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Vestibulares
Introdução à Literatura
L0328 - (Unicamp)
 
“Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos
ferem e trespassam. Um livro tem que ser como um
machado para quebrar o mar de gelo do bom senso e do
senso comum."
(Adaptado de “Franz Ka�a, carta a Oscar Pollak, 1904.”)
 
Assinale o excerto que confirma os dois textos
anteriores. 
a) A leitura é, fundamentalmente, processo polí�co.
Aqueles que formam leitores – professores,
bibliotecários – desempenham um papel polí�co.
(Marisa Lajolo, A formação do leitor no Brasil. São
Paulo: Á�ca, 1996, p. 28.) 
b) Pelo que sabemos, quando há um esforço real de
igualitarização, há aumento sensível do hábito de
leitura, e portanto difusão crescente das obras.
(Antonio Candido, Vários escritos. São Paulo: Duas
cidades, 2004, p.187.) 
c) Ler é abrir janelas, construir pontes que ligam o que
somos com o que tantos outros imaginaram,
pensaram, escreveram; ler é fazer-nos expandidos.
(Gilberto Gil, Discurso no lançamento do Ano Ibero-
Americano da Leitura, 2004.) 
d) A leitura é uma forma servil de sonhar. Se tenho de
sonhar, por que não sonhar os meus próprios sonhos?
(Fernando Pessoa, Páginas ín�mas e de Auto-
Interpretação. São Paulo: Á�ca, 1966, p. 23.) 
L0013 - (Uem)
(Adaptada) Assinale o que for correto sobre o gênero
lírico. 
 
01. O gênero lírico, em comparação com o gênero épico
ou narra�vo, mostra-se marcado por um filtro subje�vo
que favorece a expressão individual, bem como a
intensificação de sen�mentos e emoções. 
02. Embora marcado por grande liberdade temá�ca, o
gênero lírico é bastante rigoroso no tocante às formas
fixas, de modo que se manifesta apenas em sonetos,
odes, elegias, contos e novelas. 
04. Em contraste com a presença de um narrador no
gênero épico, na lírica nota-se a presença de um eu lírico,
que tanto permite a expressão de um mundo interior
quanto serve de filtro para a realidade externa. 
08. Uma das principais subdivisões do gênero lírico
encontra-se no par “comédia” e “tragédia” que, presente
desde as primeiras manifestações do gênero, deu origem,
já no fim do século XVIII, à “tragicomédia”, com a
u�lização de versos livres e brancos. 
1@professorferretto @prof_ferretto
16. Recursos formais como a rima, a métrica e o ritmo,
embora possam ser verificados em outros gêneros
literários, encontram-se especialmente ligados ao gênero
lírico, favorecendo sua sonoridade e sua
expressividade. 
 
Estão corretas apenas as afirma�vas 
a) 01 e 02. 
b) 01, 02 e 08. 
c) 02 e 04. 
d) 01, 04 e 16. 
L0006 - (Uece)
O amigo da casa
 
 A própria menina se prende muito a 1ele, que
ainda lhe trouxe a úl�ma boneca, embora agora ela se
ponha mocinha: encolhe-se na poltrona da sala sob a luz
do abajur e lê a revista de quadrinhos. 2Ele é alemão
como o dono da casa. Tem apartamento no hotel da praia
e joga tênis no clube, saltando com energia para dentro
do campo, a raquete na mão. Assiste às par�das girando
no copo de uísque os cubos de gelo. É o amigo da casa.
Depois do jantar, passeia com a mãe da menina pelo
caminho de pedra do jardim: as duas cabeças – a loira e a
preta de cabelos aparados – vão e vêm, a dele já com
entradas da calva. 3Ele chupa o cachimbo de fumo
cheiroso, que o moço de bordo vai deixar no escritório.
 O dono da casa é Seu Feldmann. 4Dirige o seu
pequeno automóvel e é muito delicado. Cumprimenta
sempre todos os vizinhos, até mesmo os mais canalhas
como Seu Deca, fiscal da Alfândega.
 Seu Feldmann cumprimenta. Bate com a cabeça.
Compra marcos a bordo e no banco para a 5sua viagem
regular à Alemanha. Viaja em companhia do comandante
do cargueiro, em camarote especial. Então respira o ar
marí�mo no alto do convés, os braços muito brancos e
descarnados, na camisa leve de mangas curtas.
 A fortuna de origem é da mulher: as velhas casas
no centro da cidade, os an�gos armazéns, 6o sí�o da
serra, de onde ela desce aos domingos em
companhia 7do 8outro, que é o amigo da casa, e da
menina.
 9Saem os dois à noite e 10ele para o seu próprio
automóvel sob os coqueiros na praia. 11Decerto brigaram
mais uma vez, porque ela volta para casa de olhos
vermelhos, enrolando 12nos dedos o lencinho bordado.
Recolhe-se a seu quarto (ela e seu Feldmann dormem em
quartos separados). Trila o apito do guarda. 13Os faróis
do automóvel na rua pincelam de luz as paredes, �ram
reflexo do espelho. 14Ela permanece insone: o vidro de
sua janela é um retângulo de luz na noite.
(Moreira Campos. In Obra Completa– contos II. 1969. p.
120-122. Originalmente publicado na obra O puxador de
terço. Texto adaptado.) 
 
 
Para a maioria dos estudiosos da literatura, o texto
literário é estruturado em pares de oposição: vida/morte;
amor/ódio, etc. Essas oposições constam no texto
claramente ou implicitamente. E não é necessário que os
dois termos da oposição estejam na super�cie linguís�ca
do texto. Se o texto fala somente de morte, a vida está,
por oposição, implícita nele.
 
Abaixo você encontrará duas colunas. Na coluna I, haverá
um termo que formará, com um termo presente na
coluna II, uma oposição. Essas oposições constam no
texto claramente ou implicitamente. Nessa perspec�va,
numere a coluna II de acordo com a I.
 
Coluna I Coluna II
1. indulgência (__) deslealdade
2. vigor (__) arrogância
3. essência (__) intolerância
4. modés�a (__) fu�lidade
5. afabilidade (__) aparência
6 seriedade (__) rigidez
7. confiabilidade (__) debilidade
 
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: 
a) 1 – 4 – 7 – 2 – 3 – 5 – 6. 
b) 2 – 7 – 4 – 5 – 6 – 1 – 3. 
c) 4 – 2 – 5 – 1 – 3 – 6 – 7. 
d) 7 – 4 – 1 – 6 – 3 – 5 – 2. 
L0310 - (Unesp)
Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Gianne�.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da
autossuficiência e do controle das paixões os valores
centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma
cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram
suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu
conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem
mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe
atenderei.” Diógenes [...] não �tubeou: “O senhor teria a
delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está
bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o
imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a
tese socrá�ca de que, entre os mortais, o mais próximo
dos deuses em felicidade é aquele que de menor número
de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas
2@professorferretto @prof_ferretto
de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão
zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a
oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria
desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei
só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e
sereis omnipotentes.”
(Eduardo Gianne�. Trópicos utópicos, 2016.)
 
A resposta de Diógenes a Alexandre Magno pode ser
caracterizada como
a) audaciosa. 
b) subserviente. 
c) hipócrita. 
d) compassiva. 
e) incoerente. 
L0316 - (Unesp)
Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond
de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro
de 1974.
E se reverenciássemos neste 2 de novembro os
mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho
do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na
areia das margens, e os urubus os devoram?
Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus
corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo
que for.
Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga da
Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe
menos desejado – ganha sepultura anônima, que a
piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente
pescar mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às
vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos
suspeitosfuturo
for pior do que o presente
E se for melhor parar
do que caminhar pra frente
E se o amor for dor
E se todo sonhador
não passar de um pobre louco
E se eu desanimar,
Se eu parar de sonhar
queda a queda, pouco a pouco.
(Bráulio Bessa. “Se”. In: Poesia que transforma, 2018.)
No excerto do cordel, o eu lírico manifesta inquietação
equivalente a uma preocupação central e recorrente na
história da filosofia, desde suas origens, qual seja:
18@professorferretto @prof_ferretto
a) a iden�ficação de princípios reveladores da virtude. 
b) a fundamentação do conhecimento na experiência
empírica.
c) o desenvolvimento de critérios de organização da
linguagem. 
d) o ques�onamento con�nuo para a compreensão da
realidade. 
e) a busca ininterrupta da verdade plena e absoluta.
L0478 - (Unesp)
A ideia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza
e em parte extraía dela a sua jus�fica�va. Ambas
conduziam a uma literatura que compensava o atraso
material e a debilidade das ins�tuições por meio da
supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do
exo�smo razão de o�mismo social. A par�r de 1930
houve uma mudança de orientação, sobretudo na ficção
regionalista, percebendo-se o que havia de
mascaramento no encanto pitoresco com que antes se
abordava o homem rús�co. Evidenciou-se a realidade dos
solos pobres, das técnicas arcaicas, da miséria pasmosa
das populações, da sua incultura paralisante. A visão que
resulta dessa perspec�va é pessimista quanto ao
presente e problemá�ca quanto ao futurode medir
tantas sílabas, com acentuação determinada.
(Antonio Candido. A educação pela noite e outros
ensaios, 1989. Adaptado.)
O excerto assinala uma reorientação nos rumos da
literatura brasileira, na medida em que os escritores
a) deparam-se com a ins�tuição de uma regionalização
oficial pelo IBGE.
b) passam a mostrar os aspectos do Brasil como país
subdesenvolvido.
c) reconhecem o estabelecimento de alianças
democrá�cas no Brasil.
d) percebem a assimilação do american way of life pelo
povo brasileiro.
e) optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica em
sua produção literária.
L0492 - (Unesp)
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano
Ramos, para responder à(s) questão(ões) a seguir.
 
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa
do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma
limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são
levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-
se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra,
bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos
miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as
lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a
mulher enforcou-se.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção,
proibi a aguardente.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não
preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou
aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode
interessar aos arquitetos, homens que provavelmente
não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito.
Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis
e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros
que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que
servem.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o
mundo dá um bando de voltas.
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos
mencionados, eu haja procedido invariavelmente com
segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos.
Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos,
desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.
Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube
quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz
coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins
que deram lucro. E como sempre �ve a intenção de
possuir as terras de S. Bernardo, considerei legí�mas as
ações que me levaram a obtê-las.
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-
me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se
esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os
negócios desdobraram-se automa�camente.
Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos
trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem
os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o
pau: as tolices que pra�carem viram sabedoria. Tenho
visto criaturas que trabalham demais e não progridem.
Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a
ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e
engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e
obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca,
naturalmente, e levei-a para além do ponto em que
estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve
reclamações.
– Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo
enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar,
paciência, vá à jus�ça.
Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o
caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de
um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife,
estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr.
Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões
mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de
João Nogueira.
19@professorferretto @prof_ferretto
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei
maquinismos e não prestei atenção aos que me
censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas.
Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus
produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem.
Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou-
me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito
também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e
elogiando o chefe polí�co local. Em consequência
mordeu-me cem mil-réis.
 (S. Bernardo, 1996.)
 
No trecho, o narrador revela-se uma pessoa
a) empreendedora e solidária.
b) invejosa e hesitante.
c) obs�nada e compassiva.
d) egoísta e violenta.
e) preguiçosa e traiçoeira.
L0493 - (Unesp)
Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano
Ramos, para responder à(s) questão(ões) a seguir.
 
O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa
do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma
limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são
levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam-
se.
Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra,
bateu-lhe no peito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos
miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as
lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a
mulher enforcou-se.
Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção,
proibi a aguardente.
Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não
preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou
aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode
interessar aos arquitetos, homens que provavelmente
não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito.
Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis
e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros
que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que
servem.
Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o
mundo dá um bando de voltas.
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos
mencionados, eu haja procedido invariavelmente com
segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos.
Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos,
desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.
Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube
quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz
coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins
que deram lucro. E como sempre �ve a intenção de
possuir as terras de S. Bernardo, considerei legí�mas as
ações que me levaram a obtê-las.
Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-
me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se
esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os
negócios desdobraram-se automa�camente.
Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos
trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem
os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o
pau: as tolices que pra�carem viram sabedoria. Tenho
visto criaturas que trabalhamdemais e não progridem.
Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a
ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e
engolem tudo.
Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e
obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes.
Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca,
naturalmente, e levei-a para além do ponto em que
estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve
reclamações.
– Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo
enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar,
paciência, vá à jus�ça.
Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o
caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de
um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife,
estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr.
Magalhães, juiz.
Violências miúdas passaram despercebidas. As questões
mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de
João Nogueira.
Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei
maquinismos e não prestei atenção aos que me
censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas.
Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus
produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem.
Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou-
me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito
também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e
elogiando o chefe polí�co local. Em consequência
mordeu-me cem mil-réis.
 (S. Bernardo, 1996.)
 
“Tenho visto criaturas que trabalham demais e não
progridem.” (7º parágrafo)
Considerada no atual contexto histórico, essa fala do
narrador pode ser vista como uma crí�ca à ideia de
20@professorferretto @prof_ferretto
a) trabalho.
b) meritocracia.
c) burocracia.
d) preguiça.
e) pobreza.
L0506 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de
Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões).
 A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos,
como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito
alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um
deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia
também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar
a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para
respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.
Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar,
porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles
�ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel.
Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta
das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também,
à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos
cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era
pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência.
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem
todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era
apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o
sen�mento da propriedade moderava a ação, porque
dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a
correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,
quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a
quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas,
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico,
se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de
gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha
promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou
“receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio
trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma
trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não
seria nobre, mas por ser instrumento da força com que
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra
nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se
me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a
necessidade de uma achega, a inap�dão para outros
trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir
também, ainda que por outra via, davam o impulso ao
homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
(Contos: uma antologia, 1998.)
Em “o sen�mento da propriedade moderava a ação,
porque dinheiro também dói.” (3º parágrafo), a “ação” a
que se refere o narrador diz respeito 
a) à fuga dos escravos. 
b) ao contrabando de escravos. 
c) aos cas�gos �sicos aplicados aos escravos. 
d) às repreensões verbais feitas aos escravos. 
e) à emancipação dos escravos. 
L0507 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de
Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões).
 A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos,
como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito
alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um
deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia
também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar
a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para
respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.
Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar,
porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles
�ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel.
Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta
das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também,
à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos
cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era
pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência.
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem
todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era
21@professorferretto @prof_ferretto
apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o
sen�mento da propriedade moderava a ação, porque
dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a
correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,
quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a
quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas,
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico,
se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de
gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha
promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou
“receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio
trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma
trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não
seria nobre, mas por ser instrumento da força com que
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra
nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se
me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a
necessidade de uma achega, a inap�dão para outros
trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servirtambém, ainda que por outra via, davam o impulso ao
homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
(Contos: uma antologia, 1998.)
 
Embora não par�cipe da ação, o narrador intromete-se
de forma explícita na narra�va em: 
a) “Há meio século, os escravos fugiam com frequência.”
(3º parágrafo) 
b) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.”
(2º parágrafo) 
c) “A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos
escravos, por lhes tapar a boca.” (1º parágrafo) 
d) “Mas não cuidemos de máscaras.” (1º parágrafo) 
e) “Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.”
(3º parágrafo)
L0508 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de
Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões).
 A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos,
como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito
alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um
deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia
também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar
a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para
respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.
Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar,
porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles
�ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel.
Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta
das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também,
à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos
cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era
pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência.
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem
todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era
apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o
sen�mento da propriedade moderava a ação, porque
dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a
correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,
quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a
quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas,
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico,
se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de
gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha
promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou
“receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio
trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma
trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não
seria nobre, mas por ser instrumento da força com que
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra
nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se
me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a
necessidade de uma achega, a inap�dão para outros
trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir
também, ainda que por outra via, davam o impulso ao
homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
(Contos: uma antologia, 1998.)
 
22@professorferretto @prof_ferretto
Em “Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.” (4º parágrafo), o termo destacado pode ser
subs�tuído, sem prejuízo de sen�do para o texto, por: 
a) escondesse. 
b) denunciasse. 
c) agredisse. 
d) incen�vasse. 
e) ignorasse.
L0509 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de
Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões).
 A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos,
como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito
alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um
deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia
também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar
a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para
respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.
Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar,
porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles
�ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel.
Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta
das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também,
à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos
cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era
pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência.
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem
todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era
apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o
sen�mento da propriedade moderava a ação, porque
dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a
correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,
quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a
quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas,
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico,
se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de
gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha
promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou
“receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio
trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma
trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não
seria nobre, mas por ser instrumento da força com que
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra
nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se
me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a
necessidade de uma achega, a inap�dão para outros
trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir
também, ainda que por outra via, davam o impulso ao
homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
(Contos: uma antologia, 1998.)
 
No úl�mo parágrafo, “pôr ordem à desordem” significa 
a) es�mular os proprietários a tratarem seus escravos
com menos rigor. 
b) conceder a liberdade aos escravos fugidos. 
c) conceder aos proprietários de escravos fugidos alguma
compensação. 
d) abolir a tortura imposta aos escravos fugidos. 
e) res�tuir os escravos fugidos a seus proprietários.
L0510 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de
Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões).
 A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos,
como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito
alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um
deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia
também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar
a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para
respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.
Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar,
porque geralmente erados vinténs do senhor que eles
�ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel.
Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta
das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também,
à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos
cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
23@professorferretto @prof_ferretto
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era
pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência.
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem
todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era
apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o
sen�mento da propriedade moderava a ação, porque
dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a
correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,
quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a
quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas,
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico,
se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de
gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha
promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou
“receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio
trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma
trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não
seria nobre, mas por ser instrumento da força com que
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra
nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se
me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a
necessidade de uma achega, a inap�dão para outros
trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir
também, ainda que por outra via, davam o impulso ao
homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
(Contos: uma antologia, 1998.)
 
A perspec�va do narrador diante das situações e dos
fatos relacionados à escravidão é marcada, sobretudo, 
a) pelo saudosismo. 
b) pela indiferença. 
c) pela indignação. 
d) pelo entusiasmo. 
e) pela ironia.
L0511 - (Unesp)
Leia o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de
Assis (1839-1908), para responder à(s) questão(ões).
 A escravidão levou consigo o�cios e aparelhos,
como terá sucedido a outras ins�tuições sociais. Não cito
alguns aparelhos senão por se ligarem a certo o�cio. Um
deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia
também a máscara de folha de flandres. A máscara fazia
perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar
a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para
respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado.
Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar,
porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles
�ravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
ex�ntos, e a sobriedade e a hones�dade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel.
Os funileiros as �nham penduradas, à venda, na porta
das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também,
à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada
atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos
cas�go que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que
andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era
pegado.
Há meio século, os escravos fugiam com frequência.
Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão.
Sucedia ocasionalmente apanharem pancada, e nem
todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era
apenas repreendida; havia alguém de casa que servia de
padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o
sen�mento da propriedade moderava a ação, porque
dinheiro também dói. A fuga repe�a-se, entretanto.
Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a
correr, sem conhecer as ruas da cidade. Dos que seguiam
para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora,
quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a
quem lho levasse. Punha anúncios nas folhas públicas,
com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito �sico,
se o �nha, o bairro por onde andava e a quan�a de
gra�ficação. Quando não vinha a quan�a, vinha
promessa: “gra�ficar-se-á generosamente” – ou
“receberá uma boa gra�ficação”. Muita vez o anúncio
trazia em cima ou ao lado uma vinheta, figura de preto,
descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma
trouxa. Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem
o acoitasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um o�cio do tempo. Não
seria nobre, mas por ser instrumento da força com que
se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra
nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se
me�a em tal o�cio por desfas�o ou estudo; a pobreza, a
necessidade de uma achega, a inap�dão para outros
trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir
também, ainda que por outra via, davam o impulso ao
homem que se sen�a bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
(Contos: uma antologia, 1998.)
24@professorferretto @prof_ferretto
 
O leitor é figura recorrente e fundamental na prosa
machadiana. Verifica-se a inclusão do leitor na narra�va
no seguinte trecho: 
a) “A fuga repe�a-se, entretanto. Casos houve, ainda que
raros, em que o escravo de contrabando, apenas
comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer
as ruas da cidade.” (3º parágrafo) 
b) “Quando não vinha a quan�a, vinha promessa:
‘gra�ficar-se-á generosamente’ – ou ‘receberá uma
boa gra�ficação’. Muita vez o anúncio trazia em cima
ou ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço,
correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.” (4º
parágrafo) 
c) “Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a
certo o�cio. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o
ferro ao pé; havia também a máscara de folha de
flandres.” (1º parágrafo) 
d) “O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões.
Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa
também, à direita ou à esquerda, até ao alto da
cabeça e fechada atrás com chave.” (2º parágrafo) 
e) “Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e
humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e
alguma vez o cruel. Os funileiros as �nham
penduradas, à venda, na porta das lojas.” (1º
parágrafo) 
L0512 - (Unesp)
Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990),
para responder à(s) questão(ões) a seguir.
 
A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu
avançava no 1batelão velho; remava cansado, com um
resto de sono. De longe veio um 2rincho de cavalo;
depois, numa choça de pescador, junto do morro,
tremulou a luz de uma lamparina.
Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu
encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte.
Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um
irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei
com espanto, quase desgosto: ela usava calças
compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os
pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos
todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha
bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma
coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção
an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta
deve ser alguma santa”. Era uma canção triste.
 
Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou
que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas�mida,
esse fervor confuso da adolescência – adoração sem
esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E
amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete, que
costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado,
que já �nha ido até à Europa e �nha um automóvel e
uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com
minha pobre 3flaubert, não a mim, de calça e camisa,
descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um
motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo.
Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei
na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio galopando a
cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando
quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo
da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me
dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior
a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal
resfolegando e ela respirando forte, com os seios
agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas
imagens que se gravaram na minha memória, desse
encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda
branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar
fino da manhã.
 
E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo.
Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela,
um homem como os de sua roda, com calças de “palm-
beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes;
fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia
os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de
outros lugares mais importantes, com certeza mais
bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos
coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã, que
conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara
desde a ponta do Boi até perto da lagoa.
De repente me fulminou: “Por que você não gosta de
mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...”
Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”.
Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava
mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o cavalo,
perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que
precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me deu
um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora.
Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no
Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o
relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça
bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui
remando com força, sem ligar para os respingos de água
fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse
alguma coisa.
(Os melhores contos, 1997.)
 
1batelão: embarcação movida a remo.
2rincho: relincho.
3flaubert: um �po de espingarda.
 
25@professorferretto @prof_ferretto
A fala “rema, bobalhão!” (úl�mo parágrafo) sugere, por
parte do narrador, 
a) intransigência. 
b) impaciência. 
c) atrevimento. 
d) simplicidade. 
e) arrependimento. 
L0513 - (Unesp)
Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990),
para responder à(s) questão(ões) a seguir.
 
A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu
avançava no 1batelão velho; remava cansado, com um
resto de sono. De longe veio um 2rincho de cavalo;
depois, numa choça de pescador, junto do morro,
tremulou a luz de uma lamparina.
Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu
encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte.
Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um
irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei
com espanto, quase desgosto: ela usava calças
compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os
pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos
todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha
bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma
coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção
an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta
deve ser alguma santa”. Era uma canção triste.
 
Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou
que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas �mida,
esse fervor confuso da adolescência – adoração sem
esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E
amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete, que
costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se) o homem casado,
que já �nha ido até à Europa e �nha um automóvel e
uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com
minha pobre 3flaubert, não a mim, de calça e camisa,
descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um
motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo.
Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei
na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio galopando a
cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando
quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo
da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me
dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior
a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal
resfolegando e ela respirando forte, com os seios
agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas
imagens que se gravaram na minha memória, desse
encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda
branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar
fino da manhã.
 
E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo.
Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela,
um homem como os de sua roda, com calças de “palm-
beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes;
fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia
os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de
outros lugares mais importantes, com certeza mais
bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos
coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã, que
conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara
desde a ponta do Boi até perto da lagoa.
De repente me fulminou: “Por que você não gosta de
mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...”
Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”.
Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava
mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o cavalo,
perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que
precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me deu
um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora.
Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no
Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o
relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça
bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui
remando com força, sem ligar para os respingos de água
fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse
alguma coisa.
(Os melhores contos, 1997.)
 
1batelão: embarcação movida a remo.
2rincho: relincho.
3flaubert: um �po de espingarda.
 
O espanto inicial demonstrado pelo narrador em relação
à moça deve-se ao fato de ela 
a) portar-se de forma independente. 
b) agir de modo dissimulado. 
c) cantar muito bem. 
d) demonstrar orgulho de sua cidade natal. 
e) ser bastante rica. 
L0514 - (Unesp)
Leia o conto “A moça rica”, de Rubem Braga (1913-1990),
para responder à(s) questão(ões) a seguir.
 
A madrugada era escura nas moitas de mangue, e eu
avançava no 1batelão velho; remava cansado, com um
resto de sono. De longe veio um 2rincho de cavalo;
depois, numa choça de pescador, junto do morro,
tremulou a luz de uma lamparina.
26@professorferretto @prof_ferretto
Aquele rincho de cavalo me fez lembrar a moça que eu
encontrara galopando na praia. Ela era corada, forte.
Viera do Rio, sabíamos que era muito rica, filha de um
irmão de um homem de nossa terra. A princípio a olhei
com espanto, quase desgosto: ela usava calças
compridas, fazia caçadas, dava �ros, saía de barco com os
pescadores. Mas na segunda noite, quando nos juntamos
todos na casa de Joaquim Pescador, ela cantou; �nha
bebido cachaça, como todos nós, e cantou primeiro uma
coisa em inglês, depois o Luar do sertão e uma canção
an�ga que dizia assim: “Esse alguém que logo encanta
deve ser alguma santa”. Era uma canção triste.
 
Cantando, ela parou de me assustar; cantando, ela deixou
que eu a adorasse com essa adoração súbita, mas �mida,
esse fervor confuso da adolescência – adoração sem
esperança, ela devia ter dois anos mais do que eu. E
amaria o rapaz de suéter e sapato de basquete, que
costuma ir ao Rio, ou (murmurava-se)o homem casado,
que já �nha ido até à Europa e �nha um automóvel e
uma coleção de espingardas magníficas. Não a mim, com
minha pobre 3flaubert, não a mim, de calça e camisa,
descalço, não a mim, que não sabia lidar nem com um
motor de popa, apenas tocar um batelão com meu remo.
Duas semanas depois que ela chegou é que a encontrei
na praia solitária; eu vinha a pé, ela veio galopando a
cavalo; vi-a de longe, meu coração bateu adivinhando
quem poderia estar galopando sozinha a cavalo, ao longo
da praia, na manhã fria. Pensei que ela fosse passar me
dando apenas um adeus, esse “bom-dia” que no interior
a gente dá a quem encontra; mas parou, o animal
resfolegando e ela respirando forte, com os seios
agitados dentro da blusa fina, branca. São as duas
imagens que se gravaram na minha memória, desse
encontro: a pele escura e suada do cavalo e a seda
branca da blusa; aquela dupla respiração animal no ar
fino da manhã.
 
E saltou, me chamando pelo nome, conversou comigo.
Séria, como se eu fosse um rapaz mais velho do que ela,
um homem como os de sua roda, com calças de “palm-
beach”, relógio de pulso. Perguntou coisas sobre peixes;
fiquei com vergonha de não saber quase nada, não sabia
os nomes dos peixes que ela dizia, deviam ser peixes de
outros lugares mais importantes, com certeza mais
bonitos. Perguntou se a gente comia aqueles cocos dos
coqueirinhos junto da praia – e falou de minha irmã, que
conhecera, quis saber se era verdade que eu nadara
desde a ponta do Boi até perto da lagoa.
De repente me fulminou: “Por que você não gosta de
mim? Você me trata sempre de um modo esquisito...”
Respondi, estúpido, com a voz rouca: “Eu não”.
Ela então riu, disse que eu confessara que não gostava
mesmo dela, e eu disse: “Não é isso.” Montou o cavalo,
perguntou se eu não queria ir na garupa. Inventei que
precisava passar na casa dos Lisboa. Não insis�u, me deu
um adeus muito alegre; no dia seguinte foi-se embora.
Agora eu estava ali remando no batelão, para ir no
Severone apanhar uns camarões vivos para isca; e o
relincho distante de um cavalo me fez lembrar a moça
bonita e rica. Eu disse comigo – rema, bobalhão! – e fui
remando com força, sem ligar para os respingos de água
fria, cada vez com mais força, como se isto adiantasse
alguma coisa.
(Os melhores contos, 1997.)
 
1batelão: embarcação movida a remo.
2rincho: relincho.
3flaubert: um �po de espingarda.
 
O pleonasmo (do grego pleonasmós, que quer dizer
abundância, excesso, amplificação) é uma repe�ção de
unidades linguís�cas idên�cas do ponto de vista
semân�co, o que implica que a repe�ção é tautológica
(redundante). No entanto, ela é uma extensão do
enunciado com vistas a intensificar o sen�do.
(José Luiz Fiorin. Figuras de retórica, 2014. Adaptado.)
 
Verifica-se a ocorrência de pleonasmo em: 
a) “fiquei com vergonha de não saber quase nada, não
sabia os nomes dos peixes que ela dizia” (5º
parágrafo). 
b) “eu avançava no batelão velho; remava cansado, com
um resto de sono” (1º parágrafo). 
c) “ela deixou que eu a adorasse com essa adoração
súbita, mas �mida” (3º parágrafo). 
d) “A princípio a olhei com espanto, quase desgosto” (2º
parágrafo). 
e) “Pensei que ela fosse passar me dando apenas um
adeus” (4º parágrafo).
L0537 - (Unesp)
A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926)
 
A alma das cousas somos nós...
 
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade
(5) Nunca mais se repete exatamente...
 
Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é impercep�velmente desigual,
(10) Que sempre as vive diferentemente,
27@professorferretto @prof_ferretto
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal....
 
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Susce�veis, su�s, que fogem no Íris
(15) Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
(20) Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, in�mamente,
E eternamente,
(25) Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)
 
 
Uma leitura atenta do poema permite concluir que seu
�tulo representa
a) a negação dos argumentos defendidos pelo eu lírico.
b) a confirmação do estado de alma disfórico do eu lírico.
c) a síntese das ideias desenvolvidas pelo eu lírico.
d) o reconhecimento da supremacia do homem no
mundo.
e) uma afirmação prévia da incapacidade do homem.
L0538 - (Unesp)
A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926)
A alma das cousas somos nós...
 
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade
(5) Nunca mais se repete exatamente...
 
Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é impercep�velmente desigual,
(10) Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal....
 
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Susce�veis, su�s, que fogem no Íris
(15) Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
(20) Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, in�mamente,
E eternamente,
(25) Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)
 
Considerando o eixo temá�co do poema e o modo como
é desenvolvido, verifica-se que nele se faz uma reflexão
de fundo
a) esté�co. 
b) polí�co.
c) religioso.
d) filosófico.
e) cien�fico.
L0539 - (Unesp)
A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926)
A alma das cousas somos nós...
 
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade
(5) Nunca mais se repete exatamente...
 
Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é impercep�velmente desigual,
(10) Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal....
 
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Susce�veis, su�s, que fogem no Íris
(15) Da sensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
(20) Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, in�mamente,
E eternamente,
(25) Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)
 
Embora pareça cons�tuído de versos livres modernistas,
o poema em questão ainda segue a versificação medida,
combinando versos de diferentes extensões, com
28@professorferretto @prof_ferretto
predomínio dos de doze e dez sílabas métricas. Assinale a
alterna�va que indica, na primeira estrofe, pela ordem
em que surgem, os versos de dez sílabas métricas,
denominados decassílabos.
a) 1 e 5.
b) 3 e 4.
c) 1, 2 e 3.
d) 2 e 3.
e) 1, 3 e 5.
L0540 - (Unesp)
A questão aborda um poema de Raul Leoni (1895–1926)
A alma das cousas somos nós...
 
Dentro do eterno giro universal
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Nada mais, na verdade
(5) Nunca mais se repete exatamente...
 
Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
O que varia é o espírito que as sente
Que é impercep�velmente desigual,
(10) Que sempre as vive diferentemente,
E, assim, a vida é sempre inédita, afinal....
 
Estado de alma em fuga pelas horas,
Tons esquivos e trêmulos, nuanças
Susce�veis, su�s, que fogem no Íris
(15) Dasensibilidade furta-cor...
E a nossa alma é a expressão fugi�va das cousas
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
Homem inquieto e vão que não repousas!
Para e escuta:
(20) Se as cousas têm espírito, nós somos
Esse espírito efêmero das cousas,
Volúvel e diverso,
Variando, instante a instante, in�mamente,
E eternamente,
(25) Dentro da indiferença do Universo!...
(Luz mediterrânea, 1965.)
 
No úl�mo verso do poema, o eu lírico conclui que
a) os espíritos mostram-se insensíveis ao volúvel
Universo.
b) o Universo acompanha de perto a alma ou espírito.
c) o Universo é indiferente à relação entre o espírito e as
coisas.
d) a variação das coisas é indiferente ao espírito que as
sente.
e) as coisas têm espírito, mas o Universo não tem.
L0541 - (Unesp)
Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado
(1926–2012).
 
A gente Honório Cota
 
Quando o coronel João Capistrano Honório Cota
mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta
anos. Mas já era homem sério de velho, reservado,
cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência
medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho
atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a
calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a
não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento
— então era parelho mesmo, por igual), mas sempre
muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: 
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o
mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os
gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da
Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente,
os que por ele passavam ou os que chegavam na janela
muitas vezes só para vê-lo passar.
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto,
magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande
porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser
desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma
grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os
lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os
passos, quebrando os joelhos em reto.
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra
Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado
e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que
enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos,
fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando
iam para a guerra armados cavaleiros.
 
No primeiro parágrafo, com a frase “então era parelho
mesmo, por igual”, o narrador faz referência ao fato de o
coronel
29@professorferretto @prof_ferretto
a) ves�r em certos eventos sociais a calça também de
casimira.
b) ser par para qualquer desafio que lhe fizessem.
c) usar também em certas ocasiões o jaquetão de brim.
d) usar roupas iguais às de todos na cidade.
e) demonstrar sua humildade por meio das roupas.
L0542 - (Unesp)
Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado
(1926–2012).
 
A gente Honório Cota
 
Quando o coronel João Capistrano Honório Cota
mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta
anos. Mas já era homem sério de velho, reservado,
cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência
medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho
atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a
calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a
não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento
— então era parelho mesmo, por igual), mas sempre
muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: 
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o
mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os
gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da
Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente,
os que por ele passavam ou os que chegavam na janela
muitas vezes só para vê-lo passar.
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto,
magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande
porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser
desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma
grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os
lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os
passos, quebrando os joelhos em reto.
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra
Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado
e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que
enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos,
fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando
iam para a guerra armados cavaleiros.
 
No terceiro parágrafo, a comparação do coronel com uma
ave pernalta representa 
a) um recurso expressivo para ilustrar sua aparência e
sua presença �sica.
b) uma figura de retórica sem grande significado
descri�vo.
c) uma imagem visual de seu temperamento amável,
mas perigoso.
d) uma imagem que busca representar sua
impressionante beleza.
e) um modo de chamar atenção para o ambiente rús�co
em que vivia.
L0543 - (Unesp)
Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado
(1926–2012).
 
A gente Honório Cota
 
Quando o coronel João Capistrano Honório Cota
mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta
anos. Mas já era homem sério de velho, reservado,
cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência
medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho
atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a
calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a
não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento
— então era parelho mesmo, por igual), mas sempre
muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: 
O passo vagaroso de quem não tem pressa — o
mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os
gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da
Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente,
os que por ele passavam ou os que chegavam na janela
muitas vezes só para vê-lo passar.
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto,
magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande
porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser
desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma
grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os
lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os
passos, quebrando os joelhos em reto.
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra
Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado
e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que
enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos,
fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando
iam para a guerra armados cavaleiros.
 
Em seu conjunto, a descrição do coronel sugere uma
figura que
30@professorferretto @prof_ferretto
a) exibe um temperamento �mido e fechado.
b) manifesta desprezo por tudo à sua volta.
c) demonstra humildade em tudo o que fazia.
d) revela nos gestos e comportamento segurança e
poder.
e) inspira certo receio aos habitantes da cidade.
L0544 - (Unesp)
Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).
O Azulão e os �co-�cos
 
Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia,
[5] cada vez mais se enflorava.
 
Se um �co-�co e outras aves
vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.
 
[10] Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de �co-�cos
[15] numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
[20] desses garotos joviais,
tu con�nuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”
 
Numas volatas sonoras,
o Azulão lhe respondeu:
[25] “Caro Amigo! Eu prezo muito
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!
 
Quando, há pouco, eu descantava,
[30] pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
[35] bravos! Bravos... muito bem!
 
Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
[40] (irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
— que caso pode fazer
das vaias dos �co-�cos?”
 
*Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está
representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um
dos maioresadmiradores de Catulo e prefaciador do seu
livro Poemas bravios.
(Poemas escolhidos, s/d.)
 
Tomando por base a leitura do poema, verifica-se que o
pomar, mencionado na primeira estrofe, é apresentado
como 
a) um ser inteiramente insensível ao canto dos pássaros.
b) morada dos �co-�cos invadida pelo Azulão.
c) mero cenário dos acontecimentos.
d) um ser capaz de ouvir e apreciar o canto do Azulão.
e) recanto de uma floresta selvagem.
L0545 - (Unesp)
Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).
O Azulão e os �co-�cos
 
Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia,
[5] cada vez mais se enflorava.
 
Se um �co-�co e outras aves
vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.
 
[10] Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de �co-�cos
[15] numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
[20] desses garotos joviais,
tu con�nuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”
 
Numas volatas sonoras,
o Azulão lhe respondeu:
[25] “Caro Amigo! Eu prezo muito
31@professorferretto @prof_ferretto
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!
 
Quando, há pouco, eu descantava,
[30] pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
[35] bravos! Bravos... muito bem!
 
Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
[40] (irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
— que caso pode fazer
das vaias dos �co-�cos?”
 
*Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está
representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um
dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu
livro Poemas bravios.
(Poemas escolhidos, s/d.)
 
Ante as vaias dos �co-�cos e outras aves, o Azulão torna
ainda mais perfeita sua canção. Com isso, revela uma
a�tude de
a) autoconfiança.
b) rancor.
c) ingenuidade.
d) ignorância.
e) revolta.
L0546 - (Unesp)
Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).
O Azulão e os �co-�cos
 
Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia,
[5] cada vez mais se enflorava.
 
Se um �co-�co e outras aves
vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.
 
[10] Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de �co-�cos
[15] numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
[20] desses garotos joviais,
tu con�nuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”
 
Numas volatas sonoras,
o Azulão lhe respondeu:
[25] “Caro Amigo! Eu prezo muito
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!
 
Quando, há pouco, eu descantava,
[30] pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
[35] bravos! Bravos... muito bem!
 
Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
[40] (irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
— que caso pode fazer
das vaias dos �co-�cos?”
 
*Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está
representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um
dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu
livro Poemas bravios.
(Poemas escolhidos, s/d.)
 
Considerando a nota do editor, que iden�fica o Sabiá
como Rui Barbosa, grande admirador da poesia de
Catulo, os �co-�cos representam no poema 
a) os outros poetas.
b) os adversários de Rui Barbosa.
c) os músicos e cantores.
d) os admiradores de Gonçalves Dias.
e) os crí�cos do poeta.
L0547 - (Unesp)
Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946).
32@professorferretto @prof_ferretto
O Azulão e os �co-�cos
 
Do começo ao fim do dia,
um belo Azulão cantava,
e o pomar que atento ouvia
o seus trilos de harmonia,
[5] cada vez mais se enflorava.
 
Se um �co-�co e outras aves
vaiavam sua canção...
mais doce ainda se ouvia
a flauta desse Azulão.
 
[10] Um papagaio, surpreso
de ver o grande desprezo,
do Azulão, que os desprezava,
um dia em que ele cantava
e um bando de �co-�cos
[15] numa algazarra o vaiava,
lhe perguntou: “Azulão,
olha, dize-me a razão
por que, quando estás cantando
e recebes uma vaia
[20] desses garotos joviais,
tu con�nuas gorgeando
e cada vez canta mais?!”
 
Numas volatas sonoras,
o Azulão lhe respondeu:
[25] “Caro Amigo! Eu prezo muito
esta garganta sublime
e esta voz maravilhosa...
este dom que Deus me deu!
 
Quando, há pouco, eu descantava,
[30] pensando não ser ouvido
nestes matos por ninguém,
um Sabiá*, que me escutava,
num capoeirão, escondido,
gritou de lá: — meu colega,
[35] bravos! Bravos... muito bem!
 
Pergunto agora a você:
quem foi um dia aplaudido
pelo príncipe dos cantos
de celestes harmonias,
[40] (irmão de Gonçalves Dias,
um dos cantores mais ricos...)
— que caso pode fazer
das vaias dos �co-�cos?”
 
*Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está
representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um
dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu
livro Poemas bravios.
(Poemas escolhidos, s/d.)
Se, nos versos 32 e 33, as palavras “Sabiá” e “capoeirão”
fossem pronunciadas “sa-bi-á” e “ca-po-ei-rão”, tais
versos quebrariam o padrão e o ritmo dos demais, pois
passariam a ser 
a) heptassílabos.
b) octossílabos.
c) eneassílabos.
d) hexassílabos.
e) decassílabos.
L0552 - (Unesp)
Leia o poema do português Eugênio de Castro (1869-
1944) para responder às questões a seguir.
 
MÃOS
 
Mãos de veludo, mãos de már�r e de santa,
o vosso gesto é como um balouçar de palma;
o vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o vosso gesto
canta!
Mãos de veludo, mãos de már�r e de santa,
rolas à volta da negra torre da minh’alma.
 
Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes,
Caridosas Irmãs do hospício da minh’alma,
O vosso gesto é como um balouçar de palma,
Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes...
 
Mãos afiladas, mãos de insigne formosura,
Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim,
Sois dois lenços, ao longe, acenando por mim,
Duas velas à flor duma baía escura.
 
Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas,
Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos ninhos,
Divinas mãos que me heis coroado de espinhos,
Mas que depois me haveis coroado de rosas!
 
Afilhadas do luar, mãos de rainha,
Mãos que sois um perpétuo amanhecer,
Alegrai, como dois ne�nhos, o viver
Da minha alma, velha avó entrevadinha.
(Obras poé�cas, 1968.)
 
“Alegrai, como dois ne�nhos, o viver / Da minha alma,
velha avó entrevadinha.”
33@professorferretto @prof_ferretto
a) reforçam o modo nega�vo como o eu lírico enxerga a
si mesmo.
b) evidenciam o ressen�mento do eu lírico contra os
familiares.
c) assinalam uma reaproximação do eu lírico com a
própria família.
d) atestam o esforço do eu lírico de se afastar da imagem
obsessiva das mãos.
e) reafirmam o o�mismo manifestado pelo eu lírico ao
longo do poema. 
L0558 - (Unicamp)
As palavras organizadas comunicam sempre alguma
coisa, que nos toca porque obedece a certa ordem.
Quando recebemos o impacto de uma produção literária,
oral ou escrita, ele é devido à fusão inextricável da
mensagem com a sua organização. Em palavras usuais: o
conteúdo de uma obra literária só atua por causa da
forma. 
(Adaptado de Antonio Candido, “O direito à literatura”,
em Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul e Duas
Cidades, 2004, p.178.)
 
 
A obra Sobrevivendo no inferno do grupo Racionais Mc’s
é composta pelas canções e pelo projeto editorial da
capa e contracapa do CD. Nesse projeto editorial,
encontram-se elementos visuais e verbais que
estabelecem um jogo de formas e sen�dos. Com base na
afirmação de Antonio Candido, é correto afirmar que a
organização desses elementos
 
a) produz uma simetria entre som e sen�do, sendo que
tal simetriaindica que os símbolos religiosos são uma
resposta à violência.
b) configura um sistema de oposições, uma vez que
imagens e palavras estabelecem tensões materiais e
espirituais, cons�tu�vas do sen�do das canções.
c) configura uma sintaxe poé�ca de ordem espiritual.
Essa sintaxe espelha o caos e as injus�ças vividos na
periferia das grandes cidades.
d) produz uma lógica poé�ca racional. Essa lógica se
explicita na vitória do crime sobre a visão de mundo
presente nos versículos bíblicos transcritos.
L0560 - (Unicamp)
Texto 1
“Algumas vozes nacionais estão tentando atualmente
encaminhar a discussão em torno da iden�dade
‘mes�ça’, capaz de reunir todos os brasileiros (brancos,
negros e mes�ços). Vejo nesta proposta uma nova
su�leza ideológica para recuperar a ideia da unidade
nacional não alcançada pelo fracassado branqueamento
�sico. Essa proposta de uma nova iden�dade mes�ça,
única, vai na contramão dos movimentos negros e de
outras chamadas minorias, que lutam pela construção de
uma sociedade plural e de iden�dades múl�plas.”
(Kabengele Munanga, Rediscu�ndo a mes�çagem no
Brasil: Iden�dade Nacional versus Iden�dade Negra.
Petrópolis: Vozes, 1999, p. 16.)
 
Texto 2
“Os meus olhos coloridos/ Me fazem refle�r/ Eu estou
sempre na minha/ E não posso mais fugir/ Meu cabelo
enrolado/ Todos querem imitar/ Eles estão bara�nados/
Também querem enrolar/ Você ri da minha roupa/ Você
ri do meu cabelo/ Você ri da minha pele/ Você ri do meu
sorriso/ A verdade é que você,/ (Todo brasileiro tem!)/
Tem sangue crioulo/ Tem cabelo duro/ Sarará crioulo.”
(Macau, “Olhos Coloridos”, 1981, gravada por Sandra de
Sá. Álbum: “Sandra de Sá”. RCA.)
 
Considerando o alerta de Munanga em relação a algumas
“vozes nacionais”, a canção de Macau
a) resgata o an�go ideal da iden�dade nacional única.
b) aponta a possibilidade de uma iden�dade múl�pla.
c) atesta que a pluralidade se opõe ao movimento negro.
d) insiste nas lutas das minorias por uma unidade.
L0561 - (Unicamp)
Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama
se apaga é em � que está a falta. Faz o que te digo e
magia nenhuma te derrubará nesta vida. Tu és fei�ço por
34@professorferretto @prof_ferretto
excelência e não deves procurar mais magia nenhuma.
Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação.
Perdição. O universo inteiro cabe nas curvas de uma
mulher.
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.)
 
O excerto acima corresponde a uma das primeiras lições
que a conselheira amorosa oferece a Rami, a personagem
principal do romance. Tendo em vista as várias peripécias
vividas por Rami, essa lição é 
a) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensina
que o corpo feminino é, no fim das contas, perdição.
b) abandonada pela personagem principal, uma vez que
seu marido não se encanta com seus novos ardis.
c) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, percebe
que não possui todos os atributos desejáveis.
d) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de
suas rivais, transformando-as de modo significa�vo.
L0562 - (Unicamp)
Tenho horror a de aqui a pouco vos ter já dito o que
vos vou dizer. As minhas palavras presentes, mal eu as
diga, pertencerão logo ao passado, ficarão fora de mim,
não sei onde, rígidas e fatais... Falo, e penso nisto na
minha garganta, e as minhas palavras parecem-me
gente...
(Fernando Pessoa, O marinheiro. Campinas: Editora da
Unicamp, 2020, p. 51.)
 
O que eu era outrora já não se lembra de quem sou...
Às vezes, à beira dos lagos, debruçava-me e fitava-me...
Quando eu sorria, os meus dentes eram misteriosos na
água... Tinham um sorriso só deles, independentes do
meu...
(Idem, p. 52.)
 
Nos excertos acima, dois fenômenos são apresentados ao
leitor e cons�tuem o principal problema dramá�co da
peça de Fernando Pessoa. Assinale a alterna�va que
iden�fica e explica corretamente esses fenômenos. 
a) As palavras e as imagens tornam-se independentes da
pessoa humana. Isso significa a cisão entre o sujeito e
o mundo ou, ainda, a crise de iden�dade pessoal
reiterada nos diálogos.
b) Proferir um discurso e ver-se refle�do em um lago são
situações dramá�cas que sugerem a unidade entre ser
e exis�r. A questão central, quem eu sou, é resolvida
no desfecho da peça.
c) Lembrar e esquecer são dois aspectos inseparáveis da
estrutura dramá�ca da peça. Se a imagem refle�da no
lago não se assemelha à pessoa que a contempla, as
palavras, por sua vez, garantem a conexão entre o eu e
a realidade exterior.
d) O horror e o mistério das coisas são elementos básicos
desse drama. Eles produzem, nas personagens, a
convicção de que é ú�l narrar as experiências do
passado porque assim se revela o seu verdadeiro
significado.
L0569 - (Unicamp)
Conheço um povo sem poligamia: o povo macua. Este
povo deixou as suas raízes e apoligamou-se por influência
da religião. Islamizou-se. (...) Conheço um povo de
tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado
no papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia.
Cris�anizou-se. Jurou deixar os costumes bárbaros de
casar com muitas mulheres para tornar-se monógamo ou
celibatário. (...) Um dia dizem não aos costumes, sim ao
cris�anismo e à lei. No momento seguinte, dizem não
onde disseram sim, ou sim onde disseram não.
(CHIZIANE, Paulina. Niketche. Uma história de poligamia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 92.)
 
