Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Conteudista: Prof. Me. Claudio Brites Revisão Textual: Esp. Laryssa Fazolo Couto Objetivos da Unidade: Compreender as distinções conceituais entre texto mídias, multimídias e hipermídias; Refletir sobre a inserção de (hiper/multi) mídias como forma de ampliar aspectos de interatividade capazes de potencializar o processo de ensino e aprendizagem; Apresentar o conceito de professor-curador e mediador e sua importância no ensino em contextos atravessados por recursos digitais. ˨ Material Teórico ˨ Material Complementar ˨ Referências Professores na Era Digital: Entre a Mediação e a Curadoria Introdução Anteriormente, retomamos e aprofundamos pontos essenciais sobre a linguagem e nossa relação com ela, abordamos o conceito de texto, textos multimodais, hipertextos e a conexão desses tópicos com a leitura e a escrita, seu aprendizado e aplicação na multimodalidade. Com essa base de conteúdo, temos o suficiente para refletir sobre a influência das mídias e do contexto hipermidiático no qual vivemos no (multi)letramento e suas implicações pedagógicas. Começaremos tratando do conceito de mídia, multimídias e hipermídias e então colocaremos em cena a importância de os educadores nessa realidade aderirem a duas posturas: a de mediadores e a de curadores. Bons estudos! Implicações Pedagógicas no Contexto Hipermidiático Rojo (2017) nos traz um mergulho na vida contemporânea envolta por diversos meios de comunicação engendrados em nossa relação com o mundo de forma tão orgânica a ponto de passar despercebido. Dispositivos tecnológicos intensificam o que antes ocorria somente quando ligávamos o rádio ou a TV e as vozes do mundo entravam em nossas casas e informavam, educavam e auxiliavam na formação de nossas opiniões. Hoje, contudo, parece não haver um botão de ligar para autorizar a entrada dessas vozes, os celulares tornaram esse vínculo permanente, a ponto de se confundirem conosco as mensagens, tornando a cada um de nós um comunicador midiático em potencial. 1 / 3 ˨ Material Teórico A escola, espaço por onde essas relações passam com certeza, antes preocupava-se em filtrar o conteúdo vindo de desenhos animados e novelas, e hoje lida com um tsunami de materiais resultantes de diversos meios. Assim, uma disputa de poder pela atenção institui-se, mas não só, há também uma competição em torno do discurso pedagógico: qual é o conhecimento mais válido? O da escola – esquematizado e muitas vezes anacrônico? Ou das redes – caótico, mas fluido? Não há uma reposta para essas questões, a busca em si envolve uma conexão entre essas frentes, pois a escola, como nos traz Rojo (2017) no texto citado, precisa se fazer presente e significativa e, para tanto, estar no mundo conectado de forma natural e em diálogo constante, influenciando inclusive na formação dessa estrutura. Figura 1 – Uma escola conectada não é simplesmente um aluno com acesso a dispositivos eletrônicos Fonte: Getty Images Os corpos precisam ser recebidos pela escola em sua totalidade. E se a tecnologia, como abordamos anteriormente, é uma extensão do nosso corpo e da nossa inteligência, cabe a ela abarcar essa extensão, não querer amputá-la, como se no espaço escolar só coubesse o corpo analógico. Acreditar nisso é, em suma, tornar a escola um espaço de mutilação e destruição da criatividade e potência possíveis neste momento. Claro que a escola não precisa aceitar essa presença de forma passiva e acrítica, ao contrário, talvez seja o único lugar no qual se espera e onde seja possível uma reflexão aberta e ampla sobre a nossa relação com esse novo corpo estendido, cogitando o impacto dessa hiperconexão para nossas relações e vidas. Um ponto essencial para a pedagogia dos multiletramentos é: diversidade. Quando surge a ideia do multiletramento, na década de 1990, é sobre isso, sobre lidar com a diferença na sala de aula, os diversos modo de ver o mundo e de desejar a vida. E nesse campo diverso, as inúmeras formas de estar no mundo, a religiosidade, amar, pensar cultura e arte, comunicar-se e relacionar-se com ele. E nenhum desses fica fora da escola. Não há um modo de pensar, embora haja um modo hegemônico e favorecido pela escola; não há um tipo de corpo, uma linguagem, mas também há aqueles preferidos pelo espaço escolar. Com isso em vista, como abarcar a todas as pessoas e fazer com que se sintam parte do próprio processo educativo? Clique no botão para conferir o conteúdo. Leitura Uma Pedagogia dos Multiletramentos: Projetando Futuros Sociais? Conhece o artigo "Uma pedagogia dos multiletramentos: projetando futuros sociais?" É considerado o manifesto de idealização e inauguração da pedagogia dos multiletramentos e tem a função de contextualizar o que pensavam os autores que cunharam o termo e delinearam essa pedagogia. O texto é de 1996 e sua tradução pode ser lida a seguir. https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/5578/4503 ACESSE Fora abarcar as mídias, tecnologias e o impacto dessas na constituição dos sujeitos, cabe à pedagogia, nesse contexto, ponderar sobre o que de todo esse universo possível quer usar para a construção de uma didática que faça sentido. Assim como o aluno pode se sentir extremamente atraído por toda a parafernália que parece projetá-lo constantemente para além dos muros escolares, ou mesmo do espaço e do tempo, os profissionais também podem se perder no deslumbre, hiperlotando as atividades de ferramentas as quais, em vez de colaborarem com o processo, podem atrapalhar ou mesmo anular seus efeitos positivos e capacidades. A questão em si é não ignorar a existência desses novos membros do corpo digital humano, mas saber quando eles devem fazer parte das propostas ou não. Compreender que a multimodalidade não é dependente das tecnologias, pois qualquer texto, em si, é multimodal, mas que as tecnologias amplificam as possibilidades de mídia e as modalidades de comunicação. O que vale também aos multiletramentos, os quais não dependem só das tecnologias da informação e da comunicação para serem implementados, pois são essas um dos modos de caminhar entre camadas de sentido – embora, claro, o trabalho amplifique-se e conecte-se com o mundo dos estudantes quando é possível estar em contato com essas tecnologias. Assim como em uma partida de futebol, sabe-se que se deve usar o pé e não as mãos no jogo com a bola, saber a hora certa de articular cada meio é também compreender a função desse meio na vida do usuário. Como nos traz McLuhan (1968), o meio também é a mensagem, sua escolha e articulação também dizem de quem faz uso dele. E esse pensamento crítico sobre a presença e o uso dos meios de diversas mídias é elemento base para o papel pedagógico da escola nessa “nova” relação. Mandar um áudio ou gravar um vídeo em um aplicativo de mensagem contribui de forma diferente para a compreensão dessa mensagem pelo destinatário. Assim como auxilia-se uma criança a aprender a linguagem, elemento por elemento na construção de sentido, o mesmo ocorre com essa necessidade de, num mundo onde parece tão natural haver tantos meios de comunicação, nos relacionarmos com eles de forma metonímica, compreendendo seu papel e sua função em nossa relação discursiva com o mundo um de cada vez. https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/5578/4503 Vídeos Uma Escola entre Redes Sociais A Universidade Federal Fluminense (UFF) produziu o documentário “Uma Escola entre Redes Sociais”, apresentando o cotidiano de utilização das redes sociais por professores e estudantes de Ensino Médio do Colégio Estadual Brigadeiro Schoert, localizado na Região de Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Embora gravado em 2013-2014, como resultado de uma pesquisa realizada no ano anterior, pelo Observatório Jovem da UFF, seu conteúdo se mostra extremamente atual a partir da fala de professores e estudantes de todos os turnos, que revelaram reflexões e pontos de vida dos relacionamentos gerados pelo uso das redes no espaço escolar e comunitário. Uma escola entre redes sociais https://www.youtube.com/watch?v=vP2o472pjNs Apresentaremos a seguir o que estamos falando quando tratamos de conceitos como mídias, multimídias e hipermídias, analisando suas especificidades