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CADERNO DE RESUMOS Caderno de Resumos (recurso eletrônico) do II Encontro Encontro de Filosofia da Bahia, 22 de setembro de 2015. Juliana Aggio (org), Malcom Rodrigues (org), Paulo Bertoni (org), Roberto Rosa (org.). Salvador – BA, UFBA. 1 CD ROOM ISSN: 2358-5862 N.1 V.1 ANO 2015 Salvador, setembro de 2015 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS Reitor João Carlos Salles Pires da Silva Vice-Reitor Paulo César Miguez de Oliveira Pró-Reitora de Extensão Fabiana Dultra Britto Diretora do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas Maria Hilda Baqueiro Paraíso 3 FICHA CATALOGRÁFICA Coordenação Geral Prof.ª. Drª. Juliana Aggio (UFBA) Comissão Organizadora Prof. Dr. Alex Leite (UNEB) Prof.ª. Drª. Giovana Temple (UFRB) Prof. Dr. Malcom Rodrigues (UEFS) Prof. Dr. Paulo Bertoni (UESB) Prof. Dr. Rafael Azize (UFBA) Prof. Dr. Roberto Sávio Rosa (UESC) Comissão Científica Prof. Dr. Alex Leite (UNEB) Prof. Dr. Giovana Temple (UFRB) Prof. Dr. Jarlee Salviano (UFBA) Prof. Dr. João Carlos Salles (UFBA) Profa. Dra Juliana Aggio (UFBA) Prof. Dr. Malcom Rodrigues (UEFS) Prof. Dr. Marco Aurélio Oliveira (UFBA) Prof. Dr. Paulo Bertoni (UESB) Prof. Dr. Rafael Azize (UFBA) Prof. Dr. Roberto Sávio Rosa (UESC) Coordenação geral da comissão Discente Vívian Val Monteiro 4 II ENCONTRO DE FILOSOFIA DA BAHIA Realização Universidade Federal da Bahia Universidade Estadual de Feira de Santana Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Universidade Estadual de Santa Cruz Universidade do Estado da Bahia Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Apoio PROEXT/UFBA – Pró-Reitoria de Extensão da UFBA FFCH/UFBA – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Patrocínio 5 Sumário Apresentação ................................................................................................................................ 6 Programação completa do II EFIBA ............................................................................................... 7 Índice dos autores.........................................................................................................................9 Resumos ...................................................................................................................................... 15 6 Apresentação O Encontro de Filosofia da Bahia (EFIBA), evento concebido e realizado conjuntamente pelas seis Universidades públicas da Bahia que possuem curso de filosofia, tem por intuito promover a excelência e o rigor das atividades filosóficas locais, proporcionando maior visibilidade nacional e internacional à produção filosófica baiana, bem como consolidando o estado da Bahia enquanto um dos polos de pesquisa filosófica do nosso país. A realização do evento não é apenas uma oportunidade de estimular e reunir a pesquisa filosófica produzida na Bahia, mas também de disseminar os seus resultados para fora do estado e do país. A Bahia abriga seis Universidades públicas que possuem curso de filosofia, e são essas seis Universidades que, conjuntamente, organizam os EFIBAs: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). O I EFIBA foi realizado no ano passado, em Feira de Santana, na UEFS. O II EFIBA chega à Universidade Federal da Bahia desta vez e com o entusiasmo próprio à bela cidade de Salvador. Contaremos com a participação de estudantes, professores e pesquisadores de diversas regiões do país e do mundo. 7 Programação completa do II EFIBA DIA 22/09/2015 – TERÇA-FEIRA HORÁRIO LOCAL ATIVIDADE 9h-12h PAF V, campus de Ondina (UFBA) Recepção e Credenciamento 14h Auditório 1 do PAF V Solenidade de abertura com o Reitor da UFBA João Carlos Salles 14h-17h Auditório 1 do PAF V Conferências de Abertura A amizade em Aristóteles Carlo Natali, da Universidade de Veneza e Aristóteles e a retórica das emoções: teoria e modo de aplicação Cristina Viano, do CNRS – Paris. 18h-21h Auditório 1 do PAF V Mesa redonda Diálogos entre os filósofos antigos Fernando Puente (UFMG), Marisa Lopes (Ufscar) e Christiani Menezes e Silva (UESC) DIA 23/09/2015 – QUARTA-FEIRA HORÁRIO LOCAL ATIVIDADE 8h30-9h30 Auditório 1 do PAF V Notas sobre caráter e competência João Carlos Salles (UFBA) 9h30-10h30 Auditório 1 do PAF V Mesa redonda A importância do PET e do PIBID na filosofia 10h30-12h30 Auditórios do PAF I e do PAF V Sessões de Comunicação 14h-15h Auditório 1 do PAF V Vida e morte em Foucault Giovana Temple (UFRB) 15h-17h30 Auditórios do PAF I e do PAF V Sessões de Comunicação 18h-21h Auditório 1 do PAF V Mesa redonda A recepção dos antigos na filosofia medieval José Estevão (USP), Fátima Évora (Unicamp) e Marco Aurélio Oliveira (UFBA) DIA 24/09/2015 – QUINTA-FEIRA HORÁRIO LOCAL ATIVIDADE 8h30-9h30 Auditório 1 do PAF V Um comentário sobre as paixões em Descartes Paulo Bertoni (UESB) 9h30-12h30 Auditórios do PAF I e do PAF V Sessões de Comunicação 14h-15h Auditório 1 do PAF V Spinoza, um epicurista? Alex Leite (UNEB) 15h-17h30 Auditórios do PAF I e do PAF V Sessões de Comunicação 17h30-18h Auditório 1 do PAF V Lançamento do livro Descartes e a Morte de Deus, de Joceval Bitencourt 18h-21h Auditório 1 do PAF V Mesa redonda A retomada moderna dos antigos Maria das Graças de Souza (USP), Emanuel Fragoso (UECE) e Joceval Bitencourt (UNEB) 8 DIA 25/09/2015 – SEXTA-FEIRA HORÁRIO LOCAL ATIVIDADE 8h30-9h30 Auditório 1 do PAF V Trágico e tragédia em Adonias Filho Sávio Rosa (UESC) 9h30-12h30 Auditórios do PAF I e do PAF V Sessões de Comunicação 14h-15h Auditório 1 do PAF V Aspectos wittgensteinianos da experiência estética Rafael Azize (UFBA) 15h-17h30 Auditórios do PAF I e do PAF V Sessões de Comunicação 18h-21h Auditório 1 do PAF V Mesa redonda A resposta contemporânea aos antigos problemas filosóficos Franklin Leopoldo e Silva (USP), Richard Simanke (UFJF) e Malcom Rodrigues (UEFS) 21h Auditório 1 do PAF V Solenidade de Encerramento com a apresentação do violonista Felipe Rebouças 9 Índice de autores Adriana Tabosa (p. 134) Aislan Alves Bezerra (p. 154) Alan Brandão Morais (p. 63) Alan Sampaio (p. 97) Aline Valéria Ramos de Almeida (p. 60) Amanda Ataide Santos (p. 153) Ana Beatriz de Lima Correia (p. 156) Ana Lucia Santos (p. 158) Ana Margarete Barbosa de Freitas (p. 157) Ana Rita Santos Tabosa (p. 121) Anderson Rodrigues (p. 42) André Roberto Tonussi Arnaut (p. 34) Angela Lima Calou (p. 90) Ângelo Márcio Macedo Gonçalves (p. 136) Antônio Ismael da Silva Lima (p. 46) Antonio Janunzi Neto (p. 31) Apaoan Machado (p. 126) Aroldo Mira Pereira (p. 67) Aylton Fernando Andrade Brito (p. 81) Brenda Oliveira do Espirito Santo (p. 55) Brendha Maria Malheiro Grangeiro (p. 25) Bruno Silva dos Santos (p. 65) Caio Leone de Almeida MouraFilho (p. 93) Carla Vanessa Brito de Oliveira (p. 22) Carlos Eduardo Gomes (p. 16) Carlos Emanuel Melo (p. 105) 10 Charleston Silva Souza (p. 167) Clara Rocha Mascena (p. 101) Cláudia Moraes Teixeira (p. 70) Claudiano Avelino dos Santos (p. 148) Claudio de Sousa Rocha (p. 165) Cleide Servilha Couto (p. 163) Cleiton Souza (p. 114) Crislane Barreto Santana (p. 41) Cristian Arão Silva de Jesus (p. 131) Cristina Moreira Jalil (p. 76) Daiane Soares dos Santos (p. 89) David Velanes de Araújo (p. 119) Dayane Tosta Costa (p. 137) Débora Souza de Almeida (p. 159) Deivide Garcia da Silva Oliveira (p. 133) Diego Guimarães (p. 96) Dioclézio Faustino (p. 164) Edcleide Silva (p. 47) Eliene Silva (p. 113) Elsa Marisa Dal Lago (p. 132) Elton Moreira Quadros (p. 160) Elza Silva dos Santos (p. 62) Enrique Bruno Lima Martins (p. 173) Erica Lopes de Oliveira (p. 115) Estanislau Fausto Dantas Santana (p. 103) Evandro Salvador Miranda (p. 141) Evanildo Couto dos Santos (p. 169) Felipe R. L. Santos (p. 155) Fernanda de Jesus Almeida (p. 98) 11 Flávio de Oliveira Silva (p. 45) Francisco de Assis Silva (p. 106) Gabriel da Silva Silveira (p. 83) Genival Carvalho Batista (p. 52) Germano Aparecido Dansiger Neto (p. 57) Giorgio Borghi (p. 59) Gustavo Rafael Bianchi A. Ferreira (p. 117) Hilton Leal da Cruz (p. 118) Igor Lucas Adorno Santos (p. 149) Jaquissom Aguiar Guimarães (p. 88) Janiel de Oliveira Santos (p. 92) Jean Marcelo dos Santos Faraoh (p. 128) Jefferson Martins Viel (p. 104) Jezer Hezrom Lima de Oliveira (p. 87) Jilvania de Jesus Barbosa & Caroline Ribeiro (p. 116) João Lourenço Borges Neto (p. 123) Jociel Nunes Vieira (p. 85) Jorge Luis da Silva Santos (p. 174) José Américo Soares Neto (p. 171) José Lourenço Araújo Leite (p. 144) José Marcos Menezes Santos (p. 127) José Martins de Lima Neto (p. 78) José Portugal Santos Ramos (p. 79) Josemary da Guarda Souza (p.146) Josiel Pereira Santos (p. 122) Juliomar Marques Silva (p. 58) Karla Cristhina Soares Sousa (p. 43) Laiane Almeida Teles (p. 151) Laio Sampaio Bispo (p. 124) 12 Laiz Dantas (p. 91) Leidiane Coimbra Castro (p. 24) Leíner Emanuella de Carvalho Hoki (p. 143) Leliana Vieira Silva (p. 18) Leonardo Araújo Oliveira (p. 26) Leonardo Silva (p. 166) Letícia Olano Morgantti Salustiano Botelho (p. 71) Liamar Francisco (p. 49) Ligea Clara De Carvalho Hoki (p. 51) Lisandro Bacelar Silva, Uarison Barreto, Marco Antonio Ribeiro (p. 30) Livia Karla Lima Leite (p. 28) Lucas Nascimento (p. 32) Luciene Braga Ramos Borges (p. 40) Luis Alberto Santos (p. 44) Luis Vitor da Silva Abreu (p. 68) Luiz Eduardo Gonçalves Oliveira Freitas (p. 84) Luiza Simões Pacheco (p. 102) Luize Santos de Queiroz (p. 147) Maiara Rúbia Miguel (p. 145) Manoel Neto (p. 21) Manoel Pereira Lima Junior (p. 35) Manuela de Araujo Barreiros Santos (p. 130) Maria Aucimara Ribeiro Santos (p. 38) Maria Cândida Neres Batista (p. 125) Mariana Andrade Santos (p. 15) Mariana Moreira da Silva (p. 168) Mariluce dos Santos (p. 27) Mônica Souza de Oliveira (p. 109) Moreno Baêta Neves Barbé (p. 69) 13 Morganna Vellozo Palhares (p. 129) Murilo Garcia de Matos Amaral (p. 161) Mykael Morais Viana (p. 135) Nailton Fernandes (p. 75) Najla Peixoto dos Santos (p. 20) Natan Luiz Neri de Sousa (p. 138) Nélio Gilberto dos Santos (p. 120) Newton Pereira Amusquivar Junior (p. 53) Orlando Pinho Guerra Filho (p. 77) Pablo Enrique Abraham Zunino (p. 110) Paulo Giovani Lins (p. 152) Paulo Sérgio Oliveira Santana (p. 37) Pedro Miguel Sousa Santos (p. 175) Rafael Azevedo (p. 150) Ramires Fonseca Silva (p. 107) Raquel Anjos (p. 73) Reinaldo Batista dos Santos Filho (p. 111) Reinaldo Sales Oliveira (p. 48) Rodrigo Ornelas França (p. 142) Rodrigo Seixas Pereira Barbosa (p. 54) Ronaldo Moreira de Souza (p. 61) Ronildo Alves Brito (p. 172) Rosa Ilana Santos & Girlene Andrade de Assis (p. 86) Rosaly Ramos de Morais (p. 162) Roseane Welter (p. 50) Samuel Leite (p. 95) Saulo Matias Dourado (p. 39) Simone Freitas Santos (p. 19) Simone Siqueira Pereira (p. 23) 14 Solange Alves Sobreira (p. 64) Tatiana Souza Correia (p. 170) Tatiane Boechat Zunino (p. 33) Tiago Araujo (p. 36) Tiago de Jesus Sousa (p. 72) Thaís Souza (p. 100) Thiago Felipe Lima da Mata (p. 108) Uilson de Almeida Bittencourt (p. 56) Valério Cássio Silva de Oliveira Junior (p. 74) Vilma dos Santos Borges (p. 82) Vitor Duarte Ferreira (p. 80) Vivian Silva Santos (p. 94) Vívian Val (p. 17) Viviane Rocha (p. 140) Webert Ribeiro Oliviera (p. 99) Wellington Amâncio da Silva (p. 29) Ybine Dias Correia (p. 139) Yves São Paulo (p.112) 15 Resumos A ARTE DA PINTURA DE SI: AS CORES DO EU NA ESCRITA FILOSÓFICA Mariana Andrade Santos (UFG) A metáfora da pintura de si mesmo aparece tanto nos Ensaios de Montaigne como nas Confissões de Rousseau. As encenações do eu no texto filosófico se revelam através de uma comparação da escrita com a arte do pintor retratista. A escritura do eu se realiza através da forma de um autorretrato: no lugar das tintas, palavras e no papel de pintores, filósofos. Essa espécie de pintura filosófica do eu é a tarefa que o eu enunciador do discurso filosófico coloca diante de si. A arte de pintar a si mesmo é realizada através de um exercício de escrita capaz de criar um espaço que permita a revelação do eu. A obra forma um espaço externo para tornar visível uma interioridade: um local onde o eu é capaz de se mostrar através do movimento do exercício da escrita. O presente trabalho propõe, desse modo, investigar as fronteiras e limiares entre filosofia e literatura através dos rastros deixados pelo exercício da forma e de enunciação do eu filosófico. Para tal, no nosso primeiro excurso, pautaremos as nossas análises no eu indivíduo de Montaigne e no autobiográfico rousseauniano. No segundo excurso, investigaremos a defesa contemporânea da forma ensaística na filosofia: o lugar ocupado pelo eu enquanto narrador do ensaio e a consequente reabilitação do elemento subjetivo descartado pelo discurso científico. As reflexões críticas de Adorno em O ensaio como forma serão retomadas com o intuito de mostrar a elaboração da filosofia entendida como um exercício linguístico de expressão. Palavras-Chaves: Escrita Filosófica, Eu Filosófico, Escrita Ensaística 16 A ÁSKESIS, UMA GENEALOGIA DO SUJEITO ENTRE NIETZSCHE E FOUCAULT Carlos Eduardo Gomes (UFBA) Debate iniciado por Nietzsche sobre o ideal ascético como uma renúncia de si, na Genealogia da Moral, é uma crítica ao vínculo de como o sujeito na história do pensamento e da existência foi construído através da ideia de verdade, a vontade moral de verdade e a ascese filosófica se tornam imanentes na metafísica, na prática religiosa e ciência moderna, em favor de uma moral repressora da vida. Por outro lado, a filosofia de Foucault, com sua “arqueogenealogia”na redescoberta do conceito ético do cuidado de si da filosofia antiga, lançou outra interpretação da áskesis (ascese), a prática de si, desvelando a necessidade de transformação do sujeito frente ao domínio discursivo dos saberes científicos presentes na cultura contemporânea. A afirmação da vida na filosofia de Nietzsche e de Foucault traçam outra perspectiva para a filosofia como modo de vida; constituem projetos filosóficos diferentes e não se pode tomar linearmente um projeto pelo outro, como se fossem a mesma investigação da genealogia da moral, pois a partir da prática e do conceito de áskesis se pode encontrar deslocamentos e divergências na filosofia de Nietzsche, da ascese como uma renúncia da vida e do corpo; a áskesis em Foucault como possibilidade de liberdade e autonomia para o sujeito. Porém, há pontos de contato entre Nietzsche, inspirador de espíritos livres, e Foucault, com sujeito do cuidado de si, pois ambos promoveram análise filosófica da suspeita sobre a relação entre o sujeito e produção da verdade. Questionando o significado e o sentido da áskesis na relação sujeito e verdade, Nietzsche e Foucault abriram caminhos para estudos da filosofia como modo de vida, em favor da autopoiesis de si, pelo exercício filosófico de criação livre de si, uma ética e estética do homem como obra de arte de si no trágico da existência. Palavras-Chaves: Ética, Áskesis, Sujeito 17 A ASSIMILAÇÃO E O APRENDIZADO POÉTICO EM ARISTÓTELES Vívian Val (UFBA) Com base na Poética, pode-se dizer que Aristóteles estabelece duas vias para qualificar a arte, tanto se pode falar que a obra de arte é boa baseando-se na análise das ações (πρᾶξις) retratadas nas fábulas (μῦθος), como com base na estrutura das ações que perfazem a fábula. A estrutura das ações é a própria fábula que, segundo o filósofo, é a essência dos objetos de arte. No que diz respeito à estrutura, dois são os critérios para a boa composição, (i) a construção dos acontecimentos segundo a probabilidade (εἰκὸς) e a necessidade (ἀναγκαῖον), elementos que proporcionarão à fábula uma unidade (ἓν), e (ii) uma dimensão (μέγεθος) tal que permita ao espectador perceber o objeto artístico em sua totalidade (ὅλον). Realizados esses dois critérios – da unidade e da extensão –, o resultado será não apenas uma boa obra de arte, mas também a memorização da fábula por parte do espectador. A esse processo de o espectador perceber, compreender, e memorizar o objeto artístico chamo assimilação poética. Diante disso, pretendo verificar de que modo a assimilação da fábula se relaciona com o aprendizado, um dos efeitos que será proporcionado pela boa arte, pois, embora mencione que as espécies poéticas possuem a capacidade de presentear o espectador com um aprendizado, o filósofo não deixa claro se existem condições necessárias para que o aprendizado decorra, e se sim, quais seriam. Palavras-Chaves: Aristóteles, Aprendizagem, Assimilação poética 18 A CONCEPÇÃO DE NIETZSCHE SOBRE A EDUCAÇÃO E SUAS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA Leliana Vieira Silva (UESB) O principal objetivo desse artigo é analisar a concepção da educação em Nietzsche e suas possíveis contribuições para compreender a educação brasileira. Nesse sentido justifica-se essa análise por considerar que o que permite a superação do homem animal ao super-homem é a educação. A ponte estendida entre a besta e o super-homem é a educação enquanto compreendida no interior, na tensão e na dinâmica da vontade de poder, que é a afirmação do sentido da existência e da afirmação da vontade enquanto poder de transformar a si mesmo. Dessa forma, a educação pode ser entendida como um percurso que possibilita ao homem concretizar a si mesmo enquanto se mantém fiel ao sentido da terra. Educar é possibilitar a afirmação da vontade de poder contra toda forma de dominação quer seja ela moral, religiosa, política. A atitude crítica de Nietzsche perante as instituições e aos valores estabelecidos é favorável aos jovens que querem superar as concepções estabelecidas socialmente, enquanto adestradores e ajustadores ao sistema, criando jovens com concepções subservientes e indiferentes às questões vitais da existência. A principal justificativa é procurar compreender como Nietzsche concebe a educação e qual é a importância na afirmação da vontade de poder que torna o homem senhor de si e não membro do rebanho, e como elas podem ser confrontadas com os desafios da educação brasileira na atualidade. Palavras-Chaves: Nietzsche, Educação, Poder 19 A CONCEPÇÃO VULGAR DE HISTÓRIA: O CONCEITO DE HISTORIOGRAFIA EM SER E TEMPO. Simone Freitas Santos (UEFS) A presente pesquisa visa compreender a crítica feita pelo filósofo contemporâneo Martin Heidegger a filosofia à “história” e o papel fundamental do Dasein como gestor da sua história e tempo. Contrapondo, assim, com a concepção de “historia” já estabelecida ao homem pela tradição filosófica. E demonstrar através da obra Ser e Tempo o que propriamente Martin Heidegger pretende ao tratar desta concepção vulgar e se há uma problemática “ontológico-existencial da historicidade”. Inicialmente, trataremos do conceito de historiografia para dialogar com o conceito vulgar de história, indicando, portanto, um homem histórico que “ek-siste”. Logo, pretendemos alcançar o entendimento acerca da crítica à filosofia da história pelo filósofo. Gostaríamos de ressaltar que esta comunicação é parte de uma pesquisa que se encontra em andamento, e que pretende buscar pensar a relação entre Dasein e sua historicidade a apropriação da tradição cultural popular que está posta ao ser humano no decorrer da história. Palavras-Chaves: História, Historiografia, Dasein 20 A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA FILOSOFIA ÉTICA DE EMMANUEL LÉVINAS Najla Peixoto dos Santos (UFRB) Pretende-se, com este trabalho, realizar um estudo de análise na perspectiva do filósofo Lévinas apresentando a relação ética intersubjetiva, com o intuito de alcançar possíveis respostas para a proposta aqui a ser discutida, a constituição da subjetividade. Em sua filosofia, Lévinas afirma que ao estabelecer uma relação interpessoal, o outro deve ser compreendido na sua exterioridade, percebendo-o não numa relação de totalidade, na qual prevalece o imperialismo do eu, mas numa abertura à sua complexidade e diferença. Assim, veremos que a relação do Eu consigo mesmo, que na tradição filosófica era primordial, perde espaço pra a intersubjetividade na filosofia levinasiana, e esta adquire maior relevância tendo o outro como fator principal. Este se relava na relação face-a-face, convocando à responsabilidade da ética da alteridade.Deste modo, o filósofo, ao propor uma ressignificação da relação intersubjetiva, desloca o eu, que até então ocupava lugar de destaque nessa relação e aponta para uma direção na qual o papel principal é ocupado pelo outro da relação, aquele que evoca para a interpessoalidade e nos exige um posicionamento, um revelar-se de si diante de um outro eu. O desafio aqui é compreender como Lévinas, ao colocar o outro na centralidade de sua filosofia ética, explica o lugar deste na constituição da subjetividade. Palavras-Chaves: Subjetividade, Ética, Lévinas 21 A CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA NO SER SOCIAL EM KARL MARX DOS MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS Manoel Neto (UFRB) A presente produção visa promover reflexões filosóficas em torno do conceito da consciência no ser social em Karl Marx nos Manuscritos econômico-filosóficos de 1844. A partir deste referencial, o texto buscará fundamentar a problemática da construção da consciência por meio da relação material, social e histórica. Em Marx, a caracterização do ser se define em torno da mutabilidade, para isso será relacionado a compreensão do ser social com o devir do ser em Heráclito. Pois, pela sua atividade prática intencional dos indivíduos revela pelo trabalho a modificação da natureza e da realidade, tornando estes objetos cognoscíveis. Diante disso, Marx (2009), percebe que a relação material e a socialização dos indivíduos são produzidas como elementos históricos, em que a objetividade humana está diretamente entrelaçada à conexão pela sociabilidade entre os indivíduos. Assim, a linguagem torna-se o modo real e prático para confirmação e compreensão no outro e, da sua forma de pensar mediante a realidade. Este pressuposto demonstra que a linguagem, como reflexo do real e da interação, concederá pelas vivências práticas, sentido e significação à vida, bem como, a construção do conhecimento e validação dos elementos do mundo. Deste modo, pretende-se discutir que a construção da consciência parte necessariamente por relações com o outro e pelo mundo prático, tendo em vista que os indivíduos, mediante compreensão da realidade, poderão desvelar caminhos emancipatórios e educativos para constituir a tomada de consciência, o que propiciará tanto a mudança de si, quanto das circunstâncias sociais em ações coletivas por meio da práxis. Palavras-Chaves: Realidade, Consciência, Ser Social 22 A CRÍTICA DE HEGEL AO SUBJETIVISMO KANTIANO Carla Vanessa Brito de Oliveira (UFBA) O objetivo da comunicação é a apresentação da crítica hegeliana ao chamado subjetivismo kantiano, especialmente no campo epistemológico. De acordo com Hegel, Kant, ao erigir seu projeto de crítica à razão, incorre em dogmatismo subjetivo ao limitar a atividade da razão teórica às determinações finitas do entendimento. Este [o entendimento], na medida em que realiza a síntese das percepções, possível pela espontaneidade do sujeito puro, constrói um tipo de conhecimento empírico que é representativo e, assim, mediado subjetivamente. Ademais, segundo Hegel, os conceitos em Kant não possuiriam realidade ontológica, contrariando a própria identidade lógica entre ser e pensar, fundante da discursividade do real. Kant partiria da radical separação entre sujeito e objeto, de modo a sustentar dualismos a exemplo de fenômeno e coisa em si. Nessa medida, reconhecendo que a unidade sintética do conhecimento está circunscrita a uma mediação subjetiva autossuficiente e vazia de conteúdo, Hegel compreende que a objetividade do entendimento em Kant se efetiva enquanto subjetivismo abstrato e formal. Compreendendo a crítica hegeliana ao subjetivismo kantiano com lócus no interior da discussão acerca do conhecimento, a apresentação da crítica em questão se realizará enquanto explicitação do caráter reflexivo da experiência do saber em Hegel, de modo que a crítica ao subjetivismo kantiano se justifique através da crítica do modelo epistemológico transcendental procedimental a partir de um modelo epistemológico reflexivo imanente. Palavras-Chaves: Epistemologia Moderna, Criticismo Kantiano, Crítica Hegeliana 23 A DESCONSTRUÇÃO DO SABER FILOSÓFICO E SUAS IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR. Simone Siqueira Pereira (UFF) A Filosofia nasce em um contexto grego no qual predominava a vivência do mito, as experiências vividas pelo ser humano que busca explicar de forma racional a vida. Na área da formação do educador, o isolamento das disciplinas se torna um elemento fragmentador na construção do conhecimento, por serem múltiplos os campos de saber que investigam a realidade social. A Filosofia desempenha papel imprescindível na formação do educador nos cursos de graduação do nosso país. Na medida em que surge um problema, que é o ponto de partida para a atitude filosófica, surge a filosofia, pois ela nos remete a um momento de reflexão filosófica com fundamento em seu sentido global, no qual é possível ter uma postura dialética, pensando criticamente para compreender as partes que constituem a realidade. A Filosofia tenta superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. A Filosofia tem uma função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir. A necessidade de romper com a tendência fragmentadora e desarticulada do processo do conhecimento justifica-se pela compreensão da importância da interação e transformação recíprocas entre as diferentes áreas do saber. O isolamento das disciplinas hoje é o principal elemento fragmentador do saber, pois se houvesse em nosso sistema a interdisciplinaridade nas disciplinas o saber seria construído de forma aprazível pelos alunos. As aulas se tornariam mais estimulantes, haveria diminuição da evasão em determinadas aulas, haveria um conhecimento maior de cada disciplina. O saber seria construído por todos através do questionamento do “problema”, seria possível haver uma reflexão filosófica, levando ao conhecimento. O papel da Filosofia é justamente trazer essas discussões (reflexões) para a prática docente, levando a buscar as implicações na formação do professor nas mais diferentes áreas do saber. Palavras-Chaves: Formação-Saber-Interdisciplinaridade, Diálogo-Fragmentação- Saber, Professor-Formação-Conhecimento 24 A DISPONIBILIDADE DO SUJEITO COMO UM PROBLEMA ÉTICO Leidiane Coimbra Castro (UFBA) Em A questão da técnica, Heidegger afirma que na contemporaneidade uma nova categoria é instaurada e a partir dela podemos responder às perguntas: o que é o homem, o mundo, o ser... esta é a "disponibilidade". Pertencendo à estacategoria a interpretação do modo de ser na nossa época acontece como "disponível". Este trabalho pretende um aprofundamento deste termo, estabelecendo uma relação entre Heidegger e Heisenberg, para então pensá-lo em uma perspectiva ética. A pergunta acerca de um sentido ético, portanto, se faz sobre um fundo ontológico, uma vez que é tomando a perspectiva do desvelamento do ser como disponível que constitui a técnica que fundamos nossa questão. Entendemos que a dificuldade de se colocar este problema a partir de Heidegger acontece, sobretudo, pela dificuldade de evidenciarmos o tema da ética em sua filosofia. No entanto, admitimos a possibilidade de problematizá-la a partir da estrutura do Dasein que, como ser-aí, ser-com, tem seus modos de ser possibilitados pela sua relação com o mundo e com os outros e, em última instância, como afirma Joana Hodge, em Heidegger e a ética, que se preocupa com o Ser. Palavras-Chaves: Ética, Técnica, Disponível 25 A EDUCAÇÃO PARA AUTONOMIA EM KANT Brendha Maria Malheiro Grangeiro (UFCA) Neste trabalho procuro analisar a proposta de Kant para a educação, que busca desenvolver predisposições naturais do homem e torná-lo capaz de um convívio social. Para Imannuel Kant, o homem é a única criatura que precisa ser educada. A educação nesse contexto pode ser entendida como o cuidado desde a infância, no qual se faz necessário que o indivíduo cumpra etapas, tais como o cuidado, a disciplina, cultura e prudência, já que enquanto crianças as ações são baseadas nos desejos. A educação terá o papel de aproximar a humanidade da moralidade, desenvolvendo a racionalidade. Encontro aqui a necessidade de investigar o processo de formação moral desses indivíduos, já que na formação autônoma precisamos de homens com ações livres, então como conceber essa liberdade e moralidade na formação do indivíduo? Essa educação é essencialmente moral? Como se daria essa educação moral? Como o homem adquire consciência moral? O caminho proposto por Kant possui dois objetivos principais. Uma formação voltada para o indivíduo, priorizando a formação moral. Assume também o papel da educação através das gerações. A moralidade é atingida no fim do processo. Palavras-Chaves: Kant, Educação, Autonomia 26 A EMERGÊNCIA DO NEGATIVO EM ASSIM FALOU ZARATUSTRA Leonardo Araújo Oliveira (UNESP) Em algumas passagens de sua autobiografia intelectual, Nietzsche parece ressaltar a preponderância da afirmação em sua obra Assim falou Zaratustra. Por exemplo, quando destaca o conceito de eterno retorno como a chave principal da obra e estabelece tal pensamento como o ápice de um estado afirmativo alcançável; ou quando diz que Além do bem e do mal daria início à parte negativa de sua filosofia, tendo encerrado a etapa afirmativa. Ora, Zaratustra é o livro imediatamente antecedente, ali onde se teria concluído a afirmação, de modo que a negação fosse deixada para textos futuros. Apesar dessas considerações, procuraremos demonstrar, com a presente comunicação, que essa obra não está isenta do movimento da negação. Em vários momentos ela apresenta elementos positivos, como a criação e o dizer “sim”, inseparáveis de suas faces negativas, como a destruição e o dizer “não”. Embora suas intenções fortemente afirmativas sejam inegáveis, isso não se dá sem uma tensão, sem pontos críticos em que se enredam afirmação e negação. Será exposto um mapeamento das aparições do negativo e uma discussão a partir delas, com o objetivo de pensar sua relação com o aspecto positivo e com a ideia de crítica na filosofia de Nietzsche. Palavras-Chaves: Negação, Zaratustra, Nietzsche. 27 A ESCRITA MONTAIGNIANA DO DEVIR Mateus Masiero (UNICAMP) O objetivo desta comunicação será propor uma leitura dos Ensaios de Michel de Montaigne por um viés estético, norteado pelo estudo da inovação formal que se percebe em tal obra e sua relação direta com alguns dos principais aspectos do pensamento do autor. O estilo fragmentado e labiríntico que Montaigne apresenta, acompanhado de variados recursos retóricos de que lança mão, propicia mais a confusão e o estranhamento de seus leitores, levados que são pela novidade de tal projeto, do que a compreensão imediata do mesmo. Novidade essa que não é ignorada pelo autor, em absoluto: perfeitamente consciente do caráter inovador de sua escrita, o filósofo francês parece atribuir especial significado à feição desconcertante que lhe caracteriza, sendo ela uma consequência direta das demais ideias propostas por ele. Desse modo, pretendemos mostrar que a inovação estética dos Ensaios, longe de ser gratuita, está atrelada a concepções mais abrangentes do autor, sobretudo à noção de que a natureza é puro movimento, constante devir. Diante de tal constatação, torna-se impossível descrever o “ser” das coisas (inclusive de si mesmo), restando-lhe apenas a descrição da passagem a que tudo e todos estão submetidos. Assim, nossa intenção é explicitar a concepção montaigniana de natureza como constante devir, e mostrar que ela embasa, de certa forma, a inovação estética da obra. Palavras-Chaves: Ensaios de Montaigne, Devir, Estética 28 A ESTRUTURA DA LINGUAGEM NAS INVESTIGAÇÕES FILOSÓFICAS DE WITTGENSTEIN A PARTIR DA NOÇÃO DE “JOGOS” Livia Karla Lima Leite (UEFS) Parte-se do pressuposto que para Wittgenstein a linguagem se relaciona com o mundo e que a estrutura interna da linguagem é caracterizada pela proposição em sua possibilidade de representar ou não o que ocorre no mundo. Conceber a linguagem através desta estrutura interna a punha em uma necessidade lógica e privada, na qual o mundo constituía a totalidade dos fatos. A preocupação inicial de Wittgenstein estava em localizar os “pensamentos” e sua “representação” expressos na proposição e a compreensão de uma “essência” da linguagem aberta ao seu “uso” ganhou notoriedade na filosofia de Wittgenstein a partir do conceito de “jogos de linguagem” , algo que, de certo modo, transpõe os limites que estavam postos, ainda, na estrutura formal da linguagem. Assim, não era possível presumir alguma relação da realidade com o mundo, considerando a semântica e a “forma de vida” humana. Vale salientar que, ao falar de “essência” de linguagem em Wittgenstein não se pressupõe que o mesmo apresente ou discuta esta “essência” e, sim, que esta é uma tentativa de abrir uma discussão sobre o “valor semântico” da linguagem introduzido pela noção de “jogos”, antes situado unicamente na linguagem formal. Palavras-Chaves: Wittgenstein, Jogos de linguagem, Investigações Filosóficas29 A FIGURA DO INDIGENTE-CORPO DISCURSIVO EM SUA CONTRA- HEGEMONIA Wellington Amâncio da Silva (UNEB) Este artigo investiga o conceito de corpo dócil em Foucault (2011) e a partir dele, de uma perspectiva oposta, esboça os conceitos de corpo indisciplinável e de corpo discursivo a partir da figura do indigente – imagem não elaborada, portanto contingente. Utilizamos os procedimentos genealógicos propostos por Foucault no intuito de clarificar algumas práticas extradiscursivas como exercício de poder sobre o corpo e, por outro lado, demonstrar como determinados corpos escapam dessas formas de poder regulador ou não suscitam interesse de controle, como, por exemplo, o corpo-discurso indisciplinável e de presença indesejável do indigente. Defendemos que a corporeidade do indigente é um contradiscurso em si mesmo que funciona não por resistir ao discurso instituído, mas por apresentar um discurso incomum, anormal, próprio, para além do corpo discursivo do cínico, pois o faz sem o saber, sem utilizar-se da linguagem formal como resistência discursiva, mas do próprio corpo caótico como “outro discurso”, alteridade desvelada e presença da indiferença. Não tomamos a figura do indigente, portanto, de uma perspectiva econômica, mas existencial e discursiva no âmbito de uma genealogia do controle sobre o corpo Palavras-Chaves: Corpo indócil, Corpo indisciplinável, Corpo discursivo 30 A FILOSOFIA DA CIÊNCIA E A FILOSOFIA DA QUÍMICA: UMA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA Lisandro Bacelar Silva (UNEB) Uarison Barreto Marco Antonio Pinto Ribeiro Amparados em filósofos da química como Adúriz-Bravo (2014), Ribeiro (2014), Scerri (2006), Schummer (2006), Van Brakel (2006), Bensaude – Vicent (2005; 2008), Hoffmann (2007) e utilizando uma abordagem qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 2003; BACHELARD, 2004) do tipo estado da arte, este trabalho, tem por objetivo identificar e caracterizar o atual estado da relação entre a filosofia da ciência e a filosofia da química. Inicialmente, apontamos as razões da negligência da filosofia da química pela filosofia da ciência. Entendemos, assim como Ribeiro (2014), que a filosofia da ciência privilegia os esquemas filosóficos essencialmente físico-matemáticos em detrimento de outros modelos, como o químico (VAN BRAKEL, 2000; HOFFMANN, 2007). Em seguida, argumentamos que algumas dimensões da filosofia da química, notadamente o complexo estilo de pensamento químico, devem ser apropriadas pela filosofia da ciência. Nesse intuito, a dimensão multicontextual (RIBEIRO, 2014; SCHUMMER, 2006) assumida pela química contemporânea, pode (e deve) ser um objeto de destaque na reflexão epistemológica da ciência, a qual parece valorizar demasiadamente o contexto da justificativa dentre outros tão relevantes como os de descoberta, aplicação e educação. Salientamos, ainda, que o fazer químico, no seio de um realismo operativo (BENSAUDE-VINCENT, 2008), de uma prática que pouco se destina a desvelar um real subjacente a macrofenômenos ou testar hipóteses teóricas (CALDIN, 1961), ao conceber a teoria como narrativa experimental (HOFFMANN, 1993, 2007), é um campo rico para atentas explorações da filosofia da ciência. Finalmente, refletimos como as problematizações acerca da especificidade da práxis química contemporânea e da própria relação entre a filosofia da química e a filosofia da ciência podem promover contribuições para a educação química, especificamente, para a formação de professores Palavras-Chaves: Filosofia da ciência, Filosofia da química, Especificidade do pensamento químico 31 A FILOSOFIA DA MENTE E A NOÇÃO DE INTELECTO EM TOMÁS DE AQUINO Antonio Janunzi Neto (UEFS) De maneira geral, pode-se pensar a temática do conhecimento como o grande tópico inaugural da filosofia moderna, entretanto, não se pode compreender tal afirmação como se, em momento anterior à inauguração da modernidade, não houvesse teóricos especulando sobre questões cognitivas. Ao longo do vasto período histórico, no qual a filosofia medieval se desenvolveu, uma das principais linhas de investigação impulsionadoras de inúmeros desenvolvimentos argumentativos foi precisamente a questão do conhecimento humano, em duas grandes vertentes, a saber, sua natureza e modos de operação. Já no século xx, a partir dos desenvolvimentos da conhecida virada linguística e origem da filosofia analítica, a temática do conhecimento ganhou força sob um feixe de questões conhecido como filosofia da mente. A partir das críticas de Gilbert Ryle ao dualismo cartesiano, ganhou fôlego nesse período a tentativa de se considerar qualquer dualismo do tipo mente-corpo como um erro de categoria filosófica. Assim sendo, como considerar tal crítica à luz dos desenvolvimentos medievais sobre a relação entre intelecto e matéria? Isto é, a crítica que os teóricos da filosofia da mente fizeram ao dualismo de Descartes também se aplicaria aos medievais? As referidas questões serão tratadas considerando-se a abordagem de Tomás de Aquino sobre a natureza do intelecto em suas principais obras, suas sumas e questões disputadas. Palavras-Chaves: Filosofia da mente, Intelecto, Tomás de Aquino 32 A FILOSOFIA DO ATO E O SUJEITO ARGUMENTANTE Lucas Nascimento (UFBA) Todo ato é realizado por um sujeito agente, cuja ação é responsiva e inscrita em práticas sócio-históricas, sem contudo aí se esgotar, pois o sujeito possui um excedente de visão que o capacita a assumir um compromisso ético. Neste sentido, há na constituição do ato/atividade um conteúdo, um processo, um produto e um agente. Deste, diz-se que ele é ativo e relacional, porque é um eu para-si, ao mesmo tempo em que é um eu para-o- outro, estando, porquanto, a identidade no plano relacional responsável/responsivo, em que o ato do sujeito é a junção de processo e conteúdo, ou seja, do repetível e do irrepetível. Prenhes dessas noções basilares postuladas por Mikhail Bakhtin ([1920-24] 2010), em Para uma filosofia do ato, objetivamos, primeiramente, estabelecer um diálogo, em termos de coerência, complementaridade e aproximações, entre as noções bakhtinianas de ato e de sujeito com a noção de discurso como ato do orador, resgatada da tradição aristotélica por PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA ([1958] 2005) em sua Nova Retórica. Em seguida, imbuídos da compreensão de que argumentar é uma forma de agir sobre o outro com a intenção de intensificar a adesão acerca de uma questão, discutimos, por sua vez, a noção de ato argumentativo e de sujeito argumentante. O que nos leva a colocar em questão o fato de que a argumentação se distingue da demonstração, sobretudo, porque a interação entreo orador e o seu discurso é constitutiva da apreciação do sentido dos enunciados. Palavras-Chaves: Filosofia do ato, Retórica, Sujeito 33 A FILOSOFIA EM SI MESMA E EM SEU CARÁTER INSTRUMENTAL Tatiane Boechat Zunino (UEFS) Este texto apresenta o tema da Filosofia e seu ensino, procurando pensá-lo através da questão sobre a linguagem. Inicialmente, procuramos trazer à vista o modo como nos relacionamos com este conceito cotidianamente em sala de aula, tanto os professores quanto os estudantes de filosofia. Nossa indagação se põe no caminho de retomada do sentido do termo Filosofia, ressaltando o momento grego na sua origem e a necessidade de uma atualização conceitual de seu legado. Em seguida, procuramos pensar em um modo de ensinar filosofia que se volte para a relação que ela guarda com o homem através da ligação constitutiva que temos com a criação de conceitos. Para tanto, nos serviremos do pensamento de Martin Heidegger, especificamente na preleção de 1929, Introdução à Filosofia. Assim, a proposta deste trabalho é assinalar a conexão entre o estado de disposição à filosofia própria do homem com o que hoje ela se tornou, isto é, uma ferramenta utilizada para despertar no outro um caráter crítico e questionador. Palavras-Chaves: Filosofia, Linguagem, Ensino 34 A FILOSOFIA ORIENTADA A OBJETOS E A REALIDADE DE LIVROS FICTÍCIOS André Roberto Tonussi Arnaut (IFAL) Busca-se, com esse trabalho, abordar a ontologia orientada a objetos de autores como Graham Harman e, em especial, Reza Negarestani, a partir da noção de realidade de livros fictícios como o Necronomicon (Lovecraft), O rei de amarelo (R. W. Chambers) e À beira da loucura (do filme homônimo de John Carpenter). Para essa ontologia, se o objeto não deve ser overmined em relações, ele não deve ser pensado a partir de uma ontologia plana ou labiríntica, de strata e poros, da morte como não dissociada da aniquilação criativa do devir. A ontologia de strata é substituída assim em Negarestani por uma ontologia do deserto, em que cada partícula de poeira é xenopartícula, radicalmente estranha à canalização labiríntica do devir nos strata. Portanto, as narrativas do deserto não devem ser pensadas como strata, como sólidos, como meios para o devir, mas como lubrificadas por líquidos inauditos (sem um retorno a uma ontologia hidráulica e do devir heraclitiano). O Necronomicon e O rei de amarelo, abrindo-se ao hidden writing a partir de sua descrição e exposição fragmentárias, abrem-se assim a narrativas não labirínticas, mas à deriva em líquidos no sentido acima: abomináveis, sem refúgio possível em uma afirmação dionisíaca do devir. Ao escaparem do devir, tais narrativas escapam também à lógica da precedência do autor sobre a obra. Inversão do tempo, mas não totalizante: não uma nova tese sobre o tempo, mas uma perfuração, contágio, infecção na metafísica da autoria. Assim, seu caráter fragmentário é sua realidade medonha mesma: o abominável O rei de amarelo é a coletânea de contos O rei de amarelo de R. W. Chambers, assim como a versão para o cinema de À beira da loucura é o filme mesmo de John Carpenter. Palavras-Chaves: Ontologia orientada a objetos, Reza Negarestani, H.P. Lovecraft 35 A FUNDAMENTAÇÃO TRANSCENDENTAL DA ÉTICA DO DISCURSO DE HABERMAS Manoel Pereira Lima Junior (SED-BA) A ética do discurso de Habermas está filiada à tradição do pensamento moral kantiano. Habermas tenta resgatar o fracassado projeto kantiano de uma fundamentação metafísica dos costumes, só que, ao invés de tentar uma fundamentação última para as questões práticas, ele fala em uma fundamentação fraca – não menos problemática que a fundamentação de Kant. Entretanto, tal fundamentação, de modo algum, poderia ser sustentada por fundamentos empíricos, uma vez que fundamentar a ética empiricamente exigiria operar a partir do princípio de indução, passando de casos particulares para princípios e regras gerais sem, contudo, mostrar como se dá o “pulo do gato”. Se algum tipo de fundamentação for possível, ela terá de ser transcendental. Neste texto, pretendemos refletir acerca da possibilidade de uma fundamentação transcendental da ética do discurso de Habermas a partir do que ele chamou de elementos pragmáticos transcendentais da linguagem, que devem ser supostos em qualquer discurso que vise o entendimento. Palavras-Chaves: Ética do discurso, Fundamentação, Transcendental. 36 A IDEIA UNGERIANA DE DEMOCRACIA E O CONTEXTO DA FILOSOFIA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA Tiago Araujo (IFBA) Nesta comunicação, abordaremos as contribuições de Roberto Mangabeira Unger no campo da filosofia política recente, tomando-o como um interlocutor direto de filósofos como John Rawls, Michael Sandel, Jürgen Habermas, Axel Honneth e Richard Rorty. Na primeira parte, asseriremos que as ideias de democracia que alimentam os debates da filosofia política entre estes autores são formuladas em um jargão acadêmico autorreferente voltado essencialmente a questões como igualdade de oportunidade, comunicação não distorcida, reconhecimento e solidariedade, sendo fatalmente desligado do tema sobre a imaginação institucional, isto é, a sobre a reconstrução das estruturas sociais. Em seguida, enquadraremos as ideias daqueles filósofos na crítica de Unger à cultura acadêmica do Atlântico Norte e esmiuçaremos o conteúdo do pensamento político ungeriano, cujo cerne reside em devolver o tópico das estruturas, tal como abordado pelas teorias sociais novecentistas, ao âmbito do debate sobre democracia. Por fim, indicaremos como a ampliação semântica da ideia de democracia, doravante assumida como um projeto no qual as sociedades adotam uma autocompreensão baseada em transformações sem crises, favorece um entendimento renovado da política, suscitando alternativas promissoras para a prosperidade social. Palavras-Chaves: Democracia, Unger, Política 37 A INTERPRETAÇÃO DA IDEIA INADEQUADA EM SPINOZA Paulo Sérgio Oliveira Santana (UNEB) Para Spinoza, o status ou condição de padecimento da mente está diretamente correlacionada à passividade do corpo afetado nas operações de natureza psicofísica. Essa disposição mental (padecimento) é oriunda dos diversos efeitos ocasionados pelos atritos entre os corpos/mentes imprimindo-lhes marcas. Spinoza classificou esse estágio como: imaginação (imaginatio),o primeiro dos três modos de percepção do intelecto (imaginação, razão e intuição intelectual). A imaginação opera por meio de ideias inadequadas que são subprodutos de imagens (mutiladas e truncadas) fabricadas na consciência a partir das experiências sensoriais, conjugado ao processo de apreensão ou interpretação da realidade existente fora do pensamento — podendo produzir ignorância, medo e superstição. Todavia, esse processo não possui um teor exclusivo de negatividade, é o primeiro gênero do conhecimento. Contudo, a análise consoante acerca do tema (padecimento) tem como alicerce, os trechos que engloba o Prefácio; Definições; Postulados e a Proposição 1, Parte III, págs. 01, 02, 03 e 04 de sua obra Ética. Palavras-Chaves: Padecimento, Imagem, Corpo 38 A LIBERDADE EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU Maria Aucimara Ribeiro Santos (UFRB) Este trabalho tem como objeto de estudo o tema da liberdade nas obras O contrato Social e O discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, do pensador Jean-Jacques Rousseau. Serão abordadas as descrições em que o autor compreende a liberdade natural – ou seja, o homem considerado em relação a si e aos seus semelhantes. O trabalho aborda também a liberdade enquanto bem supremo do homem, a partir da análise da hipótese utilizada por Rousseau segundo a qual o homem nasce livre e por toda a parte encontra-se a ferros. Averiguar-se-á a distinção do homem como deveria ser no seu estado de natureza original, do homem que se transformou no processo civilizatório, a evolução social teria corrompido a natureza humana. Rousseau retrata esta passagem entre a condição natural do homem, para sua condição social se propondo a investigar por que, e como, se dá esta passagem da liberdade natural para o condicionamento social. Portanto, o autor sugere um pacto social na medida em que os homens renunciem seu estado natural em prol do estado convencional. O objetivo principal desta pesquisa será, então, mostrar como as reformulações teóricas abordadas pelo pensador são relevantes para fazermos uma análise sobre o conceito de liberdade. Para o autor, a liberdade é o ponto crucial da vida política e do meio social, a liberdade tem uma relativa significância na vida dos indivíduos, na concepção rousseauniana, e também se faz presente na maioria de suas obras. Palavras-Chaves: Estado de natureza, Sociedade civil, Liberdade 39 A LIBERDADE ENQUANTO ALEGRIA: MÍSTICA E EXISTENCIALISMO Saulo Matias Dourado (UFBA) Na contemporaneidade, entre filósofos da existência, há uma disposição em identificar liberdade e angústia. Entende-se por liberdade um princípio de indeterminação, a possibilidade de ser em uma total abertura, sem o constrangimento de uma natureza específica ou de uma finalidade, por escolha e responsabilidade. Entende-se por angústia o estado de compreensão de si em meio ao nada, sem que haja, a priori, um modo de ser melhor do que outro, ou indício real do que deva ser escolhido. O nada e a ausência de determinação são os fundamentos da liberdade, com os quais o homem vê abrir o ser de si mesmo para o outro, numa correlação. Na amplidão, o homem se angustia, pois não há o que possa apelar para diminuir o peso de sua ação e escolha em existir. Assim, a angústia passa a ser condição da liberdade. Notamos que, na tradição de pensamento, há exemplos contrários. Mestre Eckhart, místico medieval, teve o seu pensamento definido por Reiner Schumann como uma “alegria errante”. Por vias teístas, Eckhart chega à noção de Nada e de liberdade original. O homem, em seu princípio, tem a centelha divina: livre de todo ser, pois todo ser lhe é posterior. O que o homem faz no ser é frutificar a centelha e fertilizar as criaturas ao torná-las tão livres quanto ele própria: deixar o ser ser. Esta vida para a frutificação e este viver sem porquê, para Deus enquanto deidade, esquecido de si enquanto substância e tomado do puro desprendimento, Eckhart chamou de alegria. A liberdade radical também poderia ter, desse modo, uma disposição alegre. Palavras-Chaves: Alegria, Liberdade, Existencialismo 40 A LIBERDADE, DO EXISTENCIALISMO AO HUMANISMO Luciene Braga Ramos Borges (UEFS) O existencialismo, assim como Sartre apresenta em O Existencialismo é um Humanismo, afirma que “a existência precede a essência”, o que implica dizer que o homem ao ser concebido não traz consigo uma definição, ou seja, o homem é aquilo que ele faz de si ao longo de um processo que, segundo Sartre, pode ser entendido como “engajamento”, uma “série de empreendimentos, a soma, organização, o conjunto de relações que constituem essas empreitadas”. Esse é, diz Sartre, o primeiro princípio do existencialismo. O texto O Existencialismo é um Humanismo é resultado de uma conferência, realizada em 1945, que tinha como objetivo principal defender o existencialismo das críticas que lhe estavam sendo dirigidas. Sartre, em um documentário intitulado Sartre por lui même, produzido por Pierre-André Boutang e Guy Seligmann (Instituto Nacional do Audiovisual de Paris), afirma sobre a mesma: “Conferência na qual experimentei ideias ainda frescas depois da guerra, ideias sobre o lado moral do existencialismo, sobre seu caráter humanista [...] muita gente pensou que compreenderia lendo O Existencialismo é um Humanismo e entenderam errado”. Objetivamos, com esta apresentação, explanar, de maneira introdutória, sobre o modo como Sartre aborda a questão do existencialismo, interligado a um humanismo e à ação humana subjetiva, tendo como referência a conferência citada. Salientamos que a pesquisa, aqui iniciada, faz parte de um projeto de Bolsa de Iniciação Científica vinculado à FAPESB, cujo título é “Freud e Sartre: da determinação pulsional à responsabilidade”. Palavras-Chaves: Existencialismo, Humanismo, Sartre 41 A LINGUAGEM COMO ELEMENTO EXISTENCIAL CONSTITUTIVO DA COMPREENSÃO SEGUNDO MARTIN HEIDEGGER Crislane Barreto Santana (UEFS) Este texto tem como proposta investigar a noção de compreensão (Verstehen) em Martin Heidegger exposta na obra Ser e Tempo, tendo como fio condutor sua relação constitutiva com a linguagem. Em um primeiro momento, trataremos do Dasein como compreensão de ser, ou seja, como o ente que compreende os entes em seu ser, na lida cotidiana. De acordo com o filósofo, a compreensão, assim como os outros existenciais, constituem a abertura para o ser dos entes, para o sentido. Assim, enquanto compreensão, o Dasein é um ente que se encontra necessariamente lançado ao mundo, encontra-se em todo modo de comportar-se em relaçãoao ente. Em um segundo momento, trataremos do modo de ser da linguagem, ao passo que ela assume a forma existencial da compreensão e se relaciona com tudo que se apresenta no mundo. Portanto, investigaremos a forma como a linguagem se constitui existencialmente a partir da lida cotidiana com os entes. Palavras-Chaves: Linguagem, Compreensão, Dasein. 42 A LÓGICA DE MERCADO E O TRABALHO COMO FORMA DE EXPLORAÇÃO MODERNA Anderson Rodrigues (FAPESB) Karl Marx (1842-1881), no volume I da sua obra O Capital, ao analisar a fundo a estrutura interna da sociedade, nos revela sua natureza abstrata, o funcionamento da lógica de mercado e suas contradições inerentes. A análise é extensa e se divide por partes, assim, nosso objetivo será restringido a compreender a primeira parte da obra mencionada: trata-se do valor comum a todas as mercadorias, de ser fruto do trabalho humano abstrato. Para tanto, partiremos da análise do processo de troca entre as mercadorias, a chegarmos ao seu duplo caráter, que se manifesta de modo antagônico entre seu valor de uso e valor de troca. O primeiro diz sobre a forma material das mercadorias, que são concretudes, produtos do trabalho humano. O segundo se revela enquanto sendo imaterial, a substância da coisa, oposto ao valor de uso e comum a todos os objetos do trabalho - trata-se do valor social, agregado a mercadoria durante a produção, no qual se mede e quantifica a sua grandeza e magnitude pelo tempo, pela quantidade de horas levada durante o processo de produção. Deste modo, ao ter decomposto a relação de troca entre os produtos, chegaremos ao ponto que nos interessa ser elucidado: o trabalho humano abstrato se caracteriza por ser a doação do suor do operário, da sua força, a autoridade de outrem, daquele que detém os meios de produção; ou seja, o trabalho, ao modo das sociedades capitalistas, se faz pela exploração do proletariado, pois, o patrão só pode obter lucro (excedente) através do uso da força de outros homens, pagando uma mísera fagulha do acumulo do seu capital, ficando com a parte não distribuída do seu excedente. Palavras-Chaves: Valor de uso,Valor de troca,Trabalho humano abstrato 43 A MATERIALIDADE DOS CORPOS EM BUTLER Karla Cristhina Soares Sousa (UFBA) A teoria feminista por muito tempo aceitou como certo os sistemas binários dados pelos conceitos de gênero/cultura e sexo/natureza, sendo o gênero uma interpretação do sexo ou uma construção cultural, e o sexo considerado como determinado por uma natureza biológica cujo corpo era um instrumento passivo de uma lei cultural fixa. Em Butler, a teoria feminista torna-se autocrítica, realizando uma genealogia das categorias da identidade, ela questiona conceitos fundantes para a teoria, como o de sujeito, gênero, sexo e materialidade dos corpos. Em lugar da ideia tradicional de construção do gênero, Butler sugere um processo de materialização reiterada de normas regulatórias que são fornecidas pela hegemonia sexual. Para Butler, a performatividade é central para compreensão do gênero. Contudo, o presente trabalho tem como principal objetivo investigar a noção de materialidade do corpo e sua relação com a performatividade de gênero na teoria de Judith Butler, evidenciando a importância desta para problematização da ação política feminista e seus aparatos conceituais. Palavras-Chaves: Materialidade, Gênero, Sexo 44 A MELANCOLIA DE MARTHA Luis Alberto Santos (UFBA) Incompreensão ou Mal entendido (Le malentendu) é uma peça em três atos do autor e pensador francês Albert Camus, lançada em 1944, na qual os relacionamentos possuem o dom de revelar o melhor e/ou o pior do ser humano. Jan, um jovem cuja vida bem sucedida, rica e no amor, decide renovar os laços com sua família, que tinha deixado há alguns anos. Então, com sua esposa Maria, ele retorna à sua cidade natal e mais especificamente à pensão dirigida por sua mãe e irmã. Não sabendo como revelar sua verdadeira identidade, Jan fica no abrigo, à espera do momento oportuno para o seu retorno depois de mais de vinte anos de distância decide ir para casa e dar sua fortuna para as duas mulheres abandonadas. Não será uma tarefa fácil, pois elas não vão se lembrar dele. Mas um destino cruel o aguarda e por meio de uma tragédia clássica, o destino dos personagens encontra-se, pois, em uma tensão constante com seus afetos. Sua mãe e sua irmã Martha têm o hábito de matar os viajantes que ficam no albergue para roubar, para obter os recursos necessários para escapar esses mouros tristes e encontrar terras ensolaradas. Jan, o anonimato, sofrer o mesmo destino na loja para o resto de viajantes. Palavras-Chaves: Absurdo, Melancolia, Morte 45 A METAFÍSICA COMO POLO DE ENCONTRO ENTRE HEIDEGGER E CARNAP Flávio de Oliveira Silva (UNEB) No encontro de Davos de 1929 na Suiça, entre Heidegger e Cassirer, Carnap presenciou a conferência de Heidegger de título O que é metafísica, na qual o filósofo defendia uma interpretação anti-lógica e anti-neokantiana para o sentido de metafísica, presente na Crítica da Razão Pura de Kant. Após esse encontro, Carnap voltou a Viena, estudou atentamente o tratado Ser e Tempo e no ano seguinte escreveu um esboço do artigo A superação da metafísica pela análise lógica da linguagem, com versão definitiva publicada em 1932. Desde então, a superação metafísica se tornou um termo recorrente para expressar a crítica à metafísica. Pretende-se explicitar pontos convergentes entre Heidegger e Carnap sobre a concepção de metafísica e apontar como divergência entre ambos a pretensão almejada com a superação da metafísica. Tem-se em vista como ponto de divergência na discussão, o posicionamento de cada um acerca do império da lógica e das ciências exatas. Palavras-Chaves: Metafísica, Heidegger, Carnap 46 A MÚSICA COMO POTENCIALIZADORA DO SOFRIMENTO: O CONCEITO DE `SOFRÊNCIA` EM PABLO DO ARROCHA Antônio Ismael da Silva Lima (UFCA) Esta pesquisa tem por objetivo pensar a música no sentido oposto ao que é apresentado por filósofos como Arthur Schopenhauer, autor que trabalho em minha monografia, para quem a música é o lenitivo que possibilitaria amenizar, mesmo que momentaneamente, toda dor e sofrimento que nos toma. Nossa proposta é caminhar por uma via contrária, suscitada por um questionamentono X Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da UNESP, realizado em maio deste ano: poderia a música potencializar o sofrimento? Para a nossa investigação, tomaremos a República de Platão e As Duas Fontes da Moral e da Religião de Bergson como fontes iniciais. Na primeira, Sócrates aponta a música como capaz de potencializar tanto as paixões alegres, corajosas, fortalecedoras, quanto as paixões tristes, melancólicas, amolecedoras. Isso se dá – e nisto (quase) todos os filósofos concordam – porque a música toca o que há de mais íntimo do indivíduo, atingindo mais profundamente a sua alma. Seguindo esta mesma linha, nosso filósofo francês acredita que a música pode suscitar em nós as mais variadas emoções. Tanto a tristeza profunda quanto a alegria plena podem ser evocadas na música e despertadas por ela. Bergson dirá que uma música melancólica pode nos conduzir à melancolia, como também outra, mais alegre, é capaz de despertar em nós o sentimento de que todo dia é carnaval. Para ajudar-nos a pensar a música como potencializadora do sofrimento, faremos uso da produção musical de Pablo do Arrocha, também conhecido como o rei da sofrência, marcada por certa valorização da dor, uma afirmação do sofrimento. Em Pablo, “ir até o fundo do poço da sofrência seria libertar- se da necessidade de entender e afirmar apenas a beleza da vida”. Palavras-Chaves: Música, Sofrimento, Sofrência 47 A NATUREZA E O FILOSOFAR NO CAMPO Edcleide Silva (UFAL) A construção do conhecimento prático é algo que faz parte da natureza humana, assim como a execução do conhecimento. É com base neste pensar que trabalharemos vida no campo, visando valorizar o conhecimento e a investigação sobre o simples, mas um simples com raízes ricas de reflexões, problemáticas, e multiplicidade do saber. O filosofar no campo é dado em parte pela observação da Natureza, e em outra parte pela pratica de quem vive, luta, produz, ensina, e aprende. Tendo por meio o trabalho agrícola. Será de grande importância a investigação sobre a sensibilidade das experiências do processo do pensamento das mudanças em observações pelos (as) camponeses (as). A sensibilidade será porta central do processo filosófico, pois como qualquer ser humano dotado de razão, o homem e a mulher do campo conhecem e buscam o conhecimento, os investigando por meio da Natureza, buscando sempre a superação de seus limites como parte de uma existência maior, e que o coloca no mundo, é uma busca de entendimento de espaço e tempo, colocando em xeque a vida em defesa da vida. O trabalho do camponês é fonte de uma obra poética grega que carrega o início de um pensamento filosófico voltado para uma classe trabalhadora, que é O trabalho e os dias, do poeta Hesíodo, onde será narrado a forma simples e virtuosa de quem trabalha e usa de seus conhecimentos “primitivos” para se manter e manter a vida. Uma obra na qual o homem é dignificado por seu trabalho, por sua vida, por seu contato com o campo e com a produção alimentar. Na qual o conhecimento é parte do homem, e o homem parte do mundo, na relação natureza e trabalho. "A cabeça que não pensa o corpo padece". Palavras-Chaves: Natureza, Conhecimento, Campo 48 A NOÇÃO DE DEUS NA PÓS-MODERNIDADE Reinaldo Sales Oliveira (UFRB) As concepções de Deus concebidas ao longo do tempo influenciam diretamente na formação do caráter do ser humano enquanto ser social. Temas éticos, metafísicos, políticos e de todas esferas na sociedade ocidental tem relação direta ou indireta em um deus, ou, na crença em nenhum deus. Daí, todo o pensamento humano, seja ele individual ou coletivo, perpassam por uma raiz não necessariamente religiosa, mas, de uma noção de divindade. As concepções de Deus concebidas ao longo do tempo influenciam diretamente na formação do caráter do ser humano enquanto ser social. Temas éticos, metafísicos, políticos e de todas esferas na sociedade ocidental sempre tiveram e continuam a ter relação direta ou indireta na crença em um deus, ou, na crença em nenhum deus. Daí, todo o pensamento humano, seja ele individual ou coletivo, perpassam por uma raiz não necessariamente religiosa, mas, de uma noção de divindade. Na pós-modernidade, que ainda é indefinida para alguns, se faz necessária de caracterização para uma possível compreensão e, também não se sabe se por tendência, por um novo ditame geral ou talvez se por necessidade, pensar os saberes, o ser humano, o universo e o que mais for possível junto à idéia da existência (ou inexistência) de algum deus, ou em algum tipo de crença sobrenatural é uma hipótese relevante. Compreender a noção de Deus na pós-modernidade é compreender quais rumos está tomando a humanidade. Parece estranho à filosofia, uma espécie de previsão, mas não deixa de ser filosófico pensar para onde se está indo sabendo de onde se veio. Palavras-Chaves: Deus, Pós-modernidade, Homem 49 A PASSAGEM DO MUNDO DO SILÊNCIO AO MUNDO CULTURAL EM MERLEAU-PONTY. Liamar Francisco (IFBA) O filósofo francês Merleau-Ponty trata da questão da passagem do mundo do silêncio para o mundo cultural na Fenomenologia da percepção (1945), primeiramente, descrevendo como o corpo próprio situado no mundo, através da experiência perceptível, apreende a realidade. Para ele, existe uma comunicação entre o corpo e as coisas, isto é, uma expressão que se realiza, inicialmente, no campo do pré-reflexivo, da natureza, do mundo sensível. A comunicação estabelecida entre o corpo e o mundo é a da experiência originária da percepção e ocorre antes de qualquer pensamento. A passagem do mundo do silêncio para o mundo cultural é o momento que se instaura a expressividade dos gestos corporais e verbais e o surgimento da linguagem enquanto fala falada. Para que o mundo cultural aconteça é necessária a existência de um cogito, que chamou de Cogito tácito, silencioso e que se situa no pré-reflexivo. O Cogito tácito é o próprio corpo enquanto meio pelo qual o sujeito se percebe na dimensão espacial, na relação com o mundo e que, através da dimensão temporal, transcende. Mas para que haja significação conceitual, base em que está assentado o mundo cultural, é preciso que os corpos possam relacionar-se entre si, em uma mediação entre as subjetividades. Cabe a expressão exercer o papel de mediador para que a fala existencial se concretize em fala conceitual. O cogito permite o conhecimento de si, é o que lhe distingue do outro e das coisas. E a relação entre os corpos se dá, conforme Merleau-Ponty, por um processo de sinergia, uma capacidade que os corpos têm de intercambiar significações entre si por uma operação de espelhamento, uns com os outros. Merleau-Ponty diz que mundo cultural é o mundo falado, simbólico e instrumental, mas não é uma oposição ao mundo natural e silencioso e, sim, um dos seus desdobramentos.Palavras-Chaves: Cogito tácito, Linguagem, Expressividade 50 A PESSOA MORAL NO PENSAMENTO DE LIMA VAZ Roseane Welter (FCF) A centralidade da filosofia de Henrique Cláudio de Lima Vaz é o homem. Pensar o homem significa compreendê-lo na sua essência, dotado de razão e capaz de auto- significar-se e significar o contexto (ethos) no qual esta inserido. Nesse sentido, Lima Vaz intenta pensar o sujeito enquanto sujeito ético, o que implica uma coerência não só nas ações, mas, sobretudo ser ético na vida, o que requer uma postura de vida pautada na ética, ou seja, viver eticamente tanto no nível individual como no nível social, considerando que o mesmo não vive isolado mas esta inserido em uma comunidade ética. Em seu itinerário ético-filosófico apresenta uma ontologia do agir humano consolidado nas dimensões do agir ético e da vida ética e sua reflexão culmina na afirmação da pessoa moral. Esta comunicação pretende apresentar a definição de pessoa moral percorrendo o pensamento do filósofo brasileiro. Primeiramente, apresenta-se a categoria de pessoa que exprime a identidade da pessoa, pontuando sua singularidade enquanto possuidor do logos, até alcançar sua auto-realização nas múltiplas faces da ipseidade. Em seguida pontua-se a pessoa moral a partir do desdobramento conceptual do Eu sou, do sujeito como sujeito ético, que expressa à essência do ser humano como um ser moral expresso a partir das suas ações e da sua vida. Palavras-Chaves: Pessoa,Moral,Ética. 