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Funcionalismo e a sociologia de
Durkheim
Apresentação das contribuições, das teorias e dos principais conceitos do sociólogo francês Émile
Durkheim (1858-1971), considerado pelos estudiosos das Ciências Sociais um dos principais fundadores
da teoria sociológica.
Profa. Amanda André de Mendonça
1. Itens iniciais
Propósito
Conhecer as inúmeras tentativas realizadas por Émile Durkheim para a superação daquilo já produzido sobre o
estudo da sociedade até a sua época, bem como os principais conceitos por ele desenvolvidos, além do seu
pioneirismo na abordagem metodológica por meio do funcionalismo.
Objetivos
Reconhecer as considerações gerais e históricas de desenvolvimento da obra de Émile Durkheim
Descrever os fatos sociais, o método funcionalista e a sua inovação para as Ciências Sociais
Identificar os conceitos básicos desenvolvidos pelo autor
Introdução
Se você está aqui, é provável que já tenha ouvido alguém falar (ou até mesmo lido) sobre Durkheim e sua
Sociologia. Ainda assim, a fim de conhecermos melhor o pensamento do sociólogo francês Émile Durkheim,
precisamos abordar neste tema seus principais conceitos e suas análises sobre a realidade social por ele
investigada.
 
Segundo Durkheim, existiam entraves na sociedade moderna – e eles estavam conectados a problemas de
ordem social. Nesse sentido, o sociólogo buscou compreender como o comportamento dos indivíduos era
construído por meio do que ele chamou de fatos sociais.
 
Além disso, ele se interessou pelo que acreditava ser uma consciência coletiva e os tipos de solidariedade
social. Neste material, estudaremos as principais ideias abarcadas nesses conceitos cunhados por Durkheim.
Por fim, ainda analisaremos de que forma sua obra continua sendo uma referência para os estudos e as
pesquisas no campo das Ciências Sociais hoje.
 
Nossa intenção é descobrir as relações feitas pela Sociologia contemporânea com os conceitos e com a teoria
durkheimiana. A ideia é entendermos a relevância desse pensador para a Sociologia, indicando a
atemporalidade de sua obra e a enorme contribuição dele para o pensar nossa sociedade.
• 
• 
• 
1. Considerações gerais e históricas de desenvolvimento da obra de Émile Durkheim
A sociologia de Durkheim
Vamos iniciar a nossa conversa falando sobre a história e o nascimento da Sociologia como ciência. É público
e notório que ela está associada ao contexto político, social, econômico e cultural da França a partir do século
XVII.
 
Para alguns estudiosos de hoje, foi nesse país que se fizeram presentes alguns dos pensadores considerados
os pré-sociólogos ou fundadores da Sociologia, como Charles de Montesquieu, Aléxis de Tocqueville, Saint-
Simon e Auguste Comte.
 
Em outras palavras, as condições apresentadas na realidade francesa do período foram determinantes para o
desenvolvimento da Sociologia e de seus primeiros teóricos.
Em um contexto de transformações sociais e de
avanço das Ciências Sociais, também teve
origem na França uma das mais significativas
vertentes da Sociologia contemporânea: o
funcionalismo apresentado por Émile Durkheim.
 
Considerado um dos fundadores da Sociologia,
ele presenciou algumas das mais importantes
criações da sociedade moderna e vivenciou as
expressivas mudanças trazidas com os avanços
dessa nova sociedade em construção, o que
influenciou diretamente sua obra como
sociólogo.
Dessa forma, abordaremos, neste material, o pensamento de Émile Durkheim a partir dos principais elementos
históricos que propiciaram o desenvolvimento da Sociologia na França. Em um primeiro momento, vamos
enfatizar sua tentativa de fazer dela uma ciência.
 
Mas como faremos isso? Vamos destacar como parte principal de seu trabalho a busca por conferir à
Sociologia uma reputação científica, base para seu reconhecimento.
 
Para tanto, também exploraremos sua contribuição precursora no que diz respeito ao desenvolvimento de
métodos próprios para a Sociologia: o método funcionalista. Com métodos próprios e o trabalho de Durkheim,
veremos como a ela avançou seu “status” enquanto ciência.
Sociologia francesa: a busca pelo conhecimento em meio às
transformações sociais
Nosso trajeto a ser percorrido neste material tem início na França do século XIX. Como já estudamos, este foi
um cenário de intensas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais.
Barricada na esquina do Boulevard Voltaire e do
Boulevard Richard-Lenoir durante a Comuna de Paris
de 1871.
Essas mudanças seguiam o curso das marcas
deixadas por eventos determinantes
vivenciados pelo país nos séculos anteriores,
como a Guerra Franco-Prussiana, o Iluminismo
e a Comuna de Paris. Todos esses fatos
históricos culminaram na necessidade de uma
reformulação integral das estruturas
tecnológica e de produção, bem como
educacional e cultural, francesa.
Resumindo
Destacava-se nessa conjuntura de consolidação do sistema capitalista uma realidade social e econômica
que evidenciava as contradições do novo sistema que surgia. Em outras palavras, um período no qual a
miséria e o desemprego estavam lado a lado com uma grande expansão industrial. Isso significou o
aguçamento das lutas sociais e um campo muito propício ao desenvolvimento de novas teorias sociais. 
Mas essa também foi uma época de grande euforia, pois havia um progresso significativo na esfera da
produção, principalmente em relação às inovações tecnológicas. Essas inúmeras invenções que alteraram
profundamente o modo de produção – não apenas naquele país, mas em toda a Europa – produziram
transformações nas estruturas social e cultural francesas.
 
Ou seja: as inovações caminharam conjuntamente com os novos problemas sociais e as novas demandas
impostas pela sociedade capitalista. Um quadro propulsor para o desenvolvimento de uma ciência a fim de
pensar essa sociedade moderna que se apresentava.
É importante entender então que o cenário de
turbulências sociais e de mudanças em tantos
campos exigia explicações. Devemos dizer que
algumas matrizes de pensamento e teorias de
diversas áreas de conhecimento — como o 
evolucionismo e o positivismo — já se faziam
presentes e foram fundamentais para o
desenvolvimento da Sociologia.
E, além disso, para o trabalho de um de seus
principais teóricos até os dias de hoje: Émile
Durkheim.
Émile Durkheim: criador da
Escola Sociológica Francesa
David Émile Durkheim nasceu em Épinal (França) em 15 de abril de 1858. Era filho de um rabino e de uma
família tradicional judia, o que lhe possibilitou o acesso a uma educação de qualidade e com grandes
referências intelectuais francesas, como o historiador Foustel de Coulange, que foi seu professor por muitos
anos.
 