quando citados no contexto escolar. Logo após, no campo da Educação, trabalharemos a partir daí para integrar a escola ao que Santos (2016) denomina a “escola paralela de mídias”, buscando nesse espaço o que há de positivo e refletindo sobre o que há de negativo em seu apelo, publicidade, entretenimento, estética e valores simbólicos, reconhecendo, como também aponta a autora, que essa tem atuado como mediadora social tanto quanto outras instituições formalmente instituídas para tal. - SANTOS, 2016, p. 9 “Elaborando, decorando e atualizando perfis online, crianças e jovens integram comunidades e redes sociais, trocam mensagens instantâneas, escrevem com abreviações e inserções multimodais, produzem textos e webnovelas (SANTIAGO, 2010), copiam e compartilham conteúdo das mais variadas fontes (muitas vezes escapando da censura imposta por adultos), passam o tempo (frequentemente considerado excessivo), pesquisam, ensinam e aprendem, fazem novas amizades e cultivam as anteriores. Fazem da rede um espaço para sociabilidade, visibilidade, autoria, entretenimento e informação (de toda sorte). Esse cenário pode implicar também ânsia compulsiva por comunicação e fuga progressiva do silêncio. Oportunidades (valiosas!) e riscos (assustadores!) vão se delineando.” Conceito de Mídias, Multimídias e Hipermídias Diversos são os meios de comunicação e as mídias possíveis para a articulação das mensagens. Divididos entre primários, secundários e terciários por Charaudeau e Maingueneau (2008), pensar sobre esses é abarcar desde a fala (mídia primária) até a escrita (mídia secundária), e outros tantos suportes possíveis. Em linhas gerais, podemos exemplificar alguns tipos comuns: textos; imagens; fotografias; animação; vídeo; áudio etc. Embora categorizados separadamente e com atributos próprios, em tempos de relações mediadas o tempo todo por esses elementos, adentramos rapidamente ao conceito de multimídias e hipermídias como algo comum à nossa dinâmica com as mídias. No caso das multimídias, temos a combinação entre esses tipos para a produção da mensagem. Texto, imagem, vídeo etc. trabalham de forma orgânica e interativa para servirem de meio às mensagens de quem as articula. Os sites, por exemplo, há muito são exemplos de espaços multimídia. Mais dinâmicos do que uma revista ou jornal, estabelecem uma relação multimeios e multimensagens na nossa interação com seus conteúdos. Mas não é só no contexto da internet em que as expressões multimídias se dão, temos diversos museus multimídias, os quais colocam em relação imagem, som e outros suportes, como é o caso do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Para a composição, aliás, desses espaços multimídias, nasce com os sites e o espaço da internet os hipertextos, dos quais falamos anteriormente. Nessa dinâmica aberta e fluida da combinação entre multimídia e hipertexto, surge então o conceito de hipermídia. Portais da web contemporânea, redes sociais como Facebook ou Instagram adentram a esse movimento em que os enunciados são criados a partir de uma interação entre textos, gráficos, animações em uma relação não linear de sentido. A composição, assim, forma-se em um processo aberto e errático, muito próprio de cada um. Mídia: Mídia primária (fala), e terciárias (texto, imagens, fotografias etc); Multimídia: Combinação entre mídias para composição da mensagem; Hipermídia: Elementos multimídias de composição somados ao hipertexto. O exercício de reflexão em torno de como se compõe os meios possíveis às mensagens, ainda mais em época de tecnologias digitais, é fundamental. Isso, porque, embora pareça livre e caótico, há uma arquitetura de design pensando o hipertexto nesses meios, a qual, embora esteja em grande parte sendo controlada por algoritmos que conduzem as pessoas aos seus interesses, não está tão distante de tendências de discurso na rede – as quais, aliás, moldam a indução feita pelos próprios algoritmos. Assim, quando temos a impressão de ter acesso a tudo porque estamos na internet, só temos a uma camada destinada a nós, embora muito maior do que teríamos se assinando um jornal ou