51 A POSIÇÃO SOCRÁTICA FRENTE AO CONHECIMENTO NAS MEMORÁVEIS DE XENOFONTE Ligea Clara De Carvalho Hoki (UFMG) A presente pesquisa tem como intuito melhor compreender a personagem Sócrates descrita por Xenofonte em sua obra Memoráveis. Deste modo, buscaremos determinar, no texto de Xenofonte, o que Sócrates acreditava conhecer, quais formas de investigações ele aconselhava aos que buscavam o conhecimento, quais eram, para ele, os limites dos saberes humanos e o que os homens devem saber para serem virtuosos. Pretendemos, além disso, fazer uma relação entre aquilo que Sócrates dizia ser certo e como ele agia, julgando por suas atitudes e ações, isto é sua “teoria” e “prática”. Pois, ao destacarmos suas crenças e conhecimentos podemos vislumbrar com mais clareza as características determinantes da personagem Sócrates, melhor compreendendo seu modo de pensar intrinsicamente ligado ao de agir, de acordo ou em desacordo com a tradição vigente em seu tempo. Afastando-nos da mais usual interpretação platônica, de modo a ampliar e diversificar o conhecimento em torno da temática de Sócrates, dando enfoque na interpretação de Xenofonte. Palavras-chaves: Sócrates,Xenofonte,Sócrates Xenofonte Epistemologia 52 A POSSIBILIDADE DE MUDANÇA DE CARÁTER EM ARISÓTELES Genival Carvalho Batista (UFBA) Esta apresentação tem como objeto investigar a possibilidade de mudança do caráter em Aristóteles. Conduziremos a nossa apresentação a partir de uma análise do caso concernente ao intemperante. Deste modo, procura-se entender se um agente com o caráter já formado, que adquiriu disposições em agir em um sentido e não de outro modo, estaria impossibilitado de agir de outro modo. Ou seja, o intemperante é incurável ou não? Se não, quais razões apresentou o filósofo para tanto? E, tais razões se sustentam? A questão problemática consiste na interpretação da prevalência da ação sobre a disposição, no caso do intemperante, por ter sua razão já corrompida pelo excesso de prazer, não poderia mais mudar de disposição, sendo, portanto, um incurável (EN III 7, 1114a21). Assim, tal apresentação fará uma abordagem, sobretudo, no caso do intemperante sendo um caso submetido a uma espécie de determinismo psicológico, significa dizer que tal agente adquiriu uma disposição pela prática reiterada da ação, de modo que já não pode mais agir diferentemente de sua disposição. Por fim, verificaremos se tal caso referido seria uma exceção à tese da prevalência da ação sobre a disposição, visto que ele não seria mais capaz de mudar sua disposição. Portanto, esta apresentação procurará comprovar ou não a impossibilidade de mudança de caráter no caso do intemperante. Palavras-Chaves: Mudança, Caráter, Intemperante 53 A PRESENÇA DE HERÁCLITO NA FILOSOFIA MADURA DE NIETZSCHE Newton Pereira Amusquivar Junior (UNICAMP) A apresentação tem como objetivo principal investigar a influência de Heráclito no pensamento maduro de Nietzsche. Para isso, buscamos três aspectos de convergência entre Nietzsche e Heráclito. O primeiro aspecto é a formação de uma filosofia dionisíaca em Nietzsche que é visto em Heráclito na medida em que ele nega o ser e afirma o vir a ser em sua inocência, ou seja, sem imputação moral. O segundo aspecto é de πόλεμος;, entendido como um combate entre as multiplicidades, pelo qual podemos notar convergência desse conceito heraclitiano com a noção nietzschiana de vontade de poder, tendo em vista que este conceito é tomado como uma luta constante sem um equilíbrio. O terceiro conceito é o de fogo (πῦρ) de Heráclito, tomado como princípio cosmológico, o fogo está relacionado com a conflagração cósmica, ou seja, com a tese de que o mundo se destruirá pelo fogo retornando ao grande ano, nesse sentido buscamos realizar uma relação com a doutrina nietzschiana do eterno retorno do mesmo, o qual afirma o ciclo absoluto e a repetição de todas as coisas. Palavras-Chaves: Vontade de poder, Eterno retorno do mesmo, Devir 54 A PROBLEMATOLOGIA DE MICHEL MEYER Rodrigo Seixas Pereira Barbosa (UFMG) Aristóteles, apesar de não ter sido o grande criador da arte retórica, foi, sem dúvida, o sistematizador da tekhné tal como a conhecemos até os dias de hoje. Suas definições de provas retóricas (ethos, pathos e logos), materializadas em sua obra Retórica, entretanto, vêm sendo aprimoradas e reconfiguradas ao longo do tempo. Atento às novas demandas da contemporaneidade, o filósofo belga Michel Meyer aplica uma nova leitura dessas três provas a partir do que ele nomeia de Problematologia (MEYER, 2008). Ao mesmo tempo teoria e metodologia, a Problematologia percebe o funcionamento retórico mediante o questionamento, a interrogatividade, os problemas e as diferenças entre os interlocutores de um processo comunicativo, entendendo que, senão houvesse problema algum, a argumentação não seria necessária. Segundo Angenot (2008), enxergar os problemas filosóficos contemporâneos não mais através do acordo, mas sim pelo desacordo, não apenas inverte a lógica de análise como também ajuda a enxergar a retórica em sua verdadeira face. Por essa razão, a Problematologia se aplica com eficácia à análise de problemas comunicativos contemporâneos, de conflitos ideológicos, de distâncias sociais. Ethos, pathos e logos passam, assim, a ser entendidos por uma nova ótica que conjuga elementos diversos de outras escolas filosóficas da argumentação bem como da linguística. Destarte, a Problematologia retórica apresenta- se como ferramenta capaz de desvelar os liames da argumentação retórica, bem como de evidenciar o funcionamento das engrenagens de uma argumentação. Esse trabalho procurará apresentar a teoria da Problematologia retórica em seu funcionamento, buscando traçar comparações à abordagem clássica aristotélica mediante análises de problemas contemporâneos. Palavras-Chaves: Problematologia, Retórica, Michel Meyer 55 A QUESTÃO DOS UNIVERSAIS NA IDADE MÉDIA Brenda Oliveira do Espirito Santo (UEFS) A problemática em que a questão dos universais recai teve suas primeiras explicações com Aristóteles e Platão, filósofos que nos deixaram grandes contribuições para atual compreensão no que se refere. No entanto, a questão foi retomada por filósofos medievais tais como Boécio, Abelardo, Tomás de Aquino, Ockham, entre outros. É importante ressaltar, o Tratado da Trindade de Boécio, q. 5. A. 3. que assim como as demais obras medievais, trouxe importante contribuição para as possíveis discussões que até hoje nos acompanham. Para que venhamos compreender a questão do estatuto do universal e o possível paradoxo que está remete, utilizemos, pois a definição Aristotélica a respeito da natureza do universal: aquilo que é apto a ser dito de muitos ou estar em muitos. Ao partilhar desta concepção, entendemos que o universal parece possibilitar a compreensão da relação entre aquilo que é dito de comum entre muitos indivíduos de uma mesma espécie, tal como as propriedades de humanidade ou animalidade. Dito isto, a questão é encaminhada a um possível paradoxo que devemos considerar. Se o universal é somente um modo pelo qual considera-se o que há de comum a muitos singulares, isto implicará num problema para a sua fundamentação na realidade (sua referência), pois neste caso, o universal seria somente um modo mental de classificação das coisas. Por outro lado, se o universal é algo que realmente existe nos singulares, temos que justificar como é possível a este, totalmente individualizado pela matéria como seu princípio de individuação, poder ter, em sua constituição, um princípio não singular, ou seja, comum a muitos. A partir destas considerações, tentaremos apresentar brevemente a interpretação medieval no que se refere a problemática, levando em consideração as contribuições que nos foram deixada, tendo em vista o realismo moderado de Tomás de Aquino. Palavras-Chaves: Tomás de Aquino, Idade Média,Universal 56 A RETÓRICA PLATÔNICA NO TEXTO GÓRGIAS Uilson de Almeida Bittencourt (UFRB) Na Grécia antiga, a argumentação voltada à vida prática e política foi muito combatida por Platão em seus diálogos. Entretanto, a atitude dos sofistas de ensinar retórica aos aspirantes políticos tinha uma importância deveras essencial para uma pólis na qual a argumentação funcionava como meio necessário ao exercício da democracia. Platão ataca a argumentação retórica dos sofistas como sendo algo de natureza apelativa. Do mesmo modo como a culinária seria uma adulação ao paladar, a retórica seria uma lambidela no espírito. Platão fez severas críticas aos sofistas do seu tempo, utilizando, de certo modo, o mesmo padrão de racionalidade argumentativa – comprometida com as paixões – que ele criticava em seus adversários. No centro desses ataques está a noção de democracia como um regime político no qual a razão se encontra numa disputa desvantajosa com as paixões. Numa passagem do Górgias, seu personagem Sócrates admoesta Cálicles (que também não simpatizava com a isonomia democrática) por se voltar sempre à vontade do povo e não sustentar uma opinião universal, agindo assim como caudatário do espírito democrático-adulador. Apesar dos ataques implacáveis aos subterfúgios retóricos (e erísticos), Platão utiliza no seu Górgias os mesmos expedientes de contrafação retórica contra seus antagonistas. Palavras-Chaves: Argumentação,Filosofia,Retórica 57 A SIMETRIA ENTRE A ALMA E A CIDADE EM PLATÃO Germano Aparecido Dansiger Neto (UFBA) Ao investigar "A simetria entre a alma e a cidade em Platão" é preciso expor em linhas claras o que se quer dizer com a palavra "simetria" que se apresenta implicitamente nas discussões registradas pelo autor. O termo mais próximo que poderíamos empregar para definir, basicamente, o que é "simetria" entendida no contexto grego, quer dizer, seria medida (métron) comum ou compartilhada (sym). Portanto, dizer que há uma symmetria entre a alma dos cidadãos (psyché-polítiké) e a cidade (pólis) significa dizer que há uma medida comum, entre a alma e a cidade, ou seja, a cidade funciona como um espelho cujo reflexo são os efeitos das escolhas dos seus cidadãos. As dificuldades contidas na tradução das palavras psyché e politikós, bem como a symmetria entre elas, torna ainda mais complexo o entendimento deste fenômeno, sendo necessário delinear com precisão à luz dos seus significados. É sob este olhar que se localiza o foco desta investigação. Palavras-Chaves: Psyché, Pólis, Platão 58 A SUSPENSÃO CÉTICA DO JUÍZO SOBRE O CRITÉRIO DA VERDADE Juliomar Marques Silva (UBA) A principal discussão entre céticos e dogmáticos é em torno da questão do critério da verdade. Seria possível haver um critério da verdade, capaz de nos fazer decidir entre o verdadeiro e o falso, capaz também de nos revelar aquilo que é real e aquilo que não o é. Muitos filósofos dogmáticos, como Xeníades e Xenófanes, negam a existência de tal critério. Outros, no entanto, afirmam a existência de um critério de obtenção do conhecimento e da verdade, como é o caso dos Estoicos, Epicuristas, Aristotélicos etc. Os céticos, porém, nem afirmam nem negam a existência de um critério da verdade, mas suspendem o juízo. Para Sexto Empírico, em particular nas Hipotipóses pirronianas, a própria falta de unidade e de acordo entre os filósofos demonstra a impossibilidade de falarmos de umcritério da verdade. O critério da verdade deve ser único e imutável, mas os filósofos nos apresentam opiniões diversas e conflitantes. Desta forma, não podemos decidir qual, dentre todas essas opiniões, é a correta em dizer o que é o critério da verdade e, por isso, os céticos optam por suspender o juízo acerca da existência ou não desse critério. Nesta comunicação irei apresentar alguns exemplos para o critério da verdade, pois há filósofos que afirmam e outros que negam a sua existência. Ao mesmo tempo apresento também a argumentação cética, que diz que não podemos nem afirmar nem negar um critério da verdade, mas que devemos suspender o juízo sobre esta questão. Palavras-Chaves: Ceticismo antigo, Suspensão de juízo, Critério da verdade 59 A TEORIA DO CONHECIMENTO DE XENÓFANES Giorgio Borghi (UCSAL) Com base nos fragmentos de Xenófanes de Colofão, esta comunicação pretende analisar o pensamento deste pré-socrático como a primeira tematização de teoria do conhecimento na filosofia ocidental. A crítica ao antropomorfismo da mitologia por ele desenvolvida se torna um aviso aos navegantes da nova racionalidade filosófico- científica, para que evitem a pretensão de uma posse totalizante e antropomorficamente redutiva da verdade. Nesta perspectiva, é preciso avaliar o sentido epistemológico da afirmação de Xenófanes de que “a opinião reina em tudo” e a sua peculiaridade em relação a uma visão relativista, como aquela dos sofistas. Esta análise revela que a teoria do conhecimento da verdade muda profundamente dependendo da concepção que se tem do transcendente, que, essencialmente, se apresenta de três formas diferentes: religiosa, ateia ou mística. A visão de tipo religioso e ateu é um tipo de visão essencialmente dogmático, que pressupõe encontrar nos deuses (mitologia) ou nos homens (sofística) a medida última e inquestionável da verdade de todas as coisas. A posição de Xenófanes representa a alternativa que podemos chamar de mística, que provavelmente inspirou a ideia de ser de Parmênides e abre o caminho de uma teoria do conhecimento que acolhe e respeita o mistério deste Ser. Por fim, o nosso pensador originário, antecipando uma temática socrático-platônica, destaca a importância deste tipo de conhecimento para a polis. Palavras-Chaves: Antropomorfismo, Conhecimento, Verdade 60 AÇÃO E CONHECIMENTO NO FENÔMENO DA ACRASIA Aline Valéria Ramos de Almeida (UFBA) Agir contra aquilo que sabe ser o melhor é o que Aristóteles define, em termos gerais, como acrasia, e a partir desta definição o objetivo desta comunicação é demonstrar como o incontinente pode conhecer e ainda assim agir contrário ao seu conhecimento. Aristóteles, na tentativa de refutar o ponto de vista socrático, no qual a acrasia não seria possível uma vez que ninguém conhecendo poderia agir contrário àquilo que conhece, e se isso acontece não seria decorrente de fenômeno algum senão da ignorância, se propôs a demonstrar no capítulo 3 do livro VII da Ética Nicomaqueia, que há, sim, um sentido em que é possível conhecer a regra moral, de saber o que deve ser feito e ainda assim agir com descontrole, de modo a tornar o seu conhecimento inoperante diante de apetites fortes, que seja possível a acrasia. Entretanto, a dificuldade recai sobre a questão da crença fundamental de que os homens sempre desejam seu próprio bem-estar ou felicidade (eudaimonia), e que parece impossível supor que alguém, conhecendo, pudesse de forma deliberada prejudicar a si mesmo. Porém, a possibilidade de existir algo como a falta de autocontrole é preservada desde que o indivíduo conheça a regra moral, delibere em vista de um fim que obedece a reta razão, mas age contrariando um tipo de conhecimento, por estar sob a ação de apetites fortes e excessivos que impedem o seu julgamento, de modo a torná-lo um incontinente. Palavras-Chaves: Acrasia, Conhecimento, Apetite 61 ACERCA DA IRONIA SOCRÁTICA Ronaldo Moreira de Souza (UFG) É conhecida a enigmática profissão de fé de Sócrates: “Sei apenas uma coisa, é que eu não sei nada” (Apologia, 21d). Tal profissão de fé que revela, como queria, os limites de seu saber, expressa também um traço de sua caricatura construída por Alcebíades. No dialogo Banquete de Platão vemos Sócrates ser comparado aos Silenos, cuja aparência feia, quase monstruosa serve, na verdade, de máscara para esconder algo que não quer revelar. Sócrates, como vemos em outros diálogos, dificilmente defende uma tese própria; ao contrário, como diz Alcebíades, seus discursos são “inteiramente ridículos à primeira vez: tais são os nomes e frases de que por fora se revestem eles, como de uma pele de sátiro insolente! Pois ele fala de bestas de carga, de ferreiros, de sapateiros, de correeiros, e sempre parece com as mesmas palavras dizer as mesmas coisas...” (221 d- e). De maneira ardilosa, sempre autodepreciando-se – como diz Cicero – Sócrates concedia mais do que era necessário aos seus interlocutores para depois refutá-los; assim pensando uma coisa e dizendo outra, ele tinha prazer em usar habitualmente essa dissimulação a que os gregos chamam de “ironia”. Nesse texto pretendemos examinar duas faces dessa caricatura de Sócrates; por um lado, a de que a ironia e dissimulação com que Sócrates se comporta diante de seus discípulos são artifícios pedagógicos que visa levar seus interlocutores a obter um conhecimento de si capaz de transformar sua relação para consigo mesmo. Por outro lado – seguindo - Kierkegaard – a ironia expressa na profissão “Sei que nada sei” refere-se a um saber transmissível pela via da linguagem, sendo essa uma das profundas razões de Sócrates se esquivar sempre de uma comunicação direta com seus interlocutores. Palavras-Chaves: Sócrates, Ironia, Conhecimento 62 AFETIVIDADE EM ROUSEAU Elza Silva dos Santos (UFRB) Pretendemos nessa comunicação apresentar as ideias do filósofo suíço-francês Jean- Jaques Rousseau no que tange à educação, buscando ver nas entrelinhas como aparece a afetividade nos textos que tratam da educação, principalmente nos escritos do Emilio e Projeto para educação do senhor de Sainte-Marie. Almejamos apresentar como Rousseau pensa a educação com base na relação estabelecida entre o educador e o educando, sem perder de vista o papel da afetividade. Rousseau na obra Projeto para educação do senhor de Sainte-Marie se posiciona de forma contrária ao método dos maus-tratos com palmadas. Nesse texto o filósofo propõe para a educação de um jovem formar-lheo coração, o juízo, e o espírito seguindo essa ordem respectivamente. É preciso ter em mente que neste texto é apresentado uma proposta de educação especifica para uma criança determinada. E que o educador ou mestre como ele prefere utilizar, desenvolve um papel importantíssimo no desenvolvimento do educando e esse papel, podemos observar, necessita de um relacionamento que tenha como pressuposto uma aproximação afetiva, por assim dizer, é preciso que o jovem que está sendo educado reconheça no educador uma autoridade, assim como a reconhecida no seu pai. Da mesma forma, o mestre e o educando devem estabelecer um relacionamento de reciprocidade afetiva. Palavras-Chaves: Afetividade, Rousseau, Educação 63 ALIENAÇÃO E FETICHISMO Alan Brandão Morais (UFBA) Seguindo as sugestões de investigação conceitual dos textos de Karl Marx aberto pelo professor Celso Frederico no livro O Jovem Marx – As Origens da Ontologia do Ser Social, pretendemos com esta comunicação elaborar uma pequena contribuição para o processo de recomposição conceitual das obras deste autor. A influência hegeliana e feuerbachiana da obra de Marx vem adquirindo novas faces na medida em que os comentadores contemporâneos dedicam-se a investigar as continuidades conceituais da sua formação filosófica de juventude na obra de maturidade, estabelecendo teses interessantes sobre a apropriação dialética feita por Marx de conceitos destes dois pensadores. Para cumprir este objetivo, nos concentraremos aqui nas origens do conceito de fetichismo da mercadoria n’ O Capital – Livro I de Marx, a partir de uma investigação profunda dos conceitos de alienação em Feuerbach no sentido de estabelecer um campo conceitual que nos permita definir a analogias, proximidades ou delimitar as distinções entre estes dois conceitos que guardam grandes semelhanças ocultas Palavras-Chaves: Religião, Inversão, Mercadoria 64 AMIZADE & JUSTIÇA À LUZ DA FILOSOFIA ARISTOTÉLICA Solange Alves Sobreira (CEAD-UFPI) A justiça na filosofia de Aristóteles possui um papel fundamental. O filósofo chega a usar um trecho de um poema para descrevê-la: “nem a estrela vespertina nem a matutina é tão maravilhosa”. Tamanho elogio é justificado porque a justiça, para Aristóteles, é quem produz e preserva a tão almejada felicidade. Tida como a maior das virtudes porque estende o ‘eu’ ao ‘outro’, na filosofia aristotélica encontramos uma concepção de justiça que vai desde as relações particulares no interior da comunidade (justiça particular) até aos assuntos da cidade como toda (justiça geral ou absoluta). Na Ética a Nicômaco, Aristóteles menciona que a mais pura expressão de justiça é uma forma de amizade. Além disso, encontramos outra passagem na obra citada apontando que a amizade não necessita de justiça, ao passo que a justiça necessita da amizade. Mas em que medida a justiça se relaciona com a amizade? A amizade possui um espaço significativo na filosofia aristotélica, integrando o que ele denomina ‘filosofia das coisas humanas’. Muito além de um simples vínculo afetivo, o estagirita coloca a amizade como elemento indispensável também para o alcance de uma vida feliz. Partindo disso e com base no Livro V da Ética a Nicômaco (o qual trata da justiça) e dos Livros VIII e IX da mesma obra (que tratam da amizade), esse trabalho versará sobre a ponte existente entre a justiça e amizade sob a ótica de Aristóteles bem como a importância dessa ponte para chegar à realização do “projeto” eudaimônico aristotélico. Palavras-Chaves: Amizade, Justiça, Aristóteles 65 ARTE E SOFRIMENTO NA FILOSOFIA DE SCHOPENHAUER Bruno Silva dos Santos (UFBA) O pessimismo do filósofo Arthur Schopenhauer (1788 – 1860) tem uma de suas expressões no livro 3 de sua principal obra O Mundo como vontade e como representação (1818). O que chama atenção é que essa exposição de seu pessimismo apareça pela primeira vez de modo totalmente incisivo neste livro que aborda a sua estética. Para o autor, a arte é, por definição, um modo de conhecimento. Entretanto, para além do âmbito objetivo de conhecimento a arte possui outro aspecto: a contemplação artística proporciona também ao sujeito que frui a arte uma mudança subjetiva que, paradoxalmente, elimina a própria subjetividade empírica desse sujeito, despindo-se com isso de sua individualidade, e com ela, de todo o seu sofrimento cotidiano causado pelo império insaciável da vontade sobre si e dos desejos que há nesse sujeito. O sujeito, livrando-se de sua individualidade, livra-se também de todo os seus interesses, o que causa contrastes na filosofia schopenhaueriana tendo em vista que o mesmo anuncia uma espécie de satisfação pela contemplação. Neste ponto é que chegamos ao impasse que guiará a comunicação para o aprofundamento das seguintes questões e de seus desdobramentos: de que modo a contemplação artística pode ser totalmente desinteressada se há nela um alívio, mesmo que momentâneo, do sofrimento do sujeito que contempla? Ou, como é possível que o conhecimento que advêm da contemplação artística nos traga um alívio ou satisfação, sendo que ao fruir a arte nos aproximamos desta mesma Vontade que é a fonte originária essencial de todo o sofrimento que ocorre nas suas manifestações que são os seres vivos? Essas questões- sendo que a primeira também já foi colocada como objeção por Nietzsche, - levará a investigação de dois tipos de sofrimento que Schopenhauer apresenta na sua estética e de como se relacionam com a arte. Palavras-Chaves: Pessimismo, Estética, Sofrimento 66 AS DUAS ACEPÇÕES DO ENTE SEGUNDO TOMÁS DE AQUINO Mariluce dos Santos (UFBA) 1 Este trabalho tem como objetivo, analisar a explicação dada por Tomás de Aquino referente à questão das duas acepções do ente, no De ente e essência. Visa principalmente, investigar a solução dada por Tomás de Aquino ao problema dos universais. Em destaque, a explicação para a noção de essência absolutamente considerada. Que significa o conteúdo de um conceito e a intenção de universalidade; e refere-se diretamente à existência mental de um conceito. A investigação terá como ponto de partida, a afirmação feita por Tomás de Aquino, no primeiro capítulo de De Ente. No qual, Tomás com base no quarto livro da Metafísica Aristotélica, afirma que o ente é tomado em duas acepções: a primeira apresenta a noção das dez categorias, e a segunda, refere-se à verdade das proposições. A idéia central é investigar qual a relevância do significado da essência absolutamente considerada segundo Tomásde Aquino. E quais as possíveis relações deste conceito, com o processo do conhecimento humano. Palavras-Chaves: Universais, Conhecimento, Essência 1 Orientador: Marco Aurélio Oliveira da Silva 67 AS PAIXÕES E A RACIONALIDADE RETÓRICA Aroldo Mira Pereira (UFBA) Neste trabalho procuramos compreender qual o lugar que o páthos, articulado com o éthos e o lógos, ocupa na arquitetônica aristotélica da racionalidade discursiva. Para tanto, investigamos algumas das diferentes concepções de racionalidade concebidas por Aristóteles, especialmente a racionalidade dialética que nos serviu de contraponto para a investigação da racionalidade retórica. O próprio Aristóteles inicia sua obra afirmando ser a retórica a outra face (antistrophos) da dialética. Mas foi acompanhando a análise de Michel Meyer que concluímos que o páthos, as paixões, as emoções assumem o papel imprescindível nos atos persuasivos na medida em que favorecem a possibilidade de relações alteras. Pela alteridade, estabelecemos os espaços públicos, comuns para coexistência dos diferentes. Pela alteridade, encontramos o consenso nos embates discursivos. As paixões, portanto, pelo meio-termo e pela persuasão, evidenciam a alteridade como critério de inclusão de si e do outro no mesmo conjunto político. Enquanto todos, com suas diferenças e semelhanças, estão na cidade, a cidade também está em cada um. Palavras-Chaves: Paixões, Racionalidade, Retórica 68 AS RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO NOS APARELHOS INSTITUCIONAIS NO LIVRO “MICROFÍSICA DO PODER” DE MICHEL FOUCAULT Luis Vitor da Silva Abreu (UFCA) Nunca se ouviu tantos discursos de liberdade quanto no século XX. No presente, vivemos reflexos da “era dos extremos”. Compreender o poder sobre os homens virou sinônimo de alusões como: “a culpa é do Estado” ou “a culpa é do sistema”. Discursos repetitivos não têm espaço diante da hipotética social. Com a ajuda da filosofia buscaremos compreender de forma clara com que conceito de “poder” estamos lidando e como ele se manifesta dentro da sociedade. Recorreremos ao filósofo francês Michel Foucault, que desacredita na existência de um “poder” em específico, mas sim numa relação de poderes, logo, o mesmo nos faz refletir sobre o que ele chama de “microfísica do poder”, sistema pela qual cada homem exerce uma forma de dominação sobre o outro de maneira recíproca e contínua, podendo haver ligações diretas e indiretas com aparelhos institucionais, como escolas, hospitais e presídios, todos com um método em comum; a disciplina, sempre proveniente do objetivo de tornar os homens dóceis; e em casos das clínicas psiquiátricas, isolar o “normal” (apto a seguir normas) do “anormal”. Antes dos estudos de Foucault a genealogia dessas instituições nunca tinha sido inquirida tão a fundo. Com essa proposta, tenho como objetivo compreender as relações de poder nos aparelhos institucionais citado na obra Microfísica do Poder de Michel Foucault e entender o contexto social contemporâneo, fugindo dos discursos coloquiais e tomando consciência de que todos nós fazemos parte do esqueleto social de poder, ou seja, somos diretamente veículos de dominação. Palavras-Chaves: Poder, Dominação, Disciplina 69 AS TECNOLOGIAS DE SABER-PODER ENTRE AS PRÁTICAS SEXUAIS E A SEXUALIDADE: CAPITALISMO, SÉCULOS XVIII-XIX. Moreno Baêta Neves Barbé (UFAL) Em A História da Sexualidade: Vontade de Saber (2006), Michel Foucault aborda a temática da história das práticas sexuais e as relações de poder que se desdobram entre os séculos XVIII e XIX. De acordo com o filósofo francês, a sexualidade foi um dos territórios de maior investimento e estriamento da subjetividade e do corpo na história das sociedades ocidentais. Onde compreendeu que a própria sexualidade, ao ser agenciada por práticas e discursos distintos (como a exame da carne e do pecado ocorrida nas práticas confessionais, a avaliação do sexo em uma perspectiva fisiológica, as construções dos interditos verbais sobre o sexo enquanto temática escusa, etc.), tornou-se um dispositivo de poder capaz não apenas de modelar as condutas, os valores e as experiências íntimas que os seremos humanos realizam através de sua sexualidade e do sexo, mas, fundamentalmente, a sexualidade é evidenciada através da história enquanto um conjunto heterogêneo de ações e de discursos que buscam determinar o campo de possibilidades do saber e da prática sobre o sexo. A partir desse contexto, a presente comunicação, tem como meta problematizar o debate proposto por Foucault (2006), a respeito dos saberes e dos dispositivos de poder que agenciaram a sexualidade e práticas do sexo. Palavras-Chaves: Sexualidade, Arqueologia do Saber, Genealogia do Poder 70 AS VIRTUDES SEGUNDO TOMÁS DE AQUINO Cláudia Moraes Teixeira (UFF) Na obra As Virtudes Morais, Tomás de Aquino responde as perguntas afirmando: as virtudes são hábitos morais bons pelos quais quanto mais praticamos mais aperfeiçoamos qualidade da alma. A virtude é um hábito bom. Há também as virtudes cardeais ordenadas nas paixões humanas, são elas: a temperança, a fortaleza, a justiça e a prudência. A primeira é cultivada na potência apetitiva (potência da alma do corpo que lida com os objetos) o equilíbrio das vontades finitas nas coisas infinitas. Isto é, esta virtude faz o equilíbrio entre o excesso e a escassez. A segunda é moderada pelo apetite sensitivo irascível nos tornando forte. Isto é, quando desejamos alcançar uma coisa difícil precisamos nesta busca ter a consciência de resistir e evitar o mal e superar as coisas difíceis de serem evitadas que levam o homem ao desespero. A terceira dispõe a ordenar. Ou seja, estabelece limites ao homem quanto ao seu comportamento, o faz ser harmonioso nas relações com o outro, respeitando e corrigindo atos de conduta, tornando-se reto. A quarta trata da virtude racional por essência e se dispõe a aperfeiçoar a razão (esta virtude incita a sabedoria, a sindérese ‘hábito que incita o bem’ e ao belo enquanto relacionado com o bem). Isto é, o homem prudente sabe discernir o verdadeiro bem e relacionar com as outras virtudes. As virtudes vistas acima fazem parte da vida do homem e suas fases: temperança (criança), fortaleza (adolescente), justiça (jovem) e prudência (adulto). Elas ajudam a regular os atos, ordenar as paixões humanas e favorecer o bem a si e ao próximo. E para ser feliz o homem precisa cultivar e praticá-las em conjunto, não basta ter uma das virtudes, assim como não basta tê-las como teoria. Palavras-Chaves: Virtude - sabedoria - irascível, excesso - escassez - alma, equilíbrio -consciência - razão 71 BENJAMIN E BRECHT: TEATRO ÉPICO E DEBATE ACERCA DO ENGAJAMENTO Letícia Olano Morgantti Salustiano Botelho (USP) Esta comunicação pretende levantar algumas problematizações envolvendo o diálogo entre Walter Benjamin e Bertolt Brecht, durante a década de 1930, acerca da relação entre engajamento político e inovações formais no teatro épico de Brecht. O diálogo entre os autores ocorre em um contexto de problematização da relação dos movimentos artísticos modernos com a tradição, em que diversos fenômenos artísticos buscam novas possibilidades formais juntamente com um ataque à arte enquanto instituição na sociedade burguesa: algo realizado pelo dramaturgo com suas experimentações formais articuladas pelo efeito de “distanciamento” ou “estranhamento”, inserido em seu projeto de “refuncionalização” social do teatro, visando dotá-lo de uma função de crítica social e engajamento político. Neste contexto, Benjamin valoriza, no teatro épico de Brecht, o uso dos procedimentos de interrupção da narrativa e da ação pelas técnicas de montagem, visando gerar um efeito de choque perceptivo no espectador, e o trabalho experimental com os elementos gestuais. Buscaremos confrontar a interpretação benjaminiana do teatro épico como um “teatro gestual” com a perspectiva do próprio dramaturgo, na qual tal primazia da esfera gestual concedida por Benjamin parece entrar em tensão com a importância do elemento da fábula ou da parábola política. Este parece ser um cerne em torno do qual irão girar as tensões de suas interpretações sobre as potencialidades de crítica social e atuação política deste teatro. Palavras-Chaves: Arte, Política, Engajamento 72 CÉZANNE E A SUPERAÇÃO DA EXPRESSÃO PICTURAL CLÁSSICA Tiago de Jesus Sousa (UFAM) Nosso trabalho pretende mostrar a diferenciação proposta por Maurice Merleau-Ponty entre a pintura clássica, aquela de herança renascentista, e a pintura moderna, em especial o pós-impressionismo francês na figura de Paul Cézanne. Entendemos que as descrições feitas pelo filósofo conduzem nossa compreensão a decifrar dois modos distintos de expressão, e num deles a própria expressão ontológica do visível. Tentamos mostrar aqui que a pintura clássica, por se tratar de uma tentativa racional de copiar a realidade, se traduz exclusivamente como representação, isso se dá pela relação objetiva do pintar como expressão segunda do mundo, ou seja, o pintor se compreende capaz de apreender o mundo, tomá-lo para si integralmente e fixá-lo no quadro em todos os seus detalhes. Entretanto, a pintura moderna mesmo sendo uma arte difícil, restritiva e por vezes repulsiva se compararmos, por exemplo, um Cézanne a um Michelangelo, não oferece o dogmatismo da pintura clássica, nem tão pouco deixa de propor um caráter de incompletude e ambiguidade, resultado de um mundo que não é acabado nem unívoco e por isso não pode ser reduzido ao pensamento que tenho dele. A pintura de Cézanne remete à ontologia do visível justamente porque não pretende reproduzir o mundo, mas criar um mundo próprio, um mundo que pulsa na tela, que se movimenta e que reconduz o homem a uma visão originária, que espanta e perturba o homem, um mundo sem significações teoréticas que funda o ser e a verdade. Sua pintura coloca o homem defronte o próprio mundo e o faz pulsar com ele, e essa é a sua expressão de presença e uma das novidades de sua pintura. Palavras-Chaves: Pintura, Presença, Cézanne 73 COMO PENSAR A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO? Raquel Anjos (PMLF) O presente trabalho pretende analisar a questão contemporânea referente aos usos das novas tecnologias de informação e comunicação em um contexto que valoriza o acumulo de dados e informações, deixando em segundo plano a capacidade humana de reflexão crítica-filosófica ante as questões da atualidade. Tal reflexão parte da perspectiva apresentada ainda na década de setenta pelo pensador baiano Anísio Teixeira que analisou os usos das tecnologias e suas possíveis consequências no nosso modo de viver e de refletir. Para Anísio tivemos mais progressos de tecnologia do que de conhecimento teórico de fato, portanto, esses avanços vêm fazendo crescer não a quantidade de conhecimentos, mas sim a quantidade de informações. Assim, reflete sobre o outro lado das novas tecnologias, e nos propõe questionamentos como: pode o uso das novas tecnologias estar limitando a capacidade de reflexão na contemporaneidade? E quando se fala no ensino do filosofar na educação básica, como podemos refletir criticamente em meio ao caos informativo? Para desenvolver essa reflexão pretende-se tomar como base o pensamento de Anísio Teixeira em seu livro Cultura e Tecnologia, no qual, ao mesmo tempo em que realça seus aspectos positivos como possibilidade de difusão e democratização do conhecimento, apresenta questionamentos sobre como as novas tecnologias podem limitar a capacidade crítica do pensamento humano. Palavras-Chaves: Reflexão, Tecnologia, Informação 74 CONSCIÊNCIA PRÉ-REFLEXIVA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEORIA DA CONSCIÊNCIA DE SARTE Valério Cássio Silva de Oliveira Junior (UFBA) Esse trabalho visa compreender os aspectos básicos da teoria da consciência do filósofo francês J-P. Sartre à luz dos desenvolvimentos de tal teoria no intervalo entre as obras A transcendência do Ego (1937) e sua obra central, O Ser e O Nada (1943). Aqui daremos atenção para a sua crítica à tese de que a unidade da consciência depende da presença do Eu. Como é Sabido, Em A Transcendência do Ego Sartre desenvolve a tese de que o Eu não é um conteúdo da consciência e garantia necessária da sua unidade e individualidade. Para Sartre, a consciência tem um caráter intencional e é esta característica que garante a sua unidade, não o Eu. Desta forma Sartre estabelece uma oposição a uma tradição de pensamento que inclui autores como Kant e Hussel. Considerando o crescente interesse e revalorização da obra filosófica de Sartre por parte de diversos centros acadêmicos, pretendemos, compreender a noção de consciência pré- reflexiva sartreana e suas implicações e, ainda, entender os caminhos e os usos possíveis da filosofia de Sartre para a filosofia da mente, em específico no problema do autoconhecimento. Palavras-Chaves: Sartre, Consciência pré-reflexiva, Ipseidade 75 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O INDEMONSTRÁVEL, O DEMONSTRÁVEL E O QUE É CIENTIFICAMENTE CONHECIDO NOS ANALÍTICOS POSTERIORESNailton Fernandes (UFAL) Dentro do que Aristóteles chama de virtudes intelectuais (dianoéticas), isto é, aquelas virtudes que podem ser ensinadas, o conhecimento científico se mostra como um tipo de disposição intelectiva que se serve de um hábito demonstrativo. Definindo a demonstração como instrumento que possibilita o conhecimento de causas universais e necessárias, por via de princípios que lhe são “próprios” e dignos de “fé”, o filósofo mostra que o discurso científico (silogismo epistêmico) se gera de certa forma, do que é indemonstrável ao que é demonstrável. Nesse sentido, objetivamos fazer algumas considerações sobre os silogismos científicos no interior dos analíticos posteriores, que é fortemente marcado pelo conhecimento matemático que conhece seu objeto necessariamente ou “sempre”. Por fim, encerraremos nossa comunicação fazendo algumas considerações envolvendo o que Aristóteles considera como sendo "conhecimento" em relação à proposta de seu mestre no Mênon, no qual o mesmo considera ser o conhecimento proveniente de “um certo estado de reconhecimento” ou em outras palavras anamnesis. Palavras-Chaves: Conhecimento científico, Demonstração, Princípios 76 CONSIDERAÇÕES SOBRE NORMATIVIDADE E ESCOLHA DE SENTIDO EM SARTRE Cristina Moreira Jalil (UFBA) A realidade humana é apresentada por Sartre como liberdade e indeterminação, o que implica em dizer que não podemos contar com definições ou determinações a priori, mas que, na medida em que existimos – e não temos uma natureza ou essência dada de antemão –, devemos fazer-nos. Em outras palavras, precisamos, ao longo da existência, nos inventar, criar e escolher. Tomando como ponto de partida essa concepção da condição de liberdade humana, questionamos como é possível a essa existência livre movimentar-se em um mundo repleto de regras e orientações. Assim, nesta comunicação, nos propomos a refletir sobre a compreensão sartreana do modo como nos relacionamos com valores e demais referências de teor normativo. Para tanto, iremos nos fundamentar na obra O Ser e o Nada e na conferência O existencialismo é um humanismo, nas quais Sartre expõe em algumas passagens essa questão, afirmando que nenhuma regra, imperativo ou moral poderia determinar de modo causal nossas ações. Segundo ele, cabe a nós sermos legisladores de nós mesmos, escolhendo, a cada vez, o peso, o poder, o lugar e o significado das normas e valores que nos vêm ao encontro. Escolha esta que não se refere a uma decisão deliberada, mas antes, a um engajamento através das ações. Conforme agimos, nos engajamos em uma determinada visão de mundo e, assim, escolhemos os sentidos através dos quais o mundo aparece para nós. Em tempos como o nosso, em que voltam a ganhar força e espaço movimentos e discursos moralizantes, que visam fixar valores, normas e verdades de forma universal e absoluta, torna-se relevante a retomada de pensadores que, como Sartre, buscaram afirmar e resgatar nossa condição de liberdade e o caráter de agente da nossa própria história – tanto coletiva, quanto individual. Palavras-chaves: Sartre, Normatividade, Sentido 77 CONTINGÊNCIA, REDESCRIÇÃO E IDENTIDADE. Orlando Pinho Guerra Filho (UFBA) Uma questão será usada para balizar o percurso que iremos seguir para apresentar, pelo menos de maneira parcial, como Rorty trata a noção de identidade dentro de sua filosofia. Criamos nossa identidade ou a descobrimos? Essa pergunta nos parece importante e possibilita, considerando o pensamento de Rorty, encará-la com base na articulação de argumentos sobre diversos tópicos tratados por Rorty, a saber, contingência, redescrição, ironia e autocriação. A ideia de contingência do Eu, elaborada no livro Contingência, ironia e solidariedade, através da interpretação de Freud, como uma aplicação da noção de “redescrição” na identidade pessoal, na qual supõe que o Eu pode reinventar a si mesmo conforme o próprio querer e a partir da criação de novas narrativas sobre sua própria identidade pode ser um caminho de resposta para a questão. A proposta é realizar uma revisão e problematização da noção de identidade em Rorty com o intuito de explicitar pressupostos envolvidos na elaboração desta noção em sua filosofia. Palavras-Chaves: Contingência, Redescrição, Identidade 78 CORPOREIDADE E ARTE NO PENSAMENTO DE MERLEAU-PONTY José Martins de Lima Neto (UNEB) Desde os seus primórdios é característica fundamental da Filosofia o desprezo pelo corpo em relação à atividade reflexiva da consciência. É notável que essa história tenha começado numa cultura que tinha uma atenção preponderante ao corpo e que este desprezo também se estenda para arte, sendo tratada como atividade inferior. A partir do final do século XIX, observamos reflexões filosóficas que tencionam com esta perspectiva. Encontramos em Merleau-Ponty um dos exemplos significativos da reabilitação da dimensão corporal na constituição existencial humana, em oposição ao privilegio dado à dimensão racional. O objetivo da nossa comunicação é destacar aspectos relevantes do pensamento de Merleau-Ponty em direção a esse processo de reabilitação do corpo, caracterizado pelo projeto de restituição da primazia do nosso contato com o mundo através da percepção, demonstrando ainda o papel decisivo da expressão artística neste percurso, com destaque especial para a pintura. O estudo da natureza de nossa percepção e esse destaque à pintura culminou numa ontologia do visível. Palavras-Chaves: Merleau-Ponty, Corpo, Arte 79 CURSO CONIMBRICENSE DA COMPANHIA DE JESUS (1592-1606) José Portugal Santos Ramos (UEFS) O título uniforme latino que trazem os livros da série que trataremos é Commentarii Collegii Conimbricensis Societatis Iesu, com uma especificação ulterior dos comentários, isto é, das partes respectivas da obra de Aristóteles, a Física, o Tratado do Céu, os Pequenos Tratados sobre a Natureza, a Ética, Da Geração e Corrupção, Da Alma, o Organon e Dos Meteoros. Assinalo ademais que, por meio da influência da Lógica Dialética legada pelos filósofos renascentistas, destacando-se manifestamente as contribuições de Pedro Fonseca, os Conimbricenses descrevem o ideal do “método” e consequente o de “ordem”, aplicando a todo o corpo da Filosofia. Ora, desde Aristóteles nada há de mais perfeito do que a ideia de “ordem”. Disso procede a continuidade e progressão de Aristóteles na Fisiologia e, é em propósito desta, e sempre de partes determinadas que os Conimbricenses teorizam, a mútua integração de todas as partes que umas às outras se recebem, a convergência das mesmaspara apenas um todo como se formaram a estrutura lógica de um único corpus filosófico. A partir disso o Curso Conimbricense surge na História da filosofia como flor de renovação, nos fins do século XVI – num mundo em mudança e que se descobre como sujeito de observação - elaborando num sistematizado corpus philosophicum todo o saber antigo, ordenado segundo a arquitetura aristotélica. Palavras-Chaves: Lógica, Método, Ciência 80 DA CAUSA DA IMAGINAÇÃO (PHANTASIA) EM ARISTÓTELES Vitor Duarte Ferreira (UEFS) O presente trabalho tem como objeto o estudo da causa da imaginação (phantasia) no livro III do De anima de Aristóteles, de modo a delimitar o conceito de phantasia. Na referida obra, Aristóteles demonstra que a causa da imaginação é outra faculdade, presente em todos os animais, a saber, a sensação (aisthêsis). Em De Anima III.3 (427b14-16), Aristóteles afirma que as faculdades da imaginação e da sensação são distintas, embora a imaginação não ocorra sem sensação. Esta “ocorrência” diz respeito ao movimento imaginativo que deriva necessariamente do movimento sensitivo, produzido pela afecção (pathos) dos objetos sensíveis. Esta afecção produz certa alteração psicofísica no homem, cujo resultado imediato pode ser a produção de uma imagem (phantasma) na alma oriunda do movimento imaginativo. Pretende-se mostrar nesta comunicação que, embora a imaginação dependa inicialmente da sensação para produzir os seus objetos - as imagens -, ela guarda em si certa independência em seu modo de operar a posteriori. O que significa que a sua dependência diz respeito apenas ao seu movimento inicial, ao material sensível que constituirá a imagem. A imaginação parece envolver certo grau de “interioridade”, já que se podem visualizar imagens mesmo de olhos fechados, o que marca a sua diferença em relação à sensação, que necessita da presença de um objeto sensível externo e cujo ato é passivo em relação aos mesmos. Desta forma, pode-se imaginar mesmo sem se estar percebendo em ato. Assim, a phantasia pode operar sem a sensação, embora se dê a partir de dados sensíveis. Dadas as devidas distinções e causa da imaginação, a presente apresentação visa explicitar o seu conceito, segundo a apresentação dada por Aristóteles em sua obra De Anima. Palavras-Chaves: Imaginação (phantasia), Causa, Sensação (aisthêsis) 81 DETERMINAÇÃO E LIBERDADE NO OCASIONALISMO DE MALEBRANCHE Aylton Fernando Andrade Brito (UESC) O presente trabalho tem por objetivo discutir a problemática questão da conciliação do ocasionalismo malebranchiano, que defende a existência de uma única causa real dos fenômenos do mundo, e a liberdade humana. Ora, no sistema metafísico de Malebranche há uma peculiar noção de liberdade que se fundamenta numa vontade geral (volonté générale) que se manifesta na ação divina, a qual, muito embora seja em si mesma uma determinação, contém em si mesma a possibilidade do exercício da liberdade. Assim, segundo Malebranche, se manifesta através de determinações naturais e que não excluem a liberdade; na verdade, estas determinações são seus pressupostos. Esta volonté générale, enquanto determinação divina, parte de dois pontos: a) de uma vontade que é a capacidade que o homem tem de amar diferentes bens e b) o movimento natural em direção ao bem indeterminado e em geral. Em suma, a volonté générale é, no escopo malebranchiano, uma determinação que traz em si mesmo esta possibilidade da ação livre. Palavras-Chaves: Ocasionalismo, Determinação, Liberdade 82 DEUS: UMA SÍNTESE DO BOM, BELO E VERDADEIRO NA CONCEPÇÃO AGOSTINIANA Vilma dos Santos Borges (UESB) Para Agostinho, Deus é plenamente bom, belo e verdadeiro. Esta afirmação é apoiada no seu livro A Trindade que visa a compreensão de tal mistério. A Trindade se manifesta no amor e está envolvida, na perspectiva cristã, pelo mistério da fé e da razão. Por isso, o caminho para compreender o mistério Trinitário passa por uma dialética que consiste em “entender para crer e crer para entender”. Na concepção agostiniana, o bom, o belo e o verdadeiro, sintetizados no amor, está compreendido em Deus, único ser que possui em si a plenitude do belo, do bem e do verdadeiro. Por isso, segundo Agostinho, se faz necessário compreender que a relação de Deus com o homem acontece na ordem da fé fundamentada no que não vemos. Essa realidade é desvendada quando o homem reconhece-se como imagem e semelhança do Belo, Bom e Verdadeiro, formando assim a síntese que é o próprio Deus no homem, na concepção agostiniana, isso significa que compreender efetivamente o humano passa por uma compreensão efetiva do divino. Apresentar essa perspectiva de Deus Trindade que possibilita compreender o que é o homem em Agostinho constituí o cerne deste trabalho. Palavras-Chaves: Trindade, Agostinho, Antropologia Filosófica 83 DEUS: UMA VISÃO CARTESIANA DE PERFEIÇÃO Gabriel da Silva Silveira (UEFS) O presente texto é uma explanação da terceira das meditações do livro Meditationes de Prima Philosophia do filósofo Descartes. Nessa meditação, Descartes traz a ideia de pensamento como algo que está no indivíduo e que somente o próprio pensamento poderia lhe dar a veracidade de todas as coisas que o indivíduo percebe, já que, para Descartes, as percepções através dos sentidos são enganadoras. Descartes passa a considerar a aritmética e a geometria como sendo as únicas coisas indubitáveis, exatas. Contudo, o mesmo alega que, se posteriormente julgou que essas coisas pudessem ser postas em dúvida, foi por conta de algum Deus, que lhe teria concedido uma natureza que lhe enganasse, até mesmo acerca das coisas as quais considerava indubitáveis. Descartes coloca, por conseguinte, a existência de Deus em dúvida, mas diz que a opinião que o faz errar/duvidar é metafísica. Contudo, ele “aceita” a existência de Deus e a atribui a uma natureza perfeita e como a única coisa que não poderia provir dele (Descartes enquanto homem). Para Descartes, ele era uma natureza imperfeita e para que ele existisse necessariamente deveria haver uma natureza perfeita (Deus) que o criasse. Para ele, a ideia de Deus não poderia estar na natureza imperfeita, porque era da natureza do perfeito não ser entendido pelo imperfeito. Descartes exclui ainda, a ideia de que Deus o estivesse enganando, já que toda fraude e todo engano provém de um defeito e isso não poderia ser atribuído a uma natureza perfeita. Palavras-Chaves: Deus, Descartes, Perfeição 84 DEVASSIDÃO E INCONTINÊNCIA: AS IMPLICAÇÕES DO EXEMPLO DO KINAIDOS NO GÓRGIAS DEPLATÃO Luiz Eduardo Gonçalves Oliveira Freitas (USP) Em determinado momento da discussão com Cálicles na parte final do Górgias, Sócrates faz uso de um exemplo para tentar embaraçar seu adversário e, com isso, desmontar a sua posição hedonista. Como, para Cálicles, a vida mais feliz é aquela em que se satisfaz todos os prazeres, Sócrates evoca o estilo de vida do kinaidos - traduzida, em edições em português como “devasso” e até mesmo “veado” - e sugere que deveríamos considerá-lo feliz, caso a identificação entre bem e prazer fosse aceita. A incompreensão do termo, no entanto, pode causar certo constrangimento para os leitores atuais do diálogo. Ainda que o exemplo seja rapidamente abandonado, o artifício argumentativo de Sócrates se mostra decisivo para o modo como a discussão final do diálogo vai se desenrolar, de forma aparentemente injustificada. Na presente comunicação, pretendo elucidar, através da análise da comparação do uso do termo com outros textos gregos e dos estudos sobre a prática da homossexualidade na cultura grega, a conotação mais profunda do exemplo do kinaidos e suas implicações no Górgias e na ética platônica. Palavras-Chaves: Platão, Górgias, Hedonismo 85 DO DEBATE ENTRE KUHN E DAVIDSON À TRIANGULAÇÃO SEMIÓTICA DO CONHECIMENTO Jociel Nunes Vieira (UFRB) Com base no debate entre Thomas Kuhn e Donald Davidson sobre a comensurabilidade ou incomensurabilidade do conhecimento, podemos colocar essa problemática para ser analisada sob a perspectiva da semiótica peirceana, ciência cuja função é a de qualificar e descrever todos os tipos de signos logicamente possíveis em todas as formas de linguagem, verbal e não verbal. Para o criador desta teoria filosófica, o cientista e lógico americano Charles Sanders Peirce, as faculdades do entendimento podem ser divididas em três níveis, denominados de: 1) Primeiridade (momento do conhecimento em que o intérprete somente percebe o signo fenomênico, mas ainda não se relaciona com ele); 2) Secundidade (é quando o intérprete se relaciona com o signo, dando a ele um significado, num processo de mediação ou ação-reação); 3) Terceiridade (é a interpretação realizada dos signos numa relação mente-mundo, a qual possibilita uma compreensão sobre o objeto fenomênico em análise). O método semiótico culminará na teoria da triangulação de conhecimento, proposta de Davidson, a qual se utilizada de uma outra tríade semiótica para construção do conhecimento. Palavras-Chaves: Semiótica, Triângulação, Conhecimento 86 DOSTOIÉVSKI, SARTRE E O NIILISMO Rosa Ilana Santos (UFRB) Girlene Andrade de Assis Este artigo tem o objetivo de apresentar a noção niilista dostoiévskiana, a partir de sua obra Crime e Castigo, bem como o niilismo na obra A náusea, de Jean-Paul Sartre. O niilismo tal como Dostoiévski nos mostra é representado pelo personagem Raskólnikov. A princípio, o personagem, motivado por uma ideia, tenta dar sentido a sua existência, partindo do pensamento de que há duas classes de homens: os extraordinários e os ordinários. Os extraordinários são os que alcançaram a glória e mesmo que tenham cometido crimes foram absolvidos pela história, e é nesta classe que Raskólnikov almejava estar, numa tentativa de tornar-se um super-homem, livre para agir de acordo com suas próprias convicções e sem nenhuma interferência moral. Ao assassinar uma velha agiota, que seria o símbolo do capitalismo vigente, o personagem tem em vista tornar-se esse ser elevado, sobretudo, reconhecido, assim como Napoleão o foi. Entretanto, o niilismo aparece quando Raskólnikov se frustra, já que o sentimento de culpa o revela como um ser ordinário, medíocre, igual à maioria dos humanos, levando o personagem a mergulhar em uma profunda angústia. Rendendo-se a sua consciência, a personagem confessa seu crime, e a partir da percepção de suas limitações ele reconhece Deus através do amor de Sônia. Em A Náusea, o niilismo é descrito através do personagem Roquentin, quando este se dá conta do vazio de sua existência, quando a angústia e a melancolia lhe gera náusea do mundo, contudo, este niilismo tal como Sartre nos mostra, nos parece positivo ao contrário do então defendido por Dostoiévski e, para tanto, pretendemos investigar. Palavras-Chaves: Niilismo, Angústia, Existência 87 DUALISMO CARTESIANO E A NOÇÃO DE TRIALISMO PROPOSTA POR JOHN COTTINGHAM Jezer Hezrom Lima de Oliveira (UEFS) René Descartes concebe em seu sistema filosófico duas substâncias distintas, res cogitans e res extensa, reconhece o atributo e as faculdades de cada uma delas, e percebe que duas faculdades particulares do pensamento (cogito), a sensação e a imaginação, não são imputáveis somente a substância pensante mas que surgem da relação com a substância extensa. Tal conceito do dualismo cartesiano gera muitos problemas quando partimos para a questão da interação entre as substâncias, e um desses problemas, o que vai ser considerado aqui, são essas faculdades que surgem da relação entre substâncias. Partindo desse problema metafísico, o comentador inglês Jonh Cottingham argumenta que para uma melhor compreensão da filosofia cartesiana devemos admitir a possibilidade de uma terceira substância, ou, pelo menos, ele tenta abrir essa possibilidade de interpretação. Partindo do impasse criado por esse comentador cartesiano, o objetivo desse texto é expor a argumentação de Cottingham, partindo de uma visão internalista à filosofia cartesiana, e esclarecer a viabilidade da proposta do comentador. Palavras-Chaves: Dualismo, Descartes, Cottingham 88 ESTÉTICA: PARA UMA (RE)LEITURA DA EDUCAÇÃO PELA ARTE Jaquissom Aguiar Guimarães (UESB) Esta comunicação tem como objetivo estabelecer uma reflexão e uma relação da disciplina de Estética e da arte com o ensino-aprendizado. A pretensão de fazer uma conexão do educar-aprendiz com o artista, inspirado, sobretudo do período romântico, pois esse período supera o dever, se libertando das regras impostas, da religiosidade, da técnica, para se transfigurar como um saber sensível, autêntico e racional, que vai ao encontro da mais profunda subjetividade. O movimento da arte romântica se assemelha com o educar-aprendiz na medida em que é convidado a adentrar no campo ético e educacional, levando o homem ao próprio reconhecimento através do contemplamento, a paixão e a sensibilidade. Schiller se posicionacomo artista, para abordar a importância da cultura estética, de um saber sensível, que permite ao indivíduo a exercer as habilidades racionais e políticas centradas apenas no campo da conceitualidade racional. Esta reflexão se desenvolve pelas conceituações das relações antagônicas entre individualidade e subjetividade, de identidade e adequação, educação padronizada e educação criativa e artística dialogando com Ortega y Gasset, Steven Pinker, Luc Ferry, entre outros. Palavras-Chaves: Artista, Educação, Subjetividade 89 EXISTIR: A VERTIGEM DIANTE DO ABISMO Daiane Soares dos Santos (UFRB) O filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard adota uma postura crítica diante do racionalismo hegeliano que pretende explicar a existência reduzindo-a a puros conceitos racionais. Afirma ainda que esse pensamento retira o caráter concreto da existência humana. A conceituação racional não abrange o devir, a individualidade, a contradição paradoxal do aqui e do agora da realidade existencial. Na perspectiva do filósofo nórdico a existência e a realidade aparecem no devir, em fluxo constante de experiências nossa existência está fadada ao jogo existencial de sermos e não sermos. É concretamente existindo, corroído pela inquietação e pela angústia, que o sentido da existência é apreendido. Existir em si mesmo é defrontar-se com ambiguidades, não há existência sem conflito, contradição, indeterminação. Podemos dizer que a razão de ser do existir se revela no sofrimento. Se não há com o que lutar é porque é chegada a hora em que a existência é ceifada. Não nascemos conscientes da nossa existência, esta vem à tona como num instalo, vivemos tranquilamente sem qualquer abalo ou perturbação, as coisas acontecendo sucessivamente todos os dias de maneira mecânica: ao amanhecer levantamos, fazemos nossas refeições, exercemos nossas atividades diárias, estudamos, trabalhamos, ao anoitecer voltamos para casa, dormimos, até que de repente despertamos para uma consciência de existir que só ocorre quando somos corroídos pela angústia. Nessa perspectiva pretendemos, tendo por base a obra O conceito de angustia, refletir sobre a existência humana enquanto constitutiva de sofrimento evidenciado por sensações como a angústia. Palavras-Chaves: Existência, Angústia, Kierkegaard 90 EXPERIÊNCIA E NARRAÇÃO EM WALTER BENJAMIN Angela Lima Calou (IFRN) O presente trabalho presta-se à exposição da crise da experiência na modernidade em sua associação com o declínio da narração segundo Walter Benjamin, tendo em vista apresentar o modo como este filósofo visualiza a estruturação da sensibilidade moderna. Refere-se, para tanto, aos seus ensaios da década de 1930: Experiência e pobreza, O narrador e Sobre alguns temas em Baudelaire. Evidenciaremos a tese benjaminiana a respeito da modernidade: o diagnóstico de um radical empobrecimento da experiência humana ante o esvaziamento das esferas coletivas de sentido. Este empobrecimento da experiência provoca alterações que se expressam historicamente na dimensão da palavra, de modo que o empobrecimento da experiência ocasione o empobrecimento da narração, paulatinamente deposta ante o surgimento do romance e da informação jornalística. A partir da relação entre a pobreza da experiência e o fim da arte de narrar, constata-se com Benjamin o signo da modernidade: a metamorfose das formas de percepção estética. Veremos que a sensibilidade coletiva, no mundo moderno, pauta-se em uma dinâmica do hiperestímulo que norteia as múltiplas esferas da vida, superpondo o choque ao vivido, a consciência à memória, em