Com 24 anos, graduou-se em Filosofia e seguiu seus estudos na Alemanha com a intenção de ampliar sua
formação, suas bases teóricas e suas referências. Foi quando conheceu obras que o influenciariam bastante,
como as de Ferdinand Tonnies e de George Simmel.
 
Em 1887, já de volta à França, deu início à sua vida profissional, tornando-se professor na Faculdade de Letras
de Bordeaux, na qual lecionou Pedagogia e Ciência social. Ali também nasceu sua trajetória acadêmica e
intelectual, pois foi nesse período, mais precisamente entre 1893 a 1899, que ele publicou três de seus
principais livros:
1
Da divisão do trabalho social.
2
As regras do método sociológico.
3
O suicídio.
Esses anos foram fundamentais para o
desenvolvimento de seu pensamento e de suas
teorias. Foi nesse contexto que ele fundou a
revista Année Sociologique, em 1896, reunindo
jovens colaboradores que mantiveram o
periódico em circulação até o final da década
de 1940.
Após deixar a Faculdade de Letras de
Bordeaux, Émile Durkheim assumiu a cadeira de
Ciência da Educação da Universidade de
Sorbonne. Poucos anos depois, ele realizou um
grande feito ao transformá-la em uma cátedra de Sociologia.
A Sociologia foi encarada por Durkheim como uma espécie de missão política. Ou seja, ele buscou,
ao longo de toda sua trajetória, o reconhecimento dela como ciência.
Ele almejava uma ciência que permitissea compreensão da crise social e moral da sociedade – a qual,
segundo ele, atingia a França – e que, ao mesmo tempo, fornecesse elementos capazes de indicar a saída
para essas crises, ajudando a restabelecer a solidariedade entre os membros da sociedade francesa.
Vimos, portanto, que Durkheim desenvolveu a maior parte de sua obra em um período de grandes crises e
modificações na estrutura social francesa. E isso direcionou suas análises em uma busca para explicar e
abarcar o conjunto diverso de novas situações experimentadas pela França.
Em outras palavras, a Europa do século XIX — cena com muitos conflitos sociais e revoluções — foi o palco da
origem da Escola de Sociologia na França, bem como da preocupação de Durkheim em compreender o
funcionamento da sociedade francesa. Além disso, isso representava a sua busca por garantir a estabilidade
da ordem social e, assim, do nascimento do pensamento sociológico durkheimiano.
 
Em resumo, podemos dizer que, além de sua atenção para que a Sociologia tivesse um status
científico, Durkheim também formulou parâmetros lógicos importantes que deram origem a um 
método inovador de investigação nas Ciências Sociais: o funcionalismo.
Além disso, ele definiu que o principal objeto de estudo da Sociologia deveriam ser os fatos sociais. Ao
procurar insistentemente definir o caráter científico dela e criar uma corrente hegemônica de pensamento no
campo das Ciências Sociais, Émile Durkheim se tornou uma das grandes expressões da Sociologia até os dias
de hoje.
A natureza humana vem da sociedade
É inegável que foram inúmeras as contribuições de Durkheim à Sociologia tanto na elaboração de conceitos
quanto na sua concepção sobre o papel dessa ciência e na ênfase dada por ele à função do método.
Antes de iniciarmos nosso percurso para conhecermos um pouco mais sobre seu pensamento, consideramos
ser importante demarcar que sua obra teve uma forte influência na teoria positivista de August Comte.
teoria positivista
Segundo Lacerda (2009), Augusto Comte foi um filosofo francês identificado tradicionalmente com a
corrente positivista. Autor de obras como Système de philosophie positive (1830-1842) e Cathéchisme
positiviste (1852), ele conceituava o positivismo a partir da consideração de que o progresso é uma
constatação histórica que deveria nortear a ação humana e ser constantemente reforçado. Nesse
sentido, trata-se de uma corrente teórica baseada na noção de progresso contínuo da humanidade,
existindo uma marcha contínua e progressiva que a humanidade teria como fio condutor.
Mas, a despeito de toda a relação com a teoria de Comte, Durkheim também teceu críticas significativas ao
positivismo, dando origem a uma parte importante de sua concepção sociológica. Em síntese, sua crítica
residia no fato de que a corrente positivista não compreenderia a especificidade metodológica das Ciências
Sociais em relação às demais ciências naturais.
 
O caráter histórico e transitório dos fenômenos sociais — sempre sujeitos de transformação pela ação dos
homens — e o fato de que os problemas sociais suscitariam concepções antagônicas das diferentes classes
sociais foram alguns dos pontos destacados por Durkheim para explicar essas especificidades metodológicas
da Sociologia.
 
Desse modo, já podemos verificar a relevância que o sociólogo francês dava à metodologia dos estudos. Uma
de suas principais ideias tinha como base a metodologia da indução, o que quer dizer que a visão sociológica
precisa vir do indivíduo ao coletivo.
 
Nesse sentido, seria necessário observar todas as atitudes de uma pessoa para entender a sociedade. Essa
perspectiva ia contra o que inúmeros filósofos pregavam até o momento.
Durkheim não acreditava que a natureza humana vinha do interior do ser humano, e sim do exterior.
Em outras palavras, a sociedade influenciaria o comportamento humano.
Ele acreditava que a sociedade seria um agrupamento de individualidades que funcionam juntas e causam
fenômenos diferentes daqueles que ocorrem na consciência de cada indivíduo, dedicando-se, por conta
disso, a pensar sobre a relação coletivo versus indivíduo.
 
