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1 1 Processo Penal II Parte 2 Por Rommel Andriotti 2º Semestre de 2013 2 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti 1. As decisões judiciais Há uma gama enorme de decisões judiciais, com valores muito variados entre elas. Dentro do processo, o juiz adota decisões de conteúdo variado, que vão desde decisões de mero andamento (junte-se, intime-se, designação de audiência) até a decisão de mérito (procedência ou improcedência do pedido formulado pelo autor na inicial). Por causa dessa variação é necessária uma classificação das decisões judiciais. No próprio CPP há um classificação das decisões judiciais quanto ao conteúdo. O artigo 800 do CPP trata disso concedendo prazos - os prazos mais longos ficarão para as decisões mais importantes, enquanto os mais curtos para as decisões menos importantes. 1.1 Despachos Art. 800. Os juízes singulares darão seus despachos e decisões dentro dos prazos seguintes, quando outros não estiverem estabelecidos: 1.1.1 Despacho de expediente ou ordinatório III - de um dia, se tratar de despacho de expediente. É um despacho que não resolve nenhuma decisão controvertida, eles meramente dão andamento ao processo. Ex.: "designo audiência para o dia ..."; "digam as partes ..."; "junte-se"; "intime-se"; etc. Como vemos, o prazo é de apenas um dia. Não cabe recurso. 1.2 Decisões interlocutórias São aquelas que resolvem questões controvertidas no curso do processo que são diversas do mérito. 3 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Nesse caso, já há um conflito de interesse entre as partes. As decisões interlocutórias podem ser simples ou mistas. 1.2.1 Decisão interlocutória simples II - de cinco dias, se for interlocutória simples; Decisões interlocutórias simples são aquelas que resolvem a questão controvertida sem extinguir o processo. Ex.: Recebimento da denúncia; decretação de prisão preventiva; decretação de sequestro ou restituição de bens; etc. O prazo para a decisão é de cinco dias. Dessas decisões cabe recurso, mas nem sempre... Essas decisões podem admitir o recurso em sentido estrito (RESE), mas somente quando estiverem previstas no artigo 581 do código de processo penal, que traz em seus vinte e quatro incisos todas as decisões que admitem recurso. Posteriormente estudaremos o RESE detalhadamente. Recebimento de recurso - Não cabe recurso. Eventualmente poderá haver uma ação de impugnação contra aquela decisão (como o Habeas Corpus ou o Mandado de Segurança). 1.2.2 Decisões interlocutórias mistas I - de dez dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista; Também chamadas de "com força definitiva". Estão previstas no artigo 800, I, CPP. As decisões interlocutórias mistas são aquelas que resolvem questão controvertida diversa do mérito e põe fim ao processo ou a uma fase do processo, sem julgamento de mérito. Terminativas - é aquela que põe fim ao processo sem julgamento do mérito. Ex.: rejeição da denúncia; acolhimento da exceção de litispendência, coisa julgada, etc. 4 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Não terminativa - põe fim a uma fase do processo, sem julgamento do mérito. Ex.: só existe um exemplo, que é a pronúncia, que põe fim ao sumário de acusação e inicia o Judicium Causae. Há uma divergência doutrinaria quanto a este ponto. Alguns doutrinadores acreditam que a pronúncia é sentença pois ela julga Nesse caso o prazo do juiz é de dez dias. Dessas decisões cabe recurso, mas depende. Se a decisão estiver prevista no artigo 581 caberá ReSE. Se não estiver previsto no artigo 581 caberá apelação, com base no art. 593, II, CPP, que veremos com detalhes depois. 1.3 Sentenças I - de dez dias, se a decisão for definitiva, ou interlocutória mista; O prazo geral é de dez dias, mas procedimentos específicos podem alterar isso. A sentença é a decisão que põe fim ao processo ou a um incidente processual com julgamento do mérito, seja do processo ou seja do incidente. Contra a sentença cabe recurso. Mas também depende. Primeiro se verifica se não é caso de RESE no 581, CPP, e, somente não sendo, será caso de apelação. Ex.: sentença que concede ordem de Habeas corpus cabe RESE. Exercício: vamos classificar as decisões do procedimento do júri - Pronúncia – Decisão interlocutória mista não terminativa Impronúncia – Decisão interlocutória mista terminativa ou sentença (Duas correntes) Desclassificação – decisão interlocutória simples Absolvição sumária - Sentença 5 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti § 1º - Os prazos para o juiz contar-se-ão do termo de conclusão. § 2º - Os prazos do Ministério Público contar- se-ão do termo de vista, salvo para a interposição do recurso (art. 798, § 5º). § 3º - Em qualquer instância, declarando motivo justo, poderá o juiz exceder por igual tempo os prazos a ele fixados neste Código. § 4º - O escrivão que não enviar os autos ao juiz ou ao órgão do Ministério Público no dia em que assinar termo de conclusão ou de vista estará sujeito à sanção estabelecida no art. 799. 1.3.1 Estudo da sentença Sentença é a decisão terminativa do juiz que resolve a lide com julgamento do mérito, aplicando a lei ao caso concreto. A sentença deve fazer um silogismo. Silogismo é uma forma de raciocínio em que se tem uma ideia geral (premissa maior), uma ideia particular (premissa menor), e uma conclusão. Silogismo na sentença Então, a sentença deve fazer um silogismo onde a lei é a premissa maior, o fato é a premissa menor, e a conclusão fará o dispositivo da sentença. 1.3.2 Requisitos formais da sentença Art. 381. A sentença conterá: Qualificação I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; Relatório 6 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; É um resumo do ocorrido no processo. Alguns doutrinadores acham que o juiz tem que fazer o relatório para provar que o juiz leu o processo. Outra parte acredita que a sentença tem o relatório para que as partes saibam o que o juiz levou em consideração, e quais os fatos ele julgou dignos de nota para proferir seu julgamento. A jurisprudência diz que a falta de relatório é causa de nulidade absoluta da sentença, exceto em uma hipótese, que é no JECrim, que dispensa o juiz de fazer o relatório. Lei 9099/95, art. 81, § 3º - A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz. Aula 11 (20.09.2013) Fundamentação Também chamada motivação. Essa é a parte que o juiz dispõe as razões de sua decisão, explicitando os motivos de fato e de direito. A fundamentação é uma imposição constitucional: Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou 7 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; A falta de fundamentação é causa de nulidade absoluta da sentença. O direito da fundamentação não é só das partes, mas de toda a sociedade. A única exceção dessa regraé a decisão dos jurados do tribunal do júri. O jurado decide por razões de foro íntimo, em razão de sua íntima convicção. III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; Conclusão ou dispositivo V - o dispositivo; Essa é a parte que o juiz efetivamente exerce a jurisdição, decidindo a lide. O que transita em julgado é só o dispositivo. Aquilo que o juiz diz na fundamentação não faz coisa julgada. As razões expostas na fundamentação não fazem coisa julgada, e podem ser contrariadas em outras decisões. Exemplo: Pedro é processado por receptação de um bem produto de roubo. Na fundamentação o Juiz afirma a existência de roubo, e no dispositivo condena Pedro por receptação. Após o trânsito em julgado, em outro processo, Antônio é processado por aquele roubo. Nada impede que nesse segundo processo o juiz afirme que o roubo não existiu e absolva Antônio. Pedro poderá promover ação de revisão criminal. A conclusão deve ser coerente com a fundamentação. Do contrário, a sentença será sentença suicida. Sentença suicida é a sentença cuja fundamentação contradiz o dispositivo. 