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Fernanda Rodrigues DOR PSICOGÊNICA (NOCIPLÁSTICA) 1. Compreenda a dor psicogênica (nociplástica) Toda dor tem um componente emocional associado, o que varia é sua magnitude. A dor denominada psicogênica, porém, é uma condição inteiramente distinta, na qual não há substrato orgânico, sendo gerada por condições emocionais. A localização e a distribuição da dor causada primariamente por um distúrbio psicológico ou psiquiátrico geralmente não se encaixa nos padrões neuroanatômicos normais. Exemplos incluem a dor com distribuição de luva ou de estocadas, dor envolvendo todo o corpo ou várias dores dispersas por todo o corpo. A irradiação não segue dermátomos. Observado em distúrbios psicológicos como na depressão e ansiedade generalizada. Embora essa seja uma denominação comumente utilizada para dores sem patologia observável associada, certamente não é um fingimento ou causada inteiramente por processos misteriosos da mente do paciente. Mais frequentemente, é um comportamento de dor causado por fatores ambientais. Outros pacientes apresentam síndromes miofasciais ignoradas por seus médicos. O uso apropriado deste termo diagnóstico requer achados positivos que sugerem que processos mentais são a única causa da queixa do paciente. Esse não deve ser um diagnóstico de exclusão, quando não há achados físicos que expliquem os sintomas apresentados. Dor psicogênica é um tipo de dor em relação à origem, nesse caso, resultado da interação entre fatores físicos e psicológicos. Também conhecida como psicofisiológica, está muito ligada ao medo e a ansiedade, que tendem a tornar os neurônios mais sensíveis à dor por reduzirem os níveis das substâncias que modelam essa sensação. Em muitos casos o problema surge após a resolução da causa da dor, ou seja, o incômodo persiste, e muitas vezes se torna ainda mais intenso, apesar da sua origem já ter sido tratada. Para ser classificada como psicogênica, a dor não deve envolver nenhum mecanismo nociceptivo ou neuropático. Os sintomas psicológicos são suficientes para explicá-la, embora seu caráter subjetivo torne o diagnóstico mais complexo e demorado. 1 Fernanda Rodrigues Sendo assim, é necessária uma avaliação médica criteriosa de cada paciente com intuito de identificar a origem da dor. Nesses casos, os exames geralmente são inconclusivos e não demonstram nenhuma alteração física, não evidenciando enfermidade alguma. Um bom exemplo são pacientes que procuram o médico com queixas de dores no peito, mas não apresentam problemas fisiológicos no coração. Sintomas cardíacos são bastante comuns em pacientes fóbicos. Características da Dor Psicogênica: – Tende a ser uma dor difusa ou de localização imprecisa. – Algumas vezes, pode ser bem localizada, mas, nesse caso, sua topografia corresponde à da imagem corporal que o paciente tem da estrutura que julga doente. – Assim, se ele imagina ter um infarto do miocárdio, a área dolorida localiza-se no mamilo esquerdo e não na região retroesternal ou na face interna do braço esquerdo, como ocorre na dor por isquemia miocárdica. A dor psicológica causa uma dor física real, embora não esteja relacionada a alterações fisiológicas. Seria possível ao paciente com dor no coração identificar se é uma dor física ou se trata-se de apenas um sintoma psicológico? Infelizmente, não. A dor psicológica causa uma dor física real, embora não esteja relacionada a alterações fisiológicas. Geralmente, o sintoma tem similaridades com dores já experimentadas em outros momentos da vida, que retornam através da memória da dor causando episódios dolorosos repetitivos e intensos. Cada paciente descreve a sua dor de uma forma. Em sua maioria, queixam-se de dor austera e profunda, como uma facada. Outros dizem ter a sensação de que estão encostando feridas em ferro quente. Dentre as mais comuns, dor de cabeça, dor muscular, dor nas costas, dor no peito e dor no estômago são