A partir dessa breve apresentação, convidamos você a conhecer agora um pouco mais o trabalho, assim como
algumas das principais obras e conceitos, desse sociólogo francês.
Neste vídeo, faremos uma abordagem sobre a Sociologia francesa e Durkheim.
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Verificando o aprendizado
Questão 1
(UEM, 2011) Sobre a relação entre a Revolução Industrial e o surgimento da Sociologia como ciência, assinale
a opção correta.
A
A consolidação do modelo econômico baseado na indústria conduziu a uma grande concentração da
população no ambiente urbano, o que acabou constituindo um laboratório para o trabalho de intelectuais
interessados no estudo dos problemas que essa nova realidade social gerava.
B
A migração de grandes contingentes populacionais do campo para as cidades gerou uma série de problemas
modernos que passaram a demandar investigações visando à sua resolução ou à sua minimização.
C
Os primeiros intelectuais interessados no estudo dos fenômenos provocados pela Revolução Industrial
compartilhavam uma perspectiva positiva sobre os efeitos do desenvolvimento econômico baseado no
modelo capitalista.
D
Os conflitos entre capital e trabalho, potencializados pela concentração dos operários nas fábricas, foram
tema de pesquisa dos precursores da Sociologia e continuam inspirando debates científicos relevantes na
atualidade.
E
A massa de trabalhadores rurais que migrou para os centros urbanos que surgiam não possui relação com o
surgimento da Sociologia como ciência.
A alternativa A está correta.
A industrialização caminhou em conjunto com novos problemas sociais e novas demandas impostas pela
sociedade capitalista, sendo um quadro propulsor para o desenvolvimento de uma ciência que pudesse
pensar essa nova realidade.
Questão 2
Segundo Durkheim, o papel da Sociologia deveria ser:
A
Aprender sobre o ser humano enquanto indivíduo, priorizando as análises sobre interação.
B
Compreender os processos que formam a realidade social, principalmente os aspectos gerais relacionados à
formação moral e aos laços de solidariedade.
C
Descobrir os males humanos que afligem a sociedade e apontar os remédios para cada indivíduo.
D
Uma ciência cujo objetivo seria construir a perfeição humana.
E
Identificar os problemas que atingem a realidade social, com foco no indivíduo – e não em aspectos gerais.
A alternativa B está correta.
A preocupação de Durkheim era o desenvolvimento de uma ciência capaz de compreender o
funcionamento da sociedade e que garantisse a estabilidade da ordem social.
2. Fatos sociais, o método funcionalista e a sua inovação para as Ciências Sociais
Formas de agir, pensar e sentir
Conforme vimos no primeiro módulo, uma das principais preocupações do pensamento de Durkheim foi a
ordem social. O sociólogo acreditava que a raiz dos problemas sociais de seu tempo estava conectada a uma
espécie de fragilidade da moral, o que envolveria questões relacionadas a normas e valores.
Durkheim defendia, dessa forma, que os problemas sociais vividos pela sociedade europeia eram de
natureza moral – e não de fundo econômico.
A partir dessa concepção, ele desenvolveu seu pensamento a fim de construir uma ciência que, além de
compreender tais males sociais, contribuísse com a formulação de novas ideias morais capazes de guiar a
conduta dos indivíduos no coletivo.
 
Em outras palavras, Durkheim argumentava que a Sociologia, por meio de suas investigações, poderia indicar
soluções para os males sociais que emanavam do capitalismo. Para ele, os valores morais constituiriam um
dos elementos mais eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas.
 
Segundo Durkheim, era preciso fortalecer o status de ciência da Sociologia. Para isso, uma de suas primeiras
contribuições foi propor regras de observação e de procedimentos de investigação. A ideia era que ela fossecapaz de estudar os acontecimentos sociais de maneira semelhante a outras ciências, como a Biologia, por
exemplo, quando analisa uma célula.
 
Para desenvolver esse novo método de investigação nas Ciências Sociais, Émile Durkheim compreendeu a
necessidade de se responder a duas questões:
Como ele concebia a relação entre indivíduo e sociedade?
Como ele entendia o papel do método científico na explicação dos fenômenos
sociais?
Ao explorarmos como o sociólogo francês conseguiu responder a tais perguntas, poderemos compreender
como seu pensamento se estruturou. Além disso, conheceremos o fio condutor de toda sua obra. Por isso,
iniciaremos este módulo mergulhando em suas ideias sobre a relação entre indivíduo e sociedade.
 
Durkheim entendia que a sociedade predominaria sobre o indivíduo, uma vez que seria ela que imporia a ele o
conjunto das normas de conduta social. Ou seja, para o sociólogo francês, a sociedade (objeto) é superior ao
indivíduo (sujeito), de tal forma que as estruturas sociais funcionariam de modo independente dos indivíduos,
condicionando suas ações. Esse processo foi explicado por ele da seguinte forma: o “todo” condiciona as
“partes”.
 
Nesse sentido, o autor defendia a ideia de que o objeto de estudo da Sociologia deveriam ser os fatos sociais.
Mas o que significa isso?
 
Em suas palavras...
É um fato social toda maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre
o indivíduo uma coerção exterior ou ainda que é geral no conjunto de uma
dada sociedade, tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria
independentemente de suas manifestações individuais.
DURKHEIM, 2002, p. 34.
Isso significa dizer que os fatos sociais seriam as maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam as
características marcantes de existir fora da consciência individual.
 
Ainda segundo Durkheim, essas formas de agir e de pensar seriam definidas a partir da presença de três
características: a generalidade, a coerção social e a exterioridade. Parece complexo, não é mesmo? Mas,
quando paramos para analisar cada uma dessas características, compreendemos de forma mais simples o que
o autor propôs.
 
Ao afirmar que, para ser um fato social, é preciso que essa forma de agir seja geral, ele se referia a um
comportamento que se repete em todos os indivíduos – ou, pelo menos, na maioria deles.
 
Isto é, para ele, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo. Como
exemplo, podemos pensar nas formas de comunicação em nossa sociedade ou até mesmo na arquitetura das
casas, já que retratam padrões coletivos de comportamento.
 
Ainda sobre a generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, Durkheim destacou que ela seria a
representação do consenso social, da vontade coletiva, e que assim seria garantida a normalidade de tal
comportamento.
A segunda característica inerente a um fato social seria a exterioridade. Isso quer dizer que os fatos existiriam
antes e fora das pessoas, atuando de modo autônomo em relação a seus desejos ou apoio consciente.
 
Neste caso, os sistemas de moedas ou as práticas profissionais são exemplos interessantes para pensarmos
essa característica de um fato social (o ser exterior), já que eles funcionariam independentemente do uso feito
pelos indivíduos.
 
A última característica – mas não menos importante – apontada por Durkheim para um fato social era a 
coerção, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformarem-se às regras
da sociedade em que vivem independentemente de suas vontades/escolhas.
 
A subordinação de todos a estatutos, leis e sanções (legais ou espontâneas) são bons exemplos para
entendermos o caráter coercitivo de um fato social.
O fator social é:
Geral
Exterior
Coercitivo
1. 
2. 
3. 
Vamos explorar um exemplo para pensarmos conjuntamente como essas três características se aplicam a um
fato social analisado por Durkheim. Escolheremos para nosso exercício a análise do casamento.
 
Começamos identificando se, em nossa sociedade e nas demais que conhecemos, a grande parte das
pessoas é ou foi casada em algum momento.
 
E então? Concluíram que o casamento existe pela vontade da maioria de um grupo ou de uma sociedade? Isso
quer dizer que podemos apontá-lo como um fato social geral.
No entanto, você pode argumentar que existem
aqueles que não se casam ou que não desejam
fazê-lo. E, se você fizer isso, estará certo.
 
Ainda assim, de toda forma, a grande maioria
das pessoas vai continuar querendo se casar –
e isso qualifica o casamento como um fato
social exterior ao indivíduo.
Isso quer dizer que ele se define não apenas
como resultado do desejo dos indivíduos, mas
também como uma resposta às necessidades
ou às influências da sociedade. Com certeza,
você já ouviu alguém dizendo: “Não vá ficar pra
titia, hein!”.
 
Frases como essa apontam a última característica do casamento como um fato social (a coercitividade), já
que somos direcionados a seguir o que fazem os demais membros da sociedade à qual pertencemos.
Atenção
Desse modo, Durkheim criou uma forma de analisar a sociedade e seus fenômenos, entendendo que os
acontecimentos sociais e as instituições — como os crimes, os suicídios, a família, a escola e as leis —
poderiam ser observados como objetos. A partir dessa percepção, o sociólogo defendeu que haveria
fatos sociais normais e os patológicos. Ou seja, para ele, a sociedade, como todo organismo, apresenta
estados saudáveis e doentios. 
Mas o que é normal? Quais são os parâmetros estabelecidos para diferenciar o “normal” do
“anormal”?
Normal ou patológico?
Vimos que, no livro As regras do método sociológico, Émile Durkheim definiu que os fatos sociais seriam seu
objeto de estudo na Sociologia. O sociólogo respondeu nessa obra à primeira questão que apresentamos
sobre a relação entre indivíduo e sociedade.
 
Nessa obra, o autor ainda inaugurou uma nova forma de explicar os fenômenos sociais, desenvolvendo uma
perspectiva sociológica para o fenômeno da socialização, além de criar uma metodologia para isso.
Identificamos também o que seriam fatos sociais segundo Durkheim, apontando que eles possuem três
características inerentes à sua existência.
 
Nesse sentido, o sociólogo argumentou que, quando um fato social se encontra generalizado, atendendo a
uma dessas características, ele pode ser considerado pela sociedade um fato normal.
Isso indica que, quando um fato social desempenha alguma função importante para a adaptação ou
evolução da sociedade, ele é classificado como normal.
Com isso, Durkheim apontava que a normalidade de um fato social, ou seja, de dado comportamento, modo
de pensar e sentir, estaria relacionada a uma convivência harmônica da sociedade consigo mesma e com
outras sociedades por meio do exercício do consenso social.
Em contrapartida, para Durkheim, um fato social seria patológico quando colocasse em risco a
harmonia que mencionamos.
Em seu pensamento, isso ocorreria quando, de alguma forma, o fato social ameaçasse os acordos de
convivência e os consensos sociais. Ou seja, a patologia estaria relacionada, segundo o sociólogo, aos fatos
sociais que se encontrassem fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente.
 
Ao colocarem em risco a harmonia e o consenso social, os fatos sociais patológicos representariam, para o
autor, um estado mórbido da sociedade.
Comentário
Em outras palavras Objeto de muita polêmica, o crime foi um fato social analisado por Émile Durkheim.
Em geral, a primeira análise que a maioria de nós faz tende a apontá-lo como um fato social patológico.
Contudo, na concepção do sociólogo francês, ele é considerado um fato social normal, pois Durkheim
acreditava que a existência do crime era necessária e útil a uma sociedade. Você deve estar se
perguntando como ele fez essa relação e de que forma o crime pode ser algo útil para qualquer
sociedade, não é mesmo? O que Durkheim via como normal era simplesmente a existência da
criminalidade como um fator ligado ao questionamento da moralcoletiva. O crime representaria, assim,
um fator da saúde pública, sendo parte integrante de toda sociedade sã. Nessa perspectiva, o criminoso
seria um agente regular da vida social normal. Contudo, é fundamental dizermos que essa normalidade
do crime estava vinculada a determinado nível e parâmetros que não poderiam ser ultrapassados. Ele,
portanto, poderia apresentar formas anormais quando atingisse taxas exageradas e colocasse em risco
a coesão social. 
Fatos sociais
Normal
Fatos que não extrapolam os limites dos
acontecimentos mais gerais da
sociedade.
Fatos que refletem os valores e as
condutas aceitas pela maior parte da
população.
Patológico
Fatos que extrapolam os limites aceitos
pela consciência coletiva vigente em
uma sociedade: é o comportamento tido
com desviante.
 
Fatos que são transitórios e
excepcionais, como as doenças.
Neste vídeo, vamos obsevar um exemplo bem próximo a nós sobre como funciona o conceito do "Fato Social".
Conteúdo interativo
Acesse a versão digital para assistir ao vídeo.
Funcionalismo: como a Sociologia deve proceder para
explicar seu objeto de estudo?
Exploramos até aqui a primeira pergunta sobre a qual Durkheim se debruçou: a relação entre indivíduo e
sociedade. E será por meio dela que apresentaremos o que ele considerava o objeto principal de estudo da
Sociologia: os fatos sociais.
 
A partir de agora, vamos adentrar a segunda questão, que diz respeito a como a Sociologia deveria, segundo
ele, analisar e proceder em tal estudo. Ou seja, qual seria a metodologia ou o método necessário para explicar
os fatos sociais?
Segundo Durkheim, os fatos sociais, isto é, as maneiras padronizadas como agimos na sociedade,
não existiriam por acaso, e sim por cumprirem uma função.
Para compreendermos essa ideia de função, devemos destacar que o autor comparava a sociedade a um
corpo vivo. Como todo corpo – composto por vários órgãos que, trabalhando em conjunto, garantem a
sociedade dele –, a sociedade seria formada por partes, e cada uma delas teria uma função para mantê-la
saudável.
Já deu para perceber a origem do nome metodologia funcionalista? Sim! Isso mesmo! Ele vem da
ideia defendida por Durkheim de que, assim como cada órgão cumpre uma função no corpo
humano, as partes cumprem uma função em relação ao todo, isto é, quanto à sociedade. O que ele
chama de partes são os fatos sociais, que existiriam em função do todo, o qual, por sua vez,
corresponderia à sociedade.
Dessa forma, ele acreditava que cada instituição cumpre uma função a fim de assegurar o bom funcionamento
da sociedade. E caberia ao método funcionalista explicar a função social que tais instituições exercem na
construção de uma sociedade considerada saudável, bem como as formas de agir dos indivíduos diante do
todo, tendo sempre como norte a ideia de que este predomina sobre aqueles.
 
• 
• 
• 
• 
Por fim, Durkheim defendia uma sociologia que realizasse uma análise objetiva dos fatos sociais. Nela, o
investigador deveria manter uma relação de objetividade com o objeto, desfazendo-se sempre de qualquer
pré-noção em relação a eles.
Antes de seguir para o próximo módulo, faça o seguinte exercício: localize os fatos sociais a partir das
características que Durkheim percebeu neles. Você pode buscar exemplos em notícias de jornais e revistas.
Verifique se os fatos encontrados são sociais e se podem ser estudados pela Sociologia.
Verificando o aprendizado
Questão 1
A imagem ilustra, segundo Durkheim, a concepção de fato social.
Indique a opção que, para o autor, representa uma característica do fato social.
A
Ser geral e igual em todas as sociedades.
B
Dar liberdade ao indivíduo em uma dada sociedade de praticar ações e atitudes ligadas ao seu senso crítico.
C
Ser particular de cada indivíduo, sem interferência do grupo social no qual está inserido.
D
Exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior.
E
Ser interior a cada indivíduo.
A alternativa D está correta.
Para Durkheim, os fatos sociais seriam definidos a partir da presença de três características: a
generalidade, a coerção social e a exterioridade.
Questão 2
Durkheim, no livro As regras do método sociológico, apresentou um método proposto para a Sociologia. Para
ele, são características desse método, exceto:
A
Que o princípio da causalidade se aplique aos fenômenos sociais.
B
Que a Sociologia deva se desinteressar das questões práticas da vida social.
C
Que esse método seja objetivo, levando o sociólogo a se afastar das noções antecipadas que possuía desses
mesmos fatos.
D
Que é indispensável uma postura que se recuse a reduzir os fatos sociais na sua imaterialidade.
E
Que o pesquisador deva manter distância do objeto investigado.
A alternativa B está correta.
Durkheim defendia uma Sociologia que realizasse uma análise objetiva dos fatos sociais, mantendo o
investigador uma relação de objetividade e de distância com o objeto.
3. Conceitos básicos desenvolvidos por Durkheim
Coesão, solidariedade e consciência coletiva
Acompanhamos até aqui que o interesse científico durkheimiano estava inteiramente voltado para a
compreensão do funcionamento das chamadas formas padronizadas de conduta e pensamento.
 
Esse é o ponto de partida de sua obra, porém, a partir dessa noção, Émile Durkheim desenvolveu estudos e
pesquisas. A partir disso, ele criou e enunciou conceitos básicos para o estudo da sociedade, como, por
exemplo, a consciência individual e a coletiva, assim como a solidariedade mecânica e a orgânica.
 
Neste módulo, analisaremos esses princípios elaborados por Durkheim, já que, até hoje, eles são
fundamentais para a Sociologia.
Começaremos com sua ideia sobre a consciência coletiva. Para o sociólogo (1999, p. 72), que a
desenvolveu em seu livro Da divisão do trabalho social, “deve-se entender a soma de crenças e
sentimento comuns à média dos membros da comunidade como uma forma de consciência coletiva
ou comum”.
Ela funcionaria como um sistema autônomo, uma realidade que persiste no tempo e que une as gerações. Para
Durkheim, a consciência coletiva envolveria a mentalidade e a moralidade.
 
Ainda segundo o autor, ela seria, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade. Contudo, tal
caráter difuso não implicaria a perda de características específicas, o que conferiria a essa forma de
consciência uma realidade distinta.
 
De acordo com Durkheim, essa consciência coletiva poderia ser verificada em fenômenos coletivos típicos,
sendo expressos por intermédio de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo e sociedade. Como
exemplo, podemos pensar nas torcidas organizadas, nos grandes festivais de música ou ainda em coletivos de
estudantes.
 
O ponto central dessa noção desenvolvida pelo sociólogo era a ideia de que, quanto maior a consciência
coletiva presente em uma sociedade, maior seria a coesão entre os integrantes dela. Ou seja, trata-se de uma
referência de Durkheim (1970, p. 16) ao pensamento de que a “conformidade de todas as consciências
particulares de tipo comum” faria com que todos se assemelhassem.
Notamos, portanto, que Durkheim buscava em sua obra identificar os elementos responsáveis pela coesão
entre os homens. Ele realizou isso pelo conceito de consciência coletiva, como acabamos de ver, mas também
por meio da noção de solidariedade social.
 
Mas não se enganem! O uso da palavra “solidariedade” por Émile Durkheim não tem relação direta com o
emprego mais usual que fazemos dela. Ou seja, ele não está conectado à noção de caridade, apoio ou ajuda.
 
A solidariedade social que ele utilizava se refere a uma presença mais forte ou mais fraca da divisão do
trabalho e de uma consciência mais ou menos similar entre os membros dessa sociedade. Em outras palavras,
o sociólogo empregou a solidariedade para pensar sobre formas de organização social.
Formas de organização social: mecânica ou orgânica
Para compreendermos as noções de solidariedade exploradas por Durkheim, precisaremos começar
do ponto de partida dele para essa análise: a questão dadivisão social do trabalho. Você sabe o que
isso significa?
Em poucas palavras, trata-se da maneira pela qual as tarefas de produção são organizadas e divididas em
uma sociedade. Isso pode se dar de forma mais intensa com a intenção de delimitar as funções realizadas,
dinamizar o processo de produção e garantir que o sistema de produção funcione de forma rápida.
Mas ela também pode transcorrer de forma branda, mínima, com seus membros exercendo quase
todas as atividades. E por que é importante sabermos isso?
Porque Durkheim trabalhou e desenvolveu seus conceitos de solidariedade a partir da análise de duas formas
de organização social: sociedades primitivas (ou mais simples) e as mais complexas.
 
Nas sociedades mais simples, ele identificou que predominava a divisão social do trabalho baseada
principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Nesse tipo de sociedade, segundo ele, haveria uma
presença maior de leis e costumes que acentuariam os valores da igualdade, liberdade, fraternidade e justiça.
 
Seus estudos sobre a organização dessas sociedades mais simples indicaram que a ligação entre indivíduo e
sociedade ocorria nelas de forma direta, sem nenhum intermediário. Eles também apontaram que a
consciência individual, neste caso, é uma simples dependência do tipo coletivo.
 
Isso quer dizer que há um total predomínio do grupo sobre os indivíduos e que eles se assemelham, havendo
pouco espaço para a individualidade. Portanto, nessas sociedades mais simples, os indivíduos viveriam em
sociedade pelo fato de partilhar uma “cultura comum” que os obriga a viver em coletividade.
 
Esse modelo de organização social era chamado por Durkheim de solidariedade mecânica. Ou seja, os laços
responsáveis pela unidade e pela ordem das ações sociais são de ordem cultural e moral.
Em contrapartida, quando teve início o desenvolvimento da agricultura, da sedentarização e do sistema de
propriedade privada, surgiu também uma divisão social mais complexa, com novas funções sociais. A indústria
foi um dos grandes impulsionadores da divisão social do trabalho ao criar e definir uma diversidade de
funções e atribuições distintas.
 
Para Émile Durkheim, nas sociedades complexas, predominam a divisão social do trabalho e as diferenças
entre os indivíduos, ou seja, diferentemente das mais simples, nas quais há uma enorme semelhança entre os
indivíduos.
 
Os membros das sociedades complexas diferem entre si – e cada um tem uma esfera própria de ação e, por
conseguinte, uma personalidade.
 
Nessas sociedades, o indivíduo depende delas, porque precisa das partes que a compõem, pois, quanto mais
o trabalho é dividido, maior se torna a dependência entre seus indivíduos.
 
Tendo isso em vista, o sociólogo definiu que as sociedades nas quais existem sistemas de funções diferentes
e especializadas, com laços de dependência entre seus membros, seriam chamadas de solidariedades
orgânicas.
 
Nas sociedades em que prevalece esse tipo de solidariedade, pautadas pela dependência de funções, a
tendência seria uma crescente independência das consciências individuais e coletivas. Com isso, Durkheim
apontava a ideia de que, onde houvesse maior individuação das partes, também haveria maior unidade do
organismo denominado sociedade.
 
Ele defendia, portanto, que os laços de solidariedade orgânica representariam um modelo de sociedade
avançada.
Indicadores dos tipos de solidariedade
Passaremos agora a tratar de outro ponto importante desenvolvido pelo autor que se refere às solidariedades
mecânica ou orgânica: os elementos identificados por ele como possíveis indicadores do tipo de solidariedade
vigente em uma dada sociedade.
 
O principal elemento — apontado e desenvolvido por Durkheim — deve ser visto no plural:
Tratava-se de certas normas do direito. Segundo ele, a predominância dessas normas configuraria
um indicador significativo da presença de um ou de outro tipo de solidariedade. Mas por que o
direito?
Para o sociólogo, por se tratar de um fenômeno moral que não pode ser diretamente observado, há uma
grande dificuldade em identificar qual tipo de solidariedade social se faz presente em uma sociedade. Por
outro lado, o direito representaria uma forma estável e precisa, servindo como um fator externo e objetivo
para o reconhecimento desse tipo de solidariedade.
 
Em sociedades complexas, por exemplo, Durkheim comparava o papel do direito ao do sistema nervoso. Ou
seja, suas normas atuariam de forma a regular as funções da sociedade, assim como o sistema nervoso faz
em nosso corpo.
 
Essas normas também expressariam o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho
social, isto é, toda a complexidade e o desenvolvimento presentes nessa organização social. Trata-se
exatamente do que faz o sistema nervoso ao exprimir o estado de concentração do organismo gerado pela
divisão do trabalho fisiológico.
Outro item fundamental abordado por Durkheim acerca das normas do direito como indicadores dos tipos de
solidariedade presentes em uma sociedade diz respeito às sanções aplicadas aos indivíduos.
 
O autor apontou que a maior ou menor presença de regras repressivas pode ser atestada graças à fração
ocupada pelo direito penal ou repressivo no sistema jurídico da sociedade. Mas qual é a relevância disso para
o tipo de solidariedade vigente?
 
É que, nas sociedades em que as similitudes entre seus indivíduos são o principal traço, um comportamento
desviante é punido por intermédio de ações que têm profundas raízes nos costumes.
Os indivíduos participariam conjuntamente de alguma forma de punição contra quem violou alguma regra ou
um sentimento que exerça uma função central de assegurar a unidade dessa sociedade.
 
Isso ocorreria porque, nesse tipo de organização social, a consciência coletiva é muito significativa e
disseminada, o que faz com que sua violação signifique uma violência para todos seus integrantes. Seriam as
chamadas sanções repressivas, que teriam o objetivo de infligir dor ou privação ao culpado.
 
As características que acabamos de descrever revelam que se trata de uma sociedade na qual predomina a
solidariedade mecânica. Portanto, o que Émile Durkheim concluiu foi que existe um indício da presença de
laços de solidariedade mecânica em sociedades na qual o tipo de punição está baseado na questão cultural e
nos costumes.
 
Em contrapartida, nas sociedades complexas, haveria a classe de sanções impostas aos que violam as
normas. Seriam as restitutivas, visando a restabelecer as relações perturbadas e retornar ao estado anterior.
Isso ocorreria por meio de ações do culpado para promover a reparação do dano causado.
 
De acordo com Durkheim, sanções com o propósito de fazer o indivíduo retornar à sociedade eram
restitutivas, tendo relação direta com os laços de dependência entre as funções características da
solidariedade orgânica.
Nesse contexto, vamos refletir sobre as cenas descritas a seguir:
Solidariedade mecânica
“Sou igual ao meu próximo; por isso, sou
solidário a ele.”
Solidariedade orgânica
“Sou diferente do meu próximo. Ele faz coisas
que eu não faço; por isso, eu sou solidário a
ele.”
Neste vídeo, analisaremos os aspectos da solidariedade apontados por Durkheim.
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Anomia e suicídio
No último ponto deste módulo, abordaremos o pensamento de Émile Durkheim acerca de dois fenômenos
sociais extremamente relevantes no que tange ao bom funcionamento de uma sociedade: a anomia e o
suicídio.
 