assistindo a um canal de televisão. A esse desenho de um “certo caminho” possível ao nosso desejo de conteúdo e ao nosso movimento nas redes, como trilhas feitas com pedaços de pão por João e Maria, soma-se um outo tipo de design: o visual. Fontes, cores, recortes, molduras, fotos, vídeos, sem que percebamos, a leitura desses elementos amplifica a nossa leitura, modula, organiza, indica caminhos. Não é algo novo, presente só na web, afinal, até na escola escolhe-se entre a letra cursiva ou de forma para escrever uma redação, por exemplo, e sabemos o quanto uma letra ilegível pode prejudicar nossa comunicação. Com o mundo digital, contudo, esse design ganha ainda mais potência e é fundamental que sejamos letrados em algumas de suas características para conseguimos realizar uma leitura mais ampla, aprofundada e, claro, crítica. Vídeos Algoritmos: Você está no Controle? Você sabe o que é algoritmo? Falamos tanto desse assunto, mas já parou para pesquisar do que se trata? Elementos os quais parecem conduzir nossa vida hoje em dia, influenciando desde ao nosso modo de comprar até políticas de Estado. Assista ao vídeo a seguir. Refletir sobre esses níveis de acesso e nossa condução dele, assim como de como vamos conhecendo o mundo nesse movimento, é parte essencial do trabalho de multiletramentos, pois o que temos hoje é um olhar acrítico da “navegação”, na qual parece que estamos onde gostaríamos de estar, sem qualquer impressão de termos sido levados ou conduzidos por algoritmos ou um design pensado a nós, classificados como certo tipo de usuário. Embora pareça um desafio à educação considerar esses elementos ao compor currículos e produzir conteúdos para as aulas, não está muito distante do papel crítico que se espera da escola já há tempo, quando colocamos os alunos para questionar as informações que recebiam diariamente das mídias e veículos de comunicação de massa. O enfoque crítico é o mesmo, a amplitude dos elementos que compõem é que adentram espaços de linguagens e mídias para além do texto ou da fala organizada dos teleprompters ou editorias; falar de linguagem no multiletramento é, então, falar de inclusão social, relações humanas e emancipação do sujeito na construção de seu conhecimento. Algoritmos: você está no controle? | Ricardo Cappra | TEDxBrasilia https://www.youtube.com/watch?v=wBz-xWPo1Fc Infográficos, textos em imagens e ilustrações invadem o mundo e aos alunos agora cabe reconhecer, inclusive, de forma crítica e atenta, reconhecer o que desse material é verídico ou o que é fake news. Ou seja, no multiletramento, a busca pelo conhecimento, a leitura, se dá na decodificação de elementos sutis, distorções e palavras escritas erradas, por exemplo, que podem auxiliar na curadoria de informações nas quais se possa confiar ou não. Clique no botão para conferir o conteúdo. - GRUPO NOVA LONDRES, 2021, p. 102 Leitura Na Dúvida Experimenta Você conhece os filmes “Mera Coincidência” e “O Quarto Poder”? Na década de 1990, essas duas obras colocavam em questão o papel da mídia nos caminhos políticos, sociais e de comportamento da humanidade. Pense então como essa equação fica ao inserirmos o uso da internet pelos canais de mídia. Leia um resumo sobre esses dois filmes a seguir e, se possível, assista a eles. “[…] o uso de abordagens da pedagogia dos multiletramentos permitirá que os alunos alcancem duplamente objetivos de aprendizagem do campo do letramento: evoluindo no acesso à linguagem do trabalho, do poder e da comunidade, e fomentando o engajamento crítico necessário para projetar seu futuro social, alcançando sucesso por meio de trabalhos realizadores.” ACESSE Imagine, então, nessa realidade volátil, no qual a experiência de aprendizagem e letramento se dá em meio a diversas linguagens e a saltos diversos entre diversos conteúdos, no qual o sujeito vai velozmente acessando dezenas de vídeos e materiais sem nem mesmo perceber, tirando de tudo aquilo uma concepção de si e do mundo ao final, imagine quando ele chega à escola e dá de cara com um espaço no qual o processo se dá de modo linear, organizado e marcado por um outro tempo, muito vezes mais lento. Um choque, não é? http://naduvidaexperimenta.blogspot.com/2017/04/o-quarto-poder-e-mera-coincidencia_25.html Figura 3 – A escola tem um papel decisivo na relação entre os sujeitos, para além das tecnologias, mas também com ela Fonte: Adaptada de Getty Images E não que o processo mais lento e organizado seja algo negativo, de modo algum, embora muitas vezes existam, sim, conteúdos no currículo, já há muitos desatualizados e sem sentido para a contemporaneidade. Tal processo é, em si, muito importante para ser um contraponto a essa vertigem. Contudo ele não pode abrir mão dessa realidade hipermidiática e simplesmente fingir que ela não existe, impondo lousa, conversas de 50 minutos e livros e apostilas que emulam sites em sua diagramação, e só. O cerne dos multiletramentos é, em si, compreender essa natureza híbrida, colaborativa, aberta e interativa da linguagem e dos textos hoje e trazer isso para o trabalho em sala. Há um mundo de sentidos, os quais se estabelecem por todos os lados e diversas formas. Tal processo de ensino, claro, vai além de uma mera navegação em site, pois ali temos uma figura essencial e que muda completamente esse jogo da “navegação”: o professor. Do qual falaremos mais no próximo tópico. Conceito de Professores-Curadores Como citado anteriormente, tem se destacado a preocupação em torno do acesso básico às TICs no ambiente escolar, pois elas são essenciais para que se possa privilegiar as diversas experiências voltadas a ver, ler, interpretar, comunicar e sentir o mundo, as quais são ponto- chaves ao multiletramento. Tal preocupação é, sim, importante, tendo em vista que muitos lugares do Brasil até hoje não têm acesso de qualidade à internet. Mesmo depois da imersão obrigatória dos estudantes no ensino remoto durante o distanciamento social de 2020 e 2021 por conta da pandemia de covid-19, não foi por toda as áreas do país que o acesso à rede se tornou possível com qualidade. Fora isso, mesmo as escolas que têm esse acesso, em grandes centros urbanos, carecem de equipamentos para os alunos e para os professores, o que inviabiliza muitos projetos. Nesse cenário, professoras acabam usando de equipamentos próprios ou do acesso de alunos a smartphones para viabilizar seus projetos e trazer para a sala um pouco da realidade hipermidiática que eles encontram fora dela. Figura 4 – O Multiletramento é uma pedagogia voltada para pensar, sentir, ver, ouvir, ler, interpretar, comunicar e mais todas as formas de apreender o mundo, no que isso é privilegiado pelas tecnologias Leitura Multiletramentos na Escola: O Uso do Celular e do WhatsApp nas Aulas de Produção Textual em Língua Portuguesa Leia o artigo a seguir, que se centra na discussão sobre a inserção das TICs em sala de aula, aqui abordando incluindo celular e WhatsApp para conduzir e refletir sobre práticas sociais de leitura e de escrita. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Contudo, como também falamos anteriormente, o multiletramento privilegia as diversas formas de ler, ouvir, ver e sentir o mundo, e para tal, o educador, além de também dominar as tecnologias que viabilizam hoje esse acesso ao mundo, precisa ele mesmo formar-se para além de usuários comuns dessas diversas formas, mas usuários críticos e conscientes dos processos. Assim, não mais pensando somente nas tecnologias e tecnologias digitais, o professor inicia um processo ativo de compreensão da lógica hipermidiática e torna-se um curador dos conteúdos que devem vir para sala por seu valor cultural ou reflexivo. Não é diferente de quando uma professora de Literatura escolhia um poema em meio à obra diversa de Drummond ou mesmo quando uma professora de Química escolhia uma experiência entre tantas, mas obviamente envolve uma gama de elementos mais amplos e dos quais os alunos, muitas vezes, têm maior domínio do que ela. Isso mesmo, no mundo digital, os alunos são nativos e os professores, ainda em sua maioria, imigrantes. E mesmo quando nativos, até - SOUZA, 2011 “Apesar de a curadoria ser vista como algo que o professor já realizava para elaborar a sua aula, tendo o