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Unidade_IV_Interpretacao_e_Classificacao_dos_Contratos

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UNIDADE IV – INTERPRETAÇÂO E CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS.
I. INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS:
1.INTRODUÇÃO:
A operação interpretativa pressupõe controvérsia instaurada e não resolvida entre os contratantes a respeito do conteúdo do contrato, no momento de sua execução.
A controvérsia sobre o sentido exato e a respectiva extensão e intensidade dos efeitos do conteúdo do contrato decorre da utilização de palavras ou frases confusas, obscuras ou dotadas de significado ambíguo.
Instaurada a controvérsia, paralisam-se os efeitos do contrato e, consequentemente, a sua execução, cabendo ao Poder Judiciário dirimir a controvérsia, declarando com força vinculativa para as partes o sentido da palavra, frase ou cláusula controversa.
2. ESPÉCIES:
A interpretação contratual é dita declaratória quando tem como único escopo a descoberta da intenção comum dos contratantes no momento da celebração do contrato. É chamada de integrativa ou construtiva quando objetiva o aproveitamento do contrato, mediante o suprimento das lacunas e pontos omissos deixados pelas partes.
A integração contratual preenche, pois, eventuais lacunas encontradas nos contratos, complementando-os por meio de normas supletivas, especialmente as que dizem respeito à sua função social, ao princípio da boa-fé, aos usos e costumes do local, bem como buscando encontrar a verdadeira intenção das partes, às vezes revelada nas entrelinhas. Criação de norma supletiva – índice de correção.
Seria, portanto, um modo de aplicação do direito pelo qual o órgão jurisdicional, mediante o recurso à lei, à analogia, aos costumes, aos princípios gerais do direito ou à equidade, cria norma supletiva, que completará, então, o contrato, que é uma norma jurídica individual.
3. PRINCÍPIOS BÁSICOS:
Nos contratos e demais negócios escritos, a análise do texto (interpretação objetiva) conduz, em regra, à descoberta da intenção dos pactuantes. Parte-se, portanto, da declaração escrita para se chegar à vontade dos contratantes (interpretação subjetiva), alvo principal da operação.
Quando determinada cláusula mostra-se obscura e passível de dúvida, alegando um dos contratantes que não representa com fidelidade a vontade manifestada na celebração da avença, e tal alegação resta demonstrada, deve prevalecer a declaração em detrimento da literalidade do texto, pois, nos termos do art. 112 do CC/2002, nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Dois princípios hão de ser observados sempre na interpretação dos contratos: o da boa-fé (art. 113, já estudado na semana anterior) e o da conservação do contrato. 
Segundo o princípio da conservação ou aproveitamento do contrato, entende-se que se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes tenham celebrado um contrato carecedor de qualquer utilidade.
Esse princípio informa a denominada conversão substancial do negócio jurídico (Art. 170, do CC/02). Assim, p.ex., se as partes celebraram um pretenso contrato de compra e venda de imóvel sem atenção às formalidades exigidas por lei, pode-se considerar o negócio como uma promessa de compra e venda, que não exige forma solene, para se aproveitar a vontade das partes.
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
Ainda segundo o Código Civil, art. 114, os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. São aqueles negócios que envolvem uma liberalidade, como na doação. Devem ter interpretação estrita, pois representam renúncia de direitos.
Enunciado 367, do CJF: ”Art. 479. Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modifica-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade e observado o contraditório. ”
REGRAS ESPARSAS NO CÓDIGO CIVIL. SÚMULAS.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
 Contrato de dupla adesão (SUSEP);
 Cláusula ambígua é aquela que tem mais de um sentido;
 Cláusula contraditória é aquela em que o seu conteúdo é inconciliável, por exemplo, o mútuo sem vantagens para o mutuante e que estabelece a cobrança de juros.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.	 
 Cláusula de não reparação por defeitos da coisa/má-prestação do serviço, vício redibitório e evicção.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
	Nesse caso, o negócio jurídico é nulo por impossibilidade absoluta do objeto. Contudo, é possível que os pais partilhem, por ato inter vivos, o seu patrimônio entre os descendentes (art. 2.018, CC/02). Bem como, a realização de doações antenupciais recíprocas, respeitando a herança legítima.
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.
Art. 843. A transação interpreta-se restritivamente, e por ela não se transmitem, apenas se declaram ou reconhecem direitos.
Art. 1.899. Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.
STF, Súmula 454. Simples interpretação de cláusulas contratuais não dá lugar a recurso extraordinário.
STJ, Súmula 181. É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto a exata interpretação de clausula contratual.
CRITÉRIOS PRÁTICOS PARA INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS (Maria Helena Diniz - Tratado teórico e prático dos contratos):
 A melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo como vinham executando o contrato, de comum acordo;
 Deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor;
 As cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais;
 Qualquer obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois, podendo ser claro, não o foi;
 Na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exequível (princípio da conservação do contrato);
 Em relação aos termos do contrato, considerar-se-á que, por mais genéricos que sejam, só abrangem os bens sobre os quais os interessados contratarem e não os de que não cogitaram;
 Nas cláusulas duvidosas, prevalecerá o entendimento de que se deve favorecer quem se obriga;
 Nos contratos gratuitos, a interpretação deve proceder-se no sentido de fazê-lo o menos pesado possível para o devedor; nos onerosos, deve-se buscar interpretar de modo a alcançar um equilíbrio equitativo entre os interesses das partes;
 Na dúvida entre a gratuidade e a onerosidade do contrato, presumir-se-á esta e não aquela;
 Nas convenções que tiverem por objeto uma universalidade de coisas, compreendem-se nela todos os bens particulares que a compõem, mesmo aqueles de que os contraentes não tiverem conhecimento;
 No contrato de locação que apresentar dúvidas, resolver-se-á contra o locador;
 No contrato seguido de outro, que o modifica parcialmente, a interpretação deverá considerar ambos como um todo orgânico.
II. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS:
Os contratos agrupam-se em diversas categorias, as quais estão diretamente relacionadas com os seus pressupostos de validade e com as suas repercussões jurídicas. Para tal, será exposto a seguir, as diversas modalidades dessa classificação.
1. QUANTO A QUALIDADE DOS SUJEITOS CONTRATANTES:
1.1. Contratos de direito comum: são regulados pelo direito civil. São considerados contratos paritários – as partes discutem livremente as condições porque se encontram em situação de igualdade (par a par). 
1.2. Contratos de consumo: como o próprio diz, são contratos provenientes deuma relação de consumo – fornecimento de produto e/ou consumo – da qual fazem partes o fornecedor (art.3º do CDC) e o consumidor (art.2º do CDC). São regulados pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei nº8.078/90). 
2. CONTRATOS DE DIREITO PÚBLICO E CONTRATOS DE DIREITO PRIVADO:
2.1. Contratos de Direito Público: a Administração Pública figura em dos pólos da relação contratual. São os regidos pelas normas de direito público e, subsidiariamente, por normas de direito privado, no que não lhe for incompatível. Ex: contrato de obra pública.
2.2. Contratos de Direito Privado: são os travados entre particulares e regidos pelas normas de direito privado. Os contratos de direito privado podem ser de direito comum (ex: compra e venda), mercantis (realizado entre empresários, ou seja, as contratantes realizam atividade empresarial) e de consumo.
3. QUANTO AO MOMENTO DO APERFEIÇOAMENTO DO CONTRATO:
3.1. Contratos consensuais: são aqueles que se formam unicamente pelo acordo de vontades das partes, independentemente da entrega da coisa ou da observância de determinada forma. Logo são contratos que a lei nada mais exige que o consentimento das partes. O direito civil brasileiro por adotar o princípio do consensualismo, determina que os contratos em regra sejam consensuais (Gonçalves, 2012, p.110). Ex: compra e venda de bens móveis, art. 482 do CC. 