Vale lembrar que o sociólogo entendia a sociedade como um corpo humano, com partes que devem se
integrar e cumprir suas funções a fim de manter essa “máquina” em pleno funcionamento, ficando saudável.
Mas o que acontece quando falham as instituições com funções específicas e determinantes para o
funcionamento da sociedade, como a família, a igreja, o Estado ou a escola?
Ocorre na sociedade aquilo que Durkheim chamou de anomia, ou seja, uma patologia atinge esse “corpo”. Isso
quer dizer que elaestaria adoecida. Dessa forma, o autor definia anomia como a ausência, desintegração ou
inversão das normas vigentes em uma sociedade.
 
Para ele, esse estado de anomia ocorreria em momentos extremos, como, por exemplo, guerras e desastres
ecológicos e econômicos – ou em uma pandemia. Quando isso acontecesse, a consciência coletiva “perderia”
os parâmetros de julgamento da realidade.
Portanto, a anomia seria para o sociólogo sempre um momento passageiro, relacionado à perda de
contato ou à revisão de valores e normas.
Ao pensar sobre tal estado de anomia, Durkheim percebeu que, nesses momentos, também ocorre um número
maior de suicídios. Isso chamou a sua atenção para o estudo e a reflexão sobre tal fenômeno, cuja forma de
analisar era inovadora até mesmo para nossos parâmetros atuais.
O suicídio opera, para Durkheim, como um fato social, e não somente como um ato resultante da
consciência individual.
Dessa maneira, isso passou a integrar um de seus principais objetos de interesse e investigação, sempre
partindo da ideia de que o comportamento de se suicidar também possuiria causas sociais (e não apenas
individuais) e de que toda sociedade teria, em momentos da sua história, uma aptidão definida para o suicídio.
 
Isso quer dizer que, para ele, não é apenas o indivíduo que faz parte da sociedade: ela também faz parte dele,
o que transforma qualquer ato individual em um fenômeno social. Foi com esse olhar que Durkheim se dedicou
a pensar o suicídio, utilizando, para isso, métodos rigorosos.
 
Ele comparava as taxas de suicídios em países europeus ao longo de três décadas (de 1841 a 1872). Em seu
estudo, o sociólogo levou em conta tanto a idade e o sexo dos indivíduos quanto o pertencimento religioso,
familiar e profissional deles, relacionando questões como a situação dos países pesquisados ao longo do
tempo tanto do ponto de vista econômico quanto do político e social.
Saiba mais
O resultado desse estudo de décadas foi uma de suas principais obras: o livro O suicídio — estudo
sociológico (1897). Ao longo de sua pesquisa, assim como das análises e dos resultados compartilhados
na publicação, Durkheim classificou o suicídio em três categorias. Segundo ele, o suicídio altruísta
ocorreria quando um indivíduo valoriza a sociedade mais do que a ele mesmo, ou seja, quando os laços
que o unem a ela são muito fortes. 
Nesses casos, ele se mata devido a imperativos sociais, sem sequer pensar em fazer valer seu direito à vida.
Trata-se daqueles indivíduos que se identificam tanto com a coletividade que são capazes de tirar suas vidas
por ela. Você se lembra de algum episódio ou de um fato histórico em que isso tenha acontecido?
E o 11 de Setembro de 2001, quando homens pilotaram aviões que se chocaram contra o World
Trade Center, em Nova York? Integrantes do grupo Al-Qaeda, eles se dispuseram a morrer por sua
organização.
Para Émile Durkheim, eles poderiam ser classificados como suicidas altruístas. Podemos mencionar ainda
mártires de guerras, pilotos kamikazes ou os “homens-bomba”.
 
Mas o inverso também pode acontecer. São os indivíduos que não estão integrados às instituições ou às
redes sociais, as quais, por sua vez, regulam suas ações, e acabam em constante estado de insatisfação.
Essas pessoas, segundo o sociólogo, passariam a pensar essencialmente em si mesmos, sofrendo com
depressão, melancolia e outros sentimentos.
 
Os indivíduos que não estão integrados a um grupo social estariam mais propensos ao suicídio, fenômeno que
Durkheim chamou de suicídio egoísta. Para ele, a falta de redes de convívio ou de limites para a ação levariam
a pessoa a desejar ilimitadas coisas, que, ao não serem realizadas, gerariam a frustração e um possível
suicídio. Neste caso, ele se refere aos suicídios que aconteceriam devido ao aumento do individualismo.
 
A última classificação que ele propôs foi a do suicídio anômico, que estaria ligado a um estado de
desregramento social no qual as normas estariam ausentes ou seriam sem sentido. Sobre esse tipo, Durkheim
destacava que ele é mais propenso a isso em momentos nos quais os laços que prendem os indivíduos aos
grupos se afrouxam, ou seja, quando ocorre alguma crise social.
Exemplo
O abandono de um filho, de um idoso ou de alguém doente pela família pode levar tal indivíduo a recorrer
ao suicídio. Para o autor, o suicídio anômico tem relação direta com situações de anomia social, como
momentos de crises econômicas, guerras ou até mesmo pandemias. 
Além da classificação proposta por Durkheim, seu estudo sobre o suicídio trouxe interessantes constatações,
como, por exemplo, uma grande regularidade no número de suicídios em cada país e o fato de o número variar
muito menos que as mortes por outras causas.
 