aspecto digital como o principal traço distintivo dessa inovação, ela não surge como um “mais do mesmo”, mas traz um deslocamento para a práxis docente e o move da sua rotina profissional.” https://seer.ufu.br/index.php/letraseletras/article/view/35204 por conta do tempo escasso em torno do trabalho, dificilmente conseguem acompanhar as mudanças e os trending topics para sempre estarem atualizados a respeito dos memes do momento em suas aulas. Glossário Trending Topics: são os temas que são tendência em determinado recorte temporal em diversas redes sociais. Muitas vezes quantificados a partir do uso de hashtags (#) pelos usuários, eles têm a importância de mostrar temas de interesse aos usuários da internet. É como dizer que algo está “na boca do povo”. Seu valor cultural e político atualmente é inegável, foi graças a esse tipo de quantificação da opinião pública que hashtags como #vidasnegrasimportam, contra o racismo, ou #metoo, contra o assédio sexual, tiveram tanta importância na história recente do mundo. Leitura Memes: Formações Discursivas que Ecoam no Ciberespaço Muitas vezes no topo do ranking dos assuntos do momento está um Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE E não deve ser um problema que professores não consigam se atualizar na mesma velocidade que seus alunos. Como dito, o(a) professor(a) deve fazer uma curadoria de conteúdo e estar aberta à colaboração e interatividade propícia ao multiletramento por parte desses. Assim, o trabalho da curadoria envolve um planejamento que considera algum tipo de acesso, centrada no uso e estudo reflexivo daquela fonte de conhecimento, de forma objetiva e propositiva, interativa e crítica, para que, por fim, possa o aluno também produzir seu próprio conteúdo e atuar ele de forma crítica no mundo. Figura 5 meme, outro termo muito usado atualmente, você sabe definir esse conceito? Já parou para pensar nele? Leia o artigo a seguir. https://pdfs.semanticscholar.org/defa/06f680c859f3494f7eab466032afe7329384.pdf?msclkid=8bdf1ec5ba5711eca5958c057b353f7f Segundo o documento Padrões de Competência em TIC: Módulos de Padrão e Competência da Unesco (2008 apud SILVA; HESSEL, 2021), a curadoria para o professor envolve as seguintes ações: Nesse processo, os alunos são mediados a certa posição, a qual envolve as seguintes ações segundo o mesmo documento da Unesco (2008 apud SILVA; HESSEL, 2021): Gerir e adquirir conhecimento pedagógico e sobre a matéria; Saber onde e quando usar (e não usar) a tecnologia nas atividades em sala de aula; Usar diversas ferramentas abertas de tecnologia; Escolher e utilizar tutoriais, jogos, exercícios, prática e conteúdo da web em laboratórios de informática; Usar as TDIC para o autêntico desenvolvimento profissional do professor. Deve-se buscar a resolução de problemas complexos (relacionados a diversos temas, como: meio ambiente, segurança alimentar, saúde e soluções de conflitos); Deve-se incentivar o aprendizado colaborativo, por intermédio de problemas e projetos, para que o aluno entenda que esse conhecimento os leva a confrontar-se com problemas no dia a dia e situações complexas; O docente deve prover questões-problema, apoiar projetos colaborativos e orientá- los; Os projetos colaborativos devem utilizar a rede, para que os alunos cooperem entre si; O professor deve formar uma comunidade de aprendizagem com os alunos e na sala de aula. A posição questionadora do docente curador, segundo Silva e Hessel (2021), envolve não só um olhar crítico aos conteúdos escolhidos, ao uso da tecnologia, mas a todo o processo de ensino e aprendizagem abarcado. Como a quebra de uma quarta parede, no qual a escola é uma realidade inquestionável por seus atores, aqui o curador não só traz do mundo digital e analógico o que julga interessante ao grupo, mas ensina a esse mesmo grupo o seu próprio processo de curadoria. Assim, pode o aluno, com as mesmas ferramentas e processos, tornar-se ele também um curador. Mediação e Curadoria A mediação, assim, é uma posição inerente à prática diária da educação, ela se volta para a interação. A curadoria, por sua vez, pauta-se no