3.2. CONTRATOS REAIS: são os que exigem, para se aperfeiçoar, além do consentimento das partes, a entrega da coisa, objeto do contrato (traditio rei). Ex: depósito (art.627 ao art.652 do CC), comodato (art.579 ao art.585 do CC), mútuo (art.586 ao art.592 do CC). A entrega da coisa não faz parte da fase executória do contrato, mas sim, da própria fase de constituição, de formação do contrato (Gonçalves, 2012, p.111).
 Tradição efetiva ou real: o bem é colocado à disposição do contratante, por exemplo, trazendo para dentro no imóvel;
 Tradição simbólica: por ato ou gesto, por exemplo, a entrega das chaves;
 Ficta: decorre de um contrato, por exemplo, na traditio brevi manu (aquele que possuía em nome alheio passa a possuir em nome próprio) e no constituto possessório (aquele que possui em nome próprio passa a possuir em nome alheio).
4. QUANTO A FORMA:
4.1. CONTRATOS SOLENES: os contratos para serem válidos devem obedecer a forma prescrita em lei. Nesse caso a forma é condição de validade de contrato, de modo que, não cumprida a forma determinada pela lei, o contrato será nulo (art.166, inc.IV do CC). Ex: art.108 do CC (Gonçalves, 2012, p.108).
4.2. CONTRATOS NÃO SOLENES: a lei não exige nenhuma formalidade para o seu aperfeiçoamento, seguindo, pois, o princípio da liberdade das formas. Dessa forma, esses contratos se perfazem, por meio de qualquer forma (verbal, de forma escrita por instrumento particular ou instrumento público), o que os fazem ser denominados de contratos de forma livre (Gonçalves, 2012, p.109).
5. QUANTO A TIPICIDADE (DEFINIDOS PELO CÓDIGO CIVIL).
5.1. CONTRATOS NOMINADOS: são aqueles que têm designação própria. O CC designa em vinte capítulos, vinte e três contratos nominados: compra e venda, troca, contrato estimatório, doação, locação de coisas, empréstimo, prestação de serviço, empreitada, sociedade, depósito, mandato, comissão, agência, distribuição, corretagem, transporte, constituição de renda, seguro, jogo, aposta, fiança, transação e compromisso (Gonçalves, 2012, p.114).
5.2. CONTRATOS INOMINADOS: são, pois, os que não têm denominação própria. Por não terem nomes no ordenamento jurídico brasileiro, exige-se uma minuciosa especificação dos direitos e das obrigações de cada parte (Gonçalves, 2012, p.115).
5.3. CONTRATOS TÍPICOS: são os regulados por lei. Como é determinado pela lei, não requer muitas cláusulas. Vale ressaltar que, todo contrato nominado é típico e vice-versa (Gonçalves, 2012, p.115).
5.4. CONTRATOS ATÍPICOS: suas características e requisitos definidores não são regulados por lei. Para que sejam válidos basta o consenso – princípio do consensualismo – entre as partes e que estas sejam capazes, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável e susceptível de apreciação econômica, art.425 do CC (Gonçalves, 2012, p.115). Ex: contratos eletrônicos.
6. QUANTO AS OBRIGAÇÕES RECÍPROCAS:
6.1. CONTRATOS UNILATERAIS: são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes. O que determina um contrato ser unilateral, não é o fato de ser formado por um contratante – haja vista o contrato ser formado com no mínimo duas pessoas – mas sim, o fato de gerar obrigação apenas para uma das partes; Ex: doação pura (Gonçalves, 2012, p.92).
6.2. CONTRATOS BILATERAIS: são os que geram obrigações para ambos os contratantes. Ex: compra e venda. Esses contratos são também denominados de sinalagmáticos – sinalagma, palavra grega que indica reciprocidade de prestações (Gonçalves, 2012, p.92).
OBS: o contrato bilateral imperfeito é uma espécie de contrato unilateral, uma vez que a obrigação gerada para outro contratante não nasce da avença, do acordo, que se dá durante a formação do contrato, mas sim, por um fato eventual durante a execução do mesmo. Ex: João doa um imóvel de forma pura e simples – sem encargos – para Paulo, seu amigo. Este deve pagar o registro do imóvel, bem como os valores do IPTU em atraso. Assim, a obrigação posteriormente criada, não decorre da vontade contratual, mas da incidência da lei (Gonçalves, 2012, p.94).
6.3. CONTRATOS PLURILATERAIS: são os contratos que contém mais de duas partes. Uma de suas características é a rotatividade de seus membros. Ex: contrato de condomínio, em que cada condômino é uma parte. Cada parte tem obrigações não para com “uma” outra, mas para com “todas” as outras, ou seja, há direitos e obrigações recíprocos entre todos os sujeitos envolvidos no contrato (Gonçalves, 2012, p.9).
7. QUANTO AO SACRIFÍCIO PATRIMONIAL DAS PARTES:
7.1. CONTRATO GRATUITO OU BENÉFICO: é aquele em que há obrigação, prestação, sacrifício patrimonial somente para uma das partes; a outra parte apenas aufere benefício ou vantagem. Nessa modalidade, outorgam-se vantagens a uma das partes sem exigir contraprestação da outra. Em geral é também unilateral. Ex: doação pura (Gonçalves, 2012, p.95).
7.2. Contrato oneroso: ambas as partes obtém proveito correlato a um sacrifício patrimonial. Há assim, sacrifícios e benefícios recíprocos. Em geral é bilateral. Ex: compra e venda (Gonçalves, 2012, p.95).
7.2.1. CONTRATO ONEROSO COMUTATIVO: não há risco para as partes, uma vez que as prestações são certas e determinadas. As partes antevêem as vantagens e os sacrifícios, que geralmente se equivalem. Logo o contrato comutativo é um contrato oneroso e bilateral, em que cada contraente, além de receber do outro prestação relativamente equivalente à sua, pode verificar de imediato essa equivalência (Gonçalves, 2012, p.97).
7.2.2. CONTRATO ONEROSO ALEATÓRIO POR NATUREZA: o vocábulo aleatório advém do latim alea, que significa sorte, risco, acaso. É um contrato bilateral e oneroso que PELO MENOS UM DOS CONTRATANTES não pode antever a vantagem que receberá em troca da prestação fornecida. Tem, portanto, como essência o risco, pois o ganho ou a perda consequente está na dependência de um acontecimento incerto para os contratantes. É o contrário do comutativo, pois, caracteriza-se pela incerteza das partes sobre as vantagens e sacrifícios que pode dele advir. A perda ou lucro dependem de um fato futuro e imprevisível. Ex: contratos de jogos, apostas.
OBS: o contrato de seguro será comutativo para o beneficiário, pois, este o celebra sabendo desde já a sua vantagem, qual seja, se acobertar contra qualquer risco. No entanto, para a seguradora, este contrato será aleatório, uma que a sua obrigação, ou seja, o pagamento ou a indenização ao(s) beneficiado(s), dependerá de um fato eventual.
7.2.3. CONTRATO ONEROSO ACIDENTALMENTE ALEATÓRIO: são contratos tipicamente comutativos, mas que, em razão de certas circunstâncias, tornam-se aleatórios. Estes se subdividem em duas espécies:
7.2.3.1. VENDA DE COISASFUTURAS: o risco pode referir-se a: a) a própria existência da coisa; b) a sua quantidade.
a) RISCO A PRÓPRIA EXISTÊNCIA DA COISA (art.458 do CC): é a hipótese de emptio spei ou venda da esperança, isto é, da probabilidade de as coisas ou fatos existirem. É o caso em que o alienante terá direito a todo o preço da coisa mesmo que esta venha a não existir. Exemplo disto é a venda de colheita futura. Independente de a safra existir ou não, o comprador deve assumir o risco da completa frustração da safra, ou seja, sua não existência, salvo se o risco cumprir-se por dolo ou culpa do vendedor.
