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BEM-ESTAR ANIMAL, ABATE HUMANITÁRIO E QUALIDADE DA CARNE UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA DISCIPLINA: BEM-ESTAR ANIMAL Teresina – PI Janeiro de 2025 Profa. Shirlenne Ferreira Zootecnista, DSc. ❑INTRODUÇÃO ❑BEM-ESTAR ANIMAL E ESTRESSE ❑ABATE HUMANITÁRIO ❑QUALIDADE DA CARNE ❑METABOLISMO MUSCULAR POST MORTEM ❑ALTERAÇÕES NA QUALIDADE DA CARNE - CARNE PSE - CARNE DFD - HEMATOMAS • Conceito de qualidade → comumente relacionado a aspectos intrínsecos da carne → aparência, palatabilidade, rendimento, composição nutricional e segurança alimentar, entre outros atributos. • Mudanças nesse conceito → definição sob aspectos que englobam o bem-estar do animal→ qualidade ética • Preocupação com o bem-estar animal tem determinado a aceitabilidade de produtos de origem animal por consumidores nos países desenvolvidos. As esferas do bem-estar animal, adaptadas de Fraser (2008) Físico Funcionamento biológico e condição corporal Mental Estados afetivos, sentimentos, emoções, cognição Natural Comportamento e vida natural Bem- estar animal 5 6 1. Livre de fome e sede 2. Livre de desconforto 3. Livre de medo e angústia 4. Livre de dor, injúria e doença 5. Livre para expressar os comportamentos naturais da espécie 7 A legislação brasileira contempla como recomendações de bem-estar animal: - proceder ao manejo cuidadoso e responsável nas várias etapas da vida do animal, desde o nascimento, criação e transporte; - possuir conhecimentos básicos de comportamento animal a fim de proceder adequado manejo; - proporcionar dieta satisfatória, apropriada e segura; 8 A legislação brasileira contempla como recomendações de bem-estar animal: - assegurar que as instalações sejam projetadas apropriadamente aos sistemas de produção das diferentes espécies; - manejar e transportar os animais de forma adequada para reduzir o estresse, evitar contusões e sofrimento desnecessário; - manter o ambiente de criação em condições higiênicas. 9 • Principal indicador utilizado para avaliar o bem-estar dos animais. • Desencadeia reações adaptativas através do comportamento e produção hormonal. • Estas reações são realizadas em 3 fases: fase de alarme, fase de resistência e exaustão. A qualidade da carne pode ser definida como o conjunto de quatro fatores de qualidade: 1 - características sensoriais→ cor, aroma, maciez, suculência; 2 – características tecnológicas → pH, capacidade de retenção de água, conteúdo de água e de tecido conjuntivo; A qualidade da carne pode ser definida como o conjunto de quatro fatores de qualidade: 3 – características nutricionais → quantidade de lipídios, proteínas, minerais, vitaminas; 4- características higiênico sanitárias→ ausência de resíduos e de microrganismos patogênicos. Estas propriedades são determinadas por fatores intrínsecos e extrínsecos aos animais. Fatores intrínsecos → características individuais dos animais (genética, reatividade, idade, sexo). • Fatores extrínsecos → ambiente, nutrição, sanidade, manejo na fazenda de origem e no pré-abate, insensibilização e fatores post mortem. Principal impacto na qualidade da carne e aproveitamento da carcaça Manejo pré-abate • Manejo pré-abate inadequado é refletido em efeitos quantitativos e qualitativos sobre a produção da carne, medidas em geral, pelo peso vivo da carcaça, danos nas carcaças (contusões) e alterações de pH e cor da carne. • A determinação do pH é a forma mais comum e universalmente aceita como indicador da qualidade final da carne. Abate humanitário conjunto de diretrizes técnicas e científicas que garantam o bem-estar dos animais desde seu embarque na propriedade até a sangria no frigorífico. Abate humanitário Lei 8.171 de 1991 Lei de Política Agrícola - Decreto n° 9.013 de 2017 Instrução Normativa nº 13 de 2010 - Instrução Normativa nº 56, de 6 de novembro de 2008 - Portaria nº 365 de 16 de julho de 2021 -Portaria nº 864 de 31 de julho de 2023 - Instrução Normativa n° 12 de 2017 Instrução Normativa nº 46 de 2018 - Instrução Normativa nº 113 de 2020 - Legislação — Ministério da Agricultura e Pecuária https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8171.