suma, a vivência do indivíduo isolado e fragmentado que habita as velozes paisagens citadinas à possibilidade de uma experiência em sentido forte. Palavras-Chaves: Modernidade, Experiência, Narração 91 FEMINISMO E TEORIA CRÍTICA: CRUZAMENTOS ENTRE QUESTÕES DE GÊNERO E MARXISMO Laiz Dantas (UFBA) Esse trabalho tem como objetivo elucidar a relação entre a Teoria Crítica e a questão de gênero. A Teoria Crítica surge diretamente influenciada por Marx e a sua proposta de indissociabilidade entre teoria e prática, expressa numa filosofia com intrínseca relação com a realidade social. A chamada “Escola de Frankfurt” pretende direcionar a crítica econômica iniciada por Marx para questões culturais. Nesse viés, Marcuse se preocupará em analisar os movimentos sociais, incluindo os movimentos feministas de sua época. Para o autor, a revolução deve ser entendida para além da mudança na estrutura material da sociedade, faz-se necessária, também, uma mudança nas relações humanas. Nesse sentido, a questão de gênero aparece como crucial em sua proposta, pois os valores do feminino são opostos aos valores da sociedade capitalista. A teoria crítica contemporânea recupera a atenção aos movimentos sociais a partir do exame da tensão entre questões de identidade e o modus operandi do capitalismo atual. Para Nancy Fraser, os movimentos sociais hoje se dividem entre dois caminhos principais: a busca pela redução das desigualdades e partilha justa das riquezas ou as reivindicações de igualdade e respeito às diferenças. A autora pretende diluir essa falsa dicotomia, de modo a considerar questões de identidade como parte da demanda do marxismo por justiça social. Nesse caminho, a Teoria Crítica reformula tanto a apropriação do marxismo e sua relação com os movimentos sociais, como o sentido de feminismo. Pretende-se estabelecer uma relação comparativa entre as abordagens da Teoria Crítica clássica, exposta por Marcuse em sua leitura dos movimentos feministas, e sua versão contemporânea, apresentada através da filosofia de Nancy Fraser. Palavras-Chaves: Teoria Crítica, Marxismo, Feminismo 92 FILOSOFIA DA MORAL EM DAVID HUME Janiel de Oliveira Santos (UEFS) O artigo tem o intuito de investigar em que se fundamenta a base da moralidade apresentada na obra Investigação Sobre o Entendimento Humano de David Hume. Hume explicita em sua obra que o produto da ação humana, influência direta dos nossos gostos e sentimentos, próprios da natureza humana em paralelo ao pensamento que o homem opta a razão ao invés da ação fortalecem a base da nossa moralidade, controvérsias como: verdade e falsidade, vicio e virtude, beleza e feiura são exemplos de como opera a razão humana e é certo que uma filosofia que visa a praticidade será sempre preferida e também por isso reduzem a natureza humana a uma conduta de comportamento que visa uma neutralidade cotidiana mais agradável e útil. Hume afirma que o filosofo ao sair dessa sombra utilitarista nada contribuia benefício ou prazer da sociedade, desse modo surge um problema a ser resolvido. Por que David Hume se posiciona dessa maneira ao tratar da ética? Palavras-Chaves: Moral, Sociedade, Razão 93 FILOSOFIA E ENSINO Caio Leone de Almeida Moura Filho (UEFS) Durante muitos anos não se discutiu mais as questões filosóficas no ensino médio, devido ao período em que a disciplina ficou fora do currículo escolar. Com isso, menos pessoas se formaram na área de filosofia já que o incentivo foi menor. Depois de muito tempo a filosofia voltou a fazer parte dos currículos do ensino médio. Desde seu regresso, os professores receberam a enorme tarefa de ensinar filosofia. Se depararam com grandes desafios, pois ora deveriam educar o aluno para ser cidadão, ora para discutir e relacionar os saberes filosóficos com as outras disciplinas e outras vezes aprender a filosofar para ensinar a filosofar, sendo que a maioria desses profissionais não são formados na área. Daí surge o primeiro problema: o que é filosofar para o professor e como ensinar os alunos a filosofar? Como ensinar os alunos uma atividade intelectual que é considerada, por si mesma, sem utilidade alguma? Não filosofamos para fazer alguma coisa, filosofamos pelo simples fato de filosofar e entendemos em nosso texto que filosofar é uma atividade intelectual ou um bem em si mesmo que não precisa servir para algo. Atualmente vivemos uma era tecnológica na qual tudo é muito rápido, prático e útil, e encontramos na filosofia um universo lento, teórico e inútil. Disso resulta um desinteresse geral pelo hábito da leitura, do pensamento e da reflexão. Desse modo, surgem outros obstáculos para o professor de filosofia no ensino médio, a saber, despertar o interesse dos alunos para a filosofia, para a leitura, para a reflexão e para filosofar. Todas as questões fazem parte de nosso objetivo para demonstrar a tamanha tarefa do que é ser um professor de filosofia no ensino médio. Palavras-Chaves: Filosofia, Educação, Ensino Médio 94 FILOSOFIA LATINO-AMERICANA? AGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PROPOSTA DE DESCOLONIZAÇÃO DO SER E DO SABER Vivian Silva Santos (UNIFESP) A partir dos escritos de Augusto Salazar Bondy, acerca da existência de uma filosofia genuinamente latino-americana, é proposto que pensemos sobre a finalidade e proposições que envolvem essa problemática, a fim de investigar até que ponto a defesa dessa abordagem se mostra pertinente. Para, então, considerarmos a necessidade de uma vertente que parta do paradigma da colonização, com o intento de nos levar a compreender que a América Latina é um produto da ideologia moderna, percorrendo uma via de descolonização do ser e do saber, que é desenvolvida pelo pensador argentino Walter Mignolo, o qual nos fornece a pretensa fonte de um modo de pensar que é denominado descolonial e, não mais, latino-americano. Contudo, é sugerido que esse novo paradigma esteja inserido em questões geopolíticas fundamentais, as quais nos remete a conflitos de territórios do pensamento, posto que a descolonização e a colonização são as faces de uma mesma moeda, assim, o que define esses pares é o pertencimento a dois mundos (pensamento fronteiriço). Palavras-Chaves: Filosofia latino-americana, Pensamento descolonial, Ideologia 95 FILOSOFIA PARA CRIANÇAS: O PROJETO DE ENSINO DE MATHEW LIPMAN E DESENVOLVIDO POR WALTER KOHAN Samuel Leite (UEFS) O presente artigo propõe discutir a possibilidade do ensino de Filosofia com criança, pressupondo que a infância é um devir. Assim, desta perspectiva, a experiência do pensamento nela também se faz possível, já que o período infantil é um momento de intensa criação e constante questionamento sobre a realidade. Exploraremos inicialmente o programa de Filosofia para Crianças elaborado por Mathew Lipman e, ampliado no Brasil por Walter Kohan, como suporte teórico justificável de um ensino de Filosofia com crianças ou Filosofia na Escola. Em seguida, analisaremos uma experiência de intervenção desta metodologia com crianças indígenas da Aldeia Massacará, da etnia Kaimbé, no município de Euclides da Cunha – Bahia, realizada por estudantes da licenciatura de Filosofia da UEFS. Apesar da crítica feita ao uso do Ensino de Filosofia com Crianças, pretendemos demonstrar no presente trabalho que tanto o filósofo mais consagrado como uma criança possui o thaumázein (espanto) instaurador da atitude filosófica, ou seja, são capazes de propor uma experiência do pensamento filosófico e inventar respostas para elas. O uso de ensino de filosofia para crianças é importante na medida em que visa um “pensar bem”, ou seja, um uso cada vez mais refinado da razoabilidade. Palavras-Chaves: Crianças, Filosofia, Indígenas 96 FOUCAULT E A POSITIVIDADE DO PODER Diego Guimarães (UFBA) Em meados da década de 1970, Michel Foucault passou a ocupar-se com uma espécie de “analítica do poder”, ou seja, a análise das relações estratégicas entre poder e saber. Ou ainda, do modo como as relações de poder vinculam-se à produção de conhecimento científico. Podemos acompanhar o itinerário dessa análise a partir do primeiro volume da História da Sexualidade: a vontade de saber (1976), livro em que Foucault dá início às suas investigações acerca da noção de poder. Visto isso, o objetivo dessa comunicação é apresentar a concepção foucaultiana de poder e sua inter-relação com o tema do sexo, já que é considerando a história do discurso da sexualidade que Foucault se propõe a pensar o fenômeno do poder nas sociedades ocidentais. Assim, buscar-se-á de maneira central, determinar em que consiste a tese da positividade do poder diferenciando-a do que Foucault chamou de concepção jurídica ou repressiva, que tradicionalmente se encontra nas análises entre poder, saber e sexualidade, ao passo que evidenciaremos a perspectiva genealógica adotada por este autor. Palavras-Chaves: Foucault, Poder-Saber, Sexualidade 97 FOUCAULT E NIETZSCHE: GENEALOGIAS Alan Sampaio (UNEB) Nietzsche atravessa a obra de Foucault desde o início. De forma explícita, citado nominalmente, mais nas entrevistas, ensaios e comunicações, do que propriamente nos livros e cursos. A própria empresa filosófica de Foucault é nomeada por ele como uma “genealogia da moral”. No ensaio que lhe dedica,Nietzsche, a genealogia e a história, Foucault atribui a Nietzsche o amor ao documento, a ideia de ruptura (de raridade) e a de invenção (de não naturalidade), precisamente as qualidades que o historiador Paul Veyne lhe atribui no texto Foucault revoluciona a história, quer dizer, fundamentar os resultados de suas pesquisas sobre a moral em documentos mediante duas noções complementares: a de raridade e a de que não existem objetos naturais. Nietzsche e Foucault combatem o essencialismo dos filósofos, sua falta de sentido histórico, em cuja generalidade dos conceitos se apaga a raridade e artificialidade das coisas, e reconhecem nos paladinos da moral a parte maldita. Porém, cerca de um século separa suas obras, de modo que Foucault não pode ser simplesmente um continuador de Nietzsche. Se, por um lado, Foucault fornece no ensaio uma leitura ampla do trabalho de Nietzsche, revisitando uma série de parágrafos relativos à procedência e começos do demasiado humano, quer dizer, sobre a gênese e desenvolvimento do conhecimento, da consciência, da ciência, das artes, da religião, do culto religioso, dos costumes, da moral, do direito, da civilização, do Estado. Por outro lado, não há referência à pré- história do homem, aos judeus e cristãos, tão presente na obra nietzschiana. Nisso, notamos a distância tomada por Foucault da antropologia filosófica, esta realizada por Nietzsche a contrapelo. O objetivo da comunicação é apontar as principais semelhanças e diferenças entre as duas genealogias da moral, a de Foucault e a de Nietzsche. Palavras-Chaves: Genealogia, Nietzsche, Foucault 98 FREUD E A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS: CONSIDERAÇÕES À LUZ DA FILOSOFIA DE MARTIN HEIDEGGER E DE PAUL RICOEUR Fernanda de Jesus Almeida (UEFS- CNPq) Com o presente trabalho pretendemos examinar se a teoria freudiana da interpretação dos sonhos se afina com as formulações das ciências da natureza, como advoga o filósofo Martin Heidegger, ou se, devido ao fato de preconizar a decifração de sentidos dos conteúdos oníricos, se afasta do naturalismo, como afirma Paul Ricoeur. Na obra Seminários de Zollikon Heidegger assegura que a psicanálise freudiana se encaixa no rol das ciências da natureza e que o conceito de inconsciente está a favor da explicabilidade do psiquismo, do estabelecimento de leis e causas que regem o seu funcionamento. Já Paul Ricoeur, na obra Da interpretação: um ensaio sobre Freud defende que, ao interpretar o sonho como uma formação inconsciente, a psicanálise não só revelou que o mesmo tem um sentido oculto, como demonstrou que esses sentidos são deslocados e distorcidos no processo de sua construção. Na perspectiva ricoeuriana, não se pode entender que decifração dos sentidos dos sonhos consiste em um procedimento puramente naturalista. Sendo assim, para Ricoeur, com a teoria acerca da formação dos sonhos, Freud amenizou a influência naturalista que marcou o início de suas pesquisas. Com esta comunicação visamos analisar se, ao interpretar os sonhos, Freud estaria fazendo o exercício de compreensão dos fenômenos típico das Ciências do Espírito ou se, como atesta Heidegger, estaria em busca de um tipo de explicabilidade cativo da Ciência da Natureza. Em suma, almejamos explanar sobre resultados parciais obtidos com o desenvolvimento do projeto de iniciação científica intitulado: “Freud e a teoria da interpretação dos sonhos: uma discussão à luz da filosofia de Martin Heidegger e de Paul Ricoeur”. Tal projeto conta com o apoio do CNPq. Palavras-Chaves: Freud, Heidegger, Ricoeur 99 GALILEU GALILEI: CONFLITOS ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO Webert Ribeiro Oliviera (UESC) A investigação da filosofia da natureza de Galileu Galilei é de fato dependente de uma análise conjuntural do mundo moderno, que a partir da perspectiva crítica torna possível a formação de um leitor ávido por novas verdades acerca do universo. As questões que constituíram uma relação conflituosa entre fé e ciências, no caso Galileu, realmente necessitam de um olhar crítico acerca dos procedimentos adotados pela Igreja Católica, no contexto de censura aos fundamentos experimentais do novo mundo. A filosofia da natureza de Galileu encontrou na Itália do século XVII, uma mudança geral do comportamento dos membros oficiais da Igreja e o ambiente de contrarreforma modificou a relação de amizade que havia entre Galileu e o próprio Papa Henrique VIII. O primeiro processo imposto ao filósofo da natureza em 1616, já era uma indicação dos rumos que o embate entre fé e ciências iria se tornar, a partir da censura a Galileu Galilei, pelo Index das obras proibidas, sendo o interstício entre 1616 a 1632, o aprofundamento geral das contendas com jesuítas como Scheiner e Orazio Grassi que levaram o Grão filósofo matemático a uma sentença cavilosa e a uma abjura humilhante na formação do novo universo. Palavras-Chaves: Ciência, Religião, Dogmatismo 100 GRANDEZA HISTÓRICA ENQUANTO MÉTODO DE ANÁLISE HISTÓRICO- CULTURAL EM NIETZSCHE E BURCKHARDT Thaís Souza (UFG) Burckhardt nos apresenta em suas Reflexões sobre a história seu conceito de grandeza histórica, mostrando, no entanto, a impossibilidade de uma definição objetiva de tal noção. Os grandes da história são para ele aqueles indivíduos únicos que legam à posteridade obras e feitos insubstituíveis e em Nietzsche engendrar tal grande homem é a tarefa da cultura. A tal concepção se relaciona a noção de individualidade presente em A cultura do Renascimento na Itália, texto no qual Burckhardt nos apresenta suas análises partindo da apresentação das grandes personalidades do Renascimento e de seus feitos, tais como Dante, Petrarca e Boccaccio, assim como de Homero, Tucídides, Péricles, Sófocles, Eurípedes e tantos outros em sua obra História da cultura grega. Vemos um procedimento semelhante em Nietzsche em O nascimento da tragédia na apreciação de importantes personalidades da Antiguidade grega tais como Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Sócrates e Platão. Sua interpretação histórico-cultural advém da análise de tais individualidades e da influência exercida por cada um deles na cultura de seu tempo. Em sua Segunda extemporânea, quando do diagnóstico do excesso de sentido histórico, Nietzsche dialoga com distintos autores, poetas e historiadores tais como Schiller, Goethe, Ranke e Burckhardt, em uma tentativa de compreender os debates historiográficos de seu tempo. Desta feita, pretendemos nesta comunicação apresentar as relações entre Nietzsche e Burckhardt no que concerne à cultura, assim como o duplo papel das individualidades geniais na filosofia nietzschiana. Compreendemos serem elas em primeiro lugar os personagens que possibilitam sua análise cultural e interpretação dos processos históricos, assim como em Burckhardt, e em segundo, o lugar de convergência das noções de cultura e história, na medida em que seu engendramento é a tarefa última da cultura, e à história cabe a responsabilidade porum diálogo entre tais “elevados exemplares” que propicie também a sua sempre necessária geração. Palavras-Chaves: Cultura, História, Grandeza histórica 101 HANNAH ARENDT E A BANALIDADE DO MAL Clara Rocha Mascena (UESB) Em Eichmann em Jerusalém, uma das principais obras de Hannah Arendt, a filósofa judia-alemã põe-se a narrar e comentar o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann. O réu, ex tenente-coronel da SS, foi responsável pela logística da “Solução Final”; o plano de extermínio dos judeus na Segunda Guerra Mundial. Durante o julgamento, ao contrário do mal encarnado que esperava encontrar, Arendt relata ter se deparado com um sujeito incapaz de reflexão, que se comunicava por clichês, mas que não nutria ódio pelos judeus e que, claramente, não havia se filiado ao partido nazista por convicção. Dessa maneira, Eichmann não havia motivo aparente para cometer tais crimes. A autora explica esse era um tipo de maldade até então, desconhecida por ela, uma maldade que não apresentava fundamento raiz ou fundamento, era, portanto, um mal banal. E foi para tratar desse tipo específico de maldade, sem fundamento, que Arendt desenvolveu o conceito de banalidade do mal. Ao explicar tal conceito, Hannah Arendt trata ainda dos temas: julgamento, juízo e responsabilidade. Assuntos pelos quais pretendemos perpassar ao expor o conceito arendtiano de banalidade do mal. Palavras-Chaves: Banalidade do mal, Hannah Arendt, Eichmann em Jerusalém 102 HANNAH ARENDT E O ESPANTO FILOSÓFICO Luiza Simões Pacheco (UFBA) As primeiras referências que se tem a respeito de uma atitude de espanto num sentido filosófico aparecem em Platão e Aristóteles. No Teeteto de Platão, Sócrates, em diálogo com o jovem que dá nome à obra, afirma como o espantar-se, do verbo grego thaumázein, que também pode ser traduzido por admirar-se, assombrar-se, é o princípio da filosofia. Na Metafísica, Aristóteles aponta como não só em sua época, mas sempre, a filosofia tem como princípio o espantar-se. Alguns autores contemporâneos fazem menção a esta atitude central para a filosofia grega. Entre eles, destacaremos o trabalho de Hannah Arendt, especificamente em duas de suas obras. No livro A condição humana, de 1958, a autora faz uma breve referência ao thaumázein grego, indicando como essa atitude moveu toda a filosofia grega – Arendt distingue, ainda, o espanto da atitude que passa a orientar a filosofia a partir da modernidade, a dúvida cartesiana. Em outro texto, menos conhecido, O interesse pela política no pensamento europeu recente, uma conferência feita por Arendt em 1954, a autora faz importante menção a esta atitude grega. Para ela, uma autêntica filosofia política, no mundo contemporâneo, só poderá surgir a partir de um ato original do espanto – e não de reinterpretações ou releituras de tendências políticas. Nesse sentido, parece-nos que o espanto, para Arendt, é uma atitude oposta à irreflexão que atinge o homem contemporâneo. Para a autora, muitas das atrocidades cometidas no século XX decorrem da incapacidade que muitos homens têm de refletir, de pensar. O espanto seria desse modo, oposto à irreflexão e, portanto, também uma possibilidade de combatê-la. Porém, vale ressaltar: não se escolhe o momento de espantar-se; o espanto é uma espécie de paixão que toma o homem, e é justamente esse um dos desafios para a filosofia política contemporânea. Palavras-Chaves: Espanto, Contemporaneidade, Filosofia Política 103 HUSSERL E O ABSOLUTAMENTE SUBJETIVO Estanislau Fausto Dantas Santana (UFBA) Edmund Husserl é uma das figuras centrais da filosofia do século XX e, quiçá, do XXI. A fenomenologia husserliana tem como parcela central o da fundamentação de uma ciência de rigor, ou melhor, o da designação da mesma como uma ciência rigorosa. É fato que Edmund Husserl passou grande parte da sua obra tentando demonstrar que a problemática fenomenológica é, invariavelmente, a proposta de universalização da filosofia. Todavia, um conceito anterior é fulcral na análise da estrutura fenomenológica. Esse filosofema é, a saber, a base principal do conhecimento, o firmamento para todo ele. Pode-se dizer como mais exatidão, que ele é a ideia de um eu como uma estrutura que pode ser verificada em si. Um eu como axioma necessário para a condição fenomenológica do conhecimento. Para tanto, a proposta do filósofo é encontrar o rigor da “nova ciência” em uma subjetividade transcendental. Esta comunicação visa, justamente, tentar demonstrar a importância do conceito de eu na obra Husserl - e como eu é a parte fundante e sem a qual a filosofia husserliana torna-se inviável. Palavras-Chaves: Husserl, Subjetividade, Eu 104 IMPÉRIO: UM NOME COMUM PARA A GLOBALIZAÇÃO Jefferson Martins Viel (USP) No ano de 2000, Antonio Negri e Michael Hardt publicam nos Estados Unidos seu livro mais conhecido: Império. Estrondoso sucesso editorial, Império recebeu desde muito cedo a atenção de filósofos e teóricos na academia bem como da imprensa e de militantes políticos fora dela. A presente comunicação tem como objetivo versar sobre o conceito de Império forjado por Antonio Negri e por Michael Hardt no alvorecer do novo século. Além da tentativa de retomar as investigações e o debate de extração marxista no século XXI, ficaram assaz marcadas em sua recepção as leituras que enxergaram nesta obra a mais recente teoria sobre a globalização. Na presente comunicação, pretendemos argumentar que o fenômeno da globalização diz respeito menos a Império, obra que busca sobretudo evidenciar a nova forma de antagonismo político do mundo contemporâneo, que ao conceito homônimo de Hardt e Negri. Para tanto, procuraremos mostrar o uso que os autores fazem da noção de globalização em Império, apontando assim o que eles entendem por esta noção. Em seguida, destacaremos que Império deve ser compreendido como um conceito, não como um fenômeno ou uma metáfora. Antes de definirmos o conceito de Império, porém, apresentaremos a compreensão negriana de conceito em si mesmo, bem como o débito que ela porta em relação às investigações de Deleuze e Guattari em O que é a filosofia?. Finalmente, esperamos com as ponderações acima apontar em Império um nome comum para a globalização. Palavras-Chaves: Antonio Negri, Império, Globalização 105 MARX E A EXPANSÃO DO "MUNDO DO CAPITAL"Carlos Emanuel Melo (UFBA) A nossa comunicação tem por objetivo apresentar uma reflexão introdutória sobre os Cadernos Etnológicos de Karl Marx (1881-82). Nesse texto Marx discorre sobre a globalização capitalista e o choque entre as culturas que resistiam à colonização europeia. Realizando uma análise que relaciona o seu conhecimento de história e antropologia, Marx adentra nos debates da filosofia contemporânea abordando as obras de alguns etnológos evolucionistas (Morgan, Maine, Phear e Lubbock) para demonstrar que o capitalismo era um fenômeno particular que estava se expandido para as culturas "não-ocidentais", causando a destruição das condições de produção e vida que ainda resguardavam os vestígios da condição da comunidade humana primitiva e que poderia servir como modelo de sociedade contra o etnocentrismo do imperialismo ocidental. Assim Marx discute as diversas interpretações sobre as comunidades primitivas realizadas pelos etnólogos evolucionistas nos mais diversos temas, desde família, relações de gênero, propriedade, moral, Estado, até a possibilidade de reconstrução comunista. Palavras-Chaves: Comunidades, Primitivo, Família 106 MARX E O PAPEL DA LITERATURA EM O CAPITAL Francisco de Assis Silva (UFBA) A discussão sobre a economia política na obra de Marx é o auge das suas investigações científicas, no entanto, ao realizarmos um exame mais apurado dos seus escritos, desde a juventude até a maturidade, constatamos a constante presença da literatura. As referências literárias não se restringem a um apêndice na obra de Marx, elas compõem e estruturam grande parte do quadro de suas análises. Ao longo das exposições realizadas por Marx em seus escritos a literatura é ressaltada mesmo em O Capital, obra assumidamente científica, cujo “objetivo final desta obra é descobrir a lei econômica do movimento da sociedade moderna.” Nessa obra são feitas referências a autores como Sófocles, Homero, Shakespeare, Goethe, Dante, Cervantes e Balzac. Entretanto, se a intenção de Marx era fazer uma obra científica, por que usou referências literárias? Qual é a função da literatura no projeto de crítica da economia política? Estes são os problemas que nortearão a nossa investigação. Palavras-Chaves: Literatura, Economia, Crítica 107 MEDIAÇÕES DE UM PENSAMENTO RIZOMÁTICO: SONORIDADE FILOSÓFICA NO APRENDER Ramires Fonseca Silva (SED-BA) O trabalho consiste em abordar pontos divergentes entre o pensamento rizomático elaborado por Gilles Deleuze e Félix Guattari e práticas pedagógicas predominantes na escola contemporânea que têm como núcleo a uniformização. Deluze e Guattari concebem a noção de rizoma como conexões heterogêneas que mobilizam o pensamento, sendo capaz de criar multiplicidades intensas no território do plano de imanência. Este fluxo dinâmico não tem um centro deliberador, pelo contrário, são linhas espalhadas, descentralizadas, o pensamento teria assim, uma relação constituída na exterioridade. Desse modo, pretende-se esclarecer a negatividade da recepção do pensamento deleuziano a propostas educativas de reduzir o pensamento à unidade dentro de um invólucro hierarquizado e compartimentalizado. Por outro lado, apresentar a tentativa de superação desta noção através da imagem rizomática do saber na qual é valorizado o aprender singular e autônomo. Trata-se, pois, de realçar, não como o pensamento educativo de Deleuze viabiliza resoluções para o fenômeno da educação, mas como algumas categorias deleuzianas podem ser pensadas sob a perspectiva dos processos educativos. Emergindo daí possibilidades de um aprender vinculado a singularidades. Logo, o foco desta comunicação estará em identificar os nexos possíveis entre o pensar rizomático e o fenômeno educativo. Palavras-Chaves: Aprender, Educação, Rizoma 108 MISTICA E INTERIORIDADE NA FILOSOFIA DE PLOTINO Thiago Felipe Lima da Mata (UFBA) Na filosofia mística de Plotino é apresentada uma concepção de realidade de um mundo sensível deduzido de um inteligível composto por três hipóstases ou realidades pensadas pelo filosofo a partir da leitura de alguns diálogos de Platão especialmente do Parmênides. Para Plotino todas as coisas são explicadas por meio do Uno ou Deus, principio gerador e causa de tudo quanto há. Por ser causa de si mesmo o Uno é simples, não contendo nada nele que seja de outrem. Por dar origem às coisas, ele se faz presente em todas elas não sendo necessariamente nenhuma delas. O transbordamento (próodos) do Uno ocorreu por vontade própria conforme é descrito nas Eneádas de Plotino. Justamente por sua vontade e bondade, o Uno não se contentou consigo e originou algo diferente de si: o Intelecto ou Nous. O Intelecto por sua vez, voltando-se para o Uno gera a Alma ou Psiqué que engendra todas as diversas coisas sensíveis do mundo. Destarte é a ‘unidade’ do Uno presente nas coisas que faz com que todas elas estejam relacionadas e interligadas. Assim, na metafísica plotiniana, é possível ao homem tomar consciência de sua verdadeira natureza (origem divina) e ter uma união mística com o Principio gerador, isto é o Uno. Mais do que qualquer caracterização religiosa, a filosofia plotiniana ao recorrer a ‘mística’ pretende ser uma resposta à questão ontológica da arkhé do homem. Alude ainda ao modo de como este deve se relacionar com o Divino afirmando que a sua finalidade é por excelência a união mística com o Uno. Desta maneira, para que logre êxito na busca por esta união, é necessária uma conversão (epistrophé). O que pode ser possível, segundo Plotino, buscado na sua própria interioridade. Palavras-Chaves: Neoplatonismo, Mistica, Interioridade 109 NIETZSCHE E O CONHECIMENTO Mônica Souza de Oliveira (UFBA) O propósito central do trabalho consiste em analisar a reflexão nietzschiana a respeito do conhecimento. Trata-se, em geral, de examinar a crítica do pensador alemão à ideia de que há um conhecimento exclusivamente teórico que nos possibilite um acesso à verdade objetiva. A partir de tal ponderação, Nietzsche rejeita o caráter transcendente do conhecimento, revelando que o ato de conhecer não passa de uma perspectiva ou uma interpretação humana acerca dos fatos. Tal consideração nos conduzirá a refletir sobre o aspecto “humano, demasiadamente humano” em que o conhecimento estaria condicionado, cumprindo um papel de manutenção e conservação da existência. Sob tal pensamento, o filósofo aborda a irrelevância da validade de um juízo, o que importaria, de fato, seria sua função de ser útil para a espécie, atendendo interessespuramente fisiológicos. Diante dessa reflexão, a filosofia nietzschiana sobre o conhecimento não seria apenas percebida num contexto crítico-negativo, mas também em face de profunda positividade, afirmando a vida como última instância para a construção de todo e qualquer conhecimento. Palavras-Chaves: Nietzsche, Conhecimento, Perspectiva 110 O BUDISMO: FILOSOFIA DE VIDA OU RELIGIÃO? Pablo Enrique Abraham Zunino (UFRB) Esta comunicação parte de um questionamento acerca da natureza do budismo: trata-se de uma filosofia, isto é, um estudo teórico que visa ensinar-nos alguma coisa sobre a vida ou de uma religião, ou seja, uma prática da fé cujo objetivo é atingir a iluminação na vida presente? Com base na análise de Bergson sobre a religião dinâmica, publicada na obra As duas fontes da moral e da religião (1932), podemos afirmar que o Buda, ao constatar o sofrimento da vida humana, identificou no desejo a causa desse sofrimento, apontando como caminho para a libertação a extinção desse querer-viver. Mas a convicção última não seria um estado intelectual ao qual se chega por meio do raciocínio e do estudo, mas uma espécie de visão. Por isso se diz que, no budismo, procura-se atingir um estado de iluminação, em que a alma se encontra para além da felicidade e do sofrimento, para além da consciência. Através de uma série de práticas que exigem gratidão, disciplina e assiduidade, é possível atingir o nirvana, a supressão do desejo durante a vida e do Karma depois da morte. O budismo, naquilo que tem de exprimível em palavras, pode ser tratado como uma filosofia, mas o essencial é a revelação definitiva, transcendente à razão como à palavra. Não se trata, portanto, de uma visão teórica, mas de uma experiência mística em que o êxtase provém do esforço por coincidir com o impulso criador. Contudo, na avaliação bergsoniana, o budismo não é um misticismo completo, porque não acreditou na eficácia da ação humana. Pretendemos indagar, então, até que ponto se sustenta essa avaliação, quando confrontada com as vertentes budistas atuais – sobretudo, o budismo japonês, no qual a prática e a ação se sobrepõem a esse caráter contemplativo destacado na obra de Bergson. Palavras-Chaves: Budismo, Filosofia, Religião 111 O CARÁTER INSTRUMENTAL DA VIOLÊNCIA E O PODER EM HANNAH ARENDT Reinaldo Batista dos Santos Filho (UFRB) Esse Trabalho se propõe a compreender o conceito de Violência no pensamento de Hannah Arendt a partir do ensaio Sobre a violência (1969). Há de se ter como enfoque a inequivocável distinção, feita por esta pensadora, entre poder e violência, e de que maneira a violência se constitui como sendo de caráter instrumental – uma vez que por instrumental entende-se todo armamento bélico em potencial para fazer a guerra – enquanto que o poder pressupõe ação em grupo. O implemento de armas é a condição necessária para a constituição da violência. O progresso ilimitado, defendido pelos hommes de lettres do século XIX, apresenta-se no século XX como o desenvolvimento do que já temos em algo melhor, maior, etc. E, segundo essa concepção, a história é considerada como um processo cronológico contínuo, em que o progresso é ademais inevitável. Porém, as imprevisíveis consequências do desenvolvimento bélico – como a destruição dos que se engajam no aperfeiçoamento de armas – coincidem com o progresso da ciência e estão em muitos casos levando ao desastre. Temos por objetivo responder, a partir dos elementos conceituais arendtianos, as seguintes questões: a) pode-se associar o desenvolvimento tecnológico com o “progresso” da humanidade? b) haveria alguma relação entre o tão sonhado “progresso tecnológico” e a constituição da violência? c) haveria alguma maneira de interromper o processo cronológico contínuo da história? Levando-se em conta a instrumentalização bélica e o progresso técnico do século XX, buscar-se-á, por intermédio desta investigação, um diálogo entre a obra da pensadora semita e a realidade política da atualidade. Palavras-Chaves: Violência, Poder, Tecnologia 112 O CINEMA E O TEMPO PRIMORDIAL Yves São Paulo (UEFS) O cinema parece ser constituído, antes de qualquer coisa, pelo movimento. Foi por meio da ação cinética de seu dispositivo que a arte foi nomeada. É verdade que o movimento é o que primeiro nos salta os olhos ao visualizarmos um filme, mas façamos uma brincadeira: imaginemo-nos numa sala de cinema. As luzes são apagadas, os créditos têm começo. De repente – encerrados os créditos iniciais – nenhuma imagem surge em tela. Tudo o que encaramos é a escuridão naquela janela. Sabemos que o filme se desenrola não pelo movimento, mas pelo tempo. Sinto a passagem do tempo e por isso sou capaz de afirmar de que o filme continua. É o caso de O cavalo de Turim de Béla Tarr, em que as imagens desaparecem da tela para ofertar-nos somente a audição das ações que já vimos os personagens desempenharem no restante do filme. Daí concluímos que a forma temporal no cinema é primordial, ou seja, anterior às suas demais formas – espaço e movimento. Mais que isso: é por meio da forma temporal que todo o resto do filme é desenvolvido. Para podermos desenvolver esta argumentação faremos um breve passeio pela filosofia e teoria de cinema para encontrar alguns pensadores que venham a dialogar com nosso pensamento diretamente. Palavras-Chaves: Cinema, Tempo, Ontologia 113 O CONCEITO DE AMOR EM SANTO AGOSTINHO Eliene Silva (UFRB) Os significados que o termo amor apresenta na linguagem comum são múltiplos, díspares e contrastantes; igualmente múltiplos díspares e contrastantes são os que se apresentam na tradição filosófica. Em meio a essas variadas definições encontramos a dada pelo filósofo medieval Santo Agostinho. Agostinho desenvolve sua teoria moral centrada nas normas do amor ordenado, que se encontra baseado no princípio cristão da divina ordem, e cujo papel essencial é desenvolvido pela vontade humana, a qual conhecendo a reta ordem através da razão, irá escolher, por um ato livre, viver ou não segundo tal ordem. Objetiva- se com este trabalho compreender como Santo Agostinho concebe o caráter antropológico do amor, uma vez que, segundo o Bispo de Hipona, o amor habita o ser humano, englobando a totalidade da pessoa, seus sentimentos, pensamentos e consequentemente a sua relação com os outros, constituindo valores que o faz aperfeiçoar sua existência e sua convivência social, sendo bom, justo e amável. Palavras-Chaves: Santo Agostinho, Amor, Ordem moral 114 O CONCEITO DEAURA NA FILOSOFIA DE WALTER BENJAMIM Cleiton Souza (UFBA) O presente texto tem por objetivo principal, realizar uma análise referente ao conceito de aura na filosofia de Walter Benjamim. A aura nunca revela a sua natureza, mas traz consigo características imprescindíveis como o distanciamento e a proximidade, a autenticidade e unicidade, destacando-se sua condição de exemplar único enquanto obra de arte, que oferece um pertencimento necessário, promovendo um vínculo capaz de transfigurar a realidade. O conceito de aura passou por algumas transformações, mas o repouso nas obras de arte permaneceu sendo seu atributo principal, mesmo depois de passar do campo religioso para o estético. As características centrais da aura permaneceram não sendo superadas, porém, terminaram por adaptar-se às mudanças técnicas, adaptação essa que ocorreu em torno da industrialização, ponto muito importante para a produção cultural no século XX. Benjamim vai destacar a impossibilidade da restruturação da experiência aurática apontando um enfraquecimento para a recepção dessa mesma experiência, ao passo que aumentava a dinâmica nas cidades, aumentava também a distância do sujeito com o objeto artístico, tudo isso porque a percepção dos indivíduos estava modificada. Palavras-Chaves: Aura, Distanciamento, Percepção 115 O CONCEITO DE LIBERDADE NA ÉTICA DE SPINOZA Erica Lopes de Oliveira (UESB) A presente comunicação visa tratar acerca do conceito de liberdade a partir do filósofo holandês Baruch de Spinoza. Este foi temido por muitos, devido aos seus pensamentos considerados heréticos na época, tanto que foi excomungado de sua comunidade judaica. Em 1675 concluiu a sua obra Ética, que só foi publicado após sua morte, ele descreve seu sistema filosófico, expondo através do método geométrico, os ideais éticos a serem seguidos pelo homem para que este seja virtuoso em suas ações, bem como a exposição acerca da natureza humana e dos afetos. Segundo Spinoza, o homem possui dois atributos que só pode ser concebido de Deus, um ser que ele apreende não levando em conta a religião, mas a razão. Estes dois atributos advindos de Deus são: o pensamento e a extensão, o primeiro compreende a mente e o segundo compreende o corpo. Spinoza vai tratar a respeito da união do corpo e da mente na qual o tema dos afetos são discutidos, principalmente na Terceira Parte da Ética, a qual intitula-se A origem e a natureza dos afetos. Portanto a ideia básica da presente comunicação é compreender o conceito de liberdade e sua relação com os afetos, na medida em que o filósofo vincula a liberdade à autopreservação da existência, defende a ideia de que o homem consegue determinar seus desejos, quando tem controle sobre seus afetos. Palavras-Chaves: Liberdade, Afetos, Corpo 116 O CONCEITO FREUDIANO DE PULSÃO E A IDENTIDADE EPISTEMOLÓGICA DA PSICANÁLISE: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA FILOSOFIA DE MARTIN HEIDEGGER Jilvania de Jesus Barbosa (UEFS- FAPESB) Caroline Ribeiro (UEFS) A obra que Heidegger se dedica a uma análise do legado freudiano intitula-se Seminários de Zollikon. Nesta obra Heidegger afirma que a psicanálise de Freud opera de acordo com os procedimentos da ciência natural. Para o filósofo alemão, Freud, ao conceber o psiquismo como um aparelho mobilizado por um jogo de forças pulsionais e presumir que a pulsão é uma força motriz no interior desta máquina psíquica, teria destinando ao homem um modo de tratamento similar ao que cabe aos demais entes naturais. Ao questionar o entendimento dos fenômenos humanos a partir de uma semântica fisicalista, Heidegger aponta que o homem deve ser pensado enquanto Dasein (ser aí), enquanto ente que não é passível de objetificação. Para o filósofo da floresta negra o conceito freudiano de pulsão padece de uma objetividade não-humana e confere à psicanálise uma identidade epistêmica afinada com a das ciências naturais. Se, por um lado, Heidegger assevera que a pulsão é um conceito construído a partir do molde das ciências da natureza, Freud, por outro lado, se refere à teoria das pulsões como sua mitologia e à pulsão como uma entidade mítica. Ora, se Freud diz que a teoria das pulsões é uma mitologia, por que Heidegger atrela-a a algo científico-natural? Apoiado em quais argumentos Heidegger coloca o conceito de pulsão como algo que está a favor de uma objetificação estrangeira aos modos de ser do Dasein? Com esta comunicação pretendemos levar a cabo tais questionamentos e problematizar se a psicanálise de Freud se alinha às ciências da natureza, como advoga Heidegger. Em suma: pleiteamos, com esta comunicação, explanar os resultados obtidos com a conclusão de nossa pesquisa intitulada: “O conceito freudiano de pulsão: uma análise heideggeriana”. Tal pesquisa contou com o financiamento da FAPESB. Palavras-Chaves: Freud, Heidegger, Pulsão 117 O CONHECIMENTO DOS COMPLEXOS E DOS SEUS ELEMENTOS NO TEETETO DE PLATÃO Gustavo Rafael Bianchi A. Ferreira (UNICAMP) Meu objetivo geral é analisar a discussão do final do Teeteto de Platão a respeito da definição de conhecimento como opinião ou crença verdadeira acompanhada de logos ou “descrição” (201c-210d). Ao discutir a definição, o personagem Sócrates apresenta uma teoria segundo a qual há coisas complexas e coisas elementares simples (que compõem as complexas), sendo que as complexas tem logos e podem ser conhecidas, mas as simples não tem logos e, portanto, não podem ser conhecidas (201d-202c). Minha análise aborda a refutação dessa teoria empreendida por Sócrates, especificamente o argumento teórico que ele apresenta em 202d-205e contra a tese de que os complexos são conhecíveis enquanto os elementos não são. O argumento tem a forma de um dilema cujas alternativas são: ou o complexo é idêntico a todos os seus elementos, ou ele é uma forma singular gerada a partir da união dos seus elementos. A conclusão de Sócrates é que, em ambas as alternativas, a distinção entre complexos e elementos em termos de cognoscibilidade não pode ser sustentada. Além de expor o argumento em detalhes, meu objetivo específico é mostrar que ele parece ser incorreto, e que seu problema é o emprego da premissa de que tudo o que tem partes é idêntico a todas as suas partes. Palavras-Chaves: Platão, Conhecimento, Relação Parte-Todo 118 O DEBATE ENTRE RORTY E DAVIDSON E UMA POSSÍVEL SUPERAÇÃO DAS DIVERGÊNCIAS ENTRE OS DOIS Hilton Leal da Cruz (IFBA) Um dos aspectos mais controversos da filosofia de Richard Rorty é o modo como ela incorpora de modo seletivo as ideias de outros autores. Esse aspecto, que o próprio Rorty denomina de “redescrição”, também representa uma das estratégias argumentativas mais utilizadas pelo filósofo e talvez a mais importante. Um dos autores cujas ideias foram objeto da “redescrição” rortyana foi o filósofo também norte Americano Donald Davidson. Minha comunicaçãovai apresentar alguns dos aspectos do debate entre Donald Davidson e Richard Rorty, tomando como ponto central as questões relativas à importância do conceito de verdade e a distinção entre o mental e o físico. Tais questões se tornam relevantes porque, embora Rorty subscreva com entusiasmo a maioria das doutrinas davidsonianas, a discordância sobre esses dois tópicos parece representar um obstáculo à tentativa rortyana de “alistar” Donald Davidson como um companheiro pragmatista que estaria, como ele mesmo, interessado em borrar a linha que separa a ciência da não-ciência. Minha comunicação vai explorar os pontos de divergência entre ambos os autores em relação a esses dois tópicos, bem como a tentativa de conciliação entre os dois, proposta por Bjorn Ramberg. No final ofereço um balanço do “ônus realista” que essa conciliação custaria para Rorty. Palavras-Chaves: Pragmatismo, Anti-essencialismo, Redescrição 119 O ERRO COMO “MOTOR DO CONHECIMENTO” SEGUNDO O PENSAMENTO EPISTEMOLÓGICO DE GASTON BACHELARD David Velanes de Araújo (UFBA) Gaston Bachelard em duas de suas grandes obras, a saber, em Essai sur la Connaissance Approchée (1927) e em La Formation de l`esprit Scientifique (1938) aborda a questão do erro na dinâmica do pensamento científico de forma inovadora trazendo um novo sentido. Com efeito, o fracasso é a possibilidade para que o indivíduo reconheça suas limitações. Ele exige sempre um novo esforço, e lentamente chega-se, por uma difícil retificação aos centros imóveis que representam a objetividade conquistada. Assim, o conhecimento é apresentado como algo sempre aproximado frente às retificações. O erro, portanto, é abordado pelo pensamento bachelardiano como um elemento necessário para o campo científico, como o motor do conhecimento e, com ele, os obstáculos epistemológicos podem ser vencidos, pois toda verdade se deriva de erros retificados. Afirma G. Bachelard que o problema do erro se apresenta como mais importante que o problema da verdade, ou seja, só encontra-se uma solução possível para o problema da verdade quando se afasta erros cada vez mais refinados. É ai que surge um novo sentido dado ao erro que não deve ser visto como um mal em si, porque visto em ótica inversa, abre-se a perspectiva da noção de um erro positivo, normal e útil. Neste trabalho, temos o objetivo de discutir esta noção bachelardiana acerca do erro e apontar como o autor indica na linha da objetividade como uma “psicanálise do conhecimento” deve agir a favor do conhecimento, pois essa psicanálise especial consegue por no espírito a capacidade de suprimir erros cada vez mais sedutores. Ela permite o reconhecimento dos equívocos do conhecimento interior e leva às retificações. Portanto, queremos por em destaque que é o erro que conduz o sujeito ao conhecimento, enquanto toda certeza deve ser colocada como suspeita de um obstáculo epistemológico. Palavras-Chaves: Erro, G. Bachelard, Conhecimento 120 O HOMEM COMO FIM SEGUNDO ARISTÓTELES EM FÍSICA II, 194A 33-35 Nélio Gilberto dos Santos (US-PARIS IV) Uma passagem difícil da Física de Aristóteles é objeto de uma imprecisão que se tornou comum nas traduções apesar da correção feita desde 1991 num trabalho de D. Sedley. Trata-se da passagem do livro II, 194a 33-35, onde Aristóteles afirma que o homem é fim das realidades naturais. Uma afirmação que não é mais presente no corpus, a não ser na controversa afirmação de Política I, 8. A maioria dos estudiosos prefere então conduzir a uma interpretação alternativa do trecho da Física, como o faz E. Berti, graças a uma tradução bastante questionável. Nosso trabalho consistirá, primeiro, em notar o problema de tradução do texto grego, assim que suas diferentes traduções, e principais interpretações para, enfim, buscar um sentido plausível desta afirmação do homem como fim, que esteja em consonância com a doutrina teleológica do restante da obra de Aristóteles (que não permite a leitura antropocêntrica de D. Sedley). Pretendemos mostrar que nesse trecho da Física, pressupondo a preservação do Cosmos como critério teleológico determinante, o Estagirita avança a importante ideia do uso, χρῆσις, como finalidade, para as realidades naturais. Palavras-Chaves: Aristóteles, Causa final, Teleologia 121 O IMAGINÁRIO NA LITERATURA DE HORROR DO SÉCULO XIX Ana Rita Santos Tabosa (UFBA) A chamada literatura gótica utilizava o universo sobrenatural como uma representação alegórica da realidade social característica desse período de transição. O horror funcionava como um resgate da magia e do sobrenatural, do irracionalismo em contraposição ao avanço da ciência e a crescente valorização da razão. Vampiros, lobisomens, mortos-vivos e fantasmas podem caracterizar variáveis essencialmente humanas e, por isso, cravadas no espírito de cada um. Os monstros e os fantasmas ganham o terreno do sobrenatural e alçam um lugar à parte na memória coletiva de um povo. Não se pode ignorar e nem subestimar o imaginário porque nele se alojam os recantos ocultos de um passado que exige idealizações temporais, fruto de buscas profundas e detalhadas e de remições. O imaginário se integra ao desejo e ambos constroem sonhos e fantasias que se vão acumulando por entre vivências próximas ou muito distantes. As clássicas histórias de horror dos romances góticos britânicos: Drácula, Frankenstein e O Médico e o Monstro são exemplos claros dessa síntese entre a crítica ao racionalismo e à supervalorização da ciência. Demonstram também uma angustiante busca pela verdadeira essência do ser humano. Palavras-Chaves: Horror, Romantismo, Imaginário 122 O LUGAR DO MITO E A FILOSOFIA Josiel Pereira Santos (UEFS) Nesta comunicação trataremos da questão do mito, do seu lugar e da filosofia, para tanto tomaremos como base o pensamento, dentre outros, de: Gerd A. Bornheim, Mircea Eliade, Danilo Marcondes. Os pressupostos do mito são consentidos no senso comum, tal qual a religião e as questões dogmáticas, por serem concebidas pela fé dispensando indagações ou mesmo critica às “teses gerais”. É imanente à filosofia a critica fundamental realidade que não se permite no “lugar do mito”. Propomos num primeiro momento, uma compreensão indispensável do mito; a relação existente entre mito e religião; bem como, requisitos essenciais para o surgimento da filosofia. Comumente entende-se por mito fabulas, Alegorias, Lendas, entretanto, o conceito de mito aqui abordado não postula tais concepções, mas, trata-se de uma linguagem primitiva para explicar os fenômenos da natureza que tem, basicamente, como conteúdo a cosmogonia. A religião trata das coisas sagradas: dos lugares sagrados, das pessoas sagradas, dos gestos e dos ritos sagrados, os quais, pressupõe um ‘religare’ aos deuses ou aos entes sobrenaturais, e, é através do sagrado que o mito é vivido. Palavras-Chaves: Mito, Religião, Filosofia 123 O MAR REVOLTOSO DAS CONTINGÊNCIAS João Lourenço Borges Neto (UFG) Agir predispõe se colocar em movimento. A cada movimento iniciado pela ação, cria-se um emaranhado de desdobramentos não mais pertencente ao iniciador. Estes podem, e provavelmente irão, influir, positiva ou negativamente, em sua vida como nas de demais pessoas. A cada nova ação, novos desdobramentos e novas consequências. A cada passo dado o mundo se descola, de modo que um novo movimento altera toda a ordem antes estabelecida. Parece-nos ser esta, portanto, uma leitura possível da música do compositor pernambucano Siba: todavez que um passo é dado, o mundo sai do lugar. Ora já seria assustador pensarmos o quanto estamos sujeitos à vulnerabilidade da fortuna estando a sós no mundo. Contudo, vivemos e nos relacionamos com diversos outros de nossa espécie. Estes, por sua vez, se relacionam com outros tantos. Assim, cada fio dessas relações constituirá o tapete de nossas relações interpessoais. E cada movimento novo iniciado, seja por nós ou por algum desses indivíduos, fará o mundo se mover. É nessa manta insegura, tecida por indivíduos e seus desejos conflitantes, que nos arriscamos a viver. Diante do que foi exposto até o momento, pretendo para este artigo pensar a ética e, por conseguinte, a ação a partir de um ponto de vista trágico, ou seja, exposta à vulnerabilidade da fortuna. Para tanto, nos apoiaremos nas concepções de Martha Nussbaum, no que tange a uma leitura ética da ação trágica, levando em conta suas considerações acerca das contingências internas e externas em que estamos sujeitados. Tentaremos, por fim, defender a hipótese de grandiosidade de uma vida exposta à fragilidade da fortuna, regada por todos os seus conflitos, perigos e suas incertezas. Palavras-Chaves: Ação, Contingências, Tragédia 124 O MARXISMO PÓS-OPERAÍSTA DE ANTONIO NEGRI Laio Sampaio Bispo (UFBA) O operaísmo (corrente ligada aos estudos marxistas, em meados do século XX, na Itália) tem como um de seus principais representantes o filósofo Antonio Negri. O pensamento político do autor, embora com relativas mudanças nas últimas décadas, consiste, ainda, em uma extensão daquilo que outro fora corrente em seus estudos, a saber, a reinterpretação de conceitos e categorias marxistas. Isso corresponde, fundamentalmente, à uma releitura dos Grunsdrisse, de Karl Marx. Negri é, certamente, um dos autores que empreende, com maior rigor, uma releitura da obra marxiana. Nesse sentido, pretendemos, com esse trabalho, abordar a leitura do conceito de General Intellect (intelecto geral), em ambas as obras, por entendermos a importância desse conceito na filosofia política contemporânea e nos modos de interpretação de uma ontologia social que se dá, sobretudo no contexto em que estamos inseridos, a partir de uma reapropriação do intelecto geral pelas formas de produção imaterial do capitalismo cognitivo. Nesse sentido, mobilizaremos conceitos afins às obras de Marx e Negri para entendermos a função política, social e ontológica do general intellect. PALAVRAS-CHAVEs: Antonio Negri, Marx, General Intellect 125 O MERCANTILISMO DA ARTE Maria Cândida Neres Batista (UFRB) A arte é essencialmente reprodutível, segundo Walter Benjamin. Contudo, muito embora a reprodução retire os elementos constitutivos da existência da arte (sua “aura”), a reprodução é incapaz de imitar o aqui e o agora de uma arte. Assim, partindo dos livros A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica de Walter Benjamin, e A Indústria Cultural de Theodor Adorno, desenvolveremos uma análise acerca das consequências da massificação da arte na sociedade atual e de como os meios de comunicação têm se apropriado da arte em função da obtenção de um poder que é ao mesmo tempo capital e político. Nesta perspectiva, o gosto vem sendo transformado com o objetivo de seguir um padrão capitalista, de modo que as influências se tornam muito mais importantes do que o próprio pensar. Este movimento, impulsionado pela indústria cultural, propaga valores cada vez mais alienados, deturpando a essência da arte, em função, unicamente, do lucro e do poder. Palavras-Chaves: Arte, Reprodutibilidade, Alienação 126 O MÉTODO CARTESIANO Apaoan Machado (UFBA) O método cartesiano é um conjunto de regras que tem como finalidade a orientação ou aplicação correta da razão. Os benefícios alcançados pelo método são: um conhecimento verdadeiro e firme, evitando o erro, economia mental e aquisição de saber num aumento gradativo. Desse modo, pode ser entendido como uma estratégia para a obtenção de um saber imune à falsidade. O método, segundo seu próprio autor, compreende as vantagens de três ciências paradigmáticas, ao tempo que é isento de suas respectivas desvantagens. Os três procedimentos científicos citados por Descartes são: lógica (entendida como parte da filosofia), análise dos geômetras antigos e álgebra dos modernos. Posto isso, é objetivo desse trabalho apresentar um breve comentário sobre tais ciências paradigmáticas, ressaltando a crítica cartesiana às suas desvantagens, incompatíveis com o método do próprio Descartes. Para esse fim, tratar-se-á da censura ao modelo de ciência demonstrativa de Aristóteles, ao papel excessivo da imaginação na geometria clássica e à mera manipulação cega do simbolismo algébrico. Palavras-Chaves: Método Cartesiano, Descoberta Científica, Simbolismo Algébrico 127 O NIILISMO E A CRISE DOS VALORES: A VIOLÊNCIA INSTITUCIONALIZADA NA CONCEPÇÃO NIETZSCHIANA José Marcos Menezes Santos (UESB) O presente artigo objetiva discutir a compreensão niilista na filosofia de Friedrich Nietzsche, e quais suas implicações para a existência “vida”. A ideia de valoração da moral é determinante para a concepção do niilismo. Para o filósofo o niilismo se põe em curso desde o platonismo antigo, por meio de um sistema de valor articulado pelo homem em suas relações sociais, que parte sempre de fora da natureza humana, por vezes enraizados na cultura torna-se o carrasco e o suplício da consciência existencial, elementos de sua degenerescência, que são princípios fundamentais para a violência institucionalizada, trazendo à tona o conflito interno, e a ruptura do animal com o super- homem. Considerando a questão exposta por Nietzsche de que o homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem. O propósito desta comunicação é analisar e investigar como ocorre esta crise dos valores, e a violência institucionalizada, e o processo de aprofundamento ou elaboração de si mesmo que faz com que o homem deixe a condição de animal para transformar-se em senhor de si mesmo. Espero que a temática no presente texto possa ampliar as perspectivas para a compreensão do tema proposto na filosofia nietzschiana. Palavras-Chaves: Niilismo, Valores, Homem 128 O PAPEL DO DIAGRAMA EM EUCLIDES E HILBERT Jean Marcelo dos Santos Faraoh (UFBA) De acordo com a concepção homogênea uma demonstração é uma sequência de passos tal que cada um deles é ou bem um axioma ou se segue de fórmulas anteriores na sequência por uma regra de inferência. No entanto, recentemente tem sido defendida a possibilidade de demonstrações heterogêneas que admitiriam a utilização legítima de recursos diagramáticos na demonstração. Na geometria, há dois autores que utilizam esses dois estilos de prova: David Hilbert, no livro Fundamentos da Geometria, Euclides, no livro Os Elementos. Na demonstração heterogênea, o diagrama pode justificar um passo da demonstração, diferentemente da demonstração homogênea, em que o diagrama apenas possui um papel psicotécnico, ou seja, apenas serve para ajudar na compreensão da demonstração. A explicação de alguns exemplos permitirá neste trabalho distinguir entre ambos os tipos de demonstrações. Na primeira seção, analisaremos a concepção homogênea de demonstração e na segunda seção, a concepção heterogênea. Finalizando, com certas considerações adicionais. Palavras-Chaves: Euclides, Hilbert, Diagrama 129 O PAPEL DO PRINCÍPIO DE PRAZER E O TATO EM CONDILLAC Morganna Vellozo Palhares(UFBA) O presente trabalho tem como objetivo examinar o papel do princípio de prazer e dor na orientação das experiências e desenvolvimento das faculdades mentais a partir da obra O Tratado das Sensações, de Etienne de Condillac, além de buscar também elucidar os alcances e limites da determinação do princípio de prazer na racionalidade teórica. Lançando uso metafórico de um adão epistemológico, Condillac anima uma estátua de mármore e (tal criador escafandro) tece sua análise genética sensualista da apreensão empírica do mundo. Rendendo-nos à poética da obra e salientando que, para Condillac, é o tato o único sentido do qual ao homem não se pode depurar (em dissonância à crença ocidental na primazia da visão), faremos uma investigação mais atenta acerca do papel do princípio do prazer e das sensações táteis na construção da noção de alteridade. Qualificada pelo autor em dois graus distintos de percepção, a partir da diferenciação entre as sensações e ideias proporcionadas pelas experiências táteis, o desenvolvimento da consciência de si configura o norte de investigação do trabalho. Palavras-Chaves: Princípio do prazer, Sensações táteis, Consciência de si 130 O PRINCÍPIO DO PRAZER NOS HOMENS E NOS ANIMAIS SEGUNDO CONDILLAC NA OBRA TRATADO DAS SENSAÇÕES Manuela de Araujo Barreiros Santos (UFBA) Em sua obra Tratado das Sensações, o abade de Condillac, Étienne Bonnot, mais comumente conhecido simplesmente por Condillac, objetiva mostrar e analisar como se formam e se originam no homem os mais diversos conhecimentos de que é capaz, assim como, com base em que as faculdades da alma ou as operações do entendimento são também formadas e como se originam. Para isto, o filósofo serve-se de uma alegoria constituída na figura de uma estátua de mármore que, estruturada assim como o homem, irá nos fazer refletir sobre como tais conhecimentos e faculdades se originam no homem que dispõe de todos os seus sentidos. Condillac limita a estátua primeiramente ao sentido do olfato porque acredita ser este o sentido que menos contribui para os conhecimentos do espírito humano. E assim, no decorrer de sua obra e de sua análise, acreditará ser o prazer e a dor os princípios das operações do entendimento na estátua, como também, aqueles que a levarão à todos os conhecimentos de que é capaz. Ademais, na primeira parte de sua obra, o autor afirma que através do exame da estátua limitada ao sentido do olfato é possível conhecer a classe dos seres cujos conhecimentos são os menos extensos. Portanto, seriam os animais também possíveis de sentirem prazer? Em caso afirmativo, quais semelhanças ou diferenças teriam os animais com os homens no que diz respeito ao principio do prazer? Palavras-Chaves: Prazer,Sensação,Condillac 131 O PROBLEMA DA HIPOSTASIAÇÃO DO ESTADO NO PROJETO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL DO MARXISMO SOVIÉTICO Cristian Arão Silva de Jesus (UNIVASF) Esse trabalho tem como objetivo analisar, sob a ótica de Herbert Marcuse, a relação entre o centralismo democrático proposto por Lênin e a burocracia estatal. Em sua análise da experiência e da teoria soviética, o autor afirma que a ideia de um Partido centralizado aos moldes do leninismo cria uma burocracia da onde nasce uma classe separada que controla o povo. Desse modo, o Partido substitui o trabalhador como agente da mudança social. Nesse modelo, a sociedade que surge após a mudança segue a mesma lógica de distanciamento entre os cidadãos e os dirigentes, que nesse caso já se encontram em simbiose com o Estado. Sendo assim, se mantém a separação entre Estado e sociedade civil, colocando a população apartada do controle e das decisões políticas. Nesse cenário o Estado se encontra hipostasiado, pois ele não corresponde à vontade da sociedade civil, e sim a uma trama entre as burocracias que se criaram. Palavras-Chaves: Estado, Marxismo soviético, Mudança social 132 O PROBLEMA DA INTENCIONALIDADE E SUA ESTRUTURA BÁSICA EM JOHN SEARLE Elsa Marisa Dal Lago (IFBA) Considerar a consciência como uma propriedade emergente é uma ideia atrativa para explicar sua existência e surgimento, porém não resolve, com os mesmos argumentos, outro problema tão complicado quanto o da sua existência, a saber: se a consciência é uma propriedade emergente, como explicar a sua incidência causal efetiva sobre a base ou no “substrato” que é a sua causa? Por outro lado, o emergentismo se mostraria insuficiente para explicar a subjetividade da consciência, um aspecto que permite a relação e representação com o resto do mundo. Os estados subjetivos incluem crenças e desejos, intenções e percepções, sentimentos, esperanças e, em geral, todas as formas diversificadas pelas quais a mente pode ser dirigida a, ou referir-se a objetos e estados de coisas no mundo e que se conhece com o nome genérico de intencionalidade. Nesse sentido, no que diz respeito a lidar com o mundo, a consciência está essencialmente ligada à intencionalidade. Por intencionalidade Searle entende a capacidade da mente a partir da qual os estados mentais se referem a, versam sobre ou correspondem a objetos e situações do mundo, à margem deles mesmos. Ou seja, se temos uma crença, é a crença de que algo seja o caso; se um desejo deve ser um desejo de fazer algo. O problema filosófico da intencionalidade surge a partir da necessidade de explicar como podem os pensamentos, integralmente “localizados” na mente, chegar até uma dimensão espaço-temporal fora de si mesmos. Ou, como pode um estado mental referir-se a, ou versar sobre algo além de si mesmo. Segundo Searle, na sua forma moderna, a intencionalidade coloca dois problemas: primeiro: como é possível a referencialidade ou direcionalidade; e segundo: como é que nosso cérebro ou nossa mente têm os conteúdos intencionais específicos que têm? Palavras-Chaves: Consciência, Intencionalidade, John Searle 133 O PROBLEMA DA REALIDADE E A RELAÇÃO COM O PROBLEMA DO CONHECIMENTO NA PERSPECTIVA FEYERABENDIANA Deivide Garcia da Silva Oliveira (UFRB) Defenderemos que estudar o problema do conhecimento científico parece requerer uma atenção ao problema da realidade. Assim, pese o que objetivamos, há na relação conhecimento científico e realidade um problema metafísico inevitável o qual, para um anarquismo epistêmico, é necessário manter vivo. Noutra mão, é dito que a ciência pode separar-se da metafísica. Muito prontamente, alguém diria: “não complique as coisas; todos sabem que a realidade em si é inefável e, por isso, apenas usamos o termo sem qualquer pretensão contrária”. Um exemplo é: “quando dizemos ‘aquilo é uma mesa’; não há qualquer intenção de afirmar a realidade última da mesa”. Todavia, quais as consequências de colocar a palavra e o uso de “realidade” num molde aparentemente tão simples? De qualquer sorte, é rotina fazer tais afirmações como se não fossem mais discutíveis, retirando do problema do conhecimento sua inerência à metafísica. Assim, numa sociedade tecnocientífica como a nossa, dado a ciência ser uma ideologia predominante, discutir a realidade fora de seus marcos parece regressão, pois a realidade científica não é posta num sentido epistêmico multiculturalista, senão que universalista e com isso suas asserções ganham um status de autoevidência realística. Em 1981 Feyerabend comentara sobre este tipo de interpretação (ou teoria geral do conhecimento) enquadrada por ele na classe positivista. Segundo a explanação do autor, não é incomum ouvir de filósofos contemporâneos à suposta inocente afirmação de que “a ciência,em última análise, destina-se a sistematizar os dados de nossa experiência” (p.17). Todavia, é preciso lembrar que o conhecimento, ao menos o humano, é bem mais complexo que isso e se vamos lidar com uma fórmula que cubra todos os campos do conhecimento, não são mínimas as chances de fracassarmos e de mecanizarmos algo não-mecanizável por ser multifacetado Palavras-Chaves: Anarquismo, Conhecimento, Realidade 134 O PROBLEMA DO MÉRITO COMO CRITÉRIO PARA A RECIPROCIDADE PROPORCIONAL SEGUNDO ARISTÓTELES Adriana Tabosa (UEFS) Para Aristóteles, os bens não devem ser igualados, mas ter como objetivo o meio-termo. A noção de “reciprocidade proporcional” em Aristóteles, não corresponde ao caráter igualitário, mas sim ao teor diferenciado de elementos que promovem a unidade, coesão e harmonia do todo, condições indispensáveis para manter a coesão social e econômica da cidade. Essa “reciprocidade proporcional” é baseada numa concepção de igualdade qualitativa e proporcional do mérito, e não numa concepção quantitativa e aritmética da igualdade (Et. Nic. V, 8, 1132b32 ss). Entretanto, estabelecer um critério fundamentado no mérito para a reciprocidade proporcional será um dos maiores problemas identificados por Aristóteles, pois apesar de todos os participantes de uma comunidade política parecer concordar que o justo em termos de distribuição deve sê-lo conforme o mérito, não chegam a uma conclusão de qual espécie de mérito. A partir dessas considerações pretende-se desenvolver uma breve análise sobre o problema do mérito como critério para a reciprocidade proporcional segundo Aristóteles. Palavras-Chaves: Aristóteles, Igualdade, Mérito 135 O PROBLEMA DOS CATÓLICOS PARA A SOBERANIA DO ESTADO EM LOCKE Mykael Morais Viana (UFS) O presente trabalho tem por objetivo expor os posicionamentos do filosofo inglês John Locke (1642-1704) com relação à participação dos Papistas, ou Católicos, no poder político. Locke buscou, através de suas obras, estabelecer diretrizes para a ação do Estado em sua relação com a Religião. Para ele, a tolerância religiosa é um elemento fundamental para a construção de uma boa sociedade e ela só poderá se estabelecer quando Estado e Religião forem esferas completamente distintas. Locke defende então que questões religiosas não devem ser legisladas pelo poder público. Porém, existem elementos na Religião que podem ser nocivos ao bom andamento da Sociedade. Um exemplo de elemento nocivo dentro da Religião é quando seus membros atribuem a si mesmos a soberania política fundamentada na infalibilidade de sua crença. Além disso, alguns religiosos afirmam que o líder da sua Religião tem poder político superior ao poder público. Para Locke, quando isso acontece, a soberania do Estado está em risco, pois os cidadãos recusam-se a submeter-se ao poder público, argumentando que a única autoridade possível é a religiosa. É por conta disso que Locke enxerga no Catolicismo a fonte de problemas para a organização política, já que ele acredita que os que seguem essa fé normalmente apresentam tal insubordinação e fanatismo. Apresentaremos aqui as principais razões de Locke para atacar o Papismo tendo como foco suas obras políticas, a saber: O Primeiro e Segundo tratados sobre o governo civil e a Carta acerca da Tolerância. Palavras-Chaves: Locke, Estado, Papismo 136 O PROBLEMA EPISTEMOLÓGICO EM DAVID HUME Ângelo Márcio Macedo Gonçalves (UEFS) Hume estabelece uma teoria do conhecimento de refinada importância para a investigação filosófica moderna, principalmente com a instituição de uma teoria das ideias com caráter novo, acentuando uma profunda análise sobre as noções de contingência, de experiência e de necessidade, moldando, desse modo, os princípios filosóficos do conhecimento humano. Admitimos que na obra de Hume se configura um projeto epistemológico específico, e nesse projeto há um lugar altamente importante para as noções de contingência, experiência e necessidade. Portanto, a presente comunicação pretende entender qual o projeto epistemológico de Hume e como é posta uma possível tensão entre uma postura cética e naturalista. É reconstituir a articulação conceitual pela qual contingência, experiência e necessidade são fundamentais para um projeto de uma epistemologia cética ou naturalista. Dentro desse quadro, cabe aqui investigar se as posições céticas e naturalistas são radicalmente diferentes e incompatíveis. Diante da dificuldade da compreensão dessa proposta de Hume, nosso propósito é fazer uma delimitação, isto é, destacar as três noções com as respectivas tensões entre elas, mostrando com isso o formato do quadro conceitual no qual sua epistemologia vai ser problematizada. Palavras-Chaves: Epistemologia, Hume, Lógica 137 O RISO EM NIETZSCHE E EM ESPINOSA Dayane Tosta Costa (UFG) Existe um mistério em torno da natureza do riso, Bergson (2007) aborda esse enigma como um “impertinente desafio lançado à especulação filosófica”. Apesar de ser um tema marginal, o riso sempre provocou o interesse de filósofos e pesquisadores que estiveram presos a essa problemática que sempre escapole para renascer depois tornando a investigação sempre acesa. O riso, portanto, é um assunto muito sério para ser deixado ao encargo dos comediantes. Ora vinculado às manifestações torpes, ora relacionado às valiosas imagens estéticas e éticas, o riso carrega em si uma ambiguidade. Espinosa aborda a questão da alegria como aumento da potência de agir; a filosofia do autor holandês é um exercício de afirmação da vida. Em virtude da potência do riso, esse tema ressurge na filosofia nietzschiana como condição fundamental para libertar o ser humano do peso da existência. Os leitores de A gaia ciência são advertidos logo no início do livro: “Vivo em minha própria casa, jamais imitei algo de alguém e sempre ri de todo mestre que nunca riu de si também” (2012). Para os propósitos desse texto será necessário elaborar um diálogo entre as concepções referentes ao riso e à alegria dos filósofos Espinosa e Nietzsche. Palavras-Chaves: Riso, Nietzsche, Espinosa 138 O SER COMO PHYSIS EM MARTIN HEIDEGGER Natan Luiz Neri de Sousa (UEFS) O termo grego “physis” é definido por Heidegger como “o vigor dominante que brota e permanece”, essa definição nos revela uma leitura do modo como eclodiu a filosofia com os gregos. Na abordagem heideggeriana, percebe-se que os gregos não experimentaram a physis limitando-a aos fenômenos naturais, como aponta a tradução corrente do latim (Natura), mas pela força de uma experiência fundamental com o ser. Dentro desse contexto, o trabalho procura elucidar a busca de Heidegger pelo sentido do “acontecer” em sua palavra de origem, trazendo outro viço para o termo physis e concomitantemente para o termo ser. Procuramos nos pautar na experiência exposta através da busca originária do termo pelo filósofo e, assim sendo, não se tratará de uma abordagem puramente etimológica, mas de uma investigação que persegue o caminho fenomenológico empreendido por Heidegger. Portanto, a presente comunicação tem o intuito de elucidar e trazer reflexões acerca do ser como “physis” em seu sentido originário, colocando tal questão como ponto de partida da busca pelo sentido do ser. Palavras-Chaves: Physis, Ser, Originário 139 O TEATRO COMO LINGUAGEM INDIRETA: NOTAS SOBRE A EXPRESSÃO ARTÍSTICA NO CAPÍTULO VI DA FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO DE MAURICE MERLEAU-PONTY Ybine Dias Correia (UFS)O corpo na filosofia de Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961) é uma potência de significação. Ele surge na obra do filósofo francês como expressão e evidenciação de um sentido no mundo, anteriormente invisível. Para o filósofo, a expressão artística traz um sentido nascente, um novo mundo, uma nova dimensão que, sem ela, jamais haveria de se manifestar. Com base nisso, pretendemos indicar que as características que fazem da literatura uma linguagem indireta, guardadas as devidas diferenças, são válidas para o teatro, visto que também o teatro é uma manifestação criativa. No teatro, o ator utiliza seu corpo para significar o que está representando, seu personagem. Ele é o que está significando, o signo o devora, o consuma. Ao utilizar os gestos – significações – cotidianos e convencionais, o ator os remaneja para transmitir o que direciona o texto dramatúrgico. Em nossa comunicação, pretendemos partir da leitura do cap. VI da fenomenologia da percepção (O Corpo como Expressão e a Fala) para mostrar uma extração dos elementos da teoria da expressão de Merleau-Ponty, na sua fase fenomenológica, que possibilitam olhar o teatro como expressão artística, baseada nos gestos do ator sendo, desta forma, suscetível de transmitir um sentido novo sobre o mundo, tornando-se um elemento constituidor e transformador da cultura. Palavras-Chaves: Expressão, Teatro, Linguagem 140 OS ANORMAIS: PRODUÇÕES DO PODER DISCIPLINAR EM FOUCAULT Viviane Rocha (UFRB) Esse resumo é parte integrante de um trabalho que pretende analisar as produções do Poder Disciplinar em Foucault. Sua análise parte das duas primeiras aulas do curso Os Anormais. Inicialmente, o autor apresenta dois relatórios de exame psiquiátrico em matéria penal e desenvolve uma retrospectiva histórica acerca da estruturação das provas legais até o século XVIII. Para a partir de então demonstrar como o saber científico-médico se alia ao saber judiciário, ou seja, como através de um diagnóstico o perito pode definir a culpa do individuo, por meio de um discurso moral, de verdade, que tem o poder de vida e morte. Para realizar o exame psiquiátrico o perito constrói uma retrospecção da vida do réu, buscando características e elementos que o assemelhem ao seu crime, ou seja, a análise do sujeito já estabelece uma relação entre ele e o delito praticado. Para Foucault existem dois desdobramentos do exame médico- científico; o primeiro quando o delito é qualificado por outros detalhes que não são o delito propriamente dito e o segundo reside no fato da lei não ter subsídios para a condenação de um indivíduo com distúrbios emocionais e baseia sua sentença no exame médico que ganha discurso de verdade e consequentemente uma definição de culpa. De tal modo, o discurso do exame tem efeito de poder para normalizar, padronizar, subjetivar, personificar e sujeitar. Portanto, Foucault denomina o exame médico-legal como grotesco e ubuesco, pois esta não é a finalidade do médico-psiquiatra. Ele se desqualifica na medida em que utiliza o exame de forma inadequada para produzir um discurso de verdade e poder, identificando os sujeitos não pertencentes à regra, que possuem desvio de conduta e não são apenas loucos, criminosos, indivíduos com falhas morais, mas anormais, ou seja, aqueles que não são apenas infratores, mas indivíduos que não se enquadram. Palavras-Chaves: Foucault, Anormais, Poder 141 OS EFEITOS DO EXERCÍCIO DO PODER NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR CONTEMPORÂNEA Evandro Salvador Miranda (PMA) A metamorfose na maneira de dominação dos corpos, presentes no século XVIII, acompanham as mudanças econômicas no decorrer da história. O suplício em praça pública, utilizado como punição do corpo físico, no período clássico até meados do final do século XVII, transforma-se em um método silencioso e psicológico de punição da alma. Passa-se a tocar o mínimo no corpo físico, em compensação o sujeito agora é enclausurado e observado diariamente. Suas ações são julgadas como atitudes morais, e seu corpo, não mais tocado pela instituição opressora, é corrigido à posturas normativas pelo próprio sujeito. Estas instituições são denunciadas por Michel Foucault como hospitais psiquiátricos, presídios e também as escolas e modelos pedagógicos que, exercendo os mecanismos de poder como a vigilância e punição, geram sujeitos rotulados às tendências e padrões que constituem a sociedade contemporânea. Pensaremos então no ambiente escolar como local formador do sujeito que exercerá esse poder, e da mesma forma sucumbirá a ele. Os mecanismos desse poder efetuam-se perante mecanismos disciplinares de controle social, e os reflexos que este exercício reproduz nas relações entre pessoas, em principal na nossa pesquisa a imagem do professor e do aluno, determinam o nível de controle que nossa sociedade contemporânea encontra-se. Palavras-Chaves: Filosofia e educação, Michel Foucault, Mecanismos de poder 142 OSWALD DE ANDRADE HERDEIRO DE HEGEL Rodrigo Ornelas França (UEFS) Ao analisarmos a obra de Hegel, podemos indicar duas estruturas teóricas que acompanham e fundamentam toda a sua filosofia: a Dialética e a Filosofia da História. É a partir dos desdobramentos e influências de ambas que percebemos o alcance de seu pensamento no ocidente, que compreende quase toda a contemporaneidade filosófica. Desse alcance não escapa o Brasil, onde Hegel também encontrará herdeiros, como é o caso de Oswald de Andrade. É Benedito Nunes quem sugere a divisão da obra de Oswald em três fases: 1) Antropófaga, 2) Marxista e 3) Filosófica. Entretanto, nas três fases é possível traçar a influência hegeliana sobre o autor. Na primeira, quando Oswald desenvolve sua ideia de antropofagia conceitual, é a antropofagia um processo de relação dialética, de ordem diferente da de Hegel, mas com fundamento similar – certa Aufhebung – na medida em que há preservação do outro na síntese antropófaga, com a diferença de que a síntese oswaldiana não representa um termo superior evolutiva- universalmente dos outros que o compõem – tese e antítese. Em sua fase marxista, Oswald adere politica e teoricamente à filosofia da história de Marx, de estrutura também hegeliana. Mas na sua fase filosófica Oswald assimila dialeticamente ambas as fases anteriores numa elaboração filosófica sintética, sugerindo uma Filosofia da História própria, composta de estruturas sociais ameríndias (como tese), europeias (como antítese) e a utopia do bárbaro tecnicizado (como síntese), desenvolvida pelo autor. Desse modo, Oswald cumpre certo programa teórico que nos possibiliza caracterizá-lo filosoficamente como um herdeiro de Hegel. Este trabalho pretende expor e discutir o pensamento de Oswald de Andrade como um tipo de hegelianismo, observando as consequências e limites dessa relação, bem como do seu uso em filosofia. Palavras-Chaves: Dialética, Hegelianismo, História 143 PARA PENSAR E VER WILLIAM KENTRIDGE: JACQUES DERRIDA Leíner Emanuella de Carvalho Hoki (UFMG) O objetivo geral desse trabalho é analisar parte da produção visual e teórica do artista sul-africano William Kentridge, a partir do pensamento desconstrutivo de Jacques Derrida. Mais propriamente, buscaremos nos ater à primeira das "Seis Lições de Desenho" intitulada "Elogio das Sombras", conferência proferida por W. Kentridge para o Charles Eliot Norton Professorship in Poetry da Universidade de Harvard, Cambridge, em 20 de março de 2012. Nessa série de palestras, o artista faz uma revisão de seus 30 anos de trabalho no ateliê. Da primeira lição, portanto, serãoanalisados três núcleos de questões: a recusa ao logocentrismo e a afirmação da primazia da imagem; o cavalo de papéis recortados e as questões do suporte; e ainda, W. Kentridge desenhando as palavras, falando o que não está escrito. Com esse propósito, instrumentalizaremos o pensamento derridiano, em principal, sua crítica ao logocentrismo, a primazia dos "debaixos" da pintura e a preservação da materialidade da imagem. Nesse sentido, retomaremos a leitura desconstrutiva que Jacques Derrida faz de Husserl em "A voz e o fenômeno" (1967), na qual o autor frisa o apagamento e a neutralização das instâncias materiais da significação na teoria husserliana, através da exclusão do índice. Perpassando esses apontamentos, buscaremos então acompanhar o desenvolvimento de William Kentridge, no tocante de sua reflexão sobre seu trabalho em ateliê pelo prisma do pensamento de Jacques Derrida. Palavras-Chaves: Jacques Derrida, Desconstrução, William Kentridge 144 PARADOXO ÉTICO DA AUSÊNCIA DE OUTREM EM ALBERT CAMUS José Lourenço Araújo Leite (UFBA) Paradoxo Ético da Ausência de Outrem em Albert Camus. Não querer se assemelhar a nada é, para Camus, igualmente, assemelhar-se às pedras. Identificar-se com o que há de mais insignificante na história da humanidade civilizada. O seu ponto de partida é a própria natureza repleta de todos os elementos que a integram e a fazem manter-se como o que ela é. Desse modo, o problema da moral humana não irá, segundo ele, estar submetido a algo de alheio ao mundo natural, nem extemporâneo a ele. A conduta humana adquire sentido a partir do que se vive sob a égide do Sol. O cotidiano, por conseguinte, catalisador dos efeitos dessa mesma natureza, adquire uma supremacia se, por analogia, pressupuserem-se causas internas aos atos morais. O teor metafísico de sua Ética do Absurdo é identificado a partir da brisa da existência que paira em meio aos paradoxos confrontados pelo homem contemporâneo, isto é, a Ética do Absurdo é o “estranho olhar” que permite ver o absurdo do mundo defronte do cotidiano. Ora, se a filosofia grega limitou o desejo através da razão, logogizando-o a uma forma em que os valores éticos pudessem ser instaurados, o tempo atual é, nada mais, salvo engano, um tempo em que se busca restaurar os desejos de forma pura, destituídos de todo e qualquer impureza gerada pela razão; num tipo de niilismo da racionalidade, própria da modernidade contemporânea. Desse modo, assim como Camus aponta os valores preexistentes na cultura grega, hoje, os fundamentos dos valores encontram-se no agir. Palavras-Chaves: Outro, Ausência, Camus 145 PENSANDO A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA CONTEMPORÂNEA: UMA ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE O ATO DE IDEAÇÃO E A IDEIA DE HOMEM SEGUNDO MAX SCHELER Maiara Rúbia Miguel (PUC-CAMP) A pergunta sobre o que é o homem está contida na história da filosofia e existem diferentes tradições que tentaram sanar essa questão, pois é a admiração e a interrogação inquietante de um problema que move um filósofo que por meio de sua curiosidade e rigor sistemático – próprio da filosofia –, desenvolve um tratado filosófico e influencia toda uma geração de pensadores. O filósofo contemporâneo Max Scheler é um desses homens que inquieto com o que havia sido pensado sobre a antropologia filosófica, se propôs a investigar as tradições e desenvolveu um belíssimo trabalho, publicado pela primeira vez em 1928, intitulado “A posição do homem no cosmos”. Nesse tratado, pôde ser observado por Scheler que somente a filosofia não daria conta de responder a questão: o que é homem? Por isso, trabalhou no horizonte de que a disciplina deve ser desenvolvida com o auxílio das ciências naturais, e desse modo destacou a diferença entre o homem e os outros seres da vida anímica, e, além disso, sublinhou a diferença essencial entre os homens e outros seres a apontando o ato de ideação como característico. Sendo assim, essa comunicação tem como objetivo compreender o modo como ele encara essa diferença e desenvolve uma reflexão na tentativa de resolver tal problemática, bem como é articulada as ciências naturais com a filosofia. Palavras-Chaves: Ato de ideação, Homem, Antropologia filosófica 146 PERCEPÇÃO E CINEMA EM MAURICE MERLEAU-PONTY Josemary da Guarda Souza (UFRB) O presente trabalho, recorte da monografia de mesmo título, pretende analisar de que modo o cinema está presente nos estudos de Maurice Merleau-Ponty e como, a partir da obra Fenomenologia da Percepção, é possível realizarmos os desdobramentos necessários para a compreensão do cinema como uma potência filosófica que nos faz imergir no mundo e nos outros. As noções de sensação, sentido e corpo, contidas na construção da percepção merleau-pontianas, aliadas aos estudos da psicologia Gestalt, mostram o cinema não como um modo de filosofar, tampouco como expressão de pensamentos humanos, mas antes e primordialmente como expressão de comportamentos do modo de estar no mundo. A partir especificamente da conferência proferida por Merleau-Ponty sobre cinema em 1945, O cinema e a nova psicologia, é possível traçar o percurso para a compreensão de como o filme percepciona-se e de que modo isto ocorre. A escolha de Dogville para tratar a noção de percepção em Merleau- Ponty, justifica-se, em primeiro lugar, pela sua peculiaridade em relação ao cenário, com poucos recursos, casas sem paredes, apenas com riscos no chão. As casas sem estrutura física externa nos remetem a uma interioridade do outro, que no filme é evidenciada pela privacidade da vida doméstica que não é tão privada assim, uma vez que toda a vila conhece os dessabores vividos pela personagem Greice que, de certo modo, é o outro de todos os demais personagens da película. Além deste aspecto, em Dogville a função da visão, de extrema importância para a experiência perceptiva proposta pelo filósofo francês, é reforçada por esta simplicidade do cenário e permite a análise da relação vidente-visível de forma mais contundente. Deste modo, consideraremos o filme não só como reprodução de imagens, mas como o elemento que recria o arcabouço da nossa relação com mundo e com os outros. Palavras-Chaves: Percepção, Cinema, Merleau-Ponty 147 PERCEPÇÃO E SIGNIFICAÇÃO ESTÉTICA NA MÚSICA Luize Santos de Queiroz (UFRB) É muito fácil concordar que o sentido musical é indissociavelmente perceptivo. O que se apresenta como música, ou seja, a aparência musical, bem como o seu sentido corporificado, não pode ser entendido de outro modo se não por um esforço de abstração. Neste sentido, tomando como base a fenomenologia de Maurice Merleau- Ponty se faz possível tomar a arte, e em especial a música, ou o sentido musical, de forma consistente embora o mesmo pouco tenha se dedicado a exploração da mesma. Desse modo, ao tomar o que podemos compreender como uma abordagem fenomenológica da arte, que tende a resistir à abordagem comumente estabelecida pelos que se dedicam a explorar a música como objeto, que é a tendência de se elaborar estudos que procuram responder a perguntas como: o que é a música; ou o que ela simboliza, nos dedicaremos a descrever como ela é ouvida ou experimentada a partir de um processo corpóreo e perceptivo. Neste trabalho, será abordado como a significação estética da música, em suas nuanças melódicas espaço-temporais se apresenta e se configura, através do ato perceptivo. Em seguida, será feita uma análise de duas notas inéditas sobre a música publicada postumamente, do filósofo Merleau-Ponty. Palavras-Chaves: Percepção,Significação, Música 148 PERSUASÃO E RETÓRICA Claudiano Avelino dos Santos (UNIFESP) No diálogo Górgias de Platão tem-se a impressão de que ele descarta a retórica da atividade filosófica. No entanto, um estudo mais demorado nos faz indagar se ele não descarta a retórica totalmente, mas valoriza muitos aspectos, especialmente a persuasão. O que Platão faz aí é, dentre outros, que a retórica não é proprietária da persuasão, pois ela também faz parte de outros saberes estabelecidos, e assim pode também fazer parte do saber em construção que se chama filosofia. De fato a persuasão pode ser utilizada para enganar, como faziam os sofistas e outros profissionais do logos em Atenas e em outras cidades gregas, mas no processo de ensino, de discernimento a respeito de qualquer tema, a persuasão é necessária e não pode ser descartada. Em seu diálogo com o personagem Górgias, Sócrates ajuda a delimitar a retórica, não sem criticar o modo como ela era aplicada na política de Atenas, mas salvaguarda o essencial dela, que é a persuasão. Palavras-Chaves: Retórica, Persuasão, Diálogo Górgias de Platão 149 PETER GEACH E O "PONTO DE FREGE" Igor Lucas Adorno Santos (UFBA) Peter Geach, em Assertion (1965), apresenta o que chama de "Ponto de Frege", a alegação de que uma proposição pode ser compreendida e possui um valor de verdade mesmo que não tenha sido asserida, como recurso contra os filósofos de Oxford. Estes defendiam que o valor de verdade de "sentenças", ao invés de proposições (que recusavam) só poderia ser estabelecido com seu uso em um contexto apropriado. Geach argumenta, em linhas gerais, que se o valor-de-verdade de proposições só pode ser estabelecido se estas forem asseridas, frases complexas como Condicionais não possuiriam valor-de-verdade. Condicionais são funções-de-verdade, ou seja, o valor-de- verdade da frase complexa depende do valor de verdade das frases simples que a compõem. Se suas frases simples não podem ser determinadas como verdadeiras ou falsas por não estarem sendo asseridas, a frase que compõem também não teria valor- de-verdade. A posição de Geach tornou-se um forte obstáculo para posições Não- Cognitivistas como as dos filósofos de Oxford e pretendemos, na presente comunicação, exibir tal cenário. Palavras-Chaves: Asserção, Não-Cognitivismo, Peter Geach 150 PODER DISCIPLINAR E CORPO EM VIGIAR E PUNIR Rafael Azevedo (UEFS) O presente artigo pretende examinar a relação do poder disciplinar com o corpo em Vigiar e Punir. A fim de investigar a importância dessa relação, poder disciplinar e corpo, investigaremos como Michel Foucault distanciando-se da teoria clássica do poder, propõe uma análise do poder como microfísica, isto é, uma análise que não procura entender o poder como sendo imanente de um ponto de totalização e centralização, mas mediante a dispersão do poder nas mais diversas relações. Apesar disso, Foucault não pretende lançar uma nova teoria sobre o poder, mas pretende analisar a produção de sujeitos mediante o investimento político sobre os corpos. Esse investimento do poder disciplinar sobre o corpo e suas forças está voltado para uma economia de maximização de sua utilidade e docilidade. Deste modo, nem mesmo o Estado detém a primazia enquanto lugar do poder, mas o poder circula de diversas maneiras através de seus dispositivos e instituições com a acuidade e minucia necessárias para a normalização dos sujeitos. Palavras-Chaves: Poder, Disciplina, Corpo 151 PODER E VIOLÊNCIA NO PENSAMENTO POLÍTICO DE HANNAH ARENDT Laiane Almeida Teles (UFRB) Este texto pretende analisar a reflexão empreendida por Hannah Arendt (1906-1975) acerca dos fenômenos do poder e da violência que se apresentam de forma sistematizada em seu ensaio Sobre a violência de 1968/69. A distinção entre poder e violência constitui-se, pois, em tema central do pensamento político arendtiano, que teve como motivação sua reflexão sobre os conflitos políticos da época. Trata-se de um texto escrito em um contexto de revoltas: rebelião estudantil, movimentações políticas da “nova esquerda”, confrontos raciais, guerra do Vietnã, entre outros. A sua pretensão era fazer uma reflexão filosófica sobre tais acontecimentos e a partir disso contestar a tese de que poder e violência são sinônimos e que o fundamento do poder seria a violência. Segundo Arendt, o poder é inerente a toda comunidade política e resulta da capacidade de agir conjuntamente. Por outro lado, a violência é instrumental e se funda na categoria meio-fim. Portanto, poder e violência são assuntos distintos: quando um se afirma absoluto, o outro desaparece. Analisando suas ideias, tentaremos pensar junto com a Arendt o sentido que esses dois termos têm. Palavras-Chaves: Poder, Violência, Hannah Arendt 152 POR UMA FILOSOFIA PESSOANA Paulo Giovani Lins (UEFS) Criador de vários heterônimos e produtor de poesia e prosa singulares, Fernando Pessoa realizou profundas críticas à contemporaneidade e soube tecer um diagnostico contundente do nosso cotidiano. Dentro dessa efervescência intelectual, o poeta manteve contato com várias vertentes do pensamento. Entre elas a Filosofia. A presente comunicação parte da seguinte indagação: Será Pessoa criador de uma filosofia? Tentaremos entender em que medida pode a referência a filosofia na obra do poeta lusitano ser considerada uma reflexão original, ou seja, um pensamento filosófico próprio. Ou então uma reflexão do lúcido que desesperadamente procura despertar os sonâmbulos das ruas. Tarefa que não será fácil. Outro ponto que diz respeito ao assunto tratado, mas que terá aqui uma abordagem marginal, é a estreita relação entre a Literatura e a Filosofia, as eternas senhoras que juntas discutem a muito sobre os rumos do mundo. Para tal intento, utilizaremos como obra de base o Livro do Desassossego do poeta português. Palavras-Chaves: Fernando Pessoa, Filosofia, Literatura 153 POSSÍVEL MUDANÇA NO PENSAMENTO CARTESIANO, ENTRE AS EDIÇÕES DE 1641 E 1647 DAS MEDITAÇÕES: UMA INTERPRETAÇÃO A LUZ DOS OLHOS DE MICHELLE BEYSSADE. Amanda Ataide Santos (UEFS) Michelle Beyssade, pesquisadora e comentadora de Descartes, aponta que a publicação francesa do texto original latino, Meditações Para a Filosofia Primeira, que em francês passa a se chamar, Meditações Metafísicas, não é uma tradução fiel ao texto original, Michelle apresenta passagens dos dois textos, onde ela acredita que Descartes aproveitou a publicação da edição francesa para fazer algumas alterações em seu texto, e até mesmo correções sob influência de uma possível mudança de pensamento. A pesquisadora defende em seu texto, A doutrina da liberdade de Descartes, diferenças entre os textos francês e latino da quarta meditação, a hipótese de uma possível “auto- correção” feita pelo autor, na quarta meditação da publicação francesa de 1647. Nossa pesquisa pretende investigar as edições da obra de Descartes e principalmente as passagens apontadas por Michelle Beyssade, a fim de analisar o pensamento cartesiano e a possível mudança desse pensamento, que a pesquisadora aponta em seu texto. Palavras-Chaves: Descartes, Michelle Beyssade, Mudança de Pensamento 154 PRESENTISMO, ETERNALISMO & AGOSTINHO DE HIPONA Aislan Alves Bezerra (UEFS) Nesta comunicação, a filosofia do tempo de Agostinho de Hipona (354-430 d.C) será apresentada e interpretada à luz da primária característica da análise investigativaagostiniana da percepção do tempo, a saber, o caráter dinâmico e estático do movimento do tempo sob o prisma filosófico do presente momentum (momento presente) no desenvolvimento original da investigação do livro XI da clássica obra “Confissões” (397-400 d.C). Analisaremos a partição do "presente momentum" em seu caráter estático e dinâmico, bem como sua intrínseca relação ao plano dimensional da eternidade, atemporal e Celestial, que, de acordo com Santo Agostinho, causa a marcha do passado, presente e futuro em nossas percepções temporais subjetivas e ilusórias (psicológicas) neste mundo material. Sobretudo, o objetivo de nosso trabalho é investigar o significado do presente momentum nos principais trechos do livro XI, e o estatuto ontológico (em detrimento do caráter estritamente psicológico) da percepção de movimento e repouso do presente momentum na teoria agostiniana. Palavras-Chaves: Subjetividade Ontológica, Teoria do Tempo, Presentismo 155 QUAL O VALOR DO CONHECIMENTO? Felipe R. L. Santos (UFBA) O chamado “problema do valor” é um problema que aparece originalmente no diálogo Menon, de Platão. A pergunta central deste problema é: Por que o conhecimento é mais valioso do que a mera crença verdadeira? Afinal, tanto o conhecimento como a mera crença verdadeira de certo modo garantem os mesmos resultados práticos. Tanto alguém que sabe o caminho para o aeroporto como alguém que apenas acredita verdadeiramente qual é o caminho – mas não sabe por não ter justificação/garantia/razões – serão bem sucedidos ao chegar ao aeroporto. Nesta comunicação pretendo investigar algumas soluções contemporâneas ao problema do valor, assim como as novas formulações deste problema, e pretendo demonstrar que estas soluções falham em solucionar adequadamente ao problema do valor. Em seguida, pretendo apresentar uma nova solução ao problema que não segue a mesma abordagem das soluções recentes e que tem como vantagem poder mostrar que o conhecimento possui uma característica universal e que esta característica explica a intuição de que o conhecimento possui um valor distinto e objetivo em comparação com outros estados epistêmicos como a crença verdadeira. Palavras-Chaves: Conhecimento, Epistemologia, Problema do Valor 156 QUALIA: UMA INTRODUÇÃO Ana Beatriz de Lima Correia (UFC) A proposta deste texto é apresentar, dar uma noção geral do que é que entendemos por qualia e por que alguns filósofos apontam esse conceito como problemático. A ideia de qualia está presente principalmente nas discussões no âmbito da filosofia da mente. Compreendido basicamente como a qualidade da experiência, os qualia são propriedades subjetivas onde só é possível a partir de uma perspectiva de primeira pessoa obter essa qualidade da experiência. Apresentamos geralmente alguns exemplos de qualia como a sensação de, que é intrinsecamente associado a sensações físicas, a sensação de sentir uma dor, de experimentar uma cor, sentir um sabor. As qualia só podem ser conhecidas por meio da introspecção. Alguns filósofos rejeitam a noção de que eles são propriedades da experiência. Sobretudo, existem várias correntes que argumentam sobre a ideia de qualia, mas vou delimitar e esclarecer alguns pontos da perspectiva do dualismo de propriedade e do materialismo. Palavras-Chaves: Qualia, Dualismo de propriedade, Materialismo 157 RAZÃO E AGÊNCIA EPISTÊMICA Ana Margarete Barbosa de Freitas (UFBA) Em geral, dizemos que seres humanos são agentes racionais, pois agem intencionalmente, tem razões, consciência reflexiva, são livres e responsáveis pelos seus próprios atos. Diferente dos outros animais – que também são conscientes, automoventes e possuidores de faculdades perceptivas, sensitivas e cognitivas –, os seres humanos apresentam autoconsciência. Desse modo, seres humanos são considerados agentes epistêmicos, isto é, seres com i) a capacidade de formar crenças de segunda-ordem, justificando e garantindo suas crenças através do escrutínio reflexivo; e ii) aptos a oferecer razões para as suas ações, pois eles teriam considerados seus estados de primeira-ordem e escolhido livremente o curso dos seus atos – nesse caso, seus atos não podem ser o resultado de impulsos, instintos, reflexos, etc. A literatura recente em filosofia tem trazido contribuições que contestam o valor da reflexão para a aquisição de conhecimentos sobre o mundo (justificação) e para a condução de ações (razões). Filósofos, como Hilary Kornblith, têm afirmado que nós não deveríamos ser tão entusiásticos sobre o valor da reflexão e que os filósofos que defendem uma perspectiva diferente desta pertencem a uma tradição que valoriza e compreende mal o papel da reflexão humana. De modo que a consciência reflexiva é fundamental para a compreensão da noção de agência epistêmica, o objetivo deste trabalho é analisar a confiabilidade da atividade reflexiva na satisfação dos objetivos epistêmico, defendendo uma perspectiva que sustenta uma noção fraca de agência epistêmica, exigindo um critério mais intersubjetivo que subjetivo para a sua definição. Palavras-Chaves: Reflexão, Agência Epistêmica, Naturalismo 158 RELAÇÃO CONJUGAL NA ÉTICA ANTIGA A PARTIR DE MICHEL FOUCAULT Ana Lucia Santos (UEFS) No presente texto abordaremos a relação conjugal e suas disparidades na ética antiga, para tanto será necessário que analisemos o uso dos prazeres buscando compreender a relação homem/mulher. De início perceberemos que o que caracteriza a ética antiga é uma relação de si mesmo, é a possibilidade de um sujeito que é mestre de sua própria conduta, sujeito que sabe quando convém ou não praticar determinado ato. É essa prática de si, esse conhecimento de si que permite entender o porquê do uso dos prazeres ser considerado o mais violento entre os prazeres, o qual constitui um domínio privilegiado para a formação ética do sujeito. Uma forma de entender esse cuidado de si, é analisando o casamento e a relação conjugal. No aforismo do Contra Nera o prazer não é encontrado no casamento, só nas relações fora do casamento, sendo a finalidade do casamento reproduzir. Nesse aforismo homens e mulheres tem papeis diferentes, de um lado, as mulheres, enquanto esposas, tem a obrigação de ter como único parceiro o marido, tendo toda e qualquer atividade sexual no interior da relação conjugal. As mulheres encontravam-se sobre o poder do marido, dando-o herdeiros e cidadãos legítimos. Ao analisar a ética antiga, à primeira vista podemos observar a necessidade de uma separação entre os prazeres, as paixões e o casamento. No entanto, essa ideia de separação não resume o que era a ética antiga. Isso porque, podemos notar possíveis disparidades, no que diz respeito a esses princípios: por um lado os cidadãos eram conduzidos a viverem com a ideia de que o homem tinha a liberdade perante o uso dos prazeres, fora do casamento; por outro, alguns moralistas defendiam que os homens deveriam mudar seus hábitos após o casamento. Palavras-Chaves: Relação Conjugal, Prazer, Ética Antiga 159 RESPONSABILIDADE MORAL SEGUNDO ARISTÓTELES Debora Souza de Almeida (UFBA) A presente comunicação tem o intuito de examinar o tema da responsabilidade moral presente na obra aristotélica Ética Nicomaqueia. Nesta obra percebemos que a noção de responsabilidade moral se sustenta no conceito da ação voluntaria que, por sua vez, tem como base a noção de “estar sob o poder” do agente. Cabe-nos então responder os seguintes questionamentos: quais são os critériospara se determinar uma ação como voluntaria? Será que eles são suficientes para se atribuir a responsabilidade moral àqueles que agem voluntariamente? Dessa maneira verificaremos se a ação voluntaria é uma condição necessária para se atribuir a responsabilidade da ação sobre um agente, e se a involuntária se estabelece como o único tipo de ação que isenta o agente da responsabilidade moral e em alguns casos, são dignas de perdão e piedade. Destacando os possíveis problemas que a noção de voluntariedade pode gerar ao ser estabelecida como a condição única e suficiente para responsabilização moral. Com isso tentaremos entender em que sentindo a noção de “estar sob o poder” do agente fundamenta o conceito de ação voluntaria, manifesta o controle do agente sobre seu agir e expressa a liberdade de agir. Para isso devemos examinar os pontos que além de revelar o autor da ação, apresenta o agente responsável e a justificativa dessa atribuição da responsabilidade, tornando possível as medidas de elogio e cesura ou punição e exortação como consequência da responsabilização, uma vez que para aplicação destas medidas é preciso ter como parâmetro as ações voluntarias. Palavras-Chaves: Responsabilidade, Moral, Ação 160 RICOEUR E A QUESTÃO DA MEMÓRIA NO PENSAMENTO DE PLATÃO Elton Moreira Quadros (UESB) Apresentamos a perspectiva de Platão sobre a questão da memória, recorrendo à concepção interpretativa de Paul Ricoeur. Dois pontos são abordados de maneira mais explícita: a relação entre memória e conhecimento e a importância do tempo. Nesse sentido, a busca pela origem grega de uma concepção de memória, poderá nos fazer reinaugurar novas perspectivas para a compreensão atual da questão da memória. Ricoeur tem como primeira tarefa, ao proceder à investigação sobre a memória, enfrentar a distinção entre memória e imaginação. Por isso, realiza uma retomada dessa problemática e, como seria de esperar, estamos lançados em uma discussão crítica sobre o pensamento Platão que apresenta uma visão em que memória e imaginação podem confundir-se. O pensar sobre a memória passa por uma perspectiva muito mais ampla que põe em cheque o próprio sentido do humano, quer em seu olhar sobre o mundo, quer no voltar-se para si mesmo e para o outro. A memória não constitui somente uma técnica, mas, especialmente, um reconhecer-se e um posicionar-se sobre as questões da realidade mesma. A perspectiva platônica sobre a memória encontra muitas aporias, no entanto, para Ricoeur, a que proporciona mais dificuldades é a falta de um destaque à questão do tempo. Talvez por estar sempre posta em momentos que Platão discute o erro, o engano, a falsidade, a memória apresenta-se desde o início, no pensamento do autor do Teeteto, sob o véu da desconfiança, ou melhor, sobre “o cunho da suspeita”. Palavras-Chaves: Memória, Platão, Ricoeur 161 RUSSELL SOBRE LEIBNIZ: A PREEMINÊNCIA DA FORMA DA PROPOSIÇÃO SUJEITO-PREDICADO E A QUESTÃO DA REDUTIBILIDADE DAS RELAÇÕES Murilo Garcia de Matos Amaral (UFBA) Neste evento, apresento a interpretação de Russell sobre Leibniz em Exposição Crítica da Filosofia de Leibniz quanto à questão da preeminência da forma da proposição sujeito-predicado e quanto à questão da redutibilidade das relações. O objetivo é mostrar de que maneira a interpretação de Russell sobre Leibniz é importante para o desenvolvimento de sua filosofia do atomismo lógico. Russell defende que o compromisso de Leibniz com a doutrina lógica que diz que “toda proposição verdadeira atribui um predicado a um sujeito” impõe a condição de que todas as relações são redutíveis a adjetivos. Por conseguinte, Russell defende que esta condição implica uma série de contradições e que, portanto, não podemos seguir confiando na ideia de que as proposições relacionais são redutíveis à forma sujeito-predicado. Veremos que, a partir da crítica à Leibniz, Russell atualiza seu posicionamento sobre a doutrina das relações internas e discute a questão do estatuto ontológico das relações, defendendo que relações são entidades reais, e não meramente mentais. Palavras-Chaves: Russell, Atomismo lógico, Estatuto ontológico das relações 162 SARTRE E A LIBERDADE: UMA CRÍTICA DO DETERMINISMO FREUDIANO Rosaly Ramos de Morais (UEFS) Em uma análise acerca da noção de liberdade em Sartre, podemos direcionar a investigação à exposição intitulada por Sartre em O existencialismo é o humanismo, na qual o filósofo propõe a responsabilidade como fio condutor de nossas escolhas, explicitando o primeiro princípio do existencialismo: “o homem nada mais é do que aquilo que se faz de si mesmo”. Neste âmbito, o homem é o único responsável por seus atos e escolhas, postulando-se que a existência precede a essência. É nesta máxima que está inserida nossa total responsabilidade no que somos e ainda o que representamos enquanto humanidade. Neste contexto, Sartre vai tecer quatro vertentes concernentes ao homem, a saber; a angústia no que o homem é remetido a escolha, esta de ter que decidir de ter liberdade para tal sem ter sinais concretos do que é certo, ainda o desamparo e a má fé, estes são os elementos constituintes da liberdade; logo, nenhum ato ou decisão não pode ser considerado como um ato isolado, e mesmo este sendo concebido, como um ato de má fé, ainda assim não deixou de ser uma escolha e é neste contexto que a má fé reflete a angústia no homem de ter que escolher. Desta postura existencialista, Sartre vai questionar a psicanálise de Freud, criticando o que Freud concebe como o ser humano dotado de um inconsciente, ao passo que Sartre afirma que o que somos é o que decidimos enquanto reflexo da humanidade, sem que haja um inconsciente determinando as escolhas. Para Sartre, no instante que decido refletir acerca destas questões, eu empreendo uma consciência de meu ato, logo, minhas escolhas não são determinadas mediante um conhecimento a priori. Palavras-Chaves: Liberdade, Responsabilidade, Determinismo 163 SOBRE A LIBERDADE NA FILOSOFIA MORAL DE KANT Cleide Servilha Couto (UFBA) Esta comunicação tem o objetivo de demonstrar como Kant define a liberdade, no âmbito moral. A ideia de liberdade para Kant está condicionada a mais dois conceitos, que são a necessidade e a vontade, ambas influenciam de maneira diferente a vida do homem, enquanto agente. A necessidade é responsável por suas ações na natureza, ou seja enquanto fenômeno e a vontade influencia o agente através da razão. Para Kant, a necessidade é a heteronomia da natureza, as regras que norteiam o mundo sensível, a experiência. Enquanto a liberdade é a autonomia da vontade, uma espécie de causalidade do ser racional. Pois, para Kant o homem é parte natureza, empírica e parte inteligência, inteligível. No entanto, o indivíduo age de maneira necessária por causa da natureza ou de forma livre seguindo apenas a sua essência livre? Para resolver esta questão é necessário esclarecer os conceitos de caráter empírico e inteligível, e é fundamental explicar o imperativo categórico e a sua possibilidade. Palavras-Chaves: Liberdade, Necessidade, Vontade 164 SOBRE A NOÇÃO DE MORAL EM FOUCAULT Dioclézio Faustino (USP) Na célebre Introdução ao volume II da História da Sexualidade, Foucault diz que há, ao menos, três maneiras de se fazer uma história da moral e quem se dispuser a fazê-la deve, pois, levar em conta as três realidades que a palavra moral recobre; o que resultaria, por conseguinte, em: (i) uma história das moralidades, aquela que estudaem que medida as ações dos indivíduos ou grupos são conformes ou não às regras ou valores propostos por diferentes instâncias; (ii) uma história dos códigos, aquela que analisa propriamente os diferentes sistemas de regras e valores que estão em jogo em uma sociedade ou em determinado grupo; e, por fim, (iii) uma história da maneira pela qual os indivíduos são chamados a se constituir como sujeitos de conduta moral, neste caso, a análise histórica incidirá sobre a instauração e o desenvolvimento das “relações a si”. Foucault enfatiza que esta última modalidade é o que propriamente se poderá chamar de uma história da ética e da ascética, entendidas como história das formas da subjetivação moral e das práticas de si, e é, portanto, o que ele pretende fazer. Ora, sobre esse tema, há um notável artigo de Paul Veyne, Le dernier Foucault et sa morale, no qual ele assinala o caráter problemático de uma moral de estirpe foucaultiana, Veyne escreve que “Foucault tinha uma concepção da moral tão particular que o problema é: no interior de sua filosofia, uma moral de Foucault seria possível?”. Portanto, partindo do quadro de significações da palavra moral descrito na História da Sexualidade e do problema apontado por Paul Veyne, tratarei, nesta comunicação, de alguns elementos para a compreensão da noção de moral em Foucault. Palavras-Chaves: Moral, Foucault, História 165 SPINOZA E A FÍSICA Claudio de Sousa Rocha (UFERSA) Por acreditar na relevância da filosofia de Spinoza para compreensão de fenômenos científicos/políticos/sociais contemporâneos, defendemos a tese da atualidade da filosofia spinozista, particularmente da sua metafisica. Neste sentido, esta comunicação aponta para uma aproximação entre filosofia e a física teórica, de forma que nosso objetivo é compreender a teoria das variáveis ocultas de David Bohm (1917-1992) com base na metafisica de Spinoza. De fato, defendemos a hipótese de que a metafisica de Spinoza é compatível com a interpretação determinística da física quântica elaborada por Bohm. Desta hipótese maior seguem-se outra: A teoria das variáveis ocultas de Bohm está em conformidade com a compreensão determinista de Spinoza sobre a realidade. Partiremos do pressuposto já defendido por Ponczek (2009) de que a postura epistemológica assumida pelo chamado “realismo spinozista” possibilita a compreensão pelo recurso da metafísica de certas questões cientificas. Dentre estas possibilidades de convergências, constatamos que são escassos estudos que apresentem leitura e interpretações spinozistas do novo modelo de realidade proposta por Bohm e sintetizada em sua obra A Totalidade e a Ordem Implicada. Então nossa questão de pesquisa é como identificar a convergência entre a ontologia spinozista e a teoria da ordem implicada expressa na totalidade do universo, mais precisamente na teoria das variáveis ocultas? Palavras-Chaves: Spinoza, Metafisica, Fisíca 166 NOTAS SOBRE O CONCEITO A-COM-TECER A PARTIR DO TEMA GESCHICHTLICHKEIT EM HEIDEGGER Leonardo Silva (UNEB) O presente artigo pretende ampliar a compreensão do conceito de a-com-tecer. Esse termo de base filosófica foi cunhado por Inês Carvalho e recebe uma nova grafia na tese em educação de Rosane Vieira. O estudo encontra aproximações desse termo com o pensamento proposto por Martin Heidegger, com recorte no texto Was ist das – die Philosophie? de 1955. O sentido dado pelo pensador da floresta negra ao tema da Geschichtlichkeit é o fio condutor. Presente na raiz da palavra através do radical Geschehen, o a-com-tecer se articula enquanto destinação do ser. Adentrando nos fundamentos ontológicos, percebe-se o terreno que o conhecimento é constituído. Com essa chave de leitura adentramos os fundamentos ontológicos, buscando ampliar a compreensão do ‘a-com-tecer’ e percebermos sua densidade filosófica. Se é possível formular uma argumentação, a dinâmica formativa está assentada na destinação do ser. O modo de compreensão do homem obedece a um destino, ou seja, é transmitido enquanto legado. Sendo assim, o a-com-tecer seria uma repetição no momento do presente do que supostamente é passado, a fim de exaurir seu conteúdo fundante. O modo de compreensão é comunicado enquanto legado não enunciativo. Palavras-Chaves: A-Com-Tecer, Ontologia, Filosofia 167 TRANSCENDÊNCIA E LIBERDADE NO ENTORNO DE "SER E TEMPO", DE MARTIN HEIDEGGER Charleston Silva Souza (UEPA) Na literatura especializada, o tema da “metafísica do Dasein” aparece apenas recentemente, fundamentalmente através de uma seletiva e cuidadosa análise de François Jaran, “La métaphysique du Dasein: Heidegger et la possibilité de la métaphysique”. Para Jaran, o projeto que segue o tratado de 1927 tem por finalidade o esclarecimento das perspectivas abertas pelo mesmo (Ser e tempo), mostrando que uma recepção em termos antropológicos tende a sufocar aquilo que estava em jogo no projeto de uma ontologia fundamental. Ao seguir o caminho aberto pelas análises de Jaran, assim como de Fernando Rodrigues, “Heidegger e a metafísica do Dasein (1927- 1930): uma interpretação à luz dos conceitos de liberdade, vínculo e jogo da vida”, procura-se alargar o entendimento segundo o qual a metafísica do Dasein amplia e radicaliza análises do tratado ao retomar um tema apenas indicado em 1927, aquele que afirma um vínculo de base entre o Dasein e o ente na totalidade. Sendo assim, surgem duas temáticas no entorno de “Ser e tempo”: 1) o problema da recepção e 2) do alargamento, se se pode dizer, do projeto concernente à ontologia fundamental. Desta forma, pode-se dizer que já a partir de “Os problemas fundamentais da fenomenologia” Heidegger se ocupará, concomitantemente, de seus críticos e de seu próprio pensamento, desconstruindo a imagem de sua recepção por um lado e, por outro, construindo aquele projeto de alargamento em termos de uma transformação (metabolé) metontológica da ontologia fundamental. Palavras-Chaves: Transcendência, Metafísica, Liberdade 168 TRATADO DOS ANIMAIS: INCOERÊNCIA, DIFERENTES PERSPECTIVAS OU APROFUNDAMENTO DA TESE INICIAL? UMA ANÁLISE DESSAS TRÊS ALTERNATIVAS Mariana Moreira da Silva (UFBA) O objetivo do presente trabalho é apontar três possíveis vias de interpretação para o texto condillaciano, a saber, o Tratado dos Animais (1755). Nesta obra, Condillac dá prosseguimento ao projeto iniciado no Ensaio sobre a Origem dos Conhecimentos Humanos (1746), qual seja: “... o estudo do espírito humano; não para descobrir sua natureza, senão para conhecer suas operações” (CONDILLAC, 1999, p. 14), o qual foi aprofundado no Tratado das Sensações (1754) no sentido de apenas se deter naquilo que pode ser observável empiricamente. Sendo assim, também no Tratado das Sensações o filósofo restringiu a sua análise ao âmbito do mental, uma vez que as sensações transformam-se – em última e primeira instância – em ideias e capacidades. Em conformidade com este mesmo pensamento, no Tratado dos Animais Condillac nos diz que não pretende tratar da natureza dos animais por reconhecer a esse respeito toda a sua ignorância. Desse modo, ele restringe mais uma vez o campo da sua investigação à observação das faculdades provenientes da sensação. Todavia, Condillac declara: “... se nós pudéssemos penetrar na natureza dessas duas substâncias (alma humana e alma animal), nós veríamos que elas diferem infinitamente. Nossa alma não é, portanto, da mesma natureza que a dos animais” (CONDILLAC, 2004, p. 182). Ora, como um filósofo empirista radical, como o denominaMonzani, pode tecer considerações acerca da natureza da alma dos seres vivos? A referida afirmação chave que norteará o presente trabalho não se resolve sem dificuldades. A partir dela trata-se de saber se Condillac é incoerente com a sua tese inicial, se ele a desdobra em diferentes perspectivas ou se apenas a explicita e a aprofunda. Palavras-Chaves: Natureza, Faculdades, Sensação 169 UM DIÁLOGO ENTRE FOUCAULT E ARTUR BISPO DO ROSÁRIO: PENSANDO A LOUCURA E A AUSÊNCIA NA OBRA Evanildo Couto dos Santos (UFRB) A presente comunicação tem por finalidade, apresentar um diálogo entre o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), que nos convida a pensar as faces da loucura a partir do conceito de ausência da obra de Artur Bispo do Rosário (1909-1989), cuja vida fora marcada pelo trágico e o artístico em uma das maiores expressões de arte contemporânea, produzida por um sujeito classificado como louco no Brasil. Para Foucault, a loucura ocupou por muito tempo o espaço da indecisão entre a ação e a linguagem, completa ainda o autor que loucura é a linguagem excluída que pronuncia palavras sem significação. Diante disso, se faz possível pensar a experiência da loucura em Foucault como meio para analisarmos a passagem de Artur Bispo do Rosário por um manicômio e a sua experiência trágico-artística expressada através de bordados e criações de peças do cotidiano que lhe renderam comparações a artistas como Marcel Duchamp e Van Gogh. Com isso, o maior objetivo a ser exposto consiste em buscar compreender o conceito de ausência da obra em Foucault e de que modo tal reflexão imprimiu suas marcas na vida e na obra de Artur Bispo do Rosário. Palavras-Chaves: Foucault, Ausência da obra, Loucura 170 UMA BREVE ANÁLISE DA NATUREZA DO PRAZER NO II TRATADO DO PRAZER Tatiana Souza Correia (UFBA) Na Ética Nicomaquéia há dois momentos que Aristóteles trata da natureza do prazer, no livro VII (capítulos 11-14) temos o I Tratado do prazer e no livro X (capítulos 1-5) temos o II Tratado do prazer. O objetivo deste texto é analisar o conceito de prazer apresentado no II Tratado do prazer, assim, pretende-se demonstrar que neste tratado Aristóteles apresenta uma definição do prazer mais precisa e independente das opiniões anti-hedonistas que julgam o prazer como o mal. Como Aristóteles já assegurou no I Tratado que o prazer é um bem, no II Tratado não vemos uma preocupação em refutar a concepção anti-hedonista. No livro X, parece que sua preocupação é evitar que o prazer seja afirmado como o Bem Supremo, visto que, tanto o prazer quanto a eudaimonia são atividades desimpedidas, por isso, neste tratado, o alvo de suas refutações é a opinião hedonista de Eudoxo de que o prazer é o bem. A definição do prazer no II Tratado é dada a partir da distinção entre movimento e atividade, pois, para Platão o prazer é um movimento e um vir a ser e, para Aristóteles, o prazer é uma atividade. No livro VII, ele já define o prazer como uma atividade, mas não estabelece que tipo de atividade seja o prazer. No livro X, ele define o prazer como uma atividade acompanhante de outra atividade, por isso, a definição do prazer vai muito além desta distinção entre movimento e atividade; pois, definir o prazer como uma atividade acompanhante de outra atividade permite classificar o prazer em espécies, tendo em conta, que cada atividade tem o seu prazer próprio. Assim é possível delimitar a qualidade do prazer de acordo com a qualidade de suas atividades correspondentes, visto que, há diferentes espécies de atividades e, portanto, diferentes espécies de prazer. Palavras-Chaves: Prazer, Dor, Bem 171 UMA BREVE INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE ANGÚSTIA NA FILOSOFIA EXISTENCIALISTA DE SARTRE José Américo Soares Neto (UEFS) A presente comunicação tem o objetivo de examinar o conceito de angústia na filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre (1945). A filosofia sartreana trata o homem situado no seu contexto existencial, sendo um ser que é liberdade de escolha, o homem sendo livre para escolher, ele se angustia, pois ele sabe que precisa escolher para si e para os outros e, quando ele se furta disso, acaba agindo de má-fé. Na filosofia de Sartre o homem será aquilo que ele decidiu ser ao seu modo de ser, é um sair em direção às decisões, é um poder ser, é existência, pois não há uma essência pronta e definida. A existência se caracteriza por um verdadeiro correr riscos, é incerteza, decisão, é estar se construindo a todo o momento, é uma reinvenção constante. O existencialismo se articula em contínuo exercício de análise da existência e das relações da existência humana com o mundo e das coisas e o mundo dos homens. A comunicação está respaldada na obra O existencialismo é um humanismo. Palavras-Chaves: Sartre, Angústia, Homem 172 UMA REFLEXÃO ÉTICA ACERCA DO USO DE ANIMAIS EM EXPERIMENTAÇÕES CIENTÍFICAS Ronildo Alves Brito (UFCG) O século XX, além de ter sido marcado pelo uso de animais em práticas experimentais, também foi marcado pelo crescente debate sobre o bem-estar animal e as questões relacionadas à ética em sua utilização com finalidade didático-científica. Nosso texto objetiva-se em apresentar uma reflexão ética acerca dos direitos pertinentes aos animais, bem como esclarecer algumas concepções sobre a relação entre os seres humanos e os animais. Neste tipo de abordagem utilizaremos informações e avaliações presentes no debate filosófico relacionado ao assunto, especificamente, as considerações feitas pelo filósofo contemporâneo Peter Singer. Percebemos que as preocupações acerca do uso de animais em experimentações científicas têm se mostrado frequente nas discussões acadêmicas, políticas, sociais e científicas, no intuito de encontrar possíveis alternativas para os problemas emergentes. Portanto, afirmamos que se faz necessário pensar alternativas para substituir o uso de animais em experimentação científica, pois enquanto seres racionais que somos, precisamos exercer uma postura ética, seja na nossa relação com os demais membros de nossa espécie, seja na relação com membros de outras espécies. Palavras-Chaves: Ética, Experimentação científica, Animal 173 UMA RELEITURA DA DUALIDADE DE HERÁCLITO A PARTIR DO DISCURSO DE ERIXÍMACO DO BANQUETE Enrique Bruno Lima Martins (UFCA) A obra de Platão, intitulada O Banquete, traz um encontro entre Agatão, Fedro, Aristodemo, Pausânia, Erixímaco e Socrates, o diálogo entre eles tinha como tema o Amor (Eros). A narrativa baseia-se em uma conversa entre Apolodoro que foi interrogado por Glauco a fim de inteirar-se a respeito dessa discussão. As falas apresentadas trazem o tema imposto ao debate de diversas formas. Erixímaco, personagem e um dos oradores, coloca o Eros como duplo. Ao mesmo tempo contesta o que havia sido colocado por Pausânia sobre a Afrodite Pandemia, desconstruindo a aparência de vulgar e banal que lhe tinha sido dada. Indo além, e ainda usando como exemplo as duas Afrodites e a argumentação de contrários, Erixímaco cita o fragmento de Heráclito em que o filósofo usa como exemplo o arco e a lira para colocar sua ideia de contrários harmônicos. Ele propõe uma nova interpretação sobre a passagem, fazendo uma releitura sobre o que foi dito por Heráclito. Nesta comunicação pretendo fazer uma análise dos pontos convergentes e divergentes das duas opiniões a respeito da harmonia dos contrários, já que foi daí que o contraponto foi levantado. PALAVRAS-CHAVEs: Banquete, Dualidade, Releitura174 UTILITARISMO Jorge Luis da Silva Santos (UFBA) As bases para a concepção da moral utilitarista se instituem a partir da noção de natureza humana do individuo. Dessa noção, nascem os alicerces do princípio de utilidade. Tal princípio estabelece a supremacia de dois “senhores soberanos” que regem a conduta humana: dor e prazer. A existência desses dois instrumentos tem seu fim na condução das nossas ações, mostrando-nos, pois, o que devemos fazer e o que de fato faremos. Ademais, de um lado, um padrão de certo e errado se nos apresenta com força renovada e constante; do outro, a natureza nos impõe as leis das causas e efeitos. Tudo isso servindo como elemento para nos conduzir na busca pelo maior prazer e menor dor. Esse é o princípio [maior prazer e menor dor – princípio de utilidade] que se funda como regra do Utilitarismo, contribuindo para a formação dos conceitos morais dos utilitaristas Jeremy Bentham e Stuart Mill. Deste modo, o fim desse trabalho visa apresentar noções do sistema teórico utilitarista, dando atenção às idéias dos referidos autores, sem eximir-se de investigar possíveis questionamentos presentes nesse sistema moral. Palavras-Chaves: Utilitarismo, Prazer, Dor 175 VOLTAIRE E ROUSSEAU: APONTAMENTOS ACERCA DA RELIGIÃO NATURAL Pedro Miguel Sousa Santos (UFRB) A Modernidade traz à baila a questão da Religião natural, que parece permear boa parte de sua tradição filosófica, que anseia pela construção da autonomia do entendimento, na qual a filosofia possa ser construída com rigor, livre da tutela e das causas finais das religiões positivas. De Rousseau a Voltaire e vice-versa, a religião deverá se apresentar à análise crítica da razão que, de antemão, se apresentará como contrária a todo dogmatismo. Assumindo este contexto, a pesquisa demonstrará como as ideias de Voltaire e Rousseau influenciaram-se nos propósitos da religião natural. O recorte da comunicação advém da parte de Rousseau da Profession de foi du vicaire savoyard onde é tratada a abrangência da religião natural na vida dos homens e, sobretudo, na educação do Emílio. E, de Voltaire os verbetes do Dicionário filosófico Teísmo e Religião. Ambos os filósofos, deram suas contribuições ao Esclarecimento de seu século e à posteridade, porque junto ao anseio de toda filosofia iluminista de retirar da metafísica uma determinação pétrea, as suas filosofias debateram no que tange à religião: de uma maneira ou de outra se tentou em Rousseau converter todas as possíveis religiões reveladas à rubrica da religião natural; e em Voltaire, principalmente, converter os desmandos do cristianismo católico numa religião de tolerância e respeito. A lição de ambos, segundo Cassirer, é a noção de que “mais profundamente hostil que toda religião possa ser em relação às outras, nenhuma tem, contudo, o poder nem a vontade de romper completamente os vínculos que a unem à religião natural”. Palavras-Chaves: Rousseau, Voltaire, Religião Natural