8 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Sentença sem dispositivo é sentença inexistente. Por fim temos um último requisito meramente formal: VI - a data e a assinatura do juiz. 1.3.3 Embargos declaratórios Os embargos declaratórios são cabíveis quando a decisão apresentar um desses quatro vícios: Obscuridade Ambiguidade Contradição Omissão Os embargos declaratórios contra a sentença são chamados pelo CPP de pedido de declaração de sentença de 1º grau: Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambigüidade, contradição ou omissão. A doutrina chama esses embargos carinhosamente de "EMBARGUINHOS". O prazo dos embarguinhos é de dois dias após a intimação da sentença. 1.3.3.1 Interrupção ou suspensão? Até 1995 era pacífico que se aplicava por analogia o artigo 538 do CPC: Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de outros recursos, por qualquer das partes. Então, acreditava-se que o prazo era interrompido. Mas em 95 entrou em vigor a lei 9099/95, que em sua parte processual penal prevê que os embargos declaratórios no JECrim suspende o prazo da apelação. 9 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti A partir de então uma corrente doutrinária acredita que o artigo aplicável por analogia é o da 9099/95 e outra que aplica-se 538. O fato é que quando os embargos são manifestamente protelatórios eles não interrompem nem suspendem o prazo. Cuidado - não confundir os embargos declaratórios contra a sentença (que estamos vendo) com os embargos declaratórios dos artigos 619, 620. 1.3.4 Tipos de sentença Aula 12 (26.09.2013) 1.3.4.1 Sentença condenatória É a sentença que acolhe a pretensão punitiva parcial ou totalmente. A condenação pressupõe a certeza do juiz, pois na dúvida o réu será absolvido (in dúbio pro réu). Na sentença, o juiz indicará: A natureza das penas (multa, reclusão, etc); A quantidade das penas (dias a cumprir, dias multa, valor, etc); Na pena privativa de liberdade, é necessário apontar qual o regime inicial (fechado, semi-fechado, aberto); Cabimento ou não de substituição da pena privativa de liberdade por penas alternativas; Cabimento ou não do SURCIR (suspensão condicional da execução da pena); Essas hipóteses são previstas pelo CP. O CPP ainda indica mais esses pontos: 10 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Indicação de valor mínimo para indenização (art. 387, IV) para vítimas que sofreram dano, sendo esse valor líquido e certo, executável diretamente em juízo cível por ser título judicial. Se o valor estabelecido não é suficiente, é possível liquidação do valor excedente no juízo cível. Diz a jurisprudência que não cabe o Estabelecimento deste valor mínimo ex officio, sendo necessário haver pedido ou do MP ou da vítima, além de comprovação do dano e contraditório; Prisão ou liberdade (art. 387, par. 1º) - O juiz deve decidir se após a sentença o réu aguardará a fase recursal preso ou solto, podendo o juiz manter prisão preventiva anteriormente decretada, ou revogar esta prisão, ou decretar prisão preventiva não decretada anteriormente. O detalhe importante é que a prisão que ele está revogando ou mantendo não tem relação com a sentença condenatória, mas sim com as hipóteses da prisão preventiva. A jurisprudência entende que se o réu respondeu solto até a sentença ele permanecerá solto depois, salvo se surgir fato novo que torne necessária a prisão. Por outro lado, se o réu estava preso antes da sentença, após a sentença condenatória ele assim se manterá, afinal sua culpa está até reforçada pela sentença, embora ainda que não definitivamente; 1.3.4.1.1 Princípio da correlação Deve haver uma adequação entre os fatos pelos quais o réu foi condenado e os fatos narrados na petição inicial. O réu não pode ser condenado por fatos que não constavam na inicial. Fatos da inicial - são os fatos descritos em inicial (denúncia ou queixa); Capitulação jurídica - adequar os fatos ao dispositivo da lei penal correspondente; Fatos da instrução - são os fatos trazidos pela prova a fase instrutória; O que ocorre: 11 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Fatos da condenação - Na sentença, se os fatos da instrução coincidem com os fatos da inicial, haverá a condenação pelos fatos narrados na inicial. O juiz também fará uma capitulação jurídica; A correlação obrigatória de que estamos tratando é entre fatos, e não entre capitulações jurídicas. Isso significa que o juiz, desde que condenando pelos mesmos fatos, pode mudar a capitulação jurídica. O juiz então não está vinculado à capitulação jurídica da inicial. Se o juiz altera a classificação do crime, então há uma desclassificação. Não só o juiz pode alterar a capitulação jurídica mas também o tribunal que estiver julgando o recurso poderá mudá-la novamente. Mudar a capitulação jurídica de um fato se chama... 1.3.4.1.2 Emendatio Libelli Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave. (...) Agora vamos mudar a situação. No caso anterior, nós temos que os fatos são iguais nas três partes (acusação, instrução, condenação). Vamos supor agora que a instrução traga um fato novo não previsto em inicial. Surgido um fato novo na instrução não narrado na inicial, o juiz não pode simplesmente condena-lo, pois fazê-lo violaria o princípio da correlação. Nessa hipótese, aplica-se o artigo 384, que trata da... 1.3.4.1.3 Mutatio Libelli Há um fato novo não contemplado na inicial. Então, antes da sentença e depois da instrução, é necessário um aditamento (acréscimo) à inicial, para que se incluam os fatos novos. 12 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Se a ação é privada, o juiz não pode provocar o querelante. Se ele não tiver a iniciativa de aditar a queixa o juiz nada fará. Nas ações públicas o aditamento pode se dar sem provocação ou com provocação do juízo. Com o aditamento, a acusação pode arrolar três novas testemunhas para tratar dos fatos novos. Em seguida, abre-se vista a defesa, que poderá arrolar até três novas testemunhas. O prazo para a defesa falar é decinco dias. Em seguida o juiz designa nova audiência, ouve essas testemunhas, reinterroga o réu, e por fim proferirá a sentença. Na ação pública, se o promotor se negar ao aditamento, o juiz mandará os autos ao procurador, em analogia ao artigo 28 CPP. A sumula 453 do STF proíbe a Mutatio Libelli em segundo grau. STF Súmula nº 453 - 01/10/1964 - DJ de 8/10/1964, p. 3646; DJ de 9/10/1964, p. 3666; DJ de 12/10/1964, p. 3698. Aplicabilidade à Segunda Instância - Possibilidade de Nova Definição Jurídica a Fato Delituoso - Circunstância Elementar na Denúncia ou Queixa Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa. Então o tribunal está adstrito ao que está na denúncia ou em aditamento feito em primeiro grau. Isso explica também o porquê de o tribunal não poder condenar um réu do tribunal do júri por homicídio consumado quando a vítima morre após a sentença. 13 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti 1.3.4.2 Sentença absolutória É aquela que julga improcedente a pretensão punitiva apresentada na inicial com fundamento em um dos incisos do artigo 386. O juiz tem de sempre fundamentar o porquê da absolvição. 1.3.4.2.1 Fundamentos da absolvição Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: I - estar provada a inexistência do fato; Está provado que o fato narrado na inicial não aconteceu. II - não haver prova da existência do fato; É a famosa absolvição por "falta de provas". Segundo este inciso, o fato até pode ter acontecido, mas não está provado. É como se o juiz dissesse: - "não sei se aconteceu ou não". III - não constituir o fato infração penal; O fato é atípico. Ex.: cola em prova. IV - estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; Está provado que o fato existiu, mas que comprovadamente o réu não é nem autor nem partícipe do mesmo. V - não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; É o mesmo in dúbio pro réu que já vimos no inciso II. VI - existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; 14 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Estar provada uma excludente de antijuridicidade ou culpabilidade. A segunda parte do inciso foi acrescentada depois, e ocorre na dúvida de uma das excludentes. É o mesmo princípio do in dúbio pro réu que vimos nos incisos anteriores. O juiz não tem certeza se há uma excludente ou não, e, na dúvida, ela é considerada existente. VII - não existir prova suficiente para a condenação. É o coringa. Não há prova suficiente para a condenação. A ideia é que há dúvida do juiz. Esse inciso não seria necessário, mas foi colocado por precaução do legislador. 1.3.4.2.2 Repercussão jurídica da sentença para o réu Notem que interessa muito ao réu o inciso aplicado em sua absolvição, pois alguns incisos ensejam em uma declaração de inocência, enquanto que outros não. Declaração de inocência - Os incisos I; IV; VI 1ª parte; Sem declaração de inocência - Os incisos II; III; V; VI 2ª parte; VII Como há esses efeitos distintos para absolvição, o réu tem interesse recursal para apelar de sentença absolutória, buscando alterar o fundamento da absolvição. 1.3.4.2.3 Efeitos da sentença absolutória Aula 13 (27.11.2013) Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz: I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade; II - ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoriamente aplicadas; 15 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti III - aplicará medida de segurança, se cabível. Cessa a prisão cautelar - então, se o réu estava preso quando da sentença absolutória, essa prisão ser cessada, bem como quaisquer outras cautelares, como sequestro de bens, fiança, etc. 1.3.4.3 Sentença absolutória imprópria Também chamada impropriamente absolutória. É aquela que absolve o réu por inimputabilidade do artigo 26 caput do CP, e impõe a sanção penal de medida de segurança. Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. 1.3.4.4 Sentença terminativa de mérito É aquela que põe fim ao processo ou a um incidente processual julgando o mérito do processo ou do incidente, sem condenar ou absolver. Ex.: sentença que declara extinta a punibilidade. Notemos que o verdadeiro mérito da ação penal é o direito de punir do estado. Ex 2: incidente processual de restituição de coisa apreendida; decisão de Habeas Corpus. Alguns autores negam que seja sentença, mas chamam de decisão terminativa de mérito. 16 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti 1.3.5 O PRIC Publique-se - a sentença é publicada em mãos do escrivão. A sentença só produz efeitos e torna-se sentença com a publicação. Até então, ela é meramente uma criação intelectual do juiz. A publicação da sentença exaure a jurisdição do juiz no processo. Ele deixa de ser o juiz da causa. Somente será possível alterar a sentença complementando-a ou esclarecendo-a por ocasião de embargos de declaração. Registre-se - CPP. Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado a esse fim. Há um livro para registro de sentenças. Intime-se - às partes será dada ciência da sentença. Art. 390. O escrivão, dentro de três dias após a publicação, e sob pena de suspensão de cinco dias, dará conhecimento da sentença ao órgão do Ministério Público. O querelante e o assistente de acusação são intimados pessoalmente ou através de advogado. Art. 391. O querelante ou o assistente será intimado da sentença, pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles for encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação será feita mediante edital com o prazo de 10 dias, afixado no lugar de costume. A defesa requer intimação ao réu e ao defensor. Se o réu não for localizado, será intimado por edital. O defensor dativo é intimado 17 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti pessoalmente, enquanto o constituído é intimado por publicação na imprensa. CPP. Art. 370. § 1º - A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente far-se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado. A ordem da intimação não importa (se réu ou defensor primeiro). O prazo para a defesa correr conta-se da última dessas duas intimações. Comunique-se/Cumpra-se - de toda a sentença é feita a comunicação a determinados órgãos. A sentença absolutória e condenatória é comunicada ao instituto de identificação. O instituto de identificação é um órgão da polícia que gera o antecedente das pessoas. 2. Recursos A palavra recurso vem do latim: Re Currere; que significa "correr para trás", pois o recurso faz com que o processo “volte a um estado anterior ao da sentença”. O recurso existe por causa da falibilidade humana, já que os homens sãofalíveis (As mulheres não!). O fundamento constitucional da existência do recurso é o princípio do duplo grau de jurisdição. Por este princípio, todas as decisões judiciais estão sujeitas a uma revisão por uma instância superior. Este princípio é implícito, pois a CF cria tribunais para julgar recursos, bem como no artigo 5º, LV, que trata da ampla defesa. Além disso tudo, a existência dos recursos está explícita no pacto da San José da Costa Rica. 18 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Vicente Greco filho diz que recurso é o pedido de nova decisão judicial, com alteração de decisão anterior, previsto em lei, dirigido em regra a outro órgão jurisdicional, dentro do mesmo processo. Em outras palavras, é uma manifestação voluntária para reforma da decisão. Por isso, o recurso é provocado pelas partes. Obs.: Note que existe o chamado "recurso de ofício", que ocorre nos casos de reexame necessário. Alguns não consideram o reexame como sendo um recurso. O recurso é sempre voluntário e, por sê-lo, revela um sentimento de inconformismo com a decisão. Os recursos são sempre previstos em lei. Quando não cabe recurso, há ações autónomas de impugnação, que são ações que impugnam decisões judiciais. Elas são três: Habeas Corpus Mandado de Segurança Revisão Criminal O recurso é em regra dirigido a outro órgão jurisdicional, mas há exceções, como os embargos infringentes. O recurso se dá dentro do mesmo processo, ou seja, prolonga o mesmo processo, não inaugurando outro. 2.1 Pressupostos Recursais São condições de admissibilidade dos recursos. São condições para a existência do direito de recorrer. O direito de recorrer não é amplo e irrestrito, mas sim vinculado a determinadas condições. Qualquer recurso, antes de ser conhecido no mérito, deve ser submetido a um juízo de admissibilidade, cujo os objetos são os pressupostos recursais. A ausência dos pressupostos faz com que o recurso não seja conhecido. Em regra, o juízo de admissibilidade se faz duas vezes, uma pelo juízo a quo e uma pelo Ad quem. 19 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Se o juízo a quo admitir o recurso, o Ad quem fará novo julgamento da admissibilidade. A admissão de recurso pelo juízo a quo não vincula o ad quem. Ambas as decisões denegatórias são suscetíveis a recursos. Os pressupostos recursais podem ser objetivos ou subjetivos. 2.1.1 Pressupostos recursais objetivos Os pressupostos objetivos são aqueles que estão no processo. 2.1.1.1 Cabimento É a previsão legal de recurso contra a decisão recorrida. Este é o princípio da taxatividade recursal, pois a lei é taxativa da previsão de recursos. 2.1.1.2 Adequação Não basta que o recurso seja cabível. É preciso que o recorrente utilize o recurso adequado para aquela decisão. O princípio da adequação é no entanto mitigado pelo princípio da fungibilidade: Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível. Isso significa que o recurso inadequado pode ser recebido como se fosse o adequado, desde que não haja má fé. Há duas situações em que se presume a má fé: Quando o recurso inadequado houver sido interposto fora do prazo do recurso adequado; O erro grosseiro; 20 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti 2.1.1.3 Tempestividade O recurso deve ser interposto no prazo legal. O prazo do recurso refere-se à interposição, que é a manifestação de vontade de recorrer. Não se confunde interposição com oferecimento de razões. Esse oferecimento é a fundamentação do inconformismo. Então ficamos assim: Interposição - manifestação de vontade de recorrer; Oferecimento das razões - entrega dos fundamentos do inconformismo; Em alguns recursos, esses prazos são simultâneos, e em outros não. 2.1.1.3.1 Prazos para recorrer A Tempestividade está ligada aos prazos. Eles começam a correr do primeiro dia útil após a intimação, e estão previstos no art. 798 CPP. Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios, não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado. § 1º - Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. A sumula 710 do STF trata do tema, simplificando-o e esclarecendo-o: STF Súmula nº 710 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 6; DJ de 10/10/2003, p. 6; DJ de 13/10/2003, p. 6. Processo Penal - Contagem de Prazo No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem. A contagem do prazo é processual, ou seja, o prazo inicia a ser contado no primeiro dia útil posterior à intimação. 21 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Lembrete - Os prazos de direito material são contados com o dia do início, e não o do final. A contagem de penas, prescrições e decadências são todos materiais. Se o prazo processual terminar em dia não útil, prorroga-se ao próximo dia útil. A sumula 310 STF diz: STF Súmula nº 310 - 13/12/1963 - Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 138. Intimação ou Publicação com Efeito de Intimação na Sexta-Feira - Início do Prazo Judicial Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir. 2.1.1.4 Regularidade procedimental O recorrente deve seguir a forma prescrita legalmente para recorrer. Art. 578. O recurso será interposto por petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu representante. § 1º - Não sabendo ou não podendo o réu assinar o nome, o termo será assinado por alguém, a seu rogo, na presença de duas testemunhas. § 2º - A petição de interposição de recurso, com o despacho do juiz, será, até o dia seguinte ao último do prazo, entregue ao escrivão, que certificará no termo da juntada a data da entrega. § 3º - Interposto por termo o recurso, o escrivão, sob pena de suspensão por dez a 22 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti trinta dias, fará conclusos os autos ao juiz, até o dia seguinte ao último do prazo. Por petição há o simples protocolo. Se por termo, a parte diz ao escrivão que pretende recorrer, e esse lavra o termo. A lei 9800/99 permite que o recurso seja interposto por fax. Alguns recursos admitem outras formas de interposição. A apelação por exemplo permite interposição por cota. Por outro lado, há recursos que só admitem petição, como é o caso do recurso especial, extraordinário, e o ordinário constitucional. 2.1.1.5 Inexistência de fato impeditivo O fato impeditivo é um fato anterior à interposição que extingue o direito de recorrer. Hoje em dia o único fato impeditivo existente é a renúncia, que é a manifestação de vontade de não recorrer da decisão. A renúncia válida provoca o trânsito em julgado da decisão na data em que ela foi exarada. Podem renunciar o querelante, e o assistente de acusação na ação pública. O MP gera dúvida. O CPP diz que o MP não pode desistir de recurso já interposto, mas não há previsão se ele pode renunciar ou não. A posição majoritária é a de que o MP não pode renunciar. O réusó poderá renunciar com a concordância do defensor. Se o réu renuncia e o defensor recorre, então o recurso será recebido, pois o defensor é quem sabe a defesa técnica, e além disso o recurso não piora a situação, podendo somente melhorar ou manter como esta. 2.1.1.6 Inexistência de fatos extintivos Fatos extintivos são fatos posteriores a interposição que impedem o conhecimento do recurso. Neste caso, a parte recorre validamente, e após isso surge um fato que impede o conhecimento do recurso. São dois os fatos extintivos: 23 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Desistência - é manifestação de vontade do recorrente de que o seu recurso já interposto não tenha prosseguimento. A desistência válida acarreta o trânsito em julgado da decisão. Não há necessidade de anuência da outra parte. Podem desistir o querelante, o assistente de acusação, e o réu desde que assistido pelo advogado. A desistência do réu com a manifestação do advogado em continuar faz com que o recurso tenha prosseguimento. O MP não pode desistir do recurso. Deserção - é uma desistência tácita. É uma omissão da parte que demonstra a perda do interesse em recorrer. A única hipótese de deserção é a falta de preparo. 2.1.2 Pressupostos subjetivos Pressupostos subjetivos estão na parte recorrente. Aula 14 (03.10.2013) 2.1.2.1 Interesse CPP. Art. 577. Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou modificação da decisão. Só cabe recurso para a parte que tiver interesse na reforma da decisão. Esse interesse nasce com a sucumbência. Define-se sucumbência como o desacolhimento total ou parcial da pretensão da parte. Quanto ao MP a coisa é diferente. A pretensão do MP é condicionada à justiça da decisão. Então, a condenação injusta faz com que o MP seja sucumbente, de modo que o MP em tese pode até recorrer em favor do réu. 2.1.2.2 Legitimidade Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor. 24 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Não é qualquer pessoa que pode recorrer. Em primeiro lugar, podem recorrer as partes. O direito de recorrer do réu é independente do direito de recorrer do defensor, podendo o réu até recorrer pessoalmente sem assistência do defensor, e vice-versa. O assistente de acusação pode recorrer se o MP não recorrer, ou da parte da sentença que o MP não recorreu. Então o recurso do assistente é suplementar ao do MP. O MP não tem legitimidade para recorrer contra o querelado na ação privada. 2.2 Efeitos dos recursos São efeitos que os recursos produzem quando eles são admitidos. 2.2.1 Efeito devolutivo O recurso devolve ao poder judiciário a apreciação da matéria recorrida. Todos os recursos tem efeito devolutivo. 2.2.1.1 Quanto à extensão Esse efeito pode ser amplo ou limitado quanto a sua extensão. Ele é amplo quando a parte recorre contra toda a decisão. O efeito devolutivo é limitado quanto à extensão quando a parte recorre contra parte da decisão. Não se devolve ao tribunal matéria não recorrida: Tantum Devolutum Quantum Appelatum. "Devolve-se tanto quanto apelou-se". O limite da devolução é estabelecido pelo pedido de reforma contido na interposição. Se a interposição disser apenas que se está apelando, o efeito é amplo, enquanto que se se individualiza as partes apeladas, o efeito é limitado. As razões recursais não podem nem ampliar nem restringir o efeito devolutivo. 25 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Há outra limitação ao efeito devolutivo. Não há permissão ao tribunal para reformar a decisão para pior: Non Reformatio In Pejus, ou seja, é vedado o agravamento da situação do recorrente em razão do seu próprio recurso. A Reformatio in Pejus pode ser direta ou indireta. A direta é aquela realizada pelo próprio tribunal quando do julgamento do recurso. Aula 17 (04.10.2013) Non Reformatio in Pejus indireta - é o agravamento da situação do réu por uma nova decisão de primeiro grau proferida em lugar de uma decisão anterior que foi anulada pelo tribunal em julgamento de recurso exclusivo da defesa. Nesses casos, estamos diante de um error in procedendo, ou seja, um vício no procedimento. Se fosse error in judicando, o tribunal reformaria a decisão, pois o erro se deu na análise do mérito. No caso que estamos analisando, há um error in procedendo, e o tribunal deverá anular a decisão e mandar que o juiz a refaça. Nesse caso, o juiz, ao proferir a nova decisão não poderá agravar a situação do réu. O agravamento é vedado, e poderia inibir o recurso do réu. Soberania dos veredictos dos jurados - o júri tem soberania em suas decisões, e por isso o agravamento é lícito. 2.2.1.2 Efeito devolutivo quanto à profundidade O efeito devolutivo é sempre ilimitado em sua profundidade. Na análise do pedido do recorrente, o tribunal pode levar em conta qualquer fundamento, não estando vinculado aos fundamentos do recorrente. Reformatio in melius É o favorecimento ao réu em recurso exclusivo da acusação. Não é pacífico, mas majoritariamente admite-se a Reformatio in melius. 26 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti 2.2.2 Efeito suspensivo É o efeito pelo qual, admitido o recurso, a decisão não produz efeitos enquanto o recurso não for julgado. A admissão do recurso suspende a eficácia da decisão. Só tem efeito suspensivo os recursos se houver expressa previsão legal. A jurisprudência tem admitido que, em situações excepcionais, quando houver: Manifesta ilegalidade da decisão; Dano irreparável à parte se a decisão for executada; O recurso cabível não tem efeito suspensivo; A parte, além de recorrer, impetre mandado de segurança, objetivando dar efeito suspensivo ao recurso. 2.2.3 Efeito extensivo Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros. É a possibilidade de se estender em favor de um corréu não recorrente uma decisão a um corréu recorrente quando esta decisão se fundamentar em razões objetivas. Esse efeito se aplica aos casos onde há mais de um réu no processo. Nesses casos, todos os recursos tem efeito extensivo. Mais ainda, também tem efeitos extensivos o Habeas Corpus e a revisão criminal. 2.2.4 Efeito regressivo Também chamado de efeito diferido, ou iterativo. É o efeito pelo qual antes de o recurso subir ao tribunal, o juízo a quo deve reapreciar a sua decisão, podendo mantê-la (juízo de sustentação) ou reforma-la (juízo de 27 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti retratação). No processo penal só há esse efeito no agravo à execução e o RESE. 2.3 Recurso de ofício Também chamado de recurso necessário, ou reexame necessário. Esse recurso na verdade não é considerado recurso, pois os recursos são voluntários, e dependem de um pedido de iniciativa das partes. O chamado recurso de ofício não é assim, sendo que o juiz sem provocação recorre. O reexame necessário portanto não é recurso, mas sim condição para o trânsito em julgado da decisão. O que transita em julgado nunca é a decisão de primeiro grau, mas sim o acórdão do tribunal. O reexame não prejudica o recurso voluntário da parte, já que voluntariamente as partes podem oferecer razões. Hipóteses Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos,de ofício, pelo juiz: I - da sentença que conceder habeas corpus; II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411. Art. 746. Da decisão que conceder a reabilitação haverá recurso de ofício. Lei 1521/51. Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou 28 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial. Notemos que em todas as situações o recurso beneficia a acusação, que é a interessada em recorrer nessas situações. Existe uma tese que diz que esse reexame é inconstitucional por desrespeitar a seguinte disposição: Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Essa tese não tem sido aceita. O reexame não tem prazo, sendo que o juiz mandará os autos ao tribunal na própria decisão, e deixando de fazê-lo poderão os autos serem remetidos a qualquer tempo, seja de ofício ou com provocação. O reexame não tem razões ou contra razões, nem prazo. 3. Recurso em Sentido Estrito Aula 17 (10.10.2013) É cabível nas hipóteses do artigo 581, CPP Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I - que não receber a denúncia ou a queixa; II - que concluir pela incompetência do juízo; III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; IV – que pronunciar o réu; (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) 29 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante; (Redação dada pela Lei nº 7.780, de 22.6.1989) VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008) VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade; X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena; XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional; XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; 30 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; XVII - que decidir sobre a unificação de penas; XVIII - que decidir o incidente de falsidade; XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra; XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; XXII - que revogar a medida de segurança; XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação; XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples. Prazo O prazo é de cinco dias. Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de cinco dias. Os defensores públicos tem prazo em dobro. Exceção – na hipótese de decisão que inclui ou exclui jurado da lista geral (XIV): 31 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contado da data da publicação definitiva da lista de jurados. O prazo é contado a partir da 2ª publicação. Procedimento É interposto perante o juízo a quo, que fará o primeiro juízo de admissibilidade. O RESE então pode subir ao tribunal de duas formas: Nos próprios autos – Os autos da ação recorrida sobem ao tribunal; Por instrumento – Cria-se um instrumento apartado contendo as peças dos autos, que é eventualmente enviado ao tribunal. O RESE por instrumento suspende o andamento do processo. Ex.: Juiz concede liberdade provisória ao réu e o MP recorre com RESE. A formação do Instrumento Nas hipóteses em que o recurso subirá por instrumento o recorrente deve indicar na interposição as peças que ele quer que constem no instrumento. Mesmo que a parte recorrente indique, há ao menos três peças obrigatórias: Decisão recorrida; Certidão de intimação das partes da decisão; Petição ou termo de interposição do RESE (Para se verficar a tempestividade recursal). O prazo para a formação do instrumento pelo escrivão é de 05 dias, podendo ser prorrogado até 10 dias (Artigo 590 CC). Oferecimento de Razões (Art. 588, CPP) Nada impede que a parte ofereça o recurso já com as razões. Caso contrário, o prazo será de dois dias da interposição (Se sobe nos próprios 32 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti autos). Será da vista do instrumento para o recorrente se sobe por instrumento, mas a jurisprudência tem entendido que o prazo é da intimação do recorrente sobre a vista. Intimação do recorrido para contrarrazões As contrarrazões se dão no prazo de dois dias após a intimação. Na hipótese em que o recurso subirá por instrumento, o recorrido poderá indicar peças para compor o instrumento. Efeitos do RESE Regressivo (589 CPP) Art. 589. Com a resposta do recorrido ou sem ela, será o recurso concluso ao juiz, que, dentro de dois dias, reformará ou sustentará o seu despacho, mandando instruir o recurso com os traslados que Ihe parecerem necessários. Parágrafo único. Se o juiz reformar o despacho recorrido, a parte contrária, por simples petição, poderá recorrer da nova decisão, se couber recurso, não sendo mais lícito ao juiz modificá-la. Neste caso, independentemente de novos arrazoados, subirá o recurso nos próprios autos ou em traslado. Art. 591. Os recursos serão apresentados ao juiz ou tribunal ad quem, dentro de cinco dias da publicação da resposta do juiz a quo, ou entregues ao Correio dentro do mesmo prazo. Dessa forma, há o juízo de retratação, seguindo essas regras. Note que o novo sucumbente só poderá recorrer da forma descrita acima se o recurso 33 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti cabível for o RESE também. Caso contrário ele tem que se valer da forma adequada. Suspensivo Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de livramento condicional e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581. § 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do art. 581, aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598. § 2o O recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento. § 3o O recurso do despacho que julgar quebrada a fiança suspenderá unicamente o efeito de perda da metade do seu valor. Contra decisão que não admite o RESE cabe o recurso carta testemunhável, do artigo 640, CPP Apelação É o recurso contra decisões definitivas ou com força de definitivas que não admitam RESE. É recurso amplo pois qualquer matéria pode ser conhecidapor apelação, desde que tenha sido conhecida na sentença atacada. É recurso preferível se uma parte da apelação comporta apelação e a outra RESE. O recurso cabível será a apelação, mesmo que o recorrente só discuta aquela parte que isoladamente caberia RESE. Aula 18 (11.10.2013) 34 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; É a hipótese mais comum de apelação. II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; Cabe então contra as decisões terminativas de mérito, ou as decisões interlocutórias mistas de que não caiba ReSE. Ex.: as decisões que julgam o pedido de restituição