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6 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco MEDIDAS CAUMEDIDAS CAUTELARES NÃO PRISIONAIS E TELARES NÃO PRISIONAIS E LIBERDADE PROVISÓRIALIBERDADE PROVISÓRIA 1 . iNtroDuÇÃo ao teMa1 . iNtroDuÇÃo ao teMa As medidas cautelares diversas da prisão e liberdade provisória compõe um importante e recorrente tema nos concursos, por serem objetos de ampla aplicação prática em várias carreiras jurídicas. Por isso, você precisa conhecer em detalhes os principais aspectos do tema, e ainda dominar aqueles pontos mais explorados pelas bancas de concursos. A liberdade, como um direito fundamental garantido pela Constituição Federal de 1988, deve ser preservada ao máximo, devendo a prisão do cidadão ser sempre a última ratio, ou seja, a última opção viável dentre o rol de escolhas disponíveis no caso concreto. Por outro lado, não se pode deixar de observar a necessária aplicação de medidas, ainda que alternativas, que tenham o poder de, efetivamente, evitar danos maiores durante a investigação ou até mesmo na condução do processo penal. Neste sentido, as medidas cautelares surgem como instrumentos que possibilitam ao magistrado a escolha por providências mais ajustadas (observando-se cada situação concretamente enfrentada) de modo a evitar a própria mácula do processo penal, bem como mitigar os riscos de danos ao patrimônio e às pessoas. Nessa aula/PDF, vamos aprofundar, especificamente, no estudo das medidas cautelares diversas da prisão, inclusive a liberdade provisória, como alternativas à prisão, mediante requisitos e hipóteses legais, de modo que você compreenda a sua razão de existir, a forma, quando e como devem ser aplicadas. Vamos explorar as alterações promovidas no Código de Processo Penal pela Lei n. 12.403/2011, e analisaremos à fundo as modalidades de liberdade provisória, com e sem fiança, sob a ótica do entendimento dos tribunais e em concomitância quanto à forma como esse tema é cobrado pelas bancas nos concursos das principais carreiras jurídicas. Ao final, como é de praxe, traremos muitas questões para auxiliar na fixação do conteúdo e te proporcionar o contato com a forma pela qual a matéria é cobrada nas provas. Então, vamos nessa? Concentração a partir de agora! 2 . MeDiDas CauteLares De NatureZa PessoaL 2 . MeDiDas CauteLares De NatureZa PessoaL PreVistas No CPPPreVistas No CPP As medidas cautelares diversas da prisão estão previstas no art. 319, do Código de Processo Penal (CPP), e foram inseridas nesse diploma normativo pela Lei n. 12.403/2011, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 7 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco que ampliou de maneira significativa o rol previsto em lei, com a finalidade de proporcionar aos magistrados, alternativas que substituam a prisão com menor dano para a pessoa humana, mas com similar garantia da eficácia do processo (BRASILEIRO, 2016). Assim, o Código de Processo Penal passou a prever 09 (nove) medidas cautelares diversas da prisão, conforme podemos observar na leitura do artigo 319 do referido diploma normativo: Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). II – proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). III – proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). V – recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). VI – suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). IX – monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). § 1º (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011). § 2º (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011). § 3º (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011). § 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). Importante lembrar que, tendo em vista a sua natureza cautelar, essas medidas não possuem efeito automático em mera decorrência da prática de infração penal. A sua aplicação deverá sempre ser condicionada aos seguintes requisitos: • Fumus comissi delicti (indício da autoria e materialidade do crime); • Pelo menos uma das hipóteses previstas no art. 312 do CPP, que autorizam a prisão preventiva. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 8 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Em sua análise cognitiva sobre cada caso, quando o magistrado entender serem cabíveis tanto a prisão preventiva quanto uma das medidas cautelares do CPP, de modo a alcançar a mesma finalidade, deve optar sempre pela medida menos gravosa, em garantia da liberdade do agente. Em exceção a essa regra, quando a liberdade do agente colocar em risco o próprio processo investigativo ou judicial, ou a segurança da sociedade, de modo que as medidas cautelares não sejam capazes de evitar, a solução deve ser a prisão cautelar. 2 .1 . roL Das MeDiDas CauteLares DiVersas Da PrisÃo2 .1 . roL Das MeDiDas CauteLares DiVersas Da PrisÃo Conforme entendimento doutrinário prevalente, o rol do art. 319, do CPP é taxativo, uma vez que no Processo Penal, quanto às medidas cautelares, inexiste poder geral de cautela, não sendo admissíveis a aplicação de medidas cautelares atípicas. Afinal, considerando-se que se cuidam de restrição ao direito de liberdade do cidadão, toda interpretação de norma a esse respeito, deve ser de interpretação restritiva. Sobre o assunto, o STF assentou entendimento de que, diante do postulado da constitucionalidade estrita quanto ao processo penal, não há poder geral de cautela dos juízes nos casos que tramitem sob essa esfera (Info. 906 e 904). Portanto, entende o rol do art. 319, do CPP como taxativo. O STJ também proferiu entendimento no mesmo sentido, ao afirmar que ao Juiz é obstado o emprego de cautelares inominadas que atinjam a liberdade de ir e vir do indivíduo (Info. 677). Conforme previsto no §1º, do art. 319, do CPP, as medidas cautelaresADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/ MT, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgados em 8/5/2019 (Info 939). Poder Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no entanto, a respectiva Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves): JURISPRUDÊNCIA O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional gravidade. No caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é do STF (art. 102, I, “b” da CF/88). Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida. Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida cautelar que havia sido determinada pelo Judiciário. Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas cautelares diversas da prisão. STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/10/2017 (Info 881). É cabível RESE contra decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão. As hipóteses de cabimento de recurso em sentido estrito trazidas pelo art. 581 do CPP são: • exaustivas (taxativas); • admitem interpretação extensiva; • não admitem interpretação analógica. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 31 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco aa decisãodecisão dodo juizjuiz queque revogarevoga aa medidamedida cautelarcautelar diversadiversa dada prisãoprisão dede comparecimentocomparecimento periódicoperiódico emem juízojuízo (art .(art . 319319,, i,i, dodo CPP)CPP) podepode serser impugnadaimpugnada porpor meiomeio dede rese?rese? SIM, com base na interpretação extensiva do art. 581, V do CPP. JURISPRUDÊNCIA O inciso V expressamente permite RESE contra a decisão do juiz que revogar prisão preventiva. Esta decisão é similar ao ato de revogar medida cautelar diversa da prisão. Logo, permite-se a interpretação extensiva neste caso. Em suma: é cabível recurso em sentido estrito contra decisão que revoga medida cautelar diversa da prisão. STJ. 6ª Turma. REsp 1628262/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/12/2016 (Info 596). 3 . LiBerDaDe ProVisÓria3 . LiBerDaDe ProVisÓria A liberdade provisória tem seu fundamento na Constituição Federal de 1988, notadamente em seu art. 5º, inciso LXVI: Art. 5º, LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. Pautada no princípio da presunção da inocência, a liberdade provisória é direito subjetivo do cidadão perante o Estado, devendo ser entendida como medida de contracautela. Afinal, em regra, determinado acusado deve ser colocado em liberdade sempre que a lei autorizar. A prisão configura-se como medida excepcional. Com o advento da Lei n. 12.403/2011, que alterou o Código de Processo Penal, a liberdade provisória passou a ser também adotada como providência cautelar autônoma, prevista nos artigos 321 e seguintes, combinada com uma ou mais medidas cautelares diversas da prisão, previstas no art. 319. Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011). II – (Revogado pela Lei n. 12.403, de 2011). Portanto, podemos afirmar que a aplicação da liberdade provisória pode se dar de 2 (duas) formas: • Poderá o juiz condicionar a liberdade do acusado ao cumprimento de uma das medidas elencadas no art. 319 do CPP, sob pena de decretar prisão preventiva, seja a prisão preventiva originária (art. 311 do CPP), ou a prisão preventiva como sanção processual, com fundamento na insuficiência da medida menos gravosa, se for o caso. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 32 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco • Poderá o juiz substituir a prisão em flagrante, a preventiva ou a temporária, por uma das medidas cautelares diversas da prisão – art. 319 do CPP – a fim de evitar a última ratio, que é a prisão, mas desde que essa medida seja igualmente eficaz e idônea para alcançar os mesmos fins, mas de maneira menos prejudicial ao acusado. 3 .1 . LiBerDaDe ProVisÓria X reLaXaMeNto Da PrisÃo X reVoGaÇÃo 3 .1 . LiBerDaDe ProVisÓria X reLaXaMeNto Da PrisÃo X reVoGaÇÃo Da PrisÃo CauteLarDa PrisÃo CauteLar Antes de aprofundarmos na matéria atinente à liberdade provisória, necessário tecer distinção entre os institutos que levam à liberdade do acusado, diferenciando-os de acordo com a classificação e as características da prisão realizada. RELAXAMENTO DA PRISÃO REVOGAÇÃO DA PRISÃO LIBERDADE PROVISÓRIA Previsão legal Art. 5º, LXV, CF/88 Art. 282, §5º c/c 316, CPP Art. 5º, LXVI, CF/88 Art. 321 e seguintes, do CPP Quando acontece Quando a prisão realizada é eivada de ilegalidade Quando a prisão é legal, mas desnecessária, por não subsistirem os motivos que a legitimaram. Aplica-se á prisão preventiva e à temporária*. Quando há prisão em legal, mas desnecessária. Após a Lei n. 12.403/11, passou a ser cabível em face de qualquer prisão.** Natureza jurídica Medida de urgência baseada no poder de polícia da autoridade judiciária. Medida de urgência baseada no poder de polícia da autoridade judiciária. Medida de contracautela e medida cautelar autônoma, que pode ser aplicada combinada com medidas cautelares diversas da prisão (art. 321, CPP) Consequências Restituição da liberdade plena. Se presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis, é possível a imposição de medidas cautelares. Restituição da liberdade plena. Mas se presentes o fumus comissi delicti e o periculum libertatis, é possível a imposição de medidas cautelares diversas da prisão. Restituição da liberdade plena com vinculação. Exemplo Prisão em flagrante ilegal, ou sem ter ocorrido o delito Prisão preventiva decretada a fim de garantir a instrução criminal, já tendo sido realizados todos os atos instrutórios. Prisão em flagrante, mas em relação a situação que não cumpre os requisitos de prisão provisória. *só podem ser revogadas a prisão temporária e a preventiva, visto que somente podem ser decretadas pela autoridade judiciária. A competência para revogar recai originalmente sobre o órgão jurisdicional que a decretou. ** a liberdade provisória pode ser concedida tanto pela autoridadepolicial, quanto pela judiciária. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 33 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco 3 .2 . LiBerDaDe ProVisÓria seM FiaNÇa3 .2 . LiBerDaDe ProVisÓria seM FiaNÇa A liberdade provisória se dá, basicamente, de duas formas: • com o pagamento de fiança; ou • sem o pagamento de fiança. A liberdade provisória, SEM O PAGAMENTO DE FIANÇA ocorrerá (ou poderia ocorrer) nas seguintes situações: 3 .2 .1 . QuaNDo o rÉu se LiVrar soLto A expressão antes prevista na redação do antigo art. 309, do CPP: “livrar-se solto”, indicava a modalidade de prisão que não tinha elementos fáticos e circunstanciais suficientes para manter o acusado preso, ou seja, após a lavratura do auto de prisão em flagrante, a própria autoridade policial poderia determinar a soltura do acusado, se identificadas uma das hipóteses previstas nos incisos do art. 321, do CPP (também revogados pela Lei n. 12.403/11: Art. 321. Ressalvado o disposto no art. 323, III e IV, o réu livrar-se-á solto, independentemente de fiança: I – no caso de infração, a que não for, isolada, cumulativa ou alternativamente, cominada pena privativa de liberdade; II – quando o máximo da pena privativa de liberdade, isolada, cumulativa ou alternativamente cominada, não exceder a três meses. Verificadas as hipóteses acima, seria obrigatória a concessão de liberdade provisória sem vinculação (sem fixação de qualquer outra obrigação) e sem fiança. Com o advento da Lei n. 12.403/2011, os incisos do art. 321, do CPP foram expressamente revogados e essas hipóteses de concessão de liberdade provisória deixaram de existir. 3 .2 .2 . QuaNDo VeriFiCaDa uMa Das HiPÓteses De Causa eXCLuDeNte De iLiCituDe Com o advento da Lei n. 13.964/2019 – conhecida como Pacote anticrime – o art. 310, §1º, do CPP, passou a prever a possibilidade de concessão de liberdade provisória quando o juiz verificar a ocorrência de uma das causas de exclusão de ilicitude: Art. 310, § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei n. 13.964, de 2019) Código Penal Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 34 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Excesso punível Parágrafo único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. Nesses casos, a concessão da liberdade provisória será concedida pela autoridade judiciária, sendo cabível em relação a crimes afiançáveis e também inafiançáveis. Além disso, não se exige certeza da existência das excludentes de ilicitude, mas apenas indícios. Observe-se que a condição da concessão da liberdade provisória ficará vinculada à assinatura pelo acusado, de termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação. Parte da doutrina realiza interpretação extensiva a fim de admitir a aplicação dessa hipótese de concessão de liberdade provisória também nos casos de exclusão de culpabilidade e punibilidade, em que pese o art. 310, § único ser silente quanto a esses casos. 3 .2 .3 . QuaNDo auseNtes os reQuisitos Que autoriZaM a DeCretaÇÃo Da PrisÃo PreVeNtiVa Após a reforma do Código de Processo Penal, com o advento da Lei n. 12.403/2011, o art. 321 passou a prever que não existindo o periculum libertatis, é permitida a liberdade provisória, inclusive sem fiança: Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Essa hipótese de concessão de liberdade provisória poderá ser decretada de ofício ou mediante provocação do juiz, com prévia oitiva do representante do Ministério Público. A liberdade provisória poderá ser concedida cumulativamente com outras medidas cautelares diversas da prisão – art. 319, do CPP, quando tais medidas sejam suficientes para produzir o mesmo resultado que a prisão preventiva. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 35 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco 3 .2 .4 . QuaNDo o rÉu NÃo PuDer arCar CoM o VaLor Da FiaNÇa Por MotiVo De PoBreZa De acordo com a redação do art. 350, caput, do CPP (após reforma da Lei n. 12.403/2011) nos casos em que couber fiança, mas o magistrando, ao analisar a situação econômica do acusado e verificar a sua incapacidade para o pagamento do valor cominado, poderá conceder-lhe liberdade provisória sem fiança, mas sujeitando-o a outras medidas cautelares, se for o caso, e à observância dos artigos 327 e 328, do CPP: Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebrada. Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde será encontrado. Portanto, cuida-se de liberdade provisória com vinculação e, caso o beneficiário descumpra as obrigações fixadas, sem motivo justo, deverá ser aplicado o previsto no art. 282, §4º, do CPP: Art. 282, § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) Essa hipótese de concessão de liberdade provisória (por pobreza do acusado) só será aplicada se a incapacidade financeira do réu for impeditivo para o pagamento da fiança. Se a sua pobreza apenas dificultar o pagamento, o juiz ou delegado de polícia deverá (direito subjetivo do agente) reduzir o valor da fiança em até 2/3, conforme previsão do art. 325, §1º, inciso II, do CPP: Art. 325, § 1º Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – dispensada, na forma do art. 350 deste Código; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). II – reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). III – aumentada em até 1.000 (mil) vezes. Em razão da Covid-19, o STJ determinou a soltura de todos os presos que tiveram a liberdadeprovisória condicionada ao pagamento de fiança: JURISPRUDÊNCIA Em razão da pandemia de covid-19, concede-se a ordem para a soltura de todos os presos a quem foi deferida liberdade provisória condicionada ao pagamento de fiança O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 36 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco e que ainda se encontram submetidos à privação cautelar em razão do não pagamento do valor. Não se mostra proporcional, neste período de pandemia, a manutenção dos réus na prisão, tão somente em razão do não pagamento da fiança, visto que os casos – notoriamente de menor gravidade – não revelam a excepcionalidade imprescindível para o decreto preventivo. STJ. 3ª Seção. HC 568693-ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 14/10/2020 (Info 681). Concessão de liberdade provisória sem fiança a flagranteado assistido pela Defensoria Pública: JURISPRUDÊNCIA O indivíduo foi preso em flagrante. O magistrado concedeu liberdade provisória com a fixação de 2 salários-mínimos de fiança. Como não foi paga a fiança, o indivíduo permaneceu preso. A Defensoria Pública impetrou habeas corpus e o STF deferiu a liberdade provisória em favor do paciente com dispensa do pagamento de fiança. Os Ministros afirmaram que era injusto e desproporcional condicionar a expedição do alvará de soltura ao recolhimento da fiança. Segundo entendeu o STF, o réu não tinha condições financeiras de arcar com o valor da fiança, o que se poderia presumir pelo fato de ser assistido pela Defensoria Pública, o que pressuporia sua hipossuficiência. Assim, não estando previstos os pressupostos do art. 312 do CPP e não tendo o preso condições de pagar a fiança, conclui-se que nada justifica a manutenção da prisão cautelar. STF. 1ª Turma. HC 129474/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/9/2015 (Info 800). Afigura-se irrazoável manter o réu preso cautelarmente apenas em razão do não pagamento de fiança, mormente porque já reconhecida a possibilidade de concessão da liberdade provisória. Paciente assistido pela Defensoria Pública, portanto presumidamente pobre, sem condições de custear o pagamento. (STJ. 6ª Turma. HC 582.581, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2021). 3 .2 .5 . QuaNDo a iNFraÇÃo For De MeNor PoteNCiaL oFeNsiVo e o aGeNte CoMPareCer iMeDiataMeNte ao JeCriM ou se CoMProMeter ao CoMPareCiMeNto Tal hipótese de concessão de liberdade provisória tem previsão no art. 69, parágrafo único, da Lei n. 9.099/1995: Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 37 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei n. 10.455, de 13.5.2002) Cuida-se, portanto, de hipótese de concessão de liberdade provisória com vinculação, visto que o acusado terá o dever de comparecer ao Juizado Especial Criminal. Porém, se não comparecer, poderá prestar fiança (quando couber). Nos crimes acerca de violência doméstica ou familiar contra a mulher – Lei Maria da Penha n. 11.340/06 – não se aplica o disposto na Lei n. 9.099/95, devendo ser lavrado auto de prisão em flagrante delito e determinada a prisão do acusado. 3.2.6. NOS CASOS DE ACIDENTE DE TRÂNSITO EM QUE O AGENTE PRESTAR SOCORRO A Lei n. 9.503/1997, Código de Trânsito Brasileiro, prevê em seu art. 301, a seguinte hipótese de liberdade provisória obrigatória e sem vinculação, desde que haja a prestação de socorro integral à vítima: Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de sinistros de trânsito que resultem em vítima, não se imporá a prisão em flagrante nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela. (Redação dada pela Lei n. 14.599, de 2023) 3.2.7. NOS CASOS DE USO DE ENTORPECENTES – LEI N. 11.343/2006 O usuário de drogas não será preso em qualquer hipótese, mesmo que não cumpra o compromisso de comparecer ao Juizado Especial Criminal, conforme prevê o art. 48, da Lei de Drogas n. 11.343/2006, sendo essa uma hipótese de concessão de liberdade provisória obrigatória e sem vinculação: Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. § 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais. § 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 38 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários. § 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. (Vide ADIN 3807) § 4º Concluídos os procedimentos de que trata o § 2º deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado. § 5º Para os fins do disposto no art. 76 da Lei n. 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta. Contra decisão que concede liberdade provisória sem fiança caberá recurso em sentido estrito (art. 581, V, do CPP). Contudo, da decisão que indefere essa modalidade de liberdade provisória, não cabe recurso, mas a doutrina entender ser cabível HC. 3 .3 . LiBerDaDe ProVisÓria CoM FiaNÇa3 .3 . LiBerDaDe ProVisÓria CoM FiaNÇa A fiança é uma garantia real, consistente no pagamento em dinheiro ou na entrega de valores ao Estado, para assegurar o direito de permanecer em liberdade, no transcurso de um processo criminal. De acordo com o Código de Processo Penal, a fiança pode ser conceituada como uma caução real destinada a garantir o cumprimento das obrigações processuais do réu, com dupla finalidade: • Assegurar a liberdade provisória do acusado, durante o inquérito ou o processo criminal, desde que preenchidas determinadas condições; • Possibilitar o pagamento das custas processuais(quando houver), da indenização do dano causado pelo crime (se existente), da prestação pecuniária e da multa (se forem aplicadas) se o réu for condenado, conforme art. 336, do CPP: Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código Penal). (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 39 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco 3 .3 .1 . ForMas De PrestaÇÃo Da FiaNÇa Consoante o art. 330, do CPP, a fiança poderá ser prestada por depósito ou por hipoteca, desde que inscrita em primeiro lugar. Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. § 1º A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela autoridade. § 2º Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus. O depósito pode ser em dinheiro, pedras, objetos os metais preciosos, e títulos da dívida federal, estadual ou municipal. Já os bens dados em hipoteca são aqueles definidos no art. 1.473, do Código Civil. Art. 1.473. Podem ser objeto de hipoteca: I – os imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles; II – o domínio direto; III – o domínio útil; IV – as estradas de ferro; V – os recursos naturais a que se refere o art. 1.230, independentemente do solo onde se acham; VI – os navios; VII – as aeronaves. VIII – o direito de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei n. 11.481, de 2007) IX – o direito real de uso; (Incluído pela Lei n. 11.481, de 2007) X – a propriedade superficiária; (Redação dada pela Lei n. 14.620, de 2023) XI – os direitos oriundos da imissão provisória na posse, quando concedida à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou às suas entidades delegadas e a respectiva cessão e promessa de cessão. (Incluído pela Lei n. 14.620, de 2023) § 1º A hipoteca dos navios e das aeronaves reger-se-á pelo disposto em lei especial. (Renumerado do parágrafo único pela Lei n. 11.481, de 2007) § 2º Os direitos de garantia instituídos nas hipóteses dos incisos IX e X do caput deste artigo ficam limitados à duração da concessão ou direito de superfície, caso tenham sido transferidos por período determinado. (Incluído pela Lei n. 11.481, de 2007) Pode-se dizer que, após a Lei n. 12.403/2011, a liberdade provisória com fiança deixa de ser apenas uma medida de contracautela e passa a funcionar também como medida cautelar autônoma, a ser determinada pelo juiz nas infrações que admitem a fiança. A finalidade dessa hipótese de liberdade provisória tem a função de assegurar o comparecimento do acusado aos atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 40 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco ou em caso de resistência injustificada da ordem judicial, além da finalidade de garantir o pagamento das custas, multa e indenização do crime. Ademais, em tese, teria o acusado interesse em cumprir as obrigações, pois somente assim terá a devolução da fiança como caução, em caso de condenação. 3 .3 .2 . NatureZa JurÍDiCa Da LiBerDaDe ProVisÓria CoM FiaNÇa A liberdade provisória com fiança é direito subjetivo constitucional do acusado, a fim de que, mediante caução e cumprimento de certas obrigações, possa permanecer em liberdade até a sentença irrecorrível. O fundamento para tal medida encontra amparo na Constituição Federal, no seu art. 5º, LXVI: Art. 5º, LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela será mantido quando a lei admitir a liberdade provisória com ou sem fiança”. Demais disso, configura-se constrangimento ilegal à liberdade de locomoção quando for negado direito ao pagamento de fiança nos casos em que a lei permitir. De acordo com o art. 334, do CPP, a fiança poderá ser concedida em qualquer momento, enquanto não houver o trânsito em julgado de sentença condenatória. Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). A concessão da fiança poderá ser realizada independentemente de prévia oitiva do Ministério Público, que terá vista do processo em seguida, podendo interpor recurso em sentido estrito, quando discordar da decisão. 3 .3 .3 . CoNCessÃo Da FiaNÇa PeLa autoriDaDe PoLiCiaL Após o advento da Lei n. 12.403/2011, a autoridade policial passou a ter a atribuição para conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não ultrapasse 4 (quatro) anos. Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 41 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. Ademais, caso a autoridade policial não a conceda ou demore, o preso, ou alguém em representação a ele, poderá apresentar requerimento a juiz competente, que o analisará em 48 (quarenta e oito horas), sob pena de impetração de habeas corpus. Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Nos casos de prisão em flagrante, a autoridade policial com atribuição para arbitrar a fiança é aquela que presidir a lavratura do auto, mesmo que o processo tramite em outra comarca posteriormente. Em casos de prisão por mandado, pelo juiz que o expediu, ou pela autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a prisão. Em processos de competência originária dos tribunais, a competência será do Relator. Nos casos em que for cabível a fiança, mas a autoridade a denegar, poderá responder por abuso de autoridade, porque manterá o acusado preso desnecessariamente, de acordo com a Lei n. 13.869/2019 – Lei de abuso de autoridade. Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável, deixar de: I – relaxar a prisão manifestamente ilegal; II – substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível; III – deferir liminar ou ordem de habeas corpus,quando manifestamente cabível. Se denegada a fiança indevidamente, será gerado constrangimento ilegal à liberdade de locomoção, passível de habeas corpus. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 42 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco 3 .3 .4 . VaLor Da FiaNÇa O art. 325, do CPP, com redação conferida pela Lei n. 12.403/2011, estabeleceu parâmetros mínimos e máximos do valor da fiança a serem observados pela autoridade que a conceder: Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). a) (revogada); (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). b) (revogada); (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). c) (revogada). (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). II – de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). § 1º Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – dispensada, na forma do art. 350 deste Código; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). II – reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). III – aumentada em até 1.000 (mil) vezes. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). Importante observar ainda que, ao fixar a fiança, a autoridade deverá observar a situação econômica do acusado, para que possa reduzir ou aumentar seu valor. Demais disso, o art. 326, do CPP, prevê os critérios a serem observados pela autoridade quando da fixação do valor da fiança, sempre dentro da análise do caso concreto: Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento. A redução e o aumento do valor da fiança poderão ser realizados tanto pelo juiz, quanto pela autoridade policial, uma vez que o art. 325, §1º do CPP, deixou de prever especificidade a esse respeito, no que diz aos poderes da autoridade policial para tanto. Contudo, vale lembrar que a autoridade policial somente poderá fixar fiança nos casos de infrações cuja pena privativa de liberdade máxima não ultrapasse a 4 (quatro) anos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 43 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco 3 .3 .5 . Das HiPÓteses Que VeDaM a FiaNÇa Os artigos 323 e 324, do CPP preveem os crimes inafiançáveis, gerando uma séria contradição no sistema processual brasileiro, uma vez que, em regra, os crimes inafiançáveis admitem liberdade provisória sem fiança, por força do previsto no art. 321, do CPP. Assim, nesses casos, pode ser admitida a liberdade provisória, ainda que sem fiança, passível de cumulação com outras medidas cautelares diversas da prisão, previstas no art. 319, do CPP. Observe-se o disposto no art. 323, do CPP, cujas hipóteses de vedação de fiança guardam relação direta com o previsto no art. 5º, XLII, XLIII e XLIV, da CF/88: Art. 323. Não será concedida fiança: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – nos crimes de racismo; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). IV – revogado; V – revogado; Na mesma esteira, o art. 324, do CPP traz previsão expressa aos demais casos nos quais não será concedida a fiança: Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). II – em caso de prisão civil ou militar; (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). III – revogado IV – quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Quanto a esse dispositivo, vale destacar que o art. 341, do CPP traz a definição de quando será considerada quebrada a fiança, um dos motivos para que ela deixe de ser concedida novamente no mesmo processo: Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – regularmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer, sem motivo justo; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). II – deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 44 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco III – descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). IV – resistir injustificadamente a ordem judicial; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). V – praticar nova infração penal dolosa. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). Ainda quanto ao quebramento da fiança, vale dizer que, se realizado injustificadamente, importará na perda da metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares, ou a decretação da prisão preventiva. Antes de decretar o quebramento, o magistrado poderá intimar a parte para se justificar, consoante o previsto no art. 282, §3º, do CPP: Art. 282, § 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) Também não será concedida a fiança àqueles que, sem justo motivo, tiverem infringido qualquer das obrigações previstas nos artigos 327 e 328, do CPP: Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebrada. Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebramento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde será encontrado. Quanto ao previsto nos artigos327 e 328, afirme-se que se cuidam de condições da concessão da liberdade provisória mediante fiança, que deverão ser estritamente observadas pelo acusado. Por fim, nos casos em que presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312 e 313, do CPP) e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão, o magistrado deverá converter a prisão em flagrante, em preventiva. 3 .3 .6 . DeMais Casos Nos Quais NÃo se aDMite FiaNÇa Contravenções penais previstas nos artigos 45 a 49 e 58, do Decreto-Lei n. 6.259/1944, que dispõe sobre os serviços de loteria (incluindo o jogo do bicho e apostas de corridas de cavalo fora do hipódromo. Código de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503/97 – art. 301: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 45 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de sinistros de trânsito que resultem em vítima, não se imporá a prisão em flagrante nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela. (Redação dada pela Lei n. 14.599, de 2023) Lei dos Juizados Especiais – Lei 9.099/1995 – nos casos de infrações penais com pena privativa de liberdade menor que 2 (dois) anos e todas as demais contravenções penais, sob a competência do Juizado Especial Criminal, mediante as circunstâncias previstas no art. 69 da norma: Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. Lei de Drogas – Lei n. 11.343/2006 – veda a prisão em flagrante para os casos de infração penal de uso de entorpecentes em qualquer situação. Art. 48, § 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários. § 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. Em relação aos crimes hediondos e equiparados, previstos na Lei n. 8.072/1990, há vedação expressa nesta lei, bem como na Constituição Federal de 1988 – art. 5º, inciso XLIII – a respeito do não cabimento de fiança. Contudo, em relação ao cabimento da liberdade provisória, com o advento da Lei n. 11.464/2007, foi revogada a proibição da sua concessão, como desdobramento natural do entendimento que vinha sendo adotado pelos Tribunais Superiores. Dessa forma, passou- se a permitir, legalmente, a concessão de liberdade provisória sem fiança. Por outro lado, vale destacar que isso não significa que todos os crimes previstos na Lei n. 8.072/1990 serão passíveis de liberdade provisória. Deverá o magistrado, em cada caso, avaliar, de forma fundamentada, a imprescindibilidade da prisão cautelar do acusado, O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 46 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco e avaliar a possibilidade de conceder a liberdade provisória cumulativamente com outras medidas cautelares diversas da prisão, de modo que a sua gravidade e restrição de direitos seja compatível com a gravidade do crime, em atenção ao princípio da isonomia. 3 .3 .7 . FiaNÇa DeFiNitiVa Conforme o previsto no art. 330 do CPP, a fiança será sempre definitiva, podendo ser reforçada nas hipóteses do art. 340, do CPP. Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. § 1º A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela autoridade. § 2º Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus. Art. 340. Será exigido o reforço da fiança: I – quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente; II – quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras preciosas; III – quando for inovada a classificação do delito. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for reforçada. Será fornecida em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. Caso necessária a sua execução, deverá ser promovida pelo Ministério Público, no juízo cível. Ressalte-se que, na liberdade provisória com fiança, o Órgão Ministerial somente será ouvido após a concessão da fiança, quando poderá pugnar pelo seu reforço ou oferecer recurso em sentido estrito contra a concessão. 3 .3 .8 . PerDa Da FiaNÇa Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, caso o condenado frustrar a efetivação da punição, esquivando-se da apresentação à prisão, fugindo para não ser encontrado e preso, será perdida a fiança na sua totalidade. Deduzidos os valores atinentes às custas, indenização do dano, prestação pecuniária e multa, o que restar será destinado ao erário federal. Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do cumprimento da pena definitivamente imposta. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 47 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Da decisão que decreta a perda da fiança (privativa do magistrado) cabe RESE, dotado de efeito suspensivo quanto à destinação do valor remanescente (art. 581, VII, CPP). Porém, se a decisão de perdimento for decretada pelo juízo da execução, ou seja, após o trânsito em julgado da sentença condenatória, será cabível o agravo em execução (art. 197, Lei de Execução Penal). 3 .3 .9 . CassaÇÃo Da FiaNÇa A fiança será cassada em qualquer fase do processo, nas seguintes hipóteses: • Quando concedida por equívoco – exemplo: autoridade policial concede fiança em relação a delito com pena máxima superior a 4 (quatro) anos. Nesses casos, a autoridade judiciária deve determinar a cassação da fiançade ofício ou por provocação. • Quando ocorrer uma inovação na tipificação do delito, de modo que se reconheça uma infração inafiançável. • Se houver aditamento da denúncia, acarretando a inviabilidade de concessão da fiança, por meio de reconhecimento de qualificadora ou concurso de crimes inafiançáveis. Com relação à fiança cassada pode-se também dizer que foi julgada inidônea ou sem efeito. Assim, o valor da caução será devolvido a quem a prestou, cabendo ao magistrado avaliar o cabimento de alguma medida cautelar diversa da prisão, ou a imposição da prisão preventiva. A decisão da cassação da fiança comporta RESE, sem efeito suspensivo. Se for provido, a fiança será restaurada. Contudo, se a decisão que cassar a fiança se der em sede de sentença condenatória recorrível, o recurso cabível será o de apelação. 3 .3 .10 . reForÇo Da FiaNÇa O art. 340, do CPP prevê as hipóteses de reforço da fiança, nos seguintes termos: Art. 340. Será exigido o reforço da fiança: I – quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 48 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco II – quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras preciosas; III – quando for inovada a classificação do delito. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será recolhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for reforçada. Importante destacar que se a fiança for declarada sem efeito, o réu poderá ser preso, desde que presentes os pressupostos autorizadores (art. 312 e 313 do CPP), mas não de forma automáticas. Cada caso caberá análise pelo magistrado a respeito da aplicação de medida cautelar diversa da prisão. Como dito anteriormente, em situação de pobreza, o acusado poderá ser dispensado do reforço, ou será considerada suficiente a fiança prestada. Da decisão que julga sem efeito a fiança, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo (art. 581, V, CPP). Mas se essa decisão se der em sede de sentença condenatória recorrível, o recurso cabível será a apelação, que absorve aquele recurso (art. 593, §4º, CPP). 3 .3 .11 . restituiÇÃo Da FiaNÇa Vale ainda destacar que, de acordo com o art. 377, do CPP, se a fiança for declarada sem efeito, ou transitar em julgado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extinta a ação penal, será restituída ao condenado. Art. 377. Transitando em julgado a sentença condenatória, serão executadas somente as interdições nela aplicadas ou que derivarem da imposição da pena principal. O valor da fiança deverá ser atualizado, e os únicos descontos permitidos são os previstos no art. 336, do CPP: • custas; • indenização do dano; • prestação pecuniária; e • multa. Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecuniária e da multa, se o réu for condenado. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código Penal). (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 49 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Da mesma forma, se o acusado for condenado e se apresentar para cumprir a pena fixada, ou quando for declarada extinta a punibilidade, o valor da fiança lhe será devolvido, descontados os valores descritos no art. 336, do CPP. Contudo, se a extinção da punibilidade se der em virtude de prescrição da pretensão executória, não haverá restituição. As fianças quebradas ou perdidas, serão destinadas ao Fundo Penitenciário Nacional – FUNPEN e serão utilizados na manutenção e aprimoramento dos serviços penitenciários. 4 . LiBerDaDe ProVisÓria CoM ViNCuLaÇÃo4 . LiBerDaDe ProVisÓria CoM ViNCuLaÇÃo Conforme já exposto nesta aula/PDF, a concepção de liberdade provisória poderá trazer consigo a fixação de deveres processuais para que se mantenha. Além disso, ela pode ser concedida com ou sem fiança. Neste sentido, sempre que houver alguma obrigação vinculada à concessão e manutenção da liberdade provisória, será classificada como “liberdade provisória com vinculação. EXEMPLOS: Concessão de liberdade provisória em crime afiançável, mas o acusado não tem condições de arcar com o seu pagamento. Nos termos do art. 350, do CPP, poderão ser fixadas obrigações vinculadas à liberdade provisória do acusado, como condição para o seu deferimento. Liberdade provisória com fiança – ainda que paga a fiança, o acusado deverá observar o disposto no art. 324, inciso I, e artigos 327 328, do CPP, a fim de não a quebrar e, por consequência, perdê-la. Liberdade provisória cumulada com medidas cautelares diversas da prisão – a sua observância e cumprimento é essencial para a manutenção da liberdade provisória. A concessão da liberdade provisória sem vinculação era aquela adotada na antiga redação do art. 321, quando era concedida a liberdade (definitiva) sem fiança, em que o réu “se livrava solto”. Essa hipótese não existe mais, visto que a liberdade provisória, pelo seu caráter não definitivo, requer o cumprimento de alguma obrigação para que funcione como efeito coercitivo da sua manutenção, sob pena de revogação. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 50 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco RESUMORESUMO Nessa aula, você deve fixar os seguintes pontos: • Quais são as medidas cautelares de natureza pessoal e diversas da prisão que estão previstas no Código de Processo Penal e quando ocorre a sua aplicação. • A possibilidade de aplicação das medidas cautelares diversas da prisão com base em legislação penal especial esparsa. • As especificidades quanto à duração das medidas cautelares diversas da prisão e quais as sanções decorrem do seu descumprimento. • Quais são, quais as hipóteses de aplicação das medidas previstas no art. 319, do CPP e quais as finalidades de cada uma delas. • Em relação à fiança, você deve aprender que a partir da Lei n. 12.403/2011 ela passou a ser aplicada também como medida cautelar autônoma e tem finalidades específicas muito importantes. • Em relação à aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, você deve analisar o entendimento dos tribunais superiores sobre as questões polêmicas. • Em relação à liberdade provisória, você deve saber quais são as hipóteses de aplicação, quem pode deferir e em quais circunstâncias. • Quais as diferenças entre liberdade provisória, relaxamento da prisão e revogação da prisão cautelar. • Quais as espécies de liberdade provisória e as possibilidades de sua aplicação nas situações descritas nas principais leis especiais analisadas neste material. • Em relação à liberdade provisória com fiança, você deve aprofundar seus conhecimentos em relação à aplicação da medida, quem aplica e quais as suas finalidades. • Você deve conhecer também quais os limites de da aplicação da fiança e as possibilidades da sua cumulatividade com outras medidas cautelares diversas da prisão. • Quaissão as hipóteses de extinção da fiança e quais as suas consequências. • Quais as hipóteses de reforço da fiança e suas consequências se não realizado. • Como deve ser fixado o valor da fiança e quando poderá ser restituída. • O que é liberdade provisória com e sem vinculação. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.diversas da prisão podem ser aplicadas não apenas aos procedimentos regulados pelo CPP, mas por todos os procedimentos criminais, como por exemplo, Lei Maria da Penha – Lei n. 11.340/06, e Código de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503/97, dentre os demais. Prazo de duração das medidas cautelares diversas da prisão. Conforme entendimento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, não há disposição legal que restrinja o prazo das medidas cautelares diversas da prisão. Elas poderão perdurar enquanto ainda existentes os requisitos do art. 282, do Código de Processo Penal, de acordo com as circunstâncias de cada caso (Info. 741). Sanções por descumprimento das medidas cautelares diversas da prisão. Quanto às consequências em caso de descumprimento das medidas cautelares diversas da prisão, o legislador se limitou a prever no art. 282, §4º, do CPP: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 9 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Substituição da medida. Imposição de outra medida em cumulação. Em último caso, decretação de prisão preventiva. Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). § 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) § 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) § 6º A prisão preventiva somente será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada. (Redação dada pela Lei n. 13.964, de 2019) 2 .2 . MeDiDas C2 .2 . MeDiDas CauteLares DiVersas Da PrisÃo, eM esPÉCieauteLares DiVersas Da PrisÃo, eM esPÉCie Passemos à análise de cada espécie de medida cautelar diversa da prisão de forma individualizada. 2 .2 .1 . CoMPareCiMeNto eM JuÍZo O objetivo dessa medida é verificar que o acusado permanece à disposição do juízo para a prática de qualquer ato processual. Além disso, a medida facilita o monitoramento das atividades do acusado nas situações em que ele não tem vínculo com o local do crime e há riscos de não ser encontrado novamente. Quando da aplicação dessa medida, o acusado deve comparecer pessoalmente à Secretaria do Juízo para fornecer, periodicamente, de acordo com prazo fixado pelo magistrado, informações sobre suas atividades, residência e trabalho, caso tenha. Segundo Renato Brasileiro (2016), caso o acusado resida em outra comarca, o acompanhamento da medida deverá se dar por meio de carta precatória. Afinal, grande parte do “público do Direito Penal”, é composto por miseráveis, e assim, exigir do acusado pobre que arque com as despesas de longos deslocamentos, poderia inviabilizar o cumprimento da medida. O juiz deve fixar a periodicidade do comparecimento de acordo com o caso concreto, visto a finalidade de não prejudicar o acusado em suas atividades laborais, visto que não há previsão legal quanto a esse ponto. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 10 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco A medida cautelar de comparecimento em juízo (art. 319, I, do CPP), não se confunde com o previsto no art. 310, parágrafo único, do CPP que dispõe sobre o requisito de comparecimento do acusado a todos os atos do processo, para fins de liberdade provisória sem fiança. Essa é uma medida de contracautela que substitui a prisão em flagrante, que será tratada em tópico posterior. Contudo, nada impede que o magistrado também aplique ao acusado, a medida de comparecimento a todos os atos do processo (art. 310, parágrafo único, do CPP), em cumulatividade com a cautelar de comparecimento em juízo (cuja finalidade é apenas prestar informações da sua situação pessoal). Art. 310, § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), – excludentes de ilicitude – poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei n. 13.964, de 2019) 2 .2 .2 . ProiBiÇÃo De aCesso ou FreQuÊNCia a DeterMiNaDos LuGares Prevista no inciso II, do art. 319, do CPP, essa medida cautelar tem a finalidade de proibir o acesso ou a frequência do acusado a determinados lugares nos quais possa haver o risco de novas infrações, atreladas ao ilícito supostamente praticado por ele. Assim, caberá ao magistrado especificar quais os lugares não poderão ser frequentados pelo acusado, sendo vedada a proibição genérica. Afinal, toda medida cautelar pressupõe a presença dos requisitos do periculum libertatis (indícios de autoria e participação) e fumus comissi delicti (prova da existência do crime), o que por si só demanda análise do caso concreto pelo juiz, a fim de fundamentar e contextualizar a medida por ele fixada. Além da finalidade de evitar a reiteração da prática de infrações penais, essa medida também pode ser utilizada para preservar e proteger a prova, testemunhas ou vítimas, evitando que, com o contato, sejam proferidas ameaças, agressões, tentativas de suborno e demais atitude nesse sentido. Sempre lembrar que a restrição da liberdade é a última ratio, então tudo que a limita deve ser especificado e fundamentado pelo juiz. A proibição de acesso e frequência também pode ser determinada por meio de medida de afastamento do lar, nos casos em que a vítima O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 11 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco residir em coabitação. Destaca-se ainda que essa medida só deve ser aplicada ao acusado, não sendo cabível para terceiros, como familiares e testemunhas. Se o caso se amoldar às previsões da Lei Maria da Penha – Lei n. 11.340/2006 (situações de violência doméstica e familiar contra a mulher), a medida de afastamento do lar pode ainda ser determinada por autoridade policial, em circunstâncias específicas, conforme previsto no art. 12-C da referida lei, tendo em vista a urgência da medida. Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física ou psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: (Redação dada pela Lei n. 14.188, de 2021) I – pela autoridadejudicial; (Incluído pela Lei n. 13.827, de 2019) II – pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei n. 13.827, de 2019) III – pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia. (Incluído pela Lei n. 13.827, de 2019) § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. (Incluído pela Lei n. 13.827, de 2019) § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. (Incluído pela Lei n. 13.827, de 2019) Vale destacar que esse dispositivo foi objeto de apreciação pelo STF, por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 6138, ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) que questionou a constitucionalidade de delegação de poderes às autoridades policiais para determinar medida de afastamento do lar, sem haver processo e apreciação judicial. No entanto, em 2022, o STF julgou a ação improcedente, por entender que a atuação supletiva e excepcional dos delegados de polícia e policiais a fim de afastar o agressor do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida, em casos de risco atual à vida e integridade da ofendida, é razoável e proporcional. 2 .2 .3 . ProiBiÇÃo De MaNter CoNtato CoM Pessoa DeterMiNaDa Prevista no inciso III, do art. 319, do CPP, essa medida cautelar tem duas finalidades principais: • Proteção de determinada pessoa, que se encontra em risco pelo comportamento do acusado. Assim, a vedação do contato, pelo menos em tese, evitaria a reiteração do ilícito. • Impedir que o acusado possa influenciar ou intimidar o ofendido ou testemunha, prejudicando a investigação, ou o processo penal. De acordo com a gravidade e O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 12 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco circunstâncias do crime, e do comportamento do acusado, o magistrado pode fixar tal medida, a fim de proteger as pessoas e o trâmite eficaz do processo penal. O magistrado fixará a medida com base nas circunstâncias do caso e não somente na palavra da vítima ou testemunha, uma vez que sempre devem ser observados os requisitos periculum libertatis e fumus comissi delicti. É ainda possível que o magistrado fixe uma distância mínima a ser mantida entre o acusado e determinada pessoa, ou de sua residência ou trabalho, aplicando-se por analogia o previsto na Lei Maria da Penha, art. 22, III, a: Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; Vale destacar que o dispositivo legal não previu quais as formas de contato com pessoa determinada estão proibidas. Assim, a doutrina entende que a medida cautelar em voga também pode ser aplicada para evitar o contato do acusado com determinada pessoa por meios eletrônicos, redes sociais, ou qualquer outra forma de comunicação. A fim de garantir eficácia da medida, é importante que a vítima ou a pessoa com quem o acusado esteja impedido de manter contato, seja informada sobre a fixação da medida cautelar. Salutar também que essa pessoa seja advertida para que, em casos de descumprimento da medida pelo acusado, ela poderá comunicar o fato à autoridade policial, à autoridade judiciária ou ao Ministério Público. Nesses casos, há a aplicação, por analogia, do art. 201, §§ 2º e 3º, do CPP: Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) § 2º O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008) § 3º As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo- se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008) Por fim, vale ressaltar que, para que reste caracterizado o descumprimento da medida, deve ser comprovado que o acusado o fez conscientemente. Do contrário, não há que se falar em violação. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 13 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco 2.2.4. PROIBIÇÃO DE AUSENTAR-SE DA COMARCA OU DO PAÍS Essa medida cautelar, prevista no inciso IV, do art. 319, do CPP, tem como finalidade principal manter o investigado ou acusado em um limite territorial conveniente à investigação ou instrução. Na mesma esteira, pode vedar também a sua saída do País, pois, quando se proíbe a saída do território nacional, também se evitará a saída da comarca. Em alguns casos, proibir a saída do país tem a finalidade de dificultar a fuga ou indisponibilidade presencial do acusado durante a investigação ou processo penal, sendo permitida a retenção do passaporte, com base no art. 320, do CPP: Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). Destaque-se que essa medida pode ser utilizada não só para a conveniência da investigação e instrução processual, mas também para outras finalidades cautelares, inclusive em caráter cumulativo, a serem fixadas a critério do magistrado com o fim de mitigar outros riscos, desde que abarcadas pelo art. 282, I, do CPP: Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela Lei n. 12.403, de 2011). I – necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). § 1º As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente. (Incluído pela Lei n. 12.403, de 2011). A fim de dar maior eficácia à medida, pode ser cumulada com outras cautelares, como por exemplo, o monitoramento eletrônico e a obrigatoriedade de comparecimento em juízo, a fim de se decretar a prisão preventiva somente como última alternativa. 2 .2 .5 . reCoLHiMeNto DoMiCiLiar No PerÍoDo NoturNo e Nos Dias De FoLGa Em alguns casos, a privação absoluta da liberdade do acusado, é medida demasiadamente gravosa, sendo suficiente o mero recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, para garantir a investigação ou instrução da ação penal, além de evitar novas infrações.Nessas situações, é utilizada a medida cautelar de recolhimento do acusado ao seu domicílio, no período noturno e durante suas folgas, quando tenha residência e trabalho fixos, conforme previsto no art. 319, V, do CPP. Além das finalidades atinentes ao processo penal, essa medida também possibilita ao acusado manter-se trabalhando e próximo à sua família, o que tem um importante impacto quanto à manutenção da sua socialização na comunidade. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 14 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Conforme entendimento doutrinário, há a possibilidade de aplicação dessa medida cautelar nos casos em que o acusado não tenha trabalho, mas mantém estudo regular. Nesse sentido, destaque-se a previsão contida na Lei de Execução Penal – Lei n. 7.210/84, quanto à possibilidade de remição da pena por tempo de trabalho ou estudo, nos casos de cumprimento de regime semiaberto (o agente somente deve se recolher à unidade penitenciária durante a noite): Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. (Redação dada pela Lei n. 12.433, de 2011). § 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: (Redação dada pela Lei n. 12.433, de 2011) I – 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; (Incluído pela Lei n. 12.433, de 2011) II – 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. (Incluído pela Lei n. 12.433, de 2011) JURISPRUDÊNCIA: O período de recolhimento obrigatório noturno e nos dias de folga deve ser reconhecido como período de detração da pena privativa de liberdade e da medida de segurança 1. O período de recolhimento obrigatório noturno e nos dias de folga, por comprometer o status libertatis do acusado deve ser reconhecido como período a ser detraído da pena privativa de liberdade e da medida de segurança, em homenagem aos princípios da proporcionalidade e do non bis in idem. 2. O monitoramento eletrônico associado, atribuição do Estado, não é condição indeclinável para a detração dos períodos de submissão a essas medidas cautelares, não se justificando distinção de tratamento ao investigado ao qual não é determinado e disponibilizado o aparelhamento. 3. A soma das horas de recolhimento domiciliar a que o réu foi submetido devem ser convertidas em dias para contagem da detração da pena. Se no cômputo total remanescer período menor que vinte e quatro horas, essa fração de dia deverá ser desprezada. STJ. 3ª Seção. REsp 1977135-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 23/11/2022 (Recurso Repetitivo – tema 1155) (Info 758). Cuidado, pois existem julgados do STF em sentido contrário, como por exemplo, este: JURISPRUDÊNCIA (...) a orientação jurisprudencial desta Suprema Corte é no sentido de que a detração da pena privativa de liberdade não abrange o cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão por falta de previsão legal (STF. 1ª Turma. HC 205.740/SC AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/04/2022). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 15 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Vale ainda destacar que, a fim de conferir maior eficácia à essa medida cautelar, o juiz pode aplicar, em cumulatividade, a medida de monitoramento eletrônico, uma vez que a Lei de Execuções Penais, prevê essa possibilidade nos casos de concessão de prisão domiciliar: Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando: (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) I – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) II – autorizar a saída temporária no regime semiaberto; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) III – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) IV – determinar a prisão domiciliar; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) V – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) Parágrafo único. (VETADO). (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) 2 .2 .6 . susPeNsÃo Do eXerCÍCio De FuNÇÃo PÚBLiCa ou De atiViDaDe De NatureZa eCoNÔMiCa ou FiNaNCeira A aplicação dessa medida cautelar se amolda aos crimes supostamente praticados por dois tipos de agentes: Funcionário público que se utiliza da função pública por ele exercida para o fim de cometer crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Econômico-Financeira. (Ex.: peculato e corrupção passiva). Conforme art. 327, do Código Penal, compreende-se como funcionário público: Art. 327. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei n. 9.983, de 2000) § 2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei n. 6.799, de 1980) Agentes que de alguma forma, no exercício da sua atividade econômica ou financeira, praticaram crimes contra a Ordem Econômico-Financeira (Ex.: lavagem de capitais, gestão temerária ou fraudulenta de instituição financeira). Esses delitos têm previsão nas seguintes leis, dentre outras que possam surgir: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 16 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Lei n. 1.521/1954 Crimes contra a economia popular Lei n. 7.134/1983 Crimes de aplicação ilegal de créditos, financiamentos e incentivos fiscais Lei n. 7.492/1986 Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional Lei n. 8.070/1990 Código de Defesa do Consumidor Lei n. 8.176/1991 Crimes contra a ordem econômica Lei n. 9.279/1996 Crimes em matéria de propriedade industrial Lei n. 9.613/1998 Crimes de lavagem de capitais JURISPRUDÊNCIA: Conforme entendimento proferido pelo STF, no julgamento do AI 636.883/2011, a suspensão do direito do exercício da atividade econômica ou financeira é compatível com os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, uma vez que essa não é absoluta e não pode ser invocada para afastar a regulamentação do mercado e as regras de proteção ao consumidor. Assim, goza de constitucionalidade. É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo simples fato de ele ter sido indiciado pela prática de crime. É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores. Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei n. 9.613/98): (...) Art. 17-D.Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder Judiciário. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000). Importante dizer que a aplicação da medida cautelar em voga, prevista no art. 319, VI, do CPP, deve ser aplicada estritamente nos casos do agente que tiver aproveitado da sua função pública ou atividade de natureza econômico ou financeira para a prática do delito. Ou seja, é essencial a demonstração do nexo entre a prática do delito e a função do agente. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 17 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Ademais, como requisito de toda medida cautelar, a demonstração do periculum libertatis deve se pautar no risco do agente cometer novo delito, caso venha a se manter no exercício da função. Nessa linha, pode ainda o magistrado determinar apenas a suspensão parcial das funções desempenhadas pelo agente, ou seja, somente aqueles que se relacionam com o delito que está sendo apurado. Lado outro, essa medida também pode ser utilizada para evitar que o agente, se mantido na sua função, destrua ou modifique provas, intimide testemunhas ou vítimas, bem como para outras finalidades cautelares, desde que abarcadas pelo art. 282, I, do CPP. Há discussão doutrinária se a aplicação da medida cautelar de suspensão da função pública poderia ser aplicada aos casos de agentes que exercem mandato eletivo, uma vez que o art. 319, VI, do CPP nada dispõe sobre essa especificidade. Vejamos os entendimentos: CORRENTE CONTRÁRIA Considerando-se que o CPP não fixa prazo máximo para a medida, ela poderia ser utilizada como instrumento de cassação de fato do mandato eletivo. CORRENTE FAVORÁVEL A função pública abarca toda e qualquer atividade exercida junto à Administração Pública, inclusive mandatos eletivos. Inclusive, seria medida menos gravosa do que a prisão preventiva de agentes públicos, como já decidiu o STF e o STJ em alguns casos. Em relação à suspensão da função pública nos casos de mandatos eletivos, há de se ressalvar os casos de imunidade à prisão preventiva, que seria extensível quanto à aplicação dessa medida cautelar. oo agenteagente queque foifoi suspensosuspenso dodo exercícioexercício dada suasua funçãofunção devedeve receberreceber remuneração?remuneração? O STF, no julgamento do RE 482.006/MG, em 13/12/2007, no qual se discutiu a constitucionalidade de preceito de lei estadual que fixava a redução de vencimentos de servidores públicos afastados de suas funções por responderem processo penal por suposta prática de crime funcional, decidiu que a redução ou suspensão de salários nesses casos viola os princípios da presunção de inocência, bem como da irredutibilidade de vencimentos. Ademais, entendeu o Pleno do STF que tal medida se configuraria verdadeira antecipação de pena, sem a precedência do devido processo legal. O acusado quando absolvido em primeiro grau, deve retornar ao exercício normal de suas funções, com o afastamento da medida cautelar, com base na interpretação analógica do art. 386, § único, II, do CPP: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 18 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Art. 386, Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: I – mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade; II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) Lado outro, se condenado em pena privativa de liberdade por prazo igual ou superior a 1 (um) ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública, sofrerá como efeito da condenação a suspensão da sua função pública (somente após o trânsito em julgado), conforme art. 92, inciso I, alínea “a”, do Código Penal: Art. 92. São também efeitos da condenação: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: (Redação dada pela Lei n. 9.268, de 1º.4.1996) a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; (Incluído pela Lei n. 9.268, de 1º.4.1996) 2 .2 .7 . iNterNaÇÃo ProVisÓria Conforme previsão contida no art. 319, VII, do CPP, a internação provisória do acusado somente ocorrerá nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, em situações nas quais os peritos concluam ser o agente inimputável ou semi-imputável, de acordo com o art. 26, do Código Penal, ou quando houver risco de reiteração do delito. Inimputáveis Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) Redução de pena Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) Assim, essa medida tem a finalidade de proteger a sociedade da prática reiterada de atos ilícitos violentos e graves. O art. 319, VII, do CPP não estipulou distinção se a situação de inimputabilidade ou semi-imputabilidade deve ser no momento da prática do delito ou superveniente à infração. Assim, a medida provisória de internação pode ser aplicada em ambas as situações. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 19 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco A medida cautelar provisória de internação não se confunde com a medida de segurança provisória, visto que se trata de instrumento de natureza cautelar com a finalidade de garantir a ordem pública e evitar novas infrações penais com violência e grave ameaça. Requisitos da internação provisória. Além dos requisitos intrínsecos a todas as medidas cautelares, quais sejam, periculum libertatis e fumus comissi delicti, que no caso em voga, se caracteriza pela necessidade de se evitar a reiteração do delito, a medida cautelar de internação está condicionada à conclusão dos peritos a respeito da sanidade mental do acusado. Dessa forma, antes da fixação da medida cautelar de internação provisória, em regra, é necessário prévio incidente de insanidade mental, que somente pode ser determinado pela autoridade judiciária, sendo vedada a sua determinaçãopela autoridade policial, conforme art. 149, do CPP: Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal. § 1º O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente. § 2º O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento. Contudo, conforme entendimento de Renato Brasileiro (2016), a existência prévia de laudo de exame de insanidade mental não pode ser condição imprescindível à fixação da internação provisória, uma vez que a realidade prática do Poder Judiciário brasileiro é de morosidade dos atos e a necessidade da fixação da medida é, na maioria das vezes, urgente. Assim, ele entende que podem ser utilizadas outras provas do estado mental do acusado até que seja expedido laudo conclusivo quanto ao exame de insanidade mental, valendo-se o juiz, do seu poder geral de cautela. Apesar do art. 319, VII, do CPP afirmar que a fixação da medida de internação provisória está condicionada à conclusão dos peritos (no plural) pela inimputabilidade (ou semi- imputabilidade) do acusado, na verdade, essa redação deve ser lida combinada com o art. 159, §1º, do CPP, que prevê, a necessidade de apenas 1 (um) perito do juízo. Serão necessárias 2 (duas) pessoas idôneas, apenas em situações de falta de perito oficial: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 20 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) Local de cumprimento da internação provisória. A medida deve ser cumprida em estabelecimento hospitalar adequado, qual seja, hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, e na sua ausência, em outro local adequado, conforme art. 96, I, do Código Penal e art. 99, da Lei de Execução Penal: Código Penal Espécies de medidas de segurança Art. 96. As medidas de segurança são: (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) I – Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) II – sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único. Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. (Redação dada pela Lei n. 7.209, de 11.7.1984) Lei de Execução Penal Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi- imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal. Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único, do artigo 88, desta Lei. Em casos de falta de vagas em estabelecimento adequado à internação provisória, caso o acusado se encontre em extrema debilidade por doença grave, a internação provisória pode ser substituída por prisão domiciliar, cumulativa com tratamento ambulatorial. Já nos casos de inexistência de vaga para internação provisória, mas nos quais o acusado apresenta perigo à sociedade pelo seu estado mental, o Superior Tribunal de Justiça entende que ele pode ser internado em ala hospitalar do estabelecimento prisional, a fim de receber tratamento necessário até que surja uma vaga em estabelecimento adequado. JURISPRUDÊNCIA Afinal, configura constrangimento ilegal a colocação de acusado inimputável em presídio comum, por ausência de vaga em hospital psiquiátrico. (STJ, 5ª Turma, RHC 22.654/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 04/09/2008, DJe 22/09/2008). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 21 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Destaque-se ainda que, conforme a Lei n. 10.216/01, que dispõe sobre os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, deve ser garantida aos internados (seja por qual motivo for) a assistência integral, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, ser tratado com humanidade, visando a sua recuperação pela inserção na sociedade. Detração penal. Por ser medida que gera a restrição de liberdade, a internação provisória deve ser considerada para fins de detração penal em eventual fixação de pena privativa de liberdade (em caso de recuperação da sanidade mental), seja para aplicação de medida de segurança. 2 .2 .8 . FiaNÇa A partir da Lei n. 12.403/2011, a fiança passou a ser aplicada também como medida cautelar autônoma, a ser fixada nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento do acusado aos atos do processo e evitar a obstrução do seu andamento, em caso de resistência injustificada à ordem judicial, conforme art. 319, VIII, do CPP. Importante destacar ainda que a fiança, como medida cautelar, poderá ser aplicada cumulativamente com outras medidas cautelares, desde que tenha compatibilidade lógica, e conforme art. 319, §4º, do CPP: Art. 319, § 4º A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. EXEMPLO Não é compatível a fixação de fiança em cumulatividade com prisão preventiva, já que essa medida impõe restrição completa da liberdade do agente. Afinal, a opção pela fiança é medida que implica menor sacrifício à liberdade do acusado. 2 .2 .9 . MoNitoraÇÃo eLetrÔNiCa Consiste no uso de dispositivo eletrônico afixado no corpo do acusado para que se saiba, à distância, a sua localização geográfica, de modo a viabilizar o controle judicial do seu deslocamento fora do cárcere. Com o advento da Lei n. 12.403/2011, a utilização do monitoramento eletrônico passou a ser também uma medida cautelar autônoma e substitutiva da prisão, conforme art. 319, IX, do CPP, e hoje é usada para evitar o ingresso do agente no sistema prisional e, por consequência, o seu contato com o cárcere. As finalidades do uso do monitoramento eletrônico são diversas, podendo ser aplicada durante as investigações ou no curso do processo penal, em casos previstos em lei, mas sempre com o intuito de acompanhar a localização do acusado (medida cautelar O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 22 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco isoladamente aplicada), ou como instrumento de eficácia de outra medida cautelar aplicada cumulativamente (art. 282, §1º, CPP). Afirme-se ainda que o monitoramento eletrônico visa o cumprimento de 3 (três) finalidades precípuas: • Detenção: manter o acusado em local certo e determinado.Ex.: sua residência, no caso de prisão domiciliar; • Restrição: garantia que o indivíduo não frequente lugares específicos ou se aproxime de determinadas pessoas, como testemunhas e vítimas; • Vigilância: manter a vigilância contínua sobre o acusado, mas sem restringir a sua movimentação. Em que pese a lei ser silente quanto à necessidade de consentimento do acusado para a utilização do monitoramento eletrônico, tendo em vista a particularidade de afixar um equipamento junto ao seu corpo, é salutar entender que, caso haja negativa da sua parte, não deve ser implantado. Nessas situações, o magistrado deverá avaliar outras medidas cabíveis, ou até mesmo a prisão. Orientações ao acusado quanto à utilização do equipamento de monitoramento eletrônico. Segundo Renato Brasileiro, quanto às instruções a serem dadas ao acusado acerca da utilização do equipamento eletrônico, como medida cautelar, podem ser aplicadas as previsões contidas na Lei de Execução Penal – Lei n. 7.210/1984, notadamente as contidas no art. 146-C: Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres: (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) I – receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) II – abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) III – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa: (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) I – a regressão do regime; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) II – a revogação da autorização de saída temporária; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) III – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 23 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco IV – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) V – (VETADO); (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) VI – a revogação da prisão domiciliar; (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) VII – advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste parágrafo. (Incluído pela Lei n. 12.258, de 2010) Ainda em relação a essas orientações, é recomendável que seja feita uma audiência com o acusado, seu defensor, juiz e representante do Ministério Público, a fim de ser cientificado dos seus deveres e das consequências do seu descumprimento. A doutrina tem trazido algumas reflexões sobre a medida cautelar do monitoramento eletrônico sob a ótica dos benefícios auferidos com a sua utilização, seja desde a redução (ou a mitigação do aumento) da massa carcerária, seja por evitar a privação do acusado do seu direito de viver em sociedade, trabalhar, estudar, conviver com a sua família. Além disso, evita o contato do acusado com o sistema carcerário e com todas as mazelas que ele traz àqueles a ele submetidos. 2 .3 . MeDiDas CauteLares NÃo PrisioNais Na LeGisLaÇÃo esPeCiaL2 .3 . MeDiDas CauteLares NÃo PrisioNais Na LeGisLaÇÃo esPeCiaL A partir de agora, abordaremos as medidas cautelares diferentes da prisão expostas fora do Código de Processo Penal. 2.3.1. DECRETO-LEI N. 201/1967 – CRIMES PRATICADOS POR PREFEITOS Em casos de crimes de responsabilidade supostamente praticados por Prefeitos, o Decreto-Lei n. 201/1967, prevê a obrigatoriedade do órgão fracionário do Tribunal de Justiça, ao receber a denúncia, manifestar-se sobre a prisão preventiva do acusado (crimes do art. 1º, I e II) e sobre o afastamento do exercício do cargo durante a instrução criminal (demais incisos do art.1º), quando verificados os pressupostos do fumus comissi delicti e do periculum in mora sob risco de violação do princípio de presunção de inocência. Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipais, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: I – apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio; Il – utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos; (HIPÓTESES DE PRISÃO PREVENTIVA NOS INCISOS I E II) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 24 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco III – desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas; IV – empregar subvenções, auxílios, empréstimos ou recursos de qualquer natureza, em desacordo com os planos ou programas a que se destinam; V – ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, ou realizá-las em desacordo com as normas financeiras pertinentes; VI – deixar de prestar contas anuais da administração financeira do Município a Câmara de Vereadores, ou ao órgão que a Constituição do Estado indicar, nos prazos e condições estabelecidos; VII – Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer título; VIII – Contrair empréstimo, emitir apólices, ou obrigar o Município por títulos de crédito, sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei; IX – Conceder empréstimo, auxílios ou subvenções sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei; X – Alienar ou onerar bens imóveis, ou rendas municipais, sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei; XI – Adquirir bens, ou realizar serviços e obras, sem concorrência ou coleta de preços, nos casos exigidos em lei; XII – Antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município, sem vantagem para o erário; XIII – Nomear, admitir ou designar servidor, contra expressa disposição de lei; XIV – Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente; XV – Deixar de fornecer certidões de atos ou contratos municipais, dentro do prazo estabelecido em lei. XVI – deixar de ordenar a redução do montante da dívida consolidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante da aplicação do limite máximo fixado pelo Senado Federal; (Incluído pela Lei 10.028, de 2000) XVII – ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal; XVIII – deixar de promover ou de ordenar, na forma da lei, o cancelamento, a amortização ou a constituição de reserva para anular os efeitos de operação de crédito realizada com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei; XIX – deixar de promover ou de ordenar a liquidação integral de operação de crédito por antecipação de receita orçamentária, inclusive os respectivos juros e demais encargos, até o encerramento do exercício financeiro; XX – ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realização de operação de crédito com qualquer um dos demais entes da Federação, inclusive suas entidades da administração indireta,ainda que na forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente; XXI – captar recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 25 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco XXII – ordenar ou autorizar a destinação de recursos provenientes da emissão de títulos para finalidade diversa da prevista na lei que a autorizou; XXIII – realizar ou receber transferência voluntária em desacordo com limite ou condição estabelecida em lei. 2.3.2. LEI N. 9.503/1997 – CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO O art. 294 do Código de Trânsito Brasileiro prevê a possibilidade de aplicação de medida cautelar de suspensão da permissão para dirigir veículo automotor, ou a proibição da sua obtenção. Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. Por óbvio, a aplicação dessa medida cautelar também está condicionada à aos requisitos do fumus comissi delicti e periculum in mora, que se relaciona à garantia da ordem pública, por meio da mitigação das oportunidades de reincidência do acusado em delitos da mesma espécie. Há entendimento doutrinário no sentido de somente se aplicar essa medida cautelar nos casos em que o preceito secundário do delito praticado preveja tal suspensão ou proibição de se obter permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, como por exemplo nos artigos abaixo mencionados: Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei n. 12.760, de 2012) Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 26 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Penas – detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. 2.3.3. LEI N. 11.340/2006 – LEI MARIA DA PENHA Essa lei prevê um rol de medidas cautelares em seu art. 22, que excepcionado o inciso V (caráter patrimonial), todas as demais são de natureza cautelar pessoal, que visam a proteção da mulher contra os crimes de violência doméstica: Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III – proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV – restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V – prestação de alimentos provisionais ou provisórios. VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei n. 13.984, de 2020) VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio. (Incluído pela Lei n. 13.984, de 2020) § 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser comunicada ao Ministério Público. § 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso. § 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial. § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil). O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 27 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco JURISPRUDÊNCIA: O requerido (autor da violência) não será citado para contestar o pedido de medidas cautelares dos incisos I, II e III do art. 22 da Lei Maria da Penha: As medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do art.22 da Lei Maria da Penha têm natureza de cautelares penais, não cabendo falar em citação do requerido para apresentar contestação, tampouco a possibilidade de decretação da revelia, nos moldes da lei processual civil. STJ. 5ª Turma. REsp 2009402-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/11/2022 (Info 756). Cabimento de HC para questionar a legalidade de medida protetiva da Lei Maria da Penha: Cabe habeas corpus para apurar eventual ilegalidade na fixação de medida protetiva de urgência consistente na proibição de aproximar-se de vítima de violência doméstica e familiar. STJ. 5ª Turma. HC 298499-AL, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 1º/12/2015 (Info 574). 2.3.4. LEI N. 11.343/2006 – LEI DE DROGAS Essalei prevê em seu art. 56, caso específico de medida cautelar a ser aplicada a funcionário público, no caso do cometimento das infrações previstas nos artigos 33, caput, §1º, 34 a 37. Art. 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais. § 1º Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público, comunicando ao órgão respectivo. § 2º A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias. Obviamente, para a decretação da medida cautelar de afastamento, devem estar presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, sendo essencial que o funcionário público acusado tenha se valido da função para cometer os delitos, bem como a demonstração de que a sua manutenção no exercício da função apresenta risco de reiteração delituosa. 2.3.5. LEI N. 8.429/92 – LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA O art. 20, da Lei de Improbidade Administrativa, antes das alterações promovidas pela Lei n. 14.230/2021, passou a prever a possibilidade de afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, quando necessário à instrução probatória. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 28 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco Mas após a Lei n. 14.230/2021, houve a ampliação das possibilidades da aplicação da medida cautelar de afastamento do cargo, também a fim de evitar a “iminente prática de novos ilícitos”, bem como previu limite de prazo de 90 (noventa) dias para o afastamento: Antes da Lei n. 14.230/2021: Após a Lei n. 14.230/2021: Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual. § 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática de novos ilícitos. (Incluído pela Lei n. 14.230, de 2021) § 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até 90 (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, mediante decisão motivada. (Incluído pela Lei n. 14.230, de 2021) 2 .4 . 2 .4 . JurisPruDÊNCia Do stF e stJ soBre as MeDiDas CauteLares JurisPruDÊNCia Do stF e stJ soBre as MeDiDas CauteLares DiVersas Da PrisÃoDiVersas Da PrisÃo Réu que, aproveitando-se de sua condição de médico, praticou crimes sexuais; prisão preventiva pode ser substituída por proibição do exercício da medicina e suspensão da inscrição médica: JURISPRUDÊNCIA Não se justifica a prisão preventiva se, considerando o modus operandi dos delitos, a imposição da cautelar de proibição do exercício da medicina e de suspensão da inscrição médica, e outras que o Juízo de origem entender necessárias, forem suficientes para prevenção da reiteração criminosa e preservação da ordem pública. STJ. 5ª Turma. HC 699.362-PA, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 08/03/2022 (Info 728). Réu que praticou apenas a lavagem de dinheiro de uma organização criminosa voltada ao tráfico, mas já desfeita, pode ser beneficiado com medidas cautelares diversas da prisão: JURISPRUDÊNCIA Na hipótese em que a atuação do sujeito na organização criminosa de tráfico de drogas se limitava à lavagem de dinheiro, é possível que lhe sejam aplicadas medidas cautelares diversas da prisão quando constatada impossibilidade da organização continuar a O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 29 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco atuar, ante a prisão dos integrantes responsáveis diretamente pelo tráfico. STJ. 6ª Turma. HC 376.169-GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 1/12/2016 (Info 594). Se o MP pediu a aplicação de medida cautelar diversa da prisão, o juiz está autorizado a decretar a prisão? sese oo MPMP pediupediu aa aplicaçãoaplicação dede medidamedida cautelarcautelar diversadiversa dada prisão,prisão, oo juizjuiz estáestá autorizadoautorizado aa decretardecretar aa prisãoprisão sobsob oo argumentoargumento dede queque sese tratatrata dede umauma espécieespécie dede medidamedida cautelar?cautelar? 5ª Turma: NÃO JURISPRUDÊNCIA Se o requerimento do Ministério Público limita-se à aplicação de medidas cautelares ao preso em flagrante, é vedado ao juiz decretar a medida mais gravosa – prisão preventiva -, por configurar uma atuação de ofício. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 754506-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/08/2022 (Info 746). 6ª Turma: SIM JURISPRUDÊNCIA A determinação do magistrado pela cautelar máxima, em sentido diverso do requerido pelo Ministério Público, pela autoridade policial ou pelo ofendido, não pode ser considerada como atuação ex officio. STJ. 6ª Turma. RHC 145.225-RO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/02/2022 (Info 725). O HC pode ser empregado para impugnar medidas cautelares e prisão preventiva: JURISPRUDÊNCIA O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia, alcançando-se o direito de ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984). Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as medidas cautelares impostas pelo Poder Judiciário contra Deputados Estaduais: JURISPRUDÊNCIA É constitucional resolução da Assembleia Legislativa que, com base na imunidade parlamentar formal (art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão preventiva O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para PAULO SILAS SERAFIM GRIGIO - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. 30 de 116gran.com.br Direito ProCessuaL PeNaL Medidas Cautelares Não Prisionais e Liberdade Provisória Thiago Pacheco e as medidas cautelares penais que haviam sido impostas pelo Poder Judiciário contra Deputado Estadual, determinando o pleno retorno do parlamentar ao seu mandato. O Poder Legislativo estadual tem a prerrogativa de sustar decisões judiciais de natureza criminal, precárias e efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função parlamentar. STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN,