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NOÇÕES DE DIREITO PENAL E DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 59 vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual- quer entendimento consolidado sobre o tema. De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es- trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre- ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur- sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não há previsão recursal). Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11) ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au- torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada em situações especiais, desde que se comprove a real existência da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de Processo Penal). CAPÍTULO III DA PRISÃO PREVENTIVA Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro- cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí- cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga- rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo- tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com de- ficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de ur- gência; IV - (Revogado). § 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for- necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de- corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có- digo Penal. Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis- tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica- ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de- cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou- tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí- do pela Lei nº 13.964, de 2019) VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re- vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro- cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór- gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Medidas cautelares diversas da prisão Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí- veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu- sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau- telares diversas da prisão”. Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs- tas no art. 282 do CPP, sendo estes: - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. NOÇÕES DE DIREITO PENAL E DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 60 Medidas cautelares diversas da prisão em espécie Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei nº 12.403/2011 São elas: A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I); B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de novas infrações (inciso II); C) Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado ou acusado deva permanecer distante (inciso III); D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên- cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução (inciso IV); E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos (inciso V); F) Suspensãodo exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI); G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite- ração (inciso VII); H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial (inciso VIII); I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e, agora, também o foi para o prisma processual. O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me- didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo, o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312, CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas da prisão. Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de liberdade somente quando estritamente necessário, também as- sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri- são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di- versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento processual. Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi- cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada. Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente; ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen- te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute- lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente. Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di- versas da prisão. Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi- co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer- cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora- ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da devida fundamentação feita pela autoridade policial. CAPÍTULO IV DA PRISÃO DOMICILIAR Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi- ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial. Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi- ciliar quando o agente for: I - maior de 80 (oitenta) anos; II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple- tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô- nea dos requisitos estabelecidos neste artigo. CAPÍTULO V DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên- cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con- cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica. § 1º ao §3º (Revogados). § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do NOÇÕES DE DIREITO PENAL E DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 61 Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter- ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. Liberdade provisória, com ou sem fiança Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga- rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons- tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória, a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada: A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva- lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº 12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber- dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri- são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber- dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs- tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim, conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro- visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11; B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver- são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati- cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará- grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessãode liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares diversas da prisão; C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”, de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a cumulação de medida cautelar, liberdade provi- sória sem a cumulação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumprimento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de obrigações. Recurso em sede de liberdade provisória Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci- são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas meio autônomo de impugnação. Fiança A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis- tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio- nante ou não da concessão de liberdade provisória. Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci- dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código de Processo Penal). A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca- sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP). De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe- nal, não será concedida fiança: A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLII, da Constituição Federal; B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art. 323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede- ral; C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323, inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal; D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an- teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de Processo Penal (art. 324, inciso I); E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II); F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III); G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava- gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança; H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. Valor da fiança Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con- sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento (art. 326, CPP). Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites: A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a quatro anos (inciso I); B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos (inciso II). Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro- cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi- to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa. Dispensa/redução/aumento da fiança Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP): A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e, verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma- neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio- NOÇÕES DE DIREITO PENAL E DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 62 nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do beneficiário; B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II); C) Aumentada em até mil vezes (inciso III). Destinação da Fiança Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as seguintes providências: A) Pagamento de custas; B) Indenização do dano; C) Pagamento de prestação pecuniária; D) Pagamento de multa; E) Remanescente será devolvido. Objeto da Fiança A) Depósito em dinheiro; B) Pedras, objetos ou metais preciosos; C) Títulos da dívida pública; D) Hipoteca de imóvel. Perda da fiança Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im- posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per- dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va- lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário. Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido estrito (art. 581, VII, CPP). Cassação da fiança A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo- cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati- cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar a cassação, de ofício ou a requerimento da parte. Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa- ção. Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido estrito (art. 581, V, CPP). Reforço da fiança Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti- pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança inidônea). Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen- tido estrito (art. 581, V, CPP). CAPÍTULO VI DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. Art. 323. Não será concedida fiança: I - nos crimes de racismo; II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante- riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; II - em caso de prisão civil ou militar; III - (Revogado). IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312). Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder nos seguintes limites: I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior a 4 (quatro) anos; II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 (quatro) anos. § 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança poderá ser: I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até final julgamento. Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra- da. Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra- mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde será encontrado. Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera- do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es- crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos. Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri- vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327 e 328, o que constará dos autos. Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca inscrita em primeiro lugar. § 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais NOÇÕES DE DIREITO PENAL E DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 63 preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au- toridade. § 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen- do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus. Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re- partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi- tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos. Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona- da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo de fiança. Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e, em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a prisão. Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde- pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista do processo a fim de requerer o que julgar conveniente. Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con- cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me- diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu- niária e da multa, se o réu for condenado. Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código Penal). Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul- gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin- ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste Código. Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie será cassada em qualquer fase do processo. Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica- ção do delito. Art. 340. Será exigido o reforço da fiança: I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente; II - quando houver depreciação material ou perecimento dos bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou pedras preciosas; III - quando for inovada a classificação do delito. Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco- lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re- forçada. Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com- parecer, sem motivo justo; II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento do processo; III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente com a fiança; IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; V - praticar nova infração penal dolosa. Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de- clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo- sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da prisão preventiva. Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian- ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do cumprimento da pena definitivamente imposta. Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os encargos a que o réu estiver obrigado. Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo órgão do Ministério Público. Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre- ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus- to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o disposto no § 4o do art. 282 deste Código. Prisão temporária A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisãopara averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é plenamente constitucional. Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da Lei nº 7.960/89: A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in- quérito policial (inciso I); B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso II); C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º, CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º, CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art. 158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte (art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c. art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual- quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56), tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste- ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III). Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte: