Buscar

APOSTILA_DE_DIREITO_PROCESSUAL_PENAL_VOL (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 116 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

APOSTILA
 DE
 DIREITO PROCESSUAL PENAL
VOLUME IV
Profª Dra. Maria da Penha Meirelles Almeida Costa
NULIDADES
1. Conceito
Nulidade é um vício processual decorrente da inobservância de exigências legais capaz de invalidar o processo no tolo ou em parte. 
Estes vícios processuais podem ser classificados em:
a) Irregularidade: desatende a exigências formais sem qualquer relevância. Seu desatendimento é incapaz de gerar prejuízo, não acarretando a anulação do processo em hipótese alguma e não impede o ato de produzir seus efeitos e atingir a sua finalidade. 
Exemplos: 1) acusado que, embora não citado, comparece aos atos processuais; 
2) a não entrega aos jurados da cópia da sentença de pronúncia. 
b) Nulidade Relativa: 
inobservância de formalidade essencial ao ato, que visa resguardar interesse de um dos integrantes da relação. Muito embora, dependendo do caso concreto, possa gerar prejuízo, a sua invalidação fica condicionada à demonstração do mesmo e à argüição do vício no momento processual oportuno.
c) Nulidade absoluta: 
nesse caso, a formalidade violada não está estabelecida simplesmente em lei, havendo ofensa direta ao texto constitucional, ou seja, aos princípios constitucionais do devido processo legal (ampla defesa, contraditório, publicidade, motivação das decisões judiciais, etc.).
A nulidade absoluta prescinde de alegação por parte dos litigantes e jamais preclui, podendo ser reconhecida ex officio pelo juiz, em qualquer fase do processo. 
d) Inexistência: 
ato inexistente é aquele que não reúne elementos sequer para existir como ato jurídico. 
Exemplo de ato inexistente:
 1) sentença assinada por quem não é juiz. 
2) sentença que julgar extinta a punibilidade do agente com base em certidão de óbito falsa. 
2. Princípios básicos das nulidades
2.1. 
Princípio do prejuízo
Esse princípio não se aplica à nulidade absoluta, na qual o prejuízo é sempre presumido. Somente aplica-se nas nulidades relativas, dada a exigência de comprovação do efetivo prejuízo para o vício ser reconhecido (art. 563 do CPP). 
2.2. 
Princípio da instrumentabilidade das formas ou da economia processual
Assim, conforme o art. 566 do CPP, não tem sentido declarar nulo um ato inócuo, sem qualquer influência no deslinde da causa, ou interferência na apuração da verdade substancial apenas por excessivo apego ao formalismo. E, tanto é verdade que, o art. 572, II, reforça essa idéia ao relacionar que certas irregularidades serão relevadas, “se praticado de outra forma, o ato tiver atingido o seu fim”. 
2.3. 
Princípio da causalidade ou da seqüencialidade
Segundo dispõe o art. 573, parágrafo 1º, somente os atos dependentes ou que sejam conseqüência do viciado serão atingidos. Como exemplo, verificamos que se houver depoimento de testemunha de defesa, antes de encerrar a colheita da prova oral acusatória, basta que se anule o testemunho prestado antes do momento processual correto, sem necessidade de invalidar os depoimentos das testemunhas de acusação já prestados. 
2.4. 
Princípio do interesse
Conforme está previsto no art. 565 do CPP, só pode invocar a nulidade quem dela extrair algum resultado positivo ou situação favorável dentro do processo. À parte contrário que não se beneficiará desta falta de interesse processual, decorrente de total ausência de sucumbência. Por outro lado, a lei também não reconhece o interesse de quem tenha dado causa a irregularidade. 
2.5. 
Princípio da convalidação
Consoante interpretação do art. 572, I, as nulidades relativas estarão sanadas, se não forem argüidas no momento oportuno. 
O art. 571 estabelece o momento em que as nulidades relativas devem ser alegadas, sob pena de convalidação. 
2.6. 
Princípio da não-preclusão e do pronunciamento ex officio
As nulidades absolutas não precluem e poderão ser reconhecidas de ofício, a qualquer tempo, pelo juiz ou tribunal. O tribunal não poderá reconhecer as nulidades absolutas em prejuízo do réu, com uma única exceção: quando se tratar de nulidade por incompetência absoluta. Neste caso, o vício é tão grave que não há como deixar de reconhecê-lo, mesmo que prejudique o acusado e que a acusação não tenha levantado em seu recurso. 
3. Nulidades em espécie
O art. 564, do CPP, elenca os seguintes casos de nulidade:
“I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz”;
a) Incompetência
Competência é a medida da jurisdição, estabelecendo os limites do exercício do poder jurisdicional pelo juiz. 
Na incompetência absoluta, o juiz fica privado totalmente de seu poder jurisdicional. Neste caso o vício jamais se convalida. 
Somente a incompetência territorial é relativa, que deve ser argüida pelas partes, por ocasião da defesa prévia, sob pena de convalidar-se. Costuma-se falar, nesses casos, de competência prorrogada. 
Nos casos de incompetência relativa, serão anulados somente os atos decisórios, de mérito, aproveitando-se os atos instrutórios. 
Na incompetência absoluta, todos os atos serão anulados, mesmo os decisórios. 
b) Suspeição e suborno do juiz
O juiz suspeito está impedido de atuar, e este impedimento priva o juiz da jurisdição, tanto que isto representa mais do que uma nulidade gera uma inexistência. 
“II - por ilegitimidade de parte”;
Pode ser ad causam ou ad processum:
a) ad causam: 
ocorre quando o autor não é o verdadeiro titular da ação ajuizada, ou quando ou réu não pode integrar a relação processual, como ocorre com aquele que não é imputável. 
Ex.:-denúncia oferecida contra menor de 18 anos, contra vítima ou testemunha; propositura de ação penal privada pelo Ministério Público.
Implica em nulidade absoluta. 
b) ad processum: 
decorre da falta de capacidade postulatória do querelante. 
Ex.: o querelante leigo assina sozinho a queixa-crime, que requer capacidade postulatória; ofendido menor de 18 anos ajuíza a ação privada sem estar representado por seu representante lega. Implica em nulidade relativa, que pode ser convalidável mediante ratificação. 
“III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:”
a)
falta do preenchimento dos requisitos no oferecimento da denúncia ou queixa e representação. 
· a denúncia ou a queixa devem descrever de forma clara e precisa a conduta criminosa, a fim dos réu poder exercer o seu direito de defesa. 
· na denúncia deverá constar o endereçamento ao juiz competente, a redação vernácula, a assinatura do Ministério Publico, o pedido de citação, a indicação do rito processual e o pedido de condenação. 
· a queixa somente poderá ser formulada por advogado, sendo imprescindível que da procuração conste expressamente o fato criminoso, que deverá ser descrito na queixa. 
b) 
falta de exame de corpo de delito
Tendo o crime deixado marcas, será obrigatória a realização de exame de corpo de delito, não podendo supri-lo a confissão do acusado, tampouco provas documentais ou testemunhais. Somente poderá ser suprido por prova testemunhal se os vestígios houver desaparecidos logo em seguida à pratica do crime. 
c)
falta de nomeação de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de curador ao réu menor de 21 anos. 
Conforme determina a Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova do prejuízo para o réu”. Observar também o art. 261, ao estabelecer que o acusado não será processado ou julgado sem defensor.
Com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002), o maior de 18 anos passou a ser plenamente capaz, não mais necessitando da assistência de curador no processo penal. 
d) 
falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação pena pública ou subsidiária. 
Caso o Ministério Público se recuse a participar do ato, deverá o juiz aplicar, por analogia, o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao procurador-geral de justiça, para que designe outro promotor. 
Neste caso a nulidade apresenta-se como relativa, uma vez que o art. 572 e incisos, permite a convalidação desse vício: quando não argüida em tempo oportuno; se o ato tiveratingido o seu fim. 
e) 
falta ou nulidade de citação do réu para se ver processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa; 
Restará sanada desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se (CPP, art. 570).
Haverá nulidade insanável se a falta de citação prejudicar a defesa do acusado, não sendo possível a convalidação do vício, apenas pelo comparecimento. 
f) falta de entrega da sentença de pronúncia, o libelo, com o rol de testemunhas, nos processos perante o tribunal do júri; 
A falta de decisão de pronúncia, que reconhece a admissibilidade da acusação, remetendo o réu ao julgamento pelo tribunal do júri, é causa de nulidade absoluta. 
g) 
falta de intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia. 
Deve intimar, mas a sua presença não é obrigatória. 
h) Falta de intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei. 
A falta de intimação dessas testemunhas é causa de nulidade relativa. Caso o julgamento ocorra sem a presença das testemunhas que não foram intimadas, caberá à parte interessada argüir a nulidade, demonstrando o prejuízo, sob pena de preclusão. Se, não obstante a omissão, comparecerem as testemunhas arroladas à sessão de julgamento, estará sanada a falha. 
i) falta de presença de pelo menos 15 jurados para constituição do júri; 
Para a formação do júri é indispensável a presença de pelo menos 15 jurados. 
j)
falta de sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade; 
Dos 25 jurados que compõem o Tribunal do Júri, 7 deverão ser sorteados para integrar o Conselho de Sentença, caso não haja sorteio ou na hipótese de um Conselho formado por menos de 7 jurados, haverá nulidade absoluta do julgamento. 
k) falta de quesitos e as respectivas respostas; 
A ausência de quesito obrigatório ou a inversão da ordem estabelecida em lei acarretará nulidade absoluta.(Sumula 156 do STF). 
l) 
falta da acusação e da defesa, na sessão de julgamento; 
A presença das partes é obrigatória. Ao MP cabe sustentar a acusação, pleiteando a condenação do réu, nos termos do libelo acusatório, entretanto poderá pedir a sua absolvição quando inevitável e convencido. Por outro lado, a defesa deverá defender os interesses do réu. Importante lembrar que a falta de defesa recorre em nulidade absoluta, enquanto a sua deficiência gera apenas nulidade relativa. 
m) 
falta de sentença. 
A falta de sentença, bem como a prolação de sentença que não contenha os requisitos essenciais previstos em lei, é causa de nulidade absoluta. 
A sentença deverá conter os seguintes tópicos: 
o nome do acusado; (engano quanto ao nome não anula, se não deixar dúvida)
o relatório; (a absoluta falta conduz à nulidade insanável). 
a motivação, na qual o juiz fundamenta a sua decisão; onde o juiz faz uma exposição sucinta da acusação e da defesa; (sua ausência gera nulidade, fundamentação sucinta não invalida a sentença, a não ser que a concisão seja excessiva
a indicação dos artigos de lei aplicados; (importa em nulidade, a omissão acarreta prejuízo para o réu, que ficará sem saber qual crime ensejou a condenação).
o dispositivo; a data e assinatura do juiz. (acarreta mais do que a nulidade, a própria inexistência do ato, pois sentença sem dispositivo é sentença que não decidiu, e que, portanto, não existe enquanto sentença).
“IV - por omissão de formalidade que constitua elementos
 essenciais do ato”.
 Essencial é a formalidade sem a qual o ato não atingiria a sua finalidade. 
Exemplo:- denúncia que não descreve o fato com todas as suas circunstâncias. 
Obs.: não se anula ato por violação a formalidade inócua, irrelevante.
4. Momento oportuno para a argüição das nulidades relativas
Nos termos do art. 571 e incisos, devem ser alegadas:
4.1. 
as da instrução criminal, na fase das alegações orais, conforme o caso;
4.2. 
as posteriores à pronúncia, logo após a instalação da sessão, depois de feito anúncio do julgamento e pregão das partes;
4.3.
as que ocorrerem durante o julgamento em plenário, logo em seguida à sua ocorrência;
4.4.
após surgidas na sentença definitiva, devem ser alegadas, em preliminar, nas razões de recurso; 
II - TEORIA GERAL DOS RECURSOS
1. Conceito
No sentido estrito, recurso é o meio, o remédio jurídico-processual pelo qual se provoca o reexame de uma decisão. De regra, esse exame é levado a cabo por um órgão jurisdicional superior. A parte vencida, por meio do recurso, pede a anulação ou a reforma, total ou parcial, de uma decisão.
2. Fundamento
O fundamento de todo e qualquer recurso, como dizia o Marquês de São Vicente, descansa na falibilidade humana.
Na Verdade, em qualquer setor da atividade humana, ninguém se conforma com um primeiro julgamento. Se alguém procura um médico e este lhe diagnostica um mal mais ou menos grave, surge a dúvida no espírito consulente: será que ele disse a verdade? Também na via judiciária surgem para os litigantes as mesmas dúvidas, as mesmas apreensões, as mesmas desconfianças, e daí a necessidade de se adotar um meio de se provocar o reexame da questão decidida: o recurso.
Ademais, na generalidade dos casos, os recursos são dirigidos a órgãos superiores, constituídos de Juízes mais velhos, mais experimentados, mais vividos, e tal circunstância oferece-lhes maior penhor de garantia. Por outro lado, sabendo os Juízes que suas decisões poderão ser reexaminadas, procurarão eles ser mais diligentes, mais estudiosos, procurando fugir do erro e da má fé. Somente tal circunstância seria suficiente para se justificar o recurso.
3. Pressupostos lógico e fundamental dos recursos
a) Pressuposto lógico: 
 é a existência de um despacho ou decisão. 
b) Pressuposto fundamental: 
é a sucumbência. 
Ex.:- Se o promotor postula a condenação do réu, e este é absolvido, houve sucumbência; se o Juiz proferiu sentença condenatória, mas impôs pena mínima, e o Promotor entendeu devesse ela ser um pouco exasperada, houve sucumbência, uma vez que a decisão lesionou o interesse do Ministério Público em ver a pena aplicada como lhe pareceu acertado.
4. Classificação da Sucumbência
A sucumbência pode ser única ou múltipla.
4.1. Única: se a agravante atinge apenas uma das partes.
Ex.: Se o Juíz não atende ao pedido de reconhecimento de causa extintiva de punibilidade, sucumbente será apenas o réu. 
4.2. Múltipla: atingem-se interesses vários. A sucumbência múltipla pode ser paralela ou recíproca. 
4.2.1. Paralela: quando a lesividade atinge interesses idênticos. 
Ex.:- se o Promotor oferece denúncia contra A e B, e o Juiz os condena, ambos os réus sofreram o mesmo gravame (sucumbência paralela). 
4.2.2.Recíproca: quando atinge interesses opostos. 
Ex.: se o Promotor oferece denúncia contra A, e o Juiz o condena, mas lhe concede o sursis, e o Promotor se revela contra a concessão daquele benefício, em virtude de não ser o réu primário, tanto o réu poderá interpor recurso de apelo como poderá fazê-lo o órgão do Ministério Público. É que ambos sucumbiram.
4.3. Ainda, a sucumbência pode ser direta ou reflexa.
4.3.1. Direta: quando atinge uma das partes da relação processual. Assim, se é o acusador ou acusado o sucumbente, fala-se em sucumbência direta. 
4.3.2. Reflexa: quando alcança pessoas que estejam fora da relação processual, ela se diz reflexa. Desse modo, se o Juiz absolve o réu, a vítima ou qualquer daquelas pessoas a que faz referência o art.598, poderá apelar, mesmo que nenhuma delas se tenha habilitado como assistente.
4.4. Fala-se também em sucumbência total ou parcial.
4.4.1. Total: 
 quando o pedido é desatendido em sua integralidade. 
4.4.2. Parcial: como o nome está a indicar, se a parte do pedido não for acolhida. Assim, se o Juiz absolve o réu, a sucumbência para o órgão do Ministério Público será total. Se houvercondenação, mas o Juiz lhe conceder o sursis, pode-se falar em sucumbência parcial.
5. E, se o réu for absolvido, poderá ele apelar? 
 Evidente que, para interpor qualquer recurso, o réu deve ter interesse na reforma ou modificação da decisão. Assim sendo, pode parecer, à primeira vista, que, se o réu for absolvido, não poderá recorrer por falta de interesse. 
Suponha-se, entretanto, tenha sido ele absolvido sob o fundamento de haver agido em legítima defesa putativa e entenda ter havido legítima defesa real. 
Poder-se-á dizer: tanto faz. Todavia, na hipótese de legítima defesa putativa, cabe a ação civil para a satisfação do dano, como se constata pela leitura do art.1540 do CC. Na real, não. Logo, não se pode falar em falta de interesse do réu...
Art. 1540. As disposições precedentes se aplicam ainda no caso em que a morte, ou lesão resulte de ato considerado ato justificável, se não foi perpetrado pelo defensor em repulsa de agressão ao ofendido.
6. A sentença penal sempre faz coisa julgada no cível.
Discute-se a respeito se o Ministério Público poderá recorrer se a decisão for contrária aos interesses do réu.
Uma corrente, defendida também por Frederico Marques, entende que o Ministério Público defende interesse contrário ao do réu, sendo assim, o Recurso Ministerial estaria destituído de interesse jurídico. 
Por outro lado, outra corrente, que dentre outros está Manzini, defende que o Ministério Público é o fiscal da Lei, não podendo deixar passar erros só porque tal observância acarretaria vantagens ao réu. 
7. Pressupostos objetivos do recurso (Autorização legal, Tempestividade e Formalidade).
7.1. Autorização Legal
A medida do recurso deve estar consignada, prevista em lei, e, além disso, o recurso interposto deve ser adequado.
Entretanto, no caso de se interpor recurso inadequado, desde que não haja demonstrado má fé do recorrente, pode-o ser conhecido, imperando o princípio da fungibilidade dos recursos. Por tal princípio, simples desconformidade da parte em relação a uma decisão é, em tese, suficiente para que seu recurso seja conhecido, pouco importando a denominação que se lhe dê. 
Ex.:- O réu é condenado e, em vez de apelar, interpõe recurso em sentido estrito. Este será conhecido como apelação. Mas, se a parte perde o prazo para apelação, que é de 5 dias, e interpõe o recurso extraordinário, que é de 15 dias, então não poderá ser conhecido. 
7.2. Tempestividade
O recurso deve ser interposto no prazo legal, e cada um tem seu prazo de interposição definido em lei, daí a denominação tempestividade do recurso. 
	
	
	Alguns prazos para interposição de recurso:
	
	
	
	
	DENOMINAÇÃO
	PRAZO
	
	
	. Recurso em Sentido Estrito
	05 dias
	. Apelação
	05 dias
	. Protesto por Novo Júri (extinto)
	05 dias
	. Embargos Infringentes
	10 dias
	. Embargos de Nulidade
	10 dias
	. Embargos de Declaração
	02 dias
	. Carta Testemunhável
	48 horas
	
	
Os prazos recursais são fatais, contínuos e peremptórios, nos precisos termos do art. 798, não se interrompendo por férias, domingo ou feriado, salvo a hipótese prevista no parágrafo 4º do art. 798. 
A Súmula 310 do STF deixou declaro que:
“Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação, com efeito, de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”.
Obs. : Para a contagem do prazo em processo penal, não se computa o dia do começo, e sim o do vencimento. 
Exemplo:
1) Intimado o réu na sexta-feira, o seu prazo fatal para interposição do apelo expirará na outra sexta-feira. 
2) Intimado o réu de uma sentença condenatória numa segunda-feira, o prazo para apelar expirar-se-á no sábado. Logo, seu prazo fatal será na segunda-feira. 
7.3. Formalidades
7.3.1. 
Em regra geral, o recurso é formalizado por petição, que poderá ser protocolado ou, dependendo da necessidade, despachado diretamente com a autoridade judiciária. 
Porém, ocorre que para alguns recursos se admite a interposição por termo nos autos, isto é, o interessado oralmente manifesta sua intenção, que ficará consignada nos autos, tal como pode ocorrer no Recurso em Sentido Estrito, na Apelação e no Protesto por Novo Júri. 
7.3.2.
Necessidade de o réu recolher-se à prisão quando interpor recurso contra sentença de pronúncia (Recurso em Sentido Estrito) ou Apelação, ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença de pronúncia ou condenatória. 
7.3.4. A motivação também constitui formalidade legal. Seria um contra-senso permitir ao vencido o direito de recorrer, sem que fosse obrigado a dizer qual as razões que o levaram a discordar da decisão recorrida. Recurso sem motivação é recurso inepto e não pode ser conhecido. Faz-se, entretanto, exceção à apelação, visto que o art. 601 permite a subida dos autos à instância superior, “com as razões ou sem elas”. 
O mesmo não pode ocorrer com o Recurso em Sentido Estrito, pois neste há o juízo de retratação, e sem as razões fica difícil ao Magistrado dar a sua resposta. 
Já no Protesto por Novo Júri, a simples interposição é suficiente, não havendo necessidade de “razões”, mesmo porque não haverá contra-razões.
8. Pressupostos subjetivos (Interesse e Legitimidade)
8.1. Interesse
A parte para recorrer tem que ter interesse na modificação da decisão recorrida, demonstrando o prejuízo. E quem pode recorrer? O Ministério Público, o querelante, o réu, seu procurador ou defensor. 
8.2. Legitimidade
Somente à parte prejudicada com a decisão é parte legítima para recorrer.
9. Juízo de Admissibilidade
Interposto o recurso, cabe ao Órgão Jurisdicional a quo o juízo da sua admissibilidade, que poderá ser negativo ou positivo. Satisfeitos todos os pressupostos (objetivos e subjetivos), o Juízo a quo recebelo-á. Do contrário, proferirá despacho liminar negativo. Se positivo, o recurso será processado, se negativo, não recebendo, surge nova sucumbência para o recorrente, podendo este lançar mão de outro recurso para combater a decisão denegatória. Assim, rejeitado o recurso de apelação, caberá o recurso em sentido estrito (CPP, art.581, XV); se este também for denegado, o sucumbente poderá requerer a carta testemunhável (CPP, art.639). Todavia, o julgamento da admissibilidade do recurso no juízo a quo, não vincula o órgão ad quem. Este, antes de apreciar o mérito, verifica se estão satisfeitos os pressupostos recursais. Em caso positivo, passa para o mérito. Em caso negativo, deixa de tomar conhecimento do recurso.
10. Extinção anormal dos recursos
Às vezes, ocorrem certos fatos que extinguem normalmente as vias recursais, impedindo assim que o órgão competente possa apreciá-lo. Que fatos são estes?
a) A deserção pela fuga do apelante, na hipótese do artigo 595;(Eliminado pelo STF)
b) A desistência;
c) A falta de preparo. (Só nos casos exigidos por lei, art.806, § 2º)
Observação: O Ministério Público nos termos do artigo 596, não poderá desistir de recurso que haja interposto. Os outros estão autorizados. 
11. Classificação dos recursos
a ) Recurso Extraordinário - (art.102, Inc.III, a, b, e c da Carta Magna)
Conhecimento de uma questão federal de natureza constitucional
b ) Recurso Especial - (Art.105, Inc.III, a, b e c da Carta Magna)
 Tutelar a Autoridade e Unidade da Lei Federal
c ) Recurso Ordinário - (Art.102, Inc.II da Carta Magna)
Não importa a sua natureza, se apelação, agravo, embargos, etc..., todos são recursos ordinários.
12. Recursos voluntário e necessário
12.1. Voluntário
São aqueles cujo ônus de interpô-los cabe, exclusivamente àquele que sucumbiu. Não há qualquer obrigação legal para que venha recorrer, ou seja, recorrerá se quiser, assumindo o ônus da interposição.
12.2. Necessário (ex officio)
São aqueles que necessariamente, obrigatoriamente, devem ser interpostos pelo próprio Juiz. No final da sua decisão, quando exigido o recurso obrigatório, dirá o Juiz: “Destadecisão recorro ex officio. Subam os Autos ao E. Tribunal, após o decurso do prazo para eventual recurso necessário”.
No Processo Penal, as hipóteses de recurso necessário são:
a) das decisões que concederem habeas corpus (art.574, I);
b)
nas decisões proferidas nos termos do art.411 (art.574, II);
c)
das decisões que concederem reabilitação (art.746);
d)
nas hipóteses previstas no art.7º da Lei nº 1521, de 26.12.1951.
13. Efeitos dos recursos
	Efeito Regressivo
	Quando a decisão é submetida a reexame na própria instância prolatora.
	
	
	Efeito Suspensivo
	Quando o recurso suspende a execução da decisão recorrida. Neste caso, cumpre à própria lei dizer se este tem ou não tal efeito.
	
	
	Efeito Devolutivo
	Quando a decisão é submetida a reexame por instância superior. 
14 - Unirrecorribilidade
Além dos pressupostos recursais objetivos já enumerados, podemos acrescentar mais um: o da unirrecorribilidade, isto é, a parte não pode fazer uso de mais de um recurso para combater a mesma decisão. Contudo, há exceções:
a) se o julgamento pelo Tribunal do Júri ensejar protesto por novo júri e apelação (CPP, art.608);
b) se a decisão do Tribunal comportar recurso extraordinário e recurso especial;
c) na hipótese de o acórdão ter parte unânime ou especial e os embargos infringentes.
Assim, sendo dois os réus, se o Tribunal condenou um deles por unanimidade e o outro por maioria, cumpre ser interposto o recurso extraordinário ou especial, se for o caso, e os embargos infringentes, ficando aquele suspenso, aguardando a decisão dos embargos. Mesmo seja apenas um réu processado por duas infrações em concurso material, se, no apelo, vier a ser condenado, à unanimidade, quanto a uma infração e por maioria quanto a outra, se a hipótese ensejar recurso extraordinário ou especial, poderá ele opor os dois recursos.
III - RECURSOS EM MATÉRIA CRIMINAL
	
	
	
	DENOMINAÇÃO
	CABIMENTO
	PRAZO
	
	
	
	
	
	
	1. Em Sentido Estrito
	Todos os incisos do art. 581
	5 + 2 dias (exceto inc. XIV do art. 439)
	Obs.: Composto de duas peças. O prazo para interposição é de 5 dias, endereçada ao Juiz da decisão, e o prazo para as razões é de 2 dias, endereçada ao Tribunal competente. Cabe retratação. 
	
	
	
	
	
	
	2. Apelação
	Sentenças definitivas (art.593)
	5 + 8 dias
	Obs.: Composto de duas peças. O prazo para interposição é de 5 dias, endereçada ao Juiz da decisão, e o prazo para as razões é de 8 dias, endereçada ao Tribunal competente. Não cabe retratação. Podem ser juntados documentos. Há previsão para apresentar as razões no 2º grau (art. 600).
	
	
	
	
	
	
	3. Protesto p/Novo Júri
	Decisões condenatórias do T. Júri com pena igual ou maior que 20 anos.
	5 dias
	Obs.: Uma peça endereçada ao Presidente do Tribunal do Júri. Não há necessidade de razões (art. 607).
	
	
	
	
	
	
	4. Embargos de Declaração
	Acórdão/Sentenças ambíguas, obscuras, contraditórias ou omissas.
	2 dias
	Obs.: Peça endereçada ao Juiz sentenciante de 1º grau, com fundamento no art. 382 do CPP. Sendo acórdão, endereçada ao Relator (art. 619). Cabe retratação. 
	
	
	
	
	
	
	5. Embargos Infringentes ou de Nulidade
	Decisão não unânime de 2º grau
	10 dias
	Obs.: Peça endereçada ao Relator do acórdão. Recurso exclusivo da defesa (art. 609 do CPP).
	
	
	
	
	
	
	6. Revisão Criminal
	Processos findos com trânsito em julgado
	s/prazo
	Obs.: Sentença transitada em julgado, e somente nos casos previstos nos incisos do art. 621 do CPP. Ocorre inversão do ônus da prova. 
	
	
	
	
	
	
	7. Carta Testemunhável
	Decisão denegatória de recebimento ou prosseguimento do Recurso em Sentido Estrito, Protesto por Novo Júri ou Agravo na Execução.
	48 horas
	Obs.: Peça endereçada ao Escrivão do Cartório, indicando, inclusive, as peças a serem trasladadas e razões (art. 639 do CPP). 
	
	
	
	
	
	
	8. “Habeas Corpus”
	Quando ocorrer coação ou constrangimento ilegal.
	s/prazo
	Obs.: Peça endereçada ao Juiz de 1º grau ou ao Tribunal, dependendo de quem seja a autoridade coatora
	
	
	
	
	
	
	9. Correição Parcial
	Inversão tumultuária na ordem legal dos atos processuais
	10 dias
	Obs.: Peça endereçada ao Juiz que proferiu o despacho. Deve-se indicar as peças a serem trasladadas e encaminhar, inclusas, as razões. Lei n. 8.040 de 13.12.1963.
	
	
	
	
	
	
	10. Agravo na Execução
	Decisões proferidas na Vara das Execuções
	5 dias
	Obs.: Composto de duas peças. A interposição é endereçada ao Juiz da Execução com a minuta do agravo inclusa (art. 197 da Lei de Execuções Criminais).
	
	
	
	
	
	
	11.Ordinário Constitucional
	arts. 102, II a e 105, II, a/b, da CF.
	5 dias
	Obs.: Petição endereçada ao Presidente do Tribunal que denegou a ordem, com razões inclusas. 
	
	
	
1. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
A lei enumera, no art. 581 do CPP, os casos em que cabe o recurso em sentido estrito.
Art. 581 - Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
I - 
que não receber a denúncia ou a queixa;
É certo que o juiz deverá limitar-se a analisar a existência ou não de indícios suficientes do fato e sua autoria, sem incursionar pelo
 mérito, informado pelo princípio in dubio pro societate, mas, no entanto, não poderá dispensar toda e qualquer motivação.
Salvo nas exceções abaixo apontadas, do recebimento da denúncia não cabe qualquer recurso, apenas impetração de hábeas corpus, ante a absoluta falta de previsão legal. 
No caso dos crimes previstos na Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67), cabe recurso em sentido estrito da decisão que receber a denúncia ou queixa e apelação da que rejeitá-las (art. 44, parágrafo 2º). Trata-se de exceção à regra geral. 
No caso das infrações penais de competência do juizado especial criminal, não cabe recurso em sentido estrito da decisão que rejeitar a denúncia ou queixa, mas apelação (Lei n. 9.099/95, art. 82, caput). 
No caso de interposição do recurso em sentido estrito, em razão do não recebimento da denúncia, o entendimento é majoritário no sentido de que o denunciado deve ser intimado para ofertar as contra-razões de recurso, uma vez que, com a denúncia, passa da condição de denunciado para a de acusado, e, como tal, tem direito às garantias da ampla defesa e do contraditório. 
Uma grande parte dos doutrinadores entende que o juiz não pode receber a denúncia ou queixa com capitulação diversa da oferecida pelo Promotor de Justiça, pois o momento para analisar a correta classificação do fato é o da sentença, aplicando-se o disposto no art. 383 do CPP. Na fase de recebimento ocorre mera prelibação, devendo o juiz receber a denúncia como se encontra ou rejeitá-la integralmente, não podendo tecer exame aprofundado a respeito da correta classificação jurídica do fato. 
II - 
que concluir pela incompetência do juízo;
É o caso do reconhecimento ex officio da incompetência pelo próprio juiz, que determina a remessa dos autos ao juízo competente, nos termos do art. 109 do CPP*. Para parte da doutrina, da sentença que desclassifica o crime de competência do Júri, para crime não doloso contra a vida, cabe recurso em sentido estrito com base neste fundamento, pois o juiz está, na verdade, concluindo pela incompetência do Júri. Da decisão do juiz dando-se por competente não cabe qualquer recurso, podendo a parte prejudicada intentar apenas hábeas corpus.
* Art. 109 - Se em qualquer fase do processo o juiz reconhecer motivo que o torne incompetente, declara-lo-á nos autos, haja ou não alegação da parte, prosseguindo-se na forma do artigo anterior. 
III -
que julgar procedentes as exceções salvo a de suspeição;
O art. 95 do CPP enumera as cinco exceções oponíveis, a saber:
- suspeição;
- incompetência do juízo;
- litispendência;
- ilegitimidade de parte; e
- coisa julgada. 
IV - 
que pronunciar ou impronunciar o réu;
No primeiro caso, temos uma decisão interlocutória mista não terminativa, que encerra uma fase do procedimento, sem julgar o mérito, isto é, sem declarar o réu culpado. No segundo, a sentença é interlocutória mista terminativa, extinguindo oprocesso, e não uma fase do procedimento, sem julgamento de mérito.
Para parte da doutrina, da decisão que desclassifica o crime de competência do Júri para crime de competência do juízo monocrático, cabe recurso em sentido estrito com base neste inciso, uma vez que, para se dizer que o crime não pertence ao Júri, antes é necessário reconhecer que não ficou provada a prática de crime doloso contra a vida. 
Contudo, prevalece na doutrina e jurisprudência o entendimento contrário, sustentando que a decisão apenas conclui pela incompetência do juízo, enquadrando-se no inciso II do artigo em tela. 
O recurso de pronúncia só suspende a realização do julgamento, devendo o réu permanecer preso, se assim determinado. O réu é parte ilegítima para recorrer da sentença de impronúncia. 
O assistente não pode recorrer da pronúncia para a inclusão de qualificadoras, pois o seu interesse se resume à formação do título executivo para futura reparação do dano. 
V - 
que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar prisão em flagrante. 
A cassação da fiança pode se dar em qualquer fase do processo, desde que se verifique não ser cabível à espécie ou desde que haja alteração na classificação do delito, que o torne inafiançável (arts. 338 e 339, do CPP). Portanto é a fiança que não podia ter sido concedida para aquela infração penal, e que, por essa razão, foi cassada. 
Fiança julgada inidônea é aquela que foi prestada, por engano, em quantia insuficiente de ser reforçada, sob pena de ficar sem efeito (CPP, art. 340, parágrafo único). 
Nos casos de crimes cuja pena máxima não exceder a um ano, bem como das contravenções penais, se o autor do fato assumir o compromisso de comparecer à sede do juizado, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança (Lei n. 9.099/95, art. 69, parágrafo único). 
Nos termos do art. 323 e 324, a fiança será negada:
- aos autores de crimes apenados com reclusão, em que a pena mínima for superior a dois anos;
- no caso de contravenção de vadiagem e mendicância (art. 59 e 60 da LCP, ressalvado o disposto no art. 69, parágrafo único, da Lei n. 9.099/95);
- nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade, se o réu for reincidente em crime doloso;
- ao réu vadio;
- aos crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça à pessoa ou que provoquem clamor público;
- se presente qualquer dos motivos que autorizam a prisão preventiva (art. 312); e
- no caso de quebramento anterior de fiança.
Não cabe recurso da decisão que decretar a prisão preventiva ou indeferir pedido de liberdade provisória ou relaxamento da prisão. A decisão que revoga a prisão preventiva, por excesso de prazo, não equivale à concessão de liberdade provisória, logo, também é irrecorrível. 
Entretanto, caberá hábeas corpus:
- da decisão que não arbitrar fiança;
- da decisão que deferir prisão preventiva;
- da decisão que não revogar prisão preventiva;
- da decisão que não conceder liberdade provisória.
VI - 
que absolver o réu nos casos do art. 411;
A regra é a de que somente cabe apelação das sentenças definitivas de absolvição (CPP, art. 593, I). Excepcionalmente, no caso da absolvição sumária, caberá recurso em sentido estrito em face da previsão expressa do art. 581, VI, do CPP. Além desse, cabe também o recurso necessário. 
A absolvição sumária deverá ser proferida em duas hipóteses:
- prova inequívoca da existência de causa de exclusão de ilicitude; e 
- prova da existência de causa excludente da culpabilidade. 
Se for reconhecida a prática de infração penal, mas também a inimputabilidade do agente por doença mental haverá absolvição sumária com imposição de medida de segurança (absolvição imprópria), e, nesse caso, o acusado também terá interesse em recorrer. 
VII - 
que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;
Nos termos dos arts. 328 e 341 do CPP, a fiança é considerada quebrada:
- quando o réu, legalmente intimado para ato do processo, deixar de comparecer injustificadamente;
- quando este mudar de residência, sem prévia permissão da autoridade processante; 
- se o acusado ausentar-se sem prévia permissão por mais de oito dias de sua residência; 
- quando na vigência da fiança, praticar outra infração penal. 
Traz como conseqüências:
- a perda de metade de seu valor
- a proibição de nova fiança no mesmo processo;
- a revelia do acusado; e
- o seu recolhimento à prisão (CPP, art. 343).
O perdimento do valor da fiança ocorrerá na sua totalidade se o réu, condenado, deixar de recolher-se à prisão (CPP, art. 344). 
VIII - 
que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade;
Trata-se de sentença terminativa de mérito, isto é, que encerra o processo com julgamento de mérito, sem absolver ou condenar o réu. O recurso não tem efeito suspensivo, devendo o réu ser colocado, imediatamente, em liberdade. 
IX - 
que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva de punibilidade;
Trata-se, aqui, de hipótese exatamente oposta à do inciso anterior. Negada a extinção da punibilidade, o processo seguirá seu curso normal. Trata-se, portanto, de decisão interlocutória simples. 
X - 
que conceder ou negar a ordem de hábeas corpus;
O dispositivo refere-se à decisão do juiz de primeira instância, da qual, na hipótese de concessão, cabe também recurso ex officio (art. 574, I).
XI - 
que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;
No caso da decisão encontrar-se embutida em sentença condenatória, cabe apelação. Após o trânsito em julgado da condenação, cabe agravo em execução (art. 197 da LEP). Assim, esse dispositivo não tem nenhuma aplicação. 
XII - 
que conceder, negar ou revogar livramento condicional;
Cabe agravo em execução, estando o dispositivo em questão revogado (art. 197 da LEP). 
XIII - 
que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;
Dependendo do caso concreto, também poderá ser impetrado hábeas corpus (CPP, art. 648, VI). 
XIV - 
que incluir jurado na lista geral ou desta excluir;
Anualmente será organizada uma lista geral de jurados pelo juiz-presidente, da qual serão sorteados vinte e um jurados para comparecerem à sessão periódica (CPP, art. 439, caput). Essa lista será publicada pela imprensa, onde houver, e afixada na porta do edifício do fórum, no mês de novembro de cada ano, para conhecimento geral da coletividade (CPP, arts. 439, parágrafo único, e 440). A partir da publicação, qualquer pessoa poderá interpor recurso em sentido estrito dentro do prazo de vinte dias, endereçando-o ao juiz-presidente, a fim de incluir ou excluir jurado da lista (CPP, art. 586, parágrafo único). 
XV - 
que denegar a apelação ou a julgar deserta;
No caso da apelação, o juízo de admissibilidade deve ser feito tanto na primeira quanto na instância superior. Assim, o juiz a quo pode deixar de receber o apelo se entender não preenchidos algum pressuposto recursal objetivo ou subjetivo. Nessa hipótese, cabe recurso em sentido estrito contra o despacho denegatório da apelação. 
O recurso em sentido estrito, porém, jamais poderá ser denegado, pois, neste caso, não há juízo de admissibilidade em primeiro grau. Entretanto, se o juiz denegá-lo, estará agindo sem respaldo legal, e, desta decisão, caberá carta testemunhável dirigida ao escrivão (CPP, art. 640). 
Ao contrário, se o juiz receber a apelação com vícios, nas contra-razões poder-se-á argüir, em preliminar, o descabimento do recurso. 
XVI - 
que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
Arts. 92 a 94 do CPP
XVII - 
que decidir sobre unificação de penas;
Cabe agravo em execução nos termos do art. 197 da LEP. 
XVIII- 
que decidir o incidente de falsidade; 
O incidente de falsidade é uma argüição por escrito da falsidade de documento constante dos autos, sendo autuada em apartado (art. 145 e incisos do CPP). O requerimento de instauração do incidente deve ser dirigido ao juiz,o qual se limitará a determinar a sua autuação em apartado. Em seguida, a parte contrária se manifesta em quarenta e oito horas, contestando ou não a falsidade do documento. Após a resposta, procede-se à apuração da falsidade, geralmente com a produção de prova pericial (laudo de exame grafotécnico). Colhidos os elementos de prova, caberá ao juiz decidir. 
Qualquer que seja a decisão caberá recurso em sentido estrito. A decisão sobre a falsidade não faz coisa julgada, só tendo relevância no processo em que houve a argüição. 
XIX - 
que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;
Cabe agravo em execução
XX - 
que impuser medida de segurança por transgressão de outra;
Cabe agravo em execução
XXI - 
que mantiver ou substituir a medida de segurança;
Cabe agravo em execução
XXII - 
que revogar a medida de segurança;
Cabe agravo em execução
XXIII- que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação; 
Cabe agravo em execução
XXIV-
que converter a multa em detenção ou em prisão simples;
Este dispositivo está revogado em face da nova redação do art. 51 do Código Penal, determinado pela Lei. 9.268, de 1º de abril de 1996, segundo a qual não é mais possível a conversão da multa em pena privativa de liberdade, no caso de não-pagamento ou do agente frustrar a execução. 
1.1. Competência para julgamento
O recurso deve ser endereçado ao tribunal competente para apreciá-lo, mas a interposição far-se-á perante o juiz recorrido, para que este possa rever a decisão, em sede de juízo de retratação.
1.2. Prazos 
O prazo será de 05 (cinco) dias, a partir da publicação da sentença. No caso do inciso XIV, será de vinte dias, a contar da publicação da lista geral de jurados (CPP, art., 586 e seu parágrafo único). 
1.3. Processamento
(
O recurso em sentido estrito subirá nos próprios autos nos casos arrolados pelo art. 581:
a) inciso I 
-
rejeição de denúncia ou queixa;
b) inciso III 
- decisão que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição;
c) inciso IV 
-
que pronunciar ou impronunciar o réu;
d) inciso VI 
-
absolvição sumária;
e) inciso VIII 
-
que julgar extinta a punibilidade; e
f) inciso X
-
que conceder ou denegar ordem de hábeas corpus. 
(
quando não subir nos próprios autos, haverá necessidade de confecção do instrumento, mediante traslado das peças principais do processo; 
(
no caso da pronúncia de um dos co-réus, o recurso subirá por instrumento se os demais se conformaram com a decisão ou ainda não tiveram sido intimados; 
( 
a lei determina que interposto o recurso, dentro do prazo de 02 (dois) dias, o recorrente deverá oferecer as suas razões. A jurisprudência, porém, entende indispensável a intimação, sem a qual não começa a correr o prazo; 
( 
não existe no recurso em sentido estrito a faculdade de arrazoar em segunda instância; 
(
o recorrido tem dois dias para oferecer a suas contra-razões, a contar de sua intimação; 
( 
recebendo os autos, o juiz, dentro de dois dias, reformará ou sustentará a sua decisão, mandando instruir o recurso com as cópias que lhe parecerem necessárias. A falta de manifestação do juiz importa em nulidade, devendo o tribunal devolver os autos para esta providência;
( 
o juízo de retratação será sempre fundamentado;
( 
se o juiz mantiver o despacho, remeterá os autos à instância superior;
( 
se o juiz reformá-la, o recorrido, por simples petição, e dentro do prazo de cinco dias de sua intimação, poderá requerer a subida dos autos. 
1.4. Efeitos
Devolutivo, regressivo e suspensivo.
O efeito suspensivo ocorre nos seguintes casos (art. 584):
a) 
perda de fiança;
b) 
decisão que denegue a apelação ou a julgue deserta;
c) 
despacho que julgar quebrada a fiança, no tocante à perda de metade do seu valor;
d) 
da pronúncia, mas somente quanto à realização do julgamento;
e) 
o recurso da impronúncia e da decisão que julgar extinta a punibilidade não impede que o réu seja posto, imediatamente, em liberdade;
f) 
no caso de desclassificação do crime doloso contra a vida para outro de competência do juízo singular, por ocasião do art. 410 do Código de Processo Penal, o recurso em sentido estrito terá efeito suspensivo, pois o processo somente poderá ser remetido após ter se tornada preclusa a discussão sobre a competência. 
Obs.: “ A legislação elencou, taxativamente, os casos de efeito suspensivo do recurso em sentido estrito, sendo defeso a inovação pelo Judiciário, conferindo tal efeito ao recurso que não o tem” (STJ, 6ªT., RE 14.029-0, DJU, 17 ago. 1992, p.12509). 
1 - EXEMPLO DE INTERPOSIÇÃO:
Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 1ª Vara desta Comarca
Proc. 102/96
Basílio dos Santos, já qualificado a fls., respeitosamente, vem, perante V.Exa., por seu procurador regularmente constituído, nos autos do processo crime em epígrafe, salientar que não se conformando, data vênia, com a r. decisão de fls., que desclassificou a pretensa tentativa de homicídio para lesão corporal grave, vem da mesma recorrer, no qüinqüídio legal, com fundamento no art. 581, II, do CPP, para o Eg. Tribunal de Justiça deste Estado.
Caso V.Exa. venha a manter a respeitável decisão que ora se guerreia, requer seja o presente recurso devidamente processado e encaminhado à Superior Instância.
Devendo o recurso subir por instrumento, requer, outrossim, nesta oportunidade, seja determinado ao Sr. Escrivão proceda à extração de translados, nos termos dos art. 587 e 588 do CPP, das seguintes peças:
a) da denúncia;
b) da r. decisão desclassificatória;
c) das declarações das vítimas e dos depoimentos de fls. e fls.;
d) do interrogatório de fls.;
e) das fotografias que se encontram às fls.;
f) das alegações finais apresentadas pela Promotoria e pela Defesa.
Nestes termos,
P.deferimento.
São Paulo, de de 19 .
p.p.Joana Azevedo Marques
 
OAB/SP 150.150
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
2 - EXEMPLO DE RAZÕES:
Razões do recorrente
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara
Data máxima vênia, a r. decisão desclassificatória, nos termos em que foi concebida, merece reparos.
 Preliminarmente
O recorrente foi denunciado como incurso nas penas do art. 121 c/c o art. 14, II, do CP e arts. 32 e34 da LPC, pelo fato de haver, por pretensa imprudência , lesionado duas pessoas. Na fase das alegações, o Dr. Promotor de Justiça e o Dr. Advogado do Assistente opinaram pela desclassificação da tentativa de homicídio para lesões corporais graves, mantidas as infrações menores.
Sua Excelência, o MM. Juiz, acolheu o pedido ministerial, e procedeu à desclassificação, reconhecendo que, na verdade, as infrações não eram da alçada do Tribunal do Júri. Contudo, ao que nos parece, não podia Sua Excelência dar a qualificação jurídico-penal ao fato, tal como o fez. Deveria, vênia concessa, limitar-se a dizer que elas não eram da competência do Tribunal Popular, e sim, do Juiz Monocrático.
Dando, segundo seu entendimento, o enquadramento legal à conduta, tal como o fez, na hipótese de os autos serem distribuídos a outra Vara, bem poderá o MM. Juiz sentenciante dele discordar e reconhecer não ter havido dolo e, eventualmente, poderá até desconsiderar a culpa e, aí, teríamos verdadeira aberração: um órgão de primeira instância revendo a decisão do seu colega.
O § 4º do art. 408 do CPP permite ao Juiz proceder a desclassificação de crime da competência do Júri para outro que também o seja: de homicídio para infanticídio, p. ex. Nesses casos, cumpre-lhe indicar o dispositivo legal. Mas, se entender que a infração não se mete a rol entre as que devam ser julgadas pelo Tribunal Popular, deverá limitar-se a dizer que ela é de alçada do Juízo Singular, aplicando a regra do art. 410 do mesmo diploma.
 Nesse sentido, o v. acórdão publicado na RT, 644:269, com a seguinte ementa:
 "Se, na fase da pronúncia, o juiz desclassificao crime para outro da competência
 do juiz singular, não deve, nessa oportunidade, fazer apreciação da qualificação
 legal do fato, pena de incidir em prejulgamento..."
Nula, pois, no nosso sentir, a r. decisão.
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
Mérito
Se a preliminar for desacolhida, aguarda a Defesa seja arredada a figura do crime doloso, mesmo porque não há nos autos a mais raquítica prova do animus dolandi.
Conforme expusemos nas alegações finais, o acusado, no dia dos fatos, por volta das 00:30 horas, sem ser habilitado, aproveitando a ausência dos pais, apoderou-se de veículo de propriedade destes e subia a Avenida retratada na foto de fls. (com quatro pistas, duas descendentes e duas ascendentes, separadas por um canteiro), absolutamente deserta e inabitada, quando, à altura da quadra 42, sete pessoas, todas amigas (e somente elas), saiam de um estabelecimento situado no lado esquerdo da Avenida, com o objetivo de ir para o outro lado oposto onde deixaram seus veículo, e, para tanto, atravessaram as duas pistas descendentes e, quando atingiram o canteiro central, parte daquele grupo, vendo o veículo aproximar-se, atravessou as duas pistas para atingir o lado oposto. E o fez correndo, tal como declarado por uma das vítimas:
 “ Que o declarante se posicionou no canteiro que divide as duas vias; que aguar-
 dava os carros passarem, quando um amigo seu passou correndo para a outra
 via com a sua namorada.” (cf.declaração de Euzébio).
 Naquele instante, o acusado, que subia a Avenida, procurou, mesmo inabilitado, levar seu conduzido para a esquerda, com o propósito de não atingir aquelas pessoas que estavam atravessando a pista, quando, por infelicidade, atingiu duas que se encontravam postadas rente ao canteiro, e que estavam prestes a iniciar, também, a travessia.
 Ali não há qualquer sinalização, obrigando o motorista a parar ou diminuir velocidade. Nem mesmo qualquer obstáculo, ou advertência escrita, no asfalto com esse objetivo. Tampouco é lugar para travessia, mesmo porque, do outro lado existem apenas dois prédios comerciais ( uma construtora e uma concessionária de veículos) e, àquela hora, ninguém poderia sair do estabelecimento onde estavam (lado oposto da Avenida), atravessar quatro pistas e mais o canteiro central para atingir o lado oposto. Ali não era estacionamento. Os sete amigos poderiam, muito bem, deixar seus veículos em frente ao estabelecimento, como todos o fazem. Entretanto, deixaram-no no pátio daqueles dois prédios.
 Houve, pois, fatalidade. Jamais poderia o acusado pensar que, àquela hora, alguém fosse atravessar aquela Avenida, mesmo porque não levava a nenhum lugar. Certo que o acusado desenvolvia velocidade incompatível com o local e, por isso deve responder. Mas, as vítimas, também foram imprudentes. Ali não é local de travessia...
 Tendo havido lesões em duas pessoas, obviamente o acusado deve responder por elas, na sua forma culposa. Não assim, em se tratando das contravenções, posto terem sido absorvidas pelo delito tipificado no art. 129 § 6º do CP.
 Na verdade, como bem disse esse Egrégio Tribunal: 
 “Se a infração contravencional corresponde a simples criação de perigo, evidente
 que, no instante em que se passa a punir, não pelo perigo de deflagração do dano
 mas, pela própria causação do dano concreto, então se é compelido a compor con
 juntura de concurso aparente de normas" (JTACrimSP,91:298).
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
 No mesmo sentido, JTACrimSP, 27:481, 28:141, 28:155, 28:361, 29:203, 29:271, 29:277, 29:299, 30:230, 30:250, 31:155, 33:393, 34:226, 34:411, 35:335, 36:264, 36:288, 40:112, 40:257, 41:289, 41:306, 42:262, 44:202, 45:239, 53:260, 56:286, 60:310, 68:288 etc
 Ante o exposto, aguarda o Recorrente seja anulada a r. decisão para que outra seja prolatada, sem especificação, para a prevista no art. 129, §6°, do estatuto penal.
 Justiça.
 São Paulo, de de 19 .
 Dra.Fernanda Abreu
 OAB/SP 145.145
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
2. APELAÇÃO
Art. 593 -
Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
I - 
das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; 
II - 
das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; 
III - 
das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
a) 
ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) 
for a sentença do juiz presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; 
c) 
houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) 
for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
§ 1º - 
Se a sentença do juiz presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. 
§ 2º - 
Interposta a apelação com fundamento no n. III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se lhe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. 
§ 3º - 
Se a apelação se fundar no n. III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação. 
§ 4º - 
Quando cabível a apelação, não poderá ser usado em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra. 
2.1. Conceito
Recurso interposto da sentença definitiva ou com força de definitiva, para a segunda instância, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a conseqüente modificação parcial ou total da decisão.
2.2. Apelação plena e limitada
O juízo ad quem, do mesmo modo que o juízo a quo, não pode julgar ultra nem extra petitum. Trata-se da aplicação do princípio do tamtum devolutum quantum appelatum, inserido no art. 599 do CPP. 
Portanto, o tribunal só julga a matéria que lhe foi devolvida pelo recurso da parte, não podendo ir além de acolher o pedido ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. Não pode julgar mais, nem fora do que foi pedido, mesmo que assim o queira, porque lhe falta competência recursal para tanto. 
Entretanto, no entendimento de Tourinho Filho, o juiz tem liberdade para apreciar a sentença, mesmo na parte não guerreada, desde que seja para favorecer o réu. 
Apelação plena - 
quando o recurso tem objetivo o reexame completo da causa, no caso em que parte não se conformando, in totum, com a sentença final, pleiteia a sua reforma integral.
Apelação limitada - 
quando o recurso visa à reforma parcial da decisão, limitando o campo de atuação do tribunal. 
2.3 - Apelação subsidiária do apelo oficial
Na ação penal pública, se o Ministério Público não interpõe a apelação no qüinqüídio legal, o ofendido ou seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão poderão apelar, ainda que não tenham se habilitado como assistentes, desde que o façam dentro do prazo de quinze dias, a contar do dia em que terminar o do Ministério Público. 
2.4 - Prazos da apelação do assistente da acusação
a) 
assistente não habilitado - prazo de 15 dias, a contar do término do prazo para o Ministério Público recorrer;
b)
assistente habilitado - prazo de 5 dias, a contar de sua efetiva intimação, desde que tenhasido intimado após o Ministério Público;
c) 
assistente habilitado - prazo de 5 dias, a contar do trânsito em julgado para 
o Ministério Público, se o assistente foi intimado antes.
OBS.: Recente decisão do Superior Tribunal de Justiça adotou o entendimento de que, em qualquer caso, o prazo para o assistente da acusação apelar será de 15 dias, a contar do término do prazo para o Ministério Público, uma vez que o parágrafo único do art. 598 não faz qualquer distinção. O STF, contudo, continua mantendo seu entendimento de separar as hipóteses de assistente habilitado e não habilitado.
2.5 - Renúncia e desistência
( 
O defensor dativo não pode desistir do recurso interposto, pois, para isso, necessitaria de poderes especiais. Contudo, não está obrigado a apelar, em face do princípio da voluntariedade dos recursos. 
( 
Para uma posição doutrinária, se o réu desistir do recurso, não se deve conhecer daquele interposto pelo defensor. Em sentido contrário, entende-se que o réu, sendo leigo, não tem condições de avaliar da necessidade do apelo, devendo sempre prevalecer a vontade do profissional habilitado. 
2.6 - Cabimento da apelação nas sentenças do juiz singular
· das sentenças definitivas de condenação ou absolvição. São as decisões que põem fim a relação jurídica processual, julgando o seu mérito, quer absolvendo, quer condenando o acusado. 
· das sentenças definitivas que, julgando o mérito, põem fim à relação processual ou ao procedimento, sem, contudo, absolver ou condenar o acusado, desde que não seja previsto o recurso em sentido estrito. 
Exemplo: sentença que resolve incidente de restituição de coisas apreendidas, determinando ou não sua devolução ao terceiro de boa-fé; que autoriza levantamento de seqüestro; que concede a reabilitação, etc. A sentença que declara extinta a punibilidade é também uma decisão definitiva em sentido estrito, que encerra o processo com julgamento de mérito, sem absolver ou condenar. Contudo, por expressa disposição legal, dela cabe recurso em sentido estrito (CPP, art. 581, VIII). 
· das decisões com força de definitivas ou interlocutórias mistas, desde que incabível o recurso em sentido estrito: são aquelas que põem fim a uma fase do procedimento (não terminativas) ou ao processo (terminativas), sem julgar o mérito. A rejeição da denúncia, no caso da Lei 9.099/95, é uma decisão com força de definitiva (interlocutória mista terminativa), da qual cabe apelação. 
· das decisões proferidas pelo juizado especial criminal, a saber: 
rejeição da denúncia ou queixa; 
sentenças definitivas de absolvição ou de condenação; 
sentença homologatória e não homologatória da transação penal; e
sentença homologatória da suspensão condicional do processo
2.7 - Apelação das decisões do Júri
O art. 593, III, do Código de Processo Penal, prevê a apelação das decisões do júri em quatro hipóteses:
a)
Nulidade posterior à pronúncia: se relativa, deve ser argüida, logo após o início do julgamento, em seguida ao pregão das partes, sob pena de considerar-se sanada. Se a nulidade relativa tiver ocorrido durante o julgamento, o protesto deve ser feito logo após a sua ocorrência, sob pena de ser convalidada.
A falta de oportuno protesto impede o apelante de levantar a nulidade relativa como questão preliminar no recurso. No caso de nulidade absoluta, não há necessidade de argüição, nem de comprovação do prejuízo, pois o ato viciado jamais se convalida. Desta forma, mesmo que não formulado protesto, a questão poderá ser discutida na apelação. 
b) 
Sentença do juiz-presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos jurados: o juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, já que a horizontalidade é uma das características do órgão, não havendo supremacia do juiz togado sobre os jurados. Os jurados decidem o fato e o juiz-presidente aplica a pena, de acordo com esta decisão, não podendo dela afastar-se. 
c) 
Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança: provido o apelo, a pena ou medida de segurança será ajustada à espécie. Compreende as seguintes hipóteses: a) aplicação da pena privativa da liberdade com violação ao critério trifásico para sua fixação (CP, art. 68, caput); b) aplicação da pena acima ou abaixo do considerado justo ou ideal. No primeiro caso, a sentença poderá ser anulada por vício formal, já que implica em error in procedendo. No segundo caso, há error in judicando, de maneira que basta ao tribunal corrigir a pena aplicada, sem precisar anular o julgamento. 
d) 
Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos: contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra amparo em nenhum elemento de convicção colhido sob o crivo do contraditório. Só cabe apelação com base neste fundamento uma única vez. Não importa qual das partes tenha apelado, é uma vez para qualquer das duas. 
2.8 - Prazo
	- Em regra, a contar da intimação
	5 dias
	- No caso de intimação por edital, a contar do dia que escoa o prazo do edital
	
	- Intimação por carta precatória, o prazo flui a partir da juntada da carta aos autos. 
	
	- Para o MP, a partir da data em que opõe o seu "ciente"
	
	- Intimados réu e seu defensor, inicia-se o prazo após a última intimação
	
	- No Júri, o prazo começa a fluir a partir da publicação da sentença na própria sessão de julgamento
	
	- Assistente do MP, em qualquer caso
	15 dias
2.9 - Processamento
a) 
A apelação pode ser interposta por termo ou petição;
b) 
Interposta a apelação, as razões devem ser oferecidas dentro do prazo de 8 dias, se for crime, e três dias, se for contravenção penal, salvo nos crimes de competência do juizado especial criminal, quando as razões deverão ser apresentadas no ato da interposição;
c)
É obrigatória a intimação do apelante para que passe a correr o prazo para oferecimento das razões de apelação;
d) 
Se houver assistente este arrazoará no prazo de três dias após o Ministério Público;
e)
Se a ação penal for movida pelo ofendido, o Ministério Público oferecerá suas razões, em seguida, pelo prazo de três dias;
f) 
O advogado do apelante pode retirar os autos fora do cartório para arrazoar o apelo, porém, se houver mais de um réu, o prazo será comum e correrá em cartório. O Ministério Público tem sempre vista dos autos fora de cartório;
g) 
Se o apelante desejar, poderá oferecer as suas razões em segunda instância, perante o juízo ad quem (CPP, art. 600, § 4º);
h) 
Com as razões ou contra-razões, podem ser juntados documentos novos;
i) 
O Ministério Público não pode desistir do recurso;
j) 
A defesa também não pode mudar a fundamentação do apelo nas razões de recurso;
l) 
Inexiste juízo de retratação na apelação;
m) 
Se houver mais de um réu, e não houverem sido todos julgados, ou não tiverem todos apelados, caberá ao apelante promover extração do traslado dos autos, para remessa a superior instância (COO, art. 601, § 1º);
n) 
Em que pese à disposição clara do art. 601, caput, os autos não podem subir sem as razões do MP; no caso de defensor constituído, o réu deve ser intimado da desídia de seu patrono, a fim de que seja constituído novo defensor ou nomeado dativo para apresentação das razões. O defensor dativo também está obrigado a arrazoar o recurso. Note bem: a lei diz que a apelação sobe com ou sem as razões, mas a intervenção do Ministèrio Público é obrigatória em todos os termos da ação, sob pena de nulidade (CPP, art. 564, III, d), e a ampla defesa é garantia constitucional do acusado;
o) 
A apresentação tardia das razões de apelação não impede o conhecimento do recurso;
p) 
O defensor está obrigado a oferecer contra-razões, sob pena de nulidade;
q) 
No tribunal ad quem, os autos serão remetidos ao Ministério Público de segunda instância, que poderá opinar livremente, já que não é parte. 
r) 
Da data do julgamento deve ser intimada a parte pela imprensa oficial, com antecedência de, no mínimo, 48 horas. 
2.10 - Apelação sumária
Ocorre nas contravenções e crimes punidos com detenção,e é assim chamada, porque o prazo para o procurador de justiça manifestar-se é de cinco dias. 
2.11 - Apelação ordinária
Ocorre no caso de apelação por crimes punidos com reclusão, tendo o procurador de justiça dez dias para se manifestar. 
2.12 - Deserção
A forma normal de extinção da deserção é o julgamento do recurso. 
A deserção é forma anômala, que ocorre no caso de fuga do réu após ter apelado ou devido à falta de pagamento das despesas recursais; ressalte-se que a captura do preso não torna sem efeito a deserção. 
2.13 - Efeitos
São efeitos da apelação:
a) devolutivo:
(tantum devolutum quantum appellatum): devolve o conhecimento da matéria à instância superior; 
b) suspensivo:trata-se do efeito da dilação procedimental, que retarda a execução da sentença condenatória; aplica-se nos casos de primariedade e bons antecedentes; 
c) regressivo:
 não há; na apelação não existe juízo de retratação;
d) extensivo: (CPP, art. 580): o co-réu que não apelou beneficia-se do recurso na parte que lhe for comum. 
2.14 - "Reformatio in pejus”
É a possibilidade do tribunal prejudicar a situação processual do réu, em virtude de recurso da defesa. Por exemplo: o ré apela visando a absolvição e o tribunal não só mantém a condenação, como ainda aumenta a pena, sem que haja recurso da acusação neste sentido. 
O art. 617 do CPP proíbe a reformatio in pejus, ao dispor que o Tribunal não pode agravar a pena quando só o réu tiver apelado.
2.15 - "Reformatio in pejus" indireta
Anulada sentença condenatório em recurso exclusivo da defesa, não pode ser prolatada nova decisão mais gravosa do que a anulada. Por exemplo: réu condenado a um ano de reclusão apela e obtém a nulidade da sentença; a nova decisão poderá impor-lhe, no máximo, a pena de um ano, pois do contrário o réu estaria sendo prejudicado indiretamente pelo seu recurso. 
2.16 - "Reformatio in mellius"
Consiste na possibilidade do tribunal, em recurso exclusivo da acusação, melhorar a situação processual do acusado. Por exemplo: o promotor apela para aumentar a pena e o tribunal absolve o réu. 
1- EXEMPLO DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE APELO:
Exmo. Sr. Dr. Juíz de Direto da 1º Vara Criminal do Foro .......................
MARILISE CORDEIRO, já qualificada nos autos do processo-crime que a Justiça Pública lhe move (Processo nº 130/96), vem mui respeitosamente, perante V.Exa., através do seu advogado infrafirmado, salientar que, não se conformando, data vênia, com a respeitável decisão que a condenou à pena de dez dias-multa, estabelecida no mínimo legal, como incursa no art. 129 §§ 4º e 5º, do CP, interpor recurso de apelo, dentro do qüinqüídio legal, com fundamento no art. 593, I, do CPP.
Recebido o apelo ora interposto, requer lhe seja aberta vista dos autos para oferecimento das suas razões, prosseguindo-se nos demais termos da lei.
Nestes termos,
P.deferimento.
Jundiaí, 09 de agosto de 1.994.
Marcos Antonio dos Santos
 OAB/SP 150.150
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
2- EXEMPLO DE RAZÕES:
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara
Entendeu o Preclaro Julgador de primeira instância devesse, no presente processo, condenar a ré, ora apelante, como incursa nas penas do art. 129 § 4º, baseando sua r. decisão, de fls. 49 a 52, exclusivamente na prova pericial, já que a prova testemunhal nada conseguiu trazer de esclarecedor para o processo.
Pelas declarações da vítima, conclui-se que, certo dia, sua mãe, Felisbina Ribeiro, lhe bateu com uma borracha; que a vítima chorou e ninguém acudiu; e prossegue dizendo que sua mãe parou de bater e nunca mais lhe bateu. A arma do crime (fls. 08) era um pedaço de cano de borracha, medindo 1,5 cm de grossura e 30 cm de comprimento (pouco menos que o tamanho de um chinelo de adulto).
As testemunhas de acusação nada esclarecem, limitando-se apenas, a mencionar que "ouviram" a menor chorar, o que as levou a concluir que, certamente, "apanhava". Assim é que Antônia Rodrigues diz que "ouviu gritos de criança", que mais tarde veio a saber ser Maria, a vítima, e "viu" essa criança ser atirada para o terreiro, por sua própria mãe, e que essa, "em três anos", era a "terceira" vez que a ré, ora apelante, batia em sua filha (fls. 40). - A testemunha de fls. 41, Zilda Falcão, alega simplesmente que ouviu a menina chorar e que chegou à conclusão de que lhe batiam - Finalmente, a testemunha Francelina Alves diz que "estava catando arroz quando 'ouviu' a acusada bater em sua filha Maria" e continua dizendo que ' ela batera com um caninho de borracha" (fls. 41) - Ora, se apenas ouvira bater, como poderia saber tratar-se de um caninho de borracha ? 
É de concluir, portanto, que a ré, ora apelante, foi vítima de suposições das testemunhas que, como prova, ficam inválidas. Ninguém viu; logo, inexiste a prova.
A própria ré, ora apelante, não nega que tivesse desferido "duas" lambadas com uma borracha em cada um de seus filhos - Pedro e Maria - (fls. 34). E o Preclaro Julgador da primeira instância, muito sabiamente, lembra que a surra visava a correição; era a maneira de a ré, ora apelante, educar a filha, maneira que era consoante o seu grau de cultura, de mulher rude e ignorante. E muito bem, e a propósito lembra o Emérito Julgador que tal maneira é exercida por " presunçosas normalistas com o seu anel de grau a pender-lhe o dedo..." E acrescentaríamos, com a ausência do Preclaro Julgador, por pais instruídos que, às vezes, dadas as circunstâncias, a agitação da vida hodierna, o stress, o estado de ânimo, a situação econômica precária, sentem-se impelidos a usar medidas corretivas que exorbitam de uma simples repreensão. E que dizer-se da ré, mulher ignorante, com uma carga tremenda sobre os ombros, e, o que é mais doloroso, vivendo da caridade alheia, num ambiente promíscuo, onde as "intrigas de comadres" são tão freqüentes ? Não poderia ela extravasar o seu desespero dentro de sua própria casa ?
Ademais, pergunta-se, não poderiam as lesões descritas no laudo de fl. 07, todas elas de natureza leve, ser causada por uma traquinada da própria vítima, que é criança, pratica certas peraltagens que geralmente redundam em ferimentos? 
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
Atente-se para as lesões descritas: "lesão equimótica linear" de 7 cm no dorso; e na "coxa direita três lesões equimóticas lineares, grosseiramente paralelas".
A equimose, segundo informa Laudelino Freire no seu Dicionário da Língua Portuguesa, é "mancha escura devida à hemorragia sob a pele". Qualquer pancada poderia acarretar equimose, como, por exemplo, a queda de uma cadeira, com conseqüente pancada no dorso em objeto duro. Acrescente-se a isso o fato de certas pessoas serem mais sensíveis, o que ocasiona, às vezes, o aparecimento de manchas escuras arrocheadas, equimoses, por mais mínima que seja a pancada.
Não discutimos que a ré , ora apelante, não tenha batido na filha, pois que ela mesma o confessa. O que discutimos é se as lesões seriam efetivamente produzidas por ela., ré. Pedro também apanhou; no entanto não foi objeto de exame de corpo de delito e muito menos alguém alega te-lo ouvido chorar.
Não seria o caso da vítima Maria um dos apontados acima ? Não teria ela, já que sempre foi criança doentia, anêmica, acomedida de diferentes males, inclusive meningite, um desses casos de sensibilidade demasiada da epiderma? O caninho de borracha era menor que um chinelo; seu peso, 70g, também se igualaria ao de um chinelo. A região atingida com maior intensidade, a coxa, é a região, se não indicada, muito próxima à indicada para boas palmadas. O Sr. Médico-Legista não esclarece este ponto, não nos fornece informações precisas a respeito da vítima.
À vista do exposto, verifica-se que a sentença apelada, em que pese o brilho de que se revestiu, não levou em conta elementos fundamentais, baseando-se apenas na prova pericial. Acrescente-se a isto o fatode que a pena imposta, ainda que muitíssimo bem dosada pelo Preclaro Julgador, invocando o § 5º do art. 129 do CP, representará sempre uma nódoa na vida da ré, mulher de enorme rudeza, mas que sempre pautou sua vida dentro de uma linha de conduta de acordo com o seu meio: honesta, trabalhadeira, dedicada à família e único arrimo dos filhos.
Nessas condições, espera a ré, ora apelante, que esse Egrégio Tribunal reforme a respeitável decisão de primeira instância, absolvendo a acusada da imputação que imerecidamente lhe foi feita, pois só assim é que se fará a devida
 JUSTIÇA. 
Jundiaí, 09 de agosto de 1.994.
 Marcos Antonio dos Santos
 OAB/SP 150.150
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
3- EXEMPLO DE C0NTRA-RAZÕES:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara
Com a devida vênia, entendo que o recurso interposto, embora impregnado de sentimentalismo, não merece ser provido, porque falta de razões.
Insta acentuar que o honrado Magistrado prolator da r. decisão guerreada foi profundamente humano, levando em consideração a rudeza da acusada. Desprezou ele, com sabedoria, o crime de maus-tratos e, mesmo quanto ao de lesões corporais leves, reconheceu, com irrepreensível atitude humanitária, a minorante a que se refere o § 4º do art. 129 do CP, e aplicou a pena de dez dias-multa, no seu mínimo legal, à ré, tal como permitido pelo § 5º do mesmo dispositivo legal
OS FATOS
Por volta das 17:30 horas do dia 07 de maio do ano próximo passado, na Vila Assis, situada na cidade de Vila Real, nesta comarca, Felisbina Ribeiro, ora apelante e que ali residia juntamente com seus filhos menores, inclusive a de nome Maria, de 10 anos, abusando do jus corrigendi, bateu, com o pedaço de borracha descrito a fls. 08, naquela garota, sua filha, produzindo-lhe as lesões descritas a fls. 07 - verso..
AS PROVAS
A própria apelante no interrogatório a que a submeteu o Dr. Delegado de Polícia, esclareceu: " que no dia sete do corrente, quando voltou do trabalho para a sua casa encontrou seus filhos Maria e Pedro brigando; QUE APANHOU UM CANO DE BORRACHA E CASTIGOU OS DOIS POR CAUSA DISSO..." (cf. fls. 20-verso)
Em juízo, a apelante não se desdisse. Pelo contrário. Confirmou sua confissão extrajudicial. In verbis: "...que desferiu duas lambadas em cada um de seus filhos; que se utilizou de uma pequena borracha..." (cf. fls. 34.
No dia seguinte a esse fato, a menor MARIA ELZA foi examinada, e os Srs. Peritos constataram: "...ao exame mostra no dorso uma lesão equimótica linear, de aproximadamente 7 cm de comprimento. Na face externa da coxa direita três lesões equimóticas, grosseiramente paralelas." (cf. fls. 7-verso).
A douta defesa lembra a possibilidade de essas lesões equimóticas terem sido provocadas por alguma travessura, alguma peralvilhice da criança. Não é possível que assim se pense. Por maior que fosse a peraltice, dificilmente surgiriam aquelas lesões. São típicas de agressões provocadas com instrumento semelhante àquele que fez uso a acusada.
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
Observe-se mais: nem a própria acusada - a maior interessada - deu semelhante versão para a origem daquelas lesões. E, houvesse sua filha caído ou coisa que o valha, a própria acusada seria a primeira a exculpar-se, alegando o que realmente se passara.
 Mas não é só. A própria vítima, criança de 10 anos, depondo em juizo, a fls. 40, adiantou: " ...que em dia que não se recorda, a declarante foi subir em uma bacia para acender a luz e por isso a mãe da declarante lhe bateu com uma borracha." (cf. fls. 40).
Então, podemos afirmar, com seguridade, que a hipótese aventada pela zelosa defensora da ré é, data venia, inteiramente descabida.
Em suas razões de apelo, argumentou a nobre defensora que ninguém assistiu a cena delituosa. Data maxima vênia não é verdade. Veja-se, a propósito, o depoimento de fls. 40-verso: " ... que a menor saiu do banheiro, saiu para dentro de casa e aí, como continuasse a gritar, o depoente para lá se dirigiu e pediu à acusada para não bater mais na criança, ao que ela respondeu que batia porque a filha era sua..." (cf. fls. 40-verso in medio ).
Ao lado deste depoimento de testemunha visual, há outros depoimentos de pessoas que, embora não houvessem assistido com os olhos - como se costuma dizer - à cena delituosa, trouxeram vários subsídios para fortalecer o convencimento do Magistrado.
Assim, vemos no depoimento de fls. 41 esta passagem: "... que nos dias dos fatos narrados na denúncia a depoente ouviu a menina chorar e a depoente chegou a conclusão de que era a acusada quem estava batendo na menina; que logo depois teve certeza de que era a acusada bateu em sua filha Maria com um pedaço de borracha, por informação das pessoas da vila onde a depoente reside." (fls. 41 in medio).
FRANCELINA, a fls. 41-verso, esclareceu: " ... que no dia dos fatos a depoente estava catando arroz , quando ouviu a acusada bater em sua filha Maria..."
No mesmo sentido o depoimento de fls. 42.
Que mais se desejaria? 
A prova é por demais convincente . Por outro lado, o Dr. Juiz de Direito foi, como já disse, profundamente humano ao dosar a pena e mais humano, ainda, ao aplicar a lei ao caso concreto, demonstrando assim, com acerto, que a lei não é um espectro de vingança, mas um elemento de defesa.
Na verdade, não pode ela ter a rigidez de uma pauta. " Ela deve ser viva como o sol, ou perderá sua função social." Elaborada para favorecer a vida e garantir a felicidade humana, não deve degenerar em tragédia. Por isso mesmo, o Dr. Prolator da r. decisão que, data venia, injustamente se combate, sentindo de perto o drama que a rudeza de Felisbina Ribeiro provocou, examinou e auscutou os autos e, após meticuloso exame, diagnosticou com acerto e aplicou sua "medicina jurídica": tão-somente uma pena de dez dias-multa.
É certo tratar-se de pessoa ignorante que nem sabe assinar o nome. Por isso mesmo que a pena lhe foi imposta com certa miticação. Fosse ela pessoa instruída, e a pena seria outra.
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
 O que não se justifica é a absolvição. Afinal de contas, bater no corpinho franzino de uma criança doentia que carrega nos seus estreitos ombros o peso tão somente de 10 primaveras, de molde a lhe produzir aquelas lesões descritas no laudo de fls. 07-verso e ficar impune, não é solução recomendável. Ela se excedeu. É pelo excesso que está pagando com moderação, com parcimônia, ficando sabendo que não se espanca filho.
É certo que o justo não é um valor suscetível de aplicação matemática. Concordo. Mas, qualquer que seja o Magistrado que leia estes autos e conclua sua leitura analisando a respeitável decisão final, há de sentir uma sensação de que se fez JUSTIÇA. Foi o que se fez e isto me conforta. Serenamente aguarda a Promotoria de Justiça a confirmação da r. decisão.
Bauru, 25 de agosto de 1994.
Thiago Windt
 Promotor de Justiça
Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa tourinho Fº - 1997.
3.PROTESTO POR NOVO JÚRI
Extinto
Art. 607 - 
O protesto por novo júri é privativo da defesa, e somente se admitirá quando a sentença condenatória for de reclusão por tempo igual ou superior a 20(vinte) anos, não podendo em caso algum ser feito mais de uma vez. 
§1º - Não se admitirá protesto por novo júri, quando a pena for imposta em grau de apelação (art. 606).
§ 2º - O protesto invalidará qualquer outro recurso interposto e será feito na forma e nos prazos estabelecidos para interposição da apelação. 
§ 3º - No novo julgamento não servirão jurados que tenham tomado

Outros materiais