Baseando-se no excerto e na leitura da obra, é correto
afirmar que
a) a organização familiar é fruto da vida religiosa dos
povos, cabendo assim a monogamia aos povos cristãos
e a poligamia aos povos islâmicos.
b) os costumes culturais no modo de organizar os
arranjos familiares são colocados em xeque por novas
estruturas de poder, as quais transmitem outros
valores.
c) a monogamia aparece como evolução natural aos
costumes supostamente bárbaros de os homens se
casarem com muitas mulheres em determinadas
culturas africanas.
d) o povo macua tornou-se monogâmico depois de
abraçar a fé cristã trazida pelo papa e padres, o que
pode ser considerado um aprimoramento social.
L0573 - (Unicamp)
35@professorferretto @prof_ferretto
“Deus fez o mar, as árvore, as criança, o amor
O homem me deu a favela, o crack, a trairagem, as arma,
as
bebida, as puta
Eu?! Eu tenho uma Bíblia velha, uma pistola automá�ca e
um sen�mento de revolta
Eu tô tentando sobreviver no inferno”.
(RACIONAIS MC’S. Gênesis. In: Sobrevivendo no inferno.
São Paulo: Companhia das Letras, p. 45, 2018.)
 
A palavra “Gênesis” dá nome ao primeiro livro da Bíblia.
Considerando a obra, na íntegra, dos Racionais MC’s e o
excerto acima dela reproduzido, pode-se dizer que, em
relação a esse trecho, “gênesis” seria uma alusão
a) à influência do cris�anismo na dinâmica das
comunidades periféricas.
b) ao colapso planetário entrevisto já na origem do
mundo natural.
c) à origem divina do mundo contraposta aos problemas
criados pelo homem.
d) à origem religiosa dos conflitos armados e da violência
social no Brasil.
L0574 - (Unicamp)
je ne parle pas bien*
je ne parle pas bien
je ne parle pas bien
je ne parle pas bien
eu tenho uma língua solta 
que não me deixa esquecer 
que cada palavra minha 
é resquício da colonização 
cada verbo que aprendi conjugar 
foi ensinado com a missão 
de me afastar de quem veio antes 
nossas escolas não nos ensinam 
a dar voos 
[...]
reinvenção 
nossa revolução surge e urge 
das nossas bocas 
das falas aprendidas 
que são ensinadas 
e muitas não compreendidas 
salve, a cada gíria 
je ne parle pas bien 
[...] 
o que era pra ser arma de colonizador 
está virando revide de ex colonizado 
estamos aprendendo as suas línguas 
e descolonizando os pensamento
 
(Fragmentos do poema Je ne parle pas bien, de Luz
Ribeiro, publicado na Revista Opiniães: Revista dos alunos
de Literatura Brasileira, n.10, 2017.)
 
* Je ne parle pas bien, do francês, significa “Eu não falo
direito”.
 
Podemos afirmar que o uso repe�do do verso Je ne parle
pas bien no poema slam de Luz Ribeiro
a) expressa a necessidade de repe�r muitas vezes uma
mesmasentença como forma de resis�r ao
esquecimento de uma língua.
b) enfa�za a ideia de que a língua francesa do
colonizador ainda não foi aprendida e precisa ser
repe�da várias vezes.
c) é uma constatação de que, na posição de ex-colônia,
não conseguimos aprender línguas estrangeiras.
d) indica um posicionamento de resistência por meio de
uma crí�ca à aprendizagem forçada da língua do
colonizador.
 
L0577 - (Fuvest)
“Por quê? Porque pensar em direitos humanos tem
um pressuposto: reconhecer que aquilo que
consideramos indispensável para nós é também
indispensável para o próximo. (...). Nesse ponto as
pessoas são frequentemente ví�mas de uma curiosa
obnubilação. Elas afirmam que o próximo tem direito,
sem dúvida, a certos bens fundamentais, como casa,
comida, instrução, saúde, coisas que ninguém bem
formado admite hoje em dia que sejam privilégio de
minorias, como são no Brasil. Mas será que pensam que
seu semelhante pobre teria direito a ler Dostoievski ou
ouvir os quartetos de Beethoven? (...). Ora, o esforço
para incluir o semelhante no mesmo elenco de bens que
reivindicamos está na base da reflexão sobre os direitos
humanos.” 
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 3ª ed. revista e
ampliada. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
 
Com base na leitura do texto, pode-se afirmar que
Antonio Candido defende que o acesso a bens como a
literatura e a música 
36@professorferretto @prof_ferretto
a) é privilégio de minorias, pois são bens que exigem
reflexão.
b) deve ser reivindicado como um direito, e não como
um privilégio.
c) vi�miza as pessoas que não têm acesso a bens
fundamentais para viver.
d) humaniza as minorias privilegiadas, incen�vando-as a
compar�lhar seu conhecimento.
e) é indispensável para quem luta pelos direitos
humanos. 
L0576 - (Fuvest)
“O lugar do ensino superior agora tem as portas
abertas. A (...) Cons�tuição é que impõe essa situação
por decreto. Mas (...) este não pode garan�r que todos
tenham a tal ‘capacidade’ que lhes vai permi�r o
aproveitamento dessa educação. Há rapazes – até agora
são poucas as moças com a força de vontade que Jabu,
ainda menina, �nha para dar e vender – que recebem
bolsas ou auxílios de algum �po (...). As ‘aulas de reforço’
(...): um band-aid. Steve sabe que isso não é uma solução
para o abismo da educação ruim do fundo do qual os
alunos tentam emergir. A Luta não terminou. – (...) Eu
tenho alunos de estudos africanos que não sabem
escrever (...). – Então o que é que nós devíamos estar
fazendo? (...) O professor Nielson ainda usa terno (...),
embora o padrão da indumentária tenha relaxado a
par�r do exemplo dado pelas túnicas de Mandela. (...) –
Você não está propondo que a gente baixe ainda mais os
critérios de admissão à universidade. Então a
universidade é pra avançar no conhecimento ou é pra
andar pra trás? O que Steve está perguntando é se esse
ensino adicional de faz de conta na esperança de elevar
os alunos a um nível universitário pode compensar dez
anos de educação primária e secundária de péssimo
nível.” 
GORDIMER, Nadine. O melhor tempo é o tempo
presente. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p.82-
83.
 
No excerto do romance da escritora sul-africana Nadine
Gordimer, é possível iden�ficar:
a) o regime de apartheid em vigor na África do Sul na
época em que o romance se passa, que man�nha
alunos e professores negros fora da universidade.
b) a segregação formal das mulheres no acesso à
educação, conforme estabelecido pela Cons�tuição
promulgada no pós-apartheid.
c) as eficazes estratégias de apoio aos estudantes pobres
para assegurar a boa qualidade da educação básica e
superior na época do apartheid.
d) as incertezas sobre as estratégias adotadas para
enfrentar desigualdades sociais e educacionais legadas
pelo regime do apartheid na África do Sul.
e) o reconhecimento consensual do sucesso do projeto
de inclusão educacional no cenário sul-africano pós-
apartheid. 
37@professorferretto @prof_ferrettoe aos que explicam mal suas pescarias
macabras.
São marginais caçados pela polícia ou por outros
marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá-
los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou
estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,
pesos amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis
de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em
rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo,
fluindo e boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes
desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis
desce o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela
corda fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela
de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar
para conversas ín�mas:
– Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros
de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do
garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo
Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e
nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu
abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes
que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que
neles foram come�dos.
O Guandu não responde a inquéritos nem a
repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não
julga, não reclama se lhe corrompem as águas;
transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios
vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da
morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela
jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia,
é aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
dia de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não
criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram.
Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e
apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do
Guandu, apenas e afinal.
(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)
 
O cronista dirige-se explicitamente a seu leitor no trecho:
a) “São marginais caçados pela polícia ou por outros
marginais, são suicidas, são acidentados?” (4º
parágrafo) 
b) “Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
flores consagradas aos mortos queridos.” (2º
parágrafo) 
c) “– Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar
também...” (6º parágrafo) 
d) “Não comenta, não julga, não reclama se lhe
corrompem as águas; transporta.” (8º parágrafo) 
e) “Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é
aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no
dia de pensar os e nos mortos.” (9º parágrafo)
L0014 - (Ufpa)
Gonçalves Dias foi considerado um dos maiores
expoentes da literatura român�ca brasileira. Procurando
seguir os preceitos do roman�smo, intencionou produzir
uma poesia capaz de exprimir a independência literária
do Brasil. Na condição de poeta, dedicou-se a vários
gêneros literários, entre eles à poesia lírica e à poesia
3@professorferretto @prof_ferretto
indianista. Leia atentamente as estrofes 4, 5, 6 e 7 do
canto IV do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias:
 
Andei longes terras,
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimorés;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes – escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
 
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores, 
Com mostras de paz.
 
Aos golpes do imigo
Meu úl�mo amigo,
Sem lar, sem abrigo,
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
 
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos,
mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
 
 
Glossário:
Aimorés: índios botocudos que habitavam o estado da
Bahia e do Espírito Santo;
Timbiras: Tapuias que habitavam o interior do Maranhão;
Ignavos: fracos, covardes;
Piaga: pajé, chefe espiritual;
Maracá: chocalho indígena u�lizado em festas religiosas e
cerimônias guerreiras;
Talados: devastados;
Acerbo: terrível, cruel;
Ínvios: intransitáveis.
 
Tendo em vista as estrofes acima transcritas, é correto
afirmar que 
a) o índio Tupi descreve as vitórias de sua tribo sobre o
colonizador europeu. 
b) o ritual antropofágico é representado como uma
manifestação da barbárie indígena. 
c) a submissão das nações indígenas pelo homem branco
é considerada um processo natural e desejável para o
progresso da nova nação independente. 
d) o ponto de vista a par�r do qual se elabora o poema é
o do europeu português, que condena as prá�cas
bárbaras e violentas das nações indígenas brasileiras. 
e) as prá�cas colonizadoras portuguesas que levaram ao
quase extermínio da nação Tupi são julgadas do ponto
de vista do próprio índio. 
L0281 - (Fuvest)
Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia.
Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu
paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era
um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia
mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já
era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você
quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia
escrever um livro e mais uma vez o que era um romance,
o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas
mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma
consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se
de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar.
As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu
tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em
deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente
dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase,
já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a
não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E,
diante da sua insistência bovina, �ve de me render à
evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.
Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado.
 
Sem prejuízo de sen�do e fazendo as adaptações
necessárias, é possível subs�tuir as expressões em
destaque no texto, respec�vamente, por
a) incompreensão; armação; inofensivo; irredu�vel. 
b) al�vez; brincadeira; ofendido; mansa. 
c) ignorância; men�ra; prejudicado; alienada. 
d) complacência; invenção; bobo; cega. 
e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca. 
L0278 - (Fuvest)
 
O efeito de humor presente nas falas das personagens
decorre
4@professorferretto @prof_ferretto
a) da quebra de expecta�va gerada pela polissemia. 
b) da ambiguidade causada pela antonímia. 
c) do contraste provocado pela foné�ca. 
d) do contraste introduzido pela neologia. 
e) do estranhamento devido à morfologia. 
L0011 - (Uern)
Os gêneros literários são empregados com finalidade
esté�ca. Leia os textos a seguir.
 
Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode �rar-me as esperanças,
Que mal me �rará o que eu não tenho.
(Camões, L. V. de.Sonetos. Lisboa: Livraria Clássica
Editora. 1961. Fragmento.)
 
Porém já cinco sóis eram passados
Que dali nos par�ramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem, que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.
(Camões, L. V.Os Lusíadas. Abril Cultural, 1979. São Paulo.
Fragmento.)
 
Assinale a alterna�va que apresenta, respec�vamente, a
classificação dos textos. 
a) Épico e lírico. 
b) Lírico e épico. 
c) Lírico e dramá�co. 
d) Dramá�co e épico. 
L0263 - (Fuvest)
O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a
jabu�caba, pode falar uma língua com igual pronúncia e
o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o
damasco e a nêspera?
José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos
d’ouro.
 
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto
dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e delá chama a
virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha
ma�zada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos
fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda
e as �ntas de que ma�za o algodão.
José de Alencar. Iracema.
 
Glossário:
“ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de
bromélia; “juçara”: �po de palmeira espinhosa.
 