b) RISCO REFERENTE A QUANTIDADE MAIOR OU MENOR DA COISA ESPERADA: é a hipótese de emptio rei speratae ou venda da coisa esperada (art.459 do CC). Refere-se aos casos de coisas futuras, quando o adquirente assume o risco de virem a existir em qualquer quantidade. O preço será devido ao alienante, ainda que a quantidade seja inferior à esperada. Tal sorte, neste caso, se vincula à quantidade e não a existência da coisa, como no artigo anterior e, o alienante, não terá direito ao preço contratado se houver agido com dolo ou culpa. Ex: venda de colheita futura quando a safra alcança quantidade inferior ou mínima.
7.2.3.2. VENDA DE COISAS EXISTENTES, MAS EXPOSTAS A RISCO (art.460 e 461 do CC). Trata-se de contrato aleatório tendo por objeto coisas existentes, mas expostas a risco. O adquirente assume o risco de não receber a coisa adquirida, ou recebê-la parcialmente, ou ainda recebê-la de forma danificada, deteriorada, ou desvalorizada, pagando, entretanto, ao alienante todo o valor. Ex: a mercadoria embarcada, tomando sobre si o adquirente a sorte (álea) de vir ou não a receber devido acidente ou naufrágio. Desta forma, mesmo que a coisa resultado do objeto do contrato já não exista no todo ou em parte, o risco assumido obriga o adquirente ao pagamento do preço, com a exceção trazida pelo art. 461 do CC, em que o contrato poderá ser anulado, provando o adquirente e prejudicado a conduta dolosa do alienante que, não ignorando o perecimento do bem em detrimento da consumação do risco, o aliena mesmo quando já não existe.
8. QUANTO AO MODO POR QUE EXISTEM (QUANTO ÀS RELAÇÕES RECÍPROCAS).
8.1. CONTRATOS PRINCIPAIS: são os que tem existência própria, autônoma e não dependem, pois, de qualquer outro. Ex: o contrato de compra e venda.
8.2. CONTRATOS ACESSÓRIOS: são aqueles cuja existência encontra-se subordinada à do contrato principal. A finalidade dos contratos acessórios é garantir o cumprimento das obrigações contraídas no contrato principal. Tal finalidade enseja a aplicação do princípio da gravitação jurídica, ou seja, de que o acessório segue o destino do principal, de modo que, se nulo o contrato principal, nulo será também o negócio acessório, no entanto, a recíproca não é verdadeira, art.184 do CC. Ex: contrato de frança.
8.3. CONTRATOS COLIGADOS: compreendem situação intermediária entre os contratos principais e os contratos acessórios. Eles se constituem de dois ou mais contratos principais, mas que, por vontade das partes, estão unidos por um nexo funcional e têm a mesma finalidade econômica. Assim, para que dois ou mais contratos conectem como coligados, um deles deve ser a causa do outro. Ex: (1) subempreitada. Ex (2) um empreiteiro é proprietário de uma grande gleba de terra e, no mesmo dia em que vende o imóvel a uma incorporadora, com ela celebra um contrato de empreitada para as obras necessárias a construção do edifício local. Logo o empreiteiro só vendeu porque foi contratado para executar a obra e só concordou em fazê-las porque se referiu ao imóvel vendido. Ao seu turno a incorporadora só comprou o imóvel porque tinha acertado a construção do edifício pelo empreiteiro vendedor (Ulhôa, 2012, p.162).
OBS: O STJ tem entendido que, em sede de contratos coligados, inadimplemento do contrato principal não enseja, necessariamente, a resolução do contrato secundário, como ocorreria se fosse no contrato acessório, os quais obedecem ao princípio da gravitação jurídica.