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/D9013.htm https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/defesa-agropecuaria/animal/bem-estar-animal/arquivos/arquivos-legislacao/in-13-2010-exportacao-ruminantes-para-abate.pdf https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/defesa-agropecuaria/animal/bem-estar-animal/arquivos/arquivos-legislacao/in-56-de-2008.pdf https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-365-de-16-de-julho-de-2021-334038845 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-sda/mapa-864-de-31-de-julho-de-2023-499871950 https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/defesa-agropecuaria/animal/bem-estar-animal/arquivos/arquivos-legislacao/IN1217BemEstarTreinamento.pdf http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/39325268/do1-2018-09-03-instrucao-normativa-n-46-de-28-de-agosto-de-2018-39325102 https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-n-113-de-16-de-dezembro-de-2020-294915279 https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/producao-animal/boas-praticas-de-producao-animal/legislacao Após o abate dos animais→ processo de conversão do músculo em carne Alterações químicas e físicas, degradações enzimáticas e desnaturações proteicas começam a ocorrer na musculatura estriada→ rigidez da carcaça ou rigor mortis. Rigor mortis→ enrijecimento da musculatura. - Decorre da formação de ligações cruzadas permanentes entre os miofilamentos de actina e miosina (actomiosina), decorrente de condições que impossibilitam a geração de ATP pela quase completa exaustão das reservas energéticas (glicogênio) e queda do pH. Mudanças físicas que acompanham o rigor mortis → perda de elasticidade e extensibilidade e o aumento de tensão. Final do rigor mortis→ amaciamento das massas musculares • Ácido lático - Promove maciez, em virtude da conversão do colágeno em gelatina. - Responsável pelo decréscimo do pH ou acidificação da carne - Fundamental para melhor preservação e maior durabilidade da carne. - Acidificação adequada da carne→ pH entre 5,4 e 5,8. Imediatamente após o abate → pH dos músculos neutro ou ligeiramente alcalino. - Processo gradual de acidificação começa a ocorrer até que haja uma estabilização em uma faixa de 5,4 a 5,8. - Neste intervalo muitos microrganismos são inibidos, principalmente os proteolíticos. - Valores finais de pH superiores podem comprometer a conservação da carne e diminuir sua capacidade de retenção de água. - Muito importante a velocidade de queda do pH. - A queda do pH é mais rápida nos suínos e aves, intermediária nos ovinos e mais lenta nos bovinos. • Bovinos Glicólise se desenvolve lentamente e o pH inicial em torno de 7,0 cai para 6,4 a 6,8 (após 5 horas) e 5,5 a 5,8 (após 24 horas). • Suínos Velocidade de queda é maior, atingindo valores de 5,6 - 5,7 após 6 - 8 horas post-mortem e 5,3 - 5,7 após 24 horas. Quadro de estresse rápido imediatamente antes do abate → queda muito rápida do pH após a morte. - Carne com defeito PSE (pálida, mole e exsudativa) Período longo de estresse antes do abate que leva ao esgotamento do glicogênio muscular → carne com defeito DFD (escura, firme e seca). ❑Carne PSE (pale, soft, exudative) - Decomposição acelerada do glicogênio após o abate, resultando em valores de pH muscular inferiores a 5,8, enquanto a temperatura ainda nem foi consideravelmente alterada (>35°C), ocasionando desnaturação proteica e alterando as características funcionais da carne. (Moreira et al. 2004) ❑Carne PSE (pale, soft, exudative) Baixo pH quando + altas temperaturas da carcaça: • Maior desnaturação das proteínas miofibrilares → menor capacidade de retenção de água • Coloração pálida da carne ❑Carne PSE (pale, soft, exudative) - Associada ao estresse intenso ou agudo, que ocorre próximo ao momentodo abate. Estresse → ativação do sistema nervoso autônomo e sistema neuroendócrino → secreção de hormônios que atuam no interferem nos níveis de glicogênio e fosfocreatina muscular e, consequentemente, nas concentrações de ATP, lactato e íons hidrogênio. ❑Carne PSE (pale, soft, exudative) • Suínos → ocorre quando o pH muscular atinge o valor menor do que 5,8 a 5,7 45 minutos post mortem. • Frangos→pH atinge 5,7 após 15 minutos post mortem. ❑Carne PSE (pale, soft, exudative) - Redução da incidência de carne PSE: - Realizar o embarque dos animais logo ao chegar ao frigorífico; - Reduzir o uso de bastões elétricos para conduzir os animais; - Fornecer água em aspersão para equilibrar a temperatura corporal; - Obedecer ao tempo de descanso antes do atordoamento; - Conduzir os animais com calma no manejo pré-abate dentro das normas do bem-estar animal. ❑Carne DFD (dark, firm, dry) ➢ Causado pelo estresse crônico antes do abate, que esgota os níveis de glicogênio. ➢pH permanece acima de 6,2 após 24 horas ❑Carne DFD (dark, firm, dry) ➢ Estoques baixos de → pouca matéria prima para a realização da glicólise post mortem - Ocorre baixa produção de ácido lático. - Níveis de ATP se esgotarão rapidamente e o rigor mortis ocorrerá com o pH pouco modificado. - pH final da carne permanecerá elevado (> 6,0 ou até próximo aos valores fisiológicos). → Carne escura, firme e seca (bovinos e suínos) ❑Carne DFD (dark, firm, dry) Alta umidade e o pH elevado, próximo ao neutro→ maior susceptibilidade a contaminação e ao desenvolvimento de microrganismos patógenos. Ausência de glicose na superfície da carne DFD permite à microflora atacar e degradar os aminoácidos de forma primordial, dando lugar a compostos de odor intenso no processo de deterioração. ❑Carne DFD (dark, firm, dry) Brasil → frigoríficos só exportam carne com pH inferior a 5,8 ou 5,9 (dependendo do país importador), avaliado diretamente no músculo Longissimus dorsi 24 horas após a morte. pH 6,4→ limite máximo preconizado pelo Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal para carnes ainda em condições de consumo. ❑Hematomas na carcaça Hematoma • Qualquer lesão tecidual com ruptura do fornecimento vascular e acúmulo de sangue e soro. • Desenvolve-se após a aplicação de força, geralmente ocasionada por objeto contundente, suficiente para romper vasos sanguíneos. Hematoma originado da colisão do animal com a porteira do caminhão durante a etapa de desembarque. Fonte: Pellecchia, (2014). ❑Hematomas na carcaça Podem ocorrer em qualquer etapa da cadeia produtiva e sua presença revela indícios de manejo inadequado dos animais seja nas fazendas, durante os embarques, nos transportes, nos desembarques nos frigoríficos, nos currais de espera e também durante a insensibilização. ❑Hematomas na carcaça Idade de hematomas em animais → cor e da aparência dos hematomas. Cor vermelho brilhante→o hematoma provavelmente ocorreu em até 10 horas do momento da observação Hematoma vermelho escuro teve ocorrência em aproximadamente 24 horas prévias à observação. • Para evitar o comprometimento da qualidade da carne e condenação da carcaça é importante que o programa de bem-estar seja efetivo. • Utilizar métodos de manejo pré-abate e instalações que reduzam o estresse; • Dispor de uma equipe treinada e capacitada, comprometida, atenta e cuidadosa no manejo dos bovinos; • Dispor de equipamentos apropriados, com manutenção periódica, a serem utilizados devidamente ajustados à espécie e situação; • Processo eficaz de insensibilização que induza à imediata perda da consciência e sensibilidade, de modo que não haja recuperação e, consequentemente, não haja sofrimento até a morte do animal. shirferreira@yahoo.com.br @forragicultura.ufpi 42 mailto:shirferreira@yahoo.com.br Slide 1: BEM-ESTAR ANIMAL, ABATE HUMANITÁRIO E QUALIDADE DA CARNE Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42