfrutavam e a delegaram para uma instituição supranacional criada para garantir a estabilidade do poder de compra da nova moeda comum, o Banco Central Europeu. Esta instituição teria autonomia para conduzir a política monetária que afetaria toda a união, ou seja, uma mesma decisão de política para todos os países integrantes da Zona do Euro. Tendo em vista que a política monetária a ser implementada é única para todos os membros da união monetária, o módulo 1 discutiu a importância de reduzir a assimetria de choques entre esses membros e promover a presença de mecanismos de ajuste alternativos à flutuação cambial. Banco Central Europeu Não faria sentido conduzir uma política monetária única se o grau de assimetria de choques entre os membros da união fosse elevado – poderia ocorrer de um membro requerer uma política expansionista e outro, uma política contracionista. Considerando essa questão, os países europeus passaram por um longo processo de integração e convergência de suas economias, de forma a reduzir a heterogeneidade entre eles. Os critérios de convergência para formação da União Monetária Europeia se apoiaram em quatro pilares principais: Estabilidade de preços Equilíbrio fiscal Estabilidade das taxas de câmbio Durabilidade da convergência Parte desses critérios foi estabelecida no Tratado de Maastricht, em 1992. Alcançar a estabilidade da taxa de câmbio, no entanto, foi um processo que começou poucos anos após o colapso de Bretton Woods, ainda na década de 1970. Em 1979, foi criado o European Monetary System (Sistema Monetário Europeu), que durou por 20 anos, até a introdução do Euro, como unidade de conta, em 1999. O Sistema Monetário Europeu foi muito importante para o processo de integração monetário. Ele foi o canal por meio do qual os países fixaram suas taxas de câmbio entre si. Krugman e Obstfeld (2015) o definem como “uma rede formal mutuamente indexada de taxas de câmbio”, pela qual uma série de diretrizes foram estabelecidas para regular intervenções que atuaram para restringir a flutuação das moedas participantes dentro de margens específicas. Para fixar as diferentes moedas, o Sistema Monetário Europeu criou uma moeda que servia apenas como unidade de conta, que ficou conhecida como Unidade de Moeda Europeia. • • • • Curiosidade O valor da Unidade de Moeda Europeia era representado pela média das moedas nacionais dos países integrantes do sistema, ponderada pelo tamanho da economia de cada país e de sua participação no comércio regional – ou seja, era uma cesta das moedas europeias, à época. A Unidade de Moeda Europeia veio a se tornar o Euro, em 1999, a uma paridade de um para um. Durante o período de integração monetária, por meio do Sistema Monetário Europeu, os países fixaram suas moedas nacionais à Unidade de Moeda Europeia. Inicialmente, ficou definido que seria permitida uma flutuação de 2,25%, para mais ou para menos, em relação à paridade estabelecida. Foi criado, também, o Fundo de Cooperação Monetária Europeu, cujo objetivo era disponibilizar recursos para os países-membros, caso fosse necessário estabilizar taxas de câmbio sob estresse de ataques especulativos. Os anos de 1980 foram marcados por forte divergência de preços, o que ocasionava frequentes realinhamentos na paridade estabelecida. Ao longo dessa década, o diferencial de inflação entre os países- membros ainda era alto, o que alterava preços relativos e pressionava a paridade que havia sido definida anteriormente. Conforme já mencionado, para que um regime de câmbio fixo não demande ajustes nos preços relativos, não podem ocorrer persistentes diferenças nos seus níveis de inflação. Por vezes, alguns controles de capital foram impostos para limitar o impacto de ataques especulativos. A partir de 1987, esses controles foram sendo reduzidos gradualmente e, por mais de cinco anos, o Sistema Monetário Europeu se manteve estável, sem grandes choques que demandassem novos realinhamentos. Esse período de estabilidade, no entanto, acabou em 1992. Após a reunificação da Alemanha, o país experimentou um forte período de crescimento econômico, o que provocou uma aceleração da inflação. O Bundesbank (banco central alemão) era extremamente avesso à alta inflação e enfrentou a questão com uma alta significativa da taxa de juros. Tendo em vista o tamanho da economia alemã, o marco alemão era a moeda de maior peso na Europa. Sendo assim, os demais países precisavam harmonizar suas taxas de juros para manter suas taxas de câmbio fixas à Unidade de Moeda Europeia. Alguns dos demais países, no entanto, não estavam com suas economias superaquecidas, e a alta de juros provocou recessão. Marco alemão. A reunificação alemã se revelou como um choque assimétrico para o qual o Sistema Monetário Europeu, sob taxas de câmbio fixas, ainda não tinha mecanismos de ajuste. Uma série de ataques especulativos pressionou o sistema. Esses episódios fizeram com que o Reino Unido abandonasse o Sistema Monetário Europeu e desistisse de integrar a União Monetária. O Reino Unido, inclusive, nunca aderiu ao Euro. Os demais países, ainda empenhados com o projeto, buscaram uma solução: foi decidido ampliar as bandas de flutuação, de 2,25% para 15%, para mais ou para menos, em relação à paridade estabelecida. A nova banda de flutuação foi mantidaaté a introdução oficial do Euro, em 1999. Durante esses anos, o sistema se mostrou estável e sem necessidade de ajustes na paridade. O papel-moeda do Euro entrou em circulação em 2002, em 12 países. Atualmente, 19 países compõem a Zona do Euro. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. O argumento para uma união monetária Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. O processo de integração monetária da Zona do Euro Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Verificando o aprendizado Questão 1 Uma união monetária apresenta vantagens e desvantagens inerentes ao seu funcionamento. A decisão de aderir a uma união monetária deveria ser uma análise de custo-benefício. As condições que permitem que os benefícios de uma união monetária superem seus custos são: A Controles sobre os fluxos de capital e independência da política monetária. B Desvalorizações cambiais controladas e estabilidade das taxas de inflação. C Simetria de choques e mecanismos de ajuste alternativos. D Integração comercial e rigidez do mercado de trabalho. E Convergência das taxas de juros e independência da política fiscal. A alternativa C está correta. Os benefícios líquidos de uma união monetária são maximizados quanto mais simétricos forem os choques que afetam as sub-regiões que a compõem, bem como quando estão presentes mecanismos de ajuste alternativos que possam substituir o ajuste que seria proporcionado pela flutuação cambial. Questão 2 O processo de integração monetária na Europa foi consequência da dinâmica interna do continente, mas também da conjuntura internacional e da forma como o sistema monetário internacional se organizou após o colapso de Bretton Woods. A União Monetária Europeia foi criada com o intuito de: A Restaurar o padrão ouro, tendo em vista que os EUA não tinham interesse de liderar esse processo. B Promover uma moeda forte global, a fim de substituir o dólar como reserva de valor internacional. C Devolver aos bancos centrais dos países europeus a autonomia monetária que havia sido perdida durante os anos de vigência do sistema de Bretton Woods. D Estabelecer taxas de câmbio fixas entre os países europeus e, simultaneamente, taxas de câmbio flutuantes em relação ao resto do mundo. E Facilitar a imposição coordenada, a nível regional, de controles sobre os fluxos de capital. A alternativa D está correta. A moeda única foi a solução encontrada pelos países europeus para contornar o Trilema de Mundell- Fleming, uma vez que, regionalmente, existia uma preferência por taxas de câmbio fixas. A moeda única gerava, em âmbito regional, taxas de câmbio fixas, livre circulação de capital e perda de autonomia da política monetária. Já no âmbito internacional, a moeda teria taxas de câmbio flutuantes, livre circulação de capital e autonomia da política monetária nas mãos do Banco Central Europeu. 3. A ascensão do renminbi Passo a passo da internacionalização do renminbi Preâmbulo: Internacionalização vs. conversibilidade de uma moeda Entende-se por conversibilidade o acesso pleno a uma determinada divisa, sem qualquer tipo de restrição por parte do governo emissor, de forma que ela possa ser utilizada livremente para a aquisição de bens, serviços e, eventualmente, até de outra moeda. Há estreita ligação com o conceito de moeda central — unidade de conta, meio de troca e reserva de valor em escala global, que mantenha essas propriedades dentro e fora das fronteiras do país emissor. Por definição, a moeda de um país só é conversível se sua conta capital é livre. Grandes moedas como o dólar norte-americano, o euro, a libra esterlina e o iene são conversíveis. Dólar norte-americano. Euro. Libra esterlina. Iene. Cohen (1988) elenca três grandes características que tornam desejável a emissão de uma moeda central. Primeira característica Em primeiro lugar, é uma importante demonstração de força, tanto econômica quanto política: a centralidade do dólar norte-americano como moeda global reflete a posição hegemônica dos EUA. Segunda característica Em segundo lugar, a emissão de uma moeda central confere muitos graus de liberdade à condução da política econômica. Um país emissor de moeda central não possui, virtualmente, risco algum de incorrer em crise de balanço de pagamentos, ganha enorme liberdade em sua política monetária, é capaz de obter relevantes ganhos com senhoriagem e enfrenta menores custos para a transação internacional de bens e serviços, posto que suas cotações já estão denominadas na moeda local. Terceira característica Por fim, a emissão de uma moeda central tem forte componente estratégico. Economias dolarizadas delegam sua política monetária a um país estrangeiro, perdendo parte de sua independência econômica e política. Como ressaltado por Aziz (2013), usualmente, postula-se que a conversibilidade (ou seja, conta de capital livre) é um pré-requisito à internacionalização de uma moeda. Não há, no entanto, necessária precedência temporal: uma moeda pode tornar-se mais internacional, ampliando seu alcance como unidade de conta e meio de troca, sem constituir-se, ao menos no curto prazo, como reserva de valor. Da mesma forma, não há restrição para que se tenha uma moeda internacional – mesmo que seu alcance seja regional – que não seja uma moeda central. Com crescente poderio econômico e ampliação de seu papel estratégico no cenário internacional, a ampliação de uma “área renminbi” seria, para os chineses, uma consequência natural. Na estratégia chinesa, a internacionalização do renminbi criaria condições para uma eventual abertura da conta capital no futuro, invertendo a ordem usualmente imaginada pelos analistas ocidentais. Há, nesse sentido, certa diferença em relação ao racional usual, onde tornar uma moeda conversível (como dólar norte-americano ou euro) representa um fim em si; a estratégia chinesa parece ser muito mais de ampliação da área de uso de sua moeda, tornando-a internacional, do que promovê-la como reserva de valor global. Internacionalização vs. conversibilidade: resumo Os conceitos de internacionalização e conversibilidade são usualmente confundidos, ainda que não sejam equivalentes. Não há relação teórica ou empírica estabelecida para a precedência temporal da conversibilidade frente à internacionalização de uma moeda. Veja mais no vídeo a seguir: Conteúdo interativo Acesse a versão digital para assistir ao vídeo. Processo de internacionalização do renminbi A ascensão chinesa ocorrida nas últimas três décadas levou à criação, em seu entorno, de uma densa e intrincada rede de relações econômicas e comerciais. Por questões geográficas, produtivas e, em muitos aspectos, culturais, tal rede constituiu-se principalmente no Sudeste Asiático. A pujança chinesa levou à emergência, nas palavras de Paulino (2018), de uma “área renminbi”, na qual a moeda chinesa funciona como meio de troca, unidade de conta e reserva de valor – ao menos regionalmente, características necessárias a uma moeda global. Com o adensamento das cadeias de valor lideradas pela China e o progressivo fortalecimento relativo da economia chinesa, é de se esperar que que a “área renminbi” se amplie. Isso é particularmente claro em relação aos países “a montante” nas cadeias de valor chinesas, ou seja, que participam destas como fornecedores de insumos produtivos. Renminbi. O processo de internacionalização do renminbi se acelera a partir do início deste século e ganha grande impulso após a Crise Financeira de 2008/2009. É possível dizer que esse impulso se divide em dois grandes vetores: Referente a fluxos oficiais (governamentais) Referente aos fluxos privados No caso chinês, tais fluxos se misturam e se complementam. Sob a ótica dos fluxos governamentais, há duas iniciativas dignas de nota. A mais antiga é a celebração de acordos de swap de moedas entre o Banco Central Chinês (PBoC) e diversos bancos centrais, especialmenteapós a eclosão da Crise Financeira Global. Sob este mecanismo, o PBoC oferece liquidez em renminbi, por um determinado período e a taxas relativamente baixas, recebendo como colateral o acesso à moeda do país contraparte. Curiosidade Entre 2009 e 2020, aproximadamente 40 bancos centrais celebraram acordos de swap cambial com o PBoC, implicando em um aumento da liquidez em renminbi no mundo. Para além das trocas de moedas entre bancos centrais, outras iniciativas do Estado têm aumentado a oferta da divisa chinesa no mundo. Em específico, destacam-se os empréstimos diretamente denominados em renminbi, sejam eles bilaterais ou por meio de estruturas multilaterais não derivadas do Acordo de Bretton Woods, tal como o: Banco Mundial Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Fundo Monetário Internacional (FMI) Os empréstimos são concedidos pelo Estado chinês, por empresas paraestatais chinesas e/ou por bancos de fomento. Mesmo concedidos por um ente privado chinês, possuem garantias estatais. Além disso, são feitos a taxas relativamente elevadas e prazos curtos, não raro sendo parcialmente colateralizados em commodities. Há clara correlação entre essas operações e a promoção de instituições financeiras multilaterais “ex-Bretton Woods”. • • • • • Como ressalta Gåsemyr (2018), o relacionamento chinês com instituições de crédito multilaterais é tanto proativo quanto estratégico, criando instituições e aumentando sua influência em bancos já estabelecidos. No primeiro caso, destacam-se o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) – baseado em Beijing e criado em 2015 – e o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – uma associação entre os cinco países dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), baseado em Shanghai e criado em 2014. Para além dessas novas instituições, houve aumento da participação em instituições multilaterais já estabelecidas: 1985 AfDB A China tornou-se membro do Banco de Desenvolvimento Africano (AfDB). 1986 ADB A China tornou-se membro do Banco de Desenvolvimento da Ásia (ADB). 2009 BID A China tornou-se membro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Sob a ótica dos fluxos privados, é possível nortear o debate de internacionalização em torno de três grandes vetores: ampliar as possibilidades de saídas de renminbi da China; ampliar a circulação de renminbi fora da China; e flexibilizar as regras para a circulação de renminbi por meio da fronteira, com entradas ou saídas de acordo com o interesse dos agentes. A internacionalização ganha importante impulso após a Crise Financeira de 2008/2009, refletindo uma visão defensiva das autoridades chinesas – menor exposição ao dólar norte-americano – e uma janela de oportunidade para oferecer o renminbi no mundo. No entanto, as condições iniciais necessárias ao florescimento de um mercado internacional de renminbi são anteriores, remontando a mudanças institucionais de meados dos anos 2000. O uso recorrente do renminbi fora das fronteiras chinesas exige que bancos estrangeiros sejam capazes de aceitá-lo e utilizá-lo em diversas operações financeiras. 1. 2. 3. O primeiro passo ocorreu em 2004, quando bancos de Hong Kong passaram a oferecer contas de depósito, câmbio, remessas e linhas de crédito (inclusive cartões de crédito e débito) em renminbi. Para além desse passo inicial, a imensa maioria dos autores define que o processo de internacionalização começa em 2007, com a criação do mercado de títulos dim sum – instrumentos denominados em renminbi e emitidos em jurisdição estrangeira (Hong Kong). Outro passo importante na internacionalização ocorreu em 2008, quando o governo passou a autorizar a operação e o pagamento de fluxos comerciais entre a China e diversos países asiáticos diretamente em renminbi. De acordo com PBoC (2020), aproximadamente 38% dos fluxos comerciais e financeiros de 2019 foram denominados em renminbi. Atenção Cabe ressaltar, também, crescentes esforços para ampliar a denominação de preços de commodities em renminbi, especialmente em insumos amplamente importados pela China. Percebe-se, portanto, avanços relevantes na ampliação dos canais de saída de renminbi da China continental e no fortalecimento do mercado offshore da moeda. Sob a ótica das entradas de capital estrangeiro na China, a estratégia oficial teve dois vetores. O programa de Investidor Institucional Estrangeiro Qualificado (QFII), lançado em 2002, foi o ponto inicial de acesso ao mercado doméstico, autorizando um grupo seleto de investidores institucionais a acessar ações emitidas nas bolsas de Shanghai e Shenzhen, com limitadas cotas de investimento, obrigação de conversão à moeda local e elevado grau de discricionariedade na concessão do acesso. As cotas de investimento foram posteriormente ampliadas (2012), e, a partir de 2016, iniciou-se a flexibilização do enquadramento, tanto de investidores quanto de ativos elegíveis. Ao final de 2019, o programa QFII foi abolido. Em paralelo, o governo lançou, em 2011, o programa Investidor Institucional Estrangeiro Qualificado em Renminbi (RQFII). Tal como no QFII, estabelecia-se um valor limitado de cotas de investimento no mercado chinês, mas, ao contrário dele, não havia a obrigação de conversão prévia à moeda local, mais ativos eram elegíveis, e os critérios de seleção dos investidores eram menos restritos. Já em meados de 2014, as cotas foram expandidas e agentes financeiros de múltiplas jurisdições foram autorizados. Ao final de 2019, o sistema de cotas foi abolido. Atenção Ressalta-se que o QFII e o RQFII foram fundidos ao final de 2020, sendo substituídos por um sistema de registro, sem necessidade de autorização prévia para influxo de capital. Discutida a entrada de capital, falta descrever o estado das autorizações de sua saída. O canal de interação com os mercados externos foi criado em 2006, com o esquema de Investidor Institucional Doméstico Qualificado (QDII). Nele, investidores locais poderiam acessar os mercados externos por meio de instituições selecionadas, aprovadas pelos órgãos reguladores e submetidas a cotas e restrições nos ativos elegíveis. Em conclusão, nota-se que o processo de internacionalização do renminbi é tanto incompleto quanto assimétrico. Ainda que se tenha aumentado a oferta de renminbi offshore, ela continua relativamente restrita, sendo dominada por fluxos oficiais da moeda (swaps cambiais e empréstimos diretos) e com relação mais direta com fluxos comerciais do que com fluxos de investimento. Além disso, é claramente mais simples que estrangeiros tenham acesso ao mercado interno do que locais tenham acesso a investimentos no exterior. A moeda chinesa se torna cada vez mais internacional, mas permanece não sendo conversível devido às restrições da conta capital chinesa. Novos passos da internacionalização do renminbi O debate realizado na seção anterior priorizou as estratégias de aumento da oferta de renminbi no mundo, seja por canais governamentais (oficiais), swaps cambiais entre bancos centrais e empréstimos denominados na moeda chinesa; seja por canais privados, especialmente aqueles que ampliaram o acesso, por investidores estrangeiros, de ativos denominados em renminbi, tanto no mercado global quanto no local. Ampliar a possibilidade de oferta de uma moeda é condição necessária para permitir sua internacionalização. Há, no entanto, que se preocupar também com a demanda: uma moeda só se expande para além das fronteiras do país emissor se os agentes estrangeiros passam a desejá-la, em alguma medida, para pagar por operações, balizar o preço de bens e serviços ou reservar valor. Em uma moeda global perfeitamente conversível, a existência de demanda é imediata — moedas globais são unidades de conta em todo o mundo, têm seu valor reconhecido e são demandadas por agentes tanto para a liquidação de operações no curto prazo quanto para poupança de longo prazo. A situação é um pouco distinta no caso do renminbi – com conta capital porosa (não totalmente fechada,mas não totalmente aberta) e assimetria nos fluxos (muito mais simples cruzar a fronteira “para o mercado” chinês que “do mercado” chinês), ainda se enfrenta desconfiança quanto a sua disponibilidade no mercado internacional. Há, no entanto, três caminhos promissores para promover a demanda por renminbi no mundo, ligados diretamente a mudanças regulatórias e objetivos (geo)políticos dos governantes chineses. Não parece existir, no momento, pretensão para tornar o renminbi uma moeda conversível, competindo com o dólar norte- americano como reserva de valor global. Isso não significa, no entanto, que a moeda chinesa não tenha seu uso promovido para além das fronteiras chinesas. Vamos ver os três caminhos: Primeiro Em primeiro lugar, há evidente aumento da liquidação de operações comerciais em renminbi, o que, naturalmente, cria demanda pela moeda fora das fronteiras chinesas e dá maior profundidade ao seu mercado. Em termos dos fluxos comerciais chineses, a denominação direta em renminbi saiu de virtualmente zero, no início da década de 2010, para aproximadamente 14% dos fluxos totais de bens em 2019. Nos fluxos de serviços, a participação percentual é ainda mais elevada (24% das operações em 2019), mesmo sendo operações de nicho e bem menos relevantes nos fluxos externos chineses. Segundo Em segundo lugar, há um consistente processo de criação de centros internacionais de compensação em renminbi (RMB clearing hubs). A função desses centros é promover e ampliar a liquidez em moeda chinesa fora das fronteiras do país, servindo especialmente a agentes que necessitem liquidar operações com moeda física. Como na China há a particularidade de uma moeda entregável (que pode ser usada como instrumento de troca) fora da jurisdição local – o renminbi offshore (CNH), em Hong Kong -, os clearing hubs se organizam em CNH. Em termos práticos, em cada centro de compensação, é eleita uma instituição bancária correspondente (tipicamente, uma subsidiária de um banco chinês), que tem como função operacionalizar as operações em renminbi naquela jurisdição. Caso ocorra um descasamento entre oferta e demanda, essa instituição pode acessar liquidez em renminbi diretamente junto ao Banco Central Chinês (PBoC). Qualquer agente (por exemplo, uma corporação) pode requisitar ao seu banco usual que opere em CNH, e esta instituição acessa o centro de compensação para ter acesso à moeda chinesa. As implicações práticas são tremendas, especialmente para corporações que precisam de acesso recorrente à moeda chinesa. O processo fica sensivelmente mais simples (sem necessidade de múltiplos intermediários, especialmente em Hong Kong), mais rápido e, acima de tudo, mais barato – evoluções muito bem-vindas para o aumento do uso global da moeda. Terceiro Por fim, há consistente aumento dos fluxos financeiros de renminbi para o mundo, diretamente associados a investimentos chineses no exterior, inovações financeiras e empréstimos externos que promovam a demanda pela moeda fora das fronteiras da China continental. Outro canal que tem recebido atenção é o das inovações financeiras, ampliando as possibilidades de acesso à moeda chinesa e, eventualmente, levando a uma ampliação de sua demanda global. Ativos chineses denominados em renminbi passaram a ser parte de cestas globais de produtos financeiros. Um motivo ainda mais relevante foi o importante avanço da digitalização da moeda chinesa, o que muitos autores defendem ser um possível vetor de expansão da demanda global por renminbi. Em específico, o governo chinês lançou em meados de 2020 a sua moeda virtual – o e-renminbi (E-RMB), com transações baseadas na tecnologia de blockchain –, avançando em programas-piloto de interconexão e conversão entre a moeda física e a moeda digital. A criação de uma moeda digital apoiada por um Estado soberano, e que seja