frequentemente diagnosticadas como dores psicogênicas. Se você tem histórico para esse tipo de dor, pode suspeitar sim que alguns sintomas possuem origem psicológica. Contudo, em todo caso, uma investigação é importante para descarte de possíveis alterações físicas envolvidas. Mecanismo da dor O mecanismo da dor psicogênica ainda é pouco compreendido, embora venha chamando a atenção de estudiosos. Acredita-se que fatores ambientais podem estar envolvidos, em especial aqueles relacionados a alterações do estado e da função do sistema nervoso. Até então é aceita a participação de uma combinação complexa de eventos envolvendo questões físicas e psicogênicas. 2 Fernanda Rodrigues No entanto, cada caso é único e deve ser avaliado de maneira individualizada. Situações particulares estão envolvidas com a iniciação dos sintomas e podem ser associadas às suas causas. Basta comparar as reações de diferentes indivíduos em circunstâncias similares. Talvez você sinta muita dor de cabeça quando passa por momentos estressantes, enquanto outros indivíduos descrevem dor no peito, por exemplo. Mais uma vez ressaltamos a importância da análise clínica de cada paciente. “A dor, por ser diretamente influenciada por fatores psicológicos, irá demandar um acompanhamento com equipe multidisciplinar, que deverá contar com um psicólogo ou um psiquiatra.” Tratamento para dor psicogênica Embora ainda se entenda pouco sobre o mecanismo por trás desse tipo de dor, e suas causas ainda não sejam conhecidas, existem diferentes opções terapêuticas capazes de ajudar pacientes que convivem com esse problema. O tratamento deve ser adequado às necessidades individuais de cada paciente com o objetivo de melhorar tanto sua saúde física como psicológica. Tratamento medicamentoso Alguns medicamentos podem ajudar no alívio da dor. O tratamento medicamentoso é importante para controlar possíveis complicações da dor psicogênica como insônia, ansiedade e depressão. Antidepressivos tricíclicos como a imipramina e os inibidores seletivos de serotonina e noradrenalina são os mais usados nesses casos. O uso de fármacos deve ser feito estritamente sob prescrição médica. A automedicação é contraindicada e pode trazer prejuízos à saúde. Psicoterapia Geralmente, a psicoterapia é o primeiro recurso terapêutico escolhido para combate a dor psicogênica. O tratamento é realizado por meio do diálogo entre o paciente e o terapeuta, que lança mão de diferentes ferramentas na tentativa de ajudar o indivíduo a compreender a si mesmo, seus sentimentos e comportamentos. Com a ajuda de um psicólogo, é possível se aproximar das causas da dor, tratar distúrbios psicológicos e eliminar sintomas que prejudicam a qualidade de vida do indivíduo. Técnicas de relaxamento Aquietar o corpo é um meio de aquietar também a mente. Hoje em dia muitas pessoas sentem dificuldades de relaxar. Aprender a assumir o controle de si mesmo é muito importante. As técnicas de relaxamento são uma excelente forma de lidar com a dor psicogênica. 3 Fernanda Rodrigues É preciso treino para controlar a respiração. Você não conseguirá fazer isso enquanto faz suas atividades diárias. Sendo assim, é necessário um momento específico, um tempo para que você possa acessar a sua mente e estimular o seu corpo a encontrar calmaria. Alguns profissionais podem te ajudar nesse sentido, em especial o terapeuta. Geralmente, músicas leves, chás, um ambiente confortável, massagens corporais são boas alternativas para você que deseja começar sozinho. Técnicas de meditação A meditação é o caminho para quem precisa desenvolver disciplina emocional, o que pode ajudar muitas pessoas que sofrem com dores psicogênicas. A técnica é super acessível e você pode optar por contar com a ajuda de um profissional ou mesmo fazer sozinho. Meditar é uma forma de aquietar a mente,lidar com o estresse do mundo e assumir o controle de si. Essa é uma excelente ferramenta para lidar com fatores que