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Vestibulares Introdução à Literatura L0328 - (Unicamp) “Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo do bom senso e do senso comum." (Adaptado de “Franz Ka�a, carta a Oscar Pollak, 1904.”) Assinale o excerto que confirma os dois textos anteriores. a) A leitura é, fundamentalmente, processo polí�co. Aqueles que formam leitores – professores, bibliotecários – desempenham um papel polí�co. (Marisa Lajolo, A formação do leitor no Brasil. São Paulo: Á�ca, 1996, p. 28.) b) Pelo que sabemos, quando há um esforço real de igualitarização, há aumento sensível do hábito de leitura, e portanto difusão crescente das obras. (Antonio Candido, Vários escritos. São Paulo: Duas cidades, 2004, p.187.) c) Ler é abrir janelas, construir pontes que ligam o que somos com o que tantos outros imaginaram, pensaram, escreveram; ler é fazer-nos expandidos. (Gilberto Gil, Discurso no lançamento do Ano Ibero- Americano da Leitura, 2004.) d) A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de sonhar, por que não sonhar os meus próprios sonhos? (Fernando Pessoa, Páginas ín�mas e de Auto- Interpretação. São Paulo: Á�ca, 1966, p. 23.) L0013 - (Uem) (Adaptada) Assinale o que for correto sobre o gênero lírico. 01. O gênero lírico, em comparação com o gênero épico ou narra�vo, mostra-se marcado por um filtro subje�vo que favorece a expressão individual, bem como a intensificação de sen�mentos e emoções. 02. Embora marcado por grande liberdade temá�ca, o gênero lírico é bastante rigoroso no tocante às formas fixas, de modo que se manifesta apenas em sonetos, odes, elegias, contos e novelas. 04. Em contraste com a presença de um narrador no gênero épico, na lírica nota-se a presença de um eu lírico, que tanto permite a expressão de um mundo interior quanto serve de filtro para a realidade externa. 08. Uma das principais subdivisões do gênero lírico encontra-se no par “comédia” e “tragédia” que, presente desde as primeiras manifestações do gênero, deu origem, já no fim do século XVIII, à “tragicomédia”, com a u�lização de versos livres e brancos. 1@professorferretto @prof_ferretto 16. Recursos formais como a rima, a métrica e o ritmo, embora possam ser verificados em outros gêneros literários, encontram-se especialmente ligados ao gênero lírico, favorecendo sua sonoridade e sua expressividade. Estão corretas apenas as afirma�vas a) 01 e 02. b) 01, 02 e 08. c) 02 e 04. d) 01, 04 e 16. L0006 - (Uece) O amigo da casa A própria menina se prende muito a 1ele, que ainda lhe trouxe a úl�ma boneca, embora agora ela se ponha mocinha: encolhe-se na poltrona da sala sob a luz do abajur e lê a revista de quadrinhos. 2Ele é alemão como o dono da casa. Tem apartamento no hotel da praia e joga tênis no clube, saltando com energia para dentro do campo, a raquete na mão. Assiste às par�das girando no copo de uísque os cubos de gelo. É o amigo da casa. Depois do jantar, passeia com a mãe da menina pelo caminho de pedra do jardim: as duas cabeças – a loira e a preta de cabelos aparados – vão e vêm, a dele já com entradas da calva. 3Ele chupa o cachimbo de fumo cheiroso, que o moço de bordo vai deixar no escritório. O dono da casa é Seu Feldmann. 4Dirige o seu pequeno automóvel e é muito delicado. Cumprimenta sempre todos os vizinhos, até mesmo os mais canalhas como Seu Deca, fiscal da Alfândega. Seu Feldmann cumprimenta. Bate com a cabeça. Compra marcos a bordo e no banco para a 5sua viagem regular à Alemanha. Viaja em companhia do comandante do cargueiro, em camarote especial. Então respira o ar marí�mo no alto do convés, os braços muito brancos e descarnados, na camisa leve de mangas curtas. A fortuna de origem é da mulher: as velhas casas no centro da cidade, os an�gos armazéns, 6o sí�o da serra, de onde ela desce aos domingos em companhia 7do 8outro, que é o amigo da casa, e da menina. 9Saem os dois à noite e 10ele para o seu próprio automóvel sob os coqueiros na praia. 11Decerto brigaram mais uma vez, porque ela volta para casa de olhos vermelhos, enrolando 12nos dedos o lencinho bordado. Recolhe-se a seu quarto (ela e seu Feldmann dormem em quartos separados). Trila o apito do guarda. 13Os faróis do automóvel na rua pincelam de luz as paredes, �ram reflexo do espelho. 14Ela permanece insone: o vidro de sua janela é um retângulo de luz na noite. (Moreira Campos. In Obra Completa– contos II. 1969. p. 120-122. Originalmente publicado na obra O puxador de terço. Texto adaptado.) Para a maioria dos estudiosos da literatura, o texto literário é estruturado em pares de oposição: vida/morte; amor/ódio, etc. Essas oposições constam no texto claramente ou implicitamente. E não é necessário que os dois termos da oposição estejam na super�cie linguís�ca do texto. Se o texto fala somente de morte, a vida está, por oposição, implícita nele. Abaixo você encontrará duas colunas. Na coluna I, haverá um termo que formará, com um termo presente na coluna II, uma oposição. Essas oposições constam no texto claramente ou implicitamente. Nessa perspec�va, numere a coluna II de acordo com a I. Coluna I Coluna II 1. indulgência (__) deslealdade 2. vigor (__) arrogância 3. essência (__) intolerância 4. modés�a (__) fu�lidade 5. afabilidade (__) aparência 6 seriedade (__) rigidez 7. confiabilidade (__) debilidade Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: a) 1 – 4 – 7 – 2 – 3 – 5 – 6. b) 2 – 7 – 4 – 5 – 6 – 1 – 3. c) 4 – 2 – 5 – 1 – 3 – 6 – 7. d) 7 – 4 – 1 – 6 – 3 – 5 – 2. L0310 - (Unesp) Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Gianne�. Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.” Diógenes [...] não �tubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrá�ca de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas 2@professorferretto @prof_ferretto de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis omnipotentes.” (Eduardo Gianne�. Trópicos utópicos, 2016.) A resposta de Diógenes a Alexandre Magno pode ser caracterizada como a) audaciosa. b) subserviente. c) hipócrita. d) compassiva. e) incoerente. L0316 - (Unesp) Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro de 1974. E se reverenciássemos neste 2 de novembro os mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na areia das margens, e os urubus os devoram? Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo que for. Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga da Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe menos desejado – ganha sepultura anônima, que a piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente pescar mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos suspeitosfuturo for pior do que o presente E se for melhor parar do que caminhar pra frente E se o amor for dor E se todo sonhador não passar de um pobre louco E se eu desanimar, Se eu parar de sonhar queda a queda, pouco a pouco. (Bráulio Bessa. “Se”. In: Poesia que transforma, 2018.) No excerto do cordel, o eu lírico manifesta inquietação equivalente a uma preocupação central e recorrente na história da filosofia, desde suas origens, qual seja: 18@professorferretto @prof_ferretto a) a iden�ficação de princípios reveladores da virtude. b) a fundamentação do conhecimento na experiência empírica. c) o desenvolvimento de critérios de organização da linguagem. d) o ques�onamento con�nuo para a compreensão da realidade. e) a busca ininterrupta da verdade plena e absoluta. L0478 - (Unesp) A ideia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza e em parte extraía dela a sua jus�fica�va. Ambas conduziam a uma literatura que compensava o atraso material e a debilidade das ins�tuições por meio da supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do exo�smo razão de o�mismo social. A par�r de 1930 houve uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regionalista, percebendo-se o que havia de mascaramento no encanto pitoresco com que antes se abordava o homem rús�co. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sua incultura paralisante. A visão que resulta dessa perspec�va é pessimista quanto ao presente e problemá�ca quanto ao futurode medir tantas sílabas, com acentuação determinada. (Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios, 1989. Adaptado.) O excerto assinala uma reorientação nos rumos da literatura brasileira, na medida em que os escritores a) deparam-se com a ins�tuição de uma regionalização oficial pelo IBGE. b) passam a mostrar os aspectos do Brasil como país subdesenvolvido. c) reconhecem o estabelecimento de alianças democrá�cas no Brasil. d) percebem a assimilação do american way of life pelo povo brasileiro. e) optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica em sua produção literária. L0492 - (Unesp) Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder à(s) questão(ões) a seguir. O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam- se. Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a mulher enforcou-se. Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente. Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que servem. Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre �ve a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legí�mas as ações que me levaram a obtê-las. Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram- me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automa�camente. Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que pra�carem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve reclamações. – Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à jus�ça. Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. 19@professorferretto @prof_ferretto Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou- me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe polí�co local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis. (S. Bernardo, 1996.) No trecho, o narrador revela-se uma pessoa a) empreendedora e solidária. b) invejosa e hesitante. c) obs�nada e compassiva. d) egoísta e violenta. e) preguiçosa e traiçoeira. L0493 - (Unesp) Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos, para responder à(s) questão(ões) a seguir. O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam- se. Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a mulher enforcou-se. Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente. Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que servem. Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre �ve a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legí�mas as ações que me levaram a obtê-las. Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram- me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automa�camente. Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que pra�carem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalhamdemais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve reclamações. – Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à jus�ça. Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou- me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe polí�co local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis. (S. Bernardo, 1996.) “Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem.” (7º parágrafo) Considerada no atual contexto histórico, essa fala do narrador pode ser vista como uma crí�ca à ideia de 20@professorferretto @prof_ferretto a) trabalho. b) meritocracia. c) burocracia. d) preguiça. e) pobreza. L0506 - (Unesp) Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões). A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos, como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles �ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico, se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inap�dão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) Em “o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói.” (3º parágrafo), a “ação” a que se refere o narrador diz respeito a) à fuga dos escravos. b) ao contrabando de escravos. c) aos cas�gos �sicos aplicados aos escravos. d) às repreensões verbais feitas aos escravos. e) à emancipação dos escravos. L0507 - (Unesp) Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões). A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos, como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles �ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era 21@professorferretto @prof_ferretto apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico, se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inap�dão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servirtambém, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) Embora não par�cipe da ação, o narrador intromete-se de forma explícita na narra�va em: a) “Há meio século, os escravos fugiam com frequência.” (3º parágrafo) b) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.” (2º parágrafo) c) “A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca.” (1º parágrafo) d) “Mas não cuidemos de máscaras.” (1º parágrafo) e) “Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.” (3º parágrafo) L0508 - (Unesp) Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões). A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos, como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles �ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico, se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inap�dão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) 22@professorferretto @prof_ferretto Em “Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse.” (4º parágrafo), o termo destacado pode ser subs�tuído, sem prejuízo de sen�do para o texto, por: a) escondesse. b) denunciasse. c) agredisse. d) incen�vasse. e) ignorasse. L0509 - (Unesp) Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões). A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos, como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles �ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico, se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inap�dão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) No úl�mo parágrafo, “pôr ordem à desordem” significa a) es�mular os proprietários a tratarem seus escravos com menos rigor. b) conceder a liberdade aos escravos fugidos. c) conceder aos proprietários de escravos fugidos alguma compensação. d) abolir a tortura imposta aos escravos fugidos. e) res�tuir os escravos fugidos a seus proprietários. L0510 - (Unesp) Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões). A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos, como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente erados vinténs do senhor que eles �ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que 23@professorferretto @prof_ferretto andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico, se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inap�dão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) A perspec�va do narrador diante das situações e dos fatos relacionados à escravidão é marcada, sobretudo, a) pelo saudosismo. b) pela indiferença. c) pela indignação. d) pelo entusiasmo. e) pela ironia. L0511 - (Unesp) Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões). A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos, como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles �ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sen�mento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando. Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico, se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou “receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoitasse. Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inap�dão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à desordem. (Contos: uma antologia, 1998.) 24@professorferretto @prof_ferretto O leitor é figura recorrente e fundamental na prosa machadiana. Verifica-se a inclusão do leitor na narra�va no seguinte trecho: a) “A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas da cidade.” (3º parágrafo) b) “Quando não vinha a quan�a, vinha promessa: ‘gra�ficar-se-á generosamente’ – ou ‘receberá uma boa gra�ficação’. Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.” (4º parágrafo) c) “Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha de flandres.” (1º parágrafo) d) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave.” (2º parágrafo) e) “Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta das lojas.” (1º parágrafo) L0512 - (Unesp) Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990), para responder à(s) questão(ões) a seguir. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avançava no 1batelão velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um 2rincho de cavalo; depois, numa choça de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calças compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta deve ser alguma santa”. Era uma canção triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas�mida, esse fervor confuso da adolescência – adoração sem esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que já �nha ido até à Europa e �nha um automóvel e uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com minha pobre 3flaubert, não a mim, de calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas imagens que se gravaram na minha memória, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar fino da manhã. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calças de “palm- beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi até perto da lagoa. De repente me fulminou: “Por que você não gosta de mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”. Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui remando com força, sem ligar para os respingos de água fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelão: embarcação movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um �po de espingarda. 25@professorferretto @prof_ferretto A fala “rema, bobalhão!” (úl�mo parágrafo) sugere, por parte do narrador, a) intransigência. b) impaciência. c) atrevimento. d) simplicidade. e) arrependimento. L0513 - (Unesp) Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990), para responder à(s) questão(ões) a seguir. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avançava no 1batelão velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um 2rincho de cavalo; depois, numa choça de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calças compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta deve ser alguma santa”. Era uma canção triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas �mida, esse fervor confuso da adolescência – adoração sem esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado, que já �nha ido até à Europa e �nha um automóvel e uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com minha pobre 3flaubert, não a mim, de calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas imagens que se gravaram na minha memória, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar fino da manhã. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calças de “palm- beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi até perto da lagoa. De repente me fulminou: “Por que você não gosta de mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”. Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui remando com força, sem ligar para os respingos de água fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelão: embarcação movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um �po de espingarda. O espanto inicial demonstrado pelo narrador em relação à moça deve-se ao fato de ela a) portar-se de forma independente. b) agir de modo dissimulado. c) cantar muito bem. d) demonstrar orgulho de sua cidade natal. e) ser bastante rica. L0514 - (Unesp) Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990), para responder à(s) questão(ões) a seguir. A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu avançava no 1batelão velho; remava cansado, com um resto de sono. De longe veio um 2rincho de cavalo; depois, numa choça de pescador, junto do morro, tremulou a luz de uma lamparina. 26@professorferretto @prof_ferretto Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte. Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei com espanto, quase desgosto: ela usava calças compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta deve ser alguma santa”. Era uma canção triste. Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas �mida, esse fervor confuso da adolescência – adoração sem esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete, que costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se)o homem casado, que já �nha ido até à Europa e �nha um automóvel e uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com minha pobre 3flaubert, não a mim, de calça e camisa, descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo. Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio galopando a cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal resfolegando e ela respirando forte, com os seios agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas imagens que se gravaram na minha memória, desse encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar fino da manhã. E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo. Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela, um homem como os de sua roda, com calças de “palm- beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes; fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de outros lugares mais importantes, com certeza mais bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã, que conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara desde a ponta do Boi até perto da lagoa. De repente me fulminou: “Por que você não gosta de mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...” Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”. Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o cavalo, perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me deu um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora. Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui remando com força, sem ligar para os respingos de água fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse alguma coisa. (Os melhores contos, 1997.) 1batelão: embarcação movida a remo. 2rincho: relincho. 3flaubert: um �po de espingarda. O pleonasmo (do grego pleonasmós, que quer dizer abundância, excesso, amplificação) é uma repe�ção de unidades linguís�cas idên�cas do ponto de vista semân�co, o que implica que a repe�ção é tautológica (redundante). No entanto, ela é uma extensão do enunciado com vistas a intensificar o sen�do. (José Luiz Fiorin. Figuras de retórica, 2014. Adaptado.) Verifica-se a ocorrência de pleonasmo em: a) “fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia os nomes dos peixes que ela dizia” (5º parágrafo). b) “eu avançava no batelão velho; remava cansado, com um resto de sono” (1º parágrafo). c) “ela deixou que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas �mida” (3º parágrafo). d) “A princípio a olhei com espanto, quase desgosto” (2º parágrafo). e) “Pensei que ela fosse passar me dando apenas um adeus” (4º parágrafo). L0537 - (Unesp) A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926) A alma das cousas somos nós... Dentro do eterno giro universal Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente, Mas, se nesse vaivém tudo parece igual Nada mais, na verdade (5) Nunca mais se repete exatamente... Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente Que no-las leva e traz, num círculo fatal; O que varia é o espírito que as sente Que é impercep�velmente desigual, (10) Que sempre as vive diferentemente, 27@professorferretto @prof_ferretto E, assim, a vida é sempre inédita, afinal.... Estado de alma em fuga pelas horas, Tons esquivos e trêmulos, nuanças Susce�veis, su�s, que fogem no Íris (15) Da sensibilidade furta-cor... E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas E a vida somos nós, que sempre somos outros!... Homem inquieto e vão que não repousas! Para e escuta: (20) Se as cousas têm espírito, nós somos Esse espírito efêmero das cousas, Volúvel e diverso, Variando, instante a instante, in�mamente, E eternamente, (25) Dentro da indiferença do Universo!... (Luz mediterrânea, 1965.) Uma leitura atenta do poema permite concluir que seu �tulo representa a) a negação dos argumentos defendidos pelo eu lírico. b) a confirmação do estado de alma disfórico do eu lírico. c) a síntese das ideias desenvolvidas pelo eu lírico. d) o reconhecimento da supremacia do homem no mundo. e) uma afirmação prévia da incapacidade do homem. L0538 - (Unesp) A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926) A alma das cousas somos nós... Dentro do eterno giro universal Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente, Mas, se nesse vaivém tudo parece igual Nada mais, na verdade (5) Nunca mais se repete exatamente... Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente Que no-las leva e traz, num círculo fatal; O que varia é o espírito que as sente Que é impercep�velmente desigual, (10) Que sempre as vive diferentemente, E, assim, a vida é sempre inédita, afinal.... Estado de alma em fuga pelas horas, Tons esquivos e trêmulos, nuanças Susce�veis, su�s, que fogem no Íris (15) Da sensibilidade furta-cor... E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas E a vida somos nós, que sempre somos outros!... Homem inquieto e vão que não repousas! Para e escuta: (20) Se as cousas têm espírito, nós somos Esse espírito efêmero das cousas, Volúvel e diverso, Variando, instante a instante, in�mamente, E eternamente, (25) Dentro da indiferença do Universo!... (Luz mediterrânea, 1965.) Considerando o eixo temá�co do poema e o modo como é desenvolvido, verifica-se que nele se faz uma reflexão de fundo a) esté�co. b) polí�co. c) religioso. d) filosófico. e) cien�fico. L0539 - (Unesp) A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926) A alma das cousas somos nós... Dentro do eterno giro universal Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente, Mas, se nesse vaivém tudo parece igual Nada mais, na verdade (5) Nunca mais se repete exatamente... Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente Que no-las leva e traz, num círculo fatal; O que varia é o espírito que as sente Que é impercep�velmente desigual, (10) Que sempre as vive diferentemente, E, assim, a vida é sempre inédita, afinal.... Estado de alma em fuga pelas horas, Tons esquivos e trêmulos, nuanças Susce�veis, su�s, que fogem no Íris (15) Da sensibilidade furta-cor... E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas E a vida somos nós, que sempre somos outros!... Homem inquieto e vão que não repousas! Para e escuta: (20) Se as cousas têm espírito, nós somos Esse espírito efêmero das cousas, Volúvel e diverso, Variando, instante a instante, in�mamente, E eternamente, (25) Dentro da indiferença do Universo!... (Luz mediterrânea, 1965.) Embora pareça cons�tuído de versos livres modernistas, o poema em questão ainda segue a versificação medida, combinando versos de diferentes extensões, com 28@professorferretto @prof_ferretto predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a alterna�va que indica, na primeira estrofe, pela ordem em que surgem, os versos de dez sílabas métricas, denominados decassílabos. a) 1 e 5. b) 3 e 4. c) 1, 2 e 3. d) 2 e 3. e) 1, 3 e 5. L0540 - (Unesp) A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926) A alma das cousas somos nós... Dentro do eterno giro universal Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente, Mas, se nesse vaivém tudo parece igual Nada mais, na verdade (5) Nunca mais se repete exatamente... Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente Que no-las leva e traz, num círculo fatal; O que varia é o espírito que as sente Que é impercep�velmente desigual, (10) Que sempre as vive diferentemente, E, assim, a vida é sempre inédita, afinal.... Estado de alma em fuga pelas horas, Tons esquivos e trêmulos, nuanças Susce�veis, su�s, que fogem no Íris (15) Dasensibilidade furta-cor... E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas E a vida somos nós, que sempre somos outros!... Homem inquieto e vão que não repousas! Para e escuta: (20) Se as cousas têm espírito, nós somos Esse espírito efêmero das cousas, Volúvel e diverso, Variando, instante a instante, in�mamente, E eternamente, (25) Dentro da indiferença do Universo!... (Luz mediterrânea, 1965.) No úl�mo verso do poema, o eu lírico conclui que a) os espíritos mostram-se insensíveis ao volúvel Universo. b) o Universo acompanha de perto a alma ou espírito. c) o Universo é indiferente à relação entre o espírito e as coisas. d) a variação das coisas é indiferente ao espírito que as sente. e) as coisas têm espírito, mas o Universo não tem. L0541 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926–2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. No primeiro parágrafo, com a frase “então era parelho mesmo, por igual”, o narrador faz referência ao fato de o coronel 29@professorferretto @prof_ferretto a) ves�r em certos eventos sociais a calça também de casimira. b) ser par para qualquer desafio que lhe fizessem. c) usar também em certas ocasiões o jaquetão de brim. d) usar roupas iguais às de todos na cidade. e) demonstrar sua humildade por meio das roupas. L0542 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926–2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. No terceiro parágrafo, a comparação do coronel com uma ave pernalta representa a) um recurso expressivo para ilustrar sua aparência e sua presença �sica. b) uma figura de retórica sem grande significado descri�vo. c) uma imagem visual de seu temperamento amável, mas perigoso. d) uma imagem que busca representar sua impressionante beleza. e) um modo de chamar atenção para o ambiente rús�co em que vivia. L0543 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926–2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma figura que 30@professorferretto @prof_ferretto a) exibe um temperamento �mido e fechado. b) manifesta desprezo por tudo à sua volta. c) demonstra humildade em tudo o que fazia. d) revela nos gestos e comportamento segurança e poder. e) inspira certo receio aos habitantes da cidade. L0544 - (Unesp) Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). O Azulão e os �co-�cos Do começo ao fim do dia, um belo Azulão cantava, e o pomar que atento ouvia o seus trilos de harmonia, [5] cada vez mais se enflorava. Se um �co-�co e outras aves vaiavam sua canção... mais doce ainda se ouvia a flauta desse Azulão. [10] Um papagaio, surpreso de ver o grande desprezo, do Azulão, que os desprezava, um dia em que ele cantava e um bando de �co-�cos [15] numa algazarra o vaiava, lhe perguntou: “Azulão, olha, dize-me a razão por que, quando estás cantando e recebes uma vaia [20] desses garotos joviais, tu con�nuas gorgeando e cada vez canta mais?!” Numas volatas sonoras, o Azulão lhe respondeu: [25] “Caro Amigo! Eu prezo muito esta garganta sublime e esta voz maravilhosa... este dom que Deus me deu! Quando, há pouco, eu descantava, [30] pensando não ser ouvido nestes matos por ninguém, um Sabiá*, que me escutava, num capoeirão, escondido, gritou de lá: — meu colega, [35] bravos! Bravos... muito bem! Pergunto agora a você: quem foi um dia aplaudido pelo príncipe dos cantos de celestes harmonias, [40] (irmão de Gonçalves Dias, um dos cantores mais ricos...) — que caso pode fazer das vaias dos �co-�cos?” *Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um dos maioresadmiradores de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios. (Poemas escolhidos, s/d.) Tomando por base a leitura do poema, verifica-se que o pomar, mencionado na primeira estrofe, é apresentado como a) um ser inteiramente insensível ao canto dos pássaros. b) morada dos �co-�cos invadida pelo Azulão. c) mero cenário dos acontecimentos. d) um ser capaz de ouvir e apreciar o canto do Azulão. e) recanto de uma floresta selvagem. L0545 - (Unesp) Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). O Azulão e os �co-�cos Do começo ao fim do dia, um belo Azulão cantava, e o pomar que atento ouvia o seus trilos de harmonia, [5] cada vez mais se enflorava. Se um �co-�co e outras aves vaiavam sua canção... mais doce ainda se ouvia a flauta desse Azulão. [10] Um papagaio, surpreso de ver o grande desprezo, do Azulão, que os desprezava, um dia em que ele cantava e um bando de �co-�cos [15] numa algazarra o vaiava, lhe perguntou: “Azulão, olha, dize-me a razão por que, quando estás cantando e recebes uma vaia [20] desses garotos joviais, tu con�nuas gorgeando e cada vez canta mais?!” Numas volatas sonoras, o Azulão lhe respondeu: [25] “Caro Amigo! Eu prezo muito 31@professorferretto @prof_ferretto