de coisa apreendida; decisão que extingue de oficio por litispendência ou coisa julgada. III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; A parte que alega uma nulidade posterior à pronúncia e não a tem reconhecida pode alega-la novamente em sede de apelação da sentença do tribunal do júri. b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; Duas hipóteses estão previstas no artigo, sendo a primeira o desrespeito à lei; e a segunda o desrespeito à decisão dos jurados. c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; O juiz é quem aplica a pena, e se ele errar ou for injusto nessa aplicação cabe a apelação. Ex.: não se valer do sistema trifásico de dosimetria; imputar a pena mais gravosa desnecessariamente; etc. 35 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Observação - Como essas três primeiras hipóteses se referem à decisão do juiz presidente, elas podem ser livremente alteradas pelo tribunal de justiça. d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. Não é qualquer decisão, mas só aquela que evidentemente contraria as provas. A jurisprudência interpreta que essa decisão é aquela que não tem apoio nenhum na prova. Em razão da soberania dos veredictos, a procedência da apelação não acarretará a reforma, mas sim a anulação da sessão com estipulação de novo julgamento com um novo conselho de sentença. Se no segundo julgamento o mesmo veredicto for emanado não caberá a apelação. Prazo O prazo geral é de Cinco dias. A Defensoria tem o dobro. No Jecrim o prazo é de dez dias (no sumaríssimo o prazo é dobrado pois as razões acompanham a interposição). O assistente não habilitado tem prazo diferente. Art. 598. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo. Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de quinze dias e correrá do dia em que terminar o do Ministério Público. 36 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti O assistente pode recorrer subsidiariamente ao MP. Significa que o assistente só pode recorrer se o MP não recorrer ou da parte da decisão que o MP não recorreu. Nesses casos, quando da sentença o assistente pode estar habilitado ou não. O assistente já habilitado é intimado da sentença, sendo o prazo da apelação de cinco dias, iniciando-se o prazo a partir da intimação se o assistente foi intimado após o fim do prazo do MP; ou a partir do fim do prazo do MP se o assistente foi intimado antes do prazo do MP. Nos casos de o assistente não for habilitado por ocasião da sentença, ele pode se habilitar somente para apelar, tendo um prazo de quinze dias a partir do fim do prazo do MP. Interposição A apelação é interposta perante o juízo a quo em primeiro grau. O juiz faz um juízo de admissibilidade. Se a apelação é admitida, o recorrente é intimado para apresentar razões. Em seguida, o juiz intima o apelado para apresentar as contrarrazões. Se houver assistente habilitado, ele pode oferecer razões ao recurso do MP em três dias a partir da interposição. Em seguida, oferecidas razões e contrarrazões os autos sobem ao tribunal. Não gera efeito regressivo. Efeitos da apelação Efeito devolutivo Claro. Efeito suspensivo Art. 597. A apelação de sentença condenatória terá efeito suspensivo, salvo o disposto no art. 393, a aplicação provisória de interdições de direitos e de medidas de segurança (arts. 374 e 378), e o caso de suspensão condicional de pena. 37 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Em regra a apelação suspende a execução da sentença. A jurisprudência diz que há exceções. Quando da apelação, se o réu estiver solto, então a regra realmente vale e ele permanece solto. No entanto, se o réu está preso preventivamente, a situação muda. Se a execução não se iniciasse nesses casos, o réu que responde preso ao processo poderia ser privado de benefícios seus aos quais ele já faria jus se houvesse execução, como progressão, saída temporária. Execução provisória A execução provisória só existe quando o réu já esteja preso quando da tramitação da apelação, para garantir a concessão de eventuais benefícios. Nesses casos, antes de mandar os autos ao tribunal, o juiz expede um documento chamado guia de execução provisória, que é um documento que contém a pena, o regime, a data da prisão, etc., e com esse documento a execução começa provisoriamente. É pacífico que a execução provisória é cabível se o recurso é só da defesa. Discute-se no entanto se é possível a execução provisória quando o recurso é do MP para aumentar a pena, pois é impossível calcular os benefícios ante a possibilidade de a pena aumentar se o recurso for julgado procedente. Uma outra corrente diz que isso não pode prejudicar o réu. Maioritariamente se admite a execução provisória nesses casos também. Aula 19 (18.10.2013) Carta testemunhável Arts. 639 a 646 CPP É recurso contra a decisão que não recebe RESE ou agravo em execução. O nome curioso vem do tempo do império. 38 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Prazo É de 48 horas a partir do despacho, como diz o 640, mas comumente não funciona assim. Ocorre que o advogado não sabe qual o momento exato do despacho. Por isso, a jurisprudência diz que o prazo conta-se da intimação. Esse recurso não é dirigido ao juiz, mas sim ao escrivão. Esse recurso sempre sobe por instrumento, e por isso o recorrente deve indicar na interposição as peças que formam o instrumento. O escrivão deve formar o instrumento em cinco dias, e deve dar um recibo da petição ao recorrente. Obviamente que isso não se faz mais em razão da existência do protocolo. Intima-se então o recorrente para apresentar razões em dois dias e o recorrido para apresentar as contra-razões em dois dias. Esse poderá indicar peças para a formação do instrumento, e então o escrivão simplesmente remeterá o instrumento para o tribunal. Esse recurso não tem efeito suspensivo. O mérito da carta testemunhável é a admissibilidade ou não do RESE ou agravo. Então, se o tribunal julga a carta procedente, ele admitirá o RESE ou o agravo cujo o seguimento fora negado. Se o tribunal der provimento à carta testemunhável, admitindo portanto o RESE ou o agravo, e verificar que no instrumento já consta tudo o que é necessário para julgar o RESE ou agravo, ele já julga, por economiaprocessual. Agravo em execução É previsto no artigo 197 da lei de execução penal (LEP), lei 7210/84 Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo. 39 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Então contra todas as decisões do juiz da execução caberá agravo em execução sem efeito suspensivo. Como essa norma é muito vaga, após muita discussão o stf decidiu o seguinte na súmula 700: STF Súmula nº 700 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 6; DJ de 10/10/2003, p. 6; DJ de 13/10/2003, p. 6. Prazo para Interposição de Agravo - Execução Penal É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal. Como o outro recurso que utiliza cinco dias de prazo é o RESE, então para todas as outras peculiaridades utiliza-se as normas relativas ao RESE. Correição parcial É prevista em leis esparsas. A lei federal que prevê a correição é a 5.010/66; enquanto que a estadual é o decreto lei complementar N 3/63, artigo 94, do código judiciário do estado de São Paulo. A atividade correcional é a atividade que visa controlar os abusos de autoridades públicas. As correições gerais são realizadas pelas corregedorias. A correição que tratamos aqui é parcial, ou seja, de apenas um ato da autoridade. Ela é cabível contra decisão do juiz contra a qual não cabe recurso e que provoque tumulto processual. A competência é do tribunal superior ao juiz. E qual seria a natureza dessa correição? Há duas correntes. 