9. QUANTO AO MOMENTO DO SEU CUMPRIMENTO – LEVA EM CONSIDERAÇÃO O MOMENTO EM QUE OS CONTRATOS DEVEM SER CUMPRIDOS:
9.1. CONTRATO DE EXECUÇÃO IMEDIATA, INSTANTÂNEA OU ÚNICA: são aqueles que se consumem em só ato, sendo cumpridos imediatamente após a celebração. Cumprida a obrigação, exaurem-se. A solução se efetua de uma só vez e por prestação única. Ex: compra e venda à vista.
9.2. CONTRATO DE EXECUÇÃO DIFERIDA OU RETARDADA: são os que devem ser cumpridos também em só ato, mas em um momento futuro. A prestação de uma das partes não se dá imediatamente após a formação do vínculo. Ex: compra e venda de um objeto cuja entrega se faz em determinada data.
9.3. CONTRATO DE EXECUÇÃO CONTINUADA, EXECUÇÃO SUCESSIVA OU TRATO SUCESSIVO: são os que se cumprem por atos reiterados. Caso típico é o contrato de locação, em que a prestação do aluguel não tem efeito liberatório, a não ser do débito correspondente ao período, visto que o contrato continua até atingir o seu termo. Outros exemplos: compra e venda a prazo, prestação permanente de serviços (água, luz e telefone).
10. QUANTO A FORMAÇÃO.
10.1. CONTRATOS PARITÁRIOS: são aqueles em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em situação de igualdade (par a par). Nesse tipo de contrato é comum a fase das negociações preliminares, onde as partes discutem em pé de igualdade as condições do contrato.
10.2. CONTRATOS DE ADESÃO: originaram-se da necessidade de contratação em massa a um número indeterminado e desconhecido de pessoas. Caracterizam-se pela preponderância da vontade de um dos contratantes, permitindo que elabore todas as cláusulas do contrato, o que impossibilita a liberalidade de negociação entre as partes, ou seja, o outro contratante adere ao modelo de contrato previamente confeccionado, não podendo modificá-las e nem tão pouco debatê-las: aceita tudo em bloco ou recusa tudo por inteiro. Assim, têm como características, a rigidez e a unilateralidade na elaboração das cláusulas do contrato. Ex: contratos celebrados com as concessionárias de serviço público (água, luz e telefone). Dessa forma não se permite a outra parte qualquer alternativa de discussão, o que implica diretamente na restrição da sua autonomia da vontade. Essa constituição dos contratos opõe-se à do contrato paritário, uma vez que nestes as partes discutem livremente, com a autonomia da vontade, o conteúdo do mesmo. Em regra, os contratos de adesão envolvem uma relação de consumo, sendo, portanto, disciplinados pelo CDC (art.54 do CDC). Vale ressaltar que tanto o CDC como o CC estipulam artigos que protegem o aderente, haja vista encontrar-se em uma situação de vulnerabilidade na relação contratual. O art.47 do CDC e o art.423 do CC estatui que as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, ou seja, havendo dúvidas no contrato, a interpretação deve ser favorável ao aderente, pois quem estabelece as condições é o outro contratante, que tem a obrigação de ser claro e de evitar dúvidas. Já o art.424 do CC expressa que “nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio”. Tal dispositivo visa proteger os direitos correlatos que na prática comercial são comumente excluídas por cláusulas padrão, como a de não-reparação pelos danos decorrentes de defeitos da coisa ou pela má prestação de serviços, a não-indenização por vícios redibitórios, evicção, etc. Como se tratam de cláusulas nulas, estas podem ser alegadas a qualquer tempo e serem decretadas de ofício pelo juiz, além de terem seus efeitos retroagidos no tempo (eficácia ex tunc). Vale ressaltar que a NULIDADE das cláusulas abusivas não implica na nulidade do contrato como um todo.
10.3. CONTRATOS-TIPO: é apresentado de forma pré-redigida por um dos contraentes, mas que, no entanto, admite-se discussão do seu conteúdo pela outra parte. Ex: os contratos bancários já vêm impressos, mas com espaços em branco no tocantea taxa de juros, prazo e condições de financiamento, a serem estabelecidos de comum acordo.

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