esta garganta sublime e esta voz maravilhosa... este dom que Deus me deu! Quando, há pouco, eu descantava, [30] pensando não ser ouvido nestes matos por ninguém, um Sabiá*, que me escutava, num capoeirão, escondido, gritou de lá: — meu colega, [35] bravos! Bravos... muito bem! Pergunto agora a você: quem foi um dia aplaudido pelo príncipe dos cantos de celestes harmonias, [40] (irmão de Gonçalves Dias, um dos cantores mais ricos...) — que caso pode fazer das vaias dos �co-�cos?” *Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios. (Poemas escolhidos, s/d.) Ante as vaias dos �co-�cos e outras aves, o Azulão torna ainda mais perfeita sua canção. Com isso, revela uma a�tude de a) autoconfiança. b) rancor. c) ingenuidade. d) ignorância. e) revolta. L0546 - (Unesp) Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). O Azulão e os �co-�cos Do começo ao fim do dia, um belo Azulão cantava, e o pomar que atento ouvia o seus trilos de harmonia, [5] cada vez mais se enflorava. Se um �co-�co e outras aves vaiavam sua canção... mais doce ainda se ouvia a flauta desse Azulão. [10] Um papagaio, surpreso de ver o grande desprezo, do Azulão, que os desprezava, um dia em que ele cantava e um bando de �co-�cos [15] numa algazarra o vaiava, lhe perguntou: “Azulão, olha, dize-me a razão por que, quando estás cantando e recebes uma vaia [20] desses garotos joviais, tu con�nuas gorgeando e cada vez canta mais?!” Numas volatas sonoras, o Azulão lhe respondeu: [25] “Caro Amigo! Eu prezo muito esta garganta sublime e esta voz maravilhosa... este dom que Deus me deu! Quando, há pouco, eu descantava, [30] pensando não ser ouvido nestes matos por ninguém, um Sabiá*, que me escutava, num capoeirão, escondido, gritou de lá: — meu colega, [35] bravos! Bravos... muito bem! Pergunto agora a você: quem foi um dia aplaudido pelo príncipe dos cantos de celestes harmonias, [40] (irmão de Gonçalves Dias, um dos cantores mais ricos...) — que caso pode fazer das vaias dos �co-�cos?” *Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios. (Poemas escolhidos, s/d.) Considerando a nota do editor, que iden�fica o Sabiá como Rui Barbosa, grande admirador da poesia de Catulo, os �co-�cos representam no poema a) os outros poetas. b) os adversários de Rui Barbosa. c) os músicos e cantores. d) os admiradores de Gonçalves Dias. e) os crí�cos do poeta. L0547 - (Unesp) Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). 32@professorferretto @prof_ferretto O Azulão e os �co-�cos Do começo ao fim do dia, um belo Azulão cantava, e o pomar que atento ouvia o seus trilos de harmonia, [5] cada vez mais se enflorava. Se um �co-�co e outras aves vaiavam sua canção... mais doce ainda se ouvia a flauta desse Azulão. [10] Um papagaio, surpreso de ver o grande desprezo, do Azulão, que os desprezava, um dia em que ele cantava e um bando de �co-�cos [15] numa algazarra o vaiava, lhe perguntou: “Azulão, olha, dize-me a razão por que, quando estás cantando e recebes uma vaia [20] desses garotos joviais, tu con�nuas gorgeando e cada vez canta mais?!” Numas volatas sonoras, o Azulão lhe respondeu: [25] “Caro Amigo! Eu prezo muito esta garganta sublime e esta voz maravilhosa... este dom que Deus me deu! Quando, há pouco, eu descantava, [30] pensando não ser ouvido nestes matos por ninguém, um Sabiá*, que me escutava, num capoeirão, escondido, gritou de lá: — meu colega, [35] bravos! Bravos... muito bem! Pergunto agora a você: quem foi um dia aplaudido pelo príncipe dos cantos de celestes harmonias, [40] (irmão de Gonçalves Dias, um dos cantores mais ricos...) — que caso pode fazer das vaias dos �co-�cos?” *Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios. (Poemas escolhidos, s/d.) Se, nos versos 32 e 33, as palavras “Sabiá” e “capoeirão” fossem pronunciadas “sa-bi-á” e “ca-po-ei-rão”, tais versos quebrariam o padrão e o ritmo dos demais, pois passariam a ser a) heptassílabos. b) octossílabos. c) eneassílabos. d) hexassílabos. e) decassílabos. L0552 - (Unesp) Leia o poema do português Eugênio de Castro (1869- 1944) para responder às questões a seguir. MÃOS Mãos de veludo, mãos de már�r e de santa, o vosso gesto é como um balouçar de palma; o vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o vosso gesto canta! Mãos de veludo, mãos de már�r e de santa, rolas à volta da negra torre da minh’alma. Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes, Caridosas Irmãs do hospício da minh’alma, O vosso gesto é como um balouçar de palma, Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes... Mãos afiladas, mãos de insigne formosura, Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim, Sois dois lenços, ao longe, acenando por mim, Duas velas à flor duma baía escura. Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas, Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos ninhos, Divinas mãos que me heis coroado de espinhos, Mas que depois me haveis coroado de rosas! Afilhadas do luar, mãos de rainha, Mãos que sois um perpétuo amanhecer, Alegrai, como dois ne�nhos, o viver Da minha alma, velha avó entrevadinha. (Obras poé�cas, 1968.) “Alegrai, como dois ne�nhos, o viver / Da minha alma, velha avó entrevadinha.” 33@professorferretto @prof_ferretto a) reforçam o modo nega�vo como o eu lírico enxerga a si mesmo. b) evidenciam o ressen�mento do eu lírico contra os familiares. c) assinalam uma reaproximação do eu lírico com a própria família. d) atestam o esforço do eu lírico de se afastar da imagem obsessiva das mãos. e) reafirmam o o�mismo manifestado pelo eu lírico ao longo do poema. L0558 - (Unicamp) As palavras organizadas comunicam sempre alguma coisa, que nos toca porque obedece a certa ordem. Quando recebemos o impacto de uma produção literária, oral ou escrita, ele é devido à fusão inextricável da mensagem com a sua organização. Em palavras usuais: o conteúdo de uma obra literária só atua por causa da forma. (Adaptado de Antonio Candido, “O direito à literatura”, em Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul e Duas Cidades, 2004, p.178.) A obra Sobrevivendo no inferno do grupo Racionais Mc’s é composta pelas canções e pelo projeto editorial da capa e contracapa do CD. Nesse projeto editorial, encontram-se elementos visuais e verbais que estabelecem um jogo de formas e sen�dos. Com base na afirmação de Antonio Candido, é correto afirmar que a organização desses elementos a) produz uma simetria entre som e sen�do, sendo que tal simetriaindica que os símbolos religiosos são uma resposta à violência. b) configura um sistema de oposições, uma vez que imagens e palavras estabelecem tensões materiais e espirituais, cons�tu�vas do sen�do das canções. c) configura uma sintaxe poé�ca de ordem espiritual. Essa sintaxe espelha o caos e as injus�ças vividos na periferia das grandes cidades. d) produz uma lógica poé�ca racional. Essa lógica se explicita na vitória do crime sobre a visão de mundo presente nos versículos bíblicos transcritos. L0560 - (Unicamp) Texto 1 “Algumas vozes nacionais estão tentando atualmente encaminhar a discussão em torno da iden�dade ‘mes�ça’, capaz de reunir todos os brasileiros (brancos, negros e mes�ços). Vejo nesta proposta uma nova su�leza ideológica para recuperar a ideia da unidade nacional não alcançada pelo fracassado branqueamento �sico. Essa proposta de uma nova iden�dade mes�ça, única, vai na contramão dos movimentos negros e de outras chamadas minorias, que lutam pela construção de uma sociedade plural e de iden�dades múl�plas.” (Kabengele Munanga, Rediscu�ndo a mes�çagem no Brasil: Iden�dade Nacional versus Iden�dade Negra. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 16.) Texto 2 “Os meus olhos coloridos/ Me fazem refle�r/ Eu estou sempre na minha/ E não posso mais fugir/ Meu cabelo enrolado/ Todos querem imitar/ Eles estão bara�nados/ Também querem enrolar/ Você ri da minha roupa/ Você ri do meu cabelo/ Você ri da minha pele/ Você ri do meu sorriso/ A verdade é que você,/ (Todo brasileiro tem!)/ Tem sangue crioulo/ Tem cabelo duro/ Sarará crioulo.” (Macau, “Olhos Coloridos”, 1981, gravada por Sandra de Sá. Álbum: “Sandra de Sá”. RCA.) Considerando o alerta de Munanga em relação a algumas “vozes nacionais”, a canção de Macau a) resgata o an�go ideal da iden�dade nacional única. b) aponta a possibilidade de uma iden�dade múl�pla. c) atesta que a pluralidade se opõe ao movimento negro. d) insiste nas lutas das minorias por uma unidade. L0561 - (Unicamp) Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em � que está a falta. Faz o que te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és fei�ço por 34@professorferretto @prof_ferretto excelência e não deves procurar mais magia nenhuma. Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo inteiro cabe nas curvas de uma mulher. (Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.) O excerto acima corresponde a uma das primeiras lições que a conselheira amorosa oferece a Rami, a personagem principal do romance. Tendo em vista as várias peripécias vividas por Rami, essa lição é a) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensina que o corpo feminino é, no fim das contas, perdição. b) abandonada pela personagem principal, uma vez que seu marido não se encanta com seus novos ardis. c) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, percebe que não possui todos os atributos desejáveis. d) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de suas rivais, transformando-as de modo significa�vo. L0562 - (Unicamp) Tenho horror a de aqui a pouco vos ter já dito o que vos vou dizer. As minhas palavras presentes, mal eu as diga, pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim, não sei onde, rígidas e fatais... Falo, e penso nisto na minha garganta, e as minhas palavras parecem-me gente... (Fernando Pessoa, O marinheiro. Campinas: Editora da Unicamp, 2020, p. 51.) O que eu era outrora já não se lembra de quem sou... Às vezes, à beira dos lagos, debruçava-me e fitava-me... Quando eu sorria, os meus dentes eram misteriosos na água... Tinham um sorriso só deles, independentes do meu... (Idem, p. 52.) Nos excertos acima, dois fenômenos são apresentados ao leitor e cons�tuem o principal problema dramá�co da peça de Fernando Pessoa. Assinale a alterna�va que iden�fica e explica corretamente esses fenômenos. a) As palavras e as imagens tornam-se independentes da pessoa humana. Isso significa a cisão entre o sujeito e o mundo ou, ainda, a crise de iden�dade pessoal reiterada nos diálogos. b) Proferir um discurso e ver-se refle�do em um lago são situações dramá�cas que sugerem a unidade entre ser e exis�r. A questão central, quem eu sou, é resolvida no desfecho da peça. c) Lembrar e esquecer são dois aspectos inseparáveis da estrutura dramá�ca da peça. Se a imagem refle�da no lago não se assemelha à pessoa que a contempla, as palavras, por sua vez, garantem a conexão entre o eu e a realidade exterior. d) O horror e o mistério das coisas são elementos básicos desse drama. Eles produzem, nas personagens, a convicção de que é ú�l narrar as experiências do passado porque assim se revela o seu verdadeiro significado. L0569 - (Unicamp) Conheço um povo sem poligamia: o povo macua. Este povo deixou as suas raízes e apoligamou-se por influência da religião. Islamizou-se. (...) Conheço um povo de tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado no papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia. Cris�anizou-se. Jurou deixar os costumes bárbaros de casar com muitas mulheres para tornar-se monógamo ou celibatário. (...) Um dia dizem não aos costumes, sim ao cris�anismo e à lei. No momento seguinte, dizem não onde disseram sim, ou sim onde disseram não. (CHIZIANE, Paulina. Niketche. Uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 92.) Baseando-se no excerto e na leitura da obra, é correto afirmar que a) a organização familiar é fruto da vida religiosa dos povos, cabendo assim a monogamia aos povos cristãos e a poligamia aos povos islâmicos. b) os costumes culturais no modo de organizar os arranjos familiares são colocados em xeque por novas estruturas de poder, as quais transmitem outros valores. c) a monogamia aparece como evolução natural aos costumes supostamente bárbaros de os homens se casarem com muitas mulheres em determinadas culturas africanas. d) o povo macua tornou-se monogâmico depois de abraçar a fé cristã trazida pelo papa e padres, o que pode ser considerado um aprimoramento social. L0573 - (Unicamp) 35@professorferretto @prof_ferretto “Deus fez o mar, as árvore, as criança, o amor O homem me deu a favela, o crack, a trairagem, as arma, as bebida, as puta Eu?! Eu tenho uma Bíblia velha, uma pistola automá�ca e um sen�mento de revolta Eu tô tentando sobreviver no inferno”. (RACIONAIS MC’S. Gênesis. In: Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das Letras, p. 45, 2018.) A palavra “Gênesis” dá nome ao primeiro livro da Bíblia. Considerando a obra, na íntegra, dos Racionais MC’s e o excerto acima dela reproduzido, pode-se dizer que, em relação a esse trecho, “gênesis” seria uma alusão a) à influência do cris�anismo na dinâmica das comunidades periféricas. b) ao colapso planetário entrevisto já na origem do mundo natural. c) à origem divina do mundo contraposta aos problemas criados pelo homem. d) à origem religiosa dos conflitos armados e da violência social no Brasil. L0574 - (Unicamp) je ne parle pas bien* je ne parle pas bien je ne parle pas bien je ne parle pas bien eu tenho uma língua solta que não me deixa esquecer que cada palavra minha é resquício da colonização cada verbo que aprendi conjugar foi ensinado com a missão de me afastar de quem veio antes nossas escolas não nos ensinam a dar voos [...] reinvenção nossa revolução surge e urge das nossas bocas das falas aprendidas que são ensinadas e muitas não compreendidas salve, a cada gíria je ne parle pas bien [...] o que era pra ser arma de colonizador está virando revide de ex colonizado estamos aprendendo as suas línguas e descolonizando os pensamento (Fragmentos do poema Je ne parle pas bien, de Luz Ribeiro, publicado na Revista Opiniães: Revista dos alunos de Literatura Brasileira, n.10, 2017.) * Je ne parle pas bien, do francês, significa “Eu não falo direito”. Podemos afirmar que o uso repe�do do verso Je ne parle pas bien no poema slam de Luz Ribeiro a) expressa a necessidade de repe�r muitas vezes uma mesmasentença como forma de resis�r ao esquecimento de uma língua. b) enfa�za a ideia de que a língua francesa do colonizador ainda não foi aprendida e precisa ser repe�da várias vezes. c) é uma constatação de que, na posição de ex-colônia, não conseguimos aprender línguas estrangeiras. d) indica um posicionamento de resistência por meio de uma crí�ca à aprendizagem forçada da língua do colonizador. L0577 - (Fuvest) “Por quê? Porque pensar em direitos humanos tem um pressuposto: reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo. (...). Nesse ponto as pessoas são frequentemente ví�mas de uma curiosa obnubilação. Elas afirmam que o próximo tem direito, sem dúvida, a certos bens fundamentais, como casa, comida, instrução, saúde, coisas que ninguém bem formado admite hoje em dia que sejam privilégio de minorias, como são no Brasil. Mas será que pensam que seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievski ou ouvir os quartetos de Beethoven? (...). Ora, o esforço para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos humanos.” CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995. Com base na leitura do texto, pode-se afirmar que Antonio Candido defende que o acesso a bens como a literatura e a música 36@professorferretto @prof_ferretto a) é privilégio de minorias, pois são bens que exigem reflexão. b) deve ser reivindicado como um direito, e não como um privilégio. c) vi�miza as pessoas que não têm acesso a bens fundamentais para viver. d) humaniza as minorias privilegiadas, incen�vando-as a compar�lhar seu conhecimento. e) é indispensável para quem luta pelos direitos humanos. L0576 - (Fuvest) “O lugar do ensino superior agora tem as portas abertas. A (...) Cons�tuição é que impõe essa situação por decreto. Mas (...) este não pode garan�r que todos tenham a tal ‘capacidade’ que lhes vai permi�r o aproveitamento dessa educação. Há rapazes – até agora são poucas as moças com a força de vontade que Jabu, ainda menina, �nha para dar e vender – que recebem bolsas ou auxílios de algum �po (...). As ‘aulas de reforço’ (...): um band-aid. Steve sabe que isso não é uma solução para o abismo da educação ruim do fundo do qual os alunos tentam emergir. A Luta não terminou. – (...) Eu tenho alunos de estudos africanos que não sabem escrever (...). – Então o que é que nós devíamos estar fazendo? (...) O professor Nielson ainda usa terno (...), embora o padrão da indumentária tenha relaxado a par�r do exemplo dado pelas túnicas de Mandela. (...) – Você não está propondo que a gente baixe ainda mais os critérios de admissão à universidade. Então a universidade é pra avançar no conhecimento ou é pra andar pra trás? O que Steve está perguntando é se esse ensino adicional de faz de conta na esperança de elevar os alunos a um nível universitário pode compensar dez anos de educação primária e secundária de péssimo nível.” GORDIMER, Nadine. O melhor tempo é o tempo presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p.82- 83. No excerto do romance da escritora sul-africana Nadine Gordimer, é possível iden�ficar: a) o regime de apartheid em vigor na África do Sul na época em que o romance se passa, que man�nha alunos e professores negros fora da universidade. b) a segregação formal das mulheres no acesso à educação, conforme estabelecido pela Cons�tuição promulgada no pós-apartheid. c) as eficazes estratégias de apoio aos estudantes pobres para assegurar a boa qualidade da educação básica e superior na época do apartheid. d) as incertezas sobre as estratégias adotadas para enfrentar desigualdades sociais e educacionais legadas pelo regime do apartheid na África do Sul. e) o reconhecimento consensual do sucesso do projeto de inclusão educacional no cenário sul-africano pós- apartheid. 37@professorferretto @prof_ferrettoe aos que explicam mal suas pescarias macabras. São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá- los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos, pesos amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, fluindo e boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa? Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar para conversas ín�mas: – Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também... Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles foram come�dos. O Guandu não responde a inquéritos nem a repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo desespero. Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram. Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do Guandu, apenas e afinal. (Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.) O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho: a) “São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º parágrafo) b) “Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos.” (2º parágrafo) c) “– Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...” (6º parágrafo) d) “Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta.” (8º parágrafo) e) “Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo) L0014 - (Ufpa) Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores expoentes da literatura român�ca brasileira. Procurando seguir os preceitos do roman�smo, intencionou produzir uma poesia capaz de exprimir a independência literária do Brasil. Na condição de poeta, dedicou-se a vários gêneros literários, entre eles à poesia lírica e à poesia 3@professorferretto @prof_ferretto indianista. Leia atentamente as estrofes 4, 5, 6 e 7 do canto IV do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias: Andei longes terras, Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis Aimorés; Vi lutas de bravos, Vi fortes – escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés. E os campos talados, E os arcos quebrados, E os piagas coitados Já sem maracás; E os meigos cantores, Servindo a senhores, Que vinham traidores, Com mostras de paz. Aos golpes do imigo Meu úl�mo amigo, Sem lar, sem abrigo, Caiu junto a mi! Com plácido rosto, Sereno e composto, O acerbo desgosto Comigo sofri. Meu pai a meu lado Já cego e quebrado, De penas ralado, Firmava-se em mi: Nós ambos, mesquinhos, Por ínvios caminhos, Cobertos d’espinhos Chegamos aqui! Glossário: Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da Bahia e do Espírito Santo; Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão; Ignavos: fracos, covardes; Piaga: pajé, chefe espiritual; Maracá: chocalho indígena u�lizado em festas religiosas e cerimônias guerreiras; Talados: devastados; Acerbo: terrível, cruel; Ínvios: intransitáveis. Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto afirmar que a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o colonizador europeu. b) o ritual antropofágico é representado como uma manifestação da barbárie indígena. c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco é considerada um processo natural e desejável para o progresso da nova nação independente. d) o ponto de vista a par�r do qual se elabora o poema é o do europeu português, que condena as prá�cas bárbaras e violentas das nações indígenas brasileiras. e) as prá�cas colonizadoras portuguesas que levaram ao quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto de vista do próprio índio. L0281 - (Fuvest) Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E, diante da sua insistência bovina, �ve de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta. Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado. Sem prejuízo de sen�do e fazendo as adaptações necessárias, é possível subs�tuir as expressões em destaque no texto, respec�vamente, por a) incompreensão; armação; inofensivo; irredu�vel. b) al�vez; brincadeira; ofendido; mansa. c) ignorância; men�ra; prejudicado; alienada. d) complacência; invenção; bobo; cega. e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca. L0278 - (Fuvest) O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre 4@professorferretto @prof_ferretto a) da quebra de expecta�va gerada pela polissemia. b) da ambiguidade causada pela antonímia. c) do contraste provocado pela foné�ca. d) do contraste introduzido pela neologia. e) do estranhamento devido à morfologia. L0011 - (Uern) Os gêneros literários são empregados com finalidade esté�ca. Leia os textos a seguir. Busque Amor novas artes, novo engenho, Para matar-me, e novas esquivanças; Que não pode �rar-me as esperanças, Que mal me �rará o que eu não tenho. (Camões, L. V. de.Sonetos. Lisboa: Livraria Clássica Editora. 1961. Fragmento.) Porém já cinco sóis eram passados Que dali nos par�ramos, cortando Os mares nunca doutrem navegados, Prosperamente os ventos assoprando, Quando uma noite, estando descuidados Na cortadora proa vigiando, Uma nuvem, que os ares escurece, Sobre nossas cabeças aparece. (Camões, L. V.Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo. Fragmento.) Assinale a alterna�va que apresenta, respec�vamente, a classificação dos textos. a) Épico e lírico. b) Lírico e épico. c) Lírico e dramá�co. d) Dramá�co e épico. L0263 - (Fuvest) O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabu�caba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera? José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos d’ouro. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e delá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha ma�zada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as �ntas de que ma�za o algodão. José de Alencar. Iracema. Glossário: “ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: �po de palmeira espinhosa. Com base nos trechos acima, é adequado afirmar: a) Para Alencar, a literatura brasileira deveria ser capaz de representar os valores nacionais com o mesmo espírito do europeu que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera. b) Ao discu�r, no primeiro trecho, a importação de ideias e costumes, Alencar propõe uma literatura baseada no abrasileiramento da língua portuguesa, como se verifica no segundo trecho. c) O contraste entre os verbos “chupar” e “sorver”, empregados no primeiro trecho, revela o rebaixamento de linguagem buscado pelo escritor em Iracema. d) Em Iracema, a construção de uma literatura exó�ca, tal como se verifica no segundo trecho, pautou-se pela recusa de nossos elementos naturais. e) Ambos os trechos são representa�vos da tendência escapista de nosso roman�smo, na medida em que valorizam os elementos naturais em detrimento da realidade ro�neira. L0005 - (Upe) Retrato do ar�sta quando coisa A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. 1Não aguento ser apenas 2um sujeito que abre 3portas, que puxa 4válvulas, que olha o 5relógio, que compra pão 6às 6 da tarde, que vai 7lá fora, que aponta lápis, 8que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. Barros, Manoel. Manoel de Barros: Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2013. 5@professorferretto @prof_ferretto Considerando o poema em análise “Retrato do ar�sta quando coisa” e também o assunto referente ao estudo do texto literário, assinale a alterna�va CORRETA. a) O texto de Manoel de Barros, escrito em versos, possui caracterís�cas que podem categorizá-lo como um texto literário, pois a linguagem está construída de modo referencial e de única significação. Uma leitura, ainda que superficial, irá concluir que a expressão “usando borboletas” é u�lizada para asseverar a condição do eu lírico de exímio pesquisador dos estudos animais. b) O eu lírico afirma que é “abastado”. No texto, tal afirma�va conduz o leitor à seguinte conclusão: os homens que são incompletos são abastados, pois possuem certamente riquezas econômico-financeiras que os tornam pessoas-modelo para jovens aspirantes ao mesmo status quo. Para o eu lírico, a incompletude do homem é certeza de qualidade econômica. c) Os versos “Eu penso / renovar o homem / usando borboletas” foram escritos de modo figurado, ou seja, as palavras podem assumir sen�dos plurais. Defini-los de forma exclusivamente dicionarizada poderá levar o leitor a equívocos interpreta�vos, visto que tais versos foram concebidos num nível discursivo que lhes permite transcender as barreiras unissignifica�vas da palavra dicionarizada. d) O eu lírico, quando afirma “Eu não aceito”, explicita para o leitor sua indignação com o modelo econômico que rege o sistema capitalista. Para o eu lírico, a incompletude que o torna abastado pode levá-lo a melhorias sociais e existenciais. Esse ponto de vista é defendido pelo eu lírico de modo claro e preciso no poema. e) Os versos apontados pelas referências 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 do poema em análise poderiam ser subs�tuídos, de modo preciso, pela seguinte frase: Sou um homem que evita u�lizar, com frequência, a capacidade imagina�va, pois acredita que a cria�vidade pode atrapalhar a cri�cidade e que ambas se opõem no momento em que vamos definir tarefas como acordar às 6 da tarde e apontar lápis. L0012 - (C�mg) Sobre os gêneros literários, afirma-se: I. O gênero dramá�co abrange textos que tema�zam o sofrimento e a aflição da condição humana. II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a expressão subje�va de estados interiores. III. O gênero épico compreende textos sobre acontecimentos grandiosos protagonizados por heróis. IV. Em literatura, o romance e a novela são formas narra�vas pertencentes ao gênero dramá�co. Estão corretas apenas as afirma�vas a) I e II. b) I e IV. c) II e III. d) III e IV. L0315 - (Unesp) Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro de 1974. E se reverenciássemos neste 2 de novembro os mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na areia das margens, e os urubus os devoram? Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo que for. Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga da Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe menos desejado – ganha sepultura anônima, que a piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente pescar mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias macabras. São marginais caçados pela polícia ou por outros marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá- los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos, pesos amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo, fluindo e boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa? Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar para conversas ín�mas: – Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também... Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu 6@professorferretto @prof_ferretto abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles foram come�dos. [...] O Guandu não responde a inquéritos nem a repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não julga, não reclama se lhe corrompem as águas; transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo desespero. Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram. Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do Guandu, apenas e afinal. (Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.) A alusão aos mortos se completa com a referência aos “crimes que [os mortos do Guandu] cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que neles foram come�dos”, e já não temos dúvida de que o autor se refere aos desaparecidos polí�cos durante a ditadura militar em seu período mais violento, os anos do governo Médici e do AI-5. Especialmente porque o rio Guandu, além de ter sido no início dos anos 1960 o cenário da “Operação Mata-Mendigos”, polí�ca higienista posta em prá�ca pelo governador Carlos Lacerda, era também, conforme o relato de um dos líderes da Passeata dos Cem Mil, “um lugarhabitual de desova de cadáveres durante a ditadura” (Palmeira; Dirceu, 2003, p.161). A inversão irônica dos crimes come�dos nos mortos do Guandu cons�tui, então, uma denúncia contra as atrocidades pra�cadas pelos militares contra os chamados inimigos do regime, em um momento, já no início da era Geisel, em que a discussão sobre a tortura e os desaparecimentos explodia na esfera pública (Napolitano, 2017, p.243). (“Em cinza enxovalhada”: Drummond e a ditadura militar. Fábio C. Alves) Pode-se apontar na crônica um teor, sobretudo, a) metalinguís�co. b) paródico. c) crí�co. d) sa�rico. e) fantás�co. L0269 - (Fuvest) Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá-la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra. Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma care�nha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer. Helena Morley, Minha Vida de Menina. PERGUNTAS Numa incerta hora fria perguntei ao fantasma que força nos prendia, ele a mim, que presumo estar livre de tudo eu a ele, gasoso, (...) No voo que desfere silente e melancólico, rumo da eternidade, ele apenas responde (se acaso é responder a mistérios, somar-lhes um mistério mais alto): Amar, depois de perder. Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que a) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira. b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em defini�vo as dúvidas existenciais. c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sen�do filosófico da morte. d) a menina está inquieta por conhecer o des�no das almas, enquanto o poeta cri�ca o ce�cismo. e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares. L0318 - (Unicamp) Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo Literário”, um manifesto do escritor Ferréz. A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra, porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. A literatura marginal se faz presente para representar a 7@professorferretto @prof_ferretto cultura de um povo composto de minorias, mas em seu todo uma maioria. A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos centrais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de grande poder aquisi�vo. Mas alguns dizem que sua principal caracterís�ca é a linguagem, é o jeito que falamos, que contamos a história, bom, isso fica para os estudiosos. Cansei de ouvir: – “Mas o que cês tão fazendo é separar a literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca cansarei de responder: – “O barato já tá separado há muito tempo, foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de lá, e do de cá mal terminamos o ensino dito básico.” (Adaptado de Ferréz, “Terrorismo literário”, em Ferréz (Org.), Literatura marginal: talentos da escrita periférica.) Ferréz defende sua proposta literária como uma a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra para que não haja separação entre a grande cultura nacional e a literatura feita por minorias. b) comprovação de que, sendo as minorias de fato uma maioria, não faz sen�do dis�nguir duas literaturas, uma do centro e outra da periferia. c) manifestação de que a literatura marginal tem seu modo próprio de falar e de contar histórias, já reconhecido pelos estudiosos. d) constatação de que é preciso reagir com a palavra e mostrar-se nesse lugar marginal como literatura feita por minorias que juntas formam uma maioria. L0272 - (Fuvest) Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poé�cos, abolem, “destroem” o mundo circundante, co�diano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem-nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo esté�co que nos enleia; seduz-nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri-lo, sen�ndo-o e pensando- o de maneira diferente e nova. A ilusão, a men�ra, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar-se dele, transfigurando-o; e aclara-o já pelo insight que em nós provocou. Benedito Nunes, “É�ca e leitura”, de Crivo de Papel. O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza ar�s�ca da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se a) estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo. b) u�liza a linguagem para informar sobre o mundo. c) ins�ga no leitor uma a�tude reflexiva diante do mundo. d) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo. e) conduz o leitor a ignorar o mundo real. L0286 - (Fuvest) FAMÍLIA Três meninos e duas meninas, sendo uma ainda de colo. A cozinheira preta, a copeira mulata, o papagaio, o gato, o cachorro, as galinhas gordas no palmo de horta e a mulher que trata de tudo. A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, o cigarro, o trabalho, a reza, a goiabada na sobremesa de domingo, o palito nos dentes contentes, o gramofone rouco toda noite e a mulher que trata de tudo. O agiota, o leiteiro, o turco, o médico uma vez por mês, o bilhete todas as semanas branco! mas a esperança sempre verde. A mulher que trata de tudo e a felicidade. Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia. No poema de Drummond, a) a hierarquização dos substan�vos que compõem a primeira estrofe tem a função de situar essa família na sociedade escravagista do século XIX. b) a repe�ção de um verbo de ação, em contraste com o caráter nominal dos versos, destaca a serven�a da figura feminina na organização familiar. c) a ausência de menção direta ao homem produz um retrato rea�vo à família patriarcal, por salientar o protagonismo social da mulher. d) o modo como os elementos que compõem a terceira estrofe estão relacionados permite inferir a prosperidade econômica familiar. e) o enquadramento da mulher no ambiente domés�co lança luz sobre um regime social que favorece a realização plena das potencialidades femininas. 8@professorferretto @prof_ferretto L0279 - (Fuvest) Alferes, Ouro Preto em sombras Espera pelo ba�zado, Ainda que tarde sobre a morte do sonhador Ainda que tarde sobre as bocas do traidor. Raios de sol brilharão nos sinos: Dez vias dar. Ai Marília, as liras e o amar Não posso mais sufocar E a minha voz irá Pra muito além do desterro e do sal, Maior que a voz do rei. Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de 1973. A imagem de Tiradentes – a quem Cecília Meireles qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”, em palestra feita em Ouro Preto – torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o már�r sonhador para resis�r ao discurso a) da doutrina revolucionária de ligas poli�camente engajadas. b) da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes. c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar. d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas. e) da �rania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro. L0270 - (Fuvest) Can�ga de enganar O mundo não tem sen�do. O mundo e suas canções de �mbre mais comovido estão calados, e a fala que de uma para outra sala ouvimos em certoinstante é silêncio que faz eco e que volta a ser silêncio no negrume circundante. Silêncio: que quer dizer? Que diz a boca do mundo? Meu bem, o mundo é fechado, se não for antes vazio. O mundo é talvez: e é só. Talvez nem seja talvez. O mundo não vale a pena, mas a pena não existe. Meu bem, façamos de conta. De sofrer e de olvidar, de lembrar e de fruir, de escolher nossas lembranças e revertê-las, acaso se lembrem demais em nós. Façamos, meu bem, de conta – mas a conta não existe – que é tudo como se fosse, ou que, se fora, não era. (...) Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspec�va do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso-síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a �.” (“Legado”). O excerto de “Can�ga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada a) pela música, que ressoa em canções líricas. b) pela cor, brilhante na claridade solar. c) pela afirmação de valores sólidos. d) pela memória, que corre fluida no tempo. e) pelo despropósito de um faz-de-conta. L0268 - (Fuvest) Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo �po –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam-se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia-lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol. Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. *sem pelos, sem barba **tolo ***mes�ço O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que 9@professorferretto @prof_ferretto a) há clara an�pa�a do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”. b) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refle�r a mescla de culturas própria ao es�lo do livro. c) a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro. d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narra�va Manuel Fulô sofre derrota na luta �sica. e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua. L0007 - (Udesc) Cavador do Infinito Com a lâmpada do Sonho desce aflito E sobe aos mundos mais imponderáveis, Vai abafando as queixas implacáveis, Da alma o profundo e soluçado grito. Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito Sente, em redor, nos astros inefáveis. Cava nas fundas eras insondáveis O cavador do trágico Infinito. E quanto mais pelo Infinito cava Mais o Infinito se transforma em lava E o cavador se perde nas distâncias... Alto levanta a lâmpada do Sonho E com seu vulto pálido e tristonho Cava os abismos das eternas ânsias! SOUZA, Cruz e. Úl�mos Sonetos. www.dominiopublico.gov.br. Analise as proposições em relação ao soneto “Cavador do Infinito”, Cruz e Souza. I. A leitura do poema leva o leitor a inferir que o cavador do infinito é a representação da imagem do próprio poeta, ou seja, um autorretrato do poeta simbolista. II. Da leitura do poema infere-se que a metáfora está centrada na lâmpada do sonho, a qual se refere à imaginação onírica do poeta e ilumina o seu inconsciente. III. O sinal de pontuação – re�cências – no verso 11, acentua o clima de indefinível, levando o leitor a inferir sobre a situação – o drama vivido pelo eu lírico. IV. No plano formal, o uso de letra maiúscula em substan�vos comuns é uma caracterís�ca do Simbolismo, como ocorre em: “Sonho”(versos 1 e 12), “Ânsias” e “Desejos” (verso 5); “Infinito” (versos 8 e 9). Usada como alegoria, a letra maiúscula tenciona dar um sen�do de transcendência, de valor absoluto. V. Da leitura do poema e do contexto literário simbolista, infere-se que o �tulo do poema “Cavador do Infinito” reforça a ideia a que o soneto remete: o poeta simbolista busca a transcendência, a transfiguração da realidade co�diana para uma dimensão meta�sica, que é uma caracterís�ca da esté�ca simbolista. Assinale a alterna�va correta. a) Somente as afirma�vas II e III são verdadeiras. b) Somente as afirma�vas I, III e V são verdadeiras. c) Somente as afirma�vas II, III, IV e V são verdadeiras. d) Somente as afirma�vas I, IV e V são verdadeiras. e) Todas as afirma�vas são verdadeiras. L0311 - (Unesp) Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Gianne�. Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da autossuficiência e do controle das paixões os valores centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe atenderei.” Diógenes [...] não �tubeou: “O senhor teria a delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a tese socrá�ca de que, entre os mortais, o mais próximo dos deuses em felicidade é aquele que de menor número de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e sereis omnipotentes.” (Eduardo Gianne�. Trópicos utópicos, 2016.) Depreende-se do ensaio uma crí�ca, sobretudo, a) à insensibilidade. b) à intemperança. c) à passividade. d) à volubilidade. e) à intolerância. L0274 - (Fuvest) Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Mas mais frágil fica a bota. 10@professorferretto @prof_ferretto Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. *sesta: repouso após o almoço. Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como a) uma defesa da natureza. b) um ataque às forças armadas. c) uma defesa dos direitos humanos. d) uma defesa da resistência civil. e) um ataque à passividade. L0273 - (Fuvest) amora a palavra amora seria talvez menos doce e um pouco menos vermelha se não trouxesse em seu corpo (como um velado esplendor) a memória da palavra amor a palavra amargo seria talvez mais doce e um pouco menos acerba se não trouxesse em seu corpo (como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. É correto afirmar que o poema a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio. b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repe�ção da palavra “talvez”. c) apresenta natureza român�ca, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sen�mento amoroso. d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. L0276 - (Fuvest) I – Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me. (...) Sabes a que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, cama tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu �ver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu. Pepetela, Mayombe. Adaptado. II – Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável. Pepetela, Mayombe.Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos dis�ntos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam, respec�vamente, a) incompa�bilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hos�lidade tribal. b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado. c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele. d) forte tensão homoafe�va entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdadeira orientação sexual do companheiro. e) ira, diante do an�catolicismo de Sem Medo, e culpa que o a�nge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco. L0287 - (Fuvest) O QUINTO IMPÉRIO Triste de quem vive em casa, Contente com o seu lar, Sem que um sonho, no erguer de asa, Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar! Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz — Ter por vida a sepultura. Eras sobre eras se somem No tempo que em eras vem. Ser descontente é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! E assim, passados os quatro Tempos do ser que sonhou, A terra será teatro 11@professorferretto @prof_ferretto Do dia claro, que no atro [sombrio] Da erma noite começou. Grécia, Roma, Cristandade, Europa — os quatro se vão Para onde vai toda idade. Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebas�ão? Fernando Pessoa. Mensagem. Mensagem reconduz a história de Portugal a par�r de uma reinterpretação do tempo histórico. No poema, o tempo é encarado segundo uma concepção a) nostálgica, devido à presença de modelos situados no passado. b) materialista, por efeito da aspiração burguesa de um lar confortável. c) mís�ca, em razão do prognós�co de um futuro meta�sico. d) biológica, por mérito da aceitação do ciclo natural da existência. e) psicológica, em virtude da referência ao substan�vo “sonho”. L0454 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. “Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar 12@professorferretto @prof_ferretto disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras, uma avantesma...” (2º parágrafo) Nesse trecho, o cronista acaba por desconstruir a oposição entre a) razão e século de luzes. b) razão e crendice. c) razão e descrença. d) Iluminismo e Liberalismo. e) Iluminismo e Revolução Francesa. L0455 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontrana rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Em relação à reportagem sobre a diligência policial (4º e 5º parágrafos), o cronista destaca seu caráter a) obje�vo. b) enigmá�co. c) enfadonho. d) fantasioso. e) macabro. L0456 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo 13@professorferretto @prof_ferretto sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o trecho a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo). b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando” (1º parágrafo). c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi” (3º parágrafo). d) “as primerias pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea” (2º parágrafo). e) “O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas” (2º parágrafo). L0457 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão 14@professorferretto @prof_ferretto propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia” (3º parágrafo), o trecho sublinhado cons�tui um exemplo de a) sinestesia. b) paradoxo. c) pleonasmo. d) hipérbole. e) eufemismo. L0458 - (Unesp) Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac, publicada originalmente em 1902. Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já se não adormecem as crianças com histórias de fadas e de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão rejubilando. O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi. Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva, tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas – que as primeiras pessoas que o viram não puderam em consciência dizer se era duende macho ou duende fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por saber de longa data que pela boca é que morrem os peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava – não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar 15@professorferretto @prof_ferretto nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na rua, a desoras2, uma avantesma3... Assim, um profundo mistério cercava a existência do lobisomem de Catumbi – quando começaram de aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia, finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe, andava acumulando novos pecados sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos merecedores de exorcismos que de cadeia. Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os si�antes7 empunhavam”. Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros, esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram sem dúvida os frangões roubados aos quintais das casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu tempo passou. (Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.) 1esba�do: de tom pálido. 2a desoras: muito tarde. 3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro. 4folha: periódico diário, jornal. 5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas. 6pardieiro: prédio velho ou arruinado. 7si�ante: policial. Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há morcegos” (5º parágrafo), o termo sublinhado está empregado na mesma acepção do termo sublinhado em a) “ela correu um risco desnecessário”. b) “a no�cia corria por toda a cidade”. c) “a manhã corria especialmente tranquila”. d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”. e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”. L0459 - (Unesp) Leia a cena inicial da comédia O noviço, de Mar�ns Pena. AMBRÓSIO: No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se a�nar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e per�nácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo �ver de responder pelos meus atos,o ouro jus�ficar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres... (Mar�ns Pena. Comédias (1844-1845), 2007.) “O como não importa; no bom resultado está o mérito...” O teor dessa fala aproxima-se do conteúdo da seguinte citação: a) “Todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo a essência.” (Friedrich Schiller, escritor alemão, 1759- 1805.) b) “A virtude está toda no esforço.” (Anatole France, escritor francês, 1844-1924.) c) “Cuide dos meios; o fim cuidará de si mesmo.” (Mahatma Gandhi, líder polí�co indiano, 1869-1948.) d) “O homem é o lobo do homem.” (Plauto, dramaturgo romano, 254 a.C.-184 a.C.) e) “Os fins jus�ficam os meios.” (Ovídio, poeta romano, 43 a.C.-17 d.C.) L0460 - (Unesp) Leia a cena inicial da comédia O noviço, de Mar�ns Pena. AMBRÓSIO: No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se a�nar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e per�nácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue 16@professorferretto @prof_ferretto enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. O como não importa; no bom resultado está o mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo �ver de responder pelos meus atos, o ouro jus�ficar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres... (Mar�ns Pena. Comédias (1844-1845), 2007.) A fala de Ambrósio contém um elogio. a) à humildade. b) à moderação. c) à meritocracia. d) à jus�ça. e) à burocracia. L0463 - (Unesp) Enquanto quis Fortuna1 que �vesse Esperança de algum contentamento, O gosto de um suave pensamento2 Me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor3 que aviso desse Minha escritura a algum juízo isento4, Escureceu-me o engenho5 com tormento, Para que seus enganos não dissesse. Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos A diversas vontades, quando lerdes Num breve livro casos tão diversos, Verdades puras são, e não defeitos6, E sabei que, segundo o amor �verdes, Tereis o entendimento de meus versos. (Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.) 1Fortuna: en�dade mí�ca que presidia a sorte dos homens. 2suave pensamento: sen�mento amoroso. 3Amor: en�dade mí�ca que personifica o amor. 4juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram. 5engenho: talento poé�co, inspiração. 6defeitos: inverdades, fantasia. No soneto, Amor teme que a) o eu lírico perca sua inspiração. b) a poesia do eu lírico não seja sincera. c) a poesia do eu lírico não seja compreendida. d) o eu lírico esqueça sua amante. e) o eu lírico divulgue seus enganos. L0464 - (Unesp) Enquanto quis Fortuna1 que �vesse Esperança de algum contentamento, O gosto de um suave pensamento2 Me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor3 que aviso desse Minha escritura a algum juízo isento4, Escureceu-me o engenho5 com tormento, Para que seus enganos não dissesse. Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos A diversas vontades, quando lerdes Num breve livro casos tão diversos, Verdades puras são, e não defeitos6, E sabei que, segundo o amor �verdes, Tereis o entendimento de meus versos. (Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.) 1Fortuna: en�dade mí�ca que presidia a sorte dos homens. 2suave pensamento: sen�mento amoroso. 3Amor: en�dade mí�ca que personifica o amor. 4juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram. 5engenho: talento poé�co, inspiração. 6defeitos: inverdades, fantasia. Segundo o eu lírico, Amor torna os amantes a) mesquinhos. b) melancólicos. c) submissos. d) imprudentes. e) insensatos. L0465 - (Unesp) Enquanto quis Fortuna1 que �vesse Esperança de algum contentamento, O gosto de um suave pensamento2 Me fez que seus efeitos escrevesse. Porém, temendo Amor3 que aviso desse Minha escritura a algum juízo isento4, Escureceu-me o engenho5 com tormento, Para que seus enganos não dissesse. Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos A diversas vontades, quando lerdes Num breve livro casos tão diversos, Verdades puras são, e não defeitos6, 17@professorferretto @prof_ferretto E sabei que, segundo o amor �verdes, Tereis o entendimento de meus versos. (Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.) 1Fortuna: en�dade mí�ca que presidia a sorte dos homens. 2suave pensamento: sen�mento amoroso. 3Amor: en�dade mí�ca que personifica o amor. 4juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca se apaixonaram. 5engenho: talento poé�co, inspiração. 6defeitos: inverdades, fantasia. No soneto, o eu lírico dirige-se, mediante voca�vo, a) àqueles que não entendem seus versos. b) a Amor. c) àqueles que nunca se apaixonaram. d) aos amantes. e) a Fortuna. L0471 - (Unesp) Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. A obra resultou da cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias3 de flores ru�lantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela – braços largamente abertos, face volvida para os céus – um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compar�ra, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela úl�ma vez juntos, os companheiros aba�dos na batalha. O des�no que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas suges�vo, a secura extrema dos ares. (Os sertões, 2016.) 1 canhoneio: descarga de canhões. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, flores de tom verde-pálido e frutos bacáceos. 3 palmatória: planta da família das cactáceas, de flores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ri�er von Mannlicher. Anteriormente ao texto transcrito, Euclides da Cunha menciona a existência de “higrômetros inesperados e bizarros” na paisagem. Cons�tui exemplo de higrômetro inesperado e bizarro no texto transcrito: a) a disposição geográfica das colinas . b) a ação dos vermes a decompor o cadáver. c) o corpo abandonado do soldado. d) a quixabeira solitária, cercada por vegetação franzina. e) a secura extrema dos ares. L0473 - (Unesp) E se esse tal