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É uma poeta da segunda fase do modernismo brasileiro, que durou de 1930 a 1945. Suas obras são marcadas pela liberdade formal e pela temática do cotidiano. Biografia Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. Descendente de uma família de fazendeiros tradicionais da região, Drummond foi o nono filho do casal Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade. Desde pequeno Carlos demonstrou grande interesse pelas palavras e pela literatura. Em 1910, começou a estudar no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito, em sua cidade natal. Em 1916, iniciou seus estudos no internato e colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. Já em 1918, foi morar em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, para estudar, como interno, no colégio Anchieta. Ali permaneceu apenas um ano, pois foi expulso, oficialmente, por “insubordinação mental”, após ter um atrito com seu professor de português. Em 1923, iniciou o curso de Farmácia na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte, concluído em 1925. Então, nesse ano, foi um dos fundadores do periódico modernista A Revista. E não teve interesse em exercer a profissão de farmacêutico. Em 1925 casou-se com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos, Carlos Flávio (em 1927, que vive apenas meia hora) e Maria Julieta Drummond de Andrade, nascida em 1928. Assim, em 1926, trabalhou como professor de geografia e português, em Itabira. Mas, nesse mesmo ano, voltou a Belo Horizonte para ser redator no Diário de Minas, e, em 1929, tornou-se auxiliar de redação e, posteriormente, redator do Minas gerais, órgão oficial do Estado. Foi em 1930 que o poeta publicou seu primeiro livro — Alguma poesia — de forma independente, ou seja, com recursos próprios. Ainda em 1930, começou a trabalhar como oficial de gabinete de Gustavo Capanema (1900-1985), então secretário de Interior e Justiça de Minas Gerais, para, em 1934, tornar-se chefe de gabinete de Capanema, agora ministro da Educação e Saúde Pública. Assim, só teve reconhecimento nacional como escritor em 1942, com a publicação de Poesias. Em 1945, tornou-se codiretor do periódico comunista Tribuna Popular, mas deixou o cargo meses depois, por discordância com as diretrizes do jornal. Nesse ano, começou a trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), onde se aposentaria, como chefe de seção, em 1962. Carlos Drummond de Andrade, 1970. Carlos Drummond de Andrade Recebeu os seguintes prêmios: • Prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira, pelo conjunto da obra, em 1946; • Prêmio Jabuti, em 1968; • Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), em 1973; • Prêmio Estácio de Sá, de jornalismo, em 1980; • Prêmio Morgado de Mateus, de poesia, em Portugal, também em 1980. Em 1982, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Morreu, no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1987. Características literárias • Temática contemporânea • Crise existencial • Conflito espiritual • Temática sociopolítica • Liberdade linguística • Liberdade formal • Realismo Temas da obra • Questionamento sobre a existência • Aflições sociais, filosóficas, religiosas e do amor • Sentimento de estar no mundo • Inquietações sociais, religiosas, filosóficas e amorosas • Questões existenciais, como o sentido da vida e da morte • Questões cotidianas, familiares e políticas, como o socialismo Curiosidades ➢ Defendeu Nara Leão: Em 1965, depois de falar mal do governo militar, a cantora Nara Leão foi defendida por Drummond no poema “Apelo”. ➢ Virou samba: A Estação Primeira de Mangueira homenageou o poeta em 1987 e teve seu enredo vencedor. Além disso, em 1976, o sambista Martinho da Vila gravou um disco com canções inspiradas no livro de Drummond, “A Rosa do Povo”. ➢ Inspirou música: Chico Buarque usou o “Poema das sete faces” na música “Até o fim”. O compositor também se inspirou em Drummond para a letra da música “Flor da Idade”, a poesia mote foi “Quadrilha”. ➢ Foi tradutor de Beatles: O poeta traduziu para a revista Realidade as canções do álbum Branco dos Beatles. Em canções como “Ob-La-Di, Ob-La-Da”, “Piggies”, “Why