Ele também verificou que essa regularidade se manteria na análise de cada grupo social, indicando que o
suicídio, mais do que uma ação individual, seria um ato social conforme a tese defendida pelo autor.
Verificando o aprendizado
Questão 1
Na concepção durkheimiana, o conceito de consciência coletiva é central. Durkheim compreendeu a
consciência coletiva como:
A
Traços mentais e emocionais que identificam e distinguem um indivíduo de todos os outros.
B
O conjunto de conhecimentos racionalmente organizados.
C
Princípio metodológico que o sociólogo deve utilizar para analisar a sociedade.
D
Sistema de crenças, valores, ideias e percepções comuns aos membros de uma determinada sociedade.
E
As ideias que cada indivíduo possui.
A alternativa D está correta.
Para o autor, consciência coletiva é a soma de crenças e sentimento comuns à média dos membros de uma
comunidade.
Questão 2
A obra Da divisão do trabalho social (1893), de Émile Durkheim, apresenta como tese as relações entre os
indivíduos e a coletividade. Nessa obra, o autor apresenta duas formas de solidariedade: a dita mecânica e a
orgânica. Nesse sentido, a definição de ambas é:
A
A solidariedade mecânica é marcada pelas diferenças entre os indivíduos; a orgânica, pela semelhança e
proximidade, interagindo partes em prol do todo.
B
A solidariedade mecânica tem como característica principal os laços por semelhança. Em geral, quando essa
forma domina uma sociedade, não há divisão social do trabalho. Já a orgânica é aquela em que o consenso
resulta de uma diferenciação. Existe nela uma forte divisão social do trabalho.
C
A solidariedade mecânica é uma solidariedade por simpatia. Já a orgânica estabelece que cada indivíduo é
livre para fazer suas escolhas, uma vez que a vontade individual é superior à coletiva.
D
A solidariedade mecânica é aquela que estabelece a noção de hierarquia social. Já a orgânica é marcada pela
semelhança entre os indivíduos.
E
A solidariedade mecânica é aquela que relaciona as sociedades mais complexas. Já a orgânica caracteriza as
sociedades mais simples ou primitivas.
A alternativa B está correta.
Segundo Durkheim, a solidariedade mecânica predomina em sociedades simples e naquelas em que os
indivíduos se assemelham. Nas sociedades com sistemas de funções diferentes e especializadas, havendo
laços de dependência entre seus membros, prevaleceria a solidariedade orgânica.
4. Conclusão
Considerações finais
Ao longo deste tema, organizado em três módulos, compreendemos que Émile Durkheim é considerado, com
Karl Marx e Max Weber, um dos sociólogos que compõe os clássicos das Ciências Sociais. Vimos o quanto sua
obra foi precursora e inovadora, sendo até hoje utilizada como referência nos estudos sobre a relação entre
indivíduo e sociedade, especialmente nos que buscam entender como operam as forças sociais que atuam
sobre os indivíduos e grupos.
 
Exploramos seus principais conceitos e, por meio deles, a ênfase de sua produção intelectual relacionada aos
fatores produtores da ordem e da estabilidade nas sociedades humanas, bem como à preocupação com os
elementos que poderiam eventualmente gerar formas de desagregação social.
 
Durkheim é um autor fundamental para se pensar o quanto a sociedade atua sobre nós, moldando nossavida
comum, mesmo em dimensões em que não percebemos essa determinação nem o quanto ela é efetiva. Sua
obra é um marco para a Sociologia, enquanto seu olhar sobre fenômenos sociais tão relevantes para nossa
vida em coletividade é uma espinha dorsal dessa ciência.
Podcast
Neste podcast, destacaremos alguns marcos do estudo deste tema.
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Para conhecer mais sobre o surgimento e desenvolvimento da sociologia acadêmica na França, leia este
artigo:
 
MUCCHIELLI, L. O nascimento da Sociologia na universidade francesa (1880-1914). In: Revista brasileira de
História. v. 21. n. 41. 2001. p. 35-54.
 
Para explorar mais a obra de Durkheim e ter outras visões sobre ela, assista no YouTube aos seguintes vídeos:
 
LEITURA OBRIGAHISTÓRIA. O tripé da Sociologia: Durkheim, Weber e Marx (ft. Tese Onze). Publicado em: 8
nov. 2018.
 
SOCIOLOGIA ANIMADA. Fatos sociais. Publicado em: 1. ago. 2018.
 
SOCIOLOGIA ANIMADA. Surgimento da Sociologia. Publicado em: 21 mar. 2019.
Referências
AMARAL. F. B.; MULH, C. Sociologia: a ciência da modernidade. In: AMARAL. F. B.; MULH, C. Fundamentos em
Ciências Sociais. Curitiba: InterSaberes, 2017. p. 64-106.
 
DURKHEIM, E. A educação moral. Trad. Raquel Weiss. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
 
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes. 2002.
 
DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 72.
 
DURKHEIM, E. Educação e sociologia. Rio de Janeiro: Melhoramentos, 1955.
 
DURKHEIM, E. O que é fato social?. In: RODRIGUES, J. A. (Org.). Durkheim: Sociologia. 9. ed. São Paulo: Ática,
2008. p. 46-52.
 
DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
 
DURKHEIM, E. Representações individuais e representações coletivas. In: Sociologia e filosofia. v. 2. 1970. p.
9-43.
 
FERREIRA, D. Manual de sociologia — dos clássicos à sociedade da informação. São Paulo: Atlas, 2007.
 
GIANNOTTI, J. A. A sociedade como técnica da razão. Um ensaio sobre Durkheim. In: GIANNOTTI, J. A.
Exercícios de filosofia. São Paulo: CeprablBrasiliense, p. 43-84.
 
GUISARD, L. A. de M.; BARRETO JUNIOR, I. F. Augusto Comte e Émile Durkheim: uma sociologia
“apaziguadora”. In: Revista FMU Direito. ano 25. n. 35. São Paulo. 2011. p. 64-72.
 
LACERDA, G. B. Augusto Comte e o "positivismo" redescobertos. In: Revista de Sociologia e política. v. 17. n.
34. Curitiba. 2009. p. 319-343.
 
ORTIZ, R. Durkheim: arquiteto e herói fundador. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. v. 4. n. 11. 1989. p.
5-22.
	Funcionalismo e a sociologia de Durkheim
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Objetivos
	Introdução
	1. Considerações gerais e históricas de desenvolvimento da obra de Émile Durkheim
	A sociologia de Durkheim
	Sociologia francesa: a busca pelo conhecimento em meio às transformações sociais
	Resumindo
	Émile Durkheim: criador da Escola Sociológica Francesa
	1
	Da divisão do trabalho social.
	2
	As regras do método sociológico.
	3
	O suicídio.
	A natureza humana vem da sociedade
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	2. Fatos sociais, o método funcionalista e a sua inovação para as Ciências Sociais
	Formas de agir, pensar e sentir
	O fator social é:
	Atenção
	Normal ou patológico?
	Comentário
	Fatos sociais
	Normal
	Patológico
	Conteúdo interativo
	Funcionalismo: como a Sociologia deve proceder para explicar seu objeto de estudo?
	Verificando o aprendizado
	Questão 1
	3. Conceitos básicos desenvolvidos por Durkheim
	Coesão, solidariedade e consciência coletiva
	Formas de organização social: mecânica ou orgânica
	Indicadores dos tipos de solidariedade
	Solidariedade mecânica
	Solidariedade orgânica
	Conteúdo interativo
	Anomia e suicídio
	Saiba mais
	Exemplo
	Verificando o aprendizado
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
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	Referências

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