40 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Para a primeira não é recurso, mas sim um pedido de providências administrativas com consequência jurisdicional. A parte pede que o tribunal corrija um tumulto que o juiz causou. Para a segunda tem natureza de recurso, pois a finalidade é alterar uma decisão, o que é próprio de recurso. A correição só é cabível contra erro de procedimento (error in procedendo). Exemplos de decisões contra a qual é possível correição: Quando o promotor no inquérito requisita diligências ao delegado e o juiz indefere; Quando o promotor pede o arquivamento do inquérito e o juiz pede diligências à polícia; Quando o juiz recebe a denúncia dando outra capitulação ao crime; Quando o juiz admite testemunhas arroladas intempestivamente; Prazo A lei federal não diz e o código judiciário diz que se deve aplicar o procedimento do agravo de instrumento. No entanto, tem prevalecido que no processo penal adota-se na correição parcial o prazo e procedimento do RESE. Mas no entanto, ela só sobe por instrumento e não há efeito suspensivo. O juiz de primeiro grau não pode rejeitar a correição, não havendo juízo de admissibilidade em primeiro grau. Recursos no tribunal Embargos de declaração Art. 619 e 620 41 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti O prazo é de dois dias da publicação do acórdão. Os pressupostos são os mesmos, ou seja, um daqueles quatro vícios: obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão. Esses embargos são dirigidos ao relator do acórdão, que fará o juízo de admissibilidade. Contra a decisão monocrática do relator que rejeita os embargos de declaração, caberá agravo regimental. Embargos infringentes (ou de nulidade) Art. 609 par. Único, CPP Cabível contra decisões dos tribunais que desfavorecem a defesa por maioria de votos, e não por unanimidade. Apenas a defesa pode opor esses embargos. Quando há um voto vencido, o autor desse voto fará uma declaração de voto vencido, para que as partes saibam o que aquele voto concedia, e com base nele é que caberão os embargos. A divergência entre os votos vencidos e os vencedores limita o efeito devolutivo nos embargos. Os embargos infringentes só cabem contra acórdão que julgou apelação ou RESE. Prazo O prazo desses embargos é de dez dias da publicação do acórdão. Endereçamento O relator faz o juízo de admissibilidade, e se ele rejeitar cabe agravo regimental. Se ele admitir, redistribui-se para outro relator da mesma câmara. Contraditório A parte contrária é intimada para contra razões em dez dias. 42 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Julgamento Julga aquele que o regimento interno do tribunal daquele TJ indica. Em São Paulo, é a mesma câmara, mas com a totalidade de seus membros. Então, os recursos que foram julgados por três, agora serão julgados por cinco ou seis. Se houver empate prevalece a posição mais favorável ao réu. Decisões possíveis Os embargos podem manter a decisão vencedora, negando provimento aos embargos; Dar provimento total, fazendo prevalecer a outrora decisão vencida; Dar parcial provimento aos embargos, julgando em uma posição intermediária à decisão vencedora e vencida. Senhores, faltam duas aulas aqui. Aguardo contribuições dos colegas. Favor tomar cuidado com a matéria perdida. Aula (07.11.2013 e 08.11.2013) - recursos na 9.099/95 A lei 9099 só regula os embargos declaratórios e a apelação, sendo os recursos restantes iguais aos do CPP. Apelação A apelação tem prazo de dez dias, a ser interposta com as razões. Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no 43 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. § 1º - A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. § 2º - O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias. § 3º - As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei. § 4º - As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa. § 5º - Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão. O juiz fará o juízo de admissibilidade, sendo que se ele não admitir cabe RESE. Admitindo, intimará a parte contrária para as contra razões em dez dias. Os autos então sobem ao colégio (ou turma) recursal. O colégio recursal não é um tribunal, sendo um órgão composto por três juízes de primeiro grau do próprio JECrim, sendo que o juiz que proferiu a decisão recorrida não poderá fazer parte do julgamento. A lei admite expressamente que se o recurso for improvido, o colégio recursal pode adotar os fundamentos da sentença, ou seja, o acórdão não precisa ser fundamentado. 44 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Os embargos declaratórios Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. § 1º - Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão. § 2º - Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso. § 3º - Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício. Tem os mesmos pressupostos do CPP (ver embargos de declaração há muitas folhas atrás). Aqui, eles cabem tanto em primeiro quanto em segundo grau, ou seja, em face dos juízes e contra a turma. O prazo é de cinco dias. Os embargos contra a sentença suspendem o prazo para a apelação. Habeas Corpus no JECrim Cabe Habeas Corpus no JECrim. No entanto, a lei 9099 ignorou suaexistência, não regulando nada sobre ele, o que acabou suscitando questões. Se o coator (autoridade) for um juiz, qual seria a autoridade competente para o julgamento? Deduz-se que é o colégio recursal, por ser o órgão imediatamente superior. Em São Paulo, há a lei estadual 851/98, que diz isso com todas as letras: 45 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Artigo 14 - A Turma Recursal compete, além do julgamento dos recursos referidos no artigo anterior, o dos mandados de segurança e de "habeas corpus", quando a autoridade coatora for juiz do Sistema dos Juizados Especiais, e correições parciais, quando relacionadas a decisão também emanada do Sistema. Acesse a lei estadual aqui: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislac ao/lei.complementar/1998/lei.complement ar-851-09.12.1998.html Mas e se o coator for o colégio recursal, qual a autoridade responsável para julgamento do Habeas corpus? A priori, não deveriam ser os tribunais estaduais (TJs), pois não há hierarquia entre turma recursal e TJ. Muito pelo contrário, ambos são órgãos julgadores em segunda instância. No entanto, o STJ também não seria, pois a CF diz: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; Perceba que a CF diz "tribunal sujeito a sua jurisdição". No entanto, a turma não é tribunal! 46 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti O que sobra então? O STF. Vamos ver o que diz a CF: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; Ora, aqui a alínea não menciona tribunal, mas autoridade. Além disso, o colégio está na jurisdição do STF. Aliás, isso nem é discutível, pois o próprio STF já decidiu: STF Súmula nº 640 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 2; DJ de 10/10/2003, p. 2; DJ de 13/10/2003, p. 2. Cabimento - Recurso Extraordinário - Decisão de Juiz de Primeiro Grau - Causas de Alçada ou Turma Recursal de Juizado Especial Cível e Criminal É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal. Por isso, conclui-se que o STF é o competente pra julgar os Habeas corpus cuja autoridade coatora seja o colégio recursal. Inclusive o próprio STF admitiu isso: 47 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti STF Súmula nº 690 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 5; DJ de 10/10/2003, p. 5; DJ de 13/10/2003, p. 5. Competência Originária - Habeas Corpus Contra Turma Recursal de Juizados Especiais Criminais Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais. (Não Prevalência pelos HC 86834-DJ de 9/3/2007, HC 89378 AgR-DJ de 15/12/2006 e HC 90905 AgR-DJ de 11/5/2007 - Determinam Competência para Tribunais de Justiça dos Estados) Muito bem. A questão está pacífica não? Quase! Em razão disso, o STF ficou lotado de Habeas corpus. Por isso, atualmente, o STF diz que essa súmula foi "superada", e que o entendimento novo é que o órgão competente para julgar Habeas corpus em face de colégio recursal é não outro que não os Tribunais de justiça! A suspensão condicional do processo A doutrina chama essa suspensão de SURCIR processual. Semelhanças entre SURCIR e SURCIR processual Lembrando, o SURCIR material é a suspensão da execução da pena sob determinadas condições. A suspensão condicional do processo, também há uma suspensão, mas não da pena, e sim do processo. 