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1 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM CIENTÍFICA A linguagem é um instrumento de comunicação que pode desempenhar funções distintas. É conveniente indicá-las aqui, pelo menos as principais, a fim de que possamos compreender as características da linguagem científica conforme cita Salvador (1970, p. 141 apud Cervo et al, 2014), vejamos: Função expressiva – adequada à comunicação ou expressão de emoções, sentimentos ou vivências psicológicas; Função persuasiva - adequada ao discurso, que pretende atuar sobre a vontade para dirigir a conduta dos homens, como na propaganda. Função informativa - adequada a transmissão de conhecimentos e informações. No que diz respeito as formas de expressão, a linguagem-comunicação pode ter caráter: Coloquial - próprio da linguagem comum; Literário - aquela que tem pretensões ou objetivos estéticos; Técnico - característico da linguagem científica. A linguagem científica não é considerada persuasiva ou expressiva no sentido indicado; ela é essencialmente informativa. Nesse sentido, a linguagem científica é considerada informativa e técnica, de ordem cognoscitiva e racional calcada em dados concretos, nos quais a partir deles analisa, compara e sintetiza, argumenta, induz ou conduz e conclui. Desta forma, distingue-se da linguagem literária. Fazendo uma comparação, a linguagem literária deve impressionar, agradar pela elegância, por trazer valores estéticos, envolver com subjetividade (estilo literário), enquanto a linguagem científica esclarece pela força dos argumentos, por sua nota distintiva e pela objetividade (estilo científico). 2.1. Clareza – uma característica fundamental do texto científico A linguagem científica é acadêmica e didática, busca transmitir conhecimentos técnicos, informações com precisão e objetividade. Questões, problemas, informações ou 2 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ideias devem ser trabalhados com absoluta clareza e precisão. Não há resposta clara à uma pergunta ambígua, então a linguagem científica visa obter o máximo de inteligibilidade e, por isso, a necessidade de realizar esses atributos característicos como: a clareza, a precisão e a objetividade. Para dar forma ao pensamento, o autor de um estudo científico precisa assimilar o assunto em todas as dimensões, isso porque ninguém pode exprimir em termos claros uma ideia que ainda está confusa na mente. Então, uma condição indispensável à boa redação científica é a clareza. 2.2. Uso do vocabulário comum As ideias claras são expressas por meio de símbolos que as representam. Os símbolos convencionalmente aceitos que exprimem as ideias no papel constituem a linguagem. Ocorre que, nem todo símbolo ou palavra designa uma única coisa, ou corresponde a uma ideia apenas, como a concepção científica necessita ser clara e precisa, é importante escolher os termos mais adequados às ideias que se quer exprimir, possibilitando uma significação exata. Um bom redator de texto científico deve conhecer o significado exato dos termos empregados, conforme está no dicionário, mas também o significação de contexto. Em uma redação técnica, não é admitido o uso de termos em sentido figurado: devem ser empregados somente em sentido próprio, concreto e objetivo. 2.3. Uso do vocabulário técnico A linguagem científica usa constantemente o vocabulário comum, utilizado com clareza e precisão, a fim de transmitir conhecimentos. Porém, à medida que as ciências avançam, assim como seus resultados, mudam também os seus termos e a linguagem que os comunicam. Assim, cada ciência possui uma terminologia própria, que acompanha sua evolução, aperfeiçoando-se e enriquecendo-se com seus resultados. Essa terminologia técnica ajuda na transmissão de conhecimentos e na comunicação dos cientistas, sendo então seu uso 3 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância adequado nas publicações técnico-científico e o público tem, por dever de ofício, obrigação de dominá-la. Caso a intenção do pesquisador seja de divulgar o seu trabalho para o grande público, será preciso traduzir a linguagem técnica e comunicar os resultados de forma mais simples e compreensível. Para melhorar o seu vocabulário, principalmente enquanto estudante, o pesquisador deve fazer leituras frequentes, consultar enciclopédias e dicionários especializados, buscar leituras de artigos científicos publicados em periódicos especializados, além de participar, seja como ouvinte, panelista, debatedor ou conferencista, de congressos, seminários, simpósios e encontros de sua área, pois a escolha do vocabulário adequado depende, em grande, parte de sua formação. 2.4. Características das frases na escrita acadêmico-científica Já foi colocada a importância do uso de um vocabulário específico e uma linguagem clara, porém agora, é preciso abordar a importância de uma boa construção da frase que fará parte do texto. As frases precisam ser simples, devem traduzir o desenvolvimento lógico do pensamento, mas é indispensável que elas tenham a expressão de uma ideia por vez. Períodos longos, que têm muitas linhas, com inúmeras orações subordinadas e parênteses, acabam dificultando a compreensão e tornam a leitura pesada. Não se deve dizer tudo em um único período. O mais indicado é multiplicar as frases para facilitar ao leitor a análise do pensamento, a fim de que ele possa acompanhar o texto sem nenhum esforço. Em resumo, as características da linguagem científica incluem a preocupação também com a construção da frase e o vocabulário adequado, tudo visando a clareza, a objetividade, a precisão e a simplicidade. Veja o quadro resumo do que foi tratado até aqui para ajudar a construir bons textos científicos desde a graduação: 4 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Quadro 1 – Características da linguagem científica Exigências Deformações Impessoal Pessoal Objetiva Subjetiva, ambígua Modesta e cortês Arrogante, dogmática Informativa Persuasiva, expressiva Clara e distinta Confusa, equívoca Própria e concreta Figurada Técnica Comum Frases simples e curtas Frases longas e complexas Fonte: (Cervo et al, 2014) 2.5. Uso do vocabulário comum Para se obter um texto mais fluido nos trabalhos acadêmicos, pode-se recorrer às abreviaturas, o que também ajuda a evitar a repetição forçada de palavras e expressões frequentemente utilizadas no texto, assim como se recorre às siglas para evitar a escrita e a pronúncia de nomes extensos. As nomenclaturas mais comuns referem-se geralmente a endereços (al., av., pça., r., rod., est., tel., ap.); valores de grandeza (mi, bi, tri); unidades de medida (g, m, kg, Hz, w, v); meses do ano; datas (a.C, d.C); moedas (R$, US$); designações comerciais (Ltda., Cia., S.A., S.C., Inc.); nomes de autores e indicações em referências bibliográficas e diversas outras situações específicas. Não se pode inventar as abreviaturas, elas são consagradas pelos usos e costumes ou normatizadas desde a origem, possuindo regras próprias de construção e de utilização. Vejamos algumas abreviaturas usuais em citações bibliográficas: ap.: apud (segundo, em) – indica citações indiretas ou de segunda mão; 5 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância cf.: conforme; ibid.: ibidem (no mesmo lugar) – indica que o trecho foi extraído da mesma obra e autor já referidos em nota imediatamente anterior. Id.: idem (o mesmo, do mesmo autor) – o trecho em questão vem do mesmo autor a que se refere a última nota. Id., ibid. podem vir juntos, seguidos do número de página; infra: abaixo, linhas ou páginas adiante; loc.cit.: loco citato (no lugar, isto é, naobra citada) – emprega-se para indicar que a citação foi extraída de obra mencionada anteriormente, mas entre essa e a nova citação estão outras citações de outras obras e autores; n.: número; op.cit.: opus citatum (na obra citada) – mesmo uso que loco citato; p.: página(a); pass. Ou passim: aqui e ali, em várias passagens; sic.: assim mesmo, tal qual – emprega-se no texto para marcar erro ou afirmação inusitada; supra: acima, linhas ou páginas atrás; v.: volume(s) ou veja. As siglas são muito comuns no Brasil. Os governos, principalmente, foram e ainda são responsáveis por criá-las, fazendo com que o brasileiro tenha que incorporá-las ao vocabulário em seu cotidiano. Porém, em geral, o uso cria certas dificuldades para o leitor, que precisa decifrá-las. A regra, que também é adotada pela imprensa em geral, é evitá-las ao máximo, exceto em casos em que elas são consagradas como: Aids, ONU, Embratel, etc. 6 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Quando for necessário usar siglas de até 3 letras (UD, ONU, CIA, BC) utilize apenas letras maiúsculas e sem pontuação entre as letras. Para siglas de mais de três letras que podem ser pronunciadas (Unesco, Unicef, Abrinq, Petrobrás, Senac etc.) use letra maiúscula na inicial e minúsculas nas demais. Escreva em maiúsculas todas as siglas que precisem ser pronunciadas letra por letra (BNDES, FGTS, DNER etc.). Exceção deve ser feita a algumas siglas consagradas pelo uso, como CNPq e UnB. Quando for necessário formar plurais a partir de siglas, acrescente s no final (TVs, CDBs, PMs etc.). De acordo com a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o ideal é que, pelo menos na primeira vez que se for usar siglas ou abreviaturas, o autor as escreva e logo depois explique o seu significado ou aponte o seu nome por extenso. Porém, nas outras vezes que utilizá-las ao longo do texto, é preciso somente escrever a abreviação, sem a necessidade de especificá-la logo depois. Abreviaturas e siglas desconhecidas, específicas do trabalho, devem constar em lista prévia, disposta em ordem alfabética. Se o número de abreviaturas específicas for muito pequeno, esta lista prévia está dispensada. Embora a inclusão de uma Lista de Abreviaturas seja benéfica para a clareza do leitor, é importante ressaltar que esse componente pré-textual não constitui um requisito obrigatório na monografia. No entanto, é aconselhável que, caso haja muitas abreviaturas ao longo do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o autor considere a inclusão dessa lista, pois isso contribuirá significativamente para melhorar a compreensão do texto. 