estejam nos influenciando negativamente. Os benefícios são muitos, melhora a concentração, a consciência, promove autodisciplina, relaxamento muscular e ajuda a focar a mente, propiciando o alcance de um estado de maior clareza mental. TENS Muito usada no tratamento dos mais diversos tipos de dores, a sigla TENS vem do inglês Transcutaneous electrical nerve stimulation, que significa neuroestimulação elétrica transcutânea, técnica baseada na teoria das comportas de dor. Sua principal finalidade é a analgesia, para a qual tem se mostrado bastante efetiva. O método é seguro, rápido e não invasivo. Além disso, pode ser usado para dores crônicas e agudas de diferentes origens, reduzindo a necessidade de uso de medicamentos, que poderiam vir a causar efeitos colaterais. Na prática, consiste na aplicação de impulsos elétricos na pele por meio de aparelhos específicos. A eletricidade ativa mecanismos internos de controle da dor, fazendo com que o sistema nervoso libera analgésicos naturais, ou bloqueando os sinais de dor enviados ao cérebro. O procedimento dura entre 20 a 40 minutos e pode ser realizado no consultório, não há necessidade de anestesia e os riscos de complicações são baixíssimos. A maioria dos pacientes apresenta ótimos resultados, ficando satisfeitos com o tratamento. Biofeedback O biofeedback também é muito usado no tratamento da dor psicogênica. A ideia é permitir que a pessoa desenvolva autorregulação, o que pode ser útil nos mais diversos distúrbios. 4 Fernanda Rodrigues O indivíduo aprende a regular suas reações fisiológicas e emocionais por meio de um treinamento que envolve conscientização e relaxamento, principalmente. Todo esse processo torna-se possível por meio da medição de processos biológicos como frequência cardíaca, pressão arterial, tensão muscular, atividade cerebral, entre outros. A partir dessa análise a percepção corporal do indivíduo é ampliada, o que permite não só o controle da dor psicogênica, mas alivia dores de cabeça, melhora a concentração e ajuda na prevenção de diversas doenças, inclusive de problemas no coração. Um aparelho sensível a tais processos fisiológicos é utilizado para amplificar cada resposta, convertendo-as em informações significativas, em sua maioria sinais visuais. São esses sinais que guiarão o paciente ao autocontrole. Fisioterapia A fisioterapia oferece diversos recursos para pacientes que sofrem com dor psicogênica. O tratamento exige uma avaliação completa do paciente para que se descubra quais são os instrumentos válidos para cada caso. Geralmente, conta-se com uma equipe multidisciplinar, o que traz uma abordagem mais abrangente. Além de melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, o tratamento coopera para a reabilitação e controle dos sintomas. São muitas as vantagens e praticamente nulos os riscos de complicações. Deve-se, contudo, sempre respeitar os limites de cada um. A termoterapia, a eletroterapia, a cinesioterapia e as massagens são alguns dos recursos mais usados. Uma combinação deles pode ser indicada, potencializando os resultados do tratamento. REFERÊNCIA: – Onofre – Psicofisiologia da dor: uma revisão bibliográfica. 2. Sobre a Fibromialgia, discorra: a) Conceito. A fibromialgia (FM) é uma síndrome clínica comumente observada na prática médica, sem etiopatogenia bem definida. Sua prevalência atinge até 5% da população geral e, no Brasil, é a segunda doença reumática mais comum depois da osteoartrite. b) Etiologia. É uma síndrome dolorosa crônica que afeta principalmente o sistema musculoesquelético. Ainda não é bem conhecida. Acredita-se que sua causa seja, essencialmente, multifatorial, com aspectos genéticos e psicológicos exercendo papel sobre o desenvolvimento da doença. 5 Fernanda Rodrigues Epidemiologia da fibromialgia A fibromialgia (FM) é uma das condições clínicas dermatológicas mais comuns, sendo uma causa frequente de dor crônica, atrás apenas da osteoartrite, e a causa mais comum de dor musculoesquelética generalizada em mulheres entre 20 e 55 anos. Em estudos feitos nos EUA e na Europa a prevalência encontrada foi de até 5% na população geral e ultrapassou 10% dos atendimentos em clínicas reumatológicas. No Brasil, estima-se que a prevalência seja de 2,5%, predominante no sexo feminino, principalmente entre os 35 e 44 anos. A FM é mais comum em mulheres do que homens e ocorre em crianças e adultos. É seis vezes mais comum em mulheres em relatórios de clínicas especializadas, embora a predominância do sexo feminino não seja tão marcante na comunidade e quando se usa critérios de pesquisa que não requerem um exame de pontos dolorosos. c) Fisiopatologia. O que é a fibromialgia? A fibromialgia (FM) é uma síndrome de amplificação da dor, ou seja, o cérebro e a medula espinhal processam a dor de forma exagerada. Isso faz com que os pacientes sejam muito sensíveis a estímulos que normalmente não seriam dolorosos, como toque leve, frio, calor ou pressão. Além disso, há sensibilidade aumentada à luz, som e cheiros. O que acontece no sistema nervoso? 1. Sensibilização central ○ Normalmente, o sistema nervoso precisa de um certo nível de estímulo para gerar dor. Mas na fibromialgia, esse limiar é muito baixo. Pequenos estímulos já ativam os circuitos de dor, tornando o paciente cronicamente sensível. ○ Isso acontece porque há uma redução no limiar nociceptivo (nível mínimo para sentir dor) no corno dorsal da medula espinhal e no encéfalo. 2. Mecanismo do "wind-up" (somação temporal da dor) ○ Imagine que cada estímulo doloroso seja como um "botão de volume" da dor. Nos pacientes com FM, esse botão vai aumentando de volume a cada estímulo repetido, intensificando a dor. ○ Isso ocorre porque um receptor chamado NMDA, que normalmente fica inativo, é ativado por excesso de glutamato (um neurotransmissor), permitindo grande influxo de cálcio e amplificando os sinais de dor. 6 Fernanda Rodrigues 3. Participação das substâncias químicas do sistema nervoso ○ Substância P: encontrada em níveis três vezes maiores no líquido cefalorraquidiano de pacientes com FM. Essa substância amplifica e espalha a dor no sistema nervoso. ○ Serotonina e norepinefrina: substâncias que ajudam a inibir a dor estão em menor quantidade, prejudicando o alívio da dor. ○ Receptores opióides: são menos ativados, o que significa que os analgésicos comuns podem ser ineficazes. ○ GABA: neurotransmissor inibitório que também tem redução na sua ação, dificultando o controle da dor. Por que a dor é persistente? 1. Excitabilidade exagerada dos neurônios da medula espinhal: os neurônios ficam hiper-reativos mesmo com poucos estímulos. 2. Ampliação dos campos receptivos: significa que uma dor localizada pode se espalhar para outras regiões do corpo. 3. Recrutamento de estímulos não-dolorosos: coisas normais, como um simples toque, podem ser interpretadas como dor intensa (fenômeno chamado alodinia). Impactos no dia a dia do paciente ● Pequenas atividades do dia a dia, como pegar um objeto ou vestir uma roupa, podem gerar dor intensa. ● Como o sistema nervoso está sempre "ligado", o alívio da dor demora muito tempo. Isso explica por que muitas intervenções médicas de curta duração não funcionam. ● Distúrbios do sono e alterações hormonais também agravam a fibromialgia, piorando a qualidade de vida. d) Quadro clínico. 1. O principal sintoma: DOR CRÔNICA E DIFUSA A dor na fibromialgia é: ✅ Crônica (dura meses ou anos). ✅ Difusa (espalhada pelo corpo, sem localização exata). ✅ Variável (pode mudar de intensidade e local). 📌 O paciente pode sentir dor em áreas como músculos, ligamentos,tendões e bursas (estruturas próximas às articulações). Muitas vezes, ele aponta para a dor, mas não consegue especificar exatamente onde dói. 🔹 Fatores que pioram a dor: ● Estresse emocional 🧠 ● Esforço físico ● Frio ❄ 7 Fernanda Rodrigues 2. Sensações estranhas: parestesia e edema subjetivo 🔸 Muitos pacientes relatam formigamento (parestesia) e sensação de inchaço (edema), principalmente nas mãos e nos antebraços. ❗ Mas atenção: quando o médico examina, não encontra nenhum inchaço real ou inflamação. 📍 Outros sintomas que podem estar presentes: ● Fenômeno de Raynaud (mãos e pés frios, que mudam de cor com a temperatura). ● Boca seca. ● Tontura e outros sintomas de disautonomia (problemas na regulação automática do corpo, como pressão e temperatura). 3. Os famosos tender points (pontos dolorosos) 📌 São 18 pontos específicos (9 pares), que ficam doloridos ao toque com uma pressão leve (cerca de 4 kg/cm², equivalente à pressão do dedo). 💡 Quando o médico aperta essas áreas, o paciente sente dor e pode até retirar a região pressionada rapidamente. 8 Fernanda Rodrigues 4. Fadiga e sono não reparador 🛏 O paciente acorda cansado, mesmo dormindo a noite toda. 📉 Isso acontece porque o sono profundo (fase delta) é interrompido por ondas alfa, que são típicas do estado de vigília. 😴 Ou seja, mesmo dormindo, o cérebro do paciente não relaxa completamente, o que piora o cansaço e a dor. 5. Problemas emocionais: depressão e ansiedade 📌 Muitos pacientes com fibromialgia apresentam transtornos de humor, como: ✅ Depressão maior 😞 ✅ Ansiedade 😟 ✅ Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) 🔄 ✅ Síndrome do pânico 😰 💡 Esses problemas podem agravar a dor e dificultar o enfrentamento da doença. Além disso, podem reduzir a produtividade no trabalho, levando ao afastamento. 6. Sintomas satélites (outras doenças associadas) A fibromialgia pode estar acompanhada de outros problemas, que pioram ainda mais a qualidade de vida: ● Síndrome da fadiga crônica (cansaço extremo sem explicação). ● Síndrome do cólon irritável (dor abdominal e alterações no intestino). ● Cistite intersticial (dor na bexiga sem infecção). ● Cefaleia (dor de cabeça) crônica. ● Disfunção da articulação temporomandibular (ATM) (dor ao mastigar ou abrir a boca). ● Síndrome das pernas inquietas (sensação de desconforto nas pernas à noite, causando insônia). 📌 Resumo final A fibromialgia não causa apenas dor. Ela afeta o sono, a energia, o humor e vários outros sistemas do corpo, tornando a vida dos pacientes muito difícil. Além da dor difusa e crônica, sintomas como fadiga, distúrbios do sono e transtornos emocionais são frequentes, piorando a qualidade de vida e dificultando o diagnóstico. e) Diagnóstico. Em 1990, a American College of Rheumatology criou critérios para classificação da fibromialgia. No entanto, esses critérios foram criados com o objetivo de facilitar a condução de ensaios clínicos, não para uso na prática clínica. De qualquer forma, acabaram por ser adotados por muitos profissionais para o diagnóstico de fibromialgia. Tais critérios estão descritos abaixo: ●Dor musculoesquelética generalizada: presente nos últimos 3 meses, deve aparecer nos quatro quadrantes (divide-se o corpo abaixo e acima da cintura e dos lados direito e esquerdo). A dor também deve envolver uma área axial, como coluna cervical, torácica e lombar ●No exame físico, indução da dor à palpação em 11 dos 18 tender points: 9 Fernanda Rodrigues •Suboccipital: na inserção do músculo subocciptal •Cervical baixo: na altura do ligamento intertransverso C5-C6 •Segunda junção costocondral: lateral à junção, na origem do músculo peitoral maior •Trapézio: ponto médio da borda superior do músculo •Supraespinhoso: acima da escápula, próximo à borda medial •Epicôndilo lateral: 3 a 5 cm distal ao epicôndilo lateral •Glúteo médio: na parte média do quadrante superoexterior, na porção anterior do músculo glúteo médio •Trocantérico: posterior à proeminência do grande trocânter •Joelho: no coxim gorduroso, pouco acima da linha média do joelho. No entanto, essa classificação limitava a investigação da doença na medida em que não levava em consideração alterações do sono, fadiga e distúrbios cognitivos. Assim, em 2010, a American College of Rheumatology mais uma vez se reuniu e elaborou os critérios de 2010, utilizando o índice de dor generalizada (IDG) e a escala de gravidade dos sintomas (EGS). Neste critério foram retirados os pontos dolorosos e incluídos outros sintomas além da dor. Eles devem estar presentes na mesma intensidade, há pelo menos 3 meses, e não pode existir outra condição que os justifique. Foram estabelecidos dois escores para avaliação da FM, um referente à dor e outro aos sintomas associados. O índice de dor generalizada (IDG) é formado por 19 possíveis áreas dolorosas. Já a escala de gravidade dos sintomas (ES) pontua até 12 pontos, de acordo com a gravidade dos sintomas. ● IDG: Marcar as áreas em que o paciente sentiu dor nos últimos 7 dias. ● EGS: Marcar a gravidade dos seguintes sintomas nos últimos 7 dias • Fadiga (cansaço ao executar atividades): (0) (1) (2) (3) • Sono não reparador (acordar cansado): (0) (1) (2) (3) • Sintomas cognitivos (dificuldade de memória, concentração): (0) (1) (2) (3) Sendo que: 0 = ausente; 1 = leve ou intermitente; 2 = moderado: intensidade moderada, sintoma geralmente presente; 3 = grave: sintoma persistente, contínuo, com prejuízo da qualidade de vida e funcionalidade. Subtotal:___________ (máximo de 9). Sintomas somáticos: responder às seguintes questões Você apresentou um desses sintomas nos últimos 6 meses? Dor abdominal: Não (0) Sim (1) Cefaleia: Não (0) Sim (1) Depressão: Não (0) Sim (1) Total do EGS: _____________ (máximo de 12) Total do IDG e EGS: _____________ (máximo de 18 pontos) 10 Fernanda Rodrigues Em 2016, realizou-se revisão dos critérios anteriores, com a proposta de que a FM pode ser diagnosticada caso todos os critérios a seguir estejam presentes: - Dor generalizada (em 4 de 5 regiões preestabelecidas); - Sintomas presentes por pelo menos 3 meses; - Pontuações: IDG ≥ 7 e ES ≥ 5 ou IDG 4 a 6 e ES ≥ 9; - O diagnóstico da FM é válido a despeito de outros diagnósticos, porém não exclui outras condições clínicas ou doenças relevantes. EXAMES LABORATORIAIS Na consulta inicial, o médico deve solicitar exames para descartar doenças graves, infecções e neoplasias, principalmente se os sintomas aparecerem em pacientes maiores que 55 a 60 anos. Obs. Lembre-se que a fibromialgia não é uma condição inflamatória, logo, provas inflamatórias não estão tipicamente alteradas. Após avaliação clínica com obtenção de história e exame físico, podem-se solicitar, de acordo com a necessidade, exames de hormônio tireoideoestimulante (TSH), tiroxina-4 livre (T4 livre), cálcio, fósforo, paratormônio (PTH), vitamina D-25OH, creatinofosfoquinase (CPK), aldolase, eletroforese de proteínas séricas, sorologias virais, proteína C reativa (PCR) e velocidade de hemossedimentação (VHS). Não é necessário pedir fatores antinúcleo (FAN) e reumatoide (FR), caso não haja sintomas e sinais de doença reumática autoimune. Diagnóstico diferencial Deve ser feito com todas as doenças que podem causar dor difusa, como hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, osteomalacia, miopatias, mieloma múltiplo, infecções virais, síndromes paraneoplásicas, doenças autoimunes, síndrome da fadiga crônica e miofascial, entre outras. Diagnóstico da Fibromialgia (FM) A fibromialgia é diagnosticada com base em critérios clínicos, pois não há exames laboratoriais específicos para identificá-la. O diagnóstico se dá principalmente pela presença de dor difusa e persistente,associada a outros sintomas, como fadiga e alterações do sono. Critérios Diagnósticos ao Longo do Tempo Os critérios de diagnóstico evoluíram ao longo dos anos: 1⃣ Critérios de 1990 (American College of Rheumatology - ACR) 🔹 Criados para pesquisas, mas amplamente utilizados na prática clínica. 🔹 Baseiam-se em dois fatores principais: ● Dor musculoesquelética generalizada por pelo menos 3 meses (atingindo os 4 quadrantes do corpo e alguma região axial – cervical, torácica ou lombar). ● Presença de dor em pelo menos 11 dos 18 tender points (pontos dolorosos específicos). 11 Fernanda Rodrigues 📍 Os tender points são locais do corpo onde a pressão causa dor intensa, como: ● Região cervical, trapézio, glúteo médio, joelho, entre outros. 🚨 Limitação desse critério: Não considerava outros sintomas importantes, como fadiga, sono não reparador e dificuldades cognitivas. 2⃣ Critérios de 2010 (Revisados pela ACR) 🔹 Eliminou os tender points e passou a incluir outros sintomas, além da dor. 🔹 Criou dois novos sistemas de pontuação: ✔ Índice de Dor Generalizada (IDG) → Avalia 19 regiões dolorosas nos últimos 7 dias. ✔ Escala de Gravidade dos Sintomas (EGS) → Mede fadiga, sono não reparador e sintomas cognitivos (cada um pontuado de 0 a 3). 📌 Outros sintomas avaliados na EGS: ● Dor abdominal ● Cefaleia ● Depressão 📊 Cálculo da pontuação: ● IDG ≥ 7 e EGS ≥ 5 → Sugere diagnóstico de FM. ● IDG entre 4 e 6 e EGS ≥ 9 → Também pode indicar FM. ● Os sintomas devem persistir por pelo menos 3 meses e não serem explicados por outra doença. 3⃣ Critérios Revisados em 2016 🔹 Refinaram ainda mais o diagnóstico e destacaram que: ● A dor deve estar presente em pelo menos 4 das 5 regiões do corpo. ● A FM pode coexistir com outras doenças, sem invalidar o diagnóstico. ● O critério de pontuação foi mantido: IDG ≥ 7 + EGS ≥ 5 ou IDG 4-6 + EGS ≥ 9. Exames Laboratoriais 🛑 Não existem exames específicos para diagnosticar fibromialgia! Os exames são pedidos para descartar outras doenças que podem causar sintomas semelhantes, como: ✔ TSH e T4 livre → Avaliar hipotireoidismo. ✔ Cálcio, fósforo, PTH, vitamina D → Investigar distúrbios metabólicos. ✔ CPK e aldolase → Verificar miopatias. ✔ Sorologias virais, PCR, VHS → Descarta infecções e processos inflamatórios. 🚨 Fatores Antinúcleo (FAN) e Fator Reumatoide (FR) NÃO são necessários, a menos que haja suspeita de doenças autoimunes. Diagnóstico Diferencial A fibromialgia pode ser confundida com outras doenças que causam dor crônica, como: 🔹 Hipotireoidismo 🔹 Hiperparatireoidismo 🔹 Osteomalacia (deficiência de vitamina D severa) 12 Fernanda Rodrigues 🔹 Miopatias 🔹 Mieloma múltiplo (tipo de câncer que afeta a medula óssea) 🔹 Síndrome da fadiga crônica 🔹 Doenças autoimunes (como lúpus e artrite reumatoide). 📌 Resumo Rápido ✔ A FM é diagnosticada clinicamente, sem exames laboratoriais específicos. ✔ Evoluiu de um modelo baseado apenas na dor e tender points para incluir sintomas como fadiga, alterações do sono e dificuldades cognitivas. ✔ Os critérios atuais (2016) combinam dor difusa + sintomas persistentes por 3 meses + pontuação no IDG e EGS. ✔ Exames laboratoriais servem apenas para descartar outras doenças. f) Tratamento. O tratamento da fibromialgia (FM) não é simples e exige uma abordagem multidisciplinar. Ou seja, é necessário combinar várias estratégias para aliviar a dor, melhorar o sono e a qualidade de vida. 1⃣ Objetivos do Tratamento ● Reduzir a dor e a fadiga. ● Melhorar o padrão de sono. ● Controlar problemas emocionais, como depressão e ansiedade. ● Recuperar a capacidade de realizar atividades do dia a dia. 2⃣ Principais Estratégias de Tratamento 🔹 1. Educação do Paciente O paciente precisa entender que a fibromialgia não é uma doença inflamatória e não causa deformidades. Explicar isso ajuda a reduzir o medo da dor e a aderir ao tratamento. 🔹 2. Exercícios Físicos ● São a base do tratamento! Combater o sedentarismo melhora a dor, o humor e o sono. ● O mais indicado é o exercício aeróbico (ex.: caminhada, dança, bicicleta, natação). ● Exercícios liberam serotonina e endorfina, substâncias que aliviam a dor e a depressão. 🔹 3. Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ● Trata a relação entre emoções e dor. ● Ajuda o paciente a mudar pensamentos negativos e adotar estratégias para lidar melhor com a doença. 🔹 4. Acupuntura ● Estimula pontos específicos no corpo. ● Aumenta a liberação de endorfinas e serotonina, funcionando como um “analgésico natural”. 13 Fernanda Rodrigues 3⃣ Tratamento Medicamentoso Os remédios são usados para controlar os sintomas, mas não curam a fibromialgia. Principais medicamentos utilizados 🔸 Antidepressivos Tricíclicos (ADT) – são a base do tratamento medicamentoso! ● Amitriptilina: Começa com 10 mg à noite. ● Nortriptilina: Também inicia com 10 mg/dia. 🔸 Antidepressivos Duais – ajudam na dor e na fadiga! ● Duloxetina (Cymbalta, Velija): Começa com 30 mg/dia. ● Fluoxetina (Prozac, Daforin): Pode ser usada acima de 40 mg/dia. 🔸 Outros medicamentos ● Gabapentinoides: Ex.: Pregabalina, usada para dor neuropática. ● Tramadol: Analgésico opioide fraco, usado em casos mais graves. 4⃣ Pontos Gatilho (Trigger Points) Os Pontos Gatilho (PG) são regiões de sensibilidade extrema nos músculos. Quando pressionados, podem causar dor intensa e até sintomas como tontura ou formigamento. Tipos de Pontos Gatilho ✅ Ativo → Causa dor espontânea e irradiação para outras áreas. ✅ Latente → Está presente, mas só dói quando pressionado. ✅ Central → Localizado no meio do músculo. ✅ De Inserção → Fica na junção do músculo com o tendão. ✅ Primário → É o principal responsável pela dor na região. ✅ Secundário → Surge por causa de um PG primário, geralmente em um músculo vizinho. ✅ Satélite → Está em uma área de dor referida, mas não é a verdadeira origem da dor. 🔥 Resumo Prático ✅ Tratamento da fibromialgia é multidisciplinar → envolve exercícios, psicoterapia e medicações. ✅ O exercício aeróbico é essencial para melhora da dor, sono e humor. ✅ Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina) são a principal medicação para dor e sono. ✅ Os pontos gatilho podem ajudar no diagnóstico e devem ser tratados com alongamento, fisioterapia e técnicas de relaxamento. 1. Tratamento Não Medicamentoso (Primeira Escolha!) 💡 Educação do paciente: ● O paciente precisa entender a doença, saber que ela não é inflamatória e que o tratamento foca na qualidade de vida. ● Explicar que a dor é real, mas não vem de inflamação ou lesão grave. 14 Fernanda Rodrigues 💪 Exercícios físicos são fundamentais! ● Aeróbicos (caminhada, bicicleta, hidroginástica) pelo menos 2 a 3 vezes por semana, por 30 minutos. ● No começo, a dor pode piorar, mas é normal! A adaptação leva de 16 a 20 semanas. ● Alongamento e fortalecimento muscular também ajudam. 🧠 Tratamento psicológico ● Técnicas como terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajudam a reduzir ansiedade e depressão, melhorando o controle da dor. ● Se houver depressão grave ou ansiedade intensa → Encaminhar ao psiquiatra. 2. Tratamento Medicamentoso 💊 O maior desafio: adesão ao tratamento! ● Muitos pacientes abandonam o tratamento devido aos efeitos colaterais dos remédios. 🛌 Melhoria do sono e controle da dor: ● Antidepressivos tricíclicos (ex: amitriptilina) → Melhoram o sono e reduzem a dor ao evitar invasão de ondas alfa no sono profundo. ● Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS): ○ Escitalopram e citalopram não são recomendados (muito seletivos para serotonina). ○ Fluoxetina pode ser usada, mas só em doses acima de 40 mg (para agir também na norepinefrina). ● Antidepressivos duais (ex: duloxetina, venlafaxina): Boa escolha para pacientes com transtornoso quadro álgico. A partir desse relato, podem ser obtidos dados relevantes antes mesmo de pesquisados mais detalhadamente, de acordo com os 10 caracteres propedêuticos da dor, conhecidos também como decálogo da dor. Uma das formas de memorização dos caracteres da dor consiste na sigla ILICIDPFFF, em que cada letra denota um caractere descritivo da dor.o quadro álgico. A partir desse relato, podem ser obtidos dados relevantes antes mesmo de pesquisados mais detalhadamente, de acordo com os 10 caracteres propedêuticos da dor, conhecidos também como decálogo da dor. Uma das formas de memorização dos caracteres da dor consiste na sigla ILICIDPFFF, em que cada letra denota um caractere descritivo da dor.