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AULA 1 - EXERCÍCIO DE BALIZAMENTO

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DIREITO CIVIL VII – COISAS
PROF. ME. MARIANE DE SOUZA
EXERCÍCIO. 
Em relação ao acórdão nº 70011500485, referente a decisão do recurso de apelação, proferido pela 19º Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que julgou improcedente o recurso interposto da sentença que indeferiu reintegração de posse para o autor, responda: 
Após identificar autor, réu, recorrente, recorrido e os argumentos de cada um deles respectivamente, indique os motivos pelos o autor teve seu pedido de reintegração de posse negado. 
Explique de forma detalhada a partir de que momento os recorridos passaram a ter posse capaz de gerar usucapião.
Considerando o acórdão, a doutrina estudada e a legislação vigente, quais os requisitos necessários para que um possuidor possa ser reintegrado na posse, utilizando, o procedimento previsto no art. 924 até art. 928 do CPC.
RELATÓRIO
Cuida-se de apelo interposto por espolio de Julio Teixeira contra João Vivian e Maria Sofia Fonseca Carvalho em virtude de sentença de improcedência de pedido de reintegração de posse.
Em suas razões, a parte apelante busca a reforma da sentença em síntese, por mostrar-se incongruente com a prova dos autos. Alega que Júlio era proprietário de uma área de terras de 42ha, que consta em inventário. Argumenta que, no início de março de 2004, os réus cercaram uma área de 2ha daquela área maior, onde existia uma tapera, dando causa a esbulho possessório. Sustenta que a prova testemunhal colhida na audiência de justificação comprovou ser a área ocupada por Júlio por mais de 40 anos, prova desconsiderada pela sentença, mas suficiente para o deferimento da liminar. Aduz que os depoimentos das testemunhas dos réus são incompatíveis com os demais elementos de prova carreados aos autos, entre eles o contrato firmado com Orfila, pois este ocorreu em outubro de 2003, e os réus reconheceram ingressar no imóvel apenas em fevereiro de 2004. Argumenta que as demais testemunhas não devem ser consideradas, pois uma é irmã de Orfila e as outras somente sabiam de boatos. Afirma ser inviável entender que Júlio não teve a sua posse recuperada no interregno de tempo em que Orfila desocupou o bem e os réus invadiram, pois a primeira ocupava o bem por mera comiseração de Júlio.
Com contra-razões, subiram os autos a esta Corte.
Conclusos ao Relator originário, em Regime de Exceção vieram os presentes autos redistribuídos e conclusos a este Relator. É o relatório.
VOTOS
Os requisitos para a reintegração de posse são aqueles constantes no art. 927, do CPC, sendo ônus do autor comprová-los. 
Determina ainda a lei processual, devam as ações possessórias seguir procedimento especial ou ordinário, dependendo da presença de pressuposto para concessão de reintegração antes do término da sentença, isto é, ser de força velha ou força nova (art. 924).
Em caso de força nova, vindo a peça inicial acompanhada de prova verossímil dos requisitos acima descritos, o julgador deferirá liminarmente a expedição de mandado. Em contrário, determinará realização de audiência de justificação (art. 928). Nesta oportunidade, logrando o autor êxito em comprovar as alegações, determinará desde logo a expedição de mandado para reintegração.
O conceito legal trouxe-nos a figura do possuidor sendo “aquele, que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade” (art. 485 do CC/1916), ou, como agora tão somente “à propriedade” (art. 1.196, do CC/2002).
Em ações de reintegração de posse, o ônus de provar a posse anterior e a perda da posse é do autor, devendo o julgador fundamentar sua convicção nos elementos trazidos pelas alegações deste e os fatos apresentados pelo contexto probatório, não se podendo tão somente afastar apenas as alegações do réu. 
Em situações possessórias não se discute a propriedade ou domínio, mas sim a sua exteriorização, circunstância eminentemente fática por sua natureza, cuja construção ocorre no passar do tempo e na dinâmica cotidiana da vida. Essa realidade nem sempre resta devidamente documentada, devendo-se assim dar maior valor à prova testemunhal. Deve-se nesta, buscar os elementos que eventualmente, podem alcançar a verdade real, conforme o contexto das alegações do demandante e as demais provas existentes. Em síntese, em ações de reintegração, o ônus de provar a perda da posse, os atos esbulhativos e as respectivas datas é do autor e essa prova deve vir de forma robusta e prioritariamente fundada na prova testemunhal.
No caso, o Espólio autor sustentou que réus teriam esbulhado a sua posse de 2ha inseridas num todo maior de 42ha, ao cercar e passar a ocupar a área em nome próprio.
Ocorre que os réus lograram demonstrar que a mencionada área era de posse de Orfila Garcia que exercia a posse sobre o imóvel há mais de vinte anos.
Jorge de Oliveira afirmou que Júlio lhe teria comentado ter emprestado uma área à Orfila, não sabendo quanto tempo esta morou lá. Disse ter ouvido comentários que João e Maria Sofia estariam residindo na casa. Esclareceu que mora em outra localidade, mas por ter muitos conhecidos ficou sabendo dos fatos, e que trabalhava para o falecido Júlio (fl. 26).
Thilismar dos Santos Costa disse que João teria comentado ocupar recentemente uma área que Júlio havia cedido para uma mulher. Disse também que a casa teria sido construída com material da Prefeitura no campo do finado Júlio há uns três ou quatro anos, sendo que esta teria ido para Porto Alegre (fl. 27).
Orvandil Dorneles Garcia, testemunha compromissada, afirmou que João e Sofia adquiriram a área de Orfila, que morou nela há mais de 30 anos e esta área pertencia a Chico, sogro de Orfila, nunca tendo pertencido a Júlio. Afirmou que, quando houve a venda a João, não mais morava no local (fl. 71).
Com a devida vênia, o Espólio não comprovou que Júlio ou mesmo próprio Espólio tivessem exercido posse direta sobre o imóvel antes que João e Sofia tivessem ingressado no imóvel. 
As testemunhas que se manifestaram na audiência de justificação, Jorge de Oliveira e Thilismar da Costa, não presenciaram diretamente se Júlio algum dia teve posse da área que antes era ocupada por Orfila, pois apenas afirmaram ser de propriedade de Júlio.
Ademais, não comprovaram que os sucessores de Júlio, a viúva e o filho, tivessem exercido a posse direta quando Orfila o desocupou.
Assim, o Espólio autor não comprovou que tivesse posse anterior.
As testemunhas do réu vieram e afirmaram que na realidade esse imóvel nunca pertenceu nem foi de posse de Júlio ou de algum de seus familiares, sendo que sempre foi cercado.
Portanto, não obstante tenha sido deferida a liminar na audiência de justificação, entendo que a sentença decidiu acertadamente, pois os autores não lograram comprovar que os réus teriam esbulhado mediante o cercamento nem que tivessem perdido a posse em virtude deste ato. Também não comprovaram que a cerca existente no bem tivesse sido erigida por João e Sofia, havendo notícias que esta já existia na época de Orfila.
Assim, merece ser confirmada por seus próprios fundamentos.
Diante do exposto e pelas razões apontadas, NEGO PROVIMENTO ao apelo.

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