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APS - DIREITO DE POSSE

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ANÁLISE DE CASO: Aline é proprietária de uma pequena casa situada na cidade de 
São Paulo, residindo no imóvel há cerca de 5 anos, em terreno constituído pela acessão e 
por um pequeno pomar. Pouco antes de iniciar obras no imóvel, Aline precisou fazer uma 
viagem de emergência para o interior de Minas Gerais, a fim de auxiliar sua mãe que se 
encontrava gravemente doente, com previsão de retornar dois meses depois a São Paulo. 
Aline comentou a viagem com vários vizinhos, dentre os quais, João Paulo, Nice, Marcos 
e Alexandre, pedindo que “olhassem” o imóvel no período. Ao retornar da viagem, Aline 
encontrou o imóvel ocupado por João Paulo e Nice, que nele ingressaram para fixar 
moradia, acreditando que Aline não retornaria a São Paulo. No período, João Paulo e Nice 
danificaram o telhado da casa ao instalar uma antena “pirata” de televisão a cabo, o que, 
devido às fortes chuvas que caíram sobre a cidade, provocou graves infiltrações no 
imóvel, gerando um dano estimado em R$ 6.000,00 (seis mil reais). Além disso, os 
ocupantes vêm colhendo e vendendo boa parte da produção de laranjas do pomar, 
causando um prejuízo estimado em R$ 19.000,00 (dezenove mil reais) até a data em que 
Aline, 15 dias após tomar ciência do ocorrido, procura você, como advogado. Na 
qualidade de advogado(a) de Aline, elabore parecer cabível em relação à situação 
apresentada. (Fonte FGV Projetos Exame XXVI da OAB - Adaptada). 
O aluno deverá: reconhecer adequadamente sujeitos, interesses e direitos envolvidos; 
avaliar possibilidades juridicamente viáveis de condução do caso; fundamentar 
juridicamente a solução adequada. 
 
RESOLUÇÃO: Inicialmente, é mister elucidar o instituto da posse, importante matéria 
do direito civil brasileiro, para um melhor entendimento acerca do caso em tela. Para 
tanto, o legislador adotou a teoria objetiva proposta por Rudolf Von Ihering que sugere a 
posse como sendo o poder de fato do indivíduo sobre a coisa, ou, em outros termos, a 
exteriorização da propriedade, que é o poder de direito. Neste sentido, o Código Civil 
Brasileiro de 2002 não conceitua o instituto supramencionado, entretanto, caracteriza o 
possuidor, conforme segue: 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de 
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes 
inerentes à propriedade. 
 Visto isso, pode-se dizer que o possuidor, por se valer das atribuições de um proprietário 
e agir como um – mesmo não o sendo, também possui seus direitos conferidos e 
resguardados juridicamente, substancialmente o de defender a sua posse quando assim 
julgar necessário. 
Neste passo, o aludido Código traz consigo em seu artigo 1.200 a conceituação de posse 
justa como sendo aquela que não é violenta, clandestina ou precária, ou seja, será injusta 
quando apresentar qualquer destes vícios. A fim de defini-las, temos que a violência é o 
ato pelo qual, abruptamente, se toma a posse, sendo necessária o uso da força quando do 
início de sua aquisição. Precariedade, por sua vez, se dá com a recusa de restituição do 
bem ao proprietário (abuso de confiança) e, por fim, temos que a clandestinidade é 
caracterizada quando o indivíduo, de maneira ardil, adquire às ocultas a posse do legítimo 
possuidor ou detentor do bem. 
Isto posto, compreende-se que, no caso em estudo, Aline, proprietária e possuidora do 
imóvel, sofreu o chamado esbulho possessório, ato pelo qual o possuidor é despojado, 
contra sua vontade, de sua posse sob determinada coisa, impossibilitando-o de exercê-la 
plenamente. Tal evento encontra previsão no artigo 1.210, do Código Civil: 
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse 
em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado 
de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
§1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se 
ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça 
logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além 
do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 
§2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a 
alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. 
No dispositivo mencionado, cabem duas definições: a da turbação, que, nas palavras de 
Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 151) é “todo ato que embaraça o livre exercício da 
posse”, e a de esbulho, sofrida por Aline, que, neste caso, não passou por uma simples 
perturbação ou incômodo, mas sim por uma privação total e injusta de seu poder de 
exercício sobre a coisa. 
Com efeito, como estipulado no parágrafo posterior ao “caput”, a parte lesada poderá 
reaver a posse do bem utilizando-se de ato próprio, desde que não passe dos limites legais. 
Contudo, caso não logre êxito, alcançará a restituição da mesma através de uma ação de 
Reintegração de Posse, reguladas pelos artigos 560 a 568, do Código de Processo Civil, 
com o devido endereçamento a um dos juízos cíveis da Comarca de São Paulo, tendo em 
vista que o imóvel se encontra no mesmo local (art. 47, § 2º, do CPC). 
A demanda seguirá o rito especial com direito a pedido liminar (art. 562, do CPC), vez 
que Aline tomou conhecimento do esbulho dentro do prazo de um ano e dia da data do 
ocorrido (ação de força nova), como explica o ilustre professor Silvio de Salvo Venosa 
(2015, p. 139): 
“Proposta a ação nesse prazo, o procedimento especial das 
ações possessórias permite a expedição de mandado liminar 
de manutenção, reintegração ou proibitório, nos termos do 
art. 928 do CPC, de plano, se convencido o magistrado tão 
só com a documentação da inicial ou após audiência de 
justificação prévia”. 
E, ainda, há de falar em outros pedidos de natureza provisória além da liminar possessória. 
Humberto Theodoro Junior (2019, p. 128) esclarece que: 
"As ações de manutenção e de reintegração de posse variam 
de rito conforme sejam intentadas dentro de ano e dia da 
turbação ou esbulho, ou depois de ultrapassado o dito 
termo. Na primeira hipótese, tem-se a chamada ação 
possessória de força nova. Na segunda, a de força velha." 
 