minimamente regulada, tem grande potencial para acelerar a percepção do renminbi como uma moeda internacional. Uma empresa chinesa. Por fim, tem ocorrido avanço das operações de empréstimos offshore diretamente denominados em renminbi. Nesse aspecto, o desenvolvimento de mecanismos de oferta da moeda no mundo, criando bolsões de liquidez em renminbi fora da China continental, tem sido essencial. Swaps cambiais, constituição de instituições bancárias (multilaterais ou instituições de policy chinesas) autorizadas a emprestar em renminbi e florescimento dos centros de liquidação e compensação permitem que a demanda externa por moeda chinesa tenha condições de encontrar, ao menos, parte da oferta necessária. Atenção O florescimento dos empréstimos denominados em renminbi tem estreita ligação com o fortalecimento global das instituições bancárias chinesas. De um lado, as instituições multilaterais sob forte ascendência chinesa, como AIIB e o NDB, têm em seus estatutos autorizações expressas para a oferta de empréstimos denominados em renminbi, sob algumas regras específicas. De outro lado, e de forma mais estrutural, há declarado interesse das autoridades chinesas em promover o que chamam de “financiamento do desenvolvimento com características chinesas”, um método de cooperação Sul-Sul que segue princípios de benefício mútuo e no qual países em desenvolvimento diminuem suas restrições de acesso a capital voltado a projetos estruturantes, ao passo em que a China consegue exportar seu excesso de capacidade e expertise em inversões. Por excelência, o sucesso dessa estratégia ocorre em países periféricos restritos ao capital, recebendo recursos chineses, não raro denominado diretamente em renminbi, utilizando-os em projetos de infraestrutura, geralmente construídos com grande participação de empresas (capital e, em alguns casos, até mesmo trabalhadores) chinesas, e pagando pelos empréstimos com os proventos gerados pelas inversões. Nesta altura, já parece claro que há estreita ligação com a estratégia de cooperação Sul-Sul representada pela Iniciativa Cinturão e Rota. Isso é ainda mais patente ao lembrarmos que grande parte dos países signatários da Iniciativa não possuem mercados financeiros domésticos desenvolvidos e, portanto, enfrentam crônica dificuldade para dinamizar investimentos privados em projetos de infraestrutura — cujo prazo de maturação é longo e o risco, elevado. O “financiamento do desenvolvimento com características chinesas” utiliza pesadamente não só as instituições multilaterais, como também os grandes bancos de fomento chinês – no que se destacam, em absoluto, o China Development Bank (CDB) e o Export-Import Bank of China (CHEXIM). Não se pode deixar de lado, também, o Fundo da Rota da Seda (Silk Road Fund, SRF), que tem recebido importantes aportes de capital do governo chinês durante os últimos anos. Em todos os casos, não necessariamente todas as inversões são feitas pelas instituições financeiras chinesas, sendo relativamente comum que sejam estabelecidas parcerias com grupos financeiros locais, modelos híbridos (combinando empréstimos e participação no capital) e provisão de garantias. De toda forma, aumenta-se a importância da moeda chinesa como meio de pagamento e liquidação de operações, iniciativas centrais para a promoção de sua demanda e avanço da internacionalização do renminbi. Em conclusão, a internacionalização de uma moeda passa pela ampliação de sua área de circulação para além das fronteiras do país emissor. No caso específico do renminbi, e em paralelo às inúmeras iniciativas de promoção do uso na moeda, pela demanda e pela oferta, a implementação da Iniciativa Cinturão e Rota parece ser o caminho natural para um maior uso global da moeda chinesa. Com o adensamento das operações de comércio, investimento e construção ligados a empresas chinesas, é esperado que a Iniciativa implique, de forma tautológica, em maior demanda pelo renminbi offshore. Ainda parece existir grande espaço para tanto, com a participação do renminbi nas cestas internacionais de reservas cambiais atingindo somente 2,0% em meados de 2020 (COFER/IMF) – uma proporção pequena, ainda que