2.5.1. Clareza – uma característica fundamental do texto científico Em conformidade com as regras da ABNT, a Lista de Abreviaturas e Siglas deve ser incluída na parte de elementos pré-textuais. Então, essa lista deve ser inserida depois do Abstract e antes da Introdução da pesquisa. No mais, os elementos da listagem devem ser alinhados à esquerda. Veja a imagem a seguir: 7 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Figura 3 Fonte: ABNT. Disponível em: https://www.normasabnt.org/lista-de-abreviaturas-e-siglas/. Acesso em: 7 nov. 2023. Para o título, deve-se seguir as seguintes instruções: Tamanho 14; Sem numeração; Fonte Times New Roman ou Arial; Formato maiúsculo; Espaçamento 1,5 entrelinhas; Estrutura centralizada; Em negrito. Já para a lista de abreviaturas e siglas, deve-se seguir as seguintes instruções: Fonte Times New Roman ou Arial; Espaçamento 1,5 entrelinhas; Estrutura justificada; Tamanho 12; Formato maiúsculo para a abreviatura e minúsculo para a especificação. Observe os exemplos a seguir retirados do site da ABNT: Lista de Siglas TCC ABL – Academia Brasileira de Letras; CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa; 8 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância CPQ – Controle de Qualidade de Processos; IPT – Instituto de Pesquisas Nucleares; ITC – Instituto de Levantamento Aeroespacial e Ciências de Terras; ONU – Organização das Nações Unidas; SI – Sistema Internacional de Unidades; USP – Universidade de São Paulo. Lista de abreviaturas TCC adj. – adjetivo; cia. – companhia; dic. – dicionário; h. – horas. Com base no exemplo, é possível perceber que a lista é dividida em duas colunas: uma com as siglas e abreviaturas e outra com as suas respectivas explicações. No caso de a lista de abreviaturas e siglas ser muito extensa, a sugestão é dividir a lista em duas: primeiro listar as abreviaturas, e depois as siglas. Fazendo uso dessa organização, isso facilitará a identificação do leitor no momento de verificá-las. Para fazer a lista de abreviatura e siglas, deve-se organizá-la em ordem alfabética. Entretanto, é importante ressaltar que algumas instituições de ensino possuem regras próprias e indicam que a lista deve ser apresentada conforme a ordem em que as siglas aparecem no Trabalho de Conclusão de Curso. https://www.normasabnt.org/trabalho-de-conclusao-de-curso/ 9 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância A linguagem científica possui características distintas em comparação com a linguagem expressiva e persuasiva. Ela se concentra na transmissão de conhecimentos e informações, sendo, portanto, informativa e técnica, em vez de expressiva ou persuasiva. A clareza é uma característica fundamental na linguagem científica, buscando precisão e objetividade na comunicação. O vocabulário comum é utilizado, mas os termos são escolhidos para representar ideias com precisão. Além disso, a linguagem científica pode incorporar o uso de abreviaturas e siglas, seguindo as normas da ABNT, para tornar o texto mais fluido e evitar repetições. A linguagem técnica é comum nas ciências, mas cada campo possui sua terminologia específica. As frases na escrita acadêmico-científica devem ser simples e expressar uma ideia de cada vez, evitando períodos longos e complexos. A lista de abreviaturas e siglas é recomendada quando muitas delas são usadas, mas não é obrigatória. Se utilizada, deve ser organizada em ordem alfabética e incluída na parte de elementos pré-textuais. Ela ajuda a melhorar a compreensão do texto, especialmente quando o leitor não está familiarizado com as abreviaturas utilizadas. Finalizamos a nossa segunda aula. Não esqueça de assistir também a videoaula e verificar as atividades propostas no seu planejamento semanal antes de realizar o teste. Conto com a sua participação para tornar este momento muito especial e dinâmico. Podemos trocar conhecimentos, para isso temos o AVA. Coloque suas dúvidas e opiniões. Até a próxima! 10 Pesquisa Acadêmica Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ABNT. Tudo o que você precisa saber sobre as normas ABNT 2023, 2023. Disponível em: https://www.normasabnt.org/normas-abnt-2023/#o-que-e-a- abnt. Acesso em: 4 nov. 2023. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.