Com base nos trechos acima, é adequado afirmar:
a) Para Alencar, a literatura brasileira deveria ser capaz
de representar os valores nacionais com o mesmo
espírito do europeu que sorve o figo, a pera, o
damasco e a nêspera. 
b) Ao discu�r, no primeiro trecho, a importação de ideias
e costumes, Alencar propõe uma literatura baseada no
abrasileiramento da língua portuguesa, como se
verifica no segundo trecho. 
c) O contraste entre os verbos “chupar” e “sorver”,
empregados no primeiro trecho, revela o
rebaixamento de linguagem buscado pelo escritor em
Iracema. 
d) Em Iracema, a construção de uma literatura exó�ca,
tal como se verifica no segundo trecho, pautou-se pela
recusa de nossos elementos naturais. 
e) Ambos os trechos são representa�vos da tendência
escapista de nosso roman�smo, na medida em que
valorizam os elementos naturais em detrimento da
realidade ro�neira.
L0005 - (Upe)
Retrato do ar�sta quando coisa
 
A maior riqueza
do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
1Não aguento ser apenas
2um sujeito que abre
3portas, que puxa
4válvulas, que olha o
5relógio, que compra pão
6às 6 da tarde, que vai
7lá fora, que aponta lápis,
8que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
Barros, Manoel. Manoel de Barros: Poesia Completa. São
Paulo: Leya, 2013.
 
5@professorferretto @prof_ferretto
Considerando o poema em análise “Retrato do ar�sta
quando coisa” e também o assunto referente ao estudo
do texto literário, assinale a alterna�va CORRETA. 
a) O texto de Manoel de Barros, escrito em versos,
possui caracterís�cas que podem categorizá-lo como
um texto literário, pois a linguagem está construída de
modo referencial e de única significação. Uma leitura,
ainda que superficial, irá concluir que a expressão
“usando borboletas” é u�lizada para asseverar a
condição do eu lírico de exímio pesquisador dos
estudos animais. 
b) O eu lírico afirma que é “abastado”. No texto, tal
afirma�va conduz o leitor à seguinte conclusão: os
homens que são incompletos são abastados, pois
possuem certamente riquezas econômico-financeiras
que os tornam pessoas-modelo para jovens aspirantes
ao mesmo status quo. Para o eu lírico, a incompletude
do homem é certeza de qualidade econômica. 
c) Os versos “Eu penso / renovar o homem / usando
borboletas” foram escritos de modo figurado, ou seja,
as palavras podem assumir sen�dos plurais. Defini-los
de forma exclusivamente dicionarizada poderá levar o
leitor a equívocos interpreta�vos, visto que tais versos
foram concebidos num nível discursivo que lhes
permite transcender as barreiras unissignifica�vas da
palavra dicionarizada. 
d) O eu lírico, quando afirma “Eu não aceito”, explicita
para o leitor sua indignação com o modelo econômico
que rege o sistema capitalista. Para o eu lírico, a
incompletude que o torna abastado pode levá-lo a
melhorias sociais e existenciais. Esse ponto de vista é
defendido pelo eu lírico de modo claro e preciso no
poema. 
e) Os versos apontados pelas referências 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7
e 8 do poema em análise poderiam ser subs�tuídos,
de modo preciso, pela seguinte frase: Sou um homem
que evita u�lizar, com frequência, a capacidade
imagina�va, pois acredita que a cria�vidade pode
atrapalhar a cri�cidade e que ambas se opõem no
momento em que vamos definir tarefas como acordar
às 6 da tarde e apontar lápis. 
L0012 - (C�mg)
Sobre os gêneros literários, afirma-se:
 
I. O gênero dramá�co abrange textos que tema�zam o
sofrimento e a aflição da condição humana.
II. Textos pertencentes ao gênero lírico privilegiam a
expressão subje�va de estados interiores.
III. O gênero épico compreende textos sobre
acontecimentos grandiosos protagonizados por heróis.
IV. Em literatura, o romance e a novela são formas
narra�vas pertencentes ao gênero dramá�co.
 
Estão corretas apenas as afirma�vas 
a) I e II. 
b) I e IV. 
c) II e III. 
d) III e IV. 
L0315 - (Unesp)
Leia a crônica “Elegia do Guandu”, de Carlos Drummond
de Andrade, publicada originalmente em 2 de novembro
de 1974.
 
E se reverenciássemos neste 2 de novembro os
mortos do Guandu, que descem a correnteza, a caminho
do mar – o mar que eles não alcançam, pois encalham na
areia das margens, e os urubus os devoram?
Perdoai se apresento matéria tão feia, em dia de
flores consagradas aos mortos queridos. Estes não são
amados de ninguém, ou o são de mínima gente. Seus
corpos, não há quem os reclame, de medo ou seja lá pelo
que for.
Se algum deles tem sorte de derivar pela res�nga da
Marambaia e ali é recolhido por pescadores – ah, peixe
menos desejado – ganha sepultura anônima, que a
piedade dos humildes providencia. Mas não é prudente
pescar mortos do Guandu: há sempre a perspec�va de
interrogatórios que fazem perder o dia de trabalho, às
vezes mais do que isso: a liberdade, que se confisca aos
suspeitos e aos que explicam mal suas pescarias
macabras.
São marginais caçados pela polícia ou por outros
marginais, são suicidas, são acidentados? Di�cil classificá-
los, se não trazem a marca registrada dos trucidadores ou
estes sinais: mãos amarradas, amarrado de vários corpos,
pesos amarrados aos pés. Estes úl�mos são mortos fáceis
de catalogar, embora só se lhes vejam as cabeças em
rodopio à flor d’água, mas os que vêm boiando e fluindo,
fluindo e boiando, em sonho aquá�co deslizante, estes
desesperaram da vida, ou a vida lhes faltou de surpresa?
Os mortos vão passando, procissão falhada. Eis desce
o rio um lote de seis, uns aos outros ligados pela corda
fraternizante. É espetáculo para se ver da janela de
moradores de Itaguaí, assistentes ribeirinhos de novela
de espaçados capítulos. Ver e não contar. Ver e guardar
para conversas ín�mas:
– Ontem, na �ntura da madrugada, passaram três
garrafinhas. Eu vi, chamei a Teresa pra espiar também...
Garrafinhas chamam-se eles, os trucidados com
chumbo aos pés, e não mais como ficou escrito em livros
de cartório. O garrafinha nº 1 não é diferente do
garrafinha nº 2 ou 3. Foram todos nivelados pelo
Guandu. Como frascos vazios, de pequeno porte e
nenhuma importância, lá vão rio abaixo, Nova Iguaçu
6@professorferretto @prof_ferretto
abaixo, rumo do esquecimento das garrafas e dos crimes
que cometeram ou não cometeram, ou dos crimes que
neles foram come�dos.
 [...]
O Guandu não responde a inquéritos nem a
repórteres. Não dis�ngue, carrega. Não comenta, não
julga, não reclama se lhe corrompem as águas;
transporta. Em sua impessoalidade serve a desígnios
vários, favorece a vida que quer se desembaraçar da
morte, facilita a morte que quer se libertar da vida. Pela
jus�ça sumária, pelo absurdo, pelo desespero.
Mas não é ao Guandu que cabe dedicar uma elegia, é
aos mortos do Guandu, nos quais ninguém pensa no dia
de pensar os e nos mortos. Os criminosos, os não
criminosos, os que se destruíram, os que resvalaram.
Mortos sem sepultura e sem lembrança. Trágicos e
apagados deslizantes na correnteza. Passageiros do
Guandu, apenas e afinal.
(Carlos Drummond de Andrade. Os dias lindos, 2013.)
 
A alusão aos mortos se completa com a referência aos
“crimes que [os mortos do Guandu] cometeram ou não
cometeram, ou dos crimes que neles foram come�dos”, e
já não temos dúvida de que o autor se refere aos
desaparecidos polí�cos durante a ditadura militar em seu
período mais violento, os anos do governo Médici e do
AI-5. Especialmente porque o rio Guandu, além de ter
sido no início dos anos 1960 o cenário da “Operação
Mata-Mendigos”, polí�ca higienista posta em prá�ca pelo
governador Carlos Lacerda, era também, conforme o
relato de um dos líderes da Passeata dos Cem Mil, “um
lugarhabitual de desova de cadáveres durante a
ditadura” (Palmeira; Dirceu, 2003, p.161). A inversão
irônica dos crimes come�dos nos mortos do Guandu
cons�tui, então, uma denúncia contra as atrocidades
pra�cadas pelos militares contra os chamados inimigos
do regime, em um momento, já no início da era Geisel,
em que a discussão sobre a tortura e os
desaparecimentos explodia na esfera pública
(Napolitano, 2017, p.243). 
(“Em cinza enxovalhada”: Drummond e a ditadura
militar. Fábio C. Alves)
 
Pode-se apontar na crônica um teor, sobretudo,
a) metalinguís�co. 
b) paródico. 
c) crí�co. 
d) sa�rico. 
e) fantás�co. 
L0269 - (Fuvest)
Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se
convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu
pudesse não deixaria enterrá-la ainda. Disse isso mesmo
a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela
estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da
Formação, só um pouquinho mais magra.
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma
para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é
que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela
fazer uma care�nha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso
é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas
com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se
despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.
Helena Morley, Minha Vida de Menina.
 
PERGUNTAS
Numa incerta hora fria
perguntei ao fantasma
que força nos prendia,
ele a mim, que presumo
estar livre de tudo
eu a ele, gasoso,
(...)
No voo que desfere
silente e melancólico,
rumo da eternidade,
ele apenas responde
(se acaso é responder
a mistérios, somar-lhes
um mistério mais alto):
 
Amar, depois de perder.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
 
As perguntas da menina e do poeta versam sobre a
morte. É correto afirmar que
a) ambos guardam uma dimensão transcendente e
católica, de origem mineira. 
b) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em
defini�vo as dúvidas existenciais. 
c) a menina mostra curiosidade acerca da morte como
episódio e o poeta especula o sen�do filosófico da
morte. 
d) a menina está inquieta por conhecer o des�no das
almas, enquanto o poeta cri�ca o ce�cismo. 
e) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao
acolherem crenças populares. 
L0318 - (Unicamp)
Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo Literário”, um
manifesto do escritor Ferréz.
A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra,
porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. A
literatura marginal se faz presente para representar a
7@professorferretto @prof_ferretto
cultura de um povo composto de minorias, mas em seu
todo uma maioria.
A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma
literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou
socioeconômicas. Literatura feita à margem dos núcleos
centrais do saber e da grande cultura nacional, isto é, de
grande poder aquisi�vo. Mas alguns dizem que sua
principal caracterís�ca é a linguagem, é o jeito que
falamos, que contamos a história, bom, isso fica para os
estudiosos.
Cansei de ouvir: – “Mas o que cês tão fazendo é separar a
literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca cansarei de
responder: – “O barato já tá separado há muito tempo,
foi feito todo um mundo de teses e de estudos do lado
de lá, e do de cá mal terminamos o ensino dito básico.”
(Adaptado de Ferréz, “Terrorismo literário”, em Ferréz
(Org.), Literatura marginal: talentos da escrita periférica.)
 
Ferréz defende sua proposta literária como uma
a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra para
que não haja separação entre a grande cultura
nacional e a literatura feita por minorias. 
b) comprovação de que, sendo as minorias de fato uma
maioria, não faz sen�do dis�nguir duas literaturas,
uma do centro e outra da periferia. 
c) manifestação de que a literatura marginal tem seu
modo próprio de falar e de contar histórias, já
reconhecido pelos estudiosos. 
d) constatação de que é preciso reagir com a palavra e
mostrar-se nesse lugar marginal como literatura feita
por minorias que juntas formam uma maioria. 
L0272 - (Fuvest)
Os textos literários são obras de discurso, a que falta a
imediata referencialidade da linguagem corrente;
poé�cos, abolem, “destroem” o mundo circundante,
co�diano, graças à função irrealizante da imaginação que
os constrói. E prendem-nos na teia de sua linguagem, a
que devem o poder de apelo esté�co que nos enleia;
seduz-nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...).
No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando
retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e
renovada pela experiência da obra, à luz do que nos
revelou, possibilita redescobri-lo, sen�ndo-o e pensando-
o de maneira diferente e nova. A ilusão, a men�ra, o
fingimento da ficção, aclara o real ao desligar-se dele,
transfigurando-o; e aclara-o já pelo insight que em nós
provocou.
Benedito Nunes, “É�ca e leitura”, de Crivo de Papel.
 