don’t we do it in the road?”, “I Will”, “Blackbird” e “Happiness is a warm gun”. ➢ Traduziu grandes nomes: Ainda como tradutor Drummond trouxe para o português os seguintes autores: Balzac, Choderlos de Laclos, Marcel Proust, García Lorca, François Mauriac e Molière. ➢ Foi traduzido: A poetisa Elizabeth Bishop que viveu no Rio de Janeiro, Petrópolis e Ouro Preto, entre 1951 e 1970, foi tradutora do poeta Carlos Drummond de Andrade para o inglês. ➢ Rejeitou ser imortal: Drummond não fez parte da Academia Brasileira de Letras pelo simples fato de nunca ter se inscrito. O motivo? Ele nunca quis se candidatar. ➢ Amou intensamente: Morreu em 1987, apenas 12 dias após a morte de sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade. Para ela, Drummond escreveu o verso que está no poema Resíduo: “Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou”. ➢ Com notória importância na cultura brasileira, Drummond é considerado um dos mais influentes poetas brasileiros do século XX. Algumas homenagens a ele estão nas cidades de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, com a estátua “Dois Poetas” e na cidade do Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, a estátua conhecida como “O Pensador”. ➢ O documentário “O poeta de sete faces” (2002) retrata a vida e a obra de Drummond. Ele foi escrito e dirigido pelo cineasta brasileiro Paulo Thiago. ➢ Dentre os anos de 1988 e 1990, a imagem de Drummond esteve representada nas notas de cinquenta cruzados. → Poesia • Alguma poesia (1930) • Brejo das almas (1934) • Sentimento do mundo (1940) • Poesias (1942) • A rosa do povo (1945) • Novos poemas (1948) • Claro enigma (1951) • Viola de bolso (1952) • Fazendeiro do ar (1954) • A vida passada a limpo (1955) • Lição de coisas (1962) • Versiprosa (1967) • Boitempo (1968) • A falta que ama (1968) • Nudez (1968) • As impurezas do branco (1973) • A visita (1977) • O marginal Clorindo Gato (1978) • Esquecer para lembrar (1979) • A paixão medida (1980) • Caso do vestido (1983) • Corpo (1984) • Eu, etiqueta (1984) • Amar se aprende amando (1985) • Poesia errante (1988) • O amor natural (1992) • Farewell (1996) → Prosa • Confissões de Minas (1944) • Contos de aprendiz (1951) • Passeios na ilha (1952) • Fala, amendoeira (1957) • A bolsa & a vida (1962) • A minha vida (1964) • Cadeira de balanço (1966) • Caminhos de João Brandão (1970) • O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso (1972) • De notícias & não notícias faz-se a crônica (1974) • 70 historinhas (1978) • Contos plausíveis (1981) • Boca de luar (1984) • O observador no escritório (1985) • Tempo vida poesia (1986) • Moça deitada na grama (1987) • O avesso das coisas (1988) • Autorretrato e outras crônicas (1989) Frases de Carlos Drummond de Andrade Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade. A minha vontade é forte, porém minha disposição de obedecer-lhe é fraca Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo. Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons. O homem vangloria-se de ter imitado o vôo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam. A educação para o sofrimento evitaria senti-lo com relação a casos que não o merecem. Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo. Há muitas razões para duvidar e uma só para crer. Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos. O cofre do banco contém apenas dinheiro; frusta-sequem pensar que lá encontrará riqueza. https://brasilescola.uol.com.br/literatura/claro-enigma-de-carlos-drummond-de-andrade.htm Poemas No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra. Quadrilha João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. Ausência Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, Papel E tudo que pensei E tudo que eu falei E tudo que me contaram Era papel. E tudo que descobri Amei Detestei: papel. Papel quanto havia em mim E nos outros, papel! De jornal, de embrulho. Papel de papel, papelão! Cidadezinha qualquer Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar… as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus. Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde? José E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?