48 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti O processo então fica suspenso por dois a quatro anos, sendo que durante esse período o réu deve cumprir determinadas condições. Se ele cumprir, terminado esse período está extinta a punibilidade. Se as condições não são cumpridas, revoga-se a suspensão e inicia-se o processo. Essas foram semelhanças. E as diferenças? Vejamos: As diferenças entre SURCIR e SURCIR processual O SURCIR serve aos já condenados, enquanto o SURCIR processual serve aos réus antes da sentença. O SURCIR material é concedido pelo juiz. Aqui, no processual, é um acordo entre acusação e defesa, eventualmente homologado pelo juiz. Quem propõe é a acusação, podendo o réu aceitar ou não. Cabimento Caberá na infrações com pena mínima até um ano. Cuidado pois alguns crimes que não são de menor potencial ofensivo, e que nem mesmo são de competência do JECrim, admitem o SURCIR processual, por ter a pena mínima até um ano, como é o caso do furto por exemplo. Em outras palavra, deve-se levar em conta para verificar o cabimento sempre a pena mínima a que o réu estará sujeito se for condenado por todos os crimes em que ele é acusado naquele processo, INCLUINDO AS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO E AUMENTO. Duas súmulas reforçam esse entendimento: STJ Súmula nº 243 - 11/12/2000 - DJ 05.02.2001 Suspensão do Processo - Concurso Material ou Formal ou Continuidade Delitiva - Somatório ou Incidência de Majorante - Limite Aplicável 49 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. E... STF Súmula nº 723 - 26/11/2003 - DJ de 9/12/2003, p. 1; DJ de 10/12/2003, p. 1; DJ de 11/12/2003, p. 1. Suspensão Condicional do Processo - Crime Continuado - Admissibilidade Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. Requisitos para obtenção do SURCIR processual Requisito objetivo O réu não pode estar sendo processado ou já ter sido condenado por outro crime em outro processo. Atenção pois o retorno à primariedade pela prescrição da reincidência não dá direito à suspensão. Inquérito policial em andamento não impede a suspensão. Processo ou condenação por contravenção também não impede. A constitucionalidade deste dispositivo A primeira parte desta condição é por muitos considerada inconstitucional por violar a presunção de inocência. 50 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Requisitos subjetivos É o cumprimento dos mesmos requisitos do SURCIR, ou seja, os do art. 77, II, CP: Art. 77. A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; Proposta O SURCIR processual é considerado acordo, sendo que a iniciativa da proposta é do autorda ação, ou seja, do MP. A lei dá a entender que só pode ser na ação pública. No entanto, a jurisprudência tem admitido que na ação privada o querelante proponha o SURCIR processual. Quando o crime admite a suspensão e a acusação se recusa em propô- la, ela deve fundamentar sua recusa na ausência de um dos requisitos do instituto. Se o juiz discordar da recusa, na ação pública, aplica-se a sumula 696, STF: STF Súmula nº 696 - 24/09/2003 - DJ de 9/10/2003, p. 5; DJ de 10/10/2003, p. 5; DJ de 13/10/2003, p. 5. Reunidos os Pressupostos Legais Permissivos da Suspensão Condicional do Processo - Propositura Recusada pelo Promotor - Juiz Dissentido - Remessa ao Procurador-Geral - Analogia 51 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal. Então remete-se os autos ao procurador geral de justiça, para que ele decida. Na ação privada, se o querelante recusar não se há o que fazer. Momento da proposta A proposta é oferecida junto da inicial. Termos da proposta A proposta deve conter o seguinte: O tempo da suspensão (chamado período de prova, de dois a quatro anos); As condições a serem cumpridas Aceitação Oferecida a proposta o juiz designa uma audiência, intimando o réu para que venha acompanhado de defensor. Se o réu não comparecer, esta frustrada a proposta. Se o réu vier sem defensor o juiz nomeia um na hora. Na audiência o juiz explica ao réu o que é a suspensão e quais as condições. A aceitação deve ser tanto do réu quanto do defensor. Se houver divergência, prevalece a vontade do réu. Se o réu aceitou, o juiz verificará se é o caso de receber a denúncia e homologar a suspensão. Obs.: suspendido o processo, suspende-se também a prescrição. A previsão legal da suspensão condicional do processo está na 9099: Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, 52 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena. Condições obrigatórias § 1º - Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; Haverá na proposta um prazo para reparação do dano, devendo o beneficiado fazê-lo ou apresentar justificativa que o impossibilitou de fazer. II - proibição de freqüentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. Os demais incisos são auto explicativos. As condições desse parágrafo são obrigatórias, sendo requisito de validade do SURCIR. 53 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Condições facultativas § 2º - O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. As condições desse parágrafo são facultativas, podendo essas serem exigidas além das obrigatórias. Note que essas condições são facultativas para o AUTOR DA PROPOSTA, e não para o réu. Ou seja, se elas forem propostas e aceitas, o cumprimento será obrigatório pelo aceitante. Essas condições podem ser pedidas a critério do autor, mas elas devem guardar relação com o crime. Causas de revogação da suspensão Causas obrigatórias São causas que, acontecendo, o juiz deverá obrigatoriamente revogar a suspensão. § 3º - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. Portanto, são duas as causas obrigatórias: O réu no curso da suspensão é processado por outro crime (considera-se outro processo pra esses efeitos o momento a partir do recebimento da denúncia/queixa. O réu, após o prazo para reparação, não reparar o dano e não apresentar justificativa, ou, apresentada, não for acolhida pelo juiz; Causas facultativas São causas de revogação da suspensão que o juiz pode optar entre revogar ou não. 54 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti § 4º - A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. Se o réu, no curso da suspensão, vier a ser processado por contravenção; O descumprimento de qualquer outra condição obrigatória ou facultativa. Nas causas facultativas, a decisão do juiz deve ser fundamentada. Extinção da punibilidade § 5º - Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. Se durante o prazo da suspensão não houve notícia de nenhuma infração ou nenhuma causa de revogação da suspensão, estará extinta a punibilidade. Discute-se se após o término do prazo, sobrevindo a notícia de uma causa de revogação que ocorrera durante o prazo, poderia o juiz revogar a suspensão. Ex.: terminado o prazo mas ainda não declarada extinta a punibilidade, vem aos autos uma folha de antecedentes que traz a notícia de que durante o prazo já terminado fora instaurado contra o réu um processo por outro crime. Há duas correntes: A 1ª entende que o fim do prazo sem revogação é a causa extintiva da punibilidade. A decisão do juiz que vem depois apenas declara que a punibilidade estava extinta no momento em que o prazo terminou. Se a punibilidade já se extinguiu, a suspensão não pode ser revogada. No entanto, prevalece, inclusive no STJ, um 2º entendimento, de que nesta hipótese, o juiz pode revogar a suspensão após o termino do prazo desde que ainda não tenha declarado extinta a punibilidade. 55 Processo penal pt. 2 – Rommel Andriotti Disposições finais do artigo § 6º - Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º - Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. Auto explicativas. Procedimento da lei de drogas É a lei 11.343/2006. A lei 11.343/2006 vem para regulamentar perante o direito penal os crimes relacionados às drogas e os procedimentos deles. A lei ela se subdivide em dois grandes grupos, sendo um para as infrações menos graves (que atinge os usuários) e outro para as infrações mais graves (que atinge os traficantes). Há diferenças procedimentais entre crimes. Nós temos nessa lei crimes mais graves e outros menos graves. O procedimento do crime do artigo 28 Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 56 Processo penal pt.
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