O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza
ar�s�ca da literatura, leva a considerar que a obra só
assume função transformadora se
a) estabelece um contraponto entre a fantasia e o
mundo. 
b) u�liza a linguagem para informar sobre o mundo. 
c) ins�ga no leitor uma a�tude reflexiva diante do
mundo. 
d) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do
mundo. 
e) conduz o leitor a ignorar o mundo real. 
L0286 - (Fuvest)
FAMÍLIA
 
Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.
 
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.
 
O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade. Alguma poesia.
 
No poema de Drummond,
a) a hierarquização dos substan�vos que compõem a
primeira estrofe tem a função de situar essa família na
sociedade escravagista do século XIX. 
b) a repe�ção de um verbo de ação, em contraste com o
caráter nominal dos versos, destaca a serven�a da
figura feminina na organização familiar. 
c) a ausência de menção direta ao homem produz um
retrato rea�vo à família patriarcal, por salientar o
protagonismo social da mulher. 
d) o modo como os elementos que compõem a terceira
estrofe estão relacionados permite inferir a
prosperidade econômica familiar. 
e) o enquadramento da mulher no ambiente domés�co
lança luz sobre um regime social que favorece a
realização plena das potencialidades femininas. 
8@professorferretto @prof_ferretto
L0279 - (Fuvest)
Alferes, Ouro Preto em sombras
Espera pelo ba�zado,
Ainda que tarde sobre a morte do sonhador
Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.
Raios de sol brilharão nos sinos:
Dez vias dar.
 
Ai Marília, as liras e o amar
Não posso mais sufocar
E a minha voz irá
Pra muito além do desterro e do sal,
Maior que a voz do rei.
Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de
1973.
 
A imagem de Tiradentes – a quem Cecília Meireles
qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais
altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”,
em palestra feita em Ouro Preto – torna a aparecer como
símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da
cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam,
em novo contexto, o már�r sonhador para resis�r ao
discurso
a) da doutrina revolucionária de ligas poli�camente
engajadas. 
b) da historiografia, que minimizou a importância de
Tiradentes. 
c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura
militar. 
d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras
amorosas. 
e) da �rania portuguesa sobre os mineradores no ciclo
do ouro. 
L0270 - (Fuvest)
Can�ga de enganar
 
O mundo não tem sen�do.
O mundo e suas canções
de �mbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certoinstante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
De sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê-las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
– mas a conta não existe –
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.
 
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a
perspec�va do sujeito maduro, já afastado das ilusões,
como se lê no verso-síntese “Tu não me enganas, mundo,
e não te engano a �.” (“Legado”). O excerto de “Can�ga
de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada
a) pela música, que ressoa em canções líricas. 
b) pela cor, brilhante na claridade solar. 
c) pela afirmação de valores sólidos. 
d) pela memória, que corre fluida no tempo. 
e) pelo despropósito de um faz-de-conta. 
L0268 - (Fuvest)
Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho,
quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno”
– cara de bobo de fazenda, do segundo �po –; porque
toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote
baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola,
meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de
fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para
mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso
manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de
caburé*** insalubre, amigavam-se as marcas do sangue
aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que
boi lambeu; dentes de fio em meia-lua; malares
pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia;
olhinhos de viés e nariz peba, mongol.
Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.
 
*sem pelos, sem barba **tolo ***mes�ço
 
O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no
fragmento, permite afirmar que
9@professorferretto @prof_ferretto
a) há clara an�pa�a do narrador para com a personagem,
que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”. 
b) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a
refle�r a mescla de culturas própria ao es�lo do livro. 
c) a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo
biológico que norteia o livro. 
d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim
da narra�va Manuel Fulô sofre derrota na luta �sica. 
e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés”
para caracterizar a personagem como ingênua. 
L0007 - (Udesc)
Cavador do Infinito
 
Com a lâmpada do Sonho desce aflito 
E sobe aos mundos mais imponderáveis, 
Vai abafando as queixas implacáveis, 
Da alma o profundo e soluçado grito. 
 
Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito 
Sente, em redor, nos astros inefáveis. 
Cava nas fundas eras insondáveis 
O cavador do trágico Infinito. 
 
E quanto mais pelo Infinito cava 
Mais o Infinito se transforma em lava 
E o cavador se perde nas distâncias... 
 
Alto levanta a lâmpada do Sonho 
E com seu vulto pálido e tristonho 
Cava os abismos das eternas ânsias! 
SOUZA, Cruz e. Úl�mos
Sonetos. www.dominiopublico.gov.br.
 
Analise as proposições em relação ao soneto “Cavador do
Infinito”, Cruz e Souza.
 
I. A leitura do poema leva o leitor a inferir que o cavador
do infinito é a representação da imagem do próprio
poeta, ou seja, um autorretrato do poeta simbolista.
II. Da leitura do poema infere-se que a metáfora está
centrada na lâmpada do sonho, a qual se refere à
imaginação onírica do poeta e ilumina o seu
inconsciente.
III. O sinal de pontuação – re�cências – no verso 11,
acentua o clima de indefinível, levando o leitor a inferir
sobre a situação – o drama vivido pelo eu lírico.
IV. No plano formal, o uso de letra maiúscula em
substan�vos comuns é uma caracterís�ca do Simbolismo,
como ocorre em: “Sonho”(versos 1 e 12), “Ânsias” e
“Desejos” (verso 5); “Infinito” (versos 8 e 9). Usada como
alegoria, a letra maiúscula tenciona dar um sen�do de
transcendência, de valor absoluto. 
V. Da leitura do poema e do contexto literário simbolista,
infere-se que o �tulo do poema “Cavador do Infinito”
reforça a ideia a que o soneto remete: o poeta simbolista
busca a transcendência, a transfiguração da realidade
co�diana para uma dimensão meta�sica, que é uma
caracterís�ca da esté�ca simbolista. 
 
Assinale a alterna�va correta. 
a) Somente as afirma�vas II e III são verdadeiras. 
b) Somente as afirma�vas I, III e V são verdadeiras. 
c) Somente as afirma�vas II, III, IV e V são verdadeiras. 
d) Somente as afirma�vas I, IV e V são verdadeiras. 
e) Todas as afirma�vas são verdadeiras. 
L0311 - (Unesp)
Leia o ensaio “Império reverso”, de Eduardo Gianne�.
Império reverso – O filósofo grego Diógenes fez da
autossuficiência e do controle das paixões os valores
centrais de sua vida: um casaco, uma mochila e uma
cisterna de argila no interior da qual pernoitava eram
suas únicas posses. Intrigado com relatos sobre essa
estranha figura, o imperador Alexandre Magno resolveu
conferir de perto. Foi até ele e propôs: “Sou o homem
mais poderoso do mundo, peça-me o que desejar e lhe
atenderei.” Diógenes [...] não �tubeou: “O senhor teria a
delicadeza de afastar-se um pouco? Sua sombra está
bloqueando o meu banho de sol.” O filósofo e o
imperador são casos extremos, mas ambos ilustram a
tese socrá�ca de que, entre os mortais, o mais próximo
dos deuses em felicidade é aquele que de menor número
de coisas carece. Alexandre, ex-pupilo e depois mecenas
de Aristóteles, aprendeu a lição. Quando um cortesão
zombou do morador da cisterna por ter “desperdiçado” a
oferta que lhe caíra do céu, o imperador rebateu: “Pois
saiba então você que, se eu não fosse Alexandre, eu teria
desejado ser Diógenes.” Os extremos se tocam. – “Querei
só o que podeis”, pondera o padre Antônio Vieira, “e
sereis omnipotentes.”
(Eduardo Gianne�. Trópicos utópicos, 2016.)
 
Depreende-se do ensaio uma crí�ca, sobretudo,
a) à insensibilidade. 
b) à intemperança. 
c) à passividade. 
d) à volubilidade. 
e) à intolerância. 
L0274 - (Fuvest)
Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que
a pisa.
Mas mais frágil fica a bota.
10@professorferretto @prof_ferretto
Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.
*sesta: repouso após o almoço.
 
Considerando que se trata de um texto literário, uma
interpretação que seja capaz de captar a sua
complexidade abordará o poema como
a) uma defesa da natureza. 
b) um ataque às forças armadas. 
c) uma defesa dos direitos humanos. 
d) uma defesa da resistência civil. 
e) um ataque à passividade. 
L0273 - (Fuvest)
amora
 
a palavra amora
seria talvez menos doce
e um pouco menos vermelha
se não trouxesse em seu corpo
(como um velado esplendor)
a memória da palavra amor
 
a palavra amargo
seria talvez mais doce
e um pouco menos acerba
se não trouxesse em seu corpo
(como uma sombra a espreitar)
a memória da palavra amar
Marco Catalão, Sob a face neutra.
 
É correto afirmar que o poema
a) aborda o tema da memória, considerada uma
faculdade que torna o ser humano menos amargo e
sombrio. 
b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o
que vem expresso pela repe�ção da palavra “talvez”. 
c) apresenta natureza român�ca, sendo as palavras
“amora” e “amargo” metáforas do sen�mento
amoroso. 
d) possui reiterações sonoras que resultam em uma
tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. 
e) ressalta os significados das palavras tal como se
verificam no seu uso mais corrente.
L0276 - (Fuvest)
I
– Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.
(...)
Sabes a que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento.
Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só,
cama tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...)
Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada
sucesso que eu �ver, será a paga da tua bofetada, pois
não serei um falhado como tu.
Pepetela, Mayombe. Adaptado.
 
II
– Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um
imbecil. E quis igualar o inigualável.
Pepetela, Mayombe.Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre
as personagens Comissário e Sem Medo em momentos
dis�ntos do romance. Em I e II, as falas do Comissário
revelam, respec�vamente,
a) incompa�bilidade étnica entre ele e Sem Medo, por
pertencerem a linhagens diferentes, e superação de
sua hos�lidade tribal. 
b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu
favor na conversa com Ondina, e desespero diante do
companheiro baleado. 
c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência
de que isso não passara de uma crise de ciúme dele. 
d) forte tensão homoafe�va entre ele e Sem Medo, e
aceitação da verdadeira orientação sexual do
companheiro. 
e) ira, diante do an�catolicismo de Sem Medo, e culpa
que o a�nge ao perceber que sua demonstração de
coragem colocara o companheiro em risco. 
L0287 - (Fuvest)
O QUINTO IMPÉRIO
 
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
 
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz —
Ter por vida a sepultura.
 
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
 
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
11@professorferretto @prof_ferretto
Do dia claro, que no atro [sombrio]
Da erma noite começou.
 
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebas�ão?
Fernando Pessoa. Mensagem.
 
Mensagem reconduz a história de Portugal a par�r de
uma reinterpretação do tempo histórico. No poema, o
tempo é encarado segundo uma concepção
a) nostálgica, devido à presença de modelos situados no
passado. 
b) materialista, por efeito da aspiração burguesa de um
lar confortável. 
c) mís�ca, em razão do prognós�co de um futuro
meta�sico. 
d) biológica, por mérito da aceitação do ciclo natural da
existência. 
e) psicológica, em virtude da referência ao substan�vo
“sonho”.
L0454 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac,
publicada originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os
si�antes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co
do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há
sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou. 
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial. 
“Porque, enfim, pode um homem ter nascido num século
de luzes e de descrenças, e ter mamado o leite do
liberalismo nos estafados seios da Revolução Francesa, e
não acreditar nem em Deus nem no Diabo – e, apesar
12@professorferretto @prof_ferretto
disso, sen�r a voz presa na garganta, quando encontra na
rua, a desoras, uma avantesma...” (2º parágrafo)
 
Nesse trecho, o cronista acaba por desconstruir a
oposição entre
a) razão e século de luzes. 
b) razão e crendice. 
c) razão e descrença. 
d) Iluminismo e Liberalismo. 
e) Iluminismo e Revolução Francesa.
L0455 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac,
publicada originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontrana rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os
si�antes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co
do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há
sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial. 
 