planejamento e nas diversas possibilidades de organização do processo a ser mediado. Figura 6 Em ambas, deparamo-nos com um mundo de possibilidades de metodologias e métodos que busca trazer diretrizes para mediação e à curadoria, envolvendo as etapas-chave a elas: diagnóstico, desenvolvimento e avaliação. Falaremos um pouco sobre elas em um futuro momento de conhecimento. É importante destacar que na pedagogia do multiletramento, mediação e curadoria focam no papel da diversidade na escolha dos textos, dos materiais de estudo e também nos resultados das atividades propostas. A cultura, não mais em letra maiúscula, é fragmentada por culturas que se complementam e chocam, cabendo aos educadores articularem esse movimento, sabendo ser a escola um lugar privilegiado para trabalhar os conflitos e a benesses resultantes daí. É no campo da heterogeneidade, então, na qual a mediação acontece e para a qual a curadoria se volta. Surge aqui novamente o conceito de design, mas um design de sentido. Muitas vezes na contramão homogeneizadora do design da arquitetura delineada pelos algoritmos ou ainda não se deixando hipnotizar pelo design gráfico dos conteúdos com os quais tem contato, o educador é também ele o designer do processo de aprendizagem e precisa estar ciente disso para antever - ROJO, 2012, p. 14 “Essa visão desessencializada de cultura(s) já não permite escrevê-la com maiúscula – A cultura – pois não supõe simplesmente a divisão entre culto/inculto ou civilização/barbárie, tão cara à escola da modernidade. Nem mesmo supõe o pensamento com base em pares antitéticos de culturas, cujo segundo termo pareado escapava a esse mecanicismo dicotômico – cultura erudita/popular, central/marginal, canônica/de massa – também esses tão caros ao currículo tradicional que se propõe a ensinar ou a apresentar o cânone ao consumidor massivo, a erudição ao populacho, o central aos marginais.” sua responsabilidade mesmo diante de um mundo que parece dispensá-lo para dar acesso a um baú de conteúdos prontos e fáceis de articular. Aqui, colocamos em evidência o quanto, embora o professor se coloque na posição de mediador e curador, como dito, ele não faz esse processo sem deixá-lo em evidência, pois sua intenção é que o aluno se torne ele mesmo também mediador de seu próprio processo e do coletivo que faz parte e curador dos conteúdos os quais tem interesse, de forma crítica e reflexiva, trazendo para o espaço da escola também suas contribuições, apropriando-se do espaço escolar como seu e dos outros. Acesso se torna não só um espaço de coleta de conteúdo para trabalhos e reprodução em sala, mas um movimento natural de produção do saber, de si e da própria escola. Ao fim, em resumo, o aluno é, assim como o professor, pesquisador habilitador, mediador, curador e designer de seu próprio conteúdo, ou seja, não só um consumidor passivo, mas também um criador ativo. - GRUPO NOVA LONDRES, 2021, p. 102 “Ao endereçar a questão “o quê” na pedagogia do letramento, propomos uma metalinguagem dos multiletramentos baseada no conceito de “design”. Design se tornou central nas inovações no ambiente de trabalho, assim como em reformas escolares para o mundo contemporâneo. Professores e gestores são vistos como designers dos processos e dos ambientes de ensino, não como chefes ditando o que aqueles que estão sob seus comandos devem pensar e fazer. Adicionalmente, alguns argumentaram que a pesquisa educacional deve se tornar uma ciência do design, estudando como diferentes designs curriculares, pedagógicos e de sala de aula motivam e alcançam diferentes tipos de aprendizagem.” Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Curadoria - Mario Sergio Cortella 2 / 3 ˨ Material Complementar Curadoria - Mario Sergio Cortella https://www.youtube.com/watch?v=7Sy9SrbLlKo Multiletramentos – Entrevista com Roxane Rojo Leitura Linguagem em Foco Leia a revista Linguagem em Foco, v. 13, n. 2, 2021, em homenagem aos 25 anos da publicação do Manifesto da Pedagogia dos Multiletramentos. Clique no botão ao lado para conferir o conteúdo. ACESSE Multiletramentos - Entrevista com Roxane Rojo https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/issue/view/312 https://www.youtube.com/watch?v=iDu6TvO4svU Prática Pedagógica de Multiletramentos em Contexto de Escola Pública Clique no botão ao lado para conferir o conteúdo. ACESSE https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisticos/article/view/2197/1787 ALMEIDA, C. P. O perfil do professor de Língua Portuguesa para o ensino da Língua Materna. In: PAIVA, F. J. de O.; LIMA, A. M. P. (org.). Pesquisas em análise do discurso, multimodalidade & ensino: debates teóricos e metodológicos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2020. v. 2. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. BAKHTIN, M. M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1988. BALADELI, A. P. D. Hipertexto e multiletramento: revisitando conceitos. E-scrita, Nilópolis, v. 2, n. 4, 2011. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionário de análise do discurso. Trad. Fabiana Komesu. 2ª. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2008. CHARTIER, R. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2002. COSCARELLI, C. V.; RIBEIRO, A. E. (org.). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. 3ª. ed. Belo Horizonte, CEALE: Autêntica, 2014. (e-book) 3 / 3 ˨ Referências EVERETT, D. Linguagem: a história da maior invenção da humanidade. São Paulo: Editora Contexto, 2019. GRUPO NOVA LONDRES. Uma pedagogia dos multiletramentos: projetando futuros sociais. Rev. Linguagem em foco. Fortaleza, v. 13, n. 2, 2021. Disponível em: . Acesso em: 19/01/ 2022. INAF BRASIL. Indicador de alfabetismo Funcional. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. KENSKI, V. M. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas, SP: Papirus, 2015. (e-book) KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2003. LEMKE, J. L. Letramento metamidiático: transformando significados e mídias. Trab. Ling. Aplic., Campinas, SP, v. 49, n. 2, p. 455-479, 2010. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 2011. MEYER, A. I. S. Hipertextos e gêneros digitais: conceitos e características. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, São Paulo, ano 5, 10ª ed., v. 15, p. 87-108, 2020. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. PAIVA, F. J. O.; LIMA, A. M. P. (org.). Pesquisas em análise do discurso, multimodalidade & ensino: debates teóricos e metodológicos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2020. v. 2. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. PINHEIRO, P. A. Sobre o manifesto "a pedagogy of multiliteracies: designing social futures" – 20 anos depois. Trab. Ling. Aplic., Campinas, SP, v. 55, n. 2, p. 525-530, 2016. Disponível em: . Acesso em: 04/03/2021. RIBEIRO, A. E. Escrever, hoje: palavra, imagem e tecnologias digitais na educação. São Paulo: Parábola, 2018. 128 p. ROCHA, D. G. R.; OTA, M. A.; HOFFMAN, G. (org.). Aprendizagem digital: curadoria, metodologias e ferramentas para o novo contexto educacional. Porto Alegre: Penso, 2021. (e-book) ROJO, R. Entre plataformas, ODAs e protótipos: novos multiletramentos em tempos de web2. The Especialist: descrição, ensino e aprendizagem, São Paulo, v. 38, n. 1, p. 1-20, 2017. Disponível em: . Acesso em: 04/03/2021. SANTAELLA, L. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. SANTOS, E. (org.). Mídias e tecnologias na educação presencial e a distância. Rio de Janeiro: LTC, 2016. (Série Educação). (e-book) SCHMITT, B.; RIBAS, G. S.; FREITAS, E. C. O letramento multimodal na escola: estabelecendo uma relação entre o eu e a sociedade. Diálogo das Letras, Pau dos Ferros, v. 7, n. 1, p. 96-112, 2018. Disponível em: . Acesso em: 04/03/2021. SILVA, C. S. G. HESSEL, A. M. D. G. A docência como curadoria: experiências pedagógicas no uso de tecnologias educacionais. RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 107-126, 2021. Disponível em: . Acesso em: 19/01/2022. TANZI NETO, A.; PRADO, C. V. Movimentos ready-made, pop art e de remidiação no ensino de línguas. The Especialist: descrição, ensino e aprendizagem. São Paulo, v. 38, n. 1, 2017. Disponível em: . Acesso em: 05/03/2021.