No mais, corroborando a tese aqui exposta, no mérito seria discutida e consequentemente 
provada a existência do esbulho possessório, bem como a má-fé perpetrada por João 
Paulo e Nice, requeridos da presente demanda, tendo em vista a tomada injusta e 
clandestina da posse do bem de sua possuidora legítima, Aline, sem que ao menos 
oferecesse resistência, pois encontrava-se fazendo uma viagem de emergência em outro 
estado distante do local de seu imóvel. 
Impende destacar que, à luz do artigo 555, incisos I e II, do Código de Processo Civil, 
além da reintegração de posse e diante a situação, postularia pelo pagamento de 
indenização por danos materiais e morais, na forma nos artigos 1.216 e 1.218, do Código 
Civil, uma vez que o imóvel foi danificado resultando em infiltrações, perfazendo um 
prejuízo estimado em R$6.000,00 (seis mil reais), tendo sido, também, os frutos, 
consistentes em laranjas, colhidos e alienados pelo casal, conforme produção de prova 
testemunhal e pericial a serem realizadas, totalizando a importância de R$19.000,00 
(dezenove mil reais). 
Sobre o cabimento de ação de reintegração de posse cumulado com pedido de perdas e 
danos, oportuna é a transcrição do entendimento de Maria Helena Diniz (2015, p. 104): 
“A ação de reintegração de posse é a movida pelo 
esbulhado, a fim de recuperar posse perdida em razão da 
violência, clandestinidade, ou precariedade e ainda pleitear 
indenização por perdas e danos”. 
Por fim, tendo em vista a cumulação de pedidos, daria a causa o valor de R$25.000,00 
(vinte e cinco mil reais), com fulcro no artigo 292, inciso VI, do Código de Processo 
Civil. 
 
REFERÊNCIAS 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Coisas. Vol. 5. 4ª 
edição, 2011, p. 151. 
VENOSA, Silvio de Salvo. Direitos reais. São Paulo: Atlas, v. 3, 2015, p. 139. 
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de DireitoProcessual Civil. V.II. 53ª Ed. Rio 
de Janeiro: Forense.2019. P. 128. 
DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 104.

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