Em relação à reportagem sobre a diligência policial (4º e
5º parágrafos), o cronista destaca seu caráter
a) obje�vo.
b) enigmá�co. 
c) enfadonho. 
d) fantasioso. 
e) macabro. 
L0456 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac,
publicada originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
13@professorferretto @prof_ferretto
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os
si�antes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co
do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há
sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Cons�tui exemplo de interação do cronista com o leitor o
trecho
a) “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de
toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados an�gos” (3º parágrafo). 
b) “As almas simples vão propagando o terror, e, sob a
capa e a salvaguarda desse temor, os pa�fes vão
rejubilando” (1º parágrafo). 
c) “Não vades agora crer que se tenham sumido, por
exemplo, as hós�as consagradas da igreja de Catumbi”
(3º parágrafo). 
d) “as primerias pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea” (2º parágrafo). 
e) “O fantasma não falava – naturalmente por saber de
longa data que pela boca é que morrem os peixes e os
fantasmas” (2º parágrafo). 
L0457 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac,
publicada originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
14@professorferretto @prof_ferretto
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os
si�antes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co
do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há
sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Em “o lobisomem, para perpétua e suprema vergonha de
toda a sua classe, andava acumulando novos pecados
sobre os pecados an�gos, e dando-se à prá�ca de
excessos menos merecedores de exorcismos que de
cadeia” (3º parágrafo), o trecho sublinhado cons�tui um
exemplo de
a) sinestesia. 
b) paradoxo. 
c) pleonasmo. 
d) hipérbole.
e) eufemismo.
L0458 - (Unesp)
Leia a crônica “Almas penadas”, de Olavo Bilac,
publicada originalmente em 1902.
 
Outro fantasma?... é verdade: outro fantasma. Já
tardava. O Rio de Janeiro não pode passar muito tempo
sem o seu lobisomem. Parece que tudo aqui concorre
para nos impelir ao amor do sobrenatural [...]. Agora, já
se não adormecem as crianças com histórias de fadas e
de almas do outro mundo. Mas, ainda há menos de
cinquenta anos, este era um povo de beatos [...]. [...] Os
tempos melhoraram, mas guardam ainda um pouco
dessa primi�va credulidade. Inventar um fantasma é
ainda um magnífico recurso para quem quer levar a bom
termo qualquer grossa pa�faria. As almas simples vão
propagando o terror, e, sob a capa e a salvaguarda desse
temor, os pa�fes vão rejubilando.
O novo espectro que nos aparece é o de Catumbi.
Começou a surgir vagamente, sem espalhafato, pelo
pacato bairro – como um fantasma de grande e louvável
modés�a. E tão esba�do1 passava o seu vulto na treva,
tão su�lmente deslizava ao longo das casas adormecidas
– que as primeiras pessoas que o viram não puderam em
consciência dizer se era duende macho ou duende
fêmea. [...] O fantasma não falava – naturalmente por
saber de longa data que pela boca é que morrem os
peixes e os fantasmas... Também, ninguém lhe falava –
não por experiência, mas por medo. Porque, enfim, pode
um homem ter nascido num século de luzes e de
descrenças, e ter mamado o leite do liberalismo nos
estafados seios da Revolução Francesa, e não acreditar
15@professorferretto @prof_ferretto
nem em Deus nem no Diabo – e, apesar disso, sen�r a
voz presa na garganta, quando encontra na rua, a
desoras2, uma avantesma3...
Assim, um profundo mistério cercava a existência do
lobisomem de Catumbi – quando começaram de
aparecer ves�gios assinalados de sua passagem, não já
pelas ruas, mas pelo interior das casas. Não vades agora
crer que se tenham sumido, por exemplo, as hós�as
consagradas da igreja de Catumbi, ou que os empregados
do cemitério de S. Francisco de Paula tenham achado
alguma sepultura vazia, ou que algum circunspecto pai
de família, certa manhã, ao despertar, tenha dado pela
falta... da própria alma. Nada disso. Os fenômenos eram
outros. Desta casa sumiram-se as arandelas, daquela
outra as galinhas, daquela outra as joias... E a polícia,
finalmente, adquiriu a convicção de que o lobisomem,
para perpétua e suprema vergonha de toda a sua classe,
andava acumulando novos pecados sobre os pecados
an�gos, e dando-se à prá�ca de excessos menos
merecedores de exorcismos que de cadeia.
Dizem as folhas4 que a polícia, competentemente
munida de ben�nhos5 e de revólveres, de amuletos e de
sabres, assaltou anteontem o reduto do fantasma. Um
jornal, dando conta da diligência, disse que o delegado
achou dentro da casa sinistra – um velho pardieiro6 que
fica no topo de uma ladeira íngreme – alguns objetos
singulares que pareciam instrumentos “pertencentes a
gatunos”. E acrescentou: “alguns morcegos esvoaçavam
espavoridos, tentando apagar as velas acesas que os
si�antes7 empunhavam”.
Esta nota de morcegos deve ser um chique român�co
do no�ciarista. No fundo da alma de todo o repórter há
sempre um poeta... Vamos lá! nestes tempos, que
correm, já nem há morcegos. Esses feios quirópteros,
esses medonhos ratos alados, companheiros clássicos do
terror noturno, já não aparecem pelo bairro civilizado de
Catumbi. Os animais, que esvoaçavam espavoridos, eram
sem dúvida os frangões roubados aos quintais das
casas... Ai dos fantasmas! e mal dos lobisomens! o seu
tempo passou.
(Olavo Bilac. Melhores crônicas, 2005.)
 
1esba�do: de tom pálido.
2a desoras: muito tarde.
3avantesma: alma do outro mundo, fantasma, espectro.
4folha: periódico diário, jornal.
5ben�nho: objeto de devoção contendo orações escritas.
6pardieiro: prédio velho ou arruinado.
7si�ante: policial.
 
Em “Vamos lá! nestes tempos, que correm, já nem há
morcegos” (5º parágrafo), o termo sublinhado está
empregado na mesma acepção do termo sublinhado em
a) “ela correu um risco desnecessário”. 
b) “a no�cia corria por toda a cidade”. 
c) “a manhã corria especialmente tranquila”. 
d) “segundo corria, ela seria facilmente eleita”. 
e) “um arrepio correu-lhe pela espinha”. 
L0459 - (Unesp)
Leia a cena inicial da comédia O noviço, de Mar�ns Pena.
 
AMBRÓSIO: No mundo a fortuna é para quem sabe
adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é
aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar.
Todo homem pode ser rico, se a�nar com o verdadeiro
caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e
per�nácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que,
resolvido a empregar todos os meios, não consegue
enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos,
era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda
serei. O como não importa; no bom resultado está o
mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo
eu? Se em algum tempo �ver de responder pelos meus
atos,o ouro jus�ficar-me-á e serei limpo de culpa. As leis
criminais fizeram-se para os pobres...
(Mar�ns Pena. Comédias (1844-1845), 2007.)
 
“O como não importa; no bom resultado está o mérito...”
 
O teor dessa fala aproxima-se do conteúdo da seguinte
citação:
a) “Todos julgam segundo a aparência, ninguém segundo
a essência.” (Friedrich Schiller, escritor alemão, 1759-
1805.) 
b) “A virtude está toda no esforço.” (Anatole France,
escritor francês, 1844-1924.) 
c) “Cuide dos meios; o fim cuidará de si mesmo.”
(Mahatma Gandhi, líder polí�co indiano, 1869-1948.) 
d) “O homem é o lobo do homem.” (Plauto, dramaturgo
romano, 254 a.C.-184 a.C.) 
e) “Os fins jus�ficam os meios.” (Ovídio, poeta romano,
43 a.C.-17 d.C.) 
L0460 - (Unesp)
Leia a cena inicial da comédia O noviço, de Mar�ns Pena.
 
AMBRÓSIO: No mundo a fortuna é para quem sabe
adquiri-la. Pintam-na cega... Que simplicidade! Cego é
aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar.
Todo homem pode ser rico, se a�nar com o verdadeiro
caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e
per�nácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que,
resolvido a empregar todos os meios, não consegue
16@professorferretto @prof_ferretto
enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos,
era eu pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda
serei. O como não importa; no bom resultado está o
mérito... Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo
eu? Se em algum tempo �ver de responder pelos meus
atos, o ouro jus�ficar-me-á e serei limpo de culpa. As leis
criminais fizeram-se para os pobres...
(Mar�ns Pena. Comédias (1844-1845), 2007.)
 
A fala de Ambrósio contém um elogio.
a) à humildade. 
b) à moderação.
c) à meritocracia. 
d) à jus�ça. 
e) à burocracia.
L0463 - (Unesp)
Enquanto quis Fortuna1 que �vesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2
Me fez que seus efeitos escrevesse.
 
Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.
 
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,
 
Verdades puras são, e não defeitos6,
E sabei que, segundo o amor �verdes,
Tereis o entendimento de meus versos. 
(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)
 
1Fortuna: en�dade mí�ca que presidia a sorte dos
homens.
2suave pensamento: sen�mento amoroso.
3Amor: en�dade mí�ca que personifica o amor.
4juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca
se apaixonaram.
5engenho: talento poé�co, inspiração.
6defeitos: inverdades, fantasia.
 
No soneto, Amor teme que
a) o eu lírico perca sua inspiração.
b) a poesia do eu lírico não seja sincera.
c) a poesia do eu lírico não seja compreendida. 
d) o eu lírico esqueça sua amante. 
e) o eu lírico divulgue seus enganos.
L0464 - (Unesp)
Enquanto quis Fortuna1 que �vesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2
Me fez que seus efeitos escrevesse.
 
Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.
 
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,
 
Verdades puras são, e não defeitos6,
E sabei que, segundo o amor �verdes,
Tereis o entendimento de meus versos. 
(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)
 
1Fortuna: en�dade mí�ca que presidia a sorte dos
homens.
2suave pensamento: sen�mento amoroso.
3Amor: en�dade mí�ca que personifica o amor.
4juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca
se apaixonaram.
5engenho: talento poé�co, inspiração.
6defeitos: inverdades, fantasia.
 
Segundo o eu lírico, Amor torna os amantes
a) mesquinhos. 
b) melancólicos. 
c) submissos. 
d) imprudentes. 
e) insensatos. 
L0465 - (Unesp)
Enquanto quis Fortuna1 que �vesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento2
Me fez que seus efeitos escrevesse.
 
Porém, temendo Amor3 que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento4,
Escureceu-me o engenho5 com tormento,
Para que seus enganos não dissesse.
 
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades, quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,
 
Verdades puras são, e não defeitos6,
17@professorferretto @prof_ferretto
E sabei que, segundo o amor �verdes,
Tereis o entendimento de meus versos. 
(Luís de Camões. 20 sonetos, 2018.)
 
1Fortuna: en�dade mí�ca que presidia a sorte dos
homens.
2suave pensamento: sen�mento amoroso.
3Amor: en�dade mí�ca que personifica o amor.
4juízo isento: os inocentes do amor, aqueles que nunca
se apaixonaram.
5engenho: talento poé�co, inspiração.
6defeitos: inverdades, fantasia.
 
No soneto, o eu lírico dirige-se, mediante voca�vo,
a) àqueles que não entendem seus versos.
b) a Amor. 
c) àqueles que nunca se apaixonaram. 
d) aos amantes. 
e) a Fortuna. 
L0471 - (Unesp)
Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A
terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. A obra
resultou da cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos,
realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de
S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada
apenas em 1902.
 
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de
1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de
um canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos,
encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro
irregular, onde as colinas se dispunham circulando um
vale único. Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes
viçando em tufos intermeados de palmatórias3 de flores
ru�lantes, davam ao lugar a aparência exata de algum
velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única,
uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina.
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão
e protegido por ela – braços largamente abertos, face
volvida para os céus – um soldado descansava.
Descansava... havia três meses. 
Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A
coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné
jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que
sucumbira em luta corpo a corpo com adversário
possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada
que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta.
E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora
percebido. Não compar�ra, por isto, a vala comum de
menos de um côvado de fundo em que eram jogados,
formando pela úl�ma vez juntos, os companheiros
aba�dos na batalha. O des�no que o removera do lar
desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da
promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e
deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos,
rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os
luares claros, para as estrelas fulgurantes...
E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara
conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a
ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em
tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem
um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da
matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da
vida sem decomposição repugnante, numa exaustão
impercep�vel. Era um aparelho revelando de modo
absoluto, mas suges�vo, a secura extrema dos ares. 
(Os sertões, 2016.)
1 canhoneio: descarga de canhões.
2 icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, flores de tom
verde-pálido e frutos bacáceos.
3 palmatória: planta da família das cactáceas, de flores
amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou
róseas, e bagas vermelhas.
4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ri�er von
Mannlicher.
 
Anteriormente ao texto transcrito, Euclides da Cunha
menciona a existência de “higrômetros inesperados e
bizarros” na paisagem. Cons�tui exemplo de higrômetro
inesperado e bizarro no texto transcrito:
a) a disposição geográfica das colinas . 
b) a ação dos vermes a decompor o cadáver. 
c) o corpo abandonado do soldado. 
d) a quixabeira solitária, cercada por vegetação
franzina. 
e) a secura extrema dos ares.
